CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO MORRO DO
CRUZEIRO E CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO
DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL (PNM).
Foto: Flávio Paes
SVMA-AT-NuGEO
Eng. Agrônomo Luiz Roberto de Campos Jacintho
Estagiários de Geografia:
Gustavo Guedes Alcoforado
Natassia Pereira Gomes
Pedro Francisco Pastor Bruno
Abril, 2004
São Paulo
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CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DO MORRO DO CRUZEIRO E
CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRIAÇÃO DO PARQUE NATURAL MUNICIPAL
O Morro do Cruzeiro situa-se na Zona Leste do município São Paulo,
próximo à divisa com o município de Mauá, mais especificamente na
subprefeitura de São Mateus, no limite entre os distritos de São Rafael e
Iguatemi. Por sua localização e altitude, no local foram instaladas antenas de
telecomunicações.
O acesso ao Morro pode ser feito pela Av. Aricanduva, sendo que é
preciso percorrê-la até a Av. Sapopemba, onde se deve dar continuidade pela
Estrada do Rio Claro e então, entrar na Av. dos Sertanistas. Após a ponte do
Córrego Caguaçu, seguir à esquerda, pela rua Prof. Jaçanã Altair e depois pela
rua 1 do Cruzeiro, até chegar às antenas localizadas no Morro.(Mapa 1)
O acesso ao topo dos morros é feito através de várias trilhas que cortam
a área. Tais trilhas são utilizadas pela população para o lazer contemplativo,
uma vez que o local oferece vista privilegiada de toda a região. Segundo
informações de moradores do local as capoeiras são também procuradas por
caçadores de pássaros e coletores clandestinos de plantas ornamentais.
TOPONÍMIA
Os morros da região recebem topônimos variados por parte da
população, entre eles há um que recebe o nome de Morro do Sabão, por
motivos relacionados ao meio físico do local, que torna o terreno liso,
dificultando o acesso. No caso do Morro do Cruzeiro, sua toponímia resulta,
ainda segundo informações da população, da queda de avião que ocasionou
algumas mortes, levando a implantação de uma cruz no local.
R. Um do Cruzeiro
Av Profª.
Jaçanã Altair
Estr. do Rio Claro
Av. Sapopemba
Av. R
ague
b Ch
ohfi
Av. Aricanduva
MAPA 1- MORRO DO CRUZEIRO: LOCALIZAÇÃO E ACESSO
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MEIO FÍSICO
Na área onde está localizado o Morro do Cruzeiro (coordenadas: Lat.
23º38’10’’ S – Long. 46º25’56’’ W) o relevo é classificado como de Morros
Altos e observa-se que a geomorfologia do terreno apresenta topos aplainados,
em virtude da idade das rochas e do forte intemperismo. Sua altitude chega a
atingir 990m, sendo que as amplitudes1 são de aproximadamente 150m e a
declividade média superior a 30%, podendo ultrapassar 60% em encostas e
vertentes mais íngrimes.
Vale destacar que no âmbito do município de São Paulo, somente nas
regiões da Serra da Cantareira, do Pico do Jaraguá e do Morro do Cruzeiro são
observadas altitudes superiores a 950 m (Mapa 2).
Quanto a sua litologia, temos formação de filitos e xistos, rochas que
fazem parte do Complexo Embu. Os solos rasos evidenciam afloramento das
rochas em vários trechos da subida, o que dificulta, de certo modo, o acesso,
pois quando molhadas as rochas tornam-se lisas como o sabão.
Quanto à hidrografia, a área se encontra numa região de cabeceira de
drenagens, com a presença de grande quantidade de nascentes. Dentre estas
nascentes foram verificadas as do Córrego dos Cochos e do Caguaçu,
pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Aricanduva, estas se encontram nas
vertentes voltadas para o Município de São Paulo. Do lado de Mauá
encontram-se nascentes que fazem parte da drenagem do Córrego Serraria,
que pertence à bacia do Rio Tamanduateí.
1 Variação entre o menor e o maior valor de altitude observado
MAPA 2- HIPSOMETRIA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO
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VEGETAÇÃO
Em relação à vegetação do Morro do Cruzeiro e de seu entorno nota-se
que há áreas com capoeiras e campos. Há presença também de áreas
reflorestadas com eucaliptos, sendo que algumas destas áreas estão nas
vertentes de alta declividade. Ainda assim, é possível encontrar áreas com solo
exposto, onde se observa trecho de erosão, que tendem a se estender devido à
fragilidade do terreno.
