FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS Núcleo de Apoio de São José do Rio Preto
RENOVAÇÃO LEXICAL: OS NEOLOGISMOS NA LÍNGUA
PORTUGUESA
CRISTINA LOPES MARTINS
JABOTICABAL – SP 2013
CRISTINA LOPES MARTINS
RENOVAÇÃO LEXICAL: OS NEOLOGISMOS NA LÍNGUA PORTUGUESA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação São Luís, como exigência parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Língua Portuguesa, Compreensão e Produção de Textos. Orientadora: Profa. Janaína Lopes
JABOTICABAL – SP 2013
RESUMO
O neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma palavra
ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já existente. É uma
nova palavra criada na língua, e geralmente surge quando o indivíduo quer se expressar,
mas não encontra a palavra ideal. A neologia do português existe porque a língua é viva, ou
seja, é passível de mudanças constantes que podem vir a ser determinantes. Temos como
objetivo, ao explorar tal assunto, demonstrar os processos de formação dos mesmos, assim
como demonstrar que o falante, mesmo não tendo conhecimento muitas vezes do processo
de formação de novas palavras, acaba por inseri-las em seu cotidiano inconscientemente.
Há, pois, uma necessidade em criar e recriar palavras, visto que a língua é viva e apresenta
muitas possibilidades de transformações e inovações. Neste trabalho, então, exploraremos
o conceito e formação do neologismo (processos de formação e empréstimos linguísticos),
bem como dar-se-á um enfoque à presença dos neologismos na imprensa, área científica,
literatura e na área da informática.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
1 NEOLOGISMO: CONCEITO E FORMAÇÃO ....................................................... 5
1.1 Processos de formação do neologismo ......................................................... 5
1.1.1 Neologismos Fonológicos ........................................................................ 6
1.1.2 Neologismos Sintáticos ........................................................................... 7
1.1.3 Neologismos Semânticos ........................................................................ 7
1.2 Empréstimos linguísticos ................................................................................ 7
1.2.1 Os estrangeirismos e sua integração no léxico português ...................... 7
1.2.2 Como se deu, em alguns casos, o aportuguesamento de palavras ........ 8
1.2.3 Os xenismos ............................................................................................ 8
2 O NEOLOGISMO NAS ÁREAS JORNALÍSTICA, CIENTÍFICA, LITERÁRIA E
TECNOLÓGICA .......................................................................................................... 9
2.1 A presença dos neologismos na imprensa ..................................................... 9
2.1.1 Neologismos formados por derivação prefixal ............................................. 9
2.1.2 Neologismos formados por derivação sufixal ............................................. 11
2.1.3 Formação de Palavras por Composição .................................................... 11
2.1.1 Outros processos neológicos ................................................................ 12
2.1.2 Neologismos por empréstimos .............................................................. 12
2.2 O neologismo na área científica ................................................................... 13
2.2.1 Os neologismos na literatura ................................................................. 13
2.2.2 As invenções de Rosa (de acordo com Martins, 2001) ......................... 14
2.3 Os neologismos na área da informática ....................................................... 14
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 17
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18
4
INTRODUÇÃO
O neologismo é um fenômeno linguístico que consiste na criação de uma
palavra ou expressão nova, ou na atribuição de um novo sentido a uma palavra já
existente. É uma nova palavra criada na língua, e geralmente surge quando o
indivíduo quer se expressar, mas não encontra a palavra ideal.
A neologia do português existe porque a língua é viva, ou seja, é passível de
mudanças constantes que podem vir a ser determinantes. Entenda-se por neologia
como a “capacidade natural de renovação do léxico de uma língua pela criação e
incorporação de unidades novas, os neologismos” (Correia, 1998:3), objeto de nosso
estudo.
A justificativa deste trabalho surge de uma necessidade de um estudo mais
aprofundado acerca deste fenômeno linguístico tão presente em nosso idioma
atualmente.
Temos como objetivo, ao explorar tal assunto, demonstrar os processos de
formação dos mesmos, assim como demonstrar que o falante, mesmo não tendo
conhecimento muitas vezes do processo de formação de novas palavras, acaba por
inseri-las em seu cotidiano inconscientemente. Há, pois, uma necessidade em criar
e recriar palavras, visto que a língua é viva e apresenta muitas possibilidades de
transformações e inovações.
No primeiro capítulo, será explorado o conceito e formação do neologismo
(processos de formação e empréstimos linguísticos). No segundo capítulo o enfoque
será a presença dos neologismos na imprensa, área científica, literatura e na área
da informática.
