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UNIVERSIDADE DE SO PAULO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA AMBIENTAL
ANDRA PIMENTA AMBROZEVICIUS
Poluio aqutica em Santos (SP): uma abordagem interdisciplinar
So Paulo
2010
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ANDRA PIMENTA AMBROZEVICIUS
Poluio aqutica em Santos (SP): uma abordagem interdisciplinar
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Cincia Ambiental doInstituto de Eletrotcnica e Energia daUniversidade de So Paulo para obteno dottulo de Mestre em Cincia Ambiental.
rea de concentrao: Cincia Ambiental
Orientadora: Prof. Dra. Ana Lcia Brandimarte
So Paulo
2010
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRFICA
Ambrozevicius, Andra Pimenta
Poluio aqutica em Santos (SP): uma abordagem interdisciplinar/
Andrea Pimenta Ambrozevicius; orientadora Prof. Dra. Ana Lcia
Brandimarte So Paulo, 2010.135f.: il.; 30 cm.
Dissertao (Mestrado Programa de Ps-Graduao em CinciaAmbiental) Universidade de So Paulo.
1. Poluio da gua- Santos 2. Ecotoxicologia I. Ttulo.
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Dedico esse trabalho aos meus filhos, Luna e Iago, que so a razo
maior dos meus esforos, e representam as futuras geraes, prestes a herdar
graves problemas ambientais, cuja evoluo tambm depende de ns.
Dedico tambm aos meus pais, pelo apoio total durante a realizao do
projeto. minha me, Nazareth Pimenta Ambrozevicius, sou especialmente
grata pela plena dedicao s crianas quando era necessrio ausentar-me.
Quanto ao meu pai, Nelson Ambrozevicius, reconheo a maneira especial
como sempre acolheu as escolhas de seus filhos.
E dedico o trabalho tambm aos meus irmos, Luciana e Alexandre,
pelo constante incentivo, e Fernanda Roberta Coelho de Lena, minha irm de
corao, que redescobri no meio do caminho, durante o Mestrado.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a minha orientadora Prof. Dra. Ana LciaBrandimarte, pela oportunidade e pela coragem em orientar o presente projeto,
mesmo envolvendo alguns tpicos fora de seus temas habituais de pesquisa.
Acredito que conseguimos suplantar satisfatoriamente as eventuais lacunas,
com o conhecimento buscado fora da nossa parceria.
Muito obrigada tambm ao Comit de Orientao, pelas importantes
contribuies desde o incio do trabalho, composto pela orientadora e pelos
professores doutores Pedro Jacobi (FE / PROCAM USP) e Mnica Porto
(POLI / PROCAM USP).
Agradeo imensamente ao Prof. Dr. Denis Moledo de Souza Abessa,
que continuo considerando meu orientador, mesmo que s vezes no o seja
oficialmente. Desde a graduao um pesquisador que sempre tive como
referncia e que me apoiou profissionalmente, tanto nas atividades do
Mestrado, como em outras. No presente projeto teve um papel essencial,
principalmente na fase de elaborao e nos experimentos ecotoxicolgicos.
Agradeo MSc. Fernanda Terra Stori, pelas importantes discusses
scio-ambientais sobre a Baixada e companheira de eventos relacionados ao
tema das nossas pesquisas, especialmente pelos toques sobre o scio, do
scio-ambiental.
Aos bilogos Mestrandos Marcela Davanso, Luciane Maranho, Lucas
Moreira e Jeamylle Nilin, agradeo pelo apoio na execuo dos testes
ecotoxicolgicos no laboratrio da UNESP/CLP.
Agradeo tambm s pessoas que contriburam facilitando a aquisio
de dados essenciais para o trabalho: Bil. Dymes Rafael Alves dos Santos, na
ocasio estagirio da prefeitura de Santos; Bil. Macarena Elizabeth Molina
Aguilera (UNESP/CLP), Prof. Dr. Francisco Buchmann (UNESP/CLP) e Prof.
Dr. Fernando Degaspari (Centro Universitrio Monte Serrat - UNIMONTE).
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No poderia deixar de agradecer ao Bil. Felipe Augusto Zanusso Souza
(Navala), pela valiosa ajuda de ltima hora, e Eugenia Aparecida Martins, a
Gnia, pela dedicao e pacincia com os pimpolhos durante o ltimo ano de
Mestrado.
Por fim, institucionalmete agradeo:
- ao PROCAM, parabenizando-o pela excelncia, por destacar-se como
um dos raros programas que promovem estudos interdisciplinares no Brasil,
apesar dos percalos que tem enfrentado;
- CAPES, pelo auxlio financeiro concedido durante parte do Mestrado;
- UNESP/CLP Universidade Estadual Paulista / Campus do Litoral
Paulista, pelo uso dos laboratrios;
- ao Laboratrio de Ecotoxicologia da UNISANTA Universidade Santa
Ceclia (Santos-SP), em especial em nome dos pesquisadores MSc. Camilo
Pereira, Bil. Fernando Cortez e Dr. Augusto Cesar, pelo fornecimento de
organismos-teste e pelas discusses pertinentes.
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Vivemos hoje num mundo globalmente interligado, no qual os fenmenos
biolgicos, psicolgicos, sociais e ambientais so todos interdependentes.Para descrever esse mundo apropriadamente, necessitamos de uma
perspectiva ecolgica que a viso do mundo cartesiana no nos oferece.
[...] Reducionismo e holismo, anlise e sntese, so enfoques
complementares que, usados em equilbrio adequado, nos ajudam a
chegar a um conhecimento mais profundo da vida.
Fritjof Capra
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RESUMO
Ambrozevicius, A. P. Poluio Aqutica em Santos (SP): uma abordageminterdisciplinar. 2010. 135 f. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-graduao em Cincia Ambiental, Universidade de So Paulo, So Paulo,
2010.A poluio aqutica em Santos uma questo ambiental prioritria,
interdisciplinar por natureza, devido aos seus efeitos ecolgicos, de sade
pblica e scio-econmicos. Trata-se de um problema amplamente relatado,
cuja evoluo acompanhou o histrico de desenvolvimento econmico da
regio. A presente pesquisa partiu de anlises pontuais de um nico, porm
representativo, canal de drenagem pluvial urbana e das praias receptoras de
seu contedo, para uma anlise da poluio aqutica no municpio como umtodo. Para isso, foram usadas diferentes metodologias: coletas de amostras de
gua do canal e do mar, seguidas de anlises fsicas, qumicas e
ecotoxicolgicas; pesquisas sobre as polticas pblicas relacionadas poluio
hdrica local e aplicao de entrevistas estruturadas em frequentadores das
praias. Alm disso, foi analisada uma srie histrica de dados microbiolgicos
das guas costeiras santistas. Os resultados indicam toxicidade aguda
eventual nas amostras do canal e toxicidade crnica nas amostras da gua do
mar, coletadas em 2007, e severa contaminao de origem fecal, ao menos
nas ltimas trs dcadas. A pesquisa sobre as polticas pblicas constatou que
algumas surtiram efeitos positivos, mas no foram suficientes para melhorar a
qualidade da gua e mant-la adequada, seja por sua descontinuidade, seja
pelo crescimento acelerado no municpio, tanto demogrfico, quanto
econmico. A maioria das aes tem despontado em resposta a situaes
crticas, sendo implantadas sem planejamento adequado, visando conter
apenas as conseqncias ambientais, e no as reais causas dos problemas.
Como as polticas pblicas geralmente no surgiram de processos de gesto
participativa, tambm foram analisados alguns instrumentos de participao
pblica vigentes em Santos existe um envolvimento ainda incipiente da
populao, mas com iniciativas interessantes e potencialmente viveis. Em
relao s entrevistas, foram analisadas as respostas de 83 pessoas, entre as
quais 77% eram residentes e o restante turistas. A maioria dos entrevistados
acredita que as praias esto poludas e que a situao dos canais ainda mais
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ABSTRACT
Ambrozevicius, A. P. Aquatic Pollution in Santos (SP): an interdisciplinaryapproach. 2010. 135 p. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-graduaoem Cincia Ambiental, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010.
The aquatic pollution in Santos is a priority environmental issue, which
presents many dimensions, as ecological, public health and socioeconomic
ones, having thus an interdisciplinary nature. This question has been
extensively studied and its evolution was strictly related to the history of the
regional economic development. The first phase of the present survey consisted
of punctual analyses, made during 2007, of a single (but representative) urban
pluvial drainage channel and the receiving beaches which are directly
influenced by its contribution (i.e., to its contaminants inputs), in order toestimate the water quality (according to the aquatic pollution) in the overall
shore. To achieve that, different methods were employed: sampling of channel
and sea waters, and physical, chemical and ecotoxicological analyses. The
second phase consisted of an investigation on the public policies related to the
local hydric pollution. Concomitantly, as the third part of this survey, we
conducted a study on the public knowledge on the aquatic pollution, by the
application of structured interviews to the beaches users. Complementarily, thehistorical series of microbiological data for the coastal waters of Santos was
assessed, to provide additional data. The results indicated eventual acute
toxicity of channel water samples and chronic toxicity of sea water samples, and
a severe fecal contamination at least in the last three decades. The evalution of
public policies indicated that even though some of them had positive effects,
they were not sufficient to improve the water quality and to maintain it
appropriate, whether due to their discontinuity, whether to the demographic andeconomic accelerated growth of the city. The majority of actions have been
implemented as responses to critical situations, without proper and wider
planning, aiming only to control the consequences, and not the real causes of
the problems. The public policies generally were not a product of participative
processes; some instruments of public participation in Santos also were
analyzed theinvolvementof the population is still incipient. However there are
interesting and potentially viable initiatives. Regarding to the interviews, 83
beach users were considered to this survey, 77% were local residents and the
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remaining were tourists. The most interviewees believe that beaches are
polluted and that the channels situation is still more critic, being in accordance
with the results of ecotoxicological and microbiological data. Many of the beach
users do not have contact with sea water due to its doubtful quality, but they do
not feel responsible for the situation and not show initiative to press the public
governement to act. When the obtained data are integrated, it is possible to
notice that the water quality in Santos beaches is critical, as a product of an
unsustainable model of development, lacking of planning and inconsistent
public policies. The situation is aggravated due to the passivity observed among
many of the beach users, who are aware of the pollution, but do not involve
themselves to find effective solutions. We hope that this research may
contribute to the control of aquatic local contamination, by the establishment of
policies, enforcements and actions which consider all the dimensions of the
problem, in special its causes. Moreover this research demonstrated that the
integration of the different assessment methods may provide a stronger
comprehension of the environmental issues and which consequently can
subsidize much more effectively their solutions. Therefore it is highlighted the
importance of interdisciplinarity to the studies involving environmental issues.
