GEOCAT Geologia – Caracterização Mineral e Ambiental Ltda. Rua 8, 2039 – Rio Claro – SP
Resp.: Geólogo Marcos Roberto Masson
“LEVANTAMENTO E MAPEAMENTO DAS NASCENTES DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO CORUMBATAÍ INCLUÍDAS NA CARTA
TOPOGRÁFICA DE RIO CLARO - 1:50.000 / IBGE”
2008-PCJ-317 Contrato Fehidro: 019/2009
Relatório Final Complementado Conforme Parecer Técnico CPLA/SMA Nº 118/13
Caracterização do Uso e Ocupação do Solo nas Áreas de Preservação Permanente das Nascentes nas Áreas Rural e Urbana.
Aspectos Sócio Econômico e Cultural das Propriedades e as Relações com a Conservação Ambiental
Tomador:
FÓRUM PERMANENTE DE ENTIDADES CIVIS QUE EXERCEM ATIVIDADES
AMBIENTAIS NAS BACIAS DOS RIOS PIRACICABA, CAPIVARI E JUNDIAÍ.
Localização:
Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, Afluente Margem Direita do Rio
Piracicaba, em Piracicaba – SP.
Bacias PCJ – UGRHI 05 – Municípios de Rio Claro, Ipeúna, Santa Gertrudes e
Corumbataí
Piracicaba, Janeiro de 2014.
1. Introdução
Com base na metodologia apresentada no relatório final pela WF
Engenharia e no Primeiro Relatório Parcial de Campo e tendo como escopo
principal a caracterização das áreas de preservação permanente das
nascentes situadas na quadrícula – Rio Claro – IBGE, escala 1:50.000, foram
realizadas reuniões com os associados e lideranças do Sindicato Rural de Rio
Claro e da Associação de Produtores Familiares de Rio Claro, que têm
jurisdição sobre os demais municípios da região. Assim, pudemos verificar as
preocupações e as expectativas dos proprietários e produtores rurais em
relação às questões de preservação das APPs das Nascentes e ao longo dos
cursos d’água.
Nessas reuniões pudemos também entender que a resistência
apresentada pela comunidade rural no cumprimento do atual Código florestal
Brasileiro, baseia-se principalmente na falta de práticas e políticas públicas
direcionadas aos serviços ambientais a serem produzidos. Essas políticas
aguardadas até a presente data e que já ocorrem em outras regiões, devem
trazer no seu bojo, a valorização das áreas a serem conservadas e dos
serviços inerentes à manutenção das mesmas, conforme preconiza a
legislação.
Os levantamentos de campo realizados nas 12 (doze) áreas pré-
definidas pela metodologia apresentada, com base nas fotografias áreas
recentes, confirmam que os produtores e proprietários se utilizam das áreas de
preservação das nascentes e cursos d´água, por conta de serem áreas que
frequentemente se apresentam com melhores condições de produção
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agropecuária e que ao final contribui efetivamente na composição da rendada
propriedade.
Experiências em execução nas Bacias PCJ, nos municípios de Extrema,
Louveira e Botucatu e Joanópolis, demonstram que políticas voltadas à
preservação, se bem conduzidas, conseguem reverter situações de profunda
degradação, para sistemas ambientalmente estáveis.
Buscou-se também, junto à Universidade Estadual Paulista – UNESP –
Campus Rio Claro, pesquisas ou trabalhos que pudessem ajudar na avaliação
e esclarecimento das atuais condições econômico e social das propriedades
rurais para, conseguir definir um diagnóstico de prováveis correlações
existentes entre a falta de recursos, assistência técnica e políticas públicas
voltadas ao setor, com a situação de degradação ambiental das áreas de
preservação permanente, nas propriedades rurais e urbanas.
