PERFIL DO SETOR CERAMISTA DA MICRORREGIÃO DE IRECÊ-BA
Meneses, F. P¹.; Marques, J. M¹.; Santos, S. A¹.; Machado, T.G².; Monteiro, F. M¹,³,4.
¹IFBA – Campus Irecê; ² IFBA – Campus Jacobina; ³ IFRN; 4PPGEM-UFRN
Avenida Senador Salgado Filho, 1559, Tirol. Natal - RN I CEP 59015-000 E-mail: [email protected]
RESUMO: Os produtos cerâmicos estão presentes no cotidiano da humanidade desde os primórdios da civilização. Usados para diversas funções, esses materiais podem ser encontrados em simples objetos como pratos e jarros, até em produtos de alta complexidade tecnológica como, por exemplo, componentes para equipamentos eletrônicos. Conhecer os diversos ramos desse setor é primordial para encontrar novas fontes de matéria prima e estabelecer parâmetros para poder melhorar seu processo produtivo e a qualidade do produto final. Por fim, o objetivo deste trabalho é diagnosticar os empreendimentos cerâmicos da região de Irecê-BA, levantando suas principais características econômicas e de gestão; e assim trazer informações construtivas para o setor ceramista dessa microrregião e divulgá-las na comunidade científica. Palavras–chave: Irecê, Cerâmica, argila, fornos, microrregião.
1. INTRODUÇÃO
Os materiais cerâmicos, metálicos, poliméricos e compósitos estão
evoluindo paralelamente com a humanidade. Não é possível falar em evolução
tecnológica na sociedade e não citar os materiais como protagonistas na
melhoria da qualidade de vida das pessoas. Nos primórdios da civilização a
argila era usada em algumas tarefas, sendo utilizadas para confecção de tintas
com o objetivo de descrever as atividades diárias e outras tantas situações
vividas. Outra utilização desse material foi na produção de artefatos para
manusear e armazenar alimentos. Por ser de fácil moldagem a argila, outrora
rígida, era umedecida e logo em seguida transformada em utensílios dos mais
variados tipos para diferentes aplicações; apresentando um papel importante
para o homem primitivo e no decorrer dos séculos até chegar os dias atuais.
Desde os mais simples utensílios domésticos produzidos pelos “homens
primitivos” até as mais sofisticadas peças para o setor industrial passaram-se
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séculos de inovação, modificação e transformação com o único objetivo de
melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Os materiais cerâmicos são assim divididos: cerâmica tradicional, cerâmica
de revestimento, louças de mesa e sanitárias e cerâmica avançada. O setor de
cerâmica tradicional encontra-se subdividido em cerâmica vermelha e cerâmica
branca. Define-se como Cerâmica Vermelha os materiais utilizados pelo setor
da Construção Civil cuja coloração é vermelha, devido à presença,
principalmente, do elemento ferro em sua composição; tendo como principais
exemplos os blocos, telhas, lajotas e tubos. (1) O faturamento do setor no ano
de 2013 compreendeu um montante de R$ 21 bilhões com uma produção de
71 bilhões de peças. (2)
O setor de cerâmica vermelha é importantíssimo para a economia brasileira.
Entre os setores que trazem desenvolvimento ou são considerados como
termômetros do desenvolvimento econômico de uma nação tem-se o setor
macroeconômico da Construção Civil, onde os produtos de cerâmica vermelha
são diretamente aplicados. Para se ilustrar a importância econômica desse
setor para o Brasil, ainda no ano de 2012 a receita desse setor compreendeu
um valor de R$ 336,6 bilhões. (3)
Os empreendimentos produtores de cerâmica vermelha são protagonistas
para potencializar uma parcela significativa do PIB brasileiro. Esse setor é
composto por cerca de 6000 (seis mil) indústrias cerâmicas espalhadas pelo
Brasil. (1) Nesse caso não se têm citado os milhares de olarias que trabalham
de forma artesanal pelos rincões do Brasil. Portanto, é perceptível que esse
setor ainda encontra-se carente de investimento em ciência e tecnologia para
melhorar a produção. A pulverização desses empreendimentos no território
nacional dificulta a construção de dados estatísticos. A maioria dos polos
cerâmicos do país organiza-se em APL’s (Arranjos Produtivos Locais). Com
isso existe a possibilidade dos órgãos do setor privado e governamental (2)
conhecer, diagnosticar e buscar formas de incentivo tecnológico para esses
empreendimentos; sendo um dos passos fundamentais para melhorar a
qualidade final dos produtos. Consequentemente o resultado final será mais
emprego e renda para região onde cada empreendimento está localizado.