Keywords: aquatic pollution, interdisciplinarity, Santos, public politics,
ecotoxicology, interviews.
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SUMRIO
1. INTRODUO 13
1.1 O municpio de Santos e regio situao ambiental 131.2 Qualidade da gua 18
1.3 Polticas pblicas 22
1.4 Avaliao da percepo das pessoas sobre questes ambientais 28
1.5 Interdisciplinaridade em questes ambientais 29
2. OBJETIVOS E HIPTESES 32
3. MATERIAIS E MTODOS 33
3.1 Anlises da qualidade da gua 33
3.1.1 Coletas e anlises de amostras de gua do Canal 3 33
3.1.2 Coletas e anlises de amostras de gua do mar 39
3.1.3 Caracterizao da qualidade da gua a partir da anlise de dados secundrios 40
3.2 Pesquisa sobre polticas pblicas relacionadas poluio hdrica local 41
3.3 Entrevistas estruturadas com frequentadores da praia 42
4. RESULTADOS 44
4.1 Qualidade da gua 44
4.1.1 Anlises das amostras de gua do Canal 3 44
4.1.2 Anlises das amostras de gua do mar 46
4.1.3 Dados bibliogrficos de balneabilidade em Santos 48
4.1.3.1 Modos de classificao e de qualificao anual das praias e dos corpos degua afluentes no estado de So Paulo
48
4.1.3.2 Dados de contaminao microbiolgica das praias e dos canais de Santosem 2007
49
4.1.3.3 Evoluo da contaminao microbiolgica das praias e dos canais deSantos
51
4.1.3.4 Influncia do emissrio submarino de Santos e das comportas instaladasnos canais na qualidade da gua das praias
52
4.2 Pesquisa sobre as polticas pblicas relacionadas poluio hdrica local 53
4.2.1 Poltica Nacional dos Recursos Hdricos PNRH (Lei 9433/1997) e Poltica
Estadual dos Recursos Hdricos SP (Lei 7663/1991)
53
4.2.2 Resoluo CONAMA 357/2005 e sua aplicao nas guas dos canais e das 54
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praias de Santos4.2.3 Plano de Bacia Hidrogrfica da Baixada Santista 554.2.4 Programa Onda Limpa Governo do estado de So Paulo e SABESP 574.2.5 Programa Canal Limpo 584.2.6 Outros projetos relacionados aos canais de drenagem de Santos 59
4.2.7 Agenda CETESB/SABESP 604.2.8 Projeto municipal Cate a Caca do Tot 61
4.2.9 Outros instrumentos relacionados qualidade da gua em Santos. 614.2.10 Instrumentos de participao popular 62
4.3 Algumas caractersticas dos frequentadores da praia e sua viso sobre aquesto da poluio das guas em Santos
66
4.3.1 Escolaridade e renda dos entrevistados, origem dos turistas 66
4.3.2 Conhecimento sobre o destino do esgoto Grupo I 67
4.3.3 Freqncia nas praias de Santos 68
4.3.4 Percepo de mudanas na qualidade das praias e especificamente da gua 69
4.3.5 Classificao da qualidade das guas das praias 70
4.3.6 Presena de poluio nas praias 70
4.3.7 Classificao da qualidade das guas dos canais 71
4.3.8 Resumo da classificao das praias e dos canais pelos grupos I e II 71
4.3.9 Informaes sobre a qualidade das guas 72
4.3.10 Problemas causados pela poluio das guas 73
4.3.11 Responsveis pela manuteno da qualidade das guas em Santos 73
4.3.12 Contribuio da populao para melhoria da qualidade das guas em Santos 73
4.3.13 Sugestes de aes para melhoria da qualidade das guas em Santos 74
5. DISCUSSO 76
6. CONCLUSES 967. RECOMENDAES 97
REFERNCIAS 99
APNDICES 108
ANEXOS 123
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1. INTRODUO
1.1 O municpio de Santos e regio situao ambiental
Santos localiza-se no litoral do Estado de So Paulo, sendo um municpio que
apresenta elevada concentrao demogrfica e altas taxas de urbanizao, inclusive
com expressivo nmero de habitaes subnormais, alm de atividades econmicas
variadas e bem desenvolvidas. Constitui-se na cidade mais populosa da Baixada
Santista - regio tambm denominada mais recentemente como Costa da Mata
Atlntica -, com cerca de 420 mil habitantes, alto ndice de qualidade de vida (IDH =
0,871, sendo o terceiro maior do Estado de So Paulo), coleta de 94% do esgoto
domstico gerado (IBGE, 2007) e comrcio desenvolvido e vido por crescimento,
apesar do espao reduzido na regio insular do municpio. No permetro urbano
comporta ainda grande parte do maior Porto da Amrica Latina, responsvel pela
movimentao de 48% do PIB brasileiro.
Santos representa tambm um balnerio turstico muito freqentado pelos
habitantes da capital mais prxima, So Paulo, e do interior do estado, principalmentedurante o vero, ou seja, na alta temporada. No entanto, as praias e muitos dos seus
corpos dgua afluentes encontram-se contaminados por substncias diversas,
culminando em problemas ambientais e riscos sade pblica. Assim, as condies
ambientais da regio de Santos so das piores que encontramos no litoral brasileiro. A
situao agravada pelo fato de as guas costeiras receberem esgoto domstico sem
tratamento adequado - atravs do emissrio submarino e de ligaes clandestinas nas
galerias pluviais - e, indiretamente, efluentes das indstrias localizadas no Plo
Industrial de Cubato, via esturio do Canal do Porto de Santos. Alm disso, possui
considervel passivo ambiental resultante de reas contaminadas por descarte
descontrolado de resduos industriais e de lixo domstico.
Ainda em relao ao passivo ambiental, como em todo o mundo, o problema
das reas contaminadas tem despontado como um resultado tardio do processo
desordenado de industrializao. Trata-se de uma contaminao dos solos, que
frequentemente atinge os cursos de gua, atravs de processos de escoamento,disperso, percolao, lixiviao e infiltrao. Tal situao ocorre no Canal do Porto de
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Santos, cuja contaminao, depositada principalmente nos sedimentos do fundo,
persiste e constantemente revolvida pelo processo de dragagem. Outro agravante
que, mesmo com a melhoria significativa nos processos industriais, propiciada pelas
tecnologias ditas limpas, o aumento da produo condiciona um acrscimo na
quantidade de resduos, que pode compensar de forma negativa a vantagem
ambiental obtida com a tecnologia. Alm disso, as atividades industriais que
encontram melhor campo no Brasil, geralmente so as mais poluentes, pois as
estratgias das empresas multinacionais transferem a poluio para os pases
subdesenvolvidos (LEFF, 2001, p. 68).
No Brasil, o Estado de So Paulo destaca-se pela grande quantidade dessas
reas contaminadas j identificadas, entre as quais muitas esto em processo de
remediao. A Baixada Santista, especialmente nas proximidades de Cubato,
apresenta elevado nmero de reas industriais contaminadas, identificadas pela
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de So Paulo - CETESB nos
ltimos 10 anos (CETESB, 2001).
Na Baixada Santista [...] at a dcada de 80 no havia controle, nem restries para as indstriasdescartarem seus rejeitos, ento eram freqentes os despejos irregulares de resduos industriais
de altssima periculosidade (PADOVANI; AMBROZEVICIUS; DIB, 2008, p. 187).Como o transporte, o armazenamento e o descarte de rejeitos industriais eram
feitos sem nenhum controle, ainda restam muitas reas no identificadas, e algumas
sem proprietrios, cuja remediao, de responsabilidade do governo, fica estagnada
por causa da burocracia e da falta de verbas. Enquanto isso, a populao e o meio
ambiente sofrem os efeitos, muitas vezes de difcil caracterizao, por serem crnicos
e/ou indiretos. A relao entre esse passivo ambiental e as guas da Baa de Santos
est no fato de os solos altamente permeveis e a umidade e chuva abundantes daregio contriburem para que a dinmica dos contaminantes seja catalisada e,
consequentemente, os corpos dgua contaminados. Por isso, as reas contaminadas
tambm constituem fontes poluidoras das guas do esturio e Baa de Santos.
Atualmente, so cerca de 100 reas contaminadas identificadas na Baixada Santista,
entre postos de combustveis, indstrias, depsitos de resduos e comrcios
(CETESB, 2007), sendo que muitas delas so ocupadas por populaes de baixa
renda, expostas diretamente contaminao. Snchez (2001, p. 120) atenta para
essa problemtica em seu trabalho sobre reas contaminadas:
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Em pases como o Brasil, a conseqncia da falta de uma poltica sobre stios contaminados tmdesdobramentos sociais mais amplos que os observados nos pases desenvolvidos, tendo emvista que tais reas tendem a ser ocupadas por populaes de baixa renda, que assim ficamexpostas diretamente aos solos contaminados.
A contaminao das guas em reas marinhas e estuarinas adjacentes costa notadamente grave por constiturem ecossistemas vulnerveis, como os
manguezais, que abarcam as funes de berrio e criadouros naturais de muitas
espcies animais, inclusive aquelas exploradas comercialmente. Dessa forma, o
consumo de organismos coletados ou pescados na regio tambm fica comprometido,
o que pode trazer srios prejuzos scio-econmicos, alm dos malefcios sade
humana.
Na Baixada Santista, os municpios frequentemente apresentam-se conurbados
e, sendo assim, a situao da Baa de Santos, na qual se encontram as praias de
Santos, agravada pelo recebimento de aportes de contaminantes tambm de
municpios vizinhos: So Vicente, Cubato e Guaruj (Figura 1).
Figura 1 - Baa de Santos e municpios que influenciam a qualidade de suas guas (modificado de, acesso em jun. 2008).
Alm da contaminao proveniente dos canais estuarinos de Santos e de So
Vicente que desembocam na baa, a contribuio de fontes difusas de poluio ocorre
atravs dos canais de drenagem urbana (Figura 2), que, em episdios de alta
pluviosidade, desguam nas praias. Como os ndices pluviomtricos de Santos so
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muito elevados, atingindo mais de 400 mm no ms de fevereiro (CETESB, 2007), a
afluncia direta do contedo dos canais para as praias freqente.
