5Pará
capítulo55Pará
AfuáAlenquerAlmeirim
BrevesCachoeira do Ararí
CurralinhoCuruá
FaroGurupá
JurutiMonte Alegre
Muaná
ÓbidosOeiras do ParáOriximináPonta de PedrasPortelPorto MózPrainhaSalvaterraSão Sebastião da Boa VistaSoure Terra Santa
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Guascor 10 anos
O Pará faz divisa com o
Amapá, Mato Grosso,
Amazonas, Tocantins,
Roraima e Maranhão, e
fronteira com a Guiana
e o Suriname. De oeste a leste é atravessado
pelo rio Amazonas, que desemboca no oceano
Atlântico. Segundo maior Estado brasileiro –
menor apenas que o Amazonas –, a sua área
abrange 1.253.164,5 km², o que representa
14,65% de todo o território nacional. Pela sua
posição geográfi ca, no horário de verão o Pará
fi ca uma hora atrás do horário de Brasília.
Distribuída em 143 municípios, a população
paraense é estimada em 6.970.586 de habitantes,
de acordo com dados do IBGE de 2005. Deste
total, calcula-se que 60 mil sejam índios.
Paráo império das águas
Distribuídos em 11 reservas, eles ocupam mais
de 23 milhões de hectares. Aproximadamente
um terço desta área encontra-se demarcada
pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Os
Andira-Marau, os Mundurukus e os Kayapós são
algumas das maiores comunidades.
Na linha do Equador, a capital, Belém, é
uma das cidades mais desenvolvidas do
Norte e cerca de dois terços de seus 1.065
km² são constituídos de inúmeras ilhas. Não
obstante seus 1,6 milhão de moradores e da
paisagem urbana, a metrópole é salpicada
por centenários pés de mangas, o que lhe
rende o título de “cidade das mangueiras”.
Freqüentemente os transeuntes vêem a fruta
despencar nas ruas, ocasionando pequenos
acidentes e algum alvoroço.
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A Guascor no Pará
Nas terras paraenses, a presença da água
é uma constante. A navegação fl uvial é o
principal meio de transporte. São igarapés,
centenas de praias – tanto oceânicas quanto
de água doce (presentes em quase todos os
rios) –, rios, lagos e cachoeiras. As bacias
hidrográfi cas amazônica, do Tocantins-
Araguaia e do Nordeste espalham-se por
toda a superfície do Estado. Na margem
direita do rio Amazonas chegam afl uentes de
grande porte, como o Tocantins, o Xingu e o
Tapajós.
125Praia do Pesqueiro, em Soure
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Guascor 10 anos
por Gilberto Oliveira, chefe do Centro de Operação e Manutenção da Guascor em Santarém
A locomoção sobre rios
- Curuá – 8 horas de trajeto. No período da seca o percurso torna-se ainda mais difícil e pode exigir o uso da catraia, que é uma pequena embarcação.
- Prainha – 11 horas de trajeto. Possui sítio arqueológico com arte rupestre de interesse histórico e turístico. É uma das paradas dos barcos de linha com destino a Macapá (AP).
- Oriximiná – 12 horas de trajeto. É um dos municípios mais importantes da Calha Norte e principal pólo de extração de minério do mundo. Os nascidos ali são chamados de “espoca bode”.
- Faro – 24 horas de trajeto. Localiza-se no Baixo Amazonas e o natural de Faro é farense. As embarcações viajam para lá somente duas vezes por semana.
Boa parte da rotina da Guascor no Pará acontece sobre as águas. É que as 23 localidades onde a empresa opera têm no rio seu principal, e por vezes único, acesso. A viagem de barco de Santarém para estas cidades é longa e sempre revela curiosidades. Alguns exemplos:
- Alenquer – 6 horas de trajeto. Ou 3 horas de lancha rápida e 2 horas na época de cheia, quando os igarapés funcionam como atalhos. Os alenquerenses são conhecidos como ximangos.
- Óbidos – 8 horas de trajeto. Está situada na “garganta do rio Amazonas” ou “fi vela do rio”, como é chamado o trecho mais estreito e profundo do rio. Os nativos, os obidenses, têm o apelido de “chupa osso”.
