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OS TRAÇOS QUE FUNDAM A LÓGICA
Ezequiel Esperado Artur
Universidade Pedagógica de Moçambique (Lichinga)
Introdução
Desde os tempos remotos o homem tem se preocupado na compreensão de toda a realidade que o
rodeia, realidade esta que pode ser material ou espiritual, o acto de insatisfação como
característico de todo o filósofo também se fez sentir na Antiguidade.
Os filósofos antigos(Tales, Anaximandro, Anaxímenes, Platão, Aristóteles Heráclito Parménides
e outros) tinham com preocupação primordial a compreensão do Universo, que significa
conhece-lo partindo da causa da sua origem, vários contributos relacionados a inquietação foram
dados pelos intelectuais do tempo. Foi a partir desta discussão que de uma forma inconsciente,
acabavam traçando princípios para uma disciplina da filosofia denominada Lógica, ela surge nos
argumentos que tinham por objectivo responder o problema que inquietava os filósofos antigos,
na contraposição entre dois filósofos dos nomes: Heráclito e Parménides, e depois sistematizado
por Aristóteles, em que uns o concebem como o pai da Lógica.
O presente artigo ira abordar aquilo que são os primeiros passos desta disciplina com o objectivo
geral de compreender a raiz dos traços que fundam a lógica, e os o específico procurar
demonstrar as controvérsias ideologias dos filósofos Heráclito e Parménides, facilitando a
melhor compreensão dos princípios lógicos.
A Lógica
Existe uma diversidade no que diz respeito a definição da lógica, mais em todas as abordagens,
num contesto discursivo a lógica tem tido tendência de ser uma ciência que nos leva ao bom
pensar e consequentemente ao discurso coerente do raciocínio e com a própria realidade.
As questões lógicas associam-se numa perspectiva mais contextualizada a preposições por nos
usadas quando pretendemos julgar e justificar a sentença de nos mesmos ou do outrem,
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expressões como“quem semeia vento colhe tempestade”, “você fez, então aguenta com o
prejuízo” e outras do carácter. Associado a isso, podemos ver queestas preposições assemelham-
se a questão de causa-efeito, em que quando temos o factor que pode causar alguma coisa
evidentemente esperamos as consequências da mesma.
Pressupõe-se que para se chegar a qualquer conclusão exista uma coerência do que prevíamos
partindo de causas conhecidas, com o que a posteriori vira acontecer relacionando-se com a
causa, esta que temos em mente. Caso isso falhe ou não aconteça entramos em pânico, pois a
nossa consciência nos alerta da existência de algum erro visto que não houve coerência da causa
e o efeito. Partindo duma das preposições acima usando-a como apoio para salientar isto, seria
absurdo plantar vento e colher algo muito diferente deste, por exemplo afirmar o seguinte “quem
semeia vento, colhe calor”.
A partir deste pressuposto nota-se a necessidade de existência de uma coerência, ou
concordância nos nossos discursos para que se tornem perceptivos e não entremos em
contradição nos ouvidos de quem nos houve e connosco mesmo, assim respeitando os princípios
da lógica.
CHAUI (2000, p.127),demonstra que as palavraslógicase lógico são usadas por nós para
significar:
1. Ou uma inferência: visto que conheçox, disso posso concluir ycomo consequência;
2. Ou a exigência de coerência: visto que xé assim, então é preciso que yseja assim;
3. Ou a exigência de que não haja contradição entre o que sabemos de x e a conclusão y a que
chegamos;
4. Ou a exigência de que, para entender a conclusão y, precisamos saber o suficiente sobre xpara
conhecer por que se chegou a y.
CHAUI (2000, p. 127) afirma que Inferência, coerência, conclusão sem contradições, conclusão
a partir de conhecimentos suficientes são algumas noções implicitamente pressupostas por nós
toda vez que afirmamos que algo é lógico ou ilógico.
No primeiro caso, se conhecemos a causa no seu acto vira a consequência.
Por exemplo:
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O açúcar consumido ao excesso faz mal.
Ora, o João consume demais o açúcar.
Então, o João passara mal.
No segundo caso, seria absurdo nos apoiando do exemplo acima concluir que o João passara
bem.
No terceiro caso, não estaria certo a não coerência do que sabemos com a conclusão, temos
conhecimento que “o açúcar consumido ao excesso faz mal”, virmos concluir algo contrário
como fruto do que conhecemos.
E no quarto caso, pressupõe-se que para conhecer o “mau estado de João” que é o efeito de algo,
haja necessidade de conhecermos a causa, neste caso o “consumo excessivo do açúcar”.
