Download - POLÍTICAS PÚBLICAS - MONOGRAFIA
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FSH FACULDADE SANTA HELENA
POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
RECIFE 2009
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FHS FACULDADE SANTA HELENA
POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
CIRLENE MADALENA DA SILVA
RECIFE
2009
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FHS FACULDADE SANTA HELENA
POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
CIRLENE MADALENA DA SILVA
Monografia apresentada Faculdade Santa Helena como requisito obteno do ttulo de especialista em Educao Especial: Estudos Surdos. Orientador: Prof DrAbdias Vilar
RECIFE 2009
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FHS FACULDADE SANTA HELENA
POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
CIRLENE MADALENA DA SILVA
Banca Examinadora:
_______________________________________
ProfDrAbdias Vilar
_______________________________________ Liliane Vieira Longman
_______________________________________ Maria Teresa de Mello Barreto Campello
RECIFE 2009
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DEDICATRIA
Aos meus pais, irmos, sobrinhos e amigos pela compreenso e o estmulo em todos os momentos.
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AGRADECIMENTOS
Ao Professor Abdias Vilar, pela confiana e disponibilidade, que
muito contriburam para meu crescimento e para o desenvolvimento deste
trabalho.
As outras pessoas que, de alguma forma, colaboraram, atravs da
amizade e da confiana, para a realizao dessa monografia. A todas elas desejo
expressar a minha gratido.
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Sou, devo ressaltar, um leigo no assunto-no sou surdo,
no sei usar a lngua de sinais, no sou intrprete nem
professor... Sou um leigo, sem conhecimento ou
especializao, mas tambm, acredito, sem preconceitos,
sem interesses a defender, sem animosidades na questo.
(SACKS 1989)
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RESUMO Com este estudo vamos relatar algumas das conquistas da Comunidade Surda,
que aconteceram aqui no Brasil e no estado de Pernambuco nos ltimos anos,
com a criao de Polticas Pblicas exclusivas para surdos, como a criao da Lei
n 10.436, de 24 de abril de 2002 que reconheceu a LIBRAS como meio legal de
comunicao e expresso e o Decreto n 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que
torna obrigatrio para os surdos o ensino de LIBRAS desde a educao infantil.
Utilizando os dados da Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na
Contemporaneidade, vamos estudar questes como participao dos
entrevistados em algum movimento para influenciar as polticas pblicas do
governo federal e estadual, qual a primeira lngua que os estudantes aprenderam,
a primeira vez que viram LIBRAS e a idade que eles comearam a usar LIBRAS.
Vamos tambm estudar a opinio dos professores a respeito do que favorece a
poltica educacional de incluso para os alunos surdos.
Palavras-chave: Polticas Pblica; LIBRAS; Educao de Surdos; Educao
Inclusiva.
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LISTAS DE TABELAS
TABELA 1 Universo dos Entrevistados por Curso e Escola .................................
TABELA 2 - Perfil Social dos Bairros.......................................................................
TABELA 03 - Influncia das polticas pblicas..........................................................
TABELA 04 - Primeira lngua aprendida...................................................................
TABELA 05 - Idade que viu e comeou a usar LIBRAS...........................................
TABELA 06 - Idade que comeou a usar LIBRAS....................................................
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LISTA DE ABREVIATURAS
C.E.S.B. Campanha para a Educao do Surdo Brasileiro
INES Instituto Nacional de Educao de Surdos
LIBRAS Lngua Brasileira de Sinais
LDB Lei de Diretrizes e Bases
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SUMRIO
INTRODUO ......................................................................................................... CAPTULO 1 - POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO BRASIL .................................................................................................................... 1.1 Definies de Polticas Pblicas .........................................................................
1.2 BREVE HISTRICO: da educao para surdos e das Polticas Pblicas de
Surdos no Brasil de D. Pedro II at 2008 ............................................................
CAPTULO 2 - A PESQUISA .................................................................................. 29 2.1 UNIVERSO DA PESQUISA ...............................................................................
29
2.2 A SELEO DOS ENTREVISTADOS ...............................................................
31
2.3 O ARCABOUO INSTITUCIONAL E LEGAL RELATIVO CONDIO DO
SURDO .....................................................................................................................
33
2.4 METODOLOGIA DA PESQUISA .......................................................................
33
CAPTULO 3 ANLISE DOS DADOS DA PESQUISA ........................................ 36 3.1 Questes analisadas: ....................................................................................... 36 CAPTULO 4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................ 43 REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS ........................................................................
ANEXOS ..................................................................................................................
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INTRODUO
O Curso de Especializao em Estudos Surdos, iniciado em
setembro de 2007, na Faculdade Santa Helena, em parceria com a Secretaria de
Educao de Pernambuco e o com o Centro SUVAG de Pernambuco visa
aprofundar a noo de surdez como construo cultural, histrica e poltica,
tomando como linha norteadora a Lngua Brasileira de Sinais. Alm disso,
tambm, questiona as prticas que mantm os surdos na deficincia, na
educao especial e as polticas pblicas que no atendem os principais
interessados, nesse caso, os surdos respeitando as suas diferenas.
Os Estudos Surdos se constituem enquanto programa de pesquisa
em educao, onde as identidades, as lnguas, os projetos educacionais, a
histria, a arte, as comunidades e as culturas surdas so focalizados e entendidos
a partir da diferena, a partir de seu reconhecimento poltico.1
Os Estudos Surdos no vo trabalhar com o surdo vendo-o numa
perspectiva de um doente, deficiente, sofredor ou como algum incompleto,
porm vo trabalhar com o surdo na perspectiva de sujeito poltico, envolvido em
lutas para garantir seus direitos, para defender, sua cultura, sua identidade grupal,
alm de ser compreendido como algum que ama, sofre, se diverte, trabalha e
estuda, como algum que no est alheio ao mundo que o cerca.2
A partir do pensamento acima exposto, com o apoio de trabalhos de
diversos tericos3 que abordam o tema, os participantes do Curso de
Especializao em Estudos Surdos, professores e alunos organizaram a Pesquisa
Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade, com o objetivo de
desvendar a situao educacional, social, econmica e cultural dos surdos da
1 Skliar, (2005), p.5. 2 Segundo o texto da Prof Dr Ndia Limeira de S. 3 Quadros, Ronice Mlle de. Karnopp, Lodenir Becker.(2004); S, Ndia Limeira de.(2006); Sacks, Oliver.(2005); Skliar, Carlos. (2005)
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regio metropolitana do Recife, analisando as suas mltiplas experincias e
apreender suas expectativas de vida.
Consideramos as pessoas surdas, como elas prprias se percebem,
quando esto entre seus pares, em sua comunidade, como normais, e no como
pessoas deficientes.4 Entendemos os surdos como pessoas que falam uma lngua
visual e que possui sua prpria cultura. Por fazer parte de uma minoria social,
eles sofrem preconceito de uma sociedade que no se identifica com a sua forma
de se comunicar, usando a LIBRAS Lngua Brasileira de Sinais.
Na perspectiva pedaggica de conhecimento e interpretao da
realidade, a partir dos prprios sujeitos, foram seguidos os seguintes passos
metodolgicos:
A escolha do campo de pesquisa: 5 (cinco) escolas estaduais e o Centro SUVAG de Pernambuco, localizados em diferentes regies
da cidade do Recife e por ter no seu quadro um nmero significativo
de alunos surdos.
A seleo dos entrevistados: estudantes surdos, professores de estudantes surdos, pais de estudantes surdos e estudantes
universitrios surdos.
A escolha e elaborao do instrumento de pesquisa: o questionrio. Realizao da pesquisa. Apurao e totalizao dos dados da pesquisa.5
Nesse estudo, vamos relatar tambm algumas das conquistas da
Comunidade Surda, que aconteceram aqui no Brasil e no Estado de Pernambuco
nos ltimos anos, como a criao de Polticas Pblicas exclusivas para surdos.