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A Guascor no Pará
O Jari, Trombetas e Jamundá são alguns
dos rios menores, à margem esquerda. Lagos
também são abundantes. Perto do território
amazonense estão os lagos Grande, Grande
do Curuaí, o de Itandeua e o do Poção.
Ao norte do Pará está a Ilha de Marajó.
Por si só ela já bastaria para exemplifi car a
magnitude dos recursos hídricos da região.
Com 50 mil km², a ilha integra o maior
arquipélago fl úvio-marítimo do mundo, que
leva o mesmo nome. Marajó, o arquipélago,
compreende em torno de três mil ilhas e ilhotas
e suas riquezas naturais o elevaram à categoria
de Área de Proteção Ambiental (APA).
Não é por outro motivo que o Estado abriga
a segunda hidrelétrica do país em tamanho,
Tucuruí. A 389 km de Belém, a usina tem
potência instalada de 8.370 MW e possui
importante papel no Sistema Interligado
Nacional (SIN), atendendo o Pará, Maranhão
e Tocantins, além de exportar energia para os
sistemas Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
A fauna e a fl ora igualam-se à grandeza fl uvial.
Ainda que falte muito a pesquisar, sabe-se
que existem cerca de duas mil espécies de
peixes, 950 tipos de pássaros e 300 espécies
de mamíferos no Pará. Vários se encontram
ameaçados de extinção, especialmente pelo
desmatamento e pelas atividades de pesca e
caça predatórias. Tartarugas, ariranha, guará
e peixe-boi são alguns dos animais em risco
atualmente.
127
atualmente.
Mangal das Garças
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Guascor 10 anos
A biodiversidade é beneficiada pelo clima
constantemente quente, sujeito a chuvas
intensas e pelos vários graus de umidade,
dependendo do local. A Floresta Amazônica
faz-se presente em praticamente todo o
território, variando entre mata de terra firme e
de várzea, que fica próxima aos rios e outros
curso d´água. Há também regiões serranas,
como a Serra dos Carajás, ao sul.
As raízes históricas
Na língua tupi guarani, o nome Pará deriva
do termo Pa´ra, que significa rio-mar. Diz-se
que os índios, muito apropriadamente, assim
chamavam o braço direito do rio Amazonas
que, encorpado pelo Tocantins, adquire
proporções oceânicas. Dada à sua vasta
extensão – de uma margem mal se avista a
oposta –, o rio mais se assemelhava a um mar
do que a qualquer outra formação fluvial.
Com o descobrimento, a região ganhou
o nome de Feliz Luzitânia. Em busca de
especiarias como pimenta, guaraná e urucum,
foi invadida seguidas vezes durante o século
16 por holandeses e ingleses.
Para consolidar sua presença, os portugueses
fundaram, em 1616, o Forte do Presépio, que
marca o começo da ocupação da Amazônia
e também a origem da cidade de Belém. A
construção atualmente é chamada de Forte do
Castelo, sendo uma célebre atração turística às
margens da Baía de Guajará.
Belém foi primeiramente denominada Santa
Maria do Grão-Pará (grande Pará). Em 1751,
como Santa Maria de Belém do Grão-Pará
tornou-se a capital do Maranhão e do Grão-
Pará, então integrados em um único território
que ocupava grande parte do Norte. A
integração foi desfeita em 1774.
A pecuária e a agricultura – com lavouras de
café, arroz, cana-de-açúcar, cacau e tabaco –
garantiram prosperidade ao Pará no século 17.
A região se sobressaía como centro produtor
agrícola e várias localidades adquiriam a
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A Guascor no Pará
condição de vilas. O período de riqueza e
crescimento perdurou até o final do século
seguinte.
Os mandos e desmandos lusitanos somados
à miséria do povo paraense desencadearam
a resistência civil às autoridades imperiais.
A partir de 1835 desenrolou-se, então, o
mais conhecido fato histórico do Estado, o
movimento da Cabanagem. Os cabanos –
índios, negros e mestiços que moravam em
cabanas em vilarejos ribeirinhos – lutaram por
sucessivos anos contra o domínio de Portugal
e chegaram a colocar representantes no poder.
Foram derrotados, porém, em 1840.
