ISSN 2176-1396
REDES SOCIAIS E APLICATIVOS COMO FERRAMENTA DE
COMUNICAÇÃO DOS ALUNOS SURDOS
Regiane Cristina de Oliveira Morais1 - UNITAU
Ana Carolina da Silva Rocha2 - UNITAU
Profª Dra. Suelene Regina Donola Mendonça3 - UNITAU
Eixo–Educação, Tecnologia e Comunicação
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Neste trabalhou buscou-se investigar quais as redes sociais e aplicativos de interação mais
utilizados pelos alunos (as) surdos (as) e quais os motivos destes sujeitos acessarem a Internet.
Contudo, como o acesso a redes sociais, a troca de mensagens de textos em aplicativos, por
surdos, alunos adultos da Rede Estadual Pública pôde contribuir para o uso da escrita em Língua
Portuguesa. Os 17 participantes desta pesquisa são usuários de Libras como primeira língua e
língua portuguesa, enquanto segunda língua. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados
foram um questionário, com questões fechadas e abertas baseado no método Likert, entrevistas
semi-estruturadas realizadas pela pesquisadora com esses sujeitos, num município do Vale do
Paraíba, no Estado de São Paulo. A pesquisa teve abordagem quantitativa e qualitativa, com o
tipo de pesquisa exploratória. A fundamentação teórica utilizada são os estudos de Pierre Levy
(1999) , Stumpf (2010), Vygotsky (1935 apud REGO, 1995) e Skliar (2015) . Refletiu-se sobre
o uso das redes sociais e aplicativos como fatores que proporcionam a inclusão social dos
surdos, assim verificou-se que a comunicação dos surdos com os demais,mediada pelas novas
tecnologias digitais, que colaboram para inclusão.Os resultados indicaram que os surdos
utilizam estas tecnologias digitais, como facilitadoras da interação social e profissional, pois
em seus discursos afirmaram que trocam mensagens de texto escritas em português e vídeos
em Libras. Assim, eles estabelecem comunicação mesmo a distância com as outras pessoas. O
que tem proporcionado a inclusão social, por meio do espaço virtual, quando eles navegam na
Internet e vivenciam a interação interpessoal.
Palavras-chave: Inclusão social. Redes sociais e aplicativos de interação. Surdos.
1Cursando Mestrado Profissional em Educação na Universidade de Taubaté_UNITAU (2016-2018), Pós graduada
em Ed. Especial (D. Auditiva), graduada em Pedagogia e Letras. Professora de Ed. Básica. 2Cursando Mestrado Profissional em Educação na Universidade de Taubaté_UNITAU (2016-2018), Pós- graduada
em Gestão Educacional, graduada em Normal Superior. 3 Professora Doutora em Educação pela PUC-SP, Mestre em Educação pela PUC-SP.Professora dos cursos de
Pedagogia, Mestrado Profissional em Educação da UNITAU E na Pró- reitoria estudantil. Realiza estudos sobre
Inclusão Escolar e Social de alunos com Deficiência . E-mail: [email protected]
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Introdução
As tecnologias da informação e comunicação se configuram como um meio de interação
interpessoal mediada por aparelhos eletrônicos, em redes sociais digitais e aplicativos de
interação. Nesse sentido, justifica-se a pertinência do objetivo geral desta pesquisa,
caracterizado por investigar e analisar o uso destas tecnologias digitais, por sujeitos surdos
adultos e usuários de língua brasileira de sinais (Libras), estudantes do Ensino Médio da Rede
Estadual Pública de Ensino, em um município do Vale do Paraíba.
Vygotsky nos advertiu que o aprendizado e a interação com os demais são fatores muito
importantes, pois “é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes" (VYGOTSKY, 1935, p.97 apud REGO, 1995).
Por meio desta mediação pode-se resolver problemas, com a cooperação de pessoas mais
experientes. Nesta óptica , por meio de intervenção de outros, os mais experientes, de mediação
e por instrumentos descritos pelo autor, que surgiram estes questionamentos:
Quais as redes sociais mais utilizadas pelos sujeitos dessa pesquisa? E para que fins
utilizam as redes sociais e a Internet?
