Download - práticas artísticas
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Educao
Curso de Graduao em Pedagogia - Licenciatura Modalidade a Distncia
Plo de Alvorada
Sandra Bartikoski da Rocha
Prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de
alunos do 1 ano de Ensino Fundamental
Alvorada 2010
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Sandra Bartikoski da Rocha
Prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de
alunos do 1 ano de Ensino Fundamental
Trabalho de Concluso apresentado Comisso de Graduao do Curso de Pedagogia Licenciatura, da Faculdade de Educao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obteno do ttulo de Licenciada em Pedagogia.
Orientadora: Beatriz Corso Magdalena Tutora: Simone Ramminger
ALVORADA 2010
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Reitor: Prof. Carlos Alexandre Netto Vice-Reitor: Prof. Rui Vicente Oppermann Pr-Reitora de Ps-Graduao: Prof Valquiria Link Bassani Diretorda Faculdade de Educao: Prof. Johannes Doll Coordenadoras do Curso de Graduao em Pedagogia Licenciatura na modalidade a distncia/PEAD: Profas. Rosane Aragn de Nevado e Marie Jane Soares Carvalho
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AGRADECIMENTOS
Agradeo em primeiro lugar a Deus, luz e fora que permeia minha
trajetria de estudante desde os anos iniciais.
Agradeo tambm a minha famlia. Aos meus pais Ins e Valdir que me
deram a base necessria para chegar at aqui, me educando e mostrando o
caminho certo a seguir, e ao meu marido Paulo por todo o seu apoio,
compreenso e incentivo dedicados a mim nesta caminhada.
A minha professora orientadora Beatriz pelo carinho, dedicao e
comprometimento. A sua competncia e amor profisso ir deixar um pouco de
si em minha vida.
Minha especial gratido a todos os professores e tutoras que contriburam
para minha formao acadmica. Em especial, as professoras ris e Bea por seu
comprometimento, ajuda e profissionalismo.
Agradeo tambm as tutoras do plo de Alvorada Vanessa, Grace,
Rosaura e Adriana pela ateno, carinho e apoio nos momentos difceis e pelas
horas dedicadas sempre no intuito de ajudar.
As minhas colegas, amigas e companheiras Roselana, Lidiane e Jurema
por existirem e fazerem parte dessa caminhada. Com certeza ficaro pra sempre
em meu corao.
Obrigada de corao!
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Mulheres e homens, somos os nicos seres que, social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender. Por isso, somos os nicos em que aprender uma aventura criadora, algo, por isso mesmo, muito mais rico do que meramente repetir a lio dada. Aprender para ns construir, reconstruir, constatar para mudar, o que no se faz sem abertura ao risco e aventura do esprito.
Paulo Freire
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RESUMO
O trabalho analisa as prticas artsticas realizadas durante a aplicao de um projeto com o tema Eu (identidade) e as pessoas que me rodeiam, desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2010 em uma turma de 1 ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual do municpio de Alvorada/RS. Visa analisar a questo das prticas artsticas como eixo favorecedor da aprendizagem de alunos do 1 ano de Ensino Fundamental. O estudo foi norteado pelas seguintes questes: Qual a importncia das artes na Educao? Quais as formas de contribuio das diferentes linguagens da arte na aprendizagem? Qual a importncia das prticas artsticas como eixo facilitador da aprendizagem de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental? As anlises apiam-se nos Parmetros Curriculares Nacionais (1997), nos estudos de Borba e Goulart (2006) e Ferraz e Fusari (1999). As anlises indicam que realizar atividades artsticas contribui para desenvolver a expresso, a criatividade, a sensibilidade, a imaginao e a percepo, elementos que so importantes no processo criativo das crianas. Alm disso, as crianas aprenderam cores, formas, linhas e construram conceitos. As prticas artsticas utilizadas tambm favoreceram o desenvolvimento de habilidades motoras e a ateno que so necessrias e facilitam no processo de alfabetizao.
Palavras - chave: aprendizagem, arte, linguagem, alfabetizao.
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SUMRIO
1 INTRODUO ........................................................................................................ 7 1.1 Questes de investigao ............................................................................................... 8 2 REFERENCIAL TERICO ................................................................................................ 9
2.1 Importncia do ensino da arte ..................................................................................... 9 2.2 As linguagens da arte no Ensino Fundamental ..................................................... 13
2.2.1 Artes visuais ou artes plsticas ......................................................................... 15 2.2.2 Dana ..................................................................................................................... 16 2.2.3 Msica ................................................................................................................... 17 2.2.4 Teatro ..................................................................................................................... 19
2.3 As prticas artsticas na alfabetizao de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental ....................................................................................................................... 20
3 RELATO E ANLISE DA EXPERINCIA ..................................................................... 24 3.1 Sobre o tema do projeto desenvolvido .................................................................... 24 3.2 Anlise do projeto aplicado ....................................................................................... 25
4 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 36 REFERNCIAS ..................................................................................................................... 38
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1 INTRODUO
O presente trabalho de concluso do curso de graduao em Pedagogia
tem como finalidade principal analisar a questo das prticas artsticas como eixo
favorecedor da aprendizagem de alunos do 1 ano de Ensino Fundamental. Essa
anlise ser feita a partir da prtica e dos embasamentos tericos sobre os anos
iniciais do Ensino Fundamental, construdos durante a minha trajetria como
acadmica do curso do PEAD.
A Arte um componente curricular obrigatrio no Ensino Fundamental,
garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Ela deve fazer
parte do cotidiano escolar, pois atravs da arte, que o indivduo exterioriza suas
emoes e sentimentos representados de diversas maneiras, como pintura,
desenhos, dramatizaes, entre outras.
Ao refletir sobre minha atuao como educadora, ao longo dos
anos, percebi que uma das minhas mais fortes intenes foi a de trazer a Arte
como uma linguagem de expresso presente nas tarefas do cotidiano, fazendo
com que meus alunos sentissem prazer em realizar as atividades propostas e
mais, que a sala de aula fosse vista como um lugar de descontrao, interao e
criao, tornando-se um incentivador para que eles tivessem vontade de
frequentar a escola.
Assim, ao longo da minha prtica pedaggica, procurei incluir, alm de
atividades ldicas, uma ligao com o fazer artstico do aluno, atravs de
atividades (desenhos, criao de jogos, dedoches, dramatizaes, dobraduras,
msica...) que despertam a imaginao e criao, pois acredito que alm de
contribuir para o ensino/aprendizagem dos alunos, tornam as aulas mais
divertidas e agradveis.
Essa inteno ficou mais evidente durante a realizao do meu estgio
curricular supervisionado, desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2010, no
perodo de 12 de abril a 16 de junho de 2010, com uma turma de 1 ano de uma
escola do municpio de Alvorada, no qual desenvolvi o projeto com o tema Eu
(Identidade) e as pessoas que me rodeiam. O objetivo geral do projeto foi o
de propiciar elementos para que os alunos, aos poucos, se reconhecessem como
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sujeitos histricos e cidados, desenvolvendo a auto-estima, a afetividade e a
tolerncia, capacidades necessrias para uma vivncia saudvel e solidria.
No entanto, penso que, trabalhar o fazer artstico dos alunos, no
pode reduzir-se reproduo de modelos prontos. fundamental oferecer
oportunidades para que o educando expresse suas idias, suas vontades, suas
criaes de forma autntica e autnoma, integradas aos mais diferentes
momentos e conhecimentos em construo. Assim, ao conduzir a prtica
pedaggica nesta linha, o educador estar respeitando e considerando, de forma
positiva, a liberdade de expresso de seus alunos.
A educao artstica encaminhada desta forma despertar a criatividade, a
liberdade de expresso e, consequentemente, poder auxiliar o desenvolvimento
da auto-estima dos educandos. Da mesma forma, as prticas artsticas tomadas
como eixos para a construo do conhecimento e desenvolvimento de
habilidades, parecem capazes de alavancar os processos de aprendizagem, to
necessrios ao incio da alfabetizao e letramento.
A contemplao e o fazer artstico favorecem elementos criana, para
que ela crie novos significados para o cotidiano e para a suas abordagens e
interaes com o mundo.
1.1 Questes de investigao
Questo principal do TCC
De que forma as prticas artsticas podem favorecer a aprendizagem de
alunos do 1 ano de Ensino Fundamental?
Questes de trabalho
Qual a importncia das artes na Educao?
