Download - Revista Lapa Legal - Ano I Numero I
Ano I • Número 1 • Agosto de 2012 • R$ 10,00
Noite na LapaO Rio que não dorme
Carlinhos de JesusO novo malandro da Lapa
Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos
SelarónArte nas ruas
Entrev i s ta : Prefe i to Eduardo Paes – A Lapa v i rou bairro
A Cidade Maravilhosa sempre foi o berço de manifes-tações culturais que influenciam comportamentos, moda eque estimulam investimentos. A Lapa representa um poloexportador de costumes, ideias e modismos que repercutempara a cidade e em seguida para todo o país.
O bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, conhecido comoberço da boemia carioca e ponto de referência para osamantes da vida noturna, conta, a seu modo, um poucodessa história de crescimento da cidade e do seu potencialde desenvolvimento econômico, cultural e artístico. Umadas características marcantes do bairro é o seu patrimônioarquitetônico, onde tradição e modernidade convivem emharmonia com as mais diversas tribos musicais, numa per-feita tradução do espírito carioca.
Cerca de 60 mil pessoas circulam na Lapa, nos finais desemana, no horário entre 22 horas e 5 da manhã. Falar daLapa é, portanto, falar do Rio de Janeiro que deu certo, queainda tem muito a crescer e do qual nos orgulhamos muito.
Com o início do projeto de revitalização da ZonaPortuária, anunciado pela Prefeitura, Lapa Legal Rio sepropõe a ser um observador atento desse processo detransformação do Centro da Cidade e, mais particularmentedessa região, que uma vez recuperada, se integrará à Lapacomo grande centro artístico, cultural e de lazer da CidadeMaravilhosa.
Nos anos 50, a Lapa era conhecida como “MontmartreCarioca”, uma comparação com o famoso bairro boêmio deParis. Em fins da década de 90, o bairro passou por umprocesso de revitalização e renasceu junto com as novascasas noturnas onde se ouve samba, rock, chorinho, showscom artistas nacionais e internacionais, música eletrônica,hip hop, funk etc., em espaços como o Circo Voador e aFundição Progresso.
A revista terá agendas culturais, dicas gastronômi-cas, personalidades que serão convidadas a escreveremsobre diversos temas, humor, crítica de cinema, música,teatro, bastidores da história do bairro, poesia e muitomais. A finalidade da Revista LAPA LEGAL será informar,além de divertir e divulgar a cultura da cidade do Rio deJaneiro e do bairro da Lapa, que reúne artistas, boêmios,agitadores culturais e é hoje um dos pontos de fulgordas noites cariocas.
Jô A. RamosEditora
Rio de Janeiro, known as The Wonderful City, hasalways been a cradle of cultural currents that influencefashion and trends and pave the way for investments. Laparepresents a nexus for the export of new ideas, styles, andfashions that then radiate throughout the city andsubsequently to the rest of the country.
The Lapa district in Rio de Janeiro is known as thebirthplace of cariocan bohemia and as a reference point fornightlife aficionados, and it recounts its own part of boththe city´s history and its potential for economic, cultural,and artistic growth. One of the notable characteristics ofthis neighborhood is its architectural heritage wheretradition and modernity flourish alongside each other,surrounded by diverse musical enclaves, in a perfectexpression of the carioca spirit.
Nearly 60,000 people spend their evenings in Lapaduring the weekend, going from 11pm to 5am in themorning. To talk of Lapa is to talk of a Rio de Janeiroheaded in the right direction, one that we can speakabout with pride and at the same time acknowledge itsfurther room for growth.
With the mayor´s announcement of the plan to revitalizethe shipping and harbor district of Rio de Janeiro, LapaLegal Rio proposes to act as an attentive observer duringthis transformation of the city center, and especially in aregion which, once recovered, will join Lapa as a vibrantcenter for artistic, cultural, and recreational pursuits in theWonderful City.
In the 1950s Lapa was known as the ‘cariocanMontmarte’, an allusion to the famous bohemian district inParis. At the end of the 1990s, Lapa underwent a processof revitalization and rebirth as nightclubs opened theirdoors to fans of samba, rock, chorinho, Brazilian andinternational stars, electronic, hip hop, funk, to name but afew, in locales such as CircoVoador (‘The Flying Circus’)and Fundição Progresso (‘The Progress Foundry’).
Our magazine will include cultural calendars,gastronomic tips, music features, and celebrity columnistsinvited to write about numerous topics, including humor,film reviews, theater, historical lore, poetry, and muchmore. The objective of Lapa Legal Rio is to provideinformation, to entertain, and to promote the culture of Riode Janeiro, and in particular the Lapa district as a gatheringplace for artists, bohemians, and cultural innovators and asthe pulse of radiant cariocan nightlife.
Editorial
Tels. (21) 2256-6467 | 9968-8114 • E-mail: [email protected]: Jô A. Ramos | Editor Assistente: Thiê Rock | Repórteres: Gabriela Anastácia, Camila Santos, Marcelo Vieira
Design: Julio Lapenne | Caricaturista: Roberto Netto | Colunistas: Tom Leão, Sergio Santeiro, Chico Junior
Ano I Número 1
Agosto de 2012Sumário4 Arte popular de Selarón
5 Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos
6 Carlinhos de JesusNosso malandro carioca conquista a Lapa
8 Prefeito Eduardo Paes:A Lapa virou bairro
10 Noite na Lapa
12 Cinema: Sergio SanteiroAnchieta José do Brasil
14 Crítica: Jô A. RamosXingu – O filme
15 Música: Tom LeãoJack White – O último guitar hero
16 Gastronomia: Chico JuniorPratos e petiscos com o jeito do Rio
17 Lapa: da boemia para os ateliês de moda
18 Roberta BarretoA educadora que mudou a Baixada
21 Novos museus ajudam a revitalizar a zona portuária
22 Família Gomes comemora 40 anos à frente do Bar e Restaurante Urca
23 Movimento de mulheres sacode o Rio de Janeiro
24 Agência digital AM4 presente na Lapa com a cara do Rio
26 Banda Lion HeartDonos do Bordel
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Com uma história marcada pelo pioneirismo
no mundo do samba, a Velha Guarda da Portela acaba
de completar 40 anos. Considerada um dos pilares da
cultura do samba da mais pura linhagem, é responsável
por um precioso roteiro de músicas dos compositores e
por impulsionar o renascimento das Velhas Guardas das
outras escolas. “Estamos velhos, mas ainda não morre-
mos”, canta o Hino da Velha Guarda.
O grupo original era composto por grandes nomes:
Ventura, Aniceto, Alberto Lonato, Francisco Santana,
Antônio Rufino dos Reis, Mijinha, Manacéa, Alvaiade,
Alcides Dias Lopes, Armando Santos e Antônio Caetano.
Com o passar do tempo, a formação foi mudando, inte-
grantes idosos foram sendo substituídos, obedecendo a
um valoroso critério fundamental de manutenção das suas
principais características musicais. Segundo o compositor
Monarco, para ingressar na Velha Guarda é preciso “ter
passado”, e a escolha de novos componentes segue a
tradição até hoje. “Tem que ser portelense e ter uma
história na escola para ‘vestir o fardão’”, completa Iranette
Ferreira Barcelos, mais conhecida como Tia Surica.
O primeiro CD da Velha Guarda, “Portela Passado
de Glória”, foi lançado em 1970. Quase três décadas
depois, a cantora Marisa Monte produziu o CD “Tudo
Azul”, onde estão gravados preciosos sambas de terreiro
da escola. Junto aos antigos sambistas da escola, partici-
param outros portelenses apaixonados pela azul e branco
de Madureira: Paulinho da Viola, Marisa Monte, Zeca
Pagodinho e Cristina Buarque. Além desses, Diogo No-
gueira, Beth Carvalho e Teresa Cristina também fecham
parceria e abraçam a VG.
Fonte de inspiração para livros e filme, hoje o grupo
tem 10 componentes ativos em shows: as pastoras Áurea
Maria, Surica e Neide Santana; os compositores Monar-
co e Davi do Pandeiro; e os músicos, Guaracy 7 Cordas,
Serginho Procópio, Marquinhos, Timbira e Dinho. O
objetivo da Velha Guarda da Portela é dar continuidade
à proposta inicial, que é “não deixar morrerem os sam-
bas despretensiosos, sem intenção comercial”, conta
Serginho, o caçula da Velha Guarda. •
Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos
5Agosto de 2012Edição 01
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A escadaria do Convento de Santa Teresa, tam-
bém chamada de Escadaria Selarón, foi transformada
num gigantesco mosaico, pelo escritor chileno Jorge
Selarón que é pintor e ceramista autodidata radicado no
Brasil. Depois de percorrer mais de 50 países, escolheu a
Lapa, bairro boêmio carioca, para se instalar. O artista
recolheu mais de dois mil azulejos de todas as partes do
mundo na cor da bandeira brasileira, e aplicou nos 215
degraus e 125 metros da escada que se transformou num
ponto turístico da Lapa e está situada no final da Rua
Teotônio Regadas. Em 2005, a escadaria foi tombada
pela prefeitura da cidade e Selarón recebeu o título de
cidadão honorário do Rio de Janeiro. •
Arte popular de Selarón
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4 Agosto de 2012Edição 01 ARTE SAMBA
A noite carioca estava mesmo precisando
preencher o espaço deixado pelos malandros de outrora,
e Carlinhos de Jesus nascido no subúrbio de Marechal
Hermes e criado em Cavalcante, caiu como uma luva no
personagem feito sob medida para ele. Chegou com a
dança de salão, de terno branco, chapéu e camisa listra-
da, rodopiando com suas partners pelos salões do Brasil.
