-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
1/37
Andrew
l-lurrell
década
que
passou assistiu
ao
ressurgimento
do
regionalismo
na
_politica
mundial.
Reviveram
antigas
organizações
regionalistas
e
formaram-se novas,
e
o
reqionalismo
e
o
apelo
ao
fortalecimento
dos
“L
mecanismos
regionalistas
estiveram no
centro
de
inúmeros debates
sobre
a natureza
da
ordem internacional
no
pós-Guerra
FriaJ
O
número,
a
abrangência
e a diversidade
dos
esquemas
regionalistas
cresceram
Escrevendo no
final dessa
primeira
onda
regionalista,
Joseph
Nye apontava
para
duas categorias
de
regionalismo:
(1 )
organizações
microeconômicas
que
'
titucionais
formais;
e
(2)
organizações
políticas
macrorregionais interessadas
no
controle de conflitos?
Na
atualidade,
velhas
instituições
regionais
no
campo
político,
como aOrganização
da
Unidade Africana
(OUA)
e
a
Organização
dos
Estados Americanos
(OEA),
reemergiram.
A elas
juntaram-se
numerosos
or-
ganismos microrregionais
com certas
pretensões
_ c o m o
o Pacto de
Visegrad
e o
Pentagonal
na
Europa
Central;
a
Unidade
Árabe do Magreb
(UAM)
ou
o
Econômica dos Estados
da África
Ocidental
[ECOWAS]
e
possivelmente
um a
South
African
Development
Community
(SADC)
revivida
pela
Africa
do
Sul
pós-apartheid
na
África
e
agrupamentos
de
segurança
mesorregionais
frouxame
nte
institucionalizados,
como
a
Conferência
para
a
Segurança
e
Cooperação na
Europa
(CSCE,
hoje
OSCE)
ou mais
recentemente
o
Fórum
Regional da
Associação
das
Nações
do
Sudeste Asiático
[ASEAN]
(FRA).
Este tra
balho
se baseia,
com
a
devida
autorização,
em Louise Fawcett
e Andrew
Hurrell,
eds.,
Regionalism
in
World
Politics, Oxford,
Oxford
University Press,
no
prelo.
U
autor.
agradece
a
Louise l-awcett,
Ngaire 'vVoods,
i/ l ii ii iam allaceíün drev rfwya ü m
Walter,
Robert
O'Brien e
aos referees
da revista por
seus
comentários
oportunos.
[Tradução de
Francisco
de
Castro
Azevedo.]
CONTEXTO
INTERNACIONAL,
R io de
Janeiro,
vol.
17,
ng
1,
Jan/Jun 95,
pp. 23-59.
23
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
2/37
No campo econômico,
esquemas
microrregionais
para
a
cooperação
ou
integração
econômica
como
o
Mercado
Comum do Sul
(Mercosul),
o
Pacto
Andino,
o
Mercado
Comum Centro-Americano
(MCCA)
e a
Comunidade
e
Mercado
Comum
do Caribe
(Caricom),
nas
Américas;
as tentativas
de
expandir
a
integração
econômica
dentro
da
ASEAN
e
a
proliferação
de
Áreas
de Livre
Comércio
(ALC)
no
mundo
em desenvolvimento
_
coexistem ao lado
de
esquemas
macrorregionais
ou regionalismo
de
bloco ,
construído em
torno
da
tríade
formada
por
um a União
Européia
(UE)
expandida,
pelo Acordo Norte-
Americano
de
Livre Comércio
[NAFTA]
e
por
um
avanço
maior
do
regionalismo
no
Pacífico
Asiático. As
relações
entre
esses esquemas
regionais
e entre
iniciativas
regionais
e
globais
mais
amplas
são fundamentais
para
a
política
do
regionalismo
contemporâneo.
Além
dessa
diversidade,
o novo regionalismo
tem
quatro características
importantesz4
(1)
a
emergência
do regionalismo Norte-Sul ,
ilustrado
poderosamente pelo
NAFTA,
e
também
relevante
para
o
que
acontece
na
Europa
e
na
Ásia;
(2 )
a
grande variação
no nível
de
institucionalização,
com
muitos agrupamentos
regionais
evitando
conscientemente
as
estruturas
ins-
titucionais
e
burocráticas
das
organizações
internacionais
tradicionais
e o
modelo
regionalista
apresentado
pela
UE;
(3)
seu
caráter
multidimensional,
pelo qual
se torna
cada vez
mais
difícil
traçar
a l inha divisória
entre regionalismo
econômico
e
politico,
um a
vez
que
o
regionalismo
é
alimentado
tanto pelo fim
da Guerra
Fria e
descentralização
ou
regionalização
da segurança
quanto pela
evolução
da
economia global;
e
(4 )
o aumento
acentuado
da
consciência
regional
em
numerosas
áreas
do
mundo,
parte integrante
de
um
conjunto
mais
amplo
de
questões ressuscitadas
sobre
a
identidade
e
o
sentimento de
pertencer”,
embora
essa
consciência
nem sempre
se traduza
de
maneira fácil
e
sem
problemas
em instrumentos
concretos
de
cooperação
regional.
Este trabalho
aborda
duas questões
básicas:
(1 )
o
que
queremos
dizer
quando
falamos
de
regionalismo
e
quais
as principais
variedades
de regiona-
lismo;
e
(2 )
quais
as principais
abordagens
teóricas
que
podem
ser arroladas
para
explicar
a
dinâmica
do
regionalismo.
Teoria,
naturalmente,
não
é
tudo,
mas
é fundamental
para
a
criação
de
definições,
conceitos
e
categorias,
em
torno dos quais se
conduz
necessariamente
a
análise
do regionalismo.
Ateoria
coloca
em
evidência
pressupostos
que
permanecem
implícitos
e
inques-
tionados
em trabalhos
puramente
descritivos ou
históricos sobre
o
regionalis-
mo,
aprofunda
nosso entendimento
das
principais
variáveis explicativas
e dos
mecanismos causais
e oferece
uma
estrutura
coerente que permite
a com-
paração
sistemática
de
diferentes
formas
de
regionalismo
em
diferentes
partes
do
mundo.
O objetivo
deste
artigo
é abrir
o
leque
de
abordagens
ou pers-
pectivas
teóricas sobre
o estudo
do regionalismo contemporâneo,
destacando
as
estreitas
relações
existentes
entre
a
análise
do
regionalismo
contemporâneo
e
os
principais
debates
teóricos
no estudo acadêmico
das
relações
in-
ternacionai.s.
24
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
3/37
A
lite
ratura
teórica
sobre o
regionalismo
é
vasta,
mas
também
desigual
e
fragmentada.
Além
disso,
deixando-se
de
lado
os
freqüentes
debates
teóricos
sobre
a UE,
a
quantidade
de
obras
de cunho
estritamente
teórico
ou conceitual
sobre o
ressurgimento
do
regionalismo
desde
o
final
da
década
de
'80
é
bastante
modesta?
Toda
a
atenção que
neoliberais institucionalistas
e
neo-
realistas
dispensaram
à
questão genérica
da
cooperação
contrasta
vivamente
com a
aparente
falta
de
interesse
existente
fora
da
Europa pelas
explicações
da
cooperação
regional.
Este texto
reúne
alguns dos
principais
elementos
presentes
na
literatura
teórica.
Não se propõe
apresentar
uma
nova síntese
nem
ressaltar
os
pontos
fortes
de
qualquer
escola
de
pensamento
_embora
sugira
que
o neo-realismo
não
está em
absoluto
desacreditado
e
que
o
vínculo
entre
regionalismo
e
hegemonia
merece
um
aprofundamento
maior.