Utilizando os dados da Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na
Contemporaneidade, vamos estudar as seguintes questes. Primeiro a
participao dos entrevistados, com exceo dos pais, em algum movimento para
4 Para Sacks, (2005), os surdos so membros de uma comunidade que possui lngua e cultura completas e prprias. 5 No segundo captulo desse estudo vai ser abordada a pesquisa, seu universo, os procedimentos metodolgicos e a apurao dos resultados.
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influenciar as polticas pblicas do governo federal e estadual. Segundo a primeira
vez que os estudantes entrevistados viram LIBRAS. Terceiro a idade em que
esses estudantes entrevistados comearam a usar LIBRAS. Quarto sobre a
opinio dos professores a respeito da poltica educacional de incluso para os
alunos surdos.
No primeiro captulo, ser apresentada a definio de polticas
pblicas, na que escolhemos a dada por Cristovam (2005). As polticas pblicas,
para ele, podem ser entendidas como o conjunto de planos e programas de ao
governamental voltados interveno do domnio social, por meio dos quais so
traadas as diretrizes e metas a serem proporcionadas pelo Estado.
Tambm, neste captulo, apresentaremos um breve histrico da
educao oferecida aos surdos com destaque para as Polticas Pblicas
implantadas para os surdos desde D. Pedro II at o governo do Presidente Luiz
Incio Lula da Silva.
No segundo captulo, ser apresentado o universo e os passos
metodolgicos utilizados na Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na
Contemporaneidade.
No terceiro captulo, analisaremos os dados da pesquisa acima
representada com nfase nas questes acima citadas e tambm alguns aspectos
do arcabouo legal da Constituio Federal, da LDB, e do Decreto n 5.626/2005
de 22 de dezembro de 2005 que regulamenta a Lei no 10.436/2002, de 24 de
abril de 2002 e o art. 18 da Lei no 10.098/2000, de 19 de dezembro de 2000.
No quarto e ltimo captulo, iremos apresentar As Concluso Finais,
diante dos resultados obtidos pela pesquisa, levantaremos algumas questes
relativa a educao de surdos.
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1. POLTICAS PBLICAS PARA EDUCAO DE SURDOS NO BRASIL As conquistas sociais, na ltima dcada da comunidade surda do
Brasil, se devem ao empenho cada vez maior dos movimentos sociais surdos de
reivindicar seus direitos. Essas conquistas podem ser observadas atravs das
polticas pblicas governamentais voltadas, exclusivamente, para os surdos.
Como verificamos na Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 que reconhece como
meio legal de comunicao e expresso a Lngua Brasileira de Sinais LIBRAS e
o Decreto n 5.626/2005, que regulamentou a Lei 10.436/02 e determinou o
ensino de LIBRAS desde a educao infantil. Conquistas que so apresentadas
ao final desse captulo e discutidas neste trabalho no terceiro captulo referente
anlise da pesquisa.
Porm, para entender como as polticas pblicas para surdos foram
se constituindo ao longo do tempo e como elas esto estruturadas nos dias
atuais, nesse captulo, vamos definir o que so polticas pblicas. Faremos, dessa
forma, um breve histrico sobre as polticas pblicas criadas para surdos no Brasil
desde D. Pedro II at o governo do Presidente Lula. Assim, da mesma forma,
identificaremos as polticas no Estado de Pernambuco que foram criadas e
aplicadas, exclusivamente, para os surdos nos ltimos anos.
1.1 Definies de Polticas Pblicas
As definies sobre polticas pblicas hora so apresentadas como
aes, hora como programas.
De acordo com Comparato(1997)6, apud Cristovam(2005), as
polticas pblicas so programas de ao governamental. A poltica pblica seria
uma espcie de conduta que assinala uma meta a alcanar, no mais das vezes
uma melhoria das condies econmicas, polticas ou scias da comunidade.
6 Buscar referncias em Cristovam (2005).
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Para Bucci (2002)7, apud Cristvam(2005), polticas pblicas so
entendidas como sendo: programas de ao governamental visando a coordenar
os meios disposio do Estado e as atividades privadas, para a realizao de
objetivos socialmente relevantes e politicamente determinados(BUCCI, 2002, p.
241).
Segundo Cristovam(2005) as polticas pblicas podem ser
entendidas como a juno de planos e programas de ao do governo em torno
das interferncias do poder social, por meio dos quais so tratadas as diretrizes e
metas a serem fomentadas pelo Estado, sobretudo na implementao dos
objetivos e direitos fundamentais dispostos na Constituio.
Cristovam, ainda, faz a distino entre poltica pblica e poltica de
governo. A poltica de governo tem relao com o mandato, j a poltica pblica
pode atravessar vrios mandatos, ele, ainda, ressalta que no Brasil o cenrio
poltico apresenta uma confuso entre essas duas categorias, principalmente
quando na eleio h troca de partido. comum no haver continuidade das
polticas pblicas da gesto anterior, a gesto que assume cria novas polticas
pblicas quando, na verdade, ela deveria criar seu plano de governo e continuar
com as polticas anteriores.
Independentemente de onde so geradas as polticas pblicas, de
acordo com Cristovam(2005), elas: so atividades marcadamente administrativas
e submetidas ao regime jurdico administrativo. As funes de planejar, governar,
gerir e direcionar os recursos financeiros so prprio da Administrao Pblica.
Portanto cabe ao Estado promove aes para melhorar a vida dos cidados.
Seguindo o conceito de Cristovam, veremos, a seguir, que na
histria de implementao de polticas pblicas para surdos no Brasil, foi comum
a sua criao a partir dos interesses do governo que estava no poder na poca.
7 Buscar referncias em Cristovam (2005).
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1.2 BREVE HISTRICO: da educao para surdos e das Polticas Pblicas de Surdos no Brasil de D. Pedro II at 2008.
MUNDO
Segundo os estudos consultados8, a referncia mais remota em
relao ao surdo do sculo VI com o direito romano, atravs do Cdigo
Justiniano, onde pela primeira vez feita uma classificao dos surdos. At quase
toda idade mdia acreditava-se que os surdos eram incapazes de se educarem e,
na maioria das vezes, eram tratados como imbecis.
Foi no sculo XVI que aconteceram as primeiras tentativas de
educao para surdos com Girolo Gardano (1501-1578), que vo de encontro ao
conceito da incapacidade de aprendizagem pelos surdos. Na Espanha, em
meados desse sculo, D. Pedro Ponce de Leo, iniciou um trabalho voltado a
desenvolver a fala (oral) nos denominados surdos-mudos9.
Ainda de acordo com THOMA (2006), na Modernidade, religiosos
cuidavam da educao para filhos de nobres surdos. Inicialmente nos castelos
dos nobres, depois a educao foi oferecida nos monastrios visando dar-lhes
condies para manter os bens da famlia. Para isso, filhos surdos dos nobres
tinham que aprender a falar, ler, escrever, fazer contas, rezar, assistir missa e
fazer uso da palavra oralizada, pois eles serviam de modelo a outros por sua
educao e posio. O uso da palavra oralizada conferia a visibilidade necessria
a um nobre, pois ele representava o modelo a ser seguido por outros.
A educao dos surdos nesse contexto colocava-se como
necessidade diante da presena de crianas surdas em famlias nobres
e tinha como objetivo torn-las legtimas herdeiras. Em geral, filhos
defeituosos de tais famlias eram retirados da viso pblica pela
vergonha que causavam, pois eram considerados resultados das
depravaes ou pecados cometidos por seus pais. (Thoma, 2006: 10
11).
8 Amador(S/D), Lacerda(1998), Lopes(2007), Mazzotta(2005), Soares(1999) e Thoma (2006). 9 Idem.
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Com o passar dos sculos e o surgimento de internatos, as famlias
passaram parte de seu compromisso para educao dos filhos para as escolas.
As famlias de surdos encontraram nesses locais a oportunidade de oferecer aos
seus filhos um ambiente estimulador e cercado de cuidados com sade. A nfase
da educao, nesses lugares, era a oralizao para normalizao do surdo.
