Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
A C Ó R D Ã O
7ª TURMA
VMF/lvl/zh/drs
AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE
REVISTA – AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS
AJUIZADA PELO EMPREGADOR – APROPRIAÇÃO
INDÉBITA - CRÉDITO TRABALHISTA –
COMPENSAÇÃO DE DÍVIDAS – POSSIBILIDADE.
Na presente ação de reparação de danos
ajuizada pelo empregador, restou
comprovado que os réus se aproveitaram
do grau de fidúcia que detinham para se
apropriarem de 576 cabeças de gado de
propriedade do empregador e de folhas de
cheque emitidas para o pagamento de
despesas da fazenda. Conforme se extrai
dos autos, os réus foram condenados na
esfera penal, em que restou reconhecida
a autoria e a materialidade do crime
qualificado no art. 168, § 1º, III, do
Código Penal, tendo a sentença penal
transitado em julgado. O referido tipo
penal em que os réus foram incursos
considera ainda mais grave o ato de
apropriar-se de coisa alheia móvel, de
que tenham a posse ou a detenção, quando
praticado em razão de ofício, emprego ou
profissão, sendo motivo de aumento da
pena na razão de um terço. Desse modo,
ainda que o salário (crédito
trabalhista) goze de proteção
constitucional, deve ser considerado o
crime praticado pelos réus contra o
patrimônio do autor e em decorrência da
confiança depositada, fruto do contrato
de trabalho, na análise da compensação
determinada pelo Tribunal Regional, sob
pena de enriquecimento ilícito do
empregado, não tolerado pelo
ordenamento jurídico. Nesse contexto,
diante das peculiaridades do caso em
exame, verifica-se que a compensação
determinada é compatível com os valores
de justiça social e equidade, tão
almejados pelo ordenamento jurídico,
que tem por escopo fundamental a
pacificação das relações sociais.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.2
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Agravo de instrumento desprovido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo
de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325,
em que são Agravantes ILDEMAR MARTINS DA SILVA E OUTROS e é Agravado
CONRADO ANDREA MOMMENSOHN.
O 9º Tribunal Regional do Trabalho, na decisão de
admissibilidade a fls. 783-788, negou seguimento ao recurso de revista
dos réus em virtude do óbice das Súmulas nºs 23, 126, 221, II, e 296 do
TST.
Inconformados, os réus interpõem o presente agravo de
instrumento, fls. 790-824, sustentando que o recurso de revista merecia
regular seguimento.
Não foram apresentadas contraminuta nem
contrarrazões, conforme certificado a fls. 828.
Processo não submetido a parecer do Ministério Público
do Trabalho, a teor do art. 83 do RITST.
É o relatório.
V O T O
1 - CONHECIMENTO
Conheço do agravo de instrumento, porque atendidos os
pressupostos legais de admissibilidade.
2 – MÉRITO
2.1 – NULIDADE – JULGAMENTO EXTRA PETITA – COISA
JULGADA
Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte
posicionamento quanto ao tema epigrafado a fls. 708-715:
2. MÉRITO
COMPENSAÇÃO
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.3
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Não se conformam os réus com a determinação de que os créditos
trabalhistas a eles deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8,
que se encontram arrestados por força de sentença proferida na ação cautelar
de autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, sejam compensados com os
créditos deferidos ao autor na presente ação indenizatória.
Sustentam que a r. sentença recorrida viola o disposto nos artigos 128
do CPC e 767 da CLT e, ainda, na Súmula 48 do c. TST, uma vez que o autor
não requereu tal compensação nos presentes autos, tampouco quando da
apresentação de contestação nas ações em que os créditos trabalhistas foram
deferidos (autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8).
Com fundamento nos artigos 100, §1º, da CF, 462 e 832, §3º, da CLT,
370, 373 do CC e 649, IV, do CPC, bem como na Súmula 18 do c. TST,
defendem a impossibilidade de compensação de créditos de natureza
trabalhista e, portanto, alimentar, com créditos de natureza
indenizatória. Requerem o afastamento da compensação determinada em
sentença.
Versam os presentes autos a respeito de ação de indenização por
danos materiais decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na
condição de empregados do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças
de gado bovino criado na propriedade rural em que laboravam, bem
como de três cheques emitidos pelo empregador para pagamento de
despesas dessa propriedade rural.
Com a manutenção pelo e. Tribunal de Justiça do Paraná da
sentença condenatória proferida na ação penal movida em face dos
réus (autos 51/2004), que tramitou perante a Vara Criminal de
Icaraíma, na qual ficou reconhecida a autoria e a materialidade do
crime qualificado, tal como previsto no artigo 168, § 1º, III, do
CP (Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção
[...] A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: [...]
em razão de ofício, emprego ou profissão), o ilustre magistrado singular
acolheu a pretensão do autor, condenando os réus, solidariamente, ao
pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da
apropriação de gados (no valor de R$ 162.303,00, já incluídos os lucros
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.4
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
cessantes) e o réu Natalino Martins da Silva, exclusivamente, ao
pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da
apropriação das importâncias descritas nos cheques (no valor de R$
1.800,90).
Antes de aforar esta ação principal, o autor moveu ação
cautelar preparatória em face dos réus, nos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, por intermédio da qual buscou o
arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o
ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos
patrimoniais, providência essa alcançada em decisão liminar que,
posteriormente, veio a ser confirmada em sentença.
Por força do êxito obtido na cautelar de arresto, o d. Juízo a
quo determinou a compensação dos valores ora devidos pelos réus,
devidamente atualizados, com a totalidade das importâncias de seus
créditos trabalhistas deferidos nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, também devidamente atualizados.
Para tanto, considerou o ilustre juiz prolator da r. sentença recorrida
que tal compensação foi o objetivo visado pelo empregador ao ajuizar a
referida medida cautelar e que o princípio do impulso oficial, presente na
execução no processo do trabalho, nos termos do artigo 878 da CLT (A
execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo
próprio juiz ou presidente ou tribunal competente [...]), autorizaria que fosse
determinada. Ponderou não se tratar de compensação como matéria de
defesa, capaz de atrair a aplicação da Súmula 48 do c. TST.
Nesse cenário, observa-se que, de modo diverso do alegado pelos
réus, a r. sentença recorrida não afronta os artigos 128 (O juiz decidirá a
lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões,
não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte) e
460, caput, (É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza
diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em
objeto diverso do que lhe foi demandado [...]) do CPC, o artigo 767 (A
compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.5
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
CLT nem a Súmula 48 do c. TST (A compensação só poderá ser argüida
com a contestação).
Isso porque amparada em decisão liminar proferida em ação
cautelar voltada a garantir a satisfação dos créditos perseguidos nos
presentes autos - ou seja, na ação principal -, decisão essa que autorizou
o arresto dos referidos créditos trabalhistas, sem que da sentença que a
tornou definitiva tenham se insurgido os réus, conforme se verifica da
consulta ao andamento processual dos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.
Desnecessário, portanto, o requerimento pelo autor nos presentes
autos ou quando da apresentação de contestação nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 da compensação determinada na
r. sentença recorrida, bastando, para tanto, os esclarecimentos
prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao aforamento da medida
cautelar.
Importante lembrar, contudo, que, a despeito de não ter sido objeto de
insurgência dos réus, a sentença prolatada nos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1 não vincula a sentença exarada nos
presentes autos, já que, nos termos do artigo 817 do CPC, "ressalvado o
disposto no artigo 810 (O indeferimento da medida não obsta a que a parte
intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no
procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do
direito do autor), a sentença proferida no arresto não faz coisa julgada na
ação principal".