Figura 2 - Mapa com a localizao dos municpios de Santos e So Vicente e da desembocadura doscanais de drenagem urbana - pontos 1 a 7 (AMBROZEVICIUS; ABESSA, 2008, p. 110).
Existem sete canais principais de drenagem em Santos que desembocam nas
praias (Figura 2), sendo que em seis deles existem comportas retentoras do fluxo,
localizadas nas praias. Normalmente, essas comportas permanecem fechadas e o
contedo dos canais direcionado para a Estao de Pr-Condicionamento de
Esgotos EPC e, posteriormente, lanado ao mar via emissrio submarino,
juntamente com os efluentes do esgoto domstico. No entanto, em perodos de maior
pluviosidade, a EPC no suportaria o aumento do volume, ento as comportas so
remotamente abertas e as guas pluviais contidas nos canais e o material dissolvido
nelas so liberados diretamente para o mar. De acordo com pesquisas do Prof. Andr
Luiz Belm, quando as comportas dos canais so abertas, uma mancha de poluentes
atinge um raio de 100 metros no mar nas proximidades de cada canal considerando
todos os canais, toda a orla fica poluda (DIFCIL..., 2009). Os resultados do estudo
sobre a disperso das guas dos canais, realizado por Aguilera (2008) tambm
indicam que existe contribuio significativa desses corpos dgua na queda da
qualidade da gua da Baa de Santos, ao menos durante as primeiras horas aps a
abertura das comportas.
Embora sejam canais de drenagem pluvial, a presena de esgotos nessescorpos de gua pode ser evidenciada por anlises de coliformes realizadas pela
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CETESB (2005, 2006, 2007, 2008, 2009), e por estudos sobre a concentrao de
nutrientes de Braga et al. (2000) e Braga et al. (2003).
Diante da gravidade do quadro de poluio apresentado pela Baa de Santos,algumas aes tm sido implementadas, visando a sua reverso, como a instalao
do emissrio submarino para disposio ocenica do esgoto. Porm, a questo dos
rios e canais ainda no foi completamente resolvida, tendo sido adotadas apenas
algumas aes paliativas, como a construo de comportas nos canais de drenagem
pluvial da cidade de Santos.
A evoluo da qualidade da gua pode ser acompanhada pelos dados
microbiolgicos, usados, no Estado de So Paulo, para anlise da balneabilidade daspraias e muitos de seus corpos dgua afluentes. No entanto, este tipo de avaliao
no considera a contaminao por substncias diversas, tais como hidrocarbonetos,
detergentes e metais pesados, nem a toxicidade. Dessa forma, uma praia ou um rio
cuja gua considerada de boa qualidade, apenas por apresentar baixo nmero de
coliformes, podem estar contaminados por substncias e elementos qumicos e
prejudicar todo o ecossistema local. Alm disso, a contaminao pode apresentar
riscos sade pblica, para os banhistas e para consumidores da gua, de maneiradireta ou indireta, como, por exemplo, por meio do consumo de organismos
contaminados ou do contato drmico.
Considerando-se a importncia ambiental da Baa de Santos, que est inserida
dentro de um sistema estuarino complexo, sob os aspectos ecolgicos, sociais e
econmicos, bem como o grau de contaminao a que tem sido submetida, tornam-se
prementes estudos que possam efetivamente contribuir para o direcionamento das
aes de controle da poluio hdrica na regio (MOSER, 2002).
Nesse contexto, trs pontos so considerados crucialmente relevantes para a
avaliao da poluio aqutica em Santos: qualidade da gua, polticas pblicas
relacionadas ao tema e conhecimento das pessoas sobre a poluio aqutica local,
suas origens e efeitos.
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1.2 Qualidade da gua
As guas da Baa de Santos tm sido analisadas nos ltimos anos
frequentemente quanto sua composio microbiolgica (CETESB, 2005, 2006, 2007,2008, 2009) e em estudos mais pontuais tambm quanto s caractersticas fsicas,
qumicas e toxicolgicas, tanto da gua quanto dos sedimentos da baa e seus
afluentes (ABESSA, 2002; ABESSA; IMAI; HARARI, 2008, ABESSA et al., 1998,
ABESSA et al., 2001, ABESSA et al., 2005, AMBROZEVICIUS; ABESSA, 2008,
BCEGO et al. 2006, BRAGAet al., 2000, BRAGA et al., 2003, HORTELLANI et al.,
2005, HORTELLANI et al., 2008, LUIZ-SILVA et al., 2006, MARTINS et al ., 2008,
MOSER, 2002, RACHID, 2002, RACHID et al., 1998, SIQUEIRA et al., 2005,
TOMMASI, 1979, UMBUZEIRO et al., 2006). No entanto, difcil identificar as fontes
de origem da contaminao, muitas vezes pretrita existncia de controle legislativo,
como no caso de poluentes persistentes de difcil degradao.
A poluio na Baa de Santos oriunda basicamente do esturio de Santos
(presena das indstrias de Cubato e Porto de Santos), do esturio de So Vicente
(efluentes domsticos sem tratamento), do emissrio submarino (aproximadamente
4,5 Km distante da costa) e dos canais de drenagem pluvial urbana. A existncia deesgoto nesses canais indica a possibilidade de ocorrer tambm contaminao qumica
e, portanto, risco de toxicidade. A presena de esgoto comprovada pelas anlises
microbiolgicas feitas pela CETESB, porm, normalmente, essas emisses no so
compostas somente por matria orgnica, mas tambm por substncias qumicas
variadas, contidas em produtos de limpeza e de higiene pessoal, alm de diversos
compostos, como resduos de remdios e hormnios.
Dentre as fontes de contaminao da baa, acredita-se que as guas pluviais
so perigosamente negligenciadas em Santos, como na maioria das cidades
brasileiras. A gua proveniente do escoamento provocado por episdios de chuva,
apesar dos detritos e substncias dissolvidas e em suspenso que contm,
considerada pela administrao pblica como se fosse relativamente limpa e, por isso,
muitas vezes despejada diretamente nos corpos de gua continentais ou no prprio
mar, sendo uma das causas da denominada poluio difusa.
A poluio difusa definida por Braga (2003) como o escoamento da gua de
chuva nas cidades carreando toda sorte de resduos orgnicos e compostos qumicos
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txicos para o sistema de drenagem, no sendo possvel identificar com preciso o
poluidor responsvel. Trata-se de uma fonte de contaminao de difcil controle e que
requer anlises complexas para sua caracterizao. Justamente pela sua
indeterminao, anlises integradas so indicadas para a avaliao de sua qualidade
e monitoramento.
Os mtodos tradicionais de avaliao da qualidade de sistemas aquticos que
recebem descargas de atividades antropognicas eram originalmente baseados em
medidas de concentrao de oxignio dissolvido nos corpos receptores
(AMBROZEVICIUS; ABESSA, 2008). No entanto, mais recentemente foram
incorporados outros mtodos, que podem ser divididos basicamente em dois grupos
principais: anlises qumicas e anlises biolgicas. As primeiras visam identificar e
quantificar os contaminantes presentes em uma amostra de gua, atravs de
procedimentos capazes de detectar determinadas substncias, em uma concentrao
mnima pr-estabelecida. As anlises biolgicas, por sua vez, podem ser subdividas
de acordo com a Tabela 1.
Tabela 1 Tipos de anlises biolgicas.
Tipos de Anlises Biolgicas Descrio
Microbiolgicas Usadas sobretudo para deteco deorganismos patognicos.
Estudos ecolgicos Avaliao da composio daspopulaes e comunidades aquticase suas alteraes no tempo,principalmente em relao abundncia e diversidade.
Ecotoxicologia Testes para deteco de efeitosagudos ou crnicos produzidos pelassubstncias qumicas em organismosvivos expostos a amostraspotencialmente contaminadas.
Fonte: modificado de Knie e Lopes (2004).
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- A Ecotoxicologia como forma de avaliao da qualidade da gua
A Ecotoxicologia a abordagem mais recente dentre os tipos de anlises
biolgicas supracitados. Trata-se de uma cincia relativamente nova, cujos princpiosforam fundamentados na Toxicologia Humana. O termo Ecotoxicologia surgiu em
junho de 1969, durante uma reunio do Committee of the International Council of
Scientific Unions - ICSU, em Estocolmo, na qual o toxicologista francs Ren Truhaut
definiu a Ecotoxicologia como a cincia que estuda os efeitos das substncias naturais
ou sintticas sobre os organismos vivos, populaes e comunidades, animais ou
vegetais, terrestres ou aquticos, que constituem a biosfera, incluindo assim a
interao das substncias com o meio nos quais os organismos vivem num contexto
integrado (TRUHAUT, 1977). No Brasil, os biotestes tm sido normatizados pela
Associao Brasileira de Normas Tcnicas - ABNT, a partir do final dos anos 80 e a
Resoluo n 357 de 2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA
357/2005 (em substituio Resoluo CONAMA 20/86) estabeleceu definitivamente
o uso de testes ecotoxicolgicos em complemento s anlises fsicas e qumicas para
inferir qualidade dos corpos de gua e de efluentes a serem lanados em seus leitos.
Os efeitos mensurveis dos testes ecotoxicolgicos so as conseqncias dainterao entre a metabolizao e a excreo de agentes contaminantes (KNIE;
LOPES, 2004). Nesse sentido, interessa, para a realizao de biotestes, a seleo de
organismos sensveis contaminao, que no consigam desenvolver-se
normalmente (sobreviver ou se reproduzir, dependendo do tipo de teste) na presena
de substncias nocivas, para que se possa proteger o ambiente da forma mais
restritiva possvel. Alm da sensibilidade, existem outros critrios essenciais para a
seleo de organismos-teste: disponibilidade; reprodutibilidade e padronizabilidade;praticabilidade e rapidez; justicabilidade e incontestabilidade (KNIE; LOPES, 2004).
