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A474 Spurgeon, Charles H. Orando no Espírito com Spurgeon./ Charles H. Spurgeon : tradução e adaptação Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 288p.; 14,8x21cm 1. Oração. 2. Pregação. 3. Alves, Silvio Dutra. I. Título. CDD 252
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Sumário
A Chave de Ouro da Oração........................... 4 Certeza do Êxito na Oração.......................... 29
Como Suplicar.................................................. 45 O Dever da Oração Incessante...................... 65
O Poder da Oração Unânime.......................... 83 “Orai sem cessar” (I Tes 5.17)....................... 90
Pedir e Receber................................................ 110 “Sede perseverantes na oração”
(Rom 12.12).........................................................
135 Nossa Oração Pública...................................... 155
Verdadeira Oração, Verdadeiro Poder...... 172 Oração de Davi na Caverna........................... 189
A Oração Espontânea...................................... 199 Oração de Intercessão................................... 212
Ordem e Argumento na Oração.................... 223 Orai, Orai Sempre............................................ 236
Oração a Deus em Angústia - um Sacrifício Aceitável.........................................
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Incentivo a Confiar e Orar............................. 272 A Intercessão do Espírito Santo.................. 284
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A Chave de Ouro da Oração
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
"Clama a mim e te responderei e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces." (Jer 33:3)
Algumas das obras mais famosas do mundo
têm o odor do azeite da mediocridade; porém há
obras, livros e ditos mais espirituais e escritos pelos homens que têm o aroma úmido das
masmorras. Poderia citar vários exemplos, sem dúvida, O Peregrino de João Bunyan é melhor
que um cento deles. E este bom texto que temos ante nossos olhos, amolecido e frio com a prisão
em que Jeremias se encontrava, tem, não obstante, um brilho e beleza em si, que jamais
houve e não haverá, como uma oração reconfortante do Senhor para o prisioneiro,
encerrado no pátio do cárcere. O povo do Senhor sempre tem encontrado o melhor de
seu Deus quando se acha na pior das condições. Ele é bom em todo o tempo porém parece dar a
conhecer sua melhor expressão quando os seus estão em seu pior momento. Rutherford teria
um dito pitoresco; quando era lançado nas celas da aflição, recordava-se que o Grande Rei
guardava ali o seu vinho, de modo que imediatamente se poria a buscar as botijas e a
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beber. Os que mergulham no mar da aflição são os que pegam as pérolas mais preciosas. Com-
panheiros na aflição, vocês sabem que assim é. Vocês têm comprovado que Ele é um Deus fiel,
e que quando abundam as suas tribulações, suas consolações superabundam por Cristo Jesus.
Ao escolher este texto para esta manhã, minha oração é que sua grata promessa seja ouvida no coração de alguns dos prisioneiros do Senhor;
que se encontram amarrados e encerrados e não podem sair devido ao seu presente estado
de espírito pesado, escutem o que E1e lhes diz ao ouvido em um suave murmúrio que chega até
ao coração: "Clama a mim e eu te responderei e te mostrarei coisas grandes e poderosas que tu
não conheces.".
O texto está dividido naturalmente em três partes da verdade. Falaremos destas na medida que Deus o Espírito Santo nos capacite. Em primeiro lugar, há uma ordem para orar: "Clama a mim"; em segundo lugar, a promessa de uma
resposta: "e te responderei"; em terceiro lugar, o estímulo à fé: "e te mostrarei coisas grandes e
ocultas que tu não sabes.".
I. A primeira divisão é: UMA ORDEM PARA
ORAR.
Não se nos aconselha e recomenda somente que
oremos, senão que se nos ordena orar. Esta é uma grande condescendência. Constroem um
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hospital. Considera-se que basta dar livre admissão aos enfermos que buscam ser
atendidos. Porém a diretoria do hospital não emite uma ordem no sentido de mandar que
uma pessoa cruze suas portas. No mais rigoroso do inverno se abre uma sala de jantar bem
abastecida. Divulga-se a notícia: para comer ali, os pobres devem apenas pedir; porém não se pensa que o Parlamento promulgue uma lei
obrigando os pobres a entrarem pelas suas portas em busca da caridade oferecida. Pensa-se
que basta se dar a conhecer isto sem emitir nenhuma ordenança no sentido de que os
homens devam aceitá-la. Sem dúvida, é tão estranha a vaidade humana, por um lado, faz-se
necessária uma ordem para que tenha misericórdia de sua própria alma., e tão
maravilhosa é a condescendência do nosso Deus misericordioso, por outro, que dá uma
ordem de amor sem a qual nem sequer um só homem nascido de Adão poderia participar da
festa do evangelho, antes preferiria morrer de fome e não obedecer.
É assim que ocorre com a oração. O povo de Deus necessita mesmo de um mandamento
para orar, pois de outro modo, não o fará. Porém, como pode ser isto? Queridos amigos, isto se
deve a que nós estamos mui sujeitos a arrebatamentos de mundanismo, sim é que
esse não é o nosso estado normal. Não nos esquecemos de comer; não esquecemos de
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fechar nossas casas; não esquecemos de ser diligentes nos negócios; não esquecemos de
tirar nossas folgas para descansar. Porém, com frequência esquecemos de lutar com Deus em
oração, e ter, como deveríamos, longos períodos em consagrada comunhão com nosso Pai e
nosso Deus. Para muitos professores o maior livro é tão pesado que não o podem mover, enquanto que a Bíblia, que representa sua
devoção, é tão pequena que podem colocá-la em um bolso de sua roupa. Horas para o mundo!
Pequenos momentinhos para Cristo! O mundo recebe o melhor do nosso tempo, enquanto
nossa câmara de oração recebe somente os desejos. Damos nossa força e juventude aos
caminhos de Mamon, e nossa fadiga e languidez aos caminhos do Senhor. Por isso é que se faz
necessário um mandamento para participar do ato mesmo que deveria constituir nossa maior
felicidade, do mais alto privilégio que podemos ter, isto é, ir ao encontro de nosso Deus. "Clama
a mim," diz E1e, porque sabe que somos dados a esquecer de clamar a Ele. "Que tens,
dorminhoco? Levanta-te, e clama a teu Deus," é uma exortação que necessitamos hoje tanto
quanto Jonas em meio à tormenta.
Ele sabe quão pesados são nossos corações quando estamos sob uma sensação de pecado. Satanás nos diz: "Por que tens que orar? Como
pensas prevalecer? Em vão estás dizendo “levantar-me-ei e irei a meu Pai”, porque não és
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digno nem sequer de ser como um de seus empregados. Como podes olhar o rosto do Rei
depois de havê-lo traído? Como te atreves a acercar-te do altar que tu mesmo tens
manchado, e quando o sacrifício que poderias oferecer é pobre e imundo?" Oh, irmãos, quão
bom é que nos seja ordenado orar. Se Deus o ordena, indigno como sou, me arrastarei até o estrado da graça. Pois que ele disse: "Orai sem
cessar," ainda que minhas palavras faltem e meu coração divague, todavia poderei balbuciar os
desejos de minha alma faminta e dizer-lhe: "Oh Deus, ensina-me ao menos a orar, e ajuda-me a
prevalecer diante de ti!".
Não somos dados a orar devido à nossa frequente incredulidade? A incredulidade murmura: "Que proveito tem o que busca ao
Senhor em tal coisa? Seja algo muito trivial, ou relacionado com coisas temporais, ou uma
questão em torno da qual tem pecado em demasia, ou algo demasiadamente elevado,
demasiadamente difícil, uma questão demasiadamente complicada, não tens direito a
isso diante de Deus!" Isto é o que sugere desde o inferno o inimigo imundo. Por isso permanece
escrito como um preceito para todos os dias e apropriadamente para cada caso em que possa
ver-se envolvido um cristão: "Clama a mim ...clama a mim." Estás enfermo? Queres ser
curado? Clama a mim, porque sou o Grande Médico! Perturba-te a providência? Temes que
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não poderás suster-te com honestidade diante dos homens? Clama a mim! Te provocam
desgostos teus filhos? Estás sentindo aquilo que é mais agudo do que os dentes de uma víbora, a
ingratidão de teu filho? Clama a mim! São tuas tribulações, poucas porém dolorosas, como
pequenas pontas de espinho? Clama a mim! É tua carga pesada, tanto que parece que tu cedes sob ela? Clama a mim! "Lança sobre Jeová a tua
carga, e ele te sustentará; não deixará caído para sempre o justo.".
Não devemos dar por encerrado nosso primeiro ponto antes de fazer outra observação. Devemos
alegrar-nos muito no fato de que Deus nos tem dado este mandamento em sua palavra para que
seja seguro e permanente. Poderia ser um interessante exercício para alguns de vocês
descobrir com quanta frequência nos é mandado orar. Surpreenderia vocês descobrir
quantas vezes são-nos dadas palavras como estas: "Invoca-me no dia da angústia e eu te
livrarei"; "Oh, crentes, derramai diante dele vosso coração;" "buscai a Jeová enquanto pode
ser achado, procurai-o enquanto está perto;" "Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e se
vos abrirá;" "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação." "Orai sem cessar;" "acheguemo-
nos confiadamente ao trono da graça;" "Achegai-vos a Deus e ele se achegará a vós;" "Perseverai
na oração." Não é necessário multiplicar os exemplos em um ponto em que não posso ser
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exaustivo. Basta colher duas ou três desta grande bolsa de pérolas. Vamos cristão!, não
deves jamais perguntar se tens direito a orar; não deves jamais perguntar: “É-me permitido
entrar em sua presença?”. Posto que tens tantos mandamentos (e os mandamentos de Deus são
promessas), podes achegar-te confiadamente ao trono da graça celestial, pelo novo e vivo caminho do véu que se rasgou.
Porém, há oportunidades em que Deus não somente manda seu povo orar na Bíblia, senão
que também o faz ordenando-lhes que orem de modo direto por meio dos impulsos de seu
Espírito Santo. Vocês, que conhecem a vida interior, haverão de me compreender. Em meio
de seu trabalho vocês sentem um repentino estímulo de retirarem-se para orar. Poderia ser
que ao princípio não notem particularmente a inclinação, porém uma e outra vez, vai e volta:
"Retira-te e ora!" Enquanto em oração percebo que sou como um moinho de água que corre
muito bem enquanto há água em abundância, porém que vai perdendo força à medida que o
volume de água do rio baixa; ou como o barco que navega sobre as águas e estende todo o seu
velame quando o vento é favorável, porém que tem que mover trabalhosamente as velas para
captar algo de uma pequena brisa favorável. Agora, bem, me parece que quando nosso
Senhor lhes der esta inclinação especial para orar, vocês devem duplicar sua diligência.
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Devem sempre orar e não desmaiar, porém, quando ele põe em seu coração um desejo
especial de orar, e sente uma atitude peculiar e gozo nele, terá, além do mandamento que o
obriga constantemente, outra ordem que o levará a uma grata obediência. Penso que em
tais ocasiões poderíamos estar na posição de Davi, a quem o Senhor disse: "Quando ouvires o ruído como de marcha pelas copas das
palmeiras então te moverás." O ruído de marcha nas copas das palmeiras bem poderiam ser as
pisadas de anjos que viriam apressadamente ajudar a Davi, então Davi deveria atacar os
filisteus, e assim quando as misericórdias de Deus se aproximam, suas pisadas são nossos
desejos de orar; e nossos desejos de orar devem ser uma indicação que tem chegado o momento
divino de favorecer imediatamente a Sião. Semeia abundantemente agora, porque tua
colheita será segura. Luta agora, Jacó, porque estás a ponto de converter-te em um príncipe
que prevalece, e teu nome será chamado Israel. Agora é teu tempo, mercador espiritual; o
mercado está em alta, há muito negócio; teu ganho será alto. Preocupa-te em usar de forma
correta a hora ensolarada, e realiza tua colheita enquanto brilha o sol.
II. Consideremos agora nosso segundo ponto: A PROMESSA DE UMA REPOSTA
Não deveríamos sustentar nem sequer por um só momento o horrível pensamento que Deus
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não responderá a oração. sua natureza, segundo se manifesta em Jesus Cristo, demanda que
assim seja. Ele tem se revelado no evangelho como Deus de amor, cheio de graça e verdade;
assim, como poderia negar-se a ajudar aos que são seus, que humildemente buscam seu rosto
e seu favor pelo modo que foi estabelecido por ele mesmo?
Em uma ocasião, o senado ateniense considerou mais conveniente reunir-se ao ar livre. Enquanto estavam sentados em suas
deliberações, um pardal, perseguido por um falcão, voou em direção ao senado. Perseguido
muito de perto pela ave de rapina, buscou refúgio no seio de um dos senadores. Este
homem de caráter rude e vulgar, tomou a ave de seu seio, a lançou contra o solo e a matou.
Naquele instante todo o senado se pôs de pé, e sem uma só voz discordante, o condenaram à
morte, como indigno de sentar-se no senado com eles ou de ser chamado um ateniense,
posto que havia negado o socorro a uma criatura que havia confiado nele. Podemos supor que o
Deus do céu, cuja natureza é amor, vá lançar de seu seio a pobre pomba que para ali voa fugindo
da águia da justiça e se refugia no seio da sua misericórdia? Nos dará o convite para buscar
seu rosto, e quando nós, como ele sabe, com tanta vacilação de temor, reunimos forças para
voar a seu seio, será então tão injusto e carente de graça como para atender em ouvir nosso
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clamor e responder-nos? Não pensemos tão mal do Deus do céu.
Recordemos logo, junto com sua natureza, seu caráter passado. Me refiro ao caráter que lhe
tem feito famoso através de suas obras de graça passadas. Considerem, meus irmãos, aquela
grandiosa demonstração de amor - se quiséssemos nomear um milhar, não
poderíamos dar uma melhor ilustração do caráter de Deus do que aquele fato grandioso: "O
que não poupou nem a seu próprio filho, senão que o entregou por todos nós. Como - e esta não
é uma inferência minha, senão inspirada conclusão do apóstolo - não nos dará também
com ele todas as coisas?" Se o Senhor não se nega a escutar minha voz sendo pecador
culpado e inimigo, como vai recusar meu clamor agora que tem sido justificado meu
coração, que não conhecia, e não buscava ajuda, se depois de tudo não me escutará agora que sou seu filho e seu amigo? As feridas sangrentas de
Cristo são a segura garantia da oração atendida. Em seu conhecido poema The Bag (a Bolsa), George Herbert apresenta o Salvador dizendo:
“Se há algo que queiras mandar ou escrever, para entregar nas mãos de meu Pai, creia-me
que seguramente vai recebê-lo, porque me preocuparei do teu encargo. Perto do meu
coração o podes, e se outros querem empregar-me assim, a porta acham aberta de par em par,
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e, o que enviar, em mãos do Pai entregarei acrescentado para que receba mais.”
Certamente o pensamento de George Herbert era que a expiação por si mesma é uma garantia
de que a oração deve ser ouvida, que a grande ferida feita junto do coração do Salvador, que
ficou exposto à luz para que se visse as profundidades do coração da divindade, era una
prova de que aquele que se senta nos céus quer escutar o clamor de seu povo. Se pensas que a
oração é inútil, estás fazendo uma leitura equivocada do Calvário.
Porém, amados, temos a promessa de Deus a respeito, e E1e é Deus, que não pode mentir. "Invoca-me no dia da angústia . . . te
responderei." Não tem dito "Tudo o que pedires em oração, crendo, o recebereis?". Por certo,
não podemos orar a menos que creiamos nesta doutrina; "porque é necessário que o que se
aproxima de Deus, creia que E1e é galardoador dos que o buscam"; e se temos alguma dúvida
quanto a que nossa oração seja ouvida somos comparáveis com os que têm ânimo dobre:
"Porque o que duvida é semelhante à onda do mar, que é arrastada pelo vento e é lançada de
uma parte a outra. Não pense pois, quem o faz, que receberá alguma coisa do Senhor."
Poderia além disso dar força ao nosso
argumento se disséssemos que nossa experiência nos leva a crer que Deus atenderá a
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oração. Eu não posso falar por ti; porém posso falar por mim. Se há algo que eu sei, algo de que
estou seguro além de qualquer dúvida, é que as palavras de uma oração jamais são gastas em
vão. Se não há aqui algum homem que se atreva a dizê-lo, eu me atrevo a afirmá-lo, e sei que
posso prová-lo. Minha própria conversão é o resultado de longas, afetuosas, ferventes e importunas orações. Meus pais oravam por
mim; Deus ouviu seus clamores, e aqui estou para pregar o evangelho. Desde então, tenho me
aventurado em empresas que estavam muito acima de minha capacidade, porém, nunca
tenho fracassado, porque me tenho lançado nos braços do Senhor.
Vocês sabem como igreja que não tenho tido escrúpulos para fixar-me em grandes ideias do
que poderíamos, fazer para Deus. E tudo a que nos temos proposto temos cumprido. Tenho
buscado a ajuda de Deus, seu socorro e auxílio em todas as múltiplas empresas, e ainda não
posso contar aqui a história de minha vida privada enquanto faço a obra de Deus, se a
escrevesse seria uma prova firme de que há um Deus que atende a oração. Ele tem ouvido
minhas orações, não de vez em quando, não um par de vezes, senão muitíssimas vezes, tantas,
que se tem convertido em um hábito expor minha causa diante de Deus com absoluta
certeza de que aquilo que lhe pedir, Ele me concederá. Agora não é um "talvez" ou uma
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possibilidade. Sei que meu Senhor me atende, e não me atrevo a duvidar, porque seria certa-
mente uma tolice fazê-lo. Assim como estou seguro que uma quantidade de força sobre uma
alavanca levantará uma coisa pesada, eu sei que uma certa quantidade de oração traz a bênção.
Como a primavera tudo enche de flores, assim as súplicas asseguram as misericórdias. Em todo trabalho há ganho, porém mais que em
tudo há na obra de intercessão; pois estou seguro, porque dele tenho tido minha colheita.
Lembre-se porém que a oração sempre se
oferece em sujeição à vontade de Deus; que quando dizemos "Deus ouve a oração, não
queremos dizer com isto que ele sempre nos dá literalmente o que pedimos. Todavia queremos
dizer isto, que ele dá o que é melhor para nós e que se ele não nos dá a misericórdia que lhe
pedimos em prata, a concede em ouro. Se não nos retira o aguilhão da carne, nos diz "Basta-te a minha graça," e isso finalmente equivale ao
mesmo.
Lord Bolinbroke dizia à condessa de Huntingdon: "Não entendo, senhora, como
poderia fazer uma oração sincera que se harmonizasse com a vontade divina.". "Meu
filho, disse ela, "Isso é algo que não oferece dificuldade. Se eu fosse da corte de algum
generoso rei, e ele me desse autorização para solicitar dele qualquer favor, eu certamente lhe
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diria: "Poderia sua majestade em sua graça conceder-me tal e tal favor? Porém, ainda que
muito o deseje, se de alguma forma empane a honra de vossa majestade, ou se segundo o
critério de sua majestade parece bem que não receba tal favor, estarei tão contente sem ele
como se o houvesse recebido." Assim você pode ver que eu posso apresentar sinceramente minha petição, porém submissimamente deixar
a resposta nas mãos do rei.". O mesmo ocorre com Deus. Nós nunca oferecemos uma oração
sem inserir aquela oração: "Porém não se faça minha vontade, senão a tua.”. Somente
podemos orar sem um "se" condicional quando estamos seguros de que nossa vontade é a
vontade de Deus.
III. Chegamos a nosso terceiro ponto, que, penso, está cheio de alento para todos os que se
exercitam na arte bendita da oração: O ESTÍMULO À FÉ: "Te ensinarei coisas grandes e ocultas que tu não conheces."
Notemos que isto originalmente foi dito a um
profeta em prisão, e a maneira de conhecer as verdades reservadas, as verdades mais elevadas
e misteriosas de Deus, é esperando em Deus em oração. Ontem, enquanto lia o livro de Daniel
notei de forma muito especial como Daniel descobriu o sonho de Nabucodonosor. Os
encantadores, magos, astrólogos e caldeus trouxeram seus livros curiosos, e seus
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estranhos instrumentos, e começaram a pronunciar suas abracadabras e a realizar toda
sorte de encantamentos misteriosos, porém todos fracassaram. Que fez Daniel? Se pôs a orar,
e sabendo que a oração de um corpo unido de homens prevalece melhor que a oração de um
só, vemos Daniel convidando a seus irmãos a unirem-se a ele em fervente oração para que Deus, em sua infinita misericórdia, pudesse dar-
lhe a conhecer a visão. E no caso de João, que é o Daniel do Novo Testamento, recordareis que ele
viu um livro na mão direita daquele que estava assentado no trono, um livro selado com sete
selos, não achando-se ninguém digno de abrir os selos. Que fez então João? O livro foi aberto
pelo Leão da Tribo de Judá, que havia prevalecido para abrir o livro, porém está
escrito que antes que o livro se abrisse, "eu chorava muito." Sim e as lágrimas de João, que
eram suas orações líquidas, foram no que lhe respeita, as chaves sagradas pelas quais foi
aberto o livro selado.
Irmãos no ministério, vocês que são mestres na
Escola Dominical, e todos os que são estudantes na escola de Jesus Cristo, lhes rogo que
recordem que a oração é seu melhor meio de estudo. Como Daniel entenderão o sono e a
interpretação, quando o buscarem em Deus. E como João verão os sete selos abertos
entregando as preciosas verdades depois que houverem chorado muito. "Se clamares à
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inteligência, e à prudência deres a tua voz; se como a prata a buscares, e a procurares como a
tesouros, então entenderás o temor de Jeová, e acharás o conhecimento de Deus.". As pedras
não se rompem senão por meio do uso aplicado do martelo, e o picador de pedras usualmente se
põe de joelhos. Utiliza o martelo da verdade, e além disso exercita o joelho da oração e as doutrinas da Revelação, duras como rocha,
necessárias a vosso entendimento, se abrirão diante de vocês o exercício dela e da oração.
“Orar bem é estudar bem" é uma sábia sentença de Lutero, que tem sido citada com tanta
frequência, que apenas nos temos atrevido a fazer uma alusão a ela. "Haver orado bem é
haver estudado bem.". Podes abrir-te caminho através de qualquer coisa com a vara da oração.
Os pensamentos e os raciocínios podem ser como cunhas de um arado que podem abrir um
caminho até a verdade, porém a oração é a chave, a alavanca que abre o cofre de ânimo do
mistério sagrado, para obter o tesouro ali escondido somente para quem pode abrir com
esforço uma via para alcançá-lo. O reino dos céus todavia sofre violência e os violentos o
arrebatam. Cuidem em trabalhar com o poderoso implemento da oração, e nada poderá
opor-se a vocês. Todavia, não devemos deter-nos aqui. Temos aplicado o texto a um só caso.
Se pode aplicar a centenas. Queremos assinalar outro. O santo deve esperar descobrir uma experiência mais profunda e conhecer mais de
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uma vida espiritual mais elevada ao dedicar-se mais à oração. Há diferentes traduções do meu
texto. Uma versão diz: "Te mostrarei coisas grandes e reservadas que tu não conheces."
Agora bem, nem todos os progressos na vida espiritual são igualmente fáceis de alcançar.
Estão presentes as estruturas comuns e os sentimentos de arrependimento, fé, gozo e esperança que desfruta toda a família. Porém há
uma esfera superior de rapto, de comunhão e de união consciente com Cristo que estão longe de
ser lugares comuns para os crentes. Todos os crentes vêm a Cristo. Porém nem todos podem
por seus dedos nas feridas dos cravos, nem meter suas mãos em seu lado. Nem todos temos
o privilégio que João teve de reclinar-se sobre o peito de Jesus, nem o de Paulo de ser arrebatado
ao terceiro céu.
Na arca da salvação encontramos o primeiro, segundo e terceiro pisos. Todos estão na arca, porém nem todos estão no mesmo piso. A
maioria dos crentes, quanto ao rio da experiência, têm a água somente até os
tornozelos. Outros tem vadeado o rio até que as águas lhes cheguem aos joelhos; uns poucos
encontram a água até ao peito. Porém somente uns poucos - quão poucos! Encontram-se no rio
de tal modo que podem nadar, cujo fundo não pode ser tocado. Meus irmãos, há alturas no
conhecimento experimental das coisas de Deus que o olho da águia da perspicácia e do
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pensamento filosófico não tem logrado ver. E há sendas secretas que a razão e o juízo ainda não
têm aprendido a transitar. Somente Deus nos pode levar até ali. Porém a carruagem em que
nos leva, e os cavalos de fogo que conduzem a carruagem, são as orações prevalecentes. A
oração que prevalece é vitoriosa pela misericórdia de Deus. "Com seu poder venceu o anjo; venceu o anjo e prevaleceu; chorou e lhe
rogou; em Betel lhe falou, e ali falou conosco.". A oração que prevalece conduz o crente até o
Carmelo e o habilita para cobrir os céus com nuvens de bênçãos, e a terra com correntes de
misericórdia. A oração prevalecente leva o crente ao alto do monte de Pisga e lhe mostra a
herança que tem reservada. O eleva ao Tabor e o transfigura até que na semelhança de seu
Senhor, como Ele é, assim somos nós neste mundo. Se queres alcançar algo mais alto que a
ordinária experiência de humilhação, contemple a rocha que é mais alta que tu, e com
os olhos e de cima dela olhe através das janelas da oração importuna.
Assim que, para crescer na experiência, deve haver muita oração.
Rogo a vocês que tenham paciência comigo
enquanto aplico este texto a um, dois ou três casos mais. É certamente verdadeiro para o que sofre provas. Se em oração espera em Deus, receberá uma liberação muito maior que
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pudera haver sonhado: "Coisas grandes e poderosas que tu não conheces.". Este é o
testemunho de Jeremias: "Te aproximaste no dia que te invoquei, disseste: “Não temas.".
Advogaste, Senhor, a causa de minha alma; redimiste minha vida.". E com Davi dá-se o
mesmo: "Na minha angústia invoquei o Senhor, e me respondeu pondo-me num lugar espaçoso... Te louvarei porque me tens ouvido,
foste-me por salvação.". E também: "Clamaram a Jeová em sua angústia e ele os livrou de suas
aflições. Os dirigiu por caminho direito para que viessem à cidade habitada.". "Meu marido
morreu," disse a pobre mulher, "e tem vindo o credor para levar meus dois filhos como
servos.". Ela esperava que Eliseu possivelmente dissesse: "Quanto deves? Eu pagarei."
Em lugar de fazer isso, ele multiplicou o azeite
até que pôde dizer-lhe: "Paga a teus credores, e" - para quê era o "e"? - "tu e teus filhos vivam do que restou.". Com muita frequência ocorrerá
que Deus não somente ajudará a seu povo a cruzar os lugares lamacentos do caminho, Ele os
levará a salvo através de toda a viagem.
Foi um milagre realmente notável. Quando em meio da tormenta Jesus Cristo veio caminhando
sobre o mar, os discípulos o receberam no barco, e não somente se acalmou o mar, senão
que está escrito: "O barco, chegou em seguida à terra para onde iam.".
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Essa foi uma misericórdia superior ao que haviam pedido. Às vezes os escuto orar usando
uma citação que não está na Bíblia: É poderoso para fazer todas as cousas muito mais
abundantemente do que podemos pedir ou entender." Não diz assim na Bíblia. Eu não sei o
que podemos pedir ou o que podemos entender. Porém diz: "É poderoso para fazer todas as cousas muito mais abundantemente do que
pedimos ou entendemos.".
Então, queridos amigos, quando estivermos em grande tribulação digamos somente: "Agora
estou em prisão; qual Jeremias, orarei como ele o fez, porque tenho o mandamento de Deus de
fazê-lo; e esperarei, como ele o fez, até a hora por mim desconhecida. E1e não somente vai
conduzir o seu povo através da batalha, protegendo suas cabeças nela, senão que os
levará adiante com os estandartes ondeando, para repartir despojos com os poderosos, e reclamar sua porção com os fortes. Esperai
grandes coisas de um Deus que lhes dá promessas tão grandes como estas.
Além disso, há aqui um estímulo para o obreiro. Meus queridos amigos, esperai muito de Deus em oração, pois tendes a promessa de que E1e
fará por ti cousas maiores do que as que conheces. Não sabemos quanta capacidade de
serviço há em nós. Aquela queixada de jumento tirada da terra, que poderia fazer?
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Nada se sabe para que serve. Porém nas mãos de Sansão, que não pode fazer? Nada se pode
duvidar agora que Sansão a maneja. E tu, amigo, frequentemente tens te considerado tão
desdenhável como este osso e tens dito: "Que posso fazer?". Sim, porém quando Cristo pelo
seu Espírito te toma, o quê não podes fazer? Certamente podes adotar a linguagem do apóstolo Paulo e dizer; "Tudo posso em Cristo
que me fortalece.".
Todavia, não deveis depender da oração sem esforço. Em uma escola havia uma menina que conhecia ao Senhor. Muito graciosa, sensível e
confiante. Como deve ser, a graça se desenvolveu na menina conforme a sua posição.
suas lições sempre eram as melhores da classe. Outra menina lhe disse: "Como consegues que
tuas lições estejam sempre bem?". "Oro a Deus para que me ajude a aprender minhas lições,"
respondeu ela. "Bem," pensou a outra, "Eu farei o mesmo.". No dia seguinte, quando fez a lição não
sabia nada, e sentindo-se desgraçada se queixou à outra colega e lhe disse: "Por que eu orei a Deus
pedindo-lhe que me ajudasse a aprender a lição e não aprendi nada? Para que serviu a oração?".
"Porém, te sentaste para aprendê-la?" "Oh, não," disse ela. "Nem sequer olhei o livro.". "Ah," disse
a outra, "Eu pedi a Deus que me ajudasse a aprender a lição, porém em seguida me sentei
para estudá-la, e prossegui até que a soubesse bem, e a aprendi com facilidade, porque meu
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desejo sincero, que havia expressado a Deus, era que me ajudasse a ser diligente em meu esforço
para cumprir meus deveres."
Assim ocorre com alguns que vêm as reuniões de oração e oram, e logo se acham de braços
cruzados e se vão esperando que a obra de Deus siga adiante. Como a mulher que disse: "Voa,
voa, poderoso evangelho," porém não pôs dinheiro no ofertório. sua amiga lhe tocou o
braço e lhe disse: "Porém, como pode voar, se tu não lhe dá as asas?". Há muitos que parecem ser
muito poderosos em oração, maravilhosos em suas súplicas, porém logo requerem que Deus
faça o que eles podem fazer por si mesmos, e portanto, Deus não faz nada por eles. “Deixarei
meu camelo solto,”, disse um árabe a Maomé, “e confiarei na providência”. “Amarra-o
firmemente”, disse Maomé, “ e depois confia na providência”.
Assim, vocês que dizem, "Orarei e entregarei minha igreja, ou minha classe, ou minha obra ao
cuidado de Deus,", mas bem poderias ouvir a voz da experiência e da sabedoria que diz: "Faz o
melhor de tua parte; trabalha como se tudo dependesse do teu trabalho; como se teu
próprio braço pudesse trazer-te a salvação"; "e quando houveres feito tudo bem. Descansa
sobre aquele sem o qual é em vão levantar-se cedo, sair tarde e comer o pão do esmero. E se
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ele te der um caminho abençoado, dá-lhe graças.".
Não lhes deterei por muitos minutos mais, porém quero destacar que esta promessa deve
provar sua utilidade para consolar aos que intercedem em favor de outros. Vós, que estais
clamando a Deus para que salve a vossos filhos, que abençoe vossos vizinhos, que tenha
harmonia com vossos maridos e com vossas esposas, em sua misericórdia, podereis receber
consolo disto: "Te mostrarei cousas grandes e ocultas que tu não conheces.".
Não podes imaginar a grande bênção com que Deus te abençoaria. Se somente chegas e ficas
parado à sua porta, não podes dizer o que Ele lhe tem reservado. Se não rogas, nada receberás.
Porém se lhe rogas, não te irás a dar com ossos e restos de carne, senão se dirá ao que serve a tua
mesa: "Toma essa carne primorosamente servida e coloque ante este pobre homem.”.
Rute foi a rebuscar as espigas; esperava ter umas poucas espigas, porém Boaz lhe disse:
"Que recolhesse também espigas entre as gavelas, e não a censureis," e além disso, à hora
da comida: "Venham aqui e come do pão, e molha teu bocado em vinagre.”. Ela encontrou
um marido onde somente esperava encontrar um punhado de cevada! Assim ocorre quando
oramos pelos outros, Deus pode dar-nos tais misericórdias que cairemos perplexos ante elas
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pois que esperávamos somente um pouco. Lembrem-se do que disse a Jó: “Jeová disse...:
Meu servo Jó orará por vós porque certamente atenderei a ele para não tratar-lhes
afrontosamente, porquanto não tendes falado de mim com retidão como meu servo Jó.”. E
Jeová retirou a aflição de Jó, quando ele orou por seus amigos, e aumentou ao dobro todas as coisas que Jó havia tido.
Agora, esta palavra para terminar. Alguns de vocês estão buscando sua conversão. Deus tem
vivificado o interesse de vocês por orar por suas próprias almas. Não lhes alegra ir para o
inferno. Vocês querem o céu. Querem ser lavados no sangue precioso. Querem a vida
eterna. Queridos amigos, eu lhes rogo que se apropriem deste texto – Deus mesmo o tem dito
para vocês: "Clama a mim e te responderei e te mostrarei coisas grandes e ocultas que tu não
conheces.". Toma imediatamente a palavra de Deus. Regresse para casa, entra no teu quarto,
fecha a porta e prova-o. Jovens, provai e vede se ele é fiel ou não. Se Deus é verdadeiro, não
podereis buscar misericórdia em suas mãos por meio de Cristo e receber uma resposta negativa.
Posto que sua própria promessa e seu caráter o obrigam, ele deve abrir-lhes as portas da
misericórdia quando lhe clamarem de todo o coração. Deus te ajude, crendo em Cristo Jesus,
a clamar em voz alta a Deus e sua resposta de paz está já a caminho para encontrar-se contigo. O
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ouvirás dizer: "Teus pecados, que são muitos, têm sido perdoados.".
Que Deus os abençoe por causa do seu amor! Amém.
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Certeza do Êxito na Oração
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
“Por isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que
pede recebe, o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.”. (Lc 11.9,10).
Buscar ajuda em um ser sobrenatural em
tempo de angústia é um instinto da natureza humana. Não dizemos que a natureza humana
não renovada ofereça uma oração verdadeiramente espiritual, ou que possa
exercer a fé salvadora no Deus vivo. Porém, não obstante, como criança que cora na escuridão
com desejo angustiante de receber ajuda de um ou de outro lugar, dificilmente pode saber de
onde, a alma com profundo pesar quase invariavelmente clama a algum ser
sobrenatural no seu pedido de socorro. Não há pessoas mais dispostas a orar em tempo de
angústia que aquelas que têm ridicularizado a oração em tempos de prosperidade; e
provavelmente não há orações mais reais e em conformidade com os sentimentos da hora que
as que o ateu tem oferecido sob a pressão do temor da morte.
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Este instinto de procurar ajuda sobrenatural foi colocado pelo próprio Deus no homem, de
forma que possa se deixar achar especialmente pelos seus escolhidos, tanto para dar-lhes a
salvação quando os chama, como para socorrê-los em suas aflições. O homem ora porque há
algo na oração. Como quando Deus deu a suas criaturas o dom da sede, é porque existe a água para saciá-la, e a sede é o sinal de que o corpo
necessita de ser reabastecido pela água. Da mesma forma, há uma sede espiritual que
indica a necessidade da alma de ser reabastecida com a graça de Deus. Assim,
quando Deus inclina os homens a orarem é porque a oração tem uma bênção
correspondente que está unida a ela.
Encontramos uma poderosa razão para esperar que a oração seja efetiva pelo fato de que é uma instituição de Deus. Na palavra de Deus,
repetidas vezes se nos dá o mandamento de orar. As instituições de Deus não são vazias.
Posso crer que o Deus infinitamente sábio me tem ordenado um exercício que é ineficaz e que
não é mais que um jogo de meninos? Me ordena orar, e contudo, a oração não tem mais
resultado do que o silvo do vento? Se não há resposta à oração, a oração é um monstruoso
absurdo e Deus é o autor dele. E isto é uma blasfêmia se alguém se atreve a afirmá-lo.
Nenhum homem que não seja um tonto seguirá orando uma vez que se lhe tem provado que a
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oração não faz qualquer efeito diante de Deus, e nunca recebe uma resposta. A oração é uma
tarefa de idiotas e loucos, e não para pessoas sãs, se fosse verdade que seus efeitos terminam no
mesmo homem que ora.
Jesus sabia que surgiriam muitas dificuldades em relação à oração, e poderiam fazer vacilar a seus discípulos, assim, eliminou toda oposição
mediante uma afirmação incontroversível: “Por isso vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e
achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe, o que busca, encontra; e a quem
bate, abrir-se-lhe-á.”. No texto, o Senhor faz frente a todas as dificuldades, em primeiro
lugar, dando-nos o peso da sua autoridade: “Por isso vos digo”. Em segundo lugar, dando-nos
uma promessa: “Pedi e dar-se-vos-á, etc”. E recordando-nos um fato indiscutível: “todo o
que pede recebe, o que busca encontra, e a quem bate abrir-se-lhe-á”. Temos aqui três
feridas mortais para as dúvidas que o crente possa ter em relação à oração.
I. Em primeiro lugar, NOSSO SALVADOR NOS DÁ O PESO DA sua PRÓPRIA AUTORIDADE: “Por isso vos digo”.
A primeira marca de um seguidor de Cristo é
que crê em seu Senhor. De nenhum modo podemos seguir ao Senhor se levantamos
dúvidas acerca de pontos que Ele tem estabelecido positivamente. Embora uma
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doutrina esteja rodeada de dez mil dificuldades, o dito do Senhor Jesus suprime todas elas. No
que concerne aos verdadeiros crentes. Estes sabem que há condições que acompanham a
oração triunfante e perseverante. Eles sabem quais renúncias têm que fazer quanto à carne,
ao mundo e ao diabo, para se manterem na Palavra do Senhor, e assim poderem conhecer a sua vontade, para pedirem de acordo com ela,
submetendo-se a tudo que está ordenado por Deus, ou pelo menos esforçando-se neste
sentido, à medida que crescem no conhecimento do Senhor e da sua vontade,
renunciando ao próprio eu, para serem achados em conformidade com a santidade de Cristo. Se
as palavras dele estiverem em nós, e se estivermos nele, para que Ele permaneça em
nós, então pediremos o que quisermos, que seja conforme a sua vontade, e nos será feito.
Mas, como dizíamos, a declaração do nosso Mestre é todo o argumento que necessitamos
para sabermos que nossas orações são ouvidas e respondidas, quando atendem às condições a
que nos referimos antes. Quando Ele diz: “Por isso vos digo” todo debate e dúvida chegam ao
fim. Porque Ele tem dito, e isto põe um ponto final em tudo o mais.
Se a natureza tem leis irreversíveis, não importa
porque Aquele que criou todas as coisas diz: “pedi e dar-se-vos-á”. Então certamente será
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assim, sejam quais forem as leis da natureza. Sendo o Criador o Senhor conhece todo o
mecanismo de todas as forças do universo, e assim Ele diz: “Pedi e dar-se-vos-á”. Não há
forças naturais ou espirituais que possam impedir o cumprimento da palavra do Senhor.
Pedi e dar-se-vos-á. Agora, quem é que diz isto? É o que tem estado com o Pai desde o princípio, e Ele conhece quais são os propósito de Deus e
como é o coração de Deus, porque tem dito em outro lugar, “o Pai mesmo lhes ama”. Agora, já
que Ele conhece o decreto do Pai, e o coração do Pai, pode dizer com absoluta certeza de um
testemunho ocular que não há nada no conselho eterno que entre em conflito com esta
verdade e de que o que pede recebe, e o que busca acha. Ele tem lido os decretos do princípio
ao fim. Não tem tomado o livro e não tem desatado os sete selos, declarando as
ordenanças do céu? Ele lhes diz que nada há que seja contra os teus joelhos dobrados e teus olhos
molhados com lágrimas, e com o fato de que o pai abra as janelas dos céus para fazer chover
sobre ti as bênçãos que tu estás buscando. Mais ainda, Ele mesmo é Deus: os propósitos dos céus
são seus propósitos, e aquele que ordenou o propósito aqui da segurança de que nada há nele
que impeça a eficácia da oração. “Eu vos digo”. E quando Ele diz cessam todos os argumentos
contrários. E as tuas dúvidas são lançadas ao vento, porque sabes que Ele ouve a oração.
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Porém às vezes surge em nossa mente uma terceira dificuldade, que está associada com
nosso próprio juízo acerca de nós mesmos e nossa avaliação de Deus. Sentimos que Deus é
muito grande, e trememos na presença de sua majestade, sentimos que somos muito
pequenos, e que, além disso, somos vis, e parece uma coisa incrível que uma insignificância culpável tenha poder para mover o braço que
move o universo. Me pergunto se não é esse temor culpável o que nos impede
frequentemente que oremos. Porém Jesus responde docemente: “Eu vos digo: Pedi e dar-
se-vos-á.”. E pergunto novamente, quem é o que diz “eu vos digo”? É aquele que conhece tanto a
grandeza de Deus como a fraqueza do homem. Ele é Deus e desde sua excelsa majestade,
imagino ouvir-lhe dizer: “Eu vos digo: Pedi e dar-se-vos-á”.
Porém Ele também é homem como nós, e diz: “Não tenhas medo de tua insignificância,
porque eu, osso de teus ossos, e carne de tua carne te asseguro que Deus ouve a oração do
homem.”. E, se contudo o terror do pecado nos espante, e nosso pesar nos deprime, eu lhes
recordaria que quando diz: “Eu vos digo”, Jesus nos dá a autoridade, não somente de sua pessoa,
senão de sua experiência. Jesus era dado a orar. Nunca ninguém orou como ele o fez. Ele passava
as noites em oração, e dias inteiros em fervente intercessão. Ele é quem nos diz: “Eu vos digo,
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pedi e dar-se-vos-á”. Jesus provou o poder da oração.
Além disso, recordem que se Jesus podia falar positivamente aqui, há razões maiores ainda
para crer nele agora, porque passou além do véu, e se assentou à destra de Deus Pai, e a voz
que agora nos vem não nos chega do homem pobre que usa uma túnica sem costura, senão do
sacerdote entronizado que nos diz desde a destra de Deus: “Eu vos digo: pedi e dar-se-vos-
á”. Vocês não creem no seu nome? Se creem, então como poderia cair em terra uma oração
que se oferece sinceramente nesse nome? Quando apresentas a tua petição no nome de
Jesus, uma parte da sua autoridade reforça as tuas orações. Se tua oração é recusada, Cristo é
desonrado. Não podes crer que isso possa ocorrer. Posto que tens confiado nele. Creia que
a oração oferecida por meio dele deve ter êxito, e o terá.
II. Agora recordaremos que NOSSO SENHOR NOS APRESENTA UMA PROMESSA
Note-se que a promessa é dada para diversas formas de oração: “Eu vos digo: Pedi e dar-se-
vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”. O texto claramente afirma que todas as formas
de oração verdadeira serão escutadas, com a condição de serem apresentadas por
intermédio de Jesus Cristo, e são para bênçãos prometidas. Algumas são orações verbalizadas
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em que os homens pedem, não devemos jamais deixar de oferecer a oração expressada pela
língua, porque a promessa é que o que pede será ouvido. Porém, há outros que sem descuidar a
oração ativa, porque pelo uso humilde e diligente dos meios eles buscam as bênçãos que
necessitam. seus corações falam com Deus por meio de seus anelos, seus esforços, suas emoções e seus trabalhos. Que não cessam de
buscar, porque certamente acharão. Há outros que, em seu ardor, combinam as formas mais
apaixonadas, atuando e falando, porque clamam, e isso é uma forma intensa de pedir e
uma forma veemente de buscar. Assim a oração cresce desde o pedir – que é sua vocalização, sua
declaração, até o buscar – que é suplicar; e clamar – que é importunar. Para cada uma
destas etapas da oração há uma promessa clara. O que pede terá aquilo que pediu. Porém, o que
busca tendo ido mais além, encontrará, desfrutará, estreitará entre suas mãos, saberá
que tem obtido. E o que clama, irá mais longe ainda, porque entenderá, e se lhe abrirão as
coisas preciosas. Não somente terá a bênção e o desfrute, senão que a compreenderá, entenderá
com todos os santos quais sejam as alturas e as profundidades. Contudo, quero que notem o
seguinte, que engloba tudo, seja qual for a forma de oração, terá êxito. Se somente pedis,
recebereis; se buscais, achareis; se clamais, será aberto, porém em cada caso lhes será feito
conforme a vossa fé. As cláusulas da promessa
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que temos diante de nossos olhos não se nos apresentam coletivamente, como dizemos no
direito: o que pede e busca e clama, receberá, o que busca achará e o que clama lhe será aberto.
Não é quando combinamos as três coisas que recebemos a bênção, embora indubitavelmente
se as combinamos receberemos uma resposta combinada; porém se exercemos somente uma destas três formas de oração, de todos os modos
teremos o que nossa alma necessita.
Estes três métodos da oração exercitam uma variedade de nossa graça. Os pais comentam sobre esta passagem que a fé pede, a esperança
busca e o amor clama, e vale a pena repetir esse comentário. A fé pede porque crê que Deus dará;
havendo pedido, a esperança espera, e em consequência busca a bênção; o amor leva mais
perto ainda, e não receberá uma negativa de Deus, antes deseja entrar em sua casa e cear
com Ele, e por isso clama à sua porta até que lha abram. Porém, voltamos ao nosso ponto
original. Não importa qual é a graça que se exerce, uma bênção corresponde a cada uma. Se
a fé pede, receberá; se a esperança busca, achará, e se o amor clama, lhe será aberto. Estes
três modos de orar nos convêm em diferentes situações de angústia. Ali estou, pobre mendigo,
à porta da misericórdia, peço e receberei. Porém, me extravio, de modo que não posso
falar com Aquele a quem uma vez pedi tão exitosamente; então posso buscá-lo com a
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certeza de que o acharei. E se estou na última das etapas, não somente pobre e confuso, senão
também imundo como para sentir-me separado de Deus, como leproso que é lançado fora do
acampamento, então posso clamar e a porta se me abrirá.
