Estudos | Agosto de 2011
Um olhar da Inventta:PLANO BRASIL MAIOR – NOVAS OPORTUNIDADES PARA INOVAR?A Inventta analisou as medidas implementadas pelo governo federal e explica as mudanças para o contexto da inovação
Bruna Soly, Manuela Soares e Maria Carolina Rocha
O Plano Brasil Maior foi lançado com o slogan “Inovar para competir.
Competir para crescer”, prevendo uma série de ações focadas no
estímulo à inovação. As medidas anunciadas foram desde a mudança do
nome do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) que passará se chamar
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação até a ampliação dos recursos
financeiros voltados à inovação.
A seguir, destacamos as principais medidas voltadas à inovação no
Plano Brasil Maior:
Com relação aos investimentos em inovação, as ações contemplam
a inclusão do BNDES Limite de Crédito para planos de inovação de
empresas, novos recursos para Finep e ampliação dos programas setoriais,
conforme abaixo:
PLANOS PLURIANUAIS DE INOVAÇÃO
O programa BNDES Limite de Crédito foi criado com o objetivo de
simplificar os procedimentos adotados pelo BNDES na concessão de apoio
financeiro a empresas com baixo risco de crédito. Com o Plano Brasil
Maior, a linha passa a incluir o apoio aos planos plurianuais de inovação
das companhias, permitindo maior agilidade na liberação de recursos
para inovação.
AMPLIAÇÃO DO RECURSO PARA A FINEP
O recurso para a Finep refere-se a concessão do BNDES de crédito no
valor de R$ 2 bilhões com o objetivo de ampliar sua carteira de inovação,
aumentando a disponibilidade de recursos para os investimentos no setor.
A nova concessão de crédito para que a FINEP aplique em projetos
inovadores eleva o orçamento total de 2011 da Financiadora para
cerca de R$ 8 bilhões, incluindo recursos não reembolsáveis do FNDCT,
utilizados para apoio à pesquisa em universidades e instituições de
ciência e tecnologia.
O plano prevê ainda a modificação de alguns dispositivos do marco legal
brasileiro relacionado à inovação, com alterações na Lei de Inovação
e Lei do Bem (que institui os incentivos fiscais à inovação tecnológica)
bem como a desoneração da folha de pagamento do setor de software,
conforme a seguir:
ALTERAÇÃO NA LEI DO BEM
Dentre as ações voltadas à legislação da inovação, houve alteração
do benefício previsto no art.19-A, da Lei nº 11.196/2005, ampliando a
utilização quando se tratar de ICTs privadas, dessa forma pode-se excluir
do lucro líquido, para efeito de apuração do lucro real e da base de
cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL, os dispêndios
efetivados em projeto de pesquisa científica e tecnológica e de inovação
tecnológica a ser executado por Instituição Científica e Tecnológica – ICT
ou por entidades científicas e tecnológicas privadas, sem fins lucrativos.
A alteração legislativa permite agora a possibilidade de exclusão,
para efeito de apuração do IRPJ e da base de cálculo da CSLL, em no
mínimo a metade e no máximo duas vezes e meia o valor dos dispêndios
efetuados em projetos de pesquisa científica e tecnológica e de inovação
tecnológica a ser executado por Instituição Científica e Tecnológica
pública ou privada.
ALTERAÇÃO NA LEI DA INOVAÇÃO
A Lei da Inovação também sofreu alteração para possibilitar que o
Governo realize contratos com cláusulas de risco tecnológico, dessa
forma, o projeto contratado poderá ser descontinuado, sempre que
verificadas inviabilidade técnica ou econômica no seu desenvolvimento,
ou o desinteresse da administração, observados os requisitos legais. A
redação anterior possibilitava tão somente a prorrogação do prazo para o
cumprimento do contrato.
DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO
Destaca-se, ainda, que o setor de software, além de confecção, calçados
e móveis, foi contemplado com a desoneração da folha de pagamento. A
alíquota para o INSS passa de 20% para zero (0%), sendo que para o setor
de software incidirá uma taxa de 2,5% sobre o faturamento, como forma
de compensar o benefício. Espera-se baratear a contratação da mão de
obra das empresas, que representa 70% do custo das indústrias do setor.
Por fim, há também a previsão de medidas de financiamento ao
Investimento visando maior agilidade na concessão dos mesmos e redução
de custos do investimento, sendo:
A alteração na Lei do Bem amplia a utilização do benefício para ICTs privadas
APOIO AOS SETORES AFETADOS PELA VALORIZAÇÃO CAMBIAL
Dentre as ações, foi lançada uma nova etapa do Programa BNDES
Revitaliza, destinada a apoiar os setores mais afetados pela valorização
cambial. Com orçamento de R$ 6,7 bilhões e taxa fixa de juros de 9%, o
programa terá prazo de vigência até 31 de dezembro de 2012.
