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PEDAGOGIA DO ESPORTE: O PROCESSO DE ENSINO, VIVÊNCIA E APRENDIZAGEM DOS JOGOS ESPORTIVOS COLETIVOS E SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO INTEGRAL DO INDIVÍDUO
O campo da Pedagogia do Esporte, quando justaposto ao dos Jogos Esportivos
Coletivos, permite que os profissionais que aí atuam tenham diversas
possibilidades pedagógicas. Assim, a partir da utilização de métodos de ensino
dos Jogos Esportivos Coletivos de maneira coerente com uma prática
pedagógica é possível…
Autor(es): LEONARDI, Thiago José1, GALATTI, Larissa Rafaela2, PAES, Roberto
Rodrigues3
Entidades(es):Bolsista CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico) de Iniciação Científica e aluno de graduação da
Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (Brasil)/
Professora mestre e doutoranda em Educação Física pela Universidade Estadual
de Campinas (Brasil) /Professor livre-docente pela Faculdade de Educação Física
da Universidade Estadual de Campinas (Brasil)
Congreso:II Congreso Internacional de Deportes de Equipo
Pontevedra: 21-23 de Septiembre de 2006
ISBN: 978-84-613-1659-5
Palabras claves:1. Pedagogia do Esporte; 2. Iniciação Esportiva; 3. Jogos
Esportivos Coletivos; 4. Formação Integral do Indivíduo
RESUMOO campo da Pedagogia do Esporte, quando justaposto ao dos Jogos Esportivos
Coletivos, permite que os profissionais que aí atuam tenham diversas
possibilidades pedagógicas. Assim, a partir da utilização de métodos de ensino
dos Jogos Esportivos Coletivos de maneira coerente com uma prática
pedagógica é possível, além da formação de futuros atletas, formar indivíduos
de maneira integral, contribuindo para o desenvolvimento de todas as suas
possibilidades de inserção no mundo em que vivem.
RESUMEN
El campo de la Pedagogía del Deporte, cuando yuxtapuesto al de los Juegos
Deportivos Colectivos, permite que los profesionales que ahí actúan tengan
diversas posibilidades pedagógicas. Así, a partir de la utilización de métodos de
enseñanza de los Juegos Deportivos Colectivos de manera coherente con una
práctica pedagógica es posible, además de formar futuros atletas, formar
individuos de manera integral, contribuyendo para el desarrollo de todas sus
posibilidades de inserción en el mundo en que viven.
INTRODUÇÃOA busca constante por novos talentos, cuja conotação perpassa o campo
político e da busca por financiamentos e investimentos, por vezes ofusca uma
iniciação esportiva consciente, preocupada não só com a modalidade a qual é
oferecida, mas focada no indivíduo que vem para sua prática. É esse olhar
pedagógico que queremos discutir neste trabalho, dando ênfase à inserção de
conceitos e práticas da Pedagogia do Esporte dentro do campo de iniciação aos
Jogos Esportivos Coletivos. Para tanto, dividiremos nossa abordagem em três
momentos: no primeiro, discutiremos aspectos da Pedagogia do Esporte, seus
campos de atuação e os princípios que devem ser intrínsecos à sua prática; no
segundo, realizaremos uma abordagem sobre os Jogos Esportivos Coletivos, no
objetivo de discutir suas metodologias de ensino e a intersecção destas com o
campo da Pedagogia do Esporte; por fim, no terceiro e último momento,
sinalizaremos para uma possibilidade pedagógica oriunda da utilização da
Pedagogia do Esporte no processo de ensino, vivência e aprendizagem dos
Jogos Esportivos Coletivos, ou seja, a formação integral do indivíduo, cujo
alcance será atingido através de um olhar pedagógico abrangente, o qual
considere tanto a prática a qual é oferecida quanto o sujeito que realiza essa
prática.
MATERIAL E MÉTODOEste trabalho utiliza-se do método de pesquisa bibliográfica por meio da técnica
de revisão bibliográfica e visa, a partir de textos básicos, chegar a textos
especializados, permitindo a formação de um “pensamento organicamente
estruturado” (SEVERINO, p. 25, 2000).
