Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
TRABALHO DE CAMPO EM ESPAÇO URBANO COMO MÉTODO
PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA CULTURAL
MILAMAR CELESKI PIOVESAN1
LUIS LOPES DINIZ FILHO2
RESUMO - O presente artigo é parte integrante do PDE (Programa de Desenvolvimento
Educacional) e visa contribuir com a escola pública e com as aulas de Geografia. Através do
trabalho de campo em espaço urbano, o qual é um método para o ensino de Geografia Cultural,
pretende-se levar os alunos a observação, a percepção, a conhecer e compreender a organização
deste espaço. Para tanto, delimitou-se um trecho da cidade de Curitiba: da Praça das Nações no
Bairro Alto da Rua XV até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico, cujo trecho é
de relevante importância, pois possui elementos histórico-geográficos que servem como referenciais
para a compreensão de um espaço maior que é a cidade de Curitiba.
Palavras-chave: Trabalho de campo. Espaço urbano. Percepção. Cultura.
1 Professora de Geografia do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), Núcleo Curitiba-PR.E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho, Departamento de Geografia, UFPR. E-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
O presente artigo descreve o trabalho desenvolvido no PDE-Plano de
Desenvolvimento Educacional, contemplando o Projeto de Intervenção Pedagógica,
a Produção Didático-Pedagógica, a Implementação do Projeto na Escola e o GTR-
Grupo de Trabalho em Rede.
A maioria dos alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), retomam seus
estudos depois de muito tempo. Conforme minhas observações em sala de aula, os
alunos, pelo fato de ficarem fora do contexto escolar, conhecem e vivenciam apenas
seus espaços de vivência: a casa, o trabalho e o espaço sagrado. E numa
perspectiva cultural, alguns passam a vida inteira sem conhecer os bairros da cidade
e sem saber que existe uma determinada praça, bosques, os diferentes espaços
sagrados, monumentos, etc. Neste sentido, o trabalho desenvolvido e apresentado
neste artigo, dá ênfase a Geografia Cultural, sendo o trabalho de campo, o método
utilizado para que os objetivos fossem atingidos. Assim, um trecho da cidade de
Curitiba foi delimitado para o estudo: da Praça das Nações no Bairro Alto da Rua XV,
seguindo pela Rua XV de Novembro em direção à Praça Portugal no Bairro Alto da
Glória, até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico. Delimitou-se
este trecho pela sua multiplicidade de formas e funções, contendo diferentes
elementos de caráter histórico-geográfico. O público-alvo deste trabalho foram os
alunos da EJA-Educação de Jovens e Adultos, da Escola Ceebja Cic-Centro
Estadual de Educação para Jovens e Adultos, em Curitiba, do Ensino Fundamental
fase II no período noturno.
Os objetivos propostos são os seguintes: Propiciar a ampliação das
representações espaciais urbanas dos alunos, através do trabalho de campo.
Destacar a importância de alguns elementos, materiais e imateriais, na formação do
espaço de Curitiba. Observar e registrar as transformações que ocorreram no trecho
escolhido e desenvolver com os alunos um guia de percurso urbano. A escolha
deste tema e o método de análise mostram a relevância do trabalho, pois a relação
entre o tema e o método, proporciona aos alunos a ampliação das representações
espaciais urbanas, fazendo-os reconhecer a importância dos elementos materiais e
imateriais estudados no referido trecho.
REVISÃO DE LITERATURA
Nos livros de geografia e história vemos muitas ilustrações de quadros,
descrições e observações sobre as paisagens do Brasil. Este trabalho conjunto foi
sendo desenvolvido desde os primórdios da formação do território brasileiro com a
chegada dos portugueses, assim podemos pensar o trabalho de campo como
sendo inerente ao estudo do espaço, isto é, quando é desenvolvido um estudo sobre
um determinado espaço, este vem acompanhado do trabalho de campo. E
posteriormente para a Geografia, tornou-se parte fundamental do método de
trabalho para os geógrafos. O trabalho de campo representa um momento do
processo de produção do conhecimento, e não pode ser considerado apenas como
uma atividade de observação da paisagem ou do lugar de estudo, mas partir desta
observação, sendo mediado pelos conceitos geográficos para que os alunos
compreendam a dinâmica do espaço geográfico. Sobre a importância do trabalho de
campo, LACOSTE (1985, p. 13) citado por Alentejano, Rocha-Leão (2006, p. 62) diz
que “[...] os trabalhos de campo devem ser longos e contínuos, marcados por
caminhadas, e convívio com a realidade,[...]”. E para Suertegaray (2002) “A pesquisa
de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da realidade do outro,
interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro sujeito”.
