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QUALIDADE DOS SEDIMEQUALIDADE DOS SEDIMEQUALIDADE DOS SEDIMEQUALIDADE DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DANTOS SUPERFICIAIS DANTOS SUPERFICIAIS DANTOS SUPERFICIAIS DA
LAGOA DE ÓBIDOSLAGOA DE ÓBIDOSLAGOA DE ÓBIDOSLAGOA DE ÓBIDOS
Abril de 2008
VERSÃO FINAL
Coordenação: Ramiro Neves, Carlos Vale, Madalena Santos e Patrícia Pereira.
Equipa IPIMAR: Ana Cristina Micaelo, Ana Maria Ferreira, Dalila Serpa, Fábio Pereira, Hilda de Pablo, Isabelina Santos, Joana Raimundo, João Canário, Manuela Falcão, Maria José Gaudêncio, Miguel Gaspar, Miriam Tuaty Guerra, Rute Cesário, Susana Carvalho, Rita Constantino.
Dezembro de 2008
R E L A T Ó R I O
F I N A L
I P I M A R
Ficha de Documentação
Título Title
Qualidade dos sedimentos superficiais da Lagoa de Óbidos
Quality of surface sediments of the Óbidos lagoon
Palavras-Chave Keywords
Monitorização ambiental, contaminantes, macrofauna bentónica, Lagoa de Óbidos
Environmental assessment, contaminants, macrobenthic communities, Óbidos lagoon
Resumo Abstract
O presente relatório visa caracterizar os sedimentos da Lagoa de Óbidos, no que respeita aos parâmetros físico-químicos, aos contaminantes e às comunidades de macrofauna bentónica. São também interpretados os resultados de um ensaio laboratorial onde se avaliou a remobilização de metais dos sedimentos do Braço da Barrosa para a coluna de água. As zonas interiores da Lagoa acumulam maiores quantidades de matéria orgânica e contaminantes. As condições hidrodinâmicas da lagoa parecem estar a ser condicionantes da recuperação do estado ecológico da lagoa, particularmente na margem direita da zona central-interior e no braço da Barrosa. Esta zona poderá estar mais sujeita à sedimentação natural de partículas em suspensão na coluna de água, promovendo uma acumulação de sedimentos finos, usualmente ricos em matéria orgânica.
This report aims to characterize the sediments of the Óbidos lagoon concerning physical-chemical parameters, contaminants and macrobenthic communities. A laboratory assay for the evaluation of metals remobilization from Barrosa sediments to the water column was performed and data will be also interpreted in this report. Inner areas of the lagoon presented higher levels of organic matter and contaminants in the sediments. The lagoon hydrodynamic conditions have a major influence on the ecological status recovery, mainly in the middle lagoon (right side) and Barrosa branch. This area may suffer from a natural sedimentation of suspended particles of the water column, promoting the accumulation of fine sediments, which present generally higher contents in organic matter.
Entidade responsável pelo projecto
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Data de produção Nº de pág. Projecto
Dezembro 2008 58 Caracterização da Lagoa de Óbidos e seus afluentes e do emissário submarino da Foz do Arelho
Revisto por Grau académico
Engenheira Sandra Carvalho Pós-Graduada em Engenharia Sanitária
Ìndice
SUMÁRIO EXECUTIVO ......................................................................................................................... 1
1 ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM ................................................................................................ 3
1.1 PONTOS DE AMOSTRAGEM....................................................................................................... 3
1.2 EXECUÇÃO DA AMOSTRAGEM.................................................................................................. 4
2 METODOLOGIAS LABORATORIAIS........................................................................................... 5
3 RESULTADOS .............................................................................................................................. 10
3.1 CARACTERIZAÇÃO DOS SEDIMENTOS SUPERFICIAIS DA LAGOA DE ÓBIDOS ............................ 10
3.1.1 pH, potencial redox e porosidade................................................................................... 10
3.1.2 Carbono, azoto e fósforo................................................................................................ 11
3.1.3 Classificação dos tipos sedimentares .............................................................................. 11
3.1.4 Matéria orgânica total...................................................................................................... 12
3.1.5 Densidade ........................................................................................................................ 13
3.1.6 Análise multivariada aos dados de granulometria, matéria orgânica e densidade dos
sedimentos.................................................................................................................................... 14
3.1.7 Níveis de metais .............................................................................................................. 15
3.1.8 Níveis de PCB e DDT ..................................................................................................... 16
3.1.9 Biomarcadores orgânicos ................................................................................................ 20
3.1.10 Macrofauna bentónica da lagoa ................................................................................... 23
3.2 ENSAIO LABORATORIAL......................................................................................................... 38
4 CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 42
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 44
ANEXO I........................................................................................................................................... 46
ANEXO II.......................................................................................................................................... 49
Índice de Tabelas
Tabela 1. Coordenadas geográficas das estações de amostragem. ...........................................................3 Tabela 2. Valores de pH, Eh e porosidade (Por.) nos sedimentos superficiais da Lagoa de Óbidos em
Abril de 2008 ......................................................................................................................................10 Tabela 3. Concentrações de carbono (total, orgânico e inorgânico), azoto (total, orgânico e
inorgânico) e fósforo total em sedimentos superficiais da Lagoa em Abril de 2008. ........................11 Tabela 4. Fracções granulométricas (%), mediana (µm), coeficiente de triagem (Qg) e classificação dos
tipos sedimentares das estações amostradas. ....................................................................................12 Tabela 5. Matéria orgânica total (MOT) e densidade húmida (Dw) dos sedimentos superficiais nas
estações amostradas (média ± desvio-padrão). .................................................................................14 Tabela 6. Resultados da análise de componentes principais. ...................................................................15 Tabela 7. Composição de elementos maioritários e vestigiários em sedimentos superficiais da Lagoa
em Abril de 2008. ...............................................................................................................................16 Tabela 8. Concentrações dos compostos organoclorados (PCB, DDE, DDD, DDT), HCB e total de
PAH nos sedimentos superficiais da lagoa de Óbidos em Abril de 2008. .........................................17 Tabela 9. Valores definidos por Long et al. (1995) correspondentes ao “Effect range-low” (ER-L). Os
valores foram comparados e as estações com valores mais elevados são referidas após a seta. � - valores registados na lagoa menores do que os limites; � - valores registados na lagoa maiores do que os limites......................................................................................................................................20
Tabela 10. Concentrações de biomarcadores orgânicos em sedimentos da Lagoa de Óbidos..............22 Tabela 11. Constituição de cada agrupamento faunístico, valores médios (± desvio-padrão) das
variáveis biológicas (S – número de taxa; N – abundância; d – diversidade de Margalef; H’ – diversidade de Shannon-Wiener; J’ – equitabilidade de Pielou) para cada um dos agrupamentos, bem como a abundância (± desvio-padrão) das espécies dominantes (abundância cumulativa de 70% do total do grupo) e exclusivas (com pelo menos 10 indivíduos)...........................................................32
Tabela 12. Taxa indicados pela rotina SIMPER como as que mais contribuem para a dissimilaridade entre os grupos faunísticos.................................................................................................................33
Tabela 13. Características físico-químicas da coluna de água durante o ensaio experimental de remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de água. ......................................................39
Tabela 14. Níveis de metais na coluna de água após 48 de experiência. ................................................39 Tabela 15. Fluxos de metais do sedimento para a coluna de água após 48 de experiência em cada
réplica e os valores médio e erro padrão. .........................................................................................41
Índice de Figuras
Figura 1. Localização das estações de amostragem. ..................................................................................3 Figura 2. Colheita de cores de sedimento superficial no Braço da Barrosa..............................................4 Figura 3. Representação esquemática de um core-tipo usado no ensaio laboratorial para avaliar a
remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de água. ........................................................9
Figura 4. Variação dos teores de matéria orgânica total e da fracção fina (< 63 µm) nos sedimentos das estações amostradas............................................................................................................................13
Figura 5. Variação dos valores da densidade e das fracções fina (< 63 µm) e mais grosseira (> 500 µm) nos sedimentos das estações amostradas. .........................................................................................13
Figura 6. Representação bidimensional da ordenação das estações de colheita por análise de componentes principais. .....................................................................................................................15
Figura 7. Valores médios dos congéneres de PCB (em ng g-1) nos sedimentos superficiais de diferentes áreas da Lagoa de Óbidos. .................................................................................................................18
Figura 8. Valores médios dos vários PAH quantificados (em ng g-1) (Acenaftileno - ANY, acenafteno - ANA, fluoreno - F, fenantreno - P, antraceno - A, fluoranteno - FL, pireno - PY, benzo(a)antraceno - BA, criseno - C, Benzo(b)fluorantreno - BBF, Benzo(k)fluorantreno - BKF, Benzo(e)pireno - BEP, Benzo(a)pireno - BAP, Perileno - Per, Indeno(1,2,3-cd)pireno - IN, Dibenzo(a,h)antraceno - DBA, Benzo(g,h,I)perileno - BPE) nos sedimentos superficiais de diferentes áreas da Lagoa de Óbidos. Concentrações em ng g-1....................................................................................................................19
Figura 9. Concentrações de biomarcadores orgânicos em sedimentos da Lagoa de Óbidos.................21 Figura 10. Índices de avaliação de contaminação fecal. ...........................................................................22 Figura 11. Distribuição da abundância total por local de amostragem dos 12 taxa mais abundantes na
presente campanha de amostragem, seriados por ordem decrescente de abundância.....................24 Figura 12. Variação dos valores médios por estação de amostragem do número de taxa (S), abundância
(N), riqueza específica (d), diversidade de Shannon-Wiener (H’), equitabilidade de Pielou (J’) e biomassa. ............................................................................................................................................27
Figura 13. Dendograma e diagrama de ordenação resultantes das análises efectuadas à matriz de dados biológicos. ...........................................................................................................................................29
Figura 14. Localização dos agrupamentos faunísticos evidenciados pela análise multivariada na lagoa de Óbidos. ...............................................................................................................................................30
Figura 15. Abundância relativa dos grupos taxonómicos principais por agrupamento faunístico identificado na análise multivariada.....................................................................................................31
Figura 16. Curvas ABC e valor de W estatístico para as estações amostradas na lagoa de Óbidos. A azul representa-se a biomassa e a verde a abundância.......................................................................34
Figura 17. Distribuição espacial do W estatístico nas estações amostradas na lagoa de Óbidos. ..........35 Figura 18. Variação do índice biótico AMBI (topo) e do M-AMBI (base) para cada uma das estações de
amostragem. Quadrados amarelos – estações do grupo faunístico A; quadrados laranja – estações do grupo faunístico B; quadrados castanhos – estações do grupo faunístico C. ...............................36
Figura 19. Variação da percentagem relativa dos taxa pertencentes aos diferentes grupos ecológicos contemplados no índice biótico AMBI para cada uma das estações de amostragem. I – sensíveis; II – indiferentes; III – tolerantes; IV – oportunistas de 2ª ordem; V – oportunistas de 1ª ordem. ..........36
Figura 20. Análise comparativa do índice biótico AMBI em 2001 e 2008 para as estações de amostragem contempladas na presente campanha de amostragem. .................................................37
Figura 21. Representação esquemática da zonação química de um sedimento. .....................................40
SUMÁRIO EXECUTIVO
O presente relatório, relativo à campanha de amostragem de sedimentos superficiais realizada em
Abril de 2008 na Lagoa de Óbidos, foi elaborado no âmbito do protocolo de colaboração entre a
empresa Águas do Oeste, S.A. e o IST (contando também com o envolvimento do IPIMAR) e visa
caracterizar os sedimentos da Lagoa de Óbidos, designadamente no que respeita aos parâmetros
físico-químicos, aos contaminantes (orgânicos e metais) e às comunidades de macrofauna bentónica.
O estado ecológico da lagoa será igualmente discutido com base na comparação com dados de 2001.
São também apresentados e interpretados os resultados de um ensaio laboratorial onde se avaliou a
remobilização de metais dos sedimentos superficiais do Braço da Barrosa (área mais impactada da
lagoa) para a coluna de água.
O relatório encontra-se organizado em 4 capítulos:
No Capítulo 1 descreve-se a estratégia de amostragem, com destaque para os locais de estudo e os
parâmetros quantificados in situ.
O Capítulo 2 descreve as metodologias laboratoriais.
O Capítulo 3 apresenta e interpreta os resultados relativos à caracterização dos sedimentos e ao
ensaio laboratorial.
O Capítulo 4 refere as conclusões mais relevantes.
Na lagoa podem identificar-se três áreas principais, cada uma das quais caracterizada por
agrupamentos faunísticos distintos e característicos: zona da barra, zona central e zona interior.
A zona da barra apresentou um reduzido número de taxa e abundância, reflectindo o elevado
hidrodinamismo que se verifica nesta área.
Por outro lado, a zona central, apresentou o pico de diversidade, à semelhança do que já havia sido
registado em campanhas anteriores, enquanto a abundância aumentou de jusante para montante (até
ao corpo central).