A microrregião de Irecê está localizada no Estado da Bahia,
especificamente na zona fisiográfica da chapada diamantina setentrional.
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Composta por 19 municípios, a sua área geográfica abrange o polígono das
secas. O município mais desenvolvido e que também nomeia a microrregião é
Irecê.
A microrregião de Irecê possui uma população de 373 mil habitantes. A
economia da região é composta principalmente pelo agronegócio, comércio,
agricultura familiar e criações de caprinos e ovinos. No que se refere ao
agronegócio na microrregião, vale destacar que o município de Irecê já foi
conhecido como capital mundial do feijão. Todavia, atualmente toda
microrregião sofre com a estiagem prolongada, causando inúmeras perdas
financeiras e consequentemente agravando a desigualdade social. Por outro
lado, percebe-se que devido ao crescimento do Brasil dos últimos anos, o
município de Irecê encontra-se em uma ebulição econômica e demográfica,
mesmo sendo afetado por um quadro climático desfavorável. Apesar da
microrregião de Irecê ser rica em recursos minerais, não existe nenhum
levantamento sobre suas potencialidades ceramistas. Além disso, não é
possível identificar estudos sobre argilas vermelhas e cauliníticas da
microrregião ou qualquer levantamento sobre suas jazidas de matéria prima.
Outro questionamento importante é sobre o comércio da cerâmica tradicional
da região, que praticamente desconhece suas potencialidades e seus produtos.
Por fim, o objetivo desse trabalho acadêmico é diagnosticar os
empreendimentos cerâmicos da região de Irecê, levantando suas principais
características econômicas e de gestão e assim trazer informações
construtivas para o setor ceramista da microrregião; além da divulgação na
comunidade acadêmica como forma de contribuir para o desenvolvimento local
e regional. (3)
2. MATERIAL E MÉTODOS Todo o embasamento para construção do artigo foi realizado através de
visitas e entrevistas com os responsáveis pelos empreendimentos cerâmicos,
objetivando-se a construção do perfil das indústrias cerâmicas da microrregião
de Irecê; fazendo parte integrante de projeto desenvolvido em parceria com a
Fapesb (Fundação de amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) através do
programa PIBIC-EM (direcionado ao ensino médio) no Instituto Federal da
Bahia - IFBA.
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O primeiro passo foi realizar uma pesquisa informal com os empresários do
ramo de varejo da Construção Civil, solicitando informações sobre os
fornecedores. A partir desse ponto diagnosticou-se a existência de indústrias
cerâmicas nos municípios de Xique-Xique, Barra, Morro do Chapéu e Ibititá.
Com exceção de Barra, os demais municípios fazem parte da microrregião de
Irecê. Em seguida foram realizadas visitas aos municípios citados em busca
dos empreendimentos cerâmicos. Em cada município realizou-se duas visitas
técnicas, aplicando-se questionários para obtenção das principais informações
dos empreendimentos.
A cidade de Xique-Xique fica a 548 km de Salvador, capital do Estado da
Bahia. É uma cidade ribeirinha fundada nas margens do rio São Francisco.
Sua economia é fundamentada na pesca, na agricultura, na criação de
caprinos e ovinos, em serviços e também na produção de cerâmica vermelha.
Em Xique-Xique encontra-se um polo cerâmico com sete indústrias, além das
olarias que existem de forma não oficial em torno do rio. É o município polo
nesse setor na microrregião. Apenas uma cerâmica não foi visitada por
questões de localização e outra se indispôs a fornecer as informações
solicitadas.