DISCUSSÃO1.Pedagogia do Esporte: contextos e discussão
teórica
A Pedagogia do Esporte, na gênese de sua significância, seria aquela a dar
conta de educar para a prática esportiva. Contudo, ao discutirmo-la como um
campo amplo de diversas possibilidades pedagógicas (ou seja, educacionais)
vemos como importante aspecto a utilização da prática esportiva como um
facilitador para a formação do indivíduo. Assim, já não educaríamos nosso aluno
somente para o esporte, mas o educaríamos, também, através do esporte.
Nosso posicionamento, portanto, vai em direção ao que foi exposto por Scaglia
(1999), quando o autor diz que:
“Ensinar não é, e nunca será, tarefa simples e desprovida de responsabilidades.
Ao ensinar tem-se o compromisso com o formar. Formar o cidadão que, para se
superar e ser sujeito histórico no mundo, necessita desenvolver sua criticidade,
sua autonomia, sua liberdade de expressão, sua capacidade de reflexão,
sintetizando sua cidadania. Assim sendo, aluno/sujeito/cidadão, lapidado por
quem ensina, não será mais aquele que simplesmente se adapta ao mundo,
mas o que se insere, deixando sua marca na história”. (SCAGLIA, 1999, p. 26)
Na busca por esse indivíduo autônomo e crítico às situações que vivencia é que
se encontram as novas perspectivas da Pedagogia do Esporte, pois, ao ensinar
o esporte para todos, ensiná-lo bem, ensinar mais do que ele próprio e ensinar
a gostar de esporte (FREIRE, 2002) é que mantemos uma prática prazerosa na
qual a criança/aluno sente vontade de voltar a praticá-lo e, com isso, aumenta-
se sua vivência na modalidade, o que facilita o aprendizado técnico-tático
intrínseco a essa prática. Assim, alguns buscariam o esporte como uma futura
possibilidade profissional, enquanto atleta, e outros teriam da prática esportiva
uma ferramenta de lazer, não deixando de desfrutar de seus benefícios
(socialização, saúde, entre outros). Essa divisão entre o esporte profissional
(esporte de alta performance) e esporte lazer é trazida por Bracht (2005), quem
vê em ambos a possibilidade educacional, a qual é vista, pela constituição
brasileira de 1988, em caráter separado das duas outras áreas citadas.
Também vemos no esporte uma constante possibilidade educacional, o que fica
dependente do tratamento a ser dado pelo professor que rege esse processo,
embora esse tratamento, algumas vezes, seja imposto pela política da
instituição na qual a iniciação esportiva se dá. Nos clubes, por exemplo – campo
o qual, ainda hoje, é o principal responsável pelas possibilidades de
oferecimento esportivo à população, o que restringe o acesso das populações
mais pobres – a busca por resultados desde as categorias de base é uma
verdade, e para tal muitas vezes o processo pedagógico é deixado de lado para
a inserção de uma pedagogia focada no treinamento, visando a formação de
uma equipe competitiva a qual seja capaz de alcançar títulos. Esse avanço de
fases é amplamente discutido pela literatura, que vem demonstrando como
esse fato pode ser prejudicial para a criança, a qual, em várias situações, é
desmotivada a continuar no campo esportivo devido a essa precoce imposição
excessiva de responsabilidades. Paes (1997) discute essa problemática e traz o
fato de jogadores profissionais da seleção brasileira de basquetebol, na ocasião
de sua pesquisa, no ano de 1989, terem se iniciado tardiamente à modalidade,
deixando-nos o questionamento sobre a “necessidade” da especialização
precoce para que atletas alcancem o alto rendimento, o que seria um dos
principais fatores da evasão de crianças e adolescentes do esporte.
Com essa preocupação, de propiciar um adequado processo de ensino, vivência
e aprendizagem às modalidades esportivas coletivas com a ampliação de suas
possibilidades pedagógicas e defendendo seu oferecimento, por parte das
políticas públicas, também para as populações mais carentes, indiferentemente
da existência de espaço físico e material didático adequado, é que vemos a
importância de se ter em mente as possibilidades pedagógicas oriundas do
campo da Pedagogia do Esporte e a necessidade de discutir os métodos de
ensino a serem utilizados para que isso seja potencializado.