As observações preliminares da flora do local permitem verificar alguns
exemplares de vegetação nativa, de formações de floresta ombrófila densa, em
estágio médio de regeneração, conhecidas como capoeiras. Alguns exemplos
são: Sclerolobium denudatum (Passuaré); Schizolobium parahyba
(Guapuruvu); Schinus terebinthifolia (Aroeira); Cecropia holoeuca
(Embaúba); e Alchornea triplinervia (Tapiá). (Foto 1)
FOTO 1- Remanescente florestal (Capoeira) no Morro do Cruzeiro.
Foto: Flávio Paes
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Vale destacar que os distritos de São Rafael e Iguatemi estão entre os
que apresentam os maiores índices de desmatamento segundo dados do Atlas
Ambiental do Município de São Paulo, sendo que a vegetação da região do
Morro do Cruzeiro está presente no livro Vegetação Significativa Do
Município de São Paulo.
JUSTIFICATIVAS PARA IMPLANTAÇÃO DO PARQUE NATURAL
MUNICIPAL DO MORRO DO CRUZEIRO
Visto isto, temos que o Morro do Cruzeiro apresenta-se bastante
singular na paisagem da Zona Leste de São Paulo, de forma a evidenciar a
necessidade de conservação da área.
Para tanto, há de se considerar também o uso do entorno do Morro que é
constituído tanto por chácaras, quanto por loteamentos irregulares de baixo
padrão (Foto 2). Sabe-se que este último uso gera uma forte pressão urbana
em relação ao Morro que se apresenta como limite de ocupação. A
urbanização na região é bastante problemática, visto que as suas
características geotécnicas oferecem Severas Restrições à ocupação urbana,
conforme a Carta de Aptidão Física do Assentamento Urbano da Emplasa /
IPT.
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FOTO 2- Ocupação urbana no entorno do Morro do Cruzeiro.
Foto: Flávio Paes
Outro aspecto importante do uso do entorno, diz respeito à presença do
aterro sanitário municipal São João, que se destaca na paisagem pelo seu
porte. Dado o grande impacto ambiental da operação de um aterro dessas
dimensões, a criação de uma unidade de conservação de uso integral nas suas
adjacências pode atenuar tal impacto. Vale ressaltar que a ampliação desse
aterro vem sendo cogitada pela PMSP, como uma das poucas alternativas
futuras para disposição do lixo doméstico gerado no município de São Paulo.
PROPOSTA INICIAL DE PERÍMETRO
Um levantamento fundiário da área, realizado pelo DPA-DEAPLA,
mostra (Mapa 3) que ocorrem glebas pertencentes à COHAB (área 4 do Mapa
3), sendo que a área 2 (Mapa 3), apresenta-se em processo de desapropriação
pela PMSP, com vistas à ampliação do aterro São João.
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Com base neste levantamento, combinado com a análise de fotos aéreas
e mapas de hidrografia, sugere-se o limite apontado no mapa 3, como
perímetro a ser melhor identificado.
A sugestão se justifica tanto pela presença de capoeiras como de
nascentes a serem protegidas, incluindo os dois picos existentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dada a contigüidade da área com terrenos pertencentes ao município de
Mauá, parece adequado que algum tipo de ação conjunta com o poder local
daquele município seja implementada.
Além disso, pelas características da área, pode ser viável a utilização do
programa de créditos de carbono para revegetação e recuperação das áreas
com solo exposto e atualmente sob processos erosivos.
Finalmente, entendemos que estudos mais detalhados devem ser
elaborados, incluindo levantamentos de flora e fauna, além de um
aprofundamento do levantamento fundiário, entre outros, para
prosseguimento do processo de implantação do PNM do Morro do Cruzeiro.
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MAPA 3- MORRO DO CRUZEIRO: FUNDIÁRIO E LIMITE PROPOSTO
ID Proprietário área
1 Franz Jenay 1.342000m22 Franz Jenay 1.244.000m23 Carlos Ferreira de Barros 660.700 m24 Cohab 935.600m25 Antonio Mikail 1.021.600m2
Fonte: DPA-DEAPLA
Perímetro proposto (área: 430,5 ha)
Limites de Propriedades