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AS REGRAS DO MÉTODO
SOCIOLÓGICO E O SUICÍDIO
Maria Chaves Jardim
Aulas dos meses de abril e maio 2014
COMO APLICAR AS REGRAS DO MÉTODO?
1.REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
1.1COROLÁRIOS DA PRIMEIRA REGRA
2.REGRAS RELATIVAS À DISTINÇÃO ENTRE FATO NORMAL E
PATOLÓGICO
3.REGRAS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DOS TIPOS SOCIAIS
(CONSTRUÇÃO DE ESPÉCIES: TIPOS SOCIAIS)
4.REGRAS RELATIVAS À EXPLICAÇÃO DOS FATOS SOCIAIS
5.REGRAS RELATIVAS À ADMINISTRAÇÃO DAS PROVAS
OBJETO DA SOCIOLOGIA
Fato social: maneira de agir, pensar e sentir, fixa ou não,
exteriores ao individuo, dotados de poder de coerção.
Fixo ou não: escrito, documentado ou não.
Fenômeno institucionalizado ou não.
TEORIA DO FATO SOCIAL
É possível criar uma ciência sociológica, objetiva e científica,
como nas ciências físico-matemáticas.
Características necessárias a essa ciência:
▪ Ter um objeto específico que a diferencie das outras ciências;
▪ Ter um objeto que possa ser observado e explicado.
Afinal:
1) os fatos sociais devem ser tratados como coisas sociais
(coisas (re)criadas pelo ser humano, em processo coletivo).
FATO SOCIAL
Quanto mais rica for as relações na sociedade, mais
possibilidade existem para a construção de fatos sociais.
Fatos sociais são resultados da consciência coletiva. Todo fato
social tem uma função.
Qual a função social do Suicídio?
O suicídio constitui um dos elementos de mecanismos
de restabelecimento do laço social. Trata-se de uma
cota de sacrifício na forma da morte voluntária.
REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS
FATOS SOCIAIS
1. Tratar todo fato social como coisa
“É coisa tudo o que é dado, tudo o que se oferece, tudo
que se opõem a observação.”
Para Durkheim, o que caracteriza o fenômeno suicídio,
enquanto, fato social é primeiro, sua "exterioridade em relação
às consciências individuais", e pela "ação coercitiva que exerce
ou é suscetível de exercer sobre essas mesmas consciências",
portanto, o suicídio influencia o comportamento social do
indivíduo levando-o a morte.
REGRAS RELATIVAS À OBSERVAÇÃO DOS
FATOS SOCIAIS
Para Durkheim, para saber as confluências diversas que
resultam o suicídio, enquanto fenômeno coletivo, é através dos
dados estatísticos que devemos abordá-los de início.
Durkheim parte, portanto, do todo para as partes, já que é a
determinação das causa que ele busca, para depois,
examinar como elas repercutem nos indivíduos.
OBJETO DE ESTUDO SOCIOLÓGICO
Taxa social de suicídios (1840- 1870): parte do todo para as
partes. (Aumento em 40% do número do suicídio)
Onde?
Itália, Bélgica, Inglaterra, Noruega, Áustria, Suécia
Baviera, França, Prússia, Dinamarca, Saxônia.
“Não pode ser por uma coincidência fortuita que todos ao
mesmo tempo se tornaram duas vezes mais mortais” (O
Suicídio, pag. 171)”
COROLÁRIOS DA 1 REGRA SOCIOLÓGICA
1. Afastar as prénoções (ideias a priori, senso comum,
conhecimento popular).
Como?
2. Definir de forma objetiva e de forma propícia (tratando os
dados e agrupando os dados segundo as suas características
exteriores).
Por exemplo: cada grupo social tem uma tendência específica
ao suicídio, dai, devemos agrupar segundo esse critério.
O QUE É DEFINIR DE FORMA OBJETIVA?
(COROLÁRIO DA PRIMEIRA REGRA)
Definir as coisas sociais pelas características externas.