Para colaborar na construção de conhecimentos e na formação dos alunos,
podemos citar o trabalho de campo como sendo um método capaz de auxiliar o
professor nessa busca de novas alternativas para o processo de ensino-
aprendizagem. É importante construir com os alunos, um conhecimento cuja visão
de mundo seja integrada. Para Silvone e Tsukamoto (2006, p. 85), “[...]será a partir
do momento em que iniciativas isoladas forem tomadas e tiverem bons frutos que se
desencadearão as grandes mudanças.” As iniciativas isoladas e as grandes
mudanças estão relacionadas com a prática pedagógica diária de cada professor,
pois ao propor métodos diferentes, torna-se sujeito de sua prática social. A prática do
trabalho de campo é antiga e deu à Geografia uma posição de destaque na busca
de um melhor entendimento do espaço. No decorrer do tempo, acredita-se que o
trabalho de campo, não tenha deixado de acontecer, em momento algum. O que
houve foram abordagens diferentes, em determinados momentos foi mais utilizado e
valorizado que em outros momentos. Nesta prática de ensino,
[...]o trabalho de campo tem se mostrado capaz de: chamar a atenção dosalunos; estreitar a relação destes com os professores; conduzi-los a atitudesnovas, ajudando-os na assimilação e compreensão de conteúdosespecíficos e na formação da personalidade, o que, mais tarde, auxiliará navida social e profissional. (Tomita, 1999, p. 14 citado por Silvone eTsukamoto, 2006, p. 86).
Os grupos humanos desenvolvem suas atividades produtivas apoiadas no
espaço, iniciando-se pela exploração dos meios naturais. Para Claval (1999) a
organização do espaço, efetuada num determinado contexto cultural, permite aos
homens viverem como lhes convêm. Segundo as Diretrizes Curriculares de
Geografia para a Educação Básica do Estado do Paraná (2008), o objeto de estudo
da Geografia é o espaço geográfico, entendido como aquele produzido e apropriado
pela sociedade, composto por objetos naturais, culturais e técnicos; e ações
pertinentes às relações sociais, culturais, políticas e econômicas. Os homens vivem
num espaço. Este tem uma aparência e para a grande maioria das pessoas ele está
pronto e acabado. Mas sabemos que os diferentes espaços que se apresentam são
o resultado de diferentes dinâmicas e estão repletos de historicidade. Uma efetiva
apropriação do espaço por um dado grupo social se expressa através da toponímia;
a qual segundo Corrêa (2007, p. 176), “[...] constitui-se em relevante marca cultural e
expressa uma efetiva apropriação do espaço por um dado grupo cultural. É ainda
um poderoso elemento identitário.” Ela dá nome aos rios, as montanhas, cidades,
bairros, logradouros, etc., envolvendo diferentes etnias ou grupos culturais. Corrêa
(2007) observa que o espaço urbano está impregnado de toponímia. Ele constitui-se
num campo cheio de possibilidades para o estudo das relações entre linguagem,
política territorial e identidade, as quais são articuladas pela toponímia. O significado
do nome de um determinado bairro por exemplo, expressa a relação existente entre
toponímia e identidade. O espaço urbano constitui-se em um ambiente ideal para a
geografia cultural. Corrêa (2007) diz que uma das dimensões que analisa o espaço
urbano é a dimensão cultural, que por seu intermédio conhece-se um pouco mais
sobre a sociedade em termos econômicos, sociais, políticos e ambientais. A cidade
expressa a cultura de um povo através de suas formas, as quais possuem um
simbolismo. De acordo com Corrêa; Rosendahl (2007, p. 28), “A geografia cultural
distingue, descreve e classifica os complexos típicos de aspectos ambientais,
incluindo aqueles feitos pelo homem, que coincidem com cada comunidade cultural,
[...]”. Para a geografia cultural as transformações causadas pela ação humana na
