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O DIREITO NA ORDEM DO DIA:
COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO DISPERSAR
DIREITOS
Vol.
03
N.
01
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TAU LIMA VERDAN RANGEL
(Organizador)
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O DIREITO NA ORDEM DO DIA:
COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO
DISPERSAR DIREITOS (Vol. 03 n. 01)
Capa: Salvador Dal, O Arquitetnico Angelus de Millet, 1933.
Comisso Cientfica
Tau Lima Verdan Rangel
Editorao, padronizao e formatao de texto
Tau Lima Verdan Rangel
Contedo, citaes e referncias bibliogrficas
Os autores
de inteira responsabilidade dos autores os conceitos aqui
apresentados. Reproduo dos textos autorizada mediante
citao da fonte.
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APRESENTAO
O Projeto Dispersar Direitos
substancializa uma proposta apresentada pelo
Professor Tau Lima Verdan Rangel, na ministrao
de suas disciplinas. O escopo principal do projeto
supramencionado despertar nos discentes do Curso
de Direito do Centro Universitrio So Camilo uma
viso reflexiva e crtica sobre o universo jurdico.
Trata-se de uma abordagem de temas tradicionais e
contemporneos do Direito, tal como suas implicaes
e desdobramentos em uma realidade concreta.
Com o ttulo O Direito na Ordem do Dia, a
coletnea de Projetos de Trabalho de Curso busca
explicitar para a Comunidade Acadmica e pblico
interessado os esforos dos discentes do terceiro
perodo, turno matutino, do Curso de Direito na
construo de artigos acadmicos interdisciplinares
arrajodos e contemporneos. Para tanto, a proposta
pauta-se na conjugao de diversos segmentos do
conhecimento e a utilizao de mecanismos de
ensinagem que dialoguem contedo terico com
habilidades prtica em contedos jurdicos,
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despertando e aprimorando habilidades
imprescindveis aos Operadores do Direito.
O leitor poder observar que os temas so
heterogneos, abarcando realidades locais e peculiares
do entorno da Instituio de Ensino Superior, tal como
questes mais abrangentes. Trata-se da
materializao do diferencial do Curso de Direito do
Centro Universitrio So Camilo-ES, ao formar
Bacharis em Direito capazes de atuar com o plural e
diversificado conhecimento inerente ao Direito, sem
olvidar da realidade regional, dotadas de
peculiaridades e aspectos diferenciadores que
vindicam uma tica especfica.
Boa leitura!
Tau Lima Verdan Rangel
Coordenador do Ncleo de Trabalho de Curso e
Pesquisa do Curso de Direito
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N D I C E
Uma anlise da funo da jurisdio sob a tica
constitucional do acesso Justia ............................ 08
A conciliao como mtodo alternativo na soluo de
conflitos por meio da Cmara Brasileira de Mediao e
Arbitragem Empresarial de Cachoeiro de Itapemirim-
ES em 2014 e 2015 .................................................... 38
Mediao de conflitos ambientais, diante dos impasses
do acesso aos recursos hdricos em tempo de
escassez ...................................................................... 61
Limites da efetiva aplicao dos princpios da Biotica
frente a interesses nacionais e capitalistas ............. 84
Quando comea a vida humana luz dos postulados
principiolgicos do Direito e da Biomedicina ........... 116
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O DIREITO NA ORDEM DO DIA:
COLETNEA DE ARTIGOS DO PROJETO DISPERSAR
DIREITOS
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UMA ANLISE DA FUNO DA JURISDIO
SOB A TICA CONSTITUCIONAL DO ACESSO
JUSTIA
BICALHO, Clarissa Duarte1
CONSTANTINO, Eduarda Paixo 2
SOUZA, Daniela dos Santos de3
RANGEL, Tau Lima Verdan 4
Resumo: necessrio evidenciar que o Acesso Justia,
previsto na Constituio Federal de 1988, tem sido
almejado pelo Estado Democrtico de Direito, que trouxe
para si o nus de dirimir as lides, efetivado atravs da
jurisdio, derivada do latim dicere ius. O Direito est onde
a sociedade se faz presente - ubi homo, ibi societas; ubi
societas, ibi jus - e algo inerente a mesma. Dessa forma, a
jurisdio relaciona-se estreitamente com o Direito, sendo
um mtodo de resoluo de conflitos exclusivamente
estatal, que deve ser exercida imparcialmente pelo Estado,
que resolve quem tem razo no litgio. O presente pretende
expor um entendimento amplo no que se refere Justia,
1 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 2 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 3 Graduando do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo-ES, [email protected]; 4 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela
Universidade Federal Fluminense, [email protected]
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explanando se esse acesso se d pelo alcance da jurisdio,
ou se decorrente de se lograr o justo no que se refere
resoluo do conflito em questo. Pretende-se tambm
expor sobre os mtodos extrajudiciais de resoluo de
conflitos, que podem auxiliar nesse acesso justia. A
Justia deve ser exercida com respeito ao direito e a
equidade. Reportando-se ao mbito jurdico, ter acesso a ela
no est restrito apenas ao acesso ao Poder Judicirio, mas
tambm a uma gama de direitos fundamentais e princpios
que no se restringem ao sistema tutelar processual.
essencial proferir ao indivduo uma deciso justa e no
apenas facilitar o acesso jurisdio, que, como j
explanado, pertence exclusivamente ao Estado. A
efetividade do acesso justia depende tambm da
paridade de armas entre os litigantes, que devem ser
ofertadas de diversas formas, sendo estatais ou no.
Palavras-chave: Acesso Justia. Jurisdio.
Inafastabilidade. Ativismo Judicial.
1 CONSIDERAES INICIAIS
Em um primeiro momento, necessrio frisar
que todos resguardado o direito de recorrer
jurisdio sempre que julgar ter o prprio direito
ameaado ou lesado, como previsto no artigo 5 da CF,
inciso XXXV, que diz: a lei no excluir da apreciao
do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito. Todo
indivduo detentor do direito de ao, subjetivo de
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cada cidado. No valido conceder apenas o direito
material ao indivduo se tambm no lhe for garantido
meios tutelares para a sua preservao. De acordo com
Alexandre de Moraes:
O Poder Judicirio, desde que haja
plausibilidade de ameaa ao direito,
obrigado a efetivar o pedido de prestao
judicial requerido pela parte de forma
regular, pois a indeclinabilidade da
prestao judicial princpio bsico que
rege a jurisdio, uma vez que a toda
violao de um direito responde uma
ao correlativa, independentemente de
lei especial que a outorgue. (MORAES,
2004, p. 105.).
Para Cappelletti e Bryant Garth, o acesso
justia deve ser reconhecido como um requisito
fundamental.
De fato, o direito ao acesso efetivo tem
sido progressivamente reconhecido como
sendo de importncia capital entre os
novos direitos individuais e sociais, uma
vez que a titularidade de direitos
destituda de sentido, na ausncia de
mecanismos para sua efetiva
reivindicao. O acesso justia pode,
portanto, ser encarado como o
requisito fundamental o mais bsico
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dos direitos humanos de um sistema jurdico moderno e igualitrio que
pretenda garantir, e no apenas
proclamar os direitos de todos.
(CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 11-
12.).
O Direito deve se adequar aos anseios da
sociedade, que varivel e apresenta a cada momento
uma nova necessidade, devendo ser reconhecida pelo
sistema jurdico. Devido a essa rotao scio-cultural,
muitas crticas tm insurgido contra o desempenho
estatal da funo jurisdicional na resoluo das lides,
que tem sido exercida, em alguns casos, com
morosidade, quando no se trata de uma demanda
com carter de urgncia.
Sendo um Estado Democrtico de Direito, o
acesso justia, previsto na Carta Magna, deve ser
observado em todas as hipteses, e at mesmo
auxiliado pela jurisdio. Percebe-se que a figura do
Defensor Pblico e at mesmo a concesso da
Assistncia Judiciria Gratuita facilitam esse acesso
para os tidos como menos favorecidos na sociedade.
Ademais, de que vale a garantia constitucional
do acesso justia, atravs da jurisdio, se o Poder
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Judicirio no est suportando tutelar
tempestivamente os litgios que lhes so conferidos?
No seria o fcil acesso um dos motivos propulsores
dessa calamidade? O Estado garante o inicio de uma
demanda, mas no o seu fim. Buscando dirimir tal
cenrio, em 2004, foi feita uma Emenda
Constitucional n 45 dispondo que o artigo 5 da CF,
inciso LXXVIII, passar a vigorar com a seguinte
redao: a todos, no mbito judicial e administrativo,
so assegurados a razovel durao do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitao.
Como uma forma de auxiliar a resoluo dos
litgios pode-se citar os Mtodos Extrajudiciais de
Resoluo de Conflitos (MESCs), compreendidos pela
conciliao, mediao e arbitragem. Tais mtodos
tendem a desafogar o Judicirio, permitindo que se
atinja a justia almejada de maneira mais gil,
podendo facilitar seu acesso.
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2 UMA ANLISE DA FUNO DA JURISDIO
A palavra jurisdio composta por duas
palavras, derivadas do latim juris (direito) e
dictionis (ao de dizer) que quer dizer o direito
comea quando o Estado chama para si a
responsabilidade de solucionar as lides. Anterior ao
perodo moderno, que o atual, a mesma era
totalmente privada e no estava ligada ao Estado.
Dentro dos feudos, os senhores de engenho tinham as
jurisdies feudais e baroniais, e no perodo
monrquico brasileiro havia a jurisdio eclesistica,
que desapareceu com a separao entre Igreja e
Estado, a qual tinha como matria o direito de famlia.
Dessa forma, prevalecia na sociedade fase da
autotutela onde quem pretendia algo deveria obter
com sua prpria fora e na medida dela buscar a sua
satisfao resistida. Assim, vivendo neste regime, no
era assegurada a justia, e sim a vitria do mais forte
sobre o mais fraco.