Por outro lado, em que pese a conduta inegavelmente reprovável
adotada pelos réus, bem como as ponderações muito bem lançadas nas
contrarrazões recursais apresentadas pelo autor - as quais, aliás, sensibilizam
esta Relatora -, não se vislumbra a possibilidade de manutenção da
compensação determinada em sentença, uma vez que, de fato, envolve
créditos com naturezas jurídicas diversas.
É que, não obstante a dívida contraída pelos réus em face do autor
decorra de ato ilícito praticado durante a vigência e em razão dos contratos
de trabalho com ele mantidos, ela possui natureza jurídica civil, de
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.6
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
cunho indenizatório, e tem como pressuposto o ressarcimento dos danos
materiais causados ao empregador.
Em contrapartida, a dívida contraída pelo autor em face dos réus
decorre do inadimplemento de obrigações patronais resultantes do vínculo
laboral, tem como pressuposto a força de trabalho despendida pelos
empregados ao longo de anos e possui natureza jurídica trabalhista, de cunho
remuneratório, revestindo-se, portanto, de indiscutível caráter alimentar.
Por esse motivo, a compensação determinada em sentença encontra
óbice não apenas nos artigos 370 (Embora sejam do mesmo gênero as coisas
fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se
que diferem na qualidade, quando especificada no contrato) e 373, II e
III, (A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
[...] II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma
for de coisa não suscetível de penhora) do CC, mas também na Súmula 18 do
c. TST (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de
natureza trabalhista).
Não bastante, há de se levar em conta que a impenhorabilidade (Art.
649 do CPC. São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos,
subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios) e o superprivilégio de que goza o crédito
trabalhista, haja vista a natureza alimentar que o imanta (Art. 100 da CF. [...]
§1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de
salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações,
benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial
transitada em julgado), o distanciam ainda mais dos créditos que, com
justiça, foram deferidos ao autor na r. sentença.
Oportuno salientar que, definidas as naturezas jurídicas dos créditos
deferidos às partes, consoante o acima exposto, não há de se falar em
violação ao artigo 832, §3º, (As decisões cognitivas ou homologatórias
deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da
condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de
responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição
previdenciária, se for o caso) da CLT, tal como aduzem os réus nas razões
recursais.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.7
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Entretanto, embora - data venia do douto julgador de 1º grau -
entenda-se sem amparo no ordenamento jurídico a compensação
determinada em sentença, não merece ser acolhido o afastamento pretendido
pelos réus, o qual deve ser substituído pelo desconto
do quantum indenizatório a que faz jus o autor dos valores devidos a título de
créditos trabalhistas, providência essa que tem fundamento no parágrafo
primeiro do artigo 462 da CLT (Ao empregador é vedado efetuar qualquer
desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de
dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta
possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).
Ocorre que, uma vez reconhecida pelo Juízo competente a prática de
crime, evidente, data venia, é o dolo dos réus em causar ao autor os danos
patrimoniais em discussão, conclusão essa autorizada pela norma do artigo
935 do CC (A responsabilidade civil é independente da criminal, não se
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal),
aplicável supletivamente ao direito do trabalho, nos termos parágrafo único
do artigo 8º da CLT (O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios
fundamentais deste).
Nessa linha de raciocínio, lícita é retenção pelo ex-empregador do
montante referente aos danos patrimoniais que, mediante dolo, foram a
ele causados no curso do vínculo laboral, retenção essa que deve se
operar por intermédio do desconto do montante indenizatório ora
deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, os quais se encontram arrestados nos
autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.
Impende ressaltar que, para fins desse desconto, não há espaço para a
aplicação do limite trazido pelo artigo 477, §5º, da CLT ([...] §4º. O
pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no ato da homologação
da rescisão do contrato de trabalho, em dinheiro ou em cheque visado,
conforme acordem as partes, salvo se o empregado for analfabeto, quando o
pagamento somente poderá ser feito em dinheiro. §5º. Qualquer
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.8
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá
exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado [...]), visto
que, na medida do possível, deve haver a restituição integral dos danos
materiais suportados pela vítima, sobretudo quando decorrentes
de reprovável conduta dolosa praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a
subsistência dos infratores e de suas famílias.
Em face do exposto, dá-se provimento parcial para substituir a
compensação de dívidas autorizada em sentença pela determinação de que
o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado do montante
dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 e que se encontram arrestados nos
autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, a fim de reparar os danos sofridos
ilegal e indevidamente pelo empregador, com fundamento no artigo 462, §1º,
da CLT.
Em sede de embargos de declaração, o Tribunal Regional
assim se manifestou, fls. 737-741:
2. MÉRITO
COMPENSAÇÃO - PREQUESTIONAMENTOS E OMISSÕES
Questionam os réus se, ao determinar que o quantum indenizatório
devido ao autor seja descontado do montante dos créditos trabalhistas a eles
deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, o
v. acórdão embargado considerou a compensação prevista nos artigos 477,
§5º, e 767 da CLT e nas Súmulas 18 e 48 do c. TST como instituto diverso do
desconto legal previsto no artigo 462 da CLT, de forma a afastar a limitação
trazida no parágrafo 5º do artigo 477 da CLT.
Sustentam que o v. julgado embargado, ao impor tal desconto, foi
omisso quanto à ocorrência de coisa julgada alegada nas razões
recursais, afirmando que a impossibilidade de compensação de créditos
se trata de questão já decidida nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8. Defendem que também houve
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.9
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
omissão no que se refere à incidência, em sede de cumprimento de
sentença, das limitações impostas nas Súmulas 18 e 48 do c. TST.
Indagam se, ao determinar referido desconto sem que tenha
havido expresso pedido pelo autor nesse sentido, considerando
suficiente o ajuizamento de Medida Cautelar de Arresto, o v. acórdão
embargado afrontou o princípio do contraditório, o contido nas
Súmulas 18 e 48 do c. TST e os artigos 93, IX, da CF, 767 e 878 da CLT e
128 do CPC.
Com o intuito de prequestionamento da matéria, elucida-se que,
segundo o que constou no v. julgado embargado, esta e. Segunda Turma
considerou a compensação prevista nos artigos 477, §5º (Qualquer
compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá
exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado), e 767 (A
compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da
CLT e nas Súmulas 18 (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita
a dívidas de natureza trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida
com a contestação) do c. TST como instituto diverso do desconto legal
previsto no artigo 462, §1º, da CLT (Ao empregador é vedado efetuar
qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de
dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta
possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).
Por isso, foi expressamente afastada a limitação prevista no parágrafo 5º do
artigo 477 da CLT.
Para tanto, partiu-se das premissas de que "lícita é retenção pelo
ex-empregador do montante referente aos danos patrimoniais que, mediante
dolo, foram a ele causados no curso do vínculo laboral" e de que, "na medida
do possível, deve haver a restituição integral dos danos materiais suportados
pela vítima, sobretudo quando decorrentes de reprovável conduta dolosa
praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a subsistência dos infratores e
de suas famílias" (fl. 731v).
No que concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais,
cumpre elucidar que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou
caracterizada no caso concreto, na medida em que a prática pelos réus
de ato ilícito (apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.10
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
cabeças de gado bovino e de três cheques emitidos para pagamento de
despesas da propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor
se trata de questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo
que não se poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da
CLT, antes da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de
indenizar.
Já no que diz respeito às limitações impostas nas Súmulas 18 (A
compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza
trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida com a contestação)
do c. TST, por ocasião do cumprimento de sentença, não há o que
acrescentar, visto que o v. acórdão embargado considerou-as inaplicáveis no
caso em tela, em que se tem o desconto do quantum indenizatório devido ao
autor dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, e não, propriamente, a
compensação de dívidas.