superfície terrestre tem um grande significado. E quando estas transformações são
estudadas, se considera as diferenças e semelhanças entre as comunidades
humanas, e refere-se aos diferentes modos de vida de cada uma como culturas. A
geografia cultural compara a distribuição das comunidades com alguns aspectos da
superfície terrestre, deste modo ela procura identificar os aspectos ambientais
característicos de uma determinada cultura. Para o geógrafo cultural a explicação do
funcionamento interno da cultura e a descrição completa dos padrões de
comportamento humano não são questões preocupantes, mesmo que estas afetem
a superfície da Terra. Ele preocupa-se,
[…] em avaliar o potencial técnico de comunidades humanas para usar emodificar seus habitats. Para realizar tal avaliação, a geografia culturalestuda a distribuição, no tempo e no espaço, de culturas e elementos dasculturas. (Corrêa e Rosendahl, 2007, p. 31)
A cultura de um povo difere da cultura de outro povo, mas alguns
componentes aparecem e permanecem como sendo comuns às duas, como
exemplo, são as técnicas de produção e os procedimentos que regulam a vida e
asseguram a sobrevivência. A cultura marca os espaços de diversas maneiras, por
exemplo, os espaços são moldados pelas preferências e valores das sociedades
conforme suas capacidades de estruturá-los. É transmitida de indivíduo para
indivíduo; os diferentes grupos a usam e a difundem. Segundo Claval (1999, p. 63)
“A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos
conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas [...]”.
Ela é enriquecida e transformada, é herança transmitida de uma geração para outra.
Para Claval (1999) os homens não se preocupam somente em satisfazer as
suas necessidades e transmitir o que sabem às futuras gerações, eles costumam
dar um significado ou sentido àquilo que os cerca. Algumas vezes a paisagem
valoriza-se em si mesma, pois deixa de ser somente uma expressão da vida social
conferindo identidade aos grupos humanos. E conforme Corrêa e Rosendahl (1998,
p. 108), “Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são o produto
da apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem.”
O TRABALHO DE CAMPO EM ESPAÇO URBANO
As estratégias de ação propostas no Projeto de Intervenção Pedagógica,
serviram de apoio e ponto de partida para a implementação do projeto na escola. As
mesmas estão descritas e detalhadas na Produção Didático-pedagógica, a qual se
apresenta na forma de Unidade Didática e tem como objeto de estudo o trabalho de
campo em espaço urbano, compreendido como um método pedagógico no processo
de ensino-aprendizagem em Geografia. E conforme diz Suertegaray (2002), “A
pesquisa de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da realidade do
outro, interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro sujeito. Esta
interpretação resulta de seu engajamento no próprio objeto de investigação”.
Conforme descrito na Unidade Didática o trabalho de campo é composto por
três etapas. Na primeira etapa, o pré-campo, as ações foram desenvolvidas em sala
de aula com 20 alunos. Eles responderam ao questionário diagnóstico, o qual
apresentou os seguintes resultados:
Tabela 1 – Resultados da aplicação do questionário diagnóstico
1-Você conhece e/ou já caminhou pelo trecho selecionado para o trabalho de campo?
Sim: 09 alunos Não: 11 alunos
2-Marque com um “X” os elementos abaixo que você já visitou.
Antiga caixa d'água no Alto da Rua XV Nenhum aluno marcou
Polloshop Alto da XV 05
Estádio Major Antônio Couto Pereira 10
Praça Portugal Nenhum aluno marcou
Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 10
Praça Nossa Senhora de Salette 08
3-Dentre os elementos abaixo relacionados, marque quatro que você gostaria de visitar.
