Download - Proposta Para Complementação Operacional Na Fase Da Reambulação Na Produção Cartográfica Sistemática
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Tecnologia e Ciências
Faculdade de Engenharia
Odair Gonçalves Martins Junior
Proposta para Complementação Operacional na fase da
Reambulação na Produção Cartográfica Sistemática
Rio de Janeiro
2015
Odair Gonçalves Martins Junior
Proposta para Complementação Operacional na fase da Reambulação na
Produção Cartográfica Sistemática
Projeto de graduação apresentado, como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Cartográfico, à Faculdade de Engenharia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Orientador: Cláudio João Barreto dos Santos
Coorientadora: Júlia Célia Mercedes Strauch
Rio de Janeiro
2015
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/B
M386 Martins Junior, Odair Gonçalves. Proposta para complementação operacional na fase da
reambulação na produção cartográfica sistemática / Odair Gonçalves Martins Junior. – 2015.
63f.
Orientador: Cláudio João Barreto dos Santos. Coorientadora: Júlia Célia Mercedes Strauch. Projeto Final (Graduação) - Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, Faculdade de Engenharia. Bibliografia p.61-63
1. Engenharia Cartográfica. 2. Informação geoespacial. 3. Mapeamento colaborativo. 4. Reambulação. 5. OpenStreetMap. I. Santos, Cláudio João Barreto dos. II. Strauch, Júlia Célia Mercedes. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. IV. Título.
CDU 62:528.9
Odair Gonçalves Martins Junior
Proposta para Complementação Operacional na fase da Reambulação na
Produção Cartográfica Sistemática
Projeto de graduação apresentado, como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Cartográfico, à Faculdade de Engenharia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Aprovada em 15 de julho de 2015.
Banca examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dr. Cláudio João Barreto dos Santos (Orientador)
Faculdade de Engenharia - UERJ
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Júlia Célia Mercedes Strauch
Faculdade de Engenharia – UERJ
_____________________________________________
MSc. Rogério Luís Ribeiro Borba
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Rio de Janeiro
2015
DEDICATÓRIA
À Dirceia de Souza Martins
À Odair Gonçalves Martins (in memoriam)
AGRADECIMENTOS
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro, instituição que me proporcionou
memórias inesquecíveis e conhecimento infinito.
Ao Prof. Cláudio João, orientador incansável, pelas discussões e ideias, e
pela confiança no trabalho.
À Prof.ª Júlia e Rogério, pelo incentivo, pelas boas conversas e por
trabalharem por uma cartografia melhor.
Aos professores do curso de Engenharia Cartográfica, pelo respeito e
dedicação, e pela eterna boa vontade em partilhar esse bem tão precioso que é o
conhecimento.
Aos amigos de caminhada, por estarem sempre dispostos a conversar e se
divertir, mesmo nos momentos mais difíceis de nossa trajetória. Em especial a Lia e
Guilherme, pela amizade e confiança construídos.
E, acima de tudo, à minha mãe Dirceia pela vida, pela dedicação e paciência,
por colocar a minha educação em primeiro lugar e por fazer de mim um ser humano
melhor mesmo com todas as dificuldades.
É impossível haver progresso sem mudanças, e aqueles que não conseguem mudar
suas mentes nada mudam.
George Bernard Shaw
RESUMO
MARTINS JUNIOR, O. G. Proposta para Complementação Operacional na fase da Reambulação na Produção Cartográfica Sistemática. 2015. 65 f. Monografia (Graduação em Engenharia Cartográfica) – Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.
Após séculos servindo a sociedade produtos de altíssima qualidade, a
produção cartográfica oficial no mundo se encontra num notável ponto de inflexão,
ocasionado pela enorme evolução técnica da sociedade. A reambulação, em
especial, se encontra inerte nesse cenário, necessitando de reformulação em suas
práticas. Sendo ela uma parte importantíssima do processo de construção do mapa,
novas práticas devem ser discutidas, de modo a “trazê-la para o século XXI”, onde a
informação é cada vez mais dinâmica e rapidamente produzida e absorvida pelos
indivíduos. Assim, esse trabalho propõe uma metodologia operacional através de um
estudo de caso utilizando plataformas móveis e o aplicativo EpiCollect, para
construção de uma base cartográfica voluntária de postos de combustível da cidade
do Rio de Janeiro. A partir dessa experiência, propõe-se a inserção do mapeamento
colaborativo na produção cartográfica, mais especificamente na etapa da
reambulação.
Palavras-chave: Mapeamento Colaborativo. Reambulação. Mapeamento
Sistemático. Mapeamento Oficial. OpenStreetMap.
ABSTRACT
MARTINS JUNIOR, O. G. Proposal for Operational Complementation at the stage of Field Survey in Systematic Cartographic Production. 2015. 65 f. Dissertação (Graduação em Engenharia Cartográfica) – Faculdade de Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015. After centuries serving society high quality products, the official cartographic
production in the world is in a remarkable turning point, caused by the technical
evolution of society. The Field Survey, specially, is inert in this scenario, requiring
reformulation in its practices. Being it an important part of the mapping construction,
new structures must be discussed, bringing it to the XXI century, where information is
dynamic and rapidly produced and absorved by the society. Therefore, this paper
proposes an operational methodology through a case study utilizing mobile platforms
and the EpiCollect application, to build a volunteered cartographic database based
on gas stations in Rio de Janeiro city. From this experience, it proposes the insertion
of collaborative mapping in cartographic production, specifically in the field survey
step.
Keywords: Collaborative Mapping. Field Survey. Systematic Mapping. National
Mapping. OpenStreetMap.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Evolução do Processo Cartográfico Oficial – Fonte: O autor, 2015. ......... 17
Figura 2 - Evolução da Rede Altimétrica do Sistema Cartográfico Nacional - Fonte:
DGC/IBGE. ................................................................................................................ 18
Figura 3 - Evolução da Rede Planimétrica do Sistema Cartográfico Nacional - Fonte:
DGC/IBGE ................................................................................................................. 18
Figura 4 – Estrutura de atribuições e serviços de mapeamento do IBGE – Fonte:
IBGE. ......................................................................................................................... 19
Figura 5 - Informações coletadas para construção de uma base cartográfica - Fonte:
adaptado de Dobson, 2013. ...................................................................................... 20
Figura 6 - Espectro de perfis de voluntários quanto à especialização técnica - Fonte:
adaptado de Coleman et al, 2009. ............................................................................ 29
Figura 7 - Anotações dos Usuários em Folhas Topográficas do USGS - Fonte: USGS
National Map Corps ................................................................................................... 34
Figura 8 - Estados Disponíveis para Edição até Julho de 2014 – Fonte: USGS
National Map Corps. .................................................................................................. 35
Figura 9 - Estrutura do EpiCollect - Fonte: adaptado de Aanensen et al., 2009. ...... 38
Figura 10 – Recorte territorial escolhida para as Coletas de Teste - Fonte: O autor,
2015. ......................................................................................................................... 39
Figura 11 - Distribuição dos postos nas áreas de Coleta de Teste – Fonte: O autor,
2015. ......................................................................................................................... 40
Figura 12 - Esquema da construção da estrutura do questionário - Fonte: O autor,
2015. ......................................................................................................................... 43
Figura 13 - Registros coletados na Primeira Fase/Coleta de Testes - Fonte: O autor,
2015. ......................................................................................................................... 46
Figura 14 - Registros coletados na Segunda Fase de Coletas - Fonte: O autor, 2015.
.................................................................................................................................. 48
Figura 15 - Registros coletados ao final do trabalho - Fonte: O autor, 2015. ............ 50
Figura 16 - Fluxograma de Implantação da Proposta - Fonte: O autor. .................... 54
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características dos Registros da Coleta de Teste - Fonte: O autor, 2015.
.................................................................................................................................. 47
Tabela 2 - Características dos Registros da Segunda Fase de Coletas – Fonte: O
autor, 2015. ............................................................................................................... 49
Tabela 3 - Resultado Final da Coleta - Fonte: O autor, 2015. ................................... 50
Quadro 1 - Exemplos de Atividades de acordo com o Perfil do Voluntário - Fonte:
adaptado de Coleman et al, 2009. ............................................................................ 29
Quadro 2 - Questionário para preenchimento no EpiCollect – Fonte: O autor, 2015.
.................................................................................................................................. 43
Quadro 3 - Padrão de etiquetas utilizadas no OSM para este trabalho - Fonte: O
autor, 2015. ............................................................................................................... 52
Gráfico 1 - Resultado Final da Coleta - Fonte: O autor, 2015. .................................. 51
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANM – Agência Nacional de Mapeamento
ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
BCC – Base Cartográfica Contínua
BCIM – Base Cartográfica Internacional ao Milionésimo
C2C – Citizen to Citizen
CIC – Centro de Informações Cartográficas
DSG – Diretoria do Serviço Geográfico
GLONASS – Global Navigation Satellite System
GNSS – Global Navigation Satellite Systems
GNV – Gás Natural Veicular
GPS – Global Positioning System
HOT – Humanitarian OpenStreetMap Team
IG – Informação Geoespacial
INDE – Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais
INFOCAR – Informatização da Cartografia
OSM – OpenStreetMap
PPGIS – Public Participation Geographical Information System
RA – Região Administrativa
RADAM – Radar na Amazônia Brasileira
SIG – Sistema de Informações Geográficas
UCS – User Contribution Systems
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UF – Unidade da Federação
USAF – United States Air Force
USGS – United States Geological System
VGI – Volunteered Geographical Information
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 13
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ......................................................................... 14
1.1 Objetivo ......................................................................................................... 14
1.2 Organização do Trabalho ............................................................................ 14
2. MAPEAMENTO SISTEMÁTICO E INFORMAÇÃO GEOESPACIAL ............ 16
2.1. Mapeamento Sistemático ............................................................................. 16
2.2. Reambulação ................................................................................................. 21
2.3. Informação Geoespacial............................................................................... 22
3. MAPEAMENTO COLABORATIVO ................................................................ 24
3.1. VGI, Neogeografia e Crowdsourcing .......................................................... 24
3.2. Usuário, Produtor ou “Produsário”? .......................................................... 25
3.3. Experiências de Mapeamento Colaborativo .............................................. 31
3.3.1. WikiMapia ....................................................................................................... 32
3.3.2. Google Map Maker ......................................................................................... 32
3.3.3. The National Map Corps ................................................................................ 33
3.4. OpenStreetMap e EpiCollect ........................................................................ 36
3.4.1. OpenStreetMap ............................................................................................... 36
3.4.2. EpiCollect ........................................................................................................ 37
4. METODOLOGIA ............................................................................................. 39
4.1. Determinação da Área Inicial de Estudo ..................................................... 39
4.2. Elaboração do Questionário ........................................................................ 40
4.3. Programação do EpiCollect ......................................................................... 43
5. ATIVIDADES E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................... 45
5.1. Coletas de Teste ........................................................................................... 46
5.2. Segunda Fase de Coletas ............................................................................ 48
5.3. Análise Final dos Resultados ...................................................................... 49
5.4. Estruturação e Carregamento da Base Colaborativa no OSM .................. 51
6. PROPOSTA DE COMPLEMENTAÇÃO PARA A REAMBULAÇÃO ............. 54
CONCLUSÕES .............................................................................................. 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 61
13
INTRODUÇÃO
Após séculos servindo a sociedade produtos de altíssima qualidade, a
produção cartográfica oficial no mundo se encontra num notável ponto de inflexão,
ocasionado pela enorme evolução técnica da sociedade. Muitas outras ciências se
desenvolveram com o avanço tecnológico (principalmente da informática e dos
sistemas de informação). Como exemplo pode-se citar a fotogrametria, que em trinta
anos passou por profundas transformações e o imageamento por sensores orbitais,
que hoje constitui importante fonte para o mapeamento.