O município de Barra possui características similares ao de Xique-Xique,
principalmente na economia. Com cerca de 13 mil habitantes, a cidade é
construída nas margens do rio São Francisco e localiza-se a uma distância de
200 km do município de Irecê. Em Barra realizou-se uma visita a uma indústria
cerâmica, apesar de possuir duas. Além disso, existe a produção de
artesanatos (jarros, pratos, peças decorativas entre outros produtos) fabricados
por uma associação local. Também são confeccionadas imagens sacras por
um “santeiro/artesão” da localidade. Nas margens do rio São Francisco, com a
chegada da estiagem, são produzidos blocos maciços em olarias improvisadas.
Nesse período o rio deixa de ocupar longas extensões de terras que agora se
tornam microempresas para construir de forma rudimentar esses produtos.
Outro município que visitado para diagnosticar as indústrias cerâmicas
locais foi Morro do Chapéu. No distrito de Fedegosos, existe uma cerâmica
produtora de materiais cerâmicos de coloração branca. É o único
empreendimento daquela região.
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A cerca de 30 km de Irecê encontra-se o município de Ibititá. Nessa cidade
existe uma indústria cerâmica produtora de blocos de cerâmica vermelha. Além
disso, a cidade possui em torno de quinze olarias de produção de blocos
maciços.
Com o resultado dos relatórios aplicados nos empreendimentos ceramistas,
obteve-se o perfil desse setor na microrregião. O que resultará em uma
provável fonte de estudo para construção de melhorias tecnológicas para o
setor.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesse capítulo têm-se os resultados da pesquisa distribuída por
município. O primeiro é o município de Xique-Xique, logo em seguida Barra,
Ibititá e Morro do Chapéu.
- Município de Xique-Xique
Com sete cerâmicas distribuídas no seu território, Xique-Xique consolida-
se como um polo ceramista com potencial econômico e com excelente
oportunidade de expansão. A predominância da linha de produção são os
blocos e lajotas. Apenas uma cerâmica produz telhas e blocos. O processo de
secagem das peças é natural. Nenhuma cerâmica da região de Xique-Xique
possui algum tipo de processo para acelerar essa etapa da produção. Os
números apresentados foram coletados através das entrevistas com os seus
responsáveis. No Quadro 1 encontra-se de forma descritiva o perfil de
produção dos empreendimentos desse município.
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Quadro1 – Perfil das Cerâmicas do município de Xique-Xique.
Ao observar o Quadro nota-se que existe uma produção considerável no
polo ceramista de Xique-Xique. Outro dado importante na pesquisa foi o
percentual de perdas em cada queima, ficando em torno de no máximo 5% das
peças produzidas. Um dos equipamentos mais importantes que se encontram
nas indústrias cerâmicas são os fornos, pois a energia gasta no processo de
queima corresponde, em média, a 50% do valor total do investimento para a
produção de peças cerâmicas. As cerâmicas do município de Xique-Xique
possuem fornos, na maioria, do tipo Paulistinha. Na Figura 1 encontra-se um
dos fornos pertencente às cerâmicas do município de Xique-Xique.
Figura 1 – Forno encontrado nas cerâmicas de Xique-Xique.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Outros exemplos de fornos que também são encontrados nessas
indústrias, são os do tipo Sedan, Cearense e Túnel. No Quadro 2 tem-se a
discrição de cada cerâmica em relação aos fornos e também a disponibilidade
NOMES DAS CERÂMICAS
PRODUTOS FABRICADOS
QUANTIDADE DE PEÇAS POR MÊS
CASA NOVA Blocos -
CARVALHO Blocos e lajotas 500.000
CAMPINENSE Blocos 400.000
XIQUE-XIQUE Blocos, Lajotas e telhas 600.000
TELHA FORTE Blocos 300.000
- TOTAL 2.100.000
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de tecnologia para diminuir o impacto ambiental causado pela queima de lenha.
Apenas uma cerâmica descreveu seu projeto para diminuir os poluentes da
atmosfera. Nesse caso, através de dispositivos, a fumaça causada pela
queima da lenha antes de sair pela chaminé é levada para outra câmara onde
se joga água para diminuir sua quantidade de material particulado em
suspensão.
Quadro 2 – Tipos de fornos e impacto ambiental.