Ele
visa
apenas
dar
uma
idéia
do
panorama
teórico
e
fornecer
um
modelo
para a
Compreensão
e
avaliação
da
proliferação
dos
esquemas
regionalistas
na
política
mundial
contemporânea.
1
Variedades
do
Regionalismo
Região
e regionalismo
são termos
ambiguos
e
o
debate
sobre
suas
definições
produziu
consenso
limitado.
Embora
pouco
nos
digam
sobre
a
definição
de
região
ou
a
dinâmica
do
regionalismo,
a
proximidade
e a
con-
tigüidade
geográficas
.servem
para
distinguir
o regionalismo
de
outras
formas
de organização
“menos
que
global .
Sem certos
limites
geográficos,
o
termo
“regionalismd”
torna-se
difuso
e incontrolável.
O
problema
da
definição
de
região e
regionalismo
atraiu
boa
parte
da
atenção
do
mundo
acadêmico
no
final
da
década
de
60
e
início
da
de
70,
mas
poucas
foram
as
conclusões
aceitáveis.
O
regionalismo
foi muitas
vezes
analisado
em termos
da intensidade
da
coesão
social
(etnia,
raça,
idiomajreligião,
cultura,
história,
consciência
e
herança
comum),
da
coesão
econômica
(padrões
de
comércio,
complementaridade
econômica),
da
coesão
politica
(tipo de
regime,
ideologia)
e
da
coesão
organi-
zacional
(existência
de instituições
regionais
formais).5
Atribuiu-se
atenção
especial
à
idéia
da
interdependência
regional .7
Não
obstante,
as
tentativas
de
definir e
delinear
cientificamente
as
regiões
pouca
coisa
produziram?
Os
fatores implicados
no
crescimento
do regionalismo
são
numerosos,
incluindo
dimensões
econômicas,
sociais,
políticas,
culturais
ou
históricas.
Os
debates
contemporâneos
lembram-nos
que
não
existem
regiões
“naturais”
e
que
as
definições
de
região e
os
indicadores
da
qualidade
de
ser
região
variam
de
acordo
com
o
problema
particular
ou a questão
que
se
está
pesquisando.9
Além disso,
a
maneira
como
os
atores
politicos
percebem
e
interpretam
a
idéia
de
região
é
central:
todas
as
regiões
são socialmente
construídas
e,
portanto,
politicamente
passíveis
de serem
contestadas.
Daí,
a
importância
especial
de se
distinguir
entre
regionalismo
como
descrição
e
regionalismo
como prescrição
regionalismo
como
posição
moral
ou
como
doutrina
de
25
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
4/37
acordo
com
a qual
as
relações
internacionais
deveriam
se
organizar.
Como
acontece
com
a
idéia mais
geral
de interdependência,
impõe-se
com
freqüência
a
forte
sensação
de
que
os
Estados
de
determinada
região
estão
todos
no
mesmo
“barco
regional ,
ecológica,
estratégica
e
economicamente,
e
de
que
não
remam
na
mesma direção,
mas
que,
quer
se
afirme explicitamente
ou se
aceite
implicitamente,
o
que
deveria
ser
feito
era
colocar
de lado
egoismos
nacionais
e
planejar
novas formas
de
cooperação.
Em
boa parte
do
debate
politico
e
acadêmico
está,
portanto,
implícito
que
o regionalismo
é
uma
coisa
naturalmente
boa.
Uma
rápida
análise
dos
debates
recentes
sugere
que
o
termo
amplo
regionalismo
é
usado
para
designar
vários
fenômenos
distintos.
Na verdade,
em vez
de
tentar
trabalhar
com
um conceito
único
e
de espectro
muito
amplo,
é
mais
útil
decompor
a
noção
de
regionalismo
em
cinco
categorias
diferentes,
analiticamente
diversas,
embora
as
relações
entre
elas
sejam
fundamentais
para
a
teoria
e a
prática
do
regionalismo
contemporâneo.
1.1
Regionalização
Regionalização
diz
respeito
ao
crescimento
da
integração
da
sociedade
em
uma região
e aos processos
muitas
vezes
não
dirigidos
de
interação
social
e
econômica. A isto,
os
primeiros
estudiosos
do
regionalismo
descreviam
como
integração
informal
e
alguns
analistas
contemporâneos
se referem
como
regionalismo
suave
(soft
regionalism).
O
termo
atribui
um
peso
especial
a
processos
econômicos
autônomos
que
conduzem
a
níveis
mais
elevados
de
interdependência
econômica
em
determinadas
áreas
geográficas
do
que
entre
essas
áreas
e
o
resto
do
mundo.
Ainda que
muitas
vezes
não sejam
afetadas
pelas
políticas
estatais,
as
forças
propulsoras
mais
importantes
da
regionaliza-
ção
econômica
provêm
dos
mercados,
do
comércio
privado
e
dos
fluxos
de
investimento
e
das
politicas
e
decisões
empresariais.
São
de
particular
im-
portância
o aumento
do comércio
entre
empresas,
o
número
crescente
de
incorporações
e
aquisições
internacionais
e a emergência
de redes
cada
vez
mais densas
de alianças
estratégicas
entre
empresas.
Para
muitos
analistas,
esses
fluxos
estão
criando
um
impulso
inexorável
em
direção
a
uma
integração
maior
das
economias
nas
regiões
e
dentro
delas?”
Regionalização
também envolve
a
circulação crescente
de
pessoas,
o
desenvolvimento
de múltiplos
canais
e
complexas
redes
sociais,
por
meio
dos
quais
idéias,
atitudes.
políticas
e maneiras
de
pensar
se
espalham ,de
uma
área
para
outra,
criando
sociedades
civis
regionais
transnacionais.
Conseqüen-
temente,
a
regionalização
é
com
freqüência
conceituada
em termos
de
“com-
plexos”, fluxos ,
redes
ou
“mosaicos”.
Três
pontos
devem
ser
destacados:
(1)
os
processos
envolvidos
na
regionalização
são,
pelo
menos
em
princípio,
mensuráveis
embora,
como
a obra
de
Deutsch
sugere,
o
que
se
mede
e
o
que
se
infere
dos
dados
coletados
permaneçam
questões
profundamente
26
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
5/37
problemáticas;
(2 )
a
regionalização
não
se
baseia em politicas
concretas
de
Estados
ou
de
grupos
de
Estados
nem
pressupõe
qualquer
impacto
particular
nas
relações
entre
os
Estados
da
regiãoü
e
(3)
os padrões
de
regionalização
não
coincidem
necessariamente
com as
fronteiras
dos
Estados.
Migração,
mercados
e
redes
sociais podem
levar
ao
aumento
da
interação
e
in-
terconectividade
que
vinculam
alguns
dos Estados
existentes
e
criam
novas
regiões
entre
fronteiras.
A
essência
desse
“regionalismo
transnacional
pode
ser
econômica,
como
nos
pólos
de
desenvolvimento
transfronteiriço,
de
cori
redores industriais
ou
de
redes
cada
vez
mais densas
unindo
os
principais
centros
industriais,
ou
pode
ser construída
com
base
em
elevados
niveis de
interpenetração
humana,
como
acontece
atualmente
entre
a
Califórnia e
o
México.”
1.2
Consciência
e
Identidade
Regionais
As
noções
de
consciência
regional”
e identidade
regional”
são
por
natureza
imprecisas
e
vagas.
Não obstante,
é impossivel ignora-las,
e,
para
muitos
analistas,
elas são
cada
vez
mais
fundamentais
para
a
compreensão
do regional
ismo
contemporâneo.