Em contraponto ao problema das dificuldades de comunicação e interação interpessoal
que os surdos enfrentam no cotidiano, devido não manter comunicação verbal como as demais
pessoas ouvintes, pois carregam o estigma (GOFFMAN, 1981) da falta de audição. Mas, são
usuários de Libras.
Delimitou-se o estudo as redes sociais digitais enquanto meio para o acesso e troca de
informações, com o uso de computadores, notebooks, celulares, Smatphones, Iphone, Tablets
para entrar e navegar na Internet.Assim, "considerar o computador apenas como um
instrumento a mais para produzir textos, sons ou imagens sobre suporte fixo [...] O computador
é, portanto, antes de tudo um operador de potencialização da informação" (LÉVY, 1996, p. 41).
Para Lévy (1996) as novas tecnologias da informação, e comunicação (nesse caso o
computador) podem auxiliar as pessoas a adquirir mais conhecimentos e trocar informações de
forma mais rápida.O autor ressalta o novo modo de interagir, conversar e trocar informações
das pessoas, que acontece no ciberespaço, no espaço da Internet.Por isso, tornou-se interessante
e um desafio pesquisaras interações sociais, bem como conhecer quais as redes sociais usadas
por alunos surdos adultos, para que as usam.
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Pensar de que forma essas práticas contribuíram para minimizar os desafios e obstáculos
impostos pela sociedade aos surdos na comunicação.
Surdos, as redes sociais e as TICS, a comunicação mediada por computadores.
A definição do termo tecnologia nesta pesquisa está ligada a toda inovação, aos
instrumento ou aparelhos criados para facilitar a comunicação. Assim segundo Stumpf (2010)
o termo “tecnologia tem sua origem etimológica na palavra grega ‘Téchné’ que significa ‘saber
fazer’. [...] a utilização de um computador deve, antes de mais nada, resultar de uma escolha
baseada no conhecimento das possibilidades oferecidas pela máquina”, assim verifica-se que a
tecnologia abrange os conhecimentos organizados e voltados para a prática. Neste caso percebe-
se em uma breve pesquisa bibliográfica, que os saberes e as tecnologias utilizadas na educação
dos surdos caracterizam- se como tecnologias assistivas.
Por tecnologia assistiva entende-se que esta é a área do conhecimento de característica
interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços
com o objetivo de promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação das
pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia,
independência, qualidade de vida e inclusão social (LIMA, 2006).
Observou-se que na educação dos surdos houve uma busca de normatização destas
pessoas por meio da introdução de equipamentos, instrumentos, aparelhos que serviam de apoio
para aprendizagem da fala, deste modo caracterizam-se como tecnologias assistivas.Portanto,
Stumpf (2010) relata que a primeira tecnologia usada por estes sujeitos para se comunicar a
distância foi um aparelho chamado Optilogue, sendo um ancestral do TDDa sigla em inglês
para Telephone Device for Deaf (aparelho de telefone para surdos). Segundo a autora "esse
constava de um cilindro que, contrariamente ao telégrafo que recorria a um código de sinais
sonoros, transmitia as letras, por partes, que iam formando uma palavra. Cada toque
correspondia a um fragmento da letra. Ele se destinava a estabelecer comunicação à distância
com os surdos que viviam isolados"(STUMPF, 2010, p.7).
Desde tempos remotos havia a preocupação de que os surdos estabelecessem
comunicação com seus pares e com as demais pessoas ouvintes da sociedade, como pode-se
observar por meio de invenções de aparelhos como este o Optilogue e quase dois séculos depois
o TDD.
As pessoas na sociedade, de maneira geral, modificaram a maneira de viver após a
Revolução Tecnológica, que se caracteriza pela informatização e principalmente pelo acesso a
20425
Internet(fatos ocorridos no século XX), que garante a conexão entre os indivíduos, a troca de
informações de forma quase que instantânea, o que encurtou distâncias e barreiras de
comunicação e elas se desfizeram, pois, antigamente até o final do século XIX demorava até
meses para se receber uma carta escrita a próprio punho , porém hoje pelo toque dos dedos na
tela de um celular, tablet ou computador somos capazes de conversar e interagir com pessoas
diversas, com distâncias geográficas grandes, porém com comunicação rápida e eficaz.
