O USO DE QUESTIONÁRIOS EM PESQUISAS DE CULTURA
DE SEGURANÇA
Área temática: Gestão da Saúde e Segurança Ocupacional & Ergonomia
Carlos Carvalho
Fernando Toledo Ferraz
Isaac José Antonio Luquet Santos
Resumo: O artigo tem o objetivo de apresentar a importância de um questionário bem elaborado para realizar uma
pesquisa em cultura de segurança de uma organização. São apresentados dois questionários de pesquisas já
realizadas, sendo uma na área nuclear no Brasil (1998/1999) e outra nos EUA (2006), onde estes questionários são
comparados com um documento da área nuclear (IAEA-TECDOC 1329 (2002)) que serve de base para a análise dos
dois questionários. Fechando o artigo, são feitas sugestões para que o resultado da pesquisa retrate da forma mais fiel
possível o clima de segurança vigente.
Palavras-chaves: cultura de segurança; uso do questionário; formas de pesquisa
ISSN 1984-9354
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1. INTRODUÇÃO
Situação Problema:
Possuir uma forte cultura de segurança é fundamental para que uma empresa possa ser
percebida como uma Organização de Alta Confiabilidade (OAC). A cultura de segurança precisa ser
encarada como um valor pela organização suportando o ambiente sóciotécnico necessário para o
desenvolvimento de uma empresa de alta confiabilidade. Porém, para que a cultura de segurança
possua uma boa maturidade, é preciso “medi-la” com periodicidade pré-estabelecida.
Uma das ferramentas mais utilizadas em nível mundial para medir a maturidade da cultura de
segurança é o questionário. Porém, existem diferenças sobre a forma como se elabora um questionário.
Um dos problemas reside em selecionar as dimensões do clima de segurança que diferem de indústria
para indústria. Os fatores que influenciam no clima de segurança dentro de uma indústria pode não ser
válido em outra (GADD, 2002). Segundo Coyle et al (1995), não existe um conjunto universal de
fatores de clima de segurança. Wu e Fang (2013) asseveram que um instrumento único e universal
para medir o clima de segurança é missão impossível. Glendon e Litherland (2001 apud WU;FANG
2013, p. 144) examinaram o clima de segurança em uma organização de construção de estrada e
descobriram seis fatores principais: suporte e comunicação, adequação aos procedimentos, pressão de
trabalho, equipamento de proteção individual, relacionamentos e regras de segurança. Já Mohamed
(2002) identificou 10 dimensões para descrever o clima de segurança. Que são: comprometimento da
gerência e atitude com a segurança, consulta a segurança e treinamento em segurança, o papel da
supervisão e dos colegas de trabalho, comportamento de risco, recursos de segurança, avaliação dos
procedimentos de segurança e dos riscos de trabalho, procedimentos de segurança inadequados,
envolvimento dos trabalhadores, influência dos trabalhadores e a competência. Já o documento IAEA-
TECDOC-1321 (2002 p.9) relaciona os fatores organizacionais que são importantes na implementação
de soluções de problemas de cultura de segurança: atitude para o melhoramento contínuo,
comprometimento da gerência, recursos adequados, canais de comunicação efetivo, sistema de
planejamento efetivo, habilidades e competências e influência externa.
Os questionários podem ser do tipo escrito quantitativo (múltipla escolha) e escrito com
elemento narrativo, onde neste último existe um espaço, após algumas questões, em que o respondente
expressa sua opinião por escrito.
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Um questionário bem elaborado, com a seleção das dimensões pertinentes, além de uma boa
instrução sobre como preenchê-lo, é fundamental para o nivelamento do entendimento dos
respondentes. Esta ação evita dúvidas sobre a forma correta sobre como ele deve ser respondido.
2 - Objetivos geral:
Mostrar a importância de uma boa elaboração de um questionário para realizar uma pesquisa
sobre cultura de segurança, com o objetivo de prover qualidade à pesquisa e de obter um resultado o
mais fiel possível em relação ao clima de segurança vigente.
3 - Objetivos específicos:
1. Apresentar as diferenças de dois questionários comparando com o documento IAEA-TECDOC
1329 (2002)
2. Prover regras gerais que ajudarão na padronização para a aplicação do questionário.
4 - Metodologia:
Para este artigo foi realizado uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de mostrar a forma de
coleta das informações e como a comparação entre questionários é realizada. Foi utilizada a revisão de
literatura como estratégia de pesquisa. A pesquisa é descritiva e explicativa.