Portanto, no havia nenhuma possibilidade de formar uma turma s de surdos,
pois acreditavam-se que uma turma somente de alunos surdos, corria-se o risco
de que eles resistissem aos tratamentos e aos mtodos de ensino e oralizao
era algo ameaador. (Lopes, 2007).
Seguindo os autores consultados, no sculo XVIII, Samuel Heinick
(1712 1789) era considerado o maior educador de surdos, ele fundou, em 1750,
a primeira escola pblica baseada no mtodo oral. No mesmo perodo, Charles
Michel de LEpe, na Frana, comeou a dar instruo formal a duas crianas
surdas. Diante do resultado positivo, em 1760, ele transformou sua casa na
primeira escola pblica para surdos (Instituto de Surdos e Mudos, Paris),
utilizando uma abordagem denominada gestualista.
De acordo com THOMA (2006), foi com LEpe que teve incio o
ensino coletivo que possibilitou a articulao para formao da comunidade
surda. O mtodo de Lpe consistia em ensinar sinais, que correspondiam a
objetos especficos e mostrar desenhos quando queria que os surdos
compreendessem algumas aes para depois associar os sinais com a palavra
em francs.
No sculo XIX, a Lngua de Sinais espalha-se por toda a Europa e
tambm nos EUA. Thomas Gllaudet (1787 1851), americano, e Laurent Clerc
(1769 1869), francs, so os responsveis pela introduo da comunicao em
sinais e pela educao Institucionalizada para os surdos. Ambos foram aos EUA,
em 1817, e fundaram a primeira escola pblica para surdos em Hartford,
Connecticut The Connecticut for the Education and Instruction of the Deaf and
Dumb Persons. Onde professores aprendiam a Lngua de Sinais e o alfabeto
datilolgico franceses, e adaptaram os sinais Metdicos, mtodo introduzido pelo
Abb de LEpe, para o ingls.
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Tais fatos proporcionaram a formao das primeiras Comunidades
Surdas. Em 1864, aconteceu o Congresso Americano e a criao da primeira
faculdade para Surdos no mundo a National Deaf Mute College, atualmente
Gallaudet University fundada por Edward Gallaudet, filho de Thomas Gllaudet,.
Em 1880, aconteceu o famoso Congresso Internacional de
Educadores de Surdos realizado em Milo, na Itlia. Neste congresso Alexander
Grahan Bell, que inventou o telefone, buscando uma forma de ampliar os sons,
defendeu que o ensino dos surdos deve ocorrer, exclusivamente pelo mtodo
oral.(Lacerda, 1998, p. 04).
Em 1880, foi realizado o II Congresso Internacional, em Milo, que trouxe uma completa mudana nos rumos da educao de surdos e,
justamente por isso, ele considerado um marco histrico. O congresso
foi preparado por uma maioria oralista com firme propsito de dar fora
de lei s suas proposies no que dizia respeito surdez e educao
de surdos. O mtodo alemo vinha ganhando cada vez mais adeptos e
estendendo-se progressivamente para a maioria dos pases europeus,
acompanhando o destaque poltico da Alemanha no quadro internacional
da poca. (LACERDA, 1998, pag. 04).
No trabalho de Lacerda (1998), ela esclarece que o congresso teve
muitos debates acalorados em defesa do mtodo oral, inclusive com
apresentao de surdos que falavam bem, para mostrar a eficincia do mtodo
oral. O congresso foi preparado por uma maioria oralista. Os oralistas votaram
por aclamao a aprovao do uso, exclusivo e absoluto, da metodologia oralista
e a proscrio da linguagem de sinais. (Lacerda, 1998, p.04)
Ainda de acordo com os autores citados, no Brasil, no sculo XIX, diante dos avanos na educao de surdos que estavam acontecendo na
Europa, em particular no Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris, na Frana,
fundado no Rio de Janeiro o Imperial Instituto de Surdos Mudos. Segundo
Mazzotta, o Instituto foi fundado pelo professor francs Hernet Hnet com o apoio
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do imperador D. Pedro II, pela Lei n 839 de 26 de setembro de 1857. Segundo
ele, foi graa aos esforos de Hurnet e seu irmo, que foi possvel a fundao do
Instituto, que na poca era um asilo, onde s eram aceitos surdos do sexo
masculino. Estes vinham de todos os pontos do pas e muitos tinham sido
abandonados pelas famlias. Em consulta ao site do Instituto Nacional de
Educao de Surdos (INES), l se encontra a informao que s em 1931, foi
criado o externato feminino com oficinas de bordado e costura. Nesse perodo
tomou posse como diretor no INES Dr. Armando de Lacerda, que concebia a
educao para oralizar o surdo. Com isso o INES consolidou seu carter de
estabelecimento profissionalizante, institudo em 1925.
Aqui, no Brasil, mesmo depois da fundao do INES, seguiu-se a
tendncia mundial de tratar o surdo como doente, louco, algum perturbado. As
famlias escondiam ou abandonavam os seus filhos surdos.
Importante salientar que desde seu incio a referida
escola caracterizou-se como um estabelecimento educacional voltado a
educao literria e o ensino profissionalizante de meninos surdos-
mudos, com idade de 7 e 14 anos. (MAZZOTTA 2005, p.29)
Este interesse de D. PedroII, de acordo com Strbel (2006)10 pela
educao de surdos, talvez, se deu ao fato de que o seu genro, o prncipe Gasto
de Orlans, o CondeEu, marido da sua segunda filha, a Princesa Isabel, era
surdo, fato no mencionado em nenhum documento, apenas citado no dirio da
Princesa Isabel. Tal fato vem corroborar com a idia da no divulgao de nobres
como surdos, dado que isso alteraria a imagem idealizada do nobre como ser
perfeito.
Em 1872, no Brasil, se tinha conhecimento da existncia de 11.595
surdos e 15.848 cegos. Mazzotta (2005) ressalta que, diante da precariedade de
atendimento, foi com a criao do Imperial Instituto Surdos-Mudos e o Instituto
10 Buscar referncias em Quadros (2007).
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Benjamim Constant para os cegos, que possibilitou a discusso da educao de
portadores de deficincia. Isso aconteceu no 1 Congresso de Instruo Pblica,
em 1883, convocado pelo Imperador em dezembro de 1882.(MAZZOTTA, 2005,
p. 30). Entre os temas discutidos, no congresso, estava a sugesto de currculo e
formao de professores para cegos e surdos. De acordo com Soares (1999),
esse nmero de surdos contestado pelo Dr. Tobias Leite, o qual no aceitava o
nmero dado pelo recenseamento do Imprio, defendendo que havia um surdo
para cada 856 habitantes.
Mazzotta (2005) destaca que o prestgio do Imperial Instituto
Surdos-Mudos e o Instituto Benjamim Constant pode ser comprovado pelos
recursos financeiros a eles destinados pelo governo. Em 1891, receberam juntos
a verba de 251.000$000 contos de ris. Quantia que ultrapassou a quantia para o
ensino superior na poca.
Para Jannuzzi(1985) apud Soares(1999), a Educao Especial, no
Brasil, surge como iniciativa filantrpica, ela fundamenta essa abordagem ao
analisar o Regulamento Interno do Instituto dos Surdos-Mudos do Rio de Janeiro,
elaborado em 15 de dezembro de 1857, traz referncias caridade, conforme se
constata na citao seguinte:
Art. 3 A inspeco superior do Instituto He confiada Commisso
composta das pessoas caridosas, que promovero o seu
estabelecimento, e assignaro o seu Programa.
Art. 4 Compete commisso Inspectora:
1 Escolher dentre os seus membros os que devero servir de
Presidente, e Secretario della; e bem assim convidar a outras pessoas
caridosas para suprirem as vagas que deixarem os membros actuaes
(Brasil, Instituto dos Surdos-Mudos, 1857:I apud Soares, 1999, p. 55)
Soares(1999) esclarece que, nessa poca, havia a necessidade de
deixar definida a diferena entre a educao de surdos e do restante da
populao considerada normal: Parece que a proposta da educao de surdos
era uma outra coisa, no porque caminhava desvinculadamente da educao
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comum, mas porque a sua construo teve como referncia a educao dos
normais. (Soares, 1999, p.54)
Aps passar por duas dcadas da ditadura Vargas o Brasil, em
1946, vivia com relativa participao poltica da sociedade civil, o que, de certa
forma, repercutir na Constituio: A Constituio de 46 era liberal e regularizou
a vida do pas procurando garantir o desenrolar das lutas poltico-partidrias
dentro da ordem A referida Constituio foi quem estabeleceu, pela primeira
vez, que a Unio deveria fixar as diretrizes e bases da educao nacional.