O BNDES Revitaliza apoiará investimentos dos segmentos de bens de
capital, têxtil e confecção, calçados e artefatos de couro, software,
prestação de serviços de tecnologia da informação, pedras ornamentais,
beneficiamento de madeira, beneficiamento de couro, móveis de
madeira, frutas in natura e processadas, cerâmicas e autopeças.
CRÉDITO PARA AS MICRO, PEQUENAS E MÉDIAS
As novas medidas incluem também mais recursos e melhores condições de
crédito para capital de giro para as micro, pequenas e médias empresas,
no BNDES Progeren. Foram ampliados o orçamento de R$ 3,4 bilhões para
R$ 10,4 bilhões e o prazo total de financiamento, de 24 meses para até
36 meses (com 12 meses de carência). O prazo de vigência será até 31 de
dezembro de 2012.
INCLUSÃO DE NOVOS SETORES NO PROGRAMA DE SUSTENTAÇÃO
DO INVESTIMENTO (PSI)
O PSI manterá o foco em financiamentos à aquisição de bens de capital,
à inovação, à exportação e no Procaminhoneiro. Inclui novos setores
e programas: partes e componentes; equipamentos TICs (Tecnologias
da Informação e Comunicação) produzidos no país com tecnologia
nacional; ônibus híbridos; Proengenharia; e Inovação Produção. O prazo
de utilização dos recursos foi ampliado para até o final de 2012, com
orçamento de R$ 75 bilhões.
QUALIFICAÇÃO DE MÃO DE OBRA
Visando a qualificação da mão de obra, foi criado o Programa BNDES
Qualificação, com dotação orçamentária de R$ 3,5 bilhões e vigência até
30 de abril de 2013.
O objetivo do programa é ampliar as vagas no ensino profissional, técnico
e tecnológico. As operações serão feitas nas modalidades indireta (quando
os recursos são repassados por agentes financeiros) e direta. Poderão
acessar o programa entidades pertencentes ao “Sistema S” (Senac, Sesc,
Senai, Sesi...), instituições públicas que atuem com o ensino profissional,
técnico e tecnológico e escolas técnicas privadas.
CONCLUSÕES
O Plano Brasil Maior demonstra a preocupação atual do Governo em
apoiar a inovação nas empresas, trazendo diversos financiamentos
reembolsáveis. Contudo, as ações apresentadas dificilmente mudarão
O plano expande e progroga o acesso aos recursos à aquisição de bens de capital
o panorama de inovação do País, já que não ampliou o orçamento
de recursos não reembolsáveis e nem trouxe medidas efetivas para a
promoção da inovação, com exceção do setor de software.
Havia uma expectativa no mercado de ações de maior impacto para as
empresas, incluindo:
• Ampliação dos incentivos fiscais da Lei do Bem para as empresas
optantes pelo Lucro Presumido;
• Desburocratização do processo de fomento à inovação na FINEP,
assim como a definição de um cronograma de desembolsos por
parte dos órgãos de fomento de modo geral, principalmente
para os recursos não reembolsáveis, permitindo que as empresa
pudessem se preparar previamente para a busca do fomento.
Espera-se, contudo, que as medidas criadas pelo plano Brasil Maior
cumpram o papel para o qual foram criadas e que, mais do que isso, sejam
a porta de entrada para novas ações mais eficientes e que, efetivamente,
estimulem o ambiente da inovação para todos os agentes envolvidos.
ANEXO
Segue abaixo as medidas divulgadas no Plano Brasil maior que já foram
regulamentadas pelo governo federal:
FINANCIAMENTO À INOVAÇÃO
Medidas Descrição Impacto Legislação
Novos recursos para Finep
Aumento de crédito de R$ 2 bilhões do BNDES para ampliar carteira de inovação da FINEP.