[...] os desafios colocados pelas novas tecnologias que têm vindo a revolucionar o dia-
a-dia das sociedades e das escolas. Mas, como bem escreve Manuel Castells, o
essencial reside na aquisição de uma capacidade intelectual de aprendizagem e de
desenvolvimento (NÓVOA 2009, p.14).
Segundo o autor, as novas tecnologias trouxeram modificações significativas tanto na
sociedade, como no contexto escolar. É nesta esteira que essa pesquisa se justifica por tratar de
um tema muito atual e voltada para os surdos que vivem num mundo visual, que auditivo, tendo
sido impedido de comunicar-se a distância por meio do telefone. Hoje, estes sujeitos podem
fazer sinais e com um toque na tela do celular, enviar e receber informações visuais, neste caso,
pode-se ter inaugurado um novo e inimaginável caminho como perspectiva de comunicação.
Do ponto de vista dos surdos o uso do computador e da Internet inaugurou uma nova
dimensão às suas possibilidades de comunicação, pois são tecnologias acessíveis
visualmente. Se, para os ouvintes, elas abriram perspectivas que levaram a
modificações profundas nos usos e costumes de toda a sociedade, para os surdos, essas
mudanças podem ser ainda mais significativas (STUMPF, 2010, p.2).
Segundo STUMPF (2010), a relação entre surdos/surdos e surdos/ouvintes a partir das
redes sociais possibilita melhoria na questão da inclusão social dos mesmos. Assim esta
pesquisa também buscará investigar se a comunicação utilizada entre as pessoas envolvidas
reflete em mudanças na qualidade de vida, e em especial a inclusão social destes indivíduos.
O avanço das novas tecnologias , por meio da comunicação a distância modificou o
modo das pessoas interagir entre si, pois atualmente a troca de informação tornou-se
instantânea. Pierre Lévy (1999) nos relata o surgimento do novo universal, da comunicação
rápida tendo como ferramenta as novas tecnologias num espaço diferente, que não é físico, mas
que existe e já está incorporado na vida cotidiana da maioria das pessoas na sociedade digital,
o novo espaço de comunicação e interação interpessoal que ele nos mostra é o ciberespaço "O
termo [...] especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também
o universo oceânico de informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam
e alimentam esse universo” (LÉVY, 1999, p. 17).
Recentemente, o uso das redes sociais como meio de acesso rápido a informações e
comunicação instantânea, aumentaram a possibilidade de pertencimento de comunidades
20426
online, mesmo estando distantes fisicamente, elas parecem próximas nos espaços virtuais.Os
sujeitos surdos precisam apresentar boa escrita para facilitar seu convívio social, especialmente
com os ouvintes que não dominam a Libras, a escrita de mensagens nas redes sociais e
aplicativos colabora para os alunos surdos perceberem a função social da escrita.
De acordo com Sánches(1999) nós precisamos modificar o nosso olhar na questão do
aprendizado de língua portuguesa como segunda língua e no uso da comunicação escrita,
conforme nos mostra em seus estudos. Assim, "[...]é hora de aceitar definitivamente que os
surdos, pelo direito de serem surdos, não podem em nenhum caso alfabetizar-se como o fazem
os ouvintes, ou seja, não podem ‘conhecer’ as letras por seus sons, [...]para aprender a escrever"
(SÁNCHEZ,1999, p.44).
Salienta-se a importância de motivar os indivíduos surdos a aprender e usar a língua
portuguesa na modalidade escrita, as redes sociais contribuem para estes sujeitos
compreenderem a função social da escrita, no uso da escrita para comunicação a distância.