Apesar da recente incorporao da Ecotoxicologia legislao brasileira, em
So Paulo, os parmetros e limites a serem obedecidos, tanto para padro de
emisso, como para padro de qualidade dos corpos hdricos, j constavam no
regulamento da Lei n 997, de 1976, do Estado de So Paulo, aprovado pelo Decreto
n 8.468, de 1976 e, para a efetivao da sua aplicao, a Resoluo da Secretaria do
Meio Ambiente SMA-3 de 2000, determinou que os efluentes lanados no deveriam
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causar ou apresentar potencial para causar efeitos txicos aos organismos aquticos
no corpo receptor (MAGALHES; FERRO-FILHO, 2008).
Na Baixada Santista a CETESB realiza, desde 1992, testes ecotoxicolgicosem amostras de gua e sedimentos de alguns corpos de gua interiores. No entanto,
os pontos de amostragem deste monitoramento no incluem os corpos de gua de
drenagem urbana que chegam s praias, os quais so analisados apenas quanto
sua microbiologia.
A Ecotoxicologia , ento, uma importante ferramenta nas anlises de gua,
includa na j comentada avaliao integrada da contaminao, especialmente de
amostras lquidas cuja composio complexa, como no caso de guas pluviaisurbanas. Nesse contexto, a principal vantagem do uso de biotestes, em relao s
anlises qumicas isoladas, a deteco dos efeitos totais dos contaminantes.
Enquanto as anlises qumicas apresentam capacidade limitada de deteco, os
testes ecotoxicolgicos representam a totalidade dos efeitos das substncias e
caractersticas da amostra, incluindo possveis efeitos de interao entre compostos,
como adio, antagonismo e sinergismo. Ou seja, os biotestes so capazes de
detectar os efeitos txicos resultantes das interaes das substncias presentes naamostra como um todo (ABESSA, 2003, COOMAN et al., 2005, DEWHURST et al.,
2002, KNIE; LOPES, 2004, ZAGATTO et al., 1992). Apenas a caracterizao qumica
de uma amostra ambiental no capaz de indicar o potencial txico de misturas
complexas aos organismos aquticos (ZAGATTO et al., 1992). Alm disso, a
toxicidade da mistura de qumicos muito mais complexa do que o efeito de cada
substncia separadamente, por isso, as anlises qumicas no devem ser usadas
isoladamente na previso dos efeitos txicos no ambiente (COOMAN et al., 2005,LAMBOLEZ et al., 1994, MITCHELL; BURGESS; STUETZ, 2002, ZAGATTO;
GHERARDI-GOLDSTEIN, 1991, ZAGATTO et al., 1992). Outra caracterstica bastante
favorvel do uso de biotestes o seu custo relativamente baixo (FRNZLE, 2006).
Apesar da complexidade dos mtodos ecotoxicolgicos, pela necessidade de cultivo
dos organismos e monitoramento contnuo, anlises qumicas abrangentes necessitam
de infra-estrutura mais onerosa.
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Como todo mtodo de anlise de amostras complexas, no entanto, a
Ecotoxicologia tambm apresenta limitaes, principalmente na tentativa de
extrapolao de seus resultados para o ambiente natural.
Nesse contexto, considerando suas limitaes e tentando contorn-las, Van
Straalen (2003) acredita que a Ecotoxicologia est atualmente em uma fase de
transio, assimilando uma viso ecossistmica, em resposta s limitaes da
Ecotoxicologia tradicional, baseada apenas nos testes experimentais e anlises das
relaes dose-resposta. Essa nova abordagem vem sendo denominada de Ecologia
do Estresse, pelo mesmo autor.
Importante salientar que as anlises qumicas continuam tendo um papelimprescindvel na avaliao da qualidade da gua, como pilar essencial da anlise
integrada da qualidade da gua e especialmente no caso de suspeitas de
contaminao por substncias conhecidas e na anlise dos limites existentes para as
mesmas.
Pelo exposto at aqui, torna-se clara a necessidade de aes de controle
(coleta, tratamento e direcionamento adequados do esgoto e das guas pluviais) e
monitoramento (atravs de anlises integradas) da qualidade das guas. No entanto,
tais aes dependem do planejamento dos governantes e da aplicao de
investimentos nesta rea, sendo assim, esto sujeitas determinao de prioridades e
estabelecimento de polticas pblicas pertinentes, como ser abordado a seguir.
1.3 Polticas pblicas
A ao poltica no dotada da eficcia da ao fsica, em que cada martelada, se for
bem dada, crava um pouco mais o prego. No s pelo fato de que, em poltica, corre-
se o risco de derrubar a parede ao tentar cravar o prego. Tambm porque a eficcia
poltica, como a eficcia biolgica da sexualidade, demanda inmeros esforos
infrutferos, um desperdcio extraordinrio de energia e substncia vital para chegar,
enfim, a uma fecundao.
(MORIN, 1986, p. 361)
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Existem diversas definies para o termo polticas pblicas, dentre as quais
podemos citar a de Peters1 (1986 apud SOUZA, 2006, p. 24): poltica pblica a
soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou atravs de delegao, e
que influenciam a vida dos cidados. Dessa definio podemos depreender que
praticamente todas as atividades, e mesmo as omisses, dos governos, frente aos
problemas de uma localidade podem ser consideradas polticas pblicas, quer se
apresentem nos nveis federal, estadual, municipal ou at local (no caso de
subdistritos, por exemplo, ou programas instaurados apenas em bairros de uma
cidade).
Alguns elementos principais das polticas pblicas, sintetizados por Souza
(2006), merecem ser frisados:
- permitem distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato, faz;
- envolvem vrios atores e nveis de deciso, embora sejam materializadas
geralmente pelos governos;
- so abrangentes, no se limitam a leis e regras;
- so aes intencionais, com objetivos especficos;
- apesar dos impactos em curto prazo, devem visar o longo prazo;
- envolvem processos subseqentes sua proposio, como execuo e
avaliao.
Um ponto em comum nas diversas definies de polticas pblicas a posio
dos governos no centro das mesmas. Enquanto a formulao das polticas pblicas
constitui-se no estgio em que os representantes eleitos pelo povo traduzem seus
propsitos em programas e aes para melhorar as condies reais, a implantao se
d atravs de planos, projetos, programas, bases de dados e pesquisas, necessitando
de acompanhamento e avaliao posteriores (SOUZA, 2006).
Entre a formulao e a implantao, ainda segundo Souza (2006), a poltica
pblica apresenta um ciclo, composto pelos seguintes estgios: definio de agenda,
1 PETERS, B. G. American Public Policy. Chatham, N.J.: Chatham House. 1986.
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identificao de alternativas, avaliao das opes, seleo das opes,
implementao e avaliao. De maneira anloga, Frey (2000) divide, de um ponto de
vista analtico, as polticas pblicas nas seguintes fases, que correspondem a uma
sequncia de elementos do processo poltico administrativo:
- percepo e definio de problemas (formulao);
- agenda-setting (definio de agenda, ou seja, eleio de prioridades);
- elaborao de programas de deciso (consulta pblica);
- implementao de polticas pblicas;
- avaliao e eventual correo da ao (monitoramento contnuo dos resultados).
Muitos estudos que enfocam as polticas pblicas encontram-se includos no
ltimo tpico avaliao e eventual correo da ao. No caso de um estudo
interdisciplinar sobre poluio aqutica local, prope-se um diagnstico da situao
atual, para comparao dos dados encontrados com as aes e omisses referentes,
estabelecendo possveis relaes de causa e efeito e proporcionando reflexes para
as outras abordagens do projeto. Nesta ltima fase do cicloapreciam-se os programasj implementados no tocante aos seus impactos reais. Trata-se de levantar os
resultados efetivos conseguidos com as aes implantadas e os efeitos colaterais
indesejados, para poder estabelecer diretrizes para aes e programas futuros. A
avaliao ou controle de impacto pode, no caso de os objetivos do programa terem
sido alcanados, levar ou suspenso ou ao fim do ciclo poltico, ou, caso contrrio,
iniciao de um novo ciclo [...] (FREY, 2000, p. 228). Muitas vezes essa importante
fase final de acompanhamento enseja correes da ao, cuja necessidade pode
no ser detectada se o monitoramento dos resultados das atividades implementadas
no for bem feito. Nesse aspecto, temos claramente uma ligao importante entre as
polticas pblicas relacionadas aos corpos de gua de um municpio e o
monitoramento da qualidade destes.
Abordando especificamente as polticas pblicas relacionadas qualidade das
guas, devemos incluir principalmente aquelas que tratam do saneamento ambiental e
do uso e ocupao do solo. Mas, no caso de polticas pblicas municipais, devemosconsiderar que o conhecimento cientfico dos arranjos institucionais e das
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caractersticas dos processos polticos bastante limitado, existindo poucos estudos a
este respeito (FREY, 2000).
As polticas pblicas urbanas de saneamento ambiental so objeto de intensoconflito nos municpios brasileiros, principalmente desde que estes adquiriram maior
autonomia, com a descentralizao administrativa determinada pela Constituio
Federal de 1988. Deve ser lembrado que o saneamento bsico, atualmente
denominado saneamento ambiental, possui quatro dimenses - abastecimento pblico
de gua, esgotamento sanitrio, coleta e disposio de resduos slidos e drenagem
pluvial. Um ponto especialmente grave dentre essas dimenses o baixo atendimento
da populao pela rede de esgoto, devido a um processo histrico de priorizao de
investimentos no abastecimento de gua. Como resultado, a Baixada Santista
apresenta ndice de apenas 53% de coleta de esgoto (GOVERNO DO ESTADO DE
SO PAULO, 2008); sendo que a maior parte coletada no recebe tratamento e nem
disposta de maneira adequada, isso sem considerar as habitaes subnormais. A
drenagem pluvial igualmente precria nas grandes cidades, o que facilmente
constatado com os freqentes episdios de inundaes.
Alm dos servios que atingem diretamente os recursos hdricos - oesgotamento sanitrio e a drenagem pluvial - o servio de coleta e disposio de
resduos slidos tambm pode contribuir para a m qualidade das guas devido a
processos de infiltrao e percolao de contaminantes atravs do solo.
Considerando que a contaminao pode atingir diretamente as guas, pelo
despejo de efluentes, ou indiretamente, via guas pluviais ou atravs do solo, as
polticas pblicas de uso e ocupao do solo tambm so determinantes para a
qualidade da gua nos municpios. Os tipos de atividades permitidas em determinado
local condicionam sua possvel contaminao e a das guas prximas.
