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ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO
CADERNO PEDAGGICO
FILOSOFIA
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GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINAJoo Raimundo Colombo
VICE-GOVERNADOR DO ESTADOEduardo Pinho Moreira
SECRETRIO DE ESTADO DA EDUCAO
Marco Antnio Tebaldi
SECRETRIO ADJUNTO
Eduardo Deschamps
DIRETORA DE EDUCAO BSICA E PROFISSIONALGilda Mara Marcondes Penha
GERENTE DE ENSINO MDIO
Maike Cristine Kretzschmar Ricci
GERENTE DE EDUCAO PROFISSIONAL
Edna Corra Batistotti
GRUPO DE TRABALHOPatrcia de Simas Pinheiro - Coordenadora
Valda Maria de Mendona Jaques Dias
REVISODulce de Queiroz Piacentini
ESTADO DE SANTA CATARINA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO
DIRETORIA DE EDUCAO BSICA E PROFISSIONAL
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Carssimos professores
Inexiste pas, estado ou municpio que tenha alcanado nveis de desenvolvimento
humano satisfatrios, para o aproveitamento de todas as potencialidades que se
pretendem no alcance da justia social, como sujeitos crticos, livres e participantesativos na formao da democracia que sonhamos para todos ns, sem faz-lo por meio
de uma educao voltada, exatamente, para estas finalidades.
Educar, em sua etimologia latina, traz o significado de fazer brotar da terra para a
vida, para a gerao de frutos. Na qualidade deste trazer para o crescimento est
definido o fruto que se ir produzir. E, neste momento, coloca-se o papel do ser humano
que, com sua formao e sua vontade, aliadas s possibilidades que encontra para uma
ao educativa competente, torna-se o artfice na formao de seres capazes de fazer de
Santa Catarina um estado sempre modelar, por estar sedimentado em procedimentosvoltados exatamente para os seres humanos que o formam.
o que todos esperamos de cada educador que faz do magistrio o caminho a ser
trilhado para o crescimento de nossas crianas, jovens e adolescentes, como
construtores de um mundo em que todos possamos caber com justia e dignidade.
E os gestores da educao pblica estadual, em que me coloco como Secretrio da
Educao, temos a responsabilidade de possibilitar uma estrutura, fsica e terica, com a
sinalizao de caminhos que, com a competente ao de todo o coletivo docente, corrija
distores e, no conhecimento de cada meio em que nos envolvemos, transforme cadaaluna e aluno em atores vivos para uma Santa Catarina que desejamos cada vez mais
bela, humana e humanizante.
Com o envolvimento do conjunto de profissionais que atuam em nossas estruturas
administrativas, especialmente por meio da Diretoria de Educao Bsica e Profissional
e Gerncias Regionais de Educao, com o assessoramento de educadores e educadoras,
produzimos estes cadernos pedaggicos para os componentes curriculares de Biologia,
Filosofia, Fsica, Geografia, Histria, Matemtica, Qumica, Sociologia, Ensino Mdio
Integrado Educao ProfissionalEMIEP e um especial sobreInterdisciplinaridade .
Com o olhar voltado para uma educao de qualidade que torne cada catarinense
um ser pleno de senso humano e esprito democrtico, envolvemo-nos para fazer chegar
aos professores e professoras um material significativo na construo de uma escola
cada vez mais voltada para o povo catarinense, possibilitando-nos a conscincia de que
pela educao que trilhamos os caminhos da justia, da dignidade, do progresso e da
felicidade.
Marco Antonio Tebaldi
Secretrio de Estado da Educao
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APRESENTAO
Entre os anos de 2004 a 2007, a Secretaria de Estado da Educao reuniu
professores, gestores e demais profissionais da educao, diretamente envolvidos com o
currculo dos cursos de Ensino Mdio e de Ensino Mdio Integrado Educao
Profissional, em eventos de formao continuada, com a finalidade de discutir e propor
encaminhamentos terico-metodolgicos para a prtica pedaggica em sala de aula.
Desses encontros de formao continuada resultou a produo de cadernos
pedaggicos para os componentes curriculares de Biologia, Filosofia, Fsica, Geografia,
Histria, Matemtica, Qumica, Sociologia, alm de um caderno com atividades de
aprendizagem interdisciplinares, envolvendo todos os componentes curriculares do
Ensino Mdio, e um caderno voltado para o currculo do Curso de Ensino Mdio
Integrado Educao Profissional.
A relevncia terica, a legitimidade para a prtica pedaggica em sala de aula, a
vinculao aos encaminhamentos terico-metodolgicos da Proposta Curricular de
Santa Catarina, expressos nos documentos datados de 1991, 1998, Diretriz 3/2001,
Estudos Temticos 200, com a competente autoria dos professores e gestores da rede
pblica estadual de ensino, validam e do legitimidade a estes cadernos como fonte de
reflexo e planejamento dos tempos e espaos curriculares voltados educao integral
dos adolescentes e jovens catarinenses do Ensino Mdio.
Caro professor, trazemos esse documento para sua considerao quando do planejar
e do fazer curricular, vinculados aos interesses, s diversidades, s diferenas sociais
dos estudantes e, ainda, histria cultural e pedaggica de sua escola. No pretendemos
que eles se constituam como fontes nicas e inquestionveis para a educao que o
Estado catarinense tem implementado com foco no ser humano, em todas as suas
dimenses. Faz-se essencial o trabalho de cada ente educativo no olhar pleno para a
realidade que reveste cada meio, em suas especificidades humanas e culturais, quetransforma Santa Catarina em modelo pluritnico, garantindo-nos estar situados como
exemplo para todos os que desejam uma educao centrada na formao humana e
cidad. Assim sonhamos a educao que nos transforme em sujeitos crticos e cientes de
nosso papel na transformao do mundo.
Temos certeza de que este material, produzido por meio de um trabalho coletivo,
ter bom proveito e aplicabilidade no seu dia a dia escolar.
Gilda Mara Marcondes Penha Maike Cristine Kretzschmar RicciDiretora de Educao Bsica e Profissional Gerente de Ensino Mdio
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SUMRIO
Prefcio ................................................................................................................... 6
UNIDADE I - INTRODUO FILOSOFIA .................................................. 7Mitologiareas da filosofiaHistria da filosofia
UNIDADE IICOSMOLOGIA .......................................................................... 25Archdo universoo princpio primordialOrigens
UNIDADE IIIANTROPOLOGIA .................................................................... 42Conceituao do objeto de estudoA relao do ser humano com a culturaAntropologia e interdisciplinaridade
UNIDADE IV - ONTOLOGIA ........................................................................... 59O ser e enteEssncia e existnciaLiberdade
UNIDADE V
EPISTEMOLOGIA E LINGUAGEM ..................................... 79EpistemologiaLinguagemRelao Dialtica Entre A Epistemologia e a Linguagem
UNIDADE VI - LGICA E INFORMAO .................................................... 95ConceitoJuzoRaciocnio
UNIDADE VII - TICA E POLTICA ............................................................... 110
CidadaniaSistemas e rgos polticosNovas tecnologias
UNIDADE VIIIESTTICA .............................................................................. 126PercepoArteO belo
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PREFCIO
Sentimo-nos honrados e agradecidos pela incumbncia de fazer a apresentao
desse magnfico trabalho, fruto do esforo dos alunos do Curso de Filosofia do
Programa de Formao Continuada de Professores do Ensino Mdio, promovido pela
Secretaria de Estado da Educao de Santa Catarina.
As reas do saber humanstico, aqui com nfase na filosofia, esto recobrando
seu valor e brilho, aps perodos de relativo desencanto. Este trabalho, particularmente,
preenche um duplo vazio: aquele do engajamento dos professores e alunos do segundo
grau na produo do conhecimento, e no s de sua reproduo; em segundo lugar, o
propsito de atualizar continuamente os conhecimentos, as leituras e demais atividades
didticas, resultando toda essa atividade numa slida base para um futuro melhor.
O brilho do conhecimento deixar de ornar a fronte de um povo pelo desleixo
com o conhecimento, merc e graa da apostasia das elites e dos polticos. O saber
conquista, primeiro individual e, posteriormente, coletiva, que envolve suor e mesmo
sangue, dos professores e de seus alunos, no cotidiano de salas de aula abarrotadas e
com falta de material de apoio.
Esse esforo continuado, constante em seu aprofundamento, acabar por
produzir um povo culto, uma sociedade cidad ou, melhor ainda, uma sociedade
garantidora do exerccio da cidadania. Esse esforo mostrou seu extraordinrio
potencial na produo deste Caderno Pedaggico, a demonstrar que a cooperao entre
pares plenamente possvel, bastando para isso que ns professores nos dispamos da
vaidade, da inveja e do cime, os mais formidveis obstculos da produo cientfica
em nossas universidades.
Esse Caderno Pedaggico a conquista e o dom amorosos de pessoas maduras
no corao e na mente, que buscam na reflexo e no esforo didtico atingir igualmenteos coraes e as mentes de seus alunos. Tambm digna de nota, para que se faa boa
justia, a objetividade das posies, pr ou contra, em relao a teorias e ideologias. A
iseno de nimo, longe de hipcrita ou alienada, a atitude de quem busca uma
proximidade maior da verdade, sabendo das inauditas dificuldades de alcan-la.
Objetividade e pacincia so as armas com que combatemos a nossa prpria ignorncia.
Prof. Slvio Alexandre Muller (In Memoriam)Prof. Janes Fidelis Tomelin
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UNIDADE I
INTRODUO FILOSOFIA
INTRODUO
Os caminhos percorridos pela Filosofia ao longo de sua histria no so fceis
de trilhar, haja vista a grande quantidade de pensadores que se debruaram sobre seus
temas candentes, apresentando propostas at certo ponto contraditrias, o que sempre
resultou em maior extenso e profundidade do pensamento.
Essa abordagem no pretende se apresentar como algo concludo, um corpo de
conhecimentos rgidos com pretenso de ser a verdade, e sim como um instrumento
que permita aos educadores apresentarem aos seus alunos um panorama breve da
Filosofia, desde sua gnese at os dias de hoje.
Trata-se de colaborar na criao de um referencial, que proporcionar uma
informao que possa ser utilizada de maneiras diversas. Neste sentido, objetiva-se uma
construo de possibilidades que permitam aos educandos descobrirem-se e
desenvolverem-se enquanto cidados e sujeitos do conhecimento e da histria. Assim, a
Filosofia continua sendo um instrumento de desenvolvimento da racionalidade e da
criticidade.
