i
Universidade de Brasília
IVETE FIGUEIRA DA SILVA
PENSANDO O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO PROCESSO DE
INCLUSÃO SOCIAL
(Relato de experiência)
Brasília
2007
ii
IVETE FIGUEIRA DA SILVA
PENSANDO O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO PROCESSO DE
INCLUSÃO SOCIAL
(Relato de experiência)
Estudo apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar CEAD/UNB em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. MsC. Márcia Lucindo Lages Amorim
BRASÍLIA
2007
iii
FIGUEIRA DA SILVA, Ivete
Pensando o Programa Segundo Tempo no Processo de Inclusão Social (Relato de experiência) ,Brasília, 2007.
55 p.
Especialização – Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.
1. Palavra chave: Programa Segundo Tempo 2. Palavra chave Inclusão 3. Palavra chave Esporte.
iv
1 IVETE FIGUEIRA DA SILVA
PENSANDO O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NO PROCESSO DE
INCLUSÃO SOCIAL Estudo apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:
Presidente: Professor Mestre Márcia Lucindo Lages
Universidade de Brasília
Membro: Professor Doutor Marcelo Brito
Universidade de Brasília
Brasília (DF), agosto de 2007.
5
DEDICATÓRIA
A Deus, pela coragem. À minha filha Maria Luiza, em quem deposito toda minha esperança.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus por sua presença que me sustentou em mais essa jornada
A minha família pelo apoio.
À Profª. Orientadora Márcia Lages pela atenção.
À Profª. Lucila Souto Mayor Rondon pela orientação e eficiência no atendimento ao aluno.
Aos professores tutores Nadiejda, Cíntia e Leduc, pelos ensinamentos e motivação.
Aos alunos do Programa Segundo Tempo do Núcleo Nova Cidadania, fonte de inspiração.
Aos coordenadores e professores do Núcleo Nova Cidadania, Carlos, Agnaldo, Tiago,
Givaldo, Hélton, José Caldas e Cláudio, que me ajudaram a colocar minhas idéias em prática.
À equipe que presta serviços de vigilância e serviços gerais no Projeto Nova Cidadania.
Às mães dos alunos do Programa Segundo Tempo do núcleo Nova Cidadania pela confiança.
Ao Ministério do Esporte pela oportunidade de participar de um curso de especialização à
distância.
8
RESUMO
O presente trabalho traz um breve histórico sobre os temas Inclusão Social e o esporte
como meio de inclusão, analisando sua implicação para a inclusão, além da identificação do
desenvolvimento das atividades realizadas no Projeto Nova Cidadania através do Programa
Segundo Tempo e suas contribuições para a sociedade. Trata-se do relato de experiência,
vivenciado pela pesquisadora na comunidade de Santa Maria, Região Administrativa do
Distrito Federal, destacando-se as evoluções que o Programa Segundo Tempo proporcionou e
a relação entre as atividades esportivas e a inclusão social possibilitada, além do destaque aos
desafios vivenciados. Espera-se contribuir para o entendimento da importância do esporte
educacional e toda sua dinâmica de inclusão e formação de pessoas melhores.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Publicações do jornal....................................................................... .....................32
Quadro 2 – Redações dos alunos..............................................................................................33
Quadro3 – Desenho da aluna...................................................................................................41
Quadro 4 – Recado das mães....................................................................................................42
Quadro 5 – Capa do jornalzinho ........................................................................................43
Foto 1 – Festa Junina ...............................................................................................................44
Foto 2 e3 – Desfile ..................................................................................................................45
Foto 4 – Passeio ao clube..........................................................................................................46
Foto 5 – Visita ao Palácio do Planalto......................................................................................47
Foto 6 – Passeio ao cine Brasília .............................................................................................48
Foto 7 – Torneio de karate........................................................................................................49
Foto 8 e 9 – Torneio de futebol...............................................................................................50
Quadro 6 – Matéria no jornal sobre a violência juvenil..........................................................51
10
SUMÁRIO
1-Introdução..............................................................................................................................11
2- O Esporte..............................................................................................................................15
3- Descrições da realidade...................................................................................................18
3.1-Histórico da Associação Cultural e Desportiva Nova Cidadania.......................................18
3.2-A Vivencia no Programa Segundo Tempo.........................................................................20
4-Considerações Finais.............................................................................................................27
5-Bibliografia............................................................................................................................30
6- Anexos..................................................................................................................................31
11
1- INTRODUÇÃO
Este trabalho teve por finalidade apresentar o Programa Segundo Tempo como um dos
instrumentos de inclusão social, contribuindo assim com o debate sobre alternativas para o
enfrentamento da problemática da exclusão social que penaliza a cada dia milhares de pessoas
que não têm acesso às condições mínimas de dignidade e cidadania. Por isto, a pesquisa
analisou especificamente os alunos que participam das atividades no núcleo Nova Cidadania,
localizado na comunidade de Santa Maria Sul do Distrito Federal.
Nos últimos anos tem sido discutida aos quatro cantos do Brasil a necessidade de se
fazer inclusão social que deveria ser fruto de uma política pública com destinação
orçamentária, a fim de que existam mais ações que promovam a inclusão e equiparação de
oportunidade a todos os cidadãos. A educação é uma condição indispensável para a efetivação
dos meios para a inclusão social, entendendo que excluídos são os indivíduos com baixa
escolaridade, baixa renda, com limitações físicas e idosas. No entanto deveria existir uma
ação de imediato, com prioridade para crianças e adolescentes, pois são eles que formarão as
gerações futuras Através da educação o indivíduo pode tomar consciência do seu papel dentro
da sociedade, tornar-se mais crítico e conhecer seus direitos e deveres.
A implementação de programas sociais como eixo de desenvolvimento exige medidas
audaciosas e criativas, mas no Brasil tais medidas quase sempre foram tratadas como questões
vinculadas ao assistencialismo. O Programa Segundo Tempo pode significar mudanças de
comportamento, porque tem como prioridades melhorar a qualidade de vida das pessoas que
habitam os bairros de periferia, garantindo a cultura, o lazer, e o esporte, buscando deixar o
assistencialismo de lado. Nesse sentido, a implantação deste Programa, onde se concentra a
população de baixa renda, representa ações em direção à inclusão social e à cidadania.
Este trabalho teve como objetivo geral analisar a importância do Programa Segundo
Tempo no processo de inclusão social dos alunos matriculados no núcleo Nova Cidadania.
Observou-se a prática cotidiana dos alunos na faixa etária entre 10 a 17 anos inscritos no
Programa Segundo Tempo, e através de entrevistas foi possível ouvir a opinião e expectativas
destes alunos em relação ao Programa. Foi objetivo específico identificar o desenvolvimento
das atividades realizadas no Projeto e suas contribuições para a sociedade local.
Ressalta-se que o relato a seguir não pretende solucionar os problemas existentes
citados, mas a intenção é levantar o interesse para a importante reflexão sobre a relevância de
tais temáticas. Para sustentação teórica deste trabalho vários livros foram pesquisados, lidos e
articulados às idéias desenvolvidas.
12
O Brasil é um país que já existia antes do capitalismo Europeu, mas o descobrimento
definiu uma trajetória de massacres de povos, cultura e valores. O país foi inserido no mundo
como colônia de exploração, no qual resultou um tipo de economia de exploração e como
conseqüência criou-se um tipo de economia geradora de excedente para outros paises. “Sua
formação social foi fundada no latifúndio e na escravidão e com a independência do país, a
elite ruralista se apropria do poder”. (SOUZA, 2001, pg.228)
No século XX o país se tornou urbano, com a economia voltada para a indústria e
começou as desigualdades de concentração de renda, baixos salários e as terras produtivas nas
mãos dos grandes latifundiários.