Como vimos, existem diferentes tipos de polticas pblicas que influem sobre a
qualidade das guas. Segundo Souza (2006, p. 25), a maioria das abordagens
assume
[...] uma viso holstica do tema, uma perspectiva de que o todo mais importante do que a somadas partes e que indivduos, instituies, interaes, ideologia e interesses contam, mesmo que
existam diferenas sobre a importncia relativa destes fatores.
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Percebe-se ento, que a natureza das polticas pblicas interdisciplinar e essa
caracterstica lhes confere grande complexidade, pois comportam vises bastante
diferenciadas. Assim, uma das maiores dificuldades justamente a eleio de
prioridades, o que pode ser bastante subjetivo, sendo que as disputas polticas e as
relaes de poder sempre deixaro suas marcas nos programas e projetos
desenvolvidos e implementados (FREY, 2000, p. 219). Nesse contexto, deve-se levar
em conta a importncia da participao popular, pois, j que as decises e a eleio
de prioridades so inevitavelmente subjetivas, que seja considerada a vontade da
populao. No entanto, um pr-requisito fundamental para que essa participao seja
proveitosa e de qualidade, que as pessoas estejam engajadas e bem informadas.
A participao popular costuma ocorrer mais frequentemente na ltima fase das
polticas pblicas, comentada anteriormente, identificada por Frey (2000) como
avaliao e eventual correo da ao - o que no o ideal para uma democracia
plena. No caso de decises de cunho ambiental, a falta de participao popular
especialmente preocupante, visto que, mesmo quando as bases cientficas da tomada
de decises sejam claras, no h garantias de que as normas propostas [...] sero
respaldadas por um consenso social (FUNCTOWICZ; DE MARCHI, 2003, p. 82).
Devemos salientar a importncia dessa participao tambm nas outras fases,
principalmente na eleio de prioridades e no monitoramento das polticas pblicas,
mas veremos adiante porque isso no costuma ocorrer e algumas possveis
consequncias.
Nesse momento, cabe ressaltar a prematuridade da insero dos instrumentos
de participao popular nas esferas de discusses e decises sobre polticas pblicas
no Brasil, garantidos pela Constituio Federal de 1988 (graas a pressesinternacionais, principalmente atravs dos rgos de financiamento). Talvez seja esse
um dos principais motivos para que a participao efetivamente inexista. Na viso de
Frey (2000, p. 248)
[...] fica curioso que essas mudanas radicais dos arranjos institucionais formais dificilmentetenham conduzido a efeitos de maior relevncia no que diz respeito aos padres decomportamento poltico e s realizaes materiais concretas.
Ainda segundo Frey (1996), a soberania popular existe apenas na retrica e
se esgota nas eleies, a partir das quais os representantes do povo dispem de
poderes quase absolutos.
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A baixa participao poltica atual dos cidados brasileiros tem origem histrica
e por isso mesmo de difcil reverso. Justamente pelo fato de os instrumentos de
participao popular previstos na Constituio serem to recentes, ainda no esto
apropriadamente implementados, seja pela falta de tradio popular em participar da
poltica; seja por falta de incentivo a prticas de participao, como herana da
represso ocorrida durante o perodo ditatorial. Corroborando com essa viso,
Custdio (2005, p. 103) afirma que
as novas institucionalidades possibilitam amplas formas de participao na elaborao dessaspolticas [pblicas urbanas], no entanto, elas ainda se assentam sobre perversas tradiesexcludentes e hierrquicas, e tm sido apropriadas por antigos e novos agentes hegemnicos.
Jacobi (2005, p. 241) identifica ainda outros fatores que explicam a falta departicipao popular:
A postura de dependncia e de no responsabilidade da populao decorre principalmente dadesinformao, da falta de conscincia ambiental e de um dficit de prticas comunitriasbaseadas na participao e no envolvimento dos cidados, que proponham uma nova cultura dedireitos baseada na motivao e na co-participao na gesto do meio ambiente, nas suasdiversas dinmicas.
Existe uma perspectiva de que o aumento da participao popular poderia
melhorar a efetividade das polticas pblicas, e principalmente a eleio de temas
democraticamente prioritrios. Nesse contexto, alguns pesquisadores enxergam
oportunidades na situao scio-econmica atual, como Custdio (2005, p. 103):
[...] o planejamento e as polticas pblicas tm sido vistos como espaos de transformao social.Tornaram-se uma oportunidade de utilizar o prprio discurso neoliberal de que todos so iguaise possuem os mesmos direitos contra a sua prtica discriminatria e desigualitria.
E tambm Frey (2000, p. 236) compartilha certo otimismo:
[...] surgem atores, particularmente em tempos de rupturas sociais e polticas, que se empenhama favor de modificaes dos estilos de comportamento poltico. Esse fenmeno se torna maisevidente no caso de alguns atores terem conseguido institucionalizar novos estilos decomportamento mediante novos procedimentos e arranjos. Um exemplo disso o surgimento denovos canais de participao (conselhos populares, oramento participativo, foros de debate, etc.)na poltica municipal brasileira. Esses, por sua vez, so o resultado, pelo menos em parte, dapresso poltico-social exercida pelos movimentos sociais e pela sociedade civil em geral.
O auge da participao popular seria a subpoltica, considerada por Beck
(1999) como soluo para a democratizao das polticas pblicas, sendo fruto da
reflexividade na sociedade, resultando em uma poltica direta, com participao
individual, desviando-se de instituies representativas; significa a modelao da
sociedade a partir de baixo, tendendo a englobar todas as reas da sociedade. Essa
viso pode parecer utpica para a realidade brasileira, pois foi elaborada no contexto
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europeu; no entanto, deve ser considerada, visto que o Brasil frequentemente adota
modelos scio-polticos de pases industrializados.
Como a participao popular de qualidade nas polticas pblicas depende deuma populao informada e bem esclarecida em relao aos problemas de sua
cidade, a anlise do conhecimento das pessoas em relao ao tema da presente
pesquisa relevante na discusso interdisciplinar.
1.4 Avaliao da percepo das pessoas sobre questes ambientais
Percepo o processo psquico e scio-cultural atravs do qual a mentehumana cria significados para cada estmulo que recebe do ambiente externo,
relacionados com a experincia, a imaginao e a memria do indivduo (CETESB,
1986 apud VARGAS et al., 2002). Sendo assim, a percepo depende de
caractersticas individuais peculiares, o que implica na impossibilidade de seu uso
como um dado para compor ndices estatsticos concretos como outros aos quais
estamos acostumados, como demografia e taxas de natalidade ou mortalidade.
No entanto, acredita-se que seja importante o levantamento de opinies
diversas a respeito do tema da poluio das guas em Santos para compor o quadro
interdisciplinar que se pretende desenhar acerca do tema.
Metodologicamente, o conhecimento das pessoas sobre determinada questo
ambiental pode ser inferido atravs de diferentes abordagens, dentre as quais se
encontram as entrevistas e os questionrios. As entrevistas costumam apresentar
questes abertas, sendo as respostas livres, mais completas, porm de difcil
interpretao e agrupamento por similaridades quando em grande nmero. J os
questionrios devem ser extremamente objetivos, com respostas na forma de
alternativas (SEIXAS, 2005).
Uma forma intermediria entre esses dois tipos de mtodos questionrios e
entrevistas a chamada entrevista estruturada (VIERTLER, 2002), que pode ser
aplicada de forma relativamente simples, incluindo tanto questes abertas, quanto
fechadas. Normalmente, a pesquisa inclui alguns dados scio-econmicos, alm dosde interesse ambiental, para que se possa relacionar a situao das pessoas e seu
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disciplinas, se consumou em poucos casos, que no podem ser generalizveis ao
ponto de se estabelecer uma metodologia aplicvel em qualquer pesquisa cientfica. A
partir desse pressuposto, podemos concluir ento que cada pesquisa um caso e que
a interdisciplinaridade deve ser aplicada da melhor forma, com a subjetividade inerente
da cincia, e dentro das possibilidades e limites do prprio pesquisador (tempo,
recursos, conhecimento).
Quando optamos, ento, por metodologias a serem empregadas em um estudo
naturalmente complexo, como o caso das questes ambientais, no sero avaliadas
todas as variveis, mas aquelas que, subjetivamente, so tidas como mais
significativas. Considerando esta idiossincrasia dos estudos ambientais, seguimos
com a execuo de pesquisas, supondo que podem ao menos subsidiar aes mais
adequadas para o manejo ambiental.
No caso da poluio da Baa de Santos, por exemplo, encontramos claramente
o resultado da monodisciplinaridade dos estudos ambientais. Dados como crescimento
demogrfico, degradao das condies sociais, conhecimento da populao,
eficincia de polticas pblicas especficas e problemas de sade pblica, geralmente
no so considerados em estudos de poluio das guas. No entanto, face complexidade e interrelao entre temas, mais estudos devem ser realizados de forma
interdisciplinar, com vistas a subsidiar polticas pblicas efetivas, e que atendam s
prioridades da populao local.
Tratando-se de polticas pblicas urbanas, as questes ambientais, inclusive as
relativas ao saneamento, no devem ter tratamento dissociado das questes sociais,
dada sua alta interdependncia.
O tratamento setorializado das polticas pblicas, caracterstico da administrao pblicano Brasil, passa a ser questionado com a introduo da dimenso ambiental, que enfatiza asinterfaces entre as vrias polticas setoriais por exemplo, desfazendo limites rgidos entre osproblemas relativos gua e saneamento, energia, poltica agrcola e industrial, uso do solo,sade pblica, etc. (PACHECO et al., 1992, p. 50).
Cabe ressaltar que os mtodos analticos e o enfoque sistmico no so
contraditrios, mas sim complementares, desde que bem utilizados, evitando as
perverses de cada um (JOLLIVET; PAV, 1997). Portanto, as pesquisas tradicionais,
com viso reducionista e forte especializao, possuem seus prprios mritos e soessenciais para que outros estudos, sistmicos, sejam realizados.
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Estamos, enfim, frente a novos desafios no campo ambiental, visto que a
interferncia do homem nos sistemas naturais tem sido to alarmante que torna-se
necessrio, mais do que nunca, repensar a Cincia. Isso porque a Cincia tradicional,
com seu reducionismo intrnseco e metodologias pr-estabelecidas, j no consegue
equacionar alguns problemas e questionamentos. A interdisciplinaridade, incluindo
vises mais holsticas e sistmicas, compe facetas complexas, porm necessrias,
do tratamento das questes ambientais.