Discorrer-se-, resumidamente, sobre a origem do termo e a relao da Filosofia
com outras reas de conhecimento. Tratar-se- tambm, dos diferentes tipos de
conhecimento existentes, tais como a cincia, a religio, o senso comum e filosfico.
Ser abordado o perodo mtico, como o solo sobre o qual a Filosofia vai surgir.
Finalmente, tratar-se- da histria da Filosofia, desde o seu surgimento, passando pela
Idade Mdia, Moderna e Contempornea.
OBJETIVOS
Compreender as divergncias entre Filosofia e as tradies dogmticas
dos mitos, oferecendo uma pluralidade de explicaes possveis;
enquanto o mito uma narrativa cujo contedo no se questiona, a
Filosofia problematiza e, portanto, convida discusso.
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Estabelecer possveis relaes da Filosofia com as diferentes reas do
conhecimento, tais como antropologia, cosmologia, ontologia
(metafsica), esttica, tica e poltica, epistemologia e lgica.
Possibilitar uma compreenso da histria da Filosofia a partir de
fragmentos dos textos clssicos.
GRUPO DE TRABALHO
Amarildo CustdioEEB Prefeito Frederico ProbstPetrolndia
GEREDItuporanga
Gibrair Xavier SimesEEB La SalleSerra Alta
GEREDChapec
Isabel Cristina CarneluttEEB Roberto MoritzItuporanga
GEREDItuporanga
Marco Antnio MartinsEEB Caetano Bez BattiUrussanga
GEREDCricima
Narcelio Incio DebonaEEB Claudino CrestaniPalma Sola
GEREDDionsio Cerqueira
Neusa Maria dos Santos
EEB Dr. Otto FeuerschutteCapivari de BaixoGEREDTubaro
Wagner FagundesEEB Vitrio RomanVargem Bonita
GEREDJoaaba
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MITOLOGIA
Como e por que diferenciar o discurso cientfico dos
juzos de senso comum?
Nesse pano de fundo, onde situar o discurso mtico?
Que valores veiculam as personalidades mticas contemporneas?
Que diferenas pode se apontar entre a mitologia antiga e os mitos modernos?
CONTEXTO
A noo de mito complexa e extremamente rica. No exclusividade dos
povos primitivos, nem das civilizaes atuais, mas mitos existem em todos os tempos e
culturas como componente indissocivel da maneira humana de compreender a
realidade. O mito muitas vezes visto como uma maneira fantasiosa de explicar a
realidade ainda no justificada pela racionalidade, tratando-a como lendas, fbulas,
folclore.
O pensamento mtico nasceu do desejo de dominao do mundo para afugentar o
medo e a insegurana. A verdade do mito no obedece lgica da verdade emprica,
nem da verdade cientfica ou filosfica. , antes, uma intuio compreensiva darealidade, uma forma espontnea do homem em situar-se no mundo.
Hoje em dia, os meios de comunicao de massa trabalham sobre os desejos e
anseios que existem na natureza humana inconsciente e primitiva. Os mitos modernos
no possuem a mesma abrangncia de realismo como ocorria nos mitos gregos,
romanos, indgenas. Pode-se escolher o mito da sensualidade, da maternidade, dos
dolos, e transformar personalidades em mitos, tais como Pel, Xuxa e Ayrton Senna.
Portanto, o mito no resultado de delrios, nem de uma simples mentira, eainda se faz presente no nosso cotidiano. Mitos esto profundamente entranhados no
modo de pensar, sentir e agir de uma sociedade e podem ser o ponto de partida para a
compreenso do ser.
TEXTOS PROVOCATIVOS
O mito, enquanto criao humana, a base sobre a qual se funda a primeira
tentativa racional de explicao do real: a Filosofia. Ele a base sobre a qual tambm se
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desenvolvem as aes, pensamentos e sentimentos da sociedade e que, com o passar dos
tempos, acabam por perpetuar-se nos contos populares e no folclore. Porm, ele tambm
sobrevive nos indivduos, estando presente na sua natureza primitiva e inconsciente.
Com o surgimento das tentativas racionais de explicar o real filosofia e cincia
no houve a extino dos mitos, que ainda hoje subsistem, porm de maneiras
diversas. Ele a base sobre a qual criamos os pressupostos para o trabalho da razo e
no somente uma maneira fantasiosa de explicar o real, ou uma simples mentira como
alguns pensam. Ele fruto da tentativa humana de afugentar o medo e controlar o
mundo.
O texto a seguir, de Jung, trata do surgimento dos mitos como fruto do
inconsciente coletivo, termo este criado por ele. Jung afirma que o inconsciente coletivo
um lugar da psique comum humanidade inteira, onde se encontram armazenados os
registros das suas experincias desde os tempos mais remotos. Nesse inconsciente
coletivo, os temas importantes vo amadurecendo at o momento em que so
absorvidos pelo imaginrio popular em forma de lendas e supersties e em
manifestaes artsticas. So esses mitos que serviro de enredo para determinados
aspectos da vida e guiaro os povos durante certo perodo de seu amadurecimento
psquico.
A partir de Carl G. Jung e de Joseph Campbell, a leitura sobre os mitos passa a
ser feita sob outros aspectos e com maior seriedade. Longe de serem apenas
curiosidades sobre crenas extravagantes de determinados povos, eles nos apresentam
os mitos como esqueletos onde se monta a estrutura da psique humana, influenciando as
relaes do homem com o mundo em sua volta.
TEXTO 1 - O Homem e seus smbolos, Jung
Assim, como o nosso corpo um verdadeiro museu de rgos, cada um com a
sua longa evoluo histrica, devemos esperar encontrar tambm na mente uma
organizao anloga. Nossa mente no poderia jamais ser um produto sem histria, em
situao oposta ao corpo em que existe. Por histria no estou querendo me referir
quela que a mente constri atravs de referncias conscientes ao passado, por meio da
linguagem e de outras tradies culturais; refiro-me ao desenvolvimento biolgico, pr-
histrico e inconsciente da mente no homem primitivo, cuja psique estava muito
prxima dos animais.
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Esta psique, infinitamente antiga, a base da nossa mente, assim como a
estrutura do nosso corpo se fundamenta no molde anatmico dos mamferos em geral. O
olho treinado do anatomista ou do bilogo encontra nos nossos corpos muitos traos
deste molde original. O pesquisador experiente da mente humana tambm pode verificar
as analogias existentes entre as imagens onricas do homem moderno e as expresses da
mente primitiva, as suas imagens coletivas e os seus motivos mitolgicos.
Assim como o bilogo necessita da anatomia comparada, tambm o psiclogo
no pode prescindir da anatomia comparada da psique. Em outros termos, o psiclogo
precisa, na prtica, ter experincia suficiente no s de sonhos e outras expresses da
atividade inconsciente mas tambm da mitologia no seu sentido mais amplo. Sem esta
bagagem intelectual ningum pode identificar as analogias mais importantes; no ser
possvel, por exemplo, verificar a analogia entre um caso de neurose compulsiva e a
clssica possesso demonaca sem um conhecimento exato de ambos.
JUNG, C. G. O homem e seus smbolos. Disponvel em:
. Acesso em: 25 out. 2006.
TEXTO 2 - Minhas palavras, Lvi-Strauss
No prximo texto, de Lvi-Strauss, o autor nos remete a uma anlise da
passagem da natureza cultura. No clssico O cru e o cozido, ele analisa 187 mitos
coletados por diversos pesquisadores entre povos indgenas do Brasil. Segundo o
prprio autor, o texto poderia ser chamado de representaes mticas da passagem da
natureza cultura.Os Bororo contriburam com 18 narrativas que representam variaes de um
mesmo tema e que foram considerados mitos de referncia. Ao analisar o seu livro,
ele afirma que todos os 187 mitos utilizados referem-se direta ou indiretamente
inveno do fogo e, portanto, da cozinha, enquanto smbolo no pensamento indgena.
Da passagem da natureza cultura (LVI-STRAUSS, 1986, p. 51).
A saber, os Bororo, tomados como referncia, so exatamente os que menos
explicitam a conquista do fogo. O prprio autor reconhece: Temos razes para admitir
http://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htm -
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que o mito Bororo se refere origem do fogo apesar de sua extrema discrio quanto a
isso (idem, p. 169).
Os mitos Tupi, tambm presentes em O cru e o cozido, falam sobre a
descoberta do fogo sendo mais diretos: o heri mtico finge que morreu e atrai os
urubus. Estes, que eram ento os donos do fogo, juntam-se em volta do morto e
acendem uma fogueira para cozinh-lo. O heri afugenta os urubus e toma posse do
fogo, entregando-o aos homens. O autor estabelece uma semelhana dos demais mitos
com os de referncia e sugere a compreenso de que o cru a metfora da natureza, e o
fogo, da cultura.
Assim, animais comem carne crua. Homens, carne cozida. O que os mitos dizem
que houve um tempo em que essa relao estava invertida: com o roubo do fogo, os
homens transformam-se em caadores, e os animais, em caa.
LVI-STRAUSS, C. Minhas palavras. So Paulo: Brasiliense, 1986.
FILMOGRAFIA
Ttulo original: San WaO mitoPas: ChinaDireo: Stanley TongDurao: 118 minutosAno: 2005Gnero: AventuraDistribuidora: Imagens Filmes
Ttulo original: The OdysseyA OdissiaPas: EUADireo: Andrei KonchalovskyDurao: 150 minutosAno: 1997Distribuidora: Alpha Filmes
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PROPOSTA DE ATIVIDADES
Teatro - construa ou reproduza um mito em forma de pea teatral.
Produo de vdeo - construa um vdeo com base na atividade anterior.
SITES
www.culturalbrasil.org/mitologianagrcia
www.mundociencia.com.br/filosofia/mitos
Os sites mereceram especial ateno pelas possibilidades de pesquisa e discusso
relativas ao tema.
REFERNCIAS
JUNG, C. G. O homem e seus smbolos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.
LVI-STRAUSS, C. Minhas palavras. So Paulo: Brasiliense, 1986.
http://www.culturalbrasil.org/mitologianagr%C3%A9ciahttp://www.mundociencia.com.br/filosofia/mitoshttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.psicologia.org.br/internacional/artigo7.htmhttp://www.mundociencia.com.br/filosofia/mitoshttp://www.culturalbrasil.org/mitologianagr%C3%A9cia -
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REAS DA FILOSOFIA
De que maneira a produo epistemolgico-filosfica pode ser til, ou no, para
o mundo tecnolgico da atualidade?
Nos diversos campos de atuao com os quais a Filosofia estabelece relaes,
voc destacaria quais aspectos?
Os campos da Filosofia sobrevivem (se fundamentam) atravs da relao. Voc
costuma trabalh-los individualmente? Caso afirmativo, como procede, e caso
negativo, como integr-los?
