0
RODOLFO RODRIGUES SALES
RESUMO: A OBRA DO ESPÍRITO SANTO – ABRAHAM
KUYPER – PÁG. 43 – 353
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO
REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
TURMA – 3º ANO MATUTINO
SÃO PAULO – SETEMBRO/2015
1
RODOLFO RODRIGUES SALES
RESUMO: A OBRA DO ESPÍRITO SANTO – ABRAHAM KUYPER –
PÁG. 43 – 353
Trabalho apresentado em cumprimento às
exigências avaliativas da disciplina de
Teologia Sistemática 5 – Pneumatologia.
Prof. Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa.
SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO
REV. JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
TURMA – 3º ANO MATUTINO
SÃO PAULO – SETEMBRO/2015
2
Sumário VOLUME UM – A obra do Espírito Santo na Igreja como um todo ..................................... 5
1. CAPÍTULO UM – Introdução ..................................................................................... 5
1.1. O tratamento cuidadoso requerido .......................................................................... 5
1.2. Dois pontos de vista ................................................................................................. 5
1.3. A obra de Deus, interna e externa ........................................................................... 6
1.4. A obra distinta do Espírito Santo ............................................................................ 6
2. CAPÍTULO DOIS – A criação .................................................................................... 7
2.1. O princípio da vida na criatura ................................................................................ 7
2.2. O exército dos Céus e da Terra ............................................................................... 7
2.3. A criatura humana .................................................................................................... 7
2.4. Dons e talentos ......................................................................................................... 8
3. CAPÍTULO TRÊS – Recriação ................................................................................... 9
3.1. Criação e recriação ................................................................................................... 9
3.2. Orgânica e individual ............................................................................................. 10
3.3. A igreja antes e depois de Cristo ........................................................................... 10
4. CAPÍTULO QUATRO – As Sagradas Escrituras do Antigo Testamento ................ 11
4.1. As Sagradas Escrituras .......................................................................................... 11
4.2. As Escrituras: uma necessidade ............................................................................ 11
4.3. A revelação à qual as Escrituras do Antigo Testamento devem sua existência . 11
4.4. A revelação do Antigo Testamento por escrito .................................................... 12
4.5. Inspiração ................................................................................................................ 12
5. CAPÍTULO CINCO – A encarnação da Palavra ...................................................... 13
5.1. Como um de nós..................................................................................................... 13
5.2. Inocente e sem pecado ........................................................................................... 14
5.3. O Espírito Santo no ministério da encarnação ..................................................... 14
6. CAPÍTULO SEIS – O Mediador ............................................................................... 15
6.1. O Espírito Santo no Mediador ............................................................................... 15
6.2. Não como um de nós ............................................................................................. 15
6.3. O Espírito Santo na paixão de Cristo .................................................................... 16
6.4. O Espírito Santo no Cristo glorificado ................................................................. 16
3
7. CAPÍTULO SETE – O derramamento do Espírito Santo ......................................... 17
7.1. O derramamento do Espírito Santo ....................................................................... 17
7.2. O Espírito Santo no Novo Testamento: diferente daquele do Antigo Testamento..... ................................................................................................................... .18
7.3. Israel e as nações .................................................................................................... 18
7.4. Os sinais do Pentecostes ........................................................................................ 19
7.5. O milagre das línguas ............................................................................................ 19
8. CAPÍTULO OITO – O apostolado ............................................................................ 19
8.1. O apostolado ........................................................................................................... 19
8.2. As Escrituras apostólicas ....................................................................................... 20
8.3. A inspiração apostólica .......................................................................................... 21
8.4. Apóstolos hoje? ...................................................................................................... 21
9. CAPÍTULO NOVE – As Sagradas Escrituras do Novo Testamento ........................ 22
9.1. As Sagradas Escrituras do Novo Testamento ...................................................... 22
9.2. A necessidade das Escrituras do Novo Testamento ............................................. 22
9.3. O caráter das Escrituras do Novo Testamento ..................................................... 23
10. CAPÍTULO DEZ – A Igreja de Cristo .................................................................. 23
10.1. A Igreja de Cristo ................................................................................................... 23
10.2. Dons espirituais ...................................................................................................... 24
10.3. O ministério da Palavra ......................................................................................... 24
10.4. O governo da Igreja ............................................................................................... 25
VOLUME DOIS – A obra do Espírito Santo no indivíduo .................................................. 26
1. CAPÍTULO UM – Introdução ................................................................................... 26
1.1. O homem a ser trabalhado ..................................................................................... 26
1.2. A obra da graça: uma unidade ............................................................................... 27
1.3. Análise necessária .................................................................................................. 27
1.4. Imagem e semelhança ............................................................................................ 28
1.5. Justiça original ........................................................................................................ 28
1.6. Roma, Socínio, Armínio e Calvino ....................................................................... 29
1.7. Os Neo-Kohlbrugianos .......................................................................................... 30
1.8. Segundo as Escrituras ............................................................................................ 31
1.9. A imagem de Deus no homem .............................................................................. 31
4
1.10. Adão: não inocente, mas santo .............................................................................. 32
2. CAPÍTULO DOIS – O pecador a ser trabalhado ...................................................... 32
2.1. O pecado não é material ........................................................................................ 32
2.2. O pecado não é uma mera negação ....................................................................... 33
2.3. O pecado não é um poder em ação contrária ........................................................ 33
2.4. Nossa culpa ............................................................................................................. 34
2.5. Nossa injustiça ........................................................................................................ 35
2.6. Nossa morte ............................................................................................................ 35
3. CAPÍTULO TRÊS – Graça preparatória ................................................................... 36
3.1. O que é isso? ........................................................................................................... 36
3.2. O que a graça preparatória não é ........................................................................... 36
4. CAPÍTULO QUATRO – Regeneração ..................................................................... 37
4.1. A terminologia antiga e a nova ............................................................................. 37
4.2. O curso da graça preparatória ................................................................................ 37
4.3. Regeneração: obra de Deus ................................................................................... 38
4.4. A obra de regeneração ........................................................................................... 39
4.5. Regeneração e fé .................................................................................................... 39
4.6. Enxerto em Cristo .................................................................................................. 39
4.7. Não uma natureza divino-humana ........................................................................ 40
4.8. A União Mística com o Emanuel .......................................................................... 40
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 41
5
VOLUME UM – A obra do Espírito Santo na Igreja como um todo
1. CAPÍTULO UM – Introdução
1.1. O tratamento cuidadoso requerido
Quando se propõe a discutir e estudar a obra do Espírito Santo, uma necessidade
é imperativa ao indivíduo, a necessidade da orientação divina. Esta necessidade se dá em
função de ser um assunto que envolve o mais profundo da pessoa e obra de Deus. Não
obstante, essa dificuldade e cuidado se dá em grande parte por termos apenas alguns lampejos
revelados quanto a obra do Espírito Santo, sendo que a grande parte desse conhecimento
ainda encontra-se oculta.
Um cuidado a ser tomado quanto ao assunto é o de não utilizarmos as
experiências humanas como a chave para o ensino da obra do Espírito Santo, pois a torna-se
praticamente impossível separar as experiências verdadeiras das falsas, também porque o
testemunho dos fieis apresenta somente alguns contornos do que é a obra do Espírito Santo
e não a sua totalidade. Uma terceira razão é porque o testemunho dos heróis cristãos também
não é uniforme quanto ao Espírito Santo, onde alguns a demonstram de forma clara, outros
já de forma confusa ou sem muita explicação. Por fim, no testemunho da perseguição sofrida
pela igreja podemos as vezes contemplar vislumbres bem delineados desta obra do Espírito
Santo.
Embora as Escrituras sejam o local onde de fato devemos buscar o entendimento
da obra do Espírito Santo, esta tem pouco a nos oferecer, pois o grande foco das Escrituras é
difundir a obra do Messias, ou seja, de Jesus Cristo. Em razão deste fato, a Igreja não tem
estudado a obra do Espírito Santo quanto deveria, por isso muitas dúvidas, incertezas e
inverdades ainda pairam sobre a Terceira Pessoa da Trindade.
1.2. Dois pontos de vista
Quando fala-se na obra do Espírito Santo, muitas vezes há um reducionismo
quanto a sua expansão, ou seja, reduz-se Sua obra simplesmente à restauração da imagem de
Deus no homem, contudo, isto é uma inverdade, pois Sua obra vai muito mais além.
Devemos entender que a obra do Espírito Santo além da santificação do eleitos,
envolve a criação, o desenrolar da história ao longo das eras, a vinda de Cristo e a vida no
por vir, ou seja, Sua obra está presente em todo plano da salvação juntamente com as demais
6
pessoas da Trindade.
Quando reduzimos a obra do Espírito Santo à santificação do homem, estamos
afirmando tanto que se o homem não tivesse pecado o Espírito não teria nenhuma tarefa e no
caso da queda do homem, a obra do Espírito Santo tem prazo para se encerrar. Entretanto,
quando entendemos que a obra do Espírito Santo é de eternidade a eternidade, veremos que
ela é contínua e perpétua.
1.3. A obra de Deus, interna e externa
Ao longo dos tempos, a maioria dos teólogos ao referirem-se às obras que Deus
executa, optaram por distingui-las em dois grupos: as obras interiores e exteriores. Este tipo
de distinção é muito mais comum do que pensamos, pois podemos vê-la tanto em meio aos
animais, bem como entre os homens, onde em cada tipo de atitude, seja os animais, seja os
homens, agem de modos diferentes.
Entretanto, podemos perceber através dos exemplos citados, que tanto as obras
dos animais, como as dos homens são limitadas. Contudo, quando nos referimos às obras de
Deus, podemos perceber que estas vão muito mais além. Como já dito anteriormente, as obras
exteriores de Deus estão relacionadas à criação e a sustentação de todas as coisas até a
consumação e após ela. Já as obras interiores não nos foram reveladas, encontram-se ocultas
n’Ele, mas que são com toda a certeza maiores e mais completas, sendo que a primeira
depende essencialmente das obras interiores. Enquanto que as obras exteriores podemos
atribuí-las a cada uma das pessoas da Trindade, as interiores não, pois não há possibilidade
de distinção de atividades no que tange à criação, redenção e santificação, a três pessoas estão
unanimemente envolvidas em cada uma delas.
1.4. A obra distinta do Espírito Santo
No tópico anterior acabamos por distinguir entre as obras interiores e exteriores
de Deus, bem como dizer que as exteriores nós podemos em grande parte atribuir a cada uma
das pessoas da Trindade e que as interiores são inseparáveis, as três pessoas estão envolvidas
nelas. Mas uma pergunta então uma pergunta salta diante de nossos olhos: Qual é a obra que
o Espírito Santo realiza de forma distinta as obras do Pai e do Filho?
Desta forma, podemos dizer que o Espírito Santo, dentro da economia da
7
Trindade é o responsável por fazer com que os planos dela alcancem seu destino final,
cumpram seus objetivos, ou seja, a obra do Espírito Santo é guiar a criatura ao seu destino,
faze-la desenvolver-se de acordo com a sua natureza e faze-la perfeita.