Os custos crescentes inseridos em um panorama econômico fragilizado
trazem diversas dificuldades para os órgãos oficiais de mapeamento.
Levantamentos, em geral, tornam-se cada vez mais custosos e demandantes,
apesar de mais rápidos, graças à tecnologia GNSS (Global Navigation Satellite
Systems). Projetos nacionais são cada vez mais raros, visto as altas despesas com
aquisição de dados e a falta de pessoal capacitado para executá-los, o que faz com
que países, especialmente aqueles com áreas muito extensas ou ambiente hostil,
encontrem dificuldades para manter seu território mapeado e atualizado.
A reambulação, em especial, se encontra inerte nesse cenário, com conceitos
datando do século XIX e práticas rígidas. Sendo ela uma parte essencial do
processo de construção do mapa, novas práticas devem ser discutidas, de modo a
atualizá-la e torná-la mais eficiente, em um mundo onde a informação é cada vez
mais dinâmica e rapidamente produzida e absorvida pelos indivíduos.
Uma das soluções discutidas atualmente, e que faz parte da proposta inserida
no contexto do presente estudo, é a integração do conceito de Volunteered
Geographic Information (VGI), proposto por Goodchild (2007), às bases nacionais. A
inserção deste conceito pode trazer mais dinamismo e flexibilidade aos processos,
além de integrar a sociedade como participante na fundamental tarefa de
mapeamento, que é de grande importância para o conhecimento do território de
forma abrangente e também na construção da identidade nacional.
14
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 Objetivo
Nesse trabalho é apresentada uma metodologia operacional para a
reambulação utilizando plataformas móveis (smartphones e tablets) e informações
voluntárias dos usuários. De forma a validar essa metodologia, é utilizado um estudo
de caso para coletar dados de postos de combustível e todas as construções
dependentes de parte da cidade do Rio de Janeiro e de sua Região Metropolitana.
Essa coleta foi idealizada devido à necessidade da ANP (Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) de se conhecer as instalações comerciais
de combustível instalados em território nacional.
A partir dessa experiência propõe-se a inserção do mapeamento colaborativo
na produção cartográfica, mais especificamente na etapa da reambulação, de modo
a promover uma atualização dinâmica das bases cartográficas e maior participação
social nos processos de construção do território.
Como objetivo secundário, a base construída será integrada a base do
OpenStreetMap, que, através de serviços livres e abertos, oferece mapeamento de
alta qualidade e de modo essencialmente colaborativo, voluntário e gratuito.
1.2 Organização do Trabalho
No segundo capítulo é apresentado um breve histórico do mapeamento
sistemático, sua importância e seu posicionamento no decorrer dos anos e do
avanço tecnológico. Em seguida será apresentada a Reambulação, estrutura que
será pesquisada neste trabalho. Aliado a isso, vai-se caracterizar o conceito de
Informação Geoespacial, fundamental em todo o processo cartográfico.
No terceiro capítulo são demonstrados os conceitos utilizados atualmente
para caracterizar o mapeamento colaborativo – crowdsourcing, VGI e neogeografia,
15
bem como aplicações recentes dos novos conceitos e a aplicação utilizada para
desenvolver o trabalho.
No quarto capítulo a metodologia utilizada nas coletas é descrita, bem como
se discutirá a análise dos resultados obtidos e o processo de integração com a base
do OpenStreetMap.
No quinto capítulo, é apresentada a proposta para complementação da
reambulação, baseada nos resultados obtidos e nas pesquisas executadas para
este trabalho.
Em seguida são apresentadas as considerações finais e possíveis
desdobramentos futuros do assunto abordado.
16
2. MAPEAMENTO SISTEMÁTICO E INFORMAÇÃO GEOESPACIAL
2.1. Mapeamento Sistemático
Historicamente, o conhecimento do território se apresenta em quaisquer
grandes questões que a humanidade se depara. Desde as migrações do Paleolítico
até os assentamentos na Palestina e Israel, o território permeia as decisões tomadas
pelo homem. Por isso, conhecê-lo é essencial (Miceli, 2015).
Já na época das Grandes Navegações as cartas produzidas tinham valor
inestimável para os Estados e eram tratadas como informação secreta nessas
nações. Mas foi apenas no século XVIII que a França Napoleônica padronizou e
sistematizou os métodos topográficos, podendo assim ter conhecimento dos
territórios conquistados e dos que reclamava nas inúmeras guerras do período. Por
consequência da disseminação destes novos métodos, surgiram os primeiros
Serviços de Cartografia Nacional, responsáveis pelo mapeamento territorial,
inicialmente para propósitos militares, mas posteriormente para construção da
identidade nacional das nações que surgiram de modo consolidado a partir daquele
período, o que se ilustra na Figura 1 (Philips, 2003).
17
No Brasil, em 1890 foi instituída, no âmbito do Ministério do Exército, a
Diretoria do Serviço Geográfico (DSG), que tem a missão de produzir material
cartográfico necessário para a identificação do território e sua defesa. Apenas em
1938, com a criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
mapeamento oficial passou a ter estabilidade e ser produzido sistematicamente
através das bases cartográficas contínuas e de outros projetos de mapeamento
especial, como o Radar na Amazônia Brasileira (RADAM Brasil).
A cartografia sistemática, no Brasil, foi então definida pelo artigo 7º do
decreto-lei n.º 243/67, que regulamenta as Diretrizes e Bases da Cartografia e da
Política Cartográfica Nacional como sendo:
“Art. 7º A cartografia sistemática tem por fim a representação do espaço territorial brasileiro por meio de cartas, elaboradas seletiva e progressivamente, consoante prioridades conjunturais, segundo os padrões cartográficos terrestres, náuticos e aeronáuticos (Decreto-lei nº 243, 1967).”
Desde sua fundação, o IBGE vem prestando serviços de qualidade para a
sociedade, construindo suas bases oficiais nas escalas de atribuição oficial e
desenvolvendo diversos projetos fundamentais para o desenvolvimento do país.
Dentre alguns exemplos, destacam-se as redes plani-altimétricas apresentadas nas
Séc. XVIII
•Surgimento dos Serviços de Cartografia Nacional
Séc. XIX
•Início dos Levantamentos Censitários
•Invenção da Fotogrametria
•Integração da Reambulação ao Apoio Fotogramétrico
•Invenção dos primeiros Restituidores
Séc. XX
•Desenvolvimento da Aerotriangulação
•Aprimoramento e Documentação das técnicas de Seleção e Generalização
•Desenvolvimento do Sensoriamento Remoto
•Desenvolvimento dos Sistemas GNSS
Figura 1 - Evolução do Processo Cartográfico Oficial – Fonte: O autor, 2015.
18
Figuras 2 e 3, respectivamente, e as redes gravimétricas e o Referencial Geodésico
Brasileiro.
O IBGE tem por responsabilidade a cartografia sistemática do país junto coma
DGC. Nesse contexto, as escalas de mapeamento oficial que estão sobre sua
atribuição são: 1:1.000.000 (BCIM – Base Cartográfica Internacional ao
Milionésimo), 1:250.000, 1:100.000, 1:50.000 e 1:25.000. Todas as escalas, exceto a
de 1:25.000 possuem uma base cartográfica contínua estruturada – as chamadas
BCC (Base Cartográfica Contínua) – e qualquer escala maior, a partir de 1:25.000, já
Figura 2 - Evolução da Rede Altimétrica do Sistema Cartográfico Nacional - Fonte: DGC/IBGE.
Figura 3 - Evolução da Rede Planimétrica do Sistema Cartográfico Nacional - Fonte: DGC/IBGE
19
se enquadra na categoria de cadastro, que é de responsabilidade dos estados e
municípios (Figura 4).
Figura 4 – Estrutura de atribuições e serviços de mapeamento do IBGE – Fonte: IBGE.
Durante toda a sua história o mapeamento sistemático e, mais
especificamente o IBGE, desenvolveu-se de modo exponencial devido ao avanço
tecnológico presenciado no seu período de existência. Em 1962, através da
cooperação com o governo dos Estados Unidos e a United States Air Force (USAF),
pôde-se realizar um dos principais projetos de fotogrametria na história do Instituto.
Outros pontos de inflexão importantes foram o Centro de Informações Cartográficas
(CIC) e o Projeto INFOCAR (Informatização da Cartografia). Ambos na década de
80, que transformaram radicalmente os processos de construção do mapeamento
sistemático, possibilitando a absorção de quantidades cada vez maiores de
informação ao processo e a execução mais rápida dos serviços de mapeamento
(Santos et al, 2013).