Todas
as
regiões
são,
até
certo
ponto,
defini-
das
subjetivamente,
podendo
ser
entendidas
em termos
do
que
Emanuel
Adler
chamou de
regiões
cognitivas .l3
Da
mesma forma
que
as
nações,
as
regiões
também
podem
ser
vistas
como
comunidades
imaginadas
que
se apóiam
em
mapas mentais,
cujas
linhas destacam
certas
caracteristicas
e
ignoram
outras.
O
debate
acadêmico
sobre
consciência
regional
dá
grande
ênfase
à
linguagem
e à
retórica,
ao discurso
do
regionalismo
e dos processos
politicos
pelos
quais
as
noções
de
regionalismo
e
identidade
regional
são
constantemente
definidas
e redefinid
as,
à
compreensão
compartilhada
e ao
significado
dado
à
atividade
politica
pelos
atores
envolvidos.
Como
o caso
europeu
deixa
claro,
o
res-
-surgimento
da
questão
da identidade
regional
é
um
fenômeno
ao
mesmo
tempo
subestatal
e
supra-estatal'.
A
consciência
regional
e
a
percepção
compartilhada
de
pertencer
a
uma
determinada
comunidade
podem
apoiar-se
em fatores
internos,
muitas
vezes
definidos
em
termos
de cultura,
história
e
tradições
religiosas
comuns.
Podem
também
ser definidas
em contraposição
a
um “outro
externo,
que
pode
ser
entendido
primariamente
como
ameaça
politica
(a
auto-imagem
da
Europa
definida
contra
a
URSS
ou
o
nacionalismo latino-americano
definido
contra
a
ameaça
da
hegemonia
norte-americana),
ou um
desafio
cultural
externo
(a
longa tradição
segundo
a
qual
se
definia Europa
por
oposição
ao
mundo
não-europeu,
sobretudo
àquele
islâmico,
ou,
mais
recentemente,
o despertar
de
uma
identidade
asiática
em
contraposição
à
“ocidental ).14
Embora
seja
característica
marcante
do
novo
regionalismo,
a preocupação
com
a
idéia
de
Europa,
Américas
e
Asia
apresenta-se
emoldurada
por
argumentos
de
profundas
raizes
históricas
em
torno
da
definição
de região
e
dos
valores
e
propostas
que representa
não
obstante
uma boa
dosagem
de
redescoberta
27
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
6/37
histórica,
criação
de
mitos
e
invenção
de
tradições,
como acontece, uma
vez
mais,
com
o
nacionalismo.
1.3
Cooperação Regional
entre
Estados
Boa
parte
da
atividade
regionalista
envolve
negociação
e
construção
de
acordos ou
regimes
interestatais
ou
intergovernamentais.'Essa
cooperação
pode
se r
formal ou'
informal,
e
níveis
elevados
de
institucionalização
não são
garantia
de eficácia ou
importância
politica. Como Oran
Young observa cor-
retamente,
embora todos
os regimes,
até
mesmo os
mecanismos
altamente
descentralizados
das
empresas
privadas,
sejam
instituições
sociais, eles
não
precisam
ser acompanhados
de
estruturas
com
pessoal próprio,
orçamentos,
instalações
fisicas etc. l5 Essa
consciência levou
os interessados
na
coopera~
ção
internacional
a
se
afastarem
do
estudo
das
organizações
formais
e
a
se
concentrarem no conceito
mais
amplo
de
regime : princípios,
normas,
regras
e processos
decisórios, implicitos
ou
explícitos,
para
os
quais
convergem as
expectativas
dos
atores
de
determinada
área das
relações
internacionaisfJõ
A
cooperação
regional
pode
envolver
a
criação
de
instituições
formais,
mas pode,
com
freqüência,
basear-se
em
estruturas bem mais
frouxas,
englobando
padrões
de
reuniões regulares
que obedecem
a
algumas
regras, juntamente
com
mecanismos
de
preparação
e
acompanhamento.
No
entanto,
o
argumento
sobre o
grau
exato de
institucionalização
necessária
para
a
cooperação
ser
eficaz
e
sustentada continua
fundamental para
muitos
esquemas regionalistas
atuais,
sendo a
Conferência
de
Cooperação
Econômica
do
Pacífico
Asiático
[APEC]
um
bom
exemplo.
Esses
instrumentos
de
cooperação
se prestam a
um a
ampla
variedade
de
propósitos.
De um
lado,
podem
ser a
resposta
a
desafios
externos
e à
necessidade
de
coordenação
das
posições-
regionais
nas
instituições
in-
ternacionais
ou
nos
fóruns
de
negociação.
De
outro,
podem
ser
estabelecidos
para
assegurar ganhos
de
bem-estar,
promover valores comuns ou
resolver
problemas
comuns,
especialmente
aqueles que
surgem
com o
crescimento
dos
niveis
de
interdependência
regional.
No
campo
da
segurança,
por
exemplo,
essa
cooperação
pode
se
estender
desde
a
estabilização
de um
equilibrio
regional
de
poder
ate
a
institucionalização
de
medidas
de
construção
de
confiança
ou
a
negociação
de
um regime
de segurança
para
a
região
como
um
todo.
Diferentemente
de
alguns
tipos
de
integração
regional,
esses instrumen-
tos
de
cooperação
são
claramente
estatistas,
formulados
para
proteger
e
ampliar
a
atuação
do
Estado
e
o poder
do
governo.
Envolvem a
reafirmação
e
extensão
da
autoridade
estatal
como
parte
de
um
processo
pelo
qual
os
Estados
estão,
cada
vez mais,
dispostos
a trocar
determinado
grau
de liber-
dade
legal
de
ação
por
uma inf luência
prática
maior sobre
as
politicas
de
outros
Estados
e
sobre a
gestão
de
problemas
comuns.”
28
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
7/37
*L4
-==-
integração
Econômica
Regional
promovida
pelo
Estado
Urna
importante
subcategoria
da
cooperação
regional
diz
respeito
à
integração
econômica
regional.
A
integração
regional
envolve
decisões es-
pecificas
de
politicas
por
parte
dos
governos,
destinadas
a
reduzir ou
remover
barreiras
ao
intercâmbio
mútuo
de
bens,
serviços,
capital
e
pessoas. Essas
politicas
geraram
volumosa
literatura
sobre
os processos
de
integração,
sobre
os
vários
modelos
e os
objetivos
que poderiam
ser
atingidos.”
Como
Peter
Smith
observou,
pode-se
comparar
a
integração
econômica
regional
em
várias
dimensões:
abrangência
(a
gama
de questões
incluídas);
profundidade
(a
extensão
da harmonização
de
políticas);
institucionalização
(a
extensão
da
construção
da
institucionalização
formal);
e
centralização
(o
grau
em
que
a
autoridade
efetiva
está
centralizado).l9
Os primeiros
estágios
da integração
tendem
a
concentrar-se
na
eliminação
de
barreiras
comerciais
e
na
formação
de
uniões
alfandegárias
de
bens.
À
medida
que
a
integração
avança,
a
agenda
se
expande
para
cobrir barreiras não-tarifárias,
a
regulação
de
mercados
e
o
desenvolvimento
de
políticas
comuns
nos
planos
micro
e macro.
Dominado
pelo
“modeld”
europeu,
o
regionalismo
é
com muita
freqüência
simplesmente
igualado
à
integração
econômica
regional,
embora
seja
apenas
um
aspecto
de
um
fenômeno
mais
geral.
'l
.5
Coesão
Regional
Coesão
regional
refere-se
à possibilidade
de
que,
em algum
momento,
a
combinação
dos
primeiros
quatro
processos
descritos
desemboque
no
surgimento
de
uma
unidade
regional
coesa
e consolidada.
É
esta
coesão
que
torna o regionalismo
de especial
interesse
para
o
estudo
das
relações
in-
ternacionais.