1.Jogos Esportivos Coletivos: metodologias de ensino
Sinalizados alguns dos problemas encontrados para o oferecimento de um
devido processo de ensino, vivência e aprendizagem das modalidades
esportivas coletivas e algumas das possibilidades pedagógicas inerentes a esse
processo, passaremos agora a caracterizar os Jogos Esportivos Coletivos e as
propostas metodológicas para seu ensino.
Os Jogos Esportivos Coletivos são caracterizados pela presença de duas equipes
que se enfrentam de maneira não hostil (Teodorescu, 1984 apud Balbino e
Paes, 2007) em um campo determinado, cujo objetivo é levar o objeto do jogo
(bola, por exemplo) até o alvo do adversário, ao passo que se defende o próprio
alvo. Para isso, joga-se com a ajuda dos companheiros no objetivo de superar o
sistema defensivo dos adversários (Bayer, 1992). Assim, surgem princípios
operacionais que são semelhantes a todas as modalidades e as regem em seu
entendimento básico: no ataque, visa-se manter a posse de bola, avançar com
ela, juntamente com a equipe, para o alvo adversário, e finalizar contra esse
alvo; na defesa, objetiva-se retomar a posse de bola, impedir que a equipe
adversária avance com a bola rumo ao alvo defendido, e defender o próprio
alvo (Bayer, 1992).
Entender esses princípios nem sempre é tarefa fácil para os alunos,
especialmente crianças, que, dependendo da idade, podem ter maiores
dificuldades para essa compreensão tática. Assim, tanto para o ensino desses
princípios operacionais quanto para a inserção das diferentes técnicas das
modalidades coletivas – as quais perpassam o domínio de corpo, manipulação
de bola, passe-recepção, drible e a finalização (Galatti, 2006) – e a
compreensão tática de cada modalidade de forma específica, precisamos
conhecer profundamente as metodologias de ensino existentes na literatura
para sabermos em qual momento do processo pedagógico utilizar cada uma
delas a fim de potencializar o aproveitamento e o conhecimento da modalidade
pelos alunos. A nosso ver, não há um método melhor que outro, mas existem
características em cada método capazes de tornar mais viável sua utilização
em dado momento do processo de ensino, vivência e aprendizagem de uma
dada modalidade.
De uma forma geral, praticamente todos os autores, antes de introduzirem suas
propostas metodológicas, realizam uma rápida abordagem dos dois princípios
metodológicos que tangeram a história dos Jogos Esportivos Coletivos: o
analítico (que previa a fragmentação dos gestos técnicos e o ensino a partir da
aplicação de sequências pedagógicas que visavam a aprendizagem dessas
técnicas), e o global (o qual preconizava o ensino por meio de jogos, para que,
por meio deles, o indivíduo aprendesse não só as técnicas mas também a tática
inerente ao jogo). Entretanto, alguns autores trouxeram importantes inovações
neste conceito de ensino dos Jogos Esportivos Coletivos, dentre eles: Bayer
(1992), quem além de trazer o conceito dos princípios operacionais discute a
necessidade de considerar as atividades lúdicas, seja na figura de jogos infantis
tradicionais, ou jogos pré-desportivos ou ainda o próprio esporte, contudo com
regras reduzidas e simplificadas, permitindo ao professor o aumento gradual
das dificuldades e da complexidade das regras (ensino das regras de ação);
Greco (1998), quem coloca a importância da redução do jogo para a
compreensão técnico-tática do mesmo, levando o aluno a descobrir o “como
fazer” e “o que fazer” por meio de “situações problema” (método situacional);
Garganta (1995), que por criticar o modelo tecnicista de ensino dos esportes
coletivos sugere uma nova proposta de seu processo pedagógico a qual leva
em consideração os níveis de relação entre aluno, bola, equipe e adversários,
nos quais o jogo sempre se fará presente na tentativa de levar os alunos do
“jogo anárquico” ao “jogo elaborado” por meio dos jogos condicionados e sua
forma dirigida; Daólio (2002), que baseado na teoria de Bayer (1994), propõe
um modelo pendular o qual tem em sua base os princípios operacionais e em
sua extremidade as técnicas usuais de cada modalidade, passando pelas regras
de ação, e assim mostra que a boa cognição dos princípios de um jogo coletivo
leva à compreensão tática do mesmo e à criação de técnicas próprias para lidar
com a imprevisibilidade do jogo, que, quando somadas às técnicas tradicionais
da modalidade, terminam por ampliar largamente a possibilidade e capacidade
de atuação desse indivíduo em meio à tática individual e coletiva; Graça e
Mesquita (2002), que trazem definições sobre novas metodologias como
o Teaching Games for Understand (TGfU), cujo modelo prevê a adaptação do
jogo pelo professor, tanto em suas regras quanto em sua duração (tempo de
partida), assim como outros aspectos, a fim de que a atenção seja canalizada
para a compreensão tática do mesmo e a criação de formas de atuação; e
o Sport Games (SE), que foi criado para ser aplicado no contexto da educação
física escolar, e não prevê o ensino através dos jogos, mas aposta na
democratização e humanização do esporte por meio de três eixos fundamentais
ao visar formar a pessoa desportivamente competente, culta e entusiasta.