Atualmente, o Instituto entrega produtos digitais e físicos à população
referentes ao mapeamento sistemático das bases contínuas das escalas de
20
atribuição e às folhas brasileiras pertencentes à série BCIM, além do mapeamento
das UFs (Unidades da Federação) e do Censo Nacional.
Os serviços de mapeamento oficial, além das suas atribuições características,
devem sempre estar atentos à evolução tecnológica. Isso se apresenta devido a
crescente demanda por informação geoespacial. A sociedade cada vez mais está
integrada aos serviços de posicionamento e navegação, o que pode ser um desafio
para estas instituições conforme ilustrado na figura 5, onde observa-se que o volume
de informações que devem ser coletadas para a construção de uma base
cartográfica é enorme e diverso. Os altos custos de pessoal, os orçamentos estatais
cada vez mais apertados e a dinâmica da informação são fatores que devem ser
encarados e resolvidos.
Figura 5 - Informações coletadas para construção de uma base cartográfica - Fonte: adaptado de Dobson, 2013.
21
2.2. Reambulação
Dentre os processos necessários para se atingir o produto cartográfico final,
se encontra a reambulação. Segundo Santos (2008) a Reambulação é:
“...o ato de percorrer determinada porção territorial com o objetivo de coletar, confirmar ou destacar, a partir de entrevistas com a população que lá habita, o nome das feições cartográficas mais destacadas no local, as quais posteriormente constarão, ou serão descartadas, das cartas e mapas, como nomes geográficos que as identifiquem de forma singular.”
As feições mencionadas compreendem-se entre representações de relevo e
outros fenômenos naturais, incluindo estruturas puramente antrópicas. Estas feições
podem ser detectadas através de diversos subprodutos do mapeamento, como
fotografias aéreas, ortofotocartas e até mesmo cartas antigas, caso o objetivo seja a
atualização cartográfica.
O trabalho do reambulador está dividido em duas partes, sendo elas o
planejamento da ida a campo e a ida a campo propriamente dita. O planejamento é
essencial, visto que a reambulação é uma fase de elaboração cartográfica, onde as
denominações que enriquecerão as cartas finais devem ser coletadas com toda a
responsabilidade inerente aos serviços oficiais (Santos, 2008).
O processo de reambulação está intimamente ligado à história do lugar,
desde as suas primeiras ocupações até as sociedades atuais. Muito da memória
local está descrita nos nomes que a compõem e os habitantes são a principal fonte
destas informações (Santos, 2008).
Outro ponto muito importante neste processo é a regionalidade das
informações. O Brasil possui mais de 8,5 milhões de km², divididos em 26 estados e
um distrito federal, com diferentes processos de formação do território, muitas vezes
com auxílio de indivíduos de outras culturas e nacionalidades. Essa integração
produziu uma riqueza linguística e humana que é um fator essencial na identidade
nacional e, portanto, deve ser incluído nos mapas nacionais.
A reambulação tem uma importância única no que se refere à atribuição
judicial que a informação cartográfica pode vir a ter. É somente através dela que a
correta nomeação dos locais pode se dar. Caso não esteja claro nos documentos
22
oficiais o nome correto de um elemento cartográfico, consequências jurídicas podem
ser imputadas a essa informação.
De importância ímpar, a reambulação foi talvez a única etapa da produção em
que não houve mudanças, nem mesmo integração das tecnologias de informação
recentes. Ao pesquisarem-se os históricos da produção cartográfica, vê-se que a
sua atualização foi essencial para que se pudesse desenvolver cada vez mais a
ciência do mapeamento e, portanto, a reambulação necessita também desse
desenvolvimento.
2.3. Informação Geoespacial
Entende-se por informação geoespacial (IG) aquela que em sua formação
possui um componente espacial que é associado a uma localização em nosso
planeta. De acordo com o Marco Legal da INDE (Infraestrutura Espacial de Dados
Espaciais) (Decreto nº 6.666/08, Diário Oficial da União de 28/11/2008, página 57),
informação geoespacial é definida como:
“...aqueles que se distinguem essencialmente pela componente espacial, que associa a cada entidade ou fenômeno uma localização na Terra, traduzida por sistema geodésico de referência, em dado instante ou período de tempo, podendo ser derivado, entre outras fontes, das tecnologias de levantamento, inclusive as associadas a sistemas globais de posicionamento apoiados por satélites, bem como de mapeamento ou de sensoriamento remoto.”
A informação geoespacial vem se tornando cada vez mais importante ao
longo dos últimos anos, visto que pode ser manipulada por diversos setores, sendo
científicos ou não. Elas estão presentes não somente nas Agências Nacionais de
Mapeamento (ANMs), mas também em áreas tais como segurança pública,
marketing e gestão de desastres humanitários.
Esse tipo de informação é essencial para planejamento, gestão e tomada de
decisão. Segundo Folger (2009) o governo federal dos Estados Unidos estima que
cerca de 80% de todos os dados possuídos por ele tem uma componente
geográfica, e que esta informação é utilizada em todas as escalas da organização
desde Ministérios a Secretarias, por exemplo: registros de propriedade, veículos
23
públicos, padrões de criminalidade, registros do Sistema de Saúde e gestões de
tráfego, resíduos, espaço aéreo e bacias hidrográficas.
A informação geoespacial se apresenta de diferentes tipos, formas e padrões,
o que contribuiu para seu crescimento. Podendo ser mais flexível e dinâmica que
outros tipos de dados, ela acabou suplantando os antigos registros, mas trouxe mais
complexidade e maiores custos de aquisição e manutenção, visto que necessita de
mecanismos mais avançados de gestão e controle.
Encontrar uma forma de se adquirir informação de modo econômico, mas que
continue sendo confiável é um desafio. O Centro de Tecnologia Governamental do
Departamento de Conservação Ambiental do Governo do Estado de Nova Iorque
estima que, de todos os custos de um projeto SIG, 80% correspondem à aquisição
da informação (Hartman, 1998).
Os crescentes custos podem abrir caminhos para um maior aproveitamento
das experiências colaborativas e para o desenvolvimento de outras, estas com maior
integração Estado-sociedade, o que ainda é um ponto sensível. Um estudo da
revista The Economist de 2008 demonstrou que “os indivíduos estão menos
preocupados em dar suas informações pessoais a uma companhia privada do que
ao governo” e outro estudo, feito pelo centro C2C (Citizen to Citizen), concluiu que
os cidadãos interagem com outros cidadãos de forma mais intensa quando
comparados com interações com o Estado, que chegam por vezes a evitar
(Coleman et al, 2009).
24
3. MAPEAMENTO COLABORATIVO
3.1. VGI, Neogeografia e Crowdsourcing
Ao se procurar conceituar o mapeamento colaborativo, depara-se com três
definições distintas, mas que apresentam pontos em comum sobre as atividades de
contribuição voluntária. São elas:
VGI, ou Volunteered Geographic Information/ Informação Geográfica
Voluntária, é definida por Goodchild (2007) como sendo informação voluntária
de caráter estritamente geográfico. O termo expressa a vontade dos usuários
de tornar a informação disponível para a comunidade através da aquisição de
dados por grupos grandes e diversos (cada um com suas próprias
especificidades), que em sua grande maioria não tem treinamento
especializado em coleta de dados ou edição do mesmo através de software
especializado (utilizam apenas serviços Web) e não possuem os
conhecimentos técnicos mais especializados dos profissionais que lidam com
as questões relacionadas à informação geoespacial, embora estes
profissionais também participem, porém em quantitativo reduzido em relação
a totalidade dos informantes cidadãos
Neogeografia, segundo Turner (2006), é quando pessoas passam a usar e
criar seus próprios mapas, em seus próprios termos, e combinando elementos
de um conjunto de ferramentas existente. Ela combina as complexas técnicas
de cartografia e SIG e coloca ao alcance de usuários e desenvolvedores.
Crowdsourcing: Howe (2010) derivou esse termo de crowd (multidão, em
inglês) e outsourcing (quando a produção é transferida para locais remotos e
de menor custo). Trata-se do processo de realização de serviços e obtenção
de conteúdos através das contribuições de um grupo grande de pessoas. O
25
conceito combina os esforços de voluntários, onde cada um contribui para
que se atinja um resultado maior.
Neste trabalho vai prevalecer o conceito de VGI, por se acreditar que ele
agrega as características fundamentais para o desenvolvimento de projetos amplos
de mapeamento colaborativo.
Nota-se que todos os três se utilizam de uma base de dados cuja maioria
provém de fontes conhecidas, como os de tecnologia GNSS, por exemplo, GPS’s
(Global Positioning System) e equipamentos equipados com receptores
GPS/GLONASS (Global Navigation Satellite System) de menor precisão (na
esmagadora maioria smartphones), e ortofotos. De maneira geral, qualquer dado
pode ser utilizado desde que seja georreferenciado ou georreferenciável.
Outra fonte de dados são as coleções de informações anônimas de serviços
de geolocalização. Estas são ricas em informações de rotas e localizações,
entretanto trazem uma série de questões jurídicas, de conduta ética e até de
segurança nacional, relacionados à privacidade do produtor. Exemplos são as bases
de serviços que utilizam a posição do usuário, como o Google Earth/Maps, Waze,
Moovit, etc.
3.2. Usuário, Produtor ou “Produsário”?
O conceito de “conteúdo gerado pelo usuário” não é novo. Coleman et al.
(2009) menciona que desde 2008 pode-se identificar uma longa história de Sistemas
de Contribuição do Usuário (SCU/ UCS – User Contribuition Systems em inglês),
tanto ativos quanto passivos no mercado. O mesmo autor ressalta que existem
registros de alguns projetos de participação pública datando de 2002.
O que é diferente, atualmente com a Web 2.0, é o papel mais influente que os
contribuintes têm (Coleman et al, 2009). Budhathoki et al (2008) desenvolveu o
conceito de “produsagem”, ou seja, quando o mesmo indivíduo produz e utiliza as
informações de maneira integrada. Podem-se destacar que a “produsagem”, ainda
de acordo com Coleman et al. (2009), apresentam quatro características:
26
É baseada na comunidade (todos contribuem independente do grau de
técnica);
Precisa de papéis fluidos (os usuários devem ter total liberdade de
movimento dentro da comunidade – usuário é produtor e vice-versa);
Os resultados estarão sempre incompletos (os trabalhos deverão estar
sempre disponíveis para atualização);
Necessidade de existir uma propriedade comum dos resultados, sem
ignorar o mérito individual.