Foi durante 11 anos coreógrafo da comissão de
frente da Escola de Samba Mangueira, voltando a ocu-
par o cargo em 2009, arrasta multidões com o seu
“Bloco dois prá lá dois prá cá” no carnaval e ainda tem
tempo para cuidar da casa
Lapa 40º. Carlinhos investe
na noite carioca sem perder
de vista a sua arte: A
DANÇA. A Cia de dança
Carlinhos de Jesus tem
como filosofia manter a
fidelidade à dança de salão,
mesclando elementos cêni-
cos na composição de suas
coreografias.
Apresenta trabalhos rea-
lizados em cinema, teatro,
TV, workshops e realiza
oficinas de dança no Brasil e
no exterior. Desde sua ori-
gem, em fevereiro de 1991,
o Bloco Dois Pra Lá Dois
Pra Cá une a irreverência e
alegria do Carnaval Carioca
à magia da dança de salão,
atraindo anualmente mais de quatro mil pessoas, entre
artistas, turistas nacionais e internacionais, políticos,
entre outros. O bloco mostra uma performance inédita
no carnaval misturando o samba de salão com o pagode
e muito samba no pé, se tornando o único bloco de
dança de salão do país.
A Lapa, o bairro mais boêmio do Rio de Janeiro,
recebeu de braços abertos a mais nova casa de show –
Lapa 40º – que veio com um presente extra: o coreó-
grafo e dançarino Carlinhos de Jesus, a nossa mais nova
tradução do malandro carioca... no bom sentido, claro.
Sinuca, gafieira, música ao vivo, cerveja, whiskeria,
cardápio variado e internet sem fio em todos os andares
– tudo isso num só endereço. Lapa 40º – Sinuca e
Gafieira, que já é considerada a maior casa de sinuca do
Brasil, com mais de 22 mesas de sinuca variadas – oficial,
bilhar e no formato pool, com caçapas maiores, própria
para os leigos. A capacidade total da casa é de 1.500 pes-
soas e 80 barris de chope gelado por dia, garantidos por
uma câmara frigorífica de 12m2.
O térreo, um imenso calçadão com pedras portugue-
sas que remetem ao calçadão de Copacabana, abriga
mesas de bar, com pequeno
palco para shows de ban-
quinho e violão. O segundo
andar é o espaço reservado
para os verdadeiros amantes
da sinuca. A gafieira fica no
terceiro andar com palco
para pocket-shows de músi-
ca brasileira com acústica e
sonorização de primeira
linha, com capacidade para
600 pessoas. Ali, Carlinhos
de Jesus usa seu know how
no showbizz para levar ar-
tistas para se apresentar na
gafieira, bem como mostrar
seu gingado nas noites de
sábado, quando o espaço é
reservado para a prática da
dança de salão, onde ele
pode exibir tudo que sabe e
olha que não é pouco, deslizando no salão com suas pupilas
e mostrando o seu sorriso, marca registrada do artista.
A infraestrututra da casa foi cuidadosamente prepa-
rada, visando aliar num mesmo ambiente conforto, cul-
tura e qualidade, oferecendo 1.749 m2 de área construída
e 1.344 m2 de espaço destinado ao público, além de ele-
vador, rampas de acesso e banheiros para portadores de
necessidades especiais.
As paredes têm revestimento acústico de poliuretano.
Carlinhos, cerveja, sinuca e muita música, alguém pre-
cisa de mais alguma coisa? Nem eu. •
Nosso malandro cariocaconquista a Lapa
Carlinhos de JesusTexto JÔ A. RAMOS | Fotos CARLOS LEITÃO
7Agosto de 2012Edição 01PERSONALIDADE
Prefeito, com a Lei sancionada pelo Senhor, transformando a Lapa em bairro, muda alguma coisa?
A Lapa faz parte da história do Rio de Janeiro e, até agora, não era legitimada como bairro. Esta área tem um
charme muito peculiar e nunca esteve tão estruturada quanto está hoje. A partir de agora, deixa de ser apenas conhe-
cida como reduto boêmio para ser um bairro reconhecido geograficamente na cidade. Recentemente, foi muito mais
do que revitalizada. O novo bairro começa na Rua André Cavalcanti e segue até a Glória, incluindo o Passeio Público
e indo quase até a Praça Tiradentes.
A Lapa virou bairro
Podemos esperar melhorias no bairro?
É claro que ainda temos uma série de problemas a
serem resolvidos. Aos poucos, vamos melhorar ainda
mais. Temos o Programa Lapa Legal, que cuida do reor-
denamento da região e da preservação do patrimônio
arquitetônico do Rio Antigo. Recentemente, entregamos
a reforma da Praça Cardeal Câmara, junto aos Arcos.
Outras duas praças e cinco ruas também receberam me-
lhorias. A Secretaria de Obras fez a revisão na rede de
drenagem e a pavimentação de pistas e calçadas, acessi-
bilidade e paisagismo, além da modernização da ilumi-
nação. Agora, precisamos da ajuda da população para
continuar preservando este investimento realizado.
A Lapa recebe mais de 60 mil pessoas nos fins de
semana. A segurança será reforçada?
Com a revitalização da Lapa, a segurança já foi
reforçada. O Governo do Estado está fazendo seu papel
colocando UPPs nas comunidades do entorno e agindo
nas ruas do bairro. Além disso, da nossa parte, investimos
em nova rede de iluminação e vamos ajudar a ordenar o
espaço implantando uma Unidade de Ordem Pública ali.
O Senhor já pensou linkar a Lapa com o Porto
Maravilha oferecendo algum tipo de transporte para
os turistas que desembarcam nos navios? Quem
sabe, a Revista Lapa Legal Rio possa circular como
veículo de informação sobre o Centro / Lapa / Porto
para os turistas nacionais e internacionais.
Tanto a Lapa quanto a região do Porto Maravilha são
dois ícones da história do Rio de Janeiro. A Lapa vive um
momento de renascimento. Enquanto isso, a região do
Porto também está passando por um processo de revitali-
zação. Tanto a Lapa quanto o Porto vivem momentos de
ampliação dos espaços públicos para a melhoria da quali-
dade de vida dos moradores. Já existe a previsão da cons-
trução de VLTs que ligarão o Centro do Rio ao Porto faci-
Prefeito Eduardo Paes:
litando o deslocamento na região. Assim que todo o com-
plexo do Porto estiver pronto, a Riotur vai estudar a me-
lhor maneira de oferecer novos roteiros onde os turistas
possam conhecer as belezas da Lapa e os pontos turísticos
da nossa cidade num mesmo dia, por exemplo. Contamos
com a ajuda da Revista Lapa Legal nesse sentido.
A preservação de patrimônios históricos situados
na Lapa passará por reformas e preservação? Existe
algum projeto?
A Lapa abrange duas áreas de Proteção do Am-
biente Cultural, como trechos do Corredor Cultural e
a APAC Cruz Vermelha. Todo este entorno foi contem-
plado com a revitalização no Programa Lapa Legal. Fo-
ram quase sete hectares de obras. Este mesmo projeto
fez importantes restaurações de bens tombados, como
a dos Arcos da Lapa, patrocinada pelo Banco Santander,
e a da igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Des-
terro, apoiada pelo BNDES, por meio de lei de incen-
tivo. A recuperação do Hotel Bragança, na Rua Vis-
conde de Maranguape, está em andamento e também é
fruto da preocupação do patrimônio municipal da re-
gião. Como uma cidade histórica, temos uma preocu-
pação grande com a preservação do patrimônio. Por
isso, a subsecretaria de Patrimônio trabalha de forma
intensa para pensar nas melhores formas de valorizar
esta cultura. Nosso trabalho nesta região é constante.
Quais são os seus planos para o novo bairro?
A partir da agora, como um bairro, a Lapa ganha
uma importância ainda maior dentro do cenário de ação
da Prefeitura do Rio. Queremos que a Lapa continue
sendo parte importante da produção cultural carioca e
preserve seu lado boêmio, além de ser um lugar agradá-
vel para a visitação turística e também para os próprios
moradores. A Lapa é a cara do Rio e sempre estará entre
as nossas prioridades. •
ENTREVISTA 9Agosto de 2012Edição 018
Texto JÔ A. RAMOS | Foto J.P. ENGELBRECHT
O Prefeito do Rio, Eduardo Paes, sancionou no dia 18 de maio oprojeto de lei que transforma a Lapa no mais novo bairro da cidade.
O verso do poeta Vinícius de Moraes – “De
manhã escureço, De dia tardo, De tarde anoiteço, De
noite ardo” cabe muito bem para definir a Lapa. Este
bairro boêmio de diferentes sons, diferentes nacionali-
dades, diferentes cheiros, tão mesclado na sua com-
posição só poderia resultar nesse enorme sucesso. Na
Lapa circula uma multidão anônima que celebra a vida
nos bares, restaurantes, nas ruas estreitas e perigosas
desprovidas de infraestrutura, mas, nem por isso per-
deu seu charme.
