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Noites e noites a fio, navalha escura. O tempo passa e ele não vem, sequer telefona. Noto agora que o velho cobertor não disfarça a tremura da pele suada.

Pra onde meu bem estará voltando agora?

Todos andam sérios, compenetrados, voltando do trabalho, estão confor-táveis, embora não pareçam felizes por completo.

Vejo a sua imagem em cada penumbra que se movimenta lá fora. Pode estar agora numa casa limpa, afogado no colo de alguém e gozando de afagos, como

um gatinho mimado e manhoso encontrado na rua e que mia pra saciar a fome.

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Pode estar agora numa casa limpa, afogado no colo de alguém e gozando de afagos, como um gatinho mimado e manhoso encontrado na rua e que mia pra saciar a fome.

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O que ofereci eu a ele todo esse tempo? Hoje, nessa noite eu só posso oferecer o meu rancor

Juro que se ele entrasse por essa porta agora agiria como uma assassina e aproveitaria cada segundo do meu teatro

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Que barulho é esse? Não pode ser o passo dele.

É um passo embriagado.

Talvez esteja bêbado e tenha se transformado num estranho.

Vai entrar no quarto, mergulhar de bruços na cama, sem ao menos tirar sapato e roupa ou dizer boa noite.

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Dama da noite.

Examinaria a sua camisa. Marcas de batom. Os passos se aproximam. O cheiro da outra. O cheiro não engana.

Agora os passos se afastam. Ele se distancia como um fantasma acuado.

Quando há outra pessoa percebemos pelo cheiro que se alastra.

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Mas procuro o meu amado em cada canto, em cada fresta, entre a poeira e a fuligem cinza.

E cada detalhe vem à tona.

Eu sei que aqui ele não está

E mesmo que eu desista da busca, os vestígios me perseguem.

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Sou covarde demais pra me matar. Cortar os pulsos. Saltar do décimo primeiro andar. Tomar chumbinho, ou morrer de tristeza.

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Sinto já uma necessidade destrutiva que só finda com a cinza absoluta.

De tanto querer bem, sinto ódio e quero judiar do meu amor. Tenho a crueldade ingênua de uma criança que põe fogo numa formiga.

O ciúme me arde os olhos. A felicidade já não basta.

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Sinto já uma necessidade destrutiva que só finda com a cinza absoluta.

De tanto querer bem, sinto ódio e quero judiar do meu amor. Tenho a crueldade ingênua de uma criança que põe fogo numa formiga.

O ciúme me arde os olhos. A felicidade já não basta.

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