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2. OBJETIVOS E HIPTESES
Os objetivos do trabalho incluem a avaliao da poluio aqutica dos canais
de drenagem urbana e da Baa de Santos atravs de estudos pontuais de toxicidade
da gua de um canal em diferentes situaes de pluviosidade, analisando tambm
dados de contaminao microbiolgica presentes na literatura; a avaliao das
polticas pblicas relacionadas ao tema e o levantamento de alguns aspectos da
percepo dos freqentadores da praia em relao poluio hdrica. Pretende-se
integrar os resultados obtidos com as diferentes abordagens, enfatizando a
importncia da interdisciplinaridade em estudos de questes ambientais.
As hipteses que surgiram a partir das anlises supracitadas e que foram
tratadas na presente pesquisa so as seguintes:
As fontes difusas de poluio dos canais resultam em toxicidade aguda para
suas guas.
Os canais contribuem de fato para a degradao das guas costeiras da Baa
de Santos e suas guas esto mais contaminadas que as guas das praias
receptoras.
Algumas polticas pblicas implantadas surtiram efeitos positivos, enquanto
outras podem estar devidamente encaminhadas, ou apresentar falhas desde a
sua concepo.
Os freqentadores da praia desconhecem as causas da poluio aqutica em
Santos e ressentem-se sobre a falta de informaes a respeito.
As pessoas que freqentam as praias h mais tempo devem apresentar viso
diversa sobre a qualidade das guas, em relao aos visitantes mais recentes.
Residentes e turistas apresentam opinies diversas sobre a qualidade das
guas santistas.
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3. MATERIAIS E MTODOS
Foram usadas trs abordagens distintas para aquisio dos dados, descritas
com mais detalhes ao longo deste item: anlises da qualidade da gua; pesquisa
sobre polticas pblicas relacionadas poluio hdrica local; entrevistas estruturadas
com frequentadores da praia.
Uma quarta abordagem seria composta pelas formas de integrao dos dados
adquiridos nas etapas anteriores. Por tratar-se de um estudo de caso particular de um
problema ambiental, complexo por natureza, no existe um mtodo universal que
possa ser aplicado. O processo consiste, na verdade, em estabelecer relaes entre
os diferentes dados e discut-los, inferindo possveis causas e efeitos.
3.1 Anlises da qualidade da gua2
3.1.1 Coletas e anlises de amostras de gua do Canal 3
O Canal 3 foi selecionado como ponto de coleta a partir dos resultados obtidos
em um estudo prvio de toxicidade (AMBROZEVICIUS, 2005), realizado com
amostras de vrios pequenos corpos de gua afluentes das praias da regio. Este
estudo consistiu na realizao de testes ecotoxicolgicos agudos com amostras de
diversos afluentes da Baa de Santos, sendo que o corpo hdrico que apresentou
toxicidade mais freqente foi o Canal 3, localizado em Santos, na Avenida Washington
Lus (Figuras 3 e 4).
2 Todos os procedimentos de laboratrio foram realizados na Universidade Estadual Paulista - UNESP Campus Experimental do Litoral Paulista, no Ncleo de Estudos sobre Poluio e Ecotoxicologia
Aqutica (NEPEA), localizado em So Vicente, sob coordenao do Prof. Dr. Denis Moledo de SouzaAbessa, especialista em poluio hdrica e Ecotoxicologia.
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Figura 3 Ponto de coleta selecionado para amostragem (modificado de ,
acesso em jan. 2008).
Figura 4 Canal 3 com a comporta fechada (foto de Andra P. Ambrozevicius).
O Canal 3 o mais baixo dentre os canais de drenagem pluvial de Santos,
possui a maior bacia de drenagem e o primeiro a inundar, segundo Setubal (2008,
informao verbal)3. Sendo assim, geralmente o primeiro canal cujo contedo
3 Informao fornecida por Andra Setbal, da Secretaria do Meio Ambiente de Santos SEMAM, emset. 2008.
Canal 3
Baa de Santos
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liberado para o mar atravs da abertura da comporta de reteno nos episdios de
significativa pluviosidade. Essa mais uma caracterstica que justifica a escolha do
Canal 3 como referncia para a anlise de todos os canais.
As amostragens foram realizadas, tanto no vero, quanto no inverno, em trs
perodos distintos: estiagem mnimo de trs dias sem chuvas (pluviosidade nula);
logo aps um episdio curto de precipitao chuva aps estiagem mnima de trs
dias (pluviosidade baixa) e depois de um episdio de intensa precipitao
(pluviosidade alta). Os momentos de coleta foram escolhidos atravs do
acompanhamento visual do tempo, monitoramento dos modelos numricos de
previso do tempo (jornais televisivos) e consulta s bases de dados pluviomtricos da
regio (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE)4, considerando a
precipitao acumulada nos trs dias, aproximadamente 72 horas, que antecediam as
coletas (APNDICE A, no qual constam alguns detalhes de cada coleta). Alm da
pluviosidade, foi importante que as coletas fossem realizadas em perodos de mar
baixa, para evitar possveis efeitos da presena de salinidade nas amostras e da
diluio das mesmas em gua marinha. Sendo assim, o acompanhamento do nvel
das mars foi feito atravs do Dirio Oficial de Santos5. Com esse tipo de
amostragem, pretendeu-se verificar a influncia das chuvas na contaminao da gua
do canal. Foram realizadas no total trs campanhas, com trs coletas em cada uma,
de acordo com a pluviosidade e a mar (Tabela 2).
As coletas das amostras do canal foram feitas utilizando garrafas plsticas de
gua do tipo PET de 500ml (Figura 5). Em seguida, as amostras foram levadas ao
laboratrio e mantidas no freezer at a montagem dos biotestes.
4 Disponvel em , acesso ao longo do perodo de coletas.5 Disponvel em , acesso ao longo do perodo de coletas.
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Tabela 2 - Datas das coletas de amostras de gua do Canal 3 em cada campanha, precipitaoacumulada aproximada (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE), clculo daintensidade mdia de precipitao no perodo de 72 horas anteriores s coletas, categoriasde pluviosidade e nvel da mar (Dirio Oficial de Santos).
Campanha Coleta Data
Precipitao
Acumulada (1)
(mm)
Intensidademdia de
precipitao
(mm/h)
Categoria da
pluviosidade
Mar
(metros)
I 1 15/02/07 0 0 Nula 0,5I 2 12/03/07 9 0,13 Baixa 0,9I 3 28/04/07 76 1,06 Alta 0,5II 4 09/07/07 0 0 Nula 0,6II 5 04/08/07 0 0 Baixa (2) 0,3
II 6 31/08/07 42 0,58 Alta 0,0III 7 30/12/07 0 0 Nula 0,6III 8 14/01/08 121 1,68 Alta 0,6III 9 27/01/08 65 0,90 Baixa (3) 0,4
(1) quantidade aproximada, acumulada nos trs dias antecedentes coleta, calculada a partir dosgrficos de pluviosidade do APNDICE A. Esse valor dividido por 72 horas resulta na intensidade mdiade precipitao.
(2) apesar de a fonte de consulta dos dados pluviomtricos na regio no ter registrado, houve umaprecipitao local considervel, detectada visualmente, nas proximidades do ponto de coleta.
(3) grande parte da precipitao que consta no grfico de pluviosidade (dias 25 e 26) no foi visualmenteconstatada nas proximidades do ponto de coleta, por isso a pluviosidade foi considerada baixa.
Figura 5 - Coleta de amostras de gua do Canal 3 (foto de Luna A. Abraho).
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Antes da aplicao dos testes ecotoxicolgicos, aps o descongelamento em
temperatura ambiente, foram medidas as seguintes variveis fsicas e qumicas das
amostras: pH, com auxlio de pHmetro digital (preciso de 0,01);salinidade, por meio
de refratmetro manual (preciso de 1); condutividade, por meio de condutivmetro
digital (preciso de 1 mV). As medidas do teor de oxignio dissolvido foram feitas pelo
mtodo de Winckler (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, WATER
ENVIRONMENT FEDERATION - APHA/WEF, 1998), modificado para pequenas
amostras, enquanto o nitrognio amoniacal total foi determinado pelo mtodo
colorimtrico de Koroleff (1970). J o mtodo usado para detectar a presena de cloro
livre est descrito em APHA/WEF (1998).
A espcie utilizada para a realizao dos testes de toxicidade foi Daphnia
similis. Esse microcrustceo, conhecido como pulga dgua (Figura 6), est entre os
organismos mais utilizados em biotestes, sendo indicado para avaliao da qualidade
de cursos de gua doce, devido a sua sensibilidade a contaminantes e boa preciso
(BERTOLETTI; NIPPER; MAGALHES, 1992, CARVALHO et al., 1998, DEWHURST
et al., 2002, ZAGATTO; GHERARDI-GOLDSTEIN, 1991, ZAGATTO et al., 1992). Esse
cladcero atua na cadeia alimentar como consumidor primrio, alimentando-se por
filtrao de material orgnico particulado (KNIE; LOPES, 2004). Segundo Sakai
(2005), os efeitos txicos de guas pluviais podem ser bem caracterizados por meio
de testes de toxicidade aguda com D. similis.
Figura 6 - Ilustrao Daphnia similis.(disponvel em , acesso em maio 2009).
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Os testes de toxicidade foram elaborados segundo a Norma CETESB L5.018
(CETESB, 1997a), sendo preparadas quatro rplicas para cada amostra. Os testes
foram conduzidos em tubos de ensaio com capacidade para 15 ml, contendo 10 ml da
amostra e cinco organismos cada. O sistema foi mantido a 20 2C, sem alimentao.
Aps 48 horas, foi feita a contagem dos organismos imveis em cada rplica.
O grupo controle (gua sem contaminao) foi exposto prpria gua de
cultivo6 - cujas variveis fsicas e qumicas tambm foram medidas - tambm em
quatro rplicas, conforme realizado com as amostras.