Pode-se
entender
coesão
em
dois
sentidos:
(1 )
quando
a
região
exerce
um papel
definidor
nas
relações
entre
os
Estados
(e
outros
atores.
importante
s)
daquela
região
e o resto
do mundo;
e
(2 )
quando
a
região
forma
a
base
organizadora
de políticas
na
região
para
inúmeras
questões.
Como
vimos,
o
regionalismo
é
muitas
vezes
definido
em
termos
de
padrões
ou redes
de
interdependência.
No
entanto,
sua importância
política
não
deriva
de
qualquer
medida
absoluta
de
interdependência,
mas
do grau
em
que
esta
(e
a
possibilidade
de
sua ruptura)
impõe
custos
significativos,
poten-
ciais
ou
reais,
a atores
principais.
Para os
que
estão
fora
da
região,
o
regionalismo
é
politicamente
importante
na
medida
em
que
pode
impor
a
eles
custos,
seja pelo
impacto
prejudicial
de
acordos
econômicos
preferenciais
(o
chamado
regionalismo
maligno,
que
desvia
comércio
e
investimentos),
seja
pela mudança
na
distribuição
do poder
político.
E também
politicamente
significativo
quando
os
que
estão
fora
(uma
vez
mais,
Estados
e
atores
não-estatais)
são
forçados
a definir
suas políticas
relativas
aos
Estados
regio-
nais
individualmente
em
termos
regionalistas.
Para
os
que
são
da
região,
o
29
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
8/37
regionalismo
interessa quando
os
acordos
regionais
impõem
custos
significa-
tivos,
eco
nômicos
e
políticos
(como
perda
de
autonomia
ou
redução
nas
opções
de
politica
externa)
e
quando
a
região
se
torna
a base
organizadora
de
politicas
na
região
para
inúmeras
questões
relevantes.
Um indicador
importante
da
coesão
regional
é
o grau em
que,
como
acontece
cadavez
mais
na
Europa
Ocidental,
acontecimentos
regionais
e
politica
regional
moldam
e
definem
o
panorama
politico
interno.
É extremamente
importante
reconhecer
que
existem diferentes
caminhos
para
a coesão
regional.
Os primeiros
teóricos
da
integração
européia
eram
obcecados
por uma
meta
final
particular
(a
criação
de uma nova forma de
comunidade
política)
e
por
uma
rota particular
para
alcançar
essa meta
(am-
pliação
da integração
econômica).
Eles
viviam
a
preocupação
de
que
a
possível
transformação
do papel
dos
Estados~nação,
via
concentração
da
soberania,
conduzisse
à
emergência
de
alguma
forma
nova de
comunidade
política.
Não
obstante,
a
coesão
regional pode
basear-se
em
diversos
modelos.
Um
deles-poderia
ser
a
criação
gradual
de uma
organização
regional
suprana-
cional
no contexto
do aprofundamento
da
integração
econômica.
Outro
modelo
poderia
envolver
a
criação
de
uma
série de
mecanismos ou
regimes
interes-
tatais sobrepostos
e
institucionalmente
fortes.
Um
terceiro
(talvez
visível nas
condições
atuais
da
UE)
poderia
derivar
de um a
mistura
complexa
e
dinâmica
de
intergovernamentalismo
tradicional
e
supranacionalismo
emergente.
Um
quarto
poderia
envolver
o
desenvolvimento
de mecanismos
constitucionais
consociacionalistas
do
tipo discutido
por Paul
Taylor.” Em
quinto
lugar,
a
coesão
regional poderia
ser
concebida
como
um a
ordem
neomedieval ,
na
qual
os
princípios
da territorialidade
e da soberania
seriam substituídos por
um
padrão
de
identidade
e
autoridade
em
sobreposição
embora
se
possa
duvidar
de sua
eficácia
na
criação
de coesão.”
Finalmente,
a coesão
poderia
basear-se
em uma
forte
hegemonia
regional
que,
com ou
sem
instituições
regionais
sólidas,
fiscalizasse
as políticas
externas
dos
Estados
dentro
de sua
esfera
de influência
e
estabelecesse
limites
para
as
opções
de
políticas
internas.
2
A
Explicação
do
Regionalismo
na
Política
Mundial
A
análise
convencional
do
regionalismo
começa
com
as teorias
desen-
volvidas explicitamente
para
explicar
a
criação
e a
evolução
inicial
da
Comuni-
dade
Européia
(CE).
Esta literatura
foi
dominada
pelos teóricos
liberais,
que
se
concentraram
na
mudança
das
características
das
relações
intra-regionais,
nas
condições
que
poderiam
promover
ou
impedir
o
avanço
rumo
à
integração
econômica
regional
e
nas
relações
entre
o
aprofundamento
da
integração
econômica,
de
um lado,
e as
perspectivas
de uma
comunidade
politica, do
outro.
Todavia,
o
caráter
fortemente
eurocêntrico
desses
trabalhos
e
sua
preocupação
dominante
com
processos
de
integração
econômica
sugerem
a
30
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
9/37
necessidade
de um
enioque
alternativo.
Para
fugir
da
sombra
teórica
da
CE,
esta
seção
começará
tratando
da relevância
das
teorias
sistêmicas para
a
análise
do regionalismo
contemporâneo,
voltando-se,
em
seguida,
para
as
abordagens
que enfocam
o
impacto
da interdependência
regional e,
pos-
teriormente,
para
as
abordagens que
destacam
a
importância
dos
fatores
internos.
2.1
Teorias
Sistêmicas
No
mundo
moderno
talvez
não
existam
regiões
inteiramente
auto-
suficientes,
imunes
a pressões
externas.
As
teorias
sistêmicas sublinham
a
importância
de
estruturas
politicas
e
econômicas
mais amplas,
nas
quais
os
esquemas regionalistas
estão
embutidos,
e o
impacto
das pressões externas
sobre
a
região??
Dois conjuntos
de
teorias s is têmicas
ou
estruturais
são
especialmente significativos: (1)
a
teoria
neo-realista,
que
sublinha
a
importân-
cia
do
sistema
anárquico
internacional
e da
competição
politica
pelo
poder; e
(2)
as
teorias
da
interdependência
estrutural
e da
globalização,
que enfatizam
o
caráter
mutante
do
sistema
internacional
e
o
impacto
das
mudanças
econô-
mica
e
tecnológica.
2.1.1
--
Neo-Realismo
Em
um
certo nivel,
a
cooperação
regional
pareceu
muitas vezes
impor
desafios diretos
ao
realismo.
O
aparecimento
de ilhas
de paz
e
cooperação
em
um mundo
considerado
conflituoso
por
natureza, dominado
pela
luta
pelo
poder, foi
visto,
na
década
de
50,
como
uma
anomalia que
o
realismo
era
incapaz
de
explicar.
Na verdade,
boa
parte
dos primeiros
trabalhos sobre
regionalismo
e
integração
regional
podem
ser considerados
como tentativas
de
esclarecer
essa
aparente
anomalia.
No
entanto,
o
neo-realismo
pode
nos
dizer
muitas
coisas
importantes
sobre
o
regionalismo.
Regionalismo,
Política
de Poder
e
Mercantilismo.
Tanto o
realismo
clássico quanto
suas
variantes
neo-realistas
mais
recentes
destacam
a
im-
portância
das
configurações
externas
de
poder,
a
dinâmica
da competição
política
pelo
poder
e
o papel
restritivo
do sistema
politico internacional
con-
sidered
o
como
um
todo.23
Para
os
neo-realistas,
a
politica
do
regionalismo
e
a
emergência
dos
alinhamentos
regionalistas
têm
muito em
comum
com
a
politica
de
formação
de
alianças#
Para entender
o
regionalismo
é
preciso
o›há-lo de
fora
para
dentro
e
analisar
o
lugar
que
a
região
ocupa
no
sistema
internacional
mais
amplo.