Por derradeiro, para fins de prequestionamento, cabe esclarecer que, a
nosso sentir, o desconto determinado no v. julgado embargado não afronta o
princípio do contraditório, nem o contido nas Súmulas 18 e 48 do c. TST e
nos artigos 93, IX (todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação), da CF, 767 (A compensação ou retenção só poderá
ser argüida como matéria de defesa) e 878 (A execução poderá ser
promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo próprio juiz ou
presidente ou tribunal competente, nos termos do artigo anterior [...]) da CLT
e 128 (O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe
defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte) do CPC.
Isso porque consideramos desnecessário, para tanto, expresso
pedido pelo autor nesse sentido nos presentes autos ou quando da
apresentação de contestação nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, sendo suficientes, a nosso ver, os
esclarecimentos prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.11
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
aforamento de medida cautelar voltada a garantir a satisfação dos
créditos perseguidos nos presentes autos, medida essa, aliás, em que
foram observados o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa e houve decisão liminar autorizando o arresto dos créditos
trabalhistas deferidos aos réus, sem que tenham insurgido da sentença
que tornou definitiva.
Diante disso, dá-se provimento parcial a título de prequestionamento
das matérias suscitadas, bem como para prestar esclarecimentos.
Os réus, nas razões recursais, sustentaram que na
petição inicial não há pedido relacionado à “compensação de valores”,
porém, a sentença determinou a compensação dos valores da condenação
indenizatória reconhecida na presente ação com os créditos de natureza
alimentar dos recorrentes adquiridos nas reclamações trabalhistas que
ajuizaram e que tramitam nas Varas do Trabalho de Umuarama.
Alegaram que nas referidas reclamatórias trabalhistas
foi reconhecida a dispensa sem justa causa, de forma que a questão ligada
a apropriação de semoventes foi desde então afastada para todos os efeitos
legais, como causa que autorizasse compensação ou descontos.
Aduziram que caso o autor tivesse intenção de ver
compensados ou descontados os valores tidos como devidos teria feito o
pedido nas defesas apresentadas naquelas RTs, conforme dispõem o art.
767 da CLT e a Súmula nº 48 do TST.
Argumentaram que a matéria está preclusa, sendo
proibida a análise da compensação ou desconto, seja pela coisa julgada
seja porque a questão é de iniciativa da parte, não do juiz.
Pontuaram que, como a decisão de julgar a “compensação
ou desconto de valores” infringiu o contido no art. 128 do CPC e na Súmula
nº 48 do TST, deve ser declarada a nulidade do decisum por julgamento
extra petita, bem como pela ocorrência da coisa julgada, sob pena de
nascer uma situação mais grave, por ter sido retirada dos réus a
possibilidade de defesa, o que infringe o princípio do contraditório.
Apontaram violação dos arts. 128, 475-B e 475-J do CPC;
462, § 1º, 477, § 5º, e 767 da CLT; bem como contrariedade às Súmulas
nºs 18 e 48 do TST.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.12
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Nos termos dos arts. 128 e 460 do CPC, a configuração
de decisão ultra ou extra petita ocorre quando o julgador se manifesta
sobre matéria que não foi objeto da demanda. Ao julgador cabe resolver
todas as questões postuladas pelas partes, abstendo-se daquelas que não
foram objeto de arguição pelos litigantes. A demanda deve ater-se ao
quanto postulado na petição inicial e na defesa, quando é formada a
litiscontestatio. Desobedecidos esses limites, haverá julgamento ultra
ou extra petita.
Com efeito, a decisão deve guardar coerência com os
elementos objetivos da demanda consistentes na causa de pedir e pedido,
bem como com os limites da resposta do demandado, em conformidade com
o princípio da congruência preceituado nos arts. 128 e 460 do CPC.
Sucede que, no caso dos autos, não se verifica o
alegado julgamento extra petita, na medida em que o juízo de origem
observou os estritos limites da lide.
Note-se, por primeiro, que a presente ação de
reparação de danos foi ajuizada na Justiça Comum e, posteriormente, em
face da mudança de competência prevista na Emenda Constitucional nº
45/2004, os autos foram enviados para a Justiça do Trabalho.
Como salientado no acórdão recorrido, “Versam os
presentes autos a respeito de ação de indenização por danos materiais
decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na condição de empregados
do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado bovino criado
na propriedade rural em que laboravam, bem como de três cheques emitidos
pelo empregador para pagamento de despesas dessa propriedade rural”, fls.
709.
O Tribunal Regional também registrou que antes mesmo
do ajuizamento da presente ação, o autor propôs uma ação cautelar
preparatória em face dos réus (processo TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1),
na qual postulava o arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos
nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7
e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o
ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos patrimoniais,
providência que foi alcançada por meio de decisão liminar, posteriormente
confirmada em sentença.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.13
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
A referida sentença foi proferida em 25/2/2011, e
restou assim fundamentada, conforme publicação no site do 9º TRT:
SENTENÇA
Vistos etc.
RELATÓRIO
O requerente, no dia 26/07/2005, ajuizou, perante a Justiça Comum
Estadual, Medida Cautelar Inominada (incidental), com pedido liminar,
acompanhada de documentos em desfavor dos requeridos, e com base nos
argumentos de fato formulou os pedidos constantes do Rol da Petição de
Inicial, atribuiu à causa o valor de R$ 1.500,00.
Através da decisão de fls. 131/133 proferida pela Mma. Juíza da 1ª
Vara Cível de Umuarama, foi deferida liminarmente a medida requerida,
determinando-se o arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos,
reconhecidos nas RTOrds 00026/2000-325, 00028/2000-325 e
00027/2000-025.
O arresto foi efetivado, conforme comprovam os autos de fls. 143/145.
Citados os requeridos, apenas José Nivaldo da Silva apresentou defesa,
alegando a incompetência da Justiça Comum Estadual para processamento
do feito.
Por intermédio da decisão de fls. 200/203 foi reconhecida a
incompetência da Justiça Comum Estadual, determinando-se o
encaminhamento dos autos a esta Justiça Especializada.
Da referida decisão agravou o requerente, tendo sido mantida pela
superior instância por seus próprios fundamentos.
Recebidos os autos neste Juízo, foram incluídos em pauta de audiência
de tentativa de conciliação, que restou infrutífera.
Inexistindo outras provas a produzir encerrou-se a instrução
processual.
Razões finais remissivas.
Infrutíferas as propostas conciliatórias.
Designou-se julgamento.
É o Relatório. Decido.
FUNDAMENTOS
DO MANDATO TÁCITO
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.14
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
..............................................................................................................
DO ARRESTO
Pela presente medida cautelar, o requerente invocou a tutela
jurisdicional visando obter provimento favorável no sentido de
garantir, com o arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos,
existentes nos autos RTOrds 00026/2000-325, 00028/2000-325 e
00027/2000-025, o ressarcimento de, ao menos, uma parte dos prejuízos
que lhe foram por eles causados.
A cautela foi deferida em caráter liminar às fls. 131, com a
determinação de arresto dos créditos trabalhistas dos requeridos
conforme postulado, medida que foi concretizada como demonstram os
autos de arresto juntados às fls. 143/145.
A decisão proferida nos autos principais (RTOrd 02557/2000-325),
cuja cópia foi juntada às fls. 293 e seguintes, condenou os requeridos ao
pagamento da importância dos prejuízos financeiros que causaram ao
requerente, no valor de R$.164.103,90 atualizado até dezembro/1998, que
deverá sofrer a incidência de juros e correção monetária até a data do efetivo
pagamento.