3. Isolar o fenômeno das manifestações individuais (encontrar
uma medida comum, eliminando a variável individual) Ex:
suicídio individual é fenômeno diferente da taxa coletiva de
individuo.
Buscar o fenômeno onde já está cristalizado (dinâmica sociais
que provoca os suicídios) e não em eventos passageiros.
PARA A DEFINIÇÃO SOCIOLÓGICA DE
SUICÍDIO
Durkheim discute, de maneira inicial, as concepções vigentes
que tratam do suicídio, para em seguida, apresentar sua
própria explicação com base especificamente sociológica.
Objetivo: Exclusão das teses existentes!
EXCLUSÃO DE TESES EXISTENTES
Durkheim examina duas causas extra-sociais que, a priori, exercem influência sobre a taxa de suicídios:
1. as disposições orgânico-psíquicas (hereditariedade, raça, imitação);
2. a natureza do meio físico (temperatura, clima).
Seu objetivo é analisar e descobrir se elas têm uma participação nos índices de suicídio e qual.
Durkheim apresenta a tese dos alienistas Esquirol, Falret e Moreau de Tours, segundo a qual o suicídio seria uma doença individual. Uma outra posição por ele abordada é a de Bourdin, que vê no suicídio um acontecimento de uma ou de varias espécies de loucuras.
Durkheim apresenta a seguinte questão: "Mas haverá uma loucura-suicídio?" (Durkheim, 2000: 34).
EXCLUSÃO DAS TESES EXISTENTES
Naquele momento a terminologia tradicional da patologia mental, vê esses delírios como sendo monomanias:
"O monomaníaco é um doente cuja consciência é perfeitamente sã, salvo em um ponto; ele apresenta apenas uma tara, e nitidamente localizada. Por exemplo, em alguns momentos tem uma vontade irracional e absurda de beber, ou de roubar, ou de injuriar; mas todos os seus outros atos e pensamentos são de uma correção rigorosa." (Durkheim, página 34)
Durkheim questiona: Mas existirão monomanias? Sua resposta é: não, não há e não pode haver monomanias propriamente ditas.
"Portanto, se não há monomanias, não pode haver uma monomania-suicídio e, por conseguinte, o suicídio não é uma loucura distinta" (Durkheim, 2000: 38).
Rejeita conhecimento clinico existente da época.
ELIMINAÇÃO DE TESES EXISTENTES
Para descobrir se o suicídio é um ato particular aos alienados é
preciso determinar as formas que ele assume na
alienação mental e saber se os alienados são os únicos
afetados pelo suicídio.
Ao final do livro I, Durkheim elimina qualquer dúvida com
relação às causas extras sociais do suicídio e conclui que tais
explicações não contribuem para a compreensão do fenômeno
suicídio enquanto objeto sociológico.
No livro II, vai buscar as causas sociais.
Suicídio como causa
social
DISTINÇÃO ENTRE FATO NORMAL E
PATOLÓGICO
[...] depois de ter estabelecido pela observação que o fato é
geral, o pesquisador irá até às condições que no passado
determinaram esta generalidade e indagará em seguida se
estas condições ainda existem no presente ou se, pelo
contrário, se modificaram. No primeiro caso, terá o direito de
considerar o fenômeno como normal e, no segundo, de recusar-
lhe este caráter (Regras do método)
Exemplo: Aumento do suicídio é considerado patológico ou
normal?
Para Durkheim, o que distingue um fato social de normal
ou patológico é sua REGULARIDADE.
REGRAS RELATIVAS À CONSTITUIÇÃO DOS
TIPOS SOCIAIS (CONSTRUÇÃO DE
ESPÉCIES)
A identificação e classificação dos tipos sociais, em
função de sua constituição, seria uma atribuição da área da
sociologia denominada por Durkheim de “Morfologia Social”.
“Nossa primeira tarefa deve ser, então, determinar a ordem
dos fatos que nos propomos a estudar sob o nome de suicídio.
