Download - Revista Cyber Franciscano julho 2015
Província São Francisco de Assis - OFM/RS - Ano I Nº 4 - Março - Abril 2015
Cyber FranciscanosRevista Digital
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ÍNDICE
EXPLICAÇÃO LEITURA DIGITAL
03 - ÍNDICE
04
19
11
Bíblia e Ecologia
08O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa
TeologiaMoralem Kant
Ecologia –É precisomais do quepalavras deocasião. É preciso atitudepara preservá-la!
17
Recebemos um grandepresente de nosso Papa Francisco
BÍBLIA Todos os que de uma ou outra forma tomaram a sério a leitura da Bíblia, e se debruçaram para descobrir uma fundamentação , ou até informação sobre os mais variados assuntos de suas preocupações, será que estes encontraram uma referência sobre o tema da Ecologia? – É pergunta inicial que qualquer cidadão, ainda mais se for estudioso do tema, se terá feito, pois atualmente as inquietações em torno do clima, preservação da natureza, entre outras, tomaram um rumo quase que incontrolável. Não existe certeza do que vai acontecer... Fala-se em ameaças sérias que não estão apenas na cabeça de algum visionário. Há renomados cientistas que, com dados catalogados em experiências, apontam para uma catástrofe. Podemos armar com os cientistas sociais do século 19, na Europa, “que um espectro ronda a Europa.” A agravante de agora é que ela atinge todo o mundo, com incidência mais pesada sobre os pobres. Para responder ao questionamento em relação à Bíblia, podemos conrmar que ela não se pronuncia nesta direção. A não ser que se force o texto, e se faça uma leitura fundamentalista, o que distorceria a mensagem no seu conteúdo.
Se essas palavras iniciais tiverem despertado nossa vontade de ver alguma luz nesta direção, estamos convidados a nos deixar guiar onde pudermos honestamente encontrar resposta. Sempre acompanhados com uma visão crítica, seja literária ou de interpretação da palavra na Bíblia, procurando não desviar o foco entre a Ecologia como ciência e entre o enfoque da fé que, em primeiro lugar, vise o Homem e a Mulher como principais interessados a terem sua integridade preservada. Anal, são os pontas-de-lança do processo que teve um começo. O futuro dirá como será seu m.
Essa é a intenção desta pesquisa. Textos bíblicosEscolhemos alguns textos em torno aos
quais faremos nossas análises:1) Gn 1,1-31; 2,1-252) 1Rs 17,1-24; 18,1-463) Ecl 3,9-224) Ez 47,1-125) Is 65,17-256) Ap 21,1; 22,1-27) Intervenções de Jesus em
episódios descritos nos quatro Evangelhos, ligados a imagens do campo e da Natureza.
I A Bíblia falaGn 1,1-31; 2,1-25
Quando uma pessoa, não importa sua qualicação intelectual ou prossional, decide ler e meditar os textos apontados acima, não poderá deixar de admirar a forma com que apareceram essas narrativas, mesmo não recebendo nenhuma interpretação. A reação é que estejam envoltas numa linguagem de sabedoria e mistério ao mesmo tempo. Alguns param por aí. Outros procuram entender. Um terceiro grupo chega a dizer que lidaram com algo superior. Mexeu com a mente e com a emoção à medida que se envolveram na leitura, armam. Esse fenômeno se restringe por vezes somente ao contato com os versículos acima apontados. Diante disso, vamos ater-nos a alguns pontos que nos poderão orientar.
1) O desdobramento dos 6 dias da criação segue uma ordenação didática de como a criação foi ordenada(segundo o desígnio de Deus). Inicia com o nada, apenas os abismos penas os abismos, as trevas e o “vento de Deus”(é o Espíirito?) soprando sobre as águas. Deus cria a luz e decide que haja divisão entre luz e trevas como elemento necessário para que a criação continue a existir(Gn 1,3-5). É noite e dia. Trabalho e descanso. Também isso vale para as águas nos dois rmamentos, o de cima e o de baixo(Gn 1,6-8).
Em seguida a criação vai desenvolver-se em torno aos mares e a terra(Gn 1,9-10). Então continua com o aparecimento de árvores frutíferas, que deem sementes. Que haja verduras...(Gn 1,11-13).
2) A criação da raça humana dá o tom central da narrativa que acontece no 6º dia(Gn 1,27). Tem algo especíco.
Agora os detalhes aparecem com uma tonalidade teológica ainda mais contundente neste episódio aos olhos do leitor. O que poderia não ocorrer anteriormente, a interpelação aqui tem a ver com a fé no Deus Criador. O questionamento é: teria razão de haver um ordenamento da criação, se não
Bíblia e Ecologia
BÍBLIAexistisse quem lhe desse sentido e continuidade? Ou, em termos bíblicos, “submetesse a terra”? Esse ponto é decisivo para entender a observação do narrador, ao contemplar a criação :“Deus viu tudo o que tinha feito: e era muito bom”(Gn 1,31a.).3) Em vista do ser criado, conclui: Deus descansou no 7º dia. Esse dia também foi abençoado e santicado, como os outros 6 dias. Aí está um ponto que merece nossa atenção. Ouvimos notícias, análises, que insistem em que devamos olhar sinais catastrócos de clima. Sem dúvida, nunca é demais observar o que a natureza nos vem apontando. E não se deve fugir. Seria uma atitude irresponsável. Porém, estar alertas.
4) A força da profecia na Bíblia aparece com o posicionamento do profeta Elias. Assim nos detalha o 1º Livro dos Reis.A profecia pode soar estranha a nós hoje, pois contem um forte simbolismo, como lemos em 1Rs 17,1-18,46. Vale a pena conferir.
O que está por trás? Será o abandono da crença em Javé tão decisivo que o povo deverá ser provado por uma seca que castiga a natureza toda(como reparação), e que anal só termina com a degola de sacerdotes dos deuses de uma Religião importada do estrangeiro? – Lição dura que devemos tirar do texto e da análise para nosso tema.
5) Um livro sapiencial, que faz parte de literatura adotada em tempos em que o povo de Deus não estava entendendo a guinada do curso da história que os Gregos impuseram com autoridade. Era necessário saber discernir que direção os acontecimentos estavam apontando. Decidimos olhar de frente o capítulo 3 do livro de Eclesiastes. Mais especicamente Ecl 3,9-22.O trabalhador procura compreender seu labor, sua fadiga, e se apresenta diante de Deus para que lhe explique e clareie sua missão. Em meio ao seu problema arma negar que haja felicidade para quem não se empenha em conquistá-la. Confuso, e como se voltasse atrás, confessa que é necessário aceitar que tudo é dom de Deus. E saber que a tarefa é imensa. Consiste em restabelecer o direito e a justiça. Há tempo para tudo.