Além disso, em nenhum momento os reclamados afirmaram que
tivessem outros meios de saldar os danos causados ao requerente,
tornando incontroverso esse fato, confirmando a caracterização do
fumus boni iuris e o periculum in mora.
Assim, por concorrerem simultaneamente os requisitos necessários à
concessão da presente medida, acolho a pretensão cautelar, para manter e
confirmar a decisão que a concedeu liminarmente o arresto às fls. 131 destes
autos.
Via de consequência, determino que os créditos trabalhistas dos
requeridos, reconhecidos nos autos de RTOrd 00026/2000-325,
00028/2000-325 e 00027/2000-025, permaneçam arrestados, não
podendo ser objeto de qualquer liberação até o trânsito em julgado da
decisão proferida nos autos principais, (RTOrd 02557/2000-325) e
consequente execução com possível penhora.
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
..............................................................................................................
DISPOSITIVO
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.15
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Ante o exposto, julgo PROCEDENTES os pedidos formulados na
Medida Cautelar ajuizada por em desfavor de Ildemar Martins da Silva,
Natalino Martins da Silva e José Nivaldo da Silva, para manter e confirmar a
medida concedida liminarmente às fls. 131, bem como para determinar
que os créditos trabalhistas dos requeridos, reconhecidos nos autos de
RTOrd 00026/2000-325, 00028/2000-325 e 00027/2000-025,
permaneçam arrestados, não podendo ser objeto de qualquer liberação
até o trânsito em julgado da decisão proferida nos autos principais,
(RTOrd 02557/2000-325) e consequente execução com possível penhora.
(...) (destaques acrescidos)
O autor da presente ação, por sua vez, informou na
inicial (fls. 9-10) que já havia intentando medida cautelar inominada
para garantir a indenização que pleiteava.
Ressalte-se que os autos da ação principal e da ação
cautelar tramitaram juntos e ambos os processos foram julgados pelo mesmo
juiz.
Nesse contexto específico, verifica-se que a decisão
recorrida não extrapolou os contornos da lide e a determinação do desconto
do quantum indenizatório devido ao autor nestes autos no montante dos
créditos trabalhistas deferidos aos réus nas reclamações trabalhistas
que ajuizaram é mera consequência da determinação contida na sentença
que julgou os pedidos insertos na medida cautelar inominada em que,
conforme consignado no acórdão recorrido, “foram observados o devido
processo legal, o contraditório e a ampla defesa e houve decisão liminar
autorizando o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, sem
que tenham insurgido da sentença que tornou definitiva” (fls. 741).
Nesse passo, não se evidencia violação dos
dispositivos apontados, tampouco contrariedade às Súmulas nºs 18 e 48
do TST.
Por outro lado, em relação à alegada ofensa à coisa
julgada, verifica-se que nenhum dos artigos de lei apontados como
violados dizem respeito à coisa julgada.
Ademais, como ressaltado na decisão recorrida, “No que
concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais, cumpre elucidar
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.16
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou caracterizada no
caso concreto, na medida em que a prática pelos réus de ato ilícito
(apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado
bovino e de três cheques emitidos para pagamento de despesas da
propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor se trata de
questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo que não se
poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da CLT, antes
da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de indenizar” (fls.
739).
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de
instrumento.
2.2 – COMPENSAÇÃO
Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte
posicionamento quanto ao tema epigrafado, fls. 708-715:
2. MÉRITO
COMPENSAÇÃO
Não se conformam os réus com a determinação de que os créditos
trabalhistas a eles deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8,
que se encontram arrestados por força de sentença proferida na ação cautelar
de autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, sejam compensados com os
créditos deferidos ao autor na presente ação indenizatória.
Sustentam que a r. sentença recorrida viola o disposto nos artigos 128
do CPC e 767 da CLT e, ainda, na Súmula 48 do c. TST, uma vez que o autor
não requereu tal compensação nos presentes autos, tampouco quando da
apresentação de contestação nas ações em que os créditos trabalhistas foram
deferidos (autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8).
Com fundamento nos artigos 100, §1º, da CF, 462 e 832, §3º, da CLT,
370, 373 do CC e 649, IV, do CPC, bem como na Súmula 18 do c. TST,
defendem a impossibilidade de compensação de créditos de natureza
trabalhista e, portanto, alimentar, com créditos de natureza
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.17
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
indenizatória. Requerem o afastamento da compensação determinada em
sentença.
Versam os presentes autos a respeito de ação de indenização por
danos materiais decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na
condição de empregados do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças
de gado bovino criado na propriedade rural em que laboravam, bem
como de três cheques emitidos pelo empregador para pagamento de
despesas dessa propriedade rural.
Com a manutenção pelo e. Tribunal de Justiça do Paraná da
sentença condenatória proferida na ação penal movida em face dos
réus (autos 51/2004), que tramitou perante a Vara Criminal de
Icaraíma, na qual ficou reconhecida a autoria e a materialidade do
crime qualificado, tal como previsto no artigo 168, § 1º, III, do
CP (Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção
[...] A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa: [...]
em razão de ofício, emprego ou profissão), o ilustre magistrado singular
acolheu a pretensão do autor, condenando os réus, solidariamente, ao
pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da
apropriação de gados (no valor de R$ 162.303,00, já incluídos os lucros
cessantes) e o réu Natalino Martins da Silva, exclusivamente, ao
pagamento de indenização por danos materiais decorrentes da
apropriação das importâncias descritas nos cheques (no valor de R$
1.800,90).
Antes de aforar esta ação principal, o autor moveu ação
cautelar preparatória em face dos réus, nos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, por intermédio da qual buscou o
arresto dos créditos trabalhistas a eles deferidos nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o
ressarcimento de, ao menos, uma parte dos mencionados danos
patrimoniais, providência essa alcançada em decisão liminar que,
posteriormente, veio a ser confirmada em sentença.
Por força do êxito obtido na cautelar de arresto, o d. Juízo a
quo determinou a compensação dos valores ora devidos pelos réus,
devidamente atualizados, com a totalidade das importâncias de seus
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.18
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
créditos trabalhistas deferidos nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, também devidamente atualizados.
Para tanto, considerou o ilustre juiz prolator da r. sentença recorrida
que tal compensação foi o objetivo visado pelo empregador ao ajuizar a
referida medida cautelar e que o princípio do impulso oficial, presente na
execução no processo do trabalho, nos termos do artigo 878 da CLT (A
execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo
próprio juiz ou presidente ou tribunal competente [...]), autorizaria que fosse
determinada. Ponderou não se tratar de compensação como matéria de
defesa, capaz de atrair a aplicação da Súmula 48 do c. TST.
Nesse cenário, observa-se que, de modo diverso do alegado pelos
réus, a r. sentença recorrida não afronta os artigos 128 (O juiz decidirá a
lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe defeso conhecer de questões,
não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte) e
460, caput, (É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza
diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em
objeto diverso do que lhe foi demandado [...]) do CPC, o artigo 767 (A
compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da
CLT nem a Súmula 48 do c. TST (A compensação só poderá ser argüida
com a contestação).
Isso porque amparada em decisão liminar proferida em ação
cautelar voltada a garantir a satisfação dos créditos perseguidos nos
presentes autos - ou seja, na ação principal -, decisão essa que autorizou
o arresto dos referidos créditos trabalhistas, sem que da sentença que a
tornou definitiva tenham se insurgido os réus, conforme se verifica da
consulta ao andamento processual dos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.