Cada uma desta diferentes descrições das orações é sobremaneira sincera. Se alguém
dissesse: “Não posso pedir”, nossa resposta seria: “não entendes a palavra.”. Com toda a
segurança qualquer pessoa pode pedir. Uma criança pode pedir. Muito antes que o bebê saiba
falar, ele pode pedir. Não necessita de palavras para pedir o que necessita, e não há um só entre
nós que esteja incapacitado de pedir. Não é necessário que as orações sejam belas. Creio
que Deus abomina as orações floreadas. Quando oramos, quanto mais sincera for nossa oração
melhor, a linguagem mais sincera, a mais humilde, que expressa o que queremos dizer, é a melhor de todas.
A segunda palavra é buscar, e certamente não
há dificuldade para buscar. Poderia haver dificuldades para encontrar, porém não para
buscar. Quando a mulher da parábola perdeu o dinheiro, ela acendeu uma luz e a buscou. Não
creio que tenha estado alguma vez na universidade, ou que foi qualificada como
doutora em medicina, ou que houvesse estado diante da Junta Escolar como mulher de sentido
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superior, porém ela podia buscar. Todo o que deseja fazê-lo pode buscar, seja homem, mulher
ou criança; e para estimular-lhes, a promessa não é dada de alguma forma filosófica particular
quanto ao buscar, senão estabelece simplesmente, “o que busca acha”.
Agora vejamos o “clamar” ou “chamar”, que é traduzido em nossa Bíblia como “bater”. Bater à
porta é o mesmo que clamar ou chamar à porta. A ideia é que alguém venha nos atender. Muito
bem, quando éramos crianças, sempre encontrávamos métodos para chamar. Uma
pedra ou um bico com nossa bota serviam para chamar a atenção daqueles que eram muito
altos em relação à nossa estatura. Qualquer coisa servia para bater na porta. De nenhum
modo estava isso além da nossa capacidade. Portanto, Jesus o põe desta maneira como para
dizer-nos: “Não necessitas ter escolaridade, preparação, talento, e nem gênio para orar.
Pede, busca, chama, isso é tudo, e há uma promessa para cada uma destas formas de orar.
Crerás na promessa? É Cristo quem a dá. Jamais tem saído de seus lábios uma mentira. Oh, não duvidem dele. Se tens orado, prossegue orando,
e se nunca tens orado, Deus te ajude para que comeces ainda hoje.
III. Nosso terceiro ponto é que JESUS DÁ
TESTEMUNHO DO FATO DE QUE A ORAÇÃO É OUVIDA
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Havendo dado uma promessa, logo acrescenta: Podeis estar completamente seguros de que
esta promessa será cumprida, não somente porque eu vos digo, senão porque é e tem sido
sempre assim. Quando um homem diz que manhã após manhã sairá o sol, e cremos, porque
sempre tem sido assim. Nosso Senhor nos diz, como fato indiscutível, que através de todas as eras o verdadeiro pedir tem sido seguido pelo
receber. Recordem que quem afirma este fato o conhece. Se eu afirmasse um fato, poderias
responder-me: “Sim, no que respeita ao que tu tens observado, é verdade”, porém a observação
de Cristo não tem limites. Jamais tem havido uma oração verdadeira que Ele não tenha
conhecido. As orações aceitáveis ao Altíssimo lhe chegam pela via das feridas de Cristo. Daí
que o Senhor Jesus pode falar com conhecimento pessoal, e sua declaração é que a
oração tem tido êxito: “Todo o que pede recebe, e o que busca encontra.”.
Neste ponto devemos supor, desde logo, as limitações que iniciaria o sentido comum
ordinário, e que são estabelecidas pelas Escrituras. Não é que todo o que peça com
frivolidade ou maldade a Deus, vá obter o que pediu. Deus não responderá cada petição néscia,
ociosa e desconsiderada do coração não regenerado. De nenhum modo. As Escrituras
colocam o limite: “Não recebeis porque não pedis, ou pedis mal”. Há um pedir mal que
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nunca obterá o que pede. Porém tendo em conta estas cousas, a declaração de nosso Senhor não
tem outra limitação: “Todo o que pede recebe.”.
Cabe recordar que frequentemente, ainda quando os ímpios e os perversos têm pedido a
Deus, têm recebido. Com muita frequência no dia da angústia têm clamado a Deus, e Ele lhes
tem respondido. Como te atreves a dizer isso? Diz alguém. Não o digo eu, a Escritura é quem o
diz. A oração de Acabe foi respondida e o Senhor disse: “Não tens visto como Acabe se tem
humilhado diante de mim? Pois porquanto se tem humilhado diante de mim, não trarei o mal
em seus dias; nos dias de seu filho trarei o mal sobre sua casa.”. Assim também, o Senhor ouviu
a oração de Joacaz, filho de Jeú, que fez o que era mau diante do Senhor (II Rs 13.1-4). Os israelitas
também, quando por seus pecados foram entregues a seus inimigos, clamaram a Deus,
pedindo libertação e receberam sua resposta, contudo, o Senhor mesmo testifica a respeito
deles que somente o lisonjeavam com seus lábios. Muitas vezes, no tempo de enfermidade
e no tempo de dor, Deus tem atendido às orações dos ingratos e dos maus. Pensas que
nada dá senão aos bons? Tens ficado ao pé do Sinai e tens aprendido a julgar segundo a lei dos
méritos? Que eras quando começaste a orar? Eras bom e justo? Não te tem mandado Deus que
faças bem aos maus? Crês que Ele te mandaria fazer algo que ele mesmo não faria? Não tem
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dito que envia a chuva sobre justos e injustos? Não está dando bênçãos cotidianas a quem lhe
maldiz? Esta é uma das glórias da graça de Deus. Bem, agora se Deus tem ouvido as orações ainda
que de homens que não o buscam da maneira mais elevada, e lhe tem dado libertação
temporal em resposta aos seus clamores, não te ouvirá com maior razão quando te humilhas na sua presença, e desejas ser reconciliado com
Ele?
O publicano estava de pé e tão quebrantado de coração que não se atrevia a levantar os olhos ao
céu. Contudo, Deus o contemplou desde acima e atendeu à sua oração. Manassés tinha sido um
cruel perseguidor dos santos, e não havia nele o que pudesse servir-lhe de recomendação diante
dos olhos de Deus. Mas Deus lhe ouviu desde suas prisões e concedeu liberdade à sua alma.
Pelo seu próprio pecado Jonas chegou ao ventre do grande peixe. Contudo, desde o seio do inferno clamou e Deus lhe ouviu. “Todo o que
pede recebe, e o que busca acha e ao que chama se lhe abrirá.”. Todo o que. Eu não creio que
entre os condenados ao inferno haverá alguém que se atreva a dizer: “Eu busquei ao Senhor e
ele me recusou.”.
Não se achará no dia final da redenção uma só alma que possa dizer: “Chamei à porta da
misericórdia, porém Deus se negou a abrí-la.”. Isto não poderá ocorrer de modo algum, porque
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Deus não pode negar-se a si mesmo. Ele não pode deixar de ser fiel à sua Palavra para a
cumprir, pois tem dito “Todo o que... recebe, acha, abrir-se-lhe-á”. Se tens dúvidas, faça a
prova, se já tens provado, prova novamente. Estás vestido de farrapos? Não importa, todo o
que pede recebe. Estás imundo pelo pecado? Não tem importância, todo o que busca encontra. Te sentes como se estiveras de todo
separado de Deus? Tampouco importa, chama e a porta será aberta, para que você seja atendido.
Quando o Senhor disse estas palavras, ele poderia haver recorrido à sua própria vida como
evidência. Em todo caso, nós podemos nos referir à mesma agora e demonstrar que
ninguém pediu a Cristo sem receber. A mulher sirofenícia descobriu que todo aquele que pede
recebe. A mulher que sofria de hemorragia e tocou a veste do Senhor, não estava pedindo,
estava buscando, e encontrou.
“Tenho pedido fé”. Diz alguém. Bem, que queres dizer com isso? Crer em Jesus é um dom de Deus, porém além disso deve ser um ato teu.
Pensas que Deus crerá por ti, ou que o Espírito Santo crê no nosso lugar? Que tem que crer o
Espírito Santo? Tu deves crer por ti mesmo ou te perderás, caso não conheças ainda ao Senhor.
Ele não pode mentir. Ele tem dito que o que crer e for batizado será salvo. Se alguém pede em
oração para ser salvo, mas não crê ao mesmo tempo no Senhor Jesus, não pode ser salvo.
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Porque a Palavra não diz: “Ora e serás salvo”, mas sim “crê e serás salvo”. Confia no Senhor e
serás salvo, e tua oração será respondida.
Se na tua constante comunhão com o Senhor te
sentes movido a orar pela salvação de determinada pessoa, continua orando com esperança porque obterás a resposta à tua
oração. Há muitos que têm tido a resposta às suas orações por outros depois de mortos.
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Como Suplicar
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
“Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te
em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!” (Sl 70.5).
Oh! Quantas convicções errôneas temos fixado
em todas as nossas relações com as pessoas, não sabendo a forma de dar a devida honra e
deferência a quem é digno de honra, conforme está determinado pelo Senhor. E com o próprio
Deus também não sabemos como convém sobre a maneira de nos dirigirmos a Ele, e isto é algo para ser aprendido ao longo de toda a vida. Mas
podemos aprender muitas coisas básicas a este respeito, e temos um bom professor para isto na
pessoa de Davi.
Os pintores, na antiguidade costumavam aprender debaixo dos pés dos grandes mestres.
Eles estavam convencidos de que poderiam alcançar mais facilmente os níveis de
excelência se estivessem na escola de homens eminentes. Os homens têm gasto grandes
somas em dinheiro para que seus filhos possam ser aprendizes das pessoas que são as melhor
preparadas em seus ofícios e profissões. Agora se algum de nós quiser aprender a sagrada arte
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e mistério da oração, é bom que estude as produções dos grandes mestres desta ciência.
As condições da oração ouvida, em relação ao comportamento e à vida do que ora, a sua
atitude, o objeto de sua petição, e tantas outras minúcias, podemos aprender da vida daqueles
que prevaleceram com Deus na oração. E não houve quem melhor entendesse a arte da oração do que o salmista Davi. Ele também
conhecia a forma de louvar, e seus salmos se converteram na linguagem dos bons homens de
todas as épocas. Ele entendeu tão bem como se deve orar, que se nós captarmos o seu espírito, e
seguir sua maneira de orar, teremos aprendido a suplicar a Deus da maneira que melhor
prevalece. Põe diante de ti, em primeiro lugar ao Filho e Senhor de Davi, o mais poderoso de todos
os intercessores, e junto a Ele encontrarás a Davi como um dos mais admiráveis modelos
para ser imitado.
Então consideraremos nosso texto como uma das produções de um grande mestre em assuntos espirituais, e o estudaremos orando
todo o tempo que Deus nos ajude a orar da mesma maneira.
Em nosso texto teremos a alma de alguém que
suplica com êxito sob quatro aspectos: em primeiro lugar, vemos a alma que confessa: “eu
sou pobre e necessitado”. Logo, temos a alma que suplica, porque usa sua pobre condição
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como argumento para pedir, e acrescenta: “ó Deus, apressa-te em valer-me”. Em terceiro
lugar podes ver uma alma premida pela urgência, porque exclama: “apressa-te”, e varia
a expressão porém conserva a mesma ideia: “Senhor, não te detenhas!”. E tens em quarto e
último lugar, uma alma que se aferra a Deus, porque o salmista o expressa deste modo: “pois tu és o meu amparo e o meu libertador.”, assim
se agarra a Deus com suas mãos, como para não deixá-lo ir até haver obtido a bênção.
I. Então, para começar, vejamos neste modelo
de súplica UMA ALMA QUE CONFESSA
O lutador se despe antes de começar a luta, e a confissão faz o mesmo pelo homem que está por apresentar sua causa diante de Deus. O que
corre nas pistas da oração não pode esperar o triunfo a menos que, por meio da confissão e
arrependimento e fé, se despoje de todo o peso do pecado. Para a salvação da alma é necessário
que se reconheça pela operação do Espírito, a condição de miséria espiritual em que nos
encontramos por conta do pecado, para que Deus possa nos salvar tornando-nos ricos com a
sua graça. No caso de crentes, que têm necessidades específicas, é necessário o
reconhecimento e pesar diante de Deus destas necessidades e da nossa total incapacidade de
atendê-las. A alma confessa que é pobre e necessitada e Deus se move para suprir a vida
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daquele que ora com o que for necessário à manutenção da sua vida, enquanto ele se
mantém em obediência e fiel à vontade de Deus, porque os seus olhos repousam sobre os justos e
sobre os que se humilham, mas Ele resiste ao soberbo.
Agora, temos que recordar sempre que a confissão é absolutamente necessária para o
pecado quando busca pela primeira vez ao Salvador. O que busca, não pense que achará a
paz para o seu coração atribulado, enquanto não tiver reconhecido a sua transgressão e
iniquidade diante do Senhor. Pode fazer tudo o que desejar, mesmo tentar crer em Jesus,
porém irá descobrir que a fé dos eleitos de Deus não está ainda nele, a menos que esteja disposto
a fazer uma confissão completa de suas transgressões, e desnudar seu coração diante de
Deus. Geralmente nós não fazemos doações de caridade a pessoas que não a necessitam. O
médico não dá seu medicamento a quem não está enfermo. O cego junto ao caminho a
mendigar. Se ele tivesse dúvida quanto à sua cegueira, o Senhor teria passado de largo
adiante dele. Ele abre os olhos aos que se confessam cegos, porém ao demais diz: “porque
dizeis vemos, o vosso pecado permanece”. Aos que eram levados diante dele, perguntava: “Que
queres que eu te faça” para que sua necessidade fosse publicamente reconhecida. Tem que ser
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assim para todos nós: devemos oferecer a confissão, ou não podemos obter a bênção.
Permitam-me que fale a vocês que desejam encontrar a paz com Deus, e a salvação por meio
do precioso sangue de Jesus. Vocês farão bem em fazer uma confissão muito sincero e muito
explícita diante de Deus. É certo que vocês não têm nada para esconder, porque nada há que
possam esconder. Ele já conhece a culpa de vocês, porém ele quer que vocês a conheçam, e
por isso manda que a confessem. Entra no detalhe dos seus pecados reconhecendo-os
secretamente diante de Deus. Reconhece a maldade do pecado, pede a Deus que lhe faça
senti-la. Não o trates como se fosse uma coisa pequena, porque não é. Deus odeia o mínimo
pecado. Para redimir o pecador dos efeitos do pecado, Cristo mesmo teve que morrer, e de
outra sorte não poderia haver perdão de qualquer pecado, por mínimo que fosse. Procure ver o pecado como Deus o vê, como
uma ofensa contra tudo o que é bom, uma rebelião contra tudo o que é amável. Veja o
pecado como traição, como ingratidão, como uma coisa baixa e egoísta.
Nunca espere que o Rei do céu perdoe a um
traidor, se este não confessa e abandona sua traição. Até o pai mais terno espera que o filho
se humilhe quando tem causado uma ofensa, e não deixará de mostrar-lhe a face franzida até
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que ele com lágrimas diga: “pai, tenho pecado”. Você se atreve a esperar que Deus se humilhe
diante de você, e não seria ao contrário que Ele te constrangeria a se humilhar a Ele? Você quer
que Ele faça vista grossa às suas faltas e feche os olhos às suas transgressões? Ele terá
misericórdia, porém é santo. Está disposto a perdoar, porém não tolera o pecado, e portanto, não pode lhe perdoar se você segue acariciando
os seus pecados, ou se atreve a dizer: “não tenho pecado”. Assim pois dá-te pressa, lhe rogo, e
apresenta-te diante do trono da graça com isto em teus lábios: “Eu sou pobre e necessitado; ó
Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te
detenhas!”. Com tal reconhecimento começas bem a tua oração, e por Jesus Cristo prosperarás
nisto.
Amados leitores, o mesmo princípio se aplica à igreja de Deus. Estamos orando por uma demonstração do poder do Espírito Santo nesta
igreja, para o fim de orarmos com êxito nisto, é necessário que unanimemente façamos a
confissão que se acha em nosso texto: “eu sou pobre e necessitado”. Temos que reconhecer
nisto que carecemos de poder. A salvação é de Jeová e não podemos salvar uma só alma. O
Espírito de Deus está escondido em Cristo, pelo que devemos buscá-lo diante do que é o grande
Cabeça da Igreja. Não podemos enviar o Espírito, e nada podemos fazer sem Ele.
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Ele sopra onde quer. Devemos sentir isto profundamente e reconhecê-lo honestamente.
Antes de abençoar a sua igreja, Deus quer que saiba que a bênção vem completamente dele,
não com exército, nem com força, senão com o seu Espírito, diz o Senhor.
A lição que aprendemos da experiência que Deus concedeu a Gideão para confirmar que faria por meio dele aquilo que havia designado,
é muito instrutiva. Lemos em Jz 6.36-40: “Disse Gideão a Deus: Se há de livrar a Israel por meu
intermédio, como disseste, eis que eu porei uma porção de lã na eira: se o orvalho estiver
somente nela, e seca a terra ao redor, então conhecerei que hás de livrar a Israel por meu
intermédio, como disseste. E assim sucedeu; porque ao outro dia se levantou de madrugada
e, apertando a lã, do orvalho dela espremeu uma taça cheia de água. Disse mais Gideão: não se
acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a
prova com a lã: que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. E Deus assim o fez
naquela noite: pois só a lã estava seca, e sobre a terra ao redor havia orvalho.”. Gideão tem sido
retratado nesta passagem como um homem cheio de dúvidas, medroso, mas isto não faz
honra ao seu caráter, porque Deus não teria respondido ao coração que duvida do seu poder.
Vemos de outra forma, uma prova da fé que Gideão tinha em Deus, e por isso mesmo foi
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chamado por Ele para liderar Israel, pois Ele cria que Deus era poderoso para fazer o que fez.
Vemos uma atitude de prudência e de confirmação, de que quem o estava chamando
era de fato o Senhor, porque nenhum outro poderia fazer o que Ele fez. A lição que Deus
ensinou a Gideão e que também nos ensina nesta passagem é que sem o orvalho da sua graça nada podemos fazer. Não é porque
estamos no auge de um ministério que Deus normalmente abençoa, ou porque estamos
numa igreja que Deus normalmente visita com sua graça, porém nos faz ver que as visitações do
seu Espírito são o fruto da sua soberana graça, e são dons do seu amor infinito, e não da vontade
do homem, nem pelo homem. Como disse Tomás Fuller: “os ventos de Deus podem mudar
e serão tão gloriosos de uma maneira como de outra.”. Tal qual o Senhor fizera com a lã de
Gideão, numa noite encharcou a lã com o sereno, deixando tudo seco ao redor, e numa
outra noite fez o contrário, deixou a lã seca e encharcou tudo ao seu redor. O pedido de
Gideão foi sábio, porque o orvalho que cai numa região, não pode cair num só pequeno ponto (a
lã), e não ao redor, como também não pode deixar de cair num único pequeno ponto,
enquanto cai em todo o seu redor. Isto somente Deus pode fazer pelo seu poder. Isto nos revela
que no que se refere especialmente a milagres, dependemos inteiramente dele e da sua
soberana vontade. Somos de fato, diante dele,
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pobres e necessitados. Nada podemos fazer quando o feito excede a nossa capacidade
pessoal. Dependemos inteiramente do Espírito que age como quer e onde quer e sobre quem
quer, assim como o vento que sopra onde quer.
É muito significativo que antes que desse de comer aos milhares de pessoas, Jesus pediu que os discípulos fizessem antes o inventário das
provisões que estavam disponíveis, para que ninguém dissesse que o milagre foi feito com os
recursos do próprio homem que estavam disponíveis no momento. Quando Jesus
ordenou aos discípulos que lançassem as redes à direita do barco e eles o encheram de peixes,
ele não fez o milagre até que eles tivessem confessado que haviam trabalhado a noite
inteira e que não tinham conseguido pescar nenhum peixe. Assim, souberam que naquele
milagre o êxito foi inteiramente devido ao seu Senhor. Devemos entender e aprender isto, e
quanto mais cedo o consigamos, melhor.
Por isso dou graças a Deus quando nos limpa a alma de toda autosuficiência e vaidade e
bendigo o seu grande nome quando nos levar a sentir a pobreza de nossa alma como igreja,
porque é certo que então virá a bênção.
Um pai e crente fiel, chora porque o dinheiro mal dá para pagar as contas e já não pode ofertar
e ajudar a outros como gostaria, e na sua pobreza financeira chora diante de Deus, não
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murmurando, mas prosseguindo com sua alma grata e satisfeita ao Senhor, mesmo com o quase
nada que tem, reconhece sua pobreza e necessidade, e incapacidade de inverter a
situação, porque todas as portas parecem ter sido fechadas. Não demora muito e a resposta
vem do céu trazendo a provisão necessária para tornar aquele coração confiante na certeza de que há um Deus no céu que cuida de cada uma
das nossas necessidades.
Quando o fogo vem do céu como resposta à nossa oração, dá-se o mesmo que se deu com Elias, podemos colocar água, uma, duas, três
vezes sobre o altar onde nos oferecemos como sacrifício vivo e santo ao Senhor, e o fogo
queimará a oferta, e nenhuma água poderá apagá-lo. Se nesta igreja, se deseja que o Senhor
nos abençoe grandemente, o Senhor pode enviar-nos a prova de derramar água, uma,
duas, ou três vezes. Pode desalentar-nos, afligir-nos, provar-nos e fazer-nos esmorecer, até que
vejamos que não é o pregador, nem a organização, não é o homem senão
completamente de Deus, o Alfa e o Omega, que vem a bênção da igreja, daquele que opera todas
as cousas de acordo com o conselho da sua vontade. Assim, tenho demonstrado que para
ter uma boa sessão de oração o melhor é começar com a confissão de que somos pobres e
necessitados. Aprendamos com o rei Davi que prevaleceu diante de Deus.
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II. Em segundo lugar, quando a alma se tem despojado do peso dos méritos e da
autosuficiência, e começa a orar, então nos encontramos diante de UMA ALMA QUE
SUPLICA.
“Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te detenhas!”. O leitor
cuidadoso notará quatro súplicas neste único versículo.
Deus é quem tudo faz. É quem opera o querer e o efetuar. Mas você tem que atender as condições que Ele mesmo estabeleceu para
abençoar o seu povo: obediência à sua vontade, à sua Palavra, e isto implica muitas coisas. Lutar
com Ele em súplica, ser submisso a quem é devido, amar com apreço os pastores, o cônjuge,
os filhos, enfim, andar em fidelidade nos seus deveres para com o Senhor, guardando a sua
Palavra e esforçando-se para honrar o seu nome. A bênção virá no entanto não pelo nosso
mérito decorrente da nossa obediência, esta é condição, mas não é a causa, a causa é sempre o
próprio Senhor, lembre-se sempre que somos pobres e necessitados, nada há em nós, mesmo
em nossa fidelidade que nos recomende à benção de Deus.
Sobre este tema quero destacar que é hábito da
fé, quando está orando, usar súplicas. Que sejam até mesmo suspiros do coração, mas que sejam
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expressões da alma que se move diante do Deus vivo e procura o seu socorro e auxílio. Os que são
simples pronunciadores de orações, de nenhum modo estão orando, porque se
esquecem de se oferecer a Deus. Porém aqueles que querem prevalecer, oferecem suas razões e
seus poderosos argumentos e debatem a questão com Deus. Os que lutam o fazem de acordo com certas regras. Têm um estilo de se
lançar sobre o oponente. E a arte da luta da fé é suplicar a Deus, e dizer com ousadia: “que seja
assim e assim, por tais e tais razões”.
Quando Jacó temia seu irmão Esaú, ele se colocou diante de Deus e lembrou-Lhe que ele
estava vindo àquele lugar em obediência a Ele e que Ele lhe havia prometido que lhe faria bem.
Estando em grande aperto, se firmou na promessa do Senhor: “Disseste: eu te farei
bem.”. E o Senhor o ouviu e o abençoou.
Irmãos, aprendemos assim a suplicar com os preceitos e promessas, e com qualquer outra coisa que possa servir-nos; porém tenhamos
sempre algo em que basear nossa súplica. Não faças conta de ter orado se não tens
argumentado porque o argumentar é a medula mesma da oração. O que suplica com
argumentos conhece o segredo de prevalecer com Deus, especialmente se apela ao sangue de
Cristo, porque isso abre a fechadura dos tesouros celestiais.
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A fé invocará ousadamente todas as relações da graça de Deus. Poderás Lhe dizer: “Não és tu o
Criador? Desampararás a obras das tuas mãos? Não és o Redentor? Normalmente a fé se deleita
em lançar mão da paternidade de Deus. “Tu és Pai e nos castigarás e matarás? Um pai e não
proverás? Um pai e não te compadeces e nem tens misericórdia? Um pai e negas o que teu filho pede?”.
Os que oram de verdade são como pessoas
sérias que vão ao banco sacar dinheiro. Elas não saem da agência até que tenham retirado o seu
dinheiro. Assim, são pessoas frívolas aqueles que jogam a oração, digo que jogam, porque não
pedem com seriedade e não esperam o recebimento da resposta de Deus, e assim são
pessoas puramente frívolas, que não honram ao Senhor. Não lhe dão a oportunidade de provar a
sua completa fidelidade. O Senhor não está jogando ou brincando quando faz promessas. Não foi um jogo quando derramou o seu sangue,
e não devemos converter a oração numa frivolidade, orando com um espírito que nada
espera.
O Espírito Santo é sério e nós devemos também ser sérios. Devemos ir em busca de uma bênção,
e não ficarmos satisfeitos até que a tenhamos alcançado. Como o caçador, não fica satisfeito
por haver corrido, tantas milhas, e não está contente até que tenha colhido uma presa.
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Ademais, a fé apela às proezas de Deus. Contempla o passado e diz: “Senhor, tu me
salvaste em tais e tais ocasiões, me faltarás agora?”. “Tens me trazido até este ponto para
que ao final seja posto em vergonha?”. A fé conhece as antigas misericórdias de Deus, e as
converte em argumentos para obter favores presentes. Porém todo teu tempo se terá ido se tratas de mostrar sequer a milésima parte dos
argumento da fé.
Contudo, às vezes os argumentos da fé são muito singulares. Como ocorre no nosso texto,
de nenhum modo se conforma às regras da orgulhosa natureza humana ao suplicar: “Eu
sou pobre e necessitado, oh Deus apressa-te em socorrer-me”. Esta não é a maneira com que os
homens suplicam, porque dizem: “Senhor, tem misericórdia de mim, porque não sou tão
pecador como os outros.”. Porém a fé faz sua leitura sob uma luz mais realista, e baseia seus argumentos na verdade. “Senhor, posto que
meu pecado é grande, e tu és o grande Deus, que tua misericórdia seja concedida a mim.”.
Vocês conhecem a história da mulher siro-
fenícia. É um grande exemplo da ingenuidade do arrazoamento da fé. Veio a Cristo a suplicar
por sua filha, e ele não lhe respondeu palavra alguma. Que creem que disse seu coração?
“Bem, está bem, porque não me tem recusado. Posto que não tem falado não me tem
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recusado.”. Animando-se com isto, começou a suplicar de novo. Deste vez Jesus lhe falou de
forma um tanto áspera, e então seu valente coração disse: “Por fim tenho alcançado o que
esperei. Logo terei uma obra maravilhosa.”. Isso também a alegrou, e então, quando Ele a
chamou de cachorro, ela respondeu: “porém um cachorrinho é parte da família, tem alguma conexão com o amor da casa. Embora não coma
à mesa, recebe as migalhas que caem dela, e agora te tenho a ti, grande Amo, ainda que seja
um cachorrinho. A grande misericórdia que te estou pedindo, embora seja muito grande para
mim, para ti é somente uma migalha. Conceda-ma te rogo.”. Poderia fracassar o que estava
pedindo? Impossível. Quando a fé tem um desejo, sempre encontra um caminho, e obterá
a vitória quando todas as coisas pressagiam uma derrota. Ainda que o próprio Deus nos ponha à
prova indicando que não está muito interessado em resolver nossos problemas.
Não é um argumento contundente afirmar que estamos aflitos e necessitados. Não é esse o
principal argumento diante da benevolência, seja humana ou divina? Não é nossa
necessidade a melhor razão que podemos oferecer?
III. No ponto seguinte devo ser breve. É UMA ALMA PREMIDA PELA NECESSIDADE
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“Apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor, não te
detenhas!”. Podemos pedir urgência a Deus, se todavia não somos salvos, porque nossa
necessidade é urgente. Estamos em perigo constante, e perigo da pior espécie. Oh, pecador,
dentro de uma hora, dentro de um minuto, podes encontrar-te onde a esperança já não te visitará mais. Portanto, clama: “Dá-te pressa,
Oh, Deus, livra-me, apressa-te em socorrer-me!”. O teu caso é um que não admite demoras.
Não tens tempo para perder. És uma alma premida, porque tua necessidade é urgente. E
recorda, se estás realmente numa necessidade, e o Espírito está operando em ti, terás a sensação
de urgência e deves atuar com urgência. Um pecador comum poderia contentar-se com
esperar, porém um pecador vivificado quer misericórdia agora mesmo. Um pecador morto
permanecerá quieto, porém um pecador vivificado não pode descansar até que o perdão
tenha sido selado em sua alma. Se tens urgência agora, fico contente com isso, porque na tua
urgência alcançarás a posse da vida espiritual. Quando já não podes viver sem um Salvador, o
Salvador virá a ti, e tu te regozijarás nele.
Irmãos, membros desta igreja, a mesma
verdade tem valor para vocês. Deus virá para abençoá-los, e virá prontamente, quando a
sensação de urgência se faça mais profunda e urgente. Oh, quão grande é a necessidade desta
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igreja! Não se acostume ao seu fracasso. Não se acostume à sua enfermidade, se esta é
espiritual. Não se acostume á frieza de coração. Isto nos fará mundanos, nos colocará longe da
santidade, nos dividirá, trará discórdias de todas as espécies. Satanás se regozijará, e Cristo será
desonrado, a menos que obtenhamos uma maior medida do Espírito Santo. Nossa necessidade, então receberemos a bênção que
desejamos se a buscarmos com o espírito de urgência em Deus. De minha parte, irmãos e
irmãs, desejo sentir um espírito de urgência dentro de minha alma enquanto suplico a Deus
o orvalho de sua graça descendo sobre esta igreja. Jesus tem dito que devemos orar sempre
e não desmaiar. Deus nos tem convidado a nos aproximarmos do trono da graça. Ele te motiva,
te ordenando que acudas a Ele, e tem prometido que tudo o que pedirmos em oração, crendo, o
receberemos. Então venha com urgência, venha em forma importuna, venha com esse
argumento: “estou pobre e necessitado, não te detenhas, oh Deus meu”, e seguramente virá
uma bênção, não tardará. Que Deus nos conceda o poder de vê-la, para que lhe demos toda a
glória.
IV. Esta é outra parte da arte e mistério da oração: A ALMA QUE SE AFERRA A DEUS.
A alma tem suplicado, tem mostrado a urgência, e agora se aproxima de Deus e se agarra a Ele.
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Agarra-o com uma das mãos e diz? “Tu és minha ajuda”, e com a outra mão: “Tu és meu
libertador.”.
Agora, pecador, possa Deus ajudá-lo a dizer nesta manhã ao bendito Cristo de Deus: “Tu és minha ajuda e meu libertador.”. Talvez te
queixes de não poder ir longe, porém, pobre alma, tens outra ajuda? Se a tens, não podes ter
dois ajudadores em uma só mão. “Oh, não,”, digas, “não tenho ajuda alguma. Não tenho
esperanças senão em Cristo.”. Então, pobre alma, posto que tens as mãos vazias, essa mão
vazia foi preparada intencionalmente para aferrar-se a teu Senhor. Aferra-te a Ele. O
Senhor ama a ousadia dos pobres pecadores.
“Oh”, diz alguém, “porém sou tão indigno. “Ele veio buscar e salvar o que se havia perdido”. Ele
não é Salvador dos que se creem justos. Ele é Salvador dos pecadores: “amigo dos pecadores.”
é seu nome. Tu que te sentes indigno, aferra-te a Ele. “Oh,”, diz alguém. “porém não tenho
direito”. Bem, posto que tu não tens direito, tua necessidade será teu clamor: é tudo o que
necessitas pedir. Parece-me ouvir alguém que diz: “é demasiado tarde para que eu suplique
pedindo graça. “Não pode ser, é impossível, enquanto vivas e desejes a graça, não será
demasiado tarde para buscá-la.
Qualquer momento é o tempo oportuno para invocar o nome de Jesus. Assim não deixes que o
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diabo te tente com o pensamento de que é demasiado tarde. Acode a Jesus agora, vem
imediatamente, e aferra-te aos cornos do altar pela fé, e diz-lhe: “Sacrifício dos pecadores, te
fizeste sacrifício em meu lugar. Intercessor dos que estão sem a graça, sê tu meu intercessor. Tu
que dás dons aos rebeldes, dá-me dons a mim, porque tenho sido rebelde. Quando ainda éramos fracos, a seu tempo Cristo morreu pelos
ímpios. Que o poder da tua morte seja visto em mim para a salvação da minha alma.”.
Oh, vocês que são salvos, e portanto, que amam a Cristo, quero que vocês, irmãos amados, como são de Deus, ponham em prática esta parte final
de meu tema, estejam seguros de aferrar-se a Deus em oração. “Tu é minha ajuda e meu
libertador.”. Como igreja nos arrojamos sobre o poder de Deus, e nada podemos fazer sem Ele.
Porém não queremos estar sem Ele, nos aferremos a Ele firmemente.
A oração move o braço que move o mundo.
Quando a igreja começa a orar, Ele poderia em
princípio fazer como que tivéssemos que ir mais longe, e poderíamos ter o temor de não receber
resposta alguma. Sigam firmes, queridos irmãos. Estejam firmes, inamovíveis, apesar de
tudo. Mais tarde, poderia ocorrer, haverá desalento onde esperávamos um êxito
grandioso, encontraremos irmãos que opõem dificuldades, alguns caíram no pecado,
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abundaram os reincidentes e impenitentes. Porém não deixemos de avançar. Sigamos com
maior firmeza. E se chegar a ocorrer que nós mesmos nos desencorajamos e nos
desalentarmos, e sentimos que nunca ficamos tão débeis como agora, não importa irmãos,
sigamos adiante, porque quando o tendão se encolhe, (tal como se deu com a coxa de Jacó), a vitória está próxima.
O que se obtém por uma só oração, às vezes é somente uma bênção de segunda classe. Porém a que se obtém depois de um esforço
desesperado, e de uma luta terrível, está é uma bênção completa e preciosa. Sempre é lindo
contemplar os filhos da importunidade. Aqueles que são importunos diante de Deus por conta
das incessantes petições que lhe dirigem. A bênção que nos custa mais orações será a mais
apreciada. Somente sigamos perseverando em súplicas, e obteremos uma bênção ampla e de
largo alcance para nós, para a igreja e para o mundo.
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O Dever da Oração Incessante
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
Agora, mais uma ordenança prática de Paulo
em I Tes 5.17, que está resumindo sinteticamente o dever de orar sempre sem
cessar.
Paulo aprendeu isso do próprio Jesus. Lemos em Lc 18.1: “Disse-lhes Jesus uma parábola, sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer.”. Isto
inclui tanto a oração particular privada, quanto a oração pública. Quanto a esta última podemos
ler em I Tim 2.8: “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas,
sem ira e sem animosidade.”.
Em primeiro lugar, a oração é absolutamente necessária à salvação do homem. Sabemos
firmemente que a salvação de qualquer um é pela graça de Deus, e não por qualquer coisa que
façamos. Mas que alguém possa alcançar a salvação sem que a peça a Deus, como uma
forma de oração em seu coração, não podemos ver isto na Bíblia. Porque somente aqueles que
invocarem o nome do Senhor, e aqueles que o confessarem como Senhor com sua boca,
crendo isto em seu coração, é que são salvos. Não é propriamente a oração que salva, mas a
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graça do Senhor, mas não podemos encontrar que sem oração alguém será salvo.
Não é absolutamente necessário à salvação que um homem deveria ler e conhecer toda a Bíblia.
Um homem pode não ter nenhuma aprendizagem, ou ser cego, e ainda ter Cristo
dentro do seu coração. Não é absolutamente necessário que um homem deva ouvir a
pregação pública do Evangelho (entretanto ele tem que receber a Palavra de alguma outra
forma). Ele pode viver onde o Evangelho não é pregado publicamente, ou ele pode estar
acamado, ou ser surdo. Mas a mesma coisa não pode ser dita sobre oração. É absolutamente
necessário à salvação que um homem deveria orar.
Como poderemos ser salvos por um Deus “desconhecido?”. E como poderemos conhecer a Deus sem oração? Nós não podemos conhecer
as pessoas se nós não falarmos com elas, e da mesma forma não podemos conhecer Deus em
Cristo, a menos que nós falemos com Ele em oração. Se nós desejarmos estar com Ele no céu,
nós devemos ser amigos dele na terra. E se desejamos ser seus amigos na terra, nós
devemos orar.
Em segundo lugar, o hábito de oração é uma das marcas mais seguras de um verdadeiro crente.
Todos os filhos de Deus na terra são semelhantes neste aspecto. Assim como o
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primeiro sinal de vida em uma criança quando é nascida ao mundo, é o ato de respirar, assim o
primeiro ato de homens e mulheres quando eles nascem de novo, é orar. Esta é uma das
marcas comuns de todos os eleitos de Deus: "Eles sempre oram e nunca esmorecem” (Lc
18:1). O Espírito Santo os faz novas criaturas, trabalha neles o sentimento de adoção, e os faz clamar,"Abba, Pai" (Rm 8:15). Eles veem a
necessidade deles de misericórdia e graça. Eles sentem a fraqueza deles.Eles têm que orar.
Eu examinei as vidas dos santos de Deus
cuidadosamente na Bíblia. Eu não pude achar um cuja história que nos é contada, de Gênesis
a Apocalipse, que não fosse um homem de oração. Eu encontro mencionado na Bíblia que
uma característica do homem piedoso, é que eles clamam ao Pai, que eles clamam ao Senhor
Jesus Cristo. E eu acho registrado como uma característica dos ímpios, que eles não clamam a Deus (I Pe 1.17; I Cor 1:2; Sl 14:4).
Eu li as vidas de muitos grandes cristãos que
estiveram na terra desde os dias da Bíblia. Alguns deles, eu vejo, eram ricos, e alguns
pobres. Alguns eram educados, e alguns sem educação. Eles vieram de várias denominações
e alguns eram independentes. Alguns amaram um serviço de culto muito estruturado, e alguns
gostaram disto de forma bastante informal. Mas uma coisa, eu, vejo, que todos eles tiveram em
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comum. Todos eram homens de oração. Quando Jesus diz, quando Paulo diz: “orai sem
cessar”. É porque a oração deve ser uma parte integrante da vida do crente. Ele deve ter o seu
pensamento e o seu coração fixado em Deus em todo o tempo.
Eu não nego que um homem possa orar sem coração, e sem sinceridade. Eu não posso
afirmar que o mero fato de uma pessoa estar orando prova tudo sobre a sua alma. Como em
tudo o mais na religião, também nisto, há bastante decepção e hipocrisia.
Mas isto eu digo - que não orar, é uma prova clara que um homem não é ainda um verdadeiro
crente. E além disso, eu digo, que de todas as evidências do real trabalho do Espírito Santo, o
hábito da oração privada é o mais indicativo da obra do Espírito na alma. Um homem pode
pregar. Um homem pode escrever livros, e fazer bons discursos, e parecer diligente em boas
obras, e ainda ser um Judas Iscariotes. Mas um homem raramente entra no seu quarto, e
derrama a sua alma diante de Deus em secreto, a menos que ele seja sincero. O Senhor fixou o
selo dele em oração como a melhor prova da verdadeira conversão. Quando Ele enviou
Ananias a Saulo em Damasco, Ele não lhe deu nenhuma outra evidência da mudança do
coração dele além desta, "ele está orando" (Atos 9:11).
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Eu sei que o eleito de Deus é escolhido para a salvação por toda a eternidade. Eu não esqueço
que o Espírito Santo que os chama a seu devido tempo em muitos exemplos os conduz através
de graus muito lentos para uma consciência de Cristo. Mas o olho do homem só pode julgar
pelo que vê. Eu não posso chamar ninguém de justificado até que ele creia. Eu não ouso dizer que qualquer um creu até que ele ore. Eu não
posso entender uma fé silenciosa e estupefata. O primeiro ato da fé será falar com Deus. A fé
está para a alma assim como a vida está para o corpo. A oração está para a fé assim como a
respiração está para a vida.
Sua visão doutrinária pode ser correta. seu amor pelo evangelho pode ser inconfundível.
Mas ainda estes podem ser um conhecimento mais de cabeça e espírito de festa. O grande
ponto é este - se você pode falar "com" Deus tanto quanto pode falar "sobre" Deus.
Em terceiro lugar, não há nenhuma parte da vida espiritual tão negligenciada como a oração
privada. Nós vivemos em dias em que abundam as profissões religiosas. Há mais lugares de
adoração pública agora do que já havia dantes. Há mais pessoas que assistem a eles que alguma
vez houve desde que nós nos tornamos uma nação. E ainda apesar de toda esta religiosidade
pública, eu creio que há uma negligência vasta de oração privada. Eu tenho chegado à
70
conclusão que a grande maioria dos crentes professos não oram.
Eu sei que isto chocará a muitos. Mas eu estou convencido que a oração é dessas coisas sobre
as quais se pensa que é "um assunto privado", e como muitos "assuntos privados" está
vergonhosamente negligenciada. Como é uma transação privada entre a nossa alma e Deus,
que nenhum olho vê, então há toda uma tentação para passar por cima disso e não
cumpri-lo. Orar em todo o tempo é um dever, mas não há dever mais negligenciado na face da
terra.
Eu creio que milhões "nunca dizem uma palavra de oração, nenhuma.". Eles comem; eles bebem;
eles dormem; eles vão para o seu trabalho; eles voltam para suas casas; eles respiram o ar de
Deus; eles veem o sol de Deus; eles caminham na terra de Deus; eles desfrutam as
misericórdias de Deus; eles têm julgamento e eternidade diante deles. Mas eles "nunca falam
com Deus!". Eles vivem como os animais que perecem; eles se comportam como criaturas
sem almas; eles não têm nenhuma palavra para dizer a Ele em cujas mãos está a vida deles, a
respiração e todas as demais coisas. Quão terrível isto parece!
Eu creio que há milhões cujas orações são uma
mera forma - um jogo de palavras repetido, sem um pensamento sobre o significado delas".
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Palavras ditas sem coração são totalmente inúteis para as nossas almas. Onde não há
nenhum coração, os lábios podem se mover e a língua ser articulada, mas não há nada sendo
escutado por Deus - não há nenhuma oração.
Não há nenhum exagero no que eu estou afirmando. Você esqueceu que não é uma coisa natural a qualquer um, o ato de orar? A mente
carnal é inimizade contra Deus. O desejo do coração do homem natural é ficar afastado de
Deus. O sentimento dele para com Deus não está baseado no amor, mas no medo.
Isto ocorre não porque Deus não seja desejável ou atraente, isto ocorre porque a natureza terrena está sujeita ao pecado, e o pecado
impede que o homem faça a correta apreciação do valor de Deus e das suas bênçãos. É por isso
que Paulo exorta os crentes a prosseguirem em seu crescimento rumo à maturidade espiritual.
Que sejam homens espirituais com a mente renovada, com a mente de Cristo. E não crentes
carnais, que agem segundo o homem, e que julgam segundo o homem, e não segundo Deus.
Crentes espirituais podem orar segundo a mente de Deus, porque são assistidos pelo
Espírito Santo que intercede por eles com gemidos inexprimíveis.
Em quarto lugar, a oração é o ato da vida
espiritual no qual há o maior encorajamento. Porque Jesus como nosso Sumo-Sacerdote que
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intercede por nós à direita do Pai dia e noite, endossa as nossas orações, fazendo com que as
petições daqueles que sabem que são pobres e necessitados diante do trono da sua graça,
sejam fortalecidos pelo seu poder enquanto oram. Este é um segredo que Davi e Paulo
aprenderam. Em todas as suas tribulações e fraquezas encontramos a ambos orando e clamando junto ao Pai de misericórdias, e eram
fortalecidos com o seu poder. O incenso da oração dos santos misturado ao poderoso
incenso da intercessão de Jesus Cristo faz com que nossas orações subam como aroma suave
diante do trono de Deus.
Da mesma maneira que os ouvidos do Senhor Jesus já estão abertos ao clamor de todos os que
querem misericórdia e graça, é também sua alegria ouvir a oração deles. Pense nisto. Isto não
é encorajador?
Sempre há o Espírito santo pronto para ajudar nossa fraqueza em oração. É uma parte das
funções especiais dele nos ajudar em nosso empenho para falar com Deus. Nós não
precisamos ser lançados abaixo e ficar afligidos pelo medo de não saber o que dizer. O Espírito
nos dará palavras se nós só buscarmos a sua ajuda.
Há ótimas promessas para aqueles que oram.
Lemos em Mt 7.7,8: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que
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pede recebe; o que busca, encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á.”. E na sequência Jesus
afirma que isto é como um pai atendendo às necessidades de seus filhos. Se os homens
sendo maus, sabem dar boas dádivas aos seus filhos, quanto mais o Pai celeste não dará boas
coisas aos que lhe pedirem? (Mt 7.9,11). Lemos também em Mt 21.22: “e tudo, quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis.”. E em Jo 14.13,14:
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho.