As zonas mais interiores da Lagoa acumulam maiores quantidades de matéria orgânica e
contaminantes. Pontualmente, algumas estações do corpo central apresentaram valores elevados de
compostos orgânicos. Apenas os teores de Cr e Ni se encontraram acima dos limites estabelecidos
por Long e et al. (1995) relativos ao “effects range-low” (ERL) o que poderá ser indicativo de
toxicidade em diversas estações da lagoa. Os teores de fluoreno (PAH) foram também superiores na
estação #8 aos limites definidos por Long e colaboradores (1995) podendo-se especular alguma
toxicidade para os organismos aquáticos.
O campesterol, o ß-sitosterol e o stigmasterol são marcadores da proveniência de matéria orgânica
de origem terrestre. A sua distribuição nos sedimentos da Lagoa mostra que as concentrações mais
elevadas se registam nas zonas mais interiores e afastadas da foz.
As condições hidrodinâmicas da lagoa parecem estar a ser condicionantes na recuperação do estado
ecológico da lagoa, particularmente na margem direita da zona central-interior e no braço da
Barrosa. Esta zona poderá estar mais sujeita à sedimentação natural de partículas em suspensão na
coluna de água, promovendo uma acumulação de sedimentos finos, usualmente ricos em matéria
orgânica.
Apesar dos sedimentos ricos em matéria orgânica poderem representar uma fonte de metais para a
coluna de água durante a sua decomposição em condições anóxicas, o ensaio laboratorial não
revelou diferenças significativas entre as duas situações testadas: óxica e anóxica. Ou seja, não foi
possível demonstrar em laboratório a importância das trocas sedimento-água que haviam sido
previamente observadas no Braço da Barrosa durante o ciclo de 24 horas realizado no Verão de
2007.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 3
1 ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM
1.1 Pontos de amostragem
A campanha de Abril de 2008 incluiu a recolha de sedimentos superficiais em 16 estações de
amostragem distribuídas ao longo da Lagoa de Óbidos. A Tabela 1 apresenta as coordenadas
geográficas das estações de amostragem e a Figura 1 a sua localização.
Tabela 1. Coordenadas geográficas das estações de amostragem.
Estação Latitude Longitude
#1 39º25.725'N 9º13.816'W
#2 39º25.273'N 9º12.775'W
#3 39º24.520'N 9º12.900'W
#4 39º24.227'N 9º11.844'W
#5 39º24.017'N 9º12.659'W
#6 39º25.628'N 9º14.211'W
#7 39º25.567'N 9º14.201'W
#8 39º25.514'N 9º13.212'W
#9 39º24.960'N 9º13.164'W
#10 39º25.358'N 9º13.447'W
#11 39º24.795'N 9º12.340'W
#12 39º24.303'N 9º12.180'W
#13 39º24.123'N 9º12.043'W
#14 39º23.238'N 9º13.550'W
#15 39º23.480'N 9º13.333'W
#16 39º25.833'N 9º13.875'W
Figura 1. Localização das estações de amostragem.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 4
1.2 Execução da amostragem
A campanha de amostragem de sedimentos na Lagoa de Óbidos foi feita com recurso a uma
embarcação do tipo “semi-rigido”. Foram recolhidos sedimentos superficiais com uma draga Van
Veen (0.05 m2) nas estações assinaladas na Figura 1.
Previamente ao seu processamento, foram medidos os valores do pH e Eh. O pH das amostras de
água e sedimento foi determinado através de um aparelho portátil digital Crison mod. 507, com
controlo de temperatura acoplado a um eléctrodo combinado para medir o pH (Mettler-Toledo),
calibrado a 20ºC com tampões 4.00, 7.00 e 10.00 ± 0.02. O Eh foi medido com um eléctrodo
combinado com um sistema Ag/AgCl-Platina. Os valores obtidos para o potencial redox foram
depois convertidos para os potenciais normais de hidrogénio.
Para o estudo das comunidades de macrofauna bentónica, foram recolhidas 3 dragas de sedimento.
Os sedimentos foram lavados sobre um crivo de 0.5 mm de malha, de forma a eliminar o sedimento
mais fino. O material retido no crivo foi guardado em caixas plásticas, devidamente etiquetadas, e
conservado em formol a 4%, neutralizado com borato de sódio, ao qual foi adicionado o corante vital
Rosa de Bengal. Recolheu-se mais uma draga de sedimento para determinação de parâmetros físico-
químicos e contaminantes.
Na estação #4, localizada no Braço da Barrosa, foram colhidos cores de sedimento para o ensaio de
laboratório, que se realizou para avaliar a remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de
água. Estes sedimentos foram colhidos com o auxílio de cores de 20 cm de diâmetro, tal como se
apresenta na Figura 2. Foram colhidos 6 cores de sedimento em Julho de 2008. Após colheita, os
cores foram transportados imediatamente para o laboratório onde se procedeu à montagem da
experiência.
Figura 2. Colheita de cores de sedimento superficial no Braço da Barrosa.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 5
2 METODOLOGIAS LABORATORIAIS
Classificação dos tipos sedimentares. Das amostras de sedimento previamente secas numa
estufa a 100ºC, foram retiradas sub-amostras de 100 g cada, as quais foram sujeitas a um processo de
lavagem com água corrente através de um peneiro do tipo AFNOR de 63 µm com malha quadrada,
com o objectivo de separar a fracção fina (< 63 µm). O sedimento remanescente foi novamente seco
a 100ºC e peneirado por agitação mecânica através de uma coluna de peneiros do mesmo tipo e de
malhas compreendidas entre 63 e 32000 µm, para separação das restantes fracções granulométricas:
seixos (32000 - 4000 µm), cascalho (4000 - 2000 µm), areia grossa (1000 - 500 µm), areia média (500
- 250 µm), areia fina (250 - 125 µm) e areia muito fina (125 - 63 µm). Após a pesagem das porções
de sedimento retidas em cada peneiro procedeu-se ao traçado das curvas das frequências
acumuladas das diferentes fracções granulométricas para cada amostra de sedimento e, a partir delas,
à determinação de duas das medidas descritivas mais frequentemente adoptadas para a classificação
dos tipos sedimentares, isto é, a mediana e o coeficiente de triagem de Trask que fornece uma
medida do grau de homogeneidade do sedimento. A partir destes elementos foram classificados os
tipos sedimentares de acordo com a escala de Udden/Wentworth (Wentworth, 1922; inBuchanan,
1984; Gaudêncio et al., 1991; Bale & Kenny, 2005).
Matéria orgânica total (MOT). O teor de material orgânica total dos sedimentos foi
determinado pela diferença entre o peso de amostras de sedimento secas em estufa e o peso das
mesmas após incineração numa mufla até obtenção de peso constante (Castro, 1997). Os resultados
apresentados correspondem à média das determinações efectuadas em duas réplicas por amostra de
sedimento.
Densidade. A densidade húmida dos sedimentos foi determinada a partir do cociente entre o peso
e o volume das amostras de sedimento húmido (Bale & Kenny, 2006). Os resultados, expressos em
g/cm3, correspondem à média das determinações em cinco réplicas por amostra de sedimento.
Carbono, azoto, fósforo e porosidade. Para a determinação do carbono e azoto total as
amostras foram secas a 60 ºC, moídas e colocadas em micro cápsulas de estanho. Os teores de
carbono e azoto inorgânico foram determinados nas amostras já moídas que foram levadas à mufla,
durante 2 horas a 450 ºC. A determinação das respectivas fracções efectuou-se num autoanalisador
CHN, FISONS NA 1500, de acordo com o procedimento anteriormente descrito (Verardo et al.
1990). Para a determinação do fósforo total no sedimento a amostra, após 2 horas a 450 ºC, foi
digerida com HCl 1N durante 15 minutos a 200 ºC. Após o complexo de fósforo inorgânico se ter
formado por reacção com o reagente misto (Molibdato de amónia, Ácido sulfúrico e Ácido
ascórbico) foi determinada a sua concentração a 860 nm, no espectrofotómetro de marca
SPECTRONIC GENESYS 5, (Anderson, 1976). Este método apresenta uma precisão de 12%. O
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 6
limite de detecção do método é de 0.1 mg m-3 e a precisão 0.57%. A porosidade foi determinada
através dos dados de humidade e densidade do sedimento.
Metais. Os sedimentos foram secos na estufa a 40 ºC, moídos em almofariz de ágata e mineralizados
em solução ácida. Os metais Al, Fe, Mn e Zn foram quantificados por espectrofotometria de
absorção atómica com atomização por chama, enquanto o Cu, Cr, Ni, Co, Pb e Cd por
espectrofotometria de absorção atómica com atomização em forno de grafite. Para a determinação
de Hg as amostras de sedimento seco foram analisadas, sem qualquer preparação prévia, por
espectrometria de absorção atómica através de um analisador de mercúrio da LECO, modelo AMA
254 Mercury Analyser.
Compostos organoclorados (PCB e DDT). Para a análise dos compostos organoclorados, as
amostras de sedimento foram secas numa estufa a 40 ºC. Os organoclorados existentes nos
sedimentos foram removidos através de uma extracção em Soxhlet com solvente orgânico durante
16 horas. Os extractos foram sujeitos a um clean-up numa coluna de Florisil e posteriormente
tratados com ácido sulfúrico. Periodicamente foram efectuados ensaios em branco para controlo do
processo analítico. A identificação e quantificação destes compostos foram efectuadas num
cromatógrafo gás-líquido Hewlett-Packard equipado com um detector de captura de electrões e uma
coluna capilar J&W, DB5 (60m). Analisaram-se 18 congéneres de PCB (CB18, CB26, CB44, CB49,
CB52, CB101, CB105, CB118, CB128, CB138, CB149, CB151, CB153, CB170, CB180, CB183,
CB187, CB194), o pp’-DDT e seus metabolitos (pp’-DDE e pp’-DDD). Neste relatório designa-se
por PCB a soma das concentrações dos congéneres de PCB e por DDT a soma das concentrações
de pp’-DDE, pp’-DDD e pp’-DDT. A quantificação dos vários compostos foi efectuada através de
soluções padrão, utilizando o método do padrão externo.
Hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH). Os sedimentos foram extraídos em Soxhlet
durante 36 horas com uma mistura de hexano/acetona (1:1), adicionando-se uma solução com
compostos deuterados como padrão interno. Os extractos depois de purificados com uma coluna de
sílica/alumina (1:1) foram injectados em modo SIM num cromatógrafo acoplado a espectrómetro de
massa GCQ, com coluna capilar J&W, DB5 (30m) e amostrador automático. A quantificação dos
compostos (acenaftileno, acenafteno, fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno,
benzo[α]antraceno, criseno, benzo[β]fluoranteno, benzo[K]fluoranteno, benzo[α]pireno,
dibenzo[α,h]antraceno, benzo[ghi]perileno, indeno[1,2,3-cd]pireno) foi efectuada através de soluções
padrão com o método do padrão interno. A validação dos resultados foi efectuada através da análise
de padrões internacionais certificados (National Research Council of Canada e United States
Geological Survey). Designa-se por PAH a soma de todos os compostos analisados.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
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Biomarcadores orgânicos de contaminação fecal. As amostras de sedimentos foram extraídas
com sonda ultrasónica com metanol, metanol:diclorometano e diclorometano, sequencialmente três
vezes, durante 3 minutos (Ferreira et al., 2001). Os compostos foram metilados e eluídos com
acetato de etilo em coluna cromatográfica de silicagel, e posteriormente sililados. A identificação e
quantificação dos biomarcadores foi efectuada por cromatografia gás-líquido acopolada à
espectrometria de massa (GC-MS). As amostras encontram-se ainda em processo de análise
prevendo-se a apresentação dos resultados na versão final deste relatório.
Macrofauna bentónica. As amostras de macrofauna bentónica foram lavadas em água corrente
sobre um crivo com 0,5 mm de malha, de modo a eliminar a solução de formol e os sedimentos finos
ainda presentes. O material retido no crivo foi triado, separando os animais em grandes grupos
taxonómicos, posteriormente conservados em etanol a 70%. A identificação foi realizada em lupas
binoculares, sempre que possível ao nível específico. Na identificação das espécies seguiu-se a
nomenclatura adoptada pela Marine Biodiversity and Ecosystem Functioning EU Network of
Excellence (http://www.marbef.org/data/erms.php). A biomassa (peso seco livre de cinzas) foi
determinada por taxon e por replicado para cada estação de amostragem, após secagem a 80ºC
durante 24h e incineração numa mufla a 450ºC durante 3h.
Análise estatística. Foi realizada uma análise de componentes principais (ACP) com o objectivo de
identificar contribuições relevantes para a variabilidade dos dados de granulometria, matéria orgânica
e densidade do sedimento. Utilizou-se o programa PRIMER v6 para Windows (Clarke & Gorley,
2006). A matriz de dados analisada foi construída com 10 variáveis x 16 estações de colheita. As
variáveis analisadas foram as fracções granulométricas, a mediana, a matéria orgânica total e a
densidade; as variáveis cascalho, areia grossa e mediana foram sujeitas a transformação por dupla raiz
quadrada e a matriz global foi normalizada antes de se proceder à análise.