NOMES DAS CERÂMICAS
TIPO DE FORNO QUANTIDADE TECNLOGIA PARA DIMUIR O IMPACTO
AMBIENTAL?
CASA NOVA PAULISTINHA 2 -
CARVALHO SEDAN E CEARENSE 2 -
CAMPINENSE PAULISTINHA 2 -
XIQUE XIQUE PAULISTINHA 2 SIM
TELHA FORTE PAULISTINHA E TÚNEL
4 -
Na maioria dos fornos em cada queima eram produzidos em torno de 30
mil peças. Outros aspectos foram investigados nas cerâmicas de Xique-Xique.
A quantidade de funcionários, o tempo de funcionamento do empreendimento,
a origem da matéria prima utilizada e a existência de ensaios tecnológicos para
caracterização da matéria prima (análise química, índice de plasticidade, limite
de liquidez, dentre outros), bem como do produto final obtido. A quantidade de
funcionários foi descrita como todos os empregos diretos e indiretos envolvidos
com as diversas etapas de produção de cada cerâmica. No Quadro 3 se tem
essas informações.
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Quadro 3 – Fornos e tecnologias utilizadas para diminuir o impacto ambiental.
NOMES DAS CERÂMICAS
QUANTIDADE DE FUNCIONÁRIOS
TEMPO DE FUNDAÇÃO
ORIGEM DA MATÉRIA PRIMA
ENSAIOS TECNOLÓGICOS
CASA NOVA 09 4 anos Xique-Xique NÃO
CARVALHO 15 15 anos Xique-Xique SIM
CAMPINENSE 25 14 anos Xique-Xique NÃO
XIQUE-XIQUE 20 20 anos Xique Xique NÃO
TELHA FORTE 38 10 anos Xique-Xique SIM
Ao analisar o Quadro 3 nota-se que as indústrias cerâmicas do município
de Xique-Xique já encontram-se no mercado em um período de tempo
razoável, tendo em média 13 anos de fundação. O que demonstra uma
viabilidade real dessa atividade na região. Além disso, outro ponto abordado
nas entrevistas com os empresários foi o uso de métodos tecnológicos.
Conforme resultado já explicitado, apenas duas cerâmicas fazem testes iniciais
na matéria prima. É bem verdade que as propriedades da argila podem se
modificar de uma jazida para outra, ou até mesmo em porções do material da
mesma jazida. Uma das dificuldades para se trabalhar com cerâmica estrutura
é a falta de uma composição unificada da matéria prima. Um ponto importante
foi destacado pelos proprietários das empresas: a matéria prima da região é de
boa qualidade. Conforme já se relatou, o percentual de perdas da produção é
cerca de 5%. Nas cerâmicas de Xique-Xique praticamente trabalha-se apenas
com um tipo de argila. Dificilmente se utiliza dois ou três tipos para compor a
massa cerâmica. Portanto, testes periódicos seriam necessários para
efetivação de um acompanhamento tecnológico. Ensaios no produto final
obtido não vêm sendo realizado por essas empresas, garantindo a qualidade
final dos mesmos, além de atender as especificações normativas de qualidade
nos produtos cerâmicos. Na Figura 2, têm-se os blocos produzidos no
município de Xique-Xique.
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Figura 2 – Blocos cerâmicos do Município de Xique-Xique.
Fonte: Arquivo Pessoal.
- Município de Barra Apesar de não fazer parte oficialmente da microrregião de Irecê, o
município de Barra possui uma ligação comercial bem acentuada com os
demais municípios que compõem a microrregião. Na cidade existem duas
cerâmicas e ambas produzem blocos e lajotas. Não se diferenciam muito das
cerâmicas de Xique-Xique. Ao contrário dos demais municípios que possuem
empreendimentos no setor ceramista, em Barra existem a produção de
artesanatos utilizando cerâmica vermelha. A Associação Comunitária Nossa
Senhora de Fátima, formada por moradores da localidade, fabricam peças
variadas utilizando a argila extraída dos arredores e margens do rio São
Francisco. Seus produtos variam de um simples bibelô até jarros e estátuas,
todos produzidos por homens e mulheres. As peças são destinadas ao
comércio local, da microrregião e de Salvador (Capital do Estado da Bahia). O
principal problema relatado pelas artesãs é a falta de tecnologia. Os fornos são
bastante simples e o percentual de perdas na produção, dependendo da
matéria prima utilizada, chega aos 80% por queima. Nas figuras 3 e 4
encontram-se os principais produtos fabricados pela associação de artesãs de
Barra.