Os dois tipos de questionários pesquisados que fizeram parte de pesquisas sobre cultura de
segurança foram:
1º) Um questionário de 70 perguntas aplicado no Brasil no período de 1998/1999;
2º) Um segundo questionário de 49 perguntas aplicado em 2006 nos EUA;
4.1 – DOCUMENTO BASE PARA AVALIAÇÃO
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O documento de referência para a avaliação dos questionários foi o IAEA-TECDOC-1329
(2002), que é oriundo da área nuclear. Abaixo segue um resumo sobre as considerações que serão
levadas em conta na avaliação dos questionários:
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 22), informações sobre as atitudes, opiniões e
percepções dos empregados podem ser coletadas de duas formas: ou por meio de questionários escritos
ou por meio de entrevistas. Na prática estas duas categorias se desdobram em quatro possíveis
abordagens, passando por uma combinação delas o que amplia a gama de possibilidades. De um lado,
estão os questionários escritos para grandes amostragens, e do outro, estão as entrevistas não
estruturadas, conduzidas a um pequeno grupo de indivíduos-chave. Entre os dois extremos, existem
questionários que coletam narrativas (perguntas abertas), assim como informações puramente
quantitativas e as entrevistas estruturadas, semi-estruturadas e não estruturadas com indivíduos ou
grupos. A figura 01 abaixo ilustra a série de tipos de pesquisa que variam da qualitativa à quantitativa:
Figura 01 – Tipos de pesquisa
Fonte: Adaptado de IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 22).
No espectro da figura acima, cada método válido de coleta de dados fornece informações
variadas. Por exemplo, um questionário múltipla escolha fornece dados bastante precisos com um alto
grau de confiança, refletindo a visão da população pesquisada. Entretanto, ele não é desenhado para
fornecer um detalhamento profundo sobre as atitudes, motivações e preocupações que fundamentam as
respostas. Na outra extremidade do espectro, uma entrevista não estruturada com um grupo de trabalho
focado, geralmente não fornece informações estatísticas confiáveis, mas fornece uma percepção crítica
sobre grandes preocupações ou questões. Ao se conduzir uma pesquisa é preciso que quem a patrocine
entenda claramente o tipo de informação que poderá coletar usando um determinado método de
pesquisa, além de entender o lado bom e ruim de qualquer método selecionado. Neste artigo não serão
abordados as entrevistas face a face e as entrevistas com grupos focais.
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4.1.1 - Questionário escrito quantitativo
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 23), esta é a abordagem mais comumente usada
para a coleta de dados para a pesquisa de empregados. Ela é rápida, fácil de ser preenchida, minimiza
interrupções, possui uma alta taxa de resposta, além de fornecer dados claros que podem ser
rapidamente analisados. Neste tipo de pesquisa, os respondentes são mantidos de forma anônima, o
que facilita expressar suas visões críticas sem medo de consequências adversas. Pode ser aplicada em
uma amostra representativa, fornecendo uma reflexão precisa e confiável da população, além de uma
base para futuras tomadas de decisão.
4.1.2 - Questionário escrito com elemento narrativo
Como o questionário escrito do item 4.1.1 é puramente quantitativo e visando compensar este
ponto fraco, a pesquisa pode ser feita com um mix de questões múltipla escolha e questões abertas que
procuram saber as preocupações do respondente através de uma narrativa. Por exemplo, o questionário
pode ter uma pergunta para avaliar a qualidade de um treinamento variando de excelente a ruim. Esta
mesma pergunta pode ser seguida de uma pergunta aberta do tipo: Por que respondeu a isto? A
vantagem desta abordagem é que mantém os pontos fortes do questionário quantitativo, enquanto abre
uma oportunidade para explicar questões mais complexas. O ponto fraco é que existe menos controle
sobre a forma e o conteúdo da informação fornecida, uma vez que os respondentes usam linguagens
diferentes em suas narrativas. É um questionário mais difícil de preencher e analisar, podendo
desencorajar os respondentes.
4.1.3 – PROJETANDO UM QUESTIONÁRIO
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 35), os princípios-chave são os seguintes:
1º) Decidir precisamente qual informação você deseja obter de cada questão.
2º) Assegurar que a questão fornece a informação tão precisa quanto possível.
3º) Assegurar que não existe a possibilidade de mal entendidos ou ambiguidades sobre a
questão ou sobre a resposta.