Se me pedirdes alguma cousa em meu nome, eu o farei.”. Pense no encorajamento que há nestas
palavras para que oremos sem cessar.
Há exemplos maravilhosos na Bíblia sobre o poder da oração. Nada parece ser muito grande, muito duro, ou muito difícil que a oração não
possa resolver. Obteve coisas que pareciam impossíveis e fora de alcance. Ela obteve
vitórias sobre o fogo, ar, terra, e água. A oração abriu o Mar Vermelho. A oração tirou água da
pedra e trouxe pão do céu.
A oração fez o sol parar. A oração trouxe fogo do
céu nos dias de Elias. A oração transformou o conselho de Aitofel em tolice. A oração derrotou
o exército de Senaqueribe. Como disse Maria, a rainha dos escoceses, "eu temo mais as orações
de John Knox do que um exército de dez mil homens.". A oração curou o doente. A oração
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levantou o morto. A oração obteve a conversão de almas.
Em quinto lugar, a diligência em oração é o segredo da santidade eminente. Sem dúvida há
uma grande diferença entre verdadeiros crentes. Há uma imensa distância entre o mais
forte e o mais fraco no exército de Deus. Todos eles está empenhados no mesmo bom combate
da fé - mas quão valentemente uns lutam mais do que outros! Todos eles estão fazendo a obra
de Deus - mas alguns fazem melhor do que outros! Todos eles são luz no Senhor - mas
alguns brilham mais intensamente do que outros! Todos eles estão na mesma corrida –
mas alguns correm mais rápido do que outros! Todos eles amam o mesmo Deus e Salvador -
mas quantos O amam mais do que outros!
Agora, como nós podemos responder pela diferença que eu há pouco descrevi? Qual é a razão de que alguns crentes são luminosos e
mais santos do que outros? Eu creio que a diferença em dezenove casos em vinte, surge de
hábitos diferentes de oração privada. Eu creio que aqueles que não são eminentemente santos
orem pouco, e esses que são eminentemente santos orem muito. É por isso que Paulo diz em I
Tes 5.17: “Orai sem cessar.”. Este é o caminho da verdadeira santificação, do verdadeiro
crescimento espiritual, que torna o homem poderoso em obras diante de Deus.
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Ninguém nasce grande na fé diante de Deus. Todos começam do mesmo ponto no novo
nascimento. E o que torna um crente poderoso em palavras e em obras como foi Moisés (At
7.22) é o hábito da oração privada. Os crentes crescem mais quanto mais crescem no hábito
da oração privada. Por isso Paulo diz: “Orai sem cessar.”. Ele mesmo estava “orando noite e dia, com máximo empenho” para vê-los
pessoalmente e reparar as deficiências da fé dos tessalonicenses (I Tes 3.10). E particularmente
em relação a eles disse o que lemos em II Tes 1.11,12: “Por isso também não cessamos de orar
por vós, para que o nosso Deus vos torne dignos da sua vocação, e cumpra com poder todo
propósito de bondade e obra de fé; a fim de que o nome de nosso Senhor Jesus seja glorificado
em vós, e vós nele, segundo a graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.”. Isto eram
palavras de efeito usadas por Paulo? Palavras para impressionar os leitores de sua epístola?
De modo nenhum. Ele conhecia o poder que há na oração incessante e que prevalece diante de
Deus. Ele praticava isto, assim como Davi praticara no passado. Eles cresceriam no
conhecimento de Deus e seriam capacitados a fazer a sua obra na mesma proporção que
orassem. E Paulo destacou para eles o seu próprio exemplo pessoal. A obra do Senhor
prosperava em suas mãos porque ele orava incessantemente. Jesus lhe ensinou isto quando
ele aprendeu o evangelho diretamente do
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Senhor, e ele o colocou por prática, e aprendeu que a obra do Senhor só avança quando
obedecemos o seu mandamento de orar sempre sem esmorecer.
A oração é o remédio mais seguro contra os ataques do diabo. O pecado não mantém sua
influência sobre nós quando temos uma vida regular de oração privada incessante.
Em sexto lugar, negligenciar a oração é uma grande causa de apostasia. Os homens podem correr bem por um período, assim como os
Gálatas, e então se desviarem com o ensino de falsos mestres. Os homens podem perder o seu
primeiro amor, como os da igreja de Éfeso. Os homens podem esfriar em seu zelo tal como
João Marcos, o bom companheiro de Paulo. Os homens podem seguir um apóstolo por um
tempo e depois voltarem para o mundo, tal com Demas, os homens podem fazer todas estas
coisas.
Não há nenhuma dúvida que se a pessoa é verdadeiramente um crente então a verdadeira
graça nunca será extinta, e a verdadeira união com Cristo nunca será quebrada. Mas eu creio
que um homem pode apostatar tão longe que ele perderá a visão da sua própria graça, e a certeza
da sua própria salvação. E se isto não for o inferno, é certamente algo muito próximo dele!
Uma consciência ferida, uma mente doente, uma memória cheia de autocomiseração; um
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coração ferido com as correções de Deus, um espírito quebrado, com uma carga de acusação
no seu interior - tudo isso tem "gosto de inferno.". É um inferno na terra.
Agora, qual é a maior causa da apostasia? Eu creio que uma das suas principais causas é a
negligência da oração privada. Claro que a história secreta de apostatar não será conhecida
até o último dia. Eu somente posso dar minha opinião como ministro de Cristo e como um
estudante do coração.
Bíblias lidas sem oração, sermões pregados sem oração, compromissos para matrimônio sem
oração, viagens empreendidas sem oração, casas escolhidas sem oração, amizades
formadas sem oração – são os tipos de passos que fazem um crente cair na condição de
paralisia espiritual, ou atingir um ponto onde Deus permite que ele tenha uma tremenda
queda.
Em sétimo lugar, a oração é um dos melhores modos para se adquirir felicidade e satisfação.
Nós moramos em um mundo onde a tristeza abunda. Este sempre foi seu estado desde que o
pecado entrou no mundo. Não pode haver nenhum pecado sem tristeza. E até que o pecado
seja tirado do mundo será vão para qualquer um supor que ele pode escapar da tristeza. Alguns,
sem dúvida, têm um cálice maior de tristeza para beber do que outros. Mas poucos serão
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achados por muito tempo vivendo sem tristezas ou cuidados de um tipo ou outro. Nossos corpos,
nossas propriedades, nossas famílias, nossos filhos, nossas relações, nossos amigos, nossos
vizinhos, e tudo o mais são fontes de cuidado. Doenças, mortes, perdas, decepções, divisões,
separações, ingratidões, difamações - tudo isto são coisas comuns. Nós não podemos passar pela vida sem experimentá-las. Algum dia elas
nos descobrirão E qual é o melhor modo para se ter alegria num tal mundo como este? Como
nós passaremos por este vale de lágrimas entretanto com menos dor? Eu não conheço
nenhum modo melhor que o hábito de "levar tudo a Deus em oração.". Este é o conselho claro
que a Bíblia dá, tanto no Velho quanto no Novo Testamento. O que diz Deus? "Clama a mim no
dia da angústia, eu te livrarei e tu me glorificarás.” (Salmo 50:15). O que o apóstolo
Paulo diz? “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém sejam conhecidas
diante de Deus as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de
Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes
em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7). E o que Tiago diz? “Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração.”
(Tg 5.13).
O único modo para estar realmente contente,
num tal mundo como este é lançando todos os nossos cuidados sobre Deus. É a tentativa de
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levar o seu próprio fardo que tão frequentemente faz com que os crentes vivam
tristes. Se eles somente contassem as suas dificuldades para Deus Ele os capacitaria a
suportar mais facilmente os seus fardos assim como Sansão fez com os portões de Gaza.
Jesus pode fazer feliz aquele que nele confia. Ele pode lhe dar paz de coração na prisão, satisfação
no meio da pobreza; conforto em meio a perdas; alegria à beira da morte. Há uma abundância
poderosa nele para todos os seus membros - uma abundância que está pronta para ser
despejada sobre todos os que lhe pedem em oração. Oh, que os homens venham a entender
que a felicidade não depende de circunstâncias externas, mas do estado do coração!
A oração pode trazer um raio de esperança, quando todos nossos prospectos terrenos parecem falhar.
É de fato impressionante a forma econômica como o Espírito Santo diz grandes e profundas verdades com poucas palavras: “Orai sem
cessar.”. É o seu mandamento. Você deve orar perseverantemente. Tendo começado o hábito
uma vez, nunca o abandone. seu coração às vezes vai dizer, "Nós já fizemos a oração familiar;
que grande dano será se nós quebrarmos o hábito da nossa oração privada. seu corpo às
vezes dirá: "Você está doente, ou sonolento, ou cansado; você não precisa orar.". sua mente às
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vezes dirá: "Você tem um negócio importante para fazer hoje; corte suas orações, para ganhar
tempo.". Olhe, todas essas sugestões vêm diretamente do diabo. Isto é o mesmo que dizer:
"Negligencie sua alma.". Não a alimente. Deixe-a perecer. Eu não digo que suas orações sempre
deveriam ter o mesmo tempo e intensidade; mas eu digo, não permita que nenhuma desculpa o leve a deixar de orar. Porque o
mandamento de Deus para você é: “Orai sem cessar”. Ele sabe que você necessita disso para
permanecer de pé na sua presença, de maneira que possa estar habilitado a fazer a sua vontade
neste mundo. Não foi sem razão que Paulo disse: “Orai sem cessar” em I Tes 5.17 e “Perseverai na
oração, vigiando com ações de graça” em Col 4.2. Ele não quis dizer que os homens sempre
deveriam estar sobre os seus joelhos. Mas ele queria dizer que nossas orações deveriam estar
como a oferta contínua que queimava ininterruptamente – algo que perseverasse
continuamente no nosso interior, em todos os dias da nossa vida – algo que deveria existir com
a regularidade das quatro estações do ano, que sempre chegam no seu próprio tempo. Algo que
nunca cessará enquanto a terra existir.
Nunca esqueça que você pode fazer uma cadeia
infinita de orações curtas ao longo do dia. Até mesmo na companhia de outros, ou enquanto
você trabalha, ou indo rua abaixo, você pode estar enviando silenciosamente para cima
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pequenos mensageiros alados a Deus, como Neemias fez na presença mesma de Artaxerxes
(Ne 2:4). E nunca pense que o tempo que é dado a Deus é tempo perdido. Uma nação não fica
mais pobre porque perde um ano de dias úteis em sete por honrar o Dia do Senhor.
É também importante a sinceridade, a seriedade e o fervor na oração. Não é necessário que um homem devesse gritar, ou gritar muito alto, para
provar que ele é sincero e sério. Mas é desejável que nós sejamos fervorosos revelando que nós
estamos realmente interessados naquilo que nós estamos fazendo. É a oração de um homem
íntegro que é "poderoso e efetiva", e não do frio, sonolento, preguiçoso, desatento. Esta é a lição
que nos é ensinada pelas expressões usadas na Bíblia sobre oração. É "chorando, batendo,
lutando, trabalhando, se esforçando.". Esta é a lição que nos é ensinada através de exemplos da
Bíblia. Jacó lutando com Deus em Peniel: “Não te deixarei ir, se me não abençoares”. (Gên
32.26). Daniel é outro exemplo, que ficou três semanas inteiras na presença de Deus, e o
Senhor veio ter com ele em resposta à sua perseverança (Dn 10.2,3,12,13). Veja um trecho
da forma como ele orava em Dn 9.19: “Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e
age; não te retardes, por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são
chamados pelo teu nome.”. Ele derrama o coração em interjeições. Ele apresenta
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argumentos poderosos diante de Deus. É a Tua honra Senhor que está em jogo, diria ele em
outras palavras.
O próprio Senhor Jesus, sendo Deus, deu-nos o exemplo da oração perseverante. dele se diz em
Hb 5.7: “Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido com forte clamor e lágrimas, orações
e súplicas a quem podia livrar da morte, e tendo sido ouvido por causa da sua piedade,”. Isto é
muito importante para ser aprendido: “foi ouvido por causa da sua piedade”. Ninguém
espere ser ouvido por Deus vivendo na prática da impiedade. Os olhos do Senhor repousam
sobre os justos e os seus ouvidos estão atentos às suas orações. Deus quer ser glorificado em nós,
atendendo nossas orações. Por isso não atenderá os pedidos que lhe são dirigidos para o
simples atendimento de prazeres terrenos, egoístas, carnais (Tg 4.3).
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O Poder da Oração Unânime
“Em verdade, também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a
respeito de qualquer cousa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que
está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três unidos em meu nome, ali estou no meio
deles” (Mt 18.19.20)
Uma das principais lições de nosso Senhor no
seu ensino sobre a oração foi: Que não seja para ser vista pelos homens. Entre no seu quarto; e
fale a sós com o Pai. Assim, Ele nos ensinou que o significado da oração é contato pessoal,
individual com Deus, mas Ele deu também uma segunda lição: Você não somente precisa de
oração secreta solitária, mas também de oração pública, unânime. E Ele nos dá uma muito
especial promessa para a oração unânime de dois ou três que concordam no que eles pedem.
Como uma árvore tem suas raízes escondidas no chão e seu caule cresce para cima à luz solar,
assim a oração precisa igualmente para seu desenvolvimento completo do segredo
escondido no qual a alma conhece a Deus individualmente, e do companheirismo público
com aqueles que acham no nome de Jesus o lugar da sua reunião comum.
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A razão por que isto deve ser assim está claro. O laço que une um homem aos membros da raça
humana não são menos reais e íntimos do que aqueles que os unem a Deus; ele é um com eles.
A graça não somente renova nossa relação com Deus mas também para com os homens. Nós
não somente aprendemos a dizer "Meu Pai", mas "Nosso Pai.". Nada seria mais antinatural do que os filhos de uma família sempre conhecerem o
pai deles separadamente, mas nunca na expressão unida dos desejos ou do amor deles.
Crentes não somente são os membros de uma família, mas até mesmo de um corpo. Da mesma
maneira que cada membro do corpo depende do outro, e a ação completa do espírito que habita
no corpo depende da união e cooperação de tudo, assim os cristãos não podem alcançar a
bênção plena que Deus está pronto para dar pelo seu Espírito a menos que eles busquem e
recebam isto dentro da comunhão de uns com os outros. Está na união e comunhão dos
crentes que o Espírito pode manifestar o seu completo poder. Eram cento e vinte
perseverando em oração unânime, e o Espírito veio do trono do Deus glorificado, sobre os
discípulos, no dia de Pentecoste.
São dadas a nós as características da verdadeira oração unânime nestas palavras de nosso Senhor:
1. Acordo sobre a coisa pedida
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A primeira é "acordo" sobre a coisa pedida. Não deve haver somente o consentimento geral para
concordar com qualquer coisa que outro possa pedir, deve haver alguma coisa especial, algum
assunto de desejo comum; o acordo teria que ser, como deve ser toda a oração, em espírito e
em verdade. Em tal acordo ficará muito claro a nós aquilo que nós estamos exatamente pedindo, e se nós podemos pedir
confiantemente de acordo com a vontade de Deus, e se nós estamos prontos para crer que
nós receberemos o que nós pedimos.
2. Reunidos no Nome de Jesus.
A segunda característica é estar unidos no
nome de Jesus. Nosso Senhor nos ensina que o Nome deve ser o centro de união no qual os
crentes devem estar reunidos, o laço de união que lhes faz um, da mesma maneira que uma
casa contém e une tudo que está nela. "O nome do SENHOR é uma torre forte". Esse Nome é
uma realidade tal para aqueles que nele creem, que se encontrar dentro disto é ter um presente.
O amor e a unidade dos discípulos dele têm atração infinita para Jesus: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles.”. É a presença viva de Jesus, na comunhão dos seus discípulos, que dá à oração
unânime o seu poder.
3. A resposta segura.
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A terceira marca, é a resposta segura: “ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus”.
Uma oração que tenha por alvo manter nossa comunhão em Cristo, ou buscar nossa própria
edificação, pode ter seu uso; mas não era esta a visão do Salvador quanto ao seu desígnio. Ele
quis dizer isto como um meio de afiançar a resposta especial à oração. Uma oração que se
encontra sem resposta reconhecida deveria ser uma exceção. Quando qualquer de nós tem
desejos com respeito aos quais nos sentimos muito fracos para exercitar a fé necessária, nós
deveríamos buscar força na ajuda de outros. Na unidade de fé e de amor e do Espírito, o poder do
Nome e a presença de Jesus agimos mais livremente e a resposta vem mais seguramente.
A marca da verdadeira oração unânime é o fruto, a resposta, o recebimento da coisa que
nós pedimos: “Em verdade, também vos digo que... ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus.”.
Isso que é um privilégio indizível da oração
unânime, e isso revela o poder que ela poderia ter. Se o marido crente e sua esposa soubessem
que eles foram unidos no Nome de Jesus para experimentar a presença dele e dar poder à
oração unânime (1 Peter 3); se os amigos cressem que auxílio poderoso há em dois ou três
orando em acordo, podem dar um ao outro; se em toda oração que se faz em Nome de Jesus, a
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fé na sua presença, e a expectativa da resposta, se levantasse em primeiro plano; se em toda
igreja a oração unânime e eficaz foi considerada como um dos propósitos principais para os
quais eles estão ligados juntamente, sendo o exercício mais alto do poder deles como uma
igreja; se na Igreja Universal a vinda do reino, a vinda do próprio Rei, primeiro, na efusão poderosa do Espírito Santo, a própria pessoa
gloriosa dele, realmente for uma questão de clamar juntos e unidos incessantemente a Deus
- Oh, que poder e bênçãos poderiam vir, àqueles que assim aceitaram provar a Deus no
cumprimento da sua promessa.
Nós vemos isso no apóstolo Paulo isso muito distintamente, como uma realidade da fé dele
no poder da oração unânime da igreja. Aos romanos ele escreve (15:30): “Rogo-vos, pois,
irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor.”.
Ele esperava ser livrado de seus inimigos e ter
prosperidade em seu trabalho através das respostas às orações unânimes da igreja. Lemos
em II Cor 2.10,11: “O qual nos livrou e livrará de tão grande morte, em quem temos esperado que
ainda continuará a livrar-nos, ajudando-nos também vós, com as vossas orações a nosso
favor, para que, por muitos sejam dadas graças a nosso respeito, pelo benefício que nos foi
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concedido por meio de muitos.”. Paulo sabia que seria beneficiado em razão da oração unânime
de muitos, dando-se cumprimento à promessa do Senhor de abençoar a oração da igreja unida.
Aos efésios ele escreveu: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito, e para isto vigiando com toda perseverança e
súplica por todos os santos, e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca,
a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o mistério do evangelho,”. (Ef 6.18,19). O sucesso
no seu ministério dependia da oração deles.
Em Fp 1.19 ele diz: “Porque estou certo de que
isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em
libertação.”.
Em Col 4:3 lemos: “Suplicai ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à
palavra, a fim de falarmos do mistério de Cristo, pelo qual também estou algemado;”.
E em II Tes 3.1,2: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague,
e seja glorificada, como também está acontecendo entre vós; e para que sejamos
livres dos homens perversos e maus; porque a fé não é de todos.”.
Em todos os lugares está evidente que Paulo se sentia membro de um corpo e que ele contou
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com as orações destas igrejas para alcançar o que era necessário e que de outro modo não
poderia ser obtido. As orações da Igreja eram para ele como um fator real no trabalho do reino
para a manifestação do poder de Deus.
Quem pode dizer que poderia formar uma igreja sem exercitar esse trabalho de oração, dia e noite? Como Deus poderia ser glorificado
através da vida de seus servos na salvação de almas, sem este exercício de oração unânime?
A maioria das igrejas pensa que os seus membros são simplesmente unidos para edificação mútua. Eles não sabem que Deus rege
o mundo através das orações dos seus santos, que a oração é o poder pelo qual Satanás é
vencido, que através da oração a Igreja na terra tem à sua disposição os poderes do mundo
divino. Eles não se lembram que Jesus tem toda autoridade no céu e na terra, e que por sua
promessa, consagrou toda a igreja em seu Nome para ser um portão do céu, onde a presença dele
será sentida, e o poder dele experimentado cumprindo os desejos dos seus servos.
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“Orai sem cessar” (I Tes 5.17)
A afirmação do nosso texto vem
imediatamente depois do mandamento: “Regozijai-vos sempre”, como se esse
mandamento tivesse desnorteado um pouco o leitor, levando-o a perguntar: “Como eu posso
estar sempre alegre?”, então, o apóstolo juntou como resposta: “orai sem cessar”. Isto não é
muito diferente do que se lê em Tg 5.13 a: “Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração.”. As
tristezas como que nos acompanham neste mundo, incessantemente e bem de perto. E
como poderia o crente cumprir o mandamento de estar sempre alegre, se não fosse pelo vencer
as tristezas que lhe sobrevêm, por meio da oração? Até parece que as tribulação têm este
propósito específico de obrigar-nos a orar, para que sejamos conduzidos à presença de Deus, e
ali, vemos que nossas tristezas são dissipadas.
A oração constrói um canal para que as tristezas
retidas na alma, sejam lançadas para fora, e para que flua no lugar delas uma inundação de gozo
sagrado no coração. Ao mesmo tempo quando se está alegre e que se ora; quando o coração
está em uma condição quieta, e cheio de alegria no Senhor, então ele se aproxima também do
Senhor em adoração. A alegria santa e o ato da oração influenciam um ao outro.
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Porém, observe o que imediatamente se segue no texto: "Em tudo dai graças.". Quando alegria e
oração estão casadas, o primeiro filho nascido deles é a gratidão. Quando nós nos alegramos no
Senhor pelo que nós temos, e oramos mais a ele, então nossas almas lhe agradecem tanto pelo
prazer do que nós temos, quanto por aquilo que ainda há de vir. Esses três textos são três companheiros inseparáveis, enquanto
representando a vida de um verdadeiro crente.
I. O Que significam estas palavras? "Orai sem cessar.". Elas não significam que o uso da voz é um elemento essencial na oração? Seria até
mesmo muito impróprio se fosse possível nós continuarmos orando em voz alta
incessantemente. Não haveria nenhuma oportunidade, claro, para pregar e ouvir, para a
troca de relacionamento amigável, para negócio, ou para qualquer outro dos deveres da
vida; enquanto o estrondo contínuo de tantas vozes nos faria lembrar mais dos adoradores de
Baal do que os de Sião. Nunca foi desígnio do Senhor Jesus que nossas gargantas, pulmões, e
línguas deveriam estar para sempre em oração. Desde que nós devemos orar sem cessar, e
ainda, que não podemos orar com a voz sem cessar, está claro que idioma audível não é
essencial à oração. Nós podemos falar mil palavras que parecem ser oração, e ainda nunca
ter orado; por outro lado, nós podemos clamar ao ouvido de Deus mais efetivamente, e ainda
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nunca ter dito uma palavra. No livro de Êxodo Deus é apresentado como dizendo a Moisés:
"Por que clamas a mim?". E ainda não está registrado que Moisés tivesse proferido uma
única sílaba até aquele momento. É verdade que o uso da voz ajuda frequentemente a oração. Eu
acho, pessoalmente, que eu posso orar melhor quando eu posso ouvir minha própria voz; ao mesmo tempo não é essencial, não entra nada
na aceitabilidade, realidade, ou prevalência da oração.
Está igualmente claro que a postura de oração
não é de nenhuma grande importância, porque se fosse obrigatório orar de joelhos nós não
poderíamos orar sem cessar, a postura seria dolorosa e prejudicial. Para que fim nosso
Criador nos deu os pés, se ele nunca desejasse que nós nos levantássemos sobre eles? Está bem
que orar de joelhos é uma postura mais apropriada, porque expressa humildade, mas, ao mesmo tempo, os homens piedosos oraram
em seus quartos, sentados, de pé, em qualquer postura, e a postura não entra na essência da
oração. Não consinta ser colocado em escravidão por esses para os quais o joelho
dobrado tem maior importância do que o coração arrependido.
Também, está claro no texto, que o lugar não é
essencial para a oração, porque se houvesse lugares certos e santos somente nos quais a
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oração seria aceitável, e se nós tivéssemos que orar sem cessar, nossas igrejas deveriam ser
extremamente grandes, para que nós sempre pudéssemos estar nelas. Mas isto é ridículo;
portanto eu junto que frequentar determinados lugares em particular tem pouco ou nada a ver
com a oração.
"Orai sem cessar.". Esse preceito põe por terra a ideia de que há tempos particulares em que a
oração é mais aceitável ou mais apropriada do que outros. Se eu devo orar sem cessar, então
todos os segundos devem ser satisfatórios para a oração, e não há nenhum momento profano da
hora, nem de qualquer dia do ano. O Senhor não designou uma certa semana para a oração, mas
todas as semanas deveriam ser semanas de oração: nem ele disse qual hora do dia é mais
aceitável do que outra. É comum se ouvir que a madrugada é o tempo em que Deus atende
melhor à oração. É possível até que seja para o que ora, mas não para Deus. Todo o tempo é
igualmente legítimo para súplica, igualmente santo, igualmente aceitável por Deus, ou então
não nos deveria ser dito que devemos orar sem cessar. É bom ter suas horas do dia reservadas
para oração; é bom reservar períodos especiais para a súplica, nós não temos nenhuma dúvida
quanto a isso; mas nós nunca temos que permitir este tipo de superstição de que há uma
certa hora santa para oração pela manhã, uma hora especialmente aceitável para oração à
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noite, e um tempo sagrado para oração e certos períodos do ano. Onde quer que nós busquemos
a Deus com verdadeiros corações ele é achado por nós; sempre que nós clamamos diante dele,
Ele nos ouve. Todo lugar é chão sagrado para um coração sagrado, e todos os dias sãos dias santos
para um homem santo.
Há uma outra coisa insinuada no texto, isto é,
que nenhum lugar está vedado ao crente quanto à permissão para orar. Orai sem cessar? E se há
algum lugar onde eu não posso fazê-lo, como estar diante de programas e situações
mundanas, envolvido na participação das mesmas. Não devo estar fazendo isso porque
não me permitem cumprir o mandamento de orar sem cessar. Aquilo que Deus não pode
abençoar, e que ao contrário está amaldiçoado pelo diabo, deve ser imediatamente condenado
por nós, e não devemos participar disto, porque não pode contar com a bênção de Deus, e pelo fato de não me permitir o cumprimento do
mandamento da oração incessante.
II. “Orai sem cessar.”. Mas agora, o que ISTO SIGNIFICA REALMENTE? É privilégio e dever
de todo filho de Deus, entrar na sua presença. As portas do templo do amor divino nunca estão
fechadas a qualquer hora do dia ou da noite. Nada pode interpor uma barreira entre a alma
que ora e o seu Deus. Porém, ainda é um preceito, "orai sem cessar.". E o que significa?
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Significa uma grande verdade que eu não posso muito bem dar a você em algumas palavras, e,
então, tenho que tentar colocar isso em quatro ou cinco pontos.
Significa, primeiro, nunca abandonar a oração.
Nunca por qualquer causa ou razão deixe de orar. Não imagine que você tem que orar até que
você seja salvo, e pode partir então sem orar mais. Para esses cujos pecados são perdoados a
oração continua sendo totalmente necessária. "Orai sem cessar", para que você possa
perseverar em graça, você tem que perseverar em oração. Caso você esteja experimentando a
graça e sendo enriquecido com muito conhecimento espiritual, você não deve nem sonhar em parar com a oração por causa de seus
dons e graças. "Orai sem cessar", ou então sua flor enfraquecerá e seu fruto espiritual nunca
amadurecerá. Continue em oração até o último momento de sua vida.
"Enquanto viverem devem os crentes orar, porque somente enquanto eles oram é que eles
vivem.".
Como nós devemos respirar sem cessar, assim nós devemos também orar sem cessar. Assim
como uma pessoa não pode progredir na vida em saúde, força ou vigor muscular, sem
respirar, do mesmo modo não pode ter qualquer condição de crescimento espiritual ou avançar
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em graça dispensando o dever de orar sem cessar.
Nunca deixe de orar, nem mesmo Satanás deveria sugestioná-lo que é em vão para você clamar a Deus. Ore diante dos dentes dele; "ore
sem cessar.". Ainda que os céus pareçam como bronze sobre sua cabeça, continue orando; se
mês após mês sua oração parece ter falhado, e nenhuma resposta foi dada a você, contudo
continue clamando ainda a Deus. Não abandone o lugar da misericórdia por qualquer razão que
seja. Se é uma coisa boa que você tem pedido, e você está seguro que está de acordo com a
vontade divina, e se a visão permanecer, continue esperando a resposta, peça, lute,
agonize até que você adquira aquilo pelo que você tem orado. Se seu coração está frio em
oração, não pare de orar até que seu coração se aqueça, mas peça a ajuda do Espírito Santo que
nos ajuda nas nossas fraquezas. Lembre que somente a graça do Senhor pode fortalecer o
nosso coração em nossas angústias e aflições, despachando-as para longe de nós. A sua graça
nos basta. O seu poder se aperfeiçoa na nossa fraqueza. É Deus mesmo, depois de termos
sofrido por um pouco, que nos aperfeiçoa, firma, fortifica e fundamenta. É Ele quem faz
nossa alma sossegar, repousar e se aquietar, em face dos maremotos desta vida. Nunca cesse a
oração por qualquer tipo de razão ou argumento. Se o filósofo lhe falar que todo
97
evento é fixo, e, então, a oração não pode mudar nada, e, por conseguinte, deve ser loucura;
ainda, que você não possa lhe responder e possa até mesmo ficar um pouco confundido pelos
argumentos dele, continue todavia com todas as suas súplicas a Deus. E você saberá que há um
Deus que responde a oração miraculosamente, reduzindo a sabedoria deste mundo a nada. Nenhum problema difícil relativo à digestão
impediria o seu ato de se alimentar, porque o resultado justifica a prática, e assim também
nenhuma discussão deveria nos fazer cessar de orar, porque o sucesso seguro disto recomenda
a prática da oração a nós. Você sabe o que seu Deus lhe prometeu, e se você não pode
responder a toda dificuldade que o homem possa apresentar, você pode no entanto
continuar obediente à vontade divina, e ainda pode "orar sem cessar.". Nunca, nunca, nunca
renuncie ao hábito da oração, ou sua confiança em seu poder.
Um segundo significado é isto. Nunca suspenda o oferecimento regular da oração. Você terá, se
for um crente vigilante, seus momentos de devoção diários, não fixados por superstição,
mas por sua conveniência; da mesma maneira que Davi, o fazia três vezes ao dia, e como Daniel,
que orava sete vezes ao dia, buscando o Senhor. Mantenha esta oração diária sem interrupção.
Nunca deixe a oração matinal, nem a oração da noite, nem a oração do meio-dia se isso se tornar
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o seu hábito. E assim, se você persevera orando nesses momentos reservados para a oração,
pode ser dito que você ora sem cessar.
Estes momentos diários que nós reservamos para falar com Deus, parecem ser o motivo de sermos abençoados no restante do dia.
Porém, isso é só uma ajuda, porque eu tenho que acrescentar, em terceiro lugar, a estes momentos separados para a devoção, o trabalho
da oração que acontece quando estamos envolvidos em nossas atividades, porque
mesmo nessas horas devemos deixar nossos corações falarem com Deus; não em vinte
orações de cada vez, mas em orações quebradas em interjeições. Deixe que orações curtas
subam ao céu, introduzidas por um "Ah", um "Oh", ou mesmo sem palavras nós podemos orar
com os suspiros do coração. Aquele que ora sem cessar lança muitos pequenos dardos e
granadas de mão de desejos que partem do seu coração na direção de Deus.
Em quarto lugar, se nós desejamos orar sem
cessar, nós devemos sempre estar em espírito de oração. Nosso coração, renovado pelo
Espírito Santo, deve ser como a agulha magnetizada que está sempre apontando para o
Norte. Assim deixe seu coração ficar sempre magnetizado com a oração, de forma que toda
vez que você deixe de orar por coisas que costumam desviar nossa atenção de Deus, seu
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coração magnetizado volte sempre para a direção de Deus, assim como a agulha da
bússola que volta a apontar para o Norte, depois que é liberada por algum dedo que a houvesse
desviado para outra direção.
Mas, talvez, o último significado que eu darei tem a maior parte da verdade do texto nisto, a
saber: todas as suas ações devem ser consistentes umas com as outras, sendo na
realidade uma continuação de suas orações. Orar sem cessar, não pode significar que eu
sempre estarei no ato de devoção direta; porque a mente humana, segundo Aquele que a
constituiu, necessita de variedade de ocupação. Então, nós temos que mudar o modus operandi,
ou seja, a maneira de operação, se nós desejamos perseverar em oração. Nós temos
que procurar fazer nossas orações sempre de outra maneira.
Por exemplo. Nesta manhã eu orei pedindo a Deus para despertar o seu povo para a
intercessão; muito bem; quando eu fui para casa, minha alma continuou pedindo: "O Deus,
desperte os teus filhos para a intercessão". Agora, enquanto eu estou orando por você, não
estou me dirigindo ao mesmo ponto? Meu sermão não é a continuação da minha oração,
porque eu estou desejando e estou apontando para a mesma coisa? Não é perseverando na
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oração que nós usamos os melhores meios para a obtenção daquilo que estamos pedindo?
III. COMO NÓS PODEMOS OBEDECER ESTAS PALAVRAS?
Evitemos todos os tipos de interrupções desnecessárias da nossa oração. Se nós sabemos que qualquer assunto, do qual nós podemos
escapar, tem uma tendência para perturbar o espírito de oração dentro de nós, evitemos isto
seriamente. Devemos tentar o quanto possível, não ficarmos fora da atmosfera da oração. O
objetivo de Satanás será distrair a mente, desviar seu alvo.
Quando Edward Payson era um estudante na Faculdade, ele achou que deveria somente gastar o seu tempo assistindo as aulas e se
preparando para os exames, e que não deveria gastar tanto tempo com oração privada; mas,
afinal, acordando com o sentimento de que ele estava substituindo as coisas divinas pelos seus
hábitos, ele passou a gastar o tempo devido à devoção e ele registrou no seu diário que fez
mais progressos em seus estudos em uma única semana depois que ele tinha passado tempo
com Deus em oração, do que ele tinha realizado em doze meses antes. Deus pode multiplicar
nossa habilidade para fazer uso do tempo. Se nós dermos para Deus o que é devido a ele, nós
teremos tempo bastante para todos os propósitos necessários. Neste assunto busque
101
primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas serão acrescentadas a você. seus
demais compromissos andarão suavemente se você não esquecer de seu compromisso com
Deus.
Nós devemos, queridos amigos orar sem cessar, por isso se esforce contra a indolência na oração. Eu creio que nenhum homem ama a
oração até que o Espírito Santo lhe ensine a doçura e o valor disto. Se você alguma vez orou
sem cessar continuará orando sem cessar. Os homens que não gostam de orar não conhecem
a sua alegria secreta. Quando a oração é um ato mecânico, e não há nenhuma alma nisto, é uma
escravidão e um cansaço; mas quando a oração é verdadeira e viva, e quando o homem ora
porque ele é um crente e não pode ficar sem orar, quando ele ora caminhando na rua, no seu
trabalho, quando ora em casa, no campo, quando toda a sua alma estiver cheia de oração, então ele não pode ficar sem ter isto.
Deixe-nos evitar, acima de tudo coisas como
letargia e indiferença na oração. Oh, já é uma coisa terrível que nós insultemos a Majestade
do céu com palavras que saíram do nosso coração. Eu devo, meu espírito, educar-te a isto,
que tu tens que ter comunhão com Deus, e se tu não falas com Deus em oração, tu deves
aprender a fazê-lo. Não fiques longe do trono da misericórdia pela falta de oração.
102
Irmão amado, diga assim à tua alma: "eu vim aqui ao trono da graça para adorar a Deus e
buscar a bênção dele, e eu não vou embora até que eu tenha feito isto; eu não sairei de meus
joelhos, porque eu passei meus minutos habituais, mas vou permanecer orando até
saber em meu espírito que eu alcancei a bênção.". Satanás fugirá frequentemente quando ele o achar assim resoluto em oração.
Irmãos, nós precisamos acordar. A rotina cresce em nós. Nós entramos na caminhada que não
leva a lugar algum como o cavalo que anda em redor do moinho para esmiuçar o grão. Isto é
mortal. Um homem pode pedir vinte anos com regularidade, até onde o tempo permita, e fazê-
lo de tal forma que nunca tenha pedido de fato um único grão de oração em todo este período.
Um real gemido que parta do coração vale um milhão de ladainhas, uma respiração viva de
uma alma vale mais do que dez mil palavras recitadas mecanicamente. Nós podemos ser
mantidos despertados pela graça de Deus, enquanto oramos sem cessar.
E nós temos que ter cuidado, queridos irmãos, ainda, ao executarmos este dever de orar, em
lutar contra qualquer coisa como o medo de não sermos ouvidos. Se nós não fomos ouvidos
depois de seis vezes, nós devemos, como Elias, orar pela sétima vez; se nosso Pedro está em
prisão, e a igreja pediu a Deus para o libertar, e ele ainda está acorrentado na prisão,
103
continuemos orando até que num destes dias Pedro bata no portão. Seja inoportuno, o portão
do céu não se abre para toda batida fugitiva. Bata, e bata, e bata novamente; e continue
buscando, e não fique satisfeito até que tenhas obtido uma real resposta.
Nunca cesse a oração por presunção; vigie contra isso. Sinta, crente que você sempre
precisa orar. Não diga, "eu sou rico e aumentei em bens, e não tenho necessidade de nada.". Tu
és por natureza, pobre, nu e miserável; então, persevere em oração, e compre do Senhor ouro
refinado pelo fogo, vestiduras brancas para se vestir, e colírio para os olhos para que veja. Sem
a graça do Senhor não somos verdadeiramente ricos, porque a aparência deste mundo passa, e
por mais que tenhamos no mundo, nada levaremos dele conosco. Também não estamos
dignamente vestidos diante de Deus por mais luxuosas que sejam as nossas vestes deste mundo. E também não podemos enxergar as
coisas de Deus sem a graça de Jesus, que é colírio para os nossos olhos espirituais.
IV. Agora, muito brevemente, em último lugar,
POR QUE NÓS deveríamos OBEDECER ESTE PRECEITO? Claro que nós deveríamos obedecer
isto porque é uma ordenança divina; mas, além disso, nós deveríamos prestar atenção a isto
porque o Senhor sempre merece ser adorado. A oração é uma forma de adoração; então, sempre
104
continue rendendo a seu Criador, seu Provedor, seu Redentor, seu Pai, a homenagem de suas
orações. Como a um Rei não nos deixe afrouxar a homenagem. Devemos pagar-lhe
continuamente o devido louvor. Todos os pecados perdoados do passado, e os que
continua perdoando no presente e sendo longânimo e misericordioso para conosco fazendo-nos experimentar pelo perdão, a sua
paz, amor, bondade, alegria, cura de nossas enfermidades da alma e do corpo, já são por si
só suficiente motivo para louvarmos o seu santo nome diariamente, porque as suas
misericórdias são renovadas a nosso favor a cada despertar de um novo dia. Os inimigos do
Senhor o amaldiçoam; mas nós o adoraremos sem cessar. Além disso, irmãos, o espírito de
amor dentro de nós nos incita seguramente à comunhão com Deus, fazendo com que nos
aproximemos dele. Cristo é nosso marido. A noiva deve ser fiel aos votos do seu matrimônio
para permanecer na companhia do noivo. Deus é nosso Pai. Que tipo de filho não deseja subir no
colo de seu pai e receber um sorriso da sua face? Se você e eu podemos viver dia após dia e
semana após semana sem qualquer comunhão com Deus, como o amor de Deus permanecerá
em nós? "Orai sem cessar", porque o Senhor nunca deixa de amar, nunca deixa de abençoar,
e nunca deixa de nos considerar seus filhos. "Orai sem cessar", porque você deseja uma
bênção em todo o trabalho que você está
105
fazendo. Exclua o Senhor da construção da casa, e todo o trabalho naquela construção será em
vão. E em se tratando de negócios? Será inútil levantar de madrugada, repousar tarde, comer
o pão que penosamente foi ganho. Você é ensinado a dizer: “o pão nosso de cada dia dai-
nos hoje” - uma oração inspirada para coisas seculares. Oh, consagre seus assuntos seculares através da oração. E, se você estiver
comprometido no serviço de Deus, que trabalho poderá ter sucesso sem a bênção dele? Ensinar
o jovem, pregar o evangelho, instruir o ignorante, tudo isto não requer a bênção dele? O
que farão eles se esse favor for negado? Então, ore enquanto você trabalha.
Você sempre está em perigo de ser tentado; não
há qualquer posição na vida na qual você não possa ser assaltado pelo Inimigo. "Orai sem
cessar", então. Um homem que vai ao longo de uma estrada escura onde ele sabe que há inimigos lhe espreitando, deve ter sempre uma
espada com ele, para que os ladrões saibam que ele está pronto para eles.
Assim também o crente, orando sem cessar;
leva sua espada em sua mão, a mais poderosa arma de todas é a oração, da qual Bunyan fala.
Nunca embainhe a espada. Você não temerá qualquer inimigo se você orar sem cessar. Como
você é tentado sem cessar, assim também ore sem cessar.
106
Você sempre precisa orar, porque você sempre quer algo. Em nenhuma condição você é tão rico
que você não precise de algo de seu Deus. Não é possível você dizer, "eu tenho todas as coisas",
ou, se você puder, você só as tem em Cristo, e de Cristo você tem que continuar buscando-as.
Como você sempre está em necessidade, assim sempre implore no portão da misericórdia. Além disso, bênçãos sempre estão esperando
por você. Anjos estão prontos com favores que você não conhece, e você tem mais para pedir e
receber.
As bênçãos do céu estão esperando somente que você ore para recebê-las. O homem que sabe
que a sua agricultura é lucrativa, e que a terra dele produz abundantemente, estará alegre de
semear uma extensão mais ampla de terra no ano seguinte; e aquele que sabe que Deus
responde a oração, e ainda está pronto para respondê-la, abrirá a sua boca ainda mais amplamente para que Deus possa enchê-la.
Continuem orando, irmãos, porque até mesmo
se vocês não precisassem orar em seu próprio favor, há outros que estão morrendo, doentes,
pobres, ignorantes, ou apostatando, ou blasfemando. "Orai sem cessar", porque os
inimigos trabalham incessantemente, e o reino ainda não foi estabelecido em Sião. Você nunca
poderá dizer, "eu parei de orar, porque eu não tinha nada pelo que orar.".
107
E, agora, eu digo porque NÓS especialmente deveríamos orar, e isso fechará o sermão.
Amados amigos, esta igreja deveria orar sem cessar. Nós estivemos por anos orando. Se
alguma igreja tem orado, eu posso dizer que esta é a nossa igreja. Eu poderia achar muitas faltas
com respeito à oração em alguns, mas eu ainda posso dizer que na visão de Deus houve oração viva por muitos anos nesta igreja, e
consequentemente nós tivemos muitos anos de paz e prosperidade. Nós não tivemos falta de
nada porque nós não faltamos com a oração. Eu não duvido que nós poderíamos ter tido muito
mais se nós tivéssemos orado mais.
Agora, irmãos, suponham que vocês não tivessem nenhum pastor, suponham que o pastor tivesse deixado vocês, e isto não os levaria
a orar? Vocês não orarão então por mim enquanto eu viver? Se você oraria para que
outro viesse, você não orará por mim enquanto eu estiver aqui? Amados, vocês oraram muito
seriamente pelo seu pastor quando ele esteve doente, suas orações foram a sua consolação e a
sua restauração; e vocês têm orado agora para que ele possa pregar o evangelho com poder, e
que a saúde dele possa ser santificada ao serviço de Deus, e o ministério da verdade possa ser
poderoso em alcançar almas. Eu peço isto a vocês, eu penso que eu poderia reivindicar isto
de vocês. Eu peço a vocês, irmãos, orem por nós. Suponham ainda, queridos irmãos, não havia
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nenhuma conversão em nosso meio, vocês não orariam? E desde então tem havido muitas
conversões, e isso deveria ser uma razão para cessar a oração? Para cada oração elevada para
cima quando não havia nenhuma conversão, deveria haver agora dez quando Ele continua
operando a salvação entre nós.
Suponham que nós fomos divididos, e houve muitos cismas, e ciúmes, e brigas, e os fiéis não
orariam em amargura de espírito? Você não orará então quando não há nenhuma divisão, e
há muito amor cristão? Seguramente, eu digo novamente, você não tratará Deus pior porque
ele o trata melhor. Isso realmente é algo tolo.
Nós oraremos menos porque Deus tem dado
mais?
Orem então, sem cessar.
Igreja do Tabernáculo, guarda o que tens para que ninguém tome a tua coroa. Continua sendo uma igreja de oração, porque quando nós nos
levantarmos diante do Tribunal de Cristo, pastores e ovelhas, não possam ser acusados de
falta de oração, nem de fazerem a obra de Deus relaxadamente. Eu espero seriamente que tudo
isso tenderá a fazer com que o dia de oração amanhã seja mais sério e intenso; mas ainda
mais eu peço isso a toda hora que tudo de nós deve ser fervoroso, frequente, com prontidão, e
110
Pedir e Receber
“Cobiçais, e nada tendes; matais e invejais, e
nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis, e
não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.”( Tg 4.2,3).
O homem é uma criatura cheia de
necessidades, e sempre intranquilo, e por isso
seu coração está cheio de desejos. Não posso imaginar a um homem sequer, que não tenha
muitos desejos de uma ou de outra espécie. O homem é comparável com a anêmona marinha
com seus muitos tentáculos, que sempre estão caçando seu alimento da água; ou como certas
plantas trepadeiras que enviam pendentes, buscando meios para subir.
Este fato ocorre com os piores dos homens e com os melhores. Nos maus os desejos se
corrompem e chegam a converter-se em luxúria: anelam o que é egoísta, sensual e
consequentemente, mau. A corrente de seus desejos está posta firmemente numa direção
equivocada. Em muitos casos a luxúria se faz extremamente intensa: Faz do homem seu
escravo. Domina seu juízo; o estimula à violência: peleja e faz a guerra, talvez
literalmente, o mate. À vista de Deus, que considera a ira como homicídio, mata
111
frequentemente. Tal é a força de seus desejos que comumente são chamados paixões, e
quando estas paixões se excitam plenamente, então o homem mesmo luta veementemente,
de maneira que o reino do diabo sofre violência e os violentos o arrebatam pela força.