A estrutura das comunidades macrobentónicas foi analisada recorrendo ao cálculo de índices
univariados (número de taxa, abundância, índices de diversidade de Shannon-Wiener, de riqueza
específica de Margalef e de equitabilidade de Pielou), determinação da biomassa e a métodos
multivariados. A matriz de abundância por estação de amostragem foi submetida a uma
transformação de raíz quadrada, aplicando-se, de seguida, uma análise de classificação e de
ordenação. Nestas análises multivariadas foi aplicado o coeficiente de similaridade de Bray-Curtis e o
método aglomerativo das ligações médias. A rotina SIMPER foi utilizada por forma a determinar as
espécies discriminantes entre os agrupamentos faunísticos identificados nas análises de ordenação e
classificação. O cálculo dos índices univariados e as análises multivariadas foram realizadas
recorrendo ao programa PRIMER v5.0 (Plymouth Routines in Multivariate Ecological Research).
O índice biótico desenvolvido para o meio marinho e abreviadamente designado por AMBI (Borja et
al., 2000) foi calculado com o intuito de avaliar o estado de qualidade do ambiente bentónico na
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
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lagoa. Este índice baseia-se na correspondência entre cada taxa e um determinado comportamento
ecológico previamente estabelecido. Estabeleceram-se cinco comportamentos de base (sensíveis,
indiferentes, tolerantes, oportunistas de segunda-ordem e oportunistas de primeira-ordem). A
alocação de cada taxon a um dos comportamentos pré-estabelecidos é empírica, baseando-se em
resultados de trabalhos anteriores ou na experiência dos próprios autores. Este programa está
disponível em http://www.azti.es e é calculado de acordo com a seguinte fórmula:
AMBI=[(0×%GI)+(1.5×%GII)+(3×%GIII)+(4.5×%GIV)+(6%×GV)]/100
Paralelamente, calculou-se um índice multivariado derivado do índice biótico AMBI que entra em
consideração com a diversidade de Shannon-Wiener e a abundância, designado por M-AMBI (e.g.
Muxika et al., 2007).
O AMBI foi seleccionado porque tem vindo a ser amplamente aplicado em ecossistemas marinhos.
Em sistemas de água doce (rios fundamentalmente) tem sido utilizado o IBMWP permitindo também
uma categorização do meio aquático. Este índice tem também por base o conhecimento das
comunidades de macroinvertebrados aquáticos mas foi desenvolvido para comunidades de água doce.
Foi, igualmente, aplicado o método das curvas ABC (comparação entre a dominância em termos da
abundância e biomassa) com o intuito de avaliar a qualidade ambiental, utilizando-se para tal o
software PRIMER v5.0 (Clarke & Gorley, 2001). Este método assenta no pressuposto de que a
posição relativa das curvas da abundância e da biomassa varia de acordo com a existência ou não de
contaminação orgânica no local em análise (Warwick, 1986). A sua interpretação possibilita a
descrição de três situações diferentes, em função da posição relativa das duas curvas. Assim, segundo
Warwick (1986), quando a curva da biomassa se encontra acima da abundância em toda a sua
extensão, pode dizer-se que estamos perante comunidades biológicas não perturbadas, onde o valor
de biomassa se encontra dominado por poucas espécies, ainda que de grande porte. Quando começa
a fazer sentir-se o efeito da contaminação numa determinada área, os organismos dominantes em
termos de biomassa são eliminados, assistindo-se a um equilíbrio entre ambas as variáveis analisadas,
pelo que é usual as duas curvas chegarem a cruzar-se, em situações de perturbação moderada.
Finalmente, sempre que a posição inicial se inverta, ou seja, a abundância supere a biomassa em toda
a extensão das curvas, as comunidades analisadas encontram-se sujeitas a elevados níveis de
perturbação, já que se encontram dominadas por espécies de pequenas dimensões, mas presentes
em grande número, usualmente designadas por oportunistas. Apesar da simplicidade do método e da
sua potencial versatilidade, há que salientar o facto deste tipo de análise não poder ser desenvolvida
independentemente, mas como complemento de informação. Com efeito, em determinadas
circunstâncias, os resultados obtidos podem dever-se não a factores antropogénicos, mas a
condições naturais (como altura de recrutamento), o que resultaria na interpretação errónea dos
dados em análise (Warwick & Ruswahyuni, 1987).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 9
Ensaio Laboratorial. No laboratório, os seis cores de sedimento foram agrupados em dois grupos
de três réplicas e a cada core de sedimento adicionou-se água do mar por forma a recriar a coluna
de água (com aproximadamente 10 - 20 cm de altura). A água que se utilizou foi colhida numa zona
não poluída e cujos níveis de metais eram previamente conhecidos. Um dos grupos serviu para testar
a remobilização de metais do sedimento para a coluna de água em condições de saturação em
oxigénio, enquanto que o outro grupo de sedimentos as condições de anóxia. No primeiro caso,
conseguiu-se reproduzir essas condições colocando arejadores na coluna de água. No segundo,
injectou-se continuamente árgon. É sabido que borbulhar árgon na água é uma forma de remover o
oxigénio que nela se encontra dissolvido. O esquema apresentado na Figura 3 procura ilustrar as
condições de laboratório.
O2 ou Árgon
DGT
Figura 3. Representação esquemática de um core-tipo usado no ensaio laboratorial para avaliar a remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de água.
Oxigénio Dissolvido, Salinidade e pH. Estes parâmetros foram monitorizados durante o ensaio
laboratorial através de uma sonda multiparamétrica (YSI, 650) devidamente calibrada.
Metais na fracção dissolvida. Para determinação de Mn, Ni, Cu, Pb e Cd na fracção dissolvida da
coluna de água colocaram-se em suspensão em cada um dos cores e durante 48 horas uma unidade
DGT (diffusive gradient in thin film). O processo de extracção de cada unidade DGT corresponde à
difusão dos metais dissolvidos (fracção <0.45 µm) através de uma membrana de nitrato de celulose e
retenção em resina quelante. Posteriormente, esta resina foi eluída numa solução de HNO3 e
determinados
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 10
3 RESULTADOS
Nesta secção são apresentados os resultados da caracterização dos sedimentos superficiais da Lagoa
de Óbidos, assim como os resultados do ensaio de laboratório. Os resultados da caracterização dos
sedimentos superficiais estão organizados da seguinte forma:
(i) Parâmetros físico-químicos;
(ii) Carbonos, azotos e fósforo;
(iii) Granulometria, densidade e matéria orgânica total;
(iv) Metais maioritários e traço;
(v) Poluentes orgânicos persistentes;
(vi) Macrofauna bentónica;
3.1 Caracterização dos sedimentos superficiais da Lagoa de Óbidos
3.1.1 pH, potencial redox e porosidade
Os resultados da Tabela 2 indicam valores de pH, potencial redox e porosidade relativamente
idênticos nas várias estações de amostragem.
Tabela 2. Valores de pH, Eh e porosidade (Por.) nos sedimentos superficiais da Lagoa de Óbidos em Abril de 2008
Estação pH Eh (mv) Por.
#1 7.99 -59.7 0.29
#2 7.98 -59.3 0.26
#3 8.15 -70.5 0.59
#4 7.92 -54.6 0.64
#5 7.95 -54.5 0.58
#6 7.62 -37.1 0.26
#7 7.98 -58.8 0.47
#8 7.95 -57.6 0.38
#9 8.00 -59.6 0.32
#10 8.09 -65.6 0.28
#11 8.00 -59.4 0.72
#12 8.08 -64.4 0.63
#13 8.18 -70.3 0.64
#14 8.07 -64.1 0.63
#15 8.15 -68.3 0.70
#16 8.20 -70.9 0.26
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 11
3.1.2 Carbono, azoto e fósforo
Na tabela seguinte são apresentadas as concentrações das formas orgânicas e inorgânicas de carbono
e azoto, assim como os níveis de fósforo no sedimento superficial. Os sedimentos colhidos no
interior dos braços da lagoa (estações #4, #13, #14, #15) e corpo central (#3, #11) são mais
enriquecidos em carbono, azoto e fósforo. Estes incrementos estão possivelmente associados à
maior carga orgânica nestas áreas da lagoa.
Tabela 3. Concentrações de carbono (total, orgânico e inorgânico), azoto (total, orgânico e inorgânico) e fósforo total em sedimentos superficiais da Lagoa em Abril de 2008.
C total N total C inorg N inorg C org N org P total Estação
(%) (µmol/g peso seco)
#1 0.11 0.03 0.02 0.01 0.09 0.01 8.1
#2 0.05 0.02 0.01 0.02 0.04 0.004 6.4
#3 1.27 0.12 0.15 0.02 1.12 0.10 6.8
#4 1.31 0.17 0.12 0.02 1.19 0.15 7.4
#5 1.32 0.09 0.14 0.02 1.18 0.07 9.0
#6 0.14 0.04 0.05 0.01 0.10 0.03 3.9
#7 2.87 0.45 2.81 0.03 0.06 0.42 4.4
#8 1.74 0.05 1.04 0.02 0.70 0.02 3.4
#9 1.21 0.03 0.53 0.02 0.68 0.00 6.5
#10 0.80 0.02 0.26 0.02 0.54 0.00 2.6
#11 1.98 0.13 0.20 0.03 1.77 0.11 13.3
#12 1.60 0.13 0.19 0.03 1.42 0.10 10.9
#13 1.61 0.13 0.18 0.02 1.43 0.10 8.8
#14 1.92 0.09 0.15 0.04 1.77 0.04 9.3
#15 1.77 0.21 0.11 0.04 1.66 0.17 13.9
#16 1.16 0.03 0.15 0.02 1.01 0.004 4.3
3.1.3 Classificação dos tipos sedimentares
Identificaram-se cinco tipos sedimentares: areia grossa, areia média, areia média lodosa, lodo arenoso
e lodo, cujas características dos parâmetros descritores são apresentadas na Tabela 4 e os gráficos
com as famílias de curvas acumulativas, no Anexo I (Figuras 1 - 5). A distribuição espacial dos tipos
sedimentares é a seguinte:
(i) Areia grossa: na embocadura, na zona de contacto com o oceano sujeita à acção de fortes
correntes de maré (#6 e #16). É uma areia sem partículas finas, homogénea no caso da
estação #16 e bastante heterogénea no caso da estação #6, devido à presença de maior
quantidade de partículas> 2000 µm, as quais são, na sua maioria, fragmentos de conchas.
(ii) Areia média: no canal de navegação ao longo da margem norte (#1 e #8) e sensivelmente ao
nível da parte externa do corpo central da lagoa (#2 e #10). É uma areia limpa e
homogénea no caso das estações #1 e #10, e bastante heterogénea no caso das estações
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 12
#2 e #8 devido à presença de maior quantidade de partículas muito grosseiras (> 2000
µm), principalmente fragmentos de conchas.
(iii) Areia média lodosa: na embocadura (#7), com uma elevada percentagem de partículas muito
grosseiras (> 4000 µm) e no corpo central da lagoa (#9).
(iv) Lodo arenoso: na estação #3 localizada no interior, próximo da embocadura do braço do
Bom Sucesso, tem 51% de partículas finas e é ligeiramente cascalhento.
(v) Lodo: nas estações #4, #5 e #13 (Braço da Barrosa), #14 e #15 (Braço do Bom Sucesso) e
#11 e #12 (corpo central da lagoa, do lado do Braço da Barrosa).
Tabela 4. Fracções granulométricas (%), mediana (µm), coeficiente de triagem (Qg) e classificação dos tipos sedimentares das estações amostradas.
Estação Seixos Cascalho Areia grossa
Areia média
Areia fina
Areia muito fina
Partículas finas
Mediana Qg Tipo sedimentar
#1 0 0 26.9 71.8 1.3 0 0 411 1.3 Areia média
#2 19.5 4.0 22.3 44.9 8.9 0.4 0 457 2.4 Areia média
#3 13.5 7.8 15.4 3.5 4.6 4.2 51.0 45 - Lodo arenoso
#4 6.8 1.3 2.3 1.1 1.5 3.9 85.3 - - Lodo
#5 6.3 1.4 2.4 0.7 1.1 7.1 80.9 - Lodo
#6 10.4 19.2 43.2 25.4 1.2 0.5 0.1 934 2.2 Areia grossa
#7 22.3 3.3 18.9 31.4 10.5 2.2 11.4 425 3.0 Areia média lodosa
#8 6.5 4.3 19.3 31.9 33.7 4.0 0.3 292 2.0 Areia média
#9 0 1.0 8.2 46.3 21.4 6.9 16.1 262 1.6 Areia média lodosa
#10 2.4 0.2 24.1 67.7 5.5 0.1 0 375 1.4 Areia média
#11 1.5 0.2 1.2 0.3 0.4 0.7 95.7 - - Lodo
#12 0.7 0.2 0.8 0.3 0.6 1.5 95.9 - - Lodo
#13 2.0 0.8 0.9 0.5 2.3 7.1 86.5 - - Lodo
#14 0 0 0.8 0.3 0.2 0.1 98.6 - - Lodo
#15 0 0 0.6 0.2 0.1 0.1 99.0 - - Lodo
#16 0 4.6 83.9 11.4 0.1 0 0 902 1.2 Areia grossa
3.1.4 Matéria orgânica total
Na Tabela 5 são apresentados os valores médios de matéria orgânica em cada estação de colheita. A
variação da percentagem de matéria orgânica acompanhou a das partículas finas dos sedimentos,
tendo-se encontrado uma boa correlação entre as duas variáveis (R = 0.98, N = 16). Como se pode
observar na Figura 4 os valores mínimos correspondem aos sedimentos limpos e os máximos aos
sedimentos com mais de 80% de finos, o que está de acordo com o normal padrão de distribuição da
matéria orgânica em sedimentos marinhos (Bordovskyi, 1965b).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 13
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
#1 #2 #3 #4 #5 #6 #7 #8 #9 #10 #11 #12 #13 #14 #15 #16
Fin
a (%
)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
MO
T (
%)
Fina MOT
Figura 4. Variação dos teores de matéria orgânica total e da fracção fina (< 63 µm) nos sedimentos das estações amostradas.