Ser surdo na sociedade brasileira
A legislação vigente, mais especificamente o Decreto de Lei 5.626 de 22 de dezembro
de 2005, em seu 2º artigo diz que: “considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva,
compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura
principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras”. E nesta mesma legislação no
parágrafo único do 2º artigo indica, que a pessoa para ser considerada surda deverá ter perda
auditiva bilateral, ou seja, em ambos os ouvidos, parcial ou total com 41 decibéis ou mais de
perda auditiva, ou seja, ter uma deficiência que o impeça de ouvir diversos sons, por este
motivo,na maioria das vezes o surdo tem dificuldades em conseguir perceber e compreender os
sons da voz humana (BRASIL, 2005).
Apesar dos avanços referentes a legislação, os surdos são uma minoria cultural e sofrem
preconceitos, por vezes exclusão, devido as dificuldades de comunicação verbal que
apresentam.Mas, eles buscam vencer as barreiras e as dificuldades impostas pela falta de
audição, pois vivem numa sociedade de ouvintes.
A sociedade civil tende a querer e buscar a normatização do surdo, assim tende a agir
prevalecendo a cultura hegemônica, suprimindo a cultura e identidade surda, ou seja, por muitos
séculos acreditou-se que quem não sabia falar também não teria inteligência, por isto não
tinham seus direitos garantidos.
20427
Os surdos fazem parte de uma minoria cultural, que carece de ser respeitada e ter seus
direitos garantidos por lei, conforme nos mostra a Lei 10.436/2002 e o Decreto de lei
5.626/2005, que estabelecem a língua brasileira de sinais como segunda língua oficial do país
e dão providencias em relação ao uso e difusão da Libras (BRASIL, 2005).
Segundo o que nos ressalta Skliar (2003), as pessoas da sociedade ainda têm uma visão
deturpada do outro, do surdo, como está descrito em algumas reflexões abaixo:
[...] a pedagogia das supostas diferenças em meio a um terrorismo indiferente; chamar
ao outro para uma relação escolar sem considerar as relações do outro com outros; e
a produção de uma diversidade e uma alteridade que é pura exterioridade de nós
mesmos; uma diversidade que apenas se nota, apenas se entende, apenas se sente. [...]
O temos sim massacrado, assimilado, ignorado, excluído e incluído, e, por isso, para
negar a nossa invenção do outro, preferimos hoje afirmar que estamos frente a frente
com um novo sujeito (SKLIAR, 2003, p. 39) .
Entretanto, necessita-se modificar o olhar em relação ao outro, ao surdo, repensar ações,
pois não basta a reprodução de leis e cumprimento destas por obrigação, mas ter um olhar, uma
interação honrada e respeitosa com todo ser humano independente das diferenças.
METODOLOGIA
A realização da pesquisa foi baseada na abordagem quantitativa e qualitativa, conforme
nos ressalta Trivinõs (1987), que buscou investigar e estudar os fatos da prática social destes
dos surdos. Este trabalho se propôs a conhecer e analisar a comunicação dos alunos surdos
adultos, mediada pelas novas tecnologias da informação e comunicação.
Contudo, esta pesquisa é do tipo exploratória, pois permitiu explorar um tema pouco
investigado anteriormente. Ao analisar as dificuldade de comunicação dos alunos surdos e ao
buscar levantar as hipóteses de que o uso de redes sociais e aplicativos podem melhorar,
potencializar, viabilizar a comunicação destes sujeitos com os demais, mesmo que as pessoas
envolvidas na troca de mensagens e diálogos mediados por redes sociais e aplicativos, não seja
usuária de Libras.
A população desta pesquisa foram 17 surdos adultos, com surdez profunda e que se
comunicam basicamente em Libras, sendo estudantes matriculados no Ensino Médio, na Rede
Estadual de uma Diretoria de Ensino de um município do Vale do Paraíba.
Eles (as) tinham idade maior ou igual a 18 anos. E um dos critérios para escolha deles
foi a idade, uso e tempo de acesso à Internet, pois tinham mais autonomia e a possibilidade de
ter acesso as novas tecnologias, por meio de possuir computadores, celular, notebook.
20428
O conteúdo gerado nas entrevistas foi volumoso, com muitos textos traduzidos da Libras
para Língua Portuguesa e transcritos, por este motivo decidiu-se utilizar um software para
realizar parte da análise dos dados.Deste modo, o software Iramuteq foi escolhido com o
objetivo de fazer a análise de dados para otimizar o trabalho .