Entretanto, há também os desejos da graça no homem. Retirar do santos os seus desejos seria prejudicá-los grandemente, porque devido a
eles elevam seu baixo ser. Os desejos da graça nos homens são por coisas melhores: coisas
puras e pacíficas, louváveis e com elevados propósitos. Desejam a glória de Deus, e por isso
seus desejos brotam de motivos mais elevados que os que inflamam a mente não renovada.
Tais desejos nos crentes, frequentemente são muito ferventes e contundentes; sempre
deveria ser assim. E os desejos movidos pelo Espírito de Deus agitam a nova natureza,
excitando-a, e fazendo que o homem anele e entre em ansiedade até que possa alcançar
aquilo que Deus lhe tem ensinado que é digno de ser almejado. O desejo do mau e o santo
desejo dos justos têm seus próprios meios de buscar satisfação. Os desejos dos maus se
convertem em contenda, matam e desejam ter; pelejam e fazem guerra, todavia por outro lado
os desejos dos justos, corretamente guiados, tomam um curso muito melhor para atingir
seus propósitos, porque se expressam em oração fervente e insistente. O homem piedoso,
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quando está cheio de desejos pede a Deus e recebe da mão de Deus.
Nesta oportunidade, com a ajuda de Deus, tratarei de expor a partir de nosso texto,
primeiro, a pobreza de cobiçar, - “Cobiçais e nada tendes.” Em segundo lugar, com tristeza
mostrarei a pobreza de muitos crentes professantes nas coisas espirituais,
especialmente em sua qualidade de igreja; também desejam e não têm. Em terceiro lugar,
e para terminar, falaremos da riqueza com que serão recompensados os santos desejos se tão somente usarmos os meios corretos. Se pedimos, receberemos.
I. Primeiro, consideremos A POBREZA DE COBIÇAR - “Cobiçais e não tendes.”.
As cobiças carnais, sem importar quão fortes possam ser, em muitíssimos casos não obtêm o
que buscam: como diz o texto, “Cobiçais e não tendes.” O homem anela ser feliz, porém não é;
suspira por ser grande, porém se faz menor a cada dia. Aspira a conseguir isto e aquilo, que
pensa que o deixaria contente, porém segue insatisfeito. É como o mar agitado que não tem
repouso. De uma ou outra forma sua vida é uma desilusão. Se agita como se estivesse no fogo,
porém o resultado é vaidade e aflição de espírito. Como poderia ser de outro modo? Se semeamos
ventos? Não devemos colher tufões e nada mais? 0u, ainda que os fortes desejos de um
113
homem ativo, talentoso e perseverante lhe deem o que busca, logo o perde. O que, de certo
modo é o mesmo que não ter. A busca é trabalho porém a posse é uma ilusão. Ganha para perder;
edifica e seu fundamento arenoso se desfaz e sua torre desmorona em ruínas. O que tem
conquistado reinos morre descontente em uma solitária em meio ao oceano; e o que tem revivido um império cai para não mais se
levantar. Assim como a aboboreira de Jonas murchou numa noite, há impérios que têm
caído repentinamente, e seus senhores têm morrido no exílio. Assim, o que os homens
obtêm por meio de guerras e pelejas é uma propriedade com um contrato por breve tempo.
A conquista é tão temporária, que segue sendo correto que “cobiçam e não têm”.
0u se há homens com dons e poder suficientes para reter o que têm obtido, todavia, noutro
sentido não têm, porque o prazer que esperavam encontrar nele não está ali. Tiram a
maçã da árvore, e se transforma numa das maças do Mar Morto, que se desfaz na mão. O
homem é rico, porém Deus afasta dele o poder de desfrutar sua riqueza. Por suas cobiças e
batalhas o homem licencioso obtém o objeto de seus desejos, e depois de um momento de
deleite, sente aversão pelo que tão apaixonadamente havia cobiçado. Aspira ao
prazer tentador, o agarra, e o faz em pedacinhos devido à ânsia com que o agarrou.
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Sua pobreza se apresenta de três maneiras. “Matais e invejais e nada podeis obter”. “Não
tendes o que desejais porque não pedis.”. “Pedis e não recebeis, porque pedis mal.”.
Se os que cobiçam fracassam, não é porque não se põem a trabalhar para alcançar seus
objetivos. Porque de acordo com sua natureza, utilizaram os meios mais práticos ao seu
alcance, e os usaram amplamente. Segundo a mente carnal o único modo de obter uma coisa
é lutar por ela, e Tiago deixou isto escrito como a razão de todas as lutas. De onde procedem as
guerras e contendas que há entre vós? Não é das paixões que militam em vossa carne?”
Esta é a forma de esforço do que lemos: “combateis e lutais, porém não tendes.”. Neste
modo de agir se aferram os homens de época em época. Se alguém deseja progredir neste
mundo, dizem que deve lutar com seu próximo, e tirá-los do lugar vantajoso em que se
encontram. Não deve dar importância ao fato de como os demais têm prosperado, senão que
deve preocupá-lo a oportunidade que a ele se apresenta, e cuidar em aparecer, não importa
quantos devam ser pisados no processo. Não pode esperar progresso se ama ao próximo
como a si mesmo. Lhes parece que sou satírico? Pode ser, porém tenho ouvido este modo de
falar da parte de pessoas que o diziam de forma séria. Assim que eles empreendem a luta, e essa
115
luta é sempre vitoriosa, porque segundo o texto “Matais,” é dizer, combatem de tal maneira que
derrotam seu adversário e acabam com ele.
Multidões de homens estão vivendo para si mesmos, combatendo aqui e lutando acolá, fazendo a guerra com suas próprias mãos com a
máxima perseverança.. Não selecionam a forma de fazê-lo. Não permitem que a consciência
interfira em suas transações, porém soa em seus ouvidos, o antigo conselho: “Ganha
dinheiro; ganha-o honestamente, se podes, porém por todos os meios, ganha dinheiro.”.
Não importa que se arruínem corpo e alma, e que outros sejam liquidados pela miséria,
combate, porque nesta guerra não há trégua. Bem disse Tiago: “Matais e invejais, e não podeis
alcançar; combateis e lutais, porém não tendes.”.
Quando os homens se entregam a seus propósitos egoístas e não logram êxito,
poderiam possivelmente ouvir que a razão de sua falta de êxito é “porque não pedis.” Então,
deve alcançar o êxito pedindo? Isso é o que parece insinuar o texto, e isso é o que entende o
justo. Por que este homem de desejos intensos não pede? A razão é, em primeiro lugar, que é
contrário à natureza do homem natural que ore. É como esperar que voe. Sente desprezo pela
ideia de suplicar. “Orar?” pergunta. “Não, eu quero trabalhar. Não posso desperdiçar meu
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tempo em devoções; a oração não é prática; quero lutar à minha maneira. Enquanto tu oras,
eu derrotarei o meu adversário. Eu vou ao meu serviço e te deixo com tua Bíblia e orações.”. Não
tem intenção de suplicar a Deus. É tão orgulhoso que se considera a si mesmo como sua própria
providência. sua própria destra e seu braço forte o conduziram à vitória. Quando se gaba de sua muita liberalidade em suas opiniões reconhece
que ainda que não ore, poderia haver algo de bom na oração, porque tranquiliza a mente da
gente, e lhe faz sentir-se bem, porém rechaça a ideia de que alguma resposta possa vir para a
oração, e fala filosófica e teologicamente do absurdo que é pensar que Deus altere o curso de
sua conduta ou responda às orações de homens e mulheres. “Ridículo,” diz, “completamente
ridículo”; e então, em sua grande sabedoria, volta à luta e à sua guerra, porque por tais meios
espera atingir seus objetivos. Porém não alcança. Toda a história da humanidade mostra
o fracasso da cobiça para obter seu objetivo.
Por um momento o homem carnal segue sendo
o mesmo, porém se não pode alcançá-lo de um modo, tentá-lo-á de outro. Se tiver que pedir,
pedirá; se fará religioso, e este será o método pelo qual alcançará seu objetivo. Descobre que
alguns religiosos prosperam no mundo, e que inclusive os crentes sinceros estão longe de
serem néscios nos negócios, e portanto provará o esquema deles. E então fica sob a terceira
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censura do nosso texto: «Pedis e não recebeis.» Qual é a razão do homem que é escravo de sua
cobiça não obter o que deseja, apesar de começar a pedir? A razão é que seu pedir é um
puro formalismo; seu coração não está em sua adoração. Compra um livro que contém o que se
denomina fórmulas de oração, e as repete, porque repetir é mais fácil que orar, e não requer que se pense.
Não tenho objeções contra o uso de um
formulário de oração se com ele tu oras de fato; porém sei que a grande maioria não ora com
eles, senão somente repetem a fórmula. Muitos homens espirituais usam um formulário,
porém os homens carnais seguramente o fazem porque sempre caem no formalismo. (É
necessário ter muito cuidado para que não tenhamos também uma espécie de formulário
verbal, onde a congregação é estimulada simplesmente a repetir as palavras que lhe são proferidas pelo dirigente do culto, pois é bem
possível que na maioria das vezes, não se esteja de fato orando na presença de Deus – nota do
tradutor).
Se teus desejos são anelos da natureza caída, se teus desejos começam e terminam no teu
próprio eu, e se a finalidade principal pela qual vives não é a de glorificar a Deus, senão
glorificar a ti mesmo, então poderás lutar, porém não terás; poderás levantar-te cedo e
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deitar-te tarde porém não obterás de Deus nenhuma coisa que valha a pena. Lembra o que
o Senhor diz no Salmo trinta e sete: “Deixa a ira, abandona o furor; não te impacientes;
certamente isso acabará mal. Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que
esperam no Senhor possuirão a terra. Mais um pouco de tempo e já não existirá o ímpio; procurarás o seu lugar, e não o acharás. Mas os
mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.”.
II. Em segundo lugar, COMO AS IGREJAS CRISTÃS PODEM SOFRER DE POBREZA
ESPIRITUAL, de modo que elas também “cobiçam e não podem alcançar.”
Supostamente, o crente busca coisas mais elevadas do que as coisas mundanas, de outro
modo, não seria digno de ser chamado assim. Pelo menos, professadamente, seu objetivo é
alcançar as verdadeiras riquezas, e glorificar a Deus em espírito e em verdade. Se, porém
olharem, queridos irmãos, nem todas as igrejas alcançam o que almejam. Teremos que queixar-
nos não em um ou outro lugar, mas em muitos lugares, de igrejas que estão quase
adormecidas, e declinam gradualmente. O culto público está quase deserto em algumas partes, o
pastor não tem poder de reunir gente, e os que entram pela aparência, ou estão descontentes
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ou indiferentes. Em tais igrejas não há conversões. Qual é a razão disto?
Em primeiro lugar, ainda entre os que professam ser crentes, pode haver a busca de
coisas desejáveis por métodos errôneos. “Combateis e lutais, porém não tendes.”. Não há
igrejas que têm pensado prosperar competindo com outras? “Em tal e tal lugar de adoração tem
um homem muito esperto. Temos que conseguir um assim também para nós.”. De fato
deveria ser mais astuto que o herói de nossos vizinhos. Esta é a coisa: um homem esperto! Ai
de mim! Que temos que viver em uma era em que falamos de ter um homem esperto que
pregue o evangelho de Jesus Cristo! Ai, como se pode pensar que este santo serviço depende da
astúcia humana!
As igrejas têm competido entre si em arquitetura, em música, em equipamento e em estado social. Em alguns casos há uma medida
de amargura em rivalidade. As mentes estreitas não permitem achar agradável ver que outras
igrejas prosperem mais do que a sua própria. Podem ser mais ferventes que nós, e podem
estar fazendo melhor que nós na obra de Deus, porém somos dados a contemplá-los com
inveja, e mais ainda, queríamos que eles não fossem tão bem. “Pensais que a Escritura diz em
vão: O Espírito que ele tem feito habitar em nós não anela zelosamente?”. Sim poderíamos ver
120
um escândalo neles, de modo que sofreram uma queda e caíram eclesiasticamente mortos,
não nos regozijaríamos. Por certo que não, porém não nos daria uma tristeza mortal. Em
algumas igrejas há permanentemente um espírito ruim. Não tenho uma acusação
denegridora para apresentar, e portanto não direi mais do que isto: Deus nunca bendirá tais meios nem tal espírito; os que se deixam levar
por isto desejaram ter, porém nunca alcançaram.
Ao mesmo tempo, qual é a razão pela qual não
têm uma bênção? O texto diz: “Porque não pedis,”, temo que haja igrejas que não pedem.
Descuida-se da oração em todas as suas formas. Permite-se que termine a oração particular.
Deixo à consciência de cada pessoa até que ponto têm se preocupado com a oração secreta,
e quanta comunhão com Deus há em secreto entre os membros da igreja. Certamente sua existência saudável é vital para a prosperidade
da igreja. A oração familiar é mais fácil de julgar, porque podemos vê-la. Temo que nestes dias
muitos têm abandonado a oração familiar. Rogo-lhes que não os imitem.
Quisera que todos fôssemos do mesmo
pensamento do trabalhador escocês que obteve um emprego na casa de um rico agricultor
famoso porque pagava bem. Todos seus amigos o invejavam porque estava a seu serviço. Pouco
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tempo depois retornou à sua terra natal e quando lhe perguntaram por que havia deixado
seu trabalho, respondeu que “não podia viver em uma casa que não tinha teto.”. Uma casa sem
oração é uma casa que não tem teto. Não podemos esperar bênçãos em nossas igrejas se
não a temos em nossas famílias.
Quanto à oração congregacional, não está decaindo em reunir-se no que chamam de
cultos de oração? Em muitos casos a reunião de oração é desprezada, e considerada como uma
espécie de reunião de segunda categoria. Há membros da igreja que nunca estão presentes, e
não lhes toca a consciência pelo fato de se manterem afastados. Algumas congregações
mesclam a oração com uma reunião de estudo, de modo que têm um só serviço durante a
semana. Há alguns dias li uma desculpa para isto: diz-se que as pessoas estão melhor em casa
atendendo às ocupações familiares. São palavras infundadas, porque, quem entre nós
deseja que as pessoas descuidem de seus deveres domésticos? Se descobrirá que os que
melhor atendem às suas ocupações rotineiras, que são diligentes em pô-las em ordem, são os
que se esforçam para participar das reuniões de adoração. O descuido da casa de Deus, com
frequência é um indicador da negligência de suas próprias casas. Não trazem seus filhos a
Cristo, disto estou convencido, de outro modo os trariam aos serviços. De toda forma, as
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orações da igreja medem sua prosperidade. Se retemos a oração retemos a bênção. Nosso
verdadeiro êxito como igreja só se pode obter pedindo-o a Deus. Não estamos dispostos a fazer
uma reforma quanto a isto? Oh, que chegue a hora da angústia de Sião, quando uma agonia
em oração mova todo o corpo dos fiéis!
Porém alguns respondem: “Há reuniões de
oração, e pedimos bênçãos, no entanto não chegam.”. Não se encontra a explicação em
outra parte do texto: “Não recebeis porque pedis mal.”.
Quando as reuniões de oração se convertem em uma pura formalidade, quando os irmãos se
levantam e esgotam o tempo com suas largas orações, em vez de falar a Deus com palavras
sinceras e ardentes, quando não há expectação de uma bênção, quando a oração é fria e
congelante, então nada sai dela. O que ora sem fervor, na realidade não tem orado. Não
podemos ter comunhão com Deus, que é fogo consumidor, se não há fogo em nossas orações.
Muitas orações não chegam a seu destino porque não há fé nelas. As orações que estão
cheias de dúvidas, são petições de recusa. Imagine que você escreve a um amigo e lhe diz:
“Querido amigo. Estou em graves problemas, e portanto te escrevo para pedir-te ajuda porque
me parece bom fazê-lo. Porém ainda que te esteja escrevendo, não creio que vais ajudar-me
123
em algo. Por certo, me surpreenderia muito receber tua ajuda, e falaria disto como uma
grande maravilha.”.
Pensas que receberás ajuda? Eu diria que seu amigo teria suficiente sensibilidade para observar a pouca confiança que deposita nele.
Então responderia que, como não esperas nada, não te provocarei uma surpresa.
Tua opinião de sua generosidade é tão baixa que não se sente chamado a sair de sua rotina por
tua causa. Quando as orações são deste tipo, não cabe surpreender-se se “não recebeis, porque
pedis mal.”. Ademais, se nossas orações, por ferventes e confiantes que sejam são um
simples pedir de prosperidade para nossa igreja porque queremos gloriarmo-nos nisto, se
queremos ver que nossa denominação cresça em grande número e melhore em
respeitabilidade, para poder participar das honrarias, então nossos desejos não passam de
meras cobiças. Pode ser possível que os filhos de Deus manifestem as mesmas emulações, zelos e
ambições dos homens do mundo? Pode ser a obra religiosa uma questão de rivalidades e de
competição? Ah, então as orações que buscam êxito não terão aceitação diante do trono da
graça. Deus não nos ouvirá, senão que nos despedirá, porque não se importará em
responder as petições, das quais Ele não é o objeto: “Não tendes, porque pedis mal.”.
124
III. Em terceiro lugar, A RIQUEZA QUE ESPERA O USO DOS MEIOS ADEQUADOS, a saber, de
pedir de forma correta a Deus.
Convido-os a colocarem toda a atenção neste assunto porque é de vital importância. Minha primeira observação é esta: depois de tudo, quão
pequena é esta demanda que Deus nos faz. Pedi! É o mínimo que pode esperar de nós,
possivelmente, e não é mais do que nós geralmente exigimos de quem necessita da
nossa ajuda. Esperamos que um pobre peça, e se não o faz, não lhe tiramos a culpa da sua
carência. Se Deus dá ao que pede, e nós seguimos em pobreza, de quem é a culpa? Não é
a culpa mais grave? Não dá a impressão que estivéramos fora de ordem com Deus, de modo
que nem sequer condescendemos em pedir-lhe um favor? Certamente deve existir em nossos
corações uma inimizade secreta com Ele, ou de outro modo em vez de ser uma necessidade indesejável seria considerado um grande
prazer.
Entretanto, irmãos, agrade-nos ou não, lembremos: pedir é a regra do reino, “Pedi e
recebereis.”. É uma regra que nunca será alterada por nenhum motivo. Nosso Senhor
Jesus Cristo é o irmão mais velho da família, porém Deus não afrouxou a regra para Ele.
Lembra deste texto: “Jeová diz a seu Filho: Pede-me e te darei as nações por herança.”. Se o Filho
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de Deus, real e divino não pode ser excetuado da regra de pedir, como nós seríamos isentados
dela? Deus bendirá Elias e enviará chuva a Israel, porém Elias deve orar por ela. Se a nação
eleita tem de prosperar, Samuel deve suplicar a respeito. Se os judeus têm de ser livrados, Daniel
deve interceder. Deus ungirá Paulo, as nações serão convertidas por seu intermédio, porém Paulo deve orar. Orou sem cessar. suas epístolas
mostram que nada esperava sem ter pedido a Deus em oração.
Além disso, é claro, ainda ao pensador mais superficial, que há algumas coisas necessárias
para a igreja de Deus que não podemos obter de outro modo que não seja pela oração. Podeis ter
o homem astuto de que lhes falei; e a nova igreja, o novo órgão, e até o coro podereis obter sem
oração. Porém não podereis obter a unção celestial: o dom de Deus não se pode comprar
com dinheiro. Alguns membros de uma igreja em uma primitiva aldeia da América pensavam
que poderiam levantar uma congregação colocando um muito formoso jogo de luzes na
casa de reuniões. O povo falava do jogo de luzes, e alguns iam vê-la, porém a luz logo começou a
diminuir. Tu podes comprar toda sorte de pintura, e todo tipo de música – tudo isto sem
oração, em realidade, seria uma impertinência orar por tais coisas, porém não podes ter o
Espírito Santo sem oração. “Ele sopra onde quer”. Não se achegará por nenhum processo
126
ou método controlado por nós, senão pelo pedir. Não há meios mecânicos que possam substituir
sua ausência. A oração é a grande porta das bênçãos espirituais, e se a desprezais, jogais fora
o favor.
Irmãos amados, não acham que este pedir que Deus requer é um privilégio muito grande? Suponhamos que se tem publicado um édito
segundo o qual não podes orar. Por certo seria uma dificuldade.
Se a oração interrompesse o fluxo da bênção em vez de aumentá-lo, seria uma triste calamidade.
Tens visto a um mudo sob uma forte excitação, ou sofrendo uma grande dor, e devido ao seu
desejo de falar? É um espetáculo terrível. O rosto fica desfigurado, o corpo se agita de forma atroz.
O mudo se retorce e sofre com espantosa angústia; cada membro se contorce com o
desejo de ajudar a língua, porém não pode romper suas ligaduras. Sons cavernosos saem
de seu peito, e sussurros ineficazes. Suponhamos que nossa natureza espiritual
estivesse cheia de desejos intensos, e entretanto estivesse muda quanto à expressão em oração.
Penso que isto seria uma das aflições mais espantosas que poderia nos sobrevir.
Estaríamos terrivelmente lesionados e nossa agonia seria angustiante. Bendito seja seu
nome! O Senhor estabelece uma forma de expressão e pede ao nosso coração que fale.
127
Amados, devemos orar. Parece-me que deveria ser a primeiríssima coisa por fazer quando
estamos em necessidade. Se os homens estivessem em boa relação com Deus e o
amassem de verdade, orariam de forma tão natural como respiram. É minha esperança que
alguns de nós estejamos em uma boa relação com Deus e não tenhamos que ser arrastados à oração, porque em nós ela tem chegado a ser um
instinto natural.
Recentemente, um amigo me contou a estória de um menino alemão, estória que o seu pastor gosta de narrar. O menino amado, cria em seu
Deus, e se deleitava na oração. seu mestre estava exigindo aos estudantes que chegassem à escola
na hora prevista para o início das aulas, e este menino estava cumprindo a exigência. Porém
seu pai e mãe eram pessoas fleumáticas, e uma manhã, somente por falta deles, o menino saiu
de casa no momento em que o relógio marcou a hora do início da classe. Um amigo que estava
próximo do menino o ouviu clamar: “Querido Deus, concede-me que possa chegar a tempo na
escola.”. A pessoa que o ouviu pensou que daquela vez a oração não poderia ser
respondida, porque já havia chegado a hora, e ainda havia uma grande distância a percorrer.
Teria curiosidade por saber o resultado. Agora, bem nesta manhã aconteceu que o professor, ao
abrir a porta da escola, deu uma volta ao contrário na chave, e não pôde mover a tranca,
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vendo-se na necessidade de chamar um chaveiro para abrir a porta. Houve uma
dilatação no tempo, e quando a porta foi aberta, nosso pequenino amigo entrou com o restante
da turma, a tempo. Deus tem muitas formas de atender nossos desejos. Foi muito natural que
um menino que realmente ama a Deus falasse com Ele, de seu problema em vez de por-se a chorar e a fazer pirraça. Não deveria ser natural
que tu e eu, espontânea e imediatamente apresentássemos ao Senhor o nosso primeiro
recurso?
Ai! segundo a Escritura e pela observação, dói-me concordar, segundo a experiência, a oração com frequência é a última coisa. Olhe o homem
enfermo do Salmo cento e sete. Os amigos lhe trazem diversos alimentos, porém sua alma
aborrece todo tipo de comida. Os médicos fazem o que podem para sarar-lhe, porém adoece mais
e mais, e chega próximo das portas da morte: “Clamaram a Jeová em sua angústia.”. O que
devia ser o primeiro fizeram no final. “Chamem ao doutor. Preparem-lhe alimentos. Envolvam-
no em faixas.”. Tudo está muito bem, porém, haveis orado a Deus? Deus será invocado
quando a situação se fizer desesperante. Olhe os marinheiros descritos no mesmo Salmo. O
barco está a ponto de naufragar. “Sobem até o céu, descem aos abismos; suas almas se
derretem com o mal.”. Todavia fazem tudo o que podem para escapar da tormenta; porém
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quando “andaram e cambalearam como ébrios, e perderam todo tino. Então, na sua angústia,
clamaram ao Senhor, e ele os livrou das suas tribulações.”. Oh, sim! Buscam a Deus quando se
veem próximos a perecer. E que misericórdia é que Ele escute orações tão tardias, e libere os
suplicantes de suas angústias! Porém, deveria ser assim contigo, comigo e com todas as igrejas em decadência dizer: “Oremos dia e noite até
que o Senhor venha a nós. Reunamo-nos unânimes em um lugar, e não nos separemos
até que desça sobre nós a bênção”.
Os irmãos sabem quantas grandes coisas poderiam obter somente pedindo? Todos os
céus estão ao alcance do homem que pede. Todas as promessas de Deus são ricas e
inesgotáveis, e seu cumprimento pode ser alcançado pela oração.
Jesus disse: “Todas as coisas me foram entregues por meu Pai,” e Paulo disse: “Tudo é
vosso, e vós de Cristo.”. Quem não poderia orar quando todas as coisas nos têm sido entregues
dessa maneira? Sim, e promessas que em princípio foram feitas a indivíduos especiais, são
todas feitas para nós também, se sabemos como pedi-las em oração. Israel cruzou o Mar
Vermelho faz muitos anos; entretanto, lemos no Salmo sessenta e seis: “Ali nos alegramos nele.”.
Somente Jacó estava presente em Peniel, entretanto, Oseias disse: “Ali falou conosco.”.
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O autor de Hebreus quer dar-nos uma grande promessa para os tempos de necessidade, e cita
do Antigo Testamento: “Porque ele disse: Não te desampararei, nem te deixarei.”. De onde ele
tirou isso? É da segurança que o Senhor deu a Josué: “Não te deixarei, nem te desampararei.”.
É certo que a promessa era para Josué somente? Não. É também para nós, e por isso é reafirmada pelo Espírito Santo através do autor de Hebreus.
“Nenhuma Escritura é de interpretação particular.”. Toda Escritura é nossa. Olhe como
Deus aparece a Salomão de noite e lhe diz: “Pede o que queres que eu te dê.”. Salomão pediu
sabedoria. “Oh, esse é Salomão,” dizes tu. Ouve: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça a
Deus.”. Deus deu a Salomão riqueza e fama dentro do trato. Não é peculiar a Salomão? Não,
porque da verdadeira sabedoria se diz: “Longevidade de dias estão em sua mão direita,
em sua esquerda, riquezas e honra”; e isto não difere muito das palavras de nosso Salvador:
“Busca primeiro o reino de Deus e sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas.”.
Assim, podeis ver que as promessas do Senhor têm muitos cumprimentos e seguem esperando
para derramar seus tesouros no regaço da oração. Isto não conduz a oração a um elevado
nível, quando Deus está disposto a repetir em nós as biografias de seus santos, quando espera
mostrar sua graça e encher-nos com seus benefícios? Devemos mencionar outra verdade
que deve fazer-nos orar, e é esta, que se
131
pedimos, Deus nos dará muito mais do que pedimos. Abraão pediu a Deus que Ismael fosse
preservado em vida. Pensava “seguramente ele é a semente prometida: não posso esperar que
Sara possa gerar um filho em sua velhice. Deus me tem prometido uma semente, e
seguramente é este filho de Hagar. Oxalá Ismael possa viver diante de ti.”. Deus lhe concedeu isto, porém também lhe deu a Isaque, e todas as
bênçãos do pacto. Lá está Jacó, ajoelhado a orar, e pede ao Senhor que lhe dê “pão para comer e
vestido para vestir.”. Porém, que lhe deu Deus? Quando voltou a Betel, teria dois
acampamentos, milhares de ovelhas e camelos, e muita riqueza. Deus lhe havia ouvido e havia
feito muito mais abundantemente acima de tudo que havia sido pedido. De Davi se diz: “vida
te pediu e lhe deste longevidade de dias,”. Sim, não somente lhe deu longevidade mas também
um trono para seus filhos para todas as gerações, até que Davi se sentou diante de Jeová,
abençoado pela bondade de Deus.
“Bom,” dizes, “porém, vale isso para as orações
do Novo Testamento?”. Sim, assim ocorre com os que oram no Novo Testamento, sejam santos
ou pecadores. Trazem um homem paralítico a Cristo, e lhe pedem que o sare, e ele diz: “Filho,
teus pecados te são perdoados.”. Ele não havia pedido isso, verdade? Não, porém Deus dá
coisas maiores que as que pedimos. Escuta a humilde oração daquele pobre ladrão
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moribundo, “Senhor, recorda-te de mim quando vieres em teu reino.”. Jesus lhe
respondeu: “Hoje estarás comigo no paraíso.”. Não sonhava com tal honra. Ainda a história do
pródigo nos ensina isto. Ele havia resolvido dizer: “Não sou digno de ser chamado teu filho,
faz-me como a um de teus jornaleiros.”. Qual foi a resposta? “Este meu filho estava morto, e reviveu, estava perdido e foi achado. Trazei
depressa a melhor roupa; vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés; trazei também
e matai o novilho cevado. Comamos e regozijemo-nos.”. Uma vez que tiveres entrado
na posição de um que pede, terás o que não tens pedido e que nunca pensaste receber. Nós
poderíamos pedir, somente para sermos mais santos e ter mais fé, coisas das maiores, porém
Deus está disposto a dar-nos infinitamente mais do que pedimos.
Creio que neste momento a igreja de Deus poderia ter bênçãos inconcebíveis se somente
estivesse disposta a orar agora. Tens notado alguma vez o maravilhoso quadro do capítulo
oitavo de Apocalipse? É digno de ser considerado com muito cuidado. Não intentarei
explicá-lo em suas conexões, senão que vou sinalizar o quadro tal como se apresenta:
“Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora.”. Silêncio no
céu: não havia hinos! Não havia aleluias, nem anjos que movessem uma asa! Silêncio no céu!
133
Podem imaginá-lo! E olhem! Sete anjos de pé diante de Deus, aos quais são entregues sete
trombetas. Ali esperam com as trombetas nas mãos, porém não há sonidos. Nenhuma nota de
alegria ou de advertência durante um intervalo que foi suficientemente longo para provocar
vivas emoções, porém suficientemente breve para evitar a impaciência. Um silêncio ininterrupto, profundo e terrível, reinava no
céu. A ação foi suspensa no céu, o centro de toda atividade. “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao
altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações
de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono.”. Ali parou, porém tudo
está quieto e em silêncio. Que será que o porá em movimento? O incenso e as orações dos
santos, sobre o altar de ouro que estava diante do trono. A oração é apresentada com o mérito
do Senhor Jesus.
Agora, veja o que aconteceu. “E da mão do anjo, subiu à presença de Deus o fumo do incenso com as orações dos santos.”. Essa é a chave de
todo o assunto. Agora o anjo começa sua tarefa. Toma o incensário, enche-o com o fogo do altar,
e o lança à terra, “e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto.”. “E os sete anjos que
tinham as sete trombetas prepararam-se para tocar.”. Agora tudo começa a se mover. Tão
pronto como as orações dos santos foram mescladas com o incenso do mérito eterno de
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Cristo, e a fumaça começou a subir desde o altar, então as orações se fizeram eficazes. Caíram as
brasas vivas entre os filhos dos homens, enquanto os anjos da divina providência, que
ainda estavam quietos fizeram soar suas trombetas e cumpriram a vontade do Senhor.
Tal cena no céu, é em certa medida, ainda até ao dia de hoje. Traz até aqui o incenso. Traz até aqui as orações dos santos. Acende o fogo com os
méritos de Cristo, e sobre o altar de ouro deixa que queimem diante do Altíssimo. Então
veremos o Senhor em ação e sua vontade será feita na terra como no céu. Deus envie a sua
bênção com estas palavras, por amor de Cristo. Amém.
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“Sede perseverantes na oração” (Rm 12.12)
Isto é colocado em relação a um grande
número de preceitos muito pesados. A oração
tem uma relação distinta com todos os deveres cristãos e graças. Não é possível nós levarmos a
cabo os santos mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo a menos que nós sejamos
abundantes em súplica. Os romanos, na ocasião em que Paulo lhes escreveu estavam sujeitos à
perseguição, e neste verso ele menciona dois remédios para a impaciência debaixo de tais
aflições, remédios que são igualmente eficazes debaixo de todas as tentações da vida. O apóstolo
Paulo nos dá o primeiro antídoto: "regozijar-se na esperança", e então ele nos dá o segundo
antídoto: "ser paciente na tribulação". Qualquer um destes, ou ambos juntos, trabalharão
maravilhosamente para sustentar o espírito na hora da aflição; mas será observado, que
nenhum destes remédios pode ser aplicado à alma salvo se eles estiverem misturados com a
oração. A alegria e a paciência são essências curativas, mas elas devem ser derramadas em
um copo cheio de súplica, e então elas serão maravilhosamente eficientes. Como nós
poderemos nos "alegrar na esperança" se nós não soubermos nada sobre orar ao Deus de
esperança. Sempre que sua esperança parece fracassar e sua alegria começa a entristecer, o
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método mais curto é dobrar os seus joelhos. Pela oração a promessa da esperança será
sustentada, e então a alegria vai saltar disto, porque a alegria é o filho primogênito da
esperança. O mesmo vale para a "paciência", porque como nós poderemos ser pacientes se
nós não podemos orar?
Os santos antigos sempre se sustentaram nos
seus dias difíceis de aflição e depressão recorrendo à oração. A impaciência irá seguir a
falta de oração. Eu gosto daquele bonito, entretanto triste, quadro do mártir de Norwich,
Hudson, de quem Fox nos fala que, quando ele foi levantado preso à estaca para ser queimado,
ele foi envolto numa nuvem. O Senhor tinha retirado a luz do seu rosto, e então este homem
de Deus saiu de suas cadeias para ter alguns minutos somente com o Senhor. Alguns
pensaram que ele estava a ponto de se retratar, e os mártires da mesma categoria dele
começaram a exortá-lo a ser firme, mas este querido crente sabia quem ele era, e quando ele
tinha falado com o seu Senhor ele voltou à estaca com um semblante luminoso e radiante,
enquanto dizia: "Agora, eu agradeço a Deus, porque eu sou forte, e não temo o que possa me
fazer o homem", e se levantou no seu lugar com os sofredores que tiveram a mesma sorte que
ele e foi queimado rapidamente à morte sem qualquer temor. Oh o poder da oração! Se nós
soubermos manter contato com o Eterno e Onipotente, nós seremos joviais e pacientes em
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todas as tribulações, e corajosamente suportaremos até mesmo o extremo da morte
aguda.
A oração será exercitada em todas as coisas, porque de sua posição no contexto presente nós somos ensinados que sem oração nós não
podemos "atender às necessidades dos santos.". Porque é orando por eles que nós ficamos
preparados para ajudá-los com ações de amor. Se nós não fomos acostumados a orar pelos
irmãos, nós não seremos dados à hospitalidade; e muito menos poderemos "abençoar os que nos
perseguem.”. A oração é a vida e sangue do dever, a seiva secreta da santidade, a fonte da
obediência.
“Na oração perseverantes”. No original grego o sentido de nosso texto é: "aplicar sempre força na oração", ou “continuar com todo seu poder
em oração.”. Nossa oração deve estar cheia de força; "abençoado é o homem cuja força está em
ti.". Um cachorro de caça quando está em perseguição de sua vítima trabalha em
movimento pleno, enquanto usa todo membro e músculo para seguir tão rápido quanto possível.
Se você pega isto num olhar rápido você verá que se lança adiante com intensa ânsia, o corpo
inteiro e alma do cachorro está em movimento para um objeto; nenhuma porção dele está
envolvido em qualquer outra coisa a não ser no seu objetivo, a criatura inteira busca de forma
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pronta e imediata o que procura, urgentemente, com pés ligeiros, como costumamos dizer, para
colher a presa. Agora, este é o modo com que nós devemos orar. A oração como uma mera
forma, isto é, formal, e de maneira desfalecida e indiferente pode ser mais um escárnio que
desonra a Deus do que qualquer honra para ele; nós mesmos podemos ser muito prejudicados através da oração morna, do que beneficiados
por isto. A oração prevalecente é frequentemente descrita na Bíblia como uma
agonia: "esforçando-se juntamente comigo em suas orações.". Nós frequentemente falamos
disto como "lutando", e nós fazemos bem, porque é assim. Como um homem luta com toda
sua mente como também todo o seu corpo, ocupando-se com o desejo de vencer o seu
antagonista.
Da mesma forma deve ser a oração, com toda a sua mente, sua memória, seu julgamento, seu afeto, suas esperanças, seus temores, e até
mesmo sua imaginação devem estar concentrados nesta luta de oração. Possa o
trabalho de Espírito Santo em você produzir este ardor interior, esta energia do homem inteiro.
Nós temos que ir com nossa alma inteira a Deus ou Ele não nos aceitará. Estará indiferente a nós
se nós formos indiferentes, porque isto está escrito: “o coração deles está dividido”. “o
homem de coração dobre não obterá nada do Senhor”. O reino dos céus é tomado pela força.
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Nós somos exortados a "bater", e temos para exemplo do que devemos ser, aquele que
despertou seu amigo à meia-noite. Nós somos exortados a ser inoportunos, como a viúva com
o juiz injusto. Nós devemos orar como se tudo dependesse de nossa oração. Nós devemos ser
tão inoportunos como que se Deus estivesse pouco disposto, e alegar tão seriamente como se ele ainda não soubesse das coisas que nós temos
necessidade.
A seriedade deve estar presente em todas as nossas orações ou elas voltarão a nós sem
resposta: isto é bastante razoável. Será esperado que Deus dê a nós aquilo a que não damos o
devido valor? Se nós não avaliarmos a bênção suficientemente para estarmos
verdadeiramente ansiosos e desejosos em buscá-la, não é certo que Ele deveria retê-la até
que nós estejamos com uma mente melhor? E nós podemos adorar a Deus com uma reverência dividida? Nós podemos esperar que
ele receba o nosso sacrifício se nós não pusermos nenhum fogo debaixo dele? Se nós
não tivermos nenhuma seriedade impetuosa de espírito, nós podemos esperar que sejamos
aceitos?
Ele detesta o morno, e isto o torna contrário às nossas orações. Veja como nós lidamos com
nossos membros da raça humana; se eles nos pedem um favor e nós vemos que eles se
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preocupam muito pouco com o que estão pedindo, nós não temos nenhuma pressa em
atendê-los. E se observamos que a necessidade é apenas uma expressão verbal de um desejo que
não está no coração, neste caso nem os atendemos, porque na verdade não desejam o
que está pedindo com a boca.
Mas, se forem muito insistentes e sinceros no
que pedem, nós atendemos às suas solicitações; e é do mesmo modo que Deus se rende aos
pedidos sinceros de misericórdia do seu povo. A mãe poderá continuar nos seus afazeres
domésticos se o seu bebê está chorando intermitentemente, e baixinho, mas se este
choro se torna intenso e forte, ela para imediatamente o que está fazendo para atendê-
lo. Filhos de Deus, vocês têm que chorar poderosamente diante de Deus, e derramar
seus corações em lágrimas diante dele, e então ele terá consideração com a voz do seu clamor, e agirá com você de acordo com a intensidade
do seu desejo. A insistência na oração é necessária; e nós devemos ser ferventes e
ardentes, ou nós não prevaleceremos.
A falta de intensidade e fervor pode denunciar que apesar de reconhecermos as nossas
necessidades, sejam quais forem, sentimentais, financeiras, espirituais, etc, não lhes damos a
devida atenção e valor. Podemos estar amargurados por elas e acostumados à nossa
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amargura, mas não dispostos o suficiente para vencê-la. Podemos estar confiando que seremos
atendidos por outros meios ou pela sorte, e até mesmo, podemos estar cultivando um coração
incrédulo que não consegue aceitar a ideia que Deus de fato possa modificar as circunstâncias
de nossas vidas. Não podemos esperar que Ele nos socorra enquanto mantemos tal atitude.
Mas, como sairemos deste estado e podemos adquirir este espírito de urgência e insistência. Somente o Espírito Santo pode nos ajudar nisto.
Mas, lembremos que o Espírito sempre opera por métodos. Se é uma coisa sobre a qual você
não tem certeza de que estaria de acordo com a vontade de Deus, coloque de lado: você não deve
orar sobre uma necessidade que é questionável. Mas quando você está convicto de que a bênção
que busca é uma coisa boa e necessária para a sua alma, então para que o seu espírito possa ser
forte em oração, adquira um senso profundo do valor do que você está buscando, avalie a sua
necessidade; examine como um ourives inspeciona uma joia quando ele desejar calcular
seu valor. O ardor de um homem em perseguição será proporcional à consciência
dele do valor daquilo que ele procura. Adquira o senso de que se trata de uma graça preciosa, e
que vale lutar por ela para que o Senhor a traga a você; e uma vez que o seu coração perceba o
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valor daquilo que busca, então expresse isto com suas orações cheias de intenso desejo.
Quando você estiver fazendo isto, medite muito sobre as suas necessidades e do quanto elas
dependem da misericórdia de Deus. Veja a pobreza da sua alma e da sua própria inutilidade.
Olhe para o que lhe acontecerá a menos que esta bênção venha. Se é alguma bênção espiritual
absolutamente indispensável, imagine-se a si mesmo como ficarias murcho se Deus a
retivesse, que males lhe sobrevirão se esta necessidade não for atendida, e que
necessidades adicionais ainda poderão lhe sobrevir. Quanto maior for a sua necessidade,
maior deve ser o seu clamor diante de Deus.
Devemos reconhecer nossa incapacidade para obter a bênção que buscamos pelo nosso próprio poder ou de outras pessoas. Nada pode
sair de nada, e eu não sou nada. Eu não posso trazer uma coisa limpa de uma suja, e eu estou
sujo. Esta bênção espiritual que eu não posso obter de meu próximo; nem rei, nem pai
poderiam trazer isto a mim. Somente Deus pode dar isto a mim, e ele é soberano, ele tem direito
para dar ou reter. Eu não posso reivindicar isto dele como um assunto de direito, ele tem que
dar isto a mim pela sua exclusiva misericórdia, deve ser um benefício de favor imerecido. Oh, se
você tiver esta verdade bem forjada em sua alma, você orará seriamente, e você usará os
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argumentos certos: "Tem misericórdia de mim, ó Deus, de acordo com a sua longanimidade, que
outorga até a multidão das tuas ternas misericórdias.". Somente Deus pode ajudá-lo, e
se ele demora em atendê-lo, então chore poderosamente diante dele.
Isto deve motivá-lo a se esforçar ainda mais em oração para desejar o que é bom. Não se levante antes que tenhas a certeza de que Deus está
contente ou não. Não fique satisfeito sem que tenha uma resposta. Mas, lembre que a apatia
nunca prevalecerá com Deus. Há tempos quando você deve ser trazido a esta condição
que não lhe negarão. Há uma "ousadia" santa, como os Puritanos costumavam chamá-la, que
consiste no fato de que nós devemos ter uma santa coragem em dizer como Jacó: “Eu não te
deixarei até que me abençoes”. Tal idioma seria blasfêmia se não fosse permitido, seria
presunção se não fosse encorajado. Nos é permitido usar a liberdade de crianças
obedientes, amorosas. Nos é permitida a confiança santa da fé para solucionar o que nós
buscamos até que o achemos, nós pediremos até que recebamos, nós bateremos até que a
porta nos seja aberta. Nosso caso é urgente, e nós devemos apresentar os nossos argumentos
até que a nossa causa saia vencedora. A oração deve ser trabalho de coração, da alma, do
espírito. A oração deveria ser o suor da alma, às vezes deveria ser até mesmo como o suor
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sangrento de um coração agonizante, enquanto chora poderosamente diante do Senhor, como
Jesus fez no jardim.
Reúna todas as suas faculdades para ver se esta coisa é uma questão de promessa ou não. Pegue o Livro, sua Escritura e vá a seu Pa, e veja se há
qualquer parte da Escritura que promete esta coisa boa a você. Quando você encontrar a
posição da promessa coloque o seu dedo sobre ela. Melhor ainda, com seu aperto de espírito
com isto em sua mão, vá diante de Deus com isto. Se sua oração é como Lutero a chamava,
"bombarda Christianorum", a grande arma do crente com que ele pode bombardear o céu,
então seguramente a promessa é o tiro que ele envia. Alegue a promessa dizendo, "Deus, faça
como tu disseste. Cumpre esta palavra que criaste e na qual tu me fizeste esperar.". Se você
não parece prevalecer com uma promessa procure outra e alegue. Derrame esta segunda
promessa diante de Deus. Nada o agrada mais que ver a própria palavra dele ser declarada
pelos seus filhos. Tente isto, e caso se torne manifesto que você não obteve sucesso com
esta, volte com outra promessa, e outra e outra e outra, e então alegue: "Por causa do teu nome,
por causa da tua verdade, por causa do teu pacto; e então entre com o maior argumento de todos:
"Por causa de Jesus e do nome dele, por causa do seu sangue.". Você prevaleceu lá. Por aquele
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sinal você venceu. Novamente será visto que o Senhor ouve e atende a voz de um homem.