Quais as formas de contribuio das diferentes linguagens da arte na
aprendizagem?
Qual a importncia das prticas artsticas como eixo facilitador da
aprendizagem de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental?
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2 REFERENCIAL TERICO
[...] a arte se constitui de modos especficos de manifestao da atividade criativa dos seres humanos ao interagirem com o mundo em que vivem, ao se conhecerem e ao conhec-lo. [...] Desde a infncia, tanto as crianas como ns, professores, interagimos com as manifestaes culturais de nossa ambincia e vamos aprendendo a demonstrar nosso prazer e gosto, por imagens, objetos, msicas, falas, movimentos, histrias, jogos e informaes com as quais nos comunicamos na vida cotidiana (FUSARI e FERRAZ, 1999, p.99).
2.1 Importncia do ensino da arte
A arte constitui um elemento essencial da histria da humanidade. Ela
acompanha o homem desde sua origem, quando ele vivia nas cavernas e
buscava atravs da arte a possibilidade de manifestar sua existncia.
A arte uma forma de expresso e est presente em todos os lugares, em
revistas, jornais, televiso, na natureza, na decorao das casas, na estampa das
roupas... Segundo Ana Mae, Se a arte no fosse importante no existiria desde
o tempo das cavernas... (BARBOSA, 2005, p. 27).
A aprendizagem e o ensino da arte ao longo da histria foram se
transformando de acordo com normas e valores estabelecidos, em diferentes
espaos culturais.
Na educao, o ensino da Arte s passou a ser obrigatrio a partir da Lei
de Diretrizes e Bases da Educao Nacional n. 9.394/96 que estabelece O
ensino da arte constituir componente curricular obrigatrio, nos diversos nveis
da educao bsica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos
(art. 26, inciso 2). Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais a Arte tem
uma funo to importante quanto dos outros conhecimentos no processo de
ensino e aprendizagem (BRASIL, 1997, p. 19).
Apesar de a lei determinar a obrigatoriedade do ensino da arte, o que se
observa que, ainda em muitas escolas, no dado o valor devido a essa
disciplina. Em muitos casos, a disciplina de artes, a partir do 6 ano do Ensino
Fundamental, utilizada como um tapa furo para fechar a carga horria de
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professores de outras disciplinas, o que acaba prejudicando o seu
desenvolvimento, pois esses professores no possuem a qualificao necessria
ou possuem pouca qualificao.
Outra questo que pode ser constatada a de que o ensino de artes ainda
est muito vinculado ao uso de modelos prontos e estereotipados, provavelmente
pela falta ou pouca qualificao dos professores. Eles entram em sala de aula e,
como no sabem o que fazer, acabam oferecendo uma folha mimeografada com
um desenho pronto referente s muitas datas comemorativas existentes para os
alunos colorirem.
Artes como conhecimento vai muito alm: trabalhar o fazer artstico dos
alunos, no reduzir-se reproduo de modelos prontos. fundamental que o
campo das Artes seja utilizado em toda a sua riqueza, oferecendo mltiplas
maneiras e formas para que o educando expresse suas idias, suas vontades,
suas criaes de forma autntica e autnoma. Assim, ao propor prticas
pedaggicas nesta linha, o educador estar respeitando e considerando de forma
positiva a liberdade de expresso de seus alunos.
Segundo Fusari e Ferraz (1999, p.99),
[...] h professores que restringem sua interferncia educativa em arte organizao de aulas somente com atividades de colorir desenhos prontos e j impressos... Muitos docentes que assumem essa postura desconhecem ou no se preocupam em interferir de um modo mais educativo na relao que os estudantes mantm com a cultura e as obras de arte, alm de pouco considerarem as elaboraes criativas pessoais deles, bem como as suas transformaes sensveis-cognitivas no entendimento da arte.
s vezes, trabalhar com os alunos com modelos prontos mimeografados
ou impressos, no nem uma questo de no saber desenvolver as aulas de
artes, mas uma questo de comodismo e facilidade. Tal fato parece ser comum
no s nos anos finais do Ensino Fundamental, mas tambm acontece muito nos
anos iniciais do Ensino Fundamental. Nesse ltimo, o aproveitamento das Artes
poderia ser bem mais rico, pois entrariam como componentes de um todo uma
vez que o ensino globalizado e no fragmentado por disciplinas.
Outro problema muito comum nas escolas a falta de recursos para o
desenvolvimento das aulas de artes, que fortalece a utilizao de modelos
estereotipados por parte do professor. Assim, preciso que as escolas
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disponibilizem material adequado para que os professores possam desenvolver
as aulas de artes, da mesma maneira que necessrio formao continuada
para dar suporte qualitativo aos professores.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,
Sem uma conscincia clara de sua funo e sem uma fundamentao consistente de arte como rea do conhecimento com contedos especficos, os professores no conseguem formular um quadro de referencias conceituais e metodolgicas para alicerar sua ao pedaggica [...] (BRASIL, 1997, p. 32).
Outro fator que ajuda a aumentar o trabalho inadequado e simplrio com
Artes a falta de conscientizao por parte das instituies e tambm dos
professores sobre a importncia do ensino de artes e integrao com as outras
disciplinas do currculo.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,
A educao em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artstico e da percepo esttica, que caracterizam um modo prprio de ordenar e dar sentido experincia humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepo e imaginao, tanto ao realizar formas artsticas quanto na ao de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas (BRASIL, 1997, p. 19).
A arte um recurso extremamente rico por sua versatilidade,
temporalidade, diversidade cultural, acessibilidade, praticidade, pois est em
qualquer lugar, basta que o professor esteja receptivo a essa linguagem. Por
isso, os trabalhos com Artes devem incluir noes de arte produzidas no passado
e no presente, para que, por comparaes possa desenvolver senso artstico o
que promover o incremento da autoria do aluno.
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,
importante que os alunos compreendam o sentido do fazer artstico; que suas experincias de desenhar, cantar, danar ou dramatizar no so atividades que visam distra-los da seriedade das outras disciplinas. Ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos especficos sobre sua relao com o mundo. Alm disso, desenvolvem potencialidades (como percepo, observao, imaginao e sensibilidade) que podem alicerar a conscincia do seu lugar no mundo [...] (BRASIL, 1997, p. 44).
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Ao lidar com a emoo, a sensibilidade e a fantasia, a arte promove
encontros sutis e significativos dos educandos com a cultura, ampliando sua
compreenso do aspecto humano e do que est em torno dele. Conforme os
PCNS, a aprendizagem artstica envolve diferentes tipos de conhecimentos que
possibilitam a transformao e crescimento do ser humano, alm de proporcionar
a aproximao e compreenso de diferentes culturas.
A aproximao de culturas faz da arte um agente formador de opinies. Os
alunos podem ampliar seus pontos de vista acerca do seu mundo, ao estabelecer
interaes entre o visvel e o oculto nas obras, ou seja, entre a obra criada e as
inter-relaes que ela carrega consigo mesma. .
A esse respeito, os Parmetros Curriculares Nacionais afirmam,
Aprender arte desenvolver progressivamente um percurso de criao pessoal cultivado, ou seja, alimentado pelas interaes significativas que o aluno realiza com aqueles que trazem informaes pertinentes para o processo de aprendizagem, com fontes de informao e com o seu prprio percurso de criador (BRASIL, 1997, p. 47).
Atravs da arte, a criana tem a possibilidade de manifestar seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos no tempo e espao. Ao trabalhar
com a arte, atravs de aes de criar, apreciar, produzir, observar, se oportuniza
a interao da criana com o mundo, bem como sua transformao.
Segundo Borba e Goulart (2006, p.50),
O acesso arte significa possibilitar s crianas, de qualquer idade, e aos professores (as), o contato e a intimidade com a arte no espao escolar e, dessa forma, abrir caminhos para a experincia esttica, provocando novas formas de sentir, pensar, compreender, dizer e fazer. Significa promover o encontro dos sujeitos com diferentes formas de expresso e de compreenso da vida.
A arte um meio de livre expresso e, em suas diversas formas, influi de
maneira significativa no desenvolvimento mental e no equilbrio pessoal do
individuo. A criana ao se expressar livremente por meio de desenhos,
dramatizao, msica, expresso corporal manifesta suas emoes, seu ritmo
interior, seus interesses e sentimentos. As palavras, os gestos e os movimentos,
a expresso plstica e a musical, so linguagens que constituem uma forma de
comunicao com o mundo.