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Figura 03 – Peças artesanais do Município de Barra antes da queima.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 04 – Peças Artesanais do Município de Barra após a queima.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Outra fonte de renda no setor ceramista que é desenvolvido na região é a
fabricação de blocos maciços nas margens do rio São Francisco no período de
estiagem, quando o volume de água no rio encontra-se reduzido. Verificamos a
existência de duas olarias fixas, porém essas olarias de produção artesanal
podem ser dezenas em toda extensão do rio São Francisco. São criadas
informalmente e produzem para o consumo do município e de outros lugarejos
da região.
O processo para produção dos blocos é bem simples. Inicialmente a
argila é retirada da jazida (na margem do rio), logo em seguida é amassada
com os pés, ou utiliza-se de instrumentos (enxadas ou pás) para auxiliar nessa
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etapa. O próximo passo é colocar nas fôrmas para obter o formato do bloco e
levá-los ao forno. A secagem das peças é realizada a céu aberto. Toda
produção é muito artesanal e rudimentar, chegando a serem produzidos cerca
de 500 blocos por dia. É evidente que essa produção depende das intempéries
do tempo. O tipo de forno utilizado é bem peculiar da região, sendo construído
por uma base de blocos maciços em formato circular e com a entrada de lenha
na parte inferior. Em geral suportam em torno de 200 a 500 peças por queima.
Os fornos utilizados pelos ribeirinhos para produção de blocos maciços
encontram-se retratados na Figura 5.
Figura 5 – Forno utilizado nas olarias da margem do rio São Francisco.
A produção de blocos maciços nas margens do rio São Francisco encontra-se na
Figura 6. Na imagem é possível visualizar o molde utilizado pelo responsável da
produção e atrás os blocos sendo secados ao ar livre.
Figura 06 – Molde dos blocos maciços e blocos na secagem natural.
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Fonte: Arquivo Pessoal.
- Município de Ibititá
O município de Ibititá encontra-se a aproximadamente 497 km de
Salvador. Sua economia é baseada na agricultura e nas criações de animas
(caprinos e ovinos). Nessa cidade encontra-se uma cerâmica produtora de
blocos e lajotas - Cerâmica Almeida. A cerâmica possui dois fornos, sendo um
do tipo Sedan e outro Cearense. A produção gira em torno de 200 mil
peças/mês. O mercado consumidor é a própria microrregião de Irecê. A
qualidade da matéria prima faz com que as perdas na produção cheguem ao
percentual de no máximo 5% por queima.
Além da cerâmica, existem em Ibititá cerca de quinze olarias informais
produtoras de blocos maciços. A produção é realizada a céu aberto e sem
necessidade de ter uma fonte de água constante próxima. São
empreendimentos, na sua maioria, de caráter familiar, criados para ajudar no
orçamento familiar. Conforme relato dos produtores, em média se produz
cerca de 200 blocos por dia. Contudo, esse número é pouco confiável tendo
em vista que existem variáveis que influenciam diretamente na produção
(intempéries do tempo, quantidade de funcionários, água disponível, entre
outras).
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Na Figura 7 encontram-se imagem dos produtos das olarias do
município de Ibititá.
Figura 7 – Blocos maciços empilhados para secagem natural em Ibititá.
Fonte: Arquivo Pessoal.
Enquanto nas olarias de Xique-Xique os blocos eram queimados em um
forno construído nas margens do rio, em Ibititá os blocos são empilhados de tal
forma que sua forma sirva também como estrutura para o forno. A Figura 8
percebe-se nitidamente essa estrutura fabricada para servir como forno.
Conforme relatos dos produtores, em no máximo oito horas, quatro mil blocos
são queimados.
Figura 8 – Blocos empilhados para queima nas olarias de Ibititá.
