1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
PETICIONÁRIAS: DEMANDAS DE MULHERES CATIVAS NA AMAZÔNIA
COLONIAL PORTUGUESA (SÉCULO XVIII)
Luma Ribeiro Prado1
Resumo: Indígenas escravizados, sobretudo índias mulheres, apresentaram um número significativo
de requerimentos, petições e apelações aos tribunais das Juntas de Missões das cidades de São Luís
do Maranhão e Belém do Pará, por vezes, insistiram, encaminhando seus pedidos à Casa da
Suplicação, em Lisboa, e algumas de suas demandas conseguiram alcançar até mesmo o rei, em
Portugal. Denunciando a irregularidade do cativeiro, ansiavam livrar-se de maus tratos e condições
árduas de trabalho, assim como conquistar o direito de poder escolher com quem casar, onde morar,
a quem servir e, inclusive, ter restituída a liberdade e poder transmitir tal condição à descendência.
Esta comunicação apresentará o uso que trabalhadores indígenas escravizados fizeram de
mecanismos do aparato colonial em prol de seus interesses, procurando entender, especialmente, a
preponderância das demandas de mulheres entre os peticionários indígenas na Amazônia colonial
portuguesa ao longo do século XVIII. Vale dizer que a abordagem atenta ao gênero representa para
nós mais do que um detalhamento dos agentes peticionários segundo perfis, indicando ademais um
problema de cunho historiográfico.
Palavras-chave: Escravidão indígena. Demandas. Mulheres. Amazônia colonial. século XVIII.
A “negra da terra” Antônia, insatisfeita com o cativeiro ao qual estava sendo submetida por
Manoel Soeiro da Silva, apresentou petição de liberdade ao tribunal da Junta de Missões de Belém
do Grão-Pará. No dia 26 de fevereiro de 1751, a índia compareceu à reunião da Junta, no palácio do
governo, afirmando ser “livre de sua natureza”, uma vez que descendia da índia Páscoa2,
pertencente à nação Arapium, assentada na confluência do rio de mesmo nome com o grande
Tapajós. Declarou ainda que sua mãe fora trazida para esta cidade, contra as leis de Sua Magestade,
por Paulo Ferreira Ribeiro. Afirmou também que depois de sua mãe e ela própria ter estado a
serviço de diversos senhores, o sobredito Manoel da Silva estava, por vias ilícitas, obrigando-a a
servi-lo como escrava, de maneira que requeria fosse julgada por “forra”.
1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História Social, FFLCH-USP, São Paulo, Brasil. Bolsista
CAPES/FAPESP (processo nº 2016/18462-9) com o projeto: “Ações de Liberdade: o uso da justiça por índias e índios
na Amazônia portuguesa, século XVIII”. Agradeço as sugestões de minha amiga e historiadora feminista, Nadiesda
Dimambro. Sou muito grata também a primeira feminista de minha vida, minha mãe, Márcia Helena Ribeiro, que viajou
de Minas até Santa Catarina para me acompanhar neste congresso. O conteúdo deste trabalho, como não podia deixar de
ser, é de minha inteira responsabilidade. 2 Tratam-se do que podemos chamar de índios coloniais, por isso, foram batizados e receberam nomes em
português. Da índia Páscoa sabemos a procedência (marcada pelo rio de origem) e a nação a qual pertencia, o que é
exceção entre os peticionários e seus ascendentes na Amazônia colonial. Caso diferente são as peticionárias do atual
Chile, para saber mais, cf.: (VALENZUELA MÁRQUEZ, 2017).
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Os deputados convocados pelo governador e capitão general do Estado do Maranhão,
Francisco Pedro de Mendonça Gorjão, para a sessão de Junta daquele dia, conforme o costume,
chamaram ao tribunal Paulo Ferreira Ribeiro, que havia trazido a mãe de Antônia do Sertão3, para
que se justificasse. Paulo confessou ser verdade tudo o que a suplicante requeria. Tendo em vista as
causas apresentadas e a mencionada confissão, o pedido foi deferido, decidindo-se uniformemente
que a índia Antônia ficasse “forra e isenta de todo o cativeiro”. Ao suplicado, Manoel Soeiro da
Silva, ficou, porém, reservado o direito de recorrer à decisão de acordo com os meios competentes.
E o secretário do Estado, João Antônio Pinto da Silva, redigiu o termo que foi assinado pelos
deputados presentes na reunião4.