2. CAPÍTULO DOIS – A criação
2.1. O princípio da vida na criatura
Nós tópicos anteriores vimos que a obra do Espírito Santo tem como objetivo
último, conduzir toda a criação ao propósito pelo qual foram criados, ou seja, glorificar a
Deus. Mas a pergunta é: Como a criação ao cumprirá este objetivo? A resposta é simples, é
o Espírito Santo que conduz a criação e de modo mais específico, o homem, ao cumprimento
deste objetivo. Isso porque, o homem por si mesmo, nunca se disporá ou buscará glorificar a
Deus, pelo contrário, o homem por si mesmo busca e buscará sempre a glória para si mesmo.
Entretanto, através da presença do Espírito Santo na vida do homem, uma nova disposição
brota em seu coração, levando-o deste modo a buscar a gloria de Deus em tudo que ele faz.
Assim, a fim de que este propósito seja cumprido, o Espírito Santo conduz e
influência o homem e toda a criação, ou seja, redimi-los dos efeitos do pecado a fim de que
possam cumprir o propósito pelo qual foram criados, isso de forma invisível e imperceptível,
escolhendo o mundo espiritual como o lugar de seu agir na vida das criaturas.
2.2. O exército dos Céus e da Terra
Depois de compreendermos de modo geral o que é a obra do Espírito Santo, é
necessário entende-la de modo mais específico, ou seja, compreendermos o que foi esta obra
no passado, o que ela é nos tempos atuais e o que ela será no futuro.
Ao contemplarmos as Escrituras, podemos perceber através dos relatos da
criação, que o Espírito Santo não só esteve envolvido neste evento e estava intimamente
ligado com o Pai e o Filho, mas que houve atribuições que eram de sua exclusiva
responsabilidade, ou seja, a obra criadora foi distribuída a cada uma das pessoas da Trindade,
cabendo ao Espírito Santo direcionar tudo o que havia sido planejado na eternidade a fim de
que seu propósito fosse alcançado.
2.3. A criatura humana
8
O propósito pelo qual o homem foi criado é para ter um contato vital com Deus
o seu criador. Ademais, este contato só possível mediante a obra do Espírito Santo, pois o
homem em si mesmo não possui nada que o habilite ou o capacite a ter este contato sem o
mover e a habitação do Espírito Santo em seus corações. Esta informação não minimiza ou
subtrai aquilo que o Filho encarnado realizou, pelo contrário, apenas demonstra que dentro
da economia da Trindade cada qual possui suas atribuições.
Este contato vital entre Deus e o homem, entre criatura e criador, efetivado pelo
Espírito Santo, no mundo espiritual se dá através da efetivação da centelha da vida. Desta
forma, necessitamos compreender que através de Adão e do fôlego da vida que foi soprado
em suas narinas não somente ele, mas toda a raça humana foi trazida à existência. Assim,
devemos a nossa existência e aquilo que somos individualmente à pessoa Deus, pois se Ele
não houvesse se disposto a tal obra, nem Adão, nem nós teríamos vindo a existência.
Não obstante, através do relato da criação, podemos primeiramente perceber que
na criação do homem a Trindade não só estava envolvida no ato, mas que cada uma delas
tinha uma atividade distinta da outra. Outra verdade é que o homem não foi criado desprovido
de tudo que era necessário para sua existência e que só depois de ter o folego da vida soprado
em suas narinas é que foi provido com poderes e faculdades espirituais, pelo contrário, ele
desde o início já foi criado a semelhança de Deus. Desta feita, o Espírito não é o responsável
pela formação da personalidade do homem, pois nossa personalidade é a realização dos
planos de Deus em nós, mas o que é responsabilidade do Espírito é o acender a fagulha da
vida no homem criado.
2.4. Dons e talentos
Depois de observarmos a obra do Espírito Santo na criação de forma geral e
posteriormente o seu papel na criação do homem de modo mais específico, é imperativo
observá-la também sob o prisma da concessão de dons, talentos e habilidades. Daí podemos
já adiantar que a capacidade e disposição para a realização de trabalhos designados por Deus
advém do Espírito Santo.
Nas Escrituras podemos ver esta verdade muito bem delineada na construção do
Tabernáculo. O Senhor ao ordenar sua construção, disse que este deveria ser construído por
trabalhadores habilidosos, indivíduos capacitados nas mais diversas áreas a fim de que o
9
propósito de Deus fosse cumprido em sua íntegra. A pergunta é: onde se encontraria tais
trabalhadores? As Escrituras nos mostram que estes homens habilidosos foram
providenciados pelo Espírito Santo.
A partir disto pode-se concluir em um primeiro momento que a obra do Espírito
Santo reduz-se somente a habilidades e trabalhos ordinários. Ledo engano, o agir do Espírito
Santo encontra-se nas mais altas esferas do conhecimento e atividade mental dos indivíduos.
As Escrituras também atribuem ao Espírito Santo o fornecer ao homem as habilidades a
homens que irão desenvolver funções oficiais e isto podemos ver muito claro nos exemplos
de Saul e Davi. Além das áreas mecânicas e oficiais, podemos também ver a obra do Espírito
Santo no fornecimento de habilidades nas áreas artísticas. Assim, podemos então perceber
que a arte não é criação ou resultado dos empenhos humanos, mas obra do Espírito Santo que
os capacita a realiza-las.
3. CAPÍTULO TRÊS – Recriação
3.1. Criação e recriação
Existe uma falsa crença entre alguns cristãos que Deus só se relaciona ou tem
contato com suas criaturas quando estas são regeneradas, afirmando assim que anterior a este
evento Deus não opera de modo algum na vida dos homens. Entretanto, basta olhar para as
Escrituras e veremos que isto é uma inverdade, pois embora Deus não se relacione
salvificamente com o homem antes de sua regeneração, este não deixa de sustentar e manter
a vida não só dos homens como de toda a criação em geral, bem como habilite o homem com
dons, talentos e habilidades.
Não obstante, este ato de sustentar, manter e habilitar os homens e os demais
elementos da criação é obra do Espírito Santo, ou seja, é a terceira pessoa dentro da economia
da Trindade que realiza tudo isso em cada indivíduo, demonstrando a cada um de nós que
sua obra vai muito mais além e inicia-se muito antes da regeneração e santificação.
É importante entendermos esta dinâmica dentro da economia da Trindade para
que não creiamos na inverdade de que cada um agia em momentos distintos e que enquanto
um agia as demais pessoas permaneciam inertes dentro da economia.
Deste modo, devemos entender primeiramente que a ação do Espírito Santo não
está restrita aos eleitos e nem somente a partir da regeneração, mas age em toda a criação
10
indistintamente já desde o momento de sua concepção. Em segundo lugar, que esta ação do
Espírito Santo consiste em trazer a criação à origem, bem como sustenta-la e conceder a ela
dons, talentos e habilidade, além de também operar nela no sentido redentivo, concedendo-
lhes a salvação em Jesus Cristo.
3.2. Orgânica e individual
Como já dito anteriormente, o Espírito Santo não age somente no novo e a partir do
novo nascimento na vida do indivíduo, pelo contrário, desde a sua origem o Espírito Santo
está a agir e lhe proporcionar aquilo que lhe é necessário para sua caminhada. Entretanto, é
necessário destacar a obra do Espírito Santo no que tange à esfera da graça, ou seja, na
recriação, restaurando o homem da sua velha e degradada natureza.
Não obstante, o Espírito Santo ao operar esta recriação no homem está em um
primeiro momento retirando a corrupção, curando suas feridas, extirpando a morte que estava
sobre o indivíduo em razão do pecado e aplicando a expiação de Cristo. Em um segundo
momento transformando completamente e estabelecendo uma nova ordem à vida dos eleitos,
trazendo-lhes a certeza de que nada poderá tirar-lhes novamente esta nova vida em Cristo
Jesus. Esta recriação que o Espírito Santo opera nos eleitos de Deus traz o que eterno,
completado e aperfeiçoado, eventos estes muito mais importantes que o curso normal de
nossas vidas ou as circunstâncias com que nos deparamos ao longo de nossa existência, tanto
na antiga como na nova Dispensação.
3.3. A igreja antes e depois de Cristo
Assim como já dito anteriormente, tanto na antiga como na nova Dispensação
podemos ver a obra recriadora do Espírito Santo operando na vida dos Eleitos de Deus.
Entretanto, é necessário deixar mais claro como era essa ação em preparar a igreja para a
redenção e posteriormente a ação de regenerar e santificar os eleitos.
Neste diapasão, no que tange à ação do Espírito Santo na Antiga Dispensação,
este estava incumbido de preparar a redenção para toda a igreja, bem como a santificação e
consolação dos eleitos do Antigo Testamento, além de ter deixado as profecias, que através
de seu cumprimento, ajudou a Igreja a crer em Deus e enxerga-lo como seu Salvador e lhe
magnificasse por seus poderoso feitos.
11
4. CAPÍTULO QUATRO – As Sagradas Escrituras do Antigo Testamento
4.1. As Sagradas Escrituras
Se fôssemos graduar a importância de cada uma das obras operadas pelo Espírito
Santo, as Escrituras Sagradas com toda a certeza estariam no topo do ranking, isso porque,
através de suas páginas encontramos a direção para a vida do povo de Deus e não meros
símbolos, letras ou folhas de papel.
Através das Escrituras Sagradas, nossas mentes podem conhecer e identificar o
pensamento de Deus, bem como reconhecer o quanto somos dependentes deste pensamento.
Através de suas páginas, de suas orações e frases, somos conduzidos a glorificar a Deus, ao
amor ao próximo e à salvação de nosso ser. Nas Escrituras encontramos perfeita harmonia
entre teoria e prática, palavras e realidades, coisas que não vemos em nenhum outro livro.
É também através das Escrituras Sagradas que o perdido é regenerado. As
Escrituras Sagradas foram preparadas pelo Espírito Santo e concedida à igreja a fim de que
o homem ao ouvir seus ensinamentos tenha sua vida transformada, ou seja, nasça novamente
e posteriormente seja preparado para a nova vida que lhe é apresentado.
4.2. As Escrituras: uma necessidade
As Escrituras foram dadas à igreja a fim de que ela seja o único, verdadeiro e
eficaz instrumento por meio do qual Deus prepara seus eleitos para o por vir, para a realidade
que está reservada a seu povo após o retorno de Cristo. Pois, após seu retorno, não haverá
mais a necessidade das Escrituras, mas enquanto aqui aguardamos o grande, ela é o
instrumento perfeito para trabalhar nossas vidas ainda imperfeitas.
Deste modo, aprouve ao Espírito Santo trazer ao homem pecador, através de uma
linguagem que fosse clara a todos os indivíduos de todos os povos e tempos, as verdade e
vontades divinas, a fim de que pudesse ser utilizada como a ferramenta de transformação,
redenção e regeneração dos perdidos.
4.3. A revelação à qual as Escrituras do Antigo Testamento devem sua existência
Para que se consiga compreender claramente a real dimensão da obra do Espírito
Santo nas Sagradas, é necessário que se faça uma distinção entre preparação e a formação.