Acrescenta depois que a condição do
homem é a de animal. “pois a sorte do homem e do animal é idêntica: como morre um, assim morre o outro...”Ecl 3, 19. Conclui armando “que não há felicidade para o homem a não ser alegrar-se com suas obras”Ecl 3,22a.Parece contradição com o livro do Gênesis, onde o ser humano é convidado a dominar o universo, as criaturas, os animais. A linguagem e a realidade não são mais a do Paraíso. Há escravidão.- A situação humana deve ser essa?6) Ez. 47-1-12, abre a imaginação para os que pretendem voltar do Exílio, mas se perguntam como vai estar o Templo em Jerusalém e o que vai mudar quando houver abundância de água saindo dele. Caracteriza uma utopia, uma esperança. Pois isso nunca ocorreu. Quer animar os que voltam, fazendo-lhes ver que em sua pátria também vai ter vida, assim como existe às margens dos rios da Babilônia. A terra prometida novamente está no seu horizonte.Na descrição chama-nos a atenção o surgimento de árvores que ladeiam o curso das águas. Águas que no mar Morto(ou da Arabá), se tornam salubres. Além de outros animais que povoam as águas, haverá abundância de peixes. E o mais espetacular é que haverá vida. Pescadores povoarão as margens. E sal terá somente nos brejos e pântanos, lugares destinados para as salinas.E, por m, crescerá toda sorte de árvores frutíferas, que não perdem as folhas nem os frutos se acabam, e todo mês darão novos frutos, pois ”sua água provem do santuário, motivo porque seus frutos servirão de alimento e suas folhas de remédio(Ez 47,12c). Pode? – O desao é organizar corretamente a releitura de Gn 2,4b-15. É que estamos frente à frente de uma correção do que a Bíblia pretende da vida e como deve ser desenvolvida para que seres humanos e animais, com a natureza, possam viver.7) Enquanto nos anima a profecia de Ezequiel, e anal se cumpra, vamos acompanhar as diculdades que o 3º Isaías(assim se conhece o livro das profecias de Isaías, capítulos 56 a 66)enfrenta quando orienta o povo na volta do Exílio. Ele o faz comparando os tempos cheios de vigor, sempre na esperança renovada, para desta forma sentirem que Javé, seu Deus ,cumpria a promessa.
Bíblia e Ecologia
BÍBLIA Seguimos o texto do cap. 65,17-25.A Bíblia de Jerusalém intitula o capl 65 de “O julgamento futuro”. Julgamento aqui não tem logo a ver com júri, acusação e defesa, réus. Trata-se da visão de Javé como Pai, que teve e tem misericórdia de seu povo. Olha para os que permaneceram éis e voltaram. Conaram e se instalaram na terra.Entendemos assim concretamente a expressão:”Vou criar novos céus e nova terra”(Is 65,17). Ora, seguindo esse raciocínio, a armação tem a ver com paraíso, felicidade messiânica.Segue ainda mais o texto descrevendo em que consiste essa renovação: criancinhas vão poder viver; velhos vão morrer em idade avançada; construção de casas habitadas pelos que as edicaram; frutos consumidos pelos que plantaram. Como acima vimos, encerra com as guras do lobo e cordeiro, leão e boi, se alimentando juntos. Serpente terá o pó como sustento. Isto é, nada de mal ou violência atingirá aos seres. Assim como foi uma vez, poderá ser novamente, dependendo dos que ouviram e seguiram a voz do Pastor Javé.8)Apocalipse, livro que levanta a esperança
das Comunidades perseguidas pelo poder imperial. Depois de mostrar através de uma rica e fantástica simbologia, de que o medo deve ser substituído pela fé e esperança naquele que é o Julgador por excelência – Deus – nada pode tirar a conança daquele que é el. Aliás, aqui se repete o profeta do 3º Isaías.“Vi então um céu novo e uma nova terra,
pois o primeiro céu e a primeira terra se foram, e o mar já não existe” Ap. 21,1. É a aspiração mais forte que o povo sofrido e perseguido sente quando uma luz ilumina e encoraja. Essa luz é ponte que une desânimo de um lado, e vida do outro lado. No cap. 22, 2, também se lê:” No meio da praça, de um e de outro lado do rio, há árvores da vida que fruticam doze vezes, dando fruto cada mês; e suas folhas servem para curar as nações”. Se quisermos conferir, mas é texto paralelo com Ez 47,12.Juntam-se fé e coragem para encaminhar o que essa palavra tão preciosamente nos traz.
O QUE CONCLUÍMOS:Dizíamos ao iniciar interessava organizar a
ligação BíbliaXEcologia, contanto que percebêssemos que jamais pode ausentar-se o ser humano, como primeiro interessado em que pesquisas ou estudos como este,
centrassem primeiramente as atenções no ser humano, homem e mulher.E mais, que somos os primeiros interessados em equacionar os problemas que cada vez mais começam a assustar, pois, segundo alguns, há catástrofes iminente, caso não haja mudanças na forma de resolver os problemas.
Dito isso, através da Bíblia, mesmo com suas posições de análise serem de outros tempos, sobram iniciativas, convicções, e toda uma mística em torno à terra, que nos despertam e motivam.
Nem tocamos naquilo que Jesus de Nazaré tem como prática na valorização de tudo que a natureza pudesse auxiliar no anúncio do Reino. Basta apenas lembrar que em suas pregações se serve frequentemente de guras com as quais tinha familiaridade, assim como seus ouvintes. O carinho que trata todo ser vivo, com lugar especial para a gura humana, destacando aí o pobre.
Somos homens e mulheres responsáveis pelo universo criado. Entreguemo-lo aos que virão depois de nós para levarem vida sadia, abençoada pelo Criador.
:
Porto Alegre, 26 de junho de 2015Frei Plínio Ricardo Maldaner
Bíblia e Ecologia
Uma entidade mantida pelo ICSFA – Instituto Cultural São Francisco de Assis, entidade de caráter público, sem ns lucrativos, de assistência social, dos Freis Franciscanos do Rio Grande do Sul. Desenvolvendo inúmeras atividades que possam garantir o desenvolvimento e assistência de muitos jovens em situação de vulnerabilidade social.