Ainda há uma coisa mais querido, e isso é a fé forte, não somente no que Deus é, mas que ele é o recompensador daqueles que diligentemente
o buscam. Você não pode oferecer uma oração aceitável caso você não acredite que a oração
será ouvida por Deus. Os homens sábios modernos, com um ar protetor, asseguram que
a oração é um exercício piedoso, sumamente benéfico para nós mesmos, mas bastante
inoperante com Deus. Eles são amáveis bastante para nos permitir orar, só que nós não devemos
supor que a oração terá o menor efeito. E eles pensam que nós somos tão idiotas ao ponto de
que nós estaríamos de pé e assobiaríamos ao vento por achar que seria bom para nossas
almas um tal procedimento estúpido? Eles devem ter formado a noção deles da nossa
condição mental a partir da própria condição deles, se eles imaginam que nós deveríamos
orar se soubéssemos que Deus não nos ouviria, e não nos responderia. Oração aparte da ideia de
uma audição e resposta de Deus não é oração; é solilóquio, ou, em palavras mais claras, uma fala
tola. Você tem que crer que Deus existe, e que seus pedidos são uma parte do modo divino de
abençoar, ou então você não está orando mas falando consigo mesmo e tagarelando. O Senhor
realmente escuta as petições de seus filhos, e entretanto ele não altera a ordenação dele e o
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seu decreto, contudo de algum modo ou outro ele faz com que as orações do seu povo sejam
uma ligação eficiente na maquinaria da sua providência, de forma que se há oração ele os
abençoa abundantemente. Queridos amigos, possa o Espírito Santo nos incitar a sermos
perseverantes na oração poderosa, enérgica.
II. Em segundo lugar vem a CONSTÂNCIA - "na oração perseverantes". É o mesmo que:
“continuando na oração”. Voltemos ao exemplo do cachorro de caça. Nós o vimos se apressando
como o vento para atingir seu objetivo, mas isto não seria o suficiente se durasse somente por
um pequeno tempo; ele tem que continuar a corrida se ele deseja pegar a sua presa. Não
importa quão rápido o cão de caça tenha sido se depois de ter mantido o passo por algum tempo
ele começa a afrouxar, e com isso a caça escapará dele. Nós temos que manter o ardor da
oração; nós sempre devemos ser intensos. Oração não é para ser uma coisa de ontem, mas
de cada dia, e para amanhã, até isto se transformar em louvor. Talvez a oração
continuará até mesmo no céu. Certamente as almas debaixo do altar clamam "Quanto
tempo?", e profecias ainda não cumpridas, contudo grandes, relativas a eventos futuros são
alegadas até mesmo lá. Porém, o louvor é a característica principal do estado futuro, como
a oração é a característica do presente. Nós devemos manter um passo constante e bom "na
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oração perseverantes", e então manter isto para cima continuando perseverando em oração.
"Isso é difícil" diz alguém. Quem disse que não era? Todos os processos da vida Cristã são
difíceis; realmente, eles são impossíveis aparte da ajuda permanente do Espírito divino: mas "o
Espírito ajuda nossas fraquezas.". Agora então, irmãos que nós podemos ser ajudados a manter nosso fervor em oração, por favor note que a
oração deve ser contínua, porque é misturada de modo singular com a dispensação inteira do
evangelho. Como o incenso encheu o templo, assim faz o abastecimento da oração na
economia do evangelho. O fogo deveria queimar incessantemente sobre o altar, no Tabernáculo;
e o incenso deveria ser queimado diariamente no altar do incenso, indicando-se com isto que
toda a igreja, como as doze tribos, está servindo o Senhor dia e noite em oração, esperando o
cumprimento da promessa da sua volta gloriosa. A unidade, a vida, e a espiritualidade da igreja
são vistas melhor, na oração.
"Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão.” (Sl 2.8). A oração é a atmosfera que envolve a terra
de Emanuel: como as nuvens repousam sobre as montanhas, assim a oração repousa sobre toda a
grande misericórdia de Deus.
A oração está conectada com todas as bênçãos do pacto. Porque, amado, é sobre aqueles que
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são chamados pelo nome de Deus que a promessa da salvação está determinada.
Nosso Pai divino dá o Espírito Santo àqueles que O pedem. A justificação foi dada ao publicano em vez do fariseu, porque ele tinha se
apresentado de modo humilde, enquanto cria, e a sua oração foi aceitável; mas o fariseu nada
pediu, mas só se glorificou. A adoção gera a oração, porque ela traz o espírito de adoção por
meio do qual nós clamamos, Abba, Pai.
Agora, amados, nos é ordenado que sejamos constantes em nossa perseverança. Isto está
correto não está? Há qualquer hora quando nós podemos afrouxar a oração? Quando um crente
poderia parar de orar? É quando ele prospera? Não. É quando ele está em angústia? A própria
natureza não nos ensina que em tempo de aflição nós deveríamos especialmente estar
mais próximos de Deus em oração? Não somos templos do Espírito Santo? Onde quer que você
vá você leva seu templo com você, e então esteja seguro que você deve orar em todo o tempo e
lugar. Se você está no eirado com Pedro ore lá, e se está servindo à mesa com Neemias, ore lá: se
no campo com Isaque ou no monte com o Senhor, ou no mar com Jonas, ou em uma prisão
com José, ou diante da morte com Estevão, ore lá.
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"Onde quer que vivam devem os crentes orar, porque somente enquanto eles oram é que eles
vivem.".
Mas, especialmente, nós deveríamos ser constantes em oração, porque se você pode esperar quieta e pacientemente, tudo estará
bem. As melhores bênçãos do céu estão reservadas para os Elias que podem dizer ao seu
moço enquanto orava de joelhos com o rosto em terra para que voltasse a chover, e que olhasse
para o lado do mar para ver se havia alguma nuvem como evidência de chuva: “Volta”,
porque não havia evidência, e lhe mandou voltar por sete vezes até que Deus respondeu à sua
oração, ainda que com uma pequena nuvem como a palma da mão de um homem (I Rs 18.41-
45). Era uma pequena evidência, mas somente por ela o profeta afirmou o que de fato ocorreu,
dentro em pouco, os céus se enegreceram, com nuvens e vento, e caiu grande chuva, depois de a terra ter ficado sem chuvas por mais de três
anos.
Assim, voltemos novamente, novamente e novamente e não deixemos de voltar à oração
até que a resposta do céu nos seja enviada, ainda que com uma pequena evidência, que será a
promessa para a prova da nossa fé, do cumprimento pleno da bênção esperada. Espere
então no Senhor com importunidade santa de oração, e sua recompensa será certa. É bom para
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nós sermos compelidos a orar assim; porque nos conduz da infância espiritual ao
aperfeiçoamento da varonilidade. Então seja constante em oração, e junte forças para pedir
inoportunamente.
Nenhuma razão pode ser dada por que nós não deveríamos perseverar em oração. Eu posso
supor um irmão dizendo, "eu sinto eu não posso orar.". Quando você sente que você não pode
orar, esteja seguro que você está em falta com o dever de orar constantemente e com
perseverança, porque é uma ordenança do Senhor para nós. É um mandamento que será
transgredido se não for obedecido. Então ore quando você puder orar, e ore quando você não
puder orar. "Ai, Senhor, eu não posso emitir além de um gemido." Irmão, não fique aflito, a
melhor forma de orar em todo o mundo consiste em "gemidos que não podem ser exprimidos.".
Não temos qualquer dúvida quando o Espírito de Deus nos ajuda a orar com orações alegres,
entretanto eu digo que não há qualquer necessidade para a dúvida quando nós não
podemos fazer nada além de uma oração triste, porque é dito expressamente que Ele intercede
por nós com gemidos inexprimíveis. Você pensa que o fim principal da vida de um crente é estar
confortável? É frequentemente melhor para nós lamentarmos como pombas do que cantar como
rouxinóis. Às vezes pode haver mais oração em um suspiro do que numa oração longa. Então
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ore sempre; se você sente vontade ou não de orar, ainda ore. O pescadores de Mentone
continuam pescando com a grande rede deles; sim, eles continuam lançando suas redes,
mesmo que muitas vezes, para a dor deles, não consigam retirar do mar mais do que uma
pequena sardinha. Muitas vezes eu vi que eles não puderam tirar da imensidão do mar, mais do que pudesse encher a mão deles. Mas por que
eles continuam navegando? Porque eles são pescadores, e não podem fazer qualquer outra
coisa. Você e eu estamos pedindo aos homens, e não há nada mais que nós possamos fazer, mas
podemos esperar no Senhor.
Assim se, depois de muitos lançamentos de rede, nós adquirimos uma resposta pequena,
nós tentaremos novamente, porque isto é tudo o que nós podemos fazer. "Senhor, para quem
iremos nós?".
Continue em oração porque a continuação de nossa perseverança em oração é o teste da realidade da nossa devoção. Homens que estão
envolvidos em negócios não podem se dispor a abrir sua loja e fazer comércio em poucas
ocasiões, e então colocar um anúncio: "o proprietário desta loja saiu para uma excursão,
e retomará ao negócio quando ele se sentir inclinado a isto.". E é assim com a oração: orar
um pouco e então parar será uma ilusão e uma armadilha.
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Orações reais são orações constantes. Há um peixe, você sabe, que às vezes tenta voar, mas
não é nenhum pássaro. Só consegue um pequeno voo e então está novamente na água;
mas um verdadeiro pássaro se mantém com suas asas, especialmente se tal pássaro é a águia
cuja asa incansável a conduz acima das nuvens. Se precavenha de orações que saltam para cima como um gafanhoto e estão lobo abaixo
novamente. Deixe suas orações terem asas como de uma pomba, e as deixe voar longe da
terra e descanse em Deus. Um crente genuíno "ora sem cessar.".
Amados, nós temos que continuar em oração, mas somente o Espírito Santo pode nos
capacitar a fazer isto. Porém, nós podemos ser ajudados muito nisto reservando um tempo
especial ocasionalmente. Dias de oração e horas de oração, e temporadas de oração são muito
úteis.
Nós deveríamos ter nossos períodos de oração
designados cada dia, mas tempos especiais para isto podem ajudar o fogo a queimar mais
brilhantemente. Unir-se com outros cristãos em oração é frequentemente muito útil. A oração
privada é mais importante que oração pública sob qualquer aspecto, e é um teste melhor de
um crente; ainda que oração pública resulte frequentemente em devoção privada, e quando
dois ou três estão reunidos em nome do Senhor, as suas súplicas serão frequentemente úteis a
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um e ao outro e obterão a coisa que eles desejam.
III. Nossa última palavra EXPECTANTE não é citada diretamente no texto, mas deve estar lá
realmente, porque não haverá nenhuma coisa tal como insistência ou constância a menos que
haja uma expectativa, e uma convicção de que Deus pode e dará aquilo que nós buscamos.
Voltemos mais uma vez ao exemplo do cão de caça. Ele não correria tanto se ele não esperasse
agarrar a sua presa. Não há nenhuma oração com qualquer fervor a menos que haja fé que
Deus a ouvirá; pelo menos se pode ser sentida a insistência durante algum tempo, a constância não pode ser mantida por muito tempo sem isto.
Expectativa que Deus ouvirá. Nós oramos porque o Senhor já atendeu pedidos nossos
antes, e agora nós oramos não somente porque isto nos é ordenado, mas porque se tornou
natural para nós orar, e esperamos porque sabemos que o Senhor nos ouve. Nós somos
filhos pobres e necessitados que são expectantes da graça de Deus, assim como os
filhotes dos pássaros aguardam com confiança o alimento que lhes é trazido pelos seus pais.
Alguns líderes raramente exercitam a expectativa em oração, mas a alma da oração se
terá ido quando você não tiver nenhuma expectativa.
Deus atende ao clamor do seu desejo, mas a mão na qual ele porá a sua misericórdia é a mão da
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sua expectativa. Você tem que acreditar que você tem a bênção, ou você não terá isto a menos
que experimente por um pouco a misericórdia extraordinária além do que é prometido. O
modo habitual do Senhor é atender nossas expectativas de forma que nós olhemos para o
seu favor, e então ele envia o que esperamos. Entretanto, não devemos pedir a Deus o que nós mesmos podemos fazer. Se temos recursos
suficientes para ajudar as viúvas, porque pediremos ao Senhor que provenha para elas se
nós mesmos podemos fazê-lo com o nosso próprio dinheiro? Inúmeras orações são desse
tipo: nós estamos pedindo a Deus para fazer o que nós deveríamos fazer, e isso é impertinência
completamente. Quando oramos “venha a nós o teu reino”, é nossa obrigação cooperar com o
Senhor para que o seu reino venha. Quando oramos para que o seu nome seja santificado,
nós devemos nos consagrar e santificar o seu nome. Nós deveríamos ser de ação tão prática,
de forma que nós achássemos a resposta para a nossa oração antes de nós pedirmos, de acordo
com a promessa, "Antes que eles clamem eu lhes responderei, e enquanto eles ainda
estiverem falando eu os ouvirei." Foi encontrado num documento escrito por um pobre homem,
e que foi transcrito pela Duquesa de Gordon, o seguinte pedido: "Oh Deus, dê-me graça para
sentir minha necessidade da tua graça! Dê-me graça para te pedir a tua graça! Dê-me graça para
receber as tuas bênçãos!.
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Nossa Oração Pública
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
Estejam seguros de que a oração livre e
espontânea é a mais bíblica, e deve ser a forma
mais excelente das orações públicas.
Se perdes a fé no que estás fazendo, nunca o farás bem. Fixem em suas mentes, portanto, que
na presença do Senhor estão tributando-Lhe adoração de um modo garantido por sua divina
Palavra e aceito por Ele. A expressão “orações lidas” a que estamos tão acostumados, não se
acham nas Santas Escrituras, ricas como são em palavras para dar a direção aos pensamentos
religiosos; e tal frase não se acha nelas, porque a coisa mesma não existe. Em que parte dos
escritos dos apóstolos podemos encontrar algo que dê apoio a uma liturgia? A oração nas
congregações dos crentes da igreja primitiva, não estava restringida a nenhuma forma de
palavras. Tertuliano escreve: “Oramos sem monitor porque oramos de coração.”. Justino
Mártir descreve o ministro que presidia os cultos, como orando “segundo sua habilidade”.
Seria difícil descobrir como e quando tiveram princípio as liturgias, sua introdução foi
gradual, e segundo cremos, coextensiva com a decadência da pureza na igreja. A admissão
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delas pelos não conformistas, marcaria claramente a era da nossa decadência e queda.
A natureza deste assunto me tenta a estender-me mais sobre ele, porém, não é o ponto que
venho tratando, e portanto o deixo neste estado, não sem adverti-los que acharão o assunto das
liturgias habilmente tratado pelo Dr John Owen, a quem farão bem em consultar.
Tenhamos especial cuidado em provar a superioridade da oração improvisada e
espontânea, fazendo-a mais espiritual e fervorosa do que a devoção litúrgica.
É uma grande lástima que um ouvinte se veja obrigado a fazer a observação de que seu
ministro prega melhor do que ora. Isto não é tomar por modelo a nosso Salvador que falava
como ninguém falou e impressionou com suas orações de tal maneira a seus discípulos, que
estes lhe pediram que lhes ensinasse a orar. Todas as nossas faculdades devem concentrar
sua energia, e todo nosso ser deve elevar-se a um ponto mais alto de vigor, ao fazer a oração
pública, e enquanto o Espírito Santo batizará a alma e o espírito com sua sagrada influência,
porém uma palavra desalinhada, incoerente e sem vida, pronunciada à guisa de oração,
somente para encher certo espaço de tempo no culto, é coisa cansativa para o homem e
abominável para Deus. Se a oração livre fosse sempre de um modo mais elevado, nunca se
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teria pensado na liturgia, e as formas de oração que hoje se usam não têm outra desculpa que a
debilidade da devoção espontânea e das orações improvisadas. E isto consiste em que não somos
tão realmente devotos de coração como deveríamos ser. Devemos ter uma comunhão
habitual com Deus, sob pena que nossas orações públicas sejam insípidas e rotineiras. A oração privada é o meio mais a propósito de que
devemos valer-nos para dispormo-nos à prática de nossos exercícios mais públicos: não
devemos pois, ser negligentes nela, se não queremos nos expor a fracassar quando
tivermos que orar diante das pessoas.
Nossas orações nunca devem se arrastar pela terra; devem subir. Necessitamos dar-lhes forma em nossas mentes num molde celestial.
Nossas solicitações ao trono da graça necessitam ser solenes e humildes, não
petulantes e estrondosas, ou formais e feitas com desfaçatez. A forma coloquial de discurso é
imprópria diante do Senhor, devemos inclinar-nos com a mais reverente e humilde submissão.
É certo que podemos falar francamente com Deus, porém não esqueçamos que Ele está no
céu e nós na terra, e evitemos por conseguinte toda presunção. Ao orar, coloquemo-nos de um
modo especial diante do trono do infinito; e assim como o cortesão no palácio do rei põe
outro semblante e observa outros modos distintos dos que costumam ter os demais
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cortesãos seus companheiros, assim também é preciso que se dê conosco. Temos notado nas
igrejas da Holanda, que tão logo o ministro começa a pregar, todo mundo coloca seu
chapéu, porém no momento em que começa a orar, todos os tiram no ato.
Que unicamente o Senhor seja o objeto de suas orações. Tenham cuidado em se dirigir de
algum modo aos ouvintes, cuidado em não se fazerem retóricos para agradar aos que os
escutam. A oração não deve se transformar num sermão oblíquo. Há algo de blasfemo em fazer
da piedade um motivo de ostentação. As orações polidas são no geral más orações.
Na presença do Senhor dos Exércitos fica mal a um pregador fazer gala de suas plumas com o
fito de ganhar o aplauso dos seus semelhantes. Os hipócritas que se atrevem a se conduzir desse
modo, podem estar certos de que terão a sua recompensa, mas não devemos aspirar a tal
recompensa. Uma grave sentença de condenação recaiu sobre um ministro quando
lisonjeando-lhe se dizia que sua oração era a mais eloquente de quantas se haviam oferecido
em uma congregação de Boston. Não nos é proibido que procuremos excitar os
sentimentos e as aspirações dos que ouvem nossa oração; porém cada uma das palavras e
pensamentos dela, devem elevar-se a Deus, e somente desse modo impressionam o auditório
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para levar aos que o formam, juntamente com suas necessidades, à presença do Senhor.
Evitem todo tipo de vulgaridades na oração. Tenho que confessar que tenho ouvido
algumas, porém de nada serviria que as trouxesse à baila, tanto menos, quanto que cada
dia se faz mais raro escutá-las. Poucas vezes, de fato, sucede agora que nos encontremos na
oração com essas vulgaridades que eram num tempo tão comuns nos cultos de oração
celebrados pelos Metodistas.
É muito lindo o espetáculo que se apresenta quando um homem luta com Deus dizendo-lhe: “Não te deixarei ir antes que me abençoes”;
porém isso deve ser dito com a maior mansidão, e não com um espírito de fanfarronice próprio
dos que se creem com o direito merecido de exigir bênçãos do Senhor. Com efeito, a vitória
que Jacó logrou alcançar naquela noite não foi resultante de uma força que existisse nele
mesmo. Se me tem ensinado a dizer: “Pai nosso”, porém é contudo: “Pai nosso que estás
nos céus.”. Pode haver familiaridade, porém uma santa familiaridade; intrepidez, porém essa
intrepidez que nasce da graça e é obra do Espírito Santo; não a audácia do rebelde que
ergue uma fronte impúdica na presença do seu rei ofendido, senão a confiança de um menino
que teme a seu pai porque o ama, e o ama porque o teme. Nunca adotem, pois, um estilo de oração
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cheio de amor próprio e de impudência. Deus não deve ser assaltado como antagonista, senão
suplicado como nosso Senhor e Deus. Sejamos humildes de coração quando orarmos.
Os homens de negócios dizem: “um lugar para cada coisa, e cada coisa em seu próprio lugar”. Assim, preguem no sermão, e orem na oração.
Os preâmbulos sobre nossa necessidade de auxílio na oração, constituem a oração. Por que
não começam os homens desde logo a orar? Por que tardam e titubeiam? Em vez de dizer o que
devem fazer e querem fazer, por que não começam no nome de Deus a fazê-lo? Peçam a
satisfação das necessidades grandes e constantes da igreja, e não deixem de
apresentar com o fervor mais devoto as exigências especiais do tempo e do auditório
que têm. Façam menção dos enfermos, dos pobres, dos moribundos, dos pagãos, dos judeus
e de toda classe de homens necessitados, tanto quanto todos eles lhes afetem o coração.
Roguem por nosso povo como composto de santos e de pecadores, e não como se todos
fossem santos. Façam menção dos jovens e dos anciãos; dos sérios e dos indiferentes; dos
devotos e dos que estão apostatando. Nunca se afastem nem para a direita, nem para a
esquerda, senão sigam o caminho da oração fervente. Sejam verdadeiras e práticas suas
confissões do pecado e ações de graças; e sejam oferecidas suas petições como se cressem em
161
Deus e não pusessem em dúvida a eficácia da oração; digo isto, porque as orações de muitos
são tão formais que os ouvintes não podem menos que concluir que em seu conceito a
oração é uma prática muito decente, porém que não vá seguida de nenhum resultado proveitoso
para o homem. Roguem como os que têm tido ocasião de provar a Deus e que por isto voltam com toda confiança a fazer outras petições; eu
lhes suplico que não deixem de rogar a Deus em todo o curso de suas orações, não misturando
nunca com elas práticas ou pregações, nem muito menos, segundo fazem alguns,
repreensões e murmurações.
Tenho ouvido chamarem algumas vezes a oração e o louvor, de “serviços preliminares”, como se fossem somente prefácio do sermão,
eu creio que isto é raro entre nós, se fosse comum, seria um defeito muito grave. Eu
procuro invariavelmente dirigir todo o culto por meu próprio bem, e creio que também, por
conseguinte o de toda a congregação. A meu ver, não é verdade que qualquer pessoa possa
dirigir a oração. Não, senhores, tenho a convicção solene de que a oração é uma das
partes mais importantes do culto, mais proveitosa e mais honorável, e que se deve
considerar ainda mais do que o sermão. Não devemos pedir a qualquer um que dirija a
oração, e depois eleger o irmão mais capaz como pregador. Pode suceder que por debilidade
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corporal ou em alguma ocasião especial, o pastor necessite do auxílio de um irmão e lhe
peça que ofereça a oração; porém se o Senhor os tem feito amar seu trabalho, não o cumprirão a
contento nem prontamente com esta parte dele na pessoa de um outro. Se às vezes se delega o
serviço a outra pessoa, que seja uma cuja espiritualidade e atitude tenham a confiança mais ampla; porém designar repentinamente a
um irmão desprevenido para dirigir as devoções, me parece vergonhoso. Serviremos o
céu com um respeito menor do que aquele com que ministramos a nós mesmos, sendo como
somos tão pouco dignos? Peçam ao homem mais capaz que ore, antes que o acesso a Deus
seja menosprezado.
Sirvamos a Jeová da melhor maneira que possamos: que se considere com muito cuidado, e se apresente com toda a força de um coração
desperto e de um entendimento espiritual, a oração que seja dirigida à Majestade Divina. O
que se tem preparado para pregar, comunicando-se com Deus, ordinariamente
tem a maior aptidão para a oração e formar um programa que põe a outro irmão em seu lugar,
transtorna o culto, defrauda ao pregador um exercício que o fortaleceria para apresentar seu
sermão, e muitas vezes pode sugerir comparações entre as diferentes partes do
culto, coisa que nunca deve ser tolerada. Se irmãos despreparados são enviados por mim ao
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púlpito para que me sirvam com suas orações quando eu tenho que pregar, não posso
entender por que não me seja permitido orar, e então retirar-me e deixar a estes irmãos que
preguem, Não posso ver nenhuma razão convincente para ausentar-me do exercício
mais santo, precioso e proveitoso que meu Senhor me tem concedido; se posso eleger, cederei o sermão antes que a oração. Tenho dito
tudo isto para lhes inculcar a persuasão de que devem estimar de um modo especial a oração
pública, e pedir ao Senhor os dons e as graças necessárias para que possamos cumprir este
dever fielmente.
Para que uma oração pública seja o que deve ser, é necessário que provenha do coração. Um homem deve ser realmente sincero em suas
súplicas. A oração deve ser verdadeira, e se é, cobrirá como o amor, uma multidão de pecados.
Poderá perdoar as familiaridades de um homem e também suas vulgaridades, se vemos
claramente que é do mais íntimo do seu coração que está falando com seu Criador, e que suas
faltas são devidas somente aos defeitos de sua educação e não a vícios morais ou espirituais de
seu coração. O que ora publicamente deve ser ardente, porque não pode haver pior preparação
para um sermão, que uma oração suporífera. Que coisa pode fastidiar os homens da casa de
Deus, mais que uma oração inerte? Ponham toda sua alma em tal exercício. Se toda sua
164
energia pode ser aplicada numa coisa, que seja em acercar-se de Deus publicamente. Roguem
de tal maneira que possam, por um atrativo divino levar toda a congregação com vocês até o
trono de Deus. Orem de tal modo que pelo poder do Espírito Santo, descansando sobre vocês,
expressem os desejos e os pensamentos de todo o auditório, e os constituam em uma voz ardente de fervor diante do trono de Deus, intercedendo
pelas centenas de corações palpitantes ao sentí-lo.
Além disso, nossas orações devem ter propósito.
Não quero dizer que devemos entrar em cada detalhe minucioso das circunstâncias da
congregação.
Como disse antes, não há necessidade de se fazer menção na oração pública de todos os sucessos da semana, nem de comemorar todos
os nascimentos, mortes e matrimônios de nossa membresia, porém o coração cuidadoso do
pastor deve notar todos os movimentos gerais que têm acontecido na congregação; deve
recordar tanto as alegrias como as tristezas da sua congregação diante do trono da graça, e
pedir que a bênção divina descanse sobre seu rebanho em todos seus movimentos, seus
exercícios, e empreendimentos santos, e que o perdão de Deus se estenda ao pecados
inumeráveis. Além disso, não sejam prolixos na oração.
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Livingstone disse relativamente a Robert Bruce de Edinburgo, que “nenhum outro homem de
seu tempo manifestou tanta convicção e energia como as que a Ele conferira o Espírito
Santo. Nenhum outro teve tantas provas de conversão de almas, e muitos de seus ouvintes
até pensavam que ninguém desde o tempo do apóstolos, havia falado com tanto poder como ele. Quando outros estavam presentes, oferecia
orações muito breves, porém cada uma de suas sentenças era como um raio lançado aos céus.
Ouvi ele dizer que se enfastiava quando outros ofereciam longas orações, porém que estando
só, empregava muito tempo orando.”.
Um homem pode, em ocasiões especiais, ocupar vinte minutos na oração principal da
manhã, porém isto não deve suceder com frequência. Mas uma oração pública não deve se
estender por mais de dez minutos. Nossos antepassados sabiam orar por três quartos de hora ou menos; porém devem recordar que não
poderiam estar seguros de ter outra oportunidade para fazê-lo, e portanto oravam
até saciar-se. Ademais, naqueles tempos, a congregação não se inclinava a se queixar da
duração das orações e dos sermões, tanto como alguns o fazem agora.
Estamos agora falando das orações públicas que
vêm antes do sermão ou depois dele, e para estas, dez minutos são melhor limite que quinze.
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Somente uma pessoa entre mil, se queixará de vocês pelo motivo de que suas orações são
muito breves, porém muitas murmurarão da duração fastidiosa delas.
Todas essas áridas, pesadas e prolixas práticas na oração, não fazem mais do que embotar a
atenção dos ouvintes, cujos ouvidos ficam saturados de palavras. As orações longas
consistem em repetições ou em explicações supérfluas que Deus não requer, ou degeneram
em puras pregações, de sorte que não há diferença alguma entre a oração e a pregação,
exceto que naquela o ministro tem seus olhos fechados, e nesta os mantém abertos.
Não nos é exigido que nossas orações consistam em uma série de textos bíblicos, nem que citemos a Davi e Daniel, ou Jó e Paulo, e Pedro e
todos os demais sob o título de “teu servo do passado”. Nunca deem a impressão de que estão
para concluir sua oração e depois continuem orando por mais cinco minutos. Quando o
auditório supõe que estão para terminar, não podem repentinamente proceder com um
espírito devoto. Isto é imprudente e fastidioso.
Evitem também o uso de frases altissonantes. Elas são um grande mal. Quem pode justificar
expressões tais como esta: “não deveríamos correr para a tua presença, assim como o cavalo
incapaz de pensar o faz na batalha?”. Como se os cavalos alguma vez pudessem pensar. Uma
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sentença bizarra como esta incita mais ao pecado, do que à oração. Coisas como “teu pobre
povo indigno” é geralmente um epíteto usado para ser aplicado a si mesmos pelos homens
mais orgulhosos da congregação.
Deve-se também ter o cuidado, quando não se pode citar as passagens da Bíblia corretamente,
em suas orações, seria melhor não fazer uso delas. Porque a mudança de uma só palavra
pode lhe alterar totalmente o significado. Empreguem uma expressão nascida de sua
própria mente, e será igualmente aceitável a Deus, mas não usem uma frase bíblica
adulterada.
Tenho notado o costume entre alguns (que lhes rogo que não o adotem) de orar com os olhos
abertos. É antinatural, indecoroso e repugnante. Olhar os objetos que nos rodeiam enquanto
professamos que estamos nos comunicando com o Deus invisível, é detestável em extremo.
Os pais da igreja primitiva condenaram esta prática indecorosa.
Devemos também fazer uso de poucas gesticulações ao orar. A voz deve estar sempre
em conformidade com o assunto, e nunca deve ser violenta, nem audaz, porque os tons do
homem que fala com Deus devem ser humildes e reverentes.
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Para evitar que se estabeleça entre nós uma rotina monótona e fastidiosa, recomendo que
vocês variem a ordem das diferentes partes do culto, tanto quanto seja possível. O que o Espírito
livre nos impele a fazer, façamos logo.
Alguém começa o culto com o louvor em vez da oração e depois de tudo é advertido pelos diáconos que não deve fazer inovações. Até
agora temos entendido que as igrejas congregacionais e batistas não estão
escravizadas a tradições, nem a regras fixas quanto ao modo da adoração, e sem dúvida,
estes pobres desejando fazer-se soberanos e exclamando em alta voz em favor de uma
liturgia, querem que seu pastor se submeta a cerimoniais introduzidos pelo costume. É
preciso que se ponha um fim a tais absurdos. Pretendemos dirigir os cultos assim como o
Espírito Santo nos ensina e segundo nosso melhor juízo. Não nos submeteremos a uma
regra que nos exija que oremos agora e que louvemos depois; Variaremos a ordem do culto
para evitar a monotonia, e não estabeleceremos nenhuma regra fixa relativa a isto.
“A adoração verdadeira não é o som estrepitoso
que se repete por lábios clamorosos, mas é o silêncio profundo de uma alma que se abraça
aos pés de Jeová.”.
Variem a duração de suas orações públicas. Não pensem que seria muito melhor às vezes em
169
lugar de empregar três minutos na primeira oração e quinze na segunda, ocupar nove em
cada uma? Não seria mais proveitoso às vezes determos mais tempo na primeira e menos na
segunda? Não seriam melhores duas orações medianamente longas, que uma longa em
extremo e outra muito curta? Não seria um bom caminho cantar um hino depois de ler o capítulo, ou cantar uma ou duas estrofes antes
da oração? Por que não seria bom às vezes cantar quatro hinos no culto? Não devemos
estar contentes às vezes com dois hinos e mesmo com um? Por que é necessário cantar
sempre depois do sermão? Por que, por outro lado, nunca cantam alguns ao fim do culto? É
conveniente sempre, ou ainda com frequência, uma oração depois do sermão? Não é verdade
que ás vezes é muito comovedora? Se fôssemos guiados pelo Espírito, não conseguiríamos uma
variedade desconhecida?
Variem os temas comuns de suas orações na intercessão. Há muitos tópicos que requerem a sua atenção: a igreja com suas fraquezas, suas
infidelidades, suas tristezas e suas consolações: o mundo exterior, a vizinhança, os ouvintes não
convertidos, os jovens, a nação. Não orem por tudo isso todas as vezes, ou senão as suas
orações serão longas e provavelmente desinteressantes. Qualquer que seja o tópico
predominante em seu coração, façam-no predominar em suas súplicas. Há um modo de
170
seguir um curso na oração, se o Espírito Santo os guiar por ele, isto dará coesão ao culto, e se
harmonizará com os hinos e com a pregação.
É muito proveitoso manter unidade no culto, onde possível; não servilmente, mas com sabedoria, de sorte que o efeito seja unificante.
Certos irmãos nem sequer procuram manter unidade no sermão, mas vagueiam da Inglaterra
ao Japão e introduzem todos os assuntos imagináveis. Mas vocês, que já atingiram a
preservação da unidade no sermão, poderiam ir um pouco além, e demonstrar algum grau de
unidade no culto, sendo cuidadosos quanto ao hino, à oração e à leitura bíblica, para manter
em proeminência o mesmo assunto. Pouco recomendável é a prática, comum em alguns
pregadores, de reiterar o sermão na última oração. Pode ser instrutivo para os ouvintes,
mas é um objetivo totalmente alheio à oração. É uma prática inconveniente, não a imitem.
Como fugiriam de uma víbora, evitem todos os esforços para conseguir fervor espúrio na
devoção pública. Não se esforcem para parecer fervorosos. Orem segundo os ditames do seu
coração sob a direção do Espírito de Deus, e se vocês estiverem embotados e tediosos, digam-
no ao Senhor. Não será ruim confessar a sua falta de vida, deplorá-la e clamar por vivificação.
Será uma oração real e aceitável. Mas o ardor fingido é uma vergonhosa forma de mentir.
171
Nunca imitem os fervorosos. Vocês conhecem um bom homem que geme, e outro cuja voz vira
um grito estridente quando ele é arrebatado pelo ardor, mas, nem por isso vocês deverão
gemer ou chiar para parecerem fervorosos como eles. Simplesmente sejam naturais do
começo ao fim, e peçam a Deus que os guie nisso tudo.
Finalmente, preparem-se para orar
publicamente. Não preparando uma liturgia, mas preparando o coração. Ordenando os
argumentos que apresentarão diante do Senhor na oração. Inteirem-se antes de orar das coisas
pelas quais orarão. Tenham-nas bem definidas em sua mente, para que não entrem ao esmo diante de Deus. Este preparo consiste em
ponderar previamente a importância da oração, em meditar nas necessidades espirituais dos
homens, e em recordar as promessas que havemos de pleitear – indo, desta forma, à
presença do Senhor com uma petição escrita nas tábuas de carne do coração. Seguramente
isso é melhor do que ir a Deus a esmo, correr para o trono divino ao acaso, sem mensagem ou
desejo definido. “Nunca me canso de orar”, disse alguém, “porque sempre tenho uma
mensagem definida quando oro.”.
172
Verdadeira Oração, Verdadeiro Poder
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
“Porque em verdade vos afirmo que se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te ao mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se
fará o que diz, assim será com ele. Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco.”. Mc 11.24
Um homem que tivesse fé para fazer o sol parar
já viveu neste mundo, pois Josué fez tal pedido a
Deus e Ele o atendeu. Feitos poderosíssimos já foram realizados pela fé. Mas ainda não se viu
quem enviasse com sua fé uma montanha para o mar. Se alguém contasse com a aprovação da
vontade de Deus para um tal feito, segundo Jesus, ele ocorreria como a coisa mais natural,
pois no texto paralelo de Mt 17.20 se diz que nada é impossível ao que tem fé, e que uma montanha
poderia ser removida por uma pequena fé, como a de um grão de mostarda. Certamente, o
capricho de mover montes de cá para acolá, promoveria uma grande conturbação na terra, e
daí não ter sido ainda atendido um tal pedido por Deus, se é se alguém já lho dirigiu. Mas, o que o
Senhor quer nos ensinar com isto é que por maior que seja o desafio, e por impossível que
173
possa parecer, ele poderá ser realizado pela fé, caso possa contar com a aprovação de Deus.
Assim, esta porção da Escritura tem a ver com a fé de milagres; mas eu penso que ela faz muito
mais referência ao milagre da fé, em vez da fé de milagres. Eu creio que este texto não é somente
a herança dos apóstolos, mas de todos aqueles que têm a mesma fé dos apóstolos, enquanto
creem nas promessas do Senhor Jesus Cristo. O conselho que Cristo deu aos doze e para os
seguidores imediatos dele, é repetido a nós na Palavra de Deus esta manhã. Que nós possamos
ter constantemente a graça para obedecer isto. “que tudo quanto em oração pedirdes, crede
que recebestes, e será assim convosco.”. Depois de ter passado por um certo círculo de
expressões vocais habituais, nós talvez nos levantemos de nossos joelhos mais aborrecidos
na consciência e mais afligidos na mente do que nós estávamos antes. Se eu puder lhe mostrar um modo mais excelente; de se orar, você
poderá vir a olhar daqui em diante para a oração como seu elemento, como um dos exercícios
mais encantadores de sua vida; se você vir a estimar isto mais do que o seu alimento
cotidiano.
Primeiro, OLHE PARA O TEXTO. Se você olhar cuidadosamente para isto, eu penso que você
perceberá as qualidades essenciais que são necessárias a qualquer grande sucesso e
174
prevalência em oração. De acordo com o descrição de nosso Salvador da oração, deveria
haver sempre alguns objetivos definidos nos quais nós deveríamos nos concentrar. Ele fala de
coisas "tudo quanto pedirdes".
Parece então que ele não pôs isto em termos que os filhos de Deus deveriam orar quando eles não tivessem nada pelo que orar. Outra qualificação
essencial da oração é o desejo sincero; porque o Mestre supõe aqui que quando nós oramos que
nós temos desejos.
Realmente não é nenhuma oração, pode ser algo como a oração, a forma externa ou o esqueleto nu, mas não é a coisa viva, chamada
oração, a menos que haja um completo transbordamento de desejos. Também, observe
que fé é uma qualidade essencial da oração próspera – “crede que recebestes, e será assim
convosco.”. Você não pode orar para ser ouvido no céu e receber a resposta que satisfaça a sua
alma, a menos que você creia que Deus realmente ouve e lhe responderá. Uma outra
qualificação aparece aqui na mesma sentença, isto é, que uma expectativa sempre deveria ser
acompanhada de uma fé firme – “crede que recebestes, e será assim convosco.”. Não
somente creia mas também que recebestes, contanto como se tivesse já recebido,
considerando como se você já o tivesse, e agindo como se você o tivesse recebido, porque crê que
175
o receberá, e o terá. Deixe-nos revisar estas quatro qualificações, uma por uma.
Para fazer oração de qualquer valor, deveria haver objetos definidos pelos quais fazer petições. Meus irmãos, nós vagueamos
frequentemente em nossas orações, e depois disto, nós não recebemos nada porque não
desejamos realmente nada. Nós tagarelamos sobre muitos assuntos, mas a alma não se
concentra em qualquer objetivo. Às vezes não se permita cair sobre seus joelhos sem pensar
antes no que você pretende pedir a Deus. Você faz para um assunto de hábito, sem qualquer
movimento de seu coração. Você está como um homem que deveria ir a uma loja e não sabe que
artigos obteria lá. Ele pode fazer uma compra feliz talvez quando ele estiver lá, mas
certamente não é um plano sábio para se adotar. E assim o crente em oração pode atingir depois
um real desejo, e alcançar o seu objetivo, mas seria melhor que ele preparasse a sua alma em
autoexame e consideração quanto ao objetivo que estava a ponto de apresentar a Deus como
pedido. Quando Jesus perguntou ao cego o que queria que Ele lhe fizesse, não seria de se
esperar que o curasse se ele não fosse objetivo no seu pedido de cura da sua cegueira. Imagine
um arqueiro atirando suas flechas sem saber onde está o alvo. Seria provável que ele tivesse
sucesso? Por isso é necessário que tenhamos objetivos claramente definidos em nossas
176
orações para serem apresentados a Deus, porque como receberemos aquilo que não
esperamos. Lançar um monte ao mar. Isto é um objetivo bem definido. Se isto fosse um desejo e
uma necessidade sincera em meu coração eu lutaria por isto em oração diante de Deus até
consegui-lo, crendo em todo o tempo que tinha recebido de Deus a aprovação do meu pedido. Você achará isto mais útil para suas orações se
você tiver alguns objetivos para os quais apontar, e eu também penso que se você tiver
algumas pessoas pelas quais interceder, você deve mencioná-las. Não somente se dirija a
Deus genericamente em favor dos pecadores, como também mencione sempre o nome de
alguns deles em particular. Seja específico no que deseja para eles. Se você for um professor de
EBD, não peça simplesmente para que seus alunos sejam abençoados, mas definitivamente
ore apresentando os nomes e necessidades deles ao Altíssimo.
E se há uma misericórdia para sua casa que você almeja, não entre numa generalização, mas seja
simples e direto em seu pedido a Deus. Quando estiver orando seja objetivo em relação àquilo
que deseja. Conte ao Senhor o que você quer. Se você não tiver dinheiro suficiente, se você
estiver em pobreza, se você estiver em dilemas, declare o caso. Não use nenhuma falsa modéstia
para com Deus. Vá imediatamente ao ponto; fale honestamente com ele. Ele não precisa de
177
nenhuma justificativa da sua parte, como coisas do tipo: “eu não tenho dinheiro, eu estou aflito,
mas não te peço nada, porque eu devo me contentar com nada.”. Certamente isto não
corresponderá ao desejo do seu coração. Na verdade você precisa ser provido para ver suas
necessidades atendidas, de sua família, da igreja, das pessoas que necessitam da sua ajuda, e para isso você precisa de recursos. E o Senhor
é o dono da prata e do ouro. Peça com confiança a Ele, crendo que o tem recebido, e assim se fará.
Se você quiser uma misericórdia temporal ou espiritual, diga assim. Não folheie a Bíblia para
descobrir palavras com as quais possa expressar isto. Expresse seus desejos nas palavras que
naturalmente se apresentam em sua mente. Elas serão as melhores palavras, dependa disto.
As palavras de Abraão eram as melhores para Abraão, e as suas serão as melhores para você.
Alguém está doente ou triste? Faça oração como diz a Palavra. Não seja hipócrita, tentando
dissimular a necessidade de receber a cura do Senhor. Vá a Ele com fé e seja direto no seu
pedido de cura. Você não precisa estudar todos os textos da Bíblia, para orar da mesma maneira
que Jacó e Elias fizeram, enquanto usa as expressões deles.
Mesmo que você pudesse imitá-los em suas palavras, você não pode imitá-los quanto à alma
que sugeriu e animou as palavras deles. Ore com suas próprias palavras e seu próprio estado de
178
alma. Fale claramente com Deus; peça o que você quer imediatamente. Nomeie pessoas, dê
nome às coisas, e seja direto ao apontar para o objeto de suas súplicas, e eu estou seguro que
você achará logo que o cansaço e estagnação dos quais você reclama frequentemente em suas
intercessões, não vão durar muito tempo, ou pelo menos não tão habitualmente como dantes.
"Mas", diz alguém: "eu não sinto que eu tenha qualquer objeto especial pelo qual orar.". Ah!
Meu querido irmão, eu não sei quem é você, ou onde você vive, para estar sem objetos especiais
para a oração, porque eu acho diariamente isso, pois eu tenho algo para contar diariamente ao
meu Deus.
Mas, se nós não tivéssemos uma dificuldade, meus queridos irmãos, se nós tivéssemos atingido a uma tal altura em graça que nós não
temos nada para pedir, nós amamos tanto a Cristo que nós não temos nenhuma
necessidade de orar para que nós o possamos amar ainda mais? Teremos alcançado por
nossas orações o atendimento definitivo e total das necessidades de todos os que nos cercam?
Não há necessidades pelas quais orar em nossa igreja? Temos tanta fé que deixamos de clamar
para que Deus a aumente? Você pode estar seguro, que sempre há objetos legítimos pelos
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quais bater na porta da misericórdia para que sejam atendidos.
Há um modo com que devemos orar a Deus. Nós temos que ter um tal desejo pela coisa que
queremos, que nós não deixaremos de clamar até que nós a tenhamos recebido, não obstante,
em submissão à sua vontade divina. Sentindo que a coisa que nós pedimos não pode estar
errada, e que ele tem prometido isto, e se temos guardado a sua Palavra, cumprindo os seus
mandamentos, e se o nosso coração não nos acusa porque estamos em falta com Deus por
pecados cometidos. Por exemplo infidelidade no dízimo e nas ofertas. Roubamos de Deus e
esperamos que Ele abra as janelas do céu para nós. Ele pode abençoar por misericórdia, mas
perdemos a autoridade de apelar para o cumprimento da sua promessa, porque como
protestaremos diante dele: “Senhor tenho sido fiel, e tenho te honrado, agora pois, mostra a tua fidelidade a mim, e honra-me!”. Não seria isto
uma oração mentirosa? Mas se não é o caso, nós alegaremos a promessa, novamente, e
novamente, até que os portões do céu tremam diante de nossos argumento. Oh, essas orações
frias que sequer movem os corações dos homens, moveriam o coração de Deus?
Nós devemos ser sinceros, caso contrário nós
não temos nenhum direito de esperar que o Senhor ouvirá nossa oração. Ah, meus irmãos!
180
nós sabemos muito pouco quanto de nossas orações são uma abominação diante de Deus.
Seria uma abominação para você e para mim ouvir os homens nos pedirem nas ruas, como se
eles não quisessem o que eles pediram. Mas nós não fazemos o mesmo com Deus? É necessário
uma fé firme em Deus. Irmãos, vocês creem na oração? Eu sei que você ora porque você é filho de Deus; mas você crê no poder da oração? Há
muitos crentes que não creem, eles pensam que a oração é uma coisa boa, e eles creem que às
vezes faz maravilhas; mas eles não pensam que a oração, a real oração, sempre tem êxito. Eles
pensam que seu efeito depende de muitas outras coisas.
Agora, a convicção de minha própria alma é que a oração é o poder principal de todo o universo;
que tem uma força mais onipotente que a eletricidade, atração, gravitação, ou qualquer
outra dessas forças secretas que os homens chamaram através de nomes, mas que eles não
entendem. Quando um homem realmente ora, não deve perguntar se Deus o ouvirá ou não, ele
tem que ouvi-lo; não porque há qualquer compulsão na oração, mas há uma doce e
santificada compulsão na promessa. Deus prometeu ouvir a oração, e ele cumprirá a sua
promessa. Como ele é o Deus mais alto e verdadeiro, ele não pode se negar. Oh! pensar
disto; que você um homem fraco pode se levantar aqui e pode falar com Deus, e por Deus
181
pode mover todos os mundos. Ainda quando sua oração é ouvida, a criação não será perturbada;
embora os fins mais principais sejam respondidos, a providência não será
desarranjada por um único momento. Nenhuma folha cairá mais cedo da árvore, nem
uma estrela ficará sem o seu curso, nem uma gota de água a mais sairá de sua fonte, tudo irá como dantes, e ainda assim sua oração terá
efetuado tudo. Falará com os decretos e propósitos de Deus, como eles estão sendo
cumpridos diariamente. Nossas orações são os decretos de Deus em outra forma, porque
operam suas realizações na terra.. Se o crente tem fé em Deus, não há nada impossível para
ele. Ele será salvo da maior das profundezas, das dificuldades mais dolorosas, da escassez de
alimentos, da pestilência, e caminhará firme e forte, porque ele crê na promessa e a sustente
firme diante dos olhos de Deus.