Outra busca por informações, ocorreu junto ao poder público municipal
de Rio Claro com entrevista à secretária municipal de planejamento,
desenvolvimento e meio ambiente, Olga Lopes Salomão e, secretário municipal
de agricultura, Carlos Alberto Teixeira De Lucca para auxiliar nas propostas de
conservação dos recursos hídricos junto aos agricultores locais. Nesta foi
coletada as opiniões e propostas da visão pública para gerenciamento destas
áreas, principalmente respeitando-se as realidades e particularidades locais e
municipais e as possibilidades de aplicação das ações necessárias para a
conservação dos corpos hídricos, que, sendo estas instituídas, serão passíveis
de serem praticadas.
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Nesse sentido e com a preocupação de atender ao escopo proposto,
foram selecionadas as atividades que mais poderiam influenciar na mudança
de atitude dos proprietários rurais em relação ao cumprimento do proposto pelo
Código Florestal, expresso pela Lei Nº 12.651, de 25 de maio de 2012.
Portanto, é fundamental esclarecer que as atividades propostas no
Termo de Referência, serão cumpridas, porém de maneira mais expedita,
tendo-se em vista o conhecimento que se tem sobre a vegetação existente, os
remanescentes florestais, os diversos compartimentos existentes, assim como
a ocorrência e a distribuição das espécies de ocorrência endêmica, de biomas
exclusivos e daquelas ocorrentes em situação da altitude mais elevada. Isto
posto, propõe-se a metodologia a ser descrita no item 3, a seguir.
2. Objetivos
Os objetivos da proposta é o de fazer levantamentos e mapeamento das
nascentes da bacia hidrográfica do Rio Corumbataí, SP, situadas dentro da
carta topográfica de Rio Claro (1:50.000 / IBGE). Levantamento dos usos e
ocupação das áreas de preservação permanente das nascentes, relacionando
com a atividade socioeconômica rural regional, buscando os motivos e as
demandas que caracterizam a situação socioambiental. Os levantamentos
resultarão num diagnóstico socioeconômico e ambiental da região, como
também fará um prognóstico das atividades a serem desenvolvidas para
superar as dificuldades, com o objetivo de tornar a região sócio e
ambientalmente sustentável. Além de levantar a situação sócioeconômica e
ambiental, serão produzidos relatórios fotográficos, com dados dos
proprietários, situação das APPs das nascentes e mapas correspondentes,
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também objeto dos produtos que já estão sendo elaborados e apresentados
pela empresa WF Ambiental.
Dentre os produtos, o levantamento do uso e ocupação do solo nas
Áreas de Preservação Permanente (APP) das respectivas nascentes, de
acordo com o Código Florestal vigente, ou seja, Lei Nº 12.651, de 25 de maio
de 2012.
3. Metodologia Adotada
Tendo como premissa a inexequibilidade de todas as atividades
conforme previstas no termo de referência e considerando que na área de
estudo existem vários tipos de uso do solo e vários tipos de drenagem, foram
dispostas ao acaso 12 amostras circulares de 1km de diâmetro (Área = 3,14
km²) como áreas representativas da carta, para orientação de uma posterior
checagem de campo.
A utilização de amostras circulares se justifica por serem amostras de
mesma área e contemplarem variados tipos de uso de solo e de drenagem,
como também fez Demattê et al (1993).
Com base nessa orientação, serão visitadas as propriedades da região
da carta topográfica em escala 1/50.000 de Rio Claro (SF 23-Y-A-I-4)
compreendida na área de 71.412,48 hectares, que abrange os municípios de
Rio Claro (83,3% da área), Santa Gertrudes (6,5% da área), Ipeúna (9,7% da
área) e Corumbataí (0,5% da área), Itirapina, além dos distritos de Ajapi, Ferraz
e Batovi.
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Após as definições metodológicas orientativas, isto é, com base no
estabelecimento das áreas pré-selecionadas para visitas e checagem de
campo, conforme apresentado no relatório final da empresa WF Ambiental.
4. Resultados e Discussão
Foram programadas e realizadas várias visitas às propriedades
rurais, porém, os resultados não foram os esperados.
As dificuldades apresentadas pelos proprietários passaram pela
desconfiança do objetivo da visita, com a realização de caminhadas até as
nascentes, até o medo de assalto por desconhecimento das pessoas
envolvidas no trabalho.