A exclusão social, que aqui se montou ao longo dos séculos, almeja ser superada, mas
para construir um novo cenário de inclusão é necessário investir na terra e no conhecimento,
valorizar a agricultura de base familiar e quebrar os valores herdados da colonização e da
escravidão. Somos uma sociedade capaz de enfrentar desafios, além de grande capacidade de
inovar.
A todo o momento a vida social produz e reproduz uma multiplicidade contraditória
que é responsável pela manutenção das desigualdades sociais. É preocupante como a
sociedade encara essas relações, “a vergonhosa desigualdade brasileira não decorre de
nenhuma fatalidade, apesar da perturbadora naturalidade com que a sociedade a encara”.
(HENRIQUE, 2000, p.26)
Inclusão social diz respeito à necessidade de distribuir com justiça os benefícios que o
nível de conhecimento e de recursos para o desenvolvimento atingido em nossa sociedade
consegue em tese, colocar a disposição das pessoas. A mobilização que se faz pela inclusão
social é sustentada pelas normas da dignidade humana que “considera a diversidade como um
valor, e o respeito às diferenças como um pressuposto para a sociedade democrática.”
(SILVA, 2003, p. 45).
Podemos observar que o mais importante numa proposta de inclusão social é resgatar
no indivíduo o interesse em buscar seus direitos e mostrar que existe também deveres a serem
cumpridos. Falar em inclusão social é reafirmar a idéia de direitos e de sujeito político, para
assegurar a autonomia do indivíduo na busca de benefícios que ajudou a construir. Para que
isso aconteça é preciso aprofundar as condições de auto-reconhecimento, “ao estado cabe o
papel de potencializar esse processo de auto-reconhecimento através de posturas que
estimulem o aumento da tomada de consciência política e da criação de instituições que
permitam o aprimoramento da participação política”. (SOUZA, 2001, p.228)
13
As recentes transformações nos meios e nos métodos de produção exigem cada vez
mais uma maior qualificação do trabalhador que pretende ingressar no mercado de trabalho.
Segundo alguns estudiosos a inserção desse indivíduo vem sendo sistematicamente
prejudicada em razão da situação geral da economia brasileira, notadamente marcada por
baixos índices de crescimento econômico, aumento progressivo e permanente das taxas de
desemprego, estagnação da renda por habitantes e a baixa mobilidade social. Essa dura
realidade traz consigo vários indicadores sociais que demonstram uma elevação crescente da
criminalidade e do número de indivíduos excluídos socialmente do sistema produtivo nacional
e os maiores agentes e as maiores vítimas desse ciclo de desenvolvimento são os jovens.
Como conseqüência de tal realidade surge à pobreza, que é o resultado de um modelo
de desenvolvimento que necessita ser repensado e debatido. Essa discussão precisa tanto
incorporar representantes de várias visões, quanto ceder a eles as informações mínimas
necessárias à tomada de decisões responsáveis. É fácil falar sobre a pobreza, o difícil é
realizar programas que possam amenizar e resolver tal situação, que precisa ser vivenciada
para que os projetos tenham abrangência significativa. A maioria das pessoas envolvidas
nestes projetos não sabe lidar com a situação de pobreza e nem com os indivíduos que se
encontram nesta classe social.
As desigualdades sociais são frutos da relação contraditória existente na
sociedade, manifesta-se na forma de dominação de sistema de organização social no qual uma
classe produz e a outra se apropria do produto desse trabalho. Hoje alguns estudiosos buscam
sustentação para afirmar que as desigualdades sociais de um país são alimentadas pelo sistema
de educação e pelo sistema econômico. As classes sociais dominantes tendem a não se
preocuparem com a situação de pobreza dos menos favorecidos, mas através das Leis
Orgânicas da Assistência Social, é possível uma reflexão sobre os direitos de cidadania que
falta a tantas pessoas e à devida assistência social que é garantida por lei:
“...assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é
política da seguridade social, não contributiva que promove os
mínimos sociais, realiza através de um conjunto integrado de
ações de iniciativas públicas e da sociedade, para garantir o
atendimento às necessidades básicas”. (LOAS, 2003, p.07)
Assistência Social é, portanto, direito do cidadão e dever do estado, está voltada para
garantir a determinados segmentos da população, os benefícios e serviços para acesso à renda
14
mínima e o atendimento das necessidades básicas. Visa à prevenção e a superação de
diferentes formas de exclusão social e a garantia de padrões de cidadania e qualidade de vida.
Apesar de existir a lei que regulamenta a assistência social, é necessário à conscientização de
que tal lei terá pouco efeito se não ocorrer à colaboração da sociedade através da mobilização
social.
O desafio da inclusão social é conseguir levar a sociedade a concentrar-se nos casos de
sucessos superando conflitos como crimes, guerras e poluição. Também isolar os lugares com
esses tipos de problemas fazendo-os invisíveis não é a saída, já que as conseqüências
chegaram a um momento que não pode ser evitada, por isso é que se torna necessário a
tomada de medidas para que as próximas gerações não sofram tanto as conseqüências de tais
negligências.
Para que a sociedade possa viver harmoniosamente entre as classes é essencial que
exista uma melhor distribuição de renda. O combate à pobreza deve ser feito de forma
estrutural e não somente com ações emergenciais. As políticas sociais quase sempre foram
tratadas como questões marginais, vinculadas ao assistencialismo e isso acaba prejudicando o
processo de inclusão social. Por esse lado faz-se necessário esclarecer que, “a estratégia de
inclusão social supera a lógica de uma pobreza assistida e focaliza de modo estreito, tanto em
termos quantitativos quanto qualitativos.” (SILVA, 2003, p.21).
Enquanto política a educação que visa à inclusão social do indivíduo assume uma
grande responsabilidade, mas é preciso comprometer-se a dar um salto de qualidade. Através
da educação o sujeito passa a ser conhecedor do mundo de forma que sua inserção na
sociedade pode se derivar de um processo educativo surgindo oportunidades. Segundo Souza
(2001, p.241) para que “o indivíduo possa escolher conscientemente os caminhos e objetivos
de sua ação, faz-se necessário que tenha estabilidade de vida e ampliação da sua consciência
de mundo, exigindo-se, portanto emprego e educação”. A educação também é capaz de
despertar no individuo a capacidade de tomar consciência de sua importância e de sua
natureza dentro da sociedade e o emprego lhe garante as condições materiais de sua
existência.
15
2-O ESPORTE
O esporte é história, pois acompanha a humanidade desde as suas origens e é cultura,
pois deriva das tradições, das artes e dos meios de comunicação. No entanto, o esporte de hoje
é um produto das profundas transformações originadas pela Revolução Industrial na Europa
dos séculos XVIII e XIX. Teve relação entre o aumento do tempo de lazer, em parte induzido
por esta Revolução e a difusão do esporte entre a população operária e urbana. A partir do
final do século XIX, o movimento esportivo inglês estava pronto para ser exportado.
Embaixadores, administradores coloniais, missionários, comerciantes, marinheiros e colonos
encarregaram-se de difundir o esporte pelo mundo (BETTI, 1997).