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1 NEOLOGISMO: CONCEITO E FORMAÇÃO
Teóricos e estudiosos do tema, em suas concepções e abordagens,
consideram neologismo aquela unidade lexical que é sentida como nova na
comunidade linguística e veem a literatura como um dos universos de manifestação
discursiva em que a sua presença tem sido frequente.
O usuário de uma língua recorre ao neologismo ou para nomear novos
objetos e conceitos, ou para se comunicar com sucesso. Isso ocorre quando o vasto
acervo de unidades lexicais oferecido pela língua não é suficiente para expressar
aquilo que se pretende comunicar com exatidão. Para tanto, utiliza-se dos seus
conhecimentos linguísticos para formar uma nova palavra que garanta sucesso na
comunicação.
Existem várias formas de classificar os neologismos de acordo com
diferentes estudiosos da área.
1.1 Processos de formação do neologismo
a) Neologismos formados por composição
- composição por aglutinação: as palavras ou radicais que vão entrar na composição
sofreram, previamente, alterações fonéticas. Dá-se o nome de metaplasmo às
mudanças de forma, seja por acréscimo ou por supressão. Assim, para ocorrer a
aglutinação, os elementos formadores são submetidos a metaplasmos de
supressão.
- composição por justaposição: não ocorre alteração fonética, reconhecendo-se os
elementos formadores em sua integralidade: passatempo, malmequer, amor-
perfeito.
b) Neologismos formados por derivação
Quando se cria uma palavra nova, a partir de apenas uma palavra ou radical, por
anexação, supressão ou mesmo pela simples alteração de sua classe. A derivação,
portanto, poderá ser progressiva (afixos são incorporados a uma base), regressiva
(elementos são suprimidos) e imprópria (não se altera a forma, só a classe).
- Derivação prefixal: o afixo é anteposto à base (amoral, prever, desordem, refazer).
- Derivação sufixal: o afixo é posposto à base (capitalista, gostoso, realizar,
docemente).
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- Derivação prefixal e sufixal: há o emprego de prefixo e sufixo, embora não
simultaneamente, pois existe a palavra derivada apenas com o prefixo ou apenas
com o sufixo (infelizmente, deslealdade, desordenadamente).
- Derivação parassintética: o prefixo e o sufixo são empregados simultaneamente,
gerando a palavra nova obrigatoriamente com o emprego dos dois (anoitecer,
entardecer, repatriar, embarcar).
- Derivação regressiva: o produto final é um substantivo abstrato formado pela
supressão de elementos mórficos de determinados verbos (amparo - amparar;
combate - combater; pouso - pousar). Se o substantivo é concreto, o verbo será
formado por sufixação (azeitar - azeite; plantar - planta).
- Derivação imprópria: não ocorrem acréscimos nem supressões, apenas uma
mudança proposital da classe a que a palavra primitiva pertencia. Exemplos: O
anoitecer no sertão é deslumbrante (verbo transformado em substantivo). "O beijo
da mulher aranha" está em cartaz (substantivo transformado em adjetivo). Ninguém
gosta de ouvir um não (advérbio transformado em substantivo).
Agora, veja este exemplo:
O desembarque foi muito alegre.
O desembarcar foi muito alegre.
Radical: barc.
Derivação parassintética: embarcar.
Derivação prefixal: desembarcar.
Derivação regressiva: desembarque.
Derivação imprópria: o desembarcar.
c) Neologismos formados a partir de substantivos
d) Neologismo criado a partir de verbo
e) Neologismos formados por onomatopeias
1.1.1 Neologismos Fonológicos
O neologismo fonológico é aquele em que a palavra surge de uma
combinação inédita de fonemas, não procedente de nenhuma palavra já existente na
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língua, como em “chinfrim”, “zureta” e “poperô”, ou nas onomatopéias (“tique-taque”,
“miau”, etc.).
1.1.2 Neologismos Sintáticos
São resultado da organização de um novo vocábulo. Exemplos:
“A não-informação conduz o homem à caverna”.
“João Paulo II reinventa a Igreja, papalizando com êxito”.
“A operação-desmonte é uma invenção política mentirosa”
1.1.3 Neologismos Semânticos
A palavra já existe, mas ganha uma nova conotação, um novo significado.
Exemplos:
Estou a fim de Fulano. (estou interessado).
Beltrano, não vai dar, deu zebra. (algo não deu certo).