Antiga caixa d'água no Alto da Rua XV 15
Polloshop Alto da XV 08
Estádio Major Antônio Couto Pereira 15
Praça Portugal 12
Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 13
Praça Nossa Senhora de Salette 12
Fonte: Autora, 2014
Quanto ao mapa mental observou-se que os elementos que foram
desenhados, apareceram como referenciais do trecho em estudo, isto é, os alunos
desenharam o que lembravam, e um dos elementos que mais apareceu foi o Estádio
Major Antônio Couto Pereira. A leitura e interpretação do texto Paisagem-Cultura-
Percepção, dos textos informativos e dos mapas dos bairros por onde passa o
trecho selecionado, e de alguns mapas antigos de Curitiba, também foram os meios
utilizados em sala de aula para que os alunos compreendessem e também para
sensibilizá-los para a fase do campo. Sobre esta etapa do trabalho de campo Karina
diz o seguinte:
“De posse das informações recentes sobre as localidades que se esperavisitar (de preferência realizando uma excursão prévia) e a partir dapreparação dos alunos para realizar a atividade, o professor cria umprograma de trabalho que norteará o trabalho de campo e, de posse desseprograma, realiza as ações necessárias a sua efetivação”. (NEVES, 2010,p.31).
Na etapa denominada o campo, foi necessário dividir o trecho em duas
partes, o qual foi percorrido em dias diferentes. No primeiro dia do trabalho de
campo, o trecho teve início na Praça das Nações, sendo que primeiramente os
alunos puderam caminhar, observar e tirar fotos da praça. Também puderam
observar a cidade de Curitiba em direção ao Bairro Alto da Glória e o Centro e do
outro lado da praça observaram a Serra do Mar estendendo-se em sentido ao
município de Pinhais. Em seguida, os alunos caminharam pela Rua XV de
Novembro, passando pela linha do trem onde foram realizadas as explicações
necessárias deste local, e dali mesmo puderam observar a localização do Polloshop
Alto da XV. Continuando até o Estádio Major Antônio Couto Pereira, foi realizada
uma visita orientada em todo o estádio; e terminando o trecho deste dia os alunos
conheceram a Praça Portugal e o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Os comentários e observações dos alunos foram os seguintes:
Aluno 1: “É muito legal ter essas aulas que a gente pode sair”.
Aluno 2: “Nossa, eu nunca tinha vindo neste lado da cidade, é tão diferente”.
Aluno 3: “É a primeira vez que eu entro nesse estádio, eu torço pra outro time”.
O aluno 4 relatou o seguinte: “A aula de campo foi muito boa, andamos
bastante. Começou na Praça das Nações na antiga caixa d'água no Alto da XV e
continuou pelo bairro onde vimos algumas casas antigas e outras reformadas, para
manter a tradição dos imigrantes europeus. E nós paramos para fotografar uma
delas, pois são lindas e encantadoras. E nós continuamos a caminhada até o
Estádio Couto Pereira, onde fizemos uma visita muito bacana, até ganhamos uma
revista do CFC-Coritiba Futebol Clube no final, e para ficar melhor ainda,
terminamos o passeio no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”.
O aluno 5 também relatou: “Fizemos a nossa aula de campo com a
professora Milamar e o pessoal do colégio, foi muito legal. Fomos à antiga caixa
d'água e conhecemos a importância que ela tem. Já abasteceu parte de Curitiba no
início do seu crescimento. Depois seguimos andando e paramos na linha do trem
que está ativa e cruza o centro da cidade. Também vimos as construções antigas no
caminho. Conhecemos o Estádio Major Antônio Couto Pereira, foi muito legal porque
tivemos uma visita orientada, onde nós conhecemos a história desde a sua
construção e também a história do time Coritiba Futebol Clube até hoje. Depois por
fim conhecemos o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que também é
muito lindo. Eu adorei esta aula de campo, foi bom conhecer um pouco mais da
cidade de Curitiba”.
O segundo dia do trabalho de campo, teve início onde terminou o primeiro, ou
seja, a partir da Praça Portugal. Seguindo pela Rua Ivo Leão e Avenida Cândido de
Abreu até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico. Os alunos
caminharam pela praça e ficaram sabendo da localização das repartições públicas.
Neste dia foi realizada a visita orientada ao Palácio Iguaçú, a qual teve duração de
uma hora. Na parte de trás do Palácio tem o mapa do Paraná construído no chão
com as diferentes altitudes do relevo e a rede hidrográfica, os alunos caminharam
em cima do mapa e este foi mais um elemento que enriqueceu o trabalho de campo,
sendo que os comentários foram os seguintes:
Aluno 6: “Eu nunca tinha entrado aqui, as salas são muito grandes. Os móveis são
muito chic”. Referindo-se ao Palácio Iguaçú.