Esta é uma petição de liberdade apresentada por uma mulher indígena ao tribunal da Junta
de Missões da capitania do Pará e registrada em ata pelo secretário do Estado, à época, também
secretário da Junta, portanto, seu escrevente5. Ainda que, infelizmente, não tenhamos acesso direto
ao pedido da índia - podendo este ter sido realizado de maneira oral ou talvez escrita - temos fixada
na ata da reunião sua demanda e o consequente despacho do tribunal, bem como podemos entrever
sua trajetória, sobretudo no que diz respeito ao modo de escravização e às condições de cativeiro às
quais a índia Antônia e sua mãe foram submetidas.
Um número significativo de indígenas, mamelucos e cafuzos escravizados, da mesma forma
que Antônia, mobilizaram instâncias administrativo-jurídicas coloniais e metropolitanas
pretendendo ampliar os limites do cativeiro ao qual estavam submetidos durante todo o século
XVIII, antes e depois da Lei de Liberdade dos índios (1755)6. Tais demandas foram registradas nas
atas das ouvidorias e dos tribunais das Juntas de Missões de Belém do Pará e de São Luís do
3 Nesta pesquisa, empregamos o termo Sertão e seus equivalente Sertões, Sertão ou Sertões das Amazonas
(amplamente encontrados na documentação), para tratar destas áreas, por vezes, apartadas das vilas e cidades, mas nas
quais tinha lugar uma série de práticas - notadamente práticas escravistas, de conversão e de extrativismo - que se
relacionavam de modo direto com o processo colonial. “O sertão amazônico colonial, diferentemente de outros sertões
das conquistas portuguesas na América, não parece ter sido construído em oposição ao litoral (principalmente às cidades
de São Luís e de Belém). O Estado do Maranhão e Pará não podia existir sem o seu sertão”. (CHAMBOLEYRON;
BONIFÁCIO; MELO. 2010, p.49). Vale dizer que, justamente por conta dessas atribuições, Sertão não tinha lugar fixo,
antes era marcado pela mobilidade, de maneira que sua localização acompanhava o avanço colonial, correspondendo à
expansão das frentes de missionação e de escravização. 4 Termo de Junta das Missões [26/02/1751]. (WOJTALEWICZ, 1993, p.166-167). 5 Para aproximar-se do funcionamento das Juntas de Missões, recomendamos, com ênfase, a leitura de: (Mello,
2007). 6 A Lei de Liberdade dos Índios proibiu, definitivamente, a escravização de indígenas e de seus descendentes,
excetuando os índios filhos de negras escravizadas. Logo, a existência de petições por liberdade de indígenas, após a
declaração desta lei, aponta para um contexto de escravização disfarçada. Mais a frente (no tópico Peticionárias...)
trataremos, sumariamente, da legislação responsável pela regulamentação do cativeiro indígena. Para a íntegra dessa lei,
confira: Lei restitui aos índios do Grão-Pará e Maranhão a liberdade de suas pessoas, bens e comércio na forma que
nela se declara [06/06/1755]. (NAUD, 1971, p. 256-261).
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Maranhão, como também temos referência delas em cartas e ordens régias, quando chegaram até à
Casa da Suplicação e ao rei. Neste trabalho, procuraremos alcançar os sujeitos peticionários através
da quantificação e análise de suas demandas, lançando hipóteses a respeito de algumas das
circunstâncias concretas de suas vidas como trabalhadoras e trabalhadores escravizados na
Amazônia dos setencentos7. É particularmente interessante destacar, sobretudo considerando o
escopo deste congresso, que a maioria dos peticionários eram mulheres, o que notamos,
primeiramente, na historiografia e pudemos confirmar em nossa pesquisa.
A historiografia sobre as ações de liberdade de indígenas e seus descendentes na Amazônia
portuguesa
Apesar de se tratar de um tema com bastante potencial de investigação - já que existe uma
quantidade significativa de documentos, referentes à Amazônia portuguesa, a respeito de indígenas
e seus descendentes que realizaram litígios em busca de liberdade -, bem como iminente interesse
historiográfico, por poder se conformar como uma temática capaz de dialogar com a agenda da
agência histórica na história indígena8, poucos foram os estudiosos que diretamente se debruçaram
sobre a questão.