A capacidade de reinventar do carioca é constante.
Estamos sempre procurando novos lugares para exercer a
boemia e festejar a vida, somos o que somos, sem muita
explicação e quando a noite cai ardemos como brasas,
acompanhados ou na solidão, como o poeta.
A Lapa cresce e une o Centro do Rio formando um
corredor cultural com velhos casarões e suas sacadas,
ladeiras de paralelepípedo, prédios iluminados e moder-
nos, teatros, museus, bares, restaurantes, etc. Lá vai a
Lapa descendo a ladeira. Lapa11Agosto de 2012
Edição 01
Noite na
LapaNoite na
Texto JÔ A. RAMOS Fotos CARLOS LEITÃO
Herivelto Martins e Benedito Lacerda
cantavam o bairro:
A Lapa
Está voltando a ser
A Lapa
A Lapa
Confirmando a tradição
A Lapa
É o ponto maior do mapa
Do Distrito Federal
Salve a Lapa!
O bairro das quatro letras
Até um rei conheceu
Onde tanto malandro viveu
Onde tanto valente morreu
Enquanto a cidade dorme
A Lapa fica acordada
Acalentando quem vive
De madrugada
A Lapa bate lata, bate tambor, bate coração, bate
bumbo, bate pé, nela cabe tudo e todos em perfeita har-
monia e o melhor é que toda essa fauna está misturada,
não se divide em tribos. Ali, o sincretismo da alma cario-
ca acontece plenamente. É o melhor e o pior da geleia
geral brasileira.
Ficamos imaginando Portinari, que tinha ali seu
ateliê e Manuel Bandeira que sempre morou na área,
passeando pelo bairro maravilhados com as novas trupes.
A alma do carioca há muito mudou de endereço, e acre-
dite, é lá onde foi criar a nova morada. •
A Lapa canta e dança até o sol raiarA Lapa canta e dança até o sol raiar
12 Agosto de 2012Edição 01
Estampo aqui a resenha que fiz na Filme/Cultura, 1978, sobre ofilme “Anchieta José do Brasil”, de Paulo Cesar Saraceni.
A TERRA, O CÉU, O MAR, O HOMEMEspaços amplos, céus, terra, mares, tempos largos, assim se carac-
terizam os elementos com que contou Paulo Cesar Saraceni para con-tar uma de nossas primeiras estórias, um descobrimento. Ao contráriodo que se pode supor, por tratar-se de um tema ou fatos acontecidosverdadeiramente, de domínio de uma tradição historiográfica, algo daordem, digamos, da objetividade, é, no entanto, nas mãos deste poetada subjetividade, a estória de um descobrimento em qualquer tempo,e não só a daquele de há quatrocentos anos.
Espremido nas concepções de um mundo parado, Anchieta anseia,ao ingressar na Companhia de Jesus, não pela existência do claustro, nãopela reclusão da alma, mas pelo seu contágio com o mundo. A fé e seuapostolado terão representado, como representam ainda cada vez mais,basta verificarmos a experiência presente do papel da Igreja no Brasil: umespaço de revelação da existência social no mundo e não a segregação deseus postulantes no esoterismo de rituais tidos como sagrados.
Viver o profano, mesmo se delegado do sagrado, é o que fez Anchietacruzar os mares, e fez, na América Latina, Camilo Torres mergulhar nasselvas, ou o nosso Frei Tito ou o Padre Penido atravessarem o martírio.
Quando se dispôs a contar esta estória da colonização, tenho comocerto, e bem o demonstra o filme, que Saraceni tinha os olhos no nossotempo, redescobrindo o passado não como algo distante e frio, mas comoa prática do tempo presente; infelizmente, ou não, a história é um con-ceito, ninguém a vive de fato porque a vida humana contida pela mortepode, no máximo, ser uma experiência biográfica. Ou seja, em todos ostempos, cada homem vive e “experiencia” unicamente a sua biografia. Oque nela houver de significativo, a superação e transformação de simesmo, embora ilustrado pela vida de outros que nos antecederam, éinequivocamente determinado pelo aqui e agora dos seres e não pelatranscendência, seja a materialista, histórica, ou a espiritual, religiosa.
Quanto foi profano o nosso Anchieta e quanto foi sagrado, o quetinha em si e o que lhe vinha de fora, a educação, a formação, a crença,
este é o panorama que, junto ao nascer de uma civilização, discorre ofilme. Quem saberá as formas que tinha essa existência inaugural emum mundo ainda não parado pelo tempo dos homens, esse despotismode espaço, de vida, de terra, em que o confronto do Velho Mundo e doNovo Mundo permitiria uma nova síntese para a humanidade.
Nós, que viemos bem depois, que sobrevivemos, sabemos que nãoresultou na melhor das soluções. O velho, como ainda hoje, mata onovo, porque a experiência de vida apenas tem ensinado a malícia, umasobrevivência tem valido, a despeito de quaisquer racionalizações ide-ológicas, o extermínio de coletividades, foi o que sobrou historica-mente daquele confronto.
Um olhar crítico que não queira ver o real mas apenas legitimar-seteoricamente dirá, ou diria, que a operação jesuítica, trágica já nesteprimeiro patamar da vida brasileira, só viria a se agravar com o correrdos tempos. É verdade, e é justo. Certamente, toda vez que à vidaimpõe-se um código de normas e regras, acaba-se com ela. Esta, noentanto, pode ser a prova dos nove para os indivíduos, que nenhumcabe em qualquer ortodoxia e, ao invés de legitimá-la, pode empenhar-seconcretamente em superá-la, tal seria o Anchieta visto pelo talvezmenos ortodoxo dos cineastas, pelo autor que justamente terá sempreaberto sua sensibilidade além dos determinismos ideológicos, guiadopelo plasmar por seus sentimentos a descrição da vida a sua volta.
Em plena ebulição política dos anos sessenta, o filme de estreia dePaulo Cesar, que tanta impressão causou, sobretudo em nós, mais jovensna época, ainda não determinados politicamente pela prática, aindaabertos à revelação do mundo, o “Porto das Caixas”, em 1962, aponta-va entre as consideradas prioridades sociais, a experiência livre do ser quese liberta da opressão, manifestada não necessariamente ao nível das mas-sas mas ao nível primeiro do indivíduo. Exagerando-lhe a proposta, etomando a mim a frase, diria que a libertação coletiva passa, ou nãoexiste, pela libertação individual. Isto que hoje é banal, no momento emque surgiu no seu filme poderia ser, e talvez tenha sido, visto como umaheresia. A libertação do jugo entre os seres, em sua própria convivênciahumana, antecede a consciência da luta de classes. Quem pensava outra-mente teve que sofrer a surpresa dos anos que se seguiram.
Nos anos que se seguiram, foi o mesmo Paulo Cesar Saraceni o rein-ventor do cinema político, tornado mais tarde, nos setenta, como sempreque lhe bota as mãos o poderio da metrópole, um vezo bobo de consumocomercial de massa em suas versões italianas, e mais recentemente, pas-mem, no que ridiculamente se batizou de novo cinema americano. Aexperiência de “O Desafio” (1965) de Paulo Cesar, talvez inédita na
13Agosto de 2012Edição 01
Sobre a terra, o céu,o mar, o homem ePaulo Cesar Saraceni
Por Sergio Santeiro
história do cinema, a de retratar logo após o golpe, a crise existencial quepudemos dolorosamente atestar e testemunhar até nossos dias, vinha pre-nunciada em um filme de improviso, de incertezas, mas guardando aesperança que os primeiros tempos de resistência ensejavam, como nohistórico espetáculo “Opinião”, não por acaso documentado e parte inte-grante de sua narrativa fílmica. O cinema foi, então, mais do que hoje é,um pulmão que respirou quando ar não houve, o sentimento de que haviavida mesmo no apagar das luzes, agora tênue e toscamente reacendidas.
Tampouco em sua época de negras sombras pôde aparecer comclareza o toque de vida que havia em “O Desafio”, cujo título diz tudo.Não era o fim mas era um atravessar de tempos difíceis quando o amorde ontem era a mentira de hoje. Nessa trajetória do autor que se con-funde com a de seus companheiros e com a própria vida e históriarecente do país, o que iremos ver é uma pronunciada descoberta de umcaminho, o da escavação de si mesmo, desdobrando-se na experiênciada vida. A vida acima do conhecido, do sabido, que o levaria desafiante-mente a dançar o carnaval de rumbeiro em Amor, Carnaval e Sonho(1974), novamente um filme de improviso onde o que conta não é odesencanto mas, pelo contrário, um reencanto com suas próprias possi-bilidades porque ainda vivas. A não reclusão em nossas perdas, em nossaalienação do mundo, mas o abrimento para o que der e vier.