O campo textual referente ao conteúdo das entrevistas e o Dendograma criado pelo
software Iramutec colaboraram para análise dos dados, com observação da reincidência das
palavras usadas pelos sujeitos da pesquisa, que desencadeou temas geradores.
RESULTADOS
Inicia-se expondo os dados coletados nos questionários, que foram preenchidos pelos,
porque considera-se uma boa amostra da população de alunos com deficiência matriculados na
Rede Estadual deste município, assim foram descritos a principio o perfil socioeconômico dos
17 participantes pesquisa, eles responderam ao questionário e foram entrevistados.
Quadro 1 - Perfil sócio- econômico dos participantes desta pesquisa
Fonte: Quadro elaborado pelas autoras da pesquisa.
Depois de conhecer e traçar o perfil socioeconômico dos sujeitos da pesquisa, outra fase
foi a de realizar a tabulação de dados, sendo que foram criadas tabelas e gráficos relacionados
aos instrumentos de acesso à Internet, as redes sociais e aplicativos. Assim, eles usam o aparelho
de telefone móvel, notebook e computador para navegar na Internet.
Gráfico _Acesso a internet por diversos equipamentos
Sujeitos
da
Pesquisa
Sexo Ida
de
Escola
ridade
Exerce
trabalho
remune
rado?
Raça
Estado
civil
Quantas
pessoas
moram na
residência?
Tem
filhos?
Quantos
filhos
(as)?
1 Masculino 31 3ºE.M. Não Pardo Solteiro 7 Sim 1
2 Masculino 45 1º E.M. Não Branco Solteiro 3 Não
3 Feminino 35 3º E.M. Sim Branco Casada 4 Sim 2
4 Feminino 31 3ºE.M. Não Branco Casada 5 Não
5 Masculino 32 3º E.M. Não Branco Solteiro 3 Não
6 Masculino 18 3ºE.M. Não Pardo Solteiro 4 Não
7 Masculino 39 3ºE.M. Não Branco Solteiro 3 Sim 1
8 Feminino 48 3ºE.M. Sim Branco Solteira 3 Não
9 Masculino 58 1ºE.M. Sim Branco Casado 2 Sim 2
10 Feminino 56 3ºE.M. Não Branco Casada 2 Sim 2
11 Masculino 42 2ºE.M. Não Pardo Casado 4 Sim 2
12 Masculino 37 3ºE.M. Não Pardo Casado 2 Não
13 Feminino 36 1ºE.M. Sim Branco Casada 4 Sim 2
14 Masculino 35 2ºE.M. Sim Pardo Solteiro 4 Não
15 Feminino 19 3ºE.M. Não Pardo Casada 6 Sim 1
16 Masculino 31 3ºE.M. Sim Branco Casado 5 Sim 2
17 Feminino 30 3ºE.M. Não Branco Casada 5 Sim 2
20429
Nos dados apresentados acima verificou-se que a totalidade dos participantes da
pesquisa tem acesso à Internet valendo-se de telefones móveis (celulares) para entrar em redes
sociais e aplicativos, destes cerca de 8 surdos também acessam as redes sociais por meio de
notebooks, somente 4 surdos tem computador, assim usando-o para navegar na Internet.
Deste modo, verificou-se que o acesso à Internet na maioria das vezes coopera para
inclusão social dos participantes da pesquisa, pois os surdos as usam com frequência regular ,
sendo que as redes sociais mais utilizadas por eles foram as apresentadas na Tabela abaixo:
Tabela 1 _ Quais redes sociais e aplicativos os alunos surdos acessam?
Nomes de Redes Sociais e Aplicativos Quantidade de surdos que utilizam as redes
sociais e aplicativos
Facebook 17
WhatsApp 17
Youtube 11
Imo 10
E-mail 10
Instagram 7
Hand Talk 4
Fonte: Tabela elaborada pelas pesquisadoras para apresentação de resultados da pesquisa.