CONTEXTO
A palavra filosofia tem origem em dois vocbulos gregos, filos (amor) e sofia
(sabedoria), dando-lhe o sentido de amor sabedoria. Tal termo foi criado por Pitgoras
que, ao ser questionado sobre a natureza de sua sabedoria, teria respondido que era
apenas um filsofo, ou seja, um amante do saber.
Na Grcia Antiga, o saber filosfico abrangia os mais diversos tipos de
conhecimento, como a matemtica, a biologia, a fsica, a astronomia, a lgica, a tica,
etc. Com o passar dos tempos, algumas reas do conhecimento foram separando-se daFilosofia, originando as diferentes cincias. Convm salientar que o ser humano possui
diferentes tipos de conhecimento, a saber: conhecimento mtico, conhecimento
cientfico, senso comum, conhecimento religioso, ou teolgico, e conhecimento
filosfico.
De forma resumida e esquemtica, poderamos dizer que o senso comum,
tambm chamado de ingnuo ou popular, um tipo de conhecimento que resultado de
experincias comuns das pessoas ao enfrentarem os problemas do seu cotidiano. Ao
tentar explicar a realidade que os cerca, os homens desenvolvem tentativas de
respostas. Esses conhecimentos, pelo fato e eles muitas vezes desconhecerem as causas,
so vagos, superficiais, incompletos, falsos ou ingnuos. So conhecimentos adquiridos
no cotidiano, sem uma busca reflexiva, crtica. Pode haver concepes verdadeiras no
senso comum, mas o que o caracteriza que no nasceu de reflexes, sendo, portanto,
superficial.
Assim, pode-se afirmar que o senso comum um conhecimento transmitido de
gerao em gerao, que se apoia nas tradies e crenas e que procura resolver os
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problemas prticos e momentneos do dia a dia, possuindo as seguintes caractersticas:
impreciso (conceitos vagos), incoerncia (conceitos contraditrios) ou fragmentao
(conceitos soltos), emprico, assistemtico, acrtico, subjetivo (pois varia de pessoa
para pessoa) e possui uma tendncia generalizao.
Contudo, conveniente salientar que ele tambm possui o seu valor, pois o que
algumas pessoas, que no tiveram acesso a outro tipo de saber, utilizam no seu
cotidiano. Alm disso, ele pode despertar o desejo de obter-se mais conhecimento e a
conscincia de que incompleto, sendo tambm, por vezes, o ponto de partida do
conhecimento cientfico. Porm, preciso torn-lo estruturado, coerente e crtico.
O conhecimento cientfico um tipo de conhecimento sistemtico, objetivo,
preciso, que analisa as relaes de causa e efeito e muito bem elaborado. Por ser
resultado de pesquisas e estudos, bastante seguro, embora no seja perfeito e,
portanto, questionvel. A cincia delimita o seu objeto de estudo e usa o mtodo
cientfico, incluindo a experimentao exaustivamente.
Tal conhecimento uma conquista recente da humanidade, tendo surgido no
sculo XVII, com a Revoluo Galileana. Com ele, o homem consegue prever
acontecimentos e tambm agir sobre a natureza de forma mais segura. Esse tipo de
conhecimento tende cada vez mais para a especializao. Apesar das imprecises, ou
falhas, serem menos frequentes, elas continuam possveis.
O conhecimento proveniente da f, ou religioso, um tipo de conhecimento
utilizado para buscar respostas aos fatos, no pela razo e pelos sentidos (experincias
sensveis), mas pela adeso incondicional autoridade que o mantm. Foi elaborado por
pessoas (normalmente do clero) que o transmitiram a partir de uma suposta fonte
originria que o garante como verdadeiro. Tais conhecimentos, por dependerem de
uma origem externa razo, carecem de comprovao e, por suas certezas estarem
ligadas s experincias subjetivas, jamais podero fundar cientificamente qualquer juzo. Caminha-se no terreno da opinio, da ideologia e do dogma. Por isso,
importante manter-se sempre atento e aberto ao dilogo e reflexo, para evitar
fanatismos e manter uma postura crtica.
O conhecimento filosfico um tipo de conhecimento sistemtico, por ser
racionalmente organizado; elucidativo, por esclarecer e delimitar os pensamentos,
conceitos e problemas;crtico, por usar de exame prvio e reflexo; e especulativo, por
buscar uma viso ampla e terica do problema. A viso do conhecimento filosfico de
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conjunto, pois o problema nunca examinado de modo parcial, mas relacionando cada
aspecto com outros do contexto em que est inserido.
Tal conhecimento no emprico; baseia-se somente na capacidade de
raciocinar, mas pode possuir os sentidos como ponto de partida. A sua principal
caracterstica o fato de fazer com que os indivduos se indaguem constantemente, se
questionem a respeito do mundo sua volta e das verdades estabelecidas. , acima de
tudo, crtico-reflexivo e surge como fruto dos vrios questionamentos que o homem se
faz.
J o conhecimento mtico de certa forma mantm uma relao estreita com o
religioso, pois no podemos estabelecer um limite entre um e outro. E foi abordado
anteriormente.
A Filosofia conduz o pensamento humano ao longo da histria, atuando e
interagindo com as diferentes reas do conhecimento. Essas reas tm em comum o
desenvolvimento do conhecimento humano, apesar de seus diferentes objetos. Assim, a
antropologia estuda o homem, a cosmologia trata do universo e uma tentativa de
descobri-lo racionalmente, a ontologia investiga o ser, a esttica trata do belo, a tica e a
poltica das relaes humanas e de poder, a epistemologia da anlise crtica das cincias
e a lgica do raciocnio.
A Filosofia no tem, por si s, um nico objeto de estudo, sendo que na
interao com as reas do conhecimento que ela objetiva a sua atuao. Desta forma, ela
torna-se cada vez mais presente em nosso cotidiano, ajudando a inovar em reas como a
tica (biotica, tica profissional...), a filosofia clnica, a poltica, no staff de grandes
corporaes, nos ciber cafs, cafs e chs filosficos.
TEXTOS PROVOCATIVOS
Apresenta-se a seguir um fragmento da obra Introduo Filosofia de Battista
Mondin. um texto de reflexo sobre a Filosofia e suas reas, sendo que estas sero
tratadas mais especificamente nos captulos posteriores. Da mesma forma, alguns
termos citados pelo autor como nomenclaturas especficas sero abordados nos
respectivos captulos.
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TEXTO - Introduo Filosofia
O instrumento de trabalho, de pesquisa, de anlise de que a Filosofia se utiliza
a razo, a razo pura, o raciocnio puro, como diz Plato. Ela no dispe de
microscpios, telescpios, mquinas fotogrficas etc. No pode estabelecer controles
com instrumentos materiais nem apressar suas operaes recorrendo a computadores.
Mesmo os instrumentos cognitivos de que se utiliza todo homem e todo cientista, os
sentidos e a imaginao, ao filsofo s servem na fase inicial, para conseguir alguns
conhecimentos do real, para o qual depois volta o olhar penetrante da razo. O trabalho
verdadeiro e prprio de pesquisa filosfica realizado apenas pela razo; esta, para
subtrair-se a todo tipo de distrao, encerra-se em seu sagrado recinto, longe do barulho
das mquinas, da seduo dos prazeres e da prxis, da confuso dos sentidos, em
solitria companhia com o prprio objeto.
O mtodo da Filosofia essencialmente raciocinativo, embora no exclua algum
momento intuitivo (quer na fase inicial, quer na final).
Mas os processos raciocinativos so mltiplos, e os mais importantes dentre eles
so a induo e a deduo. A Filosofia utiliza ambos: o primeiro, para ascender dos
fatos aos princpios primeiros; o segundo, para descer de novo dos primeiros princpios
e iluminar posteriormente os fatos, para compreend-los melhor.
Alm da natureza e do mtodo, a Filosofia se distingue das cincias no fim
(escopo). A Filosofia no est voltada para fins prticos e interesseiros, como a cincia,
a arte, a religio e a tcnica; estas, de um modo ou de outro, sempre tm em vista
alguma satisfao ou alguma vantagem. A Filosofia tem como nico objetivo o
conhecimento; tem em vista simplesmente pesquisar a verdade em si mesma,
prescindindo de eventuais utilizaes prticas. A Filosofia tem um objetivo puramente
terico, ou seja, contemplativo; no pesquisa por nenhuma vantagem que lhe sejaestranha, mas por ela mesma; por isso, como disse egregiamente Aristteles na
Metafsica(A, 2, 982b), ela livre enquanto no est sujeita a nenhuma utilizao de
ordem prtica, e portanto se realiza e se resume na pura contemplao do verdadeiro.
J dissemos anteriormente que todas as coisas so suscetveis de pesquisa
filosfica. Por isso, pode haver uma filosofia do homem, dos animais, do mundo, da
vida, da matria, dos deuses, da sociedade, da poltica, da religio, da arte, da cincia,
da linguagem, do esporte, do riso, do jogo etc. Mas, na realidade, os que se chamamfilsofos estudaram de preferncia apenas alguns problemas, os que so conhecidos com
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o nome de lgica, epistemologia, metafsica, cosmologia, tica, teodicia, psicologia,
poltica, esttica,antropologia cultural e axiologia; por isto estas constituem tambm as
partes principais da Filosofia.
(...) Quem quer tornar-se especialista nas disciplinas filosficas deve,
logicamente, estudar, profunda e sistematicamente, todos os problemas mencionados,
sob cada um dos quais, atravs dos sculos, se acumulou numa bibliografia imensa.
MONDIN, B. Introduo filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 9. ed. So
Paulo: Paulus, 1995. p. 6-7.
FILMOGRAFIA
Filme:InstintoTtulo original: InstinctPas: EUADireo: Jon TurteltaubDurao: 127 minutosAno: 1999Gnero: SuspenseDistribuidora: Buena Vista Pictures
PROPOSTA DE ATIVIDADES
Visitas - visitar um espao pblico (cmara de vereadores, prefeitura, etc.) eproporcionar um debate a respeito da responsabilidade das autoridades.
Pardias - divida os alunos em equipes e construa pardias sobre as diversasreas da Filosofia.
SITES
www.suapesquisa.com/filosofia www.sobressites.com/filosofia www.filosofia.pro.br
Por se tratar de reas da Filosofia, foram indicados os sites acima peladiversidade de autores e temas abordados.