Quanto à preparação, devemos entender que o Espírito Santo preparou a Escritura
12
que, do Paraíso a Patmos, sobrenaturalmente apreenderam a vida pecaminosa desse mundo,
e, dessa maneira, levantou homens crentes que formaram a igreja em desenvolvimento. Para
que este propósito pudesse ser alcançado, o próprio Espírito Santo elegeu pessoas, famílias
e posteriormente uma nação onde ele agiria em seu meio; e em cada fase deste agir, o Espírito
Santo iniciava Sua obra com a Palavra.
4.4. A revelação do Antigo Testamento por escrito
Muitos milagres e prodígios foram realizados no meio do povo de Israel, tanto
que muitas outras nações acabaram por maravilhar-se daquilo que ocorria em meio à nação
de Deus. Entretanto, estes milagres não podem ser considerados a Escritura, isso porque esta
só surge através do ato de Deus falar ao homem e não através de atos miraculosos.
Devemos ainda entender, que este falar divino ao homem não pode se restringir
às profecias, pois Deus falou com diversos personagens ao longo da história e que não
exerciam o ofício de profetas, e nem por isso deixou-se de ser considerada como Escritura.
Ademais, embora em raras exceções, não devemos considerar a fala divina como metáforas,
pelo contrário, devemos leva-las à sua pela literalidade.
Deste modo, carecemos entender primeiramente que esta fala literal divina não
era restrita a alguns indivíduos, mas ao ter uma mensagem geral para seus eleitos, a transmitiu
através dos profetas. Em segundo lugar, não podemos compartimentalizar essas revelações
divinas, ao contrário disto, devemos enxerga-la como um todo, ou seja, uma unidade. Por
fim, compreender que este ato do Senhor falar aos homens é obra peculiar e particular do
Espírito Santo.
4.5. Inspiração
Um dos grandes fatores que tem contribuído para enfraquecer a fé e a convicção
dos indivíduos nas Escrituras Sagras é o fato de não se levar em conta a unidade entre Antigo
e Novo Testamento, pois em sua grande maioria, acaba-se por trata-los como livros distintos,
ou separados um do outro.
Uma pergunta surge-nos então: Como a obra do Espírito Santo deve ser
identificada na construção daquela Escritura?
Para que tivéssemos as Escrituras em nossas mãos, o Senhor providenciou que
13
os homens fossem dotados com a capacidade de escrita, pois como somos homens falhos e
pecadores, se mantivéssemos as maravilhas e os conselhos de Deus na memória, esses com
toda a certeza se perderiam. Desta forma, o Espírito Santo utilizou-se desta capacidade para
perpetuar os pensamentos de Deus através das Escrituras.
Ademais, as Escrituras não são a reunião daquilo que o homem decidiu ou não
registrar a respeito da fala e dos atos de Deus, mas as Escrituras são o compendio daquilo
que o Senhor resolveu registrar e gravar.
Este ato do Espírito Santo coordenar aquilo que deveria ser escrito é dado o nome
de inspiração, ou seja, a inspiração é o meio através do qual Ele concedeu a igreja uma
Escritura sem falhas e completa e por isso tornou-se sua regra de fé e de prática.
5. CAPÍTULO CINCO – A encarnação da Palavra
5.1. Como um de nós
Se por um lado, alguns creem que o Espírito Santo não agia no Antigo
Testamento, outros creem que a Sua atividade encerrou-se com a sua finalização. As
Sagradas Escrituras podem ser o veículo através do qual os olhos do pecador se abrem ante
as maravilhas divinas, contudo, não pode trazer-lhe da morte para a vida espiritual. Em razão
deste fato, o Espírito Santo continua a agir a fim de que o homem alcance a vida, ou seja, Ele
continua a operar na preparação do corpo de Cristo, conforme Hb 10.5 mesmo ressalta.
Através deste relato das Escrituras e de outros como Lc 1.35 e Mt 1.20, não
podemos negar que o Espírito Santo exerceu obra singular na concepção e nascimento do
Messias no ventre de Maria. Demonstrando assim que o Cristo não veio a este mundo por
vontade dos homens, mas por obra do Espírito Santo.
Neste diapasão, devemos entender primeiramente que, através desta obra do
Espírito Santo nenhum ser humano, ou obra criada pode reclamar para si a paternidade de
Jesus Cristo, mesmo os povos de sua época tendo o reconhecido apenas como filho de Maria
e de José. Ademais, devemos entender que no caso de Cristo, não foi gerado uma nova vida,
mas aquele que é Eterno entrou em relação direta com a natureza humana. Além disto,
devemos compreender que o houve foi a concepção de uma natureza humana e não uma
pessoa humana. Ainda é necessário dizer que Jesus foi gerado e nutrido pelo sangue de Maria,
como os demais que foram posteriormente gerados em seu ventre. Por fim, Cristo nasceu
14
literalmente em carne e sangue, bem como suscetível a todas emoções, sentimentos e
vontades que os demais seres humanos.
5.2. Inocente e sem pecado
A igreja ao longo dos tempos tem defendido a ideia de que a natureza humana de
Cristo não é como a Adão antes da queda, pelo contrário, afirmam que Sua natureza humana
era como a dos demais seres humanos após a queda. Entretanto, devemos nos lembrar que
embora Cristo partilhe do mesmo sangue e mesma carne que todos os demais seres humanos,
em algo ele não se parece conosco, bem como não a herdou, que é o nosso pecado e nossa
culpa, ou seja, Cristo de forma absoluta não possuía pecado, nem mesmo penetrado pelas
tentações a que os homens estão suscetíveis. Através desta verdade, fica evidente quão
próximo e quão distante Cristo está de cada um de nós, pois embora ele esteja suscetível às
mesmas emoções, sentimentos e vontades, Ele se distancia dos homens no fato dele não
possuir nem mesmo ter prática pecaminosas.
A culpa imputada a todos os homens em decorrência do pecado de Adão no
Édem, não imputada a Cristo, pois se assim o fosse, Ele não poderia exercer o ministério da
reconciliação, Ele não poderia realizar o ministério substitutivo na cruz, muito menos ser o
Mediador dos eleitos de Deus. Ao contrário disto, Cristo tomou sobre Si, de forma voluntária,
os pecados dos eleitos, agindo como Sumo Sacerdote e Mediador.
5.3. O Espírito Santo no ministério da encarnação
Diante dos fatos até aqui apresentados, uma pergunta de suma importância surge
diante de nós: Como foi a ação do Espírito Santo que capacitou o Filho de Deus a assumir a
natureza caída do homem, mas não se contaminar com o pecado presente nesta natureza?
O fato de Cristo ter sido concebido totalmente sem pecado, está intimamente
relacionado com o ser do pecado e o operar do Espírito Santo nos eleitos. Primeiramente é
necessário entender que o pecado não é um vírus ou bactéria que corre no sangue dos pais e
é transmitido aos filhos. O pecado é muito menos algo material que podemos visualizar ou
tocá-lo com nossas mãos, pelo contrário é moral e espiritual. Por fim, o pecado é a perda da
retidão original à qual Adão e Eva foram criados e por sermos descendentes destes, herdamos
a perda da retidão em nossas vidas.
15
Cristo diferentemente de nós, não herdou o pecado, isso porque primeiramente
ele não foi gerado a partir da vontade de José e Maria, mas por obra e ação do Espírito Santo.
Em razão deste fato, Cristo não poderia afastar-se da vontade santa e soberana de Deus. Outra
razão repousa no fato de Cristo não ter sido gerado como uma nova pessoa, mas foi-lhe
concedido apenas uma natureza humana, pois Ele é eterno. Por fim, o Ego divino-humano de
Cristo foi separado da corrupção, diferentemente daquilo que ocorre conosco, pois os homens
através do nascimento possuem esse ego corrompido por causa do pecado.
O Espírito Santo então agiu no Mediador fortalecendo sua natureza a fim de que
Ele se mantivesse firme no propósito de salvar os eleitos de Deus.
6. CAPÍTULO SEIS – O Mediador
6.1. O Espírito Santo no Mediador
Devemos nos lembrar que a obra do Espírito Santo no Messias não encerra-se
em sua concepção, mas continua em todo vigor ao longo do ministério e obra de Cristo.
O Espírito Santo além de operar na encarnação de Cristo, agiu ativamente no
desenvolvimento da natureza humana de Cristo, pois não podemos negar que Cristo existiu
da mesma forma que os demais homens e que Ele se desenvolveu assim como eles. O Espírito
Santo foi responsável por não permitir que a natureza divina se sobressaísse à natureza
humana, dotando-o com dons, poderes e faculdades conforme Cristo ia desenvolvendo-se em
estatura e sabedoria.
Além disto, o Espírito Santo foi o responsável por fazer com que Cristo exercesse
todas as faculdades que lhe foi concedido, ao passo que Ele se desenvolvia ao longo dos anos,
sendo assistido em todas as suas necessidades pelo Espírito Santo.
6.2. Não como um de nós
Não podemos negar totalmente que Cristo recebeu alguma influência da Sua
natureza divina. Isso porque Cristo é dotado de duas naturezas, uma humana e outra divina.
A humana tem inicia foi adotada por Ele em um determinado tempo, enquanto que a divina
sempre existiu, ou seja, não possui um início e por isso coube a esta natureza sustentar a
natureza humana de Cristo.
É também notória a obra do Espírito Santo no momento em que Cristo foi
16
consagrado em seu ministério. Este evento dá-se no momento de Seu batismo no rio Jordão,
quando o Espírito Santo desceu sobre ele em forma de pomba identificando ali que Cristo
estava pronto para o ministério, dando-lhe o suporte necessário para que Ele pudesse cumprir
a Sua obra e ministério.
6.3. O Espírito Santo na paixão de Cristo
Depois de entendermos a obra do Espírito Santo na concepção, encarnação e
ministério de Jesus Cristo, é de suma importância termos uma correta interpretação da obra
do Espírito Santo no sofrimento, na morte, na ressurreição e na exaltação de Cristo.
Então muitos perguntam: se o Mediador, Cristo, é Deus, porque a necessidade da
ação do Espírito Santo? A primeira resposta a esta indagação está no fato do Espírito Santo
ser fundamental na manutenção e preservação da santidade na natureza humana. Em segundo
lugar, é o Espírito Santo quem aplica os atos redentivos conquistado por Cristo Jesus no
madeiro.
Jesus Cristo em sua paixão demonstrou obediência ativa e passiva ao entregar-se
voluntariamente para o sacrifício, demonstrando tanto um zelo e obediência à vontade
soberana de Deus, como também pena e compaixão dos eleitos que estavam perdidos em
seus delitos e pecados. Entretanto, devemos nos lembrar que sua natureza humana só pode
suportar toda esta responsabilidade mediante o agir íntimo do Espírito Santo, lógico,
mediante anuência do Filho.