Não há nada, eu repito isto, não há nenhuma força tão tremenda, nenhuma energia assim maravilhosa, como a energia com que Deus
dotou todo homem que como Jacó pode lutar, como o Israel que pode prevalecer com ele em
oração. Mas nós temos que ter fé nisto; nós temos que acreditar que a oração é o que é, ou
então não será para nós o que ela deveria ser. A menos que eu creia que minha oração é eficaz
ela não o será, porque em grande parte, ela depende da minha fé. Deus pode até mesmo me
182
conceder misericórdia quando eu não tiver fé; isso será a própria graça soberana dele, mas ele
não prometeu fazer isto. Mas quando eu tenho fé e posso alegar a promessa com desejo sério, já
não é mais um assunto de probabilidade se eu adquirirei a bênção, ou se meu desejo será
atendido. A menos que o Eterno se desvie da fidelidade em cumprir a sua Palavra, a menos que o juramento que ele deu fosse revogado, e
ele deixasse de ser o que ele é: "Nós sabemos que nós recebemos o que lhe pedimos.".
Aprendamos sobre a oração com Daniel. Ele está sobre os seus joelhos em oração, e Miguel, o
arcanjo vem a ele. Ele fala com ele e lhe fala que assim que Daniel começou a aplicar o seu
coração para entender, e para se humilhar diante de Deus, foram ouvidas as suas palavras,
e o Senhor tinha despachado o anjo. Então ele lhe fala "eu deveria ter estado aqui antes, mas o
Príncipe da Pérsia me resistiu; não obstante Miguel, um dos primeiros príncipes, veio
ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia. Agora vim para fazer-te entender o que
há de suceder ao teu povo nos últimos dias.”. Veja agora. Deus coloca o desejo em nossos
corações, e assim que o desejo esteja lá, antes de que nós clamássemos ele começa a responder.
Antes de as palavras terem chegado ao céu, enquanto elas ainda estão tremendo no lábio –
para saber as palavras que nós queremos dizer - ele começa a respondê-las, envia o anjo; o anjo
183
vem e derrama a bênção que foi buscada. Porque a coisa é uma revelação se você pudesse
ver isto com seus olhos. Algumas pessoas pensam que coisas espirituais são sonhos, e que
nós estamos falando de fantasias. Não, eu creio que há muita realidade na oração de um crente
como um flash de raio; e a utilidade da oração de um crente pode ser conhecida sensivelmente da mesma maneira que o poder do flash do raio
quando rasga a árvore. A oração não é uma fantasia de ficção; é uma coisa real.
Mas nós sempre precisamos crer nisto. Nós precisamos de uma garantia percebida na
oração. Contar as misericórdias antes que elas cheguem. Estar seguros que elas estão vindo!
Agir como se nós as tivéssemos! Quando você pediu seu pão diário, nenhum cuidado mais
deveria perturbá-lo, mas crer que Deus o ouviu, e dará isto a você. Quando você levou o caso de
seu filho doente diante de Deus, não deve ficar pensando se a criança se recuperará, ou não,
mas será uma maior bênção para você e mais se gloriará em Deus, se deixar isto com ele. Poder
dizer, "eu sei que ele me ouviu agora; Eu me colocarei em minha torre de vigia e procurarei
ouvir o que o meu Deus dirá à minha alma.". Você já foi desapontado crente, quando você
orou com em fé e esperou a resposta? Eu dou meu próprio testemunho esta manhã que eu
nunca tenho confiado nele e contudo o tenho achado em falta comigo. Eu confiei no homem e
184
fui enganado, mas meu Deus nunca negou uma só vez o pedido que eu fiz a ele, quando eu apoiei
o pedido com convicção na vontade dele, e na garantia da sua promessa.
Mas, eu ouço alguns dizerem: ´”podemos orar por coisas temporais?”. Sim, vocês podem. Em tudo façam conhecidos seus desejos a Deus. A
promessa diz: “tudo quanto pedirdes”. Tudo é tudo. Não inclui somente o que é espiritual, mas
também as preocupações cotidianas. Leve suas menores necessidades diante dele. Ele é um
Deus que ouve a oração; ele é seu Deus doméstico como é também o Deus do Santuário.
Leve tudo o que você tem diante de Deus.
Os homens dizem que o Sr. George Muller, de Bristol é entusiástico, porque ele juntará setecentas crianças e crê que Deus proverá para
elas; embora não haja nada na bolsa que ele está fazendo o que deveria ser a ação comum de todo
homem cristão. Ele está agindo em uma regra à qual o mundo sempre tem que ridicularizar,
porque ele não entende isto; um sistema que sempre tem que se sujeitar a julgamento fraco
de senso, não em bom senso, mas em algo mais alto que o senso comum - em fé incomum. Oh
que nós tenhamos essa fé incomum para levar Deus a cumprir sua palavra! Ele não pode e ele
não permitirá que o homem que confia nele seja envergonhado ou maldito.
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Tendo lhe pedido que olhasse para o texto, eu quero agora que você OLHE PARA VOCÊ. Olhe
para você, para nossas reuniões de oração, e olhe para você quanto às suas intercessões
privadas, e julgue segundo o teor deste texto. Primeiro, olhe para você, para as reuniões de
oração. Eu não posso falar muito sugestivamente neste assunto, porque eu acredito honestamente que as reuniões de
oração que normalmente são celebradas entre nós, tenham menos faltas que outras que eu já
assisti.
Mas, ainda elas têm algumas faltas, e eu espero que o que nós diremos, será levado para casa pessoalmente por todo irmão que está no hábito
de se ocupar publicamente da súplica em reuniões de oração. Não é isto um fato que assim
que você entra na reunião, você sente, que o pedido de muitos são mentiras (falo com
dificuldade, mas é o que penso honestamente), mentiras de uma boa memória para lembrar
grandes promessas da Bíblia, mas cujo coração não crê de fato nas mesmas. Mentem também
por não pedirem nada em particular, mas atravessando uma gama de assuntos
desconexos através da oração, não lançam uma só flecha ao alvo, pois que apontando para tudo
sem se concentrar num objetivo determinado, acabam não atingindo nada. Esses irmãos são
frequentemente os que mais pedem em oração, e que têm esse estranho hábito. Agora, se ao
186
invés disso, algum homem é chamado a orar, e que nunca orou antes em público; suponha que
ele diga: "Oh Deus, eu me sinto um mísero pecador que mal posso falar contigo, Senhor,
ajuda-me a orar! Oh Deus salve minha alma, assim como tu salvaste os meus companheiros.
Senhor, abençoe o nosso pastor! Agrada-te em dar-nos um avivamento. Oh Deus, eu não posso dizer nada mais, a não ser que tu me atendas por
causa de Jesus. Amém!”. Bem, então, você sente de alguma maneira, que alguém começou a
pedir de fato. Você sente que aquele homem disse o que ele queria de fato dizer. E se mais
alguém se levanta e ora com o mesmo espírito, você dirá: “Isto é uma oração real.”. Eu prefiro
três minutos de uma oração como essa do que trinta minutos do outro tipo, porque neste caso
a pessoa está pregando, mas o outro está orando de fato.
Permita-me citar o que um antigo pastor disse sobre o assunto da oração, e dê a você com isto
uma pequena palavra de conselho: "Lembre-se, que o Senhor não lhe ouvirá, por causa da
aritmética das suas orações; ele não conta o número delas. Ele não lhe ouvirá por causa da
retórica das suas orações; ele não quer o idioma eloquente com o qual elas são proferidas.
Ele não lhe ouvirá por causa da geometria das
suas orações; ele não as computa pelo tamanho delas, ou pela amplitude delas. Ele não lhe
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considerará por causa da musicalidade das suas orações; ele não se importa com doces vozes,
nem com períodos harmoniosos. Nem olhará para você por causa da lógica das suas orações;
porque elas são bem organizadas, e excelentemente pronunciadas. Mas ele lhe
ouvirá, e ele medirá a quantidade de bênçãos que lhe dará, de acordo com a piedade das suas orações. Se você pode pedir em nome de Cristo,
levando em conta a sua pessoa divina, e se o Espírito Santo lhe inspira com zelo e seriedade,
as bênçãos que você lhe pede, seguramente virão a você.”.
Se nós viemos falar com Deus, nós devemos
fazê-lo com os nossos próprios corações. Nossas reuniões de oração seriam melhores se todos
falassem com Deus como uma criança fala com o seu pai. Olhe bem para isto se você deseja
realmente orar: não aprenda o idioma da oração, mas busque o espírito da oração. Porque os lábios podem se mover e o coração não pedir
de fato. Os lábios se moveram, mas o coração estava calado.
É possível que a alma peça apontando para a
promessa divina, sem que o coração creia de fato que a oração foi ouvida, e que Deus
cumprirá de fato o que tem prometido. Nós temos insultado frequentemente a Deus com a
nossa incredulidade e com nossa pressa, e com todo o tipo de pecados. Nós o insultamos até
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mesmo no seu trono de graça, naquele mesmo lugar onde a condescendência dele é
manifestada completamente. Não se dá assim com você? Não devemos, cada um de nós,
confessar isto ao Senhor? Cuidem disto, irmãos para que um conserto seja feito, então o Senhor
o fará mais próspero em suas orações do que antes.
Nosso último ponto é: olhe para cima, OLHE ACIMA. Não com um olhar altivo, mas com um espírito contrito, próprio a quem se põe de
joelhos diante do Senhor. Vá até o seu Deus e lhe fale que se almas não são salvas, não é porque
ele não tenha poder para salvar, mas porque você nunca tem lutado em intercessão em favor
dos pecadores que estão perecendo.
Embora você pecasse contra o Senhor, ele ainda
o ama. Não oraram e não buscaram a sua face, mas Ele ainda chora por vocês. Veja, ele diz a vocês que sempre está pronto para lhes ouvir.
Não olhe querido irmão a oração como um hábito solitário, como uma ficção romântica ou
como um dever árduo; olhe para isto como um real poder, como um real prazer.
Abra a boca tão amplamente quanto Ele a possa encher; vá ao Senhor com mais fé firmada em
suas promessas; aventure, arrisque, exceda o Eterno se é possível; tente.
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Oração de Davi na Caverna
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra)
Salmo 142 – Salmo didático de Davi. Oração que fez quando estava na caverna.
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a
minha voz suplico ao Senhor.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando me ocultam armadilha.
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores,
porque são mais fortes do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te
dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.
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Quando Davi fez a oração deste Salmo ele estava fugindo de Saul, que o procurava com o exército
de Israel para tirar-lhe a vida. Ele estava na caverna de Adulão, onde se juntaram a ele seus
pais, seus irmãos e todos os homens que se achavam em aperto, e os endividados e todos os
amargurados de espírito – cerca de quatrocentos homens (I Sm 22.1,2).
“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo:
Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e o abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos.” (Is 57;15). O Senhor
habita no terceiro céu, mas habita também nos corações dos contritos e abatidos de espírito na
terra, que se humilham perante Ele e o buscam. Isto não renova a tua esperança em meio aos
teus sofrimentos e problemas? O Altíssimo vem ao teu encontro para te dar livramento. Davi
começa muitos Salmos com lágrimas mas os termina com louvor e alegria, isto porque Deus
nos visita no meio da nossa tribulação, no meio do nosso clamor angustiado, e nos livra dando-
nos um cântico de vitória e de alegria.
Davi orou quando estava na caverna.
Deus ouvirá a oração que for feita na terra, no mar e até no fundo do mar. Ele não é somente
Deus das montanhas, mas também dos vales. O trono de graça do Senhor sempre está acessível
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aos que o buscam com um coração sincero e contrito.
As melhores orações são feitas nas cavernas da aflição porque vêm do profundo do nosso coração. Se alguém esta noite encontra-se em
posição em que sua alma esteja angustiada, e sentindo nuvens a cercar o seu coração, este é
um momento especial para comunhão e intercessão que prevaleça, para provar a
fidelidade de Deus à sua promessa de estar junto do abatido e contrito de coração.
O Salmo 142 começa com Davi dizendo que pediria misericórdia a Deus com sua voz.
Podemos cometer dois grandes erros na aflição. O primeiro está na acomodação ao mal. Na
nossa descrença pensando que Deus não está interessado em fortalecer o nosso coração e
alegrar a nossa alma. Com isto, não clamamos por socorro como fez Davi. Não oramos. Não
confiamos. Não cremos.
O segundo grande erro é o de subestimar a dor.
E tocarmos a vida com o coração atribulado julgando que somos mais fortes do que qualquer
problema. Davi não tinha vergonha de assumir e reconhecer que há situações que o nosso
inimigo, seja ele qual for, e venha na forma que for, é mais forte do que nós. E não temos outra
alternativa senão a de recorrer ao auxílio do Altíssimo, do Todo Poderoso. Há um mistério
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nisto, que Paulo bem conheceu: quando somos fracos então somos fortes. A graça do Senhor se
revela poderosa na nossa fraqueza. O ato de prosseguir tentando parecer ser mais fortes do
que as forças que nos oprimem e deprimem, pode fazer com que nós, nesta nossa
autoconfiança venhamos a ficar amargurados, endurecidos, obstinados e frios. O poder não é nosso e nem das forças que nos assolam, mas é
exclusivo de Jesus Cristo. Todo o poder Lhe foi dado nos céus e na terra, Ele tem autoridade
sobre tudo e todos. É seu prazer ajudar-nos quando clamamos por socorro.
Assim nossa primeira ocupação é a de recorrer a Deus. Façamos conhecidas de Deus nossas
dúvidas e temores. Se tens de sair do teu estado atual de depressão, corra imediatamente para
Deus, como fez Davi. Ele diz nos dois primeiros versículos do Salmo 142:
1. Ao Senhor ergo a minha voz e clamo, com a minha voz suplico ao Senhor.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
Se não tens força para clamar com tua voz, ou não há um lugar adequado para tal, clama com o
coração, grita com a tua alma, fala com o Senhor em silêncio, mas não deixes de clamar.
Contempla somente ao Senhor, porque somente nele há esperança.
193
Se tens pecado contra Deus, saiba que Ele está disposto a perdoar. Ele pode perdoar
completamente a maior das ofensas. Lembra que Jesus pagou com sua morte o preço exigido
para o perdão de todos os nossos pecados.
Basta apenas confessar. Davi confessou que estava com o seu espírito abatido. Mas
determinou-se não ocultar nada de Deus. Faça o mesmo. Ele diz nos versos 2 e 3 do nosso Salmo.
2. Derramo perante ele a minha queixa, à sua presença exponho a minha tribulação.
3. Quando dentro em mim me esmorece o espírito, conheces a minha vereda. No caminho em que ando me ocultam armadilha.
Quando estamos na caverna da aflição não são palavras religiosas que irão nos ajudar. Não são
meras palavras que temos que falar, mas colocar toda nossa angústia diante de Deus. Tal
como uma criança devemos dizer ao Senhor todas as nossas angústias, nossas queixas,
nossas misérias, temores. Se lhe confessarmos tudo, Ele dará ao nosso espírito um grande
alívio, pois tem prometido libertar do cativeiro a alma que lhe clama por socorro na angústia (Sl
50.15).
Vão é o socorro humano quando estamos na
caverna. Deus pode levantar homens para virem em nosso auxílio, mas devemos reconhecer que
194
eles não viriam e não agiriam bem em nosso favor se o Senhor não os dirigisse em tal sentido.
É importante destacar que quando Davi fez esta oração ele se encontrava num grande refúgio que era a caverna de Adulão, e estava em
companhia de seus familiares e de quatrocentos homens que haviam feito dele o seu chefe, mas
Davi sabia que não há segurança confiável em nada neste mundo. E dispôs-se a buscar o único
e verdadeiro e seguro refúgio, o Senhor nosso Deus.
É preciso reconhecer como Davi que somente no Senhor há esperança e interesse em socorrer
a nossa alma. Por isso ele orou assim nos versos 4 e 5:
4. Olha à minha direita e vê, pois não há quem me reconheça, nenhum lugar de refúgio, ninguém que por mim se interesse.
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
As tribulações aprisionam a nossa alma, colocam-na no cárcere. Ali perdemos a alegria
da salvação, porque a alma é como um pássaro que só canta em liberdade. Os grilhões da
maldade, da perseguição do inimigo que busca aprisionar a nossa alma, não podem resistir ao
poder de Jesus que quebra todas as cadeias que nos prendem, e nos dá perfeita liberdade.
195
Podemos caminhar livremente em Jesus. E por isso Davi orou:
6. Atendes ao meu clamor, pois me vejo muito fraco. Livra-me dos meus perseguidores, porque são mais fortes do que eu.
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão, quando me fizeres esse bem.
Quando os homens são livrados da prisão, eles agradecem e louvam à pessoa que os libertou. Muito mais nós devemos adorar e louvar a Jesus
pela liberdade que Ele nos dá. Devemos glorificar o seu santo nome porque somente ele
é digno de adoração.
Há uma coisa para ser conhecida em relação às tribulações que sofremos:
Quando Deus quer fazer grande a uma pessoa, ele primeiro a quebra em pedaços.
Deus queria fazer de Jacó, um príncipe, o que fez
o Senhor? Saiu numa noite e lutou com ele até raiar o dia. E lhe tocou no nervo da coxa de forma
que ficou manco antes de mudar seu nome para Israel, que significa príncipe de Deus. A luta era
para retirar-lhe as próprias forças, e quando estas se esgotaram o chamou de príncipe.
196
Agora Davi seria rei sobre todo Israel. Por onde passava o caminho para o trono de Davi? Pela
caverna de Adulão. Deveria ir para lá, perseguido por Saul, como um pária, um
proscrito, porque esse era o caminho que o levaria a ser o rei que era segundo o coração de
Deus.
Vocês não têm reparado em suas próprias vidas, que cada vez que Deus vai dar-lhes um crescimento, para lhes levar a uma esfera maior
de serviço, ou nível mais elevado na vida espiritual, que primeiro vocês são derrubados?
Por isso a Palavra diz que devemos ter por motivo de toda a alegria o passar por várias
provações. Porque esta é a maneira de Deus trabalhar conosco. Faz com que tenhamos fome
antes de dar-nos de comer. Desnuda-nos antes de vestir-nos. Faz de nós nada, antes de fazer
algo de nós.
Por que devemos passar pela caverna como Davi? Primeiro porque para sermos uma pessoa
de grande utilidade, Deus precisa antes ensinar-nos a orar. Se chegarmos a ser grandes sem orar,
nossa grandeza será nossa ruína. A caverna nos ensina que dependemos inteiramente de Deus e
que vão é o socorro do homem e nenhuma é a nossa força.
Há situações na vida em que ficamos totalmente
entregues nas mãos de Deus. Dependentes da sua misericórdia e auxílio. Com isso quer nos
197
ensinar a não confiarmos em nós mesmos, em nossa própria força, sabedoria, capacidade.
Mais, acima de tudo isso, o Senhor deseja ser
conhecido. Quer que aprendamos que Ele é o nosso melhor amigo. Quer que aprendamos que somente a Ele pertence todo o poder. Quer que
aprendamos que Ele é totalmente bondoso, misericordioso, amoroso e fiel.
Por isso Davi disse:
5. A ti clamo, Senhor; e digo: Tu és o meu refúgio, o meu quinhão na terra dos viventes.
Na aflição da caverna aprendemos a chorar com os que choram. Aprendemos a valorizar o
sofrimento dos nossos irmãos e compartilhamos com eles as suas lutas,
intercedendo por eles e socorrendo-os em suas tribulações.
Sem a caverna não aprenderíamos nenhuma destas coisas, e por isso somos exortados a sermos gratos a Deus por tudo, e a entender que
todas as coisas cooperam juntamente para o bem dos que amam a Deus.
Lembremos que quando Deus nos retirar da
caverna, uma vez cessado o perigo, ou por termos recebido forças para enfrentá-lo,
devemos vigiar para não sairmos nos lamentando da experiência que passamos, ao
198
contrário o Senhor quer que o louvemos pelo seu poderoso livramento, porque os que cantam
são os que seguem adiante. Fora com todo o pessimismo e nuvens de tristeza que venham
sobre nós, depois que temos sido libertados por Deus. Que se encontrem somente palavras de
louvor e gratidão em nossos lábios, e outros se juntarão a nós, para receberem da mesma alegria e unção. Davi agia assim e devemos agir
do mesmo modo, orando juntamente com ele:
7. Tira a minha alma do cárcere, para que eu te dê graças ao teu nome: os justos me rodearão,
quando me fizeres esse bem.
199
A Oração Espontânea
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e
adaptado por Silvio Dutra)
“Então orei ao Deus dos céus” (Ne 2.4)
Neemias havia perguntado sobre o estado da
cidade de Jerusalém, e as notícias que ouviu lhe
causaram grande dor. “Como não me estaria triste o rosto se a cidade, onde estão os
sepulcros de meus pais, está assolada e tem as portas consumidas pelo fogo?” (Ne 2.3). Não
poderia suportar que fosse um puro montão de ruínas – aquela cidade que havia sido formosa.
Guardando o assunto em seu coração, não começou a falar com outras pessoas sobre o que
poderiam fazer, nem traçou um programa maravilhoso sobre o que poderia fazer se vários
milhares de pessoas se unissem ao empreendimento, porém lhe ocorreu que
poderia fazer algo ele mesmo. Esta é a forma em que o homem prático inicia um assunto: o que
não é prático fará planos, arranjos e especulações acerca do que poderia ser feito,
porém o genuíno e dedicado amante de Sião fez a si mesmo esta pergunta: “Que podes fazer
Neemias? Que podes fazer? Vamos, tens que fazê-lo, e tu és o homem que tem de fazê-lo –
pelo menos deves fazer tua parte. Que podes fazer?
200
Tendo chegado a este ponto, resolveu separar tempo para orar. Nunca teve o assunto fora de
sua mente durante quase quatro meses. Dia e noite parecia ter escrito Jerusalém em seu
coração, como se o nome estivesse pintado no globo de seu olho. Via somente a Jerusalém.
Quando dormia sonhava com Jerusalém. Ao despertar seu primeiro pensamento era Jerusalém. O homem de uma ideia fixa, vocês
sabem, é um homem terrível. E quando somente uma paixão tem absorvido toda a sua
humanidade, algo terá que vir como resultado. O desejo de seu coração se converterá em
alguma demonstração aberta, especialmente se apresenta o assunto diante de Deus em oração.
Algo surte disto. Antes que transcorresse muito tempo, Neemias teve sua oportunidade.
Homens de Deus, se querem servir a Deus e não encontram a ocasião propícia, esperem um
tempo em oração e sua ocasião irromperá sobre vocês como um raio de sol.
Nunca houve um coração verdadeiro e valente que não lograsse achar uma esfera adequada
num lugar ou outro para realizar seu serviço. Todo obreiro diligente faz falta em algum lugar
da vinha. Pode ser que tenhas que esperar, pode parecer que estás ocioso no mercado, porque o
mestre não te tem contratado, porém espera ali em oração, e com teu coração ardente com seu
propósito cálido, e aparecerá a tua oportunidade. A hora necessitará seu homem, e
201
se estás pronto, tu como homem, não ficarás sem a tua hora. Deus deu a Neemias uma
oportunidade. A oportunidade veio, é certo, de um modo que era inesperado. Veio através de
sua tristeza de coração. Este assunto lhe ocupou a mente até que começou a se ver sobremaneira
infeliz.
Não posso dizer se os demais não notaram, porém quando entrou no salão real, com a taça,
o rei ao qual servia notou a angústia no rosto do copeiro e lhe disse: “por que está triste teu rosto,
se não estás doente? Tem de ser tristeza do coração.”. Pouco se dava conta Neemias que sua
oração estava lhe brindando a ocasião. A oração estava registrada em seu rosto. Porém quando
se lhe apresentou a ocasião teve problemas porque disse: “Temi sobremaneira”. Então o rei
lhe pergunta: “Que me pedes agora?”. Pela maneira de perguntar parecia querer ajudar-
lhe, e aqui nos surpreende um tanto notar que em vez de se apressar em dar uma resposta ao
rei – a resposta não foi dada de imediato – ocorre um incidente, e isto está registrado. Embora
tivesse se entregado por inteiro à oração, ocorre este pequeno parêntesis: “Então orei ao Deus
dos céus.”. Quero pregar sobre esta oração. Segundo minha opinião aparecem três
pensamentos aqui, e sobre cada um deles quero estender-me um pouco: o fato de que Neemias
orara nesse momento preciso; o modo da oração; e o excelente tipo de oração que utiliza.
202
I. O fato de que Neemias tenha orado chama a atenção.
Seu soberano lhe havia feito uma pergunta. Supõe-se que o correto seria responder. Porém não fez isso. Antes de responder orou ao Deus do
céu. Não creio que o rei tenha notado a pausa. Provavelmente o intervalo não tenha sido
suficientemente grande para ser notado, porém teve a extensão necessária para que Deus o
notasse – suficientemente grande para que Neemias buscasse e obtivesse a direção de Deus
quanto à resposta que deveria dar ao rei. Não lhes surpreende encontrar um homem de Deus
que tem tempo para orar entre uma pergunta e uma resposta? Neemias encontrou esse tempo.
Mais nos surpreende sua oração porque estava tão perturbado que, em conformidade com o
versículo dois, temeu grandemente. Quando estás nervoso e desconcertado poderias
esquecer-te de orar. Alguns de vocês não consideram isto como uma desculpa válida para
omitir suas devoções regulares? Contudo, Neemias pensa que se está alarmado, isso é uma
razão para orar e não para deixar de orar. Tão habitualmente estava em comunhão com Deus,
que tão logo se encontrava num dilema voava para a presença de Deus. sua oração foi mais
extraordinária nesta ocasião, dado que se sentia apaixonado por seu objetivo. O rei lhe pergunta
que é o que necessitava, e põe todo o seu coração na reconstrução de Jerusalém. Não te
203
surpreende que não tenha dito imediatamente: Oh rei, vive para sempre. Anelo construir os
muros de Jerusalém. Concede-me toda a ajuda que me possas dar. Porém embora estivesse
ansioso para lançar-se ao objetivo desejado, retém a mão até que se diz: “Então orei ao Deus
dos céus.”. Confesso que o admiro. Desejo imitá-lo. Quisera que cada coração crente possa ter a santa precaução que não lhe permitiu apressar-
se insensatamente.
Certamente quando o desejo de nosso coração está muito próximo, diante de nós, estaremos
mais seguros de que tomaremos o pássaro que estamos espiando entre os galhos da árvore, se
nos determos silenciosamente, elevamos nossos corações e oramos ao Deus do céu. E é
ainda mais surpreendente que tenha orado deliberadamente neste preciso momento,
porque ele já havia estado orando nos últimos três ou quatro meses sobre a mesma matéria.
Alguns de nós poderia ter dito: “Isto é aquilo pelo que tenho orado, tudo o que tenho que
fazer agora é tomá-lo e usá-lo. Que necessidade tenho de voltar a orar?”. Porém não é assim.
Vocês sempre verão que o homem que tem orado muito é o homem que seguiria orando.
“Ao que tem lhe será dado e terá mais”. Se estás familiarizado com o trono da graça, o visitarás
continuamente. Embora Neemias tivesse estado orando todo o tempo, não obstante, deve
204
oferecer outra petição. “Então orei ao Deus do céu.”.
Vale a pena recordar uma coisa mais, a saber, que Ele estava num palácio real, e no palácio de
um rei pagão, e estava no ato mesmo de por diante do rei a taça de vinho. Estava cumprindo
sua tarefa na festa do estado, no meio do resplendor das lâmpadas e do brilho do ouro e
da prata, em meio dos príncipes do reino. Ou ainda que fosse uma festa privada do rei e da
rainha somente, os homens se impressionam de tal maneira em tais ocasiões com as
responsabilidades de seus cargos elevados, que facilmente se esquecem de orar. Porém este
israelita devoto, nesse lugar e nessa ocasião, quando está aos pés do rei para servir-lhe a taça
de outro, se refreia em dar uma resposta ao rei antes de ter orado ao Deus do céu.
II. Observemos agora o modo desta oração.
Bem, muito brevemente, foi o que poderíamos chamar de uma oração espontânea – que é como se lança o dardo. Não era a oração que se para
junto à porta da misericórdia a chamar, chamar e chamar. É a concentração de muitos
chamados num só. Começou e terminou em um só golpe. Quero recomendar-lhes esta oração
como uma das melhores formas de oração. Note que deve ter sido muito breve. Aconteceu entre
a pergunta do rei e a resposta de Neemias. A oração partiu como um raio de eletricidade, em
205
forma verdadeiramente rápida. É maravilhoso tudo o que pode passar pela mente num tempo
muito curto. Como os que estavam morrendo afogados, ao se recobrarem têm contado que
enquanto afundavam viram todo o panorama de suas vidas passar diante dos seus olhos em
breves segundos. Assim, a oração foi apresentada como um abrir de olhos; foi feita intuitivamente, contudo foi feita e demonstrou
ser uma oração que prevaleceu diante de Deus, porque o rei deu resposta favorável a Neemias,
depois que ele orou. A ajuda que ele daria a Neemias já não seria a que ele teria determinado
em sua mente e coração, mas segundo a direção que Deus lhe daria, e conforme a vontade de
Deus. Apesar de tão curta, esta oração de Neemias nunca mais ficou esquecida em sua
memória, porquanto ele a registrou da seguinte forma: “Então orei ao Deus do céu.”.
III. Agora, irmãos amados, em terceiro lugar passo a lhes recomendar este excelente estilo de
oração. Não lhes peço que sempre usem este método da oração espontânea, mas que não se
esqueçam de fazer petições breves e ferventes, como a do publicano no templo: “Deus, sê
propício a mim, pecador.”.
Então para tratar de forma prática este assunto, é dever e privilégio de todo crente ter horas
estáveis para orar. Não posso entender que um homem possa conservar a vitalidade da piedade
206
a menos que se retire regularmente para orar, pelo menos pela manhã e pela tarde ou noite.
Daniel orava três vezes ao dia e Davi diz: “Sete vezes ao dia te louvo”. É bom para os seus
corações, bom para sua memória, bom para sua solidez para que dediquem certas porções de
tempo e digam “Pertencem a Deus. Terei encontros com Deus a tal e tal hora, e procurarei ser tão pontual em meu horário com Ele como
se houvesse feito um compromisso para reunir-me com um amigo.”. Quando Sir Thomas Abney
era alcade de Londres lhe molestava ter que participar de banquetes, porque Sir Thomas
sempre havia orado com sua família numa hora determinada. O problema era como sair do
banquete para poder conservar a devoção familiar. Considerava isto tão importante, que
deixava a sala, avisando ao seu vizinho de assento que tinha um compromisso com um
amigo querido ao qual não poderia faltar. E se ia, cumpria seu compromisso com Deus e
regressava a seu lugar, ninguém mais sábio, e sendo ele o melhor por observar o hábito
acostumado de adorar. A Sra Rowe dizia que chegado o momento de orar, não pararia a
oração ainda que estivesse pregando o apóstolo Paulo. Porém agora, tendo enfatizado a
importância do hábito piedoso da oração privada, quero que fiquem impressionados pelo
valor de outro tipo de oração, a saber, as orações imprevistas, breves, rápidas, muito curtas e
frequentes, das quais Neemias nos dá uma
207
mostra. E a recomendo, porque não atrapalha os compromissos e não ocupa tempo. Poderias
estar fazendo compras, e falar com Deus entre um item e outro: “Senhor, ajuda-me.”. Não te
faltará tempo. Este modo de orar é uma grande vantagem para pessoas que estão pressionadas
pelos negócios, porque nem no menor grau lhes incapacitará para atender aos assuntos que tenham em mãos. Poderás fazer esta oração em
qualquer lugar que estiveres.
Uma oração desse tipo pode ser oferecida em qualquer lugar, e sob qualquer circunstância. Na terra, no mar, enfermo ou com saúde, em
meio de perdas ou ganhos, nos grandes reveses ou nos momentos de alegria, o crente pode
desafogar sua alma dirigindo-se a Deus em sentenças breves e rápidas. A vantagem desta
forma de oração é que podes orar com frequência e podes orar sempre. O hábito da
oração é bendito, porém o espírito de oração é melhor. E o espírito de oração é a mão destas
orações instantâneas, e assim podemos falar com Deus nosso Senhor, muitas vezes durante o
dia. Este tipo de oração está livre de qualquer suspeita de haver sido motivada de maneira
corrupta para agradar aos homens. Há hipócritas que têm orado durante horas. Mas
nestas orações não há hipocrisia. Nelas há realidade, força e vida. O hábito de oferecer
estas breves orações também impedirá que deposites confiança em ti mesmo. Mostrará tua
208
dependência de Deus. Evitaria que te tornasses mundano. Orações como estas foram
apresentadas frequentemente por Davi, e são as que têm êxito diante do Altíssimo. Portanto,
abundem nelas, porque Deus quer estimular seu uso e lhe agrada respondê-las.
Deus não nos ouve devido à extensão de nossas orações, mas pela sinceridade delas. A oração
não se mede por metros nem se pesa por quilos. É seu poder e força, a verdade e a realidade dela,
a intensidade e a energia dela o que vale. Se tens uma mente tão pequena e rápida que não podes
usar muitas palavras, ou não podes pensar tão amplamente sobre qualquer coisa, deveria ser
para teu consolo saber que a oração espontânea é aceitável a Deus. E poderia ser, querido amigo,
que estás numa condição física em que não poderias orar de outro modo. Então resulta
como refrigério dirigir-se a Deus uma e outra vez, cinquenta a cem vezes no dia, em orações breves, rápidas, estando a alma em todo seu
fervor. Este é um estilo bendito de oração.
O Sr Rowland Hill era um homem notável por sua piedade, e estava sempre orando, não
importava onde estivesse, o bom homem sempre estava orando. Parecia que toda sua
vida, embora a tivesse gastado fazendo o bem entre seus semelhantes, a passou em oração
perpétua. Sempre estava derramando sua alma diante de Deus. Havia chegado a estar num
209
estado constante de oração. Creio que é a melhor condição em que um homem pode estar
quando está orando sempre, orando sem cessar, sempre se aproximando de Deus com suas
orações espontâneas.
Quando tiveres uma grande alegria, clama: “Senhor, converte isto numa bênção verdadeira para mim.”. Não exclames como os demais: “Sou
um tipo com sorte”, mas, “Senhor, dá-me mais graça e mais gratidão, agora que tens
multiplicado os teus favores.”. Quando tens uma empresa difícil ou um assunto pesado não os
toques desde que em tua alma haja uma dificuldade, e te sentes mui perplexo, quando os
negócios chegam a uma encruzilhada, ou a uma confusão que não podes desembaraçar ou
ordenar, ora. Não é necessário que ocupes um minuto, porém é maravilhoso dar-se conta de
quantos nós podes desatar depois de uma palavra de oração.
Os teus filhos te parecem particularmente molestos, boa mulher? Parece que tua paciência
quase se tem esgotado devido às preocupações e hostilidades? É o momento de uma oração
instantânea. Os conduzirás de forma mais adequada e suportarás seus maus
comportamentos de forma mais tranquila. Em todo caso, tua própria mente estará menos
perturbada. Sentes que há uma tentação diante de ti? Começas a suspeitar que alguém está te
210
preparando armadilhas? Tens que orar. “Leva-me por um caminho plano por causa de meus
inimigos.”. Estás trabalhando entre pessoas que têm conversações obscenas e vergonhosas? É
tempo de uma breve oração. Tens notado que um pecado te assedia? Mova-te à oração. Estas
coisas te recordam que deves orar.
Sentes que teu coração está saindo dos limiteis?
O pecado começa a fascinar-te? É tempo de orar, de um clamor ardente, sincero e apaixonado:
“Senhor, ajuda-me”. Viste algo com teus olhos, e teus olhos estão infectando teu coração? É
tempo de orar. “Senhor, sustém-me com tua destra.”. Tem ocorrido algo completamente
inesperado? Te tem tratado mal um amigo? Então, ore como Davi: “Senhor, desfaz agora o
conselho de Aitofel.”. Podemos falar com Deus enquanto estudamos, ou quando conversamos
com alguém.
Quanto temos grande dor. E quanto maior for a ferida, mais urgente e importante deveria ser teu clamor diante de Deus. E quando as sombras
da morte te rodeiam, e estranhos sentimentos te sufocam ou te enchem de calafrios, e
claramente te dizem que está próximo o fim da tua jornada, então ore. Oh, esse é tempo de orar
breve e ferventemente. “Senhor Jesus recebe meu espírito”, foram as palavras emocionadas
de Estevão quando estava à porta do seu fim, e “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”,
211
foram as palavras do Mestre mesmo, pronunciadas no momento antes de inclinar
sua cabeça e entregar seu espírito.
Agora, se há alguém que esteja aqui em nossa igreja, e que não tenha ainda conhecido a Cristo, antes que deixe teu assento, não seria bom que
orasses? Diga: “Senhor, tem misericórdia de mim; Senhor, salva-me, Senhor, muda meu
coração; Senhor, dá-me que possa crer em Cristo; Senhor, salva-me agora.”. Não querem,
cada um de vocês, fazer uma oração como esta? Que o Espírito Santo te guie a fazê-lo, e se uma
vez começas a orar de forma correta, não tenho medo que venhas a abandonar alguma vez,
porque há algo que sustém firme, a alma na verdadeira oração. As orações fingidas, que têm
de bom? Porém as súplicas verdadeiras do coração, a alma que conversa com Deus, uma
vez que começa nunca termina. Terás que orar até que troques a oração pelo louvor, e passes do
trono da graça de baixo, ao trono de Deus de cima.
212
Oração de Intercessão
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)
"E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando ele orava pelos seus amigos" Jó 42:10.
Assim, então, nossas tristezas mais longas têm
um fim, e há um termo aos mais profundos
abismos da nossa miséria. Nossos invernos não durarão para sempre; o verão logo sorrirá. A
maré não vazará eternamente; as inundações deterão a sua marcha. A noite não perdurará sua
escuridão para sempre sobre nossas almas; o sol ainda surgirá com a cura debaixo das suas asas.
"O Senhor virou o cativeiro de Jó". Nossas tristezas terão um fim quando Deus pôr um fim
nelas. Os fins no caso de Jó eram estes, que Satanás poderia ser derrotado, anulado com as
suas próprias armas, dinamitado nas suas esperanças quando foi derrotado por seus
próprios argumentos. Deus, no desafio de Satanás, tinha esticado a sua mão e tocou Jó no
seu osso e em sua carne, e ainda o tentador não pôde prevalecer contra ele, mas recebeu a sua
repulsa nessas palavras vencedoras: "Ainda que Ele me mate, nele eu confiarei”. Quando Satanás
é derrotado, então a batalha deve cessar. O Senhor também colocou a fé de Jó à prova. O
fogo foi bastante intenso, mas o ouro não foi diminuído, e somente a escória foi consumida.
213
Outro propósito que Deus teve foi a sua própria glória. E Deus foi glorificado abundantemente.
Jó tinha glorificado Deus na sua aflição.
Deus teve ainda outro objetivo, e que também foi cumprido. Jó foi santificado pelas suas
aflições. O seu espírito foi aperfeiçoado, e qualquer resquício de justiça própria que havia
nele foi lançado definitivamente fora. Agora os desígnios de Deus estão cumpridos, ele
removeu o açoite das costas do seu servo. Deus que não aflige de boa vontade, nem aflige os
filhos do homem para nada, revela isto no fato de que ele nunca os aflige por um tempo maior
do que o necessário, e nunca os faz sofrer por um período maior na fornalha que é
absolutamente necessária para servir aos propósitos da sua sabedoria e do seu amor. "O
Senhor virou o cativeiro de Jó". Irmão amado em Cristo, tu tens estado num cativeiro longo em
aflição. Deus te vendeu na mãos de teus adversários, e tu tens lamentado pelas águas de
Babilônia. Não se desespere! Ele que virou o cativeiro de Jó pode virar também o teu
cativeiro. Ele fará o teu vinhedo florescer novamente, para que o teu campo renda os seus
frutos. Tu sairás novamente adiante com aqueles que estão alegres, e mais uma vez a
canção de alegria estará nos teus lábios. Não deixe nenhum desespero acorrentar a tua alma.
Espere ainda, porque há esperança. A tua confiança nele fará com que Ele te traga da terra
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do cativeiro, e tu dirás dele: “Ele tem transformado o meu luto em dança.”.
A circunstância que assistiu à restauração de Jó é para o que eu chamo sua atenção particular. "O
Senhor virou o cativeiro de Jó quando ele orava pelos seus amigos”. A oração de intercessão era
o presságio da grandeza que seria devolvida a ele. Era o arco na nuvem, a pomba que carrega o
ramo de oliveira, a voz da cigarra que anuncia o verão que se aproxima. Quando a sua alma
começou a se ampliar em oração santa e amorosa pelos seus amigos errados, então o
coração de Deus se revelou a ele dando-lhe de volta a sua prosperidade, e alegrando a sua alma
no seu interior. Deixe-nos aprender hoje para imitar o exemplo de Jó, e orar pelos nossos
amigos, e provavelmente, se nós estivemos em dificuldade, nosso cativeiro será virado.
A oração intercessória foi praticada por todos os maiores santos de Deus. Nós não podemos
achar exemplos disto juntado ao nome de todo santo, mas sem dúvida, nunca houve
pessoalmente um homem eminente em devoção, que não tenha sido sempre
preeminente nos desejos ansiosos dele em relação ao bem de outros, e nas suas orações em
favor deles. Olhe para Abraão, o pai dos crentes. Como seriamente ele se declarou em favor de
seu filho Ismael! "O que Ismael possa viver diante de ti!". Com que importunidade ele se
215
chegou a Deus nas planícies de Manre, quando ele lutou novamente e novamente com o
Senhor em favor de Sodoma; como frequentemente ele reduziu o número de justos
que poderiam justificar a não destruição da cidade: foi de cinquenta, para quarenta e cinco,
depois para quarenta, trinta, vinte e somente parou em dez, quando o Senhor lhe declarou que nem tal pequeno número de justos havia
naquela cidade. Lembremos de Moisés, o mais manso dos homens, com que frequência ele
intercedeu! Como frequentemente você se encontra com tal registro como este: "Moisés e
Arão caíram sobre suas faces diante de Deus!". Lembre-se que ele se dispôs a que o seu próprio
nome fosse riscado do Livro da Vida em troca do perdão do pecado do povo de Israel. O profeta
Samuel disse que ele pecaria contra Deus se deixasse de orar em favor de Israel. Jeremias
derramou seu coração em lágrimas em intercessão fervorosa em favor do povo de Deus.
Veja o exemplo que nos foi deixado por Jesus e pelos apóstolos.
Pela boca de Paulo o Espírito Santo nos exorta a orar pelos ministros! "Irmãos", diz Paulo, "orem
por nós"; e então depois de exortá-los a oferecer orações e súplicas em favor de todas as classes e
condições de homens, ele acrescenta: "E também por nós para que possamos ter
coragem para falar como devemos falar". Enquanto Tiago que é um apóstolo prático nos
216
incita a orar uns pelos outros, porque nós também recebemos alguma bênção especial
quando nossos corações são dilatados para o povo do Deus vivo.
Se na Bíblia não houvesse nenhum exemplo de súplica intercessória, se o Cristo não tivesse deixado isto registrado que era da sua vontade
que nós deveríamos pedir em favor dos outros, e até mesmo se nós não soubéssemos que era a
prática de Cristo interceder, contudo o mesmo espírito de nossa religião santa nos
constrangeria a fazê-lo. Seguramente o amor de Cristo não pode estar em quem é egoísta. Eu sei
que há alguns cuja devoção está amarrada confortavelmente dentro dos limites dos
próprios interesses egoístas deles. É bastante para eles se eles ouvem a Palavra, se eles são
salvos, se eles adquiriram o céu. Ah, espírito miserável, tu não experimentas o céu desta
forma egoísta! Precisaria haver outro céu para ti, porque o céu de Cristo é o céu do
desinteressado, o céu daqueles que, como Cristo, estão dispostos a se tornarem pobres
para que outros possam ser ricos. Irmãos, eu recomendo a oração intercessória, porque abre
a alma do homem, dá um sentido saudável às suas condolências. É bom saber que a cruz não
foi levantada somente para ele, porque seus braços de longo alcance foram estendidos com
bênçãos para milhões da raça humana. Eu recomendo o privilégio santificado da
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intercessão, por causa da sua doce natureza fraterna. Você e eu podemos ser naturalmente
duros, e severos, e desamorosos de espírito, mas pedindo muito para outros nos lembraremos,
realmente, de que os interesses dos santos, são também nossos, que nós estamos juntamente
preocupados com eles em todos os privilégios da graça. Eu não sei nada que, pela graça de Deus, possa ser um meio melhor para nos unir
do que a oração constante de uns pelos outros. Você não manteria a inimizade em sua alma
contra seu irmão depois que você aprendesse a orar por ele. Seguramente você não pode ser tão
hipócrita invocando bênçãos sobre a cabeça dele diante de Deus e então vir depois a
amaldiçoar a sua alma.