Nesta esteira, torna-se interessante, pertinente a pesquisa e análise de dos resultados que
expõe a interação interpessoal dos surdos no ambiente virtual. Nesta perspectiva Nóvoa (2009)
ressalta sobre as mudanças que estão ocorrendo no contexto da educação devido ao uso das
novas tecnologias da informação e comunicação e, nos faz pensar sobre o trabalho docente com
as novas tecnologias como coadjuvantes no cotidiano escolar.
Assim, "professores reaparecem [...] como elementos insubstituíveis não só na
promoção das aprendizagens, mas também na construção de processos de inclusão que
respondam aos desafios da diversidade e no desenvolvimento de métodos apropriados de
utilização das novas tecnologias" (NÓVOA 2009, p.14) .
Este autor ressaltou que há desafios para lidar com a diversidade na Educação e no
ambiente escolar no desenvolvimento e, uso das novas tecnologias.Entretanto, na sociedade
atual permeada pelo mundo virtual e as relações mediadas por computador torna-se quase
impossível lecionar ignorando a inclusão social dos alunos com deficiência e sem utilizar as
17
4
88
Aparelhos eletrônicos utilizados para acessar a Internetcelular computador notebook
20430
tecnologias digitais, sem adentrar o mundo virtual como também nos ressalta Lévy (1999, p.
47) “Filosoficamente o virtual é obviamente uma dimensão importante da realidade”.
Refletindo sobre este mundo virtual, a nova dimensão da realidade, outro aspecto
relevante observado nesta pesquisa foi que os participantes utilizam as redes sociais e
aplicativos de interação para os seguintes fins: procurar trabalho, se comunicar com os
familiares, com amigos surdos ou ouvintes, para ter acesso a informações e notícias. Como
podemos notar por meio das informações descritas, na tabela abaixo.
Esta Tabela está relacionada à pergunta de número 8 do questionário, que buscou-se
investigar quais os motivos dos surdos utilizarem as redes sociais e acessar à Internet :
Tabela 2_ Para que fins os alunos surdos utilizas as redes sociais e aplicativos?
Motivos do uso e acesso a redes sociais: Quantidades de surdos que usam as redes sociais
Conversar com os amigos surdos 17
Conversar com as pessoas da família 13
Conversar com os amigos ouvintes 13
Para ver e fazer vídeos 10
Procurar trabalho 8
Procurar namorado (a) 7
Para fazer compras 7
Para ver e ler noticias 6
Para diversão/ jogos 4
Fonte: tabela elaborada pelas autoras da pesquisa.
Percebe-se que o acesso à Internet, por meio de redes sociais e aplicativos colabora para
promover a inclusão social dos surdos, pois ao utilizarem a Internet como alternativa primeira
estabelecer comunicação e conversar com os amigos surdos, com os amigos ouvintes, com a
família, sendo assim estabelecer relação interpessoal .E a comunicação se faz necessária para o
surdo por meios visuais, com o intuito que promova os meios comunicativos necessários à sua
aprendizagem e consequentemente a inclusão social.
Vigotsky (1998, p. 44) afirmou que: “O desenvolvimento do pensamento é determinado
pela linguagem, isto é, pelos instrumentos linguísticos do pensamento e pela experiência
sociocultural da criança”. O autor relaciona linguagem e pensamento, sendo que o significado
dos signos se aprende por meio da ligação entre linguagem e pensamento, contudo promove a
mediação entre o indivíduo, o mundo e assim estimula-se a interação.
Entretanto, o que verificou-se foi que o uso das redes sociais e aplicativos, também pôde
auxiliar os surdos a perceber a função social da escrita da língua portuguesa, como segunda
20431
língua, assim vê-se isto nos discursos dos surdos porque eles afirmaram fazer uso do celular
para mandar mensagens, como um meio de comunicação para escrevem mensagens de texto.
Observa-se isto nos trechos das entrevista a seguir:
1D Sim, eu uso WhatsApp, Facebook, Skype, Imo também, tenho usado atualmente,
mas antes eu não sabia como usar, para mim era novo, minha irmã me mostrou o
WhatsApp, depois o Imo, mas o Facebook eu já usava faz tempo, já sabia.