6.4. O Espírito Santo no Cristo glorificado
Ao analisarmos a obra do Espírito Santo nas diversas fases da vida, obra e morte
de Cristo, é necessário compreendermos se o Espírito Santo continua a atuar agora no estado
de exaltação de Jesus Cristo.
Dentro das diversas fases da glorificação de Cristo encontra-se primeiramente
sua ressurreição. As Sagradas Escrituras são enfáticas em afirmar que esta ressurreição
encontra-se intimamente ligada à obra do Espírito Santo, conforme Rm 8.11 nos diz que: “Se
habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo que
ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal, por meio
do seu Espírito, que em vós habita”, levando-nos a entender que foi o Deus Triúno quem
17
operou o levantar de Cristo de entre os mortos, bem como que o Espírito Santo agiu de modo
peculiar neste evento e por fim que, o Espírito agiu internamente na pessoa de Cristo,
garantindo assim que da mesma forma o Espírito agirá nos eleitos de Deus.
Embora não seja fácil delimitar a ação do Espírito Santo na glorificação, podemos
abstrair das Escrituras que Cristo ao manter-se homem, agora glorificado no céu, também
continua cheio do Espírito Santo, garantindo também aos eleitos as benesses do reino
celestial.
7. CAPÍTULO SETE – O derramamento do Espírito Santo
7.1. O derramamento do Espírito Santo
Depois de analisarmos um pouco do que foi a obra do Espírito Santo na
glorificação de Cristo, surge-nos um ponto ainda mais difícil de compreensão, que é o
derramamento do Espírito Santo em Atos 2 no dia de Pentecostes.
Assim posto, quatro dúvidas surge-nos diante do assunto: Como explicar o
derramamento do Espírito Santo somente em Pentecostes, se os eleitos do Antigo Testamento
já participavam de Seus dons? Como distinguir o derramamento do Espírito Santo no dia do
Pentecostes com o seu habitar nos eleitos dos dias de hoje? Como pode os apóstolos que já
haviam recebido o sopro do Espírito Santo por parte de Cristo, o receberem novamente no
Pentecostes? Por fim, como explicar os sinais milagrosos que ocorreram neste evento?
Assim como já dito anteriormente, não podemos limitar o agir do Espírito Santo
a somente uma das duas dispensações, mas mesmo Ele tendo sido derramado somente no dia
do Pentecostes, o Espírito Santo já atuava nos eleitos de Deus ao longo da história, mesmo
que de forma ainda limitada.
Cristo Jesus sempre deixou muito claro a verdade de que após o derramamento
do Espírito Santo no Pentecostes, esse passaria a habitar na vida dos eleitos que viriam após
este evento.
Foi necessário a participação dos apóstolos no Dia de Pentecostes, ou seja, no dia
em que o Espírito Santo foi derramado para que as profecias do Antigo Testamento fossem
cumpridas, bem como para que os apóstolos fossem habilitados para dar continuidade ao
ministério de Cristo aqui na terra.
18
7.2. O Espírito Santo no Novo Testamento: diferente daquele do Antigo Testamento
A fim de que compreendamos as mudanças operadas pelo Espírito Santo a partir
do Dia de Pentecostes, é necessário entendermos as diversas formas como ele interage com
os eleitos de Deus. Primeiramente devemos nos lembrar que assim como as demais pessoas
da Trindade, o Espírito Santo é onipresente, desta forma, nada pode fugir ou não ser alvo da
sua presença, onde desta afirmação podemos concluir que o Espírito nunca esteve somente
entre determinado povo ou época, mas que esteve sempre presente em todos os lugares e em
todos os tempos, elucidando-nos então que mesmo não tendo sido derramado na Antiga
Dispensação, ele agia no meio deste povo, mas não de forma tão plena como a partir do seu
derramamento no Pentecostes.
Como já dito, o Espírito Santo na Antiga Dispensação não agia de forma tão
plena como após o Pentecostes e em razão disso há uma diferença entre a união espiritual
dos eleitos daquele tempo e os da Nova Dispensação. No Antigo Testamento não havia uma
união espiritual entre o povo de Israel, apenas laços de amor e fraternidade. Esta união só foi
possível após a encarnação do Messias, sendo nos garantido após a sua ascensão, fazendo-
nos agora ser um só corpo.
7.3. Israel e as nações
Uma dúvida ainda paira quanto ao assunto do Pentecostes: se a graça salvadora
sempre foi operada na vida dos eleitos em ambas as dispensações, quais são os resultados
causados pela descida do Espírito Santo no Pentecostes?
Antes do Pentecostes, a graça salvadora era derramada a cada eleito de maneira
individual. Após a vinda de Cristo, essa graça salvadora é derramada a todos os eleitos,
unindo-os agora em um só corpo, conectando-os pelos canais da fé. Na Antiga Dispensação,
era cada um por si, agora são todos membros de um único corpo, tendo Cristo como o seu
cabeça, havendo a partir de então uma união mística entre Cristo e seus eleitos.
Devemos também nos lembrar, e as Escrituras nos atestam isto no livro de Atos,
que o derramamento do Espírito não ocorreu somente no dia de Pentecostes, mas em outras
ocasiões temos relato de novos derramamentos, entretanto, não da mesma forma que no
Pentecostes.
19
7.4. Os sinais do Pentecostes
Quando lemos nas Escrituras a respeito do relato do Pentecostes, podemos
observar que alguns sinais estiveram presentes neste evento, alguns antes outros após o
derramar do Espírito Santo.
A primeira coisa que deve ficar claro em nossas mentes é que estes sinais não são
apenas símbolos, mas que são sinais carregados de uma mensagem àqueles que participaram
deste evento, ou seja, assim como os eventos que acompanharão o retorno de Cristo não são
somente simbólicos, assim também os eventos do Pentecostes também não são meros
símbolos.
7.5. O milagre das línguas
Outro sinal que acompanhou o derramamento do Espírito no dia do Pentecostes,
foram os sons que provinham dos lábios dos apóstolos, sons estes que até então não haviam
sido ouvidos de seus lábios. Mas do que se tratava esses sons. Primeiramente devemos
entender que estes sinais não são restritos ao derramar do Espírito Santo. Em segundo lugar,
não pode-se afirmar que as línguas ouvidas no Pentecostes correspondem a um dos idiomas
conhecidos não previamente obtido.
Em terceiro lugar, o milagre das línguas não foi operado pela mente dos
apóstolos, mas por obra exclusiva do Espírito Santo ao operar em suas cordas vocais. Em
quarto lugar, no evento do Pentecostes, a língua (glotta) estava desassociada da razão (logos),
ou seja, no Pentecostes ocorreu algo totalmente inusitado, pois enquanto a razão encontrava-
se inativa, a língua falava das grandezas de Deus.
Por fim, o falar no dia de Pentecostes foi o resultado puro e perfeito da ação do
Espírito Santo, sem a interferência do pecado, eles falavam aquilo que o Espírito Santo os
conduzia a falar.
8. CAPÍTULO OITO – O apostolado
8.1. O apostolado
O apostolado é uma obra exclusiva do Espírito Santo nunca vista até então, pois
o apostolado foi um ofício totalmente diferente, tanto do ofício profético, quanto do oficio
de ministros da palavra dos dias atuais.
20
Algo nítido sua manifestação é a sua intensa dependência do Espírito Santo, pois
até o seu derramamento, os apóstolos não exerceram seu ministério e após o evento de
Pentecostes, estes sempre atribuíram seu empenho e sucesso à ação do Espírito Santo. É
notório também que o apostolado foi santo, não no sentido de mais santo que os demais
cristãos, mas no sentido de separação. Estes homens foram separados para a obra que o
Senhor tinha a realizar em seu tempo.
Outro fator importante de ser destacado no ministério apostólico é o fato destes
terem sido testemunhas oculares da encarnação, obra, morte, ressurreição e glorificação do
Messias. Paulo encarava o apostolado algo tão importante, que em Hebreus (visão de Kuyper
– destaque nosso) ele atribui o título a Jesus Cristo, afirmando também que através do
apostolado Cristo mantem a comunhão com sua igreja.
8.2. As Escrituras apostólicas
Quanto ao apostolado é necessário compreender não somente a sua importância,
mas também entender que ele teve duas características, temporária e permanente. Temporária
no que se refere à plantação das primeiras igrejas, ou seja, algo que já foi alcançado e já
realizado não pode ser repetido novamente. Permanente em relação às igrejas de todas as
épocas, ou seja, através do ministério apostólico as igrejas de todos os tempos tiveram o
exemplo e características a serem seguidos, a forma como as igrejas deveriam se organizar
ao longo dos tempos.
Este formato e modelo instituído pelos apóstolos foram de duas formas. A
primeira, através da forte influência que tiveram sobre a igreja, influência esta que nem o
tempo pode apagar. A segunda forma foi através do relato por eles escrito determinando as
características e formas que a igreja deveria seguir e adotar em seu meio a fim de que esta
imagem não se perca ao longo dos tempos.
Esta segunda forma do agir do apóstolos, nos levam a meditar a respeito da
importância de seus escritos, ou seja, de suas contribuições formais através dos documentos
por eles redigidos. Estes escritos dos apóstolos devem ser considerados muito mais
importantes do que seus milagres e pregações, causando uma influência que eles jamais
poderiam supor que alcançariam, pois mesmo tudo já se tendo passado, seus escritos ainda
permanecem vivos e governam a igreja.
21
Ademais, devemos reconhecer que toda essa importância que o ministério
apostólico teve foi graças ao mover e operar do Espírito Santo que resolveu usar os apóstolos
para registrar e documentar tudo o que seria imprescindível para a igreja que viria após seus
ministérios.
8.3. A inspiração apostólica
Uma dúvida que paira quando trata-se dos escritos apostólicos é com respeito a
ação do Espírito Santo em suas vidas, inspirando-os a redigir o que eles nos deixaram nas
Escrituras.
Quanto a este assunto, duas teorias, a Ética e a Reformada, tentam responder qual
foi o papel do Espírito Santo na inspiração dos apóstolos. Para os defensores da teoria da
Ética, a encarnação de Jesus Cristo criou um novo tipo de indivíduo, onde os apóstolos ao
receberem este tipo de vida mais elevado, foram capazes de enxergar coisas que os demais
não eram capazes, criando assim um grau mais elevado de crentes na igreja.
Para os reformados, a inspiração dos apóstolos não tem nada a ver com
indivíduos que foram mais iluminados que outros, mas que a inspiração concedida aos
apóstolos foi uma obra exclusiva do Espírito Santo, cuja finalidade era redigir os Escritos
Sagrados e, que este agir foi restrito somente aos apóstolos e a mais ninguém.
Mas outra pergunta surge diante de nós. Há diferença entre a ação do Espírito
Santo nos profetas e nos apóstolos? A resposta é sim. A resposta repousa no fato dos profetas
estarem antes e os apóstolos após o Pentecostes, ou seja, os escritos dos profetas transmitem
um ideia de inspiração independente de suas vidas pessoais e espirituais, enquanto que a
mensagem dos apóstolos transmite a ideia de algo que vem do seu interior.