David Sweet foi o primeiro deles ao publicar, em 1981, um ensaio a respeito da trajetória da
índia Francisca9. Baseando-se no processo integral de ação de liberdade realizado pela escrava
contra sua proprietária, D. Ana de Fonte, e mobilizando conhecimentos sobre o contexto da
escravidão colonial na Amazônia, o historiador estadunidense narrou o percurso da índia
escravizada no rio Negro que, nas margens do rio Guamá, recorreu ao tribunal das Juntas
reivindicando sua liberdade, em 1739. O autor contou-nos que o argumento apresentado pela índia
7 A Amazônia de que tratamos aqui é a de colonização portuguesa. Optamos por esta denominação - Amazônia
portuguesa - porque tal região colonizada passou por variações de denominação no período que estudamos, o século
XVIII. Na primeira metade do século XVIII, correspondia ao Estado do Maranhão e Grão-Pará e com o estabelecimento
do governo de Mendonça Furtado e a transferência da capital para a cidade de Belém, a região administrativa passou a
ser chamada de Estado do Grão-Pará e Maranhão. É importante destacar que colonização foi um processo e que,
particularmente, na Amazônia, um processo que se deu de maneira paulatina, sendo constituído por espécies de ilhas de
colonização - correspondente às missões religiosas, fortificações, vilas e cidades -, espaços pontuais rodeados de áreas
indígenas. Insistimos em tal denominação, apesar desta última consideração, pois os indígenas de que tratamos foram
inseridos forçosamente em tal sistema, através da escravidão. Logo, elas e eles foram testemunhas do processo colonial
e, considerando seus limites de ação, se voltaram contra ele. 8 Apesar de se tratar de uma questão essencial para a chamada história dos índios no Brasil, estas linhas não nos
parecem o lugar mais indicado para tal debate. Deixamos a provocação de que muito embora a questão da agência
histórica seja tomada como pressuposto para a história indígena, muitas vezes, tal historiografia acaba por não avançar
muito para além disso. 9 Em inglês e no espanhol, respectivamente: (Sweet, 1981), (Sweet, 1987).
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
de que fora escravizada ilegalmente (a ausência de certificado de escravização) e a inexistência de
autorização de resgate aos que a tiraram do Sertão garantiu-lhe, num primeiro momento, a
liberdade. Porém, ele acrescentou que uma apelação à Junta de Missões por parte da proprietária,
acabou obrigando Francisca a retornar ao cativeiro.
Este ensaio faz parte de um livro que pretendeu tratar de trajetórias individuais e biografias
coletivas de “subalternos” na América. Os trabalhos ali reunidos teceram tramas de indígenas
escravizados, índias e índios aldeados, cativos africanos e afro-americanos que por mais que
passassem por intempéries, acabavam por encontrar alguma maneira de resistir e procuravam a todo
custo melhorar suas condições de vida. Para David Sweet, o percurso da índia Francisca foi
entendido como uma destas trajetórias excepcionais, e na década de 1980 tanto as fontes conhecidas
quanto a historiografia corroboravam tal consideração10. Com cautela, o historiador escreveu:
Pelo que podemos saber até agora, este era um caso excepcional. A maioria dos escravos indígenas,
na Amazônia e em outras partes da América colonial, levavam uma vida tão severamente limitada
pela fome, pela ignorância, pelas doenças e pela dura disciplina que não tinham a oportunidade de
tais exercícios. Morriam aos poucos meses ou anos de cativeiro e para a maioria não havia tempo
para lutar pela melhoria de sua situação social (SWEET, 1987, p. 316, tradução nossa).
Por tudo isso, a maneira pela qual o historiador interpretou a vontade de liberdade e a opção pela
via jurídica da índia, em cativeiro durante cerca de vinte anos, foi a partir, primordialmente, de dois
pontos, a saber: a) como um esforço de “adaptação criativa” por parte da índia escravizada,
entendendo como inventiva a forma pela qual ela utilizou mecanismos jurídicos em prol de seus
anseios; b) articulada a um impulso de seu jovem amante, Angélico de Barros Gonçalves (mestiço,
homem livre e mestre alfaiate), em associação com a rede de amizade e apoio mútuo de indígenas
livres e mestiços - também livres e igualmente pobres - que a índia conseguiu mobilizar ao longo do
processo. Ou seja, David Sweet acabou por sobrevalorizar a ação da índia, ou melhor, de sua rede,
e, em especial, o impulso de seu jovem amante para explicar a possibilidade e a existência de tal
processo por liberdade. Explicação que reflete de alguma maneira a pouca preocupação do
historiador com o funcionamento das instituições coloniais.
10 Os demais processos por liberdade de indígenas parecem ter sido extraviados. O processo de Francisca
encontra-se na Biblioteca Nacional de Portugal (doravante, BNL): Coleção Pombal. Códice 642, f. 100-142. Em nossas
pesquisas, encontramos um outro processo integral por liberdade no Arquivo Histórcio Ultramarino (doravante, AHU).
Este é o original da citação que se segue: “Por lo que podemos saber ahora, éste era un caso excepcional. La mayoría de
los esclavos indios, en la Amazonia y en otras partes de la América colonial, llevaban una vida tan severamente limitada
por el hambre, la ignorancia, la enfermedad y la dura disciplina que no tenían oportunidad de tales ejercicios. Morían a
los pocos meses o años de su cautividad y para la mayoría no había tiempo para luchar por un mejoramiento de su
situación social”.