Algumas informações relacionadas com a propriedade não foram
coletadas devido à ausência dos proprietários. Seja por residirem na cidade
ou por estarem ausentes no momento da visita de campo. Há inclusive, a
existência de propriedades onde não há moradias, seja para os
proprietários ou para funcionários. Estas possuem arrendamento a terceiros
para exploração agrossilvipastoril.
Vale destacar, que houve dificuldade com alguns funcionários
residentes das propriedades por não autorizar, inicialmente, a entrada na
propriedade e/ou não fornecia as informações básicas necessárias para
coleta de todos os dados locais. Pois, se faz necessário as informações da
área e do proprietário, bem como a confecção de relatório fotográfico.
Porém, devido à desconfiança nas visitas, quando do fornecimento
de alguns dados da propriedade pelo proprietário ou responsável, não era
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permitida a confecção de fotografias por estes entenderem que estariam
promovendo autodenuncia em razão da ocupação irregular das APP.
Nestes casos, fez-se apresentação das normas e procedimentos
legais para regularização deste uso. Mas o receio e “medo” de represália
por parte da Policia Ambiental em lavrar auto de infração, acabava por não
permitir que se fizesse as 2 (duas) atividades, coleta de dados local e
relatório fotográfico. Em alguns casos, inclusive, houve a seguinte proposta
por parte dos proprietários rurais: “se for fornecido os dados locais, não será
permitida a confecção de fotografias” e vice-versa, “se fotografado, não será
fornecido nenhum dado local”. Nestes casos, optou-se por confeccionar as
fotografias e a coleta de dados da propriedade foi realizada junto a
moradores das propriedades vizinhas.
A dificuldade dos trabalhos de campo se estendeu inclusive na
realização das reuniões com a comunidade, sejam com moradores e/ou
produtores rurais, seja com moradores dos bairros urbanos. Pois, há muita
resistência das pessoas em dar credibilidade a ações particulares sem a
participação efetiva de entidades, sejam elas públicas ou privadas. Com
isso, a desconfiança e descrença nos trabalhos forçosamente provocaram
buscas por novas estratégias de trabalho. Inclusive para a realização das
reuniões previstas. Estas somente terão sucesso de público com total
credibilidade quando da realização de parcerias com entidades
representativas, sejam de âmbito rural ou urbano, ou ainda através de
políticas públicas.
Porém, acaba-se por ficar dependente dos eventos promovidos por
estas entidades se não for promovido por políticas públicas uma boa
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educação ambiental sobre o tema com total divulgação dos benefícios
gerados ao se promover a preservação ambiental, rural ou urbana, para
conservação da qualidade e quantidade de água das nascentes.
E, apesar de prejudicada, a metodologia serviu para demonstrar que
deveríamos mudar a estratégia, tanto é, que por unanimidade, optou-se
pelo relatório fotográfico e o registro da localização através do GPS, para
caracterização dos usos e ocupação dos solos nas APPS das nascentes
junto aos moradores vizinhos.
Então, em consideração às dificuldades encontradas no campo,
optou-se por buscar parcerias com as entidades representativas dos
proprietários rurais, sindicato rural patronal, autarquias municipais,
entidades públicas e lideranças de bairros.
E, para uma próxima fase, deve-se desenvolver contatos e
agendamentos destas reuniões junto a entidades públicas ou privadas, para
apresentação do projeto, dos objetivos e resultados, assim como junto às
lideranças de bairros, rurais e urbanos, onde estão inseridas as nascentes.
A vertente sócio econômica, a ser levantada, ajudará a definir quais
ações e metas deverão ser levadas a cabo para que se faça a mudança de
atitude necessária para que as atividades econômicas incorporem a
componente ambiental, tanto na diversidade de espécies, quanto na
conservação e proteção do solo e da água.
Portanto, com o intuito de minimizar os impactos ambientais existentes
nas nascentes destes municípios da área de abrangência do projeto, o
presente trabalho levantou e mapeou todas as nascentes amostradas pré-
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definidas na metodologia a fim de orientar e aprimorar a gestão dos recursos
hídricos na carta topográfica em escala 1/50.000 de Rio Claro (SF 23-Y-A-I-4).