Desnecessário, portanto, o requerimento pelo autor nos presentes
autos ou quando da apresentação de contestação nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 da compensação determinada na
r. sentença recorrida, bastando, para tanto, os esclarecimentos
prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao aforamento da medida
cautelar.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.19
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Importante lembrar, contudo, que, a despeito de não ter sido objeto de
insurgência dos réus, a sentença prolatada nos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1 não vincula a sentença exarada nos
presentes autos, já que, nos termos do artigo 817 do CPC, "ressalvado o
disposto no artigo 810 (O indeferimento da medida não obsta a que a parte
intente a ação, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no
procedimento cautelar, acolher a alegação de decadência ou de prescrição do
direito do autor), a sentença proferida no arresto não faz coisa julgada na
ação principal".
Por outro lado, em que pese a conduta inegavelmente reprovável
adotada pelos réus, bem como as ponderações muito bem lançadas nas
contrarrazões recursais apresentadas pelo autor - as quais, aliás, sensibilizam
esta Relatora -, não se vislumbra a possibilidade de manutenção da
compensação determinada em sentença, uma vez que, de fato, envolve
créditos com naturezas jurídicas diversas.
É que, não obstante a dívida contraída pelos réus em face do autor
decorra de ato ilícito praticado durante a vigência e em razão dos contratos
de trabalho com ele mantidos, ela possui natureza jurídica civil, de
cunho indenizatório, e tem como pressuposto o ressarcimento dos danos
materiais causados ao empregador.
Em contrapartida, a dívida contraída pelo autor em face dos réus
decorre do inadimplemento de obrigações patronais resultantes do vínculo
laboral, tem como pressuposto a força de trabalho despendida pelos
empregados ao longo de anos e possui natureza jurídica trabalhista, de cunho
remuneratório, revestindo-se, portanto, de indiscutível caráter alimentar.
Por esse motivo, a compensação determinada em sentença encontra
óbice não apenas nos artigos 370 (Embora sejam do mesmo gênero as coisas
fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão, verificando-se
que diferem na qualidade, quando especificada no contrato) e 373, II e
III, (A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:
[...] II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos; III - se uma
for de coisa não suscetível de penhora) do CC, mas também na Súmula 18 do
c. TST (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de
natureza trabalhista).
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.20
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Não bastante, há de se levar em conta que a impenhorabilidade (Art.
649 do CPC. São absolutamente impenhoráveis: [...] IV - os vencimentos,
subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria,
pensões, pecúlios e montepios) e o superprivilégio de que goza o crédito
trabalhista, haja vista a natureza alimentar que o imanta (Art. 100 da CF. [...]
§1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de
salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações,
benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez,
fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial
transitada em julgado), o distanciam ainda mais dos créditos que, com
justiça, foram deferidos ao autor na r. sentença.
Oportuno salientar que, definidas as naturezas jurídicas dos créditos
deferidos às partes, consoante o acima exposto, não há de se falar em
violação ao artigo 832, §3º, (As decisões cognitivas ou homologatórias
deverão sempre indicar a natureza jurídica das parcelas constantes da
condenação ou do acordo homologado, inclusive o limite de
responsabilidade de cada parte pelo recolhimento da contribuição
previdenciária, se for o caso) da CLT, tal como aduzem os réus nas razões
recursais.
Entretanto, embora - data venia do douto julgador de 1º grau -
entenda-se sem amparo no ordenamento jurídico a compensação
determinada em sentença, não merece ser acolhido o afastamento pretendido
pelos réus, o qual deve ser substituído pelo desconto
do quantum indenizatório a que faz jus o autor dos valores devidos a título de
créditos trabalhistas, providência essa que tem fundamento no parágrafo
primeiro do artigo 462 da CLT (Ao empregador é vedado efetuar qualquer
desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de
dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta
possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).
Ocorre que, uma vez reconhecida pelo Juízo competente a prática
de crime, evidente, data venia, é o dolo dos réus em causar ao autor os
danos patrimoniais em discussão, conclusão essa autorizada pela norma
do artigo 935 do CC (A responsabilidade civil é independente da criminal,
não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.21
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo
criminal), aplicável supletivamente ao direito do trabalho, nos termos
parágrafo único do artigo 8º da CLT (O direito comum será fonte subsidiária
do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os
princípios fundamentais deste).
Nessa linha de raciocínio, lícita é retenção pelo ex-empregador do
montante referente aos danos patrimoniais que, mediante dolo, foram a
ele causados no curso do vínculo laboral, retenção essa que deve se
operar por intermédio do desconto do montante indenizatório ora
deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, os quais se encontram arrestados nos
autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.
Impende ressaltar que, para fins desse desconto, não há espaço para a
aplicação do limite trazido pelo artigo 477, §5º, da CLT ([...] §4º. O
pagamento a que fizer jus o empregado será efetuado no ato da homologação
da rescisão do contrato de trabalho, em dinheiro ou em cheque visado,
conforme acordem as partes, salvo se o empregado for analfabeto, quando o
pagamento somente poderá ser feito em dinheiro. §5º. Qualquer
compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá
exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado [...]), visto
que, na medida do possível, deve haver a restituição integral dos danos
materiais suportados pela vítima, sobretudo quando decorrentes
de reprovável conduta dolosa praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a
subsistência dos infratores e de suas famílias.
Em face do exposto, dá-se provimento parcial para substituir a
compensação de dívidas autorizada em sentença pela determinação de que
o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado do montante
dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8 e que se encontram arrestados nos
autos TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1, a fim de reparar os danos sofridos
ilegal e indevidamente pelo empregador, com fundamento no artigo 462, §1º,
da CLT.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.22
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Em sede de embargos de declaração, o Tribunal Regional
assim se manifestou, fls. 737-741:
2. MÉRITO
COMPENSAÇÃO - PREQUESTIONAMENTOS E OMISSÕES
Questionam os réus se, ao determinar que o quantum indenizatório
devido ao autor seja descontado do montante dos créditos trabalhistas a eles
deferidos nos autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8,
TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, o
v. acórdão embargado considerou a compensação prevista nos artigos 477,
§5º, e 767 da CLT e nas Súmulas 18 e 48 do c. TST como instituto diverso do
desconto legal previsto no artigo 462 da CLT, de forma a afastar a limitação
trazida no parágrafo 5º do artigo 477 da CLT.
Sustentam que o v. julgado embargado, ao impor tal desconto, foi
omisso quanto à ocorrência de coisa julgada alegada nas razões
recursais, afirmando que a impossibilidade de compensação de créditos
se trata de questão já decidida nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8. Defendem que também houve
omissão no que se refere à incidência, em sede de cumprimento de
sentença, das limitações impostas nas Súmulas 18 e 48 do c. TST.
Indagam se, ao determinar referido desconto sem que tenha
havido expresso pedido pelo autor nesse sentido, considerando
suficiente o ajuizamento de Medida Cautelar de Arresto, o v. acórdão
embargado afrontou o princípio do contraditório, o contido nas
Súmulas 18 e 48 do c. TST e os artigos 93, IX, da CF, 767 e 878 da CLT e
128 do CPC.
Com o intuito de prequestionamento da matéria, elucida-se que,
segundo o que constou no v. julgado embargado, esta e. Segunda Turma
considerou a compensação prevista nos artigos 477, §5º (Qualquer
compensação no pagamento de que trata o parágrafo anterior não poderá
exceder o equivalente a um mês de remuneração do empregado), e 767 (A
compensação ou retenção só poderá ser argüida como matéria de defesa) da
CLT e nas Súmulas 18 (A compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita
a dívidas de natureza trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.23
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
com a contestação) do c. TST como instituto diverso do desconto legal
previsto no artigo 462, §1º, da CLT (Ao empregador é vedado efetuar
qualquer desconto nos salários do empregado, salvo quando este resultar de
adiantamentos, de dispositivos de lei ou convenção coletiva. §1º. Em caso de
dano causado pelo empregado, o desconto será lícito, desde que esta
possibilidade tenha sido acordada ou na ocorrência de dolo do empregado).
