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O NOVO DESENVOLVIMENTISMO E OS CONFLITOS
SOCIOAMBIENTAIS: O CASO DO PORTO DE JACONÉ (MARICÁ/RJ)
Eduardo Tavares Martins da Fonseca e Silva Mestrando pelo PPGEO-FFP/UERJ
INTRODUÇÃO:
O Brasil vive atualmente um período caracterizado pelo “novo
desenvolvimentismo”, conforme avaliam diversos autores. No “novo
desenvolvimentismo”, o setor privado tem um papel muito mais relevante na economia
que em outros períodos desenvolvimentistas da história brasileira. E o Estado atua
muito mais como um sócio, ao lado dos grandes agentes econômicos, do que como um
regulador.
No entanto, assim como em outros momentos “desenvolvimentistas” da história
brasileira há uma ênfase dada às grandes obras de infraestrutura e aos grandes projetos
de desenvolvimento econômico. Porém, diante da maior desregulação do atual período,
o setor privado tem um poder maior de operar como agente na produção do espaço,
com destaque para os grandes projetos de desenvolvimento. Nesse contexto, os conflitos
socioambientais se multiplicam pelo território nacional atrelados a esses grandes
empreendimentos e a forma como são implantados.
Em nossa pesquisa de mestrado acompanhamos e estudamos o caso do projeto
porto de Jaconé no município de Maricá/RJ. O projeto está inserido num contexto
regional de implementação de grandes projetos de desenvolvimento no estado do Rio de
Janeiro, voltados em grande parte para o setor petrolífero da economia e das “grandes
descobertas” de petróleo e gás dos campos de Libra entre outros do Pré-Sal. O projeto é
de uma empresa privada em articulação com as esferas estadual e municipal e tem como
principais justificativas a proximidade com o Comperj (Complexo Petroquímico do
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Estado do Rio de Janeiro) e Arco Metropolitano – que fazem parte dos grandes projetos
no estado – e servir de base de apoio à atividade de exploração do Pré-Sal (EIA, 2014).
Neste trabalho abordaremos os conflitos decorrentes do projeto do porto de
Jaconé (Maricá/RJ) no contexto do novo desenvolvimentismo brasileiro e dos grandes
projetos de desenvolvimento do espaço fluminense.
O NOVO DESENVOLVIMENTISMO BRASILEIRO
Para alguns autores o Brasil adota atualmente um novo modelo de
desenvolvimento que inaugura uma nova fase do capitalismo nacional. Recuperando
supostos ideais “desenvolvimentistas”, este modelo vem sendo classificado por muitos
pelo título de novo desenvolvimentismo ou neodesenvolvimentismo. Essa nova fase teria
se iniciado com os governos de Lula (2003-2010) e teve continuidade com a eleição de
sua sucessora Dilma Rousseff (2011-2014). A principal diferença entre esse novo
período e a década precedente, marcada pelo neoliberalismo, seria o novo papel
conferido ao Estado na reorganização do capitalismo brasileiro. Sua atuação para
reorientar a economia se dá principalmente através do BNDES e dos fundos de pensão
das empresas estatais (ZIBECHI, 2012).
O novo desenvolvimentismo, como aponta GONÇALVEZ (2012) surge como
uma crítica ao Consenso de Washington (de orientação neoliberal) e à chamada
“ortodoxia convencional” do pensamento econômico. O autor, no entanto, destaca que,
na prática, o novo desenvolvimentismo converge em muitos pontos com o Consenso de
Washington e a ortodoxia convencional, ao mesmo tempo em que contraria os
princípios básicos do nacional-desenvolvimentismo. O novo desenvolvimentismo, por
exemplo, coloca ênfase nas exportações, enquanto que no nacional-desenvolvimentismo
o “motor do crescimento” é a “absorção interna”. Escreve o autor:
No confronto com o nacional‑desenvolvimentismo, o destaque é, sem dúvida, a questão do motor do crescimento econômico: no nacional‑desenvolvimentismo o motor é a absorção interna (consumo, investimento e gasto público), enquanto no novo
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desenvolvimento o motor do crescimento é a exportação (export‑led growth). Nesse sentido, o novo desenvolvimentismo aproxima‑se bastante do modelo de crescimento orientado para fora, que foi defendido pelo Banco Mundial nos anos 1980. (Idem, pp. 657-658)
Ele aponta que esse modelo, em países como o Brasil, “que têm como fonte
dominante de vantagem comparativa a dotação de recursos naturais.”, corre-se o risco,
entre outros, de direcionar a “fronteira de produção na direção do setor primário” para
uma “reprimarização das exportações.” (Idem, p. 659).