Para isso, iremos buscar saber, se entre os diferentes tipos de
mortes, há alguns que têm em comum características bastantes
objetivas para poderem ser reconhecidas por qualquer
observador de consciência, bastante especiais para não serem
encontrados em outra parte, mas ao mesmo tempo, bastante
vizinhos daqueles que geralmente se colocam sob o nome de
suicídio, para que possamos, sem violentar o uso, conservar
essa expressão” (O Suícidio, página 08).
TIPOS SOCIAIS
Só pode haver tipos diferentes de suicídios na medida que as
causas a que estão ligadas são diferentes. E para que cada
uma tenha uma natureza própria, é necessário que tenha
também, condições de existência que lhe seja específica.
Assim, toda distinção específica constatada entre as causas,
implica numa distinção semelhante entre os efeitos que o
produzem.
Dessa forma Durkheim primeiro examina quais são as
condições sociais de que dependem, para depois, juntar
essas condições segundo suas semelhanças e suas
diferenças em um número de classes separadas, para só
assim ter certeza que a cada uma dessas classes corresponderá
a um tipo determinado de suicídio.
TIPOS SOCIAIS DE SUICÍDIOS (TIPOS IDEAIS)
Sua proposta é ir das causas aos efeitos.
Egoísta (estado de apatia e ausência de qualquer apego a vida.
Característica: melancolia langorosa )
Altruísta (ligado a energia e a paixão. Característica: renuncia
ativa)
Anômico ( irritação, repulsa enfraquecimento dos laços sociais.
Característica: lassidão/tédio exasperada).
Fatalista
REGRAS
RELATIVAS À EXPLICAÇÃO
Quando se procura explicar um fenômeno social, é
preciso pesquisar separadamente a causa eficiente que o
produz e a função que ele cumpre (Regras do método,
páginas 98 e 99). Deve-se determinar:
1) Se há correspondência entre o fato considerado e as
necessidades gerais do organismo social =causa
2) Em que consiste essa correspondência
=efeito/utilidade
REGRAS RELATIVAS À EXPLICAÇÃO
1.Buscar causas e funções dos fatos sociais.
2. Buscar funções que desempenham: buscar origem e consequência dos fatos sociais.
2.1 A origem das coisas sociais está numa conjunção de condições sociais, está no jogo das funções sociais e são nessas condições que está a resposta.
3. Deve-se primeiro procurar a causa e não a função. Só depois disso procura-se a função.
3.1 O fato social tem uma função, mas não surge dela.
4. A causa dos fatos sociais está no meio social ou em outros fatos sociais
ENTÃO COMO CHEGAR ÀS CAUSAS?
Devemos primeiro, remontar as causas mais próximas, para
só então, recuar mais nas séries dos fenômenos.
Na estatística da época, os motivos presumíveis dos suicídios
eram: perda de dinheiro, desgosto de família,
embriaguez, dores domésticas, cólera, dores físicas,
desgostos financeiros.
“As razões dadas ao suicida ou que o suicídio dá a si mesmo
para explicar seu ato, são apenas as causas aparentes” (O
Suicídio, pag.174)
Por isso buscar as causas sociais ( e não as causas aparentes).
CAUSAS E EFEITOS
As causas sociais do suicídio não são as mesmas para uns e
para outros. O lavrador e o homem refinado da cidade, por
exemplo (O Suicídio, página 174).
“Assim, para descobrirmos quais as causas produtoras do
suicídio devemos questionar quais são as situações dos
diferentes meios sociais como a família (mais tarde ele fala em
religião e também em política) em função das quais o suicídio
varia”.