Conforme diz Cunha citado por Amador11.
Esse perodo, segundo Amador, representado por mudanas
ocorridas no pas, no s nos aspectos polticos, na construo de uma
sociedade democrtica, mas principalmente no nvel econmico(...) . Sendo a
principal mudana a troca de uma economia agroexportadora por uma economia
industrial, ou seja, o pas deixa de ser hegemonicamente agrcola e passa a
conviver com grandes centros urbanos industrializados.
Durante o perodo da Guerra Fria entre EUA e URSS, que tinha
como uma das estratgias de disputas o incentivo industrializao nos pases
dependentes para t-los como aliados. O Brasil segue, de forma variada, esse
padro. Com essa mudana de perfil agrrio para industrial em ascenso, no
Brasil, iniciou-se a presso para melhorias na educao, pois havia tambm,
necessidade de capacitar profissionalmente os estudantes. A educao seria o
meio de criao de mo de obra para as indstrias.
Desde a criao do Instituto Surdos-Mudos em 1857 at 1949 no
havia nenhuma iniciativa do governo federal em relao educao de surdos, s
iniciativas particulares, geralmente promovidas por instituies ligadas igreja
catlica. Porm, neste ano aprovado, pelo governo Dutra, um novo Regimento
para educao de surdos. Segundo Soares(1999), nesse momento que a
poltica de ampliao de atendimento, juntamente com a adoo de uma
metodologia, inspirada em algumas experincias realizadas nos Estados Unidos
que teve repercusso no Brasil, ou seja a continuao da poltica oralista. 11 Buscar referncias em Amador(S/D)
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Em junho do mesmo ano, foi publicada, no Dirio Oficial, a
Portaria que regulamentava o ensino do Curso Normal de Formao de
Professores para Surdos-Mudos, que j estava previsto no Regimento do
Instituto, aprovado em 28 de julho de 1949, pelo Decreto n 26.974,
promulgado pelo ento Presidente da Repblica, Eurico Gaspar Dutra e
assinado pelo Ministro da Educao e Sade, Clemente Mariani. A
mesma Portaria revela a pretenso contida na proposta daquela gesto,
quando afirmou:
(...) que as atividades do INSM devero se irradiar por
todo o territrio nacional, a fim de dar cumprimento ao que preceitua o
item V do art.1 do Decreto n 26.974, de 28 de julho de 1949, precitado,
isto , promover em todo o pas a alfabetizao dos surdos-mudos e
orientar, tecnicamente, esse trabalho, colaborando com os
estabelecimentos congneres, estaduais ou locais (Brasil, Instituto
Nacional de Surdos-Mudos, 1951 apud Soares, 1999, p.70).
Segundo ainda Soares, em 2 de dezembro de 1955, foi publicada a
Resoluo n94, que criava, em carter experimental, condies para a
educao primria de deficientes da audio e da palavra (D.O.3/12/55), devido
a um acordo entre a Secretaria Geral de Educao e Cultura do Distrito Federal e
o Instituto Nacional de Surdos-Mudos.
Em 1957, de acordo com Mazzotta, o governo federal assume o
atendimento a educao de excepcionais em todo territrio atravs de
Campanhas voltadas para esse fim. A primeira campanha a dar incio foi a
Campanha para a Educao do Surdo Brasileiro C.E.S.B. pelo Decreto
Federal n 42.728, de 3 de dezembro de 1957. As instrues para sua
organizao e execuo foram objeto da Portaria Ministerial n 114, de 21 de
maro de 1958, publicada no Dirio oficial da Unio de 23 de maro de 1958.
Desde 1948 at 1961, o momento poltico foi tomado por
discusses em torno da Lei de Diretrizes e Base, sobre a descentralizao da
educao das escolas pblicas x privadas. Nessas discusses havia a
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participao cada vez maior da populao. Em 1961 foi aprovada a primeira LDB,
porm no pondo fim aos debates.
A partir da aprovao da primeira LDB, as Polticas de Educao
para Surdos foram includas nas Polticas de Educao Especial. Na Lei n
4.024/61, reafirmou-se o direito dos excepcionais educao, no seu Artigo 88,
segundo Mazzotta(2005), para integr-los a sociedade sua educao foi oferecida
nos mesmo moldes da educao geral, eles teriam que enquadrar-se no sistema
geral de educao.
Por outro lado, pode-se interpretar que, quando a educao
de excepcionais no se enquadrar no sistema geral de educao, estar
enquadrada em um sistema especial de educao. Nesse caso se
entenderia que as aes educativas desenvolvidas em situaes
especiais estariam margem do sistema escolar ou sistema geral de
educao. (MAZZOTTA, 2005, p.68).
Mazzotta(2005), esclarece que o governo no vai contribuir para as
escolas particulares no artigo 89 dessa lei, mediante bolsa de estudos,
emprstimos e subvenes.
A Lei n 5.692/71, com redao alterada pela Lei n
7.044/82, que fixa as diretrizes e bases do ensino de 1 e 2 graus,
define o objetivo geral para estes graus de ensino (comum e especial)
como o de proporcionar ao educando a formao necessria ao
desenvolvimento de suas potencialidades como elemento de auto-
realizao, preparao para o trabalho e para o exerccio consciente da
cidadania. Alm disso, no Artigo 9, a Lei n5.692/71 assegura
tratamento especial aos alunos que apresentem deficincias fsicas ou
mentais, os se encontrem em atraso considervel quanto idade
regular de matrcula e os superdotados, de conformidade como o que os
Conselhos Estaduais de Educao definirem.Nestes termos, tanto se
pode entender que tal recomendao contraria o preceituado no Artigo
88 da Lei n 4.024/61, como tambm que, embora desenvolvida atravs
de servios especiais, a educao dos excepcionais pode enquadrar-se
no sistema geral de educao.(MAZZOTTA, 2005, p.69).
-
23
A Constituio de 1988, apesar de ser considerada a Constituio
Cidad, na expresso do deputado Uliysses Guimares, e a LDB de 1996 no
alteram significativamente a concepo sobre o Surdo, pois, a proposta de
educao, que lhe oferecida, continuou includa na educao especial, sem que
haja, portanto, respeito a suas particularidades.
A escola especial, de acordo com Bueno(1993)12, para os
deficientes o mesmo que um hospcio no sentido de isolamento dos que so
considerados diferentes: Distingue-se deste ltimo pela inteno de criar
procedimentos de ensino com a finalidade de habilitar socialmente surdos e
cegos.(BUENO, 1993).
Apesar de ainda deixar a desejarem em relao a educao
inclusiva para a educao de surdos, no entanto na Constituio Brasileira que
a comunidade surda encontra base legal para suas reivindicaes sobre tudo
para a criao de polticas pblicas exclusivas para surdos. Tal argumento est
galgado no seu artigo 208, garantido "O atendimento especializado aos
portadores de deficincia, preferencialmente na rede regular de
ensino".(CONSTITUIO FEDERAL, 1988).
No mbito nacional criada a Lei n 10.436, de 24 de abril de
2002, pelo ento Presidente da Repblica, Fernando Henrique Cardoso, com o
seguinte texto legal:
Art. 1o reconhecida como meio legal de comunicao e expresso a Lngua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de
expresso a ela associados.
Pargrafo nico. Entende-se como Lngua Brasileira de Sinais -
Libras a forma de comunicao e expresso, em que o sistema
lingstico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical prpria,
constituem um sistema lingstico de transmisso de idias e fatos,
oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. 12 Citado por Soares(1999).