Taxa: de 4% a 5% a.a
Maior disponibilidade de crédito para inovação Art. 7º, MP 541/2011
BNDES: crédito pré-aprovado para planos de inovação empresa
Inclusão de planos plurianuais de inovação das empresas no BNDES Limite de Crédito Inovação
Maior agilidade na liberação de recursos para inovação Art. 7º, MP 541/2011
BNDES: ampliação dos programas setorial
Ampliação de orçamento e condições de acesso aos programas setoriais do BNDES (Pro-P&G, Profarma, Prosoft,
ProAeronáutica e Proplástico) quando da sua renovação
Ampliação dos recursos para setores intensivos em conhecimento Art. 7º, MP 541/2011
emissões BNDES: financiamento para
redução de
Apoio ao desenvolvimento tecnológico e à comercialização de bens de capital com selo de eficiência energética do INMETRO e para linhas de equipamentos dedicados à
redução de emissões de gases de efeito estufa (Fundo Clima – MMA)
Produção mais limpa Art. 7º, MP 541/2011
DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTO
Medida Descrição Impacto Legislação
Desoneração da folha
de pagamento: projeto piloto até
2012
- Setores beneficiados: Confecções, Calçados, Móveis e Software
- Pagamento será transferido para o faturamento - Impacto neutro sobre a Previdência Social
- Comitê tripartite de acompanhamento: governo, sindicatos e setor privado
-Manutenção e geração de emprego - Estímulo à atividade produtiva Art. 7º, MP 540/2011
Fonte: Adaptação dos dados públicos retirados do site: http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/downloads/
Fonte: Adaptação dos dados públicos retirados do site: http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/downloads/
Espera-se que de fato as medidas estimulem a competitividade nacional
BIBLIOGRAFIA
AUTORAS
www.inventta.net@inst_inovacao
Bruna Soly é analista de projetos da Inventta Consultoria, graduada em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos, com
especialização em Direito Tributário pela mesma faculdade. Atua em projetos de incentivos fiscais à inovação tecnológica e estruturação
de centros de pesquisas de grandes empresas, como Iveco, Inhotim, Kraft, Magneti Marelli, M. Dias Branco, Philips, Votorantim
Cimentos.
Maria Carolina Rocha é coordenadora da Inventta Consultoria e trabalha há 5 anos com Inovação. Atua principalmente na área de
Gestão Estratégica de Recursos para Inovação e planejamento tributário, coordenando equipes na análise de projetos, enquadramento
legal e avaliação fiscal dos benefícios. Possui experiência também na elaboração de pareceres na área fiscal e tributária acerca da
utilização dos incentivos e outros temas da área tributária e empresarial; estruturação de empresas e entidades sem fins lucrativos;
captação de recursos e acompanhamento dos mecanismos de fomento disponíveis. Já coordenou projetos de incentivos fiscais à
inovação e fomento à inovação em empresas CNH, Magneti Marelli, Teksid, Natura, Usiminas, Unigal, Kraft Foods, Fibria, Aethra, entre
outros. Formou-se na Faculdade Milton Campos em Direto, local onde fez Pós Graduação em Direito Tributário.
Manuela Soares é sócia-diretora da Incentivar Consultoria, empresa incorporada pelo Grupo Instituto Inovação, e que hoje é
denominada Inventta. Formou-se no Ibmec em Administração de Empresas. Antes de fundar a Incentivar, atuou na iniciativa privada
em atividades como elaboração de plano de negócios, mapeamento de tecnologias e oportunidades e valoração de tecnologias.
Atuou também na avaliação de tecnologias em programas governamentais junto a universidades. Na Inventta, consolidou a área de
Recursos Financeiros para Inovação, na qual desempenha um papel importante de desenvolvimento de competências e metodologias.
Atualmente é gestora de projetos de incentivos fiscais à inovação e fomento à inovação em empresas como Usiminas, Fiat Automóveis,
Magneti Marelli, Teksid, CNH, Iveco, Scania, Natura, Fibria, Suzano, ArcelorMittal, Sadia e Kraft Foods.
Apresentação Brasil Maior - Medidas de Lançamento <http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp-content/uploads/cartilha_brasilmaior.pdf>
Portal Brasil Maior <www.brasilmaior.mdic.gov.br/>
Site BNDES <www.bndes.gov.br>
MARCO LEGAL DA INOVAÇÃO
Medida Descrição Impacto Legislação
Encomendas Tecnológicas
Permitir contratos com cláusulas de risco tecnológico previstas na Lei de Inovação
Desenvolvimento de tecnologias de fronteira pelas compras públicas Art.1º, Dec. 7.539/2011
Financiamento a ICTs
privadas sem fins lucrativos
Permitir inclusão de projetos de entidades de ciência e tecnologia privadas sem fins lucrativos na utilização dos
incentivos da Lei do Bem
Cerca de 100 entidades de C&T privadas poderão ter projetos financiados por
empresas brasileiras, duplicando universo de ICTs que podem atender empresas via
Lei do Bem
Art. 13, MP 540/2011
Fundações de Apoio às ICTs
Permitir que as fundações de apoio atendam mais de uma ICT
Ampliação da rede de interação universidade-empresa Art. 1º, Dec. 7.544/2011
Modernização do Marco Legal do
Inmetro
Ampliação no controle e fiscalização de produtos importados - Ampliação escopo de certificação do Inmetro
- Implementação da “Rede de Laboratórios Associados para Inovação e Competitividade”
-Maior facilidade em parcerias e mobilização de especialistas externo
- Apoio ao combate e práticas enganosas de comércio;
- Apoio à inovação na empresa Art. 12, MP 541/2011
Fonte: Adaptação dos dados públicos retirados do site: http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/downloads/