Ricardo Reis
Análise do poema “Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio”
Tópicos a abordar® Aspetos caraterísticos da poesia de
Ricardo Reis;® Atividades de pré-leitura;® Leitura do poema a abordar;® Análise da temática;® Análise estilística;® Simbologia presente no poema;® Conclusão;® Resposta a questões de compreensão.
Ricardo ReisRicardo Reis nasceu em 1887, no Porto, e
formou-se em Medicina. “[…] é um pouco, mas muito pouco mais baixo [do que Alberto Caeiro], mais forte, mas seco […] Reis de um vago moreno mate […] educado num colégio de jesuítas […] vive no Brasil desde 1919, pois se expatriou espontaneamente por ser monárquico. É latinista por educação alheia, e um semi-helenista por educação própria […].”
Fonte: Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro(13 de janeiro de 1935)
Caraterísticas da poesia de Ricardo Reis■ Horacianismo:
■ Carpe diem: “Aproveita o dia”, vive os prazeres do momento
■ Aurea mediocritas: “ouro medíocre”, a felicidade reside na simplicidade natural
■ Epicurismo:■ Procura da felicidade relativa■ Moderação nos prazeres■ Fuga às sensações extremas■ Busca do estado de ataraxia (tranquilidade
sem perturbação)
■ Estoicismo (conformismo):■ Indiferença perante as emoções (apatia)■ Aceitação do poder do destino (fatum)■ Atitude de abdicação
■ Paganismo:■ Crença nos deuses clássicos■ Inspiração na civilização grega
■ Obsessão com a passagem do tempo:■ Preocupação constante com a efemeridade
da vida■ Questionamento do fluir indiscutível do
tempo■ Medo da morte
Atividade de pré-leitura
Crónica “O arroz-doce quente” de Miguel Esteves Cardoso
◙ Segundo o autor, “Adiar prazeres é uma boa estratégia” porque permite “[...] aprender a dar-lhes valor” (l. 11) no momento em que são experimentados.
◙ Considera que “A pressa é uma paixão destrutiva” (l. 13) e que, por isso, pode não permitir desfrutar convenientemente de situações memoráveis.
◙ O adiamento dos prazeres, defendido no poema de Ricardo Reis, prende-se com uma atitude de abdicação e de recusa de esforço face à inexorabilidade da vida e à certeza da morte.
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena
cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a
voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre
correria,E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em
nada,Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamosNem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à
beira-rio,Pagã triste e com flores no regaço.
◘ Estrutura da ode
◘ Regularidade estrófica e métrica
◘ Rima branca
Análise externa
Tema/ filosofia de vida do sujeito poético:
- Abdicação consciente face aos sentimentos e
gozos da vida.
Análise interna
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-
nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em
nada,Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-
rio,Pagã triste e com flores no regaço.
1ª parte:A efemeridade da vida
2ª parte:A inutilidade dos compromissos
3ª parte:A busca da
tranquilidade
4ª parte:A ausência de
perturbação face à morte
Primeira parte – estrofes 1 e 2
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
A metáfora do rio e o correr da água
(símbolo da passagem inexorável)
A inutilidade de qualquer compromisso
A necessidade de predomínio da razão
sobre a emoção, como defesa contra o
sofrimento
Elementos clássicos: o ambiente bucólico, o
nome “Lídia” e o papel do fatum
Segunda parte – estrofes 3 e 4
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
O enlaçar e desenlaçar das mãos como recusa
de qualquer compromisso
A recusa constante de todo e qualquer
excesso (amores, ódios, paixões,
invejas..)
Evitar todos os desassossegos que
possam provocar dor
A morte como única certeza do percurso
existencial
Terceira parte – estrofes 5 e 6
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
O estabelecer de um “programa de vida”: a
vida deve ser vivida de forma serena e calma; deixemo-la passar à
nossa frente, controlando as nossas
emoções e sentimentos
Valorização do carpe diem: captemos o
“perfume” do momento, evitemos o
conhecimento das coisas
Quarta parte – estrofes 7 e 8
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depoisSem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira do rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
A aceitação pacífica da morte é consequência
da demissão do eu perante a vida. Assim, a morte não deve ser motivo de sofrimento,
pois ainda não foi presenciada. A vida passa, por isso não devemos assumir compromissos,
devemos fazer apenas pela tranquilidade
Justificação para o modelo de vivência
amorosa definido pelo poeta
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).Depois pensemos, crianças adultas, que a vidaPassa e não fica, nada deixa e nunca regressa,Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-
nos.Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,Nem invejas que dão movimento de mais aos olhos,Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-asNo colo, e que o seu perfume suavize o momento – Este momento em que sossegadamente não cremos em
nada,Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depoisSem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim – à beira-
rio,Pagã triste e com flores no regaço.