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Armadilhas comuns encontradas em pesquisas:
1ª) Ambiguidade ou incerteza sobre a linguagem e terminologia.
2ª) Falta de clareza sobre a informação solicitada.
3ª) Combinar várias questões em uma única questão.
4ª) Supor algo não justificado.
5º) Evitar respostas do tipo “não sei” e “não aplicável”.
6ª) Questões que induzem.
Vale ressaltar que um questionário que contenha uma série de questões sobre um determinado aspecto
da organização elaborado somente com afirmações positivas, pode dar a entender aos respondentes de
que uma atitude positiva para este aspecto seja a preferência. Visando não induzir a resposta, é
prudente incluir uma mistura de afirmações positivas e negativas, que não deem a entender nenhuma
preferência particular.
4.1.4 – FORMATO DAS QUESTÕES
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 36), as questões da pesquisa podem ser divididas
em duas grandes categorias: aquelas que exploram as atitudes ou opiniões e aquelas que procuram
alguma forma as informações baseadas em fatos. A primeira categoria inclui o formato
concordo/discordo. Na segunda categoria, podem existir questões sobre a frequência das instruções de
segurança, por exemplo. Dentro destas duas grandes categorias vários formatos podem ser aplicados.
Questões sobre atitudes ou opiniões geralmente levam os respondentes a indicarem sua sensação tanto
para a direção quanto para a intensidade.
O formato das questões em todo o questionário não necessita ser sempre o mesmo. Existem
ganhos quando são colocadas algum tipo de variedade para desencorajar respostas automáticas.
Variando o formato das questões, é possível encorajar os respondentes a parar momentaneamente e
raciocinar antes de responder cada questão. Assim, o mérito de cada questão terá um melhor
julgamento individual. Deve-se balancear entre encorajar os respondentes a ver cada questão de forma
independente e evitar um formato global que pareça ser excessivamente confuso. Algumas vezes é
interessante expressar questões sobre um determinado tópico de uma forma em que o discordo seja
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considerado uma resposta positiva. Incluir questões com este formato ajuda a identificar os
respondentes que completam o questionário de forma automatizada ou de forma impensada.
4.1.5 – CRIANDO O QUESTIONÁRIO DE CULTURA DE SEGURANÇA
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 37), o tamanho do questionário é uma decisão
importante. Existe uma relação entre o tamanho do questionário e o nível de resposta. Quanto mais
extenso e detalhado for o questionário, provavelmente, maior será a dificuldade de adesão de um
grande número de respondentes. É preciso balancear os dois fatores. Segundo o IAEA-TECDOC-1329
(2002, p. 37), no caso de questionários sobre cultura de segurança, é recomendado que o número de
questões esteja na faixa entre 60 a 80 perguntas. Em menos de 60 não se consegue capturar o detalhe
necessário para obter um quadro da cultura de segurança e, em mais de 80, pode-se encontrar
dificuldade de se obter um número significativo de respondentes.
Outro ponto importante diz respeito à obtenção do perfil dos respondentes para ajudar nas
análises (critérios para estratificações). As informações mais comuns são: empresa e o departamento
em que trabalha, graduação, idade, sexo, tempo de serviço, nível hierárquico etc. Sob nenhuma
hipótese deve-se revelar a identidade do respondente, que deve ser mantida anônima.
Das 35 características de uma cultura de segurança positiva, relacionadas abaixo, uma série de
questões pode ser desenvolvida para cada característica. Com o objetivo de evitar um questionário
muito extenso, é sugerido selecionar de 15 a 20 características, e que quatro questões sejam elaboradas
para cada uma delas. Caso algumas das características relacionadas abaixo sejam identificadas como
ausentes, estas podem ser excluídas do questionário, porém devem ser destacadas para uma ação
futura, visando ao seu desenvolvimento.
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 10-14), foram listadas 35 características de uma
cultura de segurança à saber:
Comprometimento do topo da gerência em relação à segurança.
Liderança visível.
Abordagem sistemática em relação à segurança.
Autoavaliação.
Importância da segurança na estratégia do negócio.
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Ausência da segurança X conflito com a produção.
Relacionamento com os órgãos reguladores e outros grupos externos.
Perspectiva pró-ativa e de longo prazo.
Gerenciamento de Mudança.
Qualidade da documentação e dos procedimentos.
Atendimento aos regulamentos e aos procedimentos.