REFERNCIAS
MONDIN, B. Introduo filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 9. ed. So
Paulo: Paulus, 1995.
http://www.suapesquisa.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.filosofia.pro.br/http://www.filosofia.pro.br/http://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.suapesquisa.com/filosofia -
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HISTRIA DA FILOSOFIA
Se a histria humana se repete, o que voc identifica no passado
que continua a se repetir hoje?
Se a histria humana no se repete, o que est presente hoje que no existia
no passado?
Voc considera que aprendemos a filosofar lendo filosofia, ou no h a necessidade do contato
com sua histria?
Sabe-se que cada filsofo organizou seu pensamento a partir de um contexto
socioeconmico-cultural. Nesse sentido, o que caberia pensar hoje em Filosofia?
CONTEXTO
A histria da Filosofia pertinente para aqueles que desejam entrar em contato
com tendncias, filsofos, teorias, pensamentos que se afirmaram ou se negaram atravs
dos sculos. No se pretende desenvolver uma epistemologia filosfica quando se
redige to poucas linhas ou pareceres; apenas despertar a curiosidade a respeito da
grande produo filosfica at ento.
Quando se observa tudo o que foi produzido, fica-se estupefato pelo empenho,rigor e abrangncia dos pensadores que canalizaram em suas obras todas as energias e
potenciais da produo filosfica, que abrangeu desde o idealismo-espiritualista ao
realismo-materialista, do positivismo filosofia analtica. Salienta-se assim que, pela
histria da Filosofia, possvel viajar atravs de pocas que, mesmo no estando
presentes, fazem-se relacionar e compreender.
A variao interpretativa da histria da Filosofia no nos condiciona a uma viso
linear ou cclica, mas helicoidal, que inclui aes desenvolvidas pelos filsofos antigos,
medievais, modernos e contemporneos, pertinentes nas mais variadas formas de
conhecer.
TEXTOS PROVOCATIVOS
O surgimento da Filosofia na Grcia deve-se a algumas condies especficas e
concretas, tanto socioeconmicas como culturais, estabelecidas por volta de fins do
sculo VII a.C. Nesse aspecto, ela surge como uma tentativa de explicar o real de
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maneira racional, diferentemente do perodo mtico anterior. Assim, sero apresentados
alguns fragmentos de filsofos que, ao longo do tempo e de acordo com o seu contexto,
pensaram a sua realidade.
A seguir, prope-se reflexo um texto de Nietzsche tratando do incio da
Filosofia; logo aps, um de Nascimento sobre o perodo Medieval, e finalmente um de
Marx sobre os perodos Moderno e Contemporneo.
TEXTO 1 - Sobre Tales, Nietzsche
A filosofia grega parece comear com uma ideia absurda, com a proposio: a
gua a origem e a matriz de todas as coisas. Ser mesmo necessrio determo-nos nela
e lev-la a srio? Sim e por trs razes: em primeiro lugar, porque essa proposio
enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e
fabulao; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de
crislida (estado latente, prestes a se transformar), est contido o pensamento: tudo
um. A razo citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os
religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e no-lo mostra como
investigador da natureza, mas em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filsofo
grego.
NIETZSCHE, F. A filosofia na poca trgica dos gregos. Pr-Socrticos. 2. ed. So
Paulo: Abril Cultural, 1978. p.10.
TEXTO 2 - Filsofos ou telogos? Nascimento
No segundo texto sero abordadas as especulaes filosficas medievais que secentraram nas discusses filosfico-teolgicas com o objetivo de conciliar f e razo.
No incio da alta idade mdia, ou mesmo anterior a ela, a Filosofia era serva da
Teologia. Posteriormente, oscilou entre os que faziam oposio a essa proposta e
aqueles que a defendiam e, em seguida, seguiram por caminhos diferentes.
O trabalho dos tradutores, copistas e do clero em geral era interpretar o
conhecimento grego e adequ-lo ao contexto sociocultural da cristandade. A Igreja
buscava o controle total da sociedade feudal e o fazia principalmente pelo dogmatismoreligioso.
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O filsofo, nesse contexto, ora enfatizava mais o pensamento filosfico, ora
mais a teologia. Quando fazia uso maior da razo no seu discurso, ou na produo
filosfico-teolgica, era considerado pago, herege ou infiel, mas, quando favorvel s
posies da Igreja, proclamam-no santo.
Confira o fragmento na ntegra:
Pelo menos no meio universitrio, supe-se que seja um grande elogio chamar
algum de filsofo. No passa em geral pela nossa cabea a ideia de que uma pessoa
possa dispensar esse ttulo ou at se sentir ofendida com ele. Ora, precisamente isto o
que acontecia com a maioria ou mesmo a totalidade daqueles a quem chamamos hoje
em dia de filsofos medievais.
De fato, os filsofos, para estes supostos filsofos medievais, eram ou pagos
ou infiis. O filsofo, por excelncia, para os universitrios do sculo XIII e XIV,
Aristteles, era exatamente um pago, isto , algum que tendo vivido antes de Cristo,
no tivera nenhum contato com a mensagem crist. Outros filsofos respeitadssimos
como Avicena, Averris ou Maimnides eram infiis, pois os dois primeiros eram
muulmanos e o ltimo, judeu.
Quando aqueles a quem chamamos de filsofos medievais queriam se referir aos
autores cristos mais antigos (a quem chamamos hoje de padres da igreja), chamavam-
nos de os Santos distinguindo-os dos filsofos. Eles prprios se consideravam como
mestres da sagrada doutrina, ou, como dizemos atualmente, telogos. Se um telogo
recorresse filosofia nos seus trabalhos teolgicos no era chamado de filsofo, mas de
telogo filosofante ou simplesmente de filosofante.
NASCIMENTO, C. A. O que filosofia medieval. So Paulo: Brasiliense, 1992. p.10-
11.
TEXTO 3 - Materialismo Dialtico, Engels-Marx
A ltima citao, que de Marx, identifica a histria como resultado do
movimento proveniente da luta de classes e refere-se sociedade como o lugar de
conflitos econmicos e polticos. Assim, percebe-se o modo de produo como o motor
da histria, bem como tambm a origem de uma nova sociedade e de um novo homem.
(...) a histria do desenvolvimento da sociedade revela-se num determinadoponto essencialmente diferente da histria da natureza. Na natureza desde que
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deixamos de lado a ao exercida pelos homens sobre ela so unicamente fatores
inconscientes e cegos que agem uns sobre os outros e atravs da sua ao recproca
que se manifesta a lei geral. (...) Pelo contrrio, na histria da sociedade os agentes so
unicamente os homens, dotados de conscincia, agindo com reflexo ou paixo ou
prosseguindo objetivos determinados nada a se efetuando sem uma inteno
consciente, sem um fim escolhido. Mas esta diferena, seja qual for a sua importncia
para a investigao histrica (sobretudo de pocas e fatos tomados isoladamente), no
pode impedir que de fato o curso da histria esteja sujeito ao imprio de leis gerais,
internas histria. Porque, tambm aqui, apesar dos fins conscientemente perseguidos
por todos os indivduos, o caso que, de modo geral, aparentemente reina superfcie.
S raramente se realiza o fim desejado.
(...) Contudo, onde quer que, superfcie, o acaso parea imperar, ele est
constantemente submetido ao jugo de leis que lhe so interiores e permanecem ocultas:
tudo o que h a fazer, portanto, descobri-las.
(...) Com efeito, ao passo que em todas as pocas anteriores descoberta das
causas motoras da histria, era quase impossvel devido ao emaranhado confuso em
que as relaes e seus efeitos se encontravam e que os dissimulavam , a nossa poca
simplificou de tal modo estes encadeamento que o mistrio pode ser resolvido. Desde o
triunfo da grande indstria, ou seja, pelo menos desde os tratados de paz de 1815, j no
constitua segredo para ningum em Inglaterra que toda a luta poltica local de ento
girava em torno das pretenses de duas classes ao poder: a aristocracia fundiria (landed
aristocracy) e a burguesia (middle class). Em Frana, foi com o regresso dos Bourbons
que se tomou conscincia do mesmo fato. (...) Por outro lado, desde 1830 a classe
operria, o proletariado, foi reconhecida como uma terceira fora combatente, nestes
dois pases, pelo poder. A situao tinha-se simplificado de tal modo que seria preciso
fechar propositadamente os olhos para no ver na luta destas trs classes, e no conflitode seus interesses, a fora motora da histria moderna, pelo menos nos dois pases mais
avanados.
Mas como se tinham formado estas classes? Se, primeira vista, ainda se podia
atribuir grande propriedade fundiria, outrora feudal, uma origem devida, pelo menos
em princpio, a causas polticas usurpao pela violncia, uma explicao deste gnero
j no era possvel para a burguesia e o proletariado. Neste caso a origem e o
desenvolvimento destas duas grandes classes aparecem, de um modo claro e tangvel,como provindos de causas puramente econmicas. (...) a burguesia e o proletariado
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tinham-se ambos formado em consequncia de uma transformao das condies
econmicas, ou, mais precisamente, do modo de produo. Na base do desenvolvimento
dessas duas classes est a passagem, em primeiro lugar, do artesanato corporativo
manufatura e da manufatura grande indstria utilizadora de mquinas e acionada a
vapor.
(...) Est portanto provado que, pelo menos na histria moderna todas as lutas
polticas so lutas de classe e todas as lutas que no seu termo emancipam classes, apesar
da sua forma necessariamente poltica porque qualquer luta de classes uma luta
poltica , giram, em ltima anlise, em torno de uma emancipao econmica.
Portanto, pelo menos nesse perodo o Estado, o regime poltico, constitui o elemento
secundrio e a sociedade civil, o domnio das relaes econmicas, o elemento decisivo.
A velha concepo tradicional, qual o prprio Hegel tambm se submete, considerava
o Estado determinante, a sociedade civil o elemento determinado pelo primeiro. Assim
o aparentemente. (...) Na histria moderna a vontade do Estado , no conjunto,
determinada pelas necessidades em mutao da sociedade, pela supremacia de uma
classe ou outra, em ltima anlise, pelo desenvolvimento das foras produtivas e das
relaes de troca. (...) O Estado no no fundo mais do que o reflexo, sob uma forma
condensada, das necessidades econmicas da classe reinante sobre a produo.
ENGELS, F.; FEUERBACH, L. O Fim da Filosofia Clssica Alem. In: MARX-
ENGELS. Antologia filosfica. Lisboa: Estampa, 1971. p. 141-8.