-
24
Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder pblico em geral e empresas concessionrias de servios pblicos, formas
institucionalizadas de apoiar o uso e difuso da Lngua Brasileira de
Sinais - Libras como meio de comunicao objetiva e de utilizao
corrente das comunidades surdas do Brasil.
Art. 3o As instituies pblicas e empresas concessionrias de servios pblicos de assistncia sade devem garantir atendimento e
tratamento adequado aos portadores de deficincia auditiva, de acordo
com as normas legais em vigor.
Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a incluso nos
cursos de formao de Educao Especial, de Fonoaudiologia e de
Magistrio, em seus nveis mdio e superior, do ensino da Lngua
Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parmetros
Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislao vigente.
Pargrafo nico. A Lngua Brasileira de Sinais - Libras no poder
substituir a modalidade escrita da lngua portuguesa.
Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.
Braslia, 24 de abril de 2002; 181o da Independncia e 114o da
Repblica.13
Essa Lei foi o inicio de reconhecimento da cultura surda, tendo, no
entanto a necessidade de sua regulamentao pelo presidente Luiz Incio Lula da
Silva em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto n 5.626/2005, que regulamentou
a Lei n 10.436/2002, de 24 de abril de 2002, que dispe sobre a Lngua Brasileira
de Sinais LIBRAS, e o art. 18 da Lei n 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
O PRESIDENTE DA REPBLICA, no uso das atribuies que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituio, e tendo em vista o disposto
na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de
19 de dezembro de 2000,
13 Retirada do site http://www.leidireto.com.br/lei-10436.html
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25
DECRETA:
CAPTULO I
DAS DISPOSIES PRELIMINARES
Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de
2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.
Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda
aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo
por meio de experincias visuais, manifestando sua cultura
principalmente pelo uso da Lngua Brasileira de Sinais - Libras.
Pargrafo nico. Considera-se deficincia auditiva a perda bilateral,
parcial ou total, de quarenta e um decibis (dB) ou mais, aferida por
audiograma nas freqncias de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz.14
Neste decreto, alm de regulamentar a Lei 10.436/2002, ele define a
pessoa surda de acordo com o nvel de perda auditiva e reconhece legalmente
que as experincias vivenciadas por um surdo diferente das dos ouvintes ao
relacionar-se com o meio.
Em Pernambuco, estas Leis e Decretos tero sua seqncia atravs
de dois fatos importantes, distintos em perodos.
Primeiro, a Deputada Estadual Teresa Duere, faz reconhecer
oficialmente, em 1998, no Estado de Pernambuco, como meio de comunicao
objetiva e de uso corrente, a Lngua Brasileira de Sinais - LIBRAS, e dispe sobre
a implantao da LIBRAS como lngua oficial na Rede Pblica de ensino para
surdos. O que foi um grande avano para a rede pblica estadual.
Segundo, o Projeto de Lei Ordinria n 716/200815, que instituiu, no calendrio oficial do Estado, o Dia Estadual do Surdo.
Art. 1: Fica institudo o Dia Estadual do Surdo, a ser comemorado no dia 14 Retirada do site http://www.l2.com.br/hotsite/conade/Downloads/Etapas/Pernambuco.pdf 15 Retirada do site da Assemblia Legislativa de Pernambuco http://www.alepe.pe.gov.br/paginas/?id=3598&paginapai=3597&numero=716/2008&docid=654158 e www.feneis.org.br/page/legislacao_resultado.asp?1.
-
26
26 de setembro.
Art. 2: As secretrias de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos ,
Secretaria de Educao, Especial de Cultura, Desenvolvimento
Econmico, Turismo, Especial de Esportes, Desenvolvimento Social e a
Assemblia Legislativa de Pernambuco, contaro com o apoio da
Superintendencia de Apoio a Pessoa com Deficiencia-SEAD, do
Conselho Estadual de Defesa da Pessoa com Deficiencia - CONED, e
das demais entidades de defesa das Pessoas com Deficincia para a
realizao de atividades, eventos e debates em comemoraes alusivas
ao dia Estadual do Surdo.
Art. 3: O Dia Estadual dos Surdos, consistir de um programa oficial que
contenha atividades sobre a temtica da pessoa surda, incluso social,
educao especial, gerao de oportunidades de trabalho, esporte e
lazer para pessoas surdas, divulgao de avanos tcnico-cientficos e
mdicos que visem ao bem-estar dos surdos.
Para sair do isolamento imposto pela sociedade e at pela famlia,
alm de receber educao de qualidade e acabar com o preconceito, o caminho
percorrido pelos surdos, at chegar construo de todas essas Leis foi longo,
conforme foi visto durante esse estudo.
Este trabalho apresentar, apoiando-se na Pesquisa Figuraes
Culturais: Surdos na Contemporaneidade, a situao educacional, social,
econmica e cultural dos surdos da regio metropolitana do Recife, analisando as
suas mltiplas experincias e apreender suas expectativas de vida. No captulo
referente anlise de dados da pesquisa, ser feita uma reflexo a respeito das
leis.
-
27
2. A PESQUISA
Neste captulo pretendemos apresentar, inicialmente, a opo
metodolgica que norteou a pesquisa, assim como descrever os passos
desenvolvidos durante a coleta de dados.
Segundo FONTE (2005), realidade social entendida como uma
totalidade complexa, na qual processos e fenmenos esto em permanente
interao construtiva. Com essa compreenso, expressamos o carter conflitivo,
dinmico e histrico da realidade do surdo em Pernambuco.
A Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade
pretende ampliar o conhecimento sobre a situao educacional, social, econmica
e cultural dos surdos da regio metropolitana do Recife, analisando as suas
mltiplas experincias e apreender suas expectativas de vida.
Nessa direo, a pesquisa apresentou um aspecto inovador e
desafiador. Inovador por ter sido um projeto de construo coletiva de professores
e alunos do curso de especializao. Todos, corpo docente e discente, foram
pesquisadores e compartilharam saberes, experincias e perspectivas.
Desafiador, tambm, porque para alcanar os objetivos definidos e realizar a
pesquisa num delimitado espao e num tempo curto, s foi possvel, porque os
envolvidos seguiram os procedimentos metodolgicos.
Sempre na perspectiva pedaggica de conhecimento e interpretao
da realidade a partir dos prprios sujeitos, foram seguidos os seguintes passos
metodolgicos.
2.1 UNIVERSO DA PESQUISA
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28
A seleo do campo de pesquisa, inicialmente, constou de 4 (quatro)
escolas estaduais do Estado de Pernambuco e 1 (uma) instituio privada sem
fins lucrativos, de utilidade pblica federal, o SUVAG, localizadas em diferentes
bairros no municpio de Recife.
TABELA 1 UNIVERSO DOS ENTREVISTADOS POR CURSO E POR ESCOLAS Tabela 1 Universo de Entrevistados por condio e por escola Condio dos entrevistados
ESCOLAS
B.Lima Lauro Diniz
Rochael Medeiros
SUVAG
Vidal De Negreiros
Total
ESTUDANTES Fundamental II 11 3 10 8 4 36Ensino Mdio 12 1 - - - 13Sub-total 1 23 4 10 8 4 49
Universitrios - - - - - 8Sub-Total Estudantes
23
4
10
8
4 57
PAIS
B.Lima Lauro Diniz
Rochael Medeiros
SUVAG
Vidal De Negreiros
Total
Pai Surdo 1 1Pai Ouvinte 2 1 1 1 1 6Mes Ouvintes 17 2 9 6 2 36Sub-total Pais 19 3 10 7 4 43
Professores
B.Lima Lauro Diniz
Rochal Medeiros
SUVAG
Vidal De Negreiros
Total
Fundamental II 3 2 3 2 10
Mdio 9 9
Fundamental e Mdio
6
2
1 9
-
29
Itinerante 6 1 7
Sub-Total Professores
24
2
3
3
3 35
Fonte.Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade.Totalizao Questionrios Estudantes, Pais e Professores.