Os
agrupamentos
regionais
formam-se
em
resposta
a
desafios
externos,
não
existindo,
portanto,
diferença
essencial
entre
os
regiona lismos
econômico
e
politico.
Os
defensores
desse
ponto
de
vista,
por
exemplo,
enfatizam
a importân-
cia
fundamental
do
arcabouço
geopolítico
em
que
ocorreram
os
avanços
em
31
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
10/37
direção
à
integração
européia25
O
fim
da Guerra
Fria torna
mais
fácil
entender
o quanto
a
dramática mudança
na Europa
da
década
de
40
e
início
da
de 50,
que
saiu
da
guerra
e
competição
para
a cooperação
regional
e
depois para
a
promoção
da
integração
regional,
dependeu
de
um
conjunto
muito
particular
de
circunstâncias
geopoliticas:
a erosão
e
depois
o
colapso
dos
impérios
coloniais
sobre
os
quais
Grã-Bretanha
e
França
tinham
construido
seu
poder;
a
imensa
destruição
física
e a
exaustão psicológica
causada pelas
duas
guerras
mundiais;
a
percepção
de
um a
ameaça
crescente
por
parte
da
URSS;
a
transformação
há
muito
vaticinada
na escala
de
poder e
na
emergência
de
uma
nova
classe
de
superpotências,
com as
quais
os tradicionais
Estados-nação
da Europa
Ocidental
não
mais
poderiam
competir
individualmente;
e
a
pode-
rosa
pressão
por
parte
dos EUA
no sentido
de
maior
cooperação
regional.
Para
os neo-realistas,
a
hegemonia
norte-americana
foi especialmente
importante.
Eles
destacam
até que
ponto
a
integração
européia
foi
estimulada
pelo
encorajamento
e
pressão
direta
dos
EUA
~
po r
exemplo,
as
condições
associadas
ao
Plano
Marshall, que
levaram
à
formação
da
Organização
para
a
Cooperação
Econômica
Européia
(OCEE)
e
da
União
Política Européia
(UPE);
ou
a
determinação
de
Washington
de
continuar pressionando
a favor
do
rearmamento
da Alemanha
Ocidental
após
o
início
da
Guerra
da
Coréia,
forçando
a
Europa
a
encontrar
uma
maneira
de
conviver
com a
reabilitação
do
poder
alemão.
Eles
chamam
também
a
atenção
para
o
fato
de
a
integração
européia,
que
era
na
realidade
uma
integração
sub-regional,
se
inserir
em
uma
estrutura
d
e
segurança
transatlãntica.
isto
significa
que
as
tarefas
imensamen-
te difíceis
de
cooperação
político-militar
e
de segurança
poderiam
ser
deixadas
de
lado. A
aceitação
do
fato da
dependência
na área
de segurança
foi,
por
conseguinte,
um
dos
compromissos essenciais sobre
os
quais
se
construíram
a cooperação
e a
integração
européias
o
que
torna
vital
o exame das
relações
entre
as
questões
de economia
e
segurança
em outras
partes
do
mundo.
O
neo-realismo
concentra
su a
atenção
tanto
nas pressões
do
poder
politico
quanto
na
dinâmica
da
concorrência
econômica.
Isso sugere
aos
neo-realistas
que
as
pressões
de fora
para
dentro
continuaram
a
influenciar
o
caminho
da
integração
européia,
mas
que
tinham
cada
vez mais
a
ver com
i
a rivalidade
econômica.
Assim,
ainda
na
década
de
60,
De Gaulle
deu
grande
ênfase
à cooperação
européia
se
bem
que
na
forma
de
uma
Europe des
patries
como
meio
de
conter
le
défi
américain
e
reduzir
o
que
lhe
parecia
ser
um
privilégio
exorbitante
dos
EUA.
Da
mesma
forma,
o
relançamento
da
integração
européia
na
década
de
80
pode
ser
interpretado
como
resposta
au
défi
japonais
e à
perda
de
competitividade,
sobretudo
em
setores
es-
trategicamente
(sic)
importantes
de alta
tecnologia.
Dessa
perspectiva,
os
objetivos
econômicos
da
integração
regional
não
derivam
da
busca do
bem-
estar,
mas
da
estreita relação
que
existe
entre
riqueza
econômica
e
poder
politico
e
da
preocupação
“inevitável”
dos
Estados
com
lucros
e
perdas.
32
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
11/37
Pode-se, portanto, ver
o
regionalismo
econômico
como
um a
estratégia
no
jogo
da
concorrência neomercantilista.
Ele
pode
também ser
visto como
um
instrumento
de
barganha
nas
negociações
que
determinam
a
natureza
da
ordem econômica
internacional.
Sob
este
ângulo, por
exemplo,
o
interesse
crescente
dos
EUA
no
regionalismo
econômico em
meados
da
década de
80
foi
ao
mesmo
tempo
uma
resposta
ao declínio de
sua
competitividade
e
à
sua
relativa
perda
de
poder econômico
vis-à-vis
a
Europa
e
o
Japão
e uma
manobra
de
negociação
ou
ferramenta de
barganha
o
NAFTA
como
um
instrumento
para
pressionar
o
Japão
a
abrir
seus
mercados
e
a
APEC
como meio de
fazer
pressão
sobre
a UE
nos
estágios finais
das
negociações
da
Rodada
Uruguai
do Acordo
Geral sobre
Tarifas
e
Comércio
[GATT].
A
mesma
lógica
neo-realista pode ainda
se
aplicar à
política
dos
Estados
menores
fora da
Europa.
S ob este
ponto
de
vista,
muitos
dos
agrupamentos
regionalistas
constituem basicamente
a
resposta de
Estados
fracos
enredados
no
mundo
dos
fortes.
Por
isso,
boa parte das
atividades regionalistas
nos
anos
da
Guerra Fria
envolviam,
na
essência, esquemas
de
cooperação
diplomática
e
política
formulados
para
melhorar a
posição
de
sua região
no
sistema
internacional,
por
meio
do aumento de
seu
poder
de
barganha
ou da
tentativa
de isolamento
total
da
região
e
redução
de
espaço
para
intervenções
externas.
lgualmente,
o
despertar
do
regionalismo,
que ganhou
fôlego
em muitas
partes
do
mundo
em
desenvolvimento
na
década
de
80,
foi
conseqüência
lógica
da
erosão
de
coalizões alternativas entre
regiões.
A
erosão da
coalizão
do
Terceiro
Mundo,
em
que
foram
depositadas tantas
esperanças
na
década de
70,
combinada
com
o
medo
de
marginalização
e
vulnerabilidade,
pressionou
os
países
em desenvolvimentoda
Africa,
América Latina e Oriente Médio rumo
a
“g
rupos-solidariedade
de
caráter
regional
mais
limitado.
O neo-realismo
também
revela
o
quanto os acordos
regionais
nas áreas
de
economia
e
segurança,
criados
por Estados
relativamente
fracos, depen-
dem
das
políticas
e
atitudes das
potências principais.
Assim,
durante
a
Guerra
Fria
ambas as
superpotências
favoreceram
os acordos
regionalistas
que
fortaleciam
seus
respectivos
sistemas
de
alianças
ou
apoiavam
clientes
im-
portantes.
Mas
quando_contrariava seus
interesses
geopolíticos,
o
regionalis-
mo encontrava
oposição
firme
é
o. caso,
por
exemplo,
da
oposição
norte-
americana
à
cooperação
sub-regional
na
América Latina
no
início
da
década
de 50
ou
a numerosas
propostas
de
“zonas
de
paz
ou de zonas
nucleares
livres;
ou o
casoda
ambivalência
soviética
em
relação
ao
regionalismo
euro-
peu.