Por outro lado, a experiência do sagrado, ou melhor dizendo, o seumistério, é outra, me parece, das coordenadas do pensamento que PauloCesar aplica aos filmes que faz. A convivência e admiração que nutre poralgo que chamaríamos de uma tradição quase subterrânea na culturabrasileira, a dos artistas católicos profanos, como Lúcio Cardoso, seu par-ceiro de “Porto das Caixas” e guia existencial na “Crônica da CasaAssassinada” (1971), este painel terrível da vida confinada nas alcovas dafamília burguesa, certamente o inspirou para entender além da religiãoum misticismo básico, talvez o mesmo do homem frente ao infinito, masapesar disso capaz e sujeito de sua, pelo menos, biografia.
É com esta bagagem que se volta para descrever os tempos primitivosda terra brasileira e este desvendar da fé arcaica do frágil europeu, tomadopela maleita, febril mas imbatível em sustentar sua missão, a que se deu dealma mas, sobretudo, de corpo. A pacificação do gentio, embora minadapelos males da civilização que inevitavelmente trazia consigo, e a defesa desua proteção contra os colonos escravagistas nestes primórdios de coloniza-ção; em outras palavras, a implantação de um mundo pronto nesta imen-sidão quase vazia, teve no seu apostolado um marco referencial iniludível,transformando o evangelista das selvas, como o chamou o poetaFagundesVarella, em um evangelizado pelas selvas nessa visão do filme.
Talvez seja esta a operação básica a que procede Saraceni no que serefere às relações do jesuíta com a terra. A descoberta de um mundoprimitivo, suponhamos, natural, faz retroceder o império da razão e dafé a um estágio anterior, quando tudo ainda estava por fazer, e con-ferindo a esta vida um caráter inaugural de existência sem a noção depecado que chega a contagiar os próprios colonos.
Claro, quando se trata dos colonos e não dos índios, a ausência depecado é quase, como diríamos, mais de ordem prática, quer dizer, a ausên-cia de interditos, a ausência de autoridades, a ausência de repressão institu-cional, destacando-se então o papel da Igreja na defesa e, lamentavelmente,na educação dos naturais da terra como a única presença da lei e da tradiçãoante a presa fácil que eram os primitivos, a despeito de seu poder de guer-ra, aos olhos dos aventureiros, salteadores e piratas que infestaram a terra.
Mais uma vez, o paralelo com a situação atual no Brasil Central não é e nemfoi mero acaso. Talento do cinema esta possibilidade de olhar com olharespresentes o passado, mas também de rever no presente a permanência destesmomentos originais da confrontação violenta entre estilos de vida e domi-nação que, ainda por muito tempo, parece, nos caberá testemunhar.
Felizmente, um filme apesar de gestado pela individualidade de seuautor é uma experiência coletiva de expressão, muitas vezes poucoaparentes, mas muitas vezes também da maior eloquência. Neste caso, odo Anchieta José do Brasil é notável como se pode acompanhar umsucesso de equipe, um equilíbrio do trabalho de muitos, onde osdestaques se equivalem desde o suave tom, eu diria, inaugural de umafotografia delicadamente receptiva à luz do novo mundo.
Esta capacidade revelada pelo trabalho de Marco Bottino, mais ori-entada para os limites de registro da cor do que para uma tentativa dedeterminar-lhe através da iluminação massiva os contornos, que é aprática tradicional de um certo tecnicismo fotográfico, resulta extra-ordinária repetindo na parte a operação do todo. O que faz o filme é oque faz a fotografia. É quase como se o negativo importado, fabricadocomo o pensamento europeu, se dobrasse à majestade da vista nova, daluz nova, da cor nova. Em outros momentos, de enorme contribuiçãodramática, como o duelo verbal no combate à heresia calvinista à luz dearchotes, por sobre as sombras da noite e da grade, temos a impressãonítida de que a cena ilumina-se pelo calor que vem de Anchieta, emmagistral e dedicada interpretação de Nei Latorraca ou quando vem deJean de Solès, vivido com o conhecido talento de Paulo Cesar Pereio.
Já em outros momentos, se pudermos falar apenas de alguns,como a invenção do teatro pelo índio vivido por Joel Barcelos, eminesquecível criação a partir do zero de uma forma de representar comona, suponho, “Festa de São Lourenço” (1583), tida como a mais notá-vel das contribuições teatrais anchietanas, em que o índio, quer dizer,o ator ensaia descobrir a expressão e o significado de seus gestos edicção, como se sabe, sem passado.
Este trabalho de equipe, de conjunto, de criação coletiva repontatambém na concepção cenográfica e vestuário por Ferdy Carneiro, a umsó tempo despojada e preciosa, sem os desperdícios das produções caras eincompetentes que geralmente associamos aos dramas históricos. Aquestão da produção ou da reconstituição histórica de ambientes merece-ria uma análise certamente mais fina que a que podemos apresentar nomomento, mas é importante sublinhar-se que a sua inspiração se medenão pelas pedrarias mas pela adequação ao espaço e tempo de seus per-sonagens. O que aí vai dito, refere-se por exemplo à recriação dos espaçosde vida dos colonos, como entre eles no episódio de João Ramalho.
Nestes momentos, uma igual despretensão aparente da narrativa sófaz acentuar a elegância geral de movimentos em todo o filme, que é deresto uma das características mais evidentes no estilo de Saraceni, a seumodo lembrando sua admiração pelo cinema humanista de Rosselini.
A configuração deste tempo novo na história da humanidade quefoi a possibilidade, como sabemos, desperdiçada, de reinventar a vida,ganha no cinema brasileiro, em que já contávamos com o“Pindorama”, de Arnaldo Jabor (1970) e com o “Como Era GostosoO Meu Francês”, de Nelson Pereira dos Santos (1972), uma inspiradís-sima versão que se não foi bem acolhida, certamente deve-se mais àpobreza dos tempos em que vivemos do que à generosidade com queos artistas se têm dedicado a descobrir o país.
Anchieta José do Brasil
Sergio Santeiro Cinema
14 Agosto de 2012Edição 01 15Agosto de 2012
Edição 01
Xingu – O filme
Jô A. Ramos Crítica
Jack White: O último guitar hero
Tom Leão Música
Um dos artistas mais genuínos, inquietos, agitadores
e defensores do rock nos dias de hoje é o cantor e guitar-
rista americano Jack White, que conhecemos através de
sua banda The White Stripes (já veio duas vezes ao
Brasil, numa delas, Jack aproveitou para tocar no Teatro
Amazonas, e se casou por lá, com uma modelo gringa!),
que fez um bom barulho na década passada e deixou um
legado de meia dúzia de ótimos álbuns, sendo difícil
destacar só um deles. Da estreia com 'White Stripes'
(1999), passando pelo genial 'De Stijl' (2000) e o
arrebatador 'White Blood Cells' (2001), foi uma trinca
de álbuns que poucas bandas novas conseguem lançar
com o mesmo fôlego. Então, a consagração definitiva
chegou com 'Elephant' (2003), um disco que já pode
ser chamado de clássico. Todos estes primeiros trabalhos
do White Stripes podem ser encontrados em relança-
mentos recentes do selo Lab 344, para quem perdeu o
bonde quando ele passou.
Desde antes do fim do WS, em 2011, o hiperativo
White (que, nas 'horas vagas', é um requisitado produtor
e, às vezes, também ator) já arquitetava, na paralela, com
outros dois projetos: primeiro, a partir de 2006, com o
The Raconteurs – ao lado de Brendan Benson –, que faz
uma espécie de rock retrô, com pegadas e cores do som
psicodélico dos anos 1960, e um toque do hard rock dos
70’s. Pouco depois, em 2009, Jack entrou em outra barca,
a da banda The Dead Weather, que tem nos vocais a can-
tora da dupla The Kills, Allison Mosshart. Nesta banda,
Jack voltava às suas origens, as baquetas. Apesar de ser um
exímio guitarrista (elogiado até por Jimmy Page, do Led
Zeppelin, com quem divide a cena no documentário “It
might get loud / Aumenta o som!”, junto com The Edge,
do U2), ele começou a carreira musical tocando bateria,
como o faz no DW. Difícil saber em qual instrumento
(também toca piano) ele é melhor.
E, depois de mais uma década com o White Stripes
– e uns tantos anos nestes projetos paralelos – , final-
mente o camarada nascido John Anthony Gillis, há 36
anos, em Detroit, lançou o seu primeiro disco solo, o
aclamado ‘Blunderbuss’, em abril de 2012 (já editado
aqui pela Sony Music). Nele, Jack destila toda a sua
herança bluegrass, com um disco gravado usando ape-
nas instrumentos vintage (antigos), e contando com
duas bandas diferentes de apoio: uma, composta só
por mulheres; outra, só com homens. Ele cai na estra-
da com as duas e, dependendo da vibe da noite, toca
com uma ou outra. Mais um toque excêntrico deste
cara que é dono de seu nariz, já que comanda a sua
própria gravadora, a Third Man Records, cuja loja de
discos, em Detroit, só vende vinis!
TOM LEÃO editou, por 22 anos, a coluna de cultura pop “Rio Fanzine”, nojornal O Globo, onde também foi crítico de música e cinema. Atualmente écomentarista de cultura do programa Estudio i, da Globonews. Blog pessoal:Na cova do Leão (www.nacovadoleao.blogspot.com)
Três irmãos e um único destino: preservar vidas, as
indígenas. É assim que vejo a missão dos Villas-Bôas,
abrindo a mata, cortando estradas, cruzando rios e se
defrontando com a morte diariamente. O filme gira
sobre uma ótica: para alguém viver, muitos morrerão e
foi assim na construção do Parque Nacional do Xingu
em 1961, um parque ecológico e uma reserva indígena
do tamanho da Bélgica.