Outra questão importante é a motivação da contribuição, ou seja, o que leva
um indivíduo a colaborar em projetos colaborativos? Essa questão é até hoje
estudada por projetos abertos como Wikipedia, OpenStreetMap, entre outros. A
partir dessa questão podem-se inquirir diversas outras, como o padrão estabelecido
pelo voluntário ao submeter informação e os fatores que influenciam a qualidade, a
frequência e a natureza destes dados contribuídos, o objetivo da contribuição (para
quê o dado vai servir – algum projeto de mapeamento oficial, geológico ou
demográfico?), a credibilidade dos dados (como analisá-los? Quem vai analisá-los –
a organização oficial, uma comunidade especializada on-line ou qualquer um com
acesso à internet?). Outra questão também relevante é uma vez estabelecida a
iniciativa, como atrair novos colaboradores e manter os existentes, estimulando-os a
contribuir em maior quantidade, frequência e qualidade (Coleman et al, 2009).
As agências de mapeamento oficiais deveriam ser as maiores interessadas
nas respostas destas questões, caso queiram aproveitar a enorme quantidade de
informação disponível e uma comunidade cada vez mais disposta a contribuir.
Entretanto isso não é simples, visto que os órgãos oficiais são estruturas rígidas e
que possuem bastantes responsabilidades, inclusive jurídicas. Adiciona-se a isso a
dificuldade de relação interpessoal entre o mapeamento oficial e a sociedade
(inseridos numa visão maior que é a falta de relação do Estado em geral com a
população).
Uma análise breve dos perfis dos voluntários mencionada por Coleman
(2009) classificou seus perfis em cinco grupos bem caracterizados:
27
01. Neófitas – quem não tem experiência formal com o assunto, mas tem
acesso à internet, tempo e vontade de contribuir e formar opinião a respeito do
assunto tratado;
02. Amador Interessado – quem descobriu ter interesse pelo assunto, leu a
literatura especializada, discutiu com outros colegas conhecedores do assunto, está
experimentando os softwares especializados e ganhando experiência com o
assunto;
03. Amador Especialista – quem sabe bastante sobre o assunto, pratica-o
como hobby, mas ainda não vive deste trabalho;
04. Profissional Especialista – quem estudou e pratica o assunto,
dependendo dele para viver. Pode responder juridicamente sobre seus produtos,
opiniões e práticas caso estes sejam inadequados ou incorretos;
05. Autoridade Especialista – quem já pratica o assunto durante muito
tempo, tendo reconhecimento de qualidade de suas atividades.
Atualmente, são bem caracterizados quatro contextos nos quais indivíduos
contribuem informação geoespacial para um devido fim (Coleman et al, 2009). São
eles:
Mapeamento e Navegação – o objetivo pode ser contribuir para uma
base de mapeamento pública (órgãos oficiais) ou privada (serviços de
roteamento);
Redes Sociais – a contribuição é feita a websites ou serviços online;
Sociedade Civil/ Governamental – a contribuição serve a algum
cidadão engajado em projetos de alguma cidade ou a membros de
grupos de direitos civis;
Resposta a Emergência – os contribuintes reportam a presença de
acidentes e desastres.
28
Inserindo os grupos nesses contextos podem-se exemplificar ações visando
uma melhor compreensão dos papéis de cada um no mapeamento colaborativo,
apresentados no Quadro 1.
Mapeamento e Navegação
(Ex.: veículos e equipamentos com receptores GNSS)
Redes Sociais (Ex.: Open Street
Map)
Sociedade Civil/ Governamental
(Ex.: PPGIS (Public Participation GIS)
Resposta a Emergências (Ex: resposta a
desastres)
Neófita
Depende do equipamento para lhe prover direções e segue as instruções para adicionar pontos básicos usando o equipamento.
Já identificou vazios no mapeamento, pois tem familiaridade com o local e possui equipamento GNSS necessário. Interessado em fazer sua primeira contribuição.
Participa de uma audiência pública com mapas em SIG sobre a instalação de uma usina na cidade.
Pode usar seu telefone para adicionar informações básicas detalhando o local de um potencial foco de queimada.
Amador Interessado
Possui um equipamento e o utiliza de maneira extensiva, tendo feito diversas contribuições. Sabe da importância da tecnologia e suas limitações e está ciente dos procedimentos necessários para se atingir uma qualidade maior.
Possui o equipamento e conhecimento de softwares de edição e processamento. Contribui regularmente com dados editados e pode editar outros.
Participa e cria mapas SIG para sugestões ou contrapropostas numa audiência pública sobre o melhor lugar para instalação de uma usina na cidade.
Pode dirigir entre locais afetados por enchentes tirando fotos georreferenciadas que posteriormente serão adicionadas a uma base on-line.
Amador Especialista
É familiar com diferentes tipos de equipamentos, de modo que optou por um após experimentar os outros. Pode corrigir e complementar a contribuição de outros usuários.
Especialista com equipamento de qualidade que edita e avalia regularmente contribuições de outros usuários. Participa no desenvolvimento de especificações e da tomada de decisões relativas à rede.
Completamente familiar com as condições de suas redondezas e com todas as operações de PPGIS.
Conhece o tipo de informação crítica necessária para o trabalho de profissionais de resgate e pode se voluntariar a ir aos locais atingidos para prover essas informações.
Profissional Especialista
Profissionais de Agências Oficiais e outros órgãos que dependem da informação cartográfica.
Profissionais de Agências Oficiais e outros órgãos que dependem da informação cartográfica.
Urbanista em exercício.
Profissional de resposta a emergências que deve mapear toda a área afetada pelo desastre em questão.
29
Concluindo, a Figura 6 apresenta um espectro unindo informação oficial ao
mapeamento voluntário, de acordo com as características acima apresentadas.
Nessa figura, a comunidade de contribuintes é bastante diversificada, logo suas
contribuições também são. Em geral, poucos usuários realizam a maior parte do
trabalho – na Wikipedia, por exemplo, 2% dos usuários registrados produzem e
editam 75% dos artigos (Wales, 2005).
De um modo geral, algumas conclusões sobre o comportamento dos
contribuintes podem ser feitas. A primeira é que a informação voluntária nem
sempre é informação nova. Na maioria dos casos a informação será uma
Autoridade Especialista
Especialistas que prestam consultoria aos mais altos níveis e desenvolvem novas tecnologias.
Urbanista já experiente com extenso conhecimento sobre desenvolvimento urbano.
Especialista consultado pelos mais altos níveis de governo e que pode desenvolver sistemas de prevenção ou de resposta ao desastre.
Quadro 1 - Exemplos de Atividades de acordo com o Perfil do Voluntário - Fonte: adaptado de
Coleman et al, 2009.
Amador
Interessado
Neófita Amador
Especialista
Profissional
Especialista
Autoridade
Especialista
Mapeamento
Colaborativo
Agência
Oficial
Figura 6 - Espectro de perfis de voluntários quanto à especialização técnica - Fonte: adaptado de
Coleman et al, 2009.
30
atualização de atributos (uma rua que mudou de nome, por exemplo) ou uma adição
dos mesmos (uma escola que presta outros serviços à comunidade além de
educação, por exemplo). Os serviços de adição de etiquetas geográficas a pontos
de interesse são os mais importantes no USGS (United States Geological Survey)
National Map Corps programa de voluntários do serviço oficial de mapeamento dos
Estados Unidos (Bearden, 2007), que será mais bem descrito na sequência do
trabalho.
A segunda é que os voluntários desejam algum tipo de reconhecimento pela
sua contribuição. Esse reconhecimento vai desde e-mails automáticos agradecendo
pela colaboração, até listas/rankings de contribuintes e metadados incluindo o nome
do produtor. Além de reconhecimento, os contribuintes querem ver seu trabalho
utilizado, e rápido. Um dos motivos da pouca atratividade de projetos de colaboração
oficiais é a falta de capacidade das agências integrarem com rapidez as
atualizações feitas pelos voluntários (Bearden, 2007).
A terceira é que existem meios de avaliar a credibilidade dos contribuintes e,
portanto, validar os dados contribuídos. Por exemplo, uma série de edições feitas
em um mapa cadastral de um município no interior de Rondônia, mas originadas de
um equipamento situado em Porto Alegre, são altamente duvidosas. Isso porque o
conhecimento geográfico é orientado localmente, ou seja, contribuições feitas por
pessoas que residem em determinada área são mais confiáveis que aquelas feitas
por pessoas de fora, ou que estejam apenas passando temporariamente por aquele
local.
Outro critério importante é a data e a hora das contribuições. Através desses
dados pode-se concluir se as contribuições foram feitas por pessoas viajando em
datas específicas ou se um usuário enviou alguma contribuição sobre
engarrafamentos às 03h da madrugada, por exemplo, o que desqualifica a
informação.
De acordo com Coleman et al (2009), a tecnologia atual se encontra em
estado de boa assimilação nas diversas sociedades (independendo de religião,
política ou cultura), o que começa um processo de migração da produção para a
avaliação da qualidade das contribuições. Dependendo do tipo de informação ou
projeto, pode aparecer no futuro uma espécie de intercâmbio de responsabilidades
no tocante ao papel do voluntário, quando alguns serão exclusivamente
responsáveis, e até treinados, para executar o controle de qualidade das
31
informações recebidas. Em áreas onde existem muitos voluntários engajados já
ocorre uma espécie de auto-validação, onde um usuário tem sua contribuição
cuidadosamente avaliada, e possivelmente corrigida, por todos os outros, gerando
um senso de comunidade e cidadania em todo o processo de contribuição.
3.3. Experiências de Mapeamento Colaborativo
Atualmente, com a popularização dos sistemas móveis na sociedade,
diversas iniciativas exploram o potencial que os usuários destes sistemas têm em se
transformar em verdadeiros sensores inteligentes (Goodchild, 2007).
Experimentações envolvendo crowdsourcing aparecem de modo frequente,
especialmente no mundo acadêmico, onde estas podem interagir com diversos
outros ramos, como medicina e turismo (Mooney et al, 2014). Podem-se citar como
exemplos a Wikipedia e o Christmas Bird Count, dentre outros.