Por isso, foi expressamente afastada a limitação prevista no parágrafo 5º do
artigo 477 da CLT.
Para tanto, partiu-se das premissas de que "lícita é retenção pelo
ex-empregador do montante referente aos danos patrimoniais que, mediante
dolo, foram a ele causados no curso do vínculo laboral" e de que, "na medida
do possível, deve haver a restituição integral dos danos materiais suportados
pela vítima, sobretudo quando decorrentes de reprovável conduta dolosa
praticada contra quem, de boa-fé, propiciava a subsistência dos infratores e
de suas famílias" (fl. 731v).
No que concerne à coisa julgada alegada nas razões recursais,
cumpre elucidar que, ao ver desta e. Turma, a sua ocorrência não ficou
caracterizada no caso concreto, na medida em que a prática pelos réus
de ato ilícito (apropriação indébita de quinhentas e setenta e seis
cabeças de gado bovino e de três cheques emitidos para pagamento de
despesas da propriedade rural) capaz de gerar danos materiais ao autor
se trata de questão debatida e decidida nos presentes autos, de modo
que não se poderia falar em desconto na forma do artigo 462, § 1º, da
CLT, antes da prolação da r. sentença que reconheceu o dever de
indenizar.
Já no que diz respeito às limitações impostas nas Súmulas 18 (A
compensação, na Justiça do Trabalho, está restrita a dívidas de natureza
trabalhista) e 48 (A compensação só poderá ser argüida com a contestação)
do c. TST, por ocasião do cumprimento de sentença, não há o que
acrescentar, visto que o v. acórdão embargado considerou-as inaplicáveis no
caso em tela, em que se tem o desconto do quantum indenizatório devido ao
autor dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, e não, propriamente, a
compensação de dívidas.
Por derradeiro, para fins de prequestionamento, cabe esclarecer que, a
nosso sentir, o desconto determinado no v. julgado embargado não afronta o
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.24
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
princípio do contraditório, nem o contido nas Súmulas 18 e 48 do c. TST e
nos artigos 93, IX (todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário
serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a
seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação), da CF, 767 (A compensação ou retenção só poderá
ser argüida como matéria de defesa) e 878 (A execução poderá ser
promovida por qualquer interessado, ou ex-officio, pelo próprio juiz ou
presidente ou tribunal competente, nos termos do artigo anterior [...]) da CLT
e 128 (O juiz decidirá a lide nos limites em que foi proposta, sendo-lhe
defeso conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a
iniciativa da parte) do CPC.
Isso porque consideramos desnecessário, para tanto, expresso
pedido pelo autor nesse sentido nos presentes autos ou quando da
apresentação de contestação nos autos
TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, sendo suficientes, a nosso ver, os
esclarecimentos prestados na petição inicial (fls. 07-08) quanto ao
aforamento de medida cautelar voltada a garantir a satisfação dos
créditos perseguidos nos presentes autos, medida essa, aliás, em que
foram observados o devido processo legal, o contraditório e a ampla
defesa e houve decisão liminar autorizando o arresto dos créditos
trabalhistas deferidos aos réus, sem que tenham insurgido da sentença
que tornou definitiva.
Diante disso, dá-se provimento parcial a título de prequestionamento
das matérias suscitadas, bem como para prestar esclarecimentos.
Os réus, nas razões recursais, sustentaram que o
acórdão regional, mesmo reconhecendo que os créditos oriundos desta ação
e das reclamatórias trabalhistas que ajuizaram têm natureza distinta,
permitiu o “desconto” do crédito do autor no valor que deve ser recebido
por eles.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.25
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Alegaram que o crédito trabalhista é impenhorável, não
podendo ser alvo de desconto, mormente por se tratar de verba alimentar
que é irrenunciável, irredutível e intangível.
Salientaram que o que “define ser lícita a compensação
é ter os créditos mesma natureza e os descontos é a autorização legal
para se descontar valores dos salários de verbas exclusivamente geradas
em decorrência do vínculo empregatício, em exceção ao princípio da
intangibilidade salarial, mas nunca contempla a possibilidade de
autorizar pagamento de verba de natureza indenizatória, sob pena de se
instalar a possibilidade de penhorabilidade do crédito trabalhista”
(fls. 763).
Argumentaram ser totalmente descabido o desconto do
crédito indenizatório no crédito trabalhista, uma vez que se trata de
verdadeira compensação entre verbas de natureza distinta, atentando
contra o princípio da irredutibilidade salarial.
Apontaram violação dos arts. 100, § 1º, da
Constituição Federal; 475-B, 475-J e 649 do CPC; 462, § 1º, 477, § 1º
e § 5º, e 767 da CLT; bem como contrariedade às Súmulas nºs 18 e 48 do
TST. Apresentam arestos ao confronto de teses.
Na presente hipótese verifica-se que “Versam os
presentes autos a respeito de ação de indenização por danos materiais
decorrentes da apropriação indébita pelos réus, na condição de empregados
do autor, de quinhentas e setenta e seis cabeças de gado bovino criado
na propriedade rural em que laboravam, bem como de três cheques emitidos
pelo empregador para pagamento de despesas dessa propriedade rural” (fls.
709).
O Tribunal Regional também registrou que, antes mesmo
do ajuizamento da presente ação, o autor propôs uma ação cautelar
preparatória (processo TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1), na qual
postulava o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus nos
autos TRT-PR-00026-2000-325-09-00-8, TRT-PR-00028-2000-325-09-00-7 e
TRT-PR-00027-2000-025-09-00-8, com o intuito de garantir o ressarcimento
de, ao menos, uma parte dos mencionados danos patrimoniais, providência
que foi alcançada por meio de decisão liminar, posteriormente confirmada
em sentença.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.26
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Concluiu, então, a Corte regional que é lícita a
retenção pelo autor do montante referente aos danos patrimoniais, que,
mediante dolo, foram a ele causados pelos réus no curso do vínculo
laboral, por intermédio do desconto do montante indenizatório ora
deferido ao autor dos créditos apurados em favor dos réus nas
reclamatórias que ajuizaram e que se encontram arrestados nos autos
TRT-PR-02558-2010-325-09-00-1.
Saliente-se, por primeiro, que, ainda, que a Corte
regional tenha dado parcial provimento ao recurso ordinário dos réus
“para, substituindo a compensação de dívidas autorizada em sentença,
determinar que o quantum indenizatório devido ao autor seja descontado
do montante dos créditos trabalhistas deferidos aos réus”, verifica-se
que houve, na verdade, compensação do crédito do autor nesta ação com
o crédito dos réus na reclamação trabalhista que ajuizaram contra ele.
Em segundo lugar, verifica-se que a compensação
determinada pela sentença não é aquela de que trata a Súmula nº 18 do
TST, em que somente podem ser compensadas as dívidas de natureza
trabalhista. Isso porque a determinação consiste em compensar o crédito
do autor oriundo da condenação imposta aos réus em virtude da apropriação
de bens do autor com o crédito trabalhista decorrente da ação ajuizada
pelos réus. Desse modo, não há como reconhecer, no presente caso,
contrariedade ao referido verbete.
Ademais, o art. 368 do Código Civil no capítulo “Da
Compensação” dispõe que:
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da
outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Dessa forma, a compensação pode ser definida como uma
das modalidades de extinção das obrigações incidente quando as partes
são, reciprocamente, credoras e devedoras uma da outra.