FILMOGRAFIA
Filme: O Poo e o PnduloTtulo original: The Pit and the PendulumPas: EUADireo: Roger CormanDurao: 93 minutosAno: 1961Gnero: Suspense / Terror
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Filme: Em Nome de DeusTtulo original: Stealing HeavenPas: InglaterraDireo: Clive DonnerDurao: 115 minutos
Ano: 1988Gnero: Drama / Romance
PROPOSTA DE ATIVIDADE
Exposio - organizar os alunos em equipes, e apresentar exposies (frases,
cartazes) para os demais alunos e Unidade Escolar.
SITES
www.sobressites.com/filosofia www.portaldafilosofia.com.br www.filosofiavirtual.pro.br
Os sites foram indicados pela diversidade de contedos referentes e fcilacessibilidade aos temas propostos.
REFERNCIAS
NIETZSCHE, F. A filosofia na poca trgica dos gregos. Pr-Socrticos. 2. ed. SoPaulo: Abril Cultural, 1978.
NASCIMENTO, C. A. O que filosofia medieval. So Paulo: Brasiliense, 1992.
ENGELS, F.; FEUERBACH, L. O Fim da Filosofia Clssica Alem. In: MARX-ENGELS. Antologia filosfica. Lisboa: Estampa, 1971.
http://www.sobressites.com/filosofiahttp://www.portaldafilosofia.com.br/http://www.filosofiavirtual.pro.br/http://www.filosofiavirtual.pro.br/http://www.portaldafilosofia.com.br/http://www.sobressites.com/filosofia -
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UNIDADE II
COSMOLOGIA
INTRODUO
Pensar Cosmologia romper com algumas ideias da cosmogonia, explicaes
mitolgicas da realidade, e tentar conhecer com mais clareza a realidade, discutindo
questes como: origens do universo, origem da vida, a matria, a vida, etc. Nesta
inteno, desdobrou-se a temtica principal em: Arch do Universo; Surgimento do
Universo; Astronomia.
Como incio da investigao, elegeram-se algumas informaes para aconstruo de uma clara conceituao de cosmologia, bem como seus desdobramentos,
permitindo tambm que o leitor sinta-se instigado a continuar a investigao da temtica
aqui iniciada.
O surgimento do universo ser estudado a partir das noes de arch dos
filsofos da natureza que, na antiguidade, tentaram explicar a matria primordial de
todos os seres, atribuindo a certos elementos presentes na natureza caractersticas
divinas.No se pretende com isso concluir as vrias possibilidades deste assunto. A
pretenso despertar a ideia de que, apesar das grandes descobertas do ltimo sculo,
ainda h muito que aprender sobre como, quando, onde e por que tudo comeou.
OBJETIVOS
Apresentar subsdios para o professor instigar a curiosidade do educando
pela origem do Universo.
Identificar algumas teorias sobre a origem e evoluo do Cosmos.
Apresentar elementos para refletir sobre a Cosmologia.
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GRUPO DE TRABALHO
Ezair Batista Correa
EEB Governador Celso RamosBlumenau
GEREDBlumenau
Lucimar Maria Bastezini
EEB Sror AnglicaSo Loureno dOeste
GEREDSo Loureno dOeste
Jucimar da Silva Silveira
EEB Joo Dos Santos AreoSanta Rosa do Sul
GEREDArarangu
Marcos Jos Burnagui
EEB Simo Jos HessFlorianpolis
GEREDFlorianpolis
Maurcio Marchi
EEB Expedicionrio Mrio NardelliRio do Oeste
GEREDRio do Sul
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ARCH DO UNIVERSO - O PRINCPIO PRIMORDIAL
Existiu, ou existe, um elemento responsvel pela origem de todos os seres?
Que elemento criou toda a matria que existe?
De que maneira tudo foi criado?
CONTEXTO
O ser humano est de tal modo intimamente ligado ao cosmos que a
significao ltima de sua existncia est entrelaada ao destino do prprio cosmos. O
universo desconhecido, inusitado e sublime em virtude de sua grandiosidade e
mistrio. O cosmos visto como um mistrio no qual reside toda a novidade. O ser
humano contemporneo, no seu vazio existencial, produzido pela viso materialista do
consumismo, busca respostas que vo alm da mera explicao simplista e empirista das
coisas.
TEXTOS PROVOCATIVOS
Atualmente, vrias abordagens explicam a origem do universo e dos seres.
Uma das mais comuns a do Big Bang, defendida pela grande maioria dos tericos darea, como por exemplo Marcelo Gleiser(2006):
Qual a origem da matria? De onde vem a matria que preenche o universo, suas
galxias com bilhes de estrelas, planetas e pessoas? At recentemente, essa pergunta
fazia parte daquele grupo de perguntas misteriosas que dependem mais da f do que da
cincia. Ns ainda no sabemos qual a resposta, mas temos hoje algumas ideias
interessantes, talvez os primeiros passos em direo a uma compreenso mais profunda
do universo.
A cosmologia moderna baseada no modelo do Big Bang, que diz que o
Universo teve uma infncia muito quente e densa. A ideia que, prximo ao incio de
sua histria, o Universo era uma espcie de sopa de partculas que interagiam
ferozmente com a radiao. O Universo foi gradativamente se expandindo e se
resfriando e, aos poucos, estruturas mais complexas foram se formando, comeando
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com ncleos atmicos bem leves, depois tomos de hidrognio que formaram nuvens
enormes e instveis que, ao colapsar, originaram as galxias e estrelas .
A composio qumica do Universo tambm bastante simples. Basicamente, o
Universo consiste em 75% de hidrognio, 24% de hlio e o 1% restante de tomos,
incluindo carbono, nitrognio e oxignio. Esses elementos mais pesados no foram
formados na fornalha primordial, mas sim em estrelas, em particular durante os
processos que marcam a morte desses objetos.
Na antiguidade clssica, antes da Filosofia, cada povo, cultura ou religio
explicava sua maneira, com mitos prprios, como o criador, ou os criadores, teriam
elaborado o cosmos e os seres nele compreendidos ou existentes. Com o crescimento
daspleis gregas, surgem os filsofos da natureza, que buscam nos elementos naturais
estas explicaes, como Tales:
Tales de Mileto, fencio de origem, considerado o fundador da escola
jnica. o mais antigo filsofo grego. Tales no deixou nada escrito mas sabemos que
ele ensinava ser a gua a substncia nica de todas as coisas. A Terra era concebida
como um disco boiando sobre a gua, no oceano. Cultivou tambm as matemticas e a
astronomia, predizendo, pela primeira vez, entre os gregos, os eclipses do sol e da lua.No plano da astronomia, fez estudos sobre solstcios a fim de elaborar um calendrio, e
examinou o movimento dos astros para orientar a navegao. Provavelmente nada
escreveu. Por isso, do seu pensamento s restam interpretaes formuladas por outros
filsofos que lhe atriburam uma ideia bsica: a de que tudo se origina da gua. Segundo
Tales, a gua, ao se resfriar, torna-se densa e d origem terra; ao se aquecer
transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente esfriados.
Desse ciclo de seu movimento (vapor, chuva, rio, mar, terra) nascem as diversas formasde vida, vegetal e animal. A cosmologia de Tales pode ser resumida nas seguintes
proposies: A terra flutua sobre a gua; A gua a causa material de todas as coisas.
Todas as coisas esto cheias de deuses. O m possui vida, pois atrai o ferro
(MADJAROF, 2005, p. 3).
Pitgoras nasceu em Samos, tendo vivido aproximadamente entre os anos 570 a
532 a.C. Foi para Itlia e Egito, sendo que neste ltimo pas formulou seu famoso
teorema do tringulo-retngulo, conhecido como o teorema de Pitgoras.
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A cosmologia de Pitgoras tem como base os nmeros; tudo que existe deriva
do movimento de alternncia e sucesso de elementos numricos como ponto, linhas,
curvas, retas, ngulos, etc.
Segundo o pitagorismo, a essncia, o princpio essencial de que so compostas
todas as coisas, o nmero, ou seja, as relaes matemticas. Os pitagricos, no
distinguindo ainda bem forma, lei e matria, substncia das coisas, consideraram o
nmero como sendo a unio de um e outro elemento. Da racional concepo de que
tudo regulado segundo relaes numricas, passa-se viso fantstica de que o
nmero seja a essncia das coisas. O nmero divide-se em par, que no pe limites
diviso por dois, e, por conseguinte, ilimitado (quer dizer, imperfeito, segundo a
concepo grega, a qual via a perfeio na determinao); e mpar, que pe limites
diviso por dois e, portanto, limitado, determinado, perfeito. Os elementos
constitutivos de cada coisasendo cada coisa nmeroso o par e o mpar, o ilimitado
e o limitado, o pior e o melhor. Radical oposio esta, que explicaria o vir-a-ser e o
multplice, que seriam reconduzidos concordncia e unidade pela fundamental
harmonia (matemtica), que governa e deve governar o mundo material e moral,
astronmico e sonoro (MADJAROF, 2005, p. 4).
Como a filosofia da natureza, a astronomia pitagrica representa um progresso
sobre a jnica. De fato, os pitagricos afirmaram a esfericidade da Terra e dos demais
corpos celestes, bem como a rotao da Terra, explicando assim o dia e a noite; e
afirmaram tambm a revoluo dos corpos celestes em torno de um foco central, que
no se deve confundir com o Sol. No que diz respeito moral, enfim, dominam no
pitagorismo o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagrica, e as
prticas ascticas e abstinncias, com relao metempsicose ou reencarnao das
almas.
FILMOGRAFIA
Ttulo: Uma breve histria do tempoPas: Estados UnidosDurao: 80 minutosAno de Lanamento: 1990Gnero: Documentrio
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PROPOSTA DE ATIVIDADE
Viagem de estudos com a finalidade de conhecer o observatrio astronmico
em Brusque e o Planetrio em Florianpolis.
REFERNCIAS
GLEISER, M. Micro e Macro. Disponvel em:.
Acesso em: 24 out. 2006.
MADJAROF, R. Os pr-socrticos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.mundodosfilosofos.com.br/ -
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ORIGENS
As teorias mitolgicas sobre a criao do universo ainda possuem significado como na
antiguidade?
As teorias sobre o surgimento do mundo tm grandes influncias sobre o pensamento.
Considerando que muitas so equivocadas, como possvel pensar o mundo atravs da
Histria, Filosofia, Religio e Cincia?
CONTEXTO
Cada povo tem sua cultura, alicerada em tradies que perpassam geraes. O
respeito s manifestaes diferentes humaniza as pessoas, cada vez mais, na busca da
identidade do mundo, vinculada sua prpria identidade.
A maneira como o homem entende e se relaciona com os seres que o rodeiam
revela sua preocupao ou com a preservao, conservao, ou com a destruio e
extino, quando, neste caso, est unicamente preocupado com a satisfao do desejo
momentneo, sem preocupao alguma com o futuro da vida no planeta.