3.1.5 Densidade
Os valores médios da densidade dos sedimentos são apresentados na Tabela 5. A variação da
densidade dos sedimentos foi consistente com a das fracções fina (< 63 µm) e mais grosseira (> 500
µm) (Figura 5). Os valores mais elevados (1.856 - 2.040 g/cm3) registaram-se nos sedimentos sem
partículas finas e cuja fracção mais grosseira foi superior a 20%, enquanto que os mais baixos (1.331-
1.547 g/cm3), se registaram em sedimentos cuja fracção fina foi superior a 80% e a mais grosseira
inferior a 5%. Estes valores incluem-se na gama de valores reportados em tipos sedimentares
semelhantes (St. Onge et al., 1999).
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
#1 #2 #3 #4 #5 #6 #7 #8 #9 #10 #11 #12 #13 #14 #15 #16
Fin
a; g
ross
eira
(%
)
0
1
2
3
Den
sid
ade
(g/c
m3 )
Fina Grosseira Densidade
Figura 5. Variação dos valores da densidade e das fracções fina (< 63 µm) e mais grosseira (> 500 µm) nos sedimentos das estações amostradas.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 14
Tabela 5. Matéria orgânica total (MOT) e densidade húmida (Dw) dos sedimentos superficiais nas estações amostradas (média ± desvio-padrão).
Estação MOT (%)
Dw (g/cm3)
#1 1.00 ± 0.00 1.89 ± 0.07
#2 1.00 ± 0.00 1.92 ± 0.04
#3 5.26 ± 0.37 1.65 ± 0.05
#4 5.51 ± 0.69 1.55 ± 0.07
#5 4.26 ± 0.34 1.45± 0.04
#6 1.00 ± 0.00 2.04 ± 0.04
#7 3.50 ± 0.02 1.78 ± 0.05
#8 1.00 ± 0.00 1.91 ± 0.05
#9 2.25 ± 0.35 1.89 ± 0.07
#10 0.75 ± 0.35 1.98 ± 0.05
#11 5.77 ± 0.37 1.48 ± 0.05
#12 4.76 ± 0.34 1.53 ± 0.06
#13 6.25 ± 0.31 1.51 ± 0.04
#14 7.27 ± 1.09 1.53 ± 0.03
#15 6.24 ± 0.37 1.33 ± 0.04
#16 0.75 ± 0.35 1.86 ± 0.07
3.1.6 Análise multivariada aos dados de granulometria, matéria orgânica e densidade dos sedimentos
Os resultados da análise de componentes principais, apresentados na Tabela 6 e na Figura 6,
mostram que os dois primeiros eixos explicam 75% da variação total dos dados (58% para o primeiro
eixo e 17% para o segundo). A variável que mais contribui para o primeiro eixo é a fracção fina dos
sedimentos; as estações com sedimentos essencialmente lodosos (> 51% de finos) agrupam-se na
parte negativa do eixo enquanto que, na parte positiva ficam os grupos essencialmente arenosos (<
16% de finos). No segundo eixo, a variável com mais peso é a fracção arenosa mais fina.
Os grupos formados correspondem claramente a uma sucessão granulométrica das fracções mais
finas para as mais grosseiras e a uma sucessão espacial das estações de colheita: os grupos da parte
negativa do eixo 1 incluem as estações localizadas no interior da Lagoa (braços do Bom Sucesso e
Barrosa) e na parte mais interior do corpo central da Lagoa sensivelmente na zona de contacto com
a embocadura do braço da Barrosa; os grupos da parte positiva compreendem as estações
localizadas desde a parte externa do corpo central da Lagoa até à embocadura. Estes resultados são
consistentes com a descrição da cobertura sedimentar da Lagoa feita por Quintino (1988).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 15
16
Figura 6. Representação bidimensional da ordenação das estações de colheita por análise de componentes principais.
Tabela 6. Resultados da análise de componentes principais.
Componentes principais CP1 CP2 CP3 CP4 CP5
Valores próprios 5.77 1.72 1.23 0.579 0.36
Variação (%) 57.7 17.2 12.3 5.8 3.6
Variação acumulada (%) 57.7 74.9 87.2 93 96.6
Vectores próprios
Variáveis
Seixos 0.172 -0.404 0.453 0.696 0.178
Cascalho 0.224 -0.522 0.338 -0.351 -0.15
Areia grossa 0.386 0.043 0.159 -0.285 -0.053
Areia média 0.322 0.244 -0.345 0.332 0.453
Areia fina 0.185 -0.363 -0.56 0.29 -0.615
Areia muito fina -0.095 -0.589 -0.379 -0.269 0.592
Finos -0.412 -0.016 0.077 0.006 -0.04
Mediana 0.373 0.119 0.22 -0.032 0.082
Matéria orgânica total -0.392 -0.089 0.124 0.193 -0.006
Densidade 0.402 0.04 -0.094 -0.068 -0.005
3.1.7 Níveis de metais
As concentrações de metais nos sedimentos da Lagoa de Óbidos são apresentadas na Tabela 7. As
concentrações mais elevadas de Al (> 8.0% - salientadas a azul) foram registadas nas estações
localizadas no Braço da Barrosa (#4, #12, #13), no Braço do Bom-Sucesso (#5, #14, #15) e na
estação #11 (corpo central, na zona da Escola de Vela). Dado que a natureza destes sedimentos é
mais vasosa a sua afinidade para sequestrar metais é também superior. De facto, foi nesses locais que
se encontraram os teores mais elevados de metais traço como Cr, Ni, Pb, Cu, Cd, Co e Hg.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 16
Tabela 7. Composição de elementos maioritários e vestigiários em sedimentos superficiais da Lagoa em Abril de 2008.
Al Fe Mn Zn Cr Ni Pb Cu Cd Co Hg Estação
(%) µg g-1
#1 0.29 0.11 30 3.2 68 1.5 1.5 0.85 0.043 0.63 < 0.007
#2 0.41 0.09 33 3.1 73 1.5 2.9 1.01 0.016 0.50 0.039
#3 5.5 3.4 29 6.2 70 21.5 15 20 0.18 20 0.081
#4 8.7 3.7 181 57 130 28.7 23 44 0.23 31 0.092
#5 8.4 3.0 334 89 113 27.4 24 40 0.21 16 0.067
#6 0.62 0.34 149 45 48 3.7 3.7 2.3 0.041 1.4 < 0.007
#7 1.6 0.90 43 12 35 7.9 8.1 5.8 0.069 3.0 0.022
#8 0.87 0.30 57 12 51 2.8 4.6 2.0 0.034 1.1 0.017
#9 1.0 0.44 60 8 42 4.4 5.1 3.3 0.032 1.8 0.012
#10 0.23 0.12 37 6 123 2.3 2.2 1.1 0.019 0.54 < 0.007
#11 8.7 4.2 287 95 140 30.1 20 44 0.19 29 0.066
#12 9.0 4.6 276 91 110 30.2 23 45 0.20 27 0.046
#13 9.2 4.6 287 93 106 30.1 22 48 0.24 28 0.058
#14 12 2.4 169 46 163 26.5 32 22 0.11 19 0.049
#15 10 4.1 271 99 134 34.1 21 49 0.17 29 0.15
#16 0.14 0.08 10 <l.d. 75 2.0 2.0 1.5 0.016 0.42 < 0.007
3.1.8 Níveis de PCB e DDT
No decurso do século passado a indústria química desenvolveu uma larga gama de produtos para os
mais variados fins, designadamente fertilizantes e pesticidas destinados ao controlo de pragas e
doenças. De uma maneira geral, os efeitos destes produtos sobre o ambiente não foram estudados
previamente, sendo que, mais tarde, muitos destes compostos se revelaram como potencialmente
perigosos dada a sua persistência no ambiente e acumulação nos tecidos adiposos dos organismos.
Os compostos organoclorados, principalmente os PCB e o DDT, são exemplificativos deste
problema. Estes dois grupos de compostos foram utilizados extensivamente nas décadas de 50 e 60
sem que alguma vez tenha sido equacionado o binómio benefício/ risco. Só a partir da década de 70 é
que a sociedade começou a ter consciência da dimensão do risco, para o ambiente e para o próprio
Homem que envolvia a sua utilização (Safe, 1996; Voogt, 1996). De facto, a extensa utilização destes
compostos provocou elevados danos ecológicos. Passadas quase quatro décadas sobre a proibição
ou restrição da sua utilização encontram-se ainda como contaminantes em organismos aquáticos,
mesmo em zonas longe de qualquer possível descarga, demonstrando a sua grande dispersão e
persistência no meio aquático.
As concentrações de compostos organoclorados nos sedimentos da Lagoa são apresentadas na
Tabela 8. Os teores totais de PCB foram claramente mais elevados nas estações #13 e #14,
localizadas respectivamente, no braço da Barrosa e Bom-Sucesso. Os hidrocarbonetos aromáticos
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 17
policíclicos (PAH) atingiram níveis mais elevados nas estações #8 > #13 > #3 > #4 e #7 do que nas
restantes.
Tabela 8. Concentrações dos compostos organoclorados (PCB, DDE, DDD, DDT), HCB e total de PAH nos sedimentos superficiais da lagoa de Óbidos em Abril de 2008.
Total PCB
DDE DDD DDT HCB PAH Estação
ng g-1
#1 0.16 0.04 <0.01 <0.01 0.05 2.1
#2 0.10 0.04 <0.01 <0.01 0.024 4.5
#3 0.91 0.14 <0.01 <0.01 0.13 114.3
#4 0.81 0.21 <0.01 <0.01 0.39 102.6
#5 0.79 0.23 <0.01 <0.01 0.42 47.9
#6 0.23 0.06 <0.01 <0.01 0.18 37.7
#7 0.55 0.09 <0.01 <0.01 0.53 102.7
#8 0.19 0.05 <0.01 <0.01 0.19 436.6
#9 0.26 0.06 <0.01 <0.01 0.36 39.9
#10 0.17 0.04 <0.01 <0.01 0.22 2.5
#11 0.87 0.27 0.07 0.1 0.31 91.2
#12 0.92 0.21 <0.01 <0.01 0.31 99.9
#13 1.77 0.38 <0.01 <0.01 1.21 228.2
#14 9.95 0.11 <0.01 <0.01 0.42 70.9
#15 0.90 0.26 <0.01 <0.01 0.37 55.9
#16 0.09 0.04 <0.01 <0.01 0.046 1.8
De entre a mistura de compostos de DDT (diclorodifeniltricloroetano), o DDE
(diclorodifenildicloroetano) foi o mais abundante, com níveis ligeiramente mais elevados nos braços
da lagoa. O DDT foi sintetizado pela primeira vez nos finais do século XIX, mas só em 1939, Paul
Müller descobriu as suas propriedades como insecticida (Clark, 1992). Na agricultura, a sua utilização
teve uma grande importância sob o ponto de vista económico, devido à sua grande eficácia no
combate a pragas e consequente aumento da produção agrícola. A produção destes compostos, que
aparentemente apresentavam tantos benefícios, diminuiu drasticamente a partir dos finais da década
de 60 até que nos finais da década de 70 a sua utilização foi completamente banida, em quase todos
os países do mundo (Halstead, 1972). A mistura de DDT, comercializada para operações agrícolas, é
constituída por uma mistura de compostos. Entre estes, o mais abundante é o p,p’-DDT,
representando cerca de 75-80% do total e em menores quantidades encontram-se o o,p’-DDT e/ou
p,p’-DDD. A molécula do p,p’-DDT degrada-se lentamente no ambiente em p,p’-DDD e finalmente
numa molécula mais estável, o p,p’-DDE. Especialmente no biota degrada-se quase completamente
em DDD e DDE, sendo este último de um modo geral, o constituinte mais abundante devido à sua
elevada estabilidade (Clark, 1992).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 18
Os bifenilos policlorados (PCB) são compostos aromáticos clorados que se apresentam como uma
mistura de homólogos e de isómeros. São um grupo de 209 compostos químicos sintéticos
designados de congéneres, que diferem no número de átomos de cloro (1 - 10) assim como nas suas
posições relativas num anel bifenilo. De acordo com a nomenclatura IUPAC, Ballschmiter e Zell
(1980) estabeleceram um sistema de numeração para os diferentes PCB baseado no número de
átomos de cloro de cada congénere, como a seguir de resume.