Aluno 7: “Os móveis são antigos, estilo Luiz XV”.
Aluno 8: “A gente podia ter mais dessas aulas”.
O relato do aluno 9 diz o seguinte: “Foi legal esta visita, mas eu cheguei
atrasado, tinha acabado de começar. Foi bacana, entramos na Capela onde o Papa
João Paulo II rezou a missa quando esteve em Curitiba. Vimos os quadros
esculpidos na madeira entre outros. Tem uma escada bonita, mas o que mais gostei
foi do mapa do Paraná em feito de cimento nos fundos do Palácio Iguaçú. Tiramos
várias fotos daquele lugar. E para finalizar vimos a escultura na parece lá de fora do
palácio, bem interessante”.
No GTR (Grupo de Trabalho em Rede), os professores participantes
desenvolveram as Temáticas, fizeram a leitura do Projeto de Implementação na
Escola e da Produção Didático-pedagógica e suas contribuições se deram também
através dos relatos e da experiência de levar os alunos para o trabalho de campo.
Alguns relatos dizem o seguinte:
Professor 1: “Olá Milamar, seu projeto ficou muito bom. O movimento da sociedade
produz mudanças em diferentes níveis e diferentes tempos, quanto a economia, a
política, a migração, a demografia, a cultura e a paisagem geográfica, em relação
umas com as outras. Após a leitura do seu Projeto de Intervenção..., deparei com a
nossa realidade, mesmo sendo um município pequeno, nas últimas décadas tivemos
mudanças significativas quanto a demografia, migração, economia, política e a
paisagem geográfica. Sendo assim pretendo trabalhar com meus alunos conforme
você relata em seu Projeto”.
Professor 2: “O lugar possui também íntima relação com os aspectos culturais que
marcam cada sociedade. Os aspectos culturais dão identidade ao lugar; este lugar à
que me refiro é o trecho em estudo. Sendo que existe uma relação direta dos
indivíduos enquanto comunidade residente, com este lugar. É preciso preservar e
fortalecer a identidade local em vez de destruí-la”.
Professor 3: “Para compreender melhor o espaço em que estamos inseridos se faz
necessário percebê-lo. Esta percepção pode se dar através dos cinco sentidos
tradicionais como diz Tuan, onde ele se refere à visão como o sentido que
impulsiona os seres humanos a seguir no mundo. Vivenciá-lo também faz parte
deste caminho de descobertas. Os noticiários diários nos ajudam a entender parte
deste processo de transformação e, a cidade, é resultado de inúmeras
transformações ocorridas ao longo de décadas. Na maioria das vezes estas
transformações são tão rápidas que não conseguimos acompanhá-las. Imagino
estes alunos da EJA que vieram de outras áreas cujo processo de urbanização
ocorre num ritmo consideravelmente lento em relação à capital, tudo o que eles
vivenciarem a partir de agora ou que já vivenciaram terão um valor significativo para
a compreensão daquilo que não fazia parte da realidade deles. Assim, as noções
espaciais de lugar, território, região, paisagem, etc., passarão a ser entendidas por
eles após a percepção da área em estudo, inclusive ter a compreensão da
diversidade cultural presente naquele meio. Quando o espaço passa a fazer parte da
vida das pessoas, seja ele em função das necessidades, representações,
satisfações ou em decorrência de outros fatores, este se torna mais significativo,
valorizado e defendido por eles. As pessoas, em sua maioria, gostam da cidade em
que vivem ou que escolheram para viver, transmitem aos outros a cultura, os locais
de lazer, visitação e outros atrativos. Este gostar faz parte daquilo que foi vivido,
percebido e, em seguida, concebido. E a cidade é um espaço propício para tudo
isso, pois apresenta uma gama de bens, serviços, aspectos culturais e sociais
capaz de permitir uma análise significativa do espaço em questão”.