As culturas que se entendem como parte de um sistema tm conscincia da
interdependncia de todos os seres para o equilbrio natural do ambiente. Portanto, faz
sentido a redescoberta dos mitos indgenas da criao e evoluo do cosmos, que
passam a ocupar lugar de destaque na atual sociedade, que ora se desperta para uma
conscincia ecolgica e preservacionista.
Entende-se, ento, que o estudo dos mitos de origem e a busca de explicaes
religiosas voltam a ocupar lugar de destaque nas discusses sobre a origem do universo
e dos seres, pois as explicaes cientficas podem ser conclusivas, porm as
mitolgicas, filosficas e religiosas vo alm do que pode ser explicado materialmente.
Exemplos da cosmogonia criacionista encontram-se em diversas civilizaes,desde a pr-histria. Aqui apresentada a cosmognese guarani:
Na cosmognese guarani, Nhanderu (Nosso Pai) criou quatro deuses principais
que o ajudaram na criao da Terra e de seus habitantes. O znite representa Nhanderu e
os quatro pontos cardeais representam esses deuses. O Norte Jakaira, deus da neblina
vivificante e das brumas que abrandam o calor, origem dos bons ventos. O Leste
Karai, deus do fogo e do rudo do crepitar das chamas sagradas. No Sul, Nhamandu,deus do Sol e das palavras, representa a origem do tempo-espao primordial. No Oeste,
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Tup deus das guas, do mar e de suas extenses, das chuvas, dos relmpagos e dos
troves (AFONSO, 2006, p. 6).
TEXTOS PROVOCATIVOS
As Cincias, Filosofias e Religies, em geral, so desenvolvidas por seres
humanos, que carregam consigo a bagagem cultural de seus antepassados. O momento
histrico em que vivem reflete-se nas concluses a que chegam, pois, como ser social, o
homem no pensa isoladamente, mas em contato com o meio em que vive.
As condies polticas, sociais e econmicas fazem parte do cotidiano de todo
pesquisador e por isso podem influenciar no resultado do seu trabalho. Por outro lado,
alguns tericos afirmam que a cincia imparcial.Durante muito tempo as teorias cientficas e religiosas se opuseram no que tange
s explicaes a respeito da origem do universo. Umas defendem tal origem como algo
natural, ocorrido espontaneamente. J outras atribuem a um ou mais deuses a obra
suprema da criao.
Pensar diferente daquilo que a religio pregava era perigoso, pois as afirmaes
da Igreja deviam ser respeitadas e jamais questionadas. Muitas pessoas chegaram a ser
condenadas morte por discordar do pensamento cristo da Idade Mdia, que afirmavaqueDeus fez o Universo e a Terra no centro, sendo que todos os outros astros giravam
em torno da Terra para servi-la, conhecida como Viso Geocntrica.
Com o desenvolvimento do pensamento moderno, libertando-se da viso
religiosa, o que antes era proibido passa ser permitido, ou seja, o homem passa a pensar
livremente, sem medo da represso eclesial. Muitos, entretanto, continuam pensando
dentro das categorias medievais, ou por crenas, ou simplesmente pela comodidade das
respostas prontas.
DILOGOS DE PLATO
Para exemplificar as dificuldades encontradas nas teorias cientficas, destaca-se
um pequeno trecho dos dilogos de Socrtes com Parmnides:
II - Terminada essa parte, Scrates lhe pediu que relesse a primeira hiptese
do primeiro argumento, depois do que se manifestou: Que queres dizer com isto,
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Zeno? Se os seres so mltiplos, por fora tero de mostrar, a um s tempo,
semelhanas e dessemelhanas, o que no possvel. Nem semelhante pode ser
dessemelhante, nem o dessemelhante semelhante. Declaraste isso mesmo, ou fui eu que
no compreendi direito?
Isso mesmo, respondeu Zeno.
Ento, se o dessemelhante no pode ser semelhante, nem o semelhante
dessemelhante, no mesmo passo no ser possvel existir o mltiplo, porque, se
existisse, no poderia eximir-se desses atributos impossveis. Mas, o fim precpuo de tua
argumentao no visa a combater a crena geral de que o mltiplo existe? No ests
convencido de que cada um dos teus argumentos demonstra isso mesmo, e que, no teu
modo de pensar, os argumentos por ti apresentados so outras tantas provas de que o
mltiplo no existe? Foi isso o que disseste, ou no entendi bem?
De forma alguma, teria falado Zeno; apanhaste admiravelmente bem a
inteno geral do escrito.
Compreendo, Parmnides, continuou Scrates; nosso Zeno deseja tornar-se
mais ntimo por vrios meios, mas principalmente com a ajuda de seus escritos. No final
de contas, o que ele afirma mais ou menos o que tu prprio escreveste; porm
introduzindo algumas modificaes, quer dar-nos a impresso de que diz coisa
diferente. Declaras em teus Poemas que Todo um, em reforo do que aduzes
argumentos belos e convincentes. De seu lado, ele nega a existncia do mltiplo, para o
que apresenta provas de todo o ponto forte e superabundante.
Desse modo, quando um diz que o Uno existe e outro nega a existncia do
mltiplo, falando cada um como se nada tivesse de comum com o outro, quando em
verdade ambos afirmam a mesmssima coisa, o que enuncias parece voar muito por
cima de nossas cabeas.
HISTRIA DA ASTRONOMIA
As especulaes sobre a natureza do Universo devem remontar aos tempos pr-
histricos, por isso a Astronomia frequentemente considerada a mais antiga das
cincias. Desde a antiguidade, o cu vem sendo usado como mapa, calendrio e relgio.
Os registros astronmicos mais antigos datam de aproximadamente 3000 a.C. e se
devem aos chineses, babilnios, assrios e egpcios. Naquela poca, os astros eramestudados com objetivos prticos, como medir a passagem do tempo (fazer calendrios)
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para prever a melhor poca para o plantio e a colheita, ou com objetivos mais
relacionados Astrologia, como fazer previses do futuro, j que, no tendo qualquer
conhecimento das leis da natureza (fsica), acreditavam que os deuses do cu tinham o
poder sobre a colheita, a chuva e mesmo a vida.
Os babilnios, assrios e egpcios sabiam a durao do ano muito antes de
Cristo. Os maias, na Amrica Central, tambm tinham conhecimentos de calendrio e
de fenmenos celestes, e os polinsios aprenderam a navegar por meio de observaes
celestes.
O grande momento da cincia antiga se deu na Grcia, por volta do sculo VI
a.C., s sendo ultrapassado no sculo XVI. Do esforo dos gregos em conhecer a
natureza do cosmos, e com o conhecimento herdado dos povos mais antigos, surgiram
as primeiras concepes de esfera celeste, constituda de estrelas, estando a Terra no
centro. Todas as estrelas giram em torno de um ponto fixo no cu e esse ponto uma
das extremidades do eixo de rotao da esfera celeste. Os antigos gregos, os chineses e
egpcios j tinham dividido o cu em constelaes.
Os Principais Astrnomos
Tales de Mileto (624-546 a.C.) introduziu na Grcia os fundamentos da
Geometria e da Astronomia, trazidos do Egito. Pensava que a Terra era um disco plano
em uma vasta extenso de gua.
Pitgoras de Samos (572-497 a.C.) acreditava que a Terra era redonda. Achava
que os planetas, o Sol e a Lua eram levados por esferas separadas. Foi o primeiro a
chamar o cu de cosmos.
Aristteles de Estagira (384-322 a.C.) explicou que as fases da Lua dependem
de quanto da parte da face da Lua iluminada pelo Sol est voltada para a Terra.
Explicou, tambm, os eclipses: um eclipse do Sol ocorre quando a Lua passa entre a
Terra e o Sol; um eclipse da Lua ocorre quando a Lua entra na sombra da Terra.
Argumentou que a Terra era uma esfera, j que a sombra da Terra projetada na
Lua durante um eclipse lunar sempre arredondada. Afirmava que o Universo
esfrico e finito.
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Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o primeiro a propor que a Terra se
movia em volta do Sol, antecipando Coprnico em quase 2.000 anos. Entre outras
coisas, desenvolveu um mtodo para determinar as distncias relativas do Sol e da Lua
Terra e mediu os tamanhos aproximados da Terra, do Sol e da Lua.
Ptolomeu (85 d.C.-165 d.C.) foi o ltimo astrnomo importante da antiguidade.
Ele montou uma srie de 13 volumes sobre Astronomia, conhecida como o Almagesto,
que a maior fonte de conhecimento sobre a Astronomia na Grcia.
A Terra era uma esfera fixa e tudo girava ao seu redor, o Sol, a Lua e as Estrelas.
Esta era a concepo geocntrica do Universo, que acabou sendo adotada como modelo
oficial imposto pela Igreja Crist, perdurando at o sculo XVII.
Giordano Bruno (1544-1600) foi o maior defensor do imanentismo
renascentista. Foi julgado pela Inquisio romana, sendo condenado morte e
executado em 1600.
Para ele a realidade una e infinita, constituda por dois princpios
fundamentais: a alma do mundo e a matria. So dois aspectos da mesma substncia. A
alma do mundo concebida como sendo inteligente, ordenadora do mundo; mas no
transcendente, como o motor primeiro de Aristteles e o Deus do cristianismo, e sim
imanente ao mundo, de que precisamente a alma. O Deus de Bruno , pois, esta alma
do mundo, concebida como imutvel e infinita, gerando eternamente o mundo finito e
que se acha em perptuo vir-a-ser, ou seja, criar e recriar (MADJAROF, 2000, p. 6).
Giordano, aps tomar conhecimento do trabalho de Nicolau Coprnico,
defendeu abertamente que a Terra um planeta como outros no firmamento, que a
diviso do universo em mundo lunar (Cosmos) e sublunar no fazia sentido. Defendeu
abertamente: a unidade do cu e da terra; que as estrelas tm idntica natureza do nossoSol; que o Universo infinito, bem como a pluralidade dos mundos. A pluralidade de
novos mundos, ou melhor dizendo, de novos sistemas planetrios est hoje confirmada
(cf. HNEL, 2004).
Nicolau Coprnico (1473-1543) - A ideia que a Terra no estava no centro do
universo no era nova; os atomistas e os pitagricos j a haviam sustentado, sob formas
diversas. A verdade que estas ideias nunca conseguiram muitos adeptos, pois aexperincia quotidiana parecia desmenti-las de forma muito evidente. A concepo
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cosmolgica que foi adaptada, nomeadamente pela Igreja, era a defendida por Ptolomeu
que considerava estar a Terra no centro do universo, girando sua volta todos os demais
astros (geocentrismo).