Eu uso mais WhatsApp e o Facebook, sempre.
6G Tenho comunicação no Facebook. Eu tenho Facebook tem WhatsApp. Eu uso a
internet porque eu quero, por exemplo, mandar uma mensagem para mãe eu não
consigo falar no celular e falar para ela onde eu estou, eu mando mensagens e pronto
ela consegue entender.
No conteúdo de algumas entrevistas descritas verifica-se e confirma-se algumas das
hipóteses levantadas no inicio da pesquisa, como dois dos questionamentos que estão
explicitados e relacionados as quais as redes sociais mais utilizadas pelos sujeitos dessa
pesquisa? E para que fins eles utilizavam as redes sociais e a Internet?
Nesta perspectiva relembramos os resultados quantitativos apontados nos questionários,
que já indicavam o celular como principal meio de acesso à Internet e as redes sociais,
aplicativos de interação e que eles descrevem que usavam para trocar mensagens.
O Software Iramuteq organizou os termos expressados pelos entrevistados (as) segundo
o número de incidências destes termos em cada entrevista, deste modo o programa foi
agrupando-os por temáticas consideradas análogas e designou “Classe de Palavras”.
Os resultados do corpus textual obtido podem ser sumarizados em quatro Classes de
Palavras, que foram determinadas pelo software Iramuteq e vê-se no Dendograma abaixo:
Figura : Dendograma das Classes de Palavras
Fonte: Iramutec utilizado em maio de 2017.
O Dendrograma procurou priorizar as similaridades entre grupos de termos, assim
diminuindo a capacidade de discriminar grupos.Ressalta-se que no Dendograma da Figura
acima a Classe 4 e a Classe 1 tem características similares e se aproximam, porque ambas têm
20432
vocabulário relacionado ao uso da Internet, de tal modo que estes termos demonstram como e
porque os surdos utilizam estas novas tecnologias.
Estas classes representam a importância destes meios de comunicação digital para o
cotidiano dos participantes desta pesquisa. E percebe-se isto devido à sua disposição visual,
por estas classes estarem coligadas por uma chave diretamente . Pôde-se concluir que, os termos
do começo da lista representam os sinais de Libras, que mais apareceram nos discursos dos
entrevistados. E por isso, estão dispostos no começo na lista. Logo, eles são escritos em fonte
de tamanho grande, já os termos que representam os termos que foram menos usados, eles são
escritos em fonte menor e estão no final da lista.
CONSIDERAÇÕES
O foco desta pesquisa foi de investigar, analisar o uso de redes sociais e aplicativos para
facilitar a comunicação dos surdos e verificou-se a contribuição para estes sujeitos.
Os instrumentos utilizados para coletar os dados tanto quantitativos como qualitativos
forneceram informações esperadas, pois estavam de acordo com as hipóteses levantadas
referentes a potencialização do diálogo destes alunos, que fomentaram a reflexão a respeito da
comunicação e inclusão social dos surdos. Mas, houveram resultados inesperados representados
pela Classe de Palavras 2, pois os sujeitos contaram fatos de sua vida escolar, os quais a
pesquisadora não buscava investigar, porém foram de grande valia para avaliar a importância
da função social da escola na vida dos participantes deste trabalho.
Entretanto no contexto atual, lócus do mundo virtual, da interação entre os indivíduos
mediada por computadores e redes sociais digitais têm proporcionado direta e indiretamente a
inclusão social destes sujeitos, em virtude das comunidades e grupos existentes na web,
configurando-se um espaço de discussões livres de discriminação. Como pôde ser verificado
durante a pesquisa, pois os participantes relataram as pesquisadoras que eles usam a Internet
cotidianamente como meio de interação pessoal livre de barreiras e sem carregarem o estigma
(GOFFMAN ,1891) da deficiência . Não obstante, as novas tecnologias digitais usadas por
todos na sociedade hoje, assim representam uma ponte interessante e eficaz entre o mundo do
surdo e do ouvinte, pois cumprem um papel de intermediação importante, para que a verdadeira
inclusão social aconteça!
REFERÊNCIAS
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20433
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