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Talvez em decorrência dessas conclusões de David Sweet e ainda por conta da dispersão da
documentação em fundos e arquivos diversos, por mais de duas décadas, não foram divulgados
trabalhos que tratassem das demandas por liberdade levadas a cabo por indígenas escravizados e
seus descendentes, também em cativeiro, na Amazônia de colonização portuguesa.
Foi somente nos anos de 2005 e 2006, com os trabalhos de Márcia Mello, que vemos esta
lacuna atenuar. A historiadora publicou dois artigos que buscaram compreender o acolhimento e a
tramitação das ações de liberdade como uma das atribuições do tribunal das Juntas de Missões11.
Apesar desta sua perspectiva de caráter institucional, que de uma maneira interessante complementa
àquela centrada nos sujeitos de David Sweet, a autora pôs em evidência a preponderância do
número de mulheres peticionárias. A historiadora da UFAM nos diz que: “Até o presente momento
de nossa investigação, de um total de 36 indicações de Processos de Liberdade, 28 envolviam
mulheres e apenas 10 citavam homens; e de 29 Petições e Requerimentos dos quais encontramos
referências, as mulheres apareciam em 20 deles e os homens em 9” (Mello, 2005, p.1). Desta forma,
Márcia Mello não só superou a expecionalidade do caso da índia Francisca, como ainda apontou
para o predomínio de mulheres nas demandas por liberdade.
Seguindo o rastro deste indício notado por Márcia Mello, procedemos com a análise
documental, assinalando a diferença de gênero entre os peticionários. Este caminho tem se
mostrado produtivo para entender um pouco mais das condições de sobrevivência e resistência de
mulheres e de homens escravizados naquele contexto.
As ações de liberdade propriamente
Até o momento, pudemos encontrar 184 litígios por liberdade em que participam, no
mínimo12, 349 trabalhadores escravizados, entre os anos de 1714 e 1774. Analisamos, por
enquanto, os quatro códices conhecidos dos tribunais das Juntas de Missões da Amazônia
portuguesa: o códice 1 “Livros de assentos, despachos e sentenças que se determinaram em cada
Junta de Missões na cidade de São Luís do Maranhão, 1738-1777”, do Arquivo Público do Estado
do Maranhão (doravante, APEM); o códice 10 “Alvarás, Regimentos e termos da Junta de Missões,
1720-1726”, do Arquivo Público do Estado do Pará (doravante, APEP); o códice 23 “Termos de
11 (MELLO, 2005), (MELLO, 2006). 12 No processamento dos dados, optamos pelo número mínimo. O que quer dizer que nos vários casos em que
aparecem o plural, como “filha(os), sobrinhas(os), netas(os)” o número adicionado na tabelação foi 2 - podendo,
eventualmente, ser uma quantidade maior ou bem maior que esta, mas nunca, menor.
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Junta de Missões”, também do APEP; e o “Livro dos termos das Juntas das Missões que se dariam
nesta capitania do Pará em que se julgavam as liberdades dos índios, cujas Juntas foram extintas
com a Lei de Liberdade que se publicou nesta cidade aos 29 de maio de 1756”, recolhido na
biblioteca James Ford Bell e transcrito na dissertação de mestrado de Wojtalewicz
(WOJTALEWICZ, 1993, p.84-185). Analisamos também o processo da índia Francisca,
salvaguardado na BNL, e do Mameluco Francisco Xavier, presente nos avulsos do Maranhão no
AHU, bem como dois pedidos localizados nos Anais da Biblioteca Nacional (doravante, ABN)13.
Constatamos uma concentração de ações de liberdade na década de 1750. Nesses anos,
foram apresentadas 117 demandas, o que corresponde a 63,6% do total de casos analisados, e
estiveram envolvidos nestes litígios 192 trabalhadores escravizados, correspondendo a 55% da
soma de litigantes. Avaliamos que tal crescimento está diretamente relacionado ao estabelecimento
do governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado na região, em 1751. Proponente da política
pombalina para Amazônia colonial portuguesa, o governador atuou na direção da transformação dos
indígenas em súditos do rei de Portugal o que passava pela contrariedade de seu cativeiro,
culminando na Lei de Liberdade de 1755. Vale dizer que, de acordo com nossas fontes, tal norma,
declarada em 1755, somente foi lida nos sobreditos tribunais em momento posterior. Na capitania
do Pará, em 28 de maio de 1757, e na do Maranhão, em 23 de setembro de 175714, o intervalo de
tempo entre a declaração da norma e sua enunciação nos aparatos administrativos, responsáveis por
sua aplicação e fiscalização, aponta para a distância entre o exercício da lei e a prática social.