Dessa forma, a ONG - Fórum Permanente de Entidades Civis Que Exercem
Atividades Ambientais nas Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, espera
contribuir com a melhoria ambiental e de qualidade de vida, buscando através
do levantamento, informações que possam ser utilizadas pelos atores sociais
locais, para direcionar ações de gestão participativa e compartilhada dos
recursos hídricos da região da Bacia do Rio Corumbataí.
4.1. Dados levantados em entrevista com secretaria do meio
ambiente e secretário da agricultura do município de Rio
Claro Atualmente, o município de Rio Claro busca novas alternativas para
expansão urbana, seja para implantação de empreendimentos imobiliários
residenciais ou industriais. Mas esta expansão deve considerar e preservar as
zonas hídricas superficiais responsáveis pelo abastecimento e fornecimento de
água à zona urbana, seja para o abastecimento e fornecimento de água aos
municípios localizados à sua jusante.
E, apesar do município de Rio Claro ter grande potencial hidrológico
superficial, atualmente observa-se uma má gestão nas áreas dos recursos
hídricos superficiais. Compromete assim, tanto a quantidade e a qualidade de
água junto às nascentes como a qualidade da água que escorre
superficialmente até os pontos de captação superficial promovido pelo
Departamento Autônomo de Água e Esgoto (DAAE). Esta é realizada para
abastecimento de água à zona urbana, seja para uso residencial ou comercial.
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Então, em razão das dificuldades encontradas e apontadas para a
confecção dos trabalhos de campo, dados das nascentes e reuniões com a
comunidade, promoveu-se entrevista com a secretaria do meio ambiente e
secretário da agricultura do município de Rio Claro para coleta de mais dados e
informações. Optou-se pela escolha destes secretários em razão das
atividades propostas estarem diretamente relacionados com estas secretarias.
Inclusive escolheu-se o município de Rio Claro em razão deste ser mais
representativo regionalmente.
A secretaria do meio ambiente do município de Rio Claro, Olga Lopes
Salomão, mostrou-se interessada nos trabalhos de campo e colocou-se a
disposição para divulgação deste tipo de ação. Inclusive se manteve aberta a
discussões com relação à implantação de programa de pagamento por
serviços ambientais. Segundo observação pessoal, percebe-se um descaso e
total desinteresse da maioria da sociedade em promover uma preservação
ambiental simplesmente em razão da consciência pessoal de cada cidadão.
Pois, o modo de vida imposta pela sociedade nos remete a algo que
deve ser rentável para quem pratica qualquer tipo de atividade, mesmo que
esta seja uma simples preservação ambiental onde não há demanda
significativa de trabalhos e serviços. Ou seja, sem benefício próprio, a maioria
dos proprietários rurais, sejam moradores no campo ou na cidade, somente
devem-se mobilizar para preservar algum montante de área quando estes
obtiverem algum tipo de benefício. Ou em raros casos, quando estes tiverem
consciência da importância desta ação por recebimento de uma boa educação
ambiental.
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Havendo a implantação de programa, deve-se apenas promover
discussões de como arrecadar valores para serem depositados em um fundo
específico para este fim. Que administre e gerencie a preservação destas
áreas.
Há, porém, necessidade de nomeação de comissão para avaliação da
eficiência das ações previstas e implantadas, adequando sempre, os pontos
que se fizerem necessários.
Neste contexto, em razão do município de Rio Claro estar em região
estratégica e ser estruturado política e ambientalmente, este poderá promover
liderança junto aos municípios que tem as cabeceiras destes mananciais,
criando um fórum intermunicipal entre os municípios de Analândia, Corumbataí,
Ipeúna, Itirapina. Tanto junto aos municípios que dependem da quantidade e
qualidade de água proveniente da região, como por exemplo, o município de
Piracicaba.
Com relação ao secretário de agricultura do município de Rio Claro,
Carlos Alberto Teixeira De Lucca, além de todo o interesse nos trabalhos de
campo e disposição para divulgação de futuros trabalhos, possui envolvimento
em programas governamentais para fixação do homem no campo e melhoria
da renda familiar rural com atividades profissionais na propriedade rural.