2.2 A SELEO DOS ENTREVISTADOS A seleo dos entrevistados pesquisados foi de 43(quarenta e trs)
pais, 57(cinqenta e sete) estudantes surdos e (trinta e cinco) professores de
surdos das escolas estaduais do Estado de Pernambuco, localizadas na Regio
Metropolitana do Recife e do Centro SUVAG de Pernambuco.
As escolas pesquisadas foram quatro da Rede de Ensino Estadual:
Escola Governador Barbosa Lima, localizada no bairro das Graas, Escola
Engenheiro Lauro Diniz, localizada no bairro do Ipsep, Escola Cnego Rochael de
Medeiros, localizada no bairro de Santo Amaro, Escola Vidal de Negreiros
localizada, no bairro de Afogados, e o Centro SUVAG escola bilnge sem fins
lucrativo, localizado no bairro da Torre.
Uma vez que foi a partir da participao dos surdos, em algum
movimento social para influenciar as polticas pblicas dos governos federal e
estadual, que surgiram as inquietaes em relao primeira lngua aprendida, a
idade que viram pela primeira vez e a idade que eles comearam a usar LIBRAS.
Tambm, qual seria a opinio dos professores de surdos em relao incluso
de surdos.
A Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade
reflete essas diferenas, j que os locais escolhidos, as escolas estaduais e o
centro SUVAG, localizados em diferentes regies do Recife, possuem diversidade
tanto geogrfica, quanto social.
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30
Optamos pela escolha das escolas j referidas, porque essas
instituies de ensino tm um nmero significativo de alunos surdos. E pela
localizao das mesmas em diferentes regies da cidade com as caractersticas
de centralizar o atendimento aos alunos surdos.
A cidade do Recife apresenta diferenas marcantes na construo de
seu espao que expressam a forte desigualdade social, tornando-a uma cidade
de contrastes. Essa diferenciao social pode ser notada na tabela 2, na qual
apresenta o perfil social de cada bairro e a RPA (Regio Poltico Administrava),
que se encontram localizadas as instituies de ensinos da pesquisa.
TABELA 2 Perfil Social dos Bairros PERFIL SOCIAL BAIRROS Santo
Amaro Graas Torre Afogados IPSEP
RPA 01
03 04 05 06
ESCOLA Rochael Medeiros
B.Lima
SUVAG Vidal De Negreiros
Lauro Diniz
RENDIMENTO NOMINAL MDIO MENSAL DOS RESPONSVEIS PELO DOMICLIO
R$ 790,00
R$ 3.650,75
R$ 1.464,74
R$ 586,76
R$ 917,08
TAXA DE ALFABETIZAO DA POPULAO DE 15 ANOS E MAIS
80,32% 98,64% 92,14% 88,94% 95,85%
AREA TERRITORIAL (HECTRE)
362,8 148,8 118,8 349,5 179,5
POPULAO RESIDENTE
29.140
16.877 16.931
36.146 25.714
Fonte.Prefeitura do Recife 16
16 Disponvel no site http://www.recife.pe.gov.br/pr/secplanejamento/inforec/bairros.php
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31
Com uma rea com cerca de 220 km, apresentando, segundo o
Censo demogrfico de 2000, uma populao de 1.422.05 habitantes. A cidade
distribui essa populao de modo desigual nos 94 bairros que formam a cidade,
dos quais cerca de 67,4% esto localizados em morros, que circundam de norte a
sul.
Assim, compem seu cenrio geogrfico 543 favelas, onde 54% de
seus habitantes ganham meio salrio mnimo. Sua regio metropolitana
composta, hoje, por 14 municpios, sendo o Recife o municpio ncleo, exercendo
influncia social, econmica, cultural e poltica direta nos municpios do contexto
metropolitano.
Com uma economia alicerada no tercirio, Recife apresenta
indicadores sociais que denotam uma precria qualidade de vida na cidade.
Apresenta altos ndices de desemprego que associam aos baixos salrios e a
pouca qualificao profissional de seus trabalhadores, configurando-se grandes
desigualdades sociais e acesso restrito aos bens sociais.
2.3 O ARCABOUO INSTITUCIONAL E LEGAL RELATIVO CONDIO DO SURDO O arcabouo institucional e legal sobre surdos, que foram utilizados
na Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade, e encontra na:
Constituio Federal de 2008, LDB e Legislao Estadual de Pernambuco. A
partir das Leis citadas no Primeiro captulo desse trabalho.
2.4 METODOLOGIA DA PESQUISA
A pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade
surgiu a partir da necessidade dos participantes do curso de Especializao em
Estudos Surdos compreender o que de acordo com FERREIRA (1998) no
poderia ser explicado apenas pelas manifestaes externas dos indivduos, uma
vez que essas manifestaes se encontram permeadas por subjetividades, e que
s atravs da compreenso e da interpretao que pode ser reconstrudo.
-
32
Metodologicamente, prope-se que haja empatia que s possvel atravs da
identificao com os valores que servem de referncia conduta.
Diante desse contexto, foi realizada uma capacitao antes do incio
da pesquisa com a participao de todos os alunos e professores da turma, o que
possibilitou uma discusso terica sobre a principal as questes, como por
exemplo, o significado e o papel da incluso, identidade surda, movimentos
sociais, cultura e cultura surda. A partir de ento foi definido o projeto de
pesquisa, dele constando os critrios para a escolha dos entrevistados, os
segmentos sociais metodolgicos e o instrumento, a delimitao temporal. A
pesquisa foi composta por trs questionrios - um, para estudantes surdos do
ensino Fundamental II, ensino Mdio e Universitrio. Outro, para pais com filhos
surdos. E outro para professores da Rede Estadual de Ensino e do SUVAG
Nas discusses metodolgicas foram debatidos os seguintes
autores: Max Weber, Pierre Bourdieu,Walter Benjamim. E tambm de autores que
abordavam sobre a histria de vida dos surdos como Von Simson, Ndia Limeira
de S e Patrcia Pinto.
O questionrio dos pais com filhos surdos tinha 165 (cento e
sessenta e cinco questes) questes, o dos professores de surdo com 146 (cento
e quarenta e seis) questes. E questionrio aplicado aos estudantes universitrios
foi o mesmo dos estudantes do Ensino Mdio, acrescido de (12) doze questes
especficas (para alunos do ensino superior) totalizando cento e sessenta (160)
questes.
Para garantir a privacidade dos pesquisados, cada questionrio
constava de uma letra identificando a escola, com as letras P, E, A, U, para pais,
educadores, alunos e universitrios, respectivamente, e de um nmero para
mostrar a sequncia e quantidade. Por exemplo: B.P. 052 significa Escola
Barbosa Lima, questionrio de Pais, 52 questionrio.
Os questionrios contemplavam questes fechadas, de mltiplas
escolhas e questes abertas abordando: identificao dos entrevistados, condio
-
33
de ser surdo, LIBRAS, instruo sobre a escola, perspectivas de estudos, cultura
surda, conhecimento e atividades culturais, informtica, famlia, sexo, trabalho,
situao scio-econmica e atividade poltica.
Para aplicao dos questionrios foi feito um treinamento, um pr-
teste de preenchimento com as duplas. Duplas que eram formadas por alunos do
curso onde eles se revezavam como entrevistador e outro como observador. O
entrevistador lia as questes do questionrio e marcava as respostas, o
observador era responsvel em observar e anotar o comportamento, os
comentrios, etc., do entrevistado em um caderno.
Em cada escola um aluno assumiu a funo de coordenador, para
facilitar o trabalho foi dada a preferncia, para quem trabalhasse na escola. A
funo do coordenador era agendar as entrevistas, apresentar as duplas para os
entrevistados e recolher os questionrios preenchidos.
Agendada a pesquisa, as duplas se dirigiram para as escolas
escolhidas nas datas marcadas. Antes do incio das entrevistas as duplas
entregavam ao entrevistado o Termo de Compromisso, para leitura e assinatura,
ficando uma copia com o entrevistado e uma com a dupla. Aps o final da
entrevista, o coordenador recolhia o questionrio e entregava para o colegiado do
curso.