Com a evoluo da sociedade, surgiu na mesma
a necessidade de resolver os conflitos ocorridos de
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forma justa e eficaz a modo que no houvesse
resultado tendencioso. Conforme a sociedade foi se
desenvolvendo intelectualmente, a forma de resoluo
de conflito a ser escolhida deveria ser a que no se
desse pela submisso do fraco ao mais forte.
A jurisdio utilizada hoje estatal, confiada
aos magistrados, monoplio do Poder Judicirio, sendo
a ela competida a distribuio de aplicao da lei
quando em caso de conflito de interesses e a
distribuio de justia.
O processualista Giuseppe Chiovenda define a
jurisdio como sendo a:
Funo do Estado que tem por escopo a
atuao da vontade concreta da lei por
meio da substituio, pela atividade de
rgos pblicos, da atividade de
particulares ou de outros rgos
pblicos, j no afirmar a existncia da
vontade da lei, j no torn-la,
praticamente, efetiva. (CHIOVENDA,
1969, p.3).
Destaca-se, a tambm concepo trazida por
Carnelutti (1952), onde a jurisdio seria a busca pela
justa composio da lide, sendo construda em sua
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base a teoria no conceito de lide, onde um dos
interessados manifesta a vontade de pretenso e o
outro resistncia, gerando como consequncia o
conflito, donde advm o papel da jurisdio consistente
em compor este conflito qualificado por uma
pretenso resistida.
O direito est ligado ao conceito de sociedade,
que, reciprocamente, encontra-se ligada ao conceito de
direito. Essa relao se manifesta na funo que o
direito exerce na sociedade, mantendo a organizao
social, sendo materializada na coordenao dos
interesses expressos e manifestados por seus
membros, harmonizando as relaes sociais
intersubjetivas, de modo que essa ordem atue com
forma de controle social.
O Estado tem como funo a atividade
jurisdicional, obtendo o dever de levar aos litigantes o
maior grau de certeza e segurana com relao
justia, tendo em vista que, as sua pretenses sero
decididas por juzes imparciais, sem interesse na
causa a ser julgada, levando em conta que h diversos
princpios que norteiam a atividade jurisdicional,
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garantindo sua imparcialidade, funcionamento e
justia das decises.
Jos de Albuquerque Rocha afirma que:
Quando falamos em espcie de
jurisdio, temos em vista no uma
pluralidade de funes jurisdicionais,
mas a diversidade de matrias sobre as
quais se exerce a jurisdio, ou outras
particularidades, que impem a
repartio das atribuies jurisdicionais
entre diferentes rgos, o que, contudo,
no infirma a tese de sua unidade, vez
que em todas essas situaes a jurisdio
, sempre, a mesma funo soberana do
Estado de dizer ou executar
coativamente o direito no caso concreto,
em ultima instncia, e de modo definitivo
e irrevogvel (ROCHA, 2005).
Portanto, compreende-se que a jurisdio uma
atividade realizada pelo Estado, tendo como objetivo a
aplicao do direito objetivo ao caso concreto trazido a
juzo, objetivando resolver uma crise jurdica de modo
a alcanar a pacificao social. Deve-se levar em
considerao que a jurisdio pode ser vista atravs de
trs enfoques distintos: poder, funo e atividade.
A jurisdio consolida-se em um complexo de
atos praticados pelo agente estatal investido da
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atividade jurisdicional no processo, forma que a lei
criou para que o exerccio dessa funo se tornasse
possvel. Encontra-se em estado de inrcia, conforme
uma caracterstica usada por leigos, devendo ser
provocada, ou seja, solicitada pela parte interessada
por motivos de uma pretenso resistida e no
resolvida de forma pacifica, de modo que, pelo fato de
ser uma atividade pblica, a funo jurisdicional no
atua espontaneamente e de oficio.
Desse modo, a jurisdio uma das principais
funes estatais, a qual o Estado substitui aos
titulares dos interesses em contrapartida para,
imparcialmente, buscar a pacificao social e a
instaurar a convivncia harmoniosa em sociedade.
Estando traduzida em outras palavras, consolida-se na
atividade realizada pelo Estado com objeto de
aplicao do direito objetivo ao caso concreto que foi
levado a juzo, resolvendo-o com carter
definitivamente de situao jurdica, de modo a
alcanar a pacificao social.
A jurisdio no pertence ao cidado, e sim ao
estado. Este no a carrega consigo para outros lugares
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(pases). Ela una em todo o territrio nacional, no
variando entre os estado membros. tambm
inafastvel, o que implica no direito de ao (direito de
buscar a jurisdio) e na definitividade das decises (
obrigatrio o cumprimento da deciso prolatada pelo
juiz).
3 A FUNO DA JURISDIO A LUZ DO
ACESSO JUSTIA
Cotidianamente a sociedade desenvolve vrios
litgios, e para a soluo destes, o indivduo tem a
garantia constitucional do acesso justia, que lhe
faculta a possibilidade de apresent-los aos rgos
jurisdicionais do Estado reivindicando os direitos
violados atravs da ao e recebendo o auxlio na
defesa. Sendo o Estado o monopolizador do poder
coercitivo da fora, ele tem como funo precpua - no
Estado-social - de interceptar tais lides, oferecendo um
processo clere, eficaz e justo. Para o professor e
ministro Teori Albino Zavascki:
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O direito efetividade da jurisdio que se denomina tambm,
genericamente, direito de acesso
justia ou direito ordem jurdica justa consiste no direito de provocar a atuao
do Estado, detentor do monoplio da
funo jurisdicional, no sentido de obter,
em prazo adequado, no apenas uma
deciso justa, mas uma deciso com
potencial de atuar eficazmente no plano
dos fatos.( ZAVASCKI, 1997, p. 32).
O acesso justia est previsto na Constituio
Federal de 1988, no artigo 5, inciso XXXV, dispondo
que a lei no excluir da apreciao do Poder
Judicirio leso ou ameaa a direito. No caput deste
mesmo artigo consta que todos so iguais perante a
lei, sem distino de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas a
inviolabilidade do direito vida, liberdade,
igualdade, segurana e a propriedade. A legislao
assegura a quaisquer indivduos o amparo
jurisdicional, independente de qual seja as condies
fsicas, sociais ou econmicas do cidado. Os
indivduos hipossuficientes possuem a garantia
constitucional do acesso justia atravs da
assistncia judiciria gratuita e da defensoria pblica,
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como previsto no inciso LXXIV, do mesmo artigo
supramencionado, que dispe que o Estado prestar
assistncia jurdica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficincia de recursos; - e tambm
na Lei 1060/50.
O acesso justia implica em, tambm, ter
paridade de armas entre os litigantes, e a efetivao
da garantia do princpio do contraditrio e da ampla
defesa, que est postulada no artigo 5 da CF/88, no
inciso LV, dizendo: os litigantes, em processo judicial
ou administrativo, e aos acusados em geral so
assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os
meios e recursos a ela inerentes;. Respeitando isto, a
indiscriminada busca pela justia ser exercida de
forma equnime.
Outro amparo legislativo encontra-se na 1
Conveno Interamericana sobre Direitos Humanos de
So Jos da Costa Rica, no artigo 8:
Toda pessoa tem direito de ser ouvida,
com as garantias e dentro de um prazo
razovel, por um juiz ou tribunal
competente, independente e imparcial,
estabelecido anteriormente por lei, na
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apurao de qualquer acusao penal
contra ela, ou para que se determinem
seus direitos ou obrigaes de natureza
civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
natureza. (BRASIL, 1988).
Este cenrio legislativo caracteriza o princpio
da inafastabilidade jurdica. O direito de recorrer
jurisdio absoluto, e nada pode afastar o indivduo
do direito de recorrer a ela.
O acesso justia apresenta duas vertentes,
sendo elas ter acesso Justia- como sendo ao Poder
Judicirio- e/ou ao que justo. Estar amparado pela
tutela jurisdicional do Estado no supe lograr ao que
justo, e sim possuir a prerrogativa de uma deciso
justa.
Existem os mtodos de autocomposio de
resoluo de conflito, que por vezes oferecem decises
mais justas do que as proferidas pelo Estado-Juiz. So
estes a arbitragem, a mediao e a conciliao,
tambm conhecidos como MESCs (Mtodos
Extrajudiciais de Soluo de Conflitos). A deciso
prolatada atravs destes mtodos tem a mesma fora
de sentena de um Juiz estatal e tende a ser mais
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pacfica, tendo em vista que busca satisfazer ambas as
partes envolvidas. A mediao e a conciliao so,
tambm, utilizadas pelo Estado nos frum e tribunais
do pas de forma gratuita.
Embora sejam formas legais de resoluo das
lides - como, por exemplo, a Lei n 9.307/96, sobre a
arbitragem a cultura jurdica brasileira no adere
competentemente a estes. So mtodos que, apesar de
serem muitos eficazes e cleres, no so contemplados
pelos operadores do direito brasileiro. Os advogados
das partes no as instruem sobre estes mtodos.
Talvez seja por receio ou constatao de que no so
to lucrativos quanto intempestividade processual
que o judicirio proporciona, j que esta demora
prolonga o ofcio, e, por conseguinte, a lucratividade do
advogado.
Entretanto, no ponto de vista biotico, essa
atitude fere indiretamente ao princpio da autonomia
da vontade, pois priva o indivduo da possibilidade de
escolha, o direcionando para apenas um caminho que
a tutela do poder judicirio, enquanto existem outros
meios de alcanar o fim objetivado. Ou seja, impem
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ao litigante, leigo, a seguir uma vertente, anulando a
possibilidade do ensejo do indivduo por outra,
manifestando a vontade apenas para propor a ao, e
no concebendo a vontade de escolha de um mtodo
alternativo.
