Download - Os maias a educação
O tema da educação é frequentemente tratado
por Eça de Queirós e surge n’Os Maias como um
dos principais fatores comportamentais e da
mentalidade do Portugal romântico por oposição
ao Portugal novo, voltado para o futuro.
Eça apresenta dois sistemas educativos
opostos: a educação tradicionalista e
conservadora, protagonizada por Pedro da Maia
e Eusebiozinho, e a educação inglesa, ministrada
a Carlos.
A educação “à portuguesa” caracteriza-se pelo recurso à memorização, pelo uso da cartilha (método já desatualizado e deficiente) e do catecismo, criando uma ideologia religiosa com a conceção punitiva do pecado.
Era dada especial atenção ao estudo do Latim, uma língua morta muito ligada à religião. O educando não devia estar ao ar livre, não lhe sendo permitido contactar com a Natureza; tinha de ficar em casa, superprotegido.
Essa educação desvalorizava a criatividade e o juízo crítico, deformava a vontade própria através do suborno e das chantagens, acabando por arrastar indivíduos para a decadência física e moral.
A educação “à portuguesa” e as suas características
A educação ‘à portuguesa’ tornou Pedro num fraco, incapaz de solucionar os seus
problemas, com uma devoção histérica pela mãe. Eusebiozinho fica tristonho e
molengão, corrupto, arrastado para um casamento infeliz.
O Vilaça, o Padre Custódio, a gente da casa dos Maias e a gente de Resende
aprovavam esta educação deformadora, que desagradava a Afonso e ao narrador.
Ao contrário de seu pai, Pedro da Maia, que perante o fracasso amoroso se
suicidou, Carlos procura um novo rumo, elaborando uma filosofia de vida a que
chama “fatalismo muçulmano”: “Nada desejar e nada recear”… Não se abandonar
a uma esperança nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que
foge, com tranquilidade. Ega, autêntica projeção de Eça de Queirós, tornou-se
amigo inseparável de Carlos e, tal como ele, tem grandes projetos (a revista, as
“Memórias de um Átomo, “O Lodaçal”, etc.) que nunca chega a realizar. É também
um falhado, um vencido da vida, que a sociedade lisboeta arrastou na sua onda de
corrupção, todavia progressista e sarcasticamente crítico do Portugal do
Constitucionalismo.
A EDUCAÇÃO “À INGLESA” E AS SUAS CARACTERÍSTICAS
A educação “à inglesa” desenvolve a inteligência graças ao
conhecimento experimental, que desprezava a cartilha e o catecismo.
Defendia o “amor da virtude e da honra” como é próprio de um
cavalheiro e de “um homem de bem”. Centrava-se na ginástica e na
vida ao ar livre, proporcionando um contacto direto com a Natureza.
Era dada atenção às línguas vivas, como o Inglês, em detrimento do
Latim. Fortalecia o corpo e o espírito seguindo a ideia de “corpo são
em mente sã”. Era uma educação rígida e metódica, apoiada por
Afonso e pelo narrador, desaprovada por Vilaça, Padre Custódio, gente
da casa dos Maias e gente de Resende.
Carlos da Maia preparou-se para a vida, fortalecendo o
corpo, o espírito e adquirindo os valores do trabalho e do
conhecimento experimental que o levaram a abraçar o curso
de Medicina e projetos de investigação, de empenhamento
na vida literária, cultural e cívica.
A vida e ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos
seus projetos de trabalho útil e produtivo não resultaram da
educação, mas da sociedade em que se viu inserido.
A Educação “à inglesa” era sem dúvida uma educação mais moderna que a
tradicional, mas que vai igualmente conter lacunas.
A educação britânica, cumprida exageradamente à risca, não serve no meio
social português. Carlos aparece, assim, como a compensação que Afonso
dá a si mesmo pelo fracasso que foi a vida do filho, fracasso esse decorrente
da sua educação que nada correspondia aos ideais alimentados por Afonso.
Não obstante a educação que recebeu, Carlos, tal como o pai, falha na vida
com uma relação incestuosa de que sai remetendo-se ao dolce fare niente
em Paris.
Pedro falhou por causa da educação, enquanto que Carlos falhou apesar da
educação.