Equipe competente e suficiente.
Empregados possuem atitude questionadora.
Conhecimento do homem, da tecnologia e da organização.
Regras e responsabilidades bem definidas.
Satisfação no trabalho e motivação.
Envolvimento de todos os empregados.
Boas condições de trabalho em relação à pressão do tempo, carga de trabalho e estresse.
Medição do desempenho de segurança.
Alocação de recurso adequado.
Trabalho em equipe e colaboração.
Tratando os conflitos.
Relacionamento entre gerentes e empregados.
Consciência do processo de trabalho.
Manter a “casa arrumada”.
Alta prioridade para a segurança.
Segurança sempre pode melhorar.
Franqueza e comunicação.
Aprendizado organizacional.
Foco no tempo.
Visão dos erros.
Visão da segurança.
Sistemas inteligentes.
Papel dos gerentes.
Visão das pessoas.
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4.1.6 – POPULAÇÃO DA AMOSTRA
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 38), o tamanho da amostra é ditado pela
necessidade de assegurar que os empregados aceitem as descobertas da pesquisa como uma reflexão
válida da visão do todo. Uma amostra, que somente atenda aos requisitos de confiança estatísticos,
seria muito pequena. A maioria das organizações, quando decide conduzir uma pesquisa sobre sua
cultura de segurança, faz a pesquisa com todos os seus empregados. A regra básica é a seguinte:
quanto maior o refinamento de detalhes que se deseja extrair da pesquisa, maior o tamanho da amostra
necessária.
4.1.7 – DESENVOLVIMENTO DE UM PILOTO
Segundo o IAEA-TECDOC-1329 (2002, p. 38), qualquer tipo de questionário ou entrevista que
seja planejada, qualquer tamanho ou escopo de pesquisa que se planeje empreender, deve sempre ser
conduzido uma pesquisa-piloto antes da pesquisa final. Mesmo em grandes pesquisas, é preciso
receber feedback de uma pesquisa piloto composta de 12 à 15 indivíduos. O piloto deve ser
representativo da população que vai participar da pesquisa. As pesquisas-piloto são valiosas, pois
“olhos frios” sempre identificarão algum ponto fraco ou oportunidade de melhoria a ser feita no
escopo. A pesquisa-piloto revela terminologias confusas, ambiguidades nas questões, etc. O grupo, que
vai participar da pesquisa-piloto, deve ficar reunido em uma sala, com possibilidade de se separar os
gerentes dos demais, para evitar constrangimentos ao expressarem suas percepções nas respostas.
Deve-se enfatizar, para o grupo que vai participar da pesquisa-piloto, de que a intenção não é fazer
uma coleta de dados em relação à percepção deles, mas sim a de obter a ajuda deles no melhoramento
do projeto do questionário.
4.2 – CONCLUSÃO DA METODOLOGIA
Os dois questionários, citados no item 4, serão comparados com os critérios relacionados pelo
IAEA-TECDOC-1329 (2002), descritos ao longo de todo o item 5, onde os pontos fortes a as
oportunidades de melhorias serão apresentados. Após estas comparações, os autores do trabalho farão
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recomendações adicionais para que futuras pesquisas sobre cultura de segurança possam ser baseadas
nas recomendações deste artigo.
5 – AVALIAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS
5.1 – AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DA ÁREA NUCLEAR
Uma ressalva se faz necessária aqui. Os autores deste trabalho não obtiveram a autorização
para descrever o resumo executivo da pesquisa realizada em 1999 no Brasil. A única autorização
permitida foi no sentido de descrever o questionário e as categorias de segurança associadas a ele.
Conforme os critérios escritos acima, são apresentadas, a seguir, as avaliações sobre o
questionário em referência:
1º) O questionário possui 70 perguntas, ou seja, fica num ponto intermediário entre 60 e 80
perguntas.
2º) Em entrevista com o coordenador do grupo de trabalho daquela época, ele informou que as
orientações sobre como preencher o questionário eram dadas na sala escolhida para que os
empregados fizessem o preenchimento das 70 perguntas num tempo aproximado de 60 a 90
min.
3º) O questionário foi bem desenhado.
4º) A confidencialidade nas respostas ficou clara na pesquisa.
5º) Dezessete perguntas das 70, tinham conotação negativa.