Nº IUPAC Grau de cloração
1-3 monoclorobifenilos
4-15 diclorobifenilos
16-39 triclorobifenilos
40-81 tetraclorobifenilos
82-127 pentaclorobifenilos
128-170 hexaclorobifenilos
171-193 heptaclorobifenilos
194-205 octaclorobifenilos
206-208 nonaclorobifenilos
209 decaclorobifenilos
A Figura 7 apresenta as concentrações dos vários congéneres de PCB determinados nos sedimentos
superficiais da Lagoa de Óbidos. Para esta representação agruparam-se as estações amostradas em
quatro áreas: embocadura da lagoa (#1, 6, 7, 16), corpo central da lagoa (#2, 9), Braço da Barrosa
(#4, 13) e Braço do Bom-Sucesso (#14, 15). Os valores apresentados correspondem à média das
várias estações de amostragem. Os congéneres 101, 149, 138, 180 e 170 apresentaram teores mais
elevados no Braço do Bom-Sucesso e foram de entre os compostos quantificados os mais
abundantes nesta área da lagoa. Por outro lado, no Braço da Barrosa os congéneres 18, 31, 180 e
170 foram os que apresentaram teores mais elevados. As outras áreas da lagoa estão menos
contaminadas por esta classe de compostos.
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
18 26 31 52 49 44 101 151 149 118 153 105 138 187 128 180 170 194
Congéneres de PCB
Embocadura
Corpo Central
Barrosa
Bom-Sucesso
1.05 2.54 0.89
Figura 7. Valores médios dos congéneres de PCB (em ng g-1) nos sedimentos superficiais de diferentes áreas da Lagoa de Óbidos.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 19
A Tabela 8 apresenta a concentração total de PAH, no entanto vários compostos fazem parte desta
classe de contaminantes e foram quantificados neste trabalho. A Figura 8 apresenta a variação
espacial destes compostos nas quatro áreas da lagoa definidas para os PCB. O Braço da Barrosa
apresentou os teores mais elevados de PAH, especialmente de fenantreno, fluoranteno, pireno e
perileno. Este último composto foi também encontrado em concentrações mais elevadas no Braço
do Bom-Sucesso.
0
10
20
30
40
ANY ANA F P A FL PY BA C BBF BKF BEP BAP Per IN DBA BPE
Embocadura
Corpo Central
Barrosa
Bom-Sucesso
Figura 8. Valores médios dos vários PAH quantificados (em ng g-1) (Acenaftileno - ANY, acenafteno - ANA, fluoreno - F, fenantreno - P, antraceno - A, fluoranteno - FL, pireno - PY, benzo(a)antraceno - BA, criseno - C, Benzo(b)fluorantreno - BBF, Benzo(k)fluorantreno - BKF, Benzo(e)pireno - BEP, Benzo(a)pireno - BAP, Perileno - Per, Indeno(1,2,3-cd)pireno - IN, Dibenzo(a,h)antraceno - DBA, Benzo(g,h,I)perileno - BPE) nos sedimentos superficiais de diferentes áreas da Lagoa de Óbidos. Concentrações em ng g-1.
Os teores encontrados de metais, PCB, DDT e PAH foram comparados com os critérios definidos
por Long et al. (1995) como forma de avaliar a sua toxicidade para os organismos aquáticos. Os
valores definidos por este autor são apresentados em seguida na Tabela 9. As concentrações
determinadas foram comparadas com os limites definidos por este autor. Para todos os compostos
quantificados apenas para o Cr, Ni e fluoreno se pode equacionar a possibilidade de toxicidade para
os organismos aquáticos. Por outro lado, estes riscos estão limitados a determinadas áreas da lagoa
como indicam os números apresentados ao lado das setas. Essas áreas são essencialmente os dois
braços da lagoa, algumas estações do corpo central e a estação 8 no caso do fluoreno. A
contaminação neste local assim como na estação 10 é difícil de explicar dada a maior proximidade do
mar e por conseguinte a natureza mais arenosa dos sedimentos.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 20
Tabela 9. Valores definidos por Long et al. (1995) correspondentes ao “Effect range-low” (ER-L). Os valores foram comparados e as estações com valores mais elevados são referidas após a seta. � - valores registados na lagoa menores do que os limites; � - valores registados na lagoa maiores do que os limites.
Composto ER-L Lagoa de Óbidos
Cd 1.2 �
Cr 81 � 4, 5, 10, 11, 12,13, 14, 15,
Hg 0.15 �
Ni 21 � 3, 4, 5, 11, 12, 13, 14, 15
Pb 47 �
Zn
µg g-1
150 �
DDE 2.2 �
Total DDT 1.6 �
Total PCB 23 �
Total PAH 4000 �
Antraceno 85 �
Fluoreno 19 � 8
Fenantreno 240 �
Benzo(a)pireno 261 �
Criseno 384 �
Dibenzo(a,h)antraceno 63 �
Fluoranteno 600 �
Pireno
ng g-1
670 �
3.1.9 Biomarcadores orgânicos
Na Tabela 10 e na Figura 9, apresentam-se os níveis dos biomarcadores orgânicos, coprostanol,
colesterol, colestanol, campesterol, stigmasterol e ß-sitosterol (ng g-1), em sedimentos da Lagoa de
Óbidos. Na estação #4, registaram-se os valores mais elevados de coprostanol (1513 ng g-1) e de
campesterol (142 ng g-1). Os níveis mais elevados de colesterol (2517 ng g-1) e de stigmasterol (541
ng g-1) foram registados na estação de amostragem #3, na estação #14 o de colestanol (1039 ng g-1) e
na estação #13 o de ß-sitosterol (1029 ng g-1).
O coprostanol é um esterol amplamente utilizado como marcador molecular para avaliar e
monitorizar a poluição por efluentes domésticos em ambientes aquáticos. É um esterol de origem
fecal, formado pela hidrogenação bacteriana do colesterol no intestino de animais superiores. Em
geral, a presença de concentrações superiores a 1000 ng g-1 de coprostanol e a proximidade com
uma potencial fonte são suficientes para uma avaliação preliminar sobre contaminação por esgoto.
Frequentemente utilizam-se, também, índices como ferramentas mais eficientes para avaliar este tipo
de contaminações. A razão coprostanol/colesterol é uma das usadas para identificar a extensão da
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 21
contaminação dos efluentes urbanos. Esta razão foi calculada para os dados obtidos na Lagoa, tendo
os valores variado entre 0.07 e 1.64. Nas estações #4, #12, #13 e #15 este índice foi superior a 1
(Figura 11), valor que se considera indicativo de elevada contaminação fecal em sedimentos. Outro
índice utilizado como critério qualitativo de poluição fecal é a razão
coprostanol/(coprostanol+colestanol), em que razões acima de 0.7 são consideradas típicas de
sedimentos altamente contaminados por esgotos, enquanto que a ausência deste tipo de
contaminação será caracterizada por índices abaixo de 0.3. Os valores obtidos na Lagoa variaram
entre 0.11 e 0.94, sendo superiores a 0.7 nas estações #4, #5, #7, #11 e #13. A estação #3
apresenta uma contaminação intermédia. Nas restantes estações amostradas não se regista
contaminação de origem fecal. A informação fornecida pelos dois índices calculados mostra que os
sedimentos das estações #4 e #13 registam a maior contaminação fecal encontrada na Lagoa.
O campesterol, o ß-Sitosterol e o stigmasterol são marcadores da proveniência de matéria orgânica
de origem terrestre. A sua distribuição nos sedimentos da Lagoa mostra que as concentrações mais
elevadas registam-se nas zonas mais interiores afastadas da foz. O colesterol, sendo um biomarcador
não específico, encontra-se disperso por toda a zona estudada.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
#14 #15 #5 #13 #4 #12 #3 #11 #9 #2 #10 #8 #7 #6 #1 #17
Estações de amostragem
Co
nc.
(n
g g
-1)
Coprostanol Colesterol Colestanol Campesterol Stigmasterol β-sitosterol
#16
Figura 9. Concentrações de biomarcadores orgânicos em sedimentos da Lagoa de Óbidos.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 22
Tabela 10. Concentrações de biomarcadores orgânicos em sedimentos da Lagoa de Óbidos.
Coprostanol Colesterol Colestanol Campesterol Stigmasterol ß-Sitosterol Estação
(ng g-1)
#1 <50 <50 <5 <10 101 10
#2 <50 86 <5 40 211 449
#3 175 2517 101 138 541 723
#4 1513 1298 251 142 524 929
#5 290 732 48 103 455 761
#6 <50 1195 <5 97 419 297
#7 84 748 6 128 406 325
#8 <50 <50 <5 20 130 38
#9 <50 <50 <5 67 262 210
#10 <50 <50 <5 19 130 28
#11 307 563 67 88 402 480
#12 298 182 <5 65 373 306
#13 801 585 134 132 501 1029
#14 126 1428 1039 141 528 839
#15 84 77 <5 59 325 265
#16 <50 <50 <5 <10 <50 8
0.0
0.4
0.8
1.2
1.6
2.0
#14 #15 #5 #13 #4 #12 #3 #11 #9 #2 #10 #8 #7 #6 #1 #17
Estações de amostragem
Índ
ices
Coprostanol/Colesterol Coprostanol/(Coprostanol+Colestanol)
#16
Figura 10. Índices de avaliação de contaminação fecal.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 23
3.1.10 Macrofauna bentónica da lagoa
No presente estudo foram identificados 198 taxa totalizando 19511 indivíduos, distribuídos por 22
grupos taxonómicos principais (Anexo II), dos quais os poliquetas, Oligoquetas, anfípodes,
gastrópodes, bivalves, foronídeos e nemertíneos, foram os mais abundantes. A lista dos taxa
inventariados, bem com as suas respectivas abundâncias por estação de amostragem, é apresentada
no Anexo III.
Os 12 taxa mais abundantes na presente campanha de amostragem perfazem mais de 70% da
abundância total observada e a sua abundância total por local de amostragem apresenta-se na Figura
11. Entre estes taxa encontram-se 5 poliquetas (Heteromastus filiformis, Streblospio shrubsolii, Capitella
spp., Mediomastus fragilis, Tharyx spp.), 2 oligoquetas (Tubificoides benedii e Tubificidae), 1 gastrópode
(Hydrobia cf. ulvae), 1 bivalve (Venerupis pullastra), 2 anfípodes (Corophium acherusicum e Microdeutopus
gryllotalpa) e 1 foronídeo (Phoronida).
À excepção do capitelídeo Mediomastus fragilis, os anelídeos (poliquetas e oligochaetas), foronídeos e
anfípodes dominaram nas estações mais a montante, enquanto este poliqueta e os moluscos foram
mais abundantes na zona central da lagoa (Figura 11).
De entre a totalidade dos taxa identificados, apenas os nemertíneos foram colhidos em todas as
estações de amostragem. O poliqueta Capitella spp. e o anfípode Corophium acherusicum apenas não
foram identificados nas estações #1 e #16, respectivamente (barra) (Figura 11). Por outro lado, o
gastrópode Hybrobia cf. ulvae também foi bastante frequente ao longo da lagoa, estando apenas
ausente nas duas estações localizadas na zona da barra (#1 e #16) (Figura 11). O anfípode
Microdeutopus gryllotalpa apresentou, igualmente, uma distribuição relativamente generalizada pela
lagoa, não tendo sido amostrado apenas na estação #9, para além das estações da barra (Figura11).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 24
Figura 11. Distribuição da abundância total por local de amostragem dos 12 taxa mais abundantes na presente campanha de amostragem, seriados por ordem decrescente de abundância.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 25
Figura 11. Distribuição da abundância total por local de amostragem dos 12 taxa mais abundantes na presente campanha de amostragem, seriados por ordem decrescente de abundância. Continuação.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 26
Figura 11. Distribuição da abundância total por local de amostragem dos 12 taxa mais abundantes na presente campanha de amostragem, seriados por ordem decrescente de abundância. Continuação.
Na Figura 12 apresentam-se os valores médios dos índices univariados número de taxa (S),
abundância (N), riqueza específica (d), diversidade de Shannon-Wiener (H’), equitabilidade de Pielou
(J’) e biomassa calculados para as estações amostradas.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 27
Figura 12. Variação dos valores médios por estação de amostragem do número de taxa (S), abundância (N), riqueza específica (d), diversidade de Shannon-Wiener (H’), equitabilidade de Pielou (J’) e biomassa.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 28
Figura 12. Variação dos valores médios por estação de amostragem do número de taxa (S), abundância (N), riqueza específica (d), diversidade de Shannon-Wiener (H’), equitabilidade de Pielou (J’) e biomassa. Continuação.
O número médio taxa por estação variou entre 3.3±1.2 taxa×0.05m-2 (estação #1) e 46.7±2.1
taxa×0.05m-2 (estação #3), enquanto a abundância média variou entre 6.7±3.8 ind.×0.05m-2 (estação
#1) e 1016.7±1.2 ind.×0.05m-2 (estação #13).
No que respeita aos índices de diversidade e de equitabilidade calculados, os valores mais elevados
de riqueza específica (d) e de diversidade de Shannon-Wiener (H’) foram observados na estação #3
(7.02±0.45; 3.97±0.28, respectivamente), enquanto os valores mais baixos foram registados nas
estações localizadas na barra (estação #16, d, 0.89±0.51; estação #1, H’, 1.47±0.59).