No século XX o esporte tornou-se um fenômeno de expansão mundial, estendeu-se
com uma rapidez que até agora não se observou em nenhum movimento social. Para
BETTI,(1997) podemos definir esporte como uma ação social institucionalizada, que se
desenvolve, com base lúdica, em forma de competição entre duas ou mais partes oponentes ou
contra a natureza, cujo objetivo é, por uma comparação de desempenhos, sendo seu resultado
determinado pela habilidade e pela estratégia do participante, que é gratificante.A socialização
significa o processo de transmissão dos comportamentos socialmente aceitos. Neste caso a
socialização para o desempenho de determinado papel social envolve a aquisição de
habilidades físicas e sociais, valores, conhecimentos, atitudes, normas e disposições que
podem ser aprendidas em uma ou mais instituições sociais, como por exemplo, a família, a
escola, o esporte, e ainda através dos meios de comunicação.
A necessidade de ocupar-se com a questão da socialização e da aprendizagem social
numa perspectiva didática da educação física resultam, por um lado, da análise da realidade
social do esporte, como um campo nos quais as relações e ações sociais são de importância
central; por outro lado, os problemas diários do professor de educação física obrigam a
considerar com mais profundidade as relações sociais oferecidas ou influenciadas pela
educação física e, dependendo do caso, a procurar modificá-las.
Muitos pedagogos da Educação Física/Esporte têm realçado a contribuição da
atividade esportiva na socialização de crianças e adolescentes, contribuição essa que tem sido
utilizada como justificativa para a efetiva inclusão da Educação Física nos currículos
escolares, já garantida em lei. Neste sentido, as muitas considerações tecidas, indicam que os
alunos através do esporte aprendem que entre eles e o mundo existem “os outros”, que para a
convivência social precisamos obedecer a determinadas regras, ter determinados
comportamentos e conhecer os direitos. Através do esporte é possível aprender a conviver
com vitórias e derrotas, e também acreditar no esforço pessoal, desenvolvendo assim a
16
independência e a confiança em si mesmo, o sentido de responsabilidade, entre outras
habilidades. Em comum tais afirmações identificam um papel positivo para o esporte no
processo educativo.
No entanto, também devemos destacar que pelas regras das competições, o esporte
imprime no comportamento as normas desejadas da competição e da concorrência e o ensino
dos esportes nas escolas enfatiza o respeito incondicional e irrefletido às regras, o que não
leva à reflexão e ao questionamento, mas sim, à acomodação.
Assim, à maneira como vem sendo ensinado podemos dizer que a socialização através
do esporte escolar pode ser considerada uma forma de controle social, pela adaptação do
praticante aos valores e normas dominantes como condição alegada para a funcionalidade e
desenvolvimento da sociedade. Para que se tenha uma reformulação nas práticas esportivas
deste país, é necessário que atuemos com consciência crítica, principalmente na escola, onde a
relação esportiva pode se tornar democrática, prazerosa e despertar nos estudantes o gosto
pelo movimento e um engajamento dessas atividades no contexto do processo educacional,
político e, principalmente, social.
De acordo com o estatuto da criança e do adolescente, brincar e praticar
esportes é um direito de todas as crianças. Quem tem boas lembranças da infância deve saber
o quanto era bom brincar, assim é importante estimular as atividades físicas. Esse é um papel
da família, da escola, das autoridades, e da comunidade. É preciso garantir oportunidades
para que os estudantes possam exercer seu direito ao esporte, ao lazer e à cultura.
A educação física durante muito tempo era vista como uma disciplina escolar
sem papel definido, tempos atrás as atividades esportivas não eram valorizadas porque não
tinham conhecimento de seus benefícios, atualmente com a divulgação freqüente de suas
vantagens, as pessoas estão buscando cada vez mais desenvolver algum tipo de atividade
física, pois estão se conscientizando de sua importância para o desenvolvimento humano e
qualidade de vida.
Alguns pais de alunos inscritos no Programa Segundo Tempo, relatam que antes deles
fazem atividades físicas demonstravam-se sempre cansaço e insegurança, mas depois que
passaram a praticar atividades físicas, evidenciaram melhor desenvolvimento, tanto físico
como emocional.
Uma vez despertado o interesse pelo esporte surge a possibilidade de trabalhar com
diversos aspectos da vida dos alunos como: aspectos relacionados com a alimentação, higiene
pessoal, convivência social , respeito às diferenças e auto conhecimento.
17
Pode-se perceber que as atividades esportivas é uma disciplina responsável por
criar condições para que os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos
para construir instrumentos de compreensão da realidade e para participar de relações sociais
cada vez mais amplas. No entanto é importante promover e organizar junto aos alunos,
professores e comunidade o debate e a reflexão sobre a importância das atividades físicas
numa sociedade.
A base legal do esporte escolar está na Constituição: no Art. 217. “É dever do
Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um”.No
Estatuto da Criança e do adolescente no capitulo IV, art.59- “Os municípios, com apoio dos
Estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para
programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e juventude”. E também
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB Nº. 9.394/96 Valoriza em seus princípios as
atividades extracurriculares, dentre elas o Esporte, como fator imprescindível ao
desenvolvimento escolar infanto-juvenil.
18
3-DESCRIÇAO DA REALIDADE
Este estudo foi realizado no núcleo Habitacional de Santa Maria, situada entre a DF-
290 a oeste, a BR-040 a leste e os núcleos rurais do Alagado e Santa Maria ao sul, a
localidade mais próxima é o Gama e a Vila DVO no Distrito Federal e o Novo Gama,
Pedregal e Valparaiso, no estado de Goiás . Santa Maria está rodeada pelo rio Ribeirão
Alagado e Santa Maria, que dá nome à cidade. Surgiu como assentamento na década de 90, e
se tornou rapidamente um conjunto urbano com características de cidade. Permaneceu como
área rural do Gama até 1992, quando a Lei nº. 348/92 e o Decreto nº. 14.604/93, criou a
Região Administrativa Santa Maria, que estava desprovida dos equipamentos básicos de
saúde, educação, segurança, urbanização e saneamento básico. Antes mesmo de ser
oficializada sua emancipação, os lotes eram distribuídos por órgãos do próprio governo, por
isso, sua criação visou atender o programa de assentamento de famílias de baixa renda, em
lotes semi-urbanizados.
Santa Maria é composta de área urbana, rural e militar. Na área urbana estão as
quadras residenciais, as quadras comerciais e as áreas especiais. Na área rural estão os núcleos
rurais e colônias agrícolas. Na área militar, estão localizados o Centro Integrado de Defesa
Aérea e controle de Trafego Aéreo (CINDACTA), do Ministério da Aeronáutica e a Área
Alfa, pertencente ao Ministério da Marinha
Segundo dados da Codeplan,a cidade tem aproximadamente 120.000 mil habitantes,
sendo 13,96% desses moradores na faixa etária de 15 a 19 anos e 12,91% na faixa etária de 10
a 14 anos, caracterizando uma população jovem, com apenas 1,05% da população com idade
igual ou superior a 70 anos. Com a ocupação das áreas livres hoje existentes, a cidade pode
atingir o número de 170.000 mil habitantes em um curto espaço de tempo.
Apesar de grande potencial de desenvolvimento pela situação geográfica estratégica,
Santa Maria também apresenta diversos problemas que aumenta as diferenças sociais.
Existem famílias que não atingem a renda mensal de um salário mínimo, sendo significante o
número de grupos familiares chefiados por mulheres, com prole predominantemente
constituída por menores de idade. Existe um alto número de pais de família desempregados e
isso acaba gerando um quadro de demandas sociais crescentes e diversificadas para as
políticas públicas,de assistência social.
Em Santa Maria existem altos índices de violência infantil e juvenil, com um grande
contingente de adolescentes usuários de drogas, que nas suas horas ociosas praticam os mais
19
variados delitos, que vão desde pequenas traquinagens até a prática de crimes bárbaros, tais
como estupro e assassinato.