Confirmamos a preponderância de mulheres peticionárias. 185 mulheres estiveram
envolvidas nos litígios, ou seja, 53% dos litigantes eram índias, mamelucas, cafuzas e mestiças em
situação de cativeiro. Em 40 de suas demandas, estenderam seus pedidos de liberdade a filhos,
sobrinhos e companheiros. Os homens estão presentes em 86 ações por liberdade, compondo
24,64% dos casos e somente incluíram sua parentela em 3 demandas.
Os demais sujeitos envolvidos nas demandas por liberdade (22,36%) estão referenciados na
documentação de maneira genérica como “filhos, filhas, sobrinhos, sobrinhas, netos, netas”, por
isso não foram arrolados nas estimativas de gênero. Porém, tendo em vista que principalmente as
13 Apesar de termos consultado fontes de diversos fundos, ainda persiste a seguinte lacuna documental: para a
capitania do Maranhão, os anos iniciais de 1683 a 1738. E para a capitania do Pará, o conjunto documental não cobre os
seguintes anos de atuação das Juntas: 1701-1720 e 1726-1736. Entretanto, produzimos dados que consideramos
significativos para entender o funcionamento dos tribunais das Juntas no que tange, exclusivamente, à questão da
liberdade litigada por indígenas e seus descendentes. Dando prosseguimento a esta pesquisa, pretendemos trabalhar com
a documentação das ouvidorias de Belém e de São Luís, que atuaram como Juízos das Liberdades. 14
A lei foi lida pela primeira vez em reunião de Junta na cidade de Belém, comprovando a nova centralidade
desta cidade na geopolítica do agora Estado do Pará e Maranhão.
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
mulheres estenderam seus pedidos aos seus parentes, estes casos relacionam-se, portanto, a elas, o
que faz com que o número de pedidos em que mulheres estiveram de alguma forma envolvidas
aproxime-se de 75% do total. Nos perguntamos, então: o que a preponderância de mulheres
litigantes pode nos dizer a respeito daquela sociedade? O que poderia ter significado o fato de mais
mulheres optarem pela via jurídica na luta por melhores condições para si e para seus descendentes?
Peticionárias: mulheres trabalhadoras contra o cativeiro
Iremos perscrutar a partir de agora as mulheres tornadas peticionárias por meio da análise de
suas demandas nos tribunais a fim de formular algumas hipóteses para responder às questões acima.
Em primeiro lugar, é importante reforçar que o denominador comum das peticionárias é o cativeiro.
De modo que questões como os maus-tratos, os limites da escravidão - como a impossibilidade de
morar onde quiser, de casar com quem quiser, de trabalhar com o que quiser e com quem quiser -
eram tensionados nos tribunais e a liberdade, seja ela para si ou para seus descendentes, era
constantemente almejada nos litígios.
As peticionárias conformam um todo compósito. Variedade que reside, sobremaneira, em
suas categorias sociais. Até a primeira metade do século XVIII, a grande maioria das demandas foi
feita por indígenas. Em meados dos setecentos, o número de peticionárias filhas de índias, mas
mamelucas, cafuzas e mestiças aumentou de maneira significativa, o que, com certeza, relacionou-
se com a Lei de Liberdade dos índios. Em tese, como vimos, todos os indígenas e os mestiços filhos
de mães indígenas não poderiam ser escravizados. Porém, após esta data, esses sujeitos continuaram
a apresentar petições por liberdade, o que nos indica um contexto de escravização disfarçada.
O principal argumento das peticionárias é, como no caso da índia Antônia, fundado no
direito natural, desta forma, são elas “naturalmente forras”, “forras por natureza”, “livres de
nascimento”. E, por isso, o proprietário é que deveria apresentar o certificado de escravização, pois
como os índios e seus descendentes eram considerados “naturalmente livres”, a necessidade de
comprovar o cativeiro estava nas mãos dos senhores. É como se eles fossem livres até que se
pudesse provar o contrário. Enquanto na escravização africana, passou-se, justamente, o oposto. Os
africanos e seus descendentes eram escravos até que pudessem comprovar sua liberdade,
apresentando carta de alforria ou coisa que o valha.
Somado ao direito natural, as peticionárias podiam recorrer ao direito positivo, mencionando
o cativeiro injusto ao qual estariam submetidas e exigindo que os proprietários apresentassem
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
certificado de escravização de acordo com as leis de 1688 e 175515 - de maneira bastante sucinta, a
primeira norma limitou o cativeiro às guerras justas16 e Tropas de Resgate oficiais17 e a segunda lei
proibiu, definitivamente, a escravidão indígena. Desta maneira, as ações de liberdade atuaram como
denúncia das práticas ilícitas de escravização, notadamente das amarrações, que consistiam pura e
simplesmente na invasão das aldeias e sequestro dos indígenas18.