Com o final de todas as entrevistas, cada professor ficou
responsvel em fazer a apurao com as duplas de cada escola. Seguindo os
procedimentos previamente debatidos e exercitados anteriormente pela turma.
Terminada a apurao, iniciou-se a totalizao dos dados, que
tomou muito tempo da equipe responsvel por esta etapa.
Uma vez que temos como tema desse trabalho Polticas Pblicas
Para Surdos Em Pernambuco, a anlise desses dados da Pesquisa Figuraes
Culturais: Surdos na Contemporaneidade ser feita no prximo captulo com
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34
questes escolhidas por retratar na prtica como essas polticas vm sendo
aplicadas nas instituies de ensino pernambucanas.
3. ANLISE DOS DADOS DA PESQUISA Neste captulo, apresentamos a anlise dos dados coletados, atravs da leitura dos questionrios.
Na anlise, selecionamos algumas das questes dos questionrios
que so pertinentes ao tema do nosso trabalho Polticas Pblicas para Surdos em
Pernambuco. Essas questes retratam como vem sendo vivenciadas, na prtica,
algumas das polticas pblicas para surdos nas escolas estaduais e no Centro
SUVAG de Pernambuco.
Neste trabalho, optamos por analisar os segmentos de estudantes
universitrios, estudantes do ensino fundamental II atravs das questes
referente a primeira lngua que aprendeu, a idade que comeou a usar LIBRAS, a
primeira vez que viu LIBRAS e de professores atravs da questo sobre a poltica
educacional para surdos. Tambm, sobre a participao dos entrevistados em
algum movimento para influenciar as polticas dos governos federal e estadual. A
escolha desses segmentos foi proposital porque so eles que vivenciam,
diretamente, aspectos dessas polticas, como elas esto acontecendo na rotina
das instituies educacionais.
3.1 Questes analisadas: Aqui reproduziremos as perguntas tais quais foram feitas no questionrio. Algumas questes so para todo o universo, outras sero para algumas categorias. Influncia das polticas pblicas
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35
VOC PARTICIPOU DE ALGUM MOVIMENTO PARA INFLUENCIAR AS POLTICAS DOS GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL?
TABELA 03
ESTUDANTES
UNIVERSITRIOS
ESTUDANTES
FUNDAMENTAL II E MDIO
PROFESSORES TOTAL
a) Sim 8 1 11 20
b) No 3 23 26
00) NR 1 1
NV 45 45
TOTAL 8 49 35 92
Fonte: Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade. Totalizao dos questionrios estudantes e professores.
Como podemos ver na tabela, apesar do nmero significativo de
estudantes 45(quarenta e cinco) que no viram a questo por, conta de um erro
na aplicao dos questionrios, no seguimento de educadores tivemos o
resultado de 65%( sessenta e cinco por cento) que nunca participaram de
nenhum movimento para influenciar as polticas dos governos federal e estadual.
A partir dessa anlise, podemos levantar a seguinte questo: Que a
maioria dos educadores, que recebem alunos surdos na suas salas de aula,
mesmo tendo grande influncia na famlia17, eles restringem sua colaborao a
vida dos surdos apenas no ambiente escolar. Mesmo tendo grande importncia
na vida de qualquer estudante.
O que muito pouco, j que alm da famlia, o educador deveria ser
algum capaz de compreender os anseios, os desejos e as necessidades dos
estudantes surdos ou ouvintes. Uma forma de alcanar isso seria participar mais
17 Segundo Longman(2007), os profissionais da educao mais os mdicos e fonoaudilogos, tm maior influncia no destino das famlias ouvintes de filhos surdos que a comunidade surda.
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36
ativamente em movimentos sociais, para garantir a aplicao dos direitos desses
estudantes.
Primeira lngua aprendida
QUAL A PRIMEIRA LNGUA QUE VOC APRENDEU?
TABELA 04
ESTUDANTES
UNIVERSITRIOS
ESTUDANTES
FUNDAMENTALII
TOTAL
A) LIBRAS 4 19 23
B) PORTUGUS 3 26 29
00) NR 2 2
BRANCO 1 2 3
TOTAL 8 49 57
Fonte: Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade. Totalizao dos questionrios estudantes.
Nessa questo, dos 57(cinquenta e sete) estudantes surdos
entrevistados, 51% (cinquenta e um por cento) que teve como primeira lngua o
Portugus e 40% (quarenta por cento) a LIBRAS. Esse resultado tambm
confirmado no trabalho de Longman(2007):
O fracasso da nossa educao pblica torna-se mais grave em
relao aos Surdos, pelo descaso de gestores e profissionais que
insistem em repetir antigas abordagens ouvintistas de representar e
narrar os surdos a partir dos seus modelos de lngua oral. Se antes o
problema da educao de Surdos era estar centrada na falta da audio
e fala, agora porque eles falam e possuem uma lngua de sinais. Os
trabalhadores da educao esto lentamente investindo nas questes
levantadas pelos Estudos Surdos: a cultura, a lngua, as lutas de poder,
as diferenas nas diferenas, a identidade, etc., permitindo que o
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37
discurso da escola inclusiva seja questionado e no sirva mais como
pano encobridor do fracasso no ensino da maioria da populao.
Longman, 2007, p.107-108.
Essa questo levanta a discusso sobre a Lei n 10.436/2002 que
reconhece como meio legal de comunicao e expresso a Lngua Brasileira de
Sinais LIBRAS, e outros recursos de expresso a ela associados. Ento, se a
Lei reconhece a lngua do surdo e em seus artigos ela declara que deve ser
garantido por parte do poder pblico o apoio, o uso e difuso da LIBRAS, assim
como, o atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficincia
auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Por que ainda temos tanta
resistncia no uso de LIBRAS, num dos locais onde ela deveria ser mais
divulgada a ESCOLA. So essas inquietaes que nos levam as prximas
questes da pesquisa.
Idade que viu e comeou a usar LIBRAS
A PRIMEIRA VEZ QUE VOC VIU LIBRAS FOI?
TABELA 05
ESTUDANTES
UNIVERSITRIOS
ESTUDANTES
FUNDAMENTAL II
TOTAL
a) FAMLIA - 01 01
b)ENTRE SURDOS ADULTOS
01 07 08
c) NA IGREJA - 01 01
d) NA ESCOLA 05 23 28
e) OUTROS 02 16 19
NS - 01 01
TOTAL 08 49 57
-
38
Fonte: Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade. Totalizao dos questionrios estudantes.
A pesquisa apresenta que, para 49% (quarenta e nove por cento)
dos estudantes entrevistados, a escola foi o primeiro lugar onde eles viram a
LIBRAS pela primeira. Esse resultado demonstra como a escola importante
para o surdo ter acesso a sua lngua.
Segundo, Longman(2007) as crianas nascida de pais ouvintes,
precisam de uma poltica mais interventora no aprendizado da LIBRAS,
juntamente com os pais.
Em casa, com a prpria famlia onde as crianas surdas deveriam
aprender a sua lngua, porm o que a realidade apresenta que em casa as
pessoas falam outra lngua, no a do surdo, deixando-o alheio, na maioria das
vezes, ao que acontece na rotina da famlia.
QUAL IDADE VOC COMEOU A USAR LIBRAS?
TABELA 06
ESTUDANTES
UNIVERSITRIOS
ESTUDANTES
FUNDAMENTAL II
TOTAL
0 - 1 01 07 08
6 - 11 03 13 16
12 - 16 02 22 24
17- 25 02 02 04
99)NS - 05 05
BRANCO - - -
TOTAL 08 49 57
Fonte: Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade. Totalizao dos questionrios estudantes.
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Como se v na tabela 06, nessa questo, temos 42% (quarenta e
dois por cento) de estudantes surdos que comearam a usar LIBRAS depois dos
11(onze) anos de idade. No entanto essa realidade entra em choque com o
Decreto n 5.6626/2005 que obriga o ensino de LIBRAS desde a educao
infantil. No bem essa realidade que a pesquisa mostrou. O que ela apresentou
foi que o surdo comea a usar LIBRAS tarde.