O esporte aliado a um trabalho de integração social promovido pela própria
comunidade e com a participação efetiva das crianças e adolescentes e de seus familiares
resulta num exercício importante de cidadania.
3.1 Histórico da Associação Cultural e Desportiva Nova Cidadania
A Associação Cultural e Desportiva Nova Cidadania é uma organização sem fins
lucrativos que se originou da vontade de pessoas interessadas em promover o
desenvolvimento comunitário da cidade Santa Maria, por ser uma comunidade desprovida de
meios econômicos. Foi criada em 12 de outubro de 2002 e suas atividades são desenvolvidas
no salão comunitário da cidade, espaço este cedido pela administração da cidade, que se
encontrava depredado e em péssimas condições, com vidros e telhas quebrados, paredes sujas,
e muito entulho, tanto dentro como em sua área externa.
A proposta pedagógica da Associação constitui-se numa resposta às necessidades e
urgências da atual prática educacional, sócio cultural em sua forma de atendimento as
camadas de baixa renda. Tem como objetivo oportunizar as crianças e adolescentes com baixo
poder econômico ou em situação de risco social, a opção informal aberta e flexível, dando
primordial importância a elevação humana, por meio de uma metodologia que possibilite a
construção do conhecimento social reconhecendo-se como sujeito participante da sociedade,
consciente e responsáveis por suas soluções de acordo com a proposta pedagógica da
entidade. Sua filosofia é a valorização da força do coletivo, aliada ao aspecto individual, na
perspectiva de mudança de atitude que venha a contribuir para a redução dos índices de
violência a que estão expostos e que simultaneamente reproduzem nos seus cotidianos.
Atualmente o local se encontra em boas condições, com um grande fluxo de crianças e
adolescentes que freqüentam as atividades oferecidas pela entidade. Um lugar cheio de vida.
De uma gente que dá esperança de que tenhamos um país muito melhor, muito mais justo. De
uma vida que não se esgota no próprio umbigo, comprometida com a sociedade que
haveremos de construir.
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3.2 A Vivencia No Programa Segundo Tempo
Educar é acreditar no outro, por isso quem não acreditar que existem crianças e
adolescentes com qualidades que muitas vezes passam despercebidas, não se encaixará ao
trabalho educativo.
O Programa Segundo Tempo foi implantado na Associação Nova Cidadania no final
de 2004, onde tive a oportunidade de desempenhar a função de Pedagoga pelo convênio com
a Secretaria de Esporte do DF, e em seguida como coordenadora.
Nossa equipe de trabalho era formada por: Carlos Alberto (Coordenador Geral), José
de Caldas(Coordenador de atividades), Agnaldo Cabral (professor de Karate),Thiago
Rocha(professor de dança e violão), Cláudio Clemente (Futebol), Givaldo Pereira (Capoeira),
Hélton Fernades(Recreação) . Também tinha um grupo de voluntários com as seguintes
funções: Aurélio Miguel(professor de informática), Luiz Carlos (professor de informática),
Victor Benedict( instrutor de informática), Paulo Henrique(instrutor de karate), Rayane
Bandeira(recreação infantil), Gisele Gomes(recreação infantil), Jaciara dos Anjos(recreação
infantil). Ressaltando que os últimos cinco já tinham participado do programa como alunos .
É notório que o Programa Segundo Tempo semeou ações construtivas, voltadas para o
fortalecimento da cidadania, trata-se de mais uma parcela no somatório das atividades que
fundamentam a existência de projetos que contribuem para a formação de crianças e
adolescentes. Também favoreceu o desenvolvimento físico dos participantes oferecendo no
cardápio, alimento balanceado que em muitos casos era o real motivo que despertaram o
interesse das crianças e adolescentes em participar das atividades oferecidas pelo Programa.
Depois de conhecer a realidade do local e das crianças e adolescentes matriculados no
Programa, começamos a desenvolver um plano de atendimentos. As atividades esportivas
eram prioridades, mas sempre procuramos aproveitar os momentos esportivos para a reflexão
e juntos discutir sobre temas variados.
Nosso objetivo é criar condições que possibilitem aos participantes do Programa
Segundo Tempo, participar ativamente, no entanto é difícil fazer na prática, tendo que
enfrentar um contexto tão problemático. Logo no inicio foi possível perceber que a realidade
do local não era nada animadora, pois apresentava altos índices de violência. Diversas vezes
tivemos que correr com os alunos para nos esconder de perseguições policiais, já os alunos
achavam tudo normal, parece que já fazia parte de suas rotinas.
Percebemos que os crimes ocorridos na cidade pareciam naturais para alguns, já não
eram mais novidade. Aos poucos passamos a conhecer nossos alunos e seus problemas
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individualmente, os pais e irmãos de alguns se encontram cumprindo penas em presídios, e
isso geravam certo desconforto. Parece que muitos têm vergonha de tal situação e acabam,
como uma forma de autodefesa, exagerando na rebeldia. Tendo consciência de que não
podíamos mudar o passado procuramos agir no presente adotando ações práticas e concretas,
buscando favorecer a inclusão social dos envolvidos no Programa.
Por se tratar de uma cidade com pouquíssimas opções de lazer, juntamente com os
alunos resolvemos realizar uma festa junina. Algumas pessoas falaram que não ia dar certo
porque o local era muito perigoso, quase desistimos, mas o entusiasmo dos alunos era tanto
que resolvemos levar adiante. Os meninos participavam das atividades esportivas e depois
seguiam para o ensaio da quadrilha, no total eram 40 pares e a cada ensaio se tornava uma
festa maior, os alunos ficaram responsáveis pela arrumação das barraquinhas.
No dia da festa é claro que ficamos preocupados, mas antecipadamente enviamos
ofícios para a policia militar, civil e para o Corpo de Bombeiros solicitando a presença deles
no dia do evento, esse apoio foi muito bom, pois dava mais seguranças aos participantes, e
não houve nenhuma ocorrência desagradável. Era possível perceber a alegria das pessoas, as
famílias estavam reunidas se divertindo, podia parecer muito simples, mas para algumas
pessoas aquele era um momento de grande satisfação.
No mês de julho durante o recesso escolar organizamos uma colônia de férias, com
grandes idéias, mas infelizmente, sem nenhum dinheiro. Agendamos então, passeios onde não
era preciso pagar a entrada, e enviamos ofícios para as empresas de ônibus e para a
administração da cidade solicitando o transporte. Neste período visitamos a redação do jornal
Correio Brasiliense, o Museu de Entorpecentes na Academia de Policia Civil, o Museu de
Valores no Banco Central, o Aeroporto Internacional de Brasília, o Cine Brasília, o Conjunto
Cultural da Caixa , o Clube da Embrapa, o congresso Nacional, a Presidência da República e
o campo de futebol do time do Gama, onde os alunos conversaram com alguns jogadores.
Em cada um dos passeios além de oferecer lazer, procuramos mostrar aos alunos as
diversas realidades existentes, tira-los um pouco do cotidiano de violência, apresentando as
inúmeras outras possibilidades que a vida oferece. É possível que muitos não vão ter a
oportunidade de uma vida com tantas opções de lazer, mas a intenção é mostrar que podemos
modificar a realidade social e melhorar a distribuição de renda e oportunidades para todos.