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fundamental que o educador tenha conscincia dos movimentos
expressivos, representativos, corporais e musicais da criana para que ele possa
mediar aes pedaggicas contextualizadas, coerentes com os interesses e
necessidades dos educandos, promovendo assim uma formao humana
significativa.
De acordo com Fusari e Ferraz (1999, p.21),
[...] para desenvolver bem suas aulas, o professor que est trabalhando com arte precisa conhecer as noes e os fazeres artsticos e estticos dos estudantes e verificar em que medida pode auxiliar na diversificao sensvel e cognitiva dos mesmos. Nesta concepo, sequenciar atividades pedaggicas que ajudem o aluno a aprender a ver , olhar, ouvir, pegar, sentir, comparar os elementos da natureza e as diferentes obras artsticas e estticas do mundo cultural, deve contribuir para o aperfeioamento do aluno.
A arte na escola cria a possibilidade de integrar esttica e sensibilidade s
dimenses cognitivas do aprender. O ensino da arte deve ser planejado e
organizado pelo educador segundos as necessidades naturais da criana,
integrado no contexto escolar visando atingir os objetivos propostos. A arte deve
fazer parte do cotidiano escolar, pois atravs dela, o individuo exterioriza suas
emoes e sentimentos representando-os de diversas maneiras: pintura,
desenhos, dramatizao, msica e outras formas de expresso. A educao
artstica encaminhada desta forma despertar a criatividade, a liberdade de
expresso e consequentemente ajudaro no desenvolvimento da auto-estima dos
educandos.
2.2 As linguagens da arte no Ensino Fundamental
A arte faz parte do desenvolvimento humano. O homem desde os
primrdios buscou nas linguagens da arte formas de manifestar seus
pensamentos, seja atravs das artes visuais, da msica, da dana ou do teatro.
De acordo com Borba e Goulart (2006, p. 47), A dana, o teatro, a
literatura, as artes visuais e as artes plsticas representam formas de expresso
criadas pelo homem como possibilidades diferenciadas de dialogar com o
mundo.
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A arte transita por smbolos e linguagens. Ela a expresso do
pensamento contextualizado no tempo e espao.
A criana desde o inicio de sua vida cria seus cdigos e linguagens a partir
de referncias contextualizadas, os quais sero desenvolvidos conforme o meio
em que vive e os estmulos recebidos.
Segundo Borba e Goulart (2006, p. 48),
A arte, a linguagem e o conhecimento fazem parte do acervo cultural do homem, como resultado de suas necessidades filosficas, biolgicas, psicolgicas e sociais, entre outras. Estabelecemos novas realidades, novas formas de insero no mundo e de viso deste mundo, quando, como autores e atores, danamos, pintamos, tocamos instrumentos, entre outras possibilidades, elaborando e reconhecendo de modo sensvel nosso pertencimento no mundo.
Nessa perspectiva, o educador exerce um papel fundamental de mediador,
estimulando vivncias significativas para o educando no ato de aprender a falar,
ouvir, sentir, olhar, refletir, entre outros. De acordo com os Parmetros
Curriculares Nacionais, [...] A arte solicita a viso, a escuta e os demais sentidos
como portas de entrada para uma compreenso mais significativa das questes
sociais [...] (BRASIL, 1997, p. 20).
Um educador atento e consciente das necessidades e das caractersticas
do educando, possivelmente se tornar um formador de indivduos mais
humanos, crticos e reflexivos.
Borba e Goulart (2006, p. 51) afirmam que,
O prazer e o domnio do olhar, da escuta e do movimento sensveis construdos no encontro com a arte potencializam as possibilidades de apropriao e de produo de diferentes linguagens pelos sujeitos como formas de expresso e representao da vida: por meio da poesia, do conto, da caricatura, do desenho, da dana, da msica, da pintura, a escultura, da fotografia, etc.
Para os Parmetros Curriculares Nacionais h quatro linguagens da arte
para o ensino nos primeiros anos do ensino fundamental: Artes Visuais, Dana,
Msica e Teatro. Em todas, um dos objetivos o de promover no educando a
formao artstica e esttica, para que sua participao na sociedade seja mais
significativa. Nessa dimenso, essas linguagens so elementos relevantes e
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fundamentais no processo de aprendizagem dos alunos, principalmente os de
sries iniciais.
2.2.1 Artes visuais ou artes plsticas
Artes visuais so formas importantes de expresso e comunicao,
fundamentais no contexto da educao. Alm das modalidades tradicionais
como desenho, pintura, gravura, modelagem, recorte e colagem, escultura,
arquitetura, as artes visuais abrangem tambm outras formas resultantes dos
avanos tecnolgicos como fotografia, cinema, vdeo, computao, artes grficas,
entre outras.
Essa multiplicidade j aparece nos Parmetros Curriculares Nacionais
como elementos de forte apelo para aprendizagem:
O mundo atual caracteriza-se por uma visualidade em quantidades inigualveis na histria, criando um universo de exposio mltipla para os seres humanos, o que gera a necessidade de uma educao para saber distinguir sentimentos, sensaes, idias e qualidades... Tal aprendizagem pode favorecer compreenses mais amplas para que o aluno desenvolva sua sensibilidade, afetividade e seus conceitos e se posicione criticamente (BRASIL, 1997, p. 61).
Por outro lado, sabe-se que a criana receptiva aos desafios do meio em
que vive e influenciada pela cultura nos mais diferentes meios. Assim, parece
fundamental unir esses dois lados de uma mesma moeda: as artes como
elementos provocativos do meio e os alunos como provocadores ou provocados
pelas mesmas.
As Artes Visuais expressam pensamentos nas dimenses sociais,
econmicas, polticas, culturais, ambientais de uma determinada poca e regio.
Em vista disso, os Parmetros Curriculares Nacionais chamam ateno para a
idia de que,
A educao em artes visuais requer trabalho continuamente informado sobre os contedos e experincias relacionados aos materiais, s tcnicas e s formas visuais de diversos momentos da histria, inclusive contemporneos. Para tanto, a escola deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experincias de aprender e criar, articulando percepo, imaginao, sensibilidade, conhecimento e produo artstica pessoal e grupal (BRASIL, 1997, p. 61).
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Assim, no trabalho com artes visuais importante que o professor oferea
ao educando uma variedade de materiais e recursos como forma de estimular a
produo artstica.
O educador deve lanar mo de todas as linguagens visuais (desenho,
pintura, modelagem, recorte e colagem...) no fazer artstico do educando a fim de
diversificar sua ao. Embora todas as modalidades artsticas sejam importantes
para o desenvolvimento do processo de ensino/aprendizagem do educando, o
desenho ocupa um lugar de destaque principalmente na alfabetizao, pois
atravs do desenvolvimento progressivo dele que o aluno constri os primeiros
smbolos da escrita.
Cabe aqui ressaltar novamente, que, oferecer trabalhos prontos limita a
capacidade de expresso do educando. O desenho precisa ser utilizado pela
criana como forma de se expressar, de se comunicar, assim como o gesto e a
fala. necessrio que as crianas sejam estimuladas a desenhar criativamente,
soltas, sem regras para que ele se torne um elemento que enriquece as
possibilidades de expresso.
Como salientam Borba e Goulart (2006, p. 54/55),
O desenho uma forma de expresso de como a criana e/ou o jovem veem o mundo e suas particularidades. [...] As crianas surpreendem-nos com seus conhecimentos de vrios modos, narrando aspectos da realidade vivida e criada. [...] o desenho possui contedos prprios, os quais fornecem novas possibilidades de expresso e de compreenso do mundo e de si mesmo.
Em sntese, as artes visuais devem ser valorizadas pela escola. O
educador deve respeitar as peculiaridades e tambm o nvel de desenvolvimento
de cada educando. Os trabalhos realizados devem ser significativos para o
educando. O pensamento, a sensibilidade, a imaginao, a percepo, a intuio
e a cognio do educando devem ser trabalhadas de forma integrada, visando
desenvolver suas capacidades criativas.
2.2.2 Dana
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,
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A arte da dana faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as religies e as atividades de lazer. Os povos sempre privilegiaram a dana, sendo est um bem cultural e uma atividade inerente natureza do homem. Toda a ao humana envolve atividade corporal. A criana um ser em constante mobilidade e utiliza-se dela para buscar conhecimento de si e daquilo que a rodeia [...] (BRASIL, 1997, p. 67).