Os irmãos Villas-Bôas se alistam na Expedição
Roncador-Xingu e partem para desbravar a área Central
do Brasil iniciando pela travessia do Rio das Mortes. Já
nessa cena, vemos a maravilhosa fotografia de Adriano
Goldman, com uma luz que só os deuses criam. A mão
firme do Cao Hamburger segura o filme do início ao
fim, mantendo a tensão e o clima de luta quase como
uma narrativa, é a alma do filme.
“Nós somos o antídoto e o veneno” essa é a frase dita
pelo ator Jõao Miguel que vive um dos irmãos (Cláudio
Villas-Bôas) dando o tom e a cor do que vem pela frente.
Mortes, doenças e traições políticas. Jõao Miguel é um
ator extraordinário e se destaca de imediato pela atuação,
deu um show de interpretação. Carregou todas as emo-
ções do personagem e da trama e despejou na tela.
Os atores Felipe Camargo e Caio Blat se equilibram
na interpretação limpa e correta, dosando emoção e ter-
nura. Por falar nisso, vale dizer que o afeto está sempre
presente naquele ambiente hostil e perigoso onde a
morte ronda e está sempre a espreita de alguém.
O filme é fiel à história real com uma ressalva: senti
falta de ver na tela uma presença mais forte da mulher
indígena e da companheira de Orlando (vivido pelo ator
Felipe Camargo), a enfermeira Marina Villas-Bôas.
Marina, interpretada pela atriz Maria Flor, passa pelo
filme sem voz, quase invisível. Conheceu o Orlando em
um consultório médico, e como precisava de uma enfer-
meira para a expedição que chefiava, resolveu convidá-la.
Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhan-
do pela missão indígena. “Nesse tempo contraí malária
15 vezes e Orlando pelo menos umas 200”, conforme
diz. Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo
no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de
cuidar de muitos casos de malária. “Os índios tinham o
organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de
branco, mas conseguimos êxito rapidamente”.
Os Villas-Bôas contribuíram para preservar vidas hu-
manas e a cultura indígena. Garantiram a sobrevivência de
nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo
como espaço, com a orientação humanista do marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropó-
logo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutel. Foram
indicados para o prêmio Nobel da Paz em 1976.
Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu
permitiu que Orlando publicasse, em co-autoria com seu ir-
mão Cláudio, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revis-
tas internacionais, como a National Geographic Magazine.
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O mais novo bairro do Rio de Janeiro é conhecido por sua boemia e por
ser um dos principais pontos turísticos da cidade. Além da cultura, do samba,
da vida noturna, dos bares e dos arcos. A Lapa é o cenário preferido dos profis-
sionais de moda, seja para buscar inspiração ou produzir ensaios fotográficos.
A estilista Silvinha Oliveira, idealizadora da marca Retalhos Cario-
cas, pautou o bairro como parte do tema de sua monografia. Descreveu
e comentou a boemia irreverente e a vanguardista massa modernista
que transita pelo bairro. A estilista enfatiza que a Lapa sempre foi um
lugar de grande influência em seus trabalhos: “nossa ideia é criar peças
confortáveis e com materiais que possam envolver de alguma forma o
trabalho com reaproveitamento. Também sempre enfatizando a beleza
e a força da mulher brasileira nas modelagens e cores”.
Pensando no elemento urbano e cultural que envolve a Lapa,
Silvinha, não teve dúvidas ao escolher a região para ser o cenário do
primeiro ensaio fotográfico realizado pela grife. O ensaio aconteceu nas
escadarias do chileno Selarón, aproveitando as cores e identidades que
compõem o ambiente. “Duas das modelos convidadas são, na verdade,
cantoras com nossos figurinos. Ambas possuem muita brasilidade e
força em seus trabalhos, então achamos que seria o cenário perfeito”.
Outra grife que tem apostado nos elementos urbanos e gráficos
que são um marco visual da região é a Mycool25. A equipe é formada
por Isabella Rocha, Gabriela RM, Marielle Javarys e Pedro Esteves que
se conheceram na escola e planejaram criar um trabalho paralelo às
suas funções diárias.
Os jovens empreendedores buscam, nas ruas, modelos anônimos
para divulgar suas coleções. Conseguiram reunir uma média de 40 a 50
pessoas em sete ensaios fotográficos. Os idealizadores da marca acredi-
tam que a moda na Lapa desperte interesse por ter a característica de
ser plural e mais democrática do que outros lugares da cidade. “Parece
uma válvula de escape em alguns momentos, onde todos podem desli-
gar-se de suas atividades como trabalho e apenas curtir o momento.
Pode existir um aspecto mais lúdico que nos interessa” diz Gabriela
RM, diretora criativa da Mycool25.
Os ensaios acontecem como um quase-improviso onde a equipe
convida pessoas que estejam passando pela rua ou sentadas em bares
para serem fotografadas com as blusas. O cenário que serve de fundo
para as fotos é planejado especificamente para proporcionar o visual e
a estética desejada no momento, como paredes grafitadas ou repletas
de pôsteres, da Rua Mem de Sá.
Com o retorno positivo do público, a marca já está na terceira
coleção. Além de ir às ruas, investem também na divulgação pela inter-
net. Todos que se prontificam modelar para a marca recebem um cartão
de visitas com o contato da equipe, e podem compartilhar as fotos
tiradas em suas redes sociais e receber descontos em futuras compras.
A Lapa, além de remeter a sinônimos como lazer, descontração e
diversão, contém características múltiplas na moda e na expressão. Essa
tendência tem influenciado artistas plásticos, músicos e, principalmen-
te, estilistas. Reúne diferentes pensamentos e ideais em uma mesma re-
gião, sendo ao mesmo tempo democrática, mas sem ser específica. •
Lapa:da boemia para os ateliês de
modaTexto GABRIELA ANASTÁCIA | Fotos GABRIELA RM
Pratos e petiscos com o jeito do Rio
Para mim, o conceito de restaurante bom é
simples: é aquele ao qual eu quero voltar. Da
mesma forma, prato ou petisco bom é aquele que
eu quero comer de novo, quase sempre associado a
um bar ou restaurante. Destaco aqui alguns pratos e
petiscos que têm um jeito carioca de ser, pela criativi-
dade, pelo sabor, pelo local onde é servido.
Um desses pratos está chegando à Lapa: o joelho de porco assado
do Enchendo Linguiça, que eu comi pela primeira vez há uns dois
anos, quando fui, levado pelo meu amigo Guilherme Studart, autor do
Guia Rio Botequim, ao Enchendo Linguiça do Grajaú. O tal
joelho de porco, com tempero e sabor pra lá de especi-
ais, é assado lentamente nesses grandes fornos onde
se assam frangos, também conhecidos como tele-
visão de cachorro. Quem ainda não provou, não
perca a oportunidade.
Ainda na Lapa, outro ícone carioca é o cabrito
assado com arroz de brócolis do Nova Capela, na
Mem de Sá, falado e aprovado pelos frequentadores, assí-
duos ou não, do tradicional restaurante do Rio de Janeiro.
E por falar em tradicional, daremos um pulo, sem sair da Lapa, ao
Cosmopolita, que está ali na Travessa do Mosqueira desde 1926, para
apreciar outro símbolo carioca, que é o filé à Oswaldo Aranha, nasci-
do ali mesmo no restaurante, criação do então senador
Oswaldo Aranha, que juntou um filé alto mal passado,
com alho frito por cima, acompanhado por arroz e
batatas portuguesas. Misturava tudo, com exceção
do filé, e se deliciava. Nós também. Mas recomen-
do ainda os filés à Oswaldo Aranha do Lamas, no
Catete, e o do Filé de Ouro, no Jardim Botânico,
para mim o melhor dos três.
O Centro da cidade ainda nos revela o sabor da
sensacional costela de boi cozida com feijão-man-
teiga do Escondidinho, no Beco dos Barbeiros, Pra-
ça XV. O prato mais pedido da casa é simplesmente
uma delícia e bem servido, dá para três pessoas.
Sardinha, recomendo duas: a cozida com molho
escabeche do espanhol Shirley, no Leme, e a sardinha assada do
Cantinho das Concertinas, no cinquentenário Cadeg, em Benfica,
belo programa de final de semana, para fazer compras e/ou comer os
petiscos e pratos de seus vários bares e restaurantes. O Cadeg (Centro
de Abastecimento do Estado da Guanabara), diga-se de pas-
sagem, recebeu recentemente da prefeitura o status de
mercado municipal.
Daí vamos para a Zona Sul experimentar, na
minha opinião, os dois melhores sanduíches de
pernil do Rio e o famoso e badalado sanduíche de
filé mignon com abacaxi do Cervantes, em
Copacabana. Sobre os de pernil, elejo o do Jobi e o
do Bracarense, ambos no Leblon. Do Bracarense desta-
co ainda a deliciosa carne seca desfiada com cebola, molhadi-
nha, no ponto. E do Jobi, a sua empadinha de camarão. Ah, e por falar
em empada, não deixem de provar a de camarão servida como entrada
nas refeições do Mosteiro, na Praça Mauá.