Os programas governamentais são Programa de Aquisição de Alimentos
(PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Estes têm como
objetivo a promoção do abastecimento alimentar local através dos produtos
oferecidos pela agricultura familiar, como estratégia de combate à fome e à
desnutrição. A secretaria vem atuando também na modalidade da “Compra da
Agricultura Familiar para Doação Simultânea”, que se caracteriza pela
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aquisição de alimentos oriundos da agricultura familiar, de origem agrícola,
extrativa, ou da indústria familiar, visando à doação a populações em situação
de risco alimentar atendidas pela rede de proteção social de caráter
governamental ou não governamental.
Com isso, havendo esta fixação do homem no campo, mesmo que
através de agricultura familiar, há condições para início de uma boa educação
ambiental e conscientização desta população das importâncias de preservação
ambiental.
Inclusive, este tem posicionamento claro sobre quanto de área deve ser
preservada para cada nascente ou curso d'água, independente do que a
legislação federal quantifica. Ou seja, para uma efetiva preservação das faixas
ao redor das nascentes e consequentes faixas marginais junto a estes (APP),
deve-se analisar individualmente e pontualmente cada caso.
Deve-se caracterizar as condições de solo, topografia, geologia,
hidrologia, etc. De posse destas informações, estimar qual a real faixa de APP
deverá ser preservada, pois, assim, consegue-se efetivamente um aumento na
vazão de água destas nascentes e uma melhora significativa da sua qualidade.
Porém, deve-se também promover a preservação das faixas marginais
dos cursos d'água para continuidade da melhoria alcançada na nascente e
consequente melhor qualidade de água para captação, evitando inclusive,
assoreamento dos cursos d'água.
Também deverá ser promovido todo um trabalho de conservação de
solo nestes imóveis ao nível de microbacia para que haja uma diminuição do
escorrimento superficial (enxurradas) e que a água fique retida o maior tempo
possível em contato com a superfície do solo. Promovendo desta forma,
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infiltração forçada para as camadas mais profundas, auxiliando no aumento da
vazão de água pelas nascentes e evitando erosões e demais prejuízos
causados pelas enxurradas (Figura 1).
Figura 1. Gráfico de escorrimento superficial (Autor - Massato Kobiyama)
Então, dependendo do imóvel e da sua localização, quase que haverá
um valor monetário significativo à aquele proprietário que aderir ao programa
podendo buscar alternativas de trabalho e atividade rural para o incremento da
renda familiar.
Pode-se inclusive implantar atividades para exploração de produtos não
madeireiros das áreas com vegetação arbórea (casca, sementes, folhas,
galhos, frutos, etc.); criação de laminas d'água junto aos cursos d'água para
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criação de peixes, marrecos, etc.; cultivos comerciais de espécies arbóreas,
nativas ou exóticas, para exploração através de manejo sustentável (madeira,
látex, etc.). Todas atividades, é claro, devidamente regulamentadas,
regularizadas e aprovadas pelos órgãos gestores ambientais.
4.2. Caracterização da Vegetação
Quanto à flora nativa, a área de estudo, segundo dados extraídos de
levantamento de campo, há fragmentos de florestas latifoliadas, pertencentes
ao bioma Mata Atlântica, que em geral, está relacionada às escarpas das
Cuestas Basálticas, junto aos morros testemunho (ZAINE, 1996;
CAVALCANTI, 2003). Já, nas planícies fluviais, podem ser observados
acompanhando rios e ribeirões, a presença de florestas ribeirinhas, alagáveis
ou não, dependendo da fisiografia local.
Há também alguns fragmentos vegetais originais de cerrado sensu lato,
em diversas expressões fisionômicas (fisionomia savânica - cerrado sensu
stricto, campo cerrados e campo sujo); fisionomia campestre (campo limpo) e;
fisionomia cerradão (embora menos frequente, mas geralmente relacionado a
manchas de solos mais férteis), sendo encontrados sobre alguns espigões, em
solos arenosos ou depósitos coluvionares (PONÇANO et al. 1981).