Vou fazer um bico. (trabalho temporário).
1.2 Empréstimos linguísticos
Os empréstimos linguísticos aparecem em várias áreas, contemplando
desde a publicidade (leiaute, do inglês lay-out), passando pelos esportes (futebol, do
inglês football), e chegando à informática (software).
1.2.1 Os estrangeirismos e sua integração no léxico português
Tem-se conhecimento de tal fato desde a fase arcaica da língua portuguesa,
pelo enriquecimento do português com galicismos, provençalismos e grecismos. Há
também registros de latinismos, como cita Alves (1996).
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1.2.2 Como se deu, em alguns casos, o aportuguesamento de palavras
Não se observam formas homogêneas de aportuguesamento de
estrangeirismos à língua portuguesa. O que pode ser observado é que algumas
palavras, como jeans e software, não sofreram alteração fonológica e ortográfica. Já
outras, como turnê (do francês tournée), adaptaram-se apenas fonologicamente.
Veremos a seguir a classificação de uma palavra como jeans.
1.2.3 Os xenismos
Xenismo constitui a palavra que guarda a grafia original, mesmo sendo muito
usada. Não há um por que específico para tal uso. Exemplos: cheeseburger,
marketing, mouse, lan house.
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2 O NEOLOGISMO NAS ÁREAS JORNALÍSTICA, CIENTÍFICA, LITERÁRIA E
TECNOLÓGICA
A presença de neologismos verifica-se, como dissemos anteriormente, em
várias áreas do conhecimento. No entanto, optamos por explorar as áreas onde
mais se observa este uso: as áreas jornalística, científica, literária e tecnológica.
2.1 A presença dos neologismos na imprensa
Dado que o léxico de uma língua não é algo estático ou fechado, tem-se que
é necessário o acréscimo de novas palavras a este, por força de novas
necessidades de nomeação ou como demonstração da criatividade lexical dos
integrantes de uma comunidade linguística.
Sabe-se que pela imprensa, especialmente a escrita, circulam novos termos,
os quais a maioria não fará parte do chamado léxico comum, ou seja, pessoas que
não sejam deste meio.
Muitos neologismos são criados sem fins utilitaristas; apenas atendem à
necessidade expressiva do momento. De fato, a escrita jornalística, sobretudo de
colunistas e articulistas, é marcada pela constante criação neológica, cujos produtos
estão carregados de ironia, sátira e bom humor, que não raro contribuem para a
capacidade expressiva dos textos.
2.1.1 Neologismos formados por derivação prefixal
Um processo bastante recorrente na formação de novas palavras é a criação
das mesmas usando-se a derivação prefixal.
Ao unir-se a uma base, o prefixo exerce a função de acrescentar-lhe
variados sentidos: grandeza exagero, pequenez,repetição e oposição.
Selecionamos alguns exemplos, que achamos de maior relevância:
SEM: apresenta um valor de falta, ausência, agregando-se a base
substantival.
“Itamar Franco é um político sem partido” (DN. 29-08-00).
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SUPER: expressa valor superior, grandeza. Pode agregar-se a base substantiva,
adjetival e até a bases estrangeiras.
“Já aprendi a não ficar irrealista ou superotimista em relação ao Brasil. Já vi altos e
baixos da economia. Já vi decepções e promessas não realizadas”. (DN 21-07-
2000)
NÃO - tem caráter negativo e opositivo. Pode agregar-se a base substantival e
adjetival e participial.
“Organizações não-governamentais querem que se aproveite apoio da sociedade
para proteger área maior do que a almejada pelos ruralistas”. (DN 30-05-2000).
ANTI: Tem caráter opositivo e negativo podendo juntar a várias bases. Em alguns
casos poderá concorrer com o prefixo não.
“... mesmo com a intensificação das campanhas antifumo e do aumento de
processos na justiça contra a indústria tabagista, o setor continua crescendo...”(DN
23-05-2000).
PRÓ: Apresenta valor de favorecimento, agregando-se a substantivos e adjetivos.
“O evento faz parte das comemorações do V Centenário do descobrimento do Brasil
do projeto “Rumo aos 5000 anos”, promovido pela pró-monarquia”. (DN 23-03-2000).
MEGA: denotado de estrema grandeza, pode agregar-se a base substantival.
“... continuem certos de que os dois magaempreendimentos virão mesmo para o
Ceará.”(24-02-2000).
MINI e MICRO: ambos apresentam valor de pequena dimensão. Juntam-se a
substantivos ou a termos estrangeiros.