“Uma vez conhecida a natureza das causas, poderemos tentar
deduzir delas a natureza dos efeitos...” (O Suicídio, pg 168)
SUICÍDIO EGOISTA – VARIÁVEIS
ANALISADAS
1.Suicídio e religião
2.Suicídio e anos de estudo
3. Suicídio e estado civil
4. Suicídio e anos de filhos
5. Suicídio e profissão
6.Suicídio e tamanho da família
7. Suicídio e idade
HIPÓTESE
Protestantes se matam mais que católicos e
judeus
RELIGIÃO PROTESTANTE
A tendência ao suicídio deve estar relacionada ao espírito de
livre exame que anima o protestantismo. Pois, o livre exame
tem como causa, a necessidade que os indivíduos têm de
construir sua fé livremente, devido à "falência das crenças
tradicionais".
O livre exame é por assim dizer, uma reflexão em relação às
idéias e sentimentos que não mais servem para dirigir a
conduta de um grupo. Durkheim concluiu que a superioridade
do protestantismo em relação ao número de suicídios é
motivada por ela ser uma religião não tão integrada quanto o
catolicismo.
O catolicismo recebe sua fé pronta, sem exame
JUDEUS E O SUICÍDIO
A religião Judaica por ser concentrada, e pela intolerância que os ronda, apresenta uma fraca tendência ao suicídio. Isso devido ao forte sentimento (solidariedade) que existe entre seus adeptos, isto é, não há muito espaço para os julgamentos individuais, é o inverso do que acontece com o livre exame protestante. (judeus se preservam mais)
“É uma lei geral que as minorias religiosas, para poderem resistir com mais segurança contra os ódios de que são objetos ou simplesmente em consequência de uma espécie de emulação, esforçam-se por serem superiores, quanto ao saber, às populações que as cercam” ( O suicídio, 199).
RELIGIÃO PROTESTANTE
Na sua pesquisa, a Inglaterra foi o país protestante que
apresentou o menor índice de suicídios. Apesar da ideia de
liberdade individual, o que ele observa, é uma lei que sanciona
prescrições religiosas. Isto é, um tradicionalismo desenvolvido
que restringe o movimento individual, e a hierarquização do
clero bastante desenvolvida.
O caso Inglês comprova a teoria durkheimiana: "Se lá o
protestantismo não produz os mesmos efeitos que no
continente, é porque a sociedade religiosa é muito mais
solidamente constituída, e nesse sentido, aproxima-se da
Igreja católica" (Durkheim, 2000: 191).
Os católicos apresentam 4 ou 5 vezes menos suicídios do
que os protestantes.
RELIGIÃO E SUICÍDIO
O caso do judeu (intelectualizado e que se mata menos) prova
que “ nos meios instruídos, a propensão ao suicídio se agrava,
esse agravamento se deve, como dissemos, ao enfraquecimento
das crenças tradicionais e ao estado de individualismo que
resulta disso, pois ele desaparece quando a instrução tem outra
causa e reponde a outra necessidade” (O Suicídio, página 200)
Desencantamento do mundo: fim da magia em Max Weber
CAUSAS E EFEITOS
Durkheim comprova dois fatores:
1. A inclinação pela instrução como um fator que se destaca
entre os protestantes em relação aos católicos.
2. Essa inclinação abala as crenças comuns, refletindo os
casos de suicídios.
RELAÇÃO SUICÍDIO E ANOS DE ESTUDO
Os indivíduos se matam mais nas áreas letradas como a Saxônia, onde o número de alunos é maior, que o número legalmente exigido na época. Isso explica, portanto, o caso Inglês que revela números menores de suicídios e iletrados.
Outros fatores como as profissões liberais, as classes mais abastadas e os que apresentam o gosto pela ciência, os profissionais liberais é o grupo que mais contribuiu para o numero de suicídios.
Segundo Durkheim, na França, entre os anos 1826 e 1860 foram registrados 550 caso de suicídios por milhão, entre os indivíduos desse tipo de profissão.
RELAÇÃO SUICÍDIO E ANOS DE ESTUDO
O suicídio progride com a ciência, no entanto a ciência não é a
causa, como demonstrou Durkheim no caso dos judeus. (eles
são mais intelectualizados do que os protestantes e os
católicos, entretanto, eles se suicidam menos).