Outro tipo popular de aplicação são aquelas de controle de rota e navegação,
como Waze e HD Traffic, que funcionam através da coleta da posição de uma base
imensa de usuários, podendo então efetuar cálculos de velocidade, que identificam
engarrafamentos e outros problemas como acidentes e problemas na pista. Serviços
como o Moovit oferecem cálculo de rotas de transporte público, tudo através da
colaboração dos usuários, que informam mudanças de trajeto e avaliam a qualidade
dos referidos serviços, gerando dados de controle que podem ser enviadas aos
órgãos de trânsito das cidades cobertas pelo serviço.
Dito isso, iniciativas colaborativas que envolvam o mapeamento não são tão
comuns. Mais raras ainda são aquelas envolvendo as ANMs (Agências Nacionais de
Mapeamento), com apenas um projeto tendo sucesso em sua atividade.
O caso de maior sucesso é sem dúvida nenhuma o do OpenStreetMap, que
será melhor detalhado no próximo capítulo. A seguir, serão destacadas outras
iniciativas competentes em seus objetivos de mapeamento.
32
3.3.1. WikiMapia
O serviço se define como sendo um mapa colaborativo, multilinguístico e de
fonte aberta, onde qualquer um pode criar etiquetas locais e contribuir com seu
conhecimento. Tendo como objetivo a descrição do mundo inteiro, o WikiMapia
compila qualquer informação válida sobre objetos geográficos (ruas, rios, florestas,
prédios, etc.) e os disponibiliza de modo gratuito e de domínio público. A dinâmica
de atualizações é um dos pontos fortes do serviço, cujo mapa está constantemente
mudando para adequá-lo a realidade (Wikimapia, 2015).
Através do envio de fotografias e links descritivos, os usuários podem
executar as edições on-line, adicionando características às diversas categorias de
objetos. O serviço se utiliza de uma dinâmica de experiência, onde voluntários mais
experientes tem acesso a ferramentas de edição mais avançadas, como marcações
de rios, ferrovias e linhas de balsa.
Lançado em maio de 2006 em Moscou, o serviço conta hoje com mais de 24
milhões de etiquetas geográficas (última contagem em 18 de julho de 2015) e
usuários em diversas partes do mundo (Wikimapia, 2015).
3.3.2. Google Map Maker
Lançado em junho de 2008 pela Google, o serviço foi idealizado devido ao
fato de existirem algumas dificuldades na integração de dados de mapeamento em
certos países que preferem não disponibilizá-los. Através dele, usuários podem de
modo voluntário, adicionar, editar e validar dados geográficos, inicialmente em
algumas regiões do planeta (Google, 2015).
O Google Map Maker tem o propósito de integrar a base já existente do
serviço de mapeamento da Google, o Maps. Deste modo, as atualizações dos
usuários no Map Maker, após serem revistas e aprovadas pelos moderadores do
Google, são integradas no Maps. Os contribuintes podem desenhar feições
geográficas (rodovias, ferrovias, rios, edifícios e serviços) diretamente no mapa, nas
áreas liberadas para edição. O serviço utiliza as três primitivas geográficas (ponto,
33
linha e polígono) nas ferramentas de edição, possibilitando uma vasta gama de
edições aos usuários (Google, 2014).
Uma crítica ao sistema é que ele depende da qualidade das imagens orbitais,
que, em locais onde não há consistência nestas imagens, as edições se tornam
mais raras e esparsas.
Outra crítica é o tipo de contrato que o contribuinte está sujeito. Para registrar-
se no serviço, deve-se fornecer ao Google “uma licença perpétua, irrevogável,
mundial, isenta de royalties e não exclusiva para reproduzir, adaptar, modificar,
traduzir, publicar, executar publicamente, exibir publicamente, distribuir e criar obras
derivadas do Material do Usuário” (Google, 2014). Isso significa que, uma vez
registrada a edição, não há garantia de retorno, download ou publicação em material
próprio do usuário.
Feições criadas por usuários novatos são moderadas por aqueles mais
experientes antes de serem adicionadas à base do Maps. Conforme se cria
confiança, estas edições passam a ser muito menos moderadas, até chegar ao
ponto de serem incluídas automaticamente na base do Maps.
Atualmente, apenas algumas partes do planeta não estão disponíveis para
serem editadas (Argentina, Chile, Colômbia, China, Japão, Indonésia, Tailândia,
Israel, Líbano, Jordânia, Irlanda, Espanha, Portugal e no enclave de Gibraltar), mas
devido a problemas com os protocolos de segurança e revisão das edições, o
serviço está suspenso desde 12 de maio de 2015 (Google, 2014).
3.3.3. The National Map Corps
Única grande iniciativa pública de mapeamento colaborativo, o projeto
realizado pelo USGS foi iniciado em 1994 com o nome de Earth Science Corps.
Naquela época, os usuários podiam informar ao USGS possíveis revisões nos
mapas topográficos impressos, através de anotações a mão nos mesmos. Após seis
anos, mais de 3.300 voluntários realizaram edições em até 300 mapas por ano.
Já em 2001, o projeto foi renomeado para The National Map Corps, tendo por
definição uma base geográfica disponibilizada online, feita por voluntários portando
receptores GNSS e coletando informações sobre estruturas geográficas nos Estados
34
Unidos. Para isso, os voluntários são instruídos em como realizar as coletas e
atribuir classes às feições coletadas. Entre 2003 e 2006, mais de 1.000 voluntários
enviaram quase 22.800 informações distribuídas entre formulários, e-mails e até
notas escritas à mão, conforme ilustrado na Figura 7.
Figura 7 - Anotações dos Usuários em Folhas Topográficas do USGS - Fonte: USGS National Map
Corps
No período de 2006 a 2008 foi desenvolvida uma ferramenta baseada na
web, que foi utilizada por 401 voluntários coletando 3.847 pontos que foram
armazenados em base de dados. Nesse período, o programa obteve maturação,
formando comunidades de usuários ativos e integrados, que disseminaram o projeto
para professores de todo o país.
Em 2008, devido à crise mundial que afetou principalmente a Europa e os
Estados Unidos, o programa foi suspenso devido a limitações do orçamento, sendo
reestruturado e relançado em 2012, através da liberação do mapeamento no estado
do Colorado e, posteriormente, em 2013, em outros 15 estados (Figura 8).
35
Figura 8 - Estados Disponíveis para Edição até Julho de 2014 – Fonte: USGS National Map Corps.
Atualmente, o projeto além de caracterizar-se por ser a única iniciativa pública
de sucesso que envolva mapeamento colaborativo, está também se integrando ao
OpenStreetMap (Wolf et al, 2011). Diversos workshops e sistemas estão sendo
desenvolvidos entre as duas organizações visando a integração dos dados
voluntários.
36
3.4. OpenStreetMap e EpiCollect
3.4.1. OpenStreetMap
Em sua própria definição, é um mapa gratuito e editável do mundo, que está
em permanente construção de modo voluntário e disponibilizado sob uma licença
aberta, o que protege o projeto de uso malicioso por terceiros.
Tendo seus servidores instalados na University College London, o projeto é
suportado pela empresa britânica Bytemark, que oferece ferramentas para os
desenvolvedores e os responsáveis pela manutenção dos dados.
Fundado em 2004, o OpenStreetMap foi desenvolvido para mapeamento do
Reino Unido, devido às restrições de acesso oferecidas pela ANM local – o
Ordnance Survey – e as de outros países. Em 2006, foi criada a OpenStreetMap
Foundation, com o objetivo de disseminar as práticas de produção, desenvolvimento
e distribuição de dados livres em outros países e comunidades. No início, os
usuários podiam editar a base com os seus próprios pontos retirados de dispositivos
GNSS e imagens aéreas de domínio público. Em dezembro de 2006, o Yahoo!
liberou sua base de imagens orbitais para uso dos produtores. Já em 2008, o projeto
desenvolveu ferramentas para usuários de receptores GNSS poderem atualizar seus
mapas internos, substituindo os pré-carregados (proprietários), que tem atualização
mais lenta. Em 2010, o Bing, serviço da Microsoft, liberou suas imagens aéreas para
os produtores realizarem edições.
Atualmente, o serviço é composto de um editor online com interface intuitiva,
que fica liberado após o usuário criar uma conta particular para edições. Também
está disponível um pacote de instalação, este com ferramentas de edição avançada,
semelhantes a qualquer software de SIG disponível.
Um dos diferenciais do projeto são as chamadas “mapping parties”, que são
workshops locais, visando o aumento da cobertura e do detalhamento do serviço
nas áreas onde são realizados para atrair novos voluntários (Perkins et al, 2008).
Haklay (2010) destaca que a parte mais expressiva do projeto é a rapidez de
coleta e integração dos dados à base. Em um curto espaço de tempo, um terço do
território da Inglaterra já havia sido mapeado por uma equipe de 150 participantes
37
auxiliados pontualmente por outros 1000. Após a integração da base de imagens de
alta resolução do Yahoo!, o processo se refinou ainda mais, chegando aos atuais 6
metros de acurácia média e quase 100% de mapeamento da infraestrutura de
transporte em diversas partes do mundo, incluindo o Reino Unido, a Alemanha, a
França, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e todas as capitais estaduais do
Brasil e o Distrito Federal.
O OSM (OpenStreetMap) se destaca também por servir a situações de
emergência humanitária, como terremotos, epidemias, entre outros. Em 2010, uma
semana após o terremoto que atingiu o Haiti e deixou 100.000 mortos, quase todo o
país estava mapeado, incluindo rodovias, localidades e estruturas de serviço. Para
isso, milhares de usuários do mundo inteiro contribuíram com seu tempo para o
mapeamento, se utilizando de imagens orbitais e receptores GNSS. Um dos casos
recentes e de grande movimentação no projeto foi a epidemia do vírus Ebola na
África Ocidental (especificamente na Libéria, Serra Leoa, Guiné, Mali e Nigéria). Em
três dias, foi feito um grande esforço para mapeamento de todas as grandes
concentrações humanas atingidas, entre cidades e vilas, passando por estradas,
prédios e até rios. Após um mês todos os países citados tinham bases completas e
feitas de modo absolutamente voluntário.