No demais repetir que a falta de uma lngua de sinais, na
primeira infncia, pode no produzir falhas no desenvolvimento do
pensamento, mas limita a compreenso de mundo, tanto dos Surdos
quanto dos ouvintes, na construo de sua subjetividades ouvintes e
Surdas e, mais grave, separa o Surdo da sua famlia biolgica.
Longman,2007, p.111.
Na prxima questo, vamos analisar os dados da pesquisa referente
ao lugar onde os estudantes surdos viram LIBRAS pela primeira vez.
Poltica educacional de incluso para alunos surdos
NA SUA OPINIO, A POLTICA EDUCACIONAL DE INCLUSO PARA OS ALUNOS SURDOS, FAVORECE:
Dos 35 (trinta e cinco) professores entrevistados, 15 (quinze)
acreditam que favorea a aprendizagem, porm 22 (vinte e dois) acreditam na
integrao com os ouvintes, 16 (dezesseis) na integrao com outros professores,
17 (dezessete) na participao em atividades extra-curriculares da escola, 14
(quatorze) deram todas as respostas anteriores, 3 (trs) nenhuma das respostas e
2 (dois) no responderam.
Os nossos profissionais, em educao, tm uma viso da incluso
de surdos, em consonncia com as ideias propagadas pela educao especial no
Brasil. No h m inteno nessas ideias, o que falta a elas o aprofundamento
nos estudos sobre os Surdos. Para maioria dos nossos profissionais, em
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educao, 35(trinta e cinco) entrevistados, a surdez, ainda, est ligada a perda
auditiva e a deficincia.
Hoje, grupos Surdos (no so todos), rompendo a ideologia da
deficincia biolgica, definem-se como minorias lingsticas. Vm-se
reafirmando como grupos culturais com representaes, significativas e
produes no campo intelectual, tico, esttico, artstico e corporal, a
partir de sua experincia visual e, principalmente, de sua lngua,
constituda de estratgias cognitivas visuais e corporais. Longman,2007,
p.18.
Infelizmente, no foi possvel analisar todos os dados da Pesquisa
Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade, neste trabalho. No prximo
captulo, nas consideraes finais, vamos levantar algumas recomendaes para
que, no futuro, ao criar novas polticas pblicas, os Surdos sejam reconhecidos
como uma etnia18
18 De acordo com Longman (2007, p.19) no Brasil, apesar dos avanos dos movimentos sociais, as polticas continuam voltadas para o no reconhecimento dos Surdos como uma etnia, e que possuem uma lngua modalidade gestual-visual.
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CONSIDERAOES FINAIS
A construo da histria da educao para surdos, no sistema
educacional no Estado de Pernambuco, vem acompanhando o movimento da
educao para surdo no Brasil conforme o breve histrico abordado nesse estudo
no primeiro captulo. Desde 1857, quando foi criado o Imperial Instituto de Surdos
Mudos, por D. Pedro II a educao oferecida aos Surdos discutida de forma
unilateral sem considerar as verdadeiras necessidades dos Surdos.
Na educao para Surdos, copiamos modelos, primeiro o europeu,
depois o americano. Copiar, no errado. Pecamos quando ao copiar trazemos
tudo, de bom e tambm de ruim. Nesse caso foi a necessidade de oralizar os
Surdos.
Durante a pesquisa para esse trabalho sentimos a dificuldade de
encontrar mais registros histricos sobre a educao de Surdos no Brasil, ser
que, a ausncia desses registros porque ela tem o peso da excluso desde o
seu inicio, quando a fundao do Imperial Instituto de Surdos Mudos foi feita num
asilo, com atendimento s para meninos e alguns surdos que l estudavam foram
abandonados pela famlia.
At hoje os Surdos brasileiros lutam para que sua identidade seja
no apenas reconhecida pela legislao, mas na prtica pela sociedade. Na
histria da educao para surdos no Brasil, observamos que existiram fases:
nessas duas fases o surdo era visto como algum que precisa de conserto a
primeira voltada para filantropia, a segunda voltada para a habilitao, e como se
conserta um surdo? Fazendo-o falar?
Ainda hoje o enfoque principal continua sendo clnico-reabilitador
que encontra respaldo na Psicologia, na Psicopedagogia e na Educao
Especial19.
19 Reflexo a partir da leitura dos trabalhos de Lopes (2007) e Thoma (2006).
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As conquistas sociais, citadas nesse estudo, nessa ltima dcada da
comunidade surda, como o reconhecimento da LIBRA como meio legal de
comunicao e a obrigatoriedade do ensino de LIBRAS a partir da educao
infantil, se devem ao empenho cada vez maior dos movimentos sociais surdos de
reivindicar seus direitos. Direitos, como ser atendido por um profissional
preparado, ou seja, que fale LIBRAS em uma emergncia de hospital, numa
delegacia, at mesmo no banco20. Como enxergam e caminham no so
atendidos com obras fsicas na cidade.
Mesmo com o avano dos movimentos sociais, as polticas pblicas
para Surdo ainda colocar educao de surdos includa na educao especial, no
campo da educao inclusiva. O desconhecimento da realidade dos surdos pelos
gestores pblicos, faz surgir situaes que isolam socialmente o surdo, como a de
colocar um aluno surdo na mesma turma com alunos ouvintes que no falam
LIBRAS.
Na Pesquisa Figuraes Culturais: Surdos na Contemporaneidade
observamos, nos resultados dos dados obtidos, que ainda temos um longo
caminho a percorrer. Nas questes analisadas sobre a participao na influncia
das polticas pblicas, a primeira lngua aprendida, a idade que viu e comeou a
usar LIBRAS, observamos que mesmo sendo os que mais sofrem as influncias
das polticas pblicas, a maioria dos entrevistados, que responderam a questo,
nunca participou de nenhum movimento para influenciar as polticas pblicas.
Para boa parte dos estudantes surdos a primeira lngua no foi a LIBRAS, a
aprendizagem de LIBRAS continua acontecendo de forma tardia para as crianas
surdas, a escola uns dos locais onde o Surdo ver a LIBRAS pela primeira vez,
um nmero significativo de educadores continuam alheios aos movimentos e a
cultura surda. Consideramos, ainda, que necessrio discutir sobre a formulao
de uma proposta de formao continuada para educadores ouvintes que
trabalham com alunos surdos.
20 Reportagem do Dirio de Pernambuco de 04/08/2009.
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Ser Surdo, aqui no Brasil, ainda significa viver como um estrangeiro,
s vezes dentro da prpria casa, com a famlia de ouvintes que no sabe LIBRAS.
Ou na escola, onde sua lngua ainda um mistrio at para alguns dos
professores. Uma das principais barreiras que o surdo deve transpor a da
lngua. Reconhecida a pouco tempo a Lngua Brasileira de Sinais ainda no
uma realidade para todos os surdos.
O Surdo vive permanentemente reivindicando ser visto com respeito
e que sejam reconhecidas as particularidades da sua comunidade. Por utilizar
uma lngua que tem o corpo como referncia, os surdos sofreram controle e ainda
hoje sofrem, por ser um povo de linguagem visual.
Com o desenrolar do nosso trabalho vimos que os surdos eram
vistos como incapazes de desenvolver um pensamento por no possuir a lngua
majoritria. Com sua presena nas escolas eles se organizaram, divulgaram sua
lngua e sua cultura. Porm h tcnicos de educao, Psiclogos,
Psicopedagogos, Especialistas da Educao Especial que ainda hoje, na maioria
das vezes de forma disfarada, se esforam para transformar o surdo em algum
capaz de comunicar-se como um ouvinte.21
Esse trabalho evidenciou a trajetria da necessidade de se investir
mais na constituio de polticas pblicas exclusivas para Surdos, nem sempre
aplicadas, e para os estudiosos permanece a necessidade de aprofundamento
nas questes relativas educao dos surdos.
21 Reflexo a partir da leitura dos trabalhos de Lopes (2007) e Thoma (2006).
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ANEXOS