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Cyber Franciscanos Out 2014
NAS ENTRANHASDA MÃE NATUREZA
Quando me ponho a recordar de meus tempos de guri, lá na Posse São Miguel, município de Não Me Toque, RS, vem sempre à memória o uso dos chás. Colher “macela” no amanhecer da Sexta Feira Santa ou da Páscoa era um rito sagrado. Folhas fervendo na água, raízes e folhas na cachaça, xaropes....só doença “braba” nos levava até um médico. Lembro até onde estava o pé de “cancorosa”, atrás da casa, perto do Rio Colorado, pouco acima de um “pesqueiro” bom para pescar jundiás em dias de chuva com as águas embarreadas.
Mas o que quero trazer à mente nestas reminiscências é outra lembrança intrigante, a de um andarilho que de tempos em tempos passava lá por nossa casa. Chamava-se João Maria Damasceno (“Damascena”, no dizer do povo). Cabelos longos, barba branca, madrugador, não aceitava dormir nem comer dentro das casas. Pousava no galpão e comia na área da casa o prato de comida que minha mãe, Dona Jurema, lhe dava. Onde o tratavam bem, permanecia alguns dias; onde tratassem mal, seguia estrada. Benzia, quando pediam. Dava conselhos e seguia pelos caminhos com uma pequena trouxa nas costas. Falo da década de 1960, não sei precisar os anos. Lembro-me de um conselho que ele repetia: “Mel, alho e limão não podem faltar numa casa de família”. Mais tarde aprendi que “Quem tem mel, alho e limão tem uma farmácia em casa”. Com o tempo conheci a história dos santos monges, os barbudos que peregrinaram pelas estradas do Rio Grande, Santa Catarina e Paraná, animando os caboclos, ensinando bênçãos, orações e o batismo em casa. Benziam fontes de água onde muitos bebiam, banhavam-se e saiam curados. Fizeram fama de milagreiros e devolveram saúde a muita gente. Ensinavam o uso dos chás e o poder curativo da natureza, como dádiva divina. Marcaram gerações e a tradição que zeram passou de boca em boca chegando até nós, mesmo com o desprezo das academias e das estruturas ociais das religiões. O primeiro destes monges chegou a Sorocaba, São Paulo, vindo da Itália, em 1844. Registrou-se na imigração como Frei João Maria D'Agostini, mas é lembrado pelo povo e historiadores como Monge São João Maria. Há
registros de que foi candidato à vida religiosa franciscana no Piemonte, Itália, mas desistiu para ser missionário solitário pelo mundo. Conviveu com índios e camponeses e aprendeu com eles. Foi preso acusado de curandeirismo pelo Governo do Rio Grande do Sul da época e deixou marcas e ensinamentos por onde passou. Os municípios de Candelária e São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, ainda guardam marcas vivas de sua passagem entre nós. João Maria peregrinava pobre e sem posses, ensinava fé e conança em Deus, propagava a terapia da água e os poderes curativos da natureza e das bênçãos. Fez história, construiu cultura e deixou seguidores. Veio o segundo João Maria, que andarilhou por Soledade, Lagoão, Tunas e arredores. Depois foi o terceiro João Maria que percorreu as terras de Erechim, Lagoa Vermelha e adentrou Santa Catarina andejando por Lages, Curitibanos e seus arredores. Um dos que se inspiraram neles, o José Maria, foi assassinado num conito armado que fez explodir a guerra do Contestado e os massacres lá perpetrados. Em Lapa, no Paraná, há até hoje uma gruta dedicada aos Santos Monges. Mas sua saga não morreu e de boca em boca, de ouvido em ouvido, o povo os preservou. Talvez eu tenha conhecido o último deles, o Damasceno, em minha infância, recebendo comida na área da casa das mãos de minha mãe. É muito provável que tenha sido ele a viver, talvez com idade próxima de cem anos, seus últimos dias, no Município de Novo Barreiro, RS. Padre Paulo Cerioli o acolhia no Salão Paroquial daquela comunidade na década de 1980. Também no m do século XIX, em 1898, chegava ao sul do Chile o missionário capuchinho alemão, frei Tadeo Wiesent. Além da paixão missionária e do ardor pelo Evangelho, este frade capuchinho era profundo conhecedor de Medicina Natural. E ass im este discípulo de São Francisco evangelizava e curava vivendo com a população pobre e abandonada do sul do Chile. Com este povo e suas tradições indígenas, especialmente o povo Mapuche, t a m b é m m u i t o a p r e n d e u F r e i T a d e o construindo uma síntese de remédios, técnicas e meios de prevenção e cura unindo o que aprendera na Europa com o que aprendia
O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa
aqui com os camponeses e indígenas da América. A água, as plantas e o contato com a natureza eram elementos essenciais de sua medicina. Um dia Frei Tadeo sofre desprezo em seus conhecimentos médicos da parte de um jovem estudante de medicina da capital, Santiago, Manuel Lezaeta Acharan. Anos mais tarde este estudante cai doente, é desenganado pelos médicos da medicina convencional, mandado a casa para morrer. O jovem médico procura Frei Tadeu e resulta curado. Lezaeta torna-se discípulo do frei capuchinho, sistematiza seus conhecimentos e constrói, com estudo e prática, o arcabouço cientíco da Medicina Natural na América Latina. Em seu livro “Medicina Natural ao Alcance de Todos”, publicado no Brasil pela editora “Momento Atual”, vemos uma densa gama de conhecimentos sistematizados e organizados capazes de traçar outra rota de prevenção, terapia e cura que não seja a dependência da indústria química e farmacêutica e de uma medicina nanceirizada que mais serve à doença que à saúde. Frei Tadeo encerra seus dias, num último gesto de doação evangélica e missionária, junto aos hansenianos na Colômbia, a seu pedido. Vive de 1922 a 1926 num leprosário até seu falecimento. Enquanto isto, as ideias e os conceitos de Medicina Natural de Manuel Lezaeta, o seu mais importante discípulo, ganham o mundo com seguidores e inimigos.