Pode-se concluir então, que a área de estudo encontra-se em área de
transição entre estes 2 (dois) tipos de biomas florestais, Bioma Mata Atlântica e
Bioma Cerrado. Estes estão dispostos de maneira que esta zona é definida
como sendo de transição, ou seja, é uma zona de contato entre biomas
distintos, Cerrado e Mata Atlântica.
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Os remanescentes dos fragmentos florestais da vegetação original,
embora restritos a determinadas áreas, ainda guardam grande diversidade
biológica e paisagística, fornecendo recursos para a fauna e proteção para o
solo e mananciais. Estes têm valor incontestável na manutenção da qualidade
ambiental regional.
Quanto às florestas latifoliadas, e que merece total atenção neste
estudo, basicamente são encontradas 2 (dois) tipos: floresta estacional
semidecidual e floresta estacional decidual. Porém, a floresta estacional
decidual é rara e ocorre sobre solos litólicos cascalhentos, com ocorrência
naturalmente fragmentada em meio à floresta estacional semidecídua,
diferenciando-se desta, apenas pela proeminente deciduidade foliar durante a
estação seca (Ivanauskas & Rodrigues 2000).
Esta ainda possui divisão relacionada ao seu posicionamento quanto
aos corpos hídricos: floresta ou mata seca (floresta estacional semidecidual
(FES) - IBGE, 1993); floresta ciliar ou mata ciliar (floresta estacional
semidecidual ribeirinha - RODRIGUES, 2001); floresta paludícula ou mata de
brejo (floresta estacional semidecidual com influência fluvial permanente –
RODRIGUES, 2001).
As florestas ribeirinhas são classificadas como: florestas ciliares –
acompanham rios de médio a grande porte (Ribeiro & Walter 2001); florestas
de galeria – acompanham riachos de pequeno porte e córregos com canal
definido, geralmente em fundos de vale, associadas ao cerrado e; florestas
paludosas (matas de brejo) – acompanham áreas brejosas nas cabeceiras de
drenagem e nos fundos dos vales (Rodrigues 1999).
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Estas estão são presentes em algumas encostas dos morros
testemunhos ou nas escarpas das Cuestas.
Esta formação florestal, FES, originalmente teve sua distribuição
concentrada principalmente nos domínios da Depressão Periférica Paulista,
com características próprias para pequenas manchas de cerrado.
Foi nessa condição que esta mais sofreu com as intervenções
antrópicas. Sendo, portanto, a formação mais ameaçada em termos de
degradação. Esta está restrita a pequenos remanescentes encravados em
áreas de difícil acesso, áreas inaptas para práticas agrícolas ou raras vezes,
protegida. Seja na forma de reservas ou parques ecológicos, seja por ação
institucional ou por iniciativa própria de alguns proprietários rurais.
Ela ocupa variadas condições edáficas, tanto em solos mais argilosos
como em solos mais arenosos. No entanto, apesar das mesmas características
fisionômicas, são observadas algumas particularidades florísticas e/ou
estruturais na formação florestal, dependendo das características do solo.
Quanto à formação florestal que forma as matas ciliares, esta acaba
ocorrendo associada às margens dos cursos d'água e afloramentos de água
natural (nascentes). Está sobreposta à faixa projetada denominada de Área de
Preservação Permanente (APP), nos mais diversos estágios de
desenvolvimento, pioneiro, inicial, médio e avançado.
Por definição, APP é toda área protegida, coberta ou não por vegetação
nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,
a estabilidade geológica e a biodiversidade; facilitar o fluxo gênico de fauna e
flora; proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.
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Esta recebe ainda outras denominações: floresta ou mata de galeria;
mata justa fluvial ou mata marginal; mata ciliar; mata de fecho ou anteparo;
mata beira rio ou de condensação. Esta acaba sendo um mosaico complexo de
formação florestal que abrange desde florestas estacionais semideciduais até
as matas de transição (ecótono ciliar).