A fase I da metodologia Toxicity Identification Evaluation - TIE7 foi aplicada
apenas nos casos em que se constatou toxicidade aguda inicial. Essa metodologia,descrita pela United States Environmental Protection Agency - USEPA (1991),
consiste na realizao de testes ecotoxicolgicos combinados com a variao de
parmetros fsicos e qumicos das amostras, visando identificao do(s) composto(s)
e/ou classe de compostos responsveis pela toxicidade. Cada amostra coletada, e que
apresentou toxicidade inicial, foi subdividida em oito alquotas, sendo que uma foi
usada como amostra bruta baseline, como controle da toxicidade, enquanto as outras
sete foram manipuladas da seguinte forma: aerao; filtrao com uso de bomba avcuo, em membrana de polister de 0,45 m; acrscimo de cido
etilenodiaminotetractico - EDTA; acrscimo de tiossulfato de sdio; filtrao com uso
de papel filtro e carbono ativado e ajuste do pH - pH acima e abaixo daquele medido
na amostra (BADAR-PEDROSO; RACHID, 2002). Depois da manipulao das
amostras, foram feitos testes ecotoxicolgicos agudos com cada alquota, utilizando-se
novamente o invertebrado Daphnia similis, segundo a Norma CETESB L5.018
(CETESB, 1997a).
Para cada tipo de manipulao da amostra existia um controle equivalente, ou
seja, rplicas montadas com a gua de cultivo e expostas ao mesmo procedimento
que a amostra por exemplo, quando a amostra sofria aerao com bomba de ar e as
dfnias eram expostas a esse meio, gua de cultivo com dfnias tambm sofria
aerao simultaneamente.
6
A gua do controle foi feita no Laboratrio de Ecotoxicologia da Universidade Santa Ceclia,fornecedor dos organismos-teste (microcrustceos neonatos Daphnia similis).
7 TIE Toxicity Identification Evaluation traduzido como AIT - Avaliao e Identificao da Toxicidade.
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3.1.2 Coletas e anlises de amostras de gua do mar
Como complementao aos dados sobre a qualidade da gua do Canal 3,
foram feitas duas coletas de gua do mar na regio receptora do contedo do canal,concomitantemente s duas primeiras coletas de amostras do canal (15/02/2007 e
12/03/2007).
Essas coletas foram espacialmente distribudas em cinco pontos localizados em
frente ao canal, com as seguintes distncias aproximadas: 0 metro do canal, 50
metros a leste (m l), 50 metros a oeste (m o), 100 metros a leste e 100 metros a oeste
do Canal 3 (Figura 7). As amostras foram coletadas na mesma profundidade adotada
como padro pela CETESB, cerca de 1 metro. Em seguida, as amostras de guamarinha foram congeladas.
Figura 7 Esquema de distribuio dos pontos de coleta da gua do mar.
O descongelamento das amostras foi feito em temperatura ambiente e foram
medidas as variveis abiticas salinidade e teor de oxignio dissolvido, atravs dos
mesmos mtodos utilizados nas amostras de gua do canal. Algumas amostras
apresentaram salinidade muito baixa para realizao dos testes com larvas de ourio,
por isso foram reajustadas atravs da adio controlada de sal marinho.
Foram realizados testes de toxicidade crnica utilizando larvas de ourio
Lytechinus variegatus, segundo a Norma CETESB L5.250 (CETESB, 1997b), com
quatro rplicas para cada amostra e para o controle. O teste consistiu basicamente na
induo da eliminao de gametas masculinos e femininos, no laboratrio, e
fertilizao dos vulos in vitro e introduo dos ovos recm-fecundados nas amostrasde gua salgada a serem biotestadas. Aps o perodo de 24 a 28 horas, necessrio
Canal3
Praia
100m o
0 m50m o
50m l
100m l
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- Resoluo CONAMA 274/2000.
- Resoluo CONAMA 357/2005 e sua aplicao nas guas dos canais e das praias
de Santos.
- Plano de Bacia Hidrogrfica da Baixada Santista.
- Programa Onda Limpa Governo do Estado de So Paulo e SABESP.
- Agenda CETESB/SABESP.
- Programa Canal Limpo.
- Projetos relacionados aos canais de drenagem de Santos: instalao das comportas
retentoras do fluxo, automatizao das comportas, redirecionamento do fluxo dos
canais para a Estao de Pr-Condicionamento de Esgotos - EPC em perodos de
estiagem e revitalizao dos canais.
- Projeto municipal Cate a Caca do Tot.
Foram tambm levantados alguns outros instrumentos relacionados qualidade
da gua em Santos e participao popular na elaborao, implantao e
monitoramento de algumas polticas pblicas no municpio.
3.3 Entrevistas estruturadas com frequentadores da praia
O questionrio do presente estudo (APNDICE B) foi elaborado de acordo com
as informaes consideradas mais importantes sobre a percepo das pessoas emrelao s guas das praias e dos canais, alm de alguns dados scio-econmicos, e
teve contribuio das concepes propostas em Stori (2005), Lima (2003) e Viertler
(2002). As questes elaboradas para abordar diretamente a opinio das pessoas
sobre a qualidade das praias e dos canais de Santos foram baseadas em uma escala
proposta por Likert em 1932, que se tornou um paradigma da mensurao qualitativa,
sendo composta por cinco pontos, com um intermedirio, do tipo timo, bom,
regular, ruim e pssimo (PEREIRA, 1999).
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Um questionrio-piloto foi dirigido a 10 pessoas e, aps ser reajustado, uma
amostra de 100 pessoas foi abordada na praia receptora das guas do Canal 3, das
quais 83 efetivamente responderam ao questionrio.
As abordagens foram realizadas ao longo de 2008 (APNDICE C), geralmente
nos fins de semana ou feriados, quando aumenta o nmero de frequentadores, sendo
os entrevistados escolhidos aleatoriamente entre as pessoas que estavam tomando
sol ou se banhando nas proximidades do Canal 3.
As respostas das entrevistas foram dispostas em uma planilha do programa
computacional Microsoft Office Excel, a partir da qual foram analisadas
estatisticamente, sendo dispostas graficamente as informaes consideradas maisrelevantes.
Para anlise dos resultados obtidos com as entrevistas, foram definidos dois
grupos distintos: residentes em Santos e turistas. Para as respostas diretas que
classificavam a qualidade das guas das praias e dos canais de Santos foram
atribudas notas de 1 a 5 s categorias (pssima a tima). De acordo com o nmero
de pessoas, residentes e turistas, que escolheram cada categoria para classificar as
guas, foram calculadas notas mdias ponderadas, para que fossem comparveis as
respostas dos diferentes grupos, que no possuem a mesma quantidade de
entrevistados. Optou-se pela categorizao da percepo dos entrevistados pela
facilidade na disposio dos dados e na anlise das possveis diferenas entre os
grupos estudados, evitando-se a disperso das informaes.
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4. RESULTADOS
4.1 Qualidade da gua
4.1.1 Anlises das amostras de gua do Canal 3
Os resultados das variveis abiticas apontam presena de cloro apenas nas
duas primeiras coletas e concentraes relativamente altas de nitrognio amoniacal
em diversas ocasies (1, 2, 4, 5, 7 e 9 coletas) (Tabela 3). O nvel de oxignio
dissolvido tambm mostrou-se alterado, no caso reduzido, em duas coletas 4 e 7 e,
na 6 coleta, o pH foi notavelmente mais elevado que o das demais coletas (Tabela 3).
Tabela 3 - Resultados das anlises fsico-qumicas das amostras de gua do Canal 3.
ColetaCanal 3
Temperatura
(C) pH
Salinidade
()
Condutividade
(mv)
N-amoniacal
(ppm)
O2
(ppm)Cloro
(1)
I 1 23,5 7,9 0 -063 1,5 6,8 +
I2
23,2 7,6 0 -052 1,0 5,9 +
I3
22,8 7,2 0 -034 0,75 7,2 -
Controle 1, 2 e3 coletas
23,4 7,8 0 -058 0,25 8,6 -
II4
22,2 7,4 1 -054 2 3,4 -
II5
21,9 7,2 1 -047 2 8,4 -
Controle 4 e 5coletas
21,9 6,4 0 -010 0,5 9,7 -
II6
22 9,2 0,5 -076 0,5 5,9 -
Controle 6 coleta 24 8,2 0 -026 0,5 5,6 -
III7
22 7,7 0 -060 1 4,7 -
III8
22 7,6 0 -056 0,5 5,7 -
III 9 22 7,3 0 -038 1,5 6,1 -
Controle 7, 8 e
9 coletas
22 7,7 0 -057 0,5 6,1 -
(1) + significa presena e ausncia de Cloro.
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Os biotestes utilizando Daphnia similis indicaram toxicidade aguda nas
amostras do canal em duas ocasies (resultados detalhados no APNDICE D): em
15/02/2007 - 1 coleta, durante um perodo de estiagem e em 27/01/2008 - 9 coleta,
episdio de pluviosidade considerada baixa.
Devido ocorrncia de toxicidade, os procedimentos do TIE (Toxicity
Identification Evaluation) foram feitos com as amostras da 1 e da 9 coletas, para
melhor caracterizao da contaminao. No entanto, os resultados do TIE obtidos com
a amostra da 1 coleta foram inconsistentes (o controle apresentou efeitos
inesperados) e, por isso, desconsiderados.
Tabela 4 - Toxicidade das alquotas manipuladas da amostra da 9 coleta de gua do Canal 3 de acordo
com a metodologia TIE (Toxicity Identification Evaluation).
Procedimento DescrioResultado
(imveis em 20organismos)
Controle(imveis em 20
organismos)Toxicidade
Nenhum(baseline)
Amostra bruta semmanipulao 20 1 sim
AeraoAmostra aerada com
bombas 24 horas antesdo teste
20 6 sim
Filtrao
Filtragem, com uso debomba a vcuo, em
membrana de polisterde 0,45 m
20 9 sim
Adio de EDTA Concentrao 50mg/l 3horas antes do teste 20 1 sim
Adio detiossulfato Concentrao 45mg/luma hora antes do teste 20 2 sim
Aumento de pH
Adio de NaOH (pH daamostra de 7,6 para 9,7 e
pH do controle de 7,7para 9,6)
20 2 sim
Diminuio depH
Adio de HCl (pH daamostra de 7,6 para 5,7 e
pH do controle de 7,7para 5,5)
20 2sim
Papel filtro ecarbono ativado Filtrao (substituio dacoluna C18 danificada) 20 6 sim
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No caso da 9 coleta, a Tabela 4 contm a descrio dos procedimentos
realizados com as alquotas da amostra e os resultados encontrados (detalhamento no
APNDICE E), sendo que efeitos letais persistiram aps todos os procedimentos
realizados durante o TIE, sugerindo toxicidade aguda intensa e de difcil controle.