Quando houver reclamações trazidas de irmão contra irmão, geralmente o melhor modo de agir é dizer: "Deixem-nos orar antes de nós
entrarmos no assunto.". Onde quer que haja um caso a ser decidido pelo pastor, ele sempre deve
dizer aos irmãos que combatem: "Deixe-nos orar primeiro", e acontecerá frequentemente que
através da oração as diferenças logo serão esquecidas. Eles ficarão tão leves, tão triviais,
que quando os irmãos ficam sobre seus joelhos eles têm os seus corações transformados diante
do trono de Deus. Eu ouvi falar de um homem que tinha feito reclamações contra o seu pastor,
e sabiamente o pastor disse a ele: "Bem, não fale comigo na rua; venha para minha casa, e nos
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deixe ouvir tudo.". Ele foi, e o ministro disse: "Meu irmão, eu espero que o que você tem a me
dizer possa me abençoar grandemente; porque eu não tenho nenhuma dúvida que eu tenho
minhas imperfeições como qualquer outro homem, mas nos ajoelhemos e oremos juntos a
Deus.”. Assim nosso amigo briguento orou primeiro e o pastor logo depois. Quando eles se levantaram de seus joelhos, ele disse, "Agora,
meu irmão, eu penso que ambos estamos em um estado bom de mente; conte-me o que você
deseja falar-me..". O homem se ruborizou, e gaguejou, e gaguejou, e disse, que não havia
nada de errado a não ser ele mesmo. "Eu esqueci de orar pelo Senhor", ele disse, "e claro que eu
não poderia esperar que o Senhor alimentasse a minha alma por você quando eu negligencio o
dever de mencionar o seu nome diante do trono da graça.". Ah, irmãos, se vocês se exercitarem
muito em súplica em favor de seus irmãos, vocês perdoarão os temperamentos deles, vocês
esquecerão a precipitação deles, vocês não pensarão nas palavras severas deles; mas
sabendo que vocês também podem ser tentados, por serem homens sujeitos a paixões
como eles, vocês cobrirão as faltas deles, sendo pacientes com as suas fraquezas.
Não questione o valor da oração intercessória, porque a oração de Cristo é deste caráter. Em
todo o incenso que agora nosso Sumo Sacerdote põe no incensário, não há um único grão que
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seja para ele. O trabalho dele está concluído; ele obteve a sua recompensa. Agora você não
duvide que a oração de Cristo é a mais aceitável de todas as súplicas. Muito bem, meus irmãos,
quanto mais a oração de vocês for igual à de Cristo, mais doce ela será.
A oração intercessória deteve pestilências. Removeu a escuridão que veio sobre o Egito; afugentou as rãs que saltaram na terra;
espalhou os piolhos e gafanhotos que infestaram os habitantes de Zoar; removeu
todas as devastações que Deus estava trazendo com sua mão sobre faraó e o seu povo. A oração
intercessória curou doenças; nós sabemos o que ela fez na igreja primitiva. Quando Miriam foi
atingida duramente com lepra, Moisés orou, e a lepra foi afastada. A oração intercessória
levantou o morto, porque Elias ele estirou sobre o menino sete vezes, e ele espirrou, e a sua alma
lhe foi devolvida. Não há nada que a oração de intercessão não possa fazer. Oh! crente, você
tem uma arma poderosa em sua mão, use-a bem, use constantemente, use agora com fé, e
tu seguramente prevalecerás. Mas talvez você tenha uma dúvida sobre interceder porque
alguns caíram no pecado. Irmãos, já ouviram falar de homens dos quais se pensou que
estavam mortos mas que ainda estavam vivos? Eu posso também lhes falar que espiritualmente
houve muitos homens que apesar de mortos, ainda estavam ao alcance da graça. Houve
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muitos que foram até mesmo amaldiçoados por crentes, por ministros de Cristo, pelos seus
próprios parentes. Mas ainda em perdição eles não vieram a Cristo, mas Deus os achou, e os
levou a sair da cova horrível e fora do lamaçal, e fixou os pés deles na Rocha que vive. Oh! não
deixe ninguém; ainda ore, não ponha nenhum fora porque está espiritualmente morto. Mas talvez você diga: "eu não posso orar por outros,
porque eu sou tão fraco, tão impotente.". Você adquirirá força, meu irmão, pelo esforço. Mas
além disso, a prevalência da oração não depende da força do homem que ora, mas do
poder do argumento que ele usa. Agora, irmão, quando você semeia a semente você pode ser
muito fraco, mas não é sua mão que põe a semente no chão que produz a vitalidade na
semente. E assim se dá com a oração da fé.
Dou agora a vocês uma sugestão sobre as pessoas pelas quais nós deveríamos orar mais particularmente. Os amigos de Jó o acusaram de
hipocrisia, no entanto ele intercedeu em favor deles. E apesar de ser um homem justo
conforme o próprio testemunho de Deus acerca dele, Jó foi também acusado de egoísmo por
seus amigos. E mesmo assim ele intercedeu por eles.
Os amigos de Jó eram muito arrogantes e
orgulhosos, mas ele orou por eles. Porque, você não estaria bravo, eu suponho, com um homem
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por ter enfermidades físicas; ao contrário, você teria pena dele. Por que estaria então bravo com
seu irmão por causa de ser ele orgulhoso? É uma doença, uma doença muito ruim, o orgulho; vá e
peça a Deus para curá-lo; sua raiva não fará isto; pode torná-lo pior do que antes.
Os amigos de Jó não poderiam interceder por ele porque Deus disse que não aceitaria a oração
deles se eles a fizessem. E há crentes cujas orações não são aceitas em certas épocas.
Quando um homem tiver cometido pecado, o arrependimento deve ser o seu primeiro
trabalho, não oração; ele tem que primeiro corrigir os assuntos que se interpuseram entre
sua alma e Deus, antes que ele possa interceder por outros. E há muitos crentes que não podem
orar; a dúvida entrou, o pecado roubou a confiança deles, e eles não ousam ir além do
véu.
Além disso, há milhões de pecadores que estão mortos no pecado e eles não podem orar, ore
por eles.
Eu lhes digo irmãos, como nós poderemos reembolsar a dívida que nós temos para com a
igreja a menos que nós oremos pelos outros? Como foi que você se converteu? Não foi porque
alguém orou por você? Há filhos que devem sua conversão à oração de seus pais. Há maridos que
devem a conversão deles às orações das suas esposas; irmãos que têm que reconhecer que
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foram ganhos pela oração de seus professores da Escola Dominical. Foi pela oração de outros
que fomos trazidos a Cristo, como nós poderemos reembolsar esta bondade senão
orando também pela salvação de outros.
Então, novamente, me permita dizer, como é que você pode provar seu amor a Cristo ou pela
igreja dele se você se recusa a orar pelos homens? Não deixe que o Senhor lhe diga:
“infeliz egoísta, tu sempre bates à minha porta, mas sempre é para chorar para o teu próprio
bem-estar e nunca pelo dos outros; já que tu nunca pediste uma bênção para um dos
menores destes meus irmãos, nem eu te darei uma bênção. Tu não amas os santos, tu não amas
os membros da tua raça humana, como tu podes me amar se não me tens visto, se não amas
àqueles a quem tu vês, e como eu te amarei e te darei a bênção que tu pedes de minhas mãos?
Como você pode ser um crente se não ora em favor de outros? Crentes são sacerdotes, mas que sacerdotes eles são se não oferecem
nenhum sacrifício? Crentes são luzes, mas como iluminarão a menos que eles brilhem para
outros?
Deus virará nosso cativeiro quando nós orarmos pelos nossos amigos.
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Ordem e Argumento na Oração
Por Charles Haddon Spurgeon (Traduzido e adaptado por Silvio Dutra))
“Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal. Exporia ante ele a
minha causa, encheria a minha boca de argumentos.” (Jó 23.3,4)
Jó na sua maior dor, chorou diante de Deus. O
desejo ardente de um filho aflito de Deus é ver mais uma vez a face do seu Pai. A primeira
oração dele não é: "Oh que eu possa ser curado da doença que se espalha por todas as partes do
meu corpo!". Nem mesmo até: "Oh que eu possa ver meus filhos sendo retirados das mandíbulas
da sepultura, e minhas propriedades trazidas de volta a mim!". Mas o primeiro pedido é elevado:
“Ah! se eu soubesse onde o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal.”.
Os filhos de Deus correm para casa quando
chega a tempestade. É o instinto do céu que nasce na alma que busca abrigo para todos os
seus sofrimentos debaixo das asas de Jeová. "Aqueles que fizeram de Deus o seu refúgio",
poderia servir como título de um verdadeiro crente. Um hipócrita, quando ele sente que ele
foi afligido por Deus, se ressente com a aflição, mas não ocorre o mesmo com um verdadeiro
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herdeiro do céu, ele beija a mão que o golpeou, e busca abrigo da vara da disciplina no seio
daquele mesmo Deus que o desaprovou. Você observará que o desejo para comungar com
Deus é intensificado pelo fracasso de todas as outras fontes de consolação. Quando Jó viu os
amigos dele se aproximando no início, ele pode ter entretido uma esperança que a ação bondosa deles e sua ternura compassiva
compensariam a aflição que estava sofrendo; mas eles colocaram sal nas suas feridas, eles
juntaram combustível às chamas da sua tristeza. Eles chegaram mesmo a ousar a lançar sombras
sobre a sua reputação. O patriarca com isto se voltou para o trono celestial, exclamando as
palavras do nosso texto. Meus irmãos, nada nos ensina tanto a preciosidade do Criador quanto
quando nós aprendermos o vazio de tudo o mais neste mundo. Desviando-se com desprezo do
amargo das urticárias da terra onde você não achou nenhum mel, mas muitas picadas
afiadas, você se alegrará nele cuja palavra fiel é mais doce do que mel e o destilar dos favos.
É fato que um homem justo acelera na direção de Deus na sua dificuldade, e corre com maior
velocidade ainda por causa da descortesia dos membros da raça humana, contudo, às vezes, a
alma do justo fica partida sem a presença confortável de Deus. Esta é a pior de todas as
aflições; o texto é um dos gemidos profundos de Jó, muito mais profundo do que qualquer outro
225
que teve por causa da perda dos seus filhos e das suas propriedades. “Ah! se eu soubesse onde o
poderia achar!”. A pior de todas as perdas é perder a face do meu Deus. Ele teve um antegozo
da amargura do grito do seu Redentor: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?".
Você pode ser amado de Deus, e ainda não ter nenhuma consciência daquele amor em sua alma.
O fato de Jó estar ansiando pela presença de
Deus, denuncia que ele poderia orar a ele. Ele tinha orado, mas ele desejava orar na presença
de Deus, como quem apresenta a sua causa a um juiz. Ele desejava apresentar seus argumentos
Àquele que ele sabia que julga com justiça. Um Juiz imparcial, que não faria o mesmo
julgamento injusto que seus amigos estavam fazendo. Um Juiz que conhece perfeitamente,
causas, circunstâncias, propósitos das coisas que nos sucedem. Ao dizer: “Exporia ante ele a minha causa, encheria a minha boca de
argumentos.” (Jó 23.4) Jó nos ensina como ele pretendia interceder junto de Deus. Ele nos
ensina aqui a arte e mistério da súplica em oração. Há duas coisas aqui apresentadas como
necessárias: 1) apresentar a nossa causa; e 2) encher a nossa boca de argumentos. Nós
falaremos dessas duas coisas.
Primeiro, É NECESSÁRIO QUE NOSSA CAUSA SEJA APRESENTADA DIANTE DE DEUS.
226
Há uma noção vulgar que a oração é uma coisa muito fácil, um tipo de negócio comum que
pode ser feito de qualquer maneira, sem cuidado ou esforço. Os santos antigos não
pensavam deste modo. Não é isso que vemos na Bíblia e no exemplo dos homens de Deus na
história da igreja. Eles parecem ter pensado seriamente que a oração é uma grande transação. Parece ter sido algo poderoso para
eles, a prática de um longo exercício no qual alguns deles atingiram grande eminência, e
eram assim singularmente abençoados. Eles colheram grandes colheitas no campo da
oração, e acharam o trono da misericórdia como uma mina de tesouros não contados.
Os santos antigos costumavam, como Jó, ordenar a causa deles diante de Deus; quer
dizer, como um solicitante que entra num Tribunal, e que não vai para lá sem ter se
preparado para expor os argumentos em favor da sua causa. Além disso, ele leva em conta o
modo como deverá se portar na presença do Juiz. Quando vamos a Deus estamos indo à
presença do Rei dos reis, do Senhor dos senhores, do monarca do universo, do Pai
celestial, do Juiz de vivos e de mortos, e seríamos descuidados na nossa apresentação e
argumentação? Em épocas de perigo nós poderemos voar para a presença de Deus
rapidamente, sem qualquer preparo, assim como a pomba que busca refúgio de seus
227
inimigos nas rochas. Mas em dias ordinários nós não deveríamos vir com um espírito
desprevenido. Veja o sacerdote apresentando o sacrifício. Ele tinha todo um preparo diante de
si, tanto para si mesmo nas purificações cerimoniais, quanto em relação à oferta
propriamente dita. Assim o crente como sacerdote é chamado a apresentar sacrifícios espirituais a Deus, mas deve considerar de igual
modo que deve se preparar como o sacerdote, primeiro zelando por manter a sua vida
santificada diante de Deus, e por apresentar suas orações intercessórias como sacrifícios
muito bem preparados, antes de apresentá-los ao Senhor.
Deus não se agrada que alguém salte da cama ao acordar, se ajoelhe e lhe diga qualquer coisa que
lhe venha aos lábios. Ao contrário, que possamos esperar no Senhor com santo temor.
Davi costumava primeiro refletir sobre a bondade divina e sobre a condição da sua
própria alma, e só então passava a orar. Nós vemos isto claramente nos Salmos. Ele era um
mestre na arte da oração. Ele entrava na oração quando obtinha o espírito da oração, auxiliado
pelo Espírito Santo. Davi apontava suas orações na direção de Deus como o arqueiro que faz
pontaria para lançar flechas com o seu arco. Ele não lançava flechas ao léu. E depois que atirava
a flecha ele ficava observando se ela estava se dirigindo para o alvo. Ele desejava observar o
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efeito da sua ação, porque ele esperava uma resposta às suas orações, e não era como muitos
que escassamente pensam nas suas orações depois que eles as proferiram.
Davi sabia que a oração, como a adoração, exige a aplicação de todos os poderes mentais, do
coração, do vigor do espírito, porque o modo que se deve amar a Deus é com toda a mente, força e
coração. Por isso nossa oração deve ser diligente, bem conduzida e preparada,
administrada. George Muller não costumava orar somente. Ele anotava os pedidos, e a sua
data, e acompanhava a resposta de Deus, anotando-as em seu diário.
Isto não significa que as orações devem ser mecanicamente elaboradas, porque isso é
contra o espírito da oração, que deve ser de coração. Não é a nenhuma ordem meramente
mecânica que estou me referindo, porque nossas orações serão igualmente aceitáveis, em
qualquer forma; porque há espécies de orações, em todas as formas, no Antigo e no Nov
Testamento. A verdadeira ordem espiritual da oração parece consistir em algo mais do que
mero arranjo. É primeiro para que nós sintamos que estamos fazendo algo que é real; que nós
estamos nos dirigindo a Deus a quem nós não podemos ver, mas que está realmente presente.
Sentindo a realidade da presença de Deus, nossa mente será conduzida por graça divina a um
229
estado humilde. Por conseguinte nós não nos entregaremos à nossa oração como meninos
que repetem as lições deles, como um mero assunto de rotina. Nós seremos humildes
contudo solicitantes corajosos. Nós não teremos a reserva de um escravo mas a reverência
amorosa de um filho, contudo não um filho descarado, impertinente, mas um filho obediente, que honra o seu Pai, e que então lhe
pede sinceramente, mas com submissão à sua vontade.
Quando eu sinto que eu estou na presença de
Deus, eu estou convicto de que Ele não me atenderá a não ser pela sua exclusiva graça e por
causa de seu Amado Filho Cristo Jesus. Por isso eu me coloco debaixo do patronato do grande
Redentor e peço com santa ousadia porque sei que posso fazê-lo quando isto é em seu Nome.
É por causa dele que somos atendidos pelo Pai. Por isso eu apresento em meus argumentos no
que peço ao Pai, as feridas de Cristo, a vida dele, a morte dele, o sangue dele, enfim, tudo o que
Ele é, fez e tem feito por nós. A oração deveria ser distinta, e definitivamente e distintamente
pedir algo porque a mente percebeu sua necessidade de tal coisa, e então tem que se
declarar quanto a isto. Quando nós estamos seguros que o que nós pedimos é para a glória de
Deus, então, nós podemos pedir com santa ousadia. Ainda a oração é uma arte que somente
230
o Espírito santo pode nos ensinar. Ele é o doador de toda a oração.
A segunda parte da oração está em ENCHER A BOCA DE, não encher a boca de palavras nem
frases boas, nem bonitas expressões, mas encher a boca de argumentos pelos quais o
portão do céu é aberto. Por que os argumentos devem ser usados? Certamente não é porque
Deus seja lento em atender, não porque nós podemos mudar o propósito divino, não porque
Deus necessita ser informado de qualquer circunstância com respeito a nós mesmos ou de
qualquer coisa com relação à graça solicitada: os argumentos devem ser usados para nosso
próprio benefício, não para o dele. Ele requer que nós supliquemos a ele, e com razões fortes,
porque isto revelará que nós sentimos o valor da graça e da misericórdia que buscamos. Quando
um homem procura argumentos para alguma coisa, estes serão mais fortes e convincentes e preparados em razão proporcional ao valor
daquilo que está buscando.
Um homem que viesse a Deus com o argumento do próprio mérito pessoal dele, nunca teria
sucesso; o argumento próspero sempre está fundado na graça, não se dizendo isto apenas
com a boca, mas reconhecendo e crendo no coração, e consequentemente a alma que alega
assim entenderá intensamente que é por graça e somente por graça que o pecador obterá
231
qualquer coisa de Deus. Além, disso se pretende que o uso de argumentos incite o nosso fervor.
O homem que usa um argumento com Deus adquirirá mais força usando o próximo, e usará
o próximo com poder ainda maior.
Outro aspecto poderoso para a ordenação na apresentação de argumentos diante de Deus é a promessa de Deus. Fale com Deus
argumentando sobre suas promessas. Diga: “Senhor, está prometido na tua Palavra.”. Não
que Ele necessite ser lembrado do que tem prometido, mas para que você mostre em que
está fundado o seu pedido. Se os homens honrados se esforçam e se preocupam em
cumprir a palavra dada por eles, quanto mais o Deus que é todo honra e fidelidade. Ele não
manterá a sua Palavra? Ele vela sobre ela para a cumprir. Deus nunca desonra suas contas, ainda
que o homem não honre as suas. Quando alguém tem uma nota promissória para honrar, pode ser que não a honre, mas o Altíssimo
jamais desonrará as suas contas. O seu crédito nunca foi impugnado e nunca será. Ele é pontual
ao prazo estabelecido por Ele mesmo, nunca no nosso próprio tempo, para honrar todos os seus
compromissos, com os quais se aliançou conosco por meio de Jesus Cristo e das
promessas de sua Palavra.
Meu irmão, se você tiver uma promessa divina, você não precisa alegar isto com um "se"; você
232
pode declarar com uma certeza. Se para a graça que você está pedindo agora, você tiver uma
palavra solenemente empenhada de Deus, você não precisa ter qualquer precaução quanto ao
argumento que lhe apresentará. Você sabe que a vontade do Senhor está revelada na sua
promessa. Alegue, argumente com base nesta promessa.
Um terceiro argumento que deve ser usado é o mesmo que foi empregado por Moisés, a saber:
o grande nome de Deus. Se Deus não atender como ficará o seu grande nome? Se Deus não
nos atender o mundo dirá: “Onde está o Deus deles?”.
Veja o caso de nosso respeitado irmão, o Sr. Muller, de Bristol. Este, durante muitos anos
declarou que Deus ouve a oração, e firme naquela convicção, ele começou a construir
casa após casa para abrigar órfãos. Agora, eu posso muito bem conceber que, se ele foi
dirigido a um ponto de carecer de meios para a manutenção dessas mil ou duas mil crianças,
ele pode muito bem usar o argumento, o que se dirá do seu grande nome?". E você, em alguma
dificuldade severa, quando você recebeu a promessa poderá também dizer: "Deus, tu
disseste: 'Em seis dificuldades eu estarei contigo, e em sete eu não te abandonarei.'. Eu
contei a meus amigos e vizinhos que eu coloquei inteiramente minha confiança em ti, e se tu não
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me atenderes, o que será do seu nome? Levanta-te ó Deus, e faz esta coisa, para que o teu nome
não seja lançado ao pó”.
Podemos também alegar as tristezas do seu povo. Isto é frequentemente encontrado em Jeremias, que foi o grande mestre desta arte.
Lembremos de argumentar com o Senhor que precisamos cumprir o mandamento de estar
sempre alegres como é da vontade dele, e por isso lhe peçamos que remova a causa das nossas
tristezas ou que nos dê o suporte da sua graça para suportar nossos sofrimentos com alegria.
Irmãos, é bom argumentar com Deus quanto ao que Ele fez no passado. Podemos dizer como
Davi, que tendo sido Ele nossa ajuda, nos deixaria agora desamparados? Isto é impossível.
Recordemos pois das bênçãos e cuidados demonstrados por Deus a nós no passado
enquanto lhe apresentamos nossos pedidos com tais argumentos no presente. Nós podemos
usar a nossa própria fraqueza, incapacidade, indignidade, como um forte argumento diante
de Deus. “Senhor lembra que sou pó. Não há força em mim para resolver tal problema.”. O
argumento do publicano se fez muito forte quando se reconheceu um pecador indigno
diante do Senhor. O cego de Jericó pede por misericórdia ao Filho de Davi. A mulher
cananeia não se ofendeu por sua gente ter sido comparada aos cães, e soube contra argumentar
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dizendo que até mesmo dos cachorrinhos o Senhor pode cuidar com as migalhas da graça
que caem da sua mesa. A grandeza do meu pecado me faz uma plataforma para a grandeza
da misericórdia do Senhor. Peçamos a Deus que faça a grandeza do seu amor ser revelada em nós
que somos pobres e necessitados da sua graça.
Finalmente, o principal argumento do crente
são os sofrimentos, a morte, o mérito, a intercessão de Cristo Jesus. Quando nós
pedimos a Deus que nos ouça, enquanto o alegamos no nome de Cristo, nós normalmente
queremos dizer: "O Deus, teu querido Filho merece isto de ti; faça isto por mim por causa do
que Ele merece. Ele se deu por mim, pecador, na cruz, em troca dessa alegria que poderia
experimentar pela sua vitória na vida daqueles que comprou com o seu sangue para Ti.”. Jesus
mesmo ordenou que usássemos o seu nome para pedir o que necessitamos ao Pai. Ele não nos dará qualquer coisa por nossa própria causa,
mas por causa de Cristo.
É a assinatura de Cristo que está no cheque que apresentamos a Deus. Somente cheques com tal
assinatura podem ser descontados no banco celestial. Nenhum outro é aceito. Se o Espírito
Santo nos ensinar como ordenar nossa causa, e como encher nossa boca de argumentos, o
resultado será que NÓS TEREMOS NOSSA BOCA CHEIA DE LOUVOR. O homem que tem a
235
boca dele cheio de argumentos em oração terá a boca dele logo cheia de bênçãos em resposta à
oração. Querido amigo, se a tua boca está cheia de murmurações, reclamações, peça a Deus
para lavá-lo dessa negridão, porque isto não te será de qualquer proveito, e tornará amargo o
teu coração, até mesmo tuas entranhas. Substitua isto pela oração, enchendo tua boca de argumentos em tuas petições a Deus, e isto
trará delícias à tua alma, e o atendimento dos desejos do teu coração.
Nossas necessidades são grandes, então nossos pedidos devem ser grandes, e a provisão
também será grande.
236
Orai, orai sempre
(Por Charles Haddon Spurgeon, traduzido por
Silvio Dutra)
“Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; pois o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e
crestes que eu saí de Deus”(João 16:26-27).
O tempo em que vivemos é muito favorecido e
deve ser também muito valorizado. Que nós nunca tenhamos inveja dos Patriarcas e sua
comunhão com Deus, quando às vezes Ele falava pessoalmente em seus ouvidos ou se revelava
visivelmente a eles. Abençoados são os nossos olhos e os nossos ouvidos, que veem e ouvem o
que os reis e os profetas esperaram em vão. Aquilo que lhes foi negado nos foi revelado e por
isso somos especialmente privilegiados. Embora João Batista, vivendo dentro da
dispensação do Evangelho, tenha sido o maior entre os mortais nascidos de uma mulher, o
menor no reino dos céus é maior do que ele. E nós estamos hoje vivendo naquele reino dos
céus, embora exista ainda muito o que desfigura o reino de Cristo na terra. Sejam gratos,
portanto, vocês que são filhos dos homens e são também filhos de Deus, sejam gratos por viver
nesta verdadeira época de ouro, pois com todas as suas tristezas e todas as suas falhas, é uma
237
época de grande misericórdia e de muito privilégio!
Ouso até considerar nosso atual período acima daquela magnífica época na qual Jesus habitou
aqui entre os homens. Temos a tendência de considerar aquela época como sendo a melhor
que a Igreja de Deus desfrutou, mas não é assim. A dispensação do Espírito Santo é uma época
acima da dispensação do humilhado e sofrido Salvador. Aqueles foram os dias de infância da
Igreja, quando o Senhor a instruía por meio de ilustrações e lhe ensinava as letras, mas não
revelava muitas das grandiosas e mais profundas verdades de Deus porque ela ainda
não tinha condições de suportá-las. Mas agora o Espírito Santo nos foi dado para nos guiar a toda
a Verdade e Ele nos mostra tudo sobre Cristo. Quando o Nosso Senhor esteve aqui foi apenas o
crepúsculo da dispensação do Evangelho, ou apenas o seu alvorecer. É verdade que Ele é o Sol da retidão, mas os seus discípulos viram apenas
um pouco da sua glória, pois seus olhos estavam apenas entreabertos e eles tinham menos luz da
parte dele do que nós temos, embora a bênção de sua presença corpórea nos seja negada.
Àquela época havia muito atraso na oração,
mesmo entre os apóstolos de Cristo. Pouco antes do nosso texto acima lemos que Cristo
lhes disse: Até agora nada pedistes em meu nome- João 16:24. E lemos muito pouco a
238
respeito das orações dos discípulos. Eles chegaram até a dizer, em certa ocasião: Senhor,
ensina-nos a orar – Lucas 11:1. Conheciam muito pouco do poder da oração. Hoje em dia não só o
Senhor nos ensinou a orar como também nos deu o Espírito Santo para nos ajudar em nossas
enfermidades e para interceder por nós: o Espírito nos ajuda na fraqueza; o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis. –
Romanos 8:26. em muitos outros aspectos, que não precisamos detalhar agora, estamos bem
mais adiantados do que os doze altamente favorecidos que conviveram com Cristo, ou que
os setenta privilegiados que foram enviados por Ele para ensinar, pregar e curar os enfermos – O
SENHOR DESIGNOU OUTROS SETENTA; E OS ENVIOU – Lucas 10:1. É um período abençoado
este em que vivemos e eu desejo que vocês, que são crentes em Cristo, valorizem estes seus
privilégios. Se você estiver lamentando a sua sorte, quero que sinta que seu nascimento
jamais poderia acontecer em tempo mais próspero, e que estar vivendo no tempo em que
o Espírito de Deus nos foi dado e em que sua influência sagrada é exercida em sua Igreja, é
uma elevada honra que Deus te concedeu.
Faço estas considerações porque o nosso texto
começa com as palavras Naquele dia, que é o presente período, quando Cristo já subiu para
estar à destra do seu Pai depois das horríveis dores do Calvário, o período em que não mais
239
estamos tristes porque Ele morreu, mas nosso lamento se tornou em alegria, por sua conta e
por nossa causa também. Este é AQUELE DIA em que as bênçãos sobre as quais vou falar são
dadas a nós, para que possamos usufruir delas agora, ou pelo menos, deveríamos estar.
Tomando o texto como se referindo ao tempo em que vivemos, eu noto, em primeiro lugar, o
exercício diário do crente: “Naquele dia pedireis em meu nome”. Em segundo lugar, temos a
posição privilegiada do crente: “não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai; pois o Pai mesmo
vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu VIM de Deus”. Então, em terceiro lugar,
tentarei sugerir qual deveria ser a conclusão natural por parte do crente a respeito dessa
abençoada Verdade de Deus que aqui nos é revelada.
I – Primeiro, assim, vamos notar o EXERCÍCIO DIÁRIO DO CRENTE. É pedir e continuar pedindo: “Naquele dia pedireis em meu nome.”
é uma coisa muito simples pedir, mas como é
gracioso da parte de Deus acrescentar a algo tão simples a promessa de dar! Ele não disse
“mereça a bênção”, mas sim, “peça por ela”. Ele não falou “compre-a”, mas sim “peça por ela”.
Não, “Trabalhe até finalmente consegui-la por seu próprio esforço” mas, “peça por ela”. Irmãos
e irmãs, se alcançar o céu depender apenas de nosso pedido, quem não irá pedir? Tudo o mais
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que um crente possa deixar de fazer nunca deverá, certamente, ser deixar de pedir. Se
nunca pedimos nada a Deus podemos estar bem certos de que nunca fomos convertidos. Uma
alma sem oração há que ser uma alma sem Cristo; mas se estamos realmente em Cristo,
devemos ter praticado a sagrada arte de pedir e nós devemos continuar a fazê-la sempre. Se há alguma dificuldade em nossas mentes, vamos
pedir, o Espírito Santo pode resolver. Se existir alguma necessidade em nosso lar, vamos pedir,
pois Nosso Pai Celestial pode supri-la. Se houver alguma fraqueza em nossa natureza espiritual,
vamos pedir, pois Deus pode nos fortalecer. Se existir algum desejo da nossa alma que perturbe
nosso espírito, vamos pedir, pois nosso desejo pode ser atendido se for correto, e nossa
perturbação pode ser eliminada. Pedir, meus irmãos e irmãs, é muito simples, e graças sejam
dadas ao nome do Senhor, porque, geralmente, a melhor maneira de pedir é aquela que é a mais
simples.
Pedir alguma coisa a Deus não requer o uso de
palavras adequadas. Os filhos na família não fazem pedidos elaborados quando pedem aos
pais alguma coisa; eles dizem qual é a necessidade em suas próprias palavras, os pais
entendem e concedem o pedido, se for correto e adequado, e se estiver dentro de suas
possibilidades. Aja exatamente da mesma forma com Deus! Às vezes somos por demais
241
cuidadosos em escolher e usar frases para usar em nossas orações. Você acredita que Deus se
agrada com uma demonstração de oratória, ou que Ele analisa sua eloquência quando você
comparece ante o Trono da Graça? Pode agradar a um professor de literatura fazer a
crítica das suas frases, mas Deus pensa muito mais nos seus desejos do que nas palavras com que você os expressa. Pode ser uma coisa
natural para um professor analisar a exatidão dos termos que você emprega, mas Deus
observa especialmente o ardor da sua alma. Não existe outro lugar onde o coração deva estar tão
livre quanto diante do Trono de Misericórdia. Ali você pode falar por meio de sua própria
alma, pois esta será a melhor oração que poderá ser feita. Não peça aquilo que alguém disse que
você devia pedir, mas sim aquilo de que você sente que precisa – aquilo que o Espírito Santo
fez você ter fome e sede de pedir; peça isto.
Peça sempre. Toda a sua vida deveria ser gasta em pedir. Quando o dia amanhece, peça a misericórdia de que precisará durante aquele
dia; e quando o dia cerrar as pálpebras e você for para a cama, peça a proteção e o descanso que
precisar para aquela noite. Peça quando sua voz só puder ser ouvida por Deus em segredo, e peça
quando a sua língua talvez não possa se mexer, mas apenas o seu espírito possa falar ao ouvido
de Deus. Nunca hesite pedir por causa da grandiosidade da bênção que você deseja. O
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Senhor é um grande Deus embora você seja tão pequeno, e Ele se delicia em dar grandes coisas
para aqueles que vêm à sua presença pedir. E não hesite em pedir por julgar que você não tem
merecimento. Você nunca terá nenhum merecimento em você mesmo, portanto, se um
senso de indignidade fosse checar sua oração agora, ele provavelmente iria sempre o impedir de orar. Ainda assim, o Senhor determinou que
pedíssemos, logo, deve ser certo pra você, pedir. Peça quando estiver enfrentando alguma coisa
que não consiga vencer; peça quando tiver lutado para conseguir algo sem tê-lo
conseguido; peça, e irá receber. Vá à presença de Deus mesmo com os trapos do seu pecado e
peça, é só o que você tem a fazer. “pedi, e recebereis” – João 16:24, esta é a mensagem que
brilha com a luz celestial vinda do Trono da Misericórdia. Leia e obedeça: ABRE bem a tua
boca, e eu a encherei. – Salmos 81:10.
Nosso Senhor disse aos seus discípulos que, além de pedir, deveriam pedir em seu nome: “Naquele dia pedireis em meu nome.” Esta é a
mais deliciosa maneira de pedir. Geralmente dizemos no final de nossa oração que pedimos
por amor de Jesus, e essa é uma maneira certa de pedir. Significa: “considerando o que Jesus
fez, Você não me atenderia? Eu não fiz nada que possa garantir uma resposta favorável à minha
súplica, mas Você não daria a mim, considerando que Jesus merece isso? Por amor
243
a Ele, ouça-me, oh Senhor!”. Essa é uma boa forma de orar, mas é melhor ainda se você
puder usar o nome de Cristo e pedir em seu nome.
É como se fossemos a uma loja, mandados por alguém para comprar alguma coisa em seu nome e para ser debitado na conta daquela
pessoa. Ou se autorizássemos um subordinado nosso a ir a uma loja tendo dito ao comerciante
que o que esta pessoa pedisse fosse fornecido. Provavelmente um subordinado, sem dinheiro
próprio, muito pobre, mas que vá munido de sua autorização, poderá receber daquele
comerciante tanto quanto se você mesmo tivesse ido lá. A garantia dada irá até o ponto do
limite do nome que foi dado. Então, Jesus nos disse: “Use Meu nome quando estiver falando
com o Meu Pai;” e até onde eu posso ir usando esse nome? Até onde o próprio Cristo pode ir.
Todo o poder que exista no nome de Jesus, toda a influência que Ele tenha no coração do seu Pai,
este poder e esta influência nos são permitidos exercer por meio da oração. Senhor Meu, eu
costumava pedir ao Senhor para fazer certas coisas por amor ao Teu Filho, mas agora eu
venho com um pedido ainda mais forte pois Ele me autorizou a usar o seu nome, e pedir que
Você faça por mim assim como Você faria por Ele. Meu Pai, se não podes recusar o teu
Primogênito também não podes me recusar. E se estou pedindo alguma coisa que Ele não podia
244
pedir e que eu mesmo não desejasse pedir, quero fazer esse o limite da minha oração e da
sua aceitação. Se Ele tivesse recusado orar pedindo isso, eu também iria. E se o que estou
pedindo parece ser uma bênção do meu ponto de vista mas não para Ele, sejam minhas
palavras: todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres – Mateus 26:39. Ninguém de bom senso usaria o nome de outra pessoa
indevidamente, e se você está pedindo a Deus alguma coisa motivado por egoísmo, você não
deve desonrar aquele nome abençoado ligando-o a tal tipo de oração. Mas usando
adequadamente o seu nome temos grande liberdade e um alto privilégio de nos ser
permitido ir e orar, não apenas por amor a Jesus, mas também no nome de Jesus.
O texto nos diz que pedir no nome de Cristo deve ser o exercício constante dos cristãos Naquele
dia. E que dia será esse? De acordo com o contexto, será uma época de perseguição:
Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará
prestar um serviço a Deus – João 16:2. Em tal situação os cristãos certamente irão orar.
Prosseguindo na leitura do capítulo vemos que AQUELE DIA é quando o Espírito de Deus
instruiu os seguidores de Cristo. Cristo disse Naquele dia nada me perguntareis – João 16:23.
O que quer dizer que não perguntaremos, pois o Espírito Santo nos instruirá para sua glória, dele
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recebendo para nos transmitir. Ah, Amado, quando irmãos e irmãs estão na prisão por causa
da fé, quando eles são susceptíveis de ser colocados na tortura – quando a pequena igreja
tem que ser convocada porque o pastor está para ser queimado amanhã de manhã e todos os
jovens querem estar de pé cedo para permanecer ao redor e animá-lo, com os olhos cheios de lágrimas, se eles não puderem fazer
nada mais por ele; e quando os jovens voltam para casa e seus pais perguntam-lhes porque
eles foram lá, eles dizem que foram para aprender o caminho pra se eles tiverem que
morrer da mesma maneira – ah, aí sim, a oração é uma realidade! E quando eles se reúnem em
cantos isolados e em cavernas solitárias, quando não se atrevem a levantar suas vozes para os
observadores não ouvi-los e levá-los para a prisão, ainda assim, em tons solenes clamam ao
Senhor, a oração, então é real!
É esta oração eficaz e fervorosa dos justos que vale muito. Assim é, se acontecer, que a Igreja de Deus realmente ora! Se algum de vocês está,
em sua pequena jornada, em tudo sujeito a perseguições, não deixe de orar, pois o nosso
Salvador disse: “Naquele dia você vai pedir em Meu nome.” Deixe que a perseguição seja uma
espécie de lembrete para você do seu dever e privilégio! Se você tiver sido negligente na
oração e alguém te tratar mal por causa de Cristo, diga: “Agora é a hora para eu orar mais
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fervorosamente do que nunca, pois Jesus disse, especialmente sobre o tempo de perseguição,
NAQUELE DIA PEDIREISEM MEU NOME.”
Prosseguindo na leitura do capítulo vemos que AQUELE DIA é quando o Espírito de Deus
instruiu os seguidores de Cristo. Cristo disse Naquele dia nada me perguntareis – João 16:23.
O que quer dizer que não perguntaremos, pois o Espírito Santo nos instruirá para sua glória, dele
recebendo para nos transmitir. Agora, quanto mais ensinamento e entendimento alguém
receber do céu, mais ele irá orar. Se existe alguma coisa chamada de luz que faça com que
um homem deixe de orar, essa “luz” é a escuridão. Algum tempo atrás, quando havia
um grande número de pessoas que professavam ser perfeitas, eu ouvi de alguém que tinha
crescido tão vaidosa que ela disse que sua mente estava tão conformada com a vontade de Deus
que não havia necessidade para ela orar, porque sua mente e a mente de Deus estavam
perfeitamente unidas. Sim, e se alguém se imagina tão bom que nem precisa orar, seria
bom que exclamasse: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador! Lucas 18:13. Eu ouso dizer que você já
ouviu falar daquelas pessoas que sobem tão alto na escada, que caem do outro lado, e que é
exatamente o que as pessoas fazem quando começam a transportar qualquer Verdade de
Deus à extravagância e a empurrar um ponto além da sua legitimidade. Aquilo que te faz
247
deixar de orar é coisa do diabo, a quem devemos dizer: Para trás de mim, Satanás – Mateus 16:23.
a mera sugestão de que você pode fazer sem oração deve ter vindo de baixo, não pode ter
vindo de cima. Quanto mais o Espírito de Deus ensina ao cristão sobre as coisas de Deus, mais
ele irá pedir em nome de Jesus Cristo. Mais uma vez, aquele dia será um dia de grande alegria: a vossa tristeza se Converterá em alegria – João
16:20. Naquele dia pedireis em meu nome- João 16:26. Talvez alguém dirá “mas as épocas de
tristeza são o melhor tempo para orar, não são?” Eu garanto a você que elas são, mas quando a
tristeza se torna em alegria, a dúvida dá lugar à fé, e a própria esperança fica eclipsada por um
delicioso gozo, então, essa é a hora de orar. Quando seu coração estiver pronto para dançar
e sua boca cheia de doçura, é hora de aproximar-se de Deus em oração. Quando Ele tiver te dado
tudo o que você pediu, é hora de pedir a Ele ainda mais. Suponha que seja este um dia bom
para você – um dia de boas notícias; aproveite esta oportunidade para orar. Os negócios vão
bem; aproveite a hora para que isso também te leve ao crescimento de tua riqueza espiritual, e
achegue-se a Deus.
Amados, se alguma vez nas suas vidas vocês
forem orar, que seja especialmente quando o Senhor se revela tão gracioso para contigo que
seu coração fica alegre e você se regozija em sua glória. Que esse seja um dia de pedir em nome
248
de Jesus Cristo! Irmãos e irmãs, eu gostaria de poder falar de uma forma ainda mais
impressionante sobre este tema tão agradável. O ponto que, mais do que os outros, toca de
maneira vital a existência cristã, é a devoção pela oração – o pedir a Deus e receber dele a
resposta à nossa prece sincera. A oração no que se refere a você é uma realidade ou uma imitação? É uma espécie de rito religioso que
você se sente obrigado a realizar, ou tornou-se uma coisa essencial para a sua vida espiritual
tanto quanto o respirar é para o seu corpo? É óbvio para você agora que você deve orar? É
natural para você pedir ao Pai que está no céu como é natural que seus filhos venham pedir a
vocês que são pais terrestres? No meu caso sinto que não oro simplesmente porque tenho de
fazê-lo, mas porque amo este sagrado exercício. Não o orar em certa hora porque aquela é a hora
em que se deve orar, mas orar porque quero orar, orar porque devo orar.
Um homem não precisa ser lembrado de que deve respirar. É essencial para a sua vida que
respire, e é essencial para nossa vida espiritual que oremos. Jamais pensei em preparar um
sermão para falar sobre a necessidade de você se alimentar, da mesma forma como não devia
ser necessária a exortação aos cristãos para que orem. Deveria ser um instinto de nossa nova
natureza, tão natural para o nosso ser espiritual como o é um bom apetite para alguém se
249
manter saudável. Deveria existir uma fome e uma sede santas para orarmos, e a alma nunca
ora tão bem quanto quando é lembrada, não pela hora do dia ou da noite, mas por sua real
necessidade, e quando se refugia em seu lugar particular para orar, não porque acha que deve,
mas porque sente que deve, e o faz com o deleite do privilégio da comunhão com o seu Deus.
Meu objetivo, na segunda parte do meu sermão, será agitar-lhe até você sentir dessa forma,
então não vou dizer mais nada sobre esta primeira parte do meu tema, o exercício diário
do crente – “Naquele dia pedireis em meu nome.”
II – E agora, em segundo lugar, temos A POSIÇÃO PRIVILEGIADA DO CRENTE com referência à oração.
Os crentes devem ser abundantes em oração porque, em primeiro lugar, têm o Espírito Santo para motivá-los. Isto consta no texto? Sim, ou
pelo menos está implícito nele, pois Jesus disse: Naquele dia pedireis. Como iria Ele afirmar de
maneira tão categórica que deveríamos pedir a não ser que pretendesse que o seu Espírito nos
conduzisse a pedir por esta promessa? Sendo esta em si mesma uma garantia de que Ele
providenciará para que seja atendida. Temos assim o Espírito Santo para nos animar a orar, e
não apenas para nos animar a orar, mas para nos dizer pelo que deveríamos orar: porque não
250
sabemos o que havemos de pedir como convém – Romanos 8:26, até que Ele nos ensine! Alguém
poderá perguntar por que orar se tudo é resolvido pelo decreto divino. É verdade que
tudo é solucionado desta maneira, e é exatamente por esta razão que devemos orar! O
Espírito de Deus nos leva a desejar exatamente o que Deus decretou, e embora não possamos abrir e ler o livro dos seus decretos, o Espírito
Santo pode ler aquele Livro e assim nos guiar de acordo com seus registros secretos e também
interceder por nós segundo a vontade de Deus – Romanos 8:27. Pois, qual dos homens entende as
coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus,
ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus – I Coríntios 2:11. E o que o Espírito de Deus
entende ser a mente de Deus, Ele faz com que seja também a nossa mente e em consequência
nós oramos segundo a vontade de Deus. A oração verdadeira é o eco do propósito eterno.
Nossas orações são as sombras das misericórdias de Deus. Quem não oraria quando
a oração torna-se para ele um mistério consagrado em que uma Pessoa da Santíssima
Trindade opera em seu espírito e revigora os seus desejos? Isto deve nos conduzir a orar com
frequência porque nossos pedidos são motivados pelo Espírito Santo.
“Orem, orem sempre, o Espírito Santo pede dentro de você
251
todas as suas necessidades a cada dia, a cada hora.”
Devemos orar também porque temos a elevada honra de nos ser permitido usar o nome de
Cristo em nossas orações. Naquele dia pedireis em meu nome. Se um Rei nos entregasse o seu
selo ou se tal Rei tivesse o poder de criar dinheiro tão rapidamente quanto o desejasse
com a sua simples assinatura e nos permitisse usar aquela assinatura, não creio que muitos de
nós continuaríamos sendo pobres. Se ele realmente nos desse privilégio certamente
iríamos assinar muitas vezes antes de devolver o selo e a assinatura para aquele Rei. Mas o Nosso
Senhor Jesus fez coisa semelhante ao tirar do seu dedo o sinete real e dizer aos seus servos:
“Peçam em Meu Nome!” TUDO QUANTO PEDIRDESEM MEU NOME, EU O FAREI – João
14:13. Por isso nós estamos sempre sacando destes fundos da infinidade de Deus. E Ele não estabeleceu limite para estes nossos pedidos, a
não ser: tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis. – Mateus 21:22. Como isto deveria
nos encorajar a orar! Será que vamos deixar passar essa oportunidade de ouro sem dela fazer
uso? Oh amados, com o Espírito Santo a nos dizer o que pedir e o Senhor Jesus a endossar
nosso pedido, por que não orar sem cessar?
Além de tudo isso, existe um grande encorajamento para a constante oração pelo
252
fato de que o Senhor Jesus Cristo está continuamente intercedendo por nós. Nossas
pobres orações são obscuras e confusas, e são manchadas de pecado, mas o Nosso Grande
Sacerdote as salpica com o seu sangue precioso, e as purifica de maneira completa, e com suas
próprias mãos as coloca diante do Trono de Misericórdia, e por amor ao seu nome elas certamente serão aceitas. se alguém pecar,
temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo – 1 João 2:1. E Ele está sempre
pleiteando a nosso favor. Se temos um Intercessor Divino, dentro do véu, que nunca se
esquece de levar nossas orações diante do Trono da Graça do seu Pai, com que ousadia
devemos ir até ao Trono de Misericórdia, e quantas e quantas coisas deveríamos pedir a
Deus em nome de Jesus!