Por definição, matas ciliares são formações vegetativas formadas em
locais normalmente úmidos, com lençol freático superficial e solos
hidromórficos. As variações dos teores da água do solo são resultados de
diversos fatores: regimes pluviométricos, tipo do solo, topografia, margens e
traçado do rio.
A união de espécies vegetais de diferentes formações florestais nestas
faixas ciliares faz com que esta apresente elevada e complexa diversidade de
espécies além de grande heterogeneidade estrutural. BERTONI (1982) ressalta
a importância do conhecimento das espécies e do ambiente em que ocorrem
em razão do grau de importância ambiental que ela representa.
Segundo HUTCK, esta possui vegetação mais viçosa em razão de ser
formada sobre lençol freático pouco profundo. Ou seja, solo sempre úmido, rico
em matéria orgânica e com substâncias nutritivas.
Apresenta, portanto, mosaico florestal característico provocado pela
adaptabilidade fisiológica de algumas espécies em resistir à saturação hídrica
do solo, mesmo que seja por curtos períodos de tempo, sendo constituída de
espécies típicas de áreas ripárias.
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Dado a sua importância, esta faixa de preservação tem garantida sua
permanência por intermédio de legislação federal que define e dimensiona
estas faixas ciliares.
Então, para a situação de estudo, a APP tem definido pelo Art. 4, inciso
IV, da Lei Federal nº 12.651 de 25 de maio de 2012: “as áreas no entorno das
nascentes e dos olhos d’água perenes, qualquer que seja sua situação
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros”.
Inclusive, nesta legislação federal, se descreve as determinações e os
parâmetros do regime de proteção para estas faixas ciliares “Seção II, Art. 7,
Art. 8 e Art. 9”.
Cabe destacar neste momento, que alguns trechos das APP’s das
nascentes estudadas estão desprovidos de vegetação florestal nativa, sendo
atualmente praticada atividades agrossilvipastoris. E, segundo os proprietários
estas são praticadas desde antes de 22 de julho de 2008.
Portanto, seguindo as diretrizes legais atualmente vigentes, estas
encontram-se com uso e ocupação de solo consolidados em razão da prática
das atividades ser anterior a esta data, ficando assim, autorizado nestes casos,
exclusivamente, a continuidade destas atividades.
Porém, há larguras mínimas a serem respeitadas e preservadas.
Estando este montante relacionado diretamente com o tamanho da área onde
a nascente está inserida e a quantidade de módulos fiscais que a propriedade
que a comporta possui.
Para definição das APP das nascentes estudadas, esta seguirá as
determinações definidas em legislação retro descrita. Seja em relação à
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maneira de como fazer ou em relação ao dimensionamento da faixa de APP a
ser recomposta.
Ou seja, junto às nascentes, onde não há presença de formação
florestal nativa, será efetivada a recuperação da faixa do entorno destas com
raio de 15,0 (quinze) m, sendo medida a partir do ponto de afloramento natural.
Nos estratos superiores, pode-se observar a predominância de algumas
famílias, tais como: Anacardiaceae, Bombacaceae, Caesalpiniaceae,
Mimosaceae, Apocynaceae, Fabaceae, Lecythidaceae, Lauraceae.
Dentre as espécies mais comuns deste dossel estão: cambuí (Myrcia
albo-tomentosa), canjarana (Cabralea canjerana), capixingui (Croton
floribundus), capororoca (Rapanea umbellata), embaúba (Cecropia
pachystachia), guanandi (Calophyllum brasiliense), ingá (Inga sessilis), ipê-do-
brejo (Tabebuia umbellata), marinheiro-do-brejo (Guarea macrophylla),
guamirim (Blepharocalyx salicifolius), palmito-juçara (Euterpe edulis), peitode-
pomba (Tapirira guianensis), pindaíba-do-brejo (Xylopia emarginata), pinha-do-
brejo (Talauma ovata), pinheirinho (Podocarpus lambertii), sangra-d’água
(Croton urucurana), entre outras.