O microchip terá os dados sobre o cão e o seu proprietário, bem como o registro de
controle de vacinação".DN 21-06-2000).
PRÉ E PÓS: denotam temporalidade anterior e posterior. Agregam-se a
substantivos e até mesmo siglas.
“A fase pós-UTI é conhecida como engorda”. (DN 23-05-2000).
SEMI: denotador de metade, parte mediana. Podendo juntar-se a base adjetival,
substantival e participial.
“A estação ferroviária está semi-destruída”. (DN 9-08-2000)
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2.1.2 Neologismos formados por derivação sufixal
De acordo com Infante (1997, p. 91) “a derivação consiste basicamente na
modificação de determinada palavra primitiva por meio do acréscimo de afixos”. Por
essa razão, o processo de derivação é bastante fecundo, pois a partir de uma base
simples, o falante/escritor pode acrescentar novos afixos, fazendo surgir novas
palavras de estruturas complexas. A composição por derivação acontece por
prefixação, por sufixação e por prefixação e sufixação.
Por meio da derivação sufixal, é atribuída à palavra à qual se junta o afixo
uma ideia acessória. Frequentemente, o sufixo pode alterar a classe gramatical da
palavra. Trata-se de um processo também produtivo no português brasileiro
contemporâneo.
“Sabem o que eu vi na rua? Um puxadeiro puxando uma carregadeira”.
2.1.3 Formação de Palavras por Composição
Segundo INFANTE (1997, p. 118), o processo de composição é
caracterizado pela “aproximação de palavras simples ou de radicais eruditos”. Este
processo pode ocorrer de duas formas: por aglutinação ou por justaposição.
a) composição por aglutinação: se um dos elementos formadores “sofre
alterações na sua configuração sonora, ocorre composição por aglutinação”
(INFANTE, 1997, 118).
Essa balada / baladainha / é para a fada da poesia.
Com a aglutinação do morfema lexical, a palavra resultante passa a
apresentar um aspecto semântico distinto, produzindo um novo significado na
estrutura textual.
b) composição por justaposição: neste caso, os morfemas lexicais não perdem
sua integridade sonora, pois são colocados lado a lado. As relações entre tais
morfemas podem ser classificadas de diversas maneiras. Exemplos:
Valerioduto: neologismo formal formado por composição por justaposição –
Valério (Marcos Valério) + duto.
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Ruralduto: neologismo formal formado por composição por justaposição –
Rural (Banco Rural) + duto.
2.1.1 Outros processos neológicos
Palavras-valise: acontece uma redução ou corte de uma das bases ou em
ambas as bases que compõem o léxico. Esse corte permite o encaixe de uma base
na outra, formando o novo item lexical. É um fenômeno muito fecundo na língua
portuguesa contemporânea.
“Em outros tempos, juízes não apareciam na imprensa dando opiniões sobre
isto e aquilo, e muito menos se deixavam fotografar sorridentes no sambódromo.”
(Época, 11/03/03)
2.1.2 Neologismos por empréstimos
Conceitua-se empréstimo as inovações lexicais recebidas de outros idiomas,
outros sistemas linguísticos.
Isto acontece pela renovação do sistema linguístico, visto que algumas
palavras tornam-se arcaicas, e consequentemente caem em desuso. Assim, outras
incorporam-se à língua. No entanto, o uso dos empréstimos lexicais não é o único
meio que uma língua possui de renovação.
É necessário, também, fazer a diferenciação entre estrangeirismo e
empréstimo.
No primeiro caso, estão incluídos os termos que representam realidades
sem equivalências na língua receptora, como os nomes próprios; o empréstimo, por
sua vez, constitui o elemento já integrado ao sistema linguístico que o adota.
A maior parte dos neologismos recebidos por empréstimo no português
pertence à classe gramatical dos substantivos, mais raramente à dos adjetivos e à
dos verbos. Este fato ocorre não somente em nossa língua, mas é comum em todos
os sistemas linguísticos. Bastante raros são os empréstimos de palavras
gramaticais.
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2.2 O neologismo na área científica
Na área técnica, o neologismo nomeia realidades recém-criadas, evitando
confusões e determinando finalidades.
Nas ciências em geral e na linguagem médica em particular, em decorrência
do progresso científico e tecnológico, há necessidade constante da criação de
neologismos que expressem com exatidão novas descobertas, novos fatos e novos
conceitos.