Em todos os locais visitados a recepção foi muito boa e recebemos muitos elogios com
relação ao comportamento dos alunos, não se pode negar que em alguns casos as pessoas
oriundas de bairros periféricos sofrem preconceitos. Qualquer deslize poderia resultar em
julgamentos, por isso para evitar tais comentários, a forma de se comportar sempre é discutida
22
com os mesmos, inclusive nas atividades esportivas. Esse esforço sempre vale a pena e foi
comprovado por nós e pelos alunos. Já tínhamos visitado o Palácio do Planalto e devido a essa
conduta adquirida, em janeiro de dois mil e seis recebemos o convite para recepcionar o
presidente da Argentina. No total foram 47 alunos mais quatro professores e tivemos a
oportunidade de participar de toda a solenidade em lugar privilegiado, e depois os presidentes
do Brasil e da Argentina vieram nos cumprimentar. Foi um momento mágico, os alunos
ficaram nervosos e emocionados, os fotógrafos que acompanhavam a comitiva se voltaram
para nós, nos sentimos importantes, tudo ocorreu muito rápido.
Contudo, já sofremos preconceito, certa vez conseguimos um passeio para um clube,
mas na última hora o dono ligou cancelando, relatando que havia analisado direito e resolveu
não aceitar tais alunos porque temia os estragos que eles poderiam causar.
Passaram-se quatro meses e conseguimos que uma pessoa pagasse a entrada, levamos
cento e vinte alunos para esse mesmo clube. Foi um dia tranqüilo, todos se divertiram sem
nenhum transtorno e no fim da tarde quando nos despedimos da pessoa responsável pelo
clube ouvimos o pedido de desculpas, ele disse que não esperava tal comportamento dos
alunos.
Quando recebemos resposta negativa ficamos tristes, mas não desanimamos pois
buscamos mostrar nossos valores através de atitudes. No inicio os alunos ficaram apreensivos,
mas depois relaxaram e foi bom porque eles perceberam que podiam se divertir sem causar
nenhum dano ao patrimônio.Ao analisar o “não” da primeira vez, percebemos que os
dirigentes do clube tomaram aquela atitude porque já haviam recebido um grupo de alunos
que causaram grandes prejuízos. Os donos do clube estavam pré julgando, no entanto através
das atitudes os alunos tiveram a oportunidade de elaborar uma imagem positiva sobre si
mesmos e desfazer a imagem negativa.
Quando se realiza um trabalho com responsabilidade o reconhecimento acontece e foi
isso que percebemos, quando recebemos o convite para desfilar no dia do aniversario da
cidade. Levamos noventa alunos para representar as modalidades esportivas desenvolvidas
pelo Programa Segundo Tempo, eles ficaram muito alegres em participar desse momento
cívico, a maioria dos pais estavam presentes e na hora que nossos alunos passaram em frente
ao palanque foram muito aplaudidos. Todos ficaram muito emocionados, e nós educadores
também, pois, sentimos uma grande satisfação em participar de um momento tão especial.
Para muitas pessoas pode parecer pouco, mas para nossa realidade foi muito bom.
Alguns alunos nos procuraram demonstrando preocupação com o aumento da
violência e com o grande número de pessoas que eles conheciam que eram dependentes
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químicos, na maioria jovem. Assim, tivemos a idéia de lançar, também no período de recesso
escolar o projeto “Diga Sim à Vida”, que consistia na prevenção ao uso de drogas, todo
desenvolvido com a participação dos alunos.
O Projeto foi lançado no dia treze de 2005, com a presença dos alunos, pais e da
comunidade. A administradora da cidade, o Comandante da Policia Militar e do Corpo de
Bombeiro, e a responsável pelo Centro de Desenvolvimento Social estavam presentes. O
Ministério do Esporte e a Secretaria de Esporte mandaram um representante também. É
importante destacar que ao desenvolver tais projetos, nossa intenção é chamar a atenção das
autoridades para esses problemas e a necessidade de ações preventivas.
Com a ajuda dos alunos montamos um jornalzinho, onde cada um poderia se
expressar, levou tempo e muita paciência, deixamos claro que as matérias não poderiam
conter informações que não fossem verdadeiras e todas as pessoas citadas deveriam ser
informadas antecipadamente. As matérias que fizeram mais sucesso foram as relacionadas
com as atividades esportivas e os desempenhos dos alunos, os meninos do futebol
procuravam mostrar o melhor possível com jogadas belíssimas, pois sabiam que logo seriam
notícias no jornalzinho.
Como não tínhamos condições de bancar uma grande atividade no dia das crianças,
criamos um dia de maratona, os alunos participarão de diversas atividades e cada professor
ficou responsável por uma modalidade esportiva. Teve futebol, vôlei, karatê, peteca e
queimada, as partidas foram muito disputadas e os finalistas ganharam até torcida, os
participantes dos times vencedores receberam medalhas. Diante das dificuldades, nós
educadores não podemos nem devemos desanimar é preciso usar a criatividade. É fácil
perceber que quando se coloca a diversão em primeiro lugar a falta de material tem
interferência mínima. Se não tem bola de vôlei improvisa com qualquer uma, se não tem a
rede de vôlei usa um barbante, o importante é jogar com o devido senso ético. Se não tem
bola para jogar queimada ou futebol, vamos fazer uma de jornal ou de meia o mais importante
é que exista vontade de realizar. Diante destas ações é possível trazer o aluno para sua
realidade mas buscando alternativas para melhorias e também mostrar as diferentes formas de
se divertir.
Algumas meninas que participam de nossas atividades demonstravam interesse em
aprender a jogar futebol. No inicio o interesse era puramente estético, diziam que jogar
futebol emagrecia, fazia crescer etc..,mas depois entrou a vontade de brincar e competir. Os
meninos diziam que futebol era coisa de homem e as meninas estavam invejando eles,
também falavam que as meninas não entediam nenhuma regra de futebol e jogavam feio. O
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coordenador de atividades do núcleo é arbitro profissional e diante do interesse das meninas,
passou a orientá-las de acordo com as regras oficiais do futebol. Com isso as meninas ficaram
mais cientes do que queriam, é lógico que algumas desistiram, mas aquelas que estavam
realmente interessadas continuaram.
Tradicionalmente o futebol é visto como um esporte dominado pelos homens, os times
formados por mulheres são vistos com certa desconfiança e sem credibilidade. Nosso objetivo
maior foi trabalhar as diferenças para que ocorra a inclusão de pessoas, por isso diante do
interesse das meninas em jogar futebol resolvemos apoiá-las com esse incentivo. Foi
organizado um torneio de futebol feminino nas categorias mirim, petiz e infantil. Depois do
torneio foi formado um time da categoria petiz que já jogou com time de fora e alcançou
vitórias
Como não tínhamos condições de levar os alunos do karatê para participar de torneios
fora, resolvemos organizar um e o professor de Karatê que também dava aula em outras
academias, convidou seus alunos para participarem. Como já tínhamos previsto que ia ter
muitos participantes, resolvemos realizar o evento em um local maior, marcamos para um dia
de domingo para que os pais também pudessem participar. Enviamos ofício para a diretora do
Caic Albert Sabin solicitando o uso do ginásio daquela escola, acertamos todos os detalhes e
ela nos assegurou que estava tudo certo. Porém no dia do evento quando chegamos pela
manhã, a escola estava fechada, o guarda disse que não ia deixar ninguém entrar, ligamos para
diretora e ela falou que não podia fazer nada porque era domingo dia de sua folga e o guarda
era a autoridade da escola naquele momento.
Ficamos desesperados sem saber o que fazer, nossos alunos e os convidados chegavam
com seus familiares e o portão permanecia fechado, ligamos novamente e o celular da diretora
estava desligado, até que alguém teve a idéia de ligar para um deputado que mora no Gama e
ele conseguiu falar com a diretora do outro Caic que nos recebeu, por ser um pouco longe este
deputado cedeu um ônibus para nosso transporte. Foi uma decepção muito grande e só
fizemos esse esforço em respeito aos alunos. Isso nos levou a refletir como a escola anda
despreparada e possui uma má gestão, pois o governo gasta com publicidade afirmando que as
escolas estão de portas abertas para a comunidade, que quando a comunidade precisa de fato
ela se fecha.