Lezaeta também arma a importância da água e das plantas na prevenção, na terapia e na cura. Aprende com o povo a importância do alho, do limão e da erva cavalinha. E do contato com a mãe natureza. E segue a trilha de Frei Tadeo vendo como elemento essencial da terapia e da cura, a valorização da pessoa humana e da relação humanizada entre o médico e os que o procuram (mal chamados de “pacientes”). As sagas do Monge São João Maria D'Agostini e do Frei Tadeo Wiesent se tocam e se completam sem nunca terem se conhecido. Ambos têm em suas origens as marcas de Francisco de Assis. Ambos colocam-se ao serviço dos pobres. Ambos abandonam suas terras para serem missionários. Ambos trazem uma vasta bagagem cultural da Europa, mas consol idam seus conhecimentos com a troca de saberes com os povos indígenas, seus conhecimentos e práticas ancestrais. Ambos fazem escola e deixam rastros em suas passagens. Ambos são aos poucos redescobertos em nossos atribulados dias de início do século XXI, em plena crise da medicina química e dinheirista e dos alimentos envenenados. Milhares de pessoas simples do meio do povo pelo Brasil afora preservam em seus usos e costumes os chás e suas receitas e o uso das
plantas medicinais na saúde: na prevenção, na terapia e na cura. Da mesma forma, na culinária, na agricultura, na criação de animais e nos usos domésticos. Anônimos para o mundo da linguagem escrita, esquecidos pelas academias, ignorados pelos meios de comunicação, mas reconhecidos e respeitados em suas comunidades. Há alguns e algumas, porém, que vem se preocupando em juntar e sistematizar estes conhecimentos populares e preservá-los de forma escrita. O trabalho paciencioso de Frei Wilson Zanatta, discípulo de Francisco de Assis na bela tradição capuchinha, em seu l ivro “Ervas Medicinais”, publicado pelo Instituto Cultural Padre Josimo, inscreve-se neste esforço de coletar, sistematizar, registrar, escrever e publicar este enorme acervo de sabedoria popular. É antes um trabalho paciente de aprender com o povo sobre “Ervas Medicinais”, “Remédios Caseiros”, “Dicas de Saúde” e outros conhecimentos da Sabedoria Camponesa. Vejo esforços como este como continuação criativa de algumas tradições espirituais e terapêuticas, entre as quais, destaco: a do Mestre Nazareno Jesus, a de Francisco de Assis, a de João Maria e a do Frei Tadeo. Jesus pregou e curou e enviou a pregar e curar. Creio que hoje o milagre de curar está nas entranhas da mãe natureza. Francisco de Assis seguiu o Nazareno não com discursos, mas limpando feridas e devolvendo a dignidade a hansenianos jogados nas grutas como se lixos humanos fossem. Do João Maria e do Frei Tadeo já contei o suciente. Por tudo isto, quando falamos da “Saúde que brota e cresce das Entranhas da Mãe Natureza” dizemos muito mais que “receitas”, muito mais que “chás”, muito mais que “remédios”. É sabedoria, é história, é cultura, é mística, é fé, é conhecimento popular, é crença nas potencialidades do povo, é densidade humana, é amor à vida.
Frei Sérgio Antônio Görgen ofmHulha Negra, abril de 2015
O cultivo da Saúde na Sabedoria Camponesa
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FILOSOFIA
Resumo
O artigo tem o objetivo demonstrar, que
o papel da razão pura no âmbito moral é a
razão pura prática, na ligação do mundo
inteligível com o mundo sensível, tento em vista
a p o s s i b i l i d a d e d o c o n h e c i m e n t o
transcendental e o papel de Deus para esta
relação. Immanuel Kant é sem dúvida um
lósofo deísta, que atribui a representação de
Deus aos homens por meio exclusivamente da
razão, faculdade natural do ser humano. A
concepção teleológica da natureza e ́
fundamental para concebermos uma teologia
moral em Kant. Deus se representa então na
completude dos fatos da razão pura prover sua
possibilidade e da razão pura prática provar
sua existência no mundo sensível, logo, na
moralidade. A moral e a religião devem ser
compreendidas de forma unicada.
Palavras-chave: Razão pura, Teologia moral,
Deus, Transcendental.
Abstract
INTRODUÇÃO
O célebre lósofo alemão Immanuel
Kant tem sua losoa difundida por aspectos
formais, e suas Críticas têm uma grande
contribuição na história da losoa. Kant é
muito estudado no direito, nas relações
internacionais, e na sua ética deontológica. Na
medida que sua importante losoa prática é
estuda no mundo todo, é necessár io
demonstrar sua visão quanto a Deus. Pode-se
desmiticar, que o racionalismo kantiano não
exclui sua concepção deísta. A religião é a
moralidade como um m do ordenamento da
razão, que ao estabelecer seu dever, torna-se
o ordenamento de Deus, isto é, primeiramente
há uma construção do que deve ser, e após,
uma atribuição deísta. O presente trabalho
tem o objetivo demonstrar como a moral
kantiana é vista sob o viés de uma moral
teológica.
Deus é concebido como uma força de
propulsão moral que se justica através do
conceito e do princípio prático do dever. Deus
seria a lei que se determina na moral. Esta
encontra-se fundamentada em Deus,
especialmente através da vontade, por meio
da Teologia. No âmbito ontológico, Kant diz
que existe "algo" que subsiste por si mesmo sem
outra causa como fundamento. A relação
entre Deus e moral, é a possibilidade de
explicar por meio da razão a existência de
Deus.
2 PRIMAZIA DA RAZÃO
É possível explicitar a existência de Deus ao que
cerceia a razão pura. Kant é conhecido por sua
formalidade e o seu caráter extremamente
racional nas suas obras e teorias. O lósofo
alemão, buscou delimitar a razão e seus usos,
dividindo assim, a razão teórica e a razão
prática, ao que concerne a primeira reger as
condições do conhecimento, a segunda ao
que diz à vontade. A armação kantiana “todo
conhecimento inicia pelas experiências”, é a
atribuição do conhecimento aos fenômenos,
objetos observáveis, aqueles que propiciam as
impressões. É possível conhecer o que lhe
parece, então, no conhecimento empírico o
sujeito recebe a aparência dos objetos.
Claramente, o conhecimento de Deus não se
atribui ao conhecimento empírico.
O conhecimento empírico chama-se de
fenomênico, dentro deste há os juízos
sintéticos, os quais ampliam o predicado do
sujeito, com base nos dados sensíveis.