Há três maneiras de atender a essa necessidade: formar uma palavra nova,
importar um termo de língua estrangeira, ou conferir um novo significado a uma
palavra já existente.
Atualmente, em virtude da hegemonia da língua inglesa como canal de
comunicação no meio científico, os mesmos surgem quase sempre em inglês,
devendo ser morfologicamente adaptados aos demais idiomas.
Citemos como exemplo o termo “gordurômetro”, que designa “os receptores
que medem a quantidade de leptina existente no sangue”. O termo foi criado
possivelmente por analogia aos instrumentos usados para medir, como hidrômetro,
termômetro, assim como foi criado o termo “bafômetro”, o conhecido equipamento
que mede o teor alcoólico no organismo, muito utilizado pela polícia.
2.2.1 Os neologismos na literatura
A neologia de sentido consiste no emprego de um significante já existente na
língua com um conteúdo que ele não possuía. Na literatura, uma criação desse tipo
tende a não se repetir. É o que chamamos de neologia semântica estilística.
Em muitos casos, o neologismo expressa com maior exatidão uma ideia,
que dita de outro modo, poderia não corresponder aos anseios do autor.
Certas construções conseguem comunicar o indizível e possibilitam múltiplas
interpretações, acentuando a autenticidade dos textos.
O autor que mais exemplifica esta teoria é Guimarães Rosa, que num
primeiro momento pode ter suas palavras ditas como sem sentido. Ao contrário,
numa análise mais atenta, este autor, que tinha horror ao lugar-comum, tinha uma
busca incessante pela criação de um texto polimorfo. Nas palavras de Humberto de
Campos, tem-se Guimarães Rosa como um criador da “revolução das palavras”.
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Em alguns casos, Rosa simplesmente acrescentou um prefixo a palavras já
existentes, como em “arreleque” (asas abertas em forma de leque) ou
“circuntristeza” (tristeza circundante). Em outros casos, acrescentou um sufixo. O
resultado foram palavras peculiaríssimas, entre elas “suspirância” (suspiros
repetidos) e “coraçãomente” (cordialmente).
Para Rosa, a sugestão sonora de determinados termos era tão ou mais
importante do que o significado literal.
2.2.2 As invenções de Rosa (de acordo com Martins, 2001)
Expomos aqui apenas alguns termos, dentro do vasto universo dos
neologismos criados por Guimarães Rosa.
a) Taurophtongo: neologismo dos mais eruditos concebidos por Guimarães
Rosa. Significa mugido, voz de touro. O escritor recorreu aos termos gregos
“táuros” (touro) e “phtoggos” (som da fala).
b) Enxadachim: Rosa empregou o termo para designar um trabalhador do
campo, que luta para sobreviver. A palavra é formada por enxada e
espadachim.
2.3 Os neologismos na área da informática
Veremos, a seguir, alguns termos que passaram por adaptação do ponto de
vista fonético/fonológico ao se integrarem à língua portuguesa.
a) Omissão de fonemas
hiperlink, hipermídia e hipertexto - dos originais hyperlink / halpar'lihk /, hypermedia /
halpar'midia / e hypertext I haipar'tekst /. A consoante aspirada inicial h desapareceu
ao adaptar-se ao sistema linguístico português.
b) Substituição de fonemas
• Acomodação ao sistema novo:
chip / tSip / sofreu uma acomodação ao integrar-se ao sistema fonológico
português: o fonema / tS /, grafado ch, evoluiu para / S /; o fonema /1 / >3 / i /.
delete I di 'lit /. O fonema / i / > /e /.
• Substituição com base em fonte oral (neste caso, tenta-se manter os sons do
inglês):
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backup - do original backup / ' bsekip / . Neste termo, observamos que há uma
tentativa de reproduzir em português o som original: / be'kapi /, em que / ae / é
reproduzido como / e /, e / A /, como / a /.
multimedia - do original multimedia / mA l t i ' m i d i a /. Tenta-se manter em
português o som do inglês: / multfmidia /.
update - do original update / Ap'deit /. Tenta-se manter em português o som original:
/ ap'deiti /.
• Manutenção da pronúncia do português, quando a grafia é a mesma:
CPU-do original CPU/si:pi:'yu: /. É pronunciado em português / sepe'u /.
interface - o original interface I 'mtarfeis / é pronunciado em português/ inter'fasi /,
por a grafia ser a mesma. Observamos neste exemplo o prefixo inter-, que, por
existir em português, adota a mesma pronúncia.
c) Introdução de fonema
Observemos os seguintes exemplos, que apresentam a adição do fonema / i /.
backup - pronunciado em português / be'kapi /.
boot - pronunciado / 'buti /
bug - pronunciado / 'bugi /
chip - pronunciado / 'sipi /
Internet - pronunciado / inter'neti /
link - pronunciado / 'linki /.