O fato dos judeus conseguirem se instruir sem se matarem
tanto, é porque:
"É uma lei geral que as minorias religiosas, para poderem
resistir com maior segurança contra os ódios de que é objeto ou
simplesmente em consequência de uma espécie de emulação,
esforçam-se para serem superiores, quando ao saber, às
populações que as cercam." (página 199)
PRIMEIRAS CONCLUSÕES
O suicídio caminha junto com o progresso da ciência.
“O homem procura se instruir e se mata porque a sociedade
religiosa de que ele faz parte perdeu sua coesão; mas ele não se
mata por se instruir (...) é porque a religião se desorganiza que
surge a necessidade da instrução” (página 201)
“A ciência não é a origem do mal, é o remédio” (página 201)
“A religião é uma sociedade, por isso protege o homem contra o
suicídio” (página 203)
GÊNERO, INSTRUÇÃO E SUICÍDIO
Homem se mata mais.
Mulher é menos instruída do que o homem.
Mulher se mata 5 vezes menos do que o homem.
Mulher negras instruídas tem mais predisposição ao suicídio
do que mulheres brancas.
ESTADO CIVIL E SUICÍDIO
Após uma análise crítica dos trabalhos referentes à influência do estado civil e o sexo do indivíduo sobre o suicídio Durkheim elabora algumas leis:
1. Sobre o casamento precoce: exerce uma influência sobre o suicídio principalmente entre os homens.
2. A partir dos 20 anos de idade, os casados de ambos os sexos se beneficiam de um coeficiente de preservação com relação aos solteiros.
3. O coeficiente de preservação dos casados em relação aos solteiros varia de acordo com os sexos. (homem se mata mais do que a mulher; viúvo se mata mais do que viúvas e do que indivíduos casados).
SUICÍDIO E FAMÍLIA
Portanto, o suicídio depende principalmente de causa exteriores (fatos sociais).
“O suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos grupos sociais de que o indivíduo faz parte" (Durkheim, 2000: 258). (a família)
Portanto,
“ A família neutraliza a propensão ao suicídio” (Durkheim, O Suicídio, 218)
Entretanto o casamento é privilégios daqueles que oferecem garantias de saúde física e moral.
SUICÍDIO E GÊNERO
Casamento é diferente para o homem e para a mulher:
Mulher ganha menos do que o homem ao se casar (vive mais
excluída/menos integrada na sociedade).
Casais sem filhos se matam mais.
Famílias pequenas se matam mais.
Épocas de guerras, as pessoas se matam mais (vencidos,
vencedores)=sentimento de desorganização.
PRIMEIRAS CONSTATAÇÕES
A medida que os suicídios diminuem, a densidade familiar
aumenta regularmente.
O suicídio varia na razão inversa do grau de integração dos
grupos sociais em que o indivíduo faz parte (página. 258)
O suicídio varia em razão inversa ao grau de integração da
sociedade religiosa (página. 257)
O suicídio varia em razão inversa ao grau de integração da
sociedade doméstica-familiar (página. 257)
O suicídio varia em razão inversa ao grau de integração da
sociedade política (página. 257)
SUICÍDIO EGOÍSTA
Os casos anteriores se relacionam ao tipo de suicídio
intitulado Egoista.
Passemos a definição desse tipo de Suicidio
DEFINIÇÃO DO SUICÍDIO EGOÍSTA
O Egoísmo é o estado em que o eu individual se afirma
excessivamente diante do eu social e às expensas deste último.
O suicídio egoísta é todo suicídio que resulta de uma
individualização descomedida.
O tipo de suicídio mais comum na sociedade moderna.
O suicídio egoísta, é aquele que se encontra com uma maior
frequência. Esse tipo de suicídio é “ (…) caracterizado por um
estado de depressão e de apatia, fruto de um individualismo
exagerado.” (Durkheim, página.381).
Clientela: profissões ligadas ao intelecto.