O aparecimento da Lógica: A contradição entre Heraclito e Parménides
Como muitas das outras descobertas, a Grécia surge como a primeira civilização que se
preocupou com a origem da Phisys (Universo, e tudo que tem nele), discussão esta que envolveu
vários filósofos antigos como Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Heraclito,
Parménides e outros. Estes dois últimos procurando expor as suas ideias filosóficas sobre a
origem do universo acabam dando alguns princípios essenciais da lógica. Esta preocupação
assentava-se na preocupação da procura da causa real, o que na Idade Media foi concebida como
algo Divino que os filósofos Medievais denominaram como o Motor imóvel, mas que move
todas as coisas (Deus).
Heráclito: Movimento = Mutação = Contraste = DEVIR.
Heráclito nasce em Éfeso na cidade Jónica, filosofo que evitou da todas as formar se influenciar
na política, desprezava os poetas do seu tempo, e foi um dos Filósofos mais solitários visto que
raramente se apresentava em multidões, um homem de carácter insocial.
Este filosofo, concebia que a única origem da tudo, neste caso, o Universo como algo que estava
em constante mudança, era a acção que no acto da movimentação surgia algo de novo, ou seja,
partindo de um movimento dos contrários surgia algo de novidade, em que esta novidade era o
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produto, e o movimento do produto surgia algo que também era novo e diferente. Para ele
somente isto era real, apenas o movimento é real.
Heraclito afirmava que somente o devir ou a mudança é real. O dia se torna noite, o inverno se torna primavera, esta se torna verão, o húmido seca, o seco humedece, o frio esquenta, o quente esfria, o grande diminui, o pequeno cresce, o doente ganha saúde, a treva se faz luz, esta se transforma naquela, a vida cede lugar à morte, esta dá origem àquela (CHAUI, 2000, p.127).
Este ponto de racionalidade desse filósofo se designava por “PantaRhei”, que significa: nada
esta imóvel. A harmonia dos contrários ou dos opostos é a única responsável pela ordem racional
do universo, ele demonstra isto numa das suas frases que diz o seguinte: “Nos somos e não
somos”, “ Não podemos emergir duas vezes no mesmo rio”, pois não seremos os mesmos e nem
a água do rio também.
O movimento contínuo é a harmonia, que é mutação, e este é o Devir. Existe uma autêntica
dinâmica dos contrastes, uma espécie de luta dos contrários, esta guerra é a mãe de todas as
coisas, a mãe do Universo.
Tudo se gera por meio de contrastes: A doença torna doce a saúde, há justiça porque existe a
ofensa ou a injustiça, existe a guerra por que também existe a paz. A harmonia dos opostos
mediante o movimento é o princípio, “o Ser não é mais do que o Não-Ser”.
Parménides: Identidade do Ser
Se tornou celebre por ter contrariado a concepção Heraclitiana acerca do Ser na discussão sobre
a origem do Universo. Este demonstra em seus argumentos a incapacidade das sensações, das
percepções e lembranças na aquisição da realidade, fazendo com que as pessoas confundam a
própria realidade. O que Heráclito concebia como o Ser, portanto a origem de todas as coisas
acaba sendo visto como o contrário e muito distante daquilo que ele pensava que fosse por
Parménides.
Parménides, porém, afirmava que o devir, o fluxo dos contrários, é uma aparência, mera opinião que formo porque confundimos a realidade com as nossas sensações, percepções e lembranças. O devir dos contrários é uma linguagem ilusória, não existe, é irreal, não é. É o Não-Ser, o nada, impensável e indizível. O que existe real e verdadeiramente é o que não muda nunca, o que não se torna oposto a si mesmo, mas permanece sempre idêntico a si mesmo, sem contrariedades internas. É o Ser (CHAUI, 2000, p.127).
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Defendia que há dois caminhos na concepção da verdade: O da Filosofia, que se baseava na
razão, e o caminho da Crendice, que é das opiniões pessoais, neste caso das aparências. O
caminho da Filosofia, o que os filósofos tinham que seguir era o da essência, o caminho que
existe o SER e não o NÃO-SER, existe o Ser e seria absurdo concebermos a sua não existência,
para este filosofo quando a realidade é pensada pelo caminho da aparência tudo se confunde em
função do movimento, a pluralidade e o Devir. Para que se fale de algo que move, ou que é a
causa do Universo, seria necessário que se determine, ou seja, não pode se conceber como a
causa do movimento algo sem Identidade, algo que esta em constante movimento, pois acabamos
não sabendo o que ele é e consequentemente não entrando em concordância com o nosso
objectivo, com isso, é aconselhável o esforço do filósofo em não aderir as realidades aparentes
como conhecimento verdadeiro.