6º) Foi solicitado antes do preenchimento do questionário em si, que fosse detalhado o perfil
da pessoa que respondia ao questionário com os seguintes itens: tempo de experiência na
empresa; tempo de experiência em outras empresas, idade, escolaridade, salário bruto, sexo,
local de trabalho e órgão de trabalho.
7º) O questionário trabalhou com 22 categorias, duas a mais em relação ao máximo sugerido no
documento IAEA-TECDOC-1329 (2002).
8º) A pergunta 03 “Muitas mudanças na Organização em curto período de tempo afetam a
segurança”, pode gerar dupla interpretação, ou seja, as mudanças dizem respeito às mudanças
no organograma da organização ou dizem respeito às mudanças técnicas?.
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9º) No geral as perguntas foram claras e objetivas, sem gerar ambiguidades.
10º) Não existia possibilidade de respostas do tipo não sei ou não aplicável.
11º) Não existiam combinações de questões em uma questão.
12º) Não existiam questões que induziam a determinada resposta.
13º) Não havia questões supondo algo que não se justificasse.
5.1.1 – CATEGORIAS DE SEGURANÇA AVALIADAS
Tabela 01 – Categorias de Segurança
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Categoria Pergunta no
1. Compromisso da alta gerência com a Segurança 1, 4
2. Liderança Evidente 8, 9, 10
3. Alta Prioridade para a Segurança 2, 14, 25, 49, 50, 56, 60
4. Abordagem Sistemática da Segurança 6, 26, 51, 52
5. Importância da Segurança No Planejamento Estratégico 53, 55
6. Ausência de Conflitos entre Produção e Segurança 54, 57
7. Relacionamento com Órgãos Reguladores e Fiscalizadores
68
8. Perspectiva Proativa e de Longo Prazo 47, 69, 70
9. Gerenciamento de Mudanças 3, 5
10. Qualidade da Documentação e dos Procedimentos 28, 30, 32
11. Cumprimento de Regulamentos e Procedimentos 27, 29
12. Pessoal Qualificado e Bem Dimensionado 33, 34, 36
13. Atribuições e Responsabilidades bem Definidas 7, 11, 12, 31, 40, 59
14. Transparência e Comunicação 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24
15. Motivação e Satisfação no Trabalho 41, 42, 43, 46
16. Boas Condições de Trabalho relativas a Tempo de Execução, Carga de Trabalho, Estresse
58, 61
17. Alocação Adequada de Recursos 35, 37
18. Colaboração e Trabalho em Equipe 38, 39, 45
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19. Visão dos Erros no Trabalho 62
20. Gerenciamento de conflitos 44
21. Evolução Organizacional Através da Aprendizagem 13, 48, 63, 64, 65, 66, 67
22. Comprometimento com o Desempenho e Reconhecimento
15, 16
Do lado esquerdo tem-se as categorias de segurança utilizadas na pesquisa do clima de
segurança realizada na área nuclear brasileira no ano de 1998/1999 e do lado direito tem-se o número
das perguntas associadas a cada categoria. Perceba que da pergunta 1 até a pergunta 70, todas estão
distribuídas ao longo das 22 categorias.
5.2 – AVALIAÇÃO DO QUESTIONÁRIO APLICADO NOS EUA
O segundo questionário, com foco em segurança de processo e não em segurança pessoal,
chama-se “The Report of The BP U.S. Refineries Independent Safety Review Panel” aplicado no ano de
2006 (BP GLOBAL, 2007). Ele é o ANEXO G do relatório. Trata-se de um painel independente que
foi constituído para pesquisar a percepção da cultura de segurança entre os empregados da refinaria,
após o acidente ocorrido no estado do Texas-EUA em 23/03/2005.
Conforme os critérios escritos descritos no item 4, elencam-se, a seguir, as avaliações sobre o
questionário em referência:
1º) O questionário possui 49 perguntas múltipla escolha e 7 espaços para comentários, ou seja,
abaixo do mínimo de 60 perguntas.
2º) Antes de começar a responder ao questionário, havia uma pergunta se o respondente tinha
assistido ao vídeo sobre a pesquisa de pesquisa da cultura de segurança, mostrando sobre como
preencher o questionário corretamente. Caso não tivesse assistido, era fortemente recomendado
que o fizesse. A duração do vídeo era de 5 minutos.
3º) O questionário foi muito bem desenhado.
4º) A confidencialidade nas respostas ficou clara na pesquisa.
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5º) Oito perguntas das 49, tinham conotação negativa.