Alguns alunos queriam quebrar o cadeado e entrar de qualquer jeito, os pais
questionavam o direito dos filhos em utilizar o espaço da escola. Alguns falavam que iam
chamar a televisão, para mostrar a vergonha do país, em plena capital o povo é impedido de
entrar em uma escola pública simplesmente porque a diretora resolve acatar uma
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determinação de um guarda. Foi difícil contornar a situação e desarmar o coração daquelas
pessoas cansadas de tanto descaso
No total 250 alunos de karatê participaram do torneio, sendo que nossos alunos
conseguiram bom destaque, apesar do desgaste no final do dia ficamos com a sensação de
dever cumprido.
No dia seguinte levamos um oficio para a regional de ensino da cidade, relatando o
ocorrido e pedindo uma explicação diante da atitude desta diretora, mas até hoje eles não
fizeram nenhum contato. Procuramos a administração da cidade que nada pode fazer, apenas
lamentavam o fato e diziam que foram motivos políticos que levaram esta diretora a tomar tal
atitude porque a escola tinha um professor que ia começar a dá aulas de karate e pretendia
levar o Programa Segundo Tempo. A diretora também cedia o espaço da escola para que uma
igreja evangélica realizasse atividades, pois ela freqüentava a mesma igreja. Passados três
meses do ocorrido chegou a notícia de que a escola Caic, havia sido assaltada, levaram todos
os computadores e eletrônicos , este ocorrido nos deixou tristes mas nos levou a discutir sobre
a escola que se omite no processo de educação, cultura e lazer , está sujeita a sofrer esse tipo
de conseqüência. A diretora resolveu cancelar qualquer atividade dentro da escola que não
fosse do ensino formal e os finais de semana a escola continua trancada, com dois guardas
vigiando
A falta de políticas publica destinada às crianças e adolescentes com relação às
atividades de lazer acabam influenciando cada vez mais os jovens a ingressar no mundo da
violência.
Sabemos da importância do nosso trabalho para diminuir os índices de violência, mas
também sabemos que não serão todos que vão seguir nossas orientações. Temos alguns
exemplos de alunos que se envolveram em crimes violentos, um garoto de treze anos que já
havia freqüentado nossas atividades, foi acusado de assassinar um outro jovem, em brigas de
gangues que está cada vez mais freqüente na cidade de Santa Maria, que serviu como tema de
uma reportagem.Fiquei pensando o que poderia ter sido feito para evitar tal acontecimento,
essa questão deve ser melhor discutido com a participação da sociedade.
O Estado precisa auxiliar as famílias a criar os filhos, construindo valores. Nessas
comunidades menos favorecidas o Estado age de forma autoritária através do conselho tutelar
composta na maioria das vezes por pessoas totalmente despreparadas. No caso acima o
conselho tutelar encaminhou o garoto para fazer atividades esportivas no Programa, mas
devido à gravidade dos fatos não tivemos condições de recebê-lo, pois temíamos pela
segurança dele e das outras crianças e adolescentes que freqüenta nossas atividades.
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Sempre que possível realizamos reuniões com os pais para juntos avaliar nosso
trabalho e buscar melhorias, os pais têm a oportunidade de se expressarem e emitir opiniões, é
notório o sentimento de gratidão por parte deles com relação ao nosso trabalho. O pais já
perceberam a importância das atividades oferecidas foram da escola são capazes de
transformações. Até as pessoas que tem um poder aquisitivo melhor estão mais conscientes de
colocar seus filhos para encarar a realidade. Um exemplo foi uma mãe que matriculou suas
duas filhas no karate, ela nos contou que as filhas viviam trancadas dentro de casa e tinham
medo de tudo, depois que passaram a freqüentar as atividade e entrar em contato com as
demais crianças elas começaram a ter mais segurança em suas atitudes e passaram a interagir
com os outros colegas.
A maioria das mães está presente na vida dos filhos, o que falta é uma boa orientação,
pois educar é um ato que exige muitos esforços, percebo que um grande número de mães são
muito permissivas, parece que elas procuram suprir a carência material desta forma.
Enfrentamos também problemas com o material fornecido pelo PST, as bolas que
furava ou estragavam era preciso devolver, mas eles demoravam a repor, tínhamos que ir atrás
e só com muita sorte para conseguir, certa vez passei uma manhã tentando conseguir umas
petecas, tive que passar por muitas pessoas e só depois de muita conversa consegui três
petecas e duas bolas, isso era muito desgastante.
O lanche também era um problema, questionamos que só vinha biscoito com
refrigerante de péssima qualidade e valor nutritivo quase zero, depois melhorou um pouco.
Mas de tanto questionar passamos a ser deixados de lado. O que mais nos aborreceu foi
quando teve uma solenidade com todos os núcleos onde diversas autoridades estavam
presentes e quase todas as entidades foram convidadas para apresentar algum tipo de dança,
recebemos o convite para ficar como platéia e nossos alunos questionaram porque não foram
convidados para também se apresentar.
Depois entramos por outro convenio que era pior ainda, eles queriam impor que as
atividades fossem durantes todo o dia de terça a quinta-feira, e para nós não era conveniente
porque já havíamos planejado nossas atividades para segunda, quarta e sexta feira para ficar
mais bem distribuído na semana. Logo no início deixamos claro que não íamos mudar nossos
dias de atividades e por isso de uma hora para outra a responsável pelo convenio enviou um
telegrama comunicando que ia encerrar as atividades. Em respeito aos nossos alunos não
paramos nossas atividades porque os alunos não tinham culpa da falta de responsabilidade
deste convênio. Só depois de muita luta é que conseguimos outro convenio que ficou até o
final do ano passado e que vinha cumprindo com seu compromisso.
27
4-CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sociedade moderna vem se confrontando com os mais diversos problemas neste
inicio de século. As guerras, a fome, a violência, as alarmantes e crescentes desigualdades
sociais vem se acirrando a cada dia, fazendo com que se busquem alternativas capazes de
amenizar os efeitos destrutivos de tais problemas.
Uma parte deste trabalho procura demonstrar, ainda que precariamente, ao nível
teórico, que o problema da exclusão social extrapola o âmbito do puramente educacional,
buscando suas origens mais profundas em instancias mais amplas da vida e do crescimento da
sociedade brasileira.
Está evidente para a sociedade que, para que esses problemas sejam amenizados, não
basta apenas o investimento estatal, que é precário em paises como o nosso. Além disso,
trabalhando sozinho, o Estado não conseguiria conter o aumento dessas mazelas sociais que
cresce de maneira assustadora. Assim, cada vez mais algumas pessoas vêm assumindo sua
responsabilidade para com a sociedade, ora desempenhando um papel de voluntário, ora
liderando um movimento em defesa de uma causa social. Mas isoladamente, é difícil
transformações.