Sendo assim, no foi possvel identificar qual o tipo de contaminante responsvel pela
toxicidade, como se pretendia com a aplicao do TIE.
4.1.2 Anlises das amostras de gua do mar
Os resultados das variveis abiticas apontam nveis de oxignio entre 4,5ppm
e 7,4ppm e salinidade relativamente baixa em algumas amostras, que tiveram reajuste
para adequao aos biotestes (Tabela 5).
Tabela 5 - Coletas de amostras da gua do mar, salinidade e nveis de oxignio.
ColetaSalinidade ()
Mar
Distncia
Canal 3 Inicial ajustada
O2
(PPM)
10 m
33 --- 5,1
150 m l
34 --- 4,5
150 m o
30 --- 6,7
1100 m l
34 --- 4,5
1100 m o
28 31 7,5
Controle 1 coleta 35 --- 7,0
20 m
26 33 5,4
250 m l
25 32 5,5
250 m o
25 33 5,1
2100 m l
25 36 5,4
2100 m o
25 35 5,5
Controle 2 coleta 25 35 6,3
Notas: m l = metros a leste do Canal 3; m o =metros a oeste do Canal 3.
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Os resultados dos testes utilizando Lytechinus variegatus esto representados
no grfico da Figura 9, no qual as barras indicam a porcentagem de larvas de ourio
com desenvolvimento anormal nas quatro rplicas elaboradas para cada amostra, e os
asteriscos indicam as diferenas significativas encontradas com aplicao do teste
estatstico.
Figura 9 - Resultados dos testes de toxicidade realizados com as amostras da gua do mar.
Notas: 1: primeira coleta; 2: segunda coleta; 0m: 0 metros em frente ao canal; 50ml: 50 metros a lestedo canal; 50mo: 50 metros a oeste do canal; 100ml: 100 metros a leste do canal; 100mo: 100metros a oeste do canal; * valor de p 0,05; ** Valor de p 0,01.
As amostras da gua do mar apresentaram toxicidade crnica nas duas ocasies
de coleta, indicando m qualidade para a vida marinha, tanto em episdio de estiagem
(15/02/2007), quanto de chuva (12/03/2007). O perodo de seca apresentou os piores
resultados.
Podemos constatar que na primeira coleta, em 15/02/2007, a amostra do Canal 3
apresentou toxicidade aguda, e as amostras do mar apresentaram toxicidade crnica.
Nota-se tambm, pelo grfico acima, que as amostras da 1 coleta, a oeste do Canal
3, resultaram no desenvolvimento de mais larvas anormais de ourio do que as
amostras coletadas em frente e a leste do canal na mesma data. Isso provavelmente
se deve a corrente martima local. A segunda coleta resultou em toxicidade crnica
nas amostras do mar, mas no resultou em toxicidade aguda nas amostras do Canal
% larvas
anormais
coletas
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3. Importante frisar que a toxicidade aguda mais severa que a crnica, sendo assim,
o contedo do canal, mesmo no causando toxicidade aguda aos organismos
expostos, pode contribuir para a toxicidade crnica detectada na gua do mar.
4.1.3 Dados bibliogrficos de balneabilidade em Santos
4.1.3.1 Modos de classificao e de qualificao anual das praias e dos corpos
de gua afluentes no Estado de So Paulo
Anualmente a CETESB divulga um relatrio detalhado da qualidade da gua
das praias e dos afluentes costeiros do Estado de So Paulo, utilizando os dados
obtidos ao longo do ano anterior. Como as coletas e anlises de amostras de gua do
presente projeto foram realizadas em 2007, segue um resumo das informaes mais
importantes obtidas atravs da anlise do relatrio 2008 da CETESB.
At 2001, a CETESB adotava como indicador de poluio fecal a densidade de
coliformes termotolerantes. Aps a publicao da Resoluo CONAMA 274/2000,
passou-se a utilizar a bactria fecal Escherichia coli, e, desde novembro de 2003, a
bactria do tipo enterococos o indicador de poluio fecal adotado pela CETESB.
A utilizao dos enterococos como indicador se deu em funo de serem
internacionalmente considerados mais adequados para a avaliao de riscos sade
gerados pela exposio gua do mar, pois so mais resistentes ao ambiente
marinho e apresentam sobrevivncia semelhante a dos vrus e de bactrias
patognicas (CETESB, 2008).
Essa mudana de indicadores pode causar certa deturpao dos resultados dabalneabilidade das praias, como foi o caso de Santos, culminando em um aparente
aumento de praias prprias. No entanto, quando so analisados os dados semanais,
fica evidente que a qualidade das guas costeiras na verdade tem piorado.
As coletas das amostras de gua do mar em Santos so realizadas pela
CETESB semanalmente, geralmente aos domingos, dia de maior afluncia do pblico
s praias, e, preferencialmente, na mar vazante, na qual ocorre menor diluio dos
efluentes. Nos meses de dezembro a fevereiro, nas praias onde ocorre significativavariao dos ndices de enterococos, a coleta pode ser feita mais vezes por semana.
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Segundo os critrios estabelecidos pela Resoluo CONAMA 274/2000
(ANEXO A), as praias so classificadas em quatro categorias: Excelente, Muito Boa,
Satisfatria (agrupadas em uma classificao denominada Prpria) e Imprpria. A
classificao feita de acordo com as densidades de bactrias fecais resultantes de
anlises feitas em cinco semanas consecutivas, ou seja, o resultado a tendncia que
a praia apresenta para oferecer ou no riscos sade dos banhistas. A classificao
Imprpria indica um comprometimento na qualidade sanitria das guas, tornando
desaconselhvel a sua utilizao para o banho. Alm das anlises microbiolgicas,
uma praia pode ser classificada como Imprpria quando ocorrerem circunstncias que
desaconselhem a balneabilidade, tais como a presena de leo, ocorrncia de mar
vermelha, florao de algas potencialmente txicas ou surtos de doenas deveiculao hdrica (CETESB, 2008).
Alm da classificao semanal, a CETESB calcula uma Qualificao Anual, que
equivale a uma sntese da distribuio das classificaes obtidas pelas praias no
perodo correspondente s 52 semanas do ano (Tabela 6).
Tabela 6 - Categorias da qualificao anual das praias no Estado de So Paulo.Classificao da praia ao longo do ano Qualificao anual Cor
Excelente 100% do tempo TIMA
Prpria 100% do tempo BOA
Imprpria at 25% do tempo REGULAR
Imprpria entre 25% e 50% do tempo RUIM
Imprpria mais que 50% do tempo PSSIMA
Fonte: modificado de CETESB (2008).
4.1.3.2 Dados de contaminao microbiolgica das praias e dos canais de
Santos em 2007
No municpio de Santos, so monitorados sete pontos de amostragem,
localizados em seis praias. Comparando-se os resultados de 2007 com o ano anterior,
percebe-se que no houve mudanas significativas na qualidade dessas guas. Em
2006, os pontos de amostragem ficaram em mdia 54% do tempo na condio Prpria
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(CETESB, 2007). J em 2007, a mdia das praias que apresentaram classificao
Prpria foi de 60% e todas as praias tiveram qualificao anual Ruim (CETESB, 2008).
As coletas de gua do mar e do canal do presente projeto foram realizadas naregio considerada divisa entre as praias do Boqueiro e Gonzaga, que se
apresentaram Imprprias para o banho 39% e 37% do tempo em 2007,
respectivamente (CETESB, 2008). Essa classificao resultou em uma qualificao
anual Ruim para essas praias.
Alm de coletas e anlises da gua do mar, a CETESB tambm avalia a
contaminao microbiolgica dos corpos de gua que desguam no litoral paulista, por
serem considerados os principais responsveis pela variao da qualidade das guasdas praias, pois recebem freqentemente contribuio de esgotos domsticos no
tratados (CETESB, 2008). O monitoramento desses cursos dgua tem como objetivo
fornecer subsdios para o Programa de Balneabilidade das Praias. No entanto, a
CETESB realiza apenas duas campanhas por ano, com coletas semestrais.
No municpio de Santos foram amostrados 10 cursos dgua em cada semestre
de 2007. Da mesma forma que no ano de 2006, todas as amostras apresentaram-se
fora do padro legal, com excesso de coliformes fecais indicao clara da presena
de esgoto.
Os corpos de gua afluentes das praias de Santos avaliados pela CETESB
seriam enquadrados, segundo o Decreto Estadual n 10755/77 (ANEXO B), na Classe
2. Apesar de os canais de Santos no serem corpos de gua naturais, para fins deste
trabalho, devido aos seus usos correntes, sero considerados tambm como
enquadrados na Classe 2. A Resoluo CONAMA 357/2005 (ANEXO C) estabelece,
para corpos de gua doce da Classe 2, um limite de coliformes termotolerantes de
1000 NMP/100 ml. A quantidade de coliformes termotolerantes encontrada nos canais
de Santos altssima, em relao ao valor limite ditado pelo CONAMA, sendo que o
Canal 3 est entre os piores amostrados: 410.000 NMP/100ml e 680.000 NMP/100ml
nas duas amostragens de 2007 (CETESB, 2008).
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4.1.3.3 Evoluo da contaminao microbiolgica das praias e dos canais de
Santos
Analisando-se os resultados das anlises microbiolgicas das amostras de
gua ao longo do litoral de So Paulo, apresentados nos relatrios divulgados pela
CETESB (2005, 2006, 2007, 2008, 2009), pode-se ter uma idia sobre a evoluo da
qualidade das praias e da balneabilidade. No caso da Baixada Santista, destacam-se
anos de condies muito crticas, como 1996 e 2006. Tambm possvel distinguir
trs perodos: o primeiro at 1999, no qual a qualidade das praias foi pior, o segundo
de 2000 a 2003, durante o qual se observou uma melhora dessa qualidade e o
terceiro, de 2004 at 2008, quando se registrou nova queda das condies de
balneabilidade.
Ressalta-se que as caractersticas climticas, principalmente pluviosidade, tm
uma influncia bastante importante nas condies de balneabilidade, alm do
saneamento bsico. O ano de 1996, por exemplo, alm da insuficincia de sistemas
de esgotamento sanitrio, apresentou altos ndices pluviomtricos, com volumes