Do final do século 19 às primeiras décadas do
século 20 a economia ganhou novo impulso,
com a exploração da borracha. A onda de
desenvolvimento refletia-se especialmente em
Belém. A capital, mais próxima de Paris do
que da capital da República, o Rio de Janeiro,
adquiriu visíveis toques europeus. Na moda, na
arquitetura e na cultura sentia-se a influência
francesa sobre a elite local. O Theatro Nossa
Senhora da Paz, ou simplesmente Theatro da
Paz, com suas linhas neoclássicas e acústica
perfeita para apresentação de música erudita, é
um dos emblemas dos tempos áureos do látex.
Encerrado o ciclo da borracha, o Pará
voltou-se mais uma vez para a agricultura,
pesca e pecuária.
A riqueza mineralNos anos 1950, investimentos públicos foram
direcionados à Amazônia, com o intuito
de atrair a iniciativa privada e promover a
ocupação e integração efetiva da região ao
restante do país. A construção de rodovias e a
descoberta de reservas minerais em solo paraense
consolidaram, em certa medida, os esforços do
governo. As novas oportunidades estimularam a
imigração, sobretudo de nordestinos e sulistas, e
o surgimento de municípios.
Na década de 1970 a extração de minério
despontou como principal atividade
econômica. A Serra dos Carajás persiste até os
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Guascor 10 anos
dias de hoje como um dos símbolos máximos
da riqueza mineral do país. Seu potencial foi
revelado em 1967 e a maior jazida de ferro
do mundo é explorada pela Companhia Vale
do Rio Doce (CVRD) desde meados dos
anos 1980. As suas reservas também incluem
manganês, níquel, alumínio e ouro.
Em Serra Pelada, a 800 km de Belém,
funcionou o maior garimpo a céu aberto
do globo. Nas décadas de 1980 e 1990 a
corrida pelo ouro foi um chamariz para
brasileiros de toda parte e chegou a reunir
100 mil homens no local. As condições sub-
humanas e ecologicamente incorretas levou ao
fechamento da jazida pelo governo em 1992
e à reabertura em 2006, com a promessa de
melhorias para os garimpeiros.
Minérios, madeira e castanha-do-pará
integram a pauta de exportação do Pará e
constituem os atuais pilares econômicos do
Estado. A extração mineral mantém seu posto
hegemônico e representa aproximadamente
15% do PIB estadual. Outra lucrativa fonte de
renda vem da extração vegetal, principalmente
de madeira. Conforme dados do IBGE, o
Pará respondia por 54% do volume total
da produção do país em 2001. Naquele ano
era também o principal produtor nacional
de carvão vegetal. Os números envolveram,
entretanto, a derrubada de milhares de
toneladas de árvores e evoca um amplo
debate acerca do equilíbrio entre progresso e
preservação ambiental.
A pecuária, diversifi cada, inclui a produção de
bovinos, suínos, aves, eqüinos e bubalinos – o
Pará detém o maior rebanho de búfalos do
Brasil. A agricultura predomina no nordeste
e alguns dos principais produtos são: laranja,
cana-de-açúcar, milho, pimenta-do-reino,
mandioca e cacau. O cultivo de soja tem
aumentado nos últimos anos, especialmente no
sudoeste do território.
A exuberância natural e cultural do Pará faz
do turismo um negócio em ascensão. Dados
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A Guascor no Pará
da Companhia Paraense de Turismo (Paratur)
indicam que 50% do turismo da Amazônia
se concentra no Estado. Motivos e vocação
não faltam. No Baixo Amazonas, a oeste, há
praias fl uviais paradisíacas, entre elas Alter
do Chão, apelidada de “Caribe Amazônico”.
Lá também se aprecia os rios Amazonas,
barrento, e Tapajós, esverdeado, que correm
juntos por quilômetros sem se misturar. Na
Ilha de Marajó, praias, búfalos caminhando
pelas ruas e atividades de ecoturismo constam
na programação para os visitantes.
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Guascor 10 anos
Afuá, na ilha do Marajó, é um dos melhores exemplos de Sistema Isolado. Conhecida como Veneza marajoara, a cidade foi construída sobre palafi tas, por cima do rio Marajó. Os 40 mil habitantes circulam de bicicleta, único meio de locomoção permitido sobre as estruturas de madeira. Em busca das praias, rios e ilhas afuaenses, os turistas usam bicitáxis. Invenção local, trata-se de um veículo de quatro rodas não motorizado, feito a partir da junção de duas bicicletas.