A luz de outro princpio biotico, o da justia,
vislumbra-se que o acesso a justia erga omnes e
deve ser oferecido em igual poro. Porm no o que
ocorre na realidade. O que se v rotineiramente
aqueles que dispem de maior prestigio econmico so
os que desfrutam de maior celeridade processual e de
uma deciso mais favorvel ao prprio anseio. Esta
oferecida, tambm, de acordo com a necessidade de
cada indivduo, ou seja, o acesso a justia contempla a
todos, quando estes necessitarem da interveno do
Estado-Juiz na violao ou ameaa do direito.
Objetivando o bem estar e a plenitude da
satisfao social, do cidado, a disponibilizao deste
direito fundamental respeita os princpios da no
maleficncia e da beneficncia. O indivduo no poder
ser privado deste mecanismo, de extrema
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necessidade para ajudar o mesmo a se auto-afirmar
socialmente e defender-se daquilo que lhe oprime.
A garantia de que todos possuem o acesso
justia quando tiver o direito violado ou ameaado
indubitavelmente fundamental, j que, como disposto
no prembulo da CF/88, a Assembleia Nacional
Constituinte representa o povo brasileiro instituindo
um Estado Democrtico de Direito para assegurar aos
cidados os direitos que lhes pertencem. No entanto,
esta garantia somada com a impessoalidade do Poder
Judicirio na contemplao dos litgios, e ao
exacerbado numero de demandas que so levadas a
Justia, propicia o cenrio atual judicirio.
Neste, constata-se que, ainda que exista o
princpio da inrcia a qual a jurisdio s atua se for
provocada, contribuindo para que a maioria dos
conflitos dirios se resolva autonomamente os
fruns, tribunais e escritrios advocatcios, esto
cheios de demandas de conflitos simplrios que
poderiam ser resolvidas amigavelmente de forma
autnoma. Ou seja, a inteno de que ocorra a auto
resoluo dos conflitos abafada pela cultura
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brasileira, de o cidado querer vingar a prpria honra
em situaes cotidianas que so relativamente fteis
perante o Poder Judicirio.
Destarte, a celeridade processual fica
comprometida, pois o poder pblico hodierno est
sendo sucumbido pelo alto nmero de processos que
comporta, inviabilizado o acesso a uma deciso justa.
No seria ento possvel de questionamento se o fcil
acesso justia proporciona essa desenfreada busca
pelo judicirio? No seria bom que o acesso justia
fosse delimitado para que assim pudesse se alcanar
com celeridade uma deciso mais justa?
A celeridade processual, ainda que no seja
cumprida, est prevista na CF/88, no artigo 5, inciso
LXXVIII, a todos, no mbito judicial e administrativo,
so assegurados a razovel durao do processo e os
meios que garantam a celeridade de sua tramitao..
Certamente, no limitando o acesso justia,
que um direito fundamental, que este quadro ser
solucionado, mas sim adotando polticas pblicas de
reeducao sociojurdica, no apenas para os cidados
comuns, como tambm para o prprio judicirio.
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4 RELAO EXISTENTE ENTRE A
JUDICIALIZAO E O ACESSO JUSTIA
inegvel que a Constituio Brasileira tutela
uma gama extensa de direitos por ter sido escrita em
um perodo ps-ditadura, onde a populao
encontrava-se ferida, massacrada. Por esse motivo,
tentou-se resguardar o maior nmero de direitos
possvel, estabelecendo as mais variadas garantias
constitucionais.
inegvel tambm que, aps o processo de
redemocratizao, que teve como ponto culminante a
CF/88, o magistrado, bem como o poder judicirio, se
transformaram em um poder poltico com o dever de
fazer valer a lei e a Constituio Federal, o que aflorou
na sociedade a ambio de fazer justia e fazer valer os
direitos que lhes foram conferidos. Por esse motivo, a
busca pelo poder judicirio aumentou
consideravelmente, em um fenmeno que se
denominou judicializao.
Por esta, entende-se a alta participao da
Poder Judicirio em questes que deveriam ser
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decididas pelo Executivo ou pelo Congresso Nacional,
transferindo-se para os juzes a responsabilidade de
decidir. Desta feita, vantajoso para os que possuem
melhor condio de recorrer justia, os quais, mesmo
que digam o contrrio, possuem uma melhor
celeridade em seus processos e conseguem, na maioria
das vezes, lograr o que entendem como justo em seus
litgios. Segundo Barroso:
A Judicializao, no contexto brasileiro,
um fato, uma circunstncia que decorre
do modelo constitucional que se adotou, e
no um exerccio deliberado da vontade
poltica (BARROSO, 2008, p. 6).
A judicializao confere maior poder ao
judicirio, mas, por vezes, acaba por limitar o acesso
justia, que, como j explanado, previsto na
Constituio Federal de 1988. Recorrer jurisdio em
todos os litgios existentes, como na rea da sade, por
exemplo, conferir privilgio a uma classe favorecida
da populao, cujos honorrios advocatcios no pesam
no oramento. Mesmo que a defensoria pblica exista,
perceptvel que casos como esses possuem maior
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celeridade quando acompanhados de forma
insistentes, muitas vezes feitas pelos advogados das
partes.
pontual a existncia de uma descrena dos
cidados as polticas pblicas, e, de tal modo, recorrer
ao judicirio em todas as situaes seriam uma busca
para que essas polticas se tornassem reais, e efetivas.
Contudo, essa grande procura da jurisdio,
para resolver todos os litgios da vida cotidiana, vem
sobrecarregando o judicirio, que no consegue
garantir a celeridade que prevista.
Em suma, o Poder Judicirio guardio da
Constituio federal e deve faz-la valer, garantindo os
direitos fundamentais nela previstos. Porm, no se
podem camuflar as falhas decorrentes do poder
legislativo, como sua legitimidade, sua funcionalidade,
e a crise da legitimidade, que no podem ser decididos
pelos magistrados.
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5 CONCLUSO
Em suma, o Poder Judicirio no a prpria
justia e sim um dos meios para se alcanar o que
justo. Como explana o filsofo Karl Marx, o que move
o mundo a economia. Tendo como amparo o
pensamento marxista, cabvel afirmar que a
jurisdio uma das foras motrizes da mquina
capitalista brasileira. Os MESCs so excelentes meios
alternativos de resoluo de conflitos, regulamentados
no Cdigo de Processo Civil, mas, em alguns casos, no
so apontados aos litigantes nem pelos prprios
advogados, por entenderem os mtodos jurisdicionais
so mais rentveis.
Isso varia entre os pases. Nos EUA, por
exemplo, recorrer jurisdio a ultima ratio, sendo
os conflitos resolvidos com o auxlio dos MESCs, que,
alm de serem mais geis, tendem a proporcionar
decises mais justas. No entanto, em pases como esse,
o acesso justia mais dificultoso, j que os
demandantes devem dispor de prestgio econmico
para custear a ao. Ou seja, s recorrem ao Poder
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Judicirio queles que possuem boas condies
financeiras, devido ao alto custo processual, o que
torna o acesso justia, para muitos, inatingvel.
A Justia consiste em poder usufruir de um processo
devido, eficaz e clere, para que, seja possvel convencer o
rgo julgador acerca do que se considera como direito. A
autocomposio, pode ser uma forma eficiente para a
soluo de conflitos interpessoais.
O acesso ao Judicirio no ter o acesso justia,
pois, se afirmar isso tornaria mnimo o valor constitucional
em questo. O cidado tem garantido o acesso uma
deciso justa, que deve resolver de forma adequada ou da
melhor forma possvel a questo concreta estabelecida ao
rgo decisor .
Sendo o acesso justia uma garantia
constitucional, o Poder Judicirio est aberto a pleitear
quaisquer pretenses, desde que sejam juridicamente
possveis. Ao se alcanar a verdade do fato concreto,
alcana-se a Justia, estabelecendo para cada uma das
partes envolvidas o que realmente merecem.
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31
REFERNCIAS:
BARROSO, Luis Barroso. Judicializao, ativismo
social e legitimidade democrtica. Disponvel em:
. Acesso em jun.
2015.
BRASIL. Constituio (1988). Constituio da
Repblica Federativa do Brasil.
Disponvel em . Acesso
em 4 jun. 2015.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso
justia. NORTHFLEET, Ellen Gracie (trad.). Porto
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CHIOVENDA, Giuseppe. Instituies de Direito
Processual Civil, vol. II, trad. Bras. de J. Guimares
Menegale, 3 ed., So Paulo: Saraiva, 1969.
MAGALHAES, Daniella Santos. A judicializao dos
direitos sociais como consequncia da falta de
efetividade das polticas pblicas apresentadas pelos
poderes legislativo e executivo. In: mbito Jurdico,
Rio Grande, XV, n. 107, dez 2012. Disponvel em:
. Acesso em jun 2015.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 15
ed. So Paulo: Atlas, 2004.
-
32
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos
Fundamentais. Teoria Geral. Comentrios aos
arts. 1o 5o da Constituio da Repblica
Federativa do Brasil. Doutrina e
Jurisprudncia. 2. ed. So Paulo: Atlas S.A., 1998.
RIBAS, Osni de Jesus Taborda. Crise da jurisdio e o
acesso justia. In: mbito Jurdico, Rio Grande,
XIV, n. 94, nov 2011. Disponvel em:
http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_lin
k=revista_artigos_leitura&artigo_id=10664>. Acesso
em 4 jun. 2015
ROCHA, Jos de Albuquerque. Teoria Geral Do
Processo. 8 ed. So Paulo: Atlas, 2005.
ZAVASCKI, Teori Albino. Medidas cautelares e
medidas antecipatrias: Tcnicas diferentes,
funo constitucional semelhante. In: Inovaes
do Cdigo de Processo Civil, Livraria do Advogado.