.
SUICÍDIO EGOÍSTA
Quando não sentimos a sociedade "viva e ativa em torno
e acima de nós, o que há de social em nós se vê
desprovido de todo fundamento objetivo" (Durkheim,
página. 264).
Se o egoísmo é a causa que leva o indivíduo ao suicídio,
"[...] é porque o próprio vínculo que o liga a sociedade se
afrouxou" (Durkheim, página. 265).
SUICÍDIO EGOÍSTA
Neste tipo de suicídio o indivíduo, deixa de ter uma ligação
forte com a sociedade, pois a vida que o individuo gostaria de
ter já não corresponde a realidade existente, este pensa ser
superior a mesma, pois para ele o que a sociedade lhe oferece
já não o satisfaz, fazendo assim com que o individuo viva “
(….) no meio do tédio e do aborrecimento (….) ” (Durkheim,
página. 381).
SUICÍDIO EGOÍSTA
O suicídio egoísta é, o estado em que o Eu individual se afirma
desmesuradamente diante do Eu social, isso sucede pois tal
ato é tolerado pelo Eu social, permitindo assim que a
afirmação do Eu individual prevaleça, resultando numa
individualização desmedida.
No fundo isto acaba por ser uma contradição, pois o indivíduo
deveria sentir-se realizado consigo mesmo, por se sentir
superior, digamos assim, a sociedade a que pertence, mas em
vez deste sentimento de auto realização acontece o oposto, ou
seja,”(… )o vinculo que liga o homem à vida se distende, é
porque o vínculo que o liga à sociedade também se distendeu”,
acabando assim por levar o individuo ao suicídio.
SUICÍDIO ALTRUÍSTA
Variáveis analisadas
Suicídio de homens velhos.
Suicídio de viúvas.
Suicídio de servos por ocasião da morte do chefe.
Exército.
SUICÍDIO ALTRUISTA
Indivíduo integrado demasiadamente na sociedade.
No suicídio altruísta o suicídio e homicídio, como é
mencionado pelo autor “(…) podem perfeitamente caminhar
lado a lado, porque dependem de condições que diferem por
uma questão de grau (…) ” (Durkheim, página.382).
Este tipo de suicídio é caracterizado por uma integração social
desmedidamente forte, pois o individuo pode suicidar se por
estar desvinculado da sociedade que o acolhe (egoísta) mas
também pode fazê-lo caso esteja demasiado integrado nela.
Exemplos: Idosos, viúvas/servos (morte dos chefes), militares.
Se matam porque tem UM DEVER/OBRIGAÇÃO
SUICÍDIO ALTRUISTA
Característico das sociedades primitivas onde o individualismo
é muito fraco, mas subsiste ainda nas sociedades modernas,
como por exemplo na sociedade militar, onde o número de
suicídios é mais elevado devido a pressão hierárquica que se
impõe fortemente ao indivíduo.
PERSONALIDADE INDIVIDUAL TEM POUCA
IMPORTÂNCIA, É SUFOCADA PELA SOCIEDADE.
SUICÍDIO ALTRUISTA
Suicídio: prêmio social (Se o homem se mata, não é porque
se arroga o direito, mas porque tem o dever).
Índia: velhos se matam, porque não se presta homenagem ao
corpo destruído pela velhice; no suicído se enterra o corpo com
suspiros ainda.
Velhos: banquetes e bebem cicuta
Viúvas também se matam
Vassalos também se matam
ALTRUÍSMO
Índia: “O brâmane que se desapegou do seu corpo por uma
das práticas empregadas pelos grandes santos, isento de pesar
e de medo, é admitido com honra na morada do Brama.”
(nirvana)
Fanáticos: via afogamento, se jogam de grandes alturas
A memória desses pretensos mártires é grandemente
venerada.
ALTRUÍSMO
Tipo ideal de suicídio altruísta: exército.