8.4. Apóstolos hoje?
Uma dúvida que ainda perpassa nossos dias é quanto à continuidade ou não do
ministério apostólico até nossos dias. Entretanto, podemos através das Escrituras
compreender que a resposta é negativa. Inclusive, toda e qualquer tentativa de reacender a
chama do apostolado vai contra o que as Escrituras demonstram.
22
Embora esta seja uma realidade latente nas Escrituras, alguns indivíduos ainda
insistem em afirmar que o ministério apostólico não foi algo restrito aos doze, mas que
permanece vivo e latente até nossos dias. Entretanto, nem Cristo, nem os apóstolos, nem
mesmo o livro de Apocalipse corroboram com esta ideia, pelo contrário, são enfáticos em
dizer que o ministério apostólico iniciou-se e encerrou-se com os doze. Ademais, podemos
ver que estes que julgam-se apóstolos não possuem as credenciais do apostolado, ou seja,
terem sido vocacionados pelo próprio Cristo e uma ação especial do Espírito Santo os
capacitando e os revestindo de infabilidade no serviço da igreja.
9. CAPÍTULO NOVE – As Sagradas Escrituras do Novo Testamento
9.1. As Sagradas Escrituras do Novo Testamento
Depois de entendermos um pouco de como surgiu, se desenvolveu e encerrou-se
o ministério apostólico, é de suma importância buscarmos a compreensão da obra do Espírito
Santo nas Escrituras do Novo Testamento.
Nunca foi o desejo do Senhor que a sua igreja fosse completamente ignorante
quanto ao conhecimento de Sua vontade e verdade, ou que caminhasse ao longo da história,
errante e sem direção, vivendo em constantes erros. Ao contrário disto, aprouve ao Senhor,
através o ministério apostólico conceder à igreja primitiva, bem como à igreja de todos os
tempos, Sua vontade e verdade à qual a igreja deveria assumir como sua regra de fé e de
prática.
Deste modo, o ministério apóstolo teve como objetivo revelar aquilo do Senhor
que encontrava-se oculto, aumentar e trabalhar aquilo que o Antigo Testamento, João Batista
e Cristo já haviam demonstrado. Através do ministério dos apóstolos a igreja teve acesso à
verdades que o povo do Antigo Testamento não tiveram acesso, pois conforme a revelação
ia sendo transmitida, ia ao mesmo tempo sendo repassada ao povo de Deus.
9.2. A necessidade das Escrituras do Novo Testamento
Após a ascensão de Cristo, a Igreja rompeu com suas barreiras étnicas e
geográficas, assim não havia mais a possibilidade do ensino apostólico manter-se apenas de
forma verbal e como a igreja também romperia com os limites do tempo, foi necessário que
os apóstolos registrassem de modo escrito a revelação que o Senhor lhes havia confiado.
23
Diante então desta nova realidade, os apóstolos foram compelidos pelo Espírito
Santo a transmitirem a imagem de Cristo através de seus lábios, bem como de forma escrita,
além de revelarem às igrejas do futuro as verdades e vontades do Senhor a eles revelado. E
o resultado disto foi um crescimento dos registros apostólicos a fim de que a igreja em todos
os lugares e tempos pudessem ter acesso à vontade de Deus.
Assim, uma questão surge: Como originou-se a Escritura Néo Testamentária?
Não podemos de modo algum negar que foi por obra exclusiva do Espírito Santo através dos
apóstolos, muitas delas sem o próprio autor ter a noção do real propósito daquilo que ele
estava registrando. Inclusive devemos registrar que o selo apostólico não é a garantia de
autenticidade e fidedignidade dos Escritos, pois houveram escritores que não eram apóstolos,
mas chancela de autoridade e fidedignidade está no Espírito Santo.
9.3. O caráter das Escrituras do Novo Testamento
Com o que já vimos até o momento podemos ter a plena convicção de que a
finalidade das Escrituras não é de apenas ser um documento que registra os atos dos apóstolos
e a realidade de igreja, mas sim de transmitir veracidade aos fatos por ela mesma narrados, e
comunica-las de forma fidedigna, mas como provar a fidedignidade?
O Espírito Santo compeliu os escritores do Novo Testamento a registrarem a Sua
vontade de forma fidedigna, sem a preocupação de dar respostas àqueles que questionariam
a sua veracidade, pois instrumento de investigação humana é capaz de certificar ou anular o
que ali encontra-se registrado, mas crer unicamente pela fé. O Espírito Santo primeiramente
deu a revelação das verdades de Deus aos escritores, operou em suas vidas através da
inspiração a fim de que as Escrituras não tivessem erros e continua a operar na vida dos
cristãos dos dias de hoje, concedendo-lhes a fé nas Escrituras.
10. CAPÍTULO DEZ – A Igreja de Cristo
10.1. A Igreja de Cristo
Depois de discutirmos sobre a importância da obra do Espírito Santo nas
Escrituras do Novo Testamento, é importante vislumbrarmos o papel do Espírito Santo na
igreja.
Embora a igreja já exista desde Antiga Dispensação, foi no dia de Pentecostes
24
que ela de fato rompeu com seus limites geográficos e étnicos, para alcançar até os confins
da terra. E o Espírito Santo de forma particular ocupou-se em regenerar aqueles que já
encontravam-se em seu meio, pois de modo algum o Espírito opera primeiramente na vida
do incrédulo para depois trazê-lo para o seio da igreja.
Mas além da regeneração operada pelo Espírito Santo, ele também opera em sua
igreja ao conceder-lhe dádivas espirituais, ou seja, os chamados dons espirituais. A primeira
dádiva é a salvação que é um dom gracioso e grátis, ou seja, algo que não merecíamos, mas
o Espírito Santo aprouve nos conceder. A segunda desta dádiva são os dons espirituais, que
nos são concedidos para que glorifiquemos o Senhor através de nossas vidas, bem como a
fim de que a igreja seja suprida em suas necessidades e continue em sua caminhada
cumprindo seu papel no mundo. Deste modo, como um corpo que a igreja é, cabe a cada
membro suprir suas necessidades para que a igreja alcance suas metas.
10.2. Dons espirituais
Uma definição mais clara a respeito do que são os dons espirituais é a que de
estes são os meios e poderes concedidos pelo Espírito Santo a fim de que sua igreja seja
capacitada para cumprir sua missão. E neste campo de batalha há oponentes visíveis e
invisíveis que constantemente labutam a fim de que a igreja sucumba e não cumpra o
propósito ao qual o Senhor lhe instituiu.
Entretanto a igreja não pode acovardar-se, pelo contrário, é em meio à guerra que
a igreja é chamada a para exercer o seu papel e somente através a assistência do Espírito
Santo que ela conseguirá manter-se firme em seu propósito. E cada meio que o Senhor
concede a igreja a fim de que ela se mantenha firme na batalha é chamado de dom espiritual.
Por isso, afirma-se constantemente que o cristão que vive de modo individual não persiste
por muito tempo, pois é no seio da igreja que ele é fortalecido e armado com os dons
espirituais necessários para a missão da igreja.
10.3. O ministério da Palavra
Além do Espírito Santo conceder dons espirituais à igreja a fim que esta cumpra
sua missão, Ele também age no meio da igreja dispensando seu cuidado para com a
ministração de sua Palavra.
25
O Espírito Santo não é somente o autor das Sagradas Escrituras, mas também o
agente que gera no coração de cada um dos eleitos do Senhor à disposição de crer que as
Escrituras são a única fonte de autoridade e vida, bem como concede-lhes a capacidade de
compreende-la e de vive-la.
É através deste operar do Espírito Santo que cada crente recebe a capacitação de
ter uma firme segurança em relação às Escrituras, nada podendo roubar-lhe esta convicção,
mesmos os mais fortes ventos de doutrina.
Além desta convicção, o Espírito Santo auxilia o eleito a também interpretar os
ensinos que dela emanam. Por ser o Espírito Santo o seu autor, somente Ele é quem pode
capacitar o eleito a compreender o que ali encontra-as escrito de modo correto. O Espírito
Santo auxilia os eleitos a interpretar as Escrituras através de estudos científicos, através do
ministério da Palavra e por experiências espirituais que ocorrem no seio da igreja.
Não obstante, quanto às Escrituras não podemos ficar somente com a fé e a
interpretação, é por isso que o Espírito Santo também auxilia os eleitos na aplicação das
verdades por ele reveladas. Este agir do Espírito Santo em cada eleito se dá de forma direta
e indireta. A aplicação indireta das Escrituras se dá através da pregação das Escrituras por
um ministro da Palavra ou por algum irmão que o Espírito Santo deseja usar para ensinar o
seu povo. A aplicação direta da Palavra pelo Espírito Santo nos eleitos se dá através da leitura
cotidiana da Palavra, bem como através de sua rememoração.
10.4. O governo da Igreja
Depois de elucidar a ação do Espírito Santo nas mais diversas áreas de sua igreja,
cabe-nos ainda discutir sobre sua última área de influência, que é o seu governo sobre a igreja.
A igreja diferentemente daquilo que muitos pensam, não é uma instituição
humana, que nasceu a partir de seus desejos gananciosos, mas é uma instituição divina, onde
as Escrituras afirmam que ela é o corpo do qual Cristo é o cabeça, mesmo sendo ainda
imperfeita e cheia de falhas, lembrando-nos também que tanto a igreja visível e a invisível
são uma, ou seja, a visível composta pelos eleitos de determinada época em todos os lugares
do mundo e a invisível é aquela composta pelos eleitos de todos os tempos. E é sobre esta
igreja uma que Cristo governa e os nutre.
Ademais, devemos entender que o governo da igreja gira em torno da
26
manutenção da exposição fiel das Escrituras e a ministração fiel dos Sacramentos, ou seja, o
batismo e a Ceia do Senhor, pois retirando estes dois pontos, não sobrará muita coisa a ser
governado.
Embora indivíduos mal intencionados tentem usurpar o governo e senhorio de
Cristo em sua igreja, devemos nos lembrar sempre que esta prerrogativa é exclusiva de Cristo
e todo que se levanta para deturpar esta verdade deve ser resistido pelos demais membros do
corpo. Mas também precisamos compreender que aqueles que exercem seus ministérios de
forma submissa à vontade de Cristo, estão ali pois Cristo mesmo os instituiu como oficiais
de Sua igreja para desempenhar determinadas tarefas.
A todos os membros do corpo, cabe a disposição de submeter-se integralmente à
verdade de vontade de Deus revelada nas Escrituras, assumindo-a definitivamente como sua
regra de fé e de prática. Por fim, a igreja deve reconhecer que o Espírito Santo é quem dirige
as decisões e deliberações que devem ser tomadas em seu meio. Em razão deste fato, a igreja
deve colocar-se não somente debaixo de Sua vontade, mas também buscá-la.
VOLUME DOIS – A obra do Espírito Santo no indivíduo
1. CAPÍTULO UM – Introdução
1.1. O homem a ser trabalhado
A primeira parte da obra compôs-se da reflexão quanto a obra do Espírito Santo
em sua igreja de modo geral. Em sua segunda parte, a obra consistirá em elucidar a obra do
Espírito Santo na vida de cada um dos eleitos de Deus.