Termino com a feijoada, emblema do Rio de Janeiro,
prato carioca por excelência. Aos sábados e domingos
são muitos os bares e restaurantes da cidade que
servem fartas e gostosas feijoadas. Ultimamente
tenho preferido, e comido, a da Academia da
Cachaça, saborosa, não muito gordurosa e que
serve muito bem duas pessoas, quem sabe três.
Bom apetite!
Chico Junior Gastronomia
16 Agosto de 2012Edição 01 MODA
Roberta Barreto é professora de história, foi deba-
tedora do programa “Manhã da Globo” na rádio Globo do Rio de
Janeiro durante 8 anos e hoje participa do programa “Botequim da
Globo” com Loureiro Neto. Especialista em gestão escolar e gerência
de projetos trabalha na rede estadual e municipal onde foi diretora
do Ciep Marie Curie. Sempre lutou pela democracia na educação e
acaba de levar para o município de Duque de Caxias a UERJ (Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro).
A carreira profissional e a formação acadêmica de Roberta se
consolidaram após uma série de outras atividades como consultora
em Educação. Em 1997, assumiu a Secretaria Municipal de Educação
de Duque de Caxias, onde ficou até 2004. Neste período, a pasta
tornou-se referência nacional em vários projetos como a Educação
Especial e na criação do programa de formação continuada para pro-
fessores da rede municipal. Ocupou a função de secretária executiva
e assessora especial da Fundec (Fundação para o Desenvolvimento
Tecnológico e Políticas Sociais), em janeiro de 2009. Em 2010, ela
foi promovida à presidente da Fundação. Depois de implantar 27
cursos gratuitos e mais de 7 projetos que atendem jovens do municí-
pio, a professora voltou a ocupar o posto de Secretária de Educação
de Duque de Caxias, no mesmo ano.
Como secretária levou para a Baixada Fluminense o Campos
Universitário da UERJ e agora prepara-se para inaugurar o Centro
de Referência em Educação Integral que vai atender mais de 400
alunos, no horário de 8 às 17h, com atividades esportivas e cultu-
rais, salas de leitura e salas de informática. Tudo gratuito. Por tudo
isso o Movimento Defesa da Mulher vai homenagear Roberta
Barreto com a entrega do troféu “Mulheres em Ação - Educação
2012”, no final de maio.
Roberta, como foi implantar uma nova meto-dologia de ensino em Caxias há 10 anos?
Duque de Caxias foi vanguarda em conheci-mento e estratégias no processo ensino-aprendiza-gem. A pesquisa implementada pelo grupo de pro-fessores com nomes de notório saber proporcionoua formação permanente da equipe e dos professoresregentes. Imagine que em 1997 implantamos osprofessores auxiliares em LIBRAS (Língua Brasi-leira de Sinais) para incluirmos os alunos com defi-ciência auditiva no ensino regular. Após 10 (dez)anos, o MEC determinou que a educação inclusivaseria política pública nacional.
Como você encontrou o sistema de ensino?Os desafios não eram apenas estruturais, mas,
também no campo das ideias. Encontramos umarede com aproximadamente sessenta escolassucateadas. Os estudantes compravam materialescolar e didático e os professores faziam greve pormelhores salários. Porém, o pior de tudo, foi encon-trar milhares de crianças em idade escolar fora dasala de aula. Esse era o desenho da nossa cidade.
Fale dos primeiros projetos implantados porvocê quando foi secretária de educação pelaprimeira vez?
Fui secretária de educação de Duque de Caxiasnas duas gestões do prefeito José Camilo Zito de1997 a 2004. Assumi a SME (Secretaria Municipalde Educação) aos 25 anos e muitos pensavam queeu não tinha experiência suficiente para gerenciar ofuturo dos filhos dos trabalhadores de minha terra.Comecei meu romance com a educação muitocedo. Aos 14 anos já era professora e lecionava. Fizfaculdade de História e me especializei em gestãoescolar. Aos 21 anos, como professora concursadada rede estadual, já era diretora do CiEP MarieCurie. Aceitei o convite feito pelo prefeito e tive asorte e sabedoria divina de montar uma equipeempreendedora da educação, que fez toda diferençana construção de uma educação pública de quali-dade. Foi uma época de ousadia e determinação,como já disse, uma administração de vanguardapara várias políticas públicas atuais. Posso citarcomo exemplo o transporte escolar gratuito e opasse livre do estudante implantados em 1998,garantindo o acesso e permanência dos estudantesna sala de aula. A condição de igualdade, consti-tuindo a eficácia da escola, passou a ser referenciadana entrega de milhares de kits escolares contendouniforme e material completo. Implantamos os me-diadores de leitura e informática, distribuímos livrosdidáticos e cuidamos da escola em movimento
19Agosto de 2012Edição 01
Roberta BarretoA educadora que mudou a Baixada
Texto JÔ A. RAMOS | Foto EVERTON BARSAN
GENTE QUE BRILHA
como um balanço contínuo de formação dos professores e gestores.Construímos mais de 50 escolas em 8 anos e criamos também o conceitode escola padrão, assim o número de matrículas duplicou e em 2004 deixa-mos aproximadamente 100 mil alunos em sala de aula. Várias ações con-juntas colocaram a educação municipal de Duque de Caxias entre as dezmelhores do estado do Rio de Janeiro naquele período. No terceiro gover-no Zito iniciado em 2009 fui presidente da Fundec - Fundação de PolíticasPúblicas e Educacionais de Duque de Caxias e em 2011 fui novamenteconvidada pelo prefeito para gerenciar a Secretaria de Educação, com a mis-são de retomar a qualidade do ensino que no período de 2005 a 2008 foiavaliada entre as dez piores do Rio de Janeiro.
Roberta, a Baixada mudou? Existe um novo olhar para a cidadede Caxias?
Sim, a Baixada mudou e muito. Éramos conhecidos como cidadesdormitório e com a marca da violência, acrescida pelo lendário TenórioCavalcante. Hoje, Duque de Caxias vive um cenário de investimento edesenvolvimento econômico. Muitas empresas se fixaram na cidade já queestamos no maior eixo rodoviário do estado e com vias exclusivas para oarco metropolitano. Assim, em 2011, Duque de Caxias se tornou a cidadeque mais gerou empregos no estado do Rio de Janeiro. Nossa cidade possuiobras culturais de grande relevância como o Teatro Raul Cortez e aBiblioteca Leonel de Moura Brizola, obra do arquiteto Oscar Niemeyer.Estamos a 20 minutos da capital e o investimento em lazer e entretenimen-to constitui hoje a fixação da população na cidade. São mais de 100 praçasreformadas e adaptadas para o esporte local, ruas asfaltadas, iluminadas,ampliando a segurança e o bem estar.
Lembro que o nível de repetência e evasão escolar antes de vocêassumir era altíssimo, como conseguiu mudar esta realidade?
A evasão era o retrato de falta de compromisso dos governos que nosantecederam. A repetência era o resultado da falta de acompanhamento, deapoio ao estudante e ao professor, desde a formação à infra-estruturapedagógica. Os índices eram alarmantes! Chegamos com 13% de evasãoescolar e 8% de repetência. Algumas soluções foram brilhantes e contamoscom apoio de toda a rede e posso destacar a organização do ensino funda-mental em 9 anos, em 1999. Lembro que o MEC só determinou essa orga-nização nacional como obrigatória em 2004. Além disso, instituímos osciclos de alfabetização e o segundo ciclo do primeiro segmento. A distorçãosérie - idade foi corrigida ao longo do tempo com a criação de turmas deaceleração no contra turno. Medidas simples como o investimento na for-mação dos orientadores pedagógicos e educacionais fortaleceram as relaçõesno chão da escola, promovendo projetos pedagógicos de acordo com cadarealidade e avançando na construção do conhecimento. Outra medidaimportante foi a valorização do profissional da educação, elevando a remu-neração do professor e garantimos que fosse a melhor do Estado e uma dasmelhores do pais. Hoje, um professor em início de carreira recebe R$1.800,00 para 15h de trabalho semanais.
Fale um pouco sobre sua formação?Sou professora de história pós-graduada em gerência escolar pela
UNIABEU e em gerência de projetos pelo SENAI. Sou professora da redepública municipal de Duque de Caxias e da rede estadual do Rio de Janeiro.
Agora, na sua segunda gestão à frente da secretaria de educaçãoquais foram os projetos implantados?
Foi uma gestão rápida, um filho que nasceu de 7 meses! Assumi emagosto de 2011 e pedi afastamento em abril de 2012 para me dedicar aconstrução do planejamento de governo, função que muito me orgulha.Hoje, também sou assessora do gabinete da atual secretária de educação,professora Rachel Barreto. Mas, conseguimos implantar o Programa Pro-fessor Garantia de Sucesso (formação do professor nas áreas de português,matemática e contextualização) e fizemos a Provinha Caxias, um diagnósti-co prévio para a Prova Brasil e que norteou as ações pedagógicas de cadaunidade escolar. Ação inédita na rede de Duque de Caxias. O programa dealimentação escolar foi reforçado com ações de inclusão para todos os estu-dantes. Chamamos de Alimentação Inclusiva: cardápio balanceado e espe-cial para alunos portadores de diabetes ou sobrepeso.