Na contraposição entre estes dois filósofos da idade antiga com concepções diferentes acerca da
origem do Universo, emerge os princípios fundamentais da lógica, que depois são sistematizados
por Aristóteles, princípios que se denominam de Identidade, o de não-contradição e terceiro
excluído. O princípio de identidade: segundo esteprincípio alguma coisa é o que é e só deve ser
ele mesmo, “o que é, é”, “o que não é, não é”; o principio de não-contradição, é inconcebível
que algo seja, e não seja ao mesmo tempo, não podemos ser e não ser simultaneamente, “uma
coisa não pode ser, e não ser ao mesmo tempo” e o de terceiro excluído: “uma coisa é, ou não
é”, não existe a terceira alternativa.
Comparando a lógica do pensamento que estes filósofos tiveram na defesa das suas teses,
notamos uma forte alienação do dinamismo das coisas por parte de Heráclito e a firmeza da
aceitação estática das coisas que existe no pensamento Parmenidiano.
Definição da lógica
Como vimos nas páginas anteriores, existem varias definições da lógica mas todas tem por
conclusão uma finalidade unânime.
CUBAL (s/d, p.1), dá as seguintes definições da lógica:
A lógica é o estudo das inferências ou argumentos válidos;
A lógica estuda o processo de inferência para demonstrar a validade dos argumentos;
A lógica é a parte mais objectiva da Filosofia;
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A lógica é, no seu sentido etimológico, a ciência do logos (razão, discurso, norma,
fundamento);
A lógica é o estudo das condições de coerência do pensamento e do discurso.
Fazendo um estudo filosófico nestas definições, notamos que por mas numerosas que sejam, todas
nos induzem a uma única finalidade, que é: o bom pensar, o pensamento correto, a coerência do
pensamento, que pode ser no contexto formal ou material.
Divisão da lógica
Numa primeira fase a lógica surge como um saber a priori da filosofia, esta sendo a mãe de todo
o saber. Até aos finais da idade media com o surgimento de novas ciências como a Matemática,
Física, Biologia e outras, esta (lógica) passa a ser aplicada em outras áreas de saber fora da
Filosofia auxiliando a Cibernética, inteligência artificial a informática e outras.
A lógica, apesar da vasta aplicação, que leva para além dos limites de qualquer disciplina isolada, caminha com maior desenvoltura, especialmente na filosofia, na matemática, ciência da computação. Os padrões da crítica da lógica podem ser aplicados a qualquer campo de conhecimento (CERVO, 2016, p.81).
Alógica como ciência ela e dividida em grandes classificações denominadas por lógica formal e
a lógica material (menor), e a lógica material (maior).
Lógica formal
A lógica formal é a área do saber Lógico e Filosófico que se desenvolveu por Aristóteles no
século IV a.C. e tem como objectivo analisar as formas do correto pensar.
Na lógica formal, nos preocupamos com a coerência ou com a concordância formal do
discurso, esta preocupa-se com a questão do bem pensar na dimensão discursiva ou seja, na
questão formal.
Lógica material
No queserefere a lógica material, ela tem a preocupação de certificar o que se diz no contexto
formal com a realidade, ou seja, ela procura saberse há coerência entre o que é dito com o que se
vê, neste caso a realidade concreta, conforme Cervo (2016, p.82), analisa as condições de certeza,
relacionada à lógica maior ou material, o que se entende por verdade e erro, bem como os sofismase
o critério de certeza.
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Esta lógica tem como suas ferramentas ou instrumentos,os conceitos, juízos e raciocínio que poderão
funcionar correctamente mediante os princípios lógicos que vimos que são: princípio de identidade,
de não-contradição e do terceiro excluído que vimos acima.
Conclusão
Finalizando a revisão, conclui-se que a lógica não foi primeiramente colocada em um debate
com o propósito de procurar a forma de como deveria se fundar, mais surge duma forma
espontânea na discussão do problema que estava no centro das atenções na idade antiga.
Problema este que tinha por objectivo principal o conhecimento do universo, que teve lugar na
Grécia. Ela teve como principais figuras três filósofos que são Heraclito, Parménides e a
posteriori a sua sistematização por um discípulo de Platão de nome Aristóteles que muitos o
consideram como o pai da Lógica.
Bibliografia
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia, Ed. Ática, São Paulo, 2000.
CUBAL, Francisco. A lógica, s/ed, s/ed., s/d.
CERVO, Amauri Paulo. Algumas considerações sobre a lógica, saber Humano, ISSN 2446-6298, edição Especial: Caderno de Ontopsicologia, p.74-89, fev. 2016.