A implantação da usina Guascor na cidade exigiu manobras criativas, especialmente no transporte de equipamentos que pesam toneladas. E foi precedida por três recusas de empreiteiras – o desafi o de construir sobre as águas parecia por demasiado irreal. A saída foi aprender com as tradições da comunidade. “Observamos a igreja, que era de alvenaria, o ginásio, de concreto, e fi zemos a usina sobre uma laje de concreto armado, suspensa e apoiada em tocos que fi cam na parte mais fi rme do solo”, conta Luiz Carlos Bastos, gerente da fi lial Pará.
A Veneza brasileira
Afuá /PA
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A Guascor no Pará
um amplo complexo de lazer, cultura e
gastronomia.
A cidade abriga, ainda, o Mangal das
Garças, um parque em área de várzea,
palecetes e palácios, o Museu de Gemas e
outras atrações que foram revitalizadas nos
últimos anos com o intuito de dinamizar o
turismo. Mas Belém ainda deve muito de
sua fama ao tradicional Círio de Nazaré,
realizado no segundo domingo de outubro.
Uma das maiores manifestações de fé
do mundo católico, a procissão reúne
centenas de milhares de pessoas em um
trajeto de quatro quilômetros, pelo qual
uma pequena imagem da Virgem de Nazaré
é transportada da Catedral de Belém à
Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.
Durante o percurso são feitas homenagens
com queima de fogos e romeiros vindo de
todo o país participam do festejo. O Círio
é tido como o “Natal paraense”, dado seu
forte significado. Embora a procissão seja o
Em Belém, as opções para o turista também
são muitas. Nos arredores do Forte do
Presépio, local que originou a cidade, estão
construções históricas como a Casa das
Onze Janelas, a Catedral da Sé, o Complexo
de Santo Alexandre, a igreja de São João
e o Museu de Arte Sacra, considerado
um dos mais significativos do país. No
famoso mercado Ver-o-Peso há peixes,
artesanato, frutas, perfumes, temperos,
quitutes, utensílios domésticos, entre outros
itens, em um sem fim de barraquinhas
que revelam com fidelidade o espírito
amazônico.
O Museu Emílio Goeldi traz para o cenário
urbano um pouco da floresta. Em meio à
densa e refrescante vegetação, com 800
espécies de plantas nativas, estão animais
como cutias, preguiças, peixes ornamentais,
pássaros e onças. O espaço possui o maior
acervo de objetos indígenas do Brasil.
À beira do rio Guamá fica a Estação das
Docas, área portuária transformada em
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Guascor 10 anos
ápice da celebração, a festa dura quinze dias e
é preparada com vários meses de antecedência.
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré surgiu
nos primórdios da colonização portuguesa.
Foi um caboclo de Belém, contudo, que a
popularizou ao construir um oratório para
santa em sua própria casa, no século 18.
A presença da Guascorna regiãoA fi lial Pará é histórica. Marca o início
das atividades da Guascor do Brasil. O
seu surgimento remonta a 3 de outubro
de 1997, quando ocorreu a assinatura do
contrato entre a empresa e a Celpa (Centrais
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A Guascor no Pará
Elétricas do Pará), então estatal responsável
pela geração, transmissão e distribuição de
energia elétrica. Naquela data, a Guascor
foi incumbida de assumir integralmente a
operação de 23 termelétricas paraenses no
prazo de um ano.
O acordo previa a geração ininterrupta
para comunidades isoladas que careciam
deste direito desde sempre. Exigia, ainda,
equipamentos novos. Quanto às instalações,
a escolha de usar as já existentes, da Celpa,
ou construir, fi cava a critério da Guascor. Em
18 usinas prevaleceu a segunda opção. Foram
adquiridos terrenos maiores, para comportar a
ampliação da planta, se necessário.
Os obstáculos durante a implantação das
usinas não foram poucos. “A verdade é que
fi zemos algo inédito e, como em todo projeto
pioneiro, houve inúmeros imprevistos a serem
contornados”, conta Luiz Carlos Bastos,
gerente da fi lial Pará.
Os municípios atendidos pela Guascor
concentram-se no Baixo Amazonas,
à margem esquerda do rio, uma área
praticamente intocada. Entre a planta
situada nos extremos oeste e leste do Estado
a distância é de 1.000 km, percurso que
demanda de sete a dez dias de balsa. As 23
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Guascor 10 anos
usinas são cercadas por água e floresta – a
única alternativa de transporte é o fluvial. Em
nenhuma, vale frisar, se chega por estrada.