Embora
tenham
ocorrido
grandes mudanças
com
o fim
da
Guerra
Fria,
a
expectativa
dos
neo-realistas
é que
esses padrões
prossigam,
ou seja,
que
o
êxito
da
cooperação
sub-regional
continue
dependendo
das grandes
potências
agindo
unilateralmente
ou
dos agrupamentos
macrorregionais
que
essas
potências
lideram.
Hegemonia.
Embora
tenha sido grande o
esforço
despendido
na
análise
d
as
relações
gerais entre
hegemonia
e
cooperação,
os
vínculos entre hegemo-
33
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
12/37
nia'
e
regionalismo
não
estão
ainda suficientemente
teorizados.
Não
resta
dúvida
de que a existência
de
um
forte
poder
hegemônico
em um a
região
pode
comprometer
os
esforços
de
construir
instrumentos
regionais
que envolvam
todos
ou
quase
todos
os Estados dessa
região.
A
posição
da India no
subcon-
tinente
e
a
história
do South
Asian Regional
Cooperation
Council
(SARC)
é um
exemplo
bem
ilustrativo.
Mas
o
quadro
é
muito
mais
interessante
e
complexo.
Existem,
no
minimo,
quatro maneiras
em que
a
hegemonia
pode
atuar como
poderoso
estímulo
ao
regionalismo
e
à
criação
de
instituições
regionalístas.
Primeira,
os agrupamentos
sub-regionais muitas
vezes
se
desenvolvem
como
resposta à existência de
um
poder hegemônico
real
ou
potencial.
Em
muitas partes
do
mundo,
verifica-se uma
tendência
à
formação
de
agrupamen-
tos
sub-regionais
como meio de
melhorar
o
equilibrio
de poder vis-à-vis
um
Estado
localmente
dominante
ou
ameaçador.
Embora
com
variações
na abran-
gência
e
nas
caracteristicas,
a
ASEAN
(contra
o
Vietnã
e,
mais
recentemente,
contra
a
China),
o
Conselho
de
Cooperação
do Golfo
(contra
o
Irã),
o SADCC
(contra
a
Africa
do
Sul),
o
Grupo
de
Contadora,
o
Grupo
do
Rio
e
o
Mercosul
(contra
os
EUA)
não
podem
ser entendidos
a
não
ser no
contexto do
balanço
do poderregional
e
das politicas da
potência
regionalmente
dominante
e/ou
ameaçadora.
Segunda,
o regionalismo pode
emergir
como
um a tentativa de
restringir
o
livre
exercicio
do
poder
hegemônico
pela
criação
de
instituições regionais.
Muitos
vêem a
posição
da Alemanha
na
CE
como
a
ilustração
clássica dessa
armadilha regionallsta ,
formulada
para
atenuar e
administrar o inevitável
impacto
da
preponderância
alemã.
Se
a
integração
européia
fo i pressionada
de
fora
pela
ameaça
da
URSS,
de
um lado,
e
pela liderança
hegemônica
dos
EUA,
do
outro,
ela
fo i
também
explicitamente promovida
como
um
meio de
administrar
o
poder
alemão.
Embora
a
divisão
da
Alemanha
tenha
aliviado
os
temores dos outros
europeus, certamente
não
os removeu. A
Europa
precisava
do
poder
econômico
da
Alemanha
para
alimentar a
recuperação
pós-guerra
e
do poder
militar
alemão
para conter
a
ameaça
soviética.
Na
verdade,
o
projeto
específico
de
integração
regional
surgiu
exatamente
como
o
meio
preferido
para
se lidar com
esse problema:
permitir
o rearmamento
e a
reabilitação
econômica,
mas
envolvendo
a
Alemanha
semi-soberana
em
uma
rede
in-
tegrada
de
instituições,
tanto
no
campo
econômico
(CE)
quanto
no militar
(Organização
do
Tratado
do Atlântico
Norte
(OTAN)/Un¡ão
da
Europa
Ocidental
(UEO)).
Do
ponto
de
vista
da
Alemanha,
o
regionalismo
propiciou
a cobertura
multilateral
essencial sob a qual
poderia,
antes
de
mais
nada,
restabelecer
sua
posição
e recuperar
sua
soberania e,
mais
recentemente,
consolidar
sua
influência??
No
Extremo
Oriente,
ao
contrário,
o poder
japonês
foi
contido
com
o
solapamento
do
macrorregionalismo
e a
construção
de
alianças
bilaterais
extra-regionais com
os
EUA.
Embora
o
fim
da Guerra
Fria
tenha
alteradouesse
quadro,
a
idéia de
usar
o regionalismo
institucionalizado como
meio de
conter
os
efeitos
potencialmen-
te diruptivos de
potências
desiguais
permanece
umfator
importante
na
política
34
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
13/37
internacional
tanto da
Europa quanto
do
Pacífico Asiático. Além
disso,-
a
relação
entre
tipo
de
instituição
e
poder
relativo
pode
servir como um ponto
de
partida
plausível
para
a
teorização
das
variações
nas
características
do
regionalismo
em
diferentes
partes
do
mundo.
Considere-se, por exemplo,
o
contraste
entre
as
estruturas
de
institucionalização
relativamente
complexas
do NAFTA,
de
um
lado,
e o
caráter
frouxo
da
APEC,
de
outro.
Em
ambos
os
casos,
os
EUAtinham
um
conjunto
claro
de
objetivos
econômicos que
não
podiam se r
inteiramente
promovidos
por
meio do GATT
(a
inclusão nos
regimes
comerciais
de
regras
sobre investimentos,
serviços
e
direitos de
propriedade
intelectual).
Quanto
ao
México
e
aos
países relativamente
fracos da
América do
Sul,
a
oposição
aberta
seria
perigosa
e cara. O
equilíbrio
de
incentivos,
portanto,
favorece uma
ordem
hegemônica
limitadora,
na
qual se troca
a
aceitação
de
importantes
objetivos
dos
EUA
pelo
acesso mais
seguro
ao
mercado norte-americano
e na qual níveis
relativamente
altos de
institucionalização
restringirão
espera-se
sua
vulnerabilidade
ao exercício
unilateral
do poder
pelos
EUA. No Pacífico
Asiáti-
co,
ao
contrário,
os
Estados
muito
mais
fortes
da região
resistiram
com
êxito
aos
esforços
norte-americanos
de promover a APEC à
condição
de
veículo
formal
alternativo
de pressão
a favor de
sua
agenda
econômica
externa.
Do
ponto
de
vista da
APEC,
um
frouxo instrumento regional mantém
os
EUA
envolvidos
na
segurança
da região, ao
mesmo tempo
em
que restr inge
sua
capacidade
de
pressionar
a
agenda
econômica desses
países.
'
Terceira,
esse tipo
de
comportamento se
associa,
com
freqüência
in-
timamente,
à
tendência
dos
Estados
mais
fracos
de
buscar
acomodação
regional
com
o
poder
hegemônico
local,
na
esperança
de receber
recompensas
especiais
(bandwagoning,
no
jargão
realista).
A
teoria neo-realistaprediz
que
esse tipo
de
comportamento
é
mais provável
quando
os
diferenciais
de
poder
são muito
grandes,
quando
são
poucas
as
alternativas externas
de
acomoda-
ção
com o
poder
hegemônico
e
quando
é
grande
a
proximidade
geográfica
do
Estado
menor.