Esses “novos” métodos, destacados dentre outros que podem ser encontrados
na literatura, convergem para uma melhor compreensão de aspectos inerentes
à prática pedagógica do processo de ensino, vivência e aprendizagem de uma
modalidade coletiva, e podemos notar uma constante preocupação com a
compreensão que o indivíduo tem do processo como um todo, e não mais
apenas de suas vertentes técnicas. Assim, podemos sinalizar para uma
contribuição, do processo de iniciação esportiva, para a formação integral do
indivíduo, como será feito a seguir.
1.Pedagogia do Esporte e a formação integral do indivíduo
“Vivemos neste início de século 21 um momento importante para uma melhor
compreensão e melhor convivência com o fenômeno sociocultural esportivo, no
qual o mais importante não é o jogo, mas aquele que joga. E quem joga
se movimenta, pensa e tem sentimentos” (PAES, 2008,p. 41, grifo nosso)
Os aspectos elencados na citação acima nos remetem a analise e compreensão
do indivíduo como um todo. O movimento contemplaria as questões das
capacidades físicas e das habilidades motoras básicas e específicas (Paes e
Balbino, 2005). O pensamento está justaposto à compreensão da necessidade,
por parte do professor, de desenvolver em seus alunos as múltiplas
inteligências, conceito aprofundado por Gardner (2000) e utilizado por Balbino e
Paes (2007) como uma base para o desenvolvimento de um processo de
ensino, vivência e aprendizagem de uma modalidade coletiva calcado na
Pedagogia do Esporte. E o sentimento estaria relacionado, segundo Freire
(2002), com a relação existente entre aluno, família, escola, etc, cabendo ao
professor ensinar a seus alunos os sentimentos que quer que eles tenham, por
meio de jogos e brinquedos (brincadeiras). Fora esses aspectos, Paes e Balbino
(2005) sinalizam ainda para aspectos psicológicos, visando desenvolver a auto-
estima e a liderança; aspectos filosóficos, cuja abordagem desenvolveria a
participação, a cooperação, a co-educação e a convivência; e o aspecto da
aprendizagem social, já que o jogo coletivo permite a aproximação verdadeira
entre seus participantes.
Assim, vemos que há mais pontos a serem desenvolvidos por meio da prática
esportiva do que o próprio esporte. Esses pontos aqui apresentados devem ser
trabalhados intrinsecamente nas atividades desenvolvidas, fazendo do esporte
um facilitador para a educação e para a formação integral dos indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAISAo contemplar as possibilidades pedagógicas intrínsecas ao esporte no decorrer
de um processo de ensino, vivência e aprendizagem dos Jogos Esportivos
Coletivos, estaríamos visando o desenvolvimento de forma integral do indivíduo
que participa desse processo, incentivando-o a continuar no esporte (seja por
meio da especialização esportiva seja utilizando-o como fonte de lazer) e,
principalmente, educando-o para sua vida social, contribuindo para a formação
de um cidadão crítico e autônomo no mundo em que se insere. Para tanto, é
preciso que um olhar pedagógico esteja presente durante todo o processo,
permitindo ao professor utilizar-se dos devidos métodos em cada etapa desse
processo, preocupado sempre com o indivíduo que pratica o jogo, e não só com
a atividade a ser oferecida.
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