Para reforçar o argumento, as litigantes costumavam alegar o emprego de violência e maus-
tratos pelos senhores. Este é caso de uma outra Antônia, também índia, que, em 1739, entrou com
pedido de liberdade no tribunal por conta das sevícias praticadas por seu novo senhor. De acordo
com a petição, seus primeiros proprietários, Diogo Freire, morador de São Luís, e Antônio Vieira,
residente na vila de Tapuitapera, lhe davam bom tratamento, porém o modo cruel com que Cipriano
Pavão a tratava tornou o cativeiro insuportável. Por nenhum dos proprietários apresentar certificado
de escravização, a índia Antônia foi considerada “forra e livre de cativeiro”19.
Nem todas as ações de liberdade obteram despacho com a mesma prontidão do caso de
Antônia. A cafuza Domingas viveu anos em litígio com sua senhora, a víúva Catarina Pereira, e
durante todo este tempo, peticionária e réu conviveram na mesma casa, o que deveria ser no mínimo
desconfortável. A disputa no tribunal das Juntas das Missões de São Luís foi morosa, teve início em
1754 e só terminou no ano de 1758, após a aplicação da “lei novíssima”. Domingas pedia que fosse
declarada “forra e livre de cativeiro”, a proprietária transformada em réu, foi chamada ao tribunal,
mas a ação acabou não tendo termo. Até que, após a lei de 1755, Domingas conseguiu provar que
apesar de ser cafuza, descendia de mãe índia, portanto tinha direito à liberdade20. O tribunal não
teve escolha e, após quatro anos de espera, Domingas obteve sua liberdade21.
15 Alvará em forma de Lei expedido pelo Secretário de Estado que derroga as demais leis que se hão passado
sobre os índios do Maranhão [28/04/1688]. ABN, 66 (1948), p. 97-100. Para a lei de 1755, confira nota 6. 16 Guerras realizadas contra grupos indígenas em caso de: a) impedimento da pregação do evangelho; b)
hostilidades contra vassalos do rei ou grupos nativos aliados dos portugueses; c) quebra de pactos celebrados. Os
prisioneiros de guerra tornavam-se legitimamente escravos. Para a referência da lei, vide nota 17. Vale dizer que a
prática nem sempre cumpria os pré-requisitos da lei. 17 Tropas de Resgate oficiais eram expedições, patrocinadas pela Fazenda real, que penetravam o Sertão tendo em
vista o resgate dos prisioneiros de guerras intertribais e que estavam “presos à corda” - que supostamente seriam mortos
em rituais antropofágicos. Em retribuição, os resgatados deveriam trabalhar para seu comprador. Sendo que o tempo de
cativeiro era determinado de acordo com o preço pago pelo proprietário. Para acessar a lei completa, vide referência na
nota 17. 18 Para uma descrição da atuação de tropas de resgate ilícitas e das amarrações confira a carta 28 de Franscisco
Xavier de Mendonça Furtado presente em (MENDONÇA, 2005, p. 371-373) 19 Termo de Junta das Missões do Maranhão [08/06/1739]. APEM, Códice 1, fl. 5f. 20 A ascendência indígena por vezes acabava não sendo atestada pelos indígenas, por seus senhores ou pelas
testemunhas de ambas as partes. Quando pairava a dúvida, era o conjunto dos deputados reunidos em Junta que
deveriam realizar “inspeção ocular” nos peticionários a fim de definir sua procedência. Resolução que está registrada no
Termo de Junta das Missões [26/02/1751] (WOJTALEWICZ, 1993, p.182-183). Todavia há que se considerar que o
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Há ainda casos de indígenas aldeados que eram tratados como escravos. Como o primeiro
que encontramos em nossas fontes, a petição da índia Ângela de Jesus, que teve sua demanda
respondida em carta régia, em 1714. Alegando que apesar de ser livre, pertencer a principal família
que havia naqueles sertões e ter descido para Belém a fim de trabalhar em obra pública, estava
sendo tratada como vil escrava pelo Provedor José de Souza de Azevedo. O rei ordenou que, depois
que se verificasse a veracidade da declaração da índia, seu pedido fosse deferido22.
Mulheres indígenas, mamelucas e cafuzas, libertadas em testamento, na prática, também
acabavam sendo tratadas ilicitamente como escravas e argumentavam isto nos tribunais. Como na
petição da mameluca Cláudia que denunciava o cativeiro ilícito promovido por Teófilo de Barros,
uma vez que havia sido libertada do cativeiro por Ana Leal em seu testamento. Sem sentença, o
caso foi enviado ao ouvidor23.