Pensando nisso, o OSM criou o HOT (Humanitarian OpenStreetMap Team/
Equipe Humanitária do OpenStreetMap), que se encarrega do planejamento e
coordenação de atividades pós-desastre. Além disso, o HOT também vai incentivar
o mapeamento de áreas onde há potencial de catástrofes, como proximidades de
vulcões e áreas de alto tectonismo, grandes concentrações populacionais com
pouco ou nenhum acesso a saneamento básico e serviços de saúde, e regiões com
grande estresse militar.
3.4.2. EpiCollect
A aplicação móvel EpiCollect é uma ferramenta de coleta de dados que
permite ao usuário coletar e cadastrar informação georreferenciada em um website
de projeto através de plataformas móveis (com sistema Android ou iOS). Todos os
dados sincronizados podem ser visualizados e manipulados com liberdade no
38
website do projeto correspondente ou no próprio aparelho responsável pelo registro,
como representado na Figura (Aanensen et al., 2009).
É um projeto de código aberto, desenvolvido no Departamento de
Epidemiologia de Doenças Infecciosas na Imperial College London com fundos do
The Wellcome Trust. Através do smartphone, todos os dados podem ser enviados
para qualquer servidor (sendo que os fornecidos pelo Google AppEngine são
oferecidos por padrão e de modo gratuito) a qualquer momento em que haja
conexão com a internet. Em áreas remotas, onde as redes de telecomunicações são
precárias ou inexistentes, o aplicativo consegue armazenar todos os dados
coletados e cadastrar coordenadas do receptor GNSS do aparelho para,
posteriormente já com internet, estas poderem ser enviadas ao servidor
responsável.
Figura 9 - Estrutura do EpiCollect - Fonte: adaptado de Aanensen et al., 2009.
39
4. METODOLOGIA
4.1. Determinação da Área Inicial de Estudo
Inicialmente foi realizada uma consulta espacial na base do OSM referente
aos estabelecimentos comerciais de postos de combustível na cidade do Rio de
Janeiro. Verificou-se então que a região que compreende as RAs (Regiões
Administrativas) de Jacarepaguá (XVI RA) e da Barra da Tijuca (XXIV RA),
representadas na Figura 9 possuem postos em um bom número e bem distribuídos.
Aliado a isso, a facilidade de locomoção na região, a boa infraestrutura de transporte
e a relativa segurança encontrada nesses locais foram fatores determinantes para a
escolha dessas regiões como área de estudo.
Figura 10 – Recorte territorial escolhida para as Coletas de Teste - Fonte: O autor, 2015.
40
A consulta espacial resultou em 65 postos registrados na base do OSM na
área delimitada, sendo 31 na RA da Barra da Tijuca e os outros 34 na RA de
Jacarepaguá (Figura 10).
4.2. Elaboração do Questionário
Para que fossem coletados os dados necessários para a realização deste
trabalho, optou-se pelo modelo de questionário, ou seja, os voluntários deveriam
responder a perguntas previamente definidas e que trouxessem as respostas
necessárias para que se atingisse o objetivo do projeto, que é de construção de uma
base voluntária de postos de combustível. Esse questionário seria preenchido
através da aplicação móvel, o EpiCollect, que foi apresentado anteriormente no
capítulo 3.4.2.
Figura 11 - Distribuição dos postos nas áreas de Coleta de Teste – Fonte: O autor, 2015.
41
Para elaborar o questionário determinou-se o conjunto de informações
necessárias para a caracterização de um posto de combustível e os serviços
oferecidos por ele. São eles:
Operador – empresa que realiza a operação do posto e é, portanto, a
responsável legal por ele;
Loja de Conveniência – estabelecimento comercial dependente do
posto e que comercializa itens diversos;
Caixa Eletrônico – equipamento que realiza transações bancárias e
que é comumente encontrado em postos de combustível;
Combustível – são quatro tipos mais comuns, sendo eles: gasolina,
diesel, etanol e GNV (Gás Natural Veicular);
Serviço de Lavagem – podendo ser de dois tipos, automático (quando
é realizado por máquinas automatizadas) e manual (quando é
realizada por funcionários do posto);
Estacionamento;
Serviços Mecânicos – são inúmeros, mas para este questionário
determinaram-se os mais comuns e relevantes para a pesquisa, sendo
eles: borracharia, calibração dos pneus, troca do extintor de incêndio,
troca da palheta do vidro e troca do óleo do motor;
Itens Vendidos na Loja de Conveniência – foram considerados itens
relevantes à pesquisa: refrigerantes, bebidas alcoólicas, sorvetes e
presentes em geral. A escolha da inclusão do item “bebidas alcoólicas”
foi motivada pela Lei Estadual nº 3.193, de 15 de março de 1999, que
dispõe sobre a proibição da venda e do consumo de bebidas alcoólicas
nas redes de postos de combustíveis no estado do Rio de Janeiro.
Para que se passasse à elaboração das perguntas do questionário, houve a
necessidade de se determinar o público-alvo que iria ser envolvido no projeto. Foram
escolhidas então turmas do curso de Engenharia Cartográfica e de Geografia, por
serem áreas de estudo que estão mais próximas da informação geoespacial e que
dela dependem, tendo real consciência de sua importância.
42
Prosseguiu-se então para a elaboração das perguntas, que deveriam ser de
interpretação fácil e direta. Além disso, deveriam ser imparciais e diretas com os
coletores, evitando-se assim perguntas ambíguas ou que poderiam ter interpretação
diferente daquela idealizada (Chagas, 2000). Foi incluída uma pergunta para que o
usuário contribuísse com comentários ou sugestões sobre o projeto, de modo a
possibilitar uma participação mais inclusiva no projeto. O Quadro 2 representa o
questionário elaborado e que foi posteriormente carregado no EpiCollect.
Perguntas Respostas Possíveis
Qual o operador do
Posto? Petrobras BR, Ipiranga, Shell/Esso, Ale ou Outros.
O posto oferece caixa
eletrônico?
Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco,
Santander, 24 Horas, Outros ou Não Possui.
O posto oferece loja
de conveniência?
Bob’s, Subway, BR Mania, Mc Donald’s, AM/PM, Outros ou Não
Oferece.
Quais os tipos de
combustível
vendidos?
Gasolina, Etanol, Diesel e GNV.
O posto oferece
lavagem? Sim, do tipo Manual; Sim, do tipo Automático; Não Oferece.
O posto oferece
serviços mecânicos?
Borracheiro, Calibrador, Troca Extintor, Troca Palheta do Vidro,
Troca Óleo e Não Oferece.
O posto oferece
estacionamento? Sim ou Não.
Dos seguintes itens,
algum é vendido no
posto?
Refrigerantes, Bebidas Alcoólicas, Sorvetes, Presentes ou Não
Vende Nenhum dos Itens.
Existe algum curso
d’água próximo ao
posto?
Sim ou Não.
43
Comentários ou
sugestões? Resposta Livre.
Quadro 2 - Questionário para preenchimento no EpiCollect – Fonte: O autor, 2015.
4.3. Programação do EpiCollect
Foi feita então efetuando o carregamento do questionário elaborado no
aplicativo EpiCollect, para que este fosse disponibilizado para a coleta. Para isso
criou-se um projeto de coletas no aplicativo, nomeado de “PostosRJ”, onde os
usuários deveriam enviar as informações registradas. Neste trabalho, para o
recebimento e armazenamento das informações se utilizou o servidor padrão
oferecido pelo aplicativo, que é o Google AppEngine (Aanensen et al, 2015). Através
de um sistema point and click, montou-se a estrutura para inclusão do questionário,
como representado na Figura 12.
Figura 12 - Esquema da construção da estrutura do questionário - Fonte: O autor, 2015.
44
A partir daí foram realizadas as coletas propriamente ditas, que serão
descritas, bem como seus resultados, a seguir.
45
5. ATIVIDADES E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para que fossem atingidos os resultados decidiu-se separar as coletas em
duas fases. A primeira, de testes, para melhor assimilação dos resultados e da
dimensão das contribuições, e que seria realizada na área delimitada anteriormente.
A segunda e última, mais livre, onde se disponibilizaria o aplicativo para outros
contribuintes, não havendo limite na área de estudo.
O registro ideal deveria conter fotografia do posto, coordenada geodésica
aferida pelo receptor GNSS do aparelho celular e questionário preenchido com todas
as questões respondidas. Os problemas que poderiam ser encontrados são
justamente a falta dessas informações em algum registro, sendo a falta de
coordenadas e de fotografias as mais graves, pois nesse caso fica inviabilizada a
verificação visual realizada na análise dos resultados.
Assim, realizou-se a programação do processo de coletas e de análise de
resultados, representado a seguir:
1) Criação de um tutorial e exposição do projeto para a turma responsável
pela Coleta de Testes;
2) A turma realiza as coletas e sincroniza os resultados com o servidor;
3) Análise dos resultados das Coletas de Teste;
4) Divulgação do projeto para outras turmas;
5) As turmas realizam as coletas e sincronizam os resultados com o servidor;
6) Análise dos resultados de todas as coletas;
7) Realização da estatística descritiva dos resultados.
A seguir, são descritos as coletas e os resultados, bem como as análises dos
mesmos.
46
5.1. Coletas de Teste
A exibição do projeto e seus objetivos à turma responsável pelas coletas de
teste foi realizada durante a aula do dia 27 de novembro de 2014. Neste mesmo dia
foi realizada também a exposição do EpiCollect e sua configuração, para que os
coletores pudessem enviar as informações para o servidor do projeto. Como a turma
era composta de 16 alunos, foram feitas as divisões da área de estudo em quatro
partes e da turma em quatro grupos de quatro alunos cada. Estes grupos foram
alocados para cada parte de acordo com o conhecimento local de cada um, que é
um fator determinante para bons resultados (Coleman et al, 2009).
As coletas do grupo de teste foram realizadas entre 28 de novembro de 2014
e 18 de janeiro de 2015, totalizando 114 registros e cerca de 80 postos diferentes
coletados, representados na Figura 13. Para efeito de verificação dos
procedimentos, foi feito o acompanhamento de toda a coleta realizada por um dos
grupos, sendo esse o responsável pela área da Barra da Tijuca a leste da Avenida
Ayrton Senna.