Fonte: Arquivo Pessoal.
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- Município de Morro do Chapéu
Situado na chapada diamantina, o município de Morro do Chapéu
encontra-se a 384 km da Capital Salvador. É conhecido pelas suas belezas
naturais e pelo clima tropical de altitude. Sua economia possui como base a
agropecuária, serviços e o ecoturismo; esse último ainda carente de
investimentos. No município de Morro do Chapéu encontra-se uma cerâmica
de característica peculiar para a região. Seus produtos são de cores que
passam do amarelo claro para o branco. É evidente que essa característica é
resultado da concentração de caulim na argila e outros óxidos presentes. A
cerâmica encontra-se localizada no distrito de Fedegosos, a 50 km da sede do
município. A produção é de blocos e telhas do tipo portuguesa. O forno
utilizado na cerâmica é do tipo Sedan. A quantidade de perdas em cada
queima gira em torno de 2 a 5%.
Na Figura 9 encontra-se o interior da cerâmica de Morro do Chapéu,
produtora de blocos e telhas de coloração amarelada.
Figura 9 – Produtos da Cerâmica de Morro do Chapéu.
Fonte: Arquivo Pessoal.
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CONCLUSÕES
Os empreendimentos ceramistas de caráter formal (indústrias cerâmicas)
localizados na região de Irecê são, na sua maioria, administrados por famílias.
São empresas já consolidadas no mercado da região. Com produção
relativamente alta, girando em mais de cem mil peças por mês. Quando se fala
nas olarias encontradas nas margens do rio São Francisco ou no município de
Ibititá, nota-se que sua produção é totalmente artesanal. Produzem em média
duzentas peças por dia. Geralmente são os próprios proprietários e os
membros da família que fabricam e vendem os blocos.
Conhecer a matéria prima é um passo importante para entender todo o
ciclo de produção da indústria cerâmica que, na microrregião de Irecê, possui
qualidade e características que merecem consideração pela baixa
porcentagem de perdas da produção. Também nota-se que o mercado
consumidor da região absorve os produtos cerâmicos produzidos, mas existem
lacunas econômicas que deveriam ser preenchidas. Ainda é possível encontrar
produtos trazidos de outras regiões da Bahia. A mão de obra qualificada é um
fator que deve ser considerado. Poucos profissionais possuem algum curso na
área dentro dos empreendimentos visitados, com exceção das olarias que não
possuem qualquer aspecto tecnológico.
A microrregião de Irecê ainda carece de informação básica sobre os
produtos cerâmicos. Isto é perceptível na visita às artesãs do município de
Barra.
Por fim, ao analisar todo o contexto da microrregião e as informações
expostas, nota-se que caso existissem investimentos em tecnologia, na mão de
obra e infraestrutura, o setor ceramista na microrregião teria plena condições
de produzir uma quantidade bem superior à atual, diversificação na produção e
certificação dos produtos obtidos. É necessário salientar, ainda, que faz-se
necessário um estudo mais amplo sobre a atual e futura fonte energética para
a queima cerâmica na microrregião de Irecê e na Bahia como um todo.
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AGRADECIMENTOS
Agrademos ao IFBA-Campus Irecê pela estrutura que foi ofertada. A
Fapesb pela bolsa de incentivo à pesquisa. Aos empresários que participaram
desse trabalho.
REFERÊNCIAS
(1) ABCERAM. Cerâmica no Brasil - Segmentos Cerâmicos: Cerâmica Vermelha.
Disponível em: <http://www.abceram.org.br/site/?area=34>. Acesso em: 28 jul. 2015.
(2) Ministério de Minas e Energia (MME) - Governo Federal. Anuário Estatístico do Setor
de Transformação de Não Metálicos. Brasília: Secretaria de Geologia Mineração e
Transformação Mineral, 2014. 20 v.
(3) IBGE. PAIC 2012: valor das obras da Indústria da Construção cresce 10,2% em
relação a 2011. 2014. Disponível em:
<http://saladeimprensa.ibge.gov.br/pt/noticias?view=noticia&id=1&busca=1&idnoticia=2
711>. Acesso em: 28 jul. 2015.
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