Mulheres índias, cafuzas, aldeadas, libertas em testamento, todas elas pediram liberdade nos
tribunais de São Luís do Maranhão e Belém do Pará. Suas petições apontam para as práticas ilícitas
de escravização. De modo que, de maneira mais precisa, podemos dizer que o denominador comum
entre as peticionárias não era somente o cativeiro, mas o injusto cativeiro.
É difícil acompanhar as trajetórias completas destas mulheres tornadas peticionárias. Como
nossas fontes focalizam os sujeitos nos tribunais, acabamos não atingindo outros momentos de suas
vidas, por vezes não sabemos a origem, o modo como se tornaram trabalhadoras escravizadas ou
mesmo se nasceram em tal condição. Todavia, nossas fontes cristalizaram um momento importante
de suas existências, aquele no qual questionaram os limites de seus cativeiros demandando por
liberdade nos tribunais. Podemos dizer que indígenas peticionários existiram e dizemos ainda que a
maioria deles eram mulheres.
Para finalizar, apontaremos a leitura que temos feito a respeito da predominância de
mulheres nos litígios por liberdade na Amazônia portuguesa. Avaliamos que tal predomínio pode
estar ligado às condições destes sujeitos escravizados, segundo o gênero, em dois aspectos: o tipo
de demanda e o espaço onde habitavam.
critério da aparência é arbitrário, depende das considerações daqueles que detém o poder de nomear e de enquadrar
socialmente. Da mesma forma que um peticionário, descendente de indígena, poderia ser considerado como tal, poderia,
muito pelo contrário, ser determinado como não-índio, a depender da disputa entre as partes envolvidas no litígio e os
interesses dos deputados das Juntas. Um interessante trabalho que trata do tema dos critérios de atribuição da categoria
social, “étnica” é: (RESENDE; LANGFUR, 2007). 21 Termo de Junta das Missões [12/10/1754; 06/04/1758]. APEM, Códice 1, fls. 49-50; 85v-86. 22 “Em que se lhe ordena defira na forma das ordens de Sua Magestade ao requerimento da índia Ângela de
Jesus a respeito da liberdade que pede”. ABN, 67, p. 120-121. 23 Termo de Junta de Missões [22/06/1739]. APEM, Códice 1, fls. 5v-6.
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Como vimos, além das peticionárias serem maioria, um maior número de mulheres
estenderam seu pedido de liberdade a parentes. Elas fizeram isso em 40 litígios, enquanto os
homens demandaram pelos seus somente em 3 casos. Consideramos que estes dados estejam
relacionados à centralidade da condição jurídica do ventre materno na determinação do cativeiro. A
conquista da liberdade das mulheres, por isso, representaria a liberdade aos seus filhos e filhas e
este fato talvez estimulasse que as mulheres, preferencialmente, buscassem a liberdade nos
tribunais. E como se não bastasse esse princípio fundado no direito natural, muitas delas, ainda
explicitavam em suas demandas o anseio de estender a liberdade aos seus, o que poderia indicar que
desejavam assegurar o cumprimento desta prorrogativa pelo tribunal.
Tais tribunais estavam localizados nas cidades de São Luís, na capitania do Maranhão, e de
Belém, na capitania do Pará, o que dificultava o acesso àqueles indígenas que estivessem
trabalhando nos Sertões ou morando nos vários aldeamentos localizados nas margens dos rios. A
mencionada preponderância talvez indique que um número maior de mulheres tinha a possibilidade
de acessar os tribunais por residirem nas cidades.
Esta hipótese se fortalece a partir dos dados parciais de pesquisa em andamento de Camila
Loureiro Dias que tem verificado a predominância de mulheres e crianças escravizadas nas cidades
da Amazônia. Para a primeira metade do século XVIII, segundo a pesquisadora, 80% de mulheres e
crianças foram aprisionadas em Tropas de Resgate e introduzidas nas cidades como trabalhadores
escravizados, enquanto somente 20% dos homens tiveram o mesmo destino. O que poderia indicar,
ainda de acordo com hipótese em desenvolvimento da historiadora, para um sistema complementar
de produção entre liberdade e escravidão na Amazônia portuguesa24.
Desta maneira, a abordagem atenta ao gênero representa para nós mais do que um
detalhamento dos agentes peticionários segundo perfis, indicando ademais uma questão de cunho
historiográfico.