Figura 13 - Registros coletados na Primeira Fase/Coleta de Testes - Fonte: O autor, 2015.
47
Prosseguiu-se então com a análise dos resultados das coletas. Do total de
114 registros, apenas cinco estavam sem fotografias, nenhum sem coordenadas,
apesar de 57 não apresentarem seus questionários completos. Notou-se que
informações como produtos vendidos, presença de caixa eletrônico e proximidade
de curso d’água não foram respondidas de forma satisfatória, com apenas 18
registros dentre os 57 mencionados tendo respostas para essas questões. A tabela
3 reúne as características dos registros da fase de testes.
Ocorrência Total Proporção (%)
Registros sem Coordenadas 0 0
Registros sem Fotografias 5 4,39
Registros sem Bandeira do Posto 36 31,58
Registros sem Caixa Eletrônico 39 34,21
Registros sem Loja de Conveniência 39 34,21
Registros sem Tipos de Combustível 39 34,21
Registros sem Lavagem 39 34,21
Registros sem Serviços Mecânicos 39 34,21
Registros sem Estacionamento 39 34,21
Registros sem Itens Vendidos 39 34,21
Registros sem Curso d’água 39 34,21
Total de Registros 114 100
Tabela 1 - Características dos Registros da Coleta de Teste - Fonte: O autor, 2015.
Concluiu-se então que as coletas foram relativamente satisfatórias, com
aproximadamente 65% dos registros válidos para o projeto. Prosseguiu-se então
para a segunda fase de coletas.
48
5.2. Segunda Fase de Coletas
Foi feita a divulgação do projeto para outras turmas do curso de Engenharia
Cartográfica da UERJ e também para a turma de Cartografia Básica e Temática, do
curso de Geografia da mesma universidade.
Como dito, as coletas foram realizadas desta vez sem limitação de área,
desde que estivessem dentro do município do Rio de Janeiro e nos municípios
vizinhos. Essa etapa se iniciou em 05 de abril de 2015 e transcorreu até 02 de maio
do mesmo ano.
Verificaram-se nessa etapa 30 registros e todos em postos distintos. Os
registros ocorreram em diversas áreas do Grande Rio, sendo a maioria na Zona
Norte da cidade (bairros da Vila da Penha, Irajá, Benfica e Bonsucesso), mas com
ocorrências também no Centro, na Zona Sul (bairros do Catete, Flamengo e
Laranjeiras) e nos município de Niterói e São Gonçalo (Figura 14).
Figura 14 - Registros coletados na Segunda Fase de Coletas - Fonte: O autor, 2015.
49
Feita a análise dos registros, pôde-se concluir que as coletas foram muito
satisfatórias, com apenas dois registros sem fotografias e nenhum sem coordenada.
Em adição a isso, nenhum registro estava incompleto. A análise desta fase da coleta
está a seguir na Tabela 4.
Ocorrência Total Proporção (%)
Registros sem Coordenadas 0 0
Registros sem Fotografias 2 6,67
Registros sem Bandeira do Posto 0 0
Registros sem Caixa Eletrônico 0 0
Registros sem Loja de Conveniência 0 0
Registros sem Tipos de Combustível 0 0
Registros sem Lavagem 0 0
Registros sem Serviços Mecânicos 0 0
Registros sem Estacionamento 0 0
Registros sem Itens Vendidos 0 0
Registros sem Curso d’água 0 0
Total de Registros 30 100
Tabela 2 - Características dos Registros da Segunda Fase de Coletas – Fonte: O autor, 2015.
Concluiu-se que as coletas foram muito satisfatórias, com apenas 7%,
aproximadamente, de registros descartados. Apesar do número menor de registros
observados na Segunda Fase, a qualidade das informações contribuídas foi
excelente. Pôde-se então prosseguir a análise final dos resultados.
5.3. Análise Final dos Resultados
Foram coletados 144 registros, distribuídos pelo município do Rio de Janeiro,
Niterói e São Gonçalo. O resultado final das coletas se encontra na Figura .
50
De posse dos dados das duas coletas, efetuou-se a análise final do trabalho.
A Tabela 5 e o Gráfico 1 a seguir demonstram os resultados das duas fases de
coleta em conjunto, além da estatística descritiva dos dados.
Ocorrência Total Proporção (%)
Registros sem Coordenadas 0 0
Registros sem Fotografias 7 4,86
Registros sem Bandeira do Posto 36 25
Registros sem Caixa Eletrônico 39 27,08
Registros sem Loja de Conveniência 39 27,08
Registros sem Tipos de Combustível 39 27,08
Registros sem Lavagem 39 27,08
Registros sem Serviços Mecânicos 39 27,08
Registros sem Estacionamento 39 27,08
Registros sem Itens Vendidos 39 27,08
Registros sem Curso d’água 39 27,08
Total de Registros 144 100
Tabela 3 - Resultado Final da Coleta - Fonte: O autor, 2015.
Figura 15 - Registros coletados ao final do trabalho - Fonte: O autor, 2015.
51
Em pelo menos 36 casos (25% dos registros) não houve nenhuma informação
coletada exceto coordenadas e fotografias. Em outros três casos apenas a bandeira
do posto foi informada. Em geral, aproximadamente 73% dos registros estão
completos, o que demonstra que as coletas tiveram um bom resultado e que os
dados coletados tem uma boa qualidade.
Prosseguiu-se então para a adaptação dos registros para o padrão OSM e o
carregamento dos mesmos na base do serviço.
5.4. Estruturação e Carregamento da Base Colaborativa no OSM
Para se integrar os registros que passaram pela análise final, deve-se
primeiro esclarecer que o padrão de informações utilizado pelo OSM é bastante
livre. Através do sistema de etiquetas onde qualquer usuário tem permissão de criar
novas, editar já existentes ou se utilizar daquelas criadas por outros usuários, as
informações vão sendo carregadas e atualizadas. Isso a princípio pode ser
interessante para o propósito do mapa aberto e colaborativo, mas no que concerne
os padrões de dados utilizados pelas ANMs, ele se torna difuso e pouco rígido, o
que deixa de ser atrativo. Um dos principais pontos de discussão na possível
Registrossem
Coordenadas
Registrossem
Fotografias
Registrossem
Bandeirado Posto
RegistrossemCaixa
Eletrônico
Registrossem Loja
deConveniê
ncia
Registrossem
Tipos deCombustí
vel
Registrossem
Lavagem
Registrossem
ServiçosMecânico
s
Registrossem
Estacionamento
Registrossem ItensVendidos
Registros sem
Curso d’água
Total 0 7 36 39 39 39 39 39 39 39 39
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Nú
me
ro d
e O
corr
êcn
ias
Gráfico 1 - Resultado Final da Coleta - Fonte: O autor, 2015.
52
integração entre USGS e OSM, já mencionada anteriormente, é justamente o padrão
de dados.
Por isso, para este trabalho, estabeleceu-se um padrão de etiquetas
específicas para representação de cada aspecto do dado coletado. São elas:
Etiqueta Possíveis Respostas
amenity (amenidade) fuel (combustível)
brand (marca) Petrobras, Ipiranga, Shell, Esso ou Ale.
name (nome) Marca antecedido da palavra “Posto” (ex. Posto Ipiranga).
operator (operador) Petrobras, Ipiranga, Shell, Esso ou Ale.
atm (caixa eletrônico) Banco do Brasil, Caixa Econômica, Itaú, Bradesco, Santander
e 24 Horas.
shop (loja) convenience (conveniência)
shop_name Bob’s, Subway, BR Mania, Mc Donald’s, AM/PM ou Outros.
type_of_fuel (tipo de
combustível) gasoline, ethanol, gnv e diesel.
service (serviço)
tyres (calibrador/borracheiro), fire extinguisher (troca de
exintor), oil (troca de óleo), glass reed (palheta de vidro),
manual washing (lavagem manual) e auto washing (lavagem
automática).
parking (estacionamento) surface (superfície/descoberto) ou undergound (subterrâneo).
shop_items (itens
vendidos)
soft drinks (refrigerantes), alcoholics (bebida alcoólica), gifts
(presentes) e ice creams (sorvetes).
Quadro 3 - Padrão de etiquetas utilizadas no OSM para este trabalho - Fonte: O autor, 2015.
Deve se esclarecer que se utilizou a língua inglesa para nomear as etiquetas
apenas para propósito de adequação ao sistema do OSM, cuja língua original é o
inglês.
Outra importante observação é a de que as etiquetas “amenity”, “brand”,
“name”, “operator” são obrigatórias para qualquer registro. A etiqueta “shop” e
“shop_name” se tornam obrigatórias quando existir informação sobre loja de
conveniência.
53
Todos os registros foram então incluídos na base do OSM seguindo o padrão
estabelecido, atingindo-se assim, o objetivo secundário proposto no início deste
trabalho.
54
6. PROPOSTA DE COMPLEMENTAÇÃO PARA A REAMBULAÇÃO
Completado o estudo da qualidade das informações voluntárias, propõem-se
cinco pontos para a sua implantação nas atividades de reambulação dos órgãos
oficiais. A seguir, na Figura 12, está o fluxograma proposto, sendo cada etapa
melhor desenvolvida na sequência.
Figura 16 - Fluxograma de Implantação da Proposta - Fonte: O autor.
E. Desenvolvimento de workshops nos moldes das "mapping parties" do OSM
Os workshops são essenciais para atração e estímulo da participação da população. Os próprios reambuladores são peças fundamentais nessa fase.
D. Integração com bases colaborativas já consolidadas
As bases de clubes de montanhismo ou de trilhas são bem estruturadas e consolidadas. Pode-se buscar também integração com o OSM, nos moldes do projeto que o USGS já desenvolve.
C. Criação de equipes oficiais de reambuladores que serão encarregadas da validação
No contexto oficial, não se pode criar estruturas de confiança como as de projetos privados. Isso diminui a possibilidade de corrupção da informação.
B. Divulgação do aplicativo e do projeto de mapeamento colaborativo
O público alvo deve priorizar a faixa etária de 15 a 30 anos, de modo que estes indivíduos tem maior participação em projetos comunitários e integração com as novas tecnologias.