Ritmo lento e pausado
Aliteração dos sons «v» e «s» com o arrastamento do «e» (sons nasais e fechados)
Pontuação e advérbios de modo
Palavras de conotação pessimista
Enumeração
Gradação com assíndeto
Comparação
Metáforas
Perífrase
Eufemismo
Hipálage
Utilização expressiva do presente do indicativo e do gerúndio, e depois do futuro do indicativo e do presente do conjuntivo.
Simbologia presente no
poema• O rio sugere passagem; efemeridade (vv. 1 e 10);• O Fado e os deuses pagãos controlam a vida dos
homens (vv. 7, 24 e 32);• O enlaçar/desenlaçar das mãos traduz o desejo
de aproveitar o momento, de assumir compromissos, contra a sua inutilidade (vv. 3, 4, 9 e 27);
• As flores no colo e o seu perfume sugerem o bem efémero (vv. 21, 22);
• A perífrase se for sombra antes atua como um eufemismo para «Se eu morrer antes de ti»(v. 25);
• O adjetivo sombrio é uma hipálage para o estado de espírito do sujeito poético, esperando a morte.
Simbologia presente no
poema• O barqueiro sombrio é uma referência mitológica a Caronte, figura que transportava os mortos pelos rios infernais. A família do defunto colocava-lhe na boca o óbolo, uma moeda grega que simbolizava o seu pagamento.
Conclusão♦ Ricardo Reis e Caeiro
A influência de Alberto Caeiro em Reis sente-se no paganismo de ambos. Além disso, se a natureza era residência, visão em Caeiro, em Reis surge como refúgio, metáfora.
Reis vê a natureza com a Razão
Caeiro vê a natureza com os
sentidos
Verbos que traduzem
operações mentais, como
“aprendamos” e “pensemos”
Para Caeiro há apenas sensações
Conclusão♦ Ricardo Reis e Pessoa Ortónimo
Neste poema observam-se vários pontos comuns entre as poesias de Pessoa ortónimo e Ricardo Reis:
- Lado mais conservador de Fernando Pessoa;- Dicotomia razão/coração;- Gosto pela cultura clássica.
Resposta às perguntas de compreensão1. Bucólico; apóstrofe; exorta; metáforas; sereno; físicos.
2.1. O conetor “Depois” insere uma conexão temporal mas, sobretudo, uma oposição face ao conteúdo da primeira quadra. Na primeira estrofe o sujeito poético convida Lídia a contemplar o curso do rio. Já na segunda quadra o sujeito poético recorda a natureza racional do ser humano (“pensemos” (v. 5)), que os obriga a reconhecer que a vida é transitória.
2.2. O modificador do nome apositivo “crianças adultas” destaca a ingenuidade das “crianças” em Lídia e o sujeito poético, não se podendo esquecer que são pessoas “adultas”, e são sujeitas ao raciocínio que as obriga a reconhecer a efemeridade da vida.
3.1. O sujeito poético opta por desenlaçar as mãos de Lídia, por considerar que se trata de um compromisso/emoção intensa, que pode impedir que vivam “silenciosamente” (v. 11), ou seja, sem agitações e em ataraxia.
4.1. A repetição da preposição “sem” (vv. 12-13) e da conjunção “nem” (vv. 13-15) intensificam a ideia de recusa, introduzindo a enumeração de sentimentos e de ações que se rejeitam, a fim de encontrar a tranquilidade desejada.
6. Os seres humanos devem procurar uma existência semelhante à dos elementos naturais. Assim, aceitando-se efémeros, reconhecem-se nas “flores” (v. 21) transitórias e no “rio” (vv. 1, 10, 15, 20) que segue de forma irreversível o seu curso, tal como os humanos devem aceitar o destino que lhes coube.
Trabalho realizado por:
Ana Patrícia PiresFilipa FonsecaPedro Milhano
12º A