A igreja do Senhor é tanto una como individual, ou seja, embora os eleitos do
Senhor espalhados pela terra formem um só corpo do qual Cristo é o cabeça, existem também
os vários membros que formam este corpo. Ademais, este ajuntar do membros ao corpo não
é obra humana, mas vem de um despertar interno operado pelo próprio Deus, que os escolheu
e em um determinado tempo os ajunta.
Não obstante, assim como Deus opera a fim de que sua criação alcance o objetivo
que Ele mesmo delineou, ele assim também o faz na vida de Seus eleitos a fim de que estes
sejam sustentados e ajuntados em Seu corpo. E é o próprio Deus que movimenta toda a
história para que Seus eleitos sejam alcançados e que estes entendam perfeitamente seu
grande e infinito amor por eles. Ademais, é através da obra da cruz de Cristo que Deus
27
manifesta todo o seu amor pelos eleitos e de forma irresistível os atrai para Si com irresistível
amor a fim de que estes não sejam destruídos, mas que vivam eternamente junto a Ele.
1.2. A obra da graça: uma unidade
O objetivo de Deus movimentar toda a história é para que Ele mesmo alcance
cada um de Seus leitos. É para que sua gloria resplandeça através de cada um daqueles que
foram salvos por seu grande amor.
Ademais, é através do derramar do Espírito Santo no coração endurecido do
perdido que o faz enxergar a maravilhosa obra que Cristo realizou, aplicando em seus
corações a obra salvífica, revelando-lhes seu profundo amor que até então eles não tinham a
mínima noção de sua existência. Deste modo, a operação do Senhor só se encerra na vida do
indivíduo quando este é totalmente invadido pelo amor de Deus e salvo através da obra de
Cristo.
Devemos compreender que este ato salvífico operado pelo Senhor na vida do
pecador é eterno, contínuo e ininterrupto cujo único objetivo é a Sua própria glória. Não é
um ato mecânico ou simplesmente formal, mas é um ator de amor e compaixão pelo perdido,
já elaborado e arquitetado desde a eternidade e que durará por toda a eternidade. E este amor
é em nós derramado e operado através da obra graciosa do Espírito Santo em nossos corações.
1.3. Análise necessária
Para que se possa ter uma noção da exata obra do Espírito Santo em cada
indivíduo é necessário entendermos onde o ser humano encontra-se e a sua real situação antes
da conversão. Isso porque, uma não compreensão desta realidade pode levar-nos a enganos
e atribuir obras do Espírito Santo em lugares onde não há.
Embora muitos tentem desvirtuar esta verdade, as Escrituras são enfáticas em
afirmar que a salvação do perdido é obra única e exclusiva de Deus em cada perdido, devendo
cada tentativa de falsificar esta verdade ser refutada e considerada como heresias.
Ademais, por pecador devemos entender que é aquele que segue o curso de sua
sem a graça de Deus sobre sua vida. Neste estado, o indivíduo encontra-se morto
espiritualmente, impedido de manter comunhão com Deus e em um estado de total rebelião.
Não bastasse tudo isto, o indivíduo neste estado tende a cada dia a afastar-se de Deus e
28
aprofundar-se ainda mais em tal degradação espiritual. Assim, a obra do Espírito Santo na
vida do pecador é a de primeiramente gerar vida naquele que está morto em seus delitos e
pecados, trazê-lo da morte para a vida.
1.4. Imagem e semelhança
Em Gênesis 1.26 temos a seguinte declaração da parte de Deus: “Também disse
Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a
terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”.
Alguns estudiosos se propuseram a estudar esta declaração da parte de Deus. Dr.
Edward Böhl, de Viena afirma que esta passagem deveria ser encarada como o homem foi
criado na imagem de Deus e não conforme Sua imagem. Em seu entendimento a imagem não
é encontrada no ser humano, mas fora de sua pessoa e natureza, ou seja, em Deus, onde
permanecendo o homem na luz, este viverá naquela imagem, saindo da luz, a imagem é
perdida, restando apenas sua natureza.
Entretanto, esta concepção não coaduna com aquilo que as Sagradas Escrituras
testificam deste evento. Para isso é necessário nos voltarmos para ela mesma que é inerrante
e infalível. Em Gênesis 1.27 o Espírito Santo testemunha que Deus criou homem e mulher
conforme a sua imagem. Através deste testemunho, podemos então ter plena convicção que
esta verdade não é apenas um devaneio ou interpretação humana, mas que realmente Deus
formou homem e mulher à Sua própria imagem, bem como demonstra a distinção da criação
do ser humano dos demais elementos da criação, enfatizando a nobreza e a glória do ser
humano entre toda a criação, ressaltando que esta proeminência repousa nesta íntima e
próxima relação como Criador.
Ademais, Gênesis 1.27 ressalta a diferença entre a imagem divina conforme a
qual nós somos criados e a imagem que consequentemente tornou-se visível em nós. Em
outras palavras a imagem a qual o Senhor criou o homem é uma e a fixada em nós outra. Por
fim, os termos imagem e semelhança devem ser tomados como sinônimos e não como se
referindo a corpo e alma como alguns defendem.
1.5. Justiça original
29
Entre as confissões reformadas há uma unanimidade em professar a humilhação
que o homem pecador encontra-se e a sua exaltação quando sem pecado seja antes da queda
ou após sua restauração em Cristo Jesus. Entretanto, é comum em nossos tempos estas
verdades se inverterem, pois é difundido a ideia de que o homem deve ser exaltado e
apreciado mesmo ainda em seu estado de morte e degradação espiritual, onde os defensores
desta ideia passam a rechaçar aqueles que defendem o contrário.
Diferentemente destas concepções, encontra-se as Sagradas Escrituras que
demonstram que o homem é sim exaltado e glorificado enquanto imagem e semelhança de
Deus e que muito mais gloriosa é o próprio Deus, onde o homem ao ter tal concepção de si
mesmo reconhece que não é digno de nada e sim Deus de todo louvor e glória e que é um
pecado imensurável o querer ser igual a Deus.
Mas a questão que se levanta é: O homem ao cair em pecado perdeu a imagem
de Deus? Para que compreendamos com clareza esta questão é necessário primeiramente
compreender se ser criado a imagem de Deus refere-se somente à justiça original, ou se inclui
também a natureza do homem, que encontrava-se revestido de retidão original. Se
concluirmos que a imagem de Deus residia exclusivamente na retidão original que o homem
era revestido, então temos que assumir que esta imagem perdeu-se por completo após a
queda. Mas se assumimos que ela estava também impressa em sua natureza, então devemos
concluir que ela não se perdeu por completo.
Em razão da queda, somente o agir do homem passou a ser mal, corrupto e
rebelde a Deus, mas a sua natureza manteve-se original, e em razão do seu alto nível da glória
em que foi criado sua queda o arrastou para um grande e profundo abismo, ou seja, tudo o
que era usado para glorificar a Deus, agora é usado para a rebeldia e injustiça.
Ademais, é também necessário compreender que esta imagem e semelhança a
qual o homem foi criado não significa um estado de inocência e nem que ele estivesse
totalmente pronto para tornar-se totalmente santo, mas foi criado em um estado de justiça e
santidade verdadeiras, porém poderia perde-lo, como assim ocorreu posteriormente.
1.6. Roma, Socínio, Armínio e Calvino
Ao longo da história, diferentes caminhos foram trilhados, cujos objetivos eram
compreender de forma mais acurada esta doutrina da imagem de Deus. Dentre o panteão de
30
teorias, quatro mais se destacam:
Primeiro, o caminho de Roma, representado por Bellarmino.
Segundo, o de Armínio e Socínio, caminhando de braço dado.
Terceiro, o caminho da maioria dos Luteranos, liderado por Melâncton.
Último, a direção mapeada por Calvino e dos Reformados.
O romanismo afirmou ao longo da história que a justiça original não é algo
pertencente à imagem divina presente no homem, mas sim, presente em sua natureza humana
e que esta justiça tratava-se de uma graça a mais concedida ao homem.
Em outro caminho encontram-se Socínio e Armínio. Os Socinianos criam que a
doutrina da imagem de Deus repousava no fato do homem ter domínio sobre os demais entes
da criação, pois criam que existia algo de divino neste domínio.
Os Luteranos por sua vez mantêm-se no meio do caminho entre os romanistas e
os reformados, no que diz respeito a esta doutrina. Para os Luteranos a imagem e semelhança
de Deus no homem trata-se simplesmente da justiça original que lhe foi concedida, afirmando
também que após a queda o homem foi totalmente destituído desta imagem.
Por fim temos os reformados que caminham em direção oposta às três outras
correntes já mencionadas. Para os reformados, imagem e semelhança são apenas sinônimos,
ou seja, ambas são a mesma coisa, tratando-se somente de um recurso estilístico, mas
afirmam também que este atributo no homem não corresponde somente a justiça original,
mas que também está ligado intimamente ao ser e personalidade humana, deste modo
afirmavam que a imagem de Deus no homem não foi algo que lhe foi acrescentado, mas era
parte integrante de sua estrutura.
1.7. Os Neo-Kohlbrugianos
Ao longo da história inúmeros indivíduos tentaram mudar o significado da frase
"Façamos o homem à imagem, conforme a nossa semelhança", afirmando que ao invés de
conforme, devemos ler “na nossa semelhança”. O principal defensor desta corrente é o Dr.
Böhl. De acordo com sua teoria, o homem não é dotado de uma imagem divina inerente a
ele, mas que esta imagem lhe foi posteriormente imputada por Deus. Entretanto, passagens
como Gênesis 5.1-3 demonstram que este estudioso estava completamente equivocado em
suas afirmações, pois o referido texto é enfático em afirmar que o homem foi criado a própria
31
imagem do seu Criador.
1.8. Segundo as Escrituras
Neste tópico, a tarefa principal será a de demonstrar como deveria ser traduzido
Gn 1.27, além de mostrar as razões pelas quais deve ser desta forma.
Iniciando por Gênesis 1.27, a preposição ali encontrada não dá margem para uma
contração cujo resultado seja uma preposição “na”, mas somente traduções de comparação
como “após", ou "segundo", ou "como", ainda "à". Em Is 48.10 a preposição “B” encontra-
se antes de “a prata” onde da mesma como em Gn 1.17 não permite uma preposição “na”.
Caso semelhante ocorre no Sl 102.3 onde a grande maioria dos tradutores traduzem a
expressão “como a fumaça” ao invés de “na fumaça”.
A partir destes e de outros exemplos, pode-se afirmar com toda clareza que o
homem foi criado portando a imagem de Deus e que este deveria exibir esta imagem a toda
a criação.
1.9. A imagem de Deus no homem
Ao longo da história alguns estudiosos ventilaram a ideia de que esta imagem de
Deus impressa no homem referia-se a imagem de Cristo. Em razão deste fato, este tópico tem
por objetivo elucidar esta dúvida. Esta doutrina teve seu início em Orígenes, sendo seguido
ou pelo menos não combatido por diversos teólogos ao longo da história, tendo encontrado
resistência somente em Agostinho. Os reformadores pós-Agostinho também refutaram esta
doutrina, declarando-a um grande erro.