Para tal conhecimento é necessário as
condições de tempo e espaço, pois, estes sãos
a s c o n d i ç õ e s d e p o s s i b i l i d a d e d o
conhecimento fenomênico, um fenômeno só é
Teologia Moral em Kant
observável dentro destas condições. Estas condições são a priori, chamam-se intuições puras. Logo, os fenômenos são passíveis de conhecimentos porque estão no espaço e tempo, as leis só podem ser enunciadas na ciência, por exemplo, quando são aplicadas nas mesmas condições espaço tempo. Por intuição, entende-se, como o ato do espírito que toma conhecimento diretamente de uma individualidade, efetivando o conhecimento de um objeto, neste se enquadra o espaço e tempo.Diferente do conhecimento observável, tem-se o conhecimento puro, como aquele independente dos dados sensíveis, sua fonte é absolutamente na razão mesma (razão pura). O grande passo kantiano é o produto de sua crítica da razão pura. Ao postular a possibilidade do conhecimento transcendental, soluciona o problema da possibilidade do conhecimento metafísico, pois, aquilo que não pode ser observável deve ser ao menos pensado. Anal, o que é o conhecimento metafísico? É preciso compreender o objeto do conhecimento metafísico, como a coisa-em-si, a priori, aquilo que não é possível experienciar, a exemplo, a liberdade e, principalmente, a representação de Deus.
Devido a faculdade inteligível, a razão pura
é capaz “de pensar o incondicionada para
todo o condicionado”. Assim tendo como
condição de possibilidade do conhecimento
puro, os conceitos puros(1), reformulados por
Kant, para atenuar o realismo aristotélico, são a
possiblidade, do sujeito enunciar juízos sobre o
objeto no espaço e tempo, por uma relação
causal. Produzindo a universal idade e
necessidade do conhecimento puro a priori.
� Sua losoa moral presente na obra
Fundamentação da Metafísica dos Costumes,
é talvez a obra que melhor demarca princípios
universais, por meio da razão pura. Na ligação
entre Deus e moral é possível observar no ponto
da obra A Religião nos Limites da Simples
Razão. Princípios como, liberdade, autonomia,
e n t r e o u t r o s p r i n c í p i o s p r e s e n t e s n a
moralidade, determinados pela razão pura.
Após esta demarcação racional há uma
condição de possibilidade de Deus.
3 RAZÃO PURA UMA CONCEPÇÃO DEÍSTA
A razão pura é a faculdade inteligível do ser, a
primazia desta faculdade revela ao homem a
apresentação de Deus, por meio da razão e
não como uma representação imposta. O
lósofo alemão pode ser considerado deísta e
na poção que uma religião natural é fundada
na razão pura. Na medida, que sua
moralidade é alicerçada à razão na sua
teologia é similar, assim, marca o caráter
moral de sua teologia. Segundo Allen Wood,
Kant é um monoteísta que acredita na
benevolência e providencia de Deus, porém
não aceita religiões impostas ou uma fé
baseada, por exemplo, em tradições da
bíblia, datas religiosas, ritos religiosos.
A premissa presente na obra kantiana A
Religião nos Limites da Simples Razão, “Mas
então vale igualmente o princípio: não é
essencial e, portanto, não é necessário a cada
qual saber o que é que Deus faz ou fez em
ordem à sua beatitude; mas sim saber o que ele
próprio deve fazer para e tornar digno desta
assistência” (KANT, 2008, p. 63). Esta denota,
que o lósofo referido acredita na existência de
Deus, porém quanto a religião deixa claro que
a autonomia deve ser móbil para ela. Utiliza-se
da liberdade, da razão autodeterminada para
impor sua crença. Não admite o comando
divino para com a sociedade, como um poder
superior a todos, que enuncie ordens divinas
aos crédulos. Kant sustenta uma sociedade
1 - Kant propõem uma revolução, que modica toda a concepção tradicional do conhecimento. As “coisas” nos enviam apenas impressões, logo, são elas que se ajustam aos nossos conceitos puros. Portanto a relação objetos para o sujeito não é mais dada, e sim, sujeito para o objeto. O sujeito que determina o conhecimento, por meio da razão, devido que há algo anterior aquela impressão imposta pelos objetos, o a priori só é possível no sujeito. Os conceitos puros, reformulados por Kant para reformulação das categorias, e elucidação do realismo aristotélico, eles são impostos ao objeto por meio do sujeito cognoscente, ajustando-se ao sujeito e não o oposto, como era tradicionalmente visto.
FILOSOFIATeologia Moral em Kant
que age por meio a razão primeira, a qual é
seu dever, autodeterminando com base no
princípio de autonomia. Após determinar seu
dever o homem considera o como comando
divino, constituindo assim a teologia racional. É
uma relação necessária, mas, primeiramente,
o sujeito deve saber seu dever e após esta
demarcação aceita-lo como um comando de
Deus.
Religião é (subjetivamente considerada)
o reconhecimento de todos os deveres
como comandos divinos. A religião
consoante a qual eu devo, primeiro, saber
que algo é um comando divino para,
então, considera-lo um dever, é a religião
revelada (ou aquela à espera de uma
revelação); pelo contrário, a religião
consoante a qual eu devo primeiro saber
que algo é meu dever, antes que eu o
possa acatar como um comando divino,
e a religião natural. (KANT, 2008, p. 142-43)
Por um lado, a vontade autônoma, por outro
lado a existência de Deus como uma
entidade independente e propulsora, que por
meio da razão pura, está presente na losoa
prática kantiana.
3 CONHECIMENTO TRANSCENTAL
Surge então o seguinte questionamento, o
que é transcendental? A crítica da razão pura,
resulta na explicação da possibilidade do
conhecimento a priori. Todavia, somente são
conhecíveis os fenômenos e não as coisas-em-
si-mesmas. Assim como, a solução para a
possibilidade da metafísica o que não pode ser
conhecido deve ao menos ser pensado. O
exemplo pode ser o conhecimento de livro,
deve ser precedido pelo conceito puro que
possibilita esse conhecimento.Conforme Kant é
“transcendental todo conhecimento que em
geral se ocupa, não tanto com objetos, mas
com o modo de conhecer os objetos”, assim
resultante da crítica da razão pura, em que é
restringido o uso da razão, àquele que precede
as experiências, mas essa restrição mesmo que
negativa, ela torna possível outro nível do
c o n h e c i m e n t o , o c o n h e c i m e n t o
transcendental. Já que não se pode conhecer
os objetos como coisas-em-si, deve ao menos
poder pensá-los, diz Kant. De outro modo, para
toda a completude da série de causalidade,
deve ser pensado o incondicionado.