Parece-me que o texto sugere que o Senhor Jesus desejava evitar que os seus discípulos errassem ao interpretar sua intercessão. E por
isso disse, nesta ocasião: não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai. Não havia razão para que
Ele dissesse isso naquele momento, pois já o havia dito e repetido muitas vezes antes. Mas
naquela ocasião parece que Ele queria dizer: “Não quero que exagerem minha intercessão às
custas do Meu Pai. Vou interceder por vocês, mas vocês não devem pensar que faço isso
porque Meu Pai não está disposto a ouvi-los quando vocês forem até Ele em meu nome. Não
253
fiquem imaginando erroneamente que por causa da minha intercessão Eu farei com que o
Meu Pai se disponha a abençoar-vos, pois Meu Pai, Ele próprio, ama vocês.” Isso nos leva a um
ponto muito precioso que é que devemos ser muito incentivados a orar, não só porque o
Espírito nos impele e o Filho intercede por nós, mas porque o próprio Pai nos ama.
Como deveríamos orar agora que temos o ouvido, e mais do que isso, o próprio coração do Rei! Ter como professor o Espírito Santo e como
Advogado o Nosso Senhor Jesus Cristo deveria ser encorajamento suficiente para nós; mas
termos o coração do próprio Rei é o melhor de tudo: pois o Pai mesmo vos ama. Vocês sabem,
queridos irmãos e irmãs, que pensadores supérfluos frequentemente erram concernente
ao Pai e ao Filho com relação à expiação. Eles creem que a expiação de Cristo era necessária
para que o Pai amasse o seu povo, enquanto que a verdade é que o Pai, porque Ele amava seu
povo, deu seu Filho Unigênito para ser a propiciação deles. Deus sempre foi amor, tão
verdadeiro amor como o Filho foi e é, não nos enganemos sobre isso. De modo que,
concernente à intercessão de Cristo, existe a tendência de certos pensadores em caírem no
erro de supor que o Pai é difícil de agradar, e que Jesus deve pacificá-lo para que Ele possa atender
aos nossos pedidos. Não é assim, pois o Pai mesmo vos ama. Creio que quando um não
254
convertido vai a Deus, deveria, primeiramente, fixar seu olhar inteiramente em Jesus o
Mediador, mas para nós que acreditamos em Jesus, estamos perdoados, estamos em uma
situação inteiramente diferente daquela em que se encontra o descrente. Nós tivemos nossos
pecados apagados, e podemos ir diretamente ao Pai – naturalmente, sempre por intermédio do Mediador – e enquanto isso nos regozijando
nesta graciosa garantia de que O PAI MESMO VOS AMA.
“Ore, ore, sempre,
apesar de cansado, fraco e solitário,
a oração se aninha no Trono de abrigo do Pai “.
O texto diz que o Pai nos ama porque nós amamos Jesus, e cremos que Ele veio do Pai. Não cometa o erro de imaginar que o amor de Deus
por nós é causado por nosso amor para com Cristo. Não! Nós amamos, porque ele nos amou
primeiro – 1 João 4:19. O primeiro amor de Deus é um amor de benevolência – um amor de
compaixão – um amor para com os indignos e para os sem nenhum mérito. Deus, por amor,
nos perdoa e nos salva; mas existe outro amor, além desse, do qual nunca devemos esquecer.
Quando Ele nos faz amar o seu Amado Filho, quando Ele nos faz confiar nele porque cremos
que Ele veio do Pai, então o Pai tem um amor de complacência e de regozijo para conosco. É fácil
255
distinguir a diferença entre estes dois tipos de amor, já que ele é frequentemente ilustrado na
história humana. Um homem encontra na rua uma pobre criança, e tendo piedade dela, leva-a
para casa, a veste e toma conta dela. Este é um tipo de amor – o amor da benevolência. Mas
suponha que a criança se desenvolva em um belo rapaz ou numa bela moça que por meio de sua maneira sedutora se insinue ao próprio
coração daquele que foi tão bondoso com ela na sua infância, e aí surge um segundo tipo de
amor.
O homem diz, “Eu amei aquela criança quando a resgatei, um monte de trapos, coberto de sujeira, de miséria; mas veja a sua beleza agora.
Veja como este pequenino se afeiçoou ao resto da família, como ele é grato, como ele me ama;
não posso deixar de amá-lo mais do que no começo”. Este é um outro tipo de amor
inteiramente diferente, e o Senhor ama desta maneira, apenas de modo infinitamente maior,
para com todos os que confiam e amam o seu Filho! Sabemos que o Pai ama tanto o Filho que,
ao ver que você também O ama, Ele o ama ainda mais por essa razão. Ele tinha ilimitada
confiança em Cristo quando O enviou para este mundo – e quando Ele vê que você também tem
confiança nele, Ele o ama também, pois vocês dois concordam neste assunto. Nada une duas
pessoas mais do que o amor comum para com o mesmo objeto. Se existe alguma pessoa que é
256
querida para ambos, de imediato existe uma ligação entre os dois. Frequentemente o
coração de um homem é conquistado pela esposa porque, entre os dois, existe um
pequenino ser que é querido de ambos! Talvez, durante uma tola ocasião de raiva, os dois
possam se separar, mas o filho é o laço que os mantém juntos. E entre nós e nosso Deus, num sentido infinitamente maior do que esta minha
pobre comparação, existe uma maravilhosa união porque Ele confia em Jesus e nós também
confiamos nele. Ele ama Jesus e nós também o amamos; e por causa disso Nosso Salvador nos
diz: o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus.
Não consigo explicar este maravilhoso mistério, mas quero que saibam que eu amo Cristo e creio
que Ele saiu de Deus, apenas para abrir nossas almas e tentar estabelecer esta sublime verdade
de que o Pai mesmo vos ama. Não é tem pena de vós, nem promete vos ajudar, nem tem
consideração por vós e sim o Pai mesmo vos ama. Não adianta tentar explicar o que é o amor
– você tem que senti-lo para entender o que ele é. Você não duvidou das palavras de sua mãe
quando era pequeno, e ela o segurou em seus braços e disse Eu te amo. Você acreditou nela, e
descansou em seu amor e o correspondeu tanto quanto pôde. Assim o grande Deus lhe diz: Eu o
amo porque você ama o meu Filho. Existem muitos defeitos e muitas falhas em você, mas
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você ama o meu Filho e por isso eu te amo. Você não disse há pouco: Senhor, tu sabes todas as
coisas; tu sabes que te amo – João 21:17? Você disse isso ao Senhor Jesus e porque isto é
verdade, o Pai mesmo vos ama. Lembro-me de quando uma das suaves passagens em Cantares
de Salomão alcançou o meu coração com arrebatadora força – aquele versículo em que o Noivo Celestial diz à sua esposa: Tu és toda
formosa, amada minha, e em ti não há mancha – Cantares de Salomão 4:7. Isto é o que o Senhor
diz ao seu povo quando os veem Cristo. Quando Ele percebe que eles amam Cristo, Ele diz efzib
chamar-te-ão Hefzibá – Isaias 62:4, que quer dizer Meu Regozijo está nela. o Pai mesmo vos
ama. Esta pequena frase é não tanto um tema para pregação como o é para uma calma
meditação. Você precisa ficar sozinho em seu quarto, sentar e tocar repetidas vezes aquela
campainha de prata: o Pai mesmo vos ama. Você me ama? E por que deveria amar-me? Como
poderia amar-me? Mas Jesus sabe e quando Ele assim o declara, assim é, glória seja dada ao seu
amado Nome!
III – Vamos abordar rapidamente A CONCLUSÃO NATURAL DO CRENTE que ele deduz destas palavras de Cristo.
A primeira seria: Se tudo isso é verdade, que
poder enorme que eu tenho! O Espírito Santo me predispõe, Cristo pede em meu nome e o
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próprio Pai sorri para mim dizendo: Vinde, sede bem-vindo pois eu te amo: ninguém é tão bem-
vindo quanto você é. Peça o que quiser que será atendido. Mas, amado, você alguma vez
realmente acreditou ter tanto poder? Ou você tem pedido e aguardado quando na realidade
deveria ter pedido e acreditado? Não ficou imaginando que haveria uma pequena possibilidade de ser ouvido? Já orou como se
seus muitos pedidos e suas abundantes lágrimas pudessem tocar o duro coração de
Deus? suas súplicas têm sido apresentadas neste estado de espírito? Se assim for, espero
que no futuro você possa assumir a verdadeira posição de quem crê e diz: Eu sou filho de Deus,
e Ele me ama. E eu vou até Ele, por meio do seu Filho Jesus Cristo, e motivado pelo Espírito
Santo, vou pedir-lhe tudo o que eu precisar, pois sei que receberei aquilo que pedir no nome de
Jesus e por amor ao seu Nome.
Se algum dia você descobrir que tem esse poder – e espero que assim aconteça – não deixe de usá-lo. Use para os seus filhos, para todos os seus
parentes, para os seus amigos e para os que não são convertidos. Escolha-os e ore por eles e não
descanse até que eles estejam salvos. Ore também pelo seu pastor, que ficará muito
enriquecido com a oração que você fizer por ele, você que tem tanto poder junto a Deus. Ore pelas
nossas Igrejas. Estes são dias sombrios, mas você pode trazer um verão espiritual, se você
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sabe como orar aquela oração fervorosa do justo que vale muito. A Verdade de Deus parece, por
um tempo, estar sofrendo derrota, e a batalha pelos direitos cresce mais quente e mais feroz,
mas a bandeira da vitória em breve vai flutuar na brisa se você souber como orar corretamente! A
legião da oração é a legião da conquista! Tragam à frente os homens e mulheres que podem orar e o diabo vai tremer e fugir, pois ele bem sabe
que aqueles que são poderosos com Deus são mais poderosos até mesmo do que ele. A história
do futuro depende muito das orações do presente. Se você e outros crentes contiverem
as orações, vocês podem ajudar a trazer um longo, escuro, inverno frio para a Igreja de Deus,
mas se você e eles são despertados a subir, como Elias que foi ao Monte Carmelo, e com o seu
rosto entre os joelhos, clamou ao Senhor de Israel, com certeza – assim como o Senhor vive –
os céus ficarão cobertos com nuvens e haverá ruído de abundante chuva – 1 Reis 18:41.
Falo reverentemente, mas com veracidade, quando digo que as chaves dos céus giram
quando usadas pela pessoa que sabe orar. Não me refiro à oração comum, como alguns fazem,
mas à oração como a que estou falando: induzida pelo Espírito de Deus, inicialmente purificada e
apresentada pelo Salvador, e feita por quem sabe que o próprio Pai o ama. Fico abismado ao
pensar no tremendo poder da oração. Não é onipotente, mas comanda a onipotência. Não é
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onisciente, mas a oração é como os próprios olhos de Deus. Quem pode realmente orar leu
em primeiro lugar o coração de Deus e pronunciou o que ali está. A oração suplanta o
Eterno; o que mais pode ser dito a seu respeito? Quando Israel pecou contra o Senhor, Moisés
pleiteou a favor da nação culpada mesmo depois que Deus lhe havia dito: agora, pois, deixa-me, para que a minha ira se acenda contra eles, e eu
os consuma; e eu farei de ti uma grande nação – Êxodo 32:10. Mas a oração prevaleceu afinal,
pois o Senhor se arrependeu do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo – Êxodo 32:14. Que
Deus possa ensinar a você, que é amado do Pai porque ama o Filho, a orar como Moisés!
De maneira bem cuidadosa, meus irmãos e irmãs em Cristo, devemos mencionar as
respostas às orações que tenhamos recebido. Não seria nem prudente, nem adequado, nem
mesmo possível mencioná-las todas, pois existirão assuntos de oração entre Cristo e a
alma que jamais deverão ser reveladas, a não ser junto a pessoas especiais ou em ocasiões
especiais. Algumas partes da nossa comunhão com o Senhor Jesus são por demais sagradas,
por demais espirituais, por demais celestiais para serem mencionadas deste lado dos portões
de pérolas – mas a maioria das respostas do Senhor aos nossos pedidos poderia até ser
escrita nas nuvens para que todos soubessem delas. Esteja atento para não reter apenas com
261
você estes fatos graciosos, o que seria uma ingratidão de sua parte. Faça como Davi, que nos
diz: Do meio da angústia invoquei o Senhor; o Senhor me ouviu, e me pôs em um lugar largo–
Salmos 118:5.
Sim, e não só proclame como Deus tem respondido às suas orações, mas conte do poder
da fé em todas as ocasiões que tenha ocorrido. Fale dos resultados da fé aos seus filhos, para
que eles possam contar aos seus filhos no futuro, e às gerações que virão, para que todos
saibam que TUDO É POSSÍVEL AO QUE CRÊ – Marcos 9:23. Conte sobre as promessas
cumpridas pela fé, sobre a solução de problemas por meio da fé e o regozijo de suprema
felicidade por meio da fé. Conte à sua vizinhança que É melhor refugiar-se no Senhor do que
confiar no homem. É melhor refugiar-se no Senhor do que confiar nos príncipes – Salmos
118:8-9. Diga em alto e bom som: Confiai sempre no Senhor; porque o Senhor Deus é uma rocha
eterna – Isaias 26:4. Diga a todos porque você sabe que isto é verdade, pois procurou amigos
na hora das dificuldades e não foi ajudado. Que cometeu até a tolice de esperar por auxílio de
homens poderosos, que tinham condições de ajudá-lo, mas que encontrou apenas desdém e
espanto por estarem sendo incomodados. Conte a todos que a Majestade Suprema nunca tratou
assim nem mesmo o mais simples dos seus pedidos. Que nunca houve uma resposta ríspida
262
por parte do Trono do Altíssimo, nem uma rejeição nem desprezo ao menor dos seus
pedidos.
O Senhor tem sido melhor para com você, até mesmo mais do que a sua esperança ou a sua fé
acreditavam e esperavam. Deus respondeu ricamente, ajudou-o eficientemente, alegrou-o
abundantemente e encheu o seu espírito de conteúdo agradável. Não é em vão que
esperamos no Senhor. O caminho da fé é o caminho da força e da segurança. Como é triste
a sina de quem nunca ora! Pouco importa que outros poderes você possua; se não tiver poder
com Deus, significa que não tem poder nenhum. Àqueles que nunca oram ou que insultam Deus
com uma forma vazia de orar sem a participação do coração, chegará um dia em que irão orar. E
tão certo quanto vivem e morrem, irão orar e suas orações não serão atendidas. O rico orou
por uma gota de água para esfriar sua língua ardente, mas seu pedido foi recusado, pois já era
tarde demais para orar – ele poderia ter tido a Água da Vida para beber se ele tivesse orado
enquanto ele estava sobre a terra! O inferno está cheio de orações não atendidas, que tiveram
como resposta: Mas, porque clamei, e vós recusastes; estendi a Minha mão, e não houve
quem desse atenção; antes desprezastes todo o meu conselho, e não fizestes caso da minha
repreensão; também eu me rirei no dia da vossa calamidade; zombarei, quando sobrevier o
263
vosso terror – Provérbios 1:24-26. Peça a Deus, e Ele o ouvirá se você pedir agora. Mas Quando o
dono da casa se tiver levantado e cerrado a porta (ver Lucas 13:25) não adiantará bater na porta
Naquele dia. Nenhum pedido, gemido ou choro prevalecerá nessa hora, pois terá passado o dia
da oração e a justiça, de espada em punho, estará à frente do Trono da Misericórdia impedindo o acesso para sempre.
Possa o Senhor levar todos vocês a acreditarem em Jesus, e amá-lo com um coração ardente e
puro, antes que seja tarde, por amor ao seu nome. Amém.
264
Oração a Deus em Angústia - um Sacrifício Aceitável
Partes de um sermão de Charles Haddon
Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
"invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu
me glorificarás." (Salmo 50.15)
O Senhor Deus neste Salmo é descrito como
tendo uma controvérsia com o seu povo. Ele
convoca o céu e a terra para ouvi-lo enquanto pronuncia sua reprovação. Somos informados
mais claramente que o Senhor não tinha qualquer controvérsia com o seu povo sobre o exterior da sua adoração. Ele não os reprovou
por seus sacrifícios e holocaustos. Ele mesmo fala destes sacrifícios simbólicos e diz, "De tua
casa não aceitarei novilhos, nem bodes, dos teus apriscos." (v.9). sua queixa não foi a respeito de
cerimônias e rituais visíveis e isso mostra que Ele não dá tanta importância às coisas
exteriores, como a maioria dos homens supõe.
Sua reclamação foi a respeito de adoração interior, da adoração da alma, do culto
espiritual! sua reprovação era de que o seu povo não oferecia ação de graças e oração e que o seu
comportamento era tão incoerente com suas profissões que, claramente, seus corações não
265
acompanhavam suas formalidades exteriores. Esta foi a essência da acusação contra eles. Não
tinham a verdadeira comunhão com Deus, e mantinham apenas a aparência dela. Vemos,
então, que o culto de coração é a coisa mais preciosa aos olhos do Senhor.
Também não é difícil ver por que é assim, pois é claro que se um homem tivesse mantido o ritual
da antiga Lei até o máximo, ele ainda poderia não ser, com sinceridade, um adorador de Deus
afinal. Ele poderia conduzir rebanhos inteiros de suas ovelhas para a porta do templo para o
sacrifício e ainda assim poderia não sentir qualquer reverência espiritual em relação ao
Altíssimo. Provou-se vezes sem conta que o maior cuidado e zelo para com cerimônias
externas é bastante consistente com a ausência absoluta de qualquer verdadeira compreensão
de Deus e do amor sincero por Ele. O hábito pode manter um homem exteriormente religioso enquanto sua mente se esqueceu do Senhor!
Sim, a consciente falta de graça interna e vital pode levar um homem a um zelo mais intenso
em formalidades, a fim de esconder o seu defeito.
Está escrito: "Israel abandonou o seu Criador e
construiu templos." Você acha que se ele constrói templos ele deve reconhecer o seu
Deus, mas não foi assim. Dentro desses edifícios, ele se escondeu dAquele que não habita em
266
templos feitos por mãos. Sob as dobras das vestes, os homens sufocam seus corações para
que não venham a Deus. Belas música afogam o grito da alma contrita e a fumaça de incenso
torna-se uma nuvem que esconde a face do Altíssimo! Grandes sacrifícios podem muitas
vezes ser uma oferta feita para alimentar o orgulho pessoal de um homem rico. Sem dúvida, alguns reis que deram grandes
contribuições para a casa de Deus fizeram isso para mostrar a sua riqueza ou para mostrar sua
generosidade, um pouco no espírito de Jeú, que disse a Jonadabe, filho de Recabe, "Venha
comigo e veja o meu zelo para com o Senhor."
Um grande sacrifício pode ser nada mais do que uma oferta para a popularidade e por isso é uma
oferta ao egoísmo e vaidade. Com tais sacrifícios, Deus não poderia estar satisfeito. Ai,
como é fácil contaminar a adoração de Deus e anular a sua qualidade até que, como o leite que fica azedado, pode ser totalmente rejeitada.
Antes de proclamar as palavras do nosso texto, o
Senhor disse no verso anterior o seguinte: "Oferece a Deus sacrifício de ações de graças e
cumpre os teus votos para com o Altíssimo;”, porque havia perdido de seu povo, em primeiro
lugar, a sua gratidão. E em seguida, perdeu neles aquela confiança santa que iria levá-los a
recorrer a Ele na hora da necessidade, e portanto, lhes diz: "Invoca-me no dia da
267
angústia, eu te livrarei, e tu me glorificarás ". Irmãos e irmãs, vocês têm falhado nessas duas
coisas preciosas? Você falha em agradecimento? O Senhor multiplica os seus
favores para muitos de nós - devemos multiplicar nossos agradecimentos? A terra
devolve uma flor para cada gota de orvalho - devemos nós, da mesma forma, responder à misericórdia abundante? Será que as bênçãos
da sua Providência e os favores de sua Graça nos ensinam a cantar salmos para o sempre
Misericordioso?
Será que não é muito frequente permitirmos que as misericórdias divinas venham a nós sem
serem dignas de uma palavra de gratidão? Dedicamos um tempo para o louvor de
Deus? Vocês, meus irmãos e irmãs, dão graças em tudo? Eu também posso me aventurar a
perguntar se você paga seus votos a Ele? Em tempos de doença e tristeza você diz, "Gracioso Senhor, se eu for recuperado, ou se eu for
livrado dessa condição, eu vou ser mais crente, eu serei mais consagrado. Vou me dedicar
somente a Ti, ó meu Salvador, se agora me restaurares."
Você está atento a estes votos? É uma questão
delicada, mas eu a coloco claramente, porque o voto não resgatado é uma ferida no coração. Se
você falhou em seus agradecimentos, lembre-se que estas são as coisas para as quais Deus olha
268
mais do que qualquer observância cerimonial ou serviço religioso. Ele quer que você traga sua
gratidão diária e seja fiel a seus votos a Ele, pois é digno de ser louvado e isto é conhecido a Ele
pelo cumprimento do voto.
Deixe-me dizer que Deus deve considerar isto como sendo uma das formas mais aceitáveis de adoração, a saber, que devemos invocá-lo no dia
da angústia! Ele nos diz que o nosso apelo por sua ajuda na hora da angústia será mais
aceitável para Ele do que as oblações que sua própria Lei ordenou, mais agradável do que
todos os bois e bodes que príncipes poderiam apresentar em seus altares!
São nossos gritos de angústia e nossos apelos de esperança aceitáveis a Deus? Então vamos clamar fortemente a Ele! Alguns de vocês estão
em águas turbulentas? Invocai-o! Você está no deserto com fome? Invocai-o! Você está em
covas de leões e entre as montanhas dos leopardos? Invocai-o! Se você está em perigo,
assim como sua alma ou seu corpo, não hesite em orar de uma vez, mas diga para si mesmo:
"Por que eu deveria desistir? Deixe-me dizer ao Senhor da minha tristeza rapidamente, pois se
Ele conta o meu apelo como um sacrifício digno, com certeza eu vou apresentá-lo com todo o
meu coração!"
Que o Espírito Santo, o Consolador, nos permita clamar a Deus no dia da angústia porque isto traz
269
glória a Ele. Peço que você observe o tempo que é especialmente mencionado. Invocar a Deus
em qualquer tempo honra a Ele, mas invocá-lo no dia da angústia tem uma marcação especial
que é peculiarmente agradável ao Senhor, porque isto produz Glória peculiar ao seu nome.
Observe, então, em primeiro lugar, que quando um homem clama a Deus, sinceramente, no dia da angústia, isto é um reconhecimento
verdadeiro de Deus.
Devoções exteriores supõe um Deus, mas a oração no dia da angústia prova que Deus é um
fato para o suplicante. O suplicante aflito não tem dúvida de que há um Deus, porque está
recorrendo a Ele quando a mera formalidade pode produzir nenhum conforto. Deus não é um
mero nome ou uma superstição para ele, pois tem certeza de que há um Deus, porque está
clamando a Ele numa hora quando uma farsa seria uma tragédia e uma impostura seria uma zombaria amarga. O suplicante aflito percebe
que Deus está perto dele. Tem uma percepção da onipotência de Deus, pela qual Ele pode
ajudar, e da bondade de Deus, que o levará a ajudar.
Observe a seguir, que a promessa é pessoal. "Eu
te livrarei." Não é dito: "Meus anjos devem fazê-lo", mas o Senhor Deus se compromete a
resgatar seu povo. "Eu serei um muro de fogo ao redor deles." Então, também, é pessoal ao seu
270
objeto pois o próprio homem que clama a Deus em apuros deverá ser um participante da
bênção! "Invoca-me no dia da angústia, eu te livrarei". É pessoal, pessoal para você! Portanto,
caro amigo, acredite nesta promessa pessoal do seu Deus!
Lembre-se, também, que é permanente. Você pediu esta promessa, alguns de vocês, há 50 anos, é tão certo hoje como era então. A
promessa de Deus que foi feita há 2.000 anos atrás é tão válida como se tivesse sido proferida
este dia.
Por último, se você confiar no seu Deus em sua aflição será livrado, e o Senhor será glorificado
na sua conduta. Quando um homem ora a Deus nas horas de angústia e recebe livramento,
assim como ele tem a certeza de obtê-lo, então ele honra seu grande Ajudador ao contemplar a
maneira em que a promessa foi cumprida, adorando e bendizendo o Senhor amoroso por
tal interposição graciosa.
Em seguida, você irá honrá-lo pela gratidão do
seu coração no qual a memória de sua bondade estará sempre gravada. Esta gratidão devota de
vocês vai levá-los, no devido tempo, a darem testemunho da sua fidelidade. Outros ficarão
impressionados quando contar a história daquilo que o Senhor tem feito por sua alma.
271
Ao mesmo tempo, você, pessoalmente, vai crescer na fé pela experiência do amor e do
poder de seu Pai celestial. E nos próximos dias você vai glorificá-lo pelo aumento da paciência
e confiança. Você vai dizer: "Ele esteve comigo em seis angústias e Ele vai estar comigo na
sétima. Tenho provado, meu Deus, e eu não me atrevo a duvidar dele." sua serenidade de espírito será mais profunda e duradoura, e você
será capaz de desafiar o poder de Satanás ao tentar roubar a sua alegria em Deus.
272
Incentivo a Confiar e Orar
Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
“certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” (Isaias 30.19 b)
O grande pecado do homem é sua alienação de
Deus. Ele tem dito em seu coração: "Não há Deus", e em sua vida, ele trabalha para fugir da
Presença Divina. A viagem para o país distante não é feita apenas por causa da vida desregrada,
mas para que ele possa sair da casa do seu Pai. Alguém poderia pensar que o homem tornaria
para o Senhor, no dia da angústia, como disse Oseias: "Na sua aflição eles vão procurar-me
mais cedo." Mas isso, infelizmente, não ocorre na verdade e com sinceridade, pois muitas vezes
o pecador segue o exemplo de Acaz, de quem está escrito: "No tempo da sua angústia
transgrediu ainda mais contra o Senhor."
Todas as provações e dificuldades do mundo não irão, por si mesmas, levar um homem a
Deus, mas em vez disso o apressarão para a rebelião, o desespero, e dureza de coração! O
homem vai olhar para todas as direções antes do que olhará para Deus. Ele vai antes, como Saul,
273
procurar a ajuda de uma bruxa ou de um demônio para buscar o Deus vivo. Ele vai, sim,
fazer uma aliança com a morte e uma aliança com o inferno do que transformar o seu coração
para o seu melhor Amigo e Ajudador. Está escrito: "Ai dos que descem ao Egito para buscar
socorro, e que se estribam em cavalos, e têm confiança em carros e nos cavaleiros, porque são muitos, porque são muito fortes, mas não
atentam para o Santo de Israel, e não buscam o Senhor! "
Vão é o aviso, pois o homem ainda se inclina
sobre um braço de carne e confia numa coisa tola e fantasiosa em vez de confiar no Deus
Todo-Poderoso. O homem muda totalmente a sua posição de confiança muitas vezes e agora
depende disto, e depois, daquilo.
Nem é somente quando ele é enganado que ele persiste na sua insensatez, pois continua na mesma, quando ele sabe que pagou caro por sua
loucura e tem sido empobrecido por gastar seu dinheiro naquilo que não é pão. O Egito esvaziou
o seu tesouro e não lhe deu qualquer ajuda. Ele tem pensamentos dolorosos. Usa sua força
mental. Faz esquemas. Ele se preocupa. Preocupa-se em encontrar, em suas
confidências carnais, alguns poucos consolos. E assim gasta a sua vida e seca até a medula dos
ossos em busca na criatura daquilo que pode tão facilmente ser encontrado no Criador!
274
Mesmo quando empobrecido e desgastado com incredulidade, o homem não vai olhar para o
Senhor! Mesmo assim, ele adora alguma coisa nova, que lhe promete assistência. Ele parece
ansioso e disposto para ser enganado! Se, enfim, toda a confiança carnal é excluída por pura
incapacidade de toda esperança, ele vai deitar e morrer, antes do que buscar o Senhor! Ele sofre, ah, quão cruelmente, pelas alegrias vãs em que
confiava, mas que ainda as perseguiria se pudesse. Ele vai mais cedo perecer com fome do
que confessar o seu pecado contra o céu e começar a viver pela fé em Deus!
Este é o fruto da Queda, a evidência negra da nossa depravação, a mãe fecunda de destruição
- "o pendor da carne é inimizade contra Deus." Devemos ter algo para confiar, aquilo que
possamos ver com nossos olhos e apalpar com as nossas mãos - no Jeová invisível não podemos
confiar e ainda assim, sozinho, é o Deus vivo e verdadeiro! Oh que fôssemos sábios, que
entendêssemos e disséssemos isso em nossos corações: "Vinde, e tornemos para o Senhor,
porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará." Agora todo esse tempo,
enquanto o homem está lutando para ficar longe de Deus, o Senhor está disposto o
suficiente para recebê-lo, perdoá-lo, para abençoá-lo e enriquecê-lo com toda a alegria!
Nem somente está disposto, mas é capaz, plenamente capaz de ajudar o coração
275
perturbado em cada dificuldade e confortar debaixo de toda angústia.
Por isso que o Senhor espera para que possa ter misericórdia e Ele é exaltado por mostrar
misericórdia. Se a falta de vontade fosse da parte de Deus, poderíamos muito facilmente
compreender e, em certa medida, justificar a falta de vontade do homem para voltar-se para
Deus. Mas quando o Senhor incentiva o homem a retornar, convida-o, arrazoa com ele, suplica-
lhe e faz todos os preparativos para a sua recepção, por que então é que o homem ainda se
recusa? seu Senhor deu ricas promessas de toda a ajuda que ele possa desejar e é ingratidão
imperdoável e obstinação perversa por parte do homem que ainda persista em se manter
distante do seu Criador! Ele escolhe perecer para sempre, antes do que confiar no seu Deus!
Não é este o caso de alguns que leem estas minhas palavras?
Desejo neste momento expor a graça de Deus e a sua prontidão para ouvir o clamor dos necessitados, com a esperança de que alguns
aqui presentes, que possam ter esquecido isso, possam ouvi-lo e serem encorajados a dizer: "Eu
me levantarei e irei ter com meu Pai".
Ao tentar expor a Graça transbordante do Senhor, nosso Deus, vou em primeiro lugar falar
sobre o fato de que essa garantia é particularmente adequada para certas pessoas.
276
"Ele certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” Isto é
aplicável e confortável para todas as pessoas aflitas! Para os tais eu me dirijo. Você que está
deprimido neste momento pela dor pesada. As coisas têm ido mal com você, e não prospera nos
negócios, ou está doente no corpo ou um ente querido está em casa definhando. Não admira que esteja se sentindo extremamente
sobrecarregado em espírito! Ao mesmo tempo, você está pouco à vontade quanto ao seu próprio
estado. O ferro está entrando em sua alma! Enquanto atravessa esta escuridão, você será
fortemente tentado a pensar duramente de Deus e culpá-lo pelos problemas que agora o
cercam! No entanto, isso só vai piorar as coisas e aumentar o seu pecado e sua tristeza! Talvez,
também, você estará pronto para se desesperar e dizer: "Não há esperança, estou tomado como
em uma rede e não há escapatória para mim."
Possivelmente, você estará pronto para tentar algum método errado por meio de ajudar a si
mesmo das presentes angústias. Satanás irá sugerir a você caminhos desonestos, impuros,
ou imprudentes, que possuem alguma sombra de alívio. Este é o seu perigo neste momento e,
compadecido de você, o Senhor nos convida a assegurar-lhe que há um caminho muito mais
sábio aberto para você, ou seja, voltar-se para Ele, pois Ele vai se compadecer de você com a
277
voz de seu clamor, e quando Ele ouvir, Ele irá lhe responder!
Existe ajuda em Deus para a sua provação presente, qualquer que seja a forma que ela
assuma. A Infinita Sabedoria, entende isto e o Poder Infinito pode ajudá-lo através disto. Deus
pode retirar de você o que está sofrendo, ou pode prevenir a ocorrência daquilo que você
teme. Ou, se, em sua sabedoria divina, Ele vê a necessidade de fustigá-lo com a vara, Ele pode
permitir que você o suporte e assim o faça retornar para o seu bem eterno! Esteja bem
certo de que Ele não aflige nem entristece os filhos dos homens ou tem qualquer prazer em
suas tristezas. Ele se compadece daqueles que estão aflitos, pois é muito sensível e cheio de
compaixão. E está sempre pronto para socorrer o sofrido. Há uma razão para a provação pesada
que agora você está experimentando - dependa disso e não se queixe.
O Senhor não está agora lhe visitando com ira, mas com bondade em sua severidade. Você não pode acreditar nisso?
É realmente assim e sua força, o seu conforto, a
sua libertação final de tudo isso virá através de seu conhecimento que isso é verdade e quando
agir em conformidade! Entregando-se a Deus e confiando nele na provação, você obterá a
libertação. "Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: voltando e descansando, sereis
278
salvos; no sossego e na confiança, estará a vossa força."
Diga: "A partir deste momento, meu Pai, eu vou procurá-lo e você será meu Guia. Por meio de
Jesus Cristo, seu Filho, vou me aproximar de você, confiando em seu sangue precioso. Ajuda-
me e livra-me." Você deve encontrá-lo pronto para perdoar e salvá-lo e viverá para louvar
Aquele cuja "misericórdia dura para sempre." Deixe-me sussurrar em seus ouvidos a doce
certeza do texto: "certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te
responderá.”
A segunda classe de pessoas a quem o texto será muito aplicável é constituída por aqueles que
estão preocupados por causa do pecado - pecadores que estão começando a sentir a
iniquidade de seus pecados, que estão neste momento sendo derrubados com um
sentimento de culpa e com o medo da punição. Agora, a fim de escapar do pecado e do castigo, a
primeira coisa a fazer é voltar para o seu Deus, a quem você ofendeu, pois somente Ele pode
perdoá-lo. Deve haver um retorno em arrependimento e um olhar dos olhos da fé para
Deus em Cristo Jesus, ou você vai morrer em seus pecados.
Uma aceitação alegre lhe espera, se você voltar
para casa de seu Pai, Ele não vai censurar-lhe por seus erros, mas tirará os trapos e lhe vestirá
279
com o melhor manto da justiça de Cristo! Ele vai encher a casa com música e se deleitará em ti.
Você não precisa fazer nada para tornar o Senhor propício, pois Ele já é amor! Você não
precisa se submeter a penitências, nem passar pela angústia grave do espírito, a fim de tornar
Deus mais misericordioso, pois sua graça abunda! Em Cristo Jesus, o fluxo de Amor Divino flui livremente, rápida e ricamente para o pior
dos homens! Somente volte para Deus, contra quem tinha transgredido, reconhecendo a sua
transgressão e coloque a sua confiança nele através de Jesus Cristo, seu Filho, e "Ele
certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.”
Se você olhar para a sua própria sabedoria, é
evidente que você não pode guiar o seu próprio caminho através do deserto sem caminhos da
vida. Qual é a sua sabedoria, senão a essência da loucura? Volte, então, com confiança infantil, a Deus. Venha, crente, para o mesmo lugar onde
sua vida espiritual começou a encontrar a força, a sabedoria, o descanso e tudo no Deus vivo! Que
este versículo sorria para você e lhe dirija para Deus "Ele "certamente, se compadecerá de ti, à
voz do teu clamor, e, ouvindo-a, te responderá.”
Esta CERTEZA que aqui é citada está muito firmemente fundamentada. As palavras de
nosso texto não são de velhas fábulas, elas não são um conto bonito que as mães, às vezes dizem
280
a seus filhos - uma história feita para agradá-los, mas que não é verdade. O texto não é ficção, é
um dito fiel da boca de Deus. "Ele vai se compadecer de você." Qual, então, é o
fundamento desta certeza? E em primeiro lugar, eu diria, a base do nosso conforto é encontrada
na promessa comum de Deus, como mencionada no texto e em muitas declarações semelhantes que estão espalhados por toda a
Escritura.
Você quer saber por que devemos voltar para Deus e confiar nele? É porque assim diz o
Senhor, que não pode mentir, nem mudar - "Ele "certamente, se compadecerá de ti, à voz do teu
clamor, e, ouvindo-a, te responderá.” Isto é uma parte de sua Palavra infalível, não é? É verdade,
então você não tem nenhuma dúvida sobre que seja assim! Venha, então, com sua Bíblia aberta,
coloque o dedo sobre as palavras e diga: "Eu creio que Deus está aqui declarando sua disposição de ser muito gentil para comigo e
ouvir a minha oração." Agora, o que mais você precisa? Será que uma criança precisa de
qualquer garantia melhor do que a palavra de seu pai? Será que um verdadeiro discípulo
necessita de qualquer evidência mais forte do que a promessa de seu Mestre?
"Está escrito." Isso não é o suficiente para você?
Vá de joelhos e implore o cumprimento desta Palavra de Deus de uma vez! Se o seu amigo
281
tinha dito, "Eu vou conceder o seu pedido," você não acredita nele? Não duvide, então, do seu
Deus, do seu Pai! Ele nunca lhe deu motivos para desconfiança da sua Palavra. Não são todas as
suas promessas fiéis? Venha, então, a garantia está bem fundamentada. Se houvesse apenas
essa promessa, ela seria o suficiente, mas veja quantas existem! As graciosas promessas da Palavra de Deus são tão numerosas como as
estrelas que iluminam o céu. "Eu nunca te deixarei, nem te desampararei." "Minha graça é
suficiente para você." "Não tenha medo, eu vou te ajudar." "Aquele que crê não será confundido."
"Confia no Senhor e faze o bem, então você deve morar na terra e verdadeiramente será
alimentado." Eu não preciso citá-las, porque você as conhece bem e seu número é muito
grande. Mas todas elas são feitas à fé e nenhuma delas à incredulidade! Tenha fé nisto e creia no
seu Deus e que a sua Palavra deve ser cumprida em sua experiência feliz!
Um segundo terreno sobre o qual essa garantia está construída é a natureza da graça de Deus. O
texto dá a entender isso. "Ele vai se compadecer de você." É a natureza de Deus, o Deus de Israel,
é muito generoso em suas relações! Ele abre as mãos e supre as necessidades de todos os seres
vivos. Ele é o Deus de graça! Ele também não para por aí, pois enquanto é generoso para as
suas criaturas carentes, Ele também é misericordioso para com as suas criaturas
282
pecadoras! O julgamento é a sua estranha obra, mas tem prazer na misericórdia! Nada lhe
agrada mais do que passar sobre a transgressão, a iniquidade e o pecado. Para que Ele pudesse
usar seu atributo de misericórdia Ele sacrificou o Amado da sua alma, o seu próprio Filho, Jesus!
Ele o entregou por todos nós - para que pudesse ter misericórdia de nossa raça culpada.
Isto é certo quanto ao caráter de Deus, que é rico em amor, graça e misericórdia, para que Ele
tenha misericórdia daqueles que o buscam. Vamos buscá-lo de uma vez, cada um de nós!
Além de tudo isso, Ele prometeu dar o Espírito Santo para ajudar na oração, ajudando as nossas fraquezas, porque não sabemos o que havemos
de pedir como convém. Ele iria dar o Espírito Santo e ainda fazer com que a oração seja
ineficaz? Isto não é concebível! deleita a Deus ouvir os clamores de suas criaturas! "Quando ele
ouvir tuas orações, Ele vai te responder" - é o que diz o texto! Será que Ele não disse: "Antes de
clamarem eles, eu responderei, estando eles ainda falando, eu ouvirei "?
Que o Espírito Divino lhe ajude a orar neste dia!
Se você orar e confiar nesse dia, será para você como o início do dia, e de agora em diante você
deve deliciar-se na abundância de paz! Oh crente, deve ser verdade para você, "Sua alma
repousará no bem, e a sua descendência herdará a terra"! Que o bom Espírito do Senhor
283
derrame sobre você tal graça que será abençoado e se tornará uma bênção para os
outros! Você deve caminhar alegremente diante do Senhor nesta terra dos moribundos e,
em seguida, deve permanecer com Ele para sempre, acima, na terra dos vivos! Deus abençoe
a todos por amor do seu nome. Amém.
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A intercessão do Espírito Santo
Partes de um sermão de Charles Haddon
Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
"Também o Espírito ajuda as nossas fraquezas: porque não sabemos o que devemos e o que
havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos
inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque é ele
intercede pelos santos de acordo com a vontade de Deus." (Romanos 8.26,27)
O apóstolo Paulo estava escrevendo para um
povo em provação e aflição, e um de seus
objetivos era o de lembrá-los dos rios de conforto que estavam fluindo próximos deles.
Ele, antes de tudo despertou suas mentes puras por meio da lembrança quanto à sua filiação,
"pois” diz ele "os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus." Estavam,
portanto, sendo incentivados a participar de Cristo, o irmão mais velho, com quem tinham se
tornado co-herdeiros, e eles foram exortados a sofrer com ele, para que pudessem ser
glorificados com ele. Tudo o que eles suportaram veio da mão do Pai, e isso deveria
consolá-los. Mil fontes de alegria são abertas nessa abençoada adoção. Bendito seja o Deus e
285
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual temos sido gerados na família da graça.
Quando Paulo tinha aludido a esse assunto consolador ele se virou para a próxima base de
conforto, pela qual somos sustentados sob as presentes provações com esperança. Há uma
glória maravilhosa reservada para nós, e embora ainda não possamos entrar nela, senão
em harmonia com toda a criação, devemos continuar a gemer, mas a própria esperança
ministrará força para nós, e nos permitirá suportar com paciência “essas aflições leves,
que são, apenas por um momento. "Isso também é uma verdade cheia de refrigério sagrado: a
esperança vê uma coroa reservada, mansões que Jesus preparou para nós, e com a visão
arrebatadora ela sustenta a alma sob as tristezas da hora. A esperança é a grande âncora por cujo
meio enfrentamos a presente tempestade.
O apóstolo, em seguida, apresenta uma terceira fonte de conforto, ou seja, a permanência do Espírito Santo com o povo do Senhor. Ele usa a
palavra "também" para insinuar que, do mesmo modo como a esperança sustenta a alma,
igualmente o Espírito Santo nos fortalece sob a provação. Esperança operada espiritualmente
em nossas faculdades espirituais, e assim o Espírito Santo, de alguma maneira misteriosa,
opera divinamente sobre as faculdades recém-nascidas do crente, para que ele se mantenha
286
firme sob suas fraquezas e enfermidades. Em sua luz veremos a luz: Peço, portanto, que
possamos ser ajudados pelo Espírito enquanto nós consideramos suas operações misteriosas.
O Espírito Santo nos ajuda a suportar a enfermidade do nosso corpo e da nossa mente,
ele nos ajuda a carregar a nossa cruz, seja dor física, ou depressão mental, ou conflito
espiritual, ou difamação, ou pobreza, ou a perseguição. Ele ajuda a nossa fraqueza, e com
um ajudante tão divinamente forte não precisamos temer o resultado. A graça de Deus
é suficiente para nós, sua força será aperfeiçoada na fraqueza.
Penso, queridos amigos, vocês todos admitirão, que se um homem pode orar, seu problema é ao mesmo tempo aliviado. Quando sentimos que
temos o poder de Deus e podemos obter qualquer coisa que peçamos de suas mãos,
então, nossas dificuldades deixam de nos oprimir. Lançamos nosso fardo sobre o nosso
Pai celestial e somos tomados de uma confiança infantil, e ficamos muito contentes em suportar
o que quer que sua santa vontade possa fixar sobre nós. A oração é uma grande saída para o
sofrimento. Banhamos nossa ferida no unguento da oração, e a dor é abrandada e a
febre é removida.
Podemos ser levados a tal perturbação de mente, e perplexidade de coração, que não
287
sabemos como orar. Vemos o propiciatório, e percebemos que Deus nos ouve: não temos
nenhuma dúvida sobre isso, pois sabemos que somos seus filhos prediletos, e ainda assim mal
sabemos o que pedir. Caímos em tal peso de espírito, e emaranhamento de pensamento, que
o remédio da oração, que temos sempre para ser infalível, parece ser tirado de nós. Aqui, então, em cima da hora, como um socorro bem
presente na hora da angústia, vem o Espírito Santo. Ele se aproxima para nos ensinar a orar, e
desta forma ele ajuda a nossa fraqueza, alivia o nosso sofrimento, e nos permite suportar o
pesado fardo sem desmaiar sob a carga.
Se o crente pode fazer qualquer coisa e tudo para Deus, então ele aprende a se gloriar na fraqueza,
e alegrar-se na tribulação, mas às vezes estamos em tal confusão de espírito que não sabemos o
que havemos de pedir como convém. Em certa medida, através da nossa ignorância, nós nunca sabemos o que havemos de pedir até que
sejamos instruídos pelo Espírito de Deus.
Vindo em nosso auxílio em nosso espanto ele nos instrui. Esta é uma de suas operações
frequentes sobre a mente do crente: "ele vos ensinará todas as coisas." Ele nos instrui quanto
à nossa necessidade, e quais são as promessas de Deus, que se referem a essa necessidade. Ele
nos mostra onde estão nossas deficiências, o que os nossos pecados são, e quais são as nossas
288
necessidades, ele lança uma luz sobre a nossa condição, e nos faz sentir profundamente nossa
impotência, pecaminosidade, e extrema pobreza, e, em seguida, ele lança a mesma luz
sobre as promessas da Palavra. Sob essa luz ele faz brilhar a promessa em toda a sua veracidade,
certeza, doçura e adequação, para que nós, pobres filhos trêmulos dos homens, ousemos tomar a palavra em nossa boca, que veio pela
primeira vez da boca de Deus, e depois vem com ele como um argumento, para pleitearmos
perante o trono da graça celestial. Nossa vitória na oração encontra-se na reivindicação:
"Senhor, faze como disseste."