Pode-se dizer que dana movimento e que movimento significa vida. A
criana toda movimento, portanto toda vida. A criana est em constante
movimento e esta ao fsica que ela realiza por puro prazer, constitui a primeira
forma de aprendizagem. Atravs de movimentos como correr, pular, girar, subir,
entre outros a criana melhora suas habilidades e sua coordenao corporal.
Aprender a se expressar atravs da dana possibilita a criana alm da
compreenso de sua capacidade de movimento, o desenvolvimento de conceitos
de tempo, espao e direo. Cabe ao educador criar diferentes atividades como
forma de estimular as crianas a explorar seus corpos e suas habilidades
motoras, reconhecer ritmos e explorar sua imaginao. Os temas escolhidos pelo
educador para trabalhar dana devem respeitar o nvel de desenvolvimento do
educando.
Essa preocupao est em consonncia com a idia de que
A dana uma forma de integrao e expresso tanto individual quanto coletiva, em que o aluno exercita a ateno, a percepo, a colaborao e a solidariedade. [...] a dana permite a experimentao e a criao, no exerccio da espontaneidade. Contribui tambm para o desenvolvimento da criana no que se refere conscincia e construo de sua imagem corporal, aspectos que so fundamentais para seu crescimento individual e sua conscincia social (BRASIL, 1997, p. 68).
2.2.3 Msica
Segundo o Referencial Curricular para a Educao Infantil,
A msica uma linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensaes, sentimentos e pensamentos, por meio da organizao e relacionamento expressivo entre o som e o silncio (BRASIL, 1998, p. 45).
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A msica faz parte da cultura mundial, presentes nas mais diversas
situaes entre as quais se destacam: publicidade, festas e comemoraes,
rituais religiosos, manifestaes polticas, entre outras.
Assim, na escola, quando se pensa em aprendizagem dos alunos precisa-
se ter claro que,
Qualquer proposta de ensino que considere essa diversidade precisa abrir espao para o aluno trazer msica para a sala de aula, acolhendo-a, contextualizando-a e oferecendo acesso a obras que possam ser significativas para o seu desenvolvimento pessoal em atividades de apreciao e produo (BRASIL, 1997, p. 75).
Atravs do uso da linguagem da msica, a criana desenvolve a
expresso, o equilbrio, a autoestima e autoconhecimento. A msica propicia a
integrao dos indivduos. A criana receptiva ao trabalho com msica. Os
estmulos produzidos aguam sua curiosidade e revelam sua capacidade de criar
e recriar.
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais,
[...] para que a aprendizagem da msica possa ser fundamental na formao de cidados necessrio que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, interpretes, compositores improvisadores, dentro e fora da sala de aula (BRASIL, 1997, p. 77).
importante apresentar diversos estilos musicais para a criana
independente da idade (forr, samba, clssica, rock, tango, entre outras) e
evidenciar as caractersticas de cada estilo, para que ela possa ampliar seu leque
sonoro, enriquecendo sua linguagem e promovendo assim a sua alfabetizao
musical.
Nessa seleo, cabe dar destaque msica brasileira, regional e local,
prpria dos diferentes grupos do nosso pas uma vez que As canes brasileiras
constituem um manancial de possibilidades para o ensino da msica com msica
[...] (BRASIL, 1997, p. 76). Um exemplo so as msicas folclricas que fazem
parte da tradio popular brasileira. O educador pode promover debates, a partir
de uma escuta atenta com o objetivo de desenvolver uma escuta crtica por parte
do educando.
Trabalhar msica fazer desabrochar a musicalidade nos alunos, oferecer
elementos diferenciados para que eles possam escolher e se posicionar, refinar o
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gosto e saber aproveitar essa linguagem para expressar e comunicar o que j
sabe ou aprendeu.
Trabalhando diversos estilos musicais, o educador age como provocador e
oportuniza ao educando o contato com diversas culturas e manifestaes
sonoras.
Para o Referencial Curricular para a Educao Infantil a msica uma
das formas importantes de expresso humana, o que por si s justifica sua
presena no contexto da educao... (BRASIL, 1998, p. 45).
2.2.4 Teatro
A criana extremamente ldica, espontnea e criativa. Seu corpo
utilizado como instrumento de dilogo, pelo qual ela se expressa e estabelece
comunicao. Assim, o teatro e a dramatizao so elementos que devem ser
explorados. Pode-se dizer que,
A dramatizao acompanha o desenvolvimento da criana como uma manifestao espontnea, assumindo feies e funes diversas, sem perder jamais o carter de interao e de promoo do equilbrio entre ela e o meio ambiente. Essa atividade evolui do jogo espontneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo (BRASIL, 1997, p. 83).
Em vista disso, atividades de faz de conta estimulam a explorao das
possibilidades expressivas do corpo e da voz e tambm de utilizao do espao,
alm de favorecer a comunicao e o relacionamento com outros indivduos.
Conforme os Parmetros Curriculares Nacionais,
Ao participar de atividades teatrais, o indivduo tem a oportunidade de se desenvolver dentro de um determinado grupo social de maneira responsvel, legitimando os seus direitos dentro desse contexto, estabelecendo relaes entre o individual e o coletivo, aprendendo a ouvir, a acolher e a ordenar opinies, respeitando as diferentes manifestaes, com finalidade de organizar a expresso de um grupo (BRASIL, 1997, p. 83).
As crianas, normalmente, so muito participativas, espontneas e
receptivas a realizao de atividades de dramatizao. O educador enquanto
mediador exerce um papel fundamental no desenvolvimento da linguagem teatral
do educando, aguando a sua imaginao, a explorao do corpo e a
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improvisao. A explorao de idias temticas significativas pertinentes ao
contexto do educando nas atividades teatrais contribuem para o seu
desenvolvimento global, tornando-a uma atividade prazerosa e criativa.
2.3 As prticas artsticas na alfabetizao de alunos do 1 ano do Ensino Fundamental
Com a aprovao da Lei 11.274/06 foi institudo o Ensino Fundamental de
nove anos de durao, passando a ser obrigatrio a incluso de crianas de seis
anos de idade. Na prtica significa que foi retirada a ltima etapa, ou seja, o
ltimo ano da Educao Infantil (a pr-escola) e acrescentado no Ensino
Fundamental.
Com essa mudana na Lei do Ensino Fundamental, o processo de
alfabetizao que antes acontecia em um ano (1 srie) passa a acontecer em
dois anos, ou seja, a criana entra no primeiro ano onde inicia o processo,
passando automaticamente para o segundo ano onde deve concluir a
alfabetizao.
O que se observa que toda essa mudana causou muita polmica entre
as escolas. Em algumas instituies mudou somente a nomenclatura, ou seja, o
primeiro ano continuou igual pr-escola, enquanto em outras a lei foi levada ao
p da letra e o primeiro ano passou a alfabetizar. No houve uma definio por
parte da Lei sobre o currculo a ser desenvolvido com a mudana, o que deu
margem a cada instituio interpret-lo da sua forma.
Antes de seguir adiante, importante destacar que a pr-escola trabalhava
mais habilidades motoras, cognitivas, perceptivas, entre outras e atitudes que
eram consideradas pr-requisitos para a alfabetizao, deixando as atividades
mais formais para o ensino fundamental.
Com a mudana, a criana inicia sua vida escolar muitas vezes sem essas
habilidades j desenvolvidas, pois no frequentou a educao infantil. O
educador ento precisa trabalhar essas habilidades no educando junto ao
processo de alfabetizao do primeiro ano.
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Assim, as prticas artsticas, muito desenvolvidas na pr-escola, passaram
a ocupar um lugar ainda mais especial e importante na alfabetizao de alunos
do 1 ano do Ensino Fundamental. Sua utilizao proporciona o desenvolvimento
e aprimoramento da imaginao, da criatividade e da expresso e facilita e torna
mais suaves os processos ligados alfabetizao.
Quando a criana desenha, pinta, brinca com massinha de modelar,
recorta, faz dobraduras ela desenvolve habilidades motoras ampla e fina, o que
facilita a aprendizagem da escrita; quando canta, a msica est contribuindo
para a aprendizagem da leitura, pois desenvolve a memria auditiva; quando
dana, desenvolve a coordenao motora e aprende noes de espao, tempo.