Em suma ca expresso, se por um lado existe
uma restrição para o conhecimento apenas de
fenômenos, então, há uma necessidade de
pensar as coisas enquanto númenos( Em síntese
distinção kantiana: nûmeno, conhecimento no plano
inteligível e fenômeno, conhecimento no plano sensível
do conhecimento). Ao restringir o uso da razão,
resulta em uma utilidade negativa e positiva. A
via negativa da crítica é, no entanto que todo
o conhecimento da razão especulativa,
delimita-se pelo objeto da experiência, a
l i m i t a ç ã o a o c o n h e c i m e n t o p a r a o
fenomênico é o lado negativo da restrição,
mas o que limita, também torna possível o
transcendental. No qual é a via positiva, devido
que tudo que ultrapassa a experiência está no
campo transcendental do conhecimento.
Assim a imposição do limite demonstra o uso
prático da razão, como a possibilidade de
o u t r o p r i s m a d o p e n s a m e n t o , o
transcendental.
5 DA RAZÃO PURA PRÁTICA À TEOLOGIA
MORAL
A razão prática, pois, a consciência moral, consegue conduzir o homem até verdades m e t a f í s i c a s d a s c o i s a s q u e e x i s t e m verdadeiramente, por um acesso inteligível do ser, saindo do âmbito apenas fenomênico. O uso prático da razão pura prática é explicitado na obra de
FILOSOFIATeologia Moral em Kant
Kant A Fundamentação da metafísica dos
costumes, em que demonstra exemplos de
atos morais, porém para Kant não há
possibilidade de fundamentar a moral por
constatação empírica. Surge então a seguinte
questão, qual a fonte para os princípios da
moralidade? Como resposta o lósofo alemão
delega a razão pura, essencialmente a priori,
posto que, as diretrizes da moralidade devem
se dar por meio desta, a qual necessita reger a
vontade do ser humano. O valor moral, é
então, aquele que independe das ações
empí r icas para sua fundamentação.
Conforme a seguinte citação:
Se, pois, não há nenhum autêntico princípio
supremo da moralidade que, independente
de toda a experiência, tão tenha de fundar-se
somente na razão pura, creio que não é
preciso sequer perguntar se é bom expor estes
conceitos de maneira geral (in abstracto), tais
como existem a priori juntamente com os
princípio que lhes parecem. (KANT, 2007, p.43)
A razão é autossuciente, tem no seu
caráter condições necessárias para si mesmo.
A primazia da razão que o leva a uma posição
essencialmente deísta. Deus se apresenta ao
homem por meio da razão, a mesma razão da
moralidade, é a razão deísta. Os princípios básicos da moralidade levam a sociedade a um reino de sujeitos morais baseados na vontade boa, evidentemente em um sumo bem kantiano. Um sujeito autônomo é um sujeito livre nos seus atos, essa implicação autonomia e liberdade é importante no momento em que o agir moral dispõe ao homem construir uma sociedade moral teológica. Aqui há uma analogia entre a moralidade e a teologia, em sua concomitância resulta a teologia moral. Somente é livre aquele que a razão determina e que não é coagido a agir segundo leis externas, não pode o homem aceitar, por exemplo, simbologias como a bíblia, terço, ou mesmo a catequese, o
homem deve delimitar seu dever naturalmente por meio de sua razão que dá acesso então a Deus. O agir autônomo é o agir segundo leis da liberdade, este é o fundamento da dignidade de estar sob a proteção divina, e a benevolência de Deus.
O mundo moral é concretizado no mundo
sensível, por meio da racionalidade que eleva
o condicionado para todo o incondicionado, a
razão prática possibilita a conduta moral, em
que o homem discerni para o bem por meio de
sua natural faculdade racional, e Deus se prova
no mundo fenomênico por meio da conduta
humana considerada boa para todos os seus
semelhantes, deve haver o caráter universal e
necessário para o bem. O sumo bem é provado
na religião que o homem consegue denir para
si, na sua autodeterminação, esta é a prova
fenomênica da existência divina a teologia
moral. O sumo bem kantiano é o objeto mais
elevado de que a sociedade é capaz de
desejar. É neste conceito que a moral kantiana
se expande para a religião. Não há então
como separar a religião natural da conduta
moral, para que se possa compreender a
relação da possiblidade de Deus da razão pura
e sua existência como reexo do agir moral.
Para Immanuel Kant Deus é um ente
metafísico em que a razão primeira dá acesso
num plano numênico. Assim, as condições de
p o s s i b i l i d a d e d o c o n h e c i m e n t o s ã o
completas. Deus existe na primazia da razão
como possibilidade e expressa-se na conduta
moral da sociedade, tornando assim uma
religião natural dos seres, sem que seja imposta
externamente. Posto que, o desenvolvimento
moral do ser humano é oriundo da liberdade
ocorrendo assim, um aperfeiçoamento das
faculdades humanas. Segundo Carlos Adriano
Ferraz “ O agir segundo a lei moral (leis da
liberdade) nos faz dignos de esperar pela
felicidade [...] nos leva a religião”. (FERRAZ,
2005 p. 124). Perfeitamente é pressuposto do ser
humano desejar a felicidade, mesmo que para
FILOSOFIATeologia Moral em Kant
o lósofo o móbil deve ser a razão, deve
exist i r respeito entre a humanidade, a
felicidade encontra-se no plano metafísico da
religião, entrado na moralidade demarcada
pela autonomia. É necessário a compreensão
que a série de implicações morais possibilitam o
Sumo Bem.
A existência de Deus é igualmente trazida
pela necessidade da estrutura moral do
homem. Porque nesta estrutura inteligível foi
permitido chegar ao mundo das coisas em si,
diferente do mundo fenomênico expresso nas
atitudes morais. Em suma as palavras de
Morente sintetizam este ser divino em Kant, “
Deus é, pois, aquele ente metafísico o qual a
mais plena realidade está unida a mais plena
idealidade” (MORENTE, 1964, p. 259).
CONCLUSÃO
� O e s t u d o b u s c o u p r o p i c i a r o
conhecimento do sistema kantiano para
demonstrar a ligação da primazia da razão
pura com a existência de Deus. Posto que, a
moralidade é a condição de religião natural do
ser, que por autodeterminar-se é capaz de ser
livre, autônomo e digno da crença de Deus,
assim alicerçasse sobre uma teologia moral.