Já, no sub-bosque, são comuns arvoretas como cafezinho (Lacistema
hasslerianum) e, arbustos como erva-de-rato (Palicourea macgravii) e
jacaraticão-branco (Miconia theaezans), além de samambaias arborescentes
como guaricanga-do-brejo (Geonoma brevispatha), hortelã-do-brejo
(Hedyosmum brasiliense), xaxim (Cyathea delgadii e Cyathea atrovirens), entre
outras.
Nas bordas dos fragmentos florestais em estágio inicial, médio e
avançado de desenvolvimento, encontra-se comumente os arbustos: canela-
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do-brejo (Ocotea tristis), casca-d’anta (Drymis winterii), folha-de-bolo (Miconia
chamissois).
Cabe destacar, que os todos os indivíduos descritos foram identificados
através de caminhadas aleatórias pelos fragmentos florestais através da
observação dos materiais botânicos presentes, sendo destacadas as espécies
mais representativas.
5. Observações e conclusões
O pagamento por serviços ambientais é um dos pilares que sustentam a
nova legislação ambiental brasileira. Pois, de nada adianta aprovar toda uma
legislação especifica para o setor se não avançar-se a discussão por
pagamento de serviços ambientais. E isso tende a valorizar o produtor rural
que cuida do meio ambiente.
Este poderá ter três tipos diferentes de atuação: o primeiro tipo de
atuação seria a preservação da unidade de conservação, que busca preservar
ou recuperar áreas protegidas legalmente e que já são reservas, mas não têm
a proteção ou preservação adequada. O segundo tipo de atuação seria
incentivar o proprietário rural a recompor áreas degradadas com espécies
nativas para preservar as paisagens naturais e conservar a biodiversidade de
fauna e flora local, evitando o uso destas florestas para produção.
E, o terceiro tipo de atuação, e que está diretamente relacionado com o
presente estudo, é a de conservação da água, que busca minimizar a erosão,
recompor a cobertura das APP’s e proteger as bacias ou sub-bacias que
abastecem as zonas urbanas.
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Este, portanto, acaba sendo um projeto que, além de toda a
regulamentação e anuência dos órgãos ambientais, o produtor possa a ter
assistência técnica direta e ainda acaba por ter uma renda familiar adicional.
Segundo Moreira Mendes, esta é a maneira mais econômica de preservar o
meio ambiente.
Contudo, a idéia central dos sistemas de PSA é permitir que os
beneficiários de um serviço ambiental possam fazer pagamentos diretos,
contratuais e condicionados aos produtores destes tipos de serviços
ambientais, em retorno à adoção de práticas que asseguram a conservação e a
restauração dos ecossistemas (WUNDER, 2005).
Em resumo, da mesma forma que o uso da terra adequado pode ser
remunerado por gerar externalidades positivas, ou minimizar externalidades
negativas, e assim corrigir falhas do mercado e estimular financeiramente
determinadas práticas, as atividades urbanas que gerassem benefícios
coletivos semelhantes também deveriam ser passíveis de tal remuneração, na
forma de pagamento por serviços ambientais urbanos.
Cabe destacar, que as informações pertinentes à interferência da APP,
percentual de interferência e uso da APP, estão balizadas no dimensionamento
estipulado pela atual legislação federal. Não sendo considerados os usos
consolidados destas APP’s em razão de não ter dados específicos dos
registros imobiliários. Pois, quando da coleta de dados, não houve condições
para distinção de quantos imóveis rurais podem fazer a composição da
propriedade onde a nascente está inserida.
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Ressalta-se que o número de nascentes amostradas neste estudo foi de
35 (trinta e cinco), sendo que a distribuição geográfica das mesmas ocorre
conforme segue:
• Município de Santa Gertrudes 1 (uma);
• Município de Rio Claro 19 (dezenove);
• Município de Corumbataí 6 (seis);
• Município de Itirapina 2 (dois);
• Município de Ipeúna 6 (seis).
Portanto, quando da implantação de qualquer ação de iniciativa pública
ou privada, deverá, obrigatoriamente, ser realizado em regime intermunicipal,
dado que as bacias de contribuição das recargas destes mananciais
extrapolam os limites territoriais do município de Rio Claro, abrangendo toda a
região da Bacia do Rio Corumbataí.
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