Pouco tradicionalismo/disciplina
Pouca individualidade
SUICÍDIO NO EXÉRCITO
Primeira Hipóteses
1. Soldados rasos são solteiros (abnegação intelectual do
soldado);
2. Alcoolismo dos soldados rasos;
3. Aversão pelo serviço militar (disciplina, rigidez,
ausência de liberdade);
4. Vida militar é mais penosa para os soltados;
Dados estatísticos e análise de Durkheim mostram outra
coisa:
Contra intuitivo
SUICÍDIO E EXÉRCITO
O suicídio altruísta é resultado de treinamento para a
renúncia, abnegação intelectual, renúncia a pessoalidade.
O gosto pela renúncia exige treinamento prolongado, motivo
que é encontrado no alto escalão.
“Se os oficiais se matam mais, é porque não há outra função
que exija no mesmo grau o hábito da submissão e da
passividade”.
Elites do exército se matam mais.
Nas elites, o espírito de abnegação e de renuncia é intenso. O
suicídio no exército varia com esse estado de moral.
ALTRUÍSMO E EGOÍSMO
“Enquanto o egoísta é triste porque não vê nada real no mundo,
a não ser o individuo, a tristeza do altruísta provém, ao
contrário, do fato do indivíduo lhe parecer destituído de
toda a realidade” (página 281).
A do primeiro é sentimento de lassidão incurável e abatimento
(exprime esmorecimento completo da atividade, que não
podendo ser empregada de maneira útil, desmorona).
A do segundo, é destituída de esperança, pois está ligada ao
fato do além vida, vislumbrando as mais belas perspectivas.
Ela implica o entusiasmo e ímpeto de fé ávida por satisfazer e
que afirma atos de grande energia.
CONSTATAÇÕES
Altruísmo está constituído três tipos de altruísmo:
1. Obrigatório;
2. Facultativo (ciúmes, pequenas brigas);
3. Altruísmo agudo (suicídio de fanáticos);
SUICÍDIO ANÔMICO
O autor concede uma maior importância, corresponde no fundo
a uma falta de regulação social opondo-se, assim, ao suicídio
altruísta que se caracteriza por uma regulação social excessiva.
Clientela: profissões da indústria e do comércio
(desintegração das tradições)
1. Crises econômicas;
2. Pobreza/riqueza;
3. Divórcio.
SUICÍDIO ANÔMICO
“(…) a anomia provoca um estado de desespero e de cansaço
exasperado que pode (…) virar-se contra o próprio individuo
ou contra outrem (…)” (Durkheim, página.383) logo pode levar
tanto ao suicídio como ao homicídio, o que difere entre eles é a
“ (…) constituição moral (…)” (Durkheim, página.383) que
cada individuo possui.
O suicídio anômico é o tipo de suicídio que ocorre com uma
maior frequência nas sociedades modernas. Este esta
estreitamente ligado a um grande desenvolvimento,
principalmente na área industrial e comercial onde este tipo
de suicídio ocorrer com uma maior frequência.
SUICÍDIO ANÔMICO
Esse tipo de suicídio é particularmente preocupante nas
sociedades modernas, visto que está estreitamente ligado à
falta de controle que existe nas sociedades e que estas exercem
sobre o individuo.
“Nestas sociedades, a existência social não é regulada pelo
costume; os indivíduos estão em competição permanente uns
com os outros; esperam muito da existência e exigem muito
dela, e encontram-se perpetuamente rondados pelo sofrimento
que nasce da desproporção entre as suas aspirações e as suas
satisfações.”(Raymond Aron )
CRISES ECONÔMICAS E SUICÍDIOS
“Se as crises industriais ou financeiras aumentam os suicídios,
não é por empobrecerem, uma vez que crises de prosperidade
tem o mesmo resultado; é por serem crises, ou seja,
perturbação da ordem coletiva”.
Não existe sociedade sem regulamentação.
O estado de anomia ou desregramento ainda é reforçado pelo
fato das paixões estarem menos disciplinadas no próprio
momento em que teriam necessidade de uma disciplina.