Recebemos recentemente o convite para expor nosso trabalho noEncontro de Nutrição Internacional a ser realizado no final de maio naEspanha. O grande desafio foi adaptar e customizar a rede para educaçãointegral, assim, houve um esforço coletivo para crescer as atividades do MaisEducação e Escola Aberta, preparando nossos estudantes e professores. Aescola de educação integral que batizamos de Centro de Referência emEducação Integral (CREI) será inaugurada e será a base para um grandelaboratório na edificação da escola pública de qualidade, formadora docidadão crítico, empreendedor e principalmente conhecedor.
Quais são os planos do prefeito José Camilo Zito para educação?O prefeito pretende resgatar a qualidade do ensino implantando na
rede a educação integral, ampliando o número de escolas CREI e demo-cratizando o acesso à educação infantil, ampliando a rede de creches.Quanto ao profissional do ensino o prefeito tem um compromisso públi-co em manter a marca de melhor remuneração do estado. Além disso, iráimplantar a gestão democrática com eleição de dirigentes escolares.
Fale sobre a implantação do Campus da UERJ?O Campus Universitário Duque de Caxias é uma grande obra da
PMDC para ampliar a oferta de cursos superiores na cidade. Um cam-pus de padrão internacional e já aprovado pelo COI e COB como cen-tro de treinamento olímpico que irá garantir mais uma universidadepública à disposição dos jovens. Serão oferecidos cursos de educaçãofísica (auto rendimento) e engenharia. Ao longo dos próximos 4 anosserão atendidos até 1.500 alunos. É uma obra referencial no estado doRio de Janeiro localizada nas margens da rodovia Washington Luiz noterceiro distrito de Duque de Caxias.
O que você espera que mude na educação no Brasil? O queestá faltando?
Eu espero que a nação aprove, respeite e implante o novo Plano Nacio-nal de Educação que está prestes a ser aprovado. Isso vai corrigir distorçõeshistóricas de acesso, permanência e valorização da escola pública, da educa-ção infantil ao ensino superior. Espero também que governantes entendamde uma vez por todas que educação não é gasto e sim investimento, porquecuidar do direito de aprender das nossas crianças e jovens é dever daquelesque desejam um país mais próspero, justo e digno. Para encerrar, digo quese começasse a estudar agora, faria tudo de novo e seria professora!•
20 Agosto de 2012Edição 01
Texto CAMILA SANTOS | Fotos DIVULGAÇÃO
Uma corrida de obstáculos acontece no Rio de Janeiro antes mesmodas Olimpíadas. A cidade se encontra em meio a construções diversas egera transtornos para os cariocas. TransOeste, TransCarioca, Maracanã,Parque Olímpico e Porto Maravilha são alguns dos projetos que causam ocaos dos moradores. Olhar tudo por esse lado pode parecer realmente umafábrica urbana de problemas, mas todos podem se beneficiar no finaldessas obras. Além da melhora na infraestrutura para abrigar eventos inter-nacionais, a cidade vai ganhar dois novos museus na área portuária, umlocal que, por muitos anos, esteve abandonado. A criação desses dois novospolos culturais, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio, faz partedo programa Porto Maravilha Cultural, idealizado pela Companhia deDesenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro(CDURP) e tem parceria com a Fundação Roberto Marinho.
O Museu do Amanhã, localizado no Píer Mauá, já começa com umahistória cultural na concepção do seu projeto de arquitetura pelo renoma-do Santiago Calatrava. O espanhol é também engenheiro por formação ecria prédios que parecem esculturas gigantes. Calatrava já idealizou outrasgrandes construções pelo mundo que ajudaram a revitalizar áreas deca-dentes, como o Museu Guggenheim, na Espanha, e a Estação do Oriente,em Portugal. Além disso, um terminal grandioso também está previstopara o local que abrigava as torres gêmeas, nos Estados Unidos. No Rio,o sofisticado museu, que tem características sustentáveis e previsão deinauguração para 2014, ajudará também na recuperação estética daempobrecida zona portuária.
Os recursos naturais disponíveis no local serão utilizados de formainteligente, visando o não desperdício de água e uma relação equilibradacom o meio ambiente. Águas da chuva serão tratadas e aproveitadas nairrigação dos jardins. A Baía de Guanabara também será fonte para aclimatização do interior do museu, espelho d’água, e ainda está previstoa captação de energia solar através de estruturas de aço no telhado daconstrução. Todas essas medidas visam a conquista da certificação deLiderança em Energia e Projeto Ambiental (Leed, em inglês), concedidapelo Green Building Council (USGBC).
Tendo como proposta a exploração de possibilidades no universocientífico, esse novo espaço tem a curadoria do físico e doutor em cos-
mologia Luiz Alberto Oliveira e promete criar uma nova geração demuseus. Ambientes audiovisuais, instalações interativas e jogos serão osmeios para desfrutar de todo conteúdo proposto. Entre as inúmerasmaneiras de utilização do local, o público poderá manipular as tendên-cias da atualidade e imaginar futuros possíveis para os próximos 50anos. O questionamento e a reflexão serão testados a cada atividade. “Éum conteúdo científico para desafiar a mente, uma abordagem artísti-ca para envolver os nossos sentidos e uma interpretação cultural daciência para tocar as nossas emoções”, explica Oliveira.
A estrutura do conteúdo foi concebida pelo curador em parceria como jornalista e professor de cultura brasileira Leonel Kaz e dividida em trêseixos: a polaridade entre as Ciências Cósmicas e as Ciências Terrestres; asdimensões da existência terrestre, que inclui a história das formações damatéria, os desdobramentos da organização da Vida e a emergência dopensamento; e o comportamento humano e a ética. Essa divisão foi a basepara a organização dos espaços de experimentação.
Já o Museu de Arte do Rio (MAR) será um espaço de educação earte, na Praça Mauá, e terá uma composição arquitetônica curiosa: ajunção do tradicional Palacete Dom João VI, tombado como patrimôniocultural, com um moderno prédio que originalmente era umarodoviária. O primeiro abrigará as oito salas de exposição do museu e osegundo uma escola de arte. Apesar de ter perfis heterogêneos, as cons-truções do complexo cultural que formam a instituição serão unidas poruma praça, uma passarela envidraçada e uma cobertura em forma deonda. O que a um primeiro momento pode parecer uma mistura estra-nha, acaba se transformando em uma obra-prima harmônica. •
Novos museusajudam a revitalizar a zona portuária
23Agosto de 2012Edição 01
O Rio de Janeiro não é só
badalação é luta pelos direitos
também, e para provar isso temos
as mulheres na ponta dos movi-
mentos sociais liderando a área
política. No Rio de Janeiro, houve
434 ocorrências de estupro em
março de 2011. Já em março de 2012, foram 545, um
aumento de mais de 20%. Apenas 14% das vítimas desse
tipo de agressão registram o fato na polícia. Somente em
18% dos casos, o autor do estupro usou algum tipo de
arma – o que sugere proximidade e facilidade em abordar
a vítima. 47% das vítimas tinham menos de 18 anos, o que
sugere que o agressor tinha sobre ela algum tipo de autori-
dade. 35% dos casos acontecem dentro da casa da vítima,
e 44%, em vias públicas. O número de casos aumenta nos
fins de semana, especialmente a partir das 18 horas.
Defesa da Mulher é um movimento que quer incluir to-
dos e todas que acreditem no direito da mulher em ter liber-
dade, direito de viver suas vidas sem medo de violência ou
intimidação. Que as mulheres possam constituir suas famílias
dignamente, sem ameaça de doença, fome e pobreza. Que
elas estejam aptas a procurar ajuda sem preju-
dicá-las e que elas obtenham-na. As mulheres
querem e merecem ter uma posição de igual-
dade com os homens. Isto não é apenas um
problema das mulheres, é um problema da
sociedade. Um mundo seguro para as mu-
lheres é um mundo seguro para todos.
O movimento está realizando o projeto
VIVA MULHER que é um documentário
com mulheres de várias cidades do Brasil
sobre violência, principalmente a doméstica,
levando informações sobre direito, cidada-
nia e formas de defesa para as mulheres, com
palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai
registrar tudo em um período de 6 meses. Será lançado nas
casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde
for dada a oportunidade de mostrar este trabalho.
Complementando o projeto será lançado o livro “Violên-
cia Contra Mulheres. Dê um Basta!” e cópias do documen-
tário serão distribuídas para cine clubes e bibliotecas. A
intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso à
informação é mais precário. As ativistas estão à procura de
patrocínio, parceria e apoio.
No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quantidade de
processos sobre violência doméstica contra as mulheres é cres-
cente – em 2006, foram 640; em 2011, chegou a 1.600, o que
representa um aumento de 150%. Isso ocorre nas grandes
cidades. O movimento quer falar com mulheres que não pos-
suem acesso a delegacias da mulher, a centros de atendimen-
to, a casas de abrigo etc., por medo ou simplesmente por sua
cidade não possuir órgãos e nenhuma entidade de ajuda.