O Governo tem demonstrado interesse em desenvolver programas que visam à
inclusão social de pessoas, e o Programa Segundo Tempo é um exemplo. Entretanto para que
eles possam ter efeitos é necessário que sejam mais bem aproveitados. Durante este período
que atuei no Programa Segundo Tempo, tive a oportunidade de conhecer alguns núcleos na
cidade de Santa Maria e a grande maioria não apresentava as condições mínimas necessárias
para se obter resultados. Por se tratar de uma cidade onde existem muitas pessoas carentes,
aparece muita gente esperta querendo tirar proveito desta situação, não procuram buscar o
desenvolvimento das pessoas. Questões relacionadas com interesse levam pessoas que se
diziam lideres comunitários, a implantar o Programa Segundo Tempo e não realizavam um
trabalho sério. Era complicado porque muitas vezes pais de alunos nos procuravam querendo
trocar de núcleo e nós não podiamos aceitar, uma vez que eles já haviam feito a matricula em
outro núcleo.
O lado negativo do Programa é também a falta de continuidade, porque demora muito
para firmar novamente o convênio e os alunos matriculados ficam durante esse período sem
atividades. Muitas vezes parece até brincadeira, enquanto que nós estamos na luta diária com
os alunos, tem pessoas sentadas atrás de uma mesa, vendo o Programa só na teoria que
acabam prejudicando o trabalho de quem está fazendo alguma coisa na prática.
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A bolsa que os professores e monitores recebem é pouca para a grandiosidade das
ações que o Programa se dispõe a realizar, por se tratar de um programa que tem tudo para ser
um exemplo de inclusão social através do esporte, ele precisa de mais investimento. Pensando
nas possibilidades do Programa Segundo melhorar cada vez mais e tornar referência em nosso
país, juntamente com a equipe de trabalho montamos um quadro sugestivo que pode favorecer
melhorias para o Programa Segundo Tempo com as seguintes questões: O que é necessário?
O que dificulta? Que alternativas propõe?
O que é necessário?
O que dificulta?
Que alternativa propõe?
Profissionais capacitados para atuar no programa.
A falta de ações concretas que prepare melhor os profissionais.
Capacitação permanente dos profissionais envolvidos através de promoções internas e externas, que visam um melhor preparo profissional.
Estabelecimento de prioridades para os alunos que participam do Programa.
Os alunos abandonam as atividades com freqüência.
Estimular o desenvolvimento de ações que produzem a educação pelo esporte.
Programar a participação dos alunos nas atividades esportivas com o propósito de educação
Falta de interesse do aluno.
Mostrar através de ações os benefícios concebidos pelo esporte e cultura.
Igualdade de condições para o acesso e permanência nas atividades.
Alguns alunos são excluídos pelos demais devido a sua condição social.
Unir e integrar os alunos de diferentes classes sociais.
Envolver os pais ou responsáveis convocando para reuniões periodicamente.
A desculpa dos pais de que não podem comparecer porque trabalham.
Planejar as reuniões em dias e horários para que os pais possam participar.
Estimular os alunos a ter um bom rendimento escolar.
A baixa escolaridade dos pais ou responsáveis, marcada pelo analfabetismo desestimula a aprendizagem dos mais novos.
Oferecer reforço escolar e acompanhar o rendimento escolar dos alunos.
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As ações e os projetos aqui desenvolvidos através do Programa Segundo Tempo são
para nós, os profissionais envolvidos, mais que números ou dados técnicos, acabam por se
tornar parte de nossas vidas, de nossos esforços e nossas crenças.
Os dirigentes e colaboradores trabalham em busca de uma vida melhor para as
crianças, adolescentes e pela comunidade em geral. Nossas atividades são e sempre serão
pautadas na sinceridade, participação e profissionalismo. Nossos parceiros são nossas
referências e os participantes de nossas atividades são a nossa essência e por eles firmamos
nossos compromissos.
Ao analisar a implantação do Programa Segundo Tempo na Associação, não podemos
deixar de congratular nossa equipe, que sempre buscou superar seus próprios limites em prol
do seu trabalho. Esforços esses não para garantir seus empregos, como muitos podem pensar,
mas por acreditarem na importância de suas ações e acima de tudo, por exercerem um
profissionalismo de forma honesta e eficaz.
A implantação do Programa é marcada pelo objetivo de contribuir para o
desenvolvimento comunitário de Santa Maria e por conseqüente, cooperar com inúmeras
pessoas que se dedicam por uma vida melhor, um lar tranqüilo e produtivo. Ao longo de
nossa atuação iniciamos projetos de educação para crianças e adolescentes e inserimos a
temática da juventude, que é hoje uma de nossas marcas em conjunto com o tema gestão
comunitária.
Hoje, orgulhosos de nossas ações e cheios de vontade e muita coragem, nos lançamos
para o futuro com a certeza de que fizemos a diferença para muita gente e continuaremos a
lutar por nossos objetivos. Queremos que as crianças e jovens com os quais trabalhamos
encontrem oportunidades para crescerem enquanto cidadãos e enquanto profissionais
responsáveis e cumpridores de seus deveres.
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5-BIBLIOGRAFIA
BETTI, Mauro. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressão às regras no futebol espetáculo. Ijuí: UNIJUÍ, 1997.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Esporte e sociedade. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Dimensões pedagógicas do Esporte. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Jogo, corpo e escola. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE.. Manifestações dos Jogos. Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004.
BRASIL. MINISTÉRIO DO ESPORTE. Manifestações dos Esportes Brasília: Universidade de Brasília/CEAD, 2004. DUKHEIN, Emile. Educação e sociologia, Paul Fauconnet{et al}, Tradução: Nuno Garcia Lopes, Edição 70. GENTILLI,Pablo.Pedagogia da Exclusão: o neoliberalismo e a crise pública, Rio de Janeiro,2000. HENRIQUE, Ricardo. Desigualdade e pobreza no Brasil, Rio de Janeiro, IPEA,2000. LOAS - LEI ORGÂNICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL SOUZA,Cira. O Brasil e o conflito social moderno, Brasília-DF, Instituto Tancredo
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6-ANEXOS
5.1-Matéria publicada referente à visita dos alunos à redação do correio brasiliense. CORREIOBRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 20 de julho de 2005 •
CORREIO RECEBE ESTUDANTES Alunos da ONG Nova Cidadania, de Santa Maria, visitaram ontem o Correio Braziliense. O grupo de 29 alunos conheceu as etapas de produção do jornal. Eles visitaram o centro de documentação, a redação e as rádios Planalto e 105 FM. A ONG participa do programa Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes. Nessa parceria, são desenvolvidas atividades esportivas e extra-escolares. Laura Cordeiro Liberal, 15, foi uma das que mais se animou com a visita de ontem. “Quero fazer jornalismo. Adorei conhecer a redação. Agora sei que é isso mesmo o que eu quero”, disse. A visita faz parte do projeto Leitor do Futuro, da Fundação Assis Chateaubriand, criado para aumentar o interesse dos estudantes pela leitura. CORREIOBRAZILIENSE • Brasília, sexta-feira, 27 de janeiro de 2006
ALUNOS VISITAM CORREIO Alunos da ONG Nova Cidadania de Santa Maria (foto) visitaram a sede do Correio Braziliense ontem. O grupo de 30 alunos, com idades entre 8 e 16 anos, passou a tarde conhecendo as etapas de produção do jornal. Foram visitados o Centro de Documentação (Cedoc), a Redação e as rádios Planalto e 105 FM. Segundo o voluntário, Carlos Alberto da Silva, 48 anos, a ONG participa do programa Segundo Tempo, do Ministério dos Esportes. Nessa parceria, são desenvolvidas atividades esportivas e extraescolares para os estudantes. Os alunos gostaram do passeio de ontem. Émerson Alves, 16 anos, era um dos mais animados. “É interessante aquela máquina de quatro andares que roda o jornal”, disse ele, depois de visitar o parque gráfico. Alessandra Teles, 14, deixou o Correio fascinada pela rotina dos repórteres. “Acho legal o cotidiano dos jornalistas. É uma vida bastante agitada”, comentou.
