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“Peguem num poema e
leiam-no. Não é preciso mais nada.”
EUGÉNIO DE ANDRADE
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Ser poeta é ser mais alto, é ser maiorDo que os homens! Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem sejaRei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendorE não saber sequer que se deseja!É ter cá dentro um astro que flameja,É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente…É seres alma e sangue e vida em mimE dizê-lo cantando a toda a gente! Florbela Espanca in «Poesia Completa»
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Orfeu Rebelde
Orfeu rebelde, canto como sou: Canto como um possesso Que na casca do tempo, a canivete, Gravasse a fúria de cada momento; Canto, a ver se o meu canto compromete A eternidade do meu sofrimento.
Outros, felizes, sejam os rouxinóis... Eu ergo a voz assim, num desafio: Que o céu e a terra, pedras conjugadas Do moinho cruel que me tritura, Saibam que há gritos como há nortadas,Violências famintas de ternura.
Bicho instintivo que adivinha a morte No corpo dum poeta que a recusa, Canto como quem usaOs versos em legítima defesa. Canto, sem perguntar à Musa Se o canto é de terror ou de beleza.
Miguel Torga
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O poema me levará no tempoQuando eu já não for euE passarei sozinhaEntre as mãos de quem lê.
O poema alguém o diráÀs searas
Sua passagem se confundiráCom o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitaráO espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentesSuas sílabas redondas(Ó antigas ó longasEternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontraráUma praia onde quebrar as suas ondasE entre quatro paredes densasDe funda e devorada solidãoAlguém seu próprio ser confundiráCom o poema no tempo.
Sophia de Mello Breyner Andresen