Professor 4: “Ao se tratar de informações e conhecimento, as cidades já desde a
antiguidade vêm se demonstrando como centro das visões filosóficas, que, através
das quais se pode incursar e debater acerca da cultura humana. E quanto mais
crescem e se transformam em áreas ou regiões metropolitanas, mais agregam
especificidades aumentando o relacionamento social e econômico dos últimos
tempos. Toda a tecnologia usada em outros espaços, como rural, empresarial,
industrial, por exemplo, é pensado e organizado originariamente no espaço urbano”.
Professor 5: “Como já foi dito o trabalho de campo torna as aulas mais interessantes
e dinâmicas, uma vez que no ambiente urbano, temos um vasto material para
estudo e pesquisa, e de forma pedagógica podemos nos apropriar da análise da
paisagem de forma metodológica para explicarmos por exemplo as transformações
ocorridas no espaço geográfico, onde o homem através de seu trabalho interveio no
meio em que vive.
Gosto muito de trabalhar com aulas de campo, pois desta forma vejo a
possibilidade da construção do conhecimento como nos mostra Celso Vasconcelos,
onde os alunos não se limitam simplesmente a escutar mas sim a tocar e até a
intervir, de acordo com o trabalho a ser feito com os educandos. Desta forma, o
trabalho de campo nos mostra que temos uma grande possibilidade de ações na
escola respeitando a herança cultural de nossos alunos”.
Professor 6: “O recurso aula de campo em Geografia é fundamental para a
compreensão do espaço geográfico por parte dos alunos, haja visto que na nossa
formação sempre que tínhamos aulas de campo aprendíamos mais. A minha
ressalva quanto a aulas de campo é com relação à responsabilidade do professor
com a segurança dos alunos. Confesso que tenho receio de sair com os alunos pois
atualmente são muitos os problemas que podem aparecer. Com alunos adultos
torna-se mais fácil já que eles são mais responsáveis, então imagino que sua saída
com os alunos será tranquila”.
Professor 7: “O estudo da Geografia, enquanto disciplina curricular nas escolas pode
vir a perder sua importância e significado se a grande maioria dos educandos tem
como principal recepção às informações a audição, vinculada ao ambiente
sistematizado das salas de aula que tem como únicos recursos didáticos: o quadro-
negro, o giz, os materiais de uso individual dos alunos (caderno, livro didático, lápis,
borracha, etc.) e a exposição oral do professor. Importantes estudos que pensam na
aula de campo e na ludicidade como enriquecedoras do processo de ensino
aprendizagem e em experiências colocadas em prática, fazem destes instrumentos
de trabalho importantes aliados. A aula de campo, quando acontece, muitas vezes é
secundarizada e desvalorizada se não efetivada com a devida exploração que a ela
se pode dar. O termo “passeio” é comumente utilizado nas escolas por alunos e
professores, quando se deslocam do ambiente escolar para visitar outro espaço que
não o habitual. Independente da faixa etária (educação fundamental, médio ou EJA)
que se pretende trabalhar em campo, um simples “passeio” também gera
aprendizado e pode enriquecer aquilo que se pretende ensinar, mas vincular a saída
do ambiente escolar à pré-requisitos que englobem desde o comportamento em
lugar distinto do comum, até mesmo a organização para a socialização do momento
da alimentação, além dos conteúdos que permearão a aula, podem revestir esse
momento de uma importante interação entre várias áreas do conhecimento que o
currículo escolar pressupõe e que muitas vezes se perde no âmbito escolar reduzido
às salas de aula. Milton Santos (1988, p. 62) escreve que "A paisagem não é
formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.
[...] e a percepção é sempre um processo seletivo de apreensão”. Se fizermos uso
de todos os nossos sentidos, poderemos perceber na paisagem (urbana ou não)
com maior facilidade todo o processo de construção histórica da qual ela é
resultado, inserindo outra dimensão, a da experimentação, para além da visão.
Professor 8: “O trabalho sugerido é muito importante para a disciplina de geografia,
incluir o trabalho de campo como prática pedagógica e utilizar conceitos de
geografia da percepção como, espaço vivido e marcos visuais para a compreensão
desse espaço, dará um caráter mais humano e prático à disciplina”.