A. Desenvolvimento do aplicativo oficial para cadastro das informações
Deve ser utilizado o cadastro de cada usuário, de modo que os mesmos possam ser identificados para recompensas futuras.
55
A seguir o desenvolvimento de cada etapa da proposta e as suas
particularidades.
A. Desenvolvimento de um aplicativo oficial para a coleta de informações
pela população. Uma das exigências na criação do aplicativo é a
utilização de um cadastro de cada usuário, podendo esse ser feito
através das redes sociais existentes, como o Facebook. Desse modo,
os usuários podem ser recompensados, por exemplo, através da
publicação de seus nomes nas listas de contribuintes do órgão oficial.
B. Divulgação do aplicativo e do serviço para a população, visando
principalmente às redes sociais e outras mídias digitais. O público alvo
é variado, entretanto deve-se priorizar a faixa etária de 15 a 30 anos,
vista a alta participação desses indivíduos em outros projetos e a sua
integração com as novas tecnologias.
C. Criar equipes de reambuladores nos órgãos oficiais que serão
encarregadas de validar todas as informações que chegarem. Nesse
caso, não se pode criar estruturas de confiança, como aquela utilizada
pelo Google Map Maker, devido ao alto grau de confiabilidade que a
informação poderá ter no futuro. Isso também diminui a possibilidade
de corrupção da informação, o que já aconteceu com o serviço do
Google.
D. Buscar maior integração com bases já consolidadas, como as de
clubes de montanhismo ou de trilhas, e outras organizações que
possuam bases voluntárias que podem ser absorvidas no mapeamento
oficial. Um exemplo dessas bases é a que reúne nomes de alguns
acidentes geográficos (montanhas e picos), que, em geral, reúne muita
informação considerada essencial para os mapas oficiais (Santos,
2008).
Outro modelo de integração pode ser feito nos moldes do que o USGS
vem fazendo com o OSM, adaptando as bases oficiais para
recebimento destas informações e posterior adição delas no mapa
nacional dos Estados Unidos (Wolf et al, 2011).
56
E. Adaptação das chamadas “mapping parties”, que são desenvolvidas
pelo OSM e que promovem a interação entre a comunidade e o
conhecimento do espaço geográfico pela mesma. No caso das
agências oficiais, esses encontros podem ser promovidos para
estimular a coleta em determinada região onde se faz necessário um
maior volume de informações. A ida dos próprios reambuladores e de
outros profissionais técnicos dos órgãos oficiais pode aproximar a
população do processo de construção do território e desenvolver uma
nova cultura, já presente em outros países, de participação pública
mesmo em áreas pouco próximas do público em geral, que é o caso da
cartografia oficial.
De modo geral, a proposta visa promover a discussão para um maior
aproveitamento das bases já existentes e que estão sendo constantemente
atualizadas num ritmo muito superior àquele das bases oficiais. Para isso, a inclusão
dos profissionais da reambulação no processo de integração é fundamental, pois
apenas eles conhecem as características inerentes do serviço que prestam, e
podem facilmente observar um registro mal coletado, ou então com informações
prestadas que não condizem com a experiência acumulada ao longo de anos de
trabalho. Vale ressaltar que, no caso de dados que apresentem conflito entre si,
apenas o reambulador tem a competência de sanar esse problema, através de sua
ida ao local duvidoso e cadastrando a informação verdadeira.
Deve-se esclarecer também que, no caso de demandas judiciais, apenas as
informações coletadas pelos reambuladores são válidas para a resolução da
questão que se apresenta.
Quanto à recompensa, como foi dito anteriormente, o usuário quer ver sua
contribuição utilizada e o mais rápido possível, de modo que diversas formas de
recompensa podem ser instituídas no projeto, as mais comuns sendo e-mails
automáticos, listas ou rankings de contribuições e até inclusão do nome do
voluntário nos metadados finais da base oficial. Bearden (2007) menciona a falta de
capacidade das agências oficiais integrarem com rapidez as atualizações feitas
pelos voluntários, o que faz com que os contribuintes se afastem destes projetos.
A questão da interação Estado-Sociedade também deve ser considerada,
visto estudos feitos pelo instituto C2C (Citizen to Citizen) – que concluiu que os
57
cidadãos interagem com outros cidadãos de forma mais intensa quando comparados
com interações com o Estado, que chegam por vezes a evitar – e pela revista The
Economist, que demonstrou que “os indivíduos estão menos preocupados em dar
suas informações pessoais a uma companhia privada do que ao governo” (Coleman
et al, 2009).
Segundo Haklay (2010), o objetivo não é comparar as coletas voluntárias com
as dos profissionais, mas sim entender que os contribuintes são suportados por uma
infraestrutura profissional e desenvolvem, eles mesmos, habilidades
tradicionalmente técnicas, através da interação crescente com o projeto.
Diferente do que aconteceu com os levantamentos na última década, quando
os processos tradicionais e os profissionais que os dominavam foram sendo
substituídos pelos sistemas GNSS de alta precisão e operadores que não
necessitavam de muito treinamento, a integração do mapeamento colaborativo na
reambulação traria uma maior importância para a área. O potencial que as
informações têm de dinamizar e atualizar as bases de dados é enorme, resolvendo
assim, parte de grandes problemas enfrentados pelas ANMs, que são a atualização
cartográfica e a dinâmica ultrapassada em que se encontra o mapeamento oficial.
58
CONCLUSÕES
Este trabalho teve por finalidade principal propor uma atualização para a
etapa do mapeamento oficial, a reambulação. Em um contexto maior, espera-se que
essa discussão se estenda para toda a ciência cartográfica.
Atualmente a colaboração entre pessoas em prol de um bem coletivo tem se
mostrado cada vez mais imprescindível para a sociedade tornando-a
computacionalmente habilitada e interconectada oferecendo novos serviços ao
cidadão. A cartografia é justamente um destes bens coletivos importantíssimo para a
sociedade e que mais tem se popularizado com os avanços tecnológicos sendo
disponibiliza a cada dia novos serviços onde o mapa é fundamental para o cidadão.
Num mundo de mais de sete bilhões de habitantes, onde cada um produz e
armazena quantidades enormes de informação durante toda a vida, como nomes
locais, rotas, redes de transporte, informações de relevo e clima, etc. deve-se incluir
esses indivíduos rapidamente no mapeamento (Goodchild, 2007). Eles são talvez a
fonte de informações mais dinâmica e assertiva que existe.
As ANMs tem responsabilidade de sempre prestar serviços de qualidade e
atualizados de acordo com a demanda da sociedade. O que se vê atualmente é que
a sociedade civil no Brasil pouco está integrada com os órgãos oficiais, preferindo
utilizar serviços privados como o Google Maps ou o HERE Maps. Isso traz uma
disparidade entre a realidade rígida e ultrapassada que a agência está inserida, e
aquela mais dinâmica e funcional que os usuários se encontram.
Atualmente, apenas o USGS está discutindo como realizar a transição para
um modelo mais participativo, no caso, através do OSM (Poore, 2012). Outras
agências também deveriam estar interessadas nessa transição, escolhendo o
caminho que acharem melhor, mas cujo objetivo seja uma integração Estado-
Sociedade crescente e eficiente. Entretanto, o processo está longe de ser simples
ou ter respostas universais a todas as perguntas que se apresentam.
Alguns órgãos oficiais – destacando-se os canadenses – há 40 anos
começaram a adotar uma postura de privatização das funções de mapeamento em
suas jurisdições, passando a realizar um trabalho extensivo de controle de qualidade
59
e de filtragem. Essa discussão não foi concluída de modo fácil. O controle que as
organizações detinham sobre o mapeamento era muito grande e dividi-lo foi um
ponto de incômodo para a maioria delas. No caso atual, da integração com os
serviços voluntários, não é diferente. Oferecer controle e responsabilidade pode ser
uma questão muito sensível para muitas agências (Coleman et al, 2009).
Outra questão a se considerar é a recompensa às contribuições. Já se sabe
que a proporção 90:9:1 é verdadeira para a maioria dos projetos colaborativos. Isso
significa que 90% dos contribuintes apenas consomem a informação, 9% contribuem
ocasionalmente e apenas 1% da comunidade tem envolvimento ativo com a
contribuição voluntária de informação (Heipke, 2010). Recompensar usuários
diferentes de formas diversas é uma solução, mas como classificar os mesmos de
modo a mantê-los motivados a contribuir? Essa pergunta ainda está em aberto e
respostas pouco conclusivas vem sendo dadas até então.
Para estarem inseridas no ambiente do VGI, as ANMs precisam aceitar que a
comunidade impõe suas próprias regras, têm seus próprios preceitos e papéis e não
aceitaria nenhum tipo de ação autoritária por parte das agências. Deve-se também
atentar para o fato de que o dado voluntário está em permanente atualização, de
modo que, ao se entregar um produto proveniente dele à sociedade, este estará
imperfeito. Algumas organizações percebem isso como sendo um risco a sua
reputação e a legitimidade do trabalho que fazem, o que se torna em um dos
maiores obstáculos para a integração (Coleman et al, 2009).
Para as agências oficiais desenvolverem-se mais profundamente em um
mundo onde cada vez mais cedo se começa o processo de integração do ser
humano com a tecnologia, então elas precisam primeiramente olhar para si mesmas
e perceber que existe a necessidade de reformulação de seus métodos e
procedimentos, tornando-os mais abertos e integradores, mas também visando
eficiência e qualidade melhores para seus produtos, mantendo a sua tradição.
Depois, devem olhar para fora, para as mídias sociais, como Facebook, Twitter e
Foursquare, onde milhões de usuários a cada segundo compartilham suas
informações de posição, aspectos culturais e físicos dos locais em que se
encontram, etc. Devem olhar para projetos como o OpenStreetMap e WikiMapia,
que em poucos anos, já possuem bases comparáveis às oficiais, que levaram
décadas para chegarem ao estado atual. Por fim, devem olhar para o aspecto social
60
que a cartografia tem, e não apenas o das técnicas e fórmulas, que são
fundamentais, mas que não se sustentam quando se esquece de que a maior
interessada no serviço prestado é a população, que deve sempre ser respeitada e
acolhida no processo de construção da boa cartografia.
61
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