Além disso, de janeiro a junho é a temporada
de chuvas, o que complicava o projeto
durante seis meses.
Compor o quadro de colaboradores que deu
origem à empresa no Brasil exigiu agilidade.
A formação da equipe aconteceu em paralelo
ao andamento dos trabalhos. “Contratamos
profissionais do Centro Diesel da Amazônia
e da Marinha Mercante, que treinaram a parte
técnica na Espanha por três meses”, lembra
Bastos. Boa parte do pessoal da Celpa foi
aproveitada e também participou de programas
de integração e reciclagem.
A renovação e padronização dos motores
– todos Guascor – foi estratégica.
As companhias estatais lidavam com
equipamentos de diferentes fabricantes
devido a restrições legais aplicadas
à compra de produtos e serviços. A
diversificação do maquinário dificultava
as tarefas de operação e manutenção. E
tinha graves reflexos sobre a vida das
comunidades. Há cerca de 20 anos, Óbidos,
município a noroeste do Estado, chegou
a ficar semanas sem energia elétrica. Os
moradores protestaram fechando o rio
Amazonas com seus barcos, para que
fossem tomadas providências. Em Afuá,
ao norte da Ilha de Marajó, a penúria no
escuro durou meses e levou à depredação
de usinas no final da década de 1980.
Soure, estância balneária situada em Marajó,
foi o primeiro município a ter uma planta
comandada pela Guascor. A cidade apresenta
o perfil típico das demais localidades
paraenses onde a empresa atua. Está a 80
km de Belém, a capital, mas a viagem até
lá pode levar de 3 a 4 horas. Isto porque se
trata de um estuário banhado pelo oceano
Atlântico e pelos rios Amazonas e Tocantins.
O acesso é somente por balsa e a duração da
viagem depende da influência da maré.
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A Guascor no Pará
Por ter sido a primeira, a Guascor paraense guarda peculiaridades. Ela é a única fi lial que abriga, além dos departamentos administrativos e técnicos, mais duas áreas: a Diretoria de Operações e a Divisão de Meio Ambiente. Ambas coordenam atividades em Rondônia e no Acre.
O escritório central, em Belém, acaba servindo como ponto de encontro para colegas que vêm de fora. Ali eles se reúnem para assistir ao Círio de Nazaré, uma das mais tradicionais manifestações religiosas do Norte. Ao alto de uma das maiores avenidas da cidade e corredor principal por onde passa a procissão, o escritório oferece vista privilegiada para o festejo.
A fi lial conta, ainda, com um representante vindo da Guascor espanhola. Nascido na Galícia, ao norte da Espanha, o engenheiro
Curiosidades da pioneira
de manutenção Gerardo Serafi m Lafuente Aboy ocupa o cargo há dez anos. Ele é responsável pelo alinhamento tecnológico da fábrica com as necessidades dos Sistemas Isolados no Brasil. As altas temperaturas e umidade típicas do Pará, Rondônia e Acre requerem motores e equipamentos com características especiais.
Com base na sua experiência em campo, a matriz redesenhou o sistema de refrigeração dos cabinados, de modo que suportassem melhor o calor nortista. Os manuais de operação e manutenção dos grupos geradores também foram adaptados tendo em vista a carga horária de funcionamento no Brasil, que é bem superior à da Espanha. “São cuidados que fazem todas as usinas Guascor, não só as do Pará, operarem com efi ciência e segurança para o colaborador, a comunidade e o meio ambiente”, observa Bastos.
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Guascor 10 anos
A geração em Soure começou em 1998,
justamente no período de pico, ou seja,
quando o consumo aumenta. “Era julho,
nossa estação de verão, que é marcada
por pouca chuva”, recorda Bastos. Desde
aquela época, o clima favorável aliado às
férias escolares conduz turistas de todo o
Brasil para este pequeno paraíso. Tal fato
aumentava ainda mais a responsabilidade
de realizar uma “estréia” perfeita. E
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139
A Guascor no Pará
139
assim se deu. O fornecimento de energia
imediatamente tornou-se regular e em nove
anos a produção da usina saltou de 692
MWh para 1.057 MWh, tomando como
referência os meses de julho.