Alm disso, a realizao de atividades artsticas serve para que o professor tenha
uma viso avaliativa do aluno durante todo o processo, identificando as
habilidades que ainda precisam ser trabalhadas, o que torna dinmico o
planejando das estratgias de ao na sala de aula. J para o educando, a
realizao de atividades artsticas no deve servir s para o desenvolvimento de
habilidades de prontido para a leitura e escrita, mas para promover seu
processo criativo em artes.
O educando deve ser estimulado a todo o momento pelo educador a
utilizar sua capacidade criadora. Quando estimulado, a criatividade, elemento
essencial do processo criativo pode dar asas a imaginao.
Para os Parmetros Curriculares Nacionais, um aluno que exercita
continuamente sua imaginao estar mais habilitado a construir um texto, a
desenvolver estratgias pessoais para resolver um problema matemtico
(BRASIL, 1997, p. 19).
As artes visuais, a dana, a msica e o teatro, quando utilizados pelo
educador de forma adequada, atravs do incentivo de produes originais,
inovadoras podem servir de fio condutor para desenvolver no educando a
criatividade.
Na viso de Queiroz (2003, p.75),
Criatividade a mobilizao das capacidades, motivao, cargas afetivas, necessidades, interesses, aptides que possibilitam a criana a criar, conceber, imaginar, construir, por meio da ao fsica ou mental, fazendo surgir algo que ela sinta como nova inveno.
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A criatividade um elemento fundamental para a resoluo de problemas
que no podem ser resolvidos de forma convencional logo, um importante
elemento para servir como eixo de provocao de aprendizagens, principalmente
quando relacionadas ao trabalho de crianas em fase inicial de alfabetizao.
Para os Parmetros Curriculares Nacionais,
A imaginao criadora permite ao ser humano conceber situaes, fatos, ideias e sentimentos que se realizam como imagens internas, a partir da manipulao da linguagem. a capacidade de formar imagens que torna possvel a evoluo do homem e do desenvolvimento da criana; visualizar situaes que no existem, mas que podem vir a existir, abre acesso a possibilidades que esto alm da experincia imediata (BRASIL, 1997, p. 41).
O exerccio e desenvolvimento da criatividade exigem flexibilidade de
pensamentos e de atividades. Por isso, trabalhar apenas com atividades dirigidas
e modelos estereotipados de material artstico limita a capacidade imaginativa
do educando.
Os Parmetros Curriculares Nacionais afirmam que,
A flexibilidade o atributo caracterstico da atividade imaginativa, pois o que permite exercitar inmeras composies entre imagens, para investigar possibilidades e no apenas reproduzir relaes conhecidas. No caso do conhecimento artstico, o domnio do imaginrio o lugar privilegiado de sua atuao [...] (BRASIL, 1997, p. 41).
Assim, uma educao flexvel e provocativa tem muito a contribuir no
processo criativo do educando, pois quando estimula que ele busque alternativas
inovadoras para a soluo de situaes, possibilita que a criana crie autonomia,
confiana e segurana.
A criatividade faz parte do ser humano. Ele possui a capacidade de se
expressar atravs da: msica, desenho, dramatizao, pintura, dana, entre
outras estabelecendo formas de comunicao consigo mesmo e com os outros
indivduos. O potencial criativo do educando se desenvolve e se manifesta
quando incentivado pela ao pedaggica.
O educador precisa exercer seu papel fundamental, que de mediador,
incentivando no educando o prazer de descobrir, criar, ousar, observar, de fazer
fluir sua imaginao no trabalho com artes.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,
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Aprender arte envolve, basicamente, fazer trabalhos artsticos, apreciar e refletir sobre eles. Envolve, tambm, conhecer, apreciar e refletir sobre as formas da natureza e sobre as produes artsticas individuais e coletivas de distintas culturas e pocas (BRASIL, 1997, p. 15).
Alm disso, o professor mediador precisa estar atento no inicio do
processo de alfabetizao, quando a criana precisa do visual como referncia.
De acordo com Barbosa (2005, p.28), as artes plsticas tambm
desenvolvem a discriminao visual, que essencial ao processo de
alfabetizao: aprende-se a palavra visualizando.
Para isso, o educador deve promover a alfabetizao visual do
educando, a partir de aes que lhe permitam ver, olhar, observar, analisar,
apreciar as belezas do mundo. Essas aes contribuiriam para a alfabetizao e
tambm para que o educando aprenda elementos artsticos importantes como
cores, texturas, formas e linhas.
Para Freire (2001, p. 11) a leitura de mundo precede a leitura da palavra.
Nessa perspectiva, no demais lembrar que a criana quando inicia sua vida
escolar, traz consigo vivncias e percepes do mundo que a cerca. Nas
palavras de Freire (1996, p. 138/139) Respeitar a leitura de mundo do educando
significa tom-la como ponto de partida para a compreenso do papel da
curiosidade, de modo geral, e da humana, de modo especial, como um dos
impulsos fundantes da produo do conhecimento. Continuando, Freire (1996, p.
98), afirma que o exerccio da curiosidade convoca a imaginao, a intuio, as
emoes, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilizao do
objeto ou do achado de sua razo de ser.
Trabalhar artes agua a curiosidade do educando, desenvolve a
capacidade de imaginao, criatividade, sensibilidade, ateno e permite que ele
expresse sua leitura de mundo de uma forma alegre, divertida e prazerosa.
Em sntese, quando o professor oportuniza que o aluno crie, experimente,
descubra atravs da realizao de atividades artsticas ele est permitindo que o
aluno aprenda. Isso faz com que ele fique mais atento e interessado o que
contribui para tornar mais fcil o processo de alfabetizao.
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3 RELATO E ANLISE DA EXPERINCIA
Durante toda minha trajetria como docente procurei dar o melhor de mim,
sempre com o intuito de buscar o aperfeioamento dentro do meu campo de
ao, como forma de garantir uma melhor qualidade de aprendizagem aos meus
alunos. O estgio curricular foi muito importante para o meu aperfeioamento
enquanto profissional e acadmica do curso de Pedagogia, pois proporcionou
unir a prtica que eu j possua com a teoria adquirida durante o curso do PEAD.
Realizei meu estgio curricular em uma escola Estadual na periferia do
municpio de Alvorada, em uma turma de 1 ano do Ensino Fundamental, do
turno da manh. A turma era composta por 19 alunos, sendo 11 meninos e 8
meninas, com idade entre 6 e 7 anos, de nvel socioeconmico baixo.
A turma era distribuda em quatro grupos, sendo dois grupos de quatro
componentes, um de cinco e um de seis componentes. Ela apresentava
diferentes caractersticas, com alguns alunos calmos e outros bem agitados, mas
nada significativo que tenha atrapalhado o desempenho e o processo de
ensino/aprendizagem dos alunos.
Durante todo o estgio os alunos se mostraram interessados e receptivos
s atividades propostas, o que contribuiu para o crescimento e aprimoramento
dos mesmos.
3.1 Sobre o tema do projeto desenvolvido
O projeto de estgio tinha como tema Eu (Identidade) e as pessoas que
me rodeiam e possibilitou desenvolver no aluno o conhecimento de si mesmo.
Esse tema no pode ser modificado, por se tratar de uma seleo para toda a
escola, nessa etapa de ensino. Tal fato me levou a buscar estratgias e
atividades mais interessantes para trabalhar com algo j definido, de uma forma
inovadora. Assim, a partir da identidade do aluno e do seu cotidiano, partimos
para a explorao das noes de tempo e espao, tomando como base as
relaes que ele estabelece junto famlia, na prpria casa, na escola, na rua...
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Segundo Rego (2002, p.109), para Vygotsky o sujeito se constitui como
pessoa principalmente a partir de suas interaes sociais, a partir das trocas
estabelecidas com seus semelhantes. Atravs de sua realidade, o aluno aprende
a situar-se no mundo e no meio em que vive, conhece a relao existente entre
ele e as pessoas e desenvolve a capacidade de pensar historicamente. Todas
essas importantes noes vo permitir que se localize dentro do contexto
histrico.
Em vista disso, abordar a histria dos alunos parecia relevante como ponto
de partida para que eles se identificassem mais facilmente como sujeitos capazes
de agir e transformar o mundo ao seu redor. A ideia foi a de propiciar elementos
para que os alunos aos poucos, se reconhecessem como sujeitos histricos e
cidados, desenvolvendo a auto-estima, a afetividade e a tolerncia, capacidades
necessrias para uma vivncia saudvel e solidria.