Relativamente à equitabilidade, os valores variaram entre 0.46±0.02 (estação #11) e 0.87±0.08
(estação #1) (Figura 12), indicando que no caso desta última, apesar de apresentar valores reduzidos
de abundância e de número de espécies, existe uma boa relação entre ambas as variáveis analisadas.
Os valores de biomassa foram praticamente vestigiais na estação 1 (0.000403±0.00069 g×0.05m-2) e
máximos na estação 7 (2.58±3.91 g×0.05m-2) (Figura 12).
Da análise multivariada efectuada à matriz de dados biológicos (Figura 13), verifica-se a existência de
um gradiente de jusante para montante, manifestado pela ocorrência de três agrupamentos
faunísticos correspondentes a estações localizadas na zona da barra (Grupo A: estações #1, #16), na
zona central (Grupo B: estações #2, #6, #7, #8, #9, #10) e na zona interior da lagoa (Grupo C:
estações #3, #4, #5, #11, #12, #13, #14, #15) (Figura 13 e 14).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 29
Figura 13. Dendograma e diagrama de ordenação resultantes das análises efectuadas à matriz de dados biológicos.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 30
Figura 14. Localização dos agrupamentos faunísticos evidenciados pela análise multivariada na lagoa de Óbidos.
A repartição da abundância relativa dos grupos taxonómicos principais pelos agrupamentos
faunísticos evidenciados na análise multivariada pode ser observada na Figura 15. A zona de jusante é
claramente dominada pelos nemertíneos (54.6%), ainda que os poliquetas e os gastrópodes tenham,
igualmente, apresentado abundâncias relativamente elevadas (23.9% e 17.8%, respectivamente). Na
restante lagoa, o domínio é dos poliquetas que contribuíram com 46.3% e 48.4% para a abundância
total da zona central e da zona mais a montante, respectivamente. Gastrópodes (18%) e bivalves
(16.1%) co-dominam na zona central, enquanto na zona representada pelo grupo C, este lugar é
ocupado pelos oligoquetas (20.7%) e anfípodes (12.9%).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 31
Figura 15. Abundância relativa dos grupos taxonómicos principais por agrupamento faunístico identificado na análise multivariada.
As estações localizadas mais a jusante são claramente distintas das restantes e caracterizam-se por
um empobrecimento faunístico, quer em termos de número de espécies, quer em termos de
abundância e diversidade. Pelo contrário, este grupo apresenta os valores médios de equitabilidade
mais elevados (Tabela 11). Na lagoa e de jusante para montante, verifica-se um gradiente crescente
de abundância. No que respeita às restantes variáveis biológicas, os valores médios mais elevados
foram registados na zona central (Tabela 11).
Em termos faunísticos, o empobrecimento do agrupamento A resulta na dominância de apenas dois
taxa. Nemertina e Saccocirrus papillocercus perfazem 70% da abundância total do grupo (Tabela 11).
Em oposição, o agrupamento B é o mais diverso, sendo necessários 12 taxa para perfazer 70% da
abundância total, enquanto no grupo C a mesma percentagem foi obtida com 8 taxa (Tabela 11). De
uma forma geral, as espécies exclusivas apresentaram abundâncias médias reduzidas (Tabela 11). O
maior número de espécies exclusivas foi registado no grupo C (Tabela 11).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 32
Tabela 11. Constituição de cada agrupamento faunístico, valores médios (± desvio-padrão) das variáveis biológicas (S – número de taxa; N – abundância; d – diversidade de Margalef; H’ – diversidade de Shannon-Wiener; J’ – equitabilidade de Pielou) para cada um dos agrupamentos, bem como a abundância (± desvio-padrão) das espécies dominantes (abundância cumulativa de 70% do total do grupo) e exclusivas (com pelo menos 10 indivíduos).
LocaisSNd
H'
J'
B
Taxa N Taxa N Taxa NNemertina 14,8±19,4 Mediomastus fragilis 38,3±58,7 Heteromastus filiformis 102,7±75,6Saccocirrus papillocercus 5,0±8,8 Hydrobia cf. ulvae 34,1±48,6 Tubificoides benedii 87,1±103,2
Venerupis senegalensis 26,1±44,6 Streblospio shrubsolii 79,8±132,6Notomastus sp. 23,6±33,1 Tubificidae 36,8±54,3Capitella spp. 16,0±23,2 Phoronida 35,7±75,7Nemertina 14,9±11,0 Corophium acherusicum 30,8±39,5Corophium acherusicum 9,7±15,7 Capitella spp. 29,5±25,7Tharyx spp. 8,4±22,5 Microdeutopus gryllotalpa 29,2±31,4Parapionosyllis elegans 8,2±19,6Calyptraea chinensis 7,8±9,9Microdeutopus gryllotalpa 6,2±12,7Bittium spp. 5,8±7,4
Schistomeringos caecus 3,1±5,7 Abra ovata 10,3±14,9Tellina tenuis 2,9±4,4 Hediste diversicolor 4,9±11,0Microphthalmus pseudoaberrans 2,7±5,4 Polydora ligni 4,3±7,7Pisione remota 2,3±4,9 Ericthonius cf. brasiliensis 3,6±12,6Nassarius reticulatus 1,2±2,1 Idotea chelipes 2,9±10,3Psammechinus miliaris 1,2±3,2 Cyathura carinata 2,0±3,3Nephtys cirrosa 1,1±2,1 Cossura sp. 1,5±3,0Pectinaria koreni 0,8±1,5 cf. Styela sp. 1,2±2,4
Cnidaria 1,0±2,4Cirrophorus furcatus 1,0±3,0Nassarius pfeifferi 0,9±1,3Rissoa spA 0,7±1,1
0,54±0,46
3,09±0,570,65±0,09
CBA3,4,5,11,12,13,14,15
27,5±8,28598,2±258,94,19±1,23
277,3±166,75,47±1,07
Esp
écie
s ex
clu
siva
sE
spéc
ies
do
min
ante
s
0,00±0,00 0,81±0,91
3,41±0,570,69±0,09
1,173,8±1,6
27,2±33,21,08±0,531,48±0,460,84±0,13
2,6,7,8,9,1031,2±8,3
Saccocirrus papillocercus é característico da zona da barra, enquanto Mediomastus fragilis, Venerupis
pullastra, Notomastus sp., Parapionosyllis elegans, Calyptrea chinensis e Bittium spp. foram apontados pela
rotina SIMPER como característicos do grupo B (Tabelas 11 e 12). Por outro lado, Heteromastus
filiformis, Tubificoides benedii, Steblospio shrubsolli, Tubificidae e Phoronida caracterizam o grupo C
(Tabelas 11 e 12). A estas espécies devem associar-se as espécies exclusivas de cada agrupamento.
Ainda que apresentem abundâncias claramente superiores na zona mais a montante da lagoa, as
espécies Corophium acherusicum, Capitella spp. e Microdeutopus gryllotalpa são comuns às zonas central
e interior e, por isso, não são consideradas como características (Tabelas 11 e 12).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 33
Tabela 12. Taxa indicados pela rotina SIMPER como as que mais contribuem para a dissimilaridade entre os grupos faunísticos.
A B C
Taxa Abd. Abd. Abd.Heteromastus filiformis 0 1.94 102.71Tubificoides benedii 0 0.44 87.08Streblospio shrubsolii 0 0.06 79.83Phoronida 0 1.39 35.67Hydrobia cf. ulvae 0 34.11 19.67Mediomastus fragilis 0 38.28 0.42Tubificidae 0 0.61 36.83Corophium acherusicum 0.33 9.67 30.79Capitella spp. 0.5 16 29.5Tharyx spp. 0 8.44 24.17Microdeutopus gryllotalpa 0 6.17 29.38Venerupis senegalensis 0 26.06 0.25Notomastus sp. 0.33 23.61 1.96Pseudopolydora pulchra 0 0.83 9.75Chaetozone spp. 0 0.94 10.83Abra ovata 0 0 10.33Parapionosyllis elegans 0 8.17 4.25Calyptraea chinensis 0 7.78 3.5Bittium spp. 0.17 5.78 2.12Opistobranchia 4.67 0.11 0Saccocirrus papillocercus 5 0.11 0Microphthalmus pseudoaberrans 0 2.78 0Schistomeringos caecus 0 3.11 0Scoloplos armiger 0.33 1.5 0Tellina tenuis 0 2.94 0Pisione remota 0 2.28 0Amphipholis squamata 0 1.94 4.25Caulleriella spp. 0 4.11 0.17
O estado de qualidade ecológico foi determinado com base no método das curvas ABC e do índice
biótico AMBI. Pela análise das curvas ABC (Figura 16), foi possível identificar 4 situações de
perturbação moderada, evidenciadas pelos valores negativos de W estatístico. Estas situações foram
visíveis nos locais representados pelas estações de amostragem 4, 13, 11 e 12 (Figura 16),
demarcando uma área bastante localizada na lagoa (Figura 17). Os restantes locais não apresentam
indícios de perturbação, com base nos resultados obtidos com este método.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 34
Figura 16. Curvas ABC e valor de W estatístico para as estações amostradas na lagoa de Óbidos. A azul representa-se a biomassa e a verde a abundância.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 35
Figura 17. Distribuição espacial do W estatístico nas estações amostradas na lagoa de Óbidos.
A análise do índice biótico AMBI evidenciou a existência de uma zona na lagoa de Óbidos
(representada pela estação #11) muito perturbada, onde predominam as espécies mais tolerantes à
poluição. Por outro lado, a área correspondente às estações #3, #4, #5, #12 e #13 (interior-centro
da lagoa) foi classificada como moderadamente perturbada. No entanto, a maioria das estações de
amostragem apresenta-se pouco perturbada, de acordo com este índice (Figura 18, topo). Contudo,
da análise do índice M-AMBI, os resultados são, em alguns casos, bastante diferentes (Figura 18,
base). Estados de qualidade moderados foram verificados para as estações #1, #11 e #16, enquanto
as restantes apresentaram bom (#4, #5, #12, #13, #14 e #15) ou elevado estado de qualidade (#2,
#3, #6, #7, #8, #9, #10) (Figura 18, base). No que respeita à análise das percentagens relativas para
os diferentes grupos ecológicos (Figura 19), verificou-se que as estações #4, #5, #11, #12 e #13
foram as que apresentaram percentagens mais reduzidas de taxa sensíveis ou indiferentes ao
enriquecimento orgânico (grupos I e II) (Figura 19). Nestas estações, a dominância de espécies
oportunistas (grupos IV e V) foi clara, perfazendo mais de 42.9% da abundância total (estação 13) e
chegando a atingir 83.7% (estação 11) (Figura 19). No entanto, em 11 das 16 estações amostradas o
grupo dominante foi o III, correspondendo a espécies tolerantes ao enriquecimento orgânico (Figura
19).
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 36
Figura 18. Variação do índice biótico AMBI (topo) e do M-AMBI (base) para cada uma das estações de amostragem. Quadrados amarelos – estações do grupo faunístico A; quadrados laranja – estações do grupo faunístico B; quadrados castanhos – estações do grupo faunístico C.
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
I(%) II(%) III(%) IV(%) V(%)
Figura 19. Variação da percentagem relativa dos taxa pertencentes aos diferentes grupos ecológicos contemplados no índice biótico AMBI para cada uma das estações de amostragem. I – sensíveis; II – indiferentes; III – tolerantes; IV – oportunistas de 2ª ordem; V – oportunistas de 1ª ordem.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 37
A comparação do índice AMBI em 2001 e 2008 (presente campanha de amostragem) permite-nos
fazer uma análise da evolução do estado ecológico da lagoa de Óbidos ao longo destes 7 anos. Neste
período, a lagoa sofreu diversas intervenções, das quais a entrada em funcionamento do emissário
submarino da Foz-do-Arelho foi uma das mais importantes. Relativamente à estação 16, não podem
ser tecidas quaisquer considerações, na medida em que em 2001 não foi amostrada nenhuma estação
neste local. Há, ainda, a salientar uma alteração evidente na lagoa entre ambos os períodos de
amostragem e que se prende com a migração da barra. Esta mudança da posição da barra teve como
consequências óbvias um aumento considerável do valor de AMBI nas estações 6 e 7 (outrora
localizadas na barra). Contudo, este aumento, apesar de considerável, deve-se ao facto do menor
hidrodinamismo agora ali verificado permitir a colonização, não só de um maior número de espécies,
como de algumas espécies típicas de enriquecimento orgânico e que anteriormente não tinham
condições para proliferar. Em todo o caso, apenas a estação 7 se encontra no limiar do
moderadamente perturbado (Figura 20).
Figura 20. Análise comparativa do índice biótico AMBI em 2001 e 2008 para as estações de amostragem contempladas na presente campanha de amostragem.
Os resultados obtidos na presente campanha de amostragem evidenciaram, uma vez mais, a
separação da lagoa em três áreas principais, cada uma das quais caracterizada por agrupamentos
faunísticos distintos e característicos: zona da barra, zona central e zona interior.