Porto Alegre: 1997
-
33
ANEXOS
Pergunta feita aos entrevistados:
De acordo com o tema disposto, aduza sua
ponderao acerca da seguinte questo: Justia
ter acesso ao Poder Judicirio ou lograr o que
justo?
Emiliana Carolina de Oliveira Monteiro,
Defensora Pblica Estadual atuante na rea de
Famlia e coordenadora do Ncleo de
Atendimento de Cachoeiro de Itapemirim-ES.
A Justia, em algumas situaes, implica em ter
acesso ao Poder Judicirio, mas mesmo nessas
situaes, no se resume a isso. Quando se faz
necessrio pleitear judicialmente os direitos de
algum, a Justia consiste em poder usufruir de um
processo devido, eficaz e clere, em que,
substancialmente, sejam garantidos a ampla defesa e
o contraditrio, e no apenas formalmente, para que,
de fato, seja possvel convencer o rgo julgador acerca
do que se considera como direito.
-
34
Todavia, para que se alcance a Justia nem
sempre necessrio acessar o Judicirio. A
autocomposio , na prtica, a forma mais eficiente
para a soluo de conflitos interpessoais de forma
equnime, satisfatria e autnoma, e pode ser
realizada extrajudicialmente, sem os desgastes
naturais que envolvem um processo judicial.
Lograr o que justo uma percepo por
demais subjetiva. Aquilo que se considera justo
depende de diversos fatores e circunstncias. Trata-se
de conceito vulnervel a diferentes olhares e
perspectivas.
O essencial para se alcanar a Justia , isso
sim, realizar um processo de discusso e de construo
da soluo que se busca, de forma substancialmente
igualitria, em que as partes sejam dotadas das
mesmas oportunidades e dos mesmos instrumentos
para fazer valer a sua verso do que justo, ou, ainda
melhor, para construir um caminho alternativo,
considerado justo por ambas as partes, seja essa
processo dialtico realizado dentro ou fora do Poder
Judicirio.
-
35
Marcelo Smazzarro, Analista Judicirio da
3 Vara da Fazenda Pblica Estadual Municipal,
Registros Pblicos, Meio Ambiente e Execuo
Fiscal.
O acesso justia uma garantia
constitucional, de modo que por mais absurda que seja
a pretenso apresentada, o Poder Judicirio est de
portas abertas a receb-la.
A ideia de justia transcende a chancela de
acesso ao judicirio, que diga-se, no certeza que o
produto final sintetizado numa sentena ou acrdo,
tenha necessariamente a alcanado.
Para Aristteles, a Justia possui um carter
dual, ao mesmo tempo se refere a virtude que
disciplina o indivduo a agir com a devida proporo
em suas relaes, seja esta uma proporo geomtrica
ou aritmtica, tambm diz respeito s normas que
regem a organizao da sociedade.
Em suma, as nuances de um processo judicial
alcanam uma verdade processual, que pode coincidir
ou no com a verdade dos fatos. Se se alcanar a
-
36
verdade dos fatos, a justia se manifesta em sua
plenitude. Outrossim, no mundo de dever ser, quanto
mais acertado for o veredicto estatal, maior ser a
convico daquele que se mostra irresignado com o
comando do estado, afinal de contas, suprimido o
processo, e restando a cada um dos litigantes dizer
apenas a verdade dos fatos, o derrotado no seu ntimo
tem a convico do que justo, eis a Justia em sua
plenitude.
Doutor Robson Louzada Lopes, Juiz de
Direito da 3 Vara da Fazenda Pblica Estadual
Municipal, Registros Pblicos, Meio Ambiente e
Execuo Fiscal.
Acesso justia no ter acesso ao judicirio.
Esse sentido seria um tanto mope e reduziria a
amplitude do valor constitucional em tela. O que se
tem um sentido semntico que implica em dizer que
o cidado tem garantido o acesso a uma deciso justa.
A deciso justa aquela que resolve de forma
adequada, ou melhor, possvel questo concreta
estabelecida ao rgo decisor. H que se ressaltar que
-
37
a deciso justa dever ser erguida numa cooperao
entre as partes por meio de seus argumentos,
devidamente enfrentados pelo rgo julgador. Uma
deciso justa a melhor possvel erguida
democraticamente com a participao das partes. Esse
o sentido do referido valor ou princpio
constitucional.
-
38
A CONCILIAO COMO MTODO
ALTERNATIVO NA SOLUO DE CONFLITOS
POR MEIO DA CMARA BRASILEIRA DE
MEDIAO E ARBITRAGEM EMPRESARIAL
DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM-ES EM 2014
E 2015
RIEDA, Andressa5
NASCIMENTO, Dassirene do6
BARCELOS, Patrcia de Cssia Oliveira7 RANGEL, Tau Lima Verdan 8
Resumo: A presente pesquisa tratar mtodos alternativos
de soluo de conflitos, abordando-os e enfatizando a
conciliao como principal mtodo para resoluo de
conflitos empresariais, haja vista que, embora pouco
acessado, tal mtodo extrajudicial possui eficcia em
5 Graduanda do 3 perodo matutino do Curso de Direito no
Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:
[email protected]; 6 Graduanda do 3 perodo matutino do Curso de Direito no
Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:
[email protected]; 7 Graduada em Comunicao Social, Especialista em MBA em
Gesto Empresarial, Graduanda do 3 perodo matutino do Curso
de Direito no Centro Universitrio So Camilo-ES, e-mail:
[email protected]; 8 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela
Universidade Federal Fluminense, [email protected]
-
39
solucionar litgios, tendo em vista a sua atuao por meio
de um terceiro que tem como conduta propor solues aos
litigantes, de modo que, as partes percebam que as
sugestes so favorveis as partes com a funo de auxili-
las para identificar e resolver conflito, estabelecendo o
processo de comunicao e de avaliao de objetivos e
opes, que possibilite acordo mutuamente aceitvel. O
objetivo , portanto, demonstrar sua eficcia na resoluo
de conflitos empresariais, nos anos de 2014 e 2015, com
base nas informaes repassadas pela Cmara Brasileira
de Mediao e Arbitragem Empresarial (CBMAE) de
Cachoeiro de Itapemirim-ES.
Palavras-chave: Mtodos extrajudiciais. Conciliao.
Conflitos empresariais.
1 COMENTRIOS INICIAIS
Devido ao excesso de demandas processuais,
nos ltimos anos o sistema Judicirio, fomentado pela
facilidade de acesso a Justia pelos rgos pblicos,
no tem atendido as expectativas e aos anseios sociais,
tal demora trs como consequncia a constante
sensao de injustia, o que tem refletido tambm na
questo econmica das relaes comerciais, pois a
demora dos trmites processuais alm aumentar os
custos do processo, leva ao acarretamento da
-
40
hostilidade das relaes partes envolvidas,
prejudicando novos acordos negociais.
Deste modo, se faz necessrio buscar meios
alternativos para auxiliar a resolver os conflitos
inerentes a natureza humana de forma a restabelecer
a harmonia social. Portanto, a presente pesquisa
perpassa por analisar os tipos extrajudiciais como
recurso na soluo dos problemas empresariais,
enfocando principalmente na conciliao, posta em
prtica por meio da Cmara Brasileira de Mediao e
Arbitragem (CBMAE) DE Cachoeiro de Itapemirim -
ES.
2 OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUO
DE CONFLITOS
Os mtodos extrajudiciais de resoluo de
conflitos de acordo com Cintra et al. (2014, p. 33)
podem ser utilizados para pacificar com justia e com
maior eficincia. [], nos quais buscam uma
autocomposio, isto uma soluo do conflito por ato
das partes. Porm antes de mergulhar no mar dos
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41
conflitos extrajudiciais, faz-se necessrio uma
abordagem acerca dos conflitos em si, haja vista que
esto presentes no dia a dia de qualquer sociedade
onde haja a convivncia humana independente da
poca, e se caracteriza principalmente pela oposio de
interesses, que se faz cada vez mais presente na
sociedade atual, na qual a diversidade de vontades
resulta em decorrentes confrontos.
Como de conhecimento de todos, a
sociedade contempornea altamente
conflitiva, atingida por um sempre
crescente nmero de desavenas
envolvendo cada vez mais os seus
integrantes. O adensamento
populacional, o carter finito e
consequentemente a insuficincia dos
bens materiais e imateriais disposio
dos homens para a satisfao de suas
necessidades, a escassez de recursos, a
concentrao de riquezas em mos de
poucos, tudo coopera para que os
indivduos e coletividades se envolvam
cada vez mais em situaes conflituosas.
(CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO,
2014, p. 30)
Os motivos que resultam em situaes
conflitantes so muitos, e vivendo em uma situao de
conflito a infelicidade pessoal dos sujeitos envolvidos
-
42
previsvel que somado a outros problemas sociais
resultam em uma constante instabilidade social,
demonstrando de forma clara a sua desorganizao.
Em busca de satisfazer a necessidade de
reestabelecer tal sensao de bem estar, somada a
insuficiente estrutura poltico-administrativa, com seu
comportamento desrespeitoso perante os direitos das
pessoas (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 30)
surge ento a necessidade da busca por uma soluo
de fato, capaz de pacificar a convivncia de modo
adequado, nesse caso a Jurisdio, definida segundo
Cintra et al. (2014, p. 42) como uma das expresses
do poder estatal, caracterizando-se este como a
capacidade, que o Estado tem, de decidir
imperativamente e impor decises.
No entanto, esse eficiente mtodo estatal, com
todas as suas peculiaridades e caractersticas bem
definidas, acaba assumindo um papel diferente da sua
real finalidade, resultando e resumindo sua funo, de
solucionar conflitos, em um sistema constantemente
congestionado, do qual esperado a tutela adequada
as interesses e direitos.
-
43
Dessa forma faz-se necessrio elevar o raciocnio
a lgica de que existem formas alternativas de soluo
de conflitos, os quais retiram do judicirio algumas
demandas, tornando-o mais rpido, conforme ressalta
Cintra, Grinover e Dinamarco:
[] a justia estatal no o nico caminho pelo qual se procura oferecer
soluo aos conflitos. Avana no mundo
todo, inclusive no Brasil, a ideia de que
outros mtodos adequados de soluo de
conflitos no estatais podem ser
utilizados para pacificar com justia e
com maior eficincia. (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 32)
Tais mtodos so os meios alternativos de
resoluo de conflitos, os quais se do por meio da
mediao, conciliao ou arbitragem, os quais devido a
busca constante pela autocomposio tem como
consequncia a reduo significativa da recorrncia ao
judicirio.
-
44
3 MEDIAO
Dessa forma, alm das alteraes nos conflitos,
o Poder Judicirio tambm sofreu alterao, o juiz
no mais a simples vox legis, ou mero interprete
indiferente dos textos legais, mas um autntico porta
voz dos valores postos na Constituio (CINTRA;
GRINOVER; DINAMARCO, 2014, p. 34).
Portanto, com as mudanas da sociedade e
consequentemente dos conflitos, mudam-se tambm,
para que se torne equivalente a forma de solucionar
tais conflitos, o que atualmente tem se dado por meio
dos mtodos extrajudiciais de soluo de conflitos,
dentre os quais a mediao uma alternativa
considerada relevante.
Considerada uma tendncia mundial, a
mediao se caracteriza como alternativa ao dilogo
voltado para a satisfao dos interesses das partes que
envolvem conflitos comerciais. De acordo com Cahali:
a mediao um instrumento de
pacificao de natureza autocompositiva
e voluntria, no qual um terceiro,
imparcial, atua, de forma ativa ou
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45
passaiva, como facilitador do processo de
retomada do dilogo entre as partes,
antes e depois de instaurado o conflito.
(CAHALI, 2013, p. 86)
Embora a cultura brasileira ainda aponte na
direo da busca do poder judicirio como forma de
resoluo de conflitos sociais e empresariais, sabe-se
que esse no o melhor dos caminhos, principalmente
se as partes tiverem por inteno a preservao da
relao havida entre elas.
O empresrio empreendedor sabe bem que o seu
sucesso depende de correta conduo de todos os
detalhes do seu negcio, o que envolve no apenas as
negociaes com fornecedores e/ou clientes, mas
tambm dos ajustes com funcionrios, entre os scios,
em relao aos parceiros comerciais, mediante
agncias de comunicao e markenting e
eventualmente at com a imprensa.Portanto, manter
vnculos se torna primordial aos negcios
empresariais, na qual o mercado atualmente
globalizado solicita.
Por conseguinte o fato de expor seus conflitos a
pblico desprestigia a imagem de uma empresa, e no
-
46
s isso, como tambm avana para originar mais
contenda. Por isso, a mediao como mtodo de
resoluo de conflitos nestes casos so mais viveis.
Pois ter auxilio de um terceiro, neutro e imparcial
que forjar meios de restabelecer a comunicao entre
os litigantes, para que os prprios possam chegar a um
acordo aceitvel a ambos, como respaldado por Sales
(2006, p. 23) quando diz que a mediao estimula,
atravs do dilogo, o resgate dos objetivos comuns que
possam existir entre os indivduos que esto vivendo o
problema. E, alm disso, o processo feito de forma
sigilosa, dentro das normas ticas dispostas pela
cmara
4 CONCILIAO
A conciliao o ato ou efeito de combinar,
ajustar ou harmonizar coisas que parecem contrrias
ou contraditrias; ajuste entre demandantes, para pr
fim sua demanda legal (HOUAISS, 2001), ou seja,
ela ocorre quando as partes litigantes escolhem
apaziguar ou mesmo eliminar a discrdia entre elas.
-
47
No entanto, a contenda muitas vezes est to
avantajada que sem a ajuda de um terceiro para
facilitar um entendimento amigvel, a soluo do
conflito pode estar sujeita a fomentao irreparvel.
Dessa forma, a figura de um conciliador se faz
necessrio na hora de resolver e buscar um dilogo
eficaz, capaz de atenuar ou mesmo recuperar a relao
havida entre elas.
O conceito de conciliao se assemelha muito ao
da mediao, pois em ambos as partes precisam estar
dispostas a aderir o sistema de conciliao. A diferena
reside no papel atribudo ao intermedirio, que na
mediao ele apenas apoia as partes para que delas
origine a soluo.
J na conciliao o terceiro tem como conduta
propor solues aos litigantes, de modo que, as partes
percebam que as sugestes so favorveis a ambas e
no imposta como feita pelo Judicirio. O que a torna
vantajosa para os que desejam manter a cordialidade
do convvio, principalmente no que se refere ao
sistema empresarial nos seus relacionamentos
negociais.
-
48
Apesar de, por vezes, o Poder Jurdico no se
utilizar da maneira a conciliao em seus processos.
Ela est inserida na lei, tornando-a um direito que
deveria ter-se mais zelo, pois um importante
instrumento de resocializao.
Como previsto no Cdigo de Processo Civil
(CPC), art. 125, inciso IV, dever do magistrado
tentar, a qualquer tempo, conciliar as partes
(Includo pela Lei n 8.952, de 13.12.1994), alm desse
dispositivo, outros como no Cdigo Civil Art. 840 que
diz lcito aos interessados prevenirem ou
terminarem o litgio mediante concesses mtuas. O
que demonstra a opo do legislador por esse mtodo
na resoluo de conflitos.
5 ARBITRAGEM
Como o terceiro e no menos importante
mtodo alternativo de soluo de conflitos tem-se a
arbitragem, que se resume em uma tcnica onde as
partes, em acordo, delegam poderes a um ou mais
especialistas, os quais devem intervir, decidir e
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49
proferir sentena, com valor de ttulo executivo
judicial.
De acordo com Cahali (2013, p. 86) a
arbitragem, ao lado da jurisdio estatal, representa
uma forma heterocompositiva de soluo de conflitos,
isso porque so as partes submetem o conflito, por
meio de assinatura do compromisso arbitral, que
ocorre aps comum acordo e decidem que um terceiro,
ou colegiado ter poderes para direcion-los a uma
soluo sem que haja a interveno estatal.
Ainda de acordo com Cahali, se comparado a
mediao e a conciliao, a arbitragem considerada a
melhor alternativa para solucionar conflitos, haja
vista que o modelo mais adequado para diversas
situaes:
a deciso dada pelo arbitro impe-se as partes, e por essa razo a soluo
adjudicada, e no consensual, como
pretende na conciliao e na mediao, e
delas pode ser exigido o cumprimento,
porm a execuo focada se far perante
o Poder Judicirio, sendo a sentena
arbitral considerada um ttulo executivo
judicial. (CAHALI, 2013, p. 86)
-
50
Munido de imparcialidade, assim como a
jurisdio, o arbitro, que deve ser especialista, tem o
dever de observar o que dispe a Lei de Arbitragem
(9307/96), tornando-se dessa forma capaz de dirimir o
conflito com mais facilidade.
A sentena arbitral irrecorrvel, ou seja, no
permite recurso. Dessa forma a deciso de um arbitro
se torna mais forte do que a deciso de um juiz, haja
vista que a desconstituio de uma deciso arbitral s
se da por meio de nulidade, que est disposta na lei j
citada, e caso a sentena no seja cumprida, faz-se
necessrio acessar a jurisdio, pois s o Estado pode
forar o cumprimento de uma deciso patrimonial.
6 A CMARA BRASILEIRA DE MEDIAO E
ARBITRAGEM EMPRESARIAL DE CACHOEIRO
DE ITAPEMIRIM
A CBMAE (Cmara Brasileira de Mediao e
Arbitragem Empresarial) de Cachoeiro de Itapemirim,
tem como objetivo oferecer para pessoas fsicas e
jurdicas a soluo definitiva para conflitos que versem
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51
acerca de direitos patrimoniais disponveis, ou seja,
aqueles que podem ser objeto de contrato.
A inteno solucionar os conflitos de forma
mais gil, gerando benefcios tanto para as partes que
entram em acordo quanto para a Justia, que pode
direcionar seus recursos aos processos que realmente
exigem apenas a sua atuao para que se chegue a
uma soluo.
Dentre os conflitos por meio da CBMAE Sul
Capixaba importante destacar a dissoluo
societria, problemas condominiais, inadimplncia,
conflitos imobilirios e com a construo civil, ttulos
de crdito, descumprimento de contratos,
indenizaes, entre outras.
De acordo com Simone Gonalves da Cunha
Fontes, Superintendente e Coordenadora da CBMAE
em Cachoeiro de Itapemirim-ES, o ingresso na soluo
dos problemas com base na conciliao, mediao ou
arbitragem a exigncia apenas que uma das partes
interessadas se dirija sede da Cmara, portando
documentos pessoais. A partir da o processo
-
52
simples: uma atendente far o registro do processo e
dar incio negociao.
Ainda segundo ela, importante ressaltar que
nos meios extrajudiciais a deciso conduzida por
rbitros e articuladores, que podem ser advogados,
engenheiros, mdicos, psiclogos, contadores,
dentistas, pedagogos, professores e muitos outros
profissionais. Todos eles passam por cursos de
formao, os quais so aplicados pelo Sebrae em
parceria com a Confederao das Associaes
Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB).
O mais importante talvez seja ressaltar que as
decises da Cmara de Mediao e Arbitragem tm
poder de sentena judicial e sobre elas no cabem
recursos.
7 NEGOCIAO E CONFLITOS EMPRESARIAIS
As negociaes esto presentes no cotidiano de
qualquer empresrio que participe das atividades
comerciais, dos atos de gesto ou mesmo apenas como
supervisor dos trabalhos voltados para o exerccio da
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53
atividade econmica e a sua forma de aplicao tem
mudado juntamente com a realidade do seio famlia,
pois toda aquela organizao verticalizada
hierarquicamente na figura patriarcal, ou seja, em que
havia um chefe que demandava as ordens que deveria
ser acatadas sem contestao.
No entanto, hoje j dado lugar figura de um
lder que busca desenvolver suas atividades negociais
envoltos por uma sociedade, em que todos os
componentes desse grupo empresarial so dotados de
voz para emitir sua opinio, isto , a deciso feita
de forma cooperativa.
O lder aquele que tem maior desenvoltura e
conhecimento para lidar com determinada situao e
concomitantemente manter em unio a equipe ou
como ressalta Ferreira (2013, p. 9) algum lidera, no
por ser mais antigo ou hierarquicamente superior,
mas por ser possuidor das competncias necessrias
para que o grupo alcance a deciso mais
fundamentada e correta. E assim surgindo uma
estruturao horizontal na negociao, que provm da
-
54
participao ativa de todos os integrantes que
converge para o mesmo interesse.
Esse fato permite que se recorde a imagem do
feixe de varas smbolo do fascismo de Mussolini, que
era usado na Roma Antiga como sinal de unio. Assim
sendo comparado com os anseios comerciais atuais,
que busca obter acordos de difcil rompimento,
garantindo maior estabilidade. Pois um galho sozinho
pode ser quebrado, mas unidos se tornam resistentes.
No entanto, no foi apenas a estrutura fsica
empresarial que sofreu mudanas, tambm o modo de
alcanar seus objetivos. Em que se acreditava que
fazer um bom negcio era quando um ganhava muito e
o outro sofria prejuzo. Entretanto esses acordos eram
frgeis e curtos, porque aquele que perdia, por vezes
no fazia novos acordos com aquela empresa ou pelo
prejuzo ser grande no conseguia cumprir com suas
obrigaes.
Como relatado por Ferreira (2013, p.11) quando
descreve que sa a negociao primal, impulsionada
pelo emocional, centrada no egosmo da imposio das
vontades, razo de tantos conflitos, e surge aquela que
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55
busca benefcios mtuos e o estabelecimento de
relaes duradouras: a negociao cognitiva. Ou seja,
o objetivo o mesmo obter lucro, porm em grande
quantidade de forma instantnea pode gerar frutos
ruim e pequeno em relao aquele que se obtm em
pequena quantidade, mas permanente.
Como nos ensina Camargo (2006):
[...] o bom negociador no aquele que
arrasa o oponente, derrota, supera, impe a sua posio, mas aquele que
consegue vencer junto com o outro lado,
tirar o mximo de proveito da negociao
sem esquecer-se de preservar o
relacionamento, ou at mesmo
acrescentar mais confiana neste
relacionamento, aumentando a
disposio das partes para negociaes
futuras. (CAMARGO, 2006, p. 1)
Essa modificao comercial e cultural notvel
no dia-a-dia, porque os comerciantes esto por vezes
dispostos a fazer concesses para conquistar clientes.
Todavia, os conflitos gerados nas relaes humanas,
ainda so permanentes, visto que como relata
Schnitman (1999, p.170) os conflitos so inerentes
vida humana, pois as pessoas so diferentes, possuem
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56
descries pessoais e particulares de sua realidade e,
ps- conseguinte, expem pontos de vista distintos,
muitas vezes colidentes, ou seja, se trata de algo
natural ao que diz respeito ao convvio social. Contudo,
se no for tratado de forma saudvel, evitando que se
criem resistncias infrutferas e nocivas, torna-se o
emperrar ao desenvolvimento de relaes comerciais.
No meio empresarial os conflitos podem ser
entre dois gerentes (intra-departamental), entre os
scios (inter- social), entre duas empresas parceiras
(inter-empresarial), entre dois departamentos de uma
mesma empresa (inter-departamental) ou entre a
empresa e seus clientes (inter-relacional).
Necessitando da ajuda de terceiro para ajudar
na resoluo dessa contenda, mas que por diversas
vezes, as perdas com as aes judiciais vo bem alm
do prprio valor da causa, pois quando um
comerciante, por exemplo, ganha uma ao contra seu
fornecedor, ele perde o fornecedor, logo, ele ganhou o
que buscava de imediato, porm perde ao longo do
prazo. Ou de outro lado, se um funcionrio ganha uma
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57
ao contra o seu ex-patro, perde futuras
oportunidades de indicaes desse ex-empregador.
Assim, o ideal seria encontrar uma frmula na
qual as controvrsias pudessem ser resolvidas de modo
pacfico, e a construo de acordos mutuamente
satisfatrios pudesse resultar na preservao das
relaes entre as partes, sejam entre o empresrio e
seus fornecedores, seus clientes, seus funcionrios ou
mesmo entre suas filiais ou departamentos.
8 CONCLUSO
Diante do exposto, os conflitos, de modo geral
esto presentes mediante a convivncia em sociedade,
o que nos permite aprontar que independente onde h
serem humanos, provavelmente haver desvio e
divergncia de opinies, insatisfaes e
consequentemente os conflitos tambm estaro
presentes.
Com os conflitos instaurados, so necessrias
formas para solucion-lo em busca de reestabelecer a
paz e trazer de volta a estabilidade social, para isso, ao
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58
contrrio do que se v existem inmeras formas de se
buscar tal soluo de tais conflitos de forma
extrajudicial, por meio da mediao, conciliao ou da
arbitragem, mtodos alternativos os quais so
munidos de caractersticas e especificidades distintas,
para diferentes tipos de desentendimentos.
Com relao aos conflitos empresariais, o
procedimento para se chegar a um acordo no ocorre
de forma distinta. Aps instaurado o conflito, os
responsveis vo em busca de formas para solucion-
lo, como foi possvel confirmar por meio das
informaes repassadas pela Cmara Brasileira de
Mediao e Arbitragem Empresarial.
Os nmeros apontam que no ano de janeiro de
dezembro de 2014, foram realizadas um total de 183
(cento e oitenta e trs) conciliaes, sendo que 182
foram frutferas e apenas uma no atingiu a finalidade
esperada. J no ano de 2015, mais precisamente de
janeiro a meio, j somam 101 (cento e uma)
conciliaes resultando, dentre as quais apenas uma
foi considerada infrutfera.
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59
Portanto, aps anlise das informaes, aliadas
aos conceitos abordados, possvel concluir que a
conciliao pode ser considerada como um mtodo
alternativo eficaz na soluo de conflitos empresariais,
de forma extrajudicial, levando em conta a sua
agilidade se comparado a enorme demanda
provavelmente enfrentada se tais conflitos fossem
levados ao judicirio.
REFERNCIAS:
CAHALI, Francisco Jos. Curso de arbitragem:
resoluo CNJ 125/2010 (e respectivamente de 31 de
janeiro de 2013) : mediao e conciliao. 3 ed. So
Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
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Acessado em 16 de abril de 2015.
-
60
CINTRA, Antnio Carlos de Arajo. GRINOVER, Ada
Pellegrini. DINAMARCO, Cndido Rangel. Teoria
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FERREIRA, Gonzaga. Negociao: Como usar a
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JUNIOR, Luiz Antonio Scavone. Manual de
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SCHNITMAN, Dora Fried; LITTLEJOHN,
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Alegre: Ed. Artmed, 1999.
-
61
MEDIAO DE CONFLITOS AMBIENTAIS,
DIANTE DOS IMPASSES DO ACESSO AOS
RECURSOS HIDRCOS EM TEMPO DE
ESCASSEZ
MARTINELLI, Ludmilla Coimbra9
RANGEL, Tau Lima Verdan 10
RESUMO: O presente trabalho foi desenvolvido com o
objetivo de analisar o acesso a gua como um direito
fundamental, em tempo de escassez e incentivar o uso
racional e sustentvel dos recursos ambientais. Discutindo
a necessidade de uma profunda mudana na eficcia da
Poltica Nacional de Recursos Hdricos e na ao
comportamental do ser humano em relao com o meio
ambiente, principalmente na gesto do uso da gua potvel
em poca de escassez. Dessa forma, necessrio entender a
importncia do acesso aos Recursos Hdricos como um
Direito Humano, pois uma vez nesta qualidade esse direito
no pode ser negado. Sua negao violaria o direito ao
trabalho, ao desenvolvimento econmico e a sua
essencialidade, a vida. Para a realizao deste artigo e,
pregou-se os mtodos de abordagem hipottico-dedutivo e
de procedimento monogrfico, alm da pesquisa
bibliogrfica.
9 Graduanda do Curso de Direito do Centro Universitrio So
Camilo ES,[email protected]; 10 Professor Orientador, Doutorando vinculado ao Programa de
Ps-Graduao em Sociologia e Direito pela Universidade Federal
Fluminense. Mestre em Cincias Jurdicas e Sociais pela
Universidade Federal Fluminense, [email protected]
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Palavra-chave: Direitos humanos. Acesso gua. gua
potvel. Escassez Hdrica. Proteo.
Abstract: This work was developed in order to analyze the
access to water as a fundamental right , shortage of time
and encourage the rational and sustainable use of
environmental resources . Discussing the need for a
profound change in the effectiveness of the National Water
Resources Policy and behavioral action of man in relation
to the environment , especially in managing the use of
drinking water in times of scarcity. Thus, it is necessary to
understand the importance of access to water resources as
a human right, because once this quality that right can not
be denied . His denial would violate the right to work ,
economic development and its essentiality , life . To carry
out this article and preached to the methods of
hypothetical-deductive approach and monographic
procedure in addition to the literature.
Keywords: Human rights. Access to water. Potable water.
Water Scarcity . Protection.
1 INTRODUO
Vive-se o medo da extino do planeta, do uso
desenfreado dos recursos naturais, da degradao
ambiental, das mudanas climticas e da escassez dos
bens comuns pelo uso inadequado dos recursos
naturais renovveis e no renovveis. Resultando na
poluio dos recursos hdricos, devastao de florestas,
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poluio do ar, a reduo da biodiversidade.
Atualmente, os recursos hdricos do Brasil esto sendo
objeto de preocupao dos governantes e discurso de
partidos polticos para conquistar o carisma do povo.
Quando se pensava em falta de gua as atenes eram
voltadas para a regio nordeste. A escassez no era
aparente, no parecia uma problemtica prxima, a
final o Brasil sempre foi visto como um pas abenoado
pela vasta biodiversidade de meio e de seus
abundantes rios, alguns dos maiores do mundo.
No Cdigo Civil de 1916, promulgado durante
o governo do Presidente Wenceslau Braz Pereira
Gomes, as polticas pblicas no eram expressivas
acerca das questes ambientais o nico interesse era
evitar conflitos de vizinhana, reprimindo o uso nocivo
da propriedade. Somente 1934 o meio ambiente ganha
um posicionamento relevante nas polticas pblicas
por meio da promulgao da Constituio Republicana
Brasileira e o Decreto N 24.643, de 10 de julho de
1934 (Cdigo de guas).
Com a Constituio Federal de 1988 nasce o
conceito de metaindividualidade do bem ambiental,
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que se caracteriza pela coletividade da titularidade e
complexidade do bem. Os recursos hdricos comeam, a
ento, ganhar maior espao na legislao e a Carta
Magna passa a declarar as guas domnio pblico da
Unio, competente para instituir o sistema nacional de
gerenciamento de recursos hdricos. Sendo a gesto de
responsabilidade pblica e da sociedade. No exerccio
de sua competncia a Unio Instituiu a Poltica
Nacional de Recursos Hdricos, Lei N 9.433 em 8 de
janeiro de 1997, criando o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hdricos, regulamentando
o inciso XIX do art. 21 da Constituio Federal11, em
busca de uma nova forma de governana das guas
doces.
Alm de atender a demanda social pela
descentralizao, integrao e participao, determina
a bacia hidrogrfica como unidade territorial para a
implementao da gesto. O processo de
descentralizao ocorrido no Brasil torna complexa a
11 Art. 21. Compete Unio: [...]
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos
hdricos e definir critrios de outorga de direitos de seu uso;
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forma de distribuio de competncia de polticas de
gesto dos recursos hdricos entre os rgos dos
diferentes nveis de governo, levando a um conflito de
polticas sobre um mesmo territrio. Ficando a gesto
da polticas pblicas de responsabilidade dos rgos
colegiados como o Comit de Bacia Hidrogrfica. Este
modelo de gesto de recursos hdricos por bacias
hidrogrficos teve como modelo o adotado na Frana,
um pas de sistema unitrio e concentrado, vindo a ser
aplicado em um pas federativo e desconcentrado, o
que j deveria ser um sinal de alerta para as
dificuldades e adaptaes que deveriam ser aplicadas
para se alcanar a eficincia pretendida.
Uma vez no realizada essas adaptaes cria-
se uma nuvem de conflitos quanto a competncia de
gerencia vertical Unio, Estados e Municpios, e
horizontal entre governos da mesma esfera de poder e
entre estes e as organizaes da sociedade e as
organizaes empresariais. O no exerccio de tal
competncia faz com que conflitos ambientais que
tenham como objeto a gua doce sejam delegados a
outros mbitos de tratamento, como o Poder
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Judicirio. Contudo, as regras e sanes jurdicas
previstas pela legislao ambiental mostram-se
incapazes de acompanhar e abranger o dinamismo do
comportamento socioambiental, e a resoluo dos
conflitos de interesses que surgem na sociedade, segue
ainda, no Brasil, o arcaico modelo do monoplio do
Poder Judicirio.
Consonante a necessidade da concepo de
estruturas que conduzam a novas reflexes e atitudes,
assoalhando um caminho no qual possa prevalecer o
dilogo e a construo de consensos, e no um
imperativo e ineficaz, e por vezes tendencioso,
regramento estatal. As formas alternativas de lidar
com as disputas como a arbitragem, conciliao e
mediao aparecem em resposta ineficcia do Poder
Judicirio, no tratamento dos conflitos e para uma
nova poltica de governana da gua.
Neste sentido, importante esclarecer que o
mtodo abordado neste trabalho o de mediao. A
mediao tende a tratar as disputas de forma mais
rpida e com custos mais baixos que o processo
judicial. Visa proteo ambiental fundada no dilogo,
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que atravs de um mediador terceiro imparcial,
assessora as pessoas envolvidas no conflito possam
negociar uma soluo satisfatria para todos os
envolvidos, desde que anudo tambm pelo Ministrio
Pblico. Visto que a mera transao pelo dano gera,
por sua vez, uma inconstitucionalidade, no sendo
possvel sua renncia, vez que a proteo ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado um Direito
Fundamental, disposto no artigo 225 da Constituio
da Repblica Federativa do Brasil de 198812.
Os conflitos quando relacionados ao uso da
gua so marcadas pelos interesses divergentes dos
diversos setores da sociedade, do Estado e da
Economia, que devem chegar ao censo comum a fim de
realizar os objetivos do Plano Nacional de Recursos
Hdricos cooperao, corresponsabilidade, incluso
social e igualdade de necessidade. Dando um passo
para uma nova forma de interao entre os homens e o
meio.
12 Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o
dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras
geraes.
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2 A PROBLEMTICA DE ESCASSEZ DA GUA
NA SOCIEDADE CONTEMPORNEA
Corolrio vida, a gua constitui elemento
necessrio para quase todas as atividades humanas,
trata-se de bem precioso, de valor inestimvel, que
deve ser conservado e protegido dado a sua essncia.
Durante o ciclo hidrolgico, a gua sofre alteraes em
sua qualidade, isto posta capacidade de diluir e
assimilar esgotos e resduos, mediantes processos
fsicos, qumicos e biolgicos, que proporcionam a sua
autodepurao. No entanto, esta capacidade limitada
e demanda de tempo quando esta recuperao
acontece de forma natural.
A escassez de gua um dos maiores
problemas a ser enfrentado pelo sculo XXI, de acordo
com as estimativas do Instituto Internacional de
Pesquisa de Politica Alimentar, com sede em
Washington, cerca de 2,4 bilhes de pessoas no mundo
vivem em regies com escassez de gua. Isto porque
apesar de o planeta Terra ser conhecido como planeta
gua, os recursos hdricos esto dispostos de forma
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irregular. Como por exemplo, o Brasil fonte de 13% de
gua doce do planeta, que mesmo a porte de uns dos
maiores rios do mundo Rio Amaznia, conta com
regio Semirida nordestina, segundo a
Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste
tem como trao principal as frequentes secas que tanto
podem ser caracterizadas pela ausncia, escassez, alta
variabilidade espacial e temporal das chuvas.
(SUDENE, 1994) Em mesmo contendo o Sudeste
enfrenta problemas pelo grande crescimento
populacional e as dificuldades do sistema de
abastecimento de gua, segundo o Relatrio de
Conjuntura dos Recursos Hdricos Informe 2014:
gua doce superficial: Apesar de o Brasil
possuir 13% da gua doce disponvel do
planeta, a distribuio desigual, pois 81%
esto concentrados na Regio Hidrogrfica
Amaznica, onde est o menor contingente
populacional, cerca de 5% da populao
brasileira e a menor demanda. Nas regies
hidrogrficas banhadas pelo Oceano Atlntico,
que concentram 45,5% da populao do Pas,
esto disponveis apenas 2,7% dos recursos
hdricos do Brasil (ANA, Informe 2014, pg.
27)
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70
A abundncia da gua, de maneira quase
onipresente, fez com que por anos ela fosse usada de
forma negligente em todas as suas
multifuncionalidades, no abastecimento, na produo
industrial, na agricultura. A agncia Nacional de
guas divulgou em 2011 um levantamento sobre a
situao dos municpios brasileiros com relao s
demandas urbanas, indicando que dos 5.565 (cinco mil
e quinhentos e sessenta e cinco) municpios
brasileiros, 55% podero ter dficit no abastecimento
de gua. Desses, 84% necessitam de investimentos
para adequao de seus sistemas produtores e 16%
precisam de novos mananciais. (ANA, 2011).
Na zona rural, o descaso com o recurso hdrico
muitas vezes penalizado desde a sua origem, ou seja,
donde se inicia o curso de gua, as nascentes,
cabeceira, olho dgua ou insurgncia, de forma direta
ou indireta, por meio do desmatamento da mata ciliar,
contaminao por agrotxicos, dejetos de animais,
humanos, pela atividade agropecuria. O Instituto
Internacional de pesquisa de Politica Alimentar
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71
atribuiu agricultura o gasto de 80% da gua doce do
planeta, salientou que:
Agriculture consumes 80 percent of the worlds blue water from rivers and aquifers, and is therefore both vulnerable to water scarcity and
a contributor to it (Rosegrant, Cai, and Cline
2002). Water scarcity is exacerbated by climate
change, especially in the driest areas of the
world, which are home to more than 2 billion
people and to half of all poor people. Moreover,
increased flooding as a result of climate change
and environmental degradation threatens
agriculture in many parts of the world. (IFPRI,
2012)
O Instituto Internacional de Politica Alimentar
IFPRI, aponta que a escassez da gua acarretara um
grande impacto nas decises de investimento e custos
de base, encarecendo todo a linha de produo
alimentcia.
Atualmente, o Brasil enfrenta uns dos maiores
stress hdrico do pas, contando com dois agravantes a
ineficincia da gesto pblica e uma das secas mais
severas, instaurando um ambiente conflitante, ou seja,
de interesses divergentes dos diversos setores da
sociedade relacionados ao uso da gua. A diminuio
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da gua constante, e sua recuperao demanda um
tempo maior que a sociedade pode esperar.
3 O DIREITO A GUA, GESTO DE RECURSOS
HDRICOS E POLITICAS PBLICAS NO
BRASIL
No Brasil por ser um recurso abundante, ela
tratada como bem pblico, comum a todos, sem valor
econmico. A ausncia de valor econmico no se d
pela dispensabilidade desta, mas sim pela dificuldade
de valorao. Com o crescimento da demanda,
comeam a surgir conflitos entre uso e usurios, a qual
passa a ser escassa e, ento precisa ser gerida como
bem econmico.
A gua pode ser utilizada em carter
consultivo, quando a gua captada do seu curso
natural e somente parte dela retoma ao curso normal,
ou no consultivo, onde toda a gua captada e toda
devolvida ao curso de origem. A gesto dos recursos
hdricos realiza-se mediante procedimentos integrados
de planejamento e de administrao e, deve ser
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73
realizado atravs de uma boa gesto e de adequado
processo politico.
Planejamento, no conceito da cincia
econmica, concilia recursos escassos e necessidades
abundantes. Dos recursos hdricos, o planejamento
pode ser definido como conjunto de procedimentos
organizadores que visam atendimento das demandas
de gua, considerada a disponibilidade restrita do
recurso. Em sentido lato, gesto de recursos hdricos
a forma pela qual pretende equacionar e resolver as
questes de escassez relativa dos recursos hdricos,
bem como fazer o uso adequado, visando a otimizao
dos recursos em beneficio da sociedade.
A gesto de recursos hdricos,
fundamentalmente, para que seja implementada
depende de motivao poltica. Tornando possvel o
planejar do aproveitamento e do controle dos recursos
hdricos e ter meios de implantar as obras e medidas
recomendadas.
No Brasil a gesto de recursos hdricos,
atravs de bacia hidrogrfica, tem papel fundamental
na gesto ambiental. Isso conforma uma base poltico-
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administrativa cujo fundamento pelo gerenciamento
dos recursos hdricos pelas bacias hidrogrficas e em
outra ponta dois pontos bsicos de gesto, a outorga
para o uso e a cobrana pelo seu uso. A gesto dos
recursos hdricos deciso poltica, motivada pela
escassez relativa de tais recursos e pela necessidade
de preservao para as futuras geraes, fazendo uso
da sustentabilidade do recurso.
Historicamente, essa gesto tem acontecido em
pases ou regies em que a pouca gua decorre da
aridez do clima ou da poluio, havendo limitao ao
desenvolvimento econmico e social. No Brasil a
ateno sobre a escassez comeou, a partir da dcada
de 70, com os ambientalistas organizando-se e agindo
de forma a provocar a antecipao de aes que visem
a conservao dos recursos hdricos, antes que as
situaes atinjam ndices crticos.
Atualmente, a crise na gesto dos recursos
hdricos brasileiro entrou em colapso por falta de
gerencia pblica e principalmente por no levar
informao ao pblico dos conflitos potenciais
existentes quanto ao uso da gua, impedindo a
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75
motivao poltica discusso e participao nos
processos gerenciais de tomada de deciso de uma
dada regio.
Muniz (2000:431) sugere que o passo inicial
seria a socializao dos membros das equipes, em
relao proposta de interdisciplinaridade. Esta
socializao ocorreria atravs da realizao de
reunies com as equipes para que estas consigam
internalizar este conceito como metodologia
integradora das diversas reas do conhecimento. Mas
esta etapa depende claramente da atuao de um
coordenador geral do plano diretor que deve procurar
administrar esta interdisciplinaridade efetivamente.
4 MEDIAO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS,
DIANTE DOS IMPASSES DO ACESSO A GUA
O reconhecimento da gua como direito
fundamental, ainda que tardio, ocorreu aps de ser
reconhecido como meio ambiente. Uns dos primeiros
documentos que implicitamente zelou por este bem foi
a Declarao Universal dos Direitos Humanos,
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76
proclamada pela Resoluo 217 A (III), da Assembleia
Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro de 1948,
apesar de em nenhum momento tecer algum
comentrio sobre a gua prev no artigo 25, que toda
a pessoa tem direito a um nvel de vida suficiente para
lhe assegurar e sua famlia a sade e o bem estar.
Em 1972, a Declarao de Estocolmo, ainda de
forma implcita admite que: O homem tem o direito
fundamental a liberdade, igualdade e ao gozo de
condies de vida adequadas num meio ambiente de
tal qualidade que lhe permita levar uma vida digna.
(FERREIRA FILHO, 2011, p. 80).
E nessa concepo de vida, como elemento
essencial a esta, que alguns ambientalistas comeam a
reivindicar a proteo e o reconhecimento da gua
como direito fundamental a vida humana, devendo
para tanto observ-la como bem finito e de uso comum.
Em 1977, acontece a primeira Conferncia sobre a
gua na Argentina.
Mais Tarde em 1992, por fora da pauta da
ECO-92, a gua foi expressa como direito fundamental
do ser humano por meio da Declarao Universal dos
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77
Direitos das guas, no artigo 2. Porm diferente da
Declarao Universal dos Direitos Humanos, a Carta
Internacional de Direitos Humanos, o Pacto
Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e
Culturais e outros no norma cogente, no faz
obrigao entre as partes.
No ano de 2000, o II Frum foi realizado em
Haia, na Holanda. Em 2003, o III Frum Mundial da
gua foi no Japo. Em 2006, na Cidade do Mxico,
realizou-se o IV Frum Mundial da gua, no qual foi
declarado expressamente que pela essencialidade da
gua esta direito humano bsico a vida do ser
humano.
E diante deste dilema que surgem inmeros
conflitos em relao ao uso da gua. Entre elas o
equilbrio entre a ordem econmica e o meio ambiente
ecologicamente equilibrado, afinal como explorar de
forma vivel e sustentvel as diversas espcies de
meio ambiente. Como definir parmetros de equilbrio
de explorao, de uso sem causar conflitos. Bom, de
acordo com Breitman e Porto (2001, p. 93), conflito
significa diferenas de valores, escassez de poder,
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recursos ou posies, divergncias de percepes ou
ideias, dizendo respeito, ento, tenso e luta entre
as partes.
Ou seja, consequncia de interaes pessoais,
que em matria ambiental so resultado de uma
pretenso explorao e ao uso de um bem comum,
sendo assim um conflito de cunho social. Pois sempre
um interesse publico, proveniente do direito difuso
contra o direito do particular. E um dos grandes
problemas envolvido neste tema a prpria forma com
que os doutrinadores abordam o dano ambiental.
Compreende-se que todo ato degrada o meio, mas
necessrio entender que a atividade econmica
essencial para a existncia do Estado e que todos os
atos devem ser analisados a longa data. Quando se
fala de meio ambiente no se pode esperar que este se
recuperasse de um dia para outro, e da mesma forma
que ele tem seu tempo para se equilibrar necessrio
que qualquer nova atividade a ser desenvolvida seja
pensada de forma consciente e capaz de assumir as
externalidades do meio.
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O mau uso da gua potvel, que o segundo
maior responsvel da crise hdrica, a discusso passa a
ser entre ente pblico e privado ou privado privado.
Neste momento, que as normas positivadas acabam a
prejudicar uma medida eficiente de solucionar a lide.
Por exemplo, dentro do tema deste trabalho, quando o
Estado probe um agricultor de irrigar sua plantao
em poca de escassez hdrica. Bom a violao desta
imposio restara na aplicao de multa e posterior
reincidncia do agricultor. Ao caso abstrato, vrias so
as consequncias jurdicas deste ato, primeiro que o
agricultor como cidado tem direito ao
desenvolvimento de sua atividade econmica, sem
ingerncia do Estado, desde que dentro da legalidade,
violando o aparente direito humano dele. Segundo
reflexo, que o arbitramento da multa no resolver o
problema do pequeno proprietrio, que j esta sem
renda porque no tem como desenvolver sua atividade
e agora com uma multa administrativa, ficando duas
vezes desamparado pelo Estado.
No caso expresso, a melhor soluo seria a
mediao. Pois desenvolveria uma verdadeira proteo
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80
ao meio ambiente, atendendo a discusso biotica
protetiva, eis que promove uma verdadeira discusso
sobre a lide se desenvolvendo em aes legitimas de
participao da cidadania. Ademais, a proteo ao
meio ambiente deve ser de cooperao.
6 CONCLUSO
Do estudo realizado, depreende-se a anlise de
que todos os conflitos socioambientais se referem em
alguma medida com a gesto ambiental, seja por parte
dos administradores da mquina estatal, seja por
parte de cada cidado inconsciente.
Desse modo, a aplicao positivada da
legislao do meio ambiente no vem se apresentando
uma forma eficiente de controlar o mau uso desses
recursos em especial da gua potvel. Assim a
mediao representa um meio extrajudicial de soluo
de conflitos com uma maior participao da sociedade
implantando uma tcnica mais eficiente e consciente.
Ademais, o acesso gua desde 2010 visto como um
direito humano, e a sua previso legal na Carta
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Magna, causa um efeito cascata conhecido como
judicializao, por ser uma matria de politicas
pblicas positivada. O que torna a mediao mais uma
vez, uma soluo mais eficaz, pois como um instituto
que exige das duas partes envolvidas uma discusso,
trs um resultado seguro, evitando que esta lide v
parar na justia.
Por fim, constata-se que a participao da
sociedade na busca de solues para a resoluo dos
conflitos de matrias critica como a da crise dos
recursos hdricos, tem-se mostrado eficiente se
comparada via judicial, pois desenvolve uma
discusso da tica da vida de forma protetiva que
serve de instrumento de conscientizao dos direitos e
deveres das partes.
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