� Assim, pois, as vias que tem sua origem na
consciência moral e na sociedade moral
kantiana que age por meio da faculdade da
razão pura, apresentando o caráter necessário
e universal para todos os seus membros. Um
conceito liga-se ao outro, intrinsicamente a
moral do sujeito está nas leis auto legisladas e
postas sob um viés divino presente na razão
pura, que por sua vez é a possibilidade
inteligível da existência de Deus, representada
no mundo fenomênico pela moral teológica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERRAZ, A. Do Juízo teológico como Propedêutica à Teologia moral em Kant. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.
KANT, I. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
——. A religião nos limites da simples razão. Lisboa: Ed. 70, 2008.
——. Fundamentação da metasica dos costumes. Porto: Porto Editora, 1995.
MORENTE, M. Fundamentos de Fi losoa: l ições preliminares. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1964.
WEBER, T. Ética e losoa política: Hegel e o formalismo kantiano. Porto Alegre:Edipucrs, 1999.
Fernanda Felix de Oliveira
Graduanda em Filosoa pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. E-mail: [email protected]
FILOSOFIATeologia Moral em Kant
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JOVENS
Se perguntarmos para qualquer representante de entidades, comércio, empresas, poder público, estudantes, ou qualquer pessoa que encontrarmos na rua, se acham importante cuidar do meio ambiente, da ecologia? Não encontraremos ninguém que se colocará contrário, ou seja, todos aí se dirão defensores da natureza. Então por que vivemos uma crise ecológica sem precedentes? Por isso digo, é preciso mais do que palavras de ocasião, é preciso atitude, exemplo. � No primeiro parágrafo já dei o tom da mensagem que quero transmitir aos leitores desta revista, em especial a juventude que neste tema terão papel fundamental no presente e sobre tudo no futuro. � Há um ditado popular muito sábio, que diz que “ninguém cuida daquilo que não conhece”, e eu acrescento que é preciso além de conhecer, amar, para só então cuidar. Mas para amar não é preciso conhecer tudo, mas é fundamental conhecer o básico, por isso gostaria de iniciar com a pergunta. Você sabe o que signica Ecologia?� Ecologia é uma ciência que estuda os organismos vivos e a sua interação no meio ambiente. Decifrando melhor a palavra de origem grega, ecologia signica: eco = Oikos = casa, toca do animal, e logia = Logos = estudo, poderíamos pensar assim: Ecologia é o estudo da “casa”, seus habitantes e as relações entre si. Um cientista alemão chamado, Ernest Haeckel, usou pela primeira vez o termo ecologia em 1869 justamente para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem.� Então juventude, se Ecologia é o estudo da “casa”, de que “casa” mesmo estamos falando? A casa, grande casa Planeta Terra, que não está isolada mas inter-relaciona-se com outros planetas, com o sol e a lua, enm faz parte da “via láctea”e do cosmos. Apesar de dizer tudo isso detalhado, é preciso dizer que a terra, nossa mãe, nossa casa, é única, ou seja, é aqui que nós podemos viver, e isso nos remete a pensar se temos uma única casa para habitar, então para não carmos sem casa devemos tomar cuidados redobrados. Isso mesmo! Outra pergunta é fundamental para nosso melhor conhecimento sobre ecologia. Quem mora? Quem habita esta grande casa? Que pergunta hein? Parece óbvio, mas as vezes precisamos relembrar aquilo que parece que a gente sabe, mas as vezes parece que não.
Então quem habita o Oikos? As crianças da escola que há poucos dias visitei me responderam simples e diretamente, nós, os bichinhos e as plantas. E responderam bem certinho, é nós humanos que moramos nesta casa, as plantas, animais, e todos os seres vivos que conhecemos, que imaginamos existir, e aqueles que não fazemos nem ideia que existem, mas estão aí habitando conosco a grande casa chamada planeta terra ou poderíamos também dizer planeta água. Para os inquilinos desta casa, pois estão de passagem por aqui, temos outro nome bem legal e é bom sabermos, é Biodiversidade. Há cerca de 30 anos esta palavra passou a fazer parte do vocabulário no mundo. E fácil de entender, Bio-signica vida e Diversidade- diversos. Toda esta biodiversidade está interligada, em harmonia, como uma teia de aranha, pois uns dependem dos outros para viverem. Resumindo- Nesta casa de nome Planeta Terra mora uma família chamada Biodiversidade!!!� Gostaria muito de dizer a vocês que quando falamos de ecologia, estamos falando de toda a vida do planeta, inclusive a nossa própria vida.� Agora vem a pergunta talvez mais importante da minha reexão com vocês. Atualmente como vivem os moradores na grande casa? Como se relacionam? Imaginem vocês morando em uma casa com sua família, pais, irmãos, o vovô e a vovó, por exemplo, não seria possível habitar se não houvesse respeito, cuidado, diálogo, alimentação para todos, etc.� Infelizmente a vida não está nada bem, a casa está com muitos problemas e tem um inquilino chamado homem que está criando muitos problemas e confusões para todos, inclusive para si próprio. Pois é, aquela harmonia original da Ecologia está ameaçada e hoje existem muitos problemas entre os quais vejamos alguns dos principais: muita poluição das águas, seja por esgoto, lixo, agrotóxicos, etc. Destruição das orestas e com isso extinção de inúmeras espécies nativas, entre elas as abelhas que além de produtoras de mel são polinizadoras, para termos ideia, 30%da produção agrícola depende dos insetos polinizadores para produzir. Outro dado alarmante é o fato de que o Brasil é campeão mundial de consumo de agrotóxicos desde 2008, se dividirmos o volume de agrotóxicos jogados no solo do Brasil pelo número de
Ecologia – É preciso mais do que palavras de ocasião. É preciso atitude para preservá-la!
habitantes chega-se a 7,3kg por habitante, é muito veneno, com isso é mais venenos no ar, na água, no solo, nos animais e no nosso sangue também. São diversos problemas que afetam todos os moradores desta linda casa, não podemos esquecer de citar o problema do consumismo, da emissão de gases de efeito estufa que são os principais causadores das mudanças climáticas e de um outro que não posso deixar de falar, entre nós humanos há muita desigualdade social, ou seja, uns tem demais e outros não tem se quer o básico. Só para termos ideia, 1%dos brasileiros concentra a renda que somada equivale a renda da metade da população do Brasil, isso é também um problema que afeta a ecologia.O Papa Francisco lançou recentemente uma Encíclica em que condena o “uso irresponsável dos bens que Deus colocou na terra”e destruição da natureza que enriquece alguns em det r imento da misér ia de out ros . Precisamos ler e reetir o que o Papa fala nesta Encíclica.