No retorno do trabalho de campo, em sala de aula, os alunos foram
motivados a trocar informações entre si, e de como eles perceberam o trecho em
estudo e sobre os lugares visitados. Posteriormente foi feito uma exposição na
escola, mostrando as fotos e os relatos dos alunos sobre o trabalho desenvolvido.
Considerações finais
O trabalho de campo antes de ser aplicado e/ou desenvolvido com nossos
alunos, deve ser planejado. O planejamento envolve as três etapas do trabalho de
campo: pré-campo, o campo e pós-campo.
No questionário diagnóstico aplicado cujos resultados são mostrados na
tabela 1 podemos notar que a maioria dos alunos não tinham caminhado ou
conheciam o trecho em estudo, que nenhum aluno tinha ido à antiga caixa d'água no
Alto da Rua XV e à Praça Portugal, e quanto aos lugares que eles gostariam de
conhecer houve um número maior para a antiga caixa d'água e o Estádio Major
Antônio Couto Pereira.
Não foi possível levar os alunos para subirem até o mirante da antiga caixa
d'água, pois a Sanepar à fechou para visitação. Segundo informações, ela será
reaberta posteriormente.
O trabalho de campo desenvolvido com os alunos da EJA teve uma
motivação maior, pois como eles não tem o hábito de conhecer e/ou visitar alguns
lugares de Curitiba, este trabalho oportunizou a eles uma nova experiência nas
aulas de Geografia, trazendo conhecimento, reflexões e discussões. E esse novo
conhecimento, sobre o trecho em estudo e consequentemente da organização
espacial da cidade, era até então despercebido em suas vivências. A partir deste
trabalho podemos pensar então, que os alunos terão outras atitudes em relação aos
espaços de vivência e em relação a outros espaços que não fazem parte do seu
cotidiano. Atitudes que possibilitarão a percepção e a ampliação das suas
representações espaciais, as quais poderão ser pesquisas, as visitas a parques,
museus, ruas com casarões antigos e conhecer outros bairros.
REFERÊNCIAS
ALENTEJANO, P. R. R. & ROCHA-LEÃO, O. M. Trabalho de campo: Uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, n. 84, p. 51-67, 2006. Disponível em: http://www.geografia.fflch.usp.br/graduacao/apoio/Apoio/Apoio_Tarik/2012/FLG0435/BPG_84.pdf. Acesso em: 4/9/2014.
CASTROGIOVANNI, A. C. et al. Geografia em sala de aula: práticas ereflexões. 4.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/Associação dos geógrafosBrasileiros-Seção Porto Alegre, 2003.
CLAVAL, P. A geografia cultural. Tradução de: PIMENTA, Luiz Fugazzola;PIMENTA, Margareth de Castro Afeche. Florianópolis: Editora da UniversidadeFederal de Santa Catarina, 1999.
CORRÊA, R. L.; ROSENDAHL, Z. (Orgs.) Introdução à Geografia Cultural. 2.ed.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
______. Paisagem, tempo e cultura. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998.
NEVES, K. F. T. V. Os trabalhos de campo no ensino de Geografia: Reflexões sobre a prática docente na educação básica. Ilhéus: Editus, 2010.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação-SEED. Diretrizes Curriculares daRede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná-Geografia. Curitiba,2008.
SANTOS, M. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: Hubitec, 1988.
SUERTEGARAY, D. M. A. Pesquisa de campo em Geografia. In: IVEncontro Estadual de Geografia de Minas Gerais, 2002, Minas Gerais. GEOgraphia, v. 4, n. 7, 2002. Disponível em: http://www.uff.br/geographia/ojs/index.php/geographia/article/viewArticle/78. Acesso em: 16/9/2014.
TUAN, Y. Topofilia. Tradução de: OLIVEIRA, Livia de. São Paulo: Difel, 1980.cap. 2.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). Sistema de Bibliotecas.Normas para apresentação de documentos científicos, 3: citações enotas de rodapé. Curitiba, 2007.
______. Normas para apresentação de documentos científicos, 4: referências.Curitiba, 2007.
______. Normas para apresentação de documentos científicos, 6: periódicos e artigos de periódicos. Curitiba, 2007.
______. Normas para apresentação de documentos científicos, 9: redação eeditoração. Curitiba, 2007.