Na hipótese em análise, os réus foram condenados ao
pagamento de indenização no valor de R$ 162.303,00 em decorrência da
apropriação indébita de 576 cabeças de gado pertencentes ao autor, que
era o empregador dos réus, e que eram mantidas na propriedade rural em
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.27
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
que trabalhavam; e o réu Natalino Martins da Silva também foi condenado
ao pagamento de indenização por danos materiais, no valor de R$ 1.800,90,
decorrentes da apropriação das importâncias descritas nos cheques que
foram emitidas pelo autor para o pagamento de despesas da propriedade
rural.
Conforme se extrai dos autos e do acórdão recorrido,
os réus foram condenados na esfera penal pelo Tribunal de Justiça do
Paraná, em que restou reconhecida a autoria e a materialidade do crime
qualificado no art. 168, § 1º, III, do Código Penal, cujo tipo penal é
“Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção”
e cuja pena é aumentada nos casos em que o agente recebeu a coisa “em
razão de ofício, emprego ou profissão”. A sentença penal condenatória,
conforme registrado na sentença a fls. 314, já transitou em julgado.
Por outro lado, é sabido que as verbas salariais
reconhecidas nas reclamatórias trabalhistas ajuizadas pelos réus possuem
caráter alimentar e são resguardadas pelos princípios da intangibilidade
salarial e da proteção ao salário, a teor do art. 7º, X, da Constituição
Federal.
Todavia, verifica-se também que o princípio da boa-fé
objetiva deve nortear os contratos de trabalho. Tal princípio encontra-se
estampado no art. 422 do CC, que assim estabelece:
Art. 422- Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Acerca da análise do dispositivo, Araken de Assis, em
“Comentários ao Código Civil Brasileiro”, coordenação de Arruda Alvin
e Theresa Alvin, Volume V, Arts. 421 a 578, 1ª ed., 2007, Editora Forense,
p. 150, dispõe da seguinte forma:
O art. 422 não reproduziu a cláusula do art. 1.337 do CC italiano que
impõe aos interessados se conduzirem de acordo com a boa-fé “nello
svolgimento delle trattative e nella formazione del contratto”, (no
desenvolvimento das tratativas e na formação do contrato). A boa-fé
mencionada no texto peninsular assume sentido objetivo, ou seja, portar
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.28
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
com honestidade e lealdade para preservar a confiança alheia. Também
no direito brasileiro a boa-fé objetiva preside as negociações preliminares,
entre nós, consoante a opinião da doutrina brasileira, na qual se destacam
Judith Martins-Costa e Antonio Junqueira de Azevedo. É preciso que os
participantes das negociações preliminares se comportem de modo
socialmente aceitável.
A boa-fé objetiva se desdobra, no campo das negociações preliminares,
em alguns deveres concretos.
Em primeiro lugar, os participantes das negociações têm o dever de
informar todas as circunstâncias do negócio antevisto, evitando reticências e
o induzimento a uma contratação desvantajosa. Por existir o dever de
esclarecimento, exemplifica Pontes de Miranda, João precisa informar ao
colecionador Pedro de que a tela, objeto das discussões sofreu dano em
incêndio. (grifos acrescidos)
Sobre a aplicação da cláusula de boa-fé, Ruy Rosado
de Aguiar (A boa-fé na relação de consumo. Revista de Direito do
Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, abr./jun. 1995, n. 14, p.
20-27.), assim discorre:
Para aplicação da cláusula da boa-fé, o juiz parte do princípio de
que toda a inter-relação humana deve pautar-se por um padrão ético de
confiança e lealdade, indispensável para o próprio desenvolvimento
normal da convivência social. A expectativa de um comportamento
adequado por parte do outro é um comportamento indissociável da vida de
relação, sem o qual ela mesma seria inviável. Isso significa que as pessoas
devem adotar um comportamento leal em toda a fase prévia à constituição de
tais relações (diligência in contrahendo); e que devem também comportar-se
lealmente no desenvolvimento das relações jurídicas já constituídas entre
eles. Este dever de comportar-se segundo a boa-fé se projeta a sua vez nas
direções em que se diversificam todas as relações jurídicas: direitos e
deveres. Os direitos devem exercitar-se de boa-fé; as obrigações têm de
cumprir-se de boa-fé.
Nesse contexto, em que princípio da boa-fé objetiva
também deve nortear os contratos de trabalho, verifica-se que os atos
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.29
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
praticados pelos réus são de natureza grave e evidenciam a quebra de
confiança, requisito ínsito ao contrato de trabalho. De fato, os réus
se aproveitaram do grau de fidúcia que detinham para se assenhorearem
de 576 reses de propriedade do empregador e de folhas de cheque que este
emitiu para o pagamento de despesas da fazenda.
Como se vê, até mesmo o tipo penal em que os réus foram
incursos (art. 168 do Código Penal) considera ainda mais grave o ato de
apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção,
quando praticado “em razão de ofício, emprego ou profissão”, sendo motivo
de aumento da pena na razão de um terço (art. 168, § 1º, III, do Código
Penal).
Não bastasse tanto, é de se destacar que, consoante
os arts. 935 do Código Civil e 63 do Código de Processo Penal, a sentença
penal condenatória é título executivo judicial. Tais artigos assim
dispõem:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu
autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão
promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano,
o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
Desse modo, levando em conta os referidos dispositivos
e, ainda, o princípio da boa-fé objetiva, entender que não seria possível
a compensação ou desconto (conforme o Tribunal Regional) no presente caso
criaria a seguinte questão de iniquidade: por meio da indenidade da
utilização da máquina judiciária estar-se-ia protegendo o crédito dos
reclamantes em detrimento do crédito do empregador, que, por sua vez,
não haveria como executar os valores que lhe são devidos porque os
empregados não possuem patrimônio; porém, o empregador, que possui
patrimônio, além de ter sido ofendido em virtude da apropriação indébita
dos seus bens, ainda teria que pagar as verbas rescisórias fruto das
reclamações trabalhistas ajuizadas pelos autores dessa apropriação.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.30
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Nesse contexto, como bem pontuado pelo Ministro
Cláudio Brandão na sessão de julgamento, a Justiça do Trabalho não pode
compactuar com o ilícito, mesmo que praticado pelo empregado.
Desse modo, não obstante o salário (crédito
trabalhista) goze de proteção constitucional, deve ser considerado o
crime praticado pelos réus contra o patrimônio do autor e em decorrência
da confiança depositada fruto do contrato de trabalho na análise da
compensação determinada pelo Tribunal Regional, sob pena de
enriquecimento ilícito do empregado, não tolerado pelo ordenamento
jurídico.
Assim, tendo em vista o confronto de princípios que
emerge da situação dos autos, verifica-se que deve ser levado em conta
o princípio da equidade, que na concepção de Mauricio Godinho Delgado
(Princípios da dignidade humana, da proporcionalidade e/ou razoabilidade
e da boa-fé no direito do trabalho - Diálogo do ramo juslaborativo
especializado com o universo jurídico geral - Revista de Direito do
Trabalho, vol. 102, p. 85 Abril/2001), é o poder conferido ao juiz de
adequar o comando genérico contido na norma jurídica às peculiaridades
diferenciadoras do caso concreto.
Pontua ainda o ilustre Ministro que:
A equidade, segundo a concepção dominante nos sistemas
romano-germânicos, traduz, pois, a ideia de suavização do rigor da
norma abstrata, tendo em vista as circunstâncias específicas do caso
concreto posto a exame judicial. É que a lei, como se sabe, regula situações
‑ tipo, construindo dispositivos baseados nos elementos mais genéricos
dessa situação. As regras, por natureza, são gerais, abstratas e impessoais -
qualidades que, eventualmente, podem tornar seu comando excessivamente
rigoroso em vista das peculiaridades de uma situação particular sobre que ela
esteja incidindo. Assim, o intérprete e aplicador do direito (o juiz, intérprete
conclusivo do direito), através da equidade, mediatiza o comando abstrato,
ao torná‑ lo concreto.