Acompanhem o Blog: http://wjdwdefesadamulher.
blogspot.com.br e o e-mail para participar do movimento
é [email protected]. O telefone é 9968-8114
e Facebook.com/defesadamulher
Movimento de mulheressacode o Rio de Janeiro
NA CIDADE
Texto JÔ A. RAMOS | Foto ZL COMUNICAÇÃO
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22 Agosto de 2012Edição 01
Especializado em frutos do
mar e cozinhas brasileira e por-
tuguesa, o Bar e Restaurante
Urca é um dos mais tradicionais
da cidade do Rio de Janeiro. Em
2012 a família Gomes come-
mora 40 anos à frente do negócio, desde quando o Seu
Gomes entrou para a sociedade, em 1972. Um livro com
histórias do Seu Gomes, lançamento de novos petiscos e
uma programação especial de eventos estão em organiza-
ção para o segundo semestre, de acordo com o sócio
Armando Gomes Filho.
Ele afirma que a morte do Seu Gomes no mês de
junho reforça o compromisso com a comemoração da
data. Afinal, – foi a visão de negócio, a persistência, o
compromisso com a qualidade do meu pai que permitiu
que neste período tenhamos conquistado espaço na
preferência de cariocas e turistas, com nossos petiscos
(pastéis, bolinho de bacalhau, empadas, casquinhas e
caldo de frutos do mar, sardinha frita e etc.) e a cerveja
sempre gelada. Temos obrigação de registrar essa herança
que ele nos deixou–.
Além desses atrativos, Armando Gomes, destaca o
charme, a tranquilidade e segurança do bairro da Urca
como “ingredientes permanentes do bar e restaurante”.
Segundo Armando, o objetivo da equipe do Bar Urca
é oferecer os melhores serviços, o melhor atendimento,
os melhores pratos e o melhor ambiente. Ele lembra que
esta busca tem sido reconhecida pelos clientes e se reflete
em diferentes prêmios que o negócio tem conquistado
junto à imprensa especializada, como os oferecidos pelas
revistas Veja Rio, e Época e o jornal O Globo, além de
presença em veículos especializados, como o Guia Danu-
sia Bárbara e o Rio Botequim. “Esses prêmios nos incen-
tivam a continuarmos com o trabalho que fazemos para
os nossos clientes dia após dia”.
O Bar e Restaurante Urca conta com uma localização
privilegiada à margem da Baía de Guanabara, e tem vista
para uma das mais belas paisagens do Rio de Janeiro. •
Família Gomes comemora 40 anos à frente doBar e Restaurante Urca
Serviço / Bar e Restaurante Urca
Endereço: Rua Cândido Gaffrée, 205, Urca.
Telefone: (21) 2295.8744 | www.barurca.com.br
Funcionamento: o restaurante abre de segunda a sábado
das 11h30 às 23h e domingo, das 11h30 às 19h.
O bar funciona de segunda a sexta, de 7h às 23h,
sábados de 8h até 23h e no domingo, das 8h às 20h.
Aceita todos os cartões de crédito (exceto American Express),
débito, e vale-refeição TR.
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25Agosto de 2012Edição 01
A agência digital AM4 – a principal do estado e ter-
ceira do país – está presente na Lapa com um escritório
dentro da Fundição Progresso. São mais de 200 metros
quadrados de puro design em homenagem à cidade do
Rio de Janeiro. Paredes de pedra bruta e piso de tábuas
envelhecidas contrastam com elementos gráficos cariocas
e piso de resina desenhado, além de peças de design
espalhadas por todos os ambientes, numa mistura de
rústico e arquitetura contemporânea.
O espaço está planejado para receber metade dos 120
funcionários da empresa, hoje divididos entre o Rio, São
Paulo, Campinas e a matriz em Barra Mansa. Marco
Aurélio Carvalho, sócio da AM4 explica a escolha da
localização: “O bairro é o retrato do Rio de Janeiro. A
criatividade aliada à história que nos dá o diferencial no
atendimento, na percepção das necessidades dos clientes
e nas soluções a que chegamos. A ocupação empresarial
desse pedaço do Rio é uma realidade e nós quisemos
chegar logo.”
A AM4 é uma agência interativa full service que uti-
liza o canal online para o desenvolvimento de soluções
criativas, com o uso da inteligência digital. Oferece
serviços como criação de websites, plataformas de e-
commerce, intranets e extranets; marketing interativo:
Agência digital AM4presente na Lapa com a cara do Rio
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e-marketing, propaganda interativa, planejamento de
mídia online, search engine marketing, e-mail marketing,
campanhas promocionais e virais, análises, pesquisas e
presença online. Cria também ferramentas interativas
para relações públicas e assessoria de imprensa e
soluções em mobile-marketing – além de marketing
interativo para construir uma presença virtual forte e
melhorar o relacionamento entre as empresas clientes e
seus consumidores.
A empresa foi fundada há 12 anos em Barra Mansa
e atende a mais de 150 clientes. Entre eles, 42 shoppings,
pertencentes a quatro dos maiores integrantes de
shoppings do país (BRMalls, Multiplan, Grupo Igua-
temi e Aliansce), a Vale, EBX, Acciona, FMC, Coppe,
Claro, MPB FM, O Boticário, Audi, Multishow,
Brahma e Editora Objetiva, Globo Filmes e a casa de
shows Miranda e a Unimed Rio. Em 2011 a empresa,
teve faturamento na casa de R$ 8milhões, o que
motivou as previsões de investimentos para 2012 na
casa dos R$ 3 milhões.
Essa atividade reflete a crescente importância das
agências digitais, que unem a tecnologia da informação
às ferramentas da publicidade. É um mercado virtual em
expansão e que atrai como clientes empresas de dife-
rentes segmentos. A internet, lembra Marco Aurélio, já
ocupa a terceira posição no ranking do faturamento
publicitário, atrás da TV aberta e dos jornais: “Nós, com
a AM4 estamos presentes nesse mercado e participamos
da expansão, com soluções desenvolvidas sob medida
para cada cliente e diferentes plataformas, como por
exemplo a criação de diferentes aplicativos, como jogos
para o Facebook.” •
NEGÓCIOS
A banda que é sinônimo do underground cariocaestá de disco novo. Às vésperas de completar 10 anos deestrada, a Lion Heart lança seu terceiro álbum. Dona doBordel vem na seqüência do ótimo Viver Pra Detonar(2009), trazendo cinco sons que já estão na ponta da lín-gua do povo que não perde as sempre divertidas e ani-madas apresentações do quarteto, que além dos eternosThiê (voz) e Brandon (guitarra), agora conta com a pre-cisão de Stanley Fersen no baixo e Allan Argollo tocan-do bateria como se fosse destruí-la.
Logo nos primeiros acordes da faixa-título dá pranotar que, em comparação ao que já estávamos habitua-dos a ouvir, o som está mais cru, flertando com o hardrock dos anos 70 e início dos anos 80. A gravação em sitraz uma aura “old school” que promete agradar aos queainda têm preconceito com a farofa purpurinada. Naseqüência, “Eu Quero Acreditar” traz um refrão dignode levantar a turma do gargarejo em uníssono. Sua letratraz aquela mensagem positiva, típica da Lion Heart, abanda que não quer ver ninguém deprimido.
Sabe aquela breve oração que os jogadores de futebolfazem no vestiário antes de subirem a campo para a partida?“Sempre Juntos” é praticamente isso, “Vamos lá, vamosarrebentar”. Sem contar o compromisso que é assumido norefrão, “No palco até morrer”: esse é o espírito. E pra quem
estava com saudades do açúcar do cd“Coração de Leão” (2005), “Menina de Copacabana”cumpre o papel de balada romântica – apesar da menina emquestão ter seu “jeito sacana” escancarado, a suavidade éginasiana.
O nome já diz tudo: “Brigue por Você” é outra músi-ca de incentivo. Nesta aqui, a banda põe pra fora algumasbelas verdades; assustadoras, porém reais no dia a dia dequem batalha por um espaço, tocando em condiçõesadversas, sujeitos a determinações de produtores sangues-sugas e plateias nem sempre tão amigáveis. Ah sim, o solode guitarra é o melhor em todo o disco. Encerramento per-feito, letra digna de reflexão. Agora é torcer por um feed-back positivo em matéria de vendas e novas datas de shows,pois estes caras aqui dão o sangue por aquilo que fazem. •
Banda Lion HeartDonos do BordelTexto MARCELO VIEIRA | Fotos DIVULGAÇÃO
Youtube da Lion: http://www.youtube.com/lionheartvideos (Videoclipes, entrevistas e trechos de shows ao vivo)Lion Heart no Myspace: http://www.myspace.com/bandalionheartSite da Lion Heart: http://www.lionheart.com.br (Baixe lá os dois cds da Lion)Comunidade da Lion Heart: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=183421Fotolog da Lion Heart: http://www.fotolog.com.br/banda_lionheartTwitter: http://twitter.com/bandalionheartFacebook: http://pt-br.facebook.com/people/Lion-Heart/100001134381445Reverbnation: http://www.reverbnation.com/bandalionheartOi Novo Som: http://www.oinovosom.com.br/bandalionheartE-mail: [email protected] (Comprar o cd, contratar a banda)
ROCK