Para isso, o projeto de estgio procurou resgatar a histria de vida de cada
criana, buscando salientar que cada um possui uma natureza singular,
mostrando que cada pessoa possui caractersticas prprias, que todos so
diferentes e nicos no mundo, no intuito de fazer com que cada um deles fosse
capaz de ver-se e aceitar-se como parte integrante do meio, inserida em uma
famlia e em sociedade. Conhecendo-se mais e melhor, os alunos desenvolvem a
auto-estima e consequentemente melhoram o desenvolvimento nas relaes e
conflitos pessoais e as relaes com o mundo exterior.
3.2 Anlise do projeto aplicado
Gostaria de destacar que, ao longo da prtica pedaggica, sempre
procurei incluir como eixo centralizador dos trabalhos, a ligao entre o fazer
artstico do aluno, atravs de atividades (desenhos, criao de jogos, dedoches,
releitura de imagens, dramatizaes, mmicas, dobraduras, msica...) e as
atividades ldicas, pois acredito que essa dupla, alm de contribuir para o
ensino/aprendizagem dos alunos, tornam as aulas mais divertidas e agradveis.
Com isso, as atividades artsticas, alm serem utilizadas como um meio
dos alunos se expressarem, tambm serviu como eixos para a construo de
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novas expresses do conhecimento construdo, aumentando as probabilidades
de desenvolvimento de habilidades necessrias no processo de alfabetizao.
Entre todas as atividades artsticas a que mais se fez presente na prtica
foi o desenho, que faz parte das artes visuais ou artes plsticas. Ele ocupa um
lugar de destaque na alfabetizao, pois atravs do desenvolvimento
progressivo dele que o aluno constri os primeiros smbolos da escrita.
Segundo Ferraz e Fusari (1999, p. 67),
[...] a criana, como sujeito ativo, desenha o que sabe, o que ela conhece de si prpria e do mundo ao seu redor, e no apenas o que ela v. [...] a criana vai desenvolvendo conceitos medida que vai crescendo e adquirindo novas experincias.
Logo na primeira atividade que deu incio ao projeto Eu (identidade) e as
pessoas que me rodeiam, os alunos realizaram um autorretrato (desenho).
Depois fizeram uma linha do tempo onde tinham que desenhar diferentes fases
de sua vida. Foi um trabalho muito rico, pois, contribuiu para resgatar
lembranas da infncia dos alunos, da sua histria. Assim, com a linha do tempo,
alm dos alunos se expressarem, tambm construram noes de tempo e de
etapas de crescimento, percebendo caractersticas deles em cada uma das
etapas da linha temporal.
Numa etapa posterior, a atividade tinha como objetivo resgatar a histria
dos alunos e de seus familiares. Eles foram ento provocados a imaginar e
desenhar os brinquedos que seus pais brincavam quando tinham a sua idade. A
maioria dos alunos pensou em boneca para as mes e carrinhos para os pais, o
que foi confirmado quando pesquisaram junto aos pais.
Logo depois, eles tambm desenharam seus brinquedos favoritos e
fizeram uma comparao. Eles relataram que possuem muitos brinquedos como
carrinhos de vrios modelos, bonecas, jogos de computador, entre outros e que
seus pais quando eram pequenos no tinham muitos. Um aluno relatou que sua
me brincava com uma boneca feita de espiga de milho, outro que seu pai tinha
um carrinho de madeira. Com isso, eles perceberam que muitos brinquedos eram
confeccionados pelas prprias crianas (seus pais) e que hoje em dia no
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precisa. Afinal nos dias de hoje muito fcil para os pais proporcionarem que
seus filhos tenham brinquedos, pois existem muitas lojas de 1,99, o que facilita a
aquisio. Alm do mais, as crianas ganham muitos de presente e tambm
compram seus prprios brinquedos quando ganham algum dinheiro, j que o
valor relativamente baixo.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais, encarar a arte como
produo de significaes que se transformam no tempo e no espao permite
contextualizar a poca em que se vive na sua relao com as demais (BRASIL,
1997, p.45).
Tomando essa ideia como ponto de partida, foi apresentada atravs da
hora do conto a histria A Colcha de Retalhos das autoras Conceil Corra da
Silva e Nye Ribeiro Silva, que trata de temas relacionados histria pessoal de
uma av e seu neto bem como (lembranas de acontecimentos importantes)
sentimentos de saudade. No livro, a av costura uma colcha de retalhos e conta
ao neto que cada pedacinho tem uma histria que a faz sentir saudades e se
emocionar. Inclusive um dos retalhos era de uma roupa que ela fez ao neto,
quando ele rasgou a sua subindo em uma rvore. No final, ele ganha uma colcha
da av e aprende o que sentir saudade. A partir da histria, propus aos alunos
que relembrassem um fato importante de suas vidas, algo que ficou marcado. A
princpio, eles ficaram meio tmidos, mas assim que algum iniciou contanto que
quase se afogou na piscina quando tinha cinco anos, todos queriam relatar ao
mesmo tempo sua histria. Foi um momento bem descontrado. Entre os fatos
relatados o mais citado foi o tombo de bicicleta.
Depois conversamos sobre os sentimentos de tristeza e saudades, o que
causou muita emoo em todos. A maioria relatou que sente saudade dos avs
j falecidos por quem tinham muito carinho e que gostariam que eles no
tivessem morrido. Para a minha surpresa, eles pediram para ao invs de um,
fazer dois desenhos de coisas que sentiam saudades. No primeiro predominou o
desenho dos avs, o segundo ficou dividido entre praia e banho de chuva, por ser
algo inesquecvel e que eles adoram.
Ainda dentro da ideia de conhecimento do eu, foi sugerida a construo
de um painel com o desenho do corpo. Para desenvolver a atividade foi escolhido
um aluno para fazer o contorno do corpo e, como precisava ser algum bem
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pequeno por causa do tamanho do papel, todos elegeram o aluno M que o
menor da turma, que por sinal ficou muito contente em participar. Em seguida, os
alunos coloriram o desenho, cada grupo pintou uma parte. Aps, com a ajuda dos
alunos, foram identificadas as partes do corpo e escritas no painel pela
professora. Aproveitamos para explorar as palavras quanto letra inicial e final, o
nmero de letras e de slabas. Conversamos sobre o corpo e principalmente
sobre os cuidados (hbitos de higiene) que devemos ter.
No final, ouve a sugesto de escolher um nome para o boneco, depois de
uma votao o nome escolhido foi Michael Jackson em homenagem ao cantor.
O painel foi afixado na parede da sala de aula.
Com o que aprenderam os alunos tambm confeccionaram um livrinho
sobre os cuidados com o corpo (hbitos de higiene), eles desenharam a partir da
contao de histrias. A cada dia era trabalhado um hbito de higiene a partir de
uma histria da coleo infantil Cuidando do corpo da autora Gina Borges. Na
coleo, os personagens so animais. Ela composta por doze livrinhos, cada
um trata de um hbito de higiene. Aps cada contao, os alunos interpretaram
oralmente e desenharam no livrinho sobre o que aprenderam com os
personagens. Aproveitamos tambm para explorar a escrita do nome das
histrias, dos hbitos de higiene e tambm dos personagens. Foi uma maneira
divertida dos alunos aprenderem. importante destacar que o livro tambm um
recurso visual riqussimo, pois contribui para a formao da criana. Ele estimula
a imaginao, a criao, a sensibilidade, a percepo visual e auditiva e a
fantasia. A criana tambm aprende formas, cores, linhas, alm despertar o gosto
pela leitura.
Segundo Gomes (2001, p. 109),
[...] O trabalho artstico importante para que as crianas aprendam a explorar o mundo sua volta. Existem inmeros materiais que utilizamos como recurso de expresso, que nos auxiliam a criar e a colocar um pouco daquilo que somos no mundo[...]