A zona da barra apresentou um reduzido número de taxa e abundância, reflectindo o elevado
hidrodinamismo que se verifica nesta área. É, naturalmente, a zona com maior influência marinha. Por
outro lado, a zona central, apresentou o pico de diversidade, à semelhança do que já havia sido
registado em campanhas anteriores, enquanto a abundância aumentou de jusante para montante. A
combinação da informação relativa aos agrupamentos faunísticos identificados pela análise
multivariada e os índices/metodologias aplicadas para caracterização do estado de qualidade ecológica
da lagoa, evidenciou que estações localizadas na zona da barra apresentam valores de AMBI mais
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 38
baixos, logo melhor qualidade ecológica. Este resultado é concordante com o método das curvas
ABC, já que estas estações foram as que apresentaram valores de W-estatístico mais elevados. A
zona central apresentou valores intermédios, enquanto o grupo C (interior) apresentou, claramente,
os valores mais elevados de AMBI e mais baixos de W-estatístico, denotando a existência de
povoamentos menos estruturados e estados ecológicos mais frágeis. Este gradiente já havia sido
identificado para a lagoa de Óbidos em campanhas anteriores (Carvalho et al., 2006). No que respeita
ao índice multivariado M-AMBI, que contempla, para além do índice biótico AMBI, outras medidas
como sendo a diversidade de Shannon-Wiener e a abundância, os resultados não foram
concordantes. Algumas estações apresentam um estado de qualidade superior recorrendo a esta
medida, já que deixa de ser tida em consideração apenas a composição faunística com base na
classificação do comportamento ecológico de cada taxa, mas também o número de espécies e a
riqueza específica. Noutros casos, o resultado não aparenta corresponder à realidade. Com efeito,
com base no M-AMBI, as estações com estado ecológico mais baixo (moderado), são as estações da
barra (#1 e #16) e a estação #11. Neste caso, as estações da barra são claramente afectadas por
apresentarem reduzido número de espécies e abundância. Este resultado deve-se ao facto de
estarem localizadas numa zona bastante hidrodinâmica e não a qualquer tipo de perturbação
antropogénica. Assim, no presente caso, os resultados obtidos com o índice AMBI e com o métodos
das curvas ABC parecem ser os mais ajustados à realidade.
3.2 Ensaio Laboratorial
A Tabela 13 apresenta os valores de oxigénio e pH registados durante o ensaio experimental que se
realizou em laboratório para avaliar a remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de água.
A salinidade variou entre 35 e 36 durante o ensaio experimental e a temperatura entre os 21 e os 23
ºC. O oxigénio foi aproximadamente idêntico nos três replicados onde se procurou reproduzir
condições óxicas, assim como o pH. No entanto, no grupo de réplicas onde se recriaram as
condições anóxicas a réplica número 3 apresentou uma percentagem em oxigénio inferior às
restantes.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 39
Tabela 13. Características físico-químicas da coluna de água durante o ensaio experimental de remobilização de metais dos sedimentos para a coluna de água.
Condição Réplica O2 (%) pH
1 100 7.7
Óxica 2 98 7.7
3 96 7.8
1 36 7.7
Anóxica 2 33 7.8
3 22 7.7
A Tabela 14 apresenta os teores de metais dissolvidos em cada um dos replicados após as 48 horas
de experiência. O Mn foi o metal mais abundante na coluna de água, seguindo-se o Pb, Cu e Ni, o Cr
e por fim o Cd. Os teores de Mn foram mais elevados nos 3 replicados que procuraram reproduzir
as condições anóxicas do que nas réplicas onde se borbulhou O2. Contrariamente, os níveis de Pb e
com menor expressão os de Cu foram mais elevados em condições óxicas. Por outro lado, os teores
de Ni, Cd e Cr não parecem apresentar diferenças entre as duas situações testadas. Os óxidos de
Mn são de facto os primeiros compostos a ser utilizados na degradação da matéria orgânica em
condições anóxicas (Figura 21) e são facilmente mobilizados do sedimento para a coluna de água.
Durante o ciclo de 24 horas realizado no Braço da Barrosa este foi um dos elementos que mais
incrementos sofreu durante o período nocturno. Trabalhos anteriores, já publicados, demonstraram
também a remobilização deste metal in situ (Pereira et al., in press). Os processos associados aos
outros metais parecem ser mais complexos, pois dependem não só da difusão molecular dos metais
dos sedimentos para a coluna de água mas também da actividade dos organismos que residem nos
sedimentos – os organismos bentónicos. Teoricamente, os metais associados aos óxidos de Fe e Mn,
como sejam o Pb seriam também libertados para a coluna de água em condições anóxicas. No
entanto, os resultados obtidos para o Pb apontam para o inverso. Este resultado pode estar
associado à importância dos organismos neste processo, como equacionado por outros autores
(Point et al., 2007).
Tabela 14. Níveis de metais na coluna de água após 48 de experiência.
Mn Ni Cu Cd Pb Cr Condição Réplica
(µg L-1)
1 188 1.00 1.31 0.041 2.84 0.33
Óxica 2 189 0.60 0.84 0.030 4.33 0.21
3 - 0.35 0.54 0.024 1.35 0.22
1 324 0.84 0.50 0.032 1.15 0.59
Anóxica 2 278 0.51 0.42 0.036 0.70 0.29
3 340 0.57 0.33 0.039 0.30 0.20
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 40
É sabido, que as condições existentes nos sedimentos são drasticamente diferentes das encontradas
na coluna de água. Enquanto que na água o oxigénio dissolvido existe em quantidade suficiente para
ser utilizado nas reacções de oxidação, no sedimento o oxigénio existe apenas na camada superficial
(entre mm e cm de espessura) sendo consumido durante a oxidação da matéria orgânica aí presente
(Vale, 1989). À medida que a concentração de O2 diminui, outros oxidantes são consequentemente
utilizados na degradação do material orgânico depositado. A sequência das espécies oxidantes [O2,
NO3-, óxidos de metais (Fe (III) e Mn (IV)), SO42-] utilizada é determinada pela energia livre de Gibbs
(∆Gº). Sendo a oxidação da matéria orgânica pelo O2 mais favorável termodinamicamente e estando
ele presente abundantemente à superfície do sedimento, esta espécie química é a primeira a ser
utilizada (camada 1). A diminuição da sua concentração, com a profundidade, leva a que sejam
utilizados sequencialmente outros oxidantes (ver Figura 21).
Redução de SO42-
Redução de Fe(III)
Redução de Mn(IV)
Produção de NO3-
Consumo de O2
Água
Figura 21. Representação esquemática da zonação química de um sedimento.
As concentrações dos metais na coluna de água dos vários replicados foram expressas em mol por
unidades de volume e tempo por forma a estimar os fluxos dos metais. O volume de água existente
em cada core-ensaio variou entre os 2 e os 3 L e o tempo da experiência foi de 48 horas. Os
resultados dos fluxos dos vários metais são apresentados na Tabela 15. Os fluxos estimados foram
muito idênticos nas duas condições e no caso de metais como o Pb os valores obtidos foram
superiores nas condições óxicas. De uma forma geral, os resultados obtidos nesta experiência
laboratorial não reflectem a libertação de metais dos sedimentos da lagoa (Barrosa), em condições
anóxicas, para a coluna de água. Contrariamente ao observado na experiência, é sabido que as trocas
sedimento-água podem desempenhar um papel fundamental na contaminação da coluna de água. De
facto, durante os ciclos de 24 horas realizados no Verão no Braço da Barrosa foi possível constatar a
importância destes processos.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 41
Tabela 15. Fluxos de metais do sedimento para a coluna de água após 48 de experiência em cada réplica e os valores médio e erro padrão.
Condição Réplica Mn Ni Cu Cd Pb Cr (µmol cm-2 hora-1) (nmol cm-2 hora-1)
1 15 77 93 1.6 62 28
Óxica 2 19 56 73 1.5 115 22
3 - 30 43 1.1 33 22
média±erro P 17±1.8 54±14 69±15 1.4±0.17 70±24 24±2.2
1 21 50 27 1.0 19.4 40
Anóxica 2 16 28 22 1.0 11.0 18
3 10 15 8.0 0.54 2.2 5.8
média±erro P 16±3.2 31±10 19±5.7 0.86±0.16 11±5.0 21±9.9
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 42
4 CONCLUSÕES
A avaliação da qualidade dos sedimentos superficiais da lagoa de Óbidos apontou para as seguintes
conclusões:
• As zonas mais interiores da Lagoa acumulam maiores quantidades de matéria orgânica e
contaminantes. Pontualmente algumas estações do corpo central apresentaram valores
elevados de compostos orgânicos.
• De entre os metais quantificados, apenas os teores de Cr e Ni se encontraram acima dos
limites estabelecidos por Long e et al. (1995) relativos à toxicidade por metais e
contaminantes orgânicos em diversas estações da lagoa. Os teores de fluoreno (PAH) foram
apenas também superiores na estação #8 a esses limites podendo-se especular alguma
toxicidade para os organismos.
• O campesterol, o ß-sitosterol e o stigmasterol são marcadores da proveniência de matéria
orgânica de origem terrestre. A sua distribuição nos sedimentos da Lagoa mostrou
concentrações mais elevadas nas zonas mais interiores da lagoa. O colesterol, sendo um
biomarcador não específico, encontrou-se disperso por toda lagoa.
• Na lagoa podem identificar-se três áreas principais, cada uma das quais caracterizada por
agrupamentos faunísticos distintos e característicos: zona da barra, zona central e zona
interior. A zona da barra apresentou um reduzido número de taxa (diversidade) e de
abundância, reflectindo o elevado hidrodinamismo que se verifica nesta área. Por outro lado,
a zona central, apresentou o pico de diversidade, à semelhança do que já havia sido registado
em campanhas anteriores, sendo que a abundância aumentou de jusante para montante (até
esta zona).
• Face aos resultados obtidos para a componente biológica não se pode dizer que sejam já
evidentes melhorias no estado ecológico da lagoa, após a entrada em funcionamento do
emissário submarino. É inquestionável que esta é uma boa medida de remediação do
ecossistema, tendo-se reflectido em melhorias ao nível da qualidade da água. Contudo, os
sedimentos são entidades relativamente estáveis ao longo do tempo. Por isso, os níveis de
contaminantes retidos nos sedimentos têm-se mantido relativamente constantes, apesar da
redução das fontes de contaminação da lagoa após a entrada em funcionamento do
emissário. A tendência dos povamentos faunísticos será também para recuperar mas este é
um processo naturamente lento.
• À excepção da estação #11, a maioria dos locais amostrados encontra-se pouco a
moderadamente perturbados, sendo dominados por espécies tolerantes ao enriquecimento
orgânico ou seja por organismos mais resistentes à poluição. As condições hidrodinâmicas da
lagoa parecem estar a ser condicionantes na recuperação do estado ecológico da lagoa,
particularmente na margem direita da zona central-interior e no braço da Barrosa. Esta zona
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 43
poderá estar mais sujeita à sedimentação natural de partículas em suspensão na coluna de
água, promovendo uma acumulação de sedimentos finos, usualmente ricos em matéria
orgânica. Desta forma, propicia-se a proliferação de espécies de pequenas dimensões e de
crescimento rápido em detrimento de espécie de biomassas mais elevadas e de crescimento
mais lento, com repercussões ao nível da classificação do estado ecológico destas áreas.
• Apesar dos sedimentos ricos em matéria orgânica poderem representar uma fonte de metais
para a coluna de água durante a sua decomposição em condições anóxicas, o ensaio
laboratorial não revelou diferenças significativas entre as duas situações testadas: óxica e
anóxica. Ou seja, não foi possível demonstrar em laboratório a importância das trocas
sedimento-água que haviam sido previamente observadas no Braço da Barrosa durante o
ciclo de 24 horas no Verão.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 44
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Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 45
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Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 46
ANEXO I
Famílias de curvas acumulativas dos tipos sedimentares identificados
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 47
0
25
50
75
100
10 100 1000 10000
Diâmetro das partículas (µµµµm)
Pes
os
acu
mu
lad
os
(%)
#6 #17
Figure 1. Família de curvas acumulativas de areia grossa
0
25
50
75
100
10 100 1000 10000
Diâmetro das partículas (µµµµm)
Pes
os
acu
mu
lad
os
(%)
#1 #2 #8 #10
Figura 2. Família de curvas acumulativas de areia média.
0
25
50
75
100
10 100 1000 10000
Diâmetro das partículas (µµµµm)
Pes
os
acu
mu
lad
os
(%)
#7 #9
Figura 3. Família de curvas acumulativas de areia média lodosa
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 48
0
25
50
75
100
10 100 1000 10000
Diâmetro das partículas (µµµµm)
Pes
os
acu
mu
lad
os
(%)
Figura 4. Curva acumulativa de lodo arenoso (# 3).
0
25
50
75
100
10 100 1000 10000
Diâmetro das partículas (µµµµm)
Pes
os
acu
mu
lad
os
(%)
#4 #5 #11 #12 #13 #14 #15
Figura 5. Família de curvas acumulativas de lodo.