A grande inovao de Coprnico consistiu em ter sustentado em termos
matemticos (geomtricos) a sua hiptese cosmolgica do movimento da Terra e ter
apontado um conjunto de fatos que evidenciavam que a antiga concepo geocntrica
era incapaz de dar uma resposta satisfatria.
Coprnico dedicou-se por um tempo relativamente grande Astronomia e a
escrever, por volta de 1530, a sua clebre obra As Revolues das rbitas Celestes.
Nesta obra, publicada depois da sua morte, o Sol colocado no centro do universo, e
deslocam-se sua volta, em rbitas circulares, no apenas a Terra mas os restantes
astros.
Embora o sistema de Coprnico esteja ainda muito ligado s correntes msticas,
nem por isso deixou de contribuir decisivamente para romper com a concepo fechada
do universo e lanar as bases dos trabalhos posteriores de Galileu, Kepler, Newton (cfr.
PLASTINO, 2006).
Johannes Kepler (1571-1628) -Ao olhar para as rbitas planetrias, luz dos
diferentes epiciclos, Kepler verificou que nada existia no centro da rbita que fosse a
origem do movimento. Tornou-se por esta razo um heliocentrista convicto.
Acreditava ele que os movimentos dos planetas tinham causas fsicas e, por isso,
acabou colocando de lado preconceitos antigos, como, por exemplo, o de o movimento
dos planetas ser feito em rbitas circulares, s porque essa era a forma mais perfeita e
harmoniosa de todas as formas, j que tinha sido criada por Deus, que tambm era
perfeito. Kepler verificou que a rbita dos planetas no era circular, mas sim elptica.
Teve como primeira tarefa, ao trabalhar para Tycho Brahe, a determinao darbita de Marte, tentando ajust-la a uma rbita circular em torno do Sol. No dispondo
de uma teoria que explicasse o movimento dos planetas, restava tentar tudo de novo
com rbitas diferentes.
A anlise dos registros leva-o a concluir que a forma que mais se adaptava
rbita dos planetas era a de uma elipse. Concluiu tambm que o Sol ocupava um dos
focos da elipse.
Kepler pensava que, se um planeta qualquer descrevia a sua rbita elptica emtorno do Sol, a certa distncia e com uma certa velocidade, demorando um certo tempo
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e no outro, porque algo estaria por detrs de tudo isto e os relacionaria (cfr.
MONTES; COSTA, 2006).
Isaac Newton (1642-1727) - Seu pensamento apresentou-se como uma profunda
transformao na maneira de conceber o mundo e tambm uma orientao totalmente
nova na busca da verdade cientfica.
Com o nascimento da cincia moderna, encerrou-se a concepo geocntrica do
mundo, predominante no pensamento antigo e medieval. Tornou-se possvel reconhecer
que a Terra gira em torno de seu prprio eixo e ao redor do Sol, que esses movimentos
so compatveis com os eventos que ocorrem na superfcie da Terra, que as leis da
mecnica aplicam-se igualmente aos fenmenos terrestres e celestes.
O longo e rduo processo de formao da cincia moderna nos sculos XVI eXVII culminou com as notveis descobertas de Newton, que simbolizaram o triunfo de
um paradigma cientfico capaz de revelar, de forma clara e exata, a mais bela estrutura
do sistema do mundo.
Partindo do estudo de diferentes tipos de movimento, Newton procurou
determinar as foras da natureza exigidas para produzi-los. Nessa pesquisa, foi de
fundamental importncia sua argumentao para estabelecer a lei da gravitao
universal, que permitiu explicar, com grande aproximao, fenmenos to diversoscomo a queda livre dos corpos (com acelerao constante), as oscilaes do pndulo, as
trajetrias dos projteis, o movimento das mars (causado pela atrao gravitacional da
Lua e do Sol), as rbitas elpticas dos planetas e cometas etc.
Desse modo, questes que antes eram tratadas separadamente se mostraram
intimamente relacionadas, dentro de um mesmo sistema fsico. E o notvel xito desse
empreendimento fortaleceu cada vez mais a convico de que o Universo inteiro pode
ser definitivamente compreendido nos termos dos princpios matemticos formuladospor Newton (cfr. PLASTINO, 2006).
Albert Einstein (1879-1955) - Em 1905, Einstein publicou o seu trabalho sobre
a Eletrodinmica dos Corpos em Movimento, uma reformulao revolucionria dos
conceitos de espao e tempo, que chamado hoje de Relatividade Restrita.
Os conceitos de espao e tempo eram uma percepo imperfeita do verdadeiro
conceito fundamental, que era o espao-tempo, e mostrava que a teoria da relatividade
podia ser formulada como uma geometria muito simples nesse espao-tempo.
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No ano 1916, escreve o artigo Fundamentos da Relatividade Geral, no qual faz
uso essencial das geometrias propostas por Riemann, com a diferena importante de que
eram geometrias no espao-tempo e, portanto, em espaos quadridimensionais. Esta
teoria, que originalmente se destinava a ser uma teoria em que todos os referenciais
fossem tratados em p de igualdade, destituindo os referenciais inerciais de sua posio
privilegiada, revelou ser uma teoria da gravitao, que acabou substituindo a consagrada
teoria da Gravitao Universal, de Isaac Newton.
A consagrao desta teoria deu-se em 1919, com a observao, em Sobral,
Cear, e na Ilha do Prncipe, na costa da frica, do extraordinrio fenmeno do desvio
gravitacional da luz, que permitiu a observao de uma estrela que se encontrava atrs
do Sol durante um eclipse.
Em 1917, no artigo Consideraes Cosmolgicas na Teoria da Relatividade
Geral, Einstein aplica sua teoria ao problema cosmolgico. Apoiando-se na observao
emprica de que as velocidades das estrelas so pequenas, adota como princpio
cosmolgico um universo esttico e espacialmente homogneo e isotrpico. De incio,
no consegue obter qualquer soluo com estas propriedades. Modifica-as, ento,
acrescentando um termo denominado constante cosmolgica, e obtm, assim, a
soluo procurada. Mais tarde, arrependido, considera esta constatao de suas
equaes bsicas a maior asneira de minha vida. A grande contribuio da
relatividade geral cosmologia viria, porm, de outras mos.
Trata-se da densidade de matria-energia, que a mesma em todos os pontos,
pois adotado o princpio cosmolgico em que o espao do universo homogneo e
isotrpico. Era a primeira vez que se falava em universo em expanso entre fsicos.
Einstein acreditava que o universo no iniciou a partir de uma exploso. Uma
exploso tem como caracterstica principal um grande gradiente de presso, enquanto
que o universo, sendo homogneo, tinha a mesma presso em todos os pontos, mesmono incio (cf. FLEMING, 2006)
Edwin Powell Hubble (1889-1953) - Em 1926, Hubble organizou um sistema
de classificao das galxias que, com poucos ajustes, permanece vlido at os dias de
hoje. Descobriu a relao entre as velocidades de afastamento das galxias e as suas
distncias, evidenciando a expanso do Universo. Diante disto formulou a seguinte lei:
Quanto mais distante a galxia, maior sua velocidade de afastamento, isto , quanto
mais longe est a galxia mais rpida ser sua velocidade. Esta foi a primeira evidncia
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de que o Universo est se expandindo. Por conseguinte, as galxias no mais foram
chamadas de nebulosas, pois eram objetos que estavam muito longe e no poderiam
pertencer nossa Galxia.
Se o Universo est expandindo, ele pode ter explodido. Esta teoria ficou
conhecida como Teoria do Big Bang, ou seja, a grande exploso. Para ter explodido, ele
estava muito quente, e hoje, com o processo de expanso, ele deve estar bem mais frio.
Pela temperatura calculada a dimenso e tambm a idade do universo, que hoje
estimada entre 12 a 17 bilhes de anos/luz.
Stephen William Hawking (1942 - ) - Stephen Hawking, ingls, titular da
cadeira que foi de Isaac Newton na Universidade de Cambridge, um dos grandes
fsicos tericos dos ltimos 50 anos, responsvel com o colega Roger Penrose pela
demonstrao de que o espao-tempo teve incio no Big Bang. talvez o cientista vivo
mais conhecido no mundo.
A pergunta que se coloca a de saber qual seria o papel de um criador em um
Universo que pode ser completamente explicado pelas leis da Fsica! Talvez a resposta
esteja na chamada teoria do todo, que, segundo Stephen Hawking e outros, unificaria a
teoria da relatividade geral e a mecnica quntica em um nico corpo matemtico
autoconsistente um princpio abstrato de ordem e harmonia que, expresso atravs de
uma teoria matemtica, seria capaz de explicar aquilo que observamos na natureza.
Um ponto importante, na viso de Stephen Hawking, que no seu modelo
cosmolgico no existe um momento preciso para o comeo do Universo, simplesmente
porque no existe um momento preciso de quando o tempo comeou a existir. A
grandeza que chamamos de tempo surgiu de uma mistura quntica durante o Big Bang.
O Universo no comeou em um determinado instante, mas, ao contrrio, foi criado
com uma qualidade que chamamos de tempo.A popularidade de Hawking ganhou enorme impulso em 1988, quando foi
lanado seu best-seller Uma breve histria do tempo. Em seu novo livro, O universo
numa casca de noz, Hawking tenta corrigir os defeitos do anterior, e tem o claro
objetivo de facilitar o entendimento do leigo.
Hawking narra a busca pela Teoria de Tudo uma nica teoria capaz de
descrever o universo, sem contradies ou incoerncias, que segure as dificuldades que
surgem quando as teorias fsicas mais aceitas entram em contradio. Para isso, analisa
http://cienciahoje.uol.com.br/2548http://cienciahoje.uol.com.br/2548 -
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os avanos da Fsica nos ltimos cem anos, da relatividade s supercordas, passando por
mecnica quntica e entropia.
O xito da teoria, no entanto, esbarra na quase impossibilidade de sua
comprovao: como observar as dimenses recurvadas, que poderiam chegar, segundo
Hawking, ao comprimento de um milmetro dividido por cem mil bilhes de bilhes?
(LETHBRIDGE, 2006)
PROPOSTA DE ATIVIDADES
Viagem de estudos com a finalidade de conhecer o observatrio astronmico em
Brusque e o Planetrio em Florianpolis.
Gincana do lixo limpo, incentivando a reciclagem, o reaproveitamento de
materiais e o destino correto para o material orgnico.