Entretanto, em tempos mais atuais, alguns teólogos têm novamente se enamorado
por esta heresia e se vislumbrado com a ideia de que Deus não somente tornou-se, mas
continua tornando-se homem e que Ele a cada vez que torna-se homem, torna-se também
melhor e mais puro e que em Jesus Cristo Deus teria alcançado um nível de completa isenção
de pecado. Ao contrário disto, as Escrituras afirmam veementemente que Cristo é o Redentor
do pecado e a expiação para o mesmo. Passagens como 2Co 3.18, Rm 8.29, 1Co 15.49, Ef
4.13 entre outras, são muito claras em suas afirmações de que o homem redimido deve ser
renovado e transformado à imagem de Cristo, pois este é o grande objetivo da redenção.
32
1.10. Adão: não inocente, mas santo
Todo e qualquer tipo de pensamento que procure minimizar ou depreciar a justiça
ou como também conhecida, retidão original presente em Adão não deve ser levada em
consideração, ao contrário disso deve ser refutada.
Alguns estudiosos afirmam que Adão era santo até o ponto em que não havia
ainda pecado, enfatizando que se ele não houvesse caído, ele poderia ter chegado a um estado
de santidade plena. Entretanto, esta é mais uma falácia pregada ao longo da história, pois
como os Escritos Sagrados nos apresentam, Adão foi criado em um estado de retidão plena,
nada lhe faltando, pois, aplicar a doutrina da santificação em alguém que ainda não conhecia
o pecado é algo totalmente equivocado e estranho a um ser que Deus afirma ser bom.
2. CAPÍTULO DOIS – O pecador a ser trabalhado
2.1. O pecado não é material
Uma dúvida que pai quanto ao assunto e sobre quais são os efeitos do pecado em
Adão que foi criado a imagem e semelhança de Deus.
Em razão desta dúvida, algumas correntes surgiram tentando demonstrar uma
resposta a tal questionamento. Dentre estas encontra-se o maniqueísmo que entende carne
como algo que se refere somente ao corpo. Entretanto, as Escrituras ao usar o termo carne
está referindo-se ao pecado, dando a entender que toda a natureza humana foi corrompida e
que não mais se volta para Deus. As mesmas Escrituras também nos informam que o pecado
não brotou na carne, pelo contrário, nasceu primeiramente em satanás, invadindo
posteriormente a alma do homem, tornando-se visível através do corpo.
O maniqueísmo de posse de um conceito totalmente contrário ao ensino
Escriturístico, passou a ensinar que o pecado é algo inerente a carne, afirmando que uma
resistência aos desejos da carne faria o homem vitorioso contra o pecado. Em razão desta
crença, o maniqueísmo passou inclusive a receitar dietas a base de determinadas ervas a fim
de ser vitoriosos contra o pecado.
Em uma direção mais ou menos parecida encontram-se os materialistas, cuja
afirmação é a de que o pecado nada mais é do que reações químicas que ocorrem no cérebro
do ser humano, afirmando que se fosse possível controla-las em laboratório, o problema do
pecado seria extirpado da vida dos indivíduos.
33
As confissões Reformadas enfaticamente rejeitam esta heresia. Elas confessam
que o pecado é hereditário, ou seja, que uma criança herda o pecado de seus pais, entretanto,
elas caminham em direção totalmente contrária a do maniqueísmo, pois afirmam que esta
infecção não se dá através de algo material, como um vírus que passa de um indivíduo para
o outro, mas que esta transmissão se dá de forma a qual ninguém pode compreender.
2.2. O pecado não é uma mera negação
Em outra direção está a teoria do Dr. Böhls que afirma que o pecado nada mais
é do que uma simples perda, falha ou falta de algo. Esta teoria não nega a perversidade do
pecador, entretanto, ela afirma primeiramente que não há nenhuma santidade no pecador e
em segundo lugar que nele deveria haver santidade. Em sua visão, o Adão antes da queda e
o Adão pós-queda continuam o mesmo, o que aconteceu foi uma simples perda do esplendor
da justiça que estava com ele até aquele momento, mas seus demais atributos foram
totalmente preservados, bastando uma centelha de justiça para que ele retornasse ao seu
esplendor de justiça.
Entretanto, podemos ver que esta é mais uma inverdade teológica que correu
durante anos, pois o ser humano não permaneceu da mesma forma como se encontrava antes
da queda, mas foi maculado de forma tão profunda que este foi ferido de morte, afetando o
todo do ser humano. Tal fato é tão verdade, que a regeneração não somente translada o ser
humano a uma esfera de retidão e justiça, mas restaura o indivíduo por completo, tanto que
as Escrituras afirmam que o caído e transportado da morte para a vida, das trevas para a luz.
2.3. O pecado não é um poder em ação contrária
Embora o pecado tenha o seu aspecto negativo, ou seja, trate-se de uma privação,
ele também possui um lado aspecto positivo, ou seja, ele é positivamente um mal e um poder
maligno. Isto é tão verdade, que os apóstolos por diversas vezes orientaram seus ouvintes a
não somente se revestirem do novo homem, mas também se libertarem das velhas obras. O
pecado age tão ativamente, que mesmo redimidos e o Espírito Santo habitando no homem,
este ainda é insistentemente incitado a praticar as obras que anteriormente faziam parte de
sua vida.
Entretanto, devemos entender que os efeitos do pecado não anularam a natureza
34
humana dos indivíduos, pois mesmo ferida e contaminada ela ainda permanece, o que foi
maculado é a sua condição, ou seja, o que foi afetado foi a sua influência e suas ações, tanto
que agora esta natureza não mais está voltada para Deus, mas voltada para seus próprios
interesses e vontades. A estrutura continua a mesma, a direção do foco é que está invertido,
assim o ser humano passa a enxergar o perverso e injusto, como sendo justo e bom para sua
vida.
2.4. Nossa culpa
Algo que necessita ficar claro em nossa mente é a diferença entre pecado e culpa,
pois muitas vezes as confundimos ou as tratamos como sinônimos, perspectiva esta que
encontra-se totalmente equivocada.
A ideia de que Deus não existe leva-nos a um profundo abismo, pois a partir desta
crença passamos a crer que não temos nenhum débito para com Ele, que não temos de nos
acertarmos com Ele em relação aos nossos feitos diante de Seus olhos. Mas ao contrário
disto, Deus existe e é real e não podemos nos eximir de nossas responsabilidades para com
Ele, pois o Senhor está presente em cada uma de nossas ações ao longo de nosso caminhar.
Em razão deste fato, estamos sempre em débito com Deus, tudo aquilo que fazemos de forma
pecaminosa contribui para que nossa dívida para com o Senhor aumente ainda mais.
O fato de Deus ter-nos criado para nos relacionarmos com ele, para sermos sua
propriedade, é o fator determinante para a existência e aumento constante desta dívida. Se o
Senhor tivesse nos criado, não para este propósito, não teríamos qualquer tipo de dívida para
com ele, mas como isto não é o real, a cada passo, movimento e ação que damos, a nossa
dívida aumenta ainda mais.
Entretanto, quando lutamos para restaurar os direitos de Deus que violamos, ou
seja, quando passamos a amá-lo acima de tudo e de todos é que a nossa dívida passar a ser
sanada ao invés de continuar em um crescente. A partir desta concepção é que podemos ter
uma noção exata do que é pecado e culpa.
Podemos conceituar o pecado como sendo uma não conformidade com um
padrão ou leis estabelecidas, ou em nosso caso mais específico, uma não conformidade com
as leis estabelecidas por Deus. Já a culpa é o ato de nos apropriarmos de uma direito que é
exclusivamente de Deus. Em outras palavras, o pecado é a nossa oposição às leis de Deus, a
35
culpa é a negação da reivindicação que Deus tem sobre cada um de nós. Em razão desta
usurpação dos direito de Deus, o pecador, culpado de seus atos é digno de punição por
proceder desta forma.
2.5. Nossa injustiça
Um ponto de profunda importância a ser discutido é sobre a dúvida que paira a
respeito de um relacionamento ou não com o Espírito Santo antes da queda.
As Escrituras nos demonstram que há uma diferença entre Adão e o homem
regenerado pelo Espírito Santo, demonstrando assim que há uma diferença de posição entre
tais. Pois Adão faz parte do grupo dos regenerados, ele possuía justiça e retidão inerentes a
si e não uma justiça e retidão concedida pela fé aos regenerados. Desta forma, podemos então
dizer que toda a bondade operada por Adão não provinha de si mesmo, mas lhe foi atribuída
mediante o agir do Espírito Santo em sua vida, entretanto, o Espírito Santo não habitava em
Adão, este era apenas alvo do agir da Terceira Pessoa da Trindade, enquanto que no
regenerado o Espírito Santo faz habitação
2.6. Nossa morte
Ao passo de termos discutido sobre pecado e culpa, outro assunto ainda paira e
este está relacionado com a morte.
Devemos entender a morte como o ato punitivo da parte de Deus ao ser humano
por seu pecado e culpa. Entretanto, para termo uma noção mais exata do que seja a morte é
necessário primeiramente entendermos o que é vida. Podemos entender a vida como sendo
algo que possui movimentos inerentes a si, de dentro para fora. A vida é atribuída ao corpo
humano através da alma, sem ele nada podemos fazer, isso é tão verdade que basta a alma
deixar o corpo no momento da morte, que este corpo perde totalmente suas funcionalidades.
Devemos entender então a morte como a perda da dádiva concedida por Deus ao
homem, pois em Gênesis vemos que foi Deus que soprou o fôlego da vida nas narinas do
homem e este passou a viver. Assim, a morte é a retirada deste fôlego da vida por parte de
Deus, é a retirada da benção por Deus. No que tange a alma, o princípio também é o mesmo,
ou seja, a alma também pode morrer e ela assim o que quanto se separa daquele que lhe
concede vida, ou seja, do Espírito Santo. A partir desta separação, a alma torna-se inoperante
36
como o corpo, incapaz de realizar qualquer ato proveitoso, mas torna-se inclinada para o mal
e a perversidade, estando totalmente impossibilitada por si só de retornar a vida. Contudo,
embora a alma entre neste profundo processo degradativo, ela não pode ser exterminada, pelo
contrário, pode ser inclusive ressuscitada. Este processo de reanimação de dá através do
reestabelecimento da comunhão entra a alma morta e o Espírito Santo, através da
regeneração.
3. CAPÍTULO TRÊS – Graça preparatória
3.1. O que é isso?
A graça preparatória é um evento que tem por finalidade preparar o perdido a fim
de que este receba a graça redentiva em sua vida através do operar do Espírito Santo. Essa
preparação é necessária pois seria algo totalmente descabido o ser humano viver uma vida
inteira distante do Senhor e totalmente rebelde a sua vontade e em um dado momento o
Senhor o converta inesperadamente e este então passe a ser alvo do seu amor, graça e
misericórdia. Pelo contrário, os eleitos de Deus são cuidados não em um dado momento, mas
eles são alvo desse cuido e amor por todo o seu caminhar, ou seja, a sua salvação é uma obra
que perdura por toda a eternidade.