Referências
Fontes manuscritas
24 Pelo que temos notícia, ainda não há um estudo consistente a respeito da escravização indígena na Amazônia
que considere o gênero dos cativos. Camila Loureiro Dias está desenvolvendo uma pesquisa de pós-doutorado que
aponta para um quadro de trabalho mais complexo na Amazônia, uma complementariedade entre trabalho livre
(majoritariamente, masculino) e escravo (de maioria, feminina e de crianças). Ainda não há artigos publicados, mas o
título da pesquisa é “Forros e cativos. Normas, práticas e concepções do trabalho livre e escravo no Maranhão e Grão-
Pará (1680-1798)” e está sendo desenvolvida sob a supervisão da profª Silvia Hunold Lara, no Centro de Pesquisa em
História Social e da Cultura, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Arquivo Público do Estado do Maranhão (APEM):
Códice 1 – “Livros de assentos, despachos e sentenças que se determinaram em cada Junta de
Missões na Cidade de São Luís do Maranhão – 1738-1777”
Arquivo Público do Estado do Pará (APEP):
Códice 10 – “Alvarás, Regimentos e termos da Junta das Missões” (1720-1726)
Códice 23 – “Termos da Junta das Missões” (1736-1740)
Arquivo Histórico Ultramarino (AHU):
Avulsos do Maranhão
Avulsos do Pará
Biblioteca Nacional de Portugal (BNP):
Coleção Pombalina
Fontes impressas
Anais da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, vol. 66 e 67 (1948).
“Livro dos Termos das Juntas das Missões que Setariam nesta Cappitania do Pará em que
sepulgavam as Liberdades dos Indios, cujas Juntas foram extintas com a Ley das Liberdades que se
publicou nesta Cidade aos 29 de Mayo de 1756.” In: WOJTALEWICZ, Paul David. The “Junta de
Missões”: the missions in the Portuguese Amazon. Dissertação de Mestrado, University of
Minnesota, 1993.
MENDONÇA, Marcos. A Amazônia na era pombalina: correspondência do Governador e
Capitão-General do Estado do Grão-Pará e Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça
Furtado. 2ª ed. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005.
NAUD, Leda Maria Cardoso. Documentos sobre o índio brasileiro (2ª parte), Revista de
Informação Legislativa, 8(29): 227-336, jan-mar. 1971. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/182582>, acesso: 17/06/14.
Bibliografia
CHAMBOLEYRON, Rafael; BONIFÁCIO, Mônica; MELO, Vanice. Pelos sertões “estão todas as
utilidades”. Trocas e conflitos no sertão amazônico (século XVII). Revista de História, 162 (2010):
13-49.
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MELLO, Márcia. Desvendando outras Franciscas: mulheres cativas e as ações de liberdade na
Amazônia colonial portuguesa. Portuguese Studies Review, n.13, p. 1-16, 2005.
________. Fé e Império: as Juntas das Missões nas conquistas portuguesas. Manaus: EDUA, 2007.
________. “Para servir a quem quiser”: apelações de liberdade dos índios na Amazônia portuguesa.
In: SAMPAIO, Patrícia; ERTHAL, Regina (org.). Rastros da Memória: histórias e trajetórias
das populações indígenas na Amazônia. Manaus: EDUA, 2006, p. 48-72.
David G. Francisca: Indian Slave. In: SWEET, David G.; NASH, Gary B. Struggle and Survival in
Colonial America. Berkeley: University of California Press, 1981. p. 274-291.
________. Francisca: esclava india (Gran Pará, siglo XVIII). In: SWEET, David G.; NASH, Gary
B. (Orgs.) Lucha por la supervivencia en la América colonial. México: Fondo de Cultura
Económica, 1987. p. 316- 328.
RESENDE, Maria; LANGFUR, Hal. Minas Gerais indígena: a resistência dos índios nos sertões e
nas vilas de El-Rei. Tempo, n. 23, p. 5-22, 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/tem/v12n23/v12n 23a02.pdf>, acesso em: 24/08/2015
Female Petitioners: demands of women captives in Portuguese colonial Amazon (18th
century)
Astract: Slaved Indians - mostly female Indians - presented a significant amount of requests,
petitions and appeals to the Junta das Missões’ courts at the cities of São Luís do Maranhão and
Belém do Pará, sometimes, they have insisted forwarding requests to the Casa da Suplicação, in
Lisboa, and some demands managed to reach even the king, in Portugal. By denouncing
irregularities of the indigenous slavery system, Indians were eager to get rid of mistreatments and
arduous working conditions, as well as earning the right to choose whom to marry, where to live,
whom to serve and, even regain freedom and be able to pass this condition on to their offspring.
This presentation will demonstrate mechanisms of the colonial apparatus used by indigenous
workers enslaved in favor of their interests, seeking to understand, especially, the preponderance of
the women demands among the Indian petitioners in Portuguese colonial Amazon throughout the
18th century. It is worth mentioning that the gender approach represents more than a
methodological detailing of the petitioning agents according to profiles, indicating in addition a
historiographical question.
Keywords: Indigenous slavery. Demands. Women. Colonial Amazon. Eighteenth century.