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A Guascor no Pará
Evolução em conjuntoA evolução da Guascor paraense caminha
junto com o desenvolvimento das
comunidades. A energia gerada no primeiro
ano de operação, em 1998, ficou em
30.578 MWh e em 2007 chegou a 223.000
MWh, ou seja, 7,5 vezes mais. O resultado
sobressai-se mesmo se comparado ao do
mercado nacional. Enquanto a produção da
empresa em 2007 superou em 12% a do ano
anterior, a média de crescimento do setor
elétrico foi de 3,7% no mesmo período,
de acordo com estatísticas do Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Desde 2003 a geração da Guascor vem
aumentando e em ritmo cada vez mais
acelerado. “Este movimento indica que
conquistamos a confiança da população
paraense ao longo dos anos e hoje ela sabe
que pode contar com energia elétrica”,
avalia Bastos.
Em Curuá, no oeste do Pará, não havia luz
até 1999, quando a Guascor ali se instalou.
A usina dobrou a produção em oito anos. É
que o fornecimento atraiu gente para o local,
originando uma nova vila, chamada Flechal.
A comunidade recém-criada é atendida
por meio de uma linha de transmissão com
aproximadamente 35 km, construída pela
Celpa. “No dia da inauguração da planta
ouvi uma declaração da qual jamais me
esquecerei. Um jovem, em seus 30 anos,
me disse que pela primeira vez poderia
experimentar um sorvete.”
Movida pela pesca, Curuá assistiu ao
nascimento de fábricas de gelo. O gelo
ajuda a conservar o produto nas viagens de
barco e, deste modo, foi possível alcançar
destinos mais distantes, ampliar as vendas
e incrementar o negócio e a renda de
pescadores. É todo um ciclo produtivo que
ganha dinamismo e proporciona melhor
qualidade de vida à população.
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Guascor 10 anos
Orgulho e vitóriaAtualmente, a potência instalada das
plantas da Guascor paraense é de 62 mil
KW, o que corresponde a 4,3% do total
consumido no Estado – o restante advém da
usina hidrelétrica de Tucuruí. As 23 usinas assumidas em 1998 continuam as mesmas, compreendendo os municípios de Afuá, Alenquer, Almeirim, Breves, Cachoeira do
Faro
Terra Santa
Oriximiná
JuritiMonteAlegre
Óbidos
Alenquer
Prainha
Gurupá
Afuá
Breves
SoureSalvaterra
Cach. Arari
Ponta de PedrasMuaná
São Sebastião Boa VistaCurralinho
Oeiras do Pará
Porto de Moz
PortelAlmerimCuruá
Ararí, Curralinho, Curuá, Faro, Gurupá, Juruti, Monte Alegre, Muaná, Óbidos, Oeiras do Pará, Oriximiná, Ponta de Pedras, Portel, Porto Móz, Prainha, Salvaterra, São Sebastião da Boa Vista, Soure e Terra Santa. Há dois Centros de Operação e Manutenção no Pará, um em Belém, que atende Marajó, e outro em Santarém, responsável por nove
usinas do Baixo Amazonas.
Usinas da Guascor no Pará
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145
A Guascor no Pará
Para os colaboradores, a maior prova do sucesso
veio na forma de uma renovação contratual.
O acordo com a Celpa era de seis anos mas,
no meio do caminho, a estatal foi privatizada,
ocasionando dúvidas e tensão a respeito do
futuro da fi lial paraense. Vencido o contrato,
entretanto, uma excelente notícia. A Celpa, já
sob os auspícios da iniciativa privada, estendeu
a parceria com a Guascor paraense até 2013.
“É uma vitória muito importante, pois atesta a
excelência do serviço que prestamos”, conclui.
145Carimbó na praia de Joanes, em Salvaterra
Ao longo da última década o número
de colaboradores pouco mudou. São
aproximadamente 150 profi ssionais, sendo
que mais de cem fi cam nas usinas e os
demais, em outros setores. “É uma equipe
antiga, altamente comprometida e muito
competente. Graças ao conceito de operador
mantenedor, temos cerca de um mecânico
para cada dez motores e um eletricista para
cada 30 motores, o que é motivo de orgulho
para todos nós”, explica Bastos.
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