A própria doutrina da eleição é o reflexo desse cuidado de Deus para com seus
eleitos, mesmo muito tempo antes da sua regeneração, ou seja, os eleitos de Deus são objeto
da ação de Cristo e do amor de Deus muitos antes do momento em que uma nova vida lhe
atribuída. Embora, o Senhor permita que o pecador ande por caminhos tortuosos, caminhos
de iniquidade, não podemos negar que o Senhor está dispensando sobre ele seu cuidado, amor
e compaixão.
3.2. O que a graça preparatória não é
Depois de compreender um pouco do que se trata a graça preparatória, é
necessário também compreendermos o que ela não é.
Primeiramente ela não é uma graça que está sob todos os indivíduos
indistintamente. Ao contrário disso, a graça preparatória é operada somente naqueles que em
um determinado tempo serão regenerados, ou seja, somente nos eleitos antes da fundação do
mundo, aqueles que não mais se desviarão da graça redentiva.
37
Em segundo lugar, a graça preparatória não é um meio utilizado somente para a
operação da conversão. A graça preparatória é o meio pelo qual o Senhor prepara seus eleitos
para receberem a vida, a conversão é apenas o sinal visível desta nova disposição aplicada
no eleito de Deus.
Em terceiro lugar, a graça preparatória não pode ser encarada como o elemento
fundamental para a aplicação da graça redentiva. O Senhor é poderoso para quebrar o mais
duro coração, para invadir a mais impenetrável vida, para transformar o mais perverso
pecador, ou seja, Deus não necessidade de nada para poder agir na vida do ser humano.
4. CAPÍTULO QUATRO – Regeneração
4.1. A terminologia antiga e a nova
Uma construção sadia de uma doutrina, começa primeiramente a partir da
definição dos termos que irão compô-la. Não diferentemente é exigido quanto a doutrina da
regeneração.
O termo regeneração possui um sentido tanto latu quanto stricto senso. Em seu
sentido stricto o termo é utilizado para delimitar o agir exclusivo de Deus em conceder nova
vida ao que estava morto em seus delitos e pecados. Em seu sentido mais latu, a confissão
Belga diz que o termo regeneração é utilizado para identificar toda a mudança efetuada no
eleito pela graça de Deus, que só posteriormente culmina na ressurreição.
Desta forma, a regeneração é o ato do derramamento da graça da parte de Deus
no ser humano, criando nele uma nova disposição, sem que ele mesmo tenha noção do que
está ocorrendo em sua vida, para só depois ele de forma consciente dar os seus primeiros
passos na fé.
4.2. O curso da graça preparatória
As igrejas reformadas têm sustentado ao longo dos anos que a semente da vida,
que encontra-se somente nos eleitos de Deus é implantada em suas vidas antes mesmo antes
do Batismo, e que este sacramento apenas demonstra externamente aquilo que já ocorreu
internamente na vida do eleito.
Uma interpretação incorreta desta ideia de que os eleitos são santificados antes
mesmo do batismo, levou-os a crer que eles eram dignos de serem batizados por serem
38
membros do pacto da graça. Entretanto, reformadores se levantaram contra esta visão,
afirmando que os eleitos são merecedores do batismo não por serem membros do pacto da
graça, mas porque eles foram primeiramente regenerados, ou seja, a obra de Deus vem
primeiro que a obra operada pelos homens, ou seja, o batismo é o resultado da operação
graciosa de Deus na vida do perdido.
Ademais, devemos nos lembrar que a regeneração é a união da alma e o princípio
da vida do Espírito Santo. Tudo o que ocorre na vida do eleito antes deste momento deve ser
considerado como graça preparatória, cessando-se então a partir deste momento.
4.3. Regeneração: obra de Deus
Um indivíduo não regenerado encontra-se em um profundo estado de degradação
espiritual, é alguém totalmente alienado à vontade de Deus, é alguém que não ouve nem vê
as maravilhas de Deus, é alguém que está morto. E este deve ser o ponto de partida para uma
real compreensão da regeneração, ou seja, a partir de uma real compreensão do que o pecado
fez no ser humano.
Diante desta completa capacidade espiritual em que o homem distante de Deus
encontra-se, é necessário que antes da operação da graça salvadora, seja nele implantado um
despertar a fim de que seus olhos vejam e seus ouvidos ouçam, ou seja, aquele que estava
morto passa a viver. Em termos teológicos, esta obra é a chamada regeneração.
Ademais, devemos ressaltar que esta obra na vida daquele que estava cego, surdo
e morto, não recebe nenhuma cooperação por parte de seu beneficiário, até porque quem está
morto nada pode fazer em seu favor, mas é uma obra única e exclusiva de Deus. Em outros
termos, na regeneração o eleito é totalmente passivo e Deus é quem age de forma ativa neste
despertar para a vida. É também de suma importância compreendermos que o agir do Senhor
não inicia-se na vida do perdido somente na obra redentiva, mas muito antes o Senhor já está
a operar e conduzir a vida do Seu eleito.
No que tange ainda à regeneração, devemos ter plena consciência de que esta não
está disposta a todos os seres humanos, pelo contrário, o Senhor a concede a uns e não a
outros, isso conforme Seu conselho e Sua vontade. Cabe-nos então nos submeter a esta
verdade e de modo algum questionarmos o agir de Deus em favor de uns e não de outros.
39
4.4. A obra de regeneração
Não devemos encarar a regeneração como sendo um ato exclusivo de Deus que
é por Ele aplicado no eleito através do batismo. A regeneração também não é um simples
mudar de consciência ou de disposição em relação a Deus, muito menos uma mudança de
ego no eleito.
Na regeneração, o ser humano continua o mesmo, tanto que seu ego é mantido,
seu ser humano continua o mesmo, isso porque mesmo o pecado tendo afetado o homem em
diversas áreas, o seu ser permanece o mesmo, intacto, somente a sua natureza é que foi
afetada pelo pecado.
Ademais, ao afirmar que não há nada distintivo entre regenerados e não
regenerados estamos desconsiderando e até mesmo negando o agir poderoso do Espírito
Santo, mesmo não podendo enxergar em um primeiro momento esta transformação operada
pelo Espírito, pois esta obra além de ser ato exclusivo de Deus é também somente por Ele
contemplada.
4.5. Regeneração e fé
Diferentemente daquilo que foi dito a respeito da regeneração no tópico anterior,
as Escrituras e alguns símbolos de fé afirmam que a regeneração é operada pelo Espírito
Santo após a pregação do Evangelho e confirmada através do batismo. A questão então é,
quem está com a razão?
Devemos dizer que estas verdades agora apresentadas também estão corretas. A
questão é que tanto a Bíblia como os símbolos de fé ao se referirem à regeneração, apontam
para um cenário misterioso, para uma obra que encontra-se oculta em Deus. Este operar
miraculoso e misterioso é operado pelo Espírito Santo no mais profundo do ser humano.
Ademais, outra pergunta nos surge: quanto acontece este ato regenerador no
eleito, antes, durante ou após o eleito ouvir a Palavra. A resposta é o que o Espírito Santo
pode operar como bem lhe entende, antes, durante ou depois do ouvir a Palavra, é dEle e
somente dEle este maravilhoso operar
4.6. Enxerto em Cristo
Depois de entender que a obra da regeneração é um ato ativo e exclusivo de Deus,
40
é necessário então vislumbrarmos seus efeitos no que diz respeito à relação entre regenerado
e Cristo.
Primeiramente, as Escrituras afirmam que não há possibilidade de um regenerado
viver apartado de Cristo, não há como haver uma desunião entre eleito regenerado e Cristo.
Entretanto, as mesmas Escrituras não nos revelam o modo pelo qual esta união é operada
através da regeneração. Entretanto, esta união não pode deixar de ser proclamada em razão
da falta de provas cabais que demonstram efetivamente como ela se dá.
4.7. Não uma natureza divino-humana
Pôr a união do eleito regenerado com Cristo encontrar-se no mais profundo dos
conselhos divinos e pelo fato do próprio Deus não nos revelar de forma clara nas Escrituras,
não podemos de modo algum tentar fazer qualquer tipo de elucubração a seu respeito. E mais,
devemos refutar e combater que assim o tentar fazer.
Ao longo da história alguns assim o tentaram, como é o caso do ensinamento
ético. Em sua visão, pelo de Deus e o homem estarem em completo estado de antítese, não
pode desta forma haver qualquer probabilidade de união entre ambos. Desta forma, os
defensores desta posição afirmam que Cristo é a síntese necessária para que esta união possa
ocorrer em sua visão, Cristo é aquele que é tanto finito como infinito, recebeu o peso do
pecado sobre seus ombros e ao mesmo tempo é santo, bem como temporal e eterno.
Entretanto, esta ideia deve ser refutada pois, aniquila os contrates instituídos pelo
próprio Deus, muito menos que a função do Messias é o de anula-las. Aqueles que creem
nesta doutrina acabam por passar a crer nesta corrente ao uma espécie de panteísmo.
4.8. A União Mística com o Emanuel
Algo que necessita ficar claro quanto ao assunto, é que a união entre regenerados
e Cristo não repousa em um imputar de vida divina-humana em suas almas, pois tal aspecto
não está seque presente no Messias.
Não obstante, devemos compreender que os eleitos a partir da regeneração
tornam-se participantes da natureza divina de Cristo, mas em si mesmo completamente
desprovidos de qualquer divindade. Como não podemos dizer que somo essencialmente
filhos de Deus, mas que isso nos foi outorgado através da adoção que Cristo proporciona aos
41
eleitos, cabe-nos também dizer que através da comunhão que Deus instala entre Ele e o
pecador, Ele nos proporciona experimentar alguns vislumbres desta natureza divina.
Desta forma, nossa união mística com Cristo se dá através primeiramente do fato
de que Cristo não exige purificação e santificação para sermos unidos a ele. Em segundo
lugar que esta união não se dá no momento em que nossa fé é despertada, mas desde o evento
Calvário já estávamos unidos a ele. Em terceiro lugar, esta união não pode ser explicada ou
exemplificada por nenhum outro modelo de união. Em quarto e último lugar, não podemos
comparar nossa união com Cristo à relação corpo e cabeça.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta obra vem de encontro a um profundo anseio no meio da igreja quanto a real
obra que o Espírito Santo opera na vida dos eleitos de Deus, demonstrando através do que
foi até aqui estudado, a sua profundidade e extensão, o que lhe é devido de forma exclusiva
e o que lhe é atribuído em conjunto com as demais pessoas da Trindade.
Ademais, através do que até foi estudado da obra, podemos ter a noção do quanto
parte da igreja se manteve correta quanto a doutrina da obra do Espírito Santo, mas também
tristemente observar o quanto a outra parte da igreja tem se distanciado e invertido a obra do
Espírito Santo na igreja e nos eleitos de Deus.