No trabalho sobre famlia, iniciado a partir do livro Um Amor de Famlia
do autor Ziraldo, ns conversarmos sobre os tipos de famlia e as pessoas que
compem a mesma. Exploramos a escrita das palavras pai, mame, filho, irmo
e irm, tio, tia, vov entre outras. Aps foi proposto que cada aluno representasse
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atravs de um desenho a sua famlia e que identificasse as pessoas. Alguns
sabiam escrever o nome dos familiares, os outros precisaram de ajuda dos
colegas e da professora. Eles tambm deveriam pesquisar em casa o nome dos
avs paternos e maternos e preencher com ajuda de um familiar a rvore
genealgica da famlia. Os desenhos das famlias foram retomados, em grupo os
alunos deveriam comparar as famlias estabelecendo as semelhanas e
diferenas e depois teriam que apresentar aos colegas. O primeiro grupo teve
mais dificuldades, quando foram chamados at a frente da turma para
apresentar, a princpio eles ficaram mudos, olhando um pro outro. Ento comecei
a question-los sobre suas famlias, quais as pessoas que faziam parte, quais
das famlias representadas tinham o mesmo nmero de integrantes, qual a que
tinha mais e menos... Os prximos grupos j se sentiram mais seguros no
momento de apresentar, necessitando menos de interveno para estabelecer as
semelhanas e diferenas. O trabalho proposto a partir do desenho proporcionou
a interao entre os alunos. atravs das interaes com o meio, na troca, no
convvio, na cooperao que o aluno constri seus conhecimentos.
Os alunos tambm realizaram uma pesquisa sobre a descendncia das
famlias e com os dados construmos um grfico das etnias. Foi um trabalho
muito interessante, eles ficaram entusiasmados e tambm surpresos, pois ao
analisamos os dados eles se deram conta de que a maioria da turma de origem
afro-descendente e tambm que existe uma mistura muito grande de etnias entre
as famlias.
A partir da hora do conto da histria Menina Bonita do Lao de Fita da
autora Ana Maria Machado, conversamos sobre as diferenas entre as pessoas,
diferenas essas que herdamos de nossos pais, avs, bisavs. Essa conversa
deu margem a que fosse estendida para uma conversa mais ampla, relacionada
s diversas etnias existentes. Aps foi proposto aos alunos uma atividade em
dupla, onde primeiro cada um deveria se desenhar observando suas
caractersticas fsicas como cor de pele, cor dos olhos, da pele... Depois teriam
que observar o colega e desenh-lo. Foi possvel observar que muitos alunos
tiveram dificuldades de se desenhar, ou melhor, de ressaltar suas caractersticas,
principalmente em relao cor da pele, pois normalmente a cor atribuda o
salmo a que eles se referiram como cor de pele. Isso s veio a confirmar o
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meu pensamento sobre a necessidade de se trabalhar a ancestralidade dos
alunos, resgatar a sua histria, fazendo com que os alunos se sintam parte dela,
que aceitem e respeitem sua origem e que tambm aprendam a respeitar a
histria dos outros.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais, A aprendizagem artstica
envolve um conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam criao
de significaes, exercitando fundamentalmente a constante possibilidade de
transformao do ser humano (BRASIL, 1997, p. 45).
A ao acima abriu para um trabalho sobre Diversidade, no qual os alunos,
em grupo, confeccionaram telas, a partir da releitura de imagens de diferentes
pessoas retiradas de revistas. Os grupos no tiveram dificuldades em estabelecer
as diferenas entre as imagens, pois quando trabalhamos as famlias e as etnias
conversamos sobre as diferenas entre as pessoas. Com isso aproveitei a
oportunidade para trabalhar o respeito que devemos ter com as pessoas,
independente das suas caractersticas fsicas (aparncia), da sua religio, de sua
condio financeira, que no devemos pr apelido nas pessoas. Um aluno falou
que tem gente que chama o outro de macaco s porque ele negro,
imediatamente uma menina respondeu que isso muito feio, falta de respeito.
Complementei dizendo que existe uma lei que determina que crime ofender
uma pessoa por causa da sua cor e que ela pode ser presa por causa disso.
Conversamos sobre a escravido, uma aluna disse que tinha uma novela tarde
que mostrava os negros escravos, que batiam neles e que eram acorrentados
para no fugir. Toda essa conversa contribuiu para uma reflexo sobre o papel
da escola que de respeitar e valorizar os afro-descendentes, compreender suas
lutas e valores, ser sensvel ao sofrimento, revertendo os perversos efeitos de
sculos de preconceito, discriminaes e racismo para que tenhamos uma
sociedade democrtica, justa e igualitria. Segundo Freire (1996, p. 67),
qualquer discriminao imoral e lutar contra ela um dever por mais que se
reconhea a fora dos condicionamentos a enfrentar.
Para que as escolas desempenhem bem o seu papel, necessrio que se
constituam em espao democrtico, mobilizando toda a comunidade escolar.
Ainda segundo Freire (1996 p.39,40),
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Faz parte igualmente do pensar certo a rejeio mais decidida a qualquer forma de discriminao. A prtica preconceituosa de raa, de classe, de gnero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia.
Para confeccionar as telas, cada grupo escolheu um recurso: um fez com
tinta guache, outro com lpis de cor, outro com canetinha hidrocor e o outro
utilizou recortes de imagens de revista. Ficou muito diversificado o trabalho e
percebi que eles ficaram contentes com o resultado. Tambm confeccionaram
um painel sobre a presena do negro no mundo artstico, poltico e esportivo.
Para isso retomamos o grfico das etnias, onde constatamos que a maioria era
de origem afro-descendente. Conversamos sobre os negros famosos, eles
lembraram da novela que tinha a Helena (Thas Arajo) no papel principal, outra
que era delegada em outra novela, mas falaram que isso est acontecendo
agora, pois antes o negro aparecia sempre como empregado. Eles tiveram
dificuldades em realizar o trabalho. A atividade demorou mais do que o
planejado, j que foi difcil encontrar nas revistas imagens de negros famosos,
apesar disso, foi muito interessante por que os alunos mesmos se deram conta
de que o nmero de pessoas negras famosas seja no meio artstico, poltico ou
esportivo ainda muito pequeno em relao s pessoas brancas.
O desenho tambm esteve presente no trabalho desenvolvido no ambiente
informatizado, onde alm dos alunos utilizarem o site da Turma da Mnica para
colorir desenhos, eles tambm utilizaram o Paint para desenhar livremente. O
uso do computador um importante recurso de linguagem do qual ns
educadores no podemos abrir mo, pois ele favorece o processo de ensino
aprendizagem, a interao e cooperao. Cabe destacar aqui que, segundo
Costa e Magdalena (2008),
As tecnologias so usadas como meios que permitem a comunicao, as trocas e a realizao de atividades em redes cooperativas de aprendizagens, capazes de superar a concepo linear e dicotomizada, ainda presente em grande parte das instituies escolares.
Alm dos desenhos, realizamos trabalhos de recorte e colagem utilizando
imagens como em um trabalho sobre o corpo. A atividade consistia em montar um
corpo humano usando partes de diferentes imagens de recortes de revistas. A
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atividade despertou a imaginao, a criao dos alunos e tambm proporcionou
momentos de descontrao e interao, na medida em que eles trocaram
imagens entre si. Alguns colaram uma cabea de mulher num corpo de homem,
outros colaram uma cabea de homem num corpo de criana ou de mulher,
alguns tambm trocaram os ps e as mos dos corpos. Eles se divertiram e no
final riram das produes, pois ficou muito engraado. Os alunos tambm
montaram jogos de memria e quebra-cabea com imagens. Cabe ressaltar que o
jogo alm do seu carter ldico, acima de tudo, um meio para desenvolver a
socializao, o respeito, a valorizao do prximo, as regras, os limites, que sero
empregados pelas crianas em outras reas de sua vida. Segundo Dohme (2003,
p. 122), [...] os relacionamentos suscitados atravs de jogos levam ao
conhecimento de valores, importantes para um convvio tico na sociedade.
Portanto devem fazer parte do cotidiano escolar.
A msica foi outra atividade artstica muito presente na prtica. Ela era
muito apreciada pelos alunos. Trabalhar com a msica contribuiu para o
desenvolvimento de muitos aspectos da aprendizagem dos alunos tais como
percepo auditiva, a memria, a expresso oral e corporal, o ritmo, os limites,
entre outros. O Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil afirma
que aprender msica significa integrar experincias que envolvem a vivncia, a
percepo e a reflexo, encaminhando-as para nveis cada vez mais avanados
(BRASIL, 1998, p. 48).
Um exemplo do uso pedaggico da msica foi o trabalho realizado em
comemorao ao Dia do ndio, onde os alunos cantaram a msica Os
Indiozinhos e tambm fizeram gestos. A partir da msica foi possvel trabalhar a
expresso oral e corporal, e tambm matemtica. Isso mostra que msica
contribui para integrar muitos componentes curriculares, alm de ocasionar a
socializao e o bem estar das crianas. Segundo Snyders (2008, p. 66) a
msica na sala de aula desempenha papel de atividade criativa e integradora do
currculo escolar.