Nesse contexto, diante das peculiaridades que
permeiam o presente caso, verifica-se que a compensação determinada é
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.31
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
compatível com os valores de justiça social e equidade, tão almejados
pelo ordenamento jurídico, que têm por escopo fundamental a pacificação
das relações sociais.
No que tange à alegada violação do art. 373, II, do
Código Civil, que se segue no sentido de que “A diferença de causa nas
dívidas não impede a compensação, exceto se uma se originar de comodato,
depósito ou alimentos”, observa-se, por primeiro, que os alimentos a que
alude o referido artigo não dizem respeito ao salário (ainda que este
seja considerado verba alimentar), mas àqueles em que os parentes, os
cônjuges ou companheiros podem pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender necessidades de educação (art. 1.694 do Código
Civil).
Ademais, mesmo nesses casos, excepcionalmente o STJ
tem mitigado a vedação do art. 373, II, do Código Civil, conforme se colhe
das seguintes decisões:
RECURSO ESPECIAL - EXECUÇÃO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA
SOB O RITO DO ART. 733 DO CPC - LIMITES DA MATÉRIA DE
DEFESA DO EXECUTADO E LIQÜIDEZ DOS CRÉDITOS DESTE -
PREQUESTIONAMENTO - AUSÊNCIA - COMPENSAÇÃO DE
DÍVIDA ALIMENTÍCIA - POSSIBILIDADE APENAS EM SITUAÇÕES
EXCEPCIONAIS, COMO IN CASU - RECURSO ESPECIAL NÃO
CONHECIDO.
1. É inviável, em sede de recurso especial, o exame de matéria não
prequestionada, conforme súmulas ns. 282 e 356 do STF.
2. Vigora, em nossa legislação civil, o princípio da não compensação dos
valores referentes à pensão alimentícia, como forma de evitar a frustração da
finalidade primordial desses créditos: a subsistência dos alimentários.
3. Todavia, em situações excepcionalíssimas, essa regra deve ser
flexibilizada, mormente em casos de flagrante enriquecimento sem causa dos
alimentandos, como na espécie.
4. Recurso especial não conhecido. (STJ-REsp 982.857-RJ, Rel. Min.
Massami Uyeda, 3ª Turma, DJe de 3/10/2008).
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.32
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
É possível, em casos excepcionalíssimos, a compensação de pagamentos de
outras verbas com relação à pensão alimentícia. Os valores pagos pelo
agravado, in casu, referentes aos encargos de condomínio e IPTU, a fim de
evitar as perdas do imóvel de que é nu-proprietário, devem ser deduzidos do
total dos cálculos nos autos da execução, e planos de saúde, tratando-se pois
de um caso excepcional, onde entendimento contrário ensejaria
enriquecimento sem causa por parte do beneficiário. (STJ-AG-961271/SP,
Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJe de 17.12.2007)
No tocante à alegada impenhorabilidade dos créditos
trabalhistas, verifica-se que neste processo foi determinada a
compensação de dívidas, de modo que eventual discussão acerca da
impossibilidade de arresto e/ou penhora dos créditos trabalhistas já foi
travada nos autos da medida cautelar de arresto intentada pelo autor,
cuja sentença já transitou em julgado, conforme consignado no acórdão
recorrido, que, inclusive, ressaltou que “foram observados o devido
processo legal, o contraditório e a ampla defesa e houve decisão liminar
autorizando o arresto dos créditos trabalhistas deferidos aos réus, sem
que tenham insurgido da sentença que tornou definitiva” (fls. 741).
Por fim, é de se destacar que os arestos trazidos a
confronto são imprestáveis ao fim colimado, porquanto nenhum deles
apresenta todas as peculiaridades que permeiam o presente caso. Incide
o óbice da Súmula nº 296 do TST.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de
instrumento.
2.3 – HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Infere-se da decisão regional a adoção do seguinte
posicionamento quanto ao tema epigrafado, fls. 715-716:
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Discordam os réus da ausência de arbitramento de honorários
advocatícios em sentença, motivada no fato de que não se encontram
preenchidos os requisitos da Lei 5.584/1970, da Súmula 219 do c. TST e das
OJs 304 e 305 da SDI-1 do c. TST.
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.33
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
Alegam que, por não se tratar de ação tipicamente trabalhista, deve ser
aplicado o disposto no artigo 20 do CPC, na forma da Instrução Normativa
27/2005, com a condenação do autor ao pagamento de honorários
advocatícios, por ter sido sucumbente em 80% dos pedidos formulados.
No entanto, ainda que se admitisse a aplicação no caso concreto do
artigo 5º da Instrução Normativa do C. TST 27/2005 (Exceto nas lides
decorrentes da relação de emprego, os honorários advocatícios são
devidos pela mera sucumbência), considera-se que a sucumbência do
autor foi mínima, pois todos os pedidos deduzidos na petição inicial
foram acolhidos em sentença, ainda que em montante inferior ao
pleiteado na exordial.
Assim, partindo-se de premissa de que a regra prevista no parágrafo
único do artigo 21 do CPC (Se um litigante decair de parte mínima do
pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e honorários) somente
poderia beneficiar o autor, e não os réus, não há espaço para o arbitramento
de honorários advocatícios no presente recurso, por força da vedação legal
de reformatio in pejus.
Rejeita-se (destaques acrescidos)
Nas razões de recurso de revista, reiteradas no agravo
de instrumento, sustentaram os réus que o autor é o maior sucumbente,
pois foram julgados procedentes os pedidos e arbitrado o valor de
R$162.303,00 a título de reparação em virtude da apropriação indébita
de cabeças de gado, incluindo os lucros cessantes, “ficando implícito
o indeferimento do valor pedido de 5.996 arrobas, hoje no valor aproximado
de R$500.000,00, considerando o valor de R$97,00 por arroba - vide perícia
constante nos autos, definindo os valores bem acima da condenação”.
Apontaram violação dos arts. 114 da Magna Carta; 20,
caput e § 3º, 21, parágrafo único, e 23 do CPC; 5º da Instrução Normativa
nº 27 do TST. Apresentaram aresto ao confronto de teses.
Verifica-se que, in casu, não houve sucumbência
recíproca a ensejar a condenação em honorários advocatícios, porquanto,
consoante consignado na decisão recorrida, “considera-se que a
sucumbência do autor foi mínima, pois todos os pedidos deduzidos na
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.
Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
fls.34
PROCESSO Nº TST-AIRR-1194-10.2010.5.09.0325
Firmado por assinatura eletrônica em 18/12/2014 pelo Sistema de Informações Judiciárias do Tribunal Superior
do Trabalho, nos termos da Lei nº 11.419/2006.
petição inicial foram acolhidos em sentença, ainda que em montante
inferior ao pleiteado na exordial”.
Sendo assim, não atendido o pressuposto processual da
sucumbência, não se há de falar em condenação em honorários advocatícios,
permanecendo incólumes os artigos tidos por violados.
Por fim, registre-se que o recurso de revista não
alcança cognição pela alegada existência de divergência jurisprudencial,
tendo em vista que o único aresto colacionado é oriundo do Tribunal
Regional prolator do acórdão impugnado, o que desatende ao disposto na
Orientação Jurisprudencial nº 111 da SBDI-1 do TST.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo de
instrumento.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da 7ª Turma do Tribunal Superior
do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de instrumento e, no
mérito, negar-lhe provimento.
Brasília, 02 de dezembro de 2014.
Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)
MINISTRO VIEIRA DE MELLO FILHO Relator
Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1000D1FAB209F38DF1.