6º) Foi solicitado, antes do preenchimento do questionário em si, que fosse detalhado o perfil
da pessoa que iria respondê-lo, com os seguintes itens: tempo de trabalho na refinaria; tempo de
trabalho na indústria do refino, idade, sexo, local de trabalho, órgão de trabalho, função, se
participava de Comitê de Segurança, origem racial/étnica.
7º) O questionário trabalhou com 6 categorias, ficando abaixo do mínimo de 15 colocado no
documento IAEA-TECDOC-1329 (2002).
8º) As perguntas não geraram ambiguidades sobre a linguagem;
9º) A escala de Likert do questionário era a seguinte:
Nº 1 - Concordo
Nº 2 - Tendência a concordar
Nº 3 - ???
Nº 4 - Tendência a discordar
Nº 5 – Discordo
Não atendeu a um requisito do documento IAEA-TECDOC-1329 (2002) que seria o de evitar
respostas do tipo não sei e não aplicável, uma vez que a resposta 3 (???) significava não sei ou não
tenho uma opinião.
10º) As perguntas estavam claras sobre a informação solicitada.
11º) Não existiam combinações de questões em uma questão.
12º) Não existiam questões que induziam a determinada resposta.
13º) Não havia questões supondo algo que não se justificasse.
5.2.1 – CATEGORIAS DE SEGURANÇA AVALIADAS
Neste questionário as seguintes dimensões foram avaliadas:
Processo de Reporte de Segurança (10 perguntas)
Valores e Comprometimento em relação a Segurança de Processo (10 perguntas)
Envolvimento e Suporte da Supervisão (8 perguntas)
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Procedimentos e Equipamentos (7 perguntas)
Profissionalismo do trabalhador / empoderamento (9 perguntas)
Processo de Treinamento em Segurança (5 perguntas)
Ao final da última pergunta de cada categoria, existe um espaço para que o respondente do
questionário possa manifestar por escrito sua opinião a este respeito.
5.3 – SUGESTÕES PARA APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS EM
FUTURAS PESQUISAS
Em função das avaliações acima realizadas, apresenta-se, a seguir, uma proposta de um modelo
de questionário para ser aplicado em futuras pesquisas:
1) Manter todas as recomendações do IAEA-TECDOC-1329 (2002).
2) Recomendações adicionais sugeridas pelos autores deste trabalho para serem incorporadas
em uma nova formatação e aplicação em futuras pesquisas:
a) Deve ficar claro que o preenchimento do questionário é voluntário. Caso o nível de rejeição
da pesquisa seja grande, a própria rejeição já é um indicador de que alguma ação precisa ser tomada,
visando aumentar a resposta voluntária;
b) Garantir que, nas instruções sobre o preenchimento do questionário, sejam fornecidos
exemplos específicos sobre como as questões devem ser preenchidas.
c) Para gerar credibilidade ao processo de pesquisa sobre cultura de segurança, recomenda-se
que seja contratada uma entidade externa (ex: uma Universidade, uma consultoria), que faria a
definição do escopo do trabalho junto à empresa, preparação, aplicação, coleta, análise e divulgação
dos dados da pesquisa. Isto demonstraria mais transparência e confiança das pessoas para adesão à
pesquisa e desta forma, seriam obtidos resultados mais próximos da realidade.
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d) Elaborar um vídeo ou uma apresentação, para que toda a força de trabalho tenha um perfeito
entendimento sobre o escopo do trabalho, as razões pelas quais a empresa está fazendo uma pesquisa
sobre cultura de segurança, as etapas do trabalho, como os resultados serão divulgados, os objetivos
que a empresa pretende atingir com a pesquisa e principalmente como responder de forma correta as
perguntas do questionário;
e) Aproveitar as atividades do dia a dia da empresa do tipo DDSMS, café da manhã com o
gerente, quando existirem, para passar o vídeo;
f) Ao se usar a escala de Likert nas respostas, normalmente com cinco alternativas, deve-se ter
em mente de que o texto das respostas deve estar coerente com o texto da pergunta.
g) Caso o preenchimento do questionário seja feito em papel, que seja realizado em uma sala de
treinamento, onde o respondente fique dedicado ao seu preenchimento. Uma vez encerrada esta etapa,
colocar o questionário em um envelope lacrado, direcionando-o para a entidade externa mencionada
na letra “C”.