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 49
ANEXO II
Lista dos taxa inventariados nas estações de amostragem
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
IST/IPIMAR 50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Ph. PORIFERASycon elegans (Bowerbank, 1845) XPh. CNIDARIACnidaria n id X X X X X XCl. AnthozoaActinia equina (Linnaeus, 1758) X X XEdwardsiidae n id X X XPh. NEMERTINANemertina n id X X X X X X X X X X X X X X X XPh. MOLLUSCACl. GastropodaSubcl. HeterobranchiaPyramidellidae Chrysallida sp. Carpenter, 1857 XOdostomia sp. Fleming, 1813 X XRissoidae Rissoa spA Freminville in Desmarest, 1814 X X X XRissoa spB Freminville in Desmarest, 1814 X X XSubcl. Opistobranchia Opistobranchia n id Milne-Edwards, 1848 X XAkeridae Akera bullata O. F. Müller, 1776 X X X X X XHaminoidae Haminoea sp. Turton & Kingston in Carrington, 1830 X X X XRetusidae Retusa truncatula (Bruguière, 1792) XRingiculidaeRingicula sp. Deshayes, 1838 XSubcl. ProsobranchiaGastropoda n id XCalyptraeidae Calyptraea chinensis (Linnaeus, 1758) X X X X X X X XCerithiidae Bittium spp. Leach in Gray, 1847 X X X X X X X XHydrobiidae Hydrobia cf. ulvae Pennant, 1777 X X X X X X X X X X X X X XMuricidae Nassarius pfeifferi (Philippi, 1844) X X X X X XNassarius reticulatus (Linnaeus, 1758) X X X X XNassarius sp. Dumeril, 1806 XNaticidae Euspira pulchella (Risso, 1826) X XTrochidaeGibbula umbilicalis (da Costa, 1778) XGibbula sp. Risso, 1826 XTurbinidae Tricolia sp. Risso, 1826 XCl. PolyplacophoraIschnochitonidaeLepidochitona cinerea (Linnaeus, 1767) X X X XCl. BivalviaBivalvia n id XSubcl. ProtobranchiaNuculidaeNucula sp. Lamarck, 1799 XSubcl. PteriomorphiaMytilidaeMusculus costulatus (Risso, 1826) X XMusculus sp. Röding, 1798 X XModiolus barbatus (Linnaeus, 1758) XModiolus modiolus (Linnaeus, 1758) XModiolus sp. Lamarck, 1799 X X X X X XMytilus edulis Linnaeus, 1758 XMytilus galloprovincialis Lamarck, 1819 X X XPectinidaeChlamys varia (Linné, 1758) X
Relatório Final: Caracterização dos sedimentos da Lagoa de Óbidos
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Subcl. HeterodontaCardiidaeCerastoderma edule (Linnaeus, 1758) X X X X X X XParvicardium exiguum (Gmelin, 1790) X X X X X X X X X XParvicardium papillosum (Poli) X X XCorbulidaeCorbula gibba (Olivi, 1792) X X X X X XHiatellidaeHiatella arctica (Linnaeus, 1758) XLucinidaeLoripes lucinalis (Lamarck, 1818) X X X X X X XMactridaeSpisula spp. Gray, 1837 X X X XSpisula subtruncata (da Costa, 1778) XMontacutidaeMysella bidentata (Montagu, 1803) X X X X X X XTellimya ferruginosa (Montagu, 1808) X X XSemelidaeAbra alba (Wood W., 1802) X X X X X X XAbra segmentum (Récluz, 1843) X X X X X X XAbra spp. Leach in Lamarck, 1818 X X X X X X XAbra tenuis (Montagu, 1803) X X X X XErvilia castanea (Montagu, 1859) X XScrobiculariidaeScrobicularia plana (da Costa, 1778) X XTellinidaeTellina (Moerella) donacina Linnaeus, 1758 X X XTellina fabula Gmelin, 1791 XTellina pulchella Lamarck, 1818 X XTellina (Moerella) pygmaea Lovén, 1846 XTellina tenuis da Costa, 1778 X X X X XPsammobiidaeGari fervensis (Gmelin, 1791) XVeneridaeDosinia exoleta (Linnaeus, 1758) X XDosinia lupinus (Linnaeus, 1758) X XIrus irus (Linnaeus, 1758) XVeneridae n id X X X X X X XRuditapes decussatus (Linnaeus, 1758) Xcf. Timoclea ovata (Pennant, 1777) XVenerupis senegalensis (Gmelin, 1791) X X X X X X XSubcl. AnomalodesmataThraciidaeThracia sp. Leach in Blainville, 1824 X X XPh. SIPUNCULA Sedgwick, 1898Cl. Sipunculidea PhascolionidaePhascolion (Phascolion) strombi (Montagu, 1804) XPh. ANNELIDACl. ClitellataSubcl. OligochaetaOligochaeta n id XTubificidae Tubificidae sp. X X X X X X X X X X XTubificoides benedii (Udekem, 1855) X X X X X X XCl. PolychaetaAmpharetidae Alkmaria romijni Horst, 1919 XMelinna palmata Grube, 1870 XCapitellidae Capitella spp. Blainville, 1828 X X X X X X X X X X X X X X XHeteromastus filiformis (Claparède, 1864) X X X X X X X X X X XMediomastus fragilis Rasmussen, 1973 X X X X X X X X XNotomastus sp. Sars, 1850 X X X X X X X X X X X X
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Cirratulidae Cirratulidae n id X X XCaulleriella sp. Chamberlin, 1919 X X X X X X XChaetozone sp. Malmgren, 1867 X X X X X X X X XCirriformia tentaculata (Montagu, 1808) X X X X X XTharyx sp. Webster & Benedict, 1887 X X X XCossuridaeCossura sp. Webster & Benedict, 1887 X XDorvilleidae Ophryotrocha sp. Claparède & Mecznikow, 1869 X XSchistomeringos caeca (Webster & Benedict, 1887) X X X XGlyceridae Glycera convoluta Keferstein, 1862 X XGlycera lapidum Quatrfages, 1865 XGlycera oxycephala Ehlers, 1887 XGlycera rouxi Audouin & Milne Edwards, 1833 X XHesionidaeMicrophthalmus pseudoaberrans Campoy & Viéitez, 1982 X XSyllidia armata Quatrefages, 1866 X X X X XLumbrineridae Lumbrineris gracilis Ehlers, 1868 X XLumbrineris latreilli Audouin & Milne Edwards, 1834 X XLumbrineris tetraura (Schmarda, 1861) XMaldanidae Euclymene cf. collaris (Claparède, 1869) X X XNephtydae Nephtys cirrosa (Ehlers, 1868) X X XNephtys spp. Cuvier, 1817 X X XNereididae Hediste diversicolor (O.F. Müller, 1776) X X X X X XPlatynereis dumerilii (Audouin & Milne-Edwards, 1833) XOnuphidae Diopatra neapolitana delle Chiaje, 1841 X X XOpheliidae Opheliidae n id X X XOphelia sp. Savigny, 1818 X X XOrbiniidaePhylo foetida (Claparède, 1869) XScoloplos (Scoloplos) armiger (Müller, 1776) X X X X XOweniidae Galathowenia oculata (Zachs, 1922) X X XOwenia fusiformis Delle Chiaje, 1841 XParaonidae Paraonidae n id X XCirrophorus furcatus (Hartman, 1957) Xcf. Paraonides sp. Cerruti, 1909 XPectinariidae Pectinaria (Lagis) koreni (Malmgren, 1866) X X XPholoidaePholoe inornata Johnston, 1839 X X XPhyllodocidae Eteone foliosa Quatrefages, 1866 X XMysta picta (Quatrefagues, 1865) X X X X XEumida sp. Malmgren, 1865 X XPilargidae Sigambra tentaculata (Treadwell, 1941) XPisionidaePisione remota (Southern, 1914) X X XPolynoidae Harmothoe sp. Kinberg, 1856 XSabellidae Chone sp. Krøyer, 1856 X X X X XDesdemona ornata Banse, 1957 X X X X X X XSaccocirridaeSaccocirrus papillocercus Bobretzky, 1872 X X X XSerpulidae Pomatoceros lamarki (Quatrefages, 1866) X X XPomatoceros triqueter (Linnaeus, 1758) X X X X
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Sigalionidae Sthenelais boa (Johnston, 1833) X X XSpionidae Aonides oxycephala (Sars, 1862) X X X X XMalacoceros fuliginosus (Claparède, 1869) X X X XPolydora ligni Webster X X X X XPrionospio cirrifera Wirén, 1833 X XPrionospio fallax Söderström, 1920 X X XPrionospio (Minuspio) pulchra Imajima, 1990 X XPseudopolydora antennata (Claparède, 1869) X X XPseudopolydora paucibranchiata (Okuda, 1937) X XPseudopolydora pulchra (Carazzi, 1895) X X X X XPseudopolydora sp. Czerniavsky, 1881 X XPygospio elegans Claparède, 1863 XSpio cf. decoratus Bobretzki, 1870 X X X X X XSpio filicornis (Müller, 1776) XSpiophanes bombyx (Claparède, 1870) X XSpiophanes kroyeri Grube, 1860 XStreblospio shrubsolii (Buchanan, 1890) X X X X X X X XSpirorbidaeSpirorbidae n id X X X XSyllidaeAutolitinae n id XExogone sp. Örsted, 1845 XParapionosyllis elegans (Pierantoni, 1903) X X XSyllis spp. Lamarck, 1818 XTerebellidae Lanice conchilega Pallas, 1766 XPolycirrus sp. Grube, 1850 X XPh. ARTHROPODA Subph. Crustacea Cl. MalacostracaSubcl. Eumalacostraca Superord. Peracarida Ord. Mysida MysidaeMysidae n id Xcf. Mysidopsis gibbosa G.O. Sars, 1864 XParamysis nouveli Labat, 1953 X X X X X XOrd. Amphipoda Amphipoda n id X XLembos sp. Bate, 1857 XUrothoe cf. hesperiae Conradi, Lopez-Gonzalez & Bellan-Santini 1995 XAoridae Aora gracilis (Bate, 1857) X XMicrodeutopus gryllotalpa Costa, 1853 X X X X X X X X X X X X XCaprelidae Caprella sp. Guilding, 1824 X XCorophiidae Corophium acherusicum Costa, 1851 X X X X X X X X X X X X X X XCorophium sextonae Crawford, 1937 X X X X X X X XDexaminidae Dexamine spinosa (Montagu, 1813) X X X X X X XGammaridae Elasmopus rapax Costa, 1853 X XGammarus insensibilis Stock, 1966 X XGammarus sp. Fabricius, 1775 XIschyroceridae Ericthonius punctatus (Bate, 1857) XMelitidae Melita palmata (Montagu, 1804) X X X X X X X X X X XPhtisicidae Phtisica marina Slabber, 1769 X X X X X X XOrd. Isopoda Isopoda n id X
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16Anthuridae Anthuridae n id XCyathura carinata (Krøyer, 1847) X X X X X XIdoteidae Idotea chelipes (Pallas, 1766) X X X X XSphaeromatidae Lekanesphaera hookeri (Leach, 1814) X X X XLekanesphaera monodi (Arcangeli, 1934) X XOrd. Cumacea Bodotriidae Iphinoe serrata Norman, 1867 X X X X XIphinoe sp. Bate, 1856 X XIphinoe trispinosa (Goodsir, 1843) X X X X X XSuperord. Eucarida Ord. Decapoda Brachyura n id X XMegalopa Decapoda X X X XHippolytidaeThoralus cranchii (Leach, 1817) XPaguridaeAnapagurus hyndmanni (Bell, 1845) XDiogenidaeDiogenes pugilator (Roux, 1829) X XGrapsiidaecf. Pachygrapsus marmoratus (Fabricius, 1787) XPortunidaeCarcinus maenas (Linnaeus, 1758) X X X X X X XLiocarcinus marmoreus (Leach, 1814) XLiocarcinus sp. Stimpson, 1870 XXanthidaePilumnus hirtellus (Linnaeus, 1761) XSupercl. Insecta Chironomidea n id X X X X X X XInsecta n id X X X XInsecta Larvas n id X XCl. OstracodaOstracoda n id XCl. PycnogonidaAmmotheidaeAchelia cf. echinata Hodge, 1864 XAmmothella longipes (Hodge, 1864) XNimphon cf. brevirostre Hodge, 1863 XPh. PHORONIDAPhoronida n id X X X X X X X X X XPh. ECHINODERMATAOrd. EchinoideaEchinidaeParacentrotus lividus (de Lamarck, 1816) XPsammechinus miliaris (P.L.S. Müller, 1771) X X XOrd. HolothurioideaSynaptidaeLeptosynapta inhaerens (O. F. Müller, 1776) X X X X X XOrd. OphiuroideaAmphiuridaeAmphipholis squamata (Delle Chiaje, 1828) X X X X X X X X XPh. CHAETOGNATHACl. SagittoideaSagittoidea n id X X X XPh. UROCHORDATA Subph. Tunicata Infraph. Ascidiae Cl. AscidiaceaOrd. EnterogonaSubord. StolidobranchiaStyelidaecf. Styela sp. Fleming, 1822 X X X X XPh. CHORDATA Cl. Actinopterygii SyngnathidaeSyngnathus acus Linnaeus, 1758 X