Ainda
que
inspirada em
sua
vulnerabilidade
real
ou
potencial,
semelhante estratégia
oferece aos pequenos Estados
a
possibilidade
de
benefícios
materiais. A participação
em uma
coalizão
militar
dominada por
uma
grande
potência
pode,
por
exemplo,
ser o
meio
mais
viável de
adquirir
moder-
nos
sistemas
de
armamentos.
E
claro
que,
quanto
mais preparado estiver
o
poder
dominante
para
aceitar
uma ordem
hegemônica limitada
por regras,
mais
aceitável
será
a
estratégia
de
bandwagoning
para
os Estados fracos.”
Quarta,
o
próprio
poder
hegemônico
pode
procurar
envolver-se
ativamen-
te
na
construção
de
instituições
regionais. E
interessante
observar
que,
neste
caso,
a
lógica
diverge do
argumento
de
que
a
emergência
da
cooperação
e
a
criação
de
instituições
internacionais
se
baseiam
em
uma
situação
hegemôni-
ca.
Olhando
quase
que
exclusivamente
para
instituições
não-regionais,
os
teóricos
da estabilidade hegemônica
argumentam
que
a
criação
de
cooperação
-xinstitucionalizada
depende
intensamente
do
poder
desigual
e
da
existência
da
hegemonia.
Não
obstante,
se
o poder hegemônico
se
encontrar
na
posição
extrema
de
domínio,
este
poder
poderá
tornar
o
regionalismo
institucionalizado
35
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
14/37
desnecessário
ou,
na
melhor
das
hipóteses,
marginal.
O declínio
de
hegemo-
nia,
porém,
podera pressionar
o
poder
hegemônico
a criar
instituições
comuns
com
o
objetivo
de
perseguir
seus interesses,
compartilhar
os ônus,
resolver
problemas
comuns
e
gerar
apoio
e
legitimidade
internacionais
para
suas
politicas. Essa
combinação
de
desigualdade
ainda
marcante
e
niveis gerais
declinantes
de
poder pode
ser muito
eficaz para
a
criação
de
instrumentos
regionalistas.
De
um
lado,
o
Estado
central
é forte
ainda
o
bastante
para
exercer
liderança
efetiva
e,
se
necessário, coerção;
de
outro,
o
esquema fica
equilibra-
do
pela
percepção
de
que
o
poder
declinante
torna
a
cooperação
ainda mais
necessária??
O neo-realismo
demonstra
pouco
interesse pela
regionalização
ou
in-
tegração
econômica regional,
acreditando
que
os
chamados processos
autô-
nomos de
mercado” são basicamente
determinados pelas
estruturas
do
sis-
tema
político
internacional
e
pelas
politicas
dos Estados principais.
A coesão
regional
é
possível,
mas
como resultado
do
poder
do
Estado
hegemônico
regional
ou
da
convergência
sustentada
de
interesses
e
incentivos
materiais.
E
pequeno
o
peso
atribuido
à
noção
de
consciência regional.
Dentro de
seus
limites,
ateoria
neo-realista tem
ainda
muito a nos dizertanto
sobre
a
relevância
das
pressões
de
fora
para
dentro
quanto
sobre
a importância
da
hegemonia.
Ela
é
útil para
esclarecer
como as
restrições
externas
e a estrutura
do
sistema
internacional
moldam
as
opções
regionalistas
em
todos
os
Estados,
mas
sobretudo
no
caso dos
Estados
relativamente
fracos. E
serve também
para
explicar
a
lógica
da
interação
estratégica
quando
se
conhecem
e entendem
bem a identidade
dos
atores e
a
natureza
de
seus interesses.
Contudo,
o
neo-realismo
diz
pouco
sobre
as
caracteristicas
da
coopera-
ção
regional
depois
de
estabelecida,
e sobre
o
modo como
os hábitos
de
cooperação
sustentada podem
envolver
estruturas
institucionais
muito
diferen-
tes
da
idéia
tradicional
de coalizão,
aliança
ou
organização
internacional.
O
funcionamento
dessas
instituições
poderá
conduzir a
uma
nova
definição
de
interesses
próprios
e
talvez a
uma
nova concepção
de próprio .
O
neo-realis-
mo também
diz pouco
sobre o impacto
dos
fatores internos.
Fala
muito
de
Estados enquanto
atores
com
interesses
próprios
competindo
em
um
mundo
anárquico,
mas deixa
sem
explicação a identidade
dos
próprios
e
a
natureza
dos
interesses,
ou
simplesmente
as
pressupõe.
Além
disso,
se
existem limi-
tações
em
relação
aos
fatores internos
e
ao funcionamento
das
instituições
regionais, existem
também
dificuldades
importantes
no
que diz
respeito
ao
lado
de
fora,
e
é
para
elas
que
nos voltamos
agora.
2.1.2
interdependência
Estrutural
e Globalização
Uma
das
criticas
mais
sistemáticas
e
vigorosas
feitas ao
neo-realismo
tem
a ve r com
sua
descaracterização
do
sistema
internacional.
Nesta
ótica,
os
fatores sistêmicos
são extremamente
importantes,
mas
o
neo-realismo
propicia
36
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
15/37
apenas
um
relato
grosseiramente simplificado
da natureza do
sistema,
no
qual
ignora
corno
a dinâmica
competitiva
do
mesmo
muda
ao
longo
do
tempo.
Em
particular,
o
quadro que
traça
do
sistema
internacional
deixa
completamente
de fora
a análise
de
comotas
mudanças
econômicas globais
afetam
a natureza
da
competição
politica
e
econômica e
a
conseqüente
definição
de
interesses
estatais.
Criticas
desse
tipo
se
originaram em
obras
da
década
de
70
sobre
i nterdepen
dência
e
modernização,
associadas
a
estudiosos
como
Joseph Nye,
Fiobert
Keohane
e
Edward Morse.
Não
obstante,
o
enfoque
estrutural ou
sistêmico
desses
trabalhos
foi-se atenuando
(e
com
freqüência
desapareceu
inteiramente)
à
medida que a
atenção
se
voltou
para
os vínculos
entre
¡n
terdependência
e
poder
estatal
e
para
a
natureza
e
o
papel
dos
regimes na
administração
.da
interdependência em
áreas
específicas??
e
à medida
que
a
preocupação
inicial
com
o
transnacionalismo
e
os atores
não-estatais
foi
substituída
por
uma
perspectiva
fortemente centrada
no
Estado.
Conquanto
o
enfoque
nos
regimes especificos
seja, sem
dúvida,
significativo','ele
é também
extremamente
importante
por
fazer
reviver
a
idéia de interdependência
como
um
fenômeno
sistêmico
ou
estrutural
e
por examinar
o
regionalismo
contem-
porâneo
no
contexto
de
uma
globalização
cada
vez
mais
profunda.
Globalização
tornou-se
um
tema
importante
da
discussão
pós-Guerra
Fria
sobre
a
natureza
da
ordem
internacional.
Se
bem
que
quase
nunca ligada
a uma
teoria
claramente articulada, ela
transformou~se
em metáfora
poderosa
para
o
sentido
de
numerosos
processos universais
que
estão
em
curso,
gerando interconexão
e
interdependência crescentes
entre
Estados
e
socie-
dades. A imagem
cada
vez
mais
comum
é
a
de
uma inundação global
de
dinheiro, pessoas,
imagens,
valores
e
idéias,
transbordando
do
antigorsistema
dee
barreiras
nacionais
que
visavam preservar
a
autonomia
estatal.
Como
resultado,
os
limites
territoriais
estão
se tornando
cada
vez
menos
importantes,
o
sentido
tradicional
de
soberania
está
sendo
solapado
e
»as
regiões
in-
dividualmente
passaram
aser consideradas dentro
de
um contexto
global
mais
amplo.