FILMOGRAFIA
Ttulo original: Contact (Contato)Pas: Estados UnidosDireo: Robert ZemeckisDurao: 150 minutosAno de lanamento: 1997Gnero: Fico cientficaDistribuio: Warner Bros
Ttulo original: Giordano BrunoPas: ItliaDireo: Guiliano MontaldoDurao: 114 minutosAno de lanamento: 1973Gnero: Drama
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/personalidades/diretores/robert-zemeckis/robert-zemeckis.htmhttp://adorocinema.cidadeinternet.com.br/personalidades/diretores/robert-zemeckis/robert-zemeckis.htm -
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REFERNCIAS
AFONSO, G. Mitos e estaes do cu tupi-guarani. Disponvel em:. Acesso em: 29 out.2006.
FLEMING, H. Disponvel em: . Acessoem: 26 out. 2006.
HNEL, J. Disponvel em: . Acesso em: 26 out. 2006.
LETHBRIDGE, T. Disponvel em:. Acesso em: 26 out.2006.
MADJAROF, R. Os pr-socrticos. Disponvel em:. Acesso em: 25 out. 2006.
MONTES, M.; COSTA, A. Disponvel em:. Acesso em: 26 out.2006.
PLASTINO, E. C. Disponvel em: .Acesso em: 26 out. 2006.
USP. Seo Astronomia. Disponvel em: . Acesso em: 27 out.2006.
http://www.uol.com.br/sciam/conteudo/materia/materia_89.htmlhttp://www.hfleming.com/rusp_cosmo.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.ualg.pt/ccviva/astronomia/historia/johannes_kepler.htmhttp://www.herbario.com.br/atual04/2811hiscienc.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/textos/uma-breve-hist-do-Big-Bang.htmhttp://www.herbario.com.br/atual04/2811hiscienc.htmhttp://www.ualg.pt/ccviva/astronomia/historia/johannes_kepler.htmhttp://www.mundodosfilosofos.com.br/http://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.cdcc.sc.usp.br/cda/sessao-astronomia/seculoxx/index.htmlhttp://www.hfleming.com/rusp_cosmo.htmlhttp://www.uol.com.br/sciam/conteudo/materia/materia_89.html -
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UNIDADE III
ANTROPOLOGIA FILOSFICA
INTRODUO
A pergunta motriz da Antropologia Filosfica : O que o homem? Ela trata
do homem no aspecto estrutural, utilizando-se de conceitos abstratos e universais, pois
tem seus primrdios mais fecundos nos debates de Scrates e dos Sofistas. no sculo
XIX que aparece como cincia, distinguindo-se de outras Antropologias. No entanto,
preciso distinguir a simples Antropologia da Antropologia Filosfica. A primeira estuda
o homem sob a perspectiva material, cultural e comportamental. Nesse sentido, a sua
metodologia utiliza-se simultaneamente da histria e das cincias naturais, e seus temas
variam desde o surgimento do homem na Terra at a maneira como ele estabelece uma
cultura.
A Antropologia encarada metafisicamente antes aquela parte da Filosofia
que investiga a estrutura essencial do homem. Ou seja, a Antropologia Filosfica uma
Antropologia da essncia e no das caractersticas acidentais humanas.
Nesta unidade, o leitor encontrar trs partes contendo os desdobramentos da
Antropologia: o conceito e objeto de estudo, a relao do ser humano com a natureza
(cultura) e a questo da interdisciplinaridade. Para cada desdobramento so sugeridas
algumas indagaes que pretendem despertar a reflexo sobre o objeto em questo.
Cada desdobramento contextualizado a partir de um assunto presente no cotidiano.
Depois so apresentados textos que possibilitam um encontro com os clssicos daFilosofia. So apresentadas, tambm, algumas sugestes de filmografia, sites e
referncias. Abaixo seguem alguns objetivos gerais que apontam o caminho e o lugar
aonde se pretende chegar.
OBJETIVOS
Proporcionar, atravs do estudo da Antropologia, o conhecimento do processode transformao do homem e seus reflexos na sociedade em que vive.
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Possibilitar momentos de problematizao, desafiando e questionando o
modelo de homem e sociedade que temos, contrapondo-o ao que se deseja.
Construir um espao de reflexo que possibilite uma proximidade entre as
cincias e a Filosofia quanto pergunta: quem o homem?
Problematizar a questo da gnese do homem e seu processo de humanizao
por meio da cultura.
GRUPO DE TRABALHO
Paulo Csar de Carvalho JacEEB So Joo Batista
GEREDBrusque
Joo Valdemir PatinhoEEB Joo Roberto Moreira
GEREDXanxer
Ademir Dietrich
EEB Prof. Carlos MaffezzolliGEREDBrusque
Estevo Jos da CunhaEEB Prof. Heriberto J. Muller
GEREDBlumenau
Leonardo PavanelloEEB Orlando BertoliGEREDIbirama
Incio StuepEEB Engenheiro Annes Gualberto
GEREDLaguna
Teresa Kern AlvesEEB Toneza CascaesGEREDCricima
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CONCEITUAO DO OBJETO DE ESTUDO
Caro professor, so vrias as antropologias. Dessas existentes qual utilizada
em seu cotidiano no processo de compreenso do homem?
Alguns mtodos aparecem na abordagem epistemolgica da Antropologia,
por exemplo: hermenutico, fenomenolgico e estrutural... Qual desses voc
utilizaria nas abordagens sobre o homem com seus alunos?
Como a Antropologia pode contribuir para a compreenso do homem
enquanto um ser afetivo?
CONTEXTO
Toda cincia se caracteriza pelo seu objeto e mtodo de estudo. A
Antropologia Filosfica faz sua investigao a partir da pergunta: Quem o Homem?
Em meio a tantas crises existenciais, o homem contemporneo esqueceu de
sua maior virtude: o amor. Essa afirmao se encontra na revista Filosofia: cincia &
vida. O ser humano visto como um ser que ama. Responder pergunta colocada
acimase constitui como a indagao primeira da Antropologia Filosfica.
A sociedade atual revela um ser humano egocntrico, numa busca constante desi mesmo. Amar ir alm das aparncias e da beleza exterior como a indstria cultural
cria e impe atravs de seus padres de beleza. H uma busca constante de se enquadrar
nesses padres, principalmente pelos jovens. O amor reduzido dimenso do Eros, da
paixo, esquecendo-se suas dimenses do gape.
A juventude atual passa por um momento de crise em suas relaes afetivas,
onde o outro visto como objeto descartvel. Exemplo disso o namoro do tipo ficar,
o que, entre os jovens, vem a significar a coisificao do outro e a aniquilao do amor.
TEXTOS PROVOCATIVOS
Tendo a Antropologia Filosfica como objeto de estudo o ser humano,
apresentam-se abaixo dois textos que conceituam o homem como um ser que ama.
So apresentados aqui dois nomes da Filosofia clssica: Plato e Aristteles.
Ambos abordam a ideia do amor e dos sentimentos como uma das caractersticas do ser
humano. Plato fala de um amor que no perpassa a dimenso do modelo heterossexual
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da atualidade, enquanto Aristteles compara o ser humano, quanto ao sentir, aos
animais, contrapondo o domnio da alma sobre o corpo, ou seja, da razo sobre os
sentidos.
TEXTO 1 - O Banquete - Plato
E com Hesodo tambm concorda Acusilau. Assim, de muitos lados se
reconhece que Amor entre os deuses o mais antigo. E sendo o mais antigo para ns a
causa dos maiores bens. No sei eu, com efeito, dizer que haja maior bem para quem
entra na mocidade do que um bom amante, e para um amante, do que o seu bem-amado.
Aquilo que, com efeito, deve dirigir toda a vida dos homens, dos que esto prontos aviv-la nobremente, eis o que nem a estirpe pode incutir to bem, nem as honras, nem a
riqueza, nem nada mais, como o amor. A que ento que me refiro? vergonha do que
feio e ao apreo do que belo. No com efeito possvel, sem isso, nem cidade nem
indivduo produzir grandes e belas obras. Afirmo eu ento que todo homem que ama, se
fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofr-lo de outrem sem se defender
por covardia, visto pelo pai no se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por
ningum mais, como se fosse visto pelo bem-amado. E isso mesmo o que tambm noamado ns notamos, que sobretudo diante dos amantes que ele se envergonha, quando
surpreendido em algum ato vergonhoso. Se por conseguinte algum meio ocorresse de se
fazer uma cidade ou uma expedio de amantes e de amados, no haveria melhor
maneira de a constiturem seno afastando-se eles de tudo que feio e porfiando entre si
no apreo honra; e quando lutassem um ao lado do outro, tais soldados venceriam, por
poucos que fossem, por assim dizer todos os homens. Pois um homem que est amando,
se deixou seu posto ou largou suas armas, aceitaria menos sem dvida a ideia de ter sidovisto pelo amado do que por todos os outros, e a isso preferiria muitas vezes morrer. E
quanto a abandonar o amado, ou no socorr-lo em perigo, ningum h to ruim que o
prprio Amor no o torne inspirado para a virtude, a ponto de ficar ele semelhante ao
mais generoso de natureza; e sem mais rodeios, o que disse Homero do ardor que a
alguns heris inspira o deus, eis o que o Amor d aos amantes, como um dom emanado
de si mesmo. E quanto a morrer por outro, s o consentem os que amam, no apenas os
homens, mas tambm as mulheres.
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PLATO. O banquete. Disponvel em: .
Acesso em: 28 jun. 2001.
TEXTO 2 - A Poltica - A Servido Natural - Aristteles
Em tudo o que composto de vrias partes quer contnuas, quer disjuntas, mas
tendentes a um fim comum, sempre notamos uma parte eminente qual as outras esto
subordinadas, e isso no apenas nas coisas animadas, mas tambm nas que no o so,
tais como os objetos suscetveis de harmonia. Mas, aqui, me afastarei por certo de meu
objetivo. O animal compe-se primeiro de uma alma, depois de um corpo: a primeira,
por sua natureza, comanda e o segundo obedece. Digo por sua natureza, pois preciso
considerar o mais perfeito como tendo emanado dela, e no o que degradado e sujeito
corrupo. O homem, segundo a natureza, aquele que bem constitudo de alma e
de corpo. Se nas coisas viciosas e depravadas o corpo no raro parece comandar a alma,
certamente por erro e contra a natureza.
preciso, portanto, como dissemos, considerar nos seres animados a autoridade
do senhor e a do magistrado: a primeira a da alma sobre o corpo; a segunda exerce
sobre as paixes humanas o poder da razo. claro que o comando, nestas duas
espcies, conforme natureza, assim como ao interesse de todas as partes, e a
igualdade ou a alternncia seriam muito nocivas a ambas.
O mesmo ocorre com o homem relativamen