RELAÇÃO POBREZA E SUICÍDIO
“Não é a miséria que provoca o crescimento dos suicídios (...)
pois também em crises econômicas, cujo efeito econômico é o
aumento da prosperidade de um pais, agem sobre os suicídios”
(página. 306)
Pobreza: Maior sentimento de coletivo.
Riqueza: Maior sentimento de individualidade.
POBREZA E SUICÍDIO
A pobreza é a melhor das escolas para ensinar o homem a se
conter. Obrigando-nos a exercer sobre nós mesmos uma
disciplina constante, prepara-nos para aceitar de forma dócil a
disciplina coletiva, ao passo que a riqueza, exaltando o
individuo, corre sempre o risco de despertar o espírito de
rebeldia, que é a própria forma da imortalidade.
Por isso algumas religiões celebram o valor da pobreza.
A riqueza quebra laços de solidariedade.
SUICÍDIO EGOÍSTA E ANÔMICO
No Suicídio egoísta a sociedade está ausente.
No suicídio anômico, a sociedade falta às paixões individuais,
deixando-as sem freios.
“Suicídio egoísta tem como razão o individuo não perceber a
razão da sua vida; no suicídio altruísta esta razão parece estar
fora da sua vida; o anômico tem como causa o fato de sua
atividade se desregrar e eles sofrerem com isso”. (página. 328)
REGRAS RELATIVAS AO ESTABELECIMENTO
DAS PROVAS
Para Durkheim, “[...] a vida social é uma sucessão ininterrupta
de transformações, paralelas a outras transformações nas
condições da existência coletiva [...]”
Logo, há tantos fatos sociais distintos quantos forem as
diferenças entre as causas e efeitos. Quando um mesmo efeito
corresponder a uma mesma causa, ter-se-á um fato social
único, pronto para estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A família como fator moderador
Constatação:
O maior número de suicídios ocorre entre os vinte e os trinta
anos;
Segundo o autor, é neste período que se possui uma menor
força moral, pois o indivíduo está entregue a si próprio,
enquanto que no seio familiar o individuo esta sujeito a força
benéfica que a sociedade exerce sobre o mesmo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Seu estudo é um diagnóstico analítico das causas do mal estar
geral pelo qual passava a Europa naquele momento, revelando
a ruptura clara de laços sociais.
Se no livro Sobre a Divisão do Trabalho Social a sua questão
principal era responder que laços unem os indivíduos entre si,
no livro O Suicídio, Durkheim afirma que para entender a
solidariedade há de se compreender seu oposto, isto é, a quebra
total de vínculos.
Suicídio acontece em decorrência do estado de anomalia que se
encontra a sociedade; aumento das taxas de suicídio tem
relação com o avanço da sociedade capitalista.
Falta de uma moral que regule a sociedade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
"É a constituição moral da sociedade que estabelece, a cada
instante, o contingente de mortes voluntárias. Existe,
portanto, para cada povo, uma força coletiva, de energia
determinada, que leva os homens a se matar" (Durkheim,
2000: 384)
Taxa coletiva de suicídio: é o indicador moral da sociedade.
Durkheim contrariou as ciências clínicas ao dizer que não é a
loucura, a depressão ou o desconforto econômico que levam os
indivíduos a acabarem com a sua vida, e que estes estados
apenas são o cume do mal-estar social em que vivem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não podemos dizer que o suicida é um “herdeiro moral” do
número de suicídios precedentes, pois este não teve contato
com a mesma natureza que os seus antecessores, na medida
em que as tendências coletivas possuem especificidades que
lhes são próprias, tanto num contexto temporal como social.
Esta natureza difere porque os indivíduos enquanto forças
ativas da sociedade, vão progredindo enquanto seres psíquicos
e sociais, descobrindo novas formas de pensar e sentir, “(…)
posto de lado o individuo, o social não é nada.”, (Durkheim,
página.332).