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26• CORREIOBRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 20 de junho de 2006
LEITOR DO FUTURO
SÃO JOÃO NO CORREIO Em época de São João, a Paraíba é um estado com tradição em festas juninas. Para conhecer um pouco mais sobre a tradicional festa que ocorre em Campina Grande, a 120km de João Pessoa, alunos das escolas Nova Cidadania e Escola Classe 305 Sul participaram, ontem, da 9ª edição do Ciclo de Apresentação Cultural. O evento é iniciativa da Fundação Assis Chateaubriand, como parte do programa Leitor do Futuro. A intenção do projeto é divulgar culturas regionais, nacionais ou internacionais. Desta vez, os alunos conheceram um pouco sobre música, danças e costumes da Paraíba. A programação começou às 14h, quando os 80 alunos da 3ª a 8ª série acomodaram-se no auditório do Correio Braziliense para ouvir do secretário-executivo da Secretaria de Estado da Articulação Governamental da Paraíba, Waldo Tomé de Souza, informações sobre música, dança e costumes da Paraíba. Segundo o secretário, Campina Grande recebe, durante os 30 dias de festa, cerca de 400 mil turistas nacionais e estrangeiros. O estudante da 7ª série Ivan Souza Nunes, 13 anos, adorou a palestra. “Tenho parentes no Nordeste e eles sempre me chamam para conhecer as comemorações de São João por lá. Agora estou mais curioso para visitá-los”, afirmou Ivan. Depois da palestra, a meninada assistiu à dança de quadrilha, promovida por estudantes da Escola Classe 305 Sul, e se deliciaram com os quitutes juninos, como canjica, tapioca e milho cozido.
41
5.3 - Desenho da aluna Lilia daRocha, que participou do concurso de desenho da Agencia Espacial Brasileira
48
Time vencedor do torneio femenino
.6 - Matéria publicada no jornal referente à criminalidade juvenil em Santa Maria
5
49
26 • Brasília, domingo, 21 de janeiro de 2007 • CORREIOBRAZILIENSE
A EQUIPE DO CORREIO
a dos monstra
a periferia,
s ntem,
ala. res
rmas
ão
Gangues aterrorizam Santa Maria VIOLÊNCIA JUVENIL Se em pontos centrais da capital os jovens se matam a socos e a pauladas, reina na periferia o culto das armas de fogo. Em seis meses galeras do Diabo Loiro e Pão de Queijo deixam rastro de 9 mortes D
Enquanto a maiorijovens do Plano Piloto deforça por meio de socos e pontapés, nmanda mais quem atira. Há seis meses, dois grupos rivaiaterrorizam Santa Maria. Até oa disputa havia resultado em nove mortes. Todas a bOutra diferença para os moradoda área central de Brasília é que os integrantes das duas tuagem na rua, e não em boates e bares da moda, até porque na cidade onde moram eles ntêm essas opções de lazer. A guerra entre a Gangue do
gue Pão de Queijo (GPQ) e a Gando Diabo Loiro (GDL) — assim são identificados os grupos de
50
Santa Maria — é motivada pelo ia.
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iroteio, a dona-
tráfico de drogas, segundo a políc“Os integrantes dessas duas turmas fazem assaltos em pode gasolina e no comércio em gerapara comprar armas e se fortalecer na disputa pelo controle dos pontos de venda de ddiz a delegada Tânia Maria Dias, adjunta da 33ª Delegacia de Políci(Santa Maria). Tânia conta quesão investigadas desde as primeiramortes, em julho do ano passado. “Acreditamos quintegrantes de cada lado. Abrimos inquérito contra quase todos. Em breve, prenderemos os líderes”, gaHá um mês, agentes da 33ª DP cumpriram mandados dee apreensão nas casas de 17 suspeitoForam encontradas e recolhidas aramas brancas, toucas — supostamente usadas em ex—, cadernos com anotações, entre outras provas. A delegada não reveldos líderes das quadrilhas rivais. Diz apenas que os membros dos bandos têm entre 15 e 21anos, todos moram em Santa Me foram presos ao menos uma vez. Alguns fazem questão de deixar os codinomes nas inúmeras pichações dos muros da cidade, onde inscrevem as siglas GPQ e GDL para informar qual a ganintegram. Entre os apelidos identificados pelo Correio eZupy, Kzop, Dyg, Xarop e Leon. Vítimas As vítimas nas ruas de Santa Maria são Manoel Matias de So28 anos, e Tiago Soares da Silva, 19. Os dois morreram no último domingo, durante um tiroteio. Ambos estavam em uma casa do Conjunto da QC 1 da cidadeOs investigadores da 33ª DP afirmam que Tiago fazia parte da GDL e desconfiam que ele e o amigo foram assassinados por rda GPQ. Logo em seguida ao duplo homicídio, um grupo de jovens armados foi ao Conjunto E da Quadra 308 e disparou contra uma das casas. Nesse segundo tde-casa Maria Terezinha de
51
Oliveira da Paz, 54 anos, acabou
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ferida com duas balas. Passou trêsdias internada no Hospital Regionaldo Gama. Para a polícia, a tentativa de homicídio foi motivada pelas mortes dos dois jovenQC 1. Um dos filhos de Maria Tefaria parte da GPQ, segundo os investigadores. Integrantesda GDL teriam ido à casa dele vingar a morte dos colAcabaram atirando na mãe por ela ter tentado defender o filho. A reportagem encontrou Maria Terezinha e dois filhos em casa,quinta-feira passada. A família estava de mudança. “Não querofalar sobre o que houve aqui porque trouxe complicações para o meu filho”, disse, sem esconmedo. Em outro ponto da cidade, uma família também tentava se proteger. A mãe, quatro irmãs e sobrinhos de Manoel Neto estavareclusos, na companhia de três parentes. “Desde o dia dcrime, a gente mão dorme. Ficaatentos a qualquer barulho de moto”, contou Luciana, 2anos, uma das irmãs do rapaz assassique tinha passagem pela polícia por portedeixou dois filhos, de oito meses e sete anos. CampanhaO vice-presidende Vítimas da Violência (Convive), Kléber Ranieranos, defende a fiscalização nas academias de artes marci“A violência nos preocupa muito. Em cada esquina tem uma academia com professores desÉ preciso haver um maior controsobre isso”, afirma. Para Kléber, o papel da família é primordialna formação do filho. “O pai temestar presente e saber com quem o filho andaFalta apenas diálogo e carinho dentro de casa”, ressalta.O Convive trabalhapreventivas e educativas de combate à violência de1999. A ONG reúne entidades
52
familiares e amigos de pessoas vitimadas no Distrito Federal e outros estados brasileiros. Em 27
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selho nais
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a redenciamento
dança e musculação.
de junho de 1998, Kléber perdeu seu irmão Thiago Chagas Felipe. Ele foi assassinado após um assaltembaixo do seu prédio. Desde então, ele luta para outras famílias não passem pelomesmo problema. Professores de ativilutas e danças não têm que ter, obrigatoriamente, o regido Conselho Regional de EducaçFísica. Isso porque essas não são consideradas atividades fíLiminar concedida em 2001 pelo juiz Jamil Rosa de Jesus14ª Vara Federal, proíbe o conselhde fiscalizar os professores de artes marciais e dança. Apesar da lacuna, o conbrasiliense tem 7 mil profissiocadastrados nas mais diferentes áreas. São homens e mulheres exou graduados em educação física que portam uma cédulde identidade profissional. O ctambém se estende a academias de luta,Os estabelecimentos autorizados pelo Cref-DF mantêm os