Com a contao da histria Os trs porquinhos trabalhamos os tipos de
casas existentes, o quanto importante ter uma casa prpria e tambm sobre a
situao difcil de algumas pessoas que no tem uma casa para morar. Na
ocasio, uma aluna relatou que sua famlia j ficou sem casa para morar e que
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no ficaram na rua porque uma tia os convidou para morar com ela. Em seguida,
eles desenharam sua casa, tambm pesquisaram o endereo junto aos
familiares, desenharam o trajeto da casa at a escola, escreveram os tipos de
comrcios existentes no trajeto. Aps confeccionaram dedoches dos
personagens e depois em grupos fizeram dramatizao da histria. Como foi a
primeira vez, percebi que eles ficaram tmidos e tambm tiveram dificuldades em
decidir quem ficaria com qual papel, pois todos queriam ser o lobo mau. Apesar
disso, fiquei feliz com a atividade, pois eles gostaram muito dos dedoches que
no tiraram dos dedos. A partir dessa atividade, pude perceber a necessidade de
propor mais atividades de dramatizaes, pois contribuem para a desinibio dos
alunos e tambm desenvolvem a socializao, a expresso oral, a criatividade e
a cooperao.
Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais,
O teatro no Ensino Fundamental proporciona experincias que contribuem para o crescimento integrado da criana sob vrios aspectos. No plano individual, o desenvolvimento de suas capacidades expressivas e artsticas. No plano coletivo, o teatro oferece, por ser atividade grupal, o exerccio das relaes de cooperao, dilogo, respeito mtuo, reflexo sobre o agir com os colegas, flexibilidade de aceitao das diferenas e aquisio de sua autonomia com resultado do pode agir e pensar sem coero (BRASIL, 1997, p. 84).
Outra atividade de dramatizao aconteceu durante o trabalho com o
corpo. Na, atividade desenvolvida sobre higiene os alunos tiveram que
representar atravs de mmica os hbitos de higiene para os colegas
descobrirem. Foi possvel perceber que alguns tiveram dificuldades de se
expressar s corporalmente. Esse tipo de atividade importante, pois
proporciona a desinibio, a criatividade e a percepo visual.
Com essa atividade, foi possvel perceber a importncia de oferecer
oportunidades s crianas para vivenciarem situaes em que estabeleam
relaes com o mundo ao seu redor. Dramatizar expressando-se somente com o
corpo faz que a criana utilize criatividade e exponha seus conhecimentos sobre
aquilo que esto pretendendo representar, alm de ser uma tima atividade, para
que os alunos se desinibam e interajam melhor com os outros.
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A dramatizao uma forma de a criana entrar em contato consigo
mesma e com o universo que a rodeia.
Conforme foi possvel observar nas atividades relatadas, as atividades
artsticas so formas do aluno se expressar, de se comunicar, assim como o
gesto e a fala.
Segundo Oliveira (2001, p. 90),
A partir do momento em que a criana torna-se capaz de imaginar, ela passa a desenvolver diferentes formas de expresso como a oralidade, a expresso plstica, a msica e a expresso dramtica, atravs das quais estabelece relaes com o mundo.
Por isso, importante oferecer aos alunos diversos materiais e oportunizar
que eles produzam, que eles criem a partir de aes como ver, olhar, analisar,
observar, imaginar, entre outras. necessrio tomar a criana como ponto de
partida e compreender como ela , envolvendo sempre afeto, o prazer, o ldico, o
movimento, a expresso oral e escrita e a arte.
A criana que est iniciando sua vida escolar muito receptiva. Ela est
aberta a descobertas, tem um desejo imenso de aprender e precisa ser
incentivada a todo o momento. A linguagem visual muito importante nessa fase.
Como ela ainda no domina a escrita e a leitura, necessita da imagem como
referncia. Realizar atividades artsticas constitui um excelente recurso, pois elas
contribuem para desenvolver a expresso, a criatividade, a sensibilidade, a
imaginao e a percepo que so importantes no processo criativo das
crianas. Alm disso, as crianas aprendem cores, formas, linhas, constroem
conceitos. Sua realizao tambm favorece o desenvolvimento de habilidades
motoras e a ateno que so necessrias e facilitam o processo de alfabetizao.
Realizar atividades artsticas alm de ser algo prazeroso, alegre e
divertido favorece o ensino/aprendizagem, pois ao abordar temas significativos
para as crianas que do origem aos trabalhos artsticos, possvel explorar as
letras, as slabas, as palavras, as frases e os nmeros correspondentes e com
isso motivar a criana a aprender a se expressar atravs da leitura e da escrita.
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importante ressaltar que o educador deve sempre respeitar o nvel
cognitivo, afetivo e motor de cada aluno. Oportunizar as interaes com o meio e
os outros e tambm valorizar os conhecimentos prvios dos alunos.
A escola tem a funo de educar com comprometimento e
responsabilidade, priorizando sempre o aluno como ser em desenvolvimento
capaz de mudar as coisas e o mundo ao seu redor. Por isso, o educador deve
estar sempre oportunizando e mediando experincias voltadas para o
desenvolvimento integral da criana.
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4 CONSIDERAES FINAIS
Como diz Ferraz e Fusari (1999, p. 56) sentir, perceber, fantasiar,
imaginar, representar, fazem parte do universo infantil e acompanham o ser
humano por toda a vida.
A arte realmente desempenha um papel fundamental na vida do ser
humano. Atravs dela o indivduo expressa seus pensamentos, sentimentos,
desejos e vivncias. A arte o permite transitar pelo mundo da imaginao, dos
sonhos, da fantasia e da criatividade. Ela abre um leque de possibilidades dele se
comunicar e interagir com o mundo, de conhecer e apreciar outras culturas.
Baseado na anlise realizada a partir do referencial terico foi possvel
constatar que a realizao de prticas artsticas pode servir de eixo favorecedor
da aprendizagem de crianas do 1 ano do Ensino Fundamental, pois a criana
que est iniciando sua vida escolar tem na arte uma forma prazerosa, divertida e
alegre de se expressar e tambm de desenvolver habilidades importantes no
processo de alfabetizao.
importante destacar que as atividades devem ser contextualizadas,
sempre respeitando as vivncias e o conhecimento prvio do aluno. O educando
no deve realizar atividades artsticas somente para desenvolver habilidades
motoras importantes para o processo de alfabetizao: ele deve ser estimulado a
criar, ousar, observar, imaginar como forma de desenvolver seu processo
criativo.
A partir da anlise realizada possvel levantar outras questes sobre
arte, plausveis de estudos. De que forma a realizao de atividades artsticas a
partir de modelos prontos e estereotipados influencia na aprendizagem? A
criana que no realiza atividades artsticas menos criativa? Se a arte
desempenha um papel importante na aprendizagem de crianas do 1 ano do
Ensino Fundamental, ela tambm seria importante em sries mais adiantadas?
Essa ltima questo relevante na medida em que se observa que as prticas
artsticas muito valorizadas no primeiro ano muitas vezes so abandonadas ou
menosprezada nos anos seguintes do Ensino Fundamental, ou seja, como o
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educando j domina a leitura e escrita, os educadores priorizam essa rea
atravs de atividades direcionadas e colocam a arte em segundo plano.
De acordo com LDB Lei n. 9.394/96, a Arte um componente curricular
obrigatrio no Ensino Fundamental e tem como funo promover o
desenvolvimento cultural do educando. Apesar dos Parmetros Curriculares
Nacionais no estabelecerem contedos e objetivos de Arte delimitados por ano,
e sim objetivos gerais para o Ensino Fundamental, a escola deve assegurar que
as prticas artsticas faam parte do currculo escolar, como forma de garantir o
ensino/aprendizagem dos alunos. Importante salientar que no basta escola
incluir a Arte no currculo escolar, preciso disponibilizar material de apoio
pedaggico aos educadores e tambm recursos para o desenvolvimento das
prticas artsticas.
Entendo que falta incentivo e at investimentos por parte da escola e da
mantenedora na qualificao e aperfeioamento dos educadores para trabalhar
Arte. Entretanto quando falta essa qualificao, o professor deve ir em busca de
conhecimento para melhor desempenhar sua prtica. Afinal somos seres em
constante construo, precisamos ter a humildade de compreender que tambm
somos aprendizes, pesquisadores e no apenas professores.
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REFERNCIAS
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