Essas
perspectivas
são bem expressas
por
frases
de
efeito
como
“mundo
sem fronteiras ou
fim
da
geografia .3°
A
maior
parte
dos
argumentos
contemporâneos
em
favor_
daglobalização
apóia-se
e
m
uma
das
seguintes
considerações: (1 )
o mundo está
testemunham
cio
um
aumento
dramático
na densidade
e
“profundidade”
da
interdependên-
cia
econômica;
(2)
a
tecnologia
da
informação
e
a
revolução
da
informação
estão
desempenhando
um
papel
crucial na
difusão
de
conhecimentos,
tecno-
logias
e
idéias; (3 )
esses
desenvolvimentos
criam
a
infra-estrutu
ra
material
para
o
fortalecimento
da
interdependência
das
sociedades.
Isto,
juntamente
com
a
influência
integradora
e homogeneizadora das
forças
de
mercado,
facilita
a
crescente
circulação
de
valores,
conhecimentos
e idéias
e
aumenta
a capaci-
dade
de
grupos que
pensam da mesma
maneira
de
organizar-se
além
das
fronteiras
nacionais,
criando
uma
sociedade
civil transnacional
que
inclui
37
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
16/37
comunidades
de
politicas
transnacionais
e
movimentos
sociais transnacionais;
(4)
tudo
isso
está
conduzindo
a
uma consciência
sem
precedentes
e
cada
vez
mais
forte
dos
problemas
globais , como
a
mudança
global
do
meio ambiente
e
de
que
todos
pertencem
a
um a única
comunidade
humana .
Mas
o
que essas
idéias
têm
a
ver
com
o
regionalismo?
A
resposta
é
complexa
e
ambígua.
De um
lado,
a
globalização
trabalha
contra
a
emergência
do
regionalismo
de várias maneiras.
Primeiro,
o aumento
dos
niveis de
in-
terdependência
econômica,
juntamente
com
o
surgimento
de
novas
questões
globais, como
a
degradação
do
meio
ambiente,
refugiados,
respostas
aos
desastres
humanitários,
criam
poderosa
“demanda”
por instituições
in-
ternacionaisde
base
não-regional,
projetadas
para
resolver
problemas
comuns
e
administrar
as
numerosas
fontes
de
atrito
a
que
a
interdependência
deu
origem.
De
fato,
a preocupação
crescente
com
padrões
de
interdependência
que transcenderam
as
regiões
individualmente
persuadiu
a
muitos dos
en-
volvidos
no estudo
da
integração
regional
a
voltarem sua
atenção
para
um
estágio
mais
amploêl
Segundo,
a
expansão
da
interdependência
econômica
e
o crescimento
da
cooperação
nas
áreas
de política,
economia
e segurança
no
âmbito
da
Organização
de
Cooperação
e Desenvolvimento
Econômico
(OCDE)
criaram
elementos poderosos
de
coesão
ocidental ,
e
não especificamente
regional.
Embora
essas
estruturas
institucionais
tenham
se difundido
(Bretton
Woods,
a
OCDE,
o
Grupo
dos
Sete
(G-7),
os sistemas
de segurança
transatlânticos
e
transpacíficos),
tudo
isso
junto
representou,
e
continua
a representar,
um a
restrição
importante
ao
crescimento
de
agrupamentos
regionais
coerentes.
Terceiro,
o
equilibrio
entre globalização
e
regionalização
da
atividade
econômica
é complexo.
Ainda
que
tenha
ocorrido
um
aumento
da
regionaliza-
ção,
existem poderosas forças
de
integração
global,
sobretudo
com
o
desen-
volvimento
das
finanças
globais
e
das
estruturas
globais
de
produção,
en-
volvendo
alianças
Estado-empresas
que
ultrapassam
os
limites
das
regiões??
Não
obstante,
a
globalização
pode
atuar
também
como
estímulo
ao
regionalismo.
Primeiro,
o
aprofundamento
crescente
da integração
acarreta
problemas
que
exigem
gestão
coletiva
e,
mais
especificamente,
formas
de
gestão
e
regulação
que
mergulhem
cada
vez
mais
fundo
nos
negócios
internos
e
nas
prerrogativas soberanas
dos
Estados.
Trata-se
de
um
estímulo
ao
regionalismo
na medida
em
que politicamente
é
mais viável
construir
essas
instituições
em
nivel
regional
do
que
em nivel
global.
Sob
essa
ótica,
a
“comunidade”
de
cultura
e
história,
a homogeneidade
de
sistemas
sociais
e
valores,
a
convergência
de interesses
nas
áreas
de politica
e
de
segurança
e
as
caracteristicas
das
coalizões
internas
facilitam
a
aceitação
de
uma
in-
tervenção
abrangente,
tanto
em
termos
do
estabelecimento
de
padrões
quanto
de
regulação,
e mais ainda de
colocação
em prática
e
implementação
efetiva.
Segundo,
a
caracteristica
global
de
muitas
questões
é
com
freqüência
exagerada.
Embora existam questões
que,
sem
dúvida,
são genuinamente
38
-
8/18/2019 O Ressurgimento Do Regionalismo Na Política Mundial (Hurrell)
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globais,
como
alteração
do
clima
e perda
da
biodiversidade,
e embora
nume-
rosas
outras
questões,
como
os
problemas
do
meio ambiente
e
dos refugiados,
constituam
na
verdade
uma
questão
global quando
agregadas,
é
possível
que
seus
efeitos
se
façam
sentir
mais
diretamente
em
determinadas
regiões,
sendo,
portanto,
mais
no
nível regional que
no global
que o
equilibrio
dos
interesses
e
incentivos
provavelmente
pressionarão
os
Estados
a
procurar
as políticas
de
resposta.
Assim,
embora,
em sentido abstrato,
a
lógica
da
cooperação
aponte
para
o
globalismo,
são numerosos
os
argumentos
práticos
em
favor
das
contribuições
de
base
regional
à
solução
de
problemas
globais
ou
da
colocação
em
prática
em âmbito
regional
de padrões
ou medidas
globalmente
acordados.
Terceiro,
existe
ainda
o
argumento
relacionado
de
que
o regionalismo
representa
o
nível
mais
viável
para
reconciliar
o
mercado integrador
e
as
pressões
tecnológicas
para
a
globalização
e
integração,
de um
lado,
e as
tendências
igualmente
visíveis
à fissão
e
fragmentação,
do
outro. Os
liberais
reconhece
m
as
tensões
envolvidas,
mas encaram
o
processo
de
reconciliação
como
um
ajuste
necessário
às
novas oportunidades
tecnológicas
que
no
longo
prazo
ampliarão
o
bem-estar global.
Os teóricos radicais,
por
sua
vez,
des-
tacam
até
que
ponto
o
deslocamento geral
da
autoridade,
que
sa i
do
Estado
para
o
mercado,
é regido
pela
mudança
das estratégias
empresariais
do capital
transnacional?”
Eles
argumentam
que
a
redução
da
função
reguladora
do
Estado
e
sua
substituição
por
instituições
internacionais
politicamente
fracas
nos
niveis
regional
e
global
têm
implicações
importantes
para
o
equilibrio
da
riqueza
e poder
entre
os grupos
sociais
dentro
das
regiões
e entre
elas. A
politica
do
regionalismo
concentra-se,
portanto,
em
torno
das
questões
da
desigualdade
e
redistribuição.
Quarto,
e
talvez
o
mais
importante,
a
integração
global
pode
ter
atuado
como
poderoso
estímulo
ao
regionalismo
econômico,
alterando
e
intensifican-
.do padrões
da
concorrência
comercial. Mudanças
na tecnologia,
nas
teleco-
municações,
na
operação
dos
mercados
globai