h) Dependendo da empresa e do valor a ser disponibilizado para a realização da pesquisa sobre
cultura de segurança, recomenda-se desenvolver uma ferramenta online, para que toda a força de
trabalho que possua acesso à rede da empresa, possa responder o questionário a partir da sua estação
de trabalho.
i) Que o período entre pesquisas seja de no mínimo dois anos;
j) As perguntas devem ser elaboradas de forma clara e bem objetivas, atentando para aquelas de
conotação negativa, pois a simples inserção na pergunta, de palavras tais como não, jamais, nunca,
pode levar o respondente a marcar a resposta errada por falta de atenção. Outro cuidado, que se deve
ter, diz respeito à pontuação das perguntas de conotação negativa, que devem ter uma pontuação
inversa das perguntas de conotação positiva.
k) Deve-se deixar claro, desde o início como o questionário será distribuído, se será preenchido
durante o horário de trabalho e como será devolvido. Questionários que são preenchidos fora do
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trabalho e devolvidos por e-mail, geralmente, têm baixo retorno, ao redor de 10%. Distribuindo o
questionário pelo correio interno da empresa e solicitando aos participantes que completem o
questionário dentro do horário de trabalho, resulta numa taxa de resposta mais alta, ao redor de 50%.
Agora, quando se designa um período de tempo no trabalho para preencher o questionário, isto pode
resultar em taxas de resposta que ultrapassam 85%;
l) Deve-se elaborar um glossário/definições de palavras/expressões, com o objetivo de
antecipar e nivelar entendimento sobre possíveis dúvidas na interpretação das questões;
m) Ao final da bateria de perguntas de cada característica, deve ser oferecido um espaço para
que o respondente tenha condição de fazer qualquer comentário a respeito daquela característica, onde
as perguntas múltipla escolha não foram suficientes para expressar tudo o que gostaria de falar;
n) Incluir uma pergunta no questionário para que o respondente marque SIM ou NÃO, em
relação a se ele obteve todas as informações sobre como preencher o questionário de forma correta;
6 – Conclusão:
Foi possível perceber, na revisão da literatura, que o questionário é atualmente a ferramenta
mais usada em pesquisas sobre cultura de segurança das opções apresentadas. Porém, ficou
evidenciado que ainda não existe uma formatação universal, para que estes questionários sejam
aplicados, até para facilitar comparações entre pesquisas. Foram apresentados dois questionários
diferentes, para aplicação sobre um mesmo assunto (cultura de segurança), sendo um mais antigo,
aplicado no Brasil (1998/99), e outro, um pouco mais recente, nos EUA (2006). O documento, que
serviu como base para avaliação dos questionários, é oriundo da área nuclear e após a comparação
sobre como o questionário foi elaborado e aplicado nas respectivas pesquisas, ficou evidenciado que
ambos os questionários precisavam de ajustes em relação ao documento- base, apesar do questionário
aplicado no Brasil em 1998/99 ter se aproximado mais do que é solicitado pelo documento.
É preciso que toda a gerência que queira aplicar uma pesquisa sobre cultura de segurança, tenha
ciência do que será obtido com o resultado final do trabalho, o que não será obtido com a pesquisa, a
forma de sua aplicação e, principalmente, o conteúdo das perguntas do questionário de forma a não
gerar dúvidas para os respondentes. Quanto menor for o nível cultural e a maturidade da cultura de
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segurança no local em que a pesquisa venha ser realizada, maior o cuidado que se deve ter na
aplicação da pesquisa, visando não prejudicar o resultado final.
Outro fator importante, que ficou evidenciado, é a possibilidade de se contratar uma consultoria
externa a empresa para conduzir o trabalho e aumentar o nível de transparência da pesquisa, a fim de
que os respondentes sintam-se mais à vontade para marcar a resposta verdadeira e não a resposta
politicamente correta. Esta consultoria pode vir através de uma Universidade ou uma empresa privada,
desde que possuam experiência e metodologia própria para este tipo de pesquisa. Experiência e
metodologia são fundamentais para quem vai realizar um trabalho desta natureza, pois será por meio
do resultado da pesquisa, que a organização irá desenvolver um plano de ação, de acordo com o
resultado, no sentido de melhorar o grau de maturidade da cultura de segurança e seguir na direção do
próximo degrau. Deve-se estabelecer uma periodicidade para se repetir a pesquisa, a fim de verificar o
grau de evolução, estagnação ou involução (se for o caso) de alguns temas ligados à segurança.
REFERÊNCIAS
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