Também dentro da classe dos metaplasmos temos a prótese, que é a adição de um
fonema no início do vocábulo:
scanner - pronunciado / es'kaner /
d) D e s l o c a m e n t o de acento
backup - o original / 'baekAp / passou a ser pronunciado /be'kapi/.
control - o original / k3n'trou /, ao adaptar-se ao português, passou a ser
pronunciado / 'kontrol /. Ocorre que os falantes da língua portuguesa tentam imitar a
pronúncia geral do inglês. Neste exemplo, ocorrem dois equívocos: ao adaptarem o
termo dessa maneira, não seguiram nem a pronúncia original, em que a palavra é
oxítona, nem a tendência do português, segundo a qual as palavras terminadas em
ol são oxítonas, como em anzol, urinol etc.
interface - o original / 'Intarfeis / é pronunciado em português /inter'fasi/. Aqui
verificamos que o termo originalmente proparoxítono
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Esses termos constituem hibridismos. Os vocábulos híbridos sempre
existiram e continuam tendo uma grande ocorrência no nosso léxico, sobretudo no
vocabulário específico da informática, em que são largamente utilizados tanto na
língua escrita, por meio de jornais e revistas especializados, quanto na língua falada,
utilizada correntemente no ambiente da computação.
Ao formarem termos esdrúxulos, esses "criadores" dão provas de que
desconhecem os recursos de que a língua portuguesa dispõe. Não podemos admitir
que uma palavra inventada apressadamente substitua uma vernácula, quando esta
pode transmitir plenamente o conteúdo significativo daquela. Por exemplo, por que
inputar e não inserir? E getar, e não entrar no sistema?
Esse comportamento linguístico reflete o comodismo, seja dos especialistas,
seja dos técnicos da área, que pretendem não dispor de tempo para pesquisar o
vocabulário adequado, pois não estão preocupados com isso, e porque o seu
interlocutor (colega de trabalho, geralmente) os entende e também adota o mesmo
critério, criando-se assim um hábito linguístico que nós, professores de língua, não
podemos aceitar.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A necessidade que o homem tem de inventar um código ou língua sua o fez
realizar esse sonho no decorrer dos anos. A infinidade de línguas de que se tem
notícia por certo não corresponde à mínima parcela do total real. Com objetivos
variados que vão desde o desejo por uma integração total da humanidade até o
simples brinquedo de crianças (de todas as idades), o homem tem se mostrado
capaz de criar neologismos ilimitadamente. E é graças a esta capacidade dos seres
humanos que as línguas, juntamente com suas civilizações evoluem.
O processo neológico é extremamente democrático, pois não basta alguém
criar uma palavra ou uma expressão para que o seu uso seja incorporado à língua.
Há principalmente a necessidade de que os outros falantes do mesmo grupo
aceitem e utilizem o neologismo, tornando-o "propriedade" do grupo como um todo.
Ninguém é "dono" da língua, mas todos o são.
Em resumo, é mais fácil criar palavras do que analisá-las. Não apenas
porque a etimologia nem sempre é evidente (e as pesquisas etimológicas, por mais
sofisticados que sejam os seus métodos, nem sempre são conclusivas), como
também porque as perspectivas sincrônica e diacrônica, sempre presentes na
língua, por vezes oferecem interpretações diferentes. Isso se deve ao fato de que a
língua é o resultado do equilíbrio instável e fugaz entre conservação e mudança,
entre permanência e ruptura. A língua que falamos hoje é um estado momentâneo e
transitório de um movimento incessante de mudança, chamado evolução.
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REFERÊNCIAS
ALVES, I. M. A integração dos neologismos por empréstimo ao léxico português. Alfa (São Paulo), v.28 (supl.), p. 119-26, 1984. ____________. Neologismo: criação lexical. São Paulo: Ática, 1990. ____________. O conceito de neologia: da descrição lexical à planificação linguística. Alfa (São Paulo), v.40, p.11-6, 1996. ASSIRATI, E. T. Neologismos por empréstimo na informática. Alfa (São Paulo), v.42, n.esp., p.121-145, 1998. MARTINS, N.S. O léxico de Guimarães Rosa. São Paulo: Edusp, 2001.