O cientista político Armando BOITO (2012), por sua vez, não considera o novo
desenvolvimentismo como um “novo modelo de desenvolvimento” que viria a suplantar
totalmente o neoliberalismo. Para ele: “o modelo capitalista vigente no Brasil ainda é o
modelo neoliberal, embora esse modelo tenha passado por um período de reforma.
Essa reforma aparece na política econômica neodesenvolvimentista e nas políticas
sociais da década de 2000”. Para o autor, a burguesia interna brasileira, embora tenha
se beneficiado de muitas medidas do neoliberalismo, se viu ameaçada diante de uma
desregulação generalizada e encontrou nas políticas neodesenvolvimentistas uma maior
proteção do Estado diante da competição com o capitalismo global. O novo
desenvolvimentismo constituiria então um “desenvolvimentismo possível dentro do
modelo capitalista neoliberal”. Esse modelo “retoma a velha aspiração
desenvolvimentista, mas o faz em condições históricas novas e com ambição menor”
(Idem).
No entanto, ainda que em condições novas e com menores ambições, o novo
desenvolvimentismo, como já nos referimos, dá um grande destaque para as grandes
obras de infraestrutura e desenvolvimento econômico, assim como foi em outros
períodos desenvolvimentistas do Brasil. Um dos principais programas do atual governo,
por exemplo, é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que teve sua primeira
versão lançada em 2007 e a segunda em 2010 (PAC 2).
Na primeira versão do programa, destaca ZIBECHI, os “principais investimentos
se planificaram na área de infraestrutura” (2012, p. 175). Dentre eles: “transmissão de
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energia elétrica e projetos de habitação [...] biocombustíveis, [...] construção de
rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias” (Idem). Na segunda fase do
programa, por sua vez, “dois terços dos investimentos estão direcionados à geração de
energia.” (Idem, p. 176). Desses dois terços a maior parte está voltada para
investimentos em petróleo e gás natural que como coloca o autor “são basicamente os
investimentos da Petrobras” (Idem). Além disso, o programa prevê a construção de 54
usinas hidrelétricas.
Esses projetos, em sua grande maioria, não se realizam sem a geração de
impactos sociais e ambientais que afetam minorias étnicas, grupos sociais e populações
mais despossuídas de poder econômico e político, produzindo a chamada injustiça
ambiental (ACSELRAD, MELLO e BEZERRA, 2009).
OS GRANDES PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DO ESPAÇO
FLUMINENSE
No estado do Rio de Janeiro há uma série de grandes projetos de
desenvolvimento e infraestrutura em curso. O GT-AGRÁRIA/AGB-RIO (2012a) elenca
os principais a partir da análise do Plano Estratégico do governo do estado do Rio de
Janeiro (2007-2010). São eles: o Arco Metropolitano, o Comperj, o Complexo
Industrial Portuário do Açu, o Porto de Sepetiba, as hidrelétricas de Simplício e Anta e
o Complexo Logístico e Industrial Farol-Barra do Furado. Acrescenta-se também o
projeto da Barragem do Guapiaçu, no município de Cachoeiras de Macacu, que se trata
de uma “compensação ambiental” do Comperj para levar água para região
metropolitana e prevê a desapropriação de centenas de agricultores causando redução
drástica da produção agrícola do município de Cachoeiras de Macacu, que tem a
agricultura como principal atividade econômica.
O GT-AGRÁRIA/AGB-RIO (Idem) destaca que a proposta de desenvolvimento
presente no Plano Estratégico do estado tem como foco “a articulação do poder público
com grandes investidores nacionais e internacionais, com o apoio de bancos públicos
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federais, forjando um ‘projeto estratégico’ [...], pautado em interesses muitas das vezes
externos à realidade fluminense.” (p. 2)
A implantação do Porto do Açu (Complexo Industrial Portuário do Açu) no
município de São João da Barra, por exemplo, consiste num mega empreendimento que
pertencia ao Grupo EBX de Eike Batista e previa:
construção de um terminal portuário privativo de uso misto com capacidade para receber navios de grande porte (220 mil toneladas) e estrutura offshore para atracação de produtos como minério de ferro, granéis sólidos e líquidos, cargas em geral e produtos siderúrgicos. [...] condomínio industrial com plantas de pelotização, indústrias cimenteiras, um pólo metal-mecênico, unidades petroquímicas, montadora de automóveis, pátio de armazenagem inclusive para gás natural, cluster para processamento de rochas ornamentais e uma usina termoelétrica. [...] construção de um mineroduto de 525 km de extensão, com capacidade de transportar 26,6 milhões de toneladas/ano, que levará minério produzido pela MMX/Anglo Ferrous Mineração em Conceição do Mato Dentro/MG ao porto, cortando 32 municípios, e permitindo sua exportação. O projeto está incluído no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, e o total de investimentos pode chegar a R$ 40 bilhões, com capital público e privado, nacional e estrangeiro. (GT-AGRÁRIA/AGB-RIO, 2012b, p. 26-27)
A instalação de parte do que estava previsto no empreendimento – já que devido
à crise que atingiu o Grupo X, grande parte do projeto não se concretizou – se deu
através da expulsão violenta de centenas de famílias de agricultores que eram
proprietários e viviam no 5º distrito de São João da Barra. O caso configura-se em um
explícito caso de produção de injustiça ambiental através de um processo de
acumulação por espoliação (HARVEY, 2004) da atual dinâmica do capitalismo global.
O responsável pelas desapropriações foi o governo estadual através da Codin
(Companhia de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro). O governo decretou em
2008 a desapropriação de uma área de 7.200 hectares para fins de “interesse público”. A
área em questão, no 5º distrito de S. João da Barra, seria para dar lugar a um
condomínio industrial privado, previsto no projeto do Porto do Açu (GT-
AGRÁRIA/AGB-RIO, 2012b, p. 46). Os agricultores foram expulsos violentamente,
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sendo surpreendidos com placas que anunciavam futuras instalações industriais em suas
terras, em alguns casos recebendo propostas de indenizações em uma folha de papel
escrita à mão, sofrendo ameaças e sendo impedidos de entrarem em sua propriedade.
Outro grande projeto em curso no estado é o Comperj (Complexo Petroquímico
do Estado do Rio de Janeiro) que está sendo construído em Itaboraí (Região
metropolitana) e tem como área de influência um total de vinte e três municípios.
Dentre eles o município de Maricá, considerado por alguns estudos como área de
influência indireta. (Imagem 1).
No entanto, entendemos que o município de Maricá poderia ser considerado
como área de influência direta do empreendimento, tendo em vista que, existe um
projeto de despejo de efluentes da refinaria no litoral do município através de um
emissário subterrâneo-submarino (Imagem 2); e o projeto de um gasoduto (gasoduto
Rota 3 – Maricá-Comperj), que levaria o gás explorado do Pré-Sal na bacia de Santos
para ao Comperj, passando pelo município de Maricá.
Imagem 1. Fonte: FIRJAN1
1 Estudos de Desenvolvimento para o Estado do Rio de Janeiro – Comperj potencial de desenvolvimento
produtivo, 2008. Disponível em www.firjan.org.br. Acesso em 21/06/2014.
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Imagem 2. Traçado do projeto do emissário de efluentes do Comperj. Fonte: O Globo2
Além disso, como já colocamos, o projeto do porto de Jaconé em Maricá
(Imagem 3), surge impulsionado principalmente pela proximidade com o Comperj, o
que também podemos considerar como uma influência direta no município.
A seguir analisaremos os principais pontos que envolvem o projeto do Porto e
os conflitos em torno dele.
Imagem 3. Vídeo Institucional de Maricá3
2 O Traçado proposto pela Petrobras. O Globo. Disponível em
http://oglobo.globo.com/infograficos/mapa-comperj/ Acesso em 21/06/2014. 3 Disponível em: http://www.marica.rj.gov.br/desenvolvimento/?de=videos. Acesso em 21/06/2014.
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O PROJETO DO PORTO DE JACONÉ E OS CONFLITOS DECORRENTES
Em janeiro de 2012, foi publicado no jornal O Globo a seguinte matéria:
“Maricá terá megaporto de R$ 5 bilhões até 2015”4. O texto inicia afirmando que:
A Região dos Lagos deverá ganhar um dos maiores portos do país: o Terminais Ponta Negra (TPN), na Praia de Jaconé, em Maricá. A DTA Engenharia, responsável pelo projeto — chamado de Porto do Pré-Sal e avaliado em R$ 5,4 bilhões —, espera que a iniciativa se torne a âncora do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj, em Itaboraí). O porto terá capacidade para receber 850 mil barris de petróleo por dia, o equivalente a 40% da atual produção do país.
Três dias depois também foi divulgado na página da Secretaria de
Desenvolvimento Econômico Energia Indústria e Serviços do Estado a notícia: “Rio
terá porto do pré-sal avaliado em R$ 5,4 bilhões”5.
As duas matérias são bem parecidas e afirmam que o governo do estado apóia o
projeto e levará o Arco Metropolitano (um dos grandes projetos do estado) e a Estrada
de Ferro Leopoldina até o empreendimento. A matéria de O Globo chega a mencionar a
“preocupação dos ambientalistas” quanto ao projeto. A matéria da Secretaria do Estado,
por sua vez, coloca que “a área possui poucos entraves ambientais, por não se tratar de
uma área com mata nativa”. Em ambas, no entanto, o secretário Julio Bueno atenta
para o fato de o projeto ser uma grande oportunidade de reduzir (ou retirar) atividades
relacionadas ao petróleo de Angra dos Reis – município voltado para um turismo de alto
padrão. Declara ele: “O porto [em Maricá] pode ser o início da redução de uso do
Tebig (o terminal mais usado pela Petrobras no estado, em Angra dos Reis), ou seja, é
a chance de retirar a atividade de petróleo de um paraíso”6. E que “É a chance de
retirar a atividade de petróleo de um paraíso como o de Ilha Grande” 7.
4 Disponível em: oglobo.globo.com/economia/marica-tera-megaporto-de-5-bilhoes-ate-2015-3666220. Acesso em: 11/07/13 5 Disponível em: www.rj.gov.br/web/sedeis/exibeconteudo?article-id=746306 Acesso em: 11/07/13. 6 “Maricá terá megaporto de R$ 5 bilhões até 2015”op. Cit. 7 “Rio terá porto do pré-sal avaliado em R$ 5,4 bilhões” op. Cit.
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Essas matérias foram veiculadas cerca de um mês após uma mudança ilegal
realizada pelos vereadores de Maricá no Plano Diretor e Lei de Uso de Solo do
município. A mudança foi feita na última sessão da câmara do ano e publicada no
Jornal Oficial do município em uma edição especial em 21 de dezembro de 2011. A
alteração transformou o bairro residencial de Jaconé em distrito industrial. Segue o
trecho da publicação:
Art. 17-A. A Zona de Indústria e Comércio 3 – ZIC3 tem por objeto o uso industrial de grande porte voltado para a construção naval, óleo e gás, e similares, e atividades de apoio logístico, compreendendo terminais marítimos, instalações portuárias e retroportuárias, instalações ferroviárias e similares. (Jornal Oficial de Maricá. Ano IV, Edição Especial nº 71, 21 de dezembro de 2011, p. 2) (grifo nosso)
A alteração no Plano diretor foi contestada no Ministério Público por
representante do movimento “SOS Jaconé. Porto Não!” – movimento local contrário ao
empreendimento – e na Justiça do estado pelo diretório do PMDB municipal (partido
do ex-prefeito). A alteração foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Estado em
25/02/2013 8.
A prefeitura apressou-se então em realizar uma consulta e uma audiência pública
para aprovar uma nova mudança no Plano Diretor. A primeira ocorreu no dia
09/05/2013 e a segunda na semana seguinte em 14/05/2013. Os eventos foram marcados
pela presença maciça de funcionários comissionados da prefeitura. O próprio prefeito
chegou a declarar em uma delas que ali estavam presentes “quinhentos funcionários
comissionados”9.
Após outras contestações junto ao Ministério Público Estadual, por representante
do movimento “SOS Jaconé”, sobre a forma como estava sendo conduzido o processo
para abrir caminho para o empreendimento, ocorreu no município, em 03/10/2013, a
primeira audiência pública com presença do Ministério Público. 8 “Justiça anula mudança do plano diretor de Maricá”. Em: http://oglobo.globo.com/economia/justica-anula-mudanca-do-plano-diretor-de-marica-7668258. Acessado em: 05/07/13 9 “Quaquá se contradiz em entrevista ao Itaipuaçu Site”. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=m0iCE9c05Fs&feature=youtu.be . Acessado em 23/07/13
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Em 09/10/2013 os vereadores aprovaram então a modificação no Plano Diretor e
Lei de Uso do Solo, criando as “Áreas de Especial Interesse Urbanístico e
Econômico”10 no município, para permitir a construção do terminal portuário em Jaconé
e a vinda de outras indústrias para o município visando atender principalmente futuras
demandas do Comperj.
A área onde pretende-se instalar o empreendimento portuário é, desde 2010,
parte do projeto de criação do “Geoparque Costões e Lagunas do Estado do Rio de
Janeiro” (MANSUR, K. et al., 2012) devido sua importância geológica. A proposta do
Geoparque Costões e Lagunas, engloba 16 municípios do Estado do R. de Janeiro,
começando em Maricá e se estendendo até São Francisco do Itabapoana no Norte do
estado. O projeto prevê a criação de “geossítios” pontuais nos diversos municípios. Na
proposta, Maricá teria 2 geossítios “Costão de Ponta Negra” e “Beachrock de Darwin”
que correspondem ao local onde pretende-se a instalação do megaporto.
Além de inviabilizar o projeto do Geoparque, o projeto do porto (caso se efetive)
causará, além dos impactos ambientais, uma mudança drástica no perfil de uso do litoral
do município que é principalmente utilizado para o lazer, o turismo e a pesca artesanal e
industrial, já que o porto prevê a atracação de grandes navios petroleiros além de
construção de estaleiro para reparos navais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No contexto do “novo desenvolvimentismo” brasileiro temos uma ênfase nas
grandes obras de infraestrutura e desenvolvimento com o Estado atuando ao lado do
grande capital privado entre outras coisas como financiador desses projetos. No estado
do Rio de Janeiro identifica-se uma série de grandes projetos que vem gerando diversos
impactos ambientais e sociais onde se instalam e nas áreas e municípios próximos.
10 “Vereadores aprovam criação de áreas industrial, portuária e logística em Maricá”. Disponível em: maricainfo.com/2013/10/10/vereadores-aprovam-criacao-de-areas-industrial-portuaria-e-logistica-em-marica.html. Acessado em: 11/10/2013.
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Esses projetos trazem pouco ou nenhum benefício para as populações locais, se
inserindo em cadeias globais de produção, e deixando ao local muitas vezes apenas seus
impactos negativos. O conjunto dos grandes projetos no espaço fluminense vem
desencadeando o surgimento de outros “mega empreendimentos”, como é o caso do
Porto de Jaconé em Maricá, impulsionado principalmente pela proximidade do
município com o Comperj e o Arco Metropolitano . A maior liberdade de atuação do
setor privado permite que este defina estratégias locacionais (ACSELRAD, et al, 2009)
se articulando com esferas locais, estaduais e definindo usos e a produção do espaço. Os
conflitos socioambientais emergem com força nesse contexto e as populações locais
buscam meios de se articular e fazer frente a esse modelo de desenvolvimento, muitas
vezes, no entanto, sem êxito, devido à luta desigual com as forças hegemônicas.
BIBLIOGRAFIA
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BOITO, A. “A economia capitalista está em crise e as contradições tendem a se aguçar”
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EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto ambiental. Terminais
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GONÇALVEZ, R. Novo Desenvolvimentismo e Liberalismo Enraizado. IN: Revista
Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n. 112, p. 637-671, out./dez. 2012.
GRUPO de TRABALHO de ASSUNTOS AGRÁRIOS da ASSOCIAÇÃO dos
GEÓGRAFOS BRASILEIROS, SEÇÕES RIO e NITERÓI. “Os grandes projetos de
desenvolvimento e seus impactos sobre o espaço agrário fluminense”. In: II Caderno de
Textos do GT, 2012a.
__________ “Impactos socioambientais dos grandes projetos de desenvolvimento: o
caso do complexo industrial-portuário do Açu”. In: Revista Terra Livre. Ano 28, vol. 1,
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HARVEY, D. O Novo Imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004.
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MANSUR, K. ; GUEDES, E. ; ALVES, M. da G.; et al. Costões e Lagunas do Estado
do Rio de Janeiro (RJ). IN: SCHOBBENHAUS, C. e SILVA, C. R. da. (ORG.)
Geoparques do Brasil: propostas. Rio de Janeiro: CPRM, 2012.
ZIBECHI, R. Brasil potência: entre a integração regional e um novo imperialismo. Rio
de Janeiro: Consequência, 2012.