Nós humanos assim como causamos muitos danos aos irmãos da mesma casa, mas também podemos e devemos ser a solução destes problemas, temos dois caminhos a seguir, o da ganância e destruição da nossa própria casa e de nós mesmos ou o da vida para todos e uma vida saudável. O que nós juventude podemos fazer para melhorar o convívio entre os moradores da casa planeta?
Algumas atitudes que podemos tomar começando por nós mesmos;
- Lutar ativamente por uma sociedade mais justa e igual para todos e todas.
- Ser consumidor consciente, que não é movido pelo modismo, mas pela ideia de utilizar racionalmente os recursos naturais sem desperdiça-los.
- Apostar na agro- , que é a ecologiaprodução ecológica, incent ivando a produção e o consumo de al imentos orgânicos.
- Apoiar as feiras de produtos ecológicos.- Fazer resgate e multiplicação de
sementes crioulas que são a base da produção de alimentos do planeta.
- Construir cisternas para coletar água de chuva e proteger fontes.
- Organizar uma horta ecológica para produção de hortaliças diversicadas, e isso é possível tanto no meio rural quanto no meio urbano.� Querida juventude eu quando jovem
participei de um grupo de jovens de Pastoral da Juventude e foi no grupo que eu aprendi muitas das coisas que faço atualmente com o projeto da Escola de Jovens Rurais que é um grupo de jovens que estuda tudo isso que escrevi no texto e procuram colocar em prática. Queria sugerir à vocês jovens que estão lendo meu texto, que organizem um grupo, seja de vizinhos, de colegas da escola, colegas da universidade, um grupo de amigos e amigas que se encontram para viver, para pensar na vida, etc. Vale apena.� Juventude, as palavras de ocasião não servem, é preciso atitude! Já ouvi dizer que, as palavras convencem e o exemplo arrasta. Que tal darmos nosso exemplo!!! Boa leitura.
� Por Maurício Queiroz
� Técnico em Agropecuária, trabalhando com
Agricultura Ecológica junto a Escola de Jovens Rurais na
Diocese de Santa Cruz do Sul e membro da CPT-RS.
JOVENSEcologia – É preciso mais do que palavras de ocasião. É preciso atitude para preservá-la!
Laudato Si
Recebemos na quinta-feira dia 18 de junho, um
grande presente de nosso querido Papa Francisco:
a sua primeira encíclica Laudato Si – sobre o
cuidado da casa comum. Mais uma vez o Papa
demonstra sua devoção e conhecimento dos
ensinamentos de São Francisco de Assis. Também
surpreende a todos e renova o seu compromisso
de fazer da Igreja uma Igreja de saída, de diálogo
c o m a s o c i e d a d e s o b r e o s p r o b l e m a s
contemporâneos. Ele retoma a célebre frase do
Patriarca Ecumênico Bartolomeu: “ Um crime
contra a natureza é um crime contra nós mesmos e
um pecado contra Deus”.
Segundo o jornalista e jesuíta Thomas Reese, a
encíclica está recebendo grande atenção dos
jornalistas e repercussão mundial: Primeiro porque o
tema é candente na sociedade de hoje, cada vez
mais esta se criando a consciência da necessidade
de cuidar melhor do meio ambiente – “ Existe o
consenso cientíco de que as mudanças climáticas
estão acontecendo e que é a atividade humana
que está causando isso”. Segundo porque ela foi
escrita pelo Papa Francisco – “ Este Papa é
admirado, respeitado e, até mesmo, amado em
todo o mundo por católicos e não católicos”. Sua
forma de se comunicar não é acadêmico, e sim
numa linguagem coloquial, que qualquer pessoa
possa entender a mensagem por Ele dirigida. A encíclica se destaca por falar sobre a necessidade de estabelecer um diálogo entre política e economia, e entre religião e as ciências, com uma condição sine qua non para responder à crise ecológica, de forma efetiva. “A política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma ecientista da tecnocracia. Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana” (189). O documento demonstra a todos que esses assuntos são centrais na fé cristã e que devem ser enfrentados como questão de justiça, paz e integridade da criação. Chamando tanto a Igreja quanto ao mundo a responder ao “ urgente desao de proteger a nossa casa comum” (13).
Para nós franciscanos a encíclica é inspiradora e
desaadora, pois o Papa resgata São Francisco de
Assis a partir do Cântico das Criaturas. A onde
apresenta uma teologia da criação, onde “ cada
criatura tem uma função e nenhuma é supéruo”
(84). Também quando deixa claro que cuidar do
meio ambiente é se preocupar com a pobreza, é
pensar no ser humano. E ter consciência que a Terra
é nossa casa comum.
O Papa Francisco ao mesmo tempo em que é
rme no apresentar a realidade de destruição e
descaso com a nossa casa comum. A encíclica é
também um convite ao diálogo. Um chamamento
a responsabilidade da comunidade internacional
que não pode car indiferente a destruição do
planeta.
Francisco está chamando o mundo para uma
conversão que terá impacto sobre o modo como
vivemos, sobre a forma como funciona a nossa
economia e na maneira em que os governos
operam. Exigir-se-á um sacrifício de todos,
especialmente dos ricos e poderoso, que estão
usufruindo dos frutos do status quo. “ Mas nem tudo
está perdido, porque os seres humanos, capazes de
tocar o fundo da degradação, podem superar-se,
voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além
de qualquer condicionalismo psicológico e social
que lhe seja imposto. São capazes de se olhar a si
mesmo com honestidade, externar o próprio pesar
e encetar caminhos novos rumos à verdadeira
liberdade” (205). Como Francisco de Assis o Papa
nos provoca a “ recomeçar de novo”.
A encíclica ao mesmo tempo que quer dialogar
com a comunidade internacional, com os
governantes. Ela também quer comprometer a
cada pessoa em particular a fazer a sua parte. Não
quemos nós indiferente a este grande desao que
o Papa Francisco nos provoca.
Frei Orestes A. Serra, ofm
Recebemos um grande presente de nosso Papa Francisco