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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO
E POLÍTICAS PÚBLICAS
MARIA ARAGÃO SALES CAVALCANTE
SAÚDE BUCAL DO IDOSO A HUMANIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL NO CUIDAR
FORTALEZA
2007
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MARIA ARAGÃO SALES CAVALCANTE
SAÚDE BUCAL DO IDOSO
A HUMANIZAÇÃO COMO DIFERENCIAL NO CUIDAR
Dissertação submetida à Universidade Estadual do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Políticas Públicas.
Orientadora: Prof. ª Dr.ª Lucilane Maria Sales da Silva
FORTALEZA 2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM PLANEJAMENTO
E POLÍTICAS PÚBLICAS
Título do Estudo: Saúde Bucal do Idoso: a humanização como diferencial no cuidar
Autora: Maria Aragão Sales Cavalcante
Defesa em: 28/02/2007 Conceito obtido: Satisfatório
Banca Examinadora:
Prof. ª Dr.ª Lucilane Maria Sales da Silva Universidade Estadual do Ceará
Orientadora
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Prof. ª Dr.ª Maria Irismar de Almeida Universidade Estadual do Ceará
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Prof. Dr. José Osmar Vasconcelos Filho Universidade de Fortaleza
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Dedico no passado: ao Papai – o Cel. Sales, e a Vovó Zulmira, cujos tempos não permitiram ver o Ano 2000.
Dedico no presente: aos septuagenários de nossa família e, em especial, a mamãe Marieta, homônima, companheira e âncora de nossa vida.
Dedico no futuro: àqueles que chegarão à terceira idade, aos quais desejamos o acesso à atenção humanizada, conferindo-lhes uma boa condição de saúde bucal.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela longevidade dada aos meus familiares e a possibilidade de, em conviver com eles ter aprendido a respeitar e amar os mais velhos.
Aos irmãos de sangue Herbene Solange, João Rufino e Fernando Antônio, a quem quero agradecer por serem sementes e tomarem conta tão bem dos outros que lhes foram e serão confiados.
Às irmãs Núbia Helena, Maria Helena, Maria Eduarda, Ligiane e Maria Fernanda, frutos de nossas escolhas, a perpetuação de nossa existência.
Ao Antônio, compromisso exclusivo e especial, com quem irei, se Deus quiser, partilhar a melhor idade.
Ao professor Dr. Francisco Horácio da Silva Frota, Coordenador do Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas - MPPPP da Universidade Estadual do Ceará, agradeço sensibilizada pelas lições aprendidas na valorização da sociedade brasileira.
À Prof.a Dr. a Lucilane Maria Sales da Silva, minha orientadora, tão jovem e já doutora da ciência e da vida. A minha mais nova amiga, a quem dedico a confiança e a intimidade somente peculiar aos velhos amigos.
Aos professores, Dr.a Maria Irismar de Almeida e Dr. José Osmar Vasconcelos Filho que, na pressa da academia e da vida, com especial solicitude, tiveram tanto tempo a nós todos dedicado, com zelo e conduta ética voltada à produção científica, sem tirar o realce pessoal e a autenticidade da produção individual.
Aos professoras Dr. Francisco Horácio da Silva Frota, Dr.a Liduína Farias Almeida da Costa e Dr.a Maria do Socorro Ferreira Osterne, do MPPPP da UECE, pela dedicação em estimular seus alunos a discutirem novos horizontes para as políticos públicas.
À Marlene Lopes Cidrack, cirurgiã-dentista, amiga e incentivadora da minha opção por aprender - o ser idoso.
Às Dr.as Léa Maria Bezerra de Menezes e Ismênia Maria Barreto Ramos, supervisoras dos Núcleos de Saúde Bucal e Planejamento em Saúde da SESA, respectivamente, e aos amigos da Saúde Bucal/ SESA, da Saúde Bucal/ ESP-CE, do Planejamento em Saúde/ SESA e da Coordenadoria de Políticas em Saúde/ SESA, pela tolerância com esta funcionária - estudante.
Ao José Cláudio Cid Pereira, Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Ceará- CRO-CE, conselheiros e funcionários, a minha outra turma de Odontologia que, embora jovens, são sábios em lidar com a categoria odontológica do Ceará de todos os tempos.
Aos amados colegas do Mestrado, espaço e tempo onde partilhamos conhecimento e experiências e a lidar com as novas possibilidades.
Por fim e com especial reconhecimento, agradeço aos idosos, gestores e profissionais da saúde, anônimos, observados no mês de setembro de 2006, que possibilitaram a realização deste estudo, no Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, a Unidade de Referência em Saúde Bucal mais antiga do Estado do Ceará.
E muito obrigada a você, que neste momento conhecerá esta história.
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Meu querido, meu velho, meu amigo
Esses seus cabelos brancos, bonitos Esse seu olhar cansado, profundo Me dizendo coisas, num grito Me ensinando tanto, do mundo... Esses passos lentos, de agora Caminhando sempre, comigo Já correram tanto, na vida: Meu querido, meu velho, meu amigo. Sua vida cheia de histórias E essas rugas marcadas, pelo tempo Lembranças de antigas, vitórias Ou lágrimas choradas, ao vento... Sua voz macia, me acalma E me diz muito mais, do que eu digo Me calaram fundo, na alma Meu querido, meu velho, meu amigo. Seu passado vive, presente Nas experiências, contidas Nesse coração, consciente Da beleza das coisas, da vida Seu conselho manso, me anima Seu sorriso certo, me ensina Beijo suas mãos, e lhe digo: Meu querido, meu velho, meu amigo. Eu, já lhe falei de tudo Mas tudo isso é pouco Diante do que sinto Olhando seus cabelos, tão bonitos Beijo suas mãos e digo: Meu querido, meu velho, meu amigo.
Roberto Carlos e Erasmo Carlos
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RESUMO
Saúde bucal do idoso: a humanização como diferencial no cuidar é um estudo exploratório e descritivo, com enfoque qualitativo que, por meio de observação simples no Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, Unidade de Referência da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, em Fortaleza, teve como objetivo geral analisar se a atenção em saúde bucal proporcionada ao idoso é humanizada. Quanto aos objetivos específicos, buscou: investigar o conhecimento e a aplicabilidade das linhas do cuidado das Políticas de Saúde Bucal e de Humanização para a pessoa idosa; identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam esta atenção; e propor ações que venham a possibilitar o atendimento humanizado e contextualizado. As observações foram precedidas da descrição dos critérios de inclusão para os sujeitos da pesquisa e realizadas durante o mês de setembro de 2006, acompanhando o percurso de quarenta e cinco idosos, desde o acolhimento na recepção até a conclusão do atendimento no CEO. Os dados foram registrados em diário de campo e classificados em duas dimensões: a primeira relatando, como “descrições e reflexões”, as interpretações da pesquisadora em relação a atendimentos; a segunda decorrente do confronto das observações com as “linhas do cuidado” definidas nas políticas, distribuída em três categorias de análise - comportamento, rotinas e relações. Da análise dos resultados, concluiu-se que: o CEO está situado em local conhecido, porém o acesso é seletivo e burocrático; o acolhimento na recepção é realizado por vigilante armado, e é irrelevante para os idosos; a marcação de consultas permite agendas paralelas; a espera fica comprometida, em virtude da superlotação de pessoas e aquelas encaminhadas pela Direção e funcionários que são privilegiadas no atendimento, o que não incomoda nem causa reclamações entre os idosos; os procedimentos odontológicos são escolhidos pelos profissionais, geralmente são executados os mais simples e que requerem o menor tempo de execução; ocorre um descompasso do número de radiografias realizadas em relação aquelas utilizadas no tratamento; o cuidado humanizado ao idoso é tímido e está mais relacionado aos comportamentos e relações pessoais entre os profissionais e seus pacientes idosos, do que a rotinas estabelecidas. Superando estas dificuldades, verificou-se que os idosos ficam satisfeitos, o atendimento é satisfatório, as situações de dor são resolvidas, condições favoráveis são criadas, os fluxos estão, gradativamente, se estabelecendo e o sucesso esperado é alcançado, principalmente na Emergência, na Radiologia e na Estomatologia. De acordo com as conclusões, sugerem-se: redefinição de competências e habilidades para os profissionais com relação ao cuidado humanizado ao idoso; implantação de ações preventivas aos agravos inerentes à terceira idade; democratização das experiências exitosas no atendimento ao idoso, já desenvolvidas no CEO; redefinição dos critérios para utilização dos serviços, principalmente quanto a exames radiográficos e de verificação da pressão arterial; e desenvolvimento de um processo de Educação em Saúde focado em medidas intervencionais com aproveitamento dos comportamentos, rotinas e relações positivas, para garantir atenção mais humanizada à saúde bucal dos idosos e maior aplicação de referidas políticas públicas para este segmento da população. Palavras-chave: saúde bucal, humanização, idoso, cuidado.
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ABSTRACT
Elderly Oral Health: the humanization as the difference in the care is an exploratory and descriptive study with qualitative focus that through simple observation in the Dentistry Specialized Center – CEO Centro, Reference Unit in the Ceará General Health Office, in the municipal district of Fortaleza, had like general objective to analyze if the attention in proportionate oral health to the elderly were humanized. In what he refers to the specific objectives intended: to check the known and the application levels of the guidelines of the Oral Health Politics and Humanization for the elderly; to identify the factors that contribute to the humanized care; to know the elements that hinder this attention and; propose some actions that focus humanized and context attention. The observations were coming before the description of the subjects profile inclusion and it felled in September 2006 in the route of forty five elderly, since the reception places until the clinical service conclusion in the CEO. The informations were registered in diary of field and classificated in two dimensions: the first refereed like “descriptions and reflections”, the researcher interpretation in front of the deals; the second resulted confrontation between the observations and the health guidelines legislation of the Politics Public and were distributed in three category: behaviors, routines and relationships. The analysis of the result, drawled conclusions that: the CEO is well known and localized, but the access is selective and bureaucratic; the welcome is sloppy and carried for the arm guard, and isn’t importance for the elderly; the appointment service led others diary; the wait isn’t importance, but it is compromised for packed population and the persons that are indicated by the management and employees, but the elderly don’t bother neither demand; the oral procedure are choose for the dentists, between the more simple and quick; exist confrontation and the X-ray carried and used to the care; the humanization care is shy and is more related to the behaviors and persons relationships between the professional and their patients, that the routines.To overcome these difficulty, checked that the elderly are satisfied; the attention is satisfactory; the situations of pain are solved; favorable conditions are created; the flow are, in order, established; and the success waited is reached, main in the Emergency, in the X-ray, and in the cancer service. In accordance with the conclusions; were suggested: definition of the competence and skills over the humanization care for the elderly; introducing of the prevention’s actions for the worse of the third age; application of success experience’s; to spread the old worsening; to show the criterion of the X-ray and the health pressure; and the use of Health Education, with the suggest, to transform the behaviors, the routines and the relationships, in clinic prototype like means to guarantee the humanized oral health attention to the elderly and one more application of the public politics. Key words: oral health, humanization, elderly, care.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ACD - Auxiliar de consultório dentário ACS - Agente comunitário de saúde ANEO - Assembléia Nacional de Especialidades Odontológicas APCD - Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas BPA - Boletim de Produção Ambulatorial CD - Cirurgião-dentista CEO - Centro Especializado de Odontologia CIES - Centro Integrado de Educação e Saúde CNS - Conferência Nacional de Saúde CNSB - Conferência Nacional de Saúde Bucal CPOD - Índice de dentes cariados perdidos e obturados COELCE - Companhia Energética do Ceará CRO-CE - Conselho Regional de Odontologia do Ceará CTO - Centro de Treinamento Odontológico DA - Descrição de ambiente DP - Descrição de pessoal ESP-CE - Escola de Saúde Pública do Ceará FDI - Federação Dentária Internacional IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IJF - Instituto Dr. José Frota ILPI - Instituição de longa permanência para idosos ONU - Organização das Nações Unidas PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PEA - População economicamente ativa PNH - Política Nacional de Humanização PNHAH - Política Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar PSF - Programa de Saúde da Família RA - Reflexão de ambiente RP - Reflexão de pessoal SESA - Secretaria da Saúde do Estado do Ceará SESP - Serviço Especial de Saúde Pública SIA-SUS - Serviço de Informação Ambulatorial do SUS SUS - Sistema Único de Saúde THD - Técnico em higiene dental
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 11 2 SAÚDE BUCAL DO IDOSO E HUMANIZAÇÃO: o percurso na literatura................................................................................................................ 17 2.1 O Idoso e a humanização no contexto das políticas públicas de saúde...... 17 As Políticas Públicas de Saúde....................................................................... 23 2.2 Avanços e limitações da humanização da atenção à saúde: o panorama.. 34 3 CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia.............................................. 40 3.1 Natureza da pesquisa...................................................................................... 40 3.2 O contexto do estudo....................................................................................... 42 3.3 A coleta de dados............................................................................................ 3.4 Aspectos éticos................................................................................................. 44 4 PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados................................................ 47 4.1 1º Movimento: descrições e reflexões............................................................ 47 Observando os idosos.................................................................................. 52 5 POLITICAS E AÇÕES: a discussão............................................................... 72 5.1 2º Movimento: categorias de análise e os objetivos do estudo.................... 73 Fatores que contribuem para o cuidado humanizado............................ 73 Elementos que dificultam esta atenção.................................................... 77 Conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas............................ 6 ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais............................................. 67 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 91 APÊNDICE ........................................................................................................... 101 APÊNDICE A: Autorização Institucional ......................................................... 102
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1 INTRODUÇÃO
Enquanto há vida, há esperança. E a esperança de vida é um indicador de
mortalidade global que mensura o número médio de anos de vida esperados nas diversas
faixas etárias, mantido o padrão de mortalidade na população residente, num determinado
espaço geográfico, no ano considerado, portanto, correspondente à situação de saúde de uma
população, estando estritamente associado às condições sociais e econômicas (BRASIL,
2007).
No caso brasileiro, são sensíveis a variações de gênero, localização geográfica,
condições de vida, principalmente decorrente das imensas desigualdades sociais coexistentes
no País, que vão de realidades de extremo glamour a situações subumanas de vida (VIANA et
al., 2001; BRASIL, 2007).
De acordo com dados da Contagem Populacional e Projeções Demográficas do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE no ano 2000, a esperança de vida ao
nascer do brasileiro tem um valor médio de 68,5 anos, variando de 62 anos na população
masculina do Estado de Alagoas a 75 anos na população feminina do Estado do Rio Grande
do Sul (BRASIL, 2006c).
O ritmo de crescimento mais lento da esperança de vida masculina (5,5 anos) em
relação à feminina (6,9 anos) no Brasil, decorre, entre outras causas, do aumento gradativo da
sobremortalidade masculina nas idades jovens e adultas jovens, principalmente por causas
externas, relacionadas entre as mortes evitáveis (BRASIL, 2006c).
Este indicador também permite analisar por igual a posição relativa de cada
unidade federada do País, no que concerne à aproximação das condições de vida da situação
de saúde e verificar o efeito distributivo das políticas públicas, portanto de significativa
relevância para estudos sobre envelhecimento (VIANA et. al, 2001).
Neste sentido, o Sistema Único de Saúde - SUS contribui para a redução das
desigualdades em saúde nos diversos ciclos de vida em meio ao desenvolvimento de seus
princípios constitucionais da universalidade do acesso, integralidade e eqüidade da atenção,
reconhecendo a Lei Nº 8.842/2004, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso e os
indicativos da Organização das Nações Unidas - ONU (1982), e da Federação Dentária
Internacional - FDI (1982), entre outros, que consideram idoso o indivíduo com idade igual
ou superior a 60 anos (BRASIL, 2000; COLUSSI et al, 2004).
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Os passos, entretanto, estão descompassados na relação externa do SUS com as
políticas públicas de distribuição de renda e, no contexto interno, é notório o tímido destaque
concedido à eqüidade em saúde, comprometendo a maior atenção requerida por aqueles que
muito precisam, como é o caso das pessoas idosas, desejosas de viver mais com melhor
qualidade de vida e com acesso facilitado aos serviços de saúde.
De acordo com o Núcleo de Estudos em Saúde Pública e Envelhecimento do
Ministério da Saúde, no ano de 2005, registrou-se um percentual de 73% de idosos brasileiros
dependentes, exclusivamente, do SUS, somados às dificuldades quanto ao acesso e
condicionantes da pobreza, que vão da falta de dinheiro para condução à aquisição de
medicamentos a serem prescritos (REIS; MARCELO, 2005).
No Estado do Ceará, território de aplicação do presente estudo, a esperança de
vida ao nascer atinge 62,81 anos para o sexo masculino e 69,42 anos para o sexo feminino,
com um crescimento populacional acumulado de 8,9% na faixa etária de 60 a 75 anos, numa
população de 8.097.276 habitantes, perfazendo um total de 490.505 pessoas neste segmento
etário (VIANA et. al).
Entre estes, a maioria também está dependente do SUS, que mantém uma posição
de vanguarda entre as políticas públicas nacionais, apostando na possibilidade de garantir sua
efetividade, porquanto foram elaboradas ou implementadas num cenário de risco, verificando-
se as condições demográficas, sociais, políticas e econômicas do semi-árido do Nordeste
brasileiro.
Neste mesmo território de efervescência de saberes e atitudes, todavia, conforme
dados do Levantamento das Condições de Saúde Bucal do Ceará - SB Ceará, ampliação do
Levantamento das Condições de Saúde Bucal do Brasil - SB Brasil, realizado entre 2003 -
2004, em 22 municípios cearenses, envolvendo 240 pessoas do sexo masculino e 381 pessoas
do sexo feminino, entre 65 e 74 anos de idade, os resultados revelaram alta prevalência de
cárie dentária e doença periodontal, porém os dados mais preocupantes na população idosa
foram aqueles relativos a prevalência de edentulismo e de uso e necessidade de próteses
dentárias, embora compatíveis com a realidade nacional (CEARÁ, 2005a).
Neste grupo etário, os resultados do SB Ceará apresentaram os seguintes valores:
0,33% usa prótese fixa superior e 0 para inferior; 0,49% usa prótese fixa e outra superior e
0,66% para inferiores; 2,30% usam prótese parcial removível superior e 2,46% inferior;
2,79% usam prótese parcial removível e outra superior e 2,79 inferiores e ainda 52,55% usam
prótese total superior e 37,15 % usam prótese total inferior (CEARÁ, 2005a).
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Os números apresentados na pesquisa e a suposição de que outros cearenses
idosos e edêntulos não utilizam nenhum tipo de prótese dentária sugerem que vários motivos
podem estar relacionados no quadro de culpas, omissões e conseqüências, de menor e maior
gravidade, embora em sua maioria supostamente estejam relacionadas ao modelo de atenção
(MOREIRA, 2005; REIS et al, 2005; COLUCCI; FREITAS; CALVO, 2004).
Este modelo, ainda centrado na doença, sem predição de danos nem economia
dental, certamente permite o acúmulo de necessidades não resolvidas que, entre outros
motivos decorrem da tímida operacionalização e não-elegibilidade de políticas públicas
focadas nestas pessoas, que, mesmo diante da impossibilidade de eliminação dos danos,
buscam minorar a sua situação de saúde, sem preconceitos ou privilégios (REIS; MARCELO,
2005).
Nestas condições, as pessoas idosas peregrinam pelo SUS sozinhas ou
acompanhadas de seus cuidadores, sem pressa e com muitas histórias para contar, embora
entre elas tenha lugar privilegiado a encenação cruel das perdas dentais e da adesão e
adaptação à terceira dentição.
Prioritariamente, estas pessoas buscam os serviços públicos de saúde bucal
movidas pelo interesse e necessidade de realização de exodontias ou colocação de prótese
dentária, tal como consagrado no imaginário popular, o que pode ser traduzido pelo
desconhecimento das formas de tratamento mais conservadoras, ou representar as
conseqüências dos serviços historicamente disponíveis para este grupo etário, num modelo de
atenção biologicista, mecanicista, ainda hegemônico nas práticas de saúde.
Existem, no entanto, chances de este processo ser invertido e possibilitar
longevidade para o aparelho mastigatório, tanto pelo desenvolvimento de tecnologia em saúde
e humanização das práticas como pela adesão e protagonismo desses sujeitos em manter uma
saúde bucal de qualidade alicerçada em políticas públicas exeqüíveis e direcionadas para este
segmento (TORRES, 2002).
Segundo Brasil (2005c), a interação dos usuários do SUS com os trabalhadores da
saúde deverá centrar-se nas necessidades sociais locais por saúde e na implementação da
humanização do cuidado à saúde, que tratarão histórias e os estados de saúde-doença como
elaborarão vivências individuais ou coletivas e não apenas como efeito de histórias e estados
biológicos.
De acordo com Brasil (2005 a), a qualidade e a humanização dos serviços de
saúde bucal deverão ser valorizadas no cotidiano e nas práticas de saúde, tanto nas ações
técnicas como nas rotinas de trabalho e isto somente acontecerá com mudanças na formação e
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na qualificação profissional e da definição do papel da humanização como eixo estruturante
da gestão da saúde bucal nas três esferas de Governo.
Quanto à aplicação destas propostas para os idosos, deverão ser adotados critérios
de cobertura em consonância com os dispositivos do Estatuto do Idoso com orientações
preventivas aos agravos inerentes à terceira idade, respeitando as questões éticas, de gênero e
de orientação sexual. Nas instituições de longa permanência para idosos – ILPI, serão
desenvolvidos programas nutricionais que possibilitem a oferta de alimentação regionalizada,
balanceada e menos cariogênica (BRASIL, 2005 a).
Para Ceará (2003), citado por Pozzo (2001), quando o idoso se integra a um
grupo, acontecem o crescimento da auto-estima, a melhoria do humor e maior entendimento
da realidade cotidiana, conscientizando-se dos desafios a enfrentar e de como lidar com as
novas situações.
A realidade mostra que o envelhecimento gradativo da população, propiciando a
sobrevida de um maior número de pessoas com anos a mais de vida aproxima e requer
atenção para este grupo etário nos serviços de saúde bucal, onde já se constata a
impossibilidade de pronto atendimento às suas necessidades pela existência de filas reais e
virtuais, que comprometem a humanização e o acesso, principalmente, às próteses dentárias
possibilitadoras de recuperação das atividades funcionais de estética, fonética e mastigação,
além do sorriso, impulsionador primordial da auto-estima.
Ademais, há um contingente significativo de pessoas que ainda não conhece a
legislação do idoso, principalmente com relação ao atendimento diferenciado e preferencial,
determinantes do cuidado humanizado que lhe é assegurado; desconhece os serviços ou não
percebe o perigo e seqüelas conseqüentes aos atos ilegais de falsos profissionais, o que
justifica os esforços em realizar pesquisas, acerca das ações públicas em andamento, bem
como propor estratégias, principalmente neste caso, na área de humanização da atenção, que
possam melhorar e adequar o atendimento proporcionado a estas pessoas.
A convivência profissional da pesquisadora nas áreas de planejamento, gestão e
assistência em unidades ambulatoriais do SUS, no Município de Fortaleza, testemunha fatos
que sinalizam desde a execução de procedimentos simples e de média complexidade,
modernos e inovadores para os idosos, até a pouca visibilidade das “linhas do cuidado”
preconizada nas políticas públicas de saúde bucal e de humanização vigentes, permitindo a
elaboração de alguns pressupostos que possam interagir na atenção e provavelmente impedir a
atenção humanizada para saúde bucal do SUS, tais como:
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� As “linhas do cuidado” são conhecidas e aplicadas pelos profissionais da
saúde?
� As pessoas idosas requisitam uma atenção em saúde bucal mais
humanizada?
E, se estes pressupostos interferem ou ameaçam o desenvolvimento das ações,
alguns fatores devem favorecer as suas influências nos serviços, mantendo-se contrários à
humanização da atenção, como sejam:
� a formação tecnicista dos trabalhadores possivelmente confere maior
valorização à produção de procedimentos e discursos, em detrimento da
observância das linhas do cuidado humanizado?
� os idosos não discutem nem cobram seus direitos?
� as discordâncias gerenciais e as práticas de poder permitem o
descumprimento das linhas do cuidado em saúde bucal e de humanização?
Ademais, outros interesses coletivos de igual significância foram arrolados, e
também justificaram o estudo, tais como: a elaboração de informações sistematizadas, a partir
da observação dos sujeitos; a conscientização da importância da humanização da atenção à
saúde bucal do idoso como fator de inclusão social; e o esclarecimento, para os gestores,
profissionais da saúde bucal e usuários do sistema, de que uma política de saúde bucal
humanitária é um forte parâmetro para vigilância à cidadania, uma vez que valoriza usuários,
trabalhadores e gestores na produção do cuidado (CEARÁ, 2004b, 2005b).
Neste sentido, este estudo realizou dois movimentos: um percurso histórico -
bibliográfico sobre a temática da humanização do cuidado à saúde bucal do idoso,
prioritariamente, revendo os estudos realizados nestes últimos vinte anos, tendo como marco
inicial a VIII Conferência Nacional de Saúde, ocorrida no Brasil em 1986, berço dos atuais
movimentos populares em defesa das condições de vida e de saúde para todos os brasileiros e,
como marco final, o Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e da Gestão, publicado em 2006,
representando um compromisso entre os gestores do SUS em torno de prioridades mais
recentes que apresentam impacto sobre a situação de saúde da população brasileira e, entre
estas, a saúde dos idosos (BRASIL, 2006b).
O outro movimento foi mais instigante, principalmente porque observou o nível
de conhecimento e aplicação dos princípios detalhados no primeiro, acompanhando, passo a
passo, o percurso realizado por quarenta e cinco idosos atendidos no Centro Especializado de
Odontologia - CEO Centro, em Fortaleza, no mês de setembro de 2006, na perspectiva de
verificar a humanização do cuidado no acolhimento, nos atendimentos e nos
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encaminhamentos, relacionando os flagrantes da realidade com as linhas-guias do cuidado
humanizado.
E estes percursos somente tiveram consistência porque permitiram observar a
realidade, ante as ações planejadas, executadas e sonhadas durante vinte e oito anos de
serviços, desnudada do viés da proteção administrativa, porém centrada nas pessoas e com um
desafio para toda essa gente: revirar e mexer nas relações e práticas dos serviços que impedem
uma atenção humanizada e dificultam a garantia de longevidade para o aparelho mastigatório,
condição necessária para melhoria da qualidade de vida da pessoa idosa.
Assim, estando eleito o campo para observação e internalizado o modo de lidar
com as informações organizou-se o estudo em capítulos, a saber:
Capítulo 1 - Esta Introdução.
Capítulo 2 - SAÚDE BUCAL DO IDOSO E HUMANIZAÇÃO: percurso na
literatura. Trata-se de uma revisão bibliográfica e histórica sobre a evolução das políticas e
práticas em torno da saúde bucal, do envelhecimento e da humanização da atenção,
exemplificadas com experiências vivenciadas nestas áreas e suas influências nos serviços.
Capítulo 3 - CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia. Apresenta-se a
maneira como foi observada e interpretada a trajetória silenciosa dos sentidos da pesquisadora
ante os movimentos articulados ou passivos dos idosos, respeitando as regras do método
científico da observação simples.
Capítulo 4 - PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados. São expressos os
dados obtidos no campo a partir de observações no percurso realizado por idosos, no decorrer
dos acolhimentos, atendimentos e encaminhamentos, traduzidas em descrições e reflexões a
serem consolidadas em três categorias de análise.
Capítulo 5 - POLITICAS E AÇÕES: a discussão. A partir da classificação nas
categorias de análise; comportamentos, rotinas e relações, os resultados foram discutidos,
relacionando-os com os objetivos do estudo, à luz do referencial teórico, histórico e
metodológico.
Capítulo 6 - OS ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais. Procura-se
evidenciar a relevância dos achados, suas influências nos serviços e na atenção humanizada à
pessoa idosa, propondo-se algumas intervenções, a serem discutidas entre gestores,
profissionais de saúde e seus usuários idosos, respeitando as peculiaridades loco-regionais e
buscando estratégias de organização dos serviços e de utilização permanente de medidas
intervencionais focalizadas.
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Daí, foi definido, como objetivo geral, analisar se a atenção à saúde bucal
dispensada à pessoa idosa tem enfoque humanizado; e, como objetivos específicos:
� identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado;
� conhecer os elementos que dificultam esta atenção;
� investigar o conhecimento e a aplicabilidade das diretrizes da Política de Saúde
Bucal e de Humanização para pessoa idosa; e
� propor ações que venham a possibilitar atendimento humanizado e
contextualizado.
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2 SAÚDE BUCAL, IDOSO E HUMANIZAÇÃO: percurso na lit eratura 2.1 O idoso e a humanização no contexto das políticas públicas de saúde
A partir da primeira década do século XX foram notórios no Brasil o surgimento
de uma nova massa de trabalhadores e a adoção de um Estado planejador e centralizador, cuja
materialização para o setor saúde ocorreu na criação do Departamento Nacional de Saúde, em
1920, e do Ministério do Trabalho, Saúde e Educação, em 1930, dando-se início à redução da
autonomia dos diversos Estados e a institucionalização de uma Política Nacional de Saúde
(BRAGA, 1986).
Até então, segundo Ribeiro (1993, p. 20);
[...] questões ligadas à população, como saúde e higiene pública mostravam-se compatível com uma sociedade baseada no trabalho escravo. O que vale dizer que os problemas de governabilidade vêm à tona somente na presença da organização do trabalho assalariado.
No Estado do Ceará, neste período, segundo Lira Neto (1999), o cenário político
apresentava oligarquias em extinção, um governo intervencionista, a ascensão de fábricas,
burguesia, classe média e trabalhadores pobres, num contexto de efervescência política e
cultural e discussão dos problemas de saúde, induzindo a mobilização dos trabalhadores para
fundação de entidades classistas.
De conformidade com Lira Neto (1999), em Fortaleza, alguns médicos,
farmacêuticos e cirurgiões-dentistas, sob a presidência do Barão de Studart, resolveram criar
uma entidade classista, o Centro Médico Cearense e sob condições semelhantes, os
farmacêuticos e cirurgiões dentistas ousaram e em 22 de novembro de 1914 implantaram a
primeira Escola de Saúde do Ceará, em Fortaleza - a Faculdade de Farmácia e Odontologia,
ambiente propício a discussões, acordos, avanços e elaboração de políticas.
Somente a partir dos anos de 1930, no entanto, as questões sociais tornaram-se
foros políticos no Brasil e as políticas públicas de saúde passaram a fazer parte das agendas de
governo e, quando a acumulação capitalista passou a ser dominada pelo capital industrial,
ganharam também respaldo econômico (BRAGA, 1986).
Para Cohn (1997, p.157);
Na relação entre o Estado, políticas públicas e a sociedade, ocorrem articulações entre a acumulação de capital econômico e a garantia de patamares mínimos ou satisfatórios de bem estar social.
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Neste contexto de discussões e disputas no Estado do Ceará ocorreu um convite
para o sanitarista Amílcar Barca Pélon executar uma reformulação nos serviços sanitários do
Estado (Reforma Pélon), instituída pelo Decreto Nº 1.013, de 9 de maio de 1933, vindo a ser
uma revolução administrativa no âmbito da saúde pública estadual, culminando com a criação
de um Sistema de Serviços de Saúde Distrital, com cinco distritos sanitários e um Centro de
Saúde em Fortaleza, que era o distrito - sede, aglutinando, com ajustes, o novo modelo
americano progressista de serviços de saúde, o Serviço de Higiene e Saúde existente e as
propostas do Departamento Nacional de Saúde, criado recentemente (LIRA NETO, 1999;
CEARÁ, 2007).
No que se refere a Saúde Bucal, a implantação de ambientes públicos que
atendessem às demandas sociais ficou configurada em unidades ambulatoriais desde a origem
do Centro de Saúde em 1933 e do Serviço de Saúde do Escolar em 1936, prioritários até a
presente data, fato corroborado por Souza (1994, p. 87):
A unidade é um espaço privilegiado para o reconhecimento e a intervenção sobre os fatores que comprometem à saúde da sua comunidade e da cidade.
Daí em diante, em todo o País, a organização da atenção, dos serviços e as
políticas públicas seguiram as orientações das assessorias técnicas centrais, gradativamente
buscando a ampliação da capacidade instalada de consultórios médicos e odontológicos e
incorporação de novos órgãos como os ministérios, os departamentos de higiene e saúde, as
unidades de serviço, as secretarias estaduais e municipais, os institutos de aposentadoria e
pensões e o Serviço Especial de Saúde Pública – SESP.
Criado em 1942, o SESP tornou-se uma das estratégias mais relevantes
desenvolvidas no Brasil para incorporação de políticas de saúde pública e a pioneira na área
de saúde bucal coletiva, norteada pela premissa de que saúde pública era uma questão de
hábitos individuais ou no máximo de pequenos grupos, visão incorporada até 1967 pelo
Ministério da Saúde (COSTA, 1998).
Os resultados deste Serviço e das ações contingenciais até então existentes foram
representados pelo desenvolvimento de: atividades de campanhas, assistência à saúde
dependente das contribuições previdenciárias das categorias profissionais; duplicidade da
gestão; falta de comunicação, competitividade, complementaridade; forte apelo à intervenção
clínica nos serviços, à proporção que geraram uma parcela substancial de indigentes excluídos
dos direitos fundamentais inerentes à cidadania e um saldo cumulativo de lesões, permitindo
uma fragmentação dos serviços e uma cidadania fragmentada numa população em
crescimento e com avanço na concentração urbana (SOUZA, 1996).
20
Ademais, segundo Oliveira e Teixeira (1995), surgiram dicotomias entre o
governo central e as unidades federadas, entre os Ministérios da Saúde e da Previdência e
Assistência Social permitindo um largo e descontrolado privilégio ao setor privado, que
passou a ser o maior prestador, exigindo tecnologias, produtos e insumos internacionais
sofisticados e caros, muitas vezes desconhecidos e até difíceis de manipular.
Segundo Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996, p.157);
[...] as práticas em saúde eram centralizadas mediante rotinas normalizadas em manuais. A mentalidade era de uniformidade de ações mínimas em saúde pública a serem desenvolvidas pelos recursos humanos da área da saúde, fossem eles técnicos ou burocratas, envolvendo desde as rotinas administrativas até a rotina para treinamento dos funcionários para o desenvolvimento de programas ou de ações de vigilância.[...].
Neste contexto, os trabalhadores da saúde envolveram-se com o Sistema e, ainda
para Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996, p.157);
[...] as políticas de saúde são os modos pelos quais a saúde e concebida e praticada em determinada época, em determinado lugar, por determinado governo. E os recursos humanos de uma dada administração sempre foram e serão meios para concretizar e por em prática as políticas de saúde de um determinado momento.[...].
Destes envolvimentos, surgiram crises ideológicas e, consoante Mota (1997), a
partir de 1970, foi se fundamentando um processo de mudanças no setor saúde com a
participação efetiva de intelectuais, políticos e profissionais de saúde, vislumbrando a
implantação de um novo modelo em condições de contrapor-se ao modelo privatista
implantado e desenvolvido às custas do setor público.
Assim, mais intensamente, tudo se refez em 1986, com a realização da VIII
Conferência Nacional de Saúde – CNS, movimento de caráter nacional, representando um
embate democrático e popular em torno da saúde pública, jamais visto no Brasil, que ficou na
história, principalmente pela discussão social do projeto institucional do Sistema Único de
Saúde – SUS com seus princípios constitucionais da universalidade do acesso, integralidade e
eqüidade da atenção, democraticamente regulado por instrumentos e instâncias de controle
público nas três esferas de governo (BRASIL, 1986a).
Conforme Brasil (1986a, p. 6);
[...] A concepção de participação coloca a população como protagonista do projeto de construção social do direito à saúde.[...]. [...] para assegurar esse direito a “toda população brasileira”, considera-se imprescindível estimular a participação da população organizada nos núcleos decisórios.[...].
21
Fazendo uma retrospectiva histórica nestes vinte anos, constata-se a relevância da
VIII Conferência como marco histórico da democratização das políticas e pela afirmação do
direito à saúde (BRASIL, 1986a).
Várias propostas da Conferência foram contempladas na Constituição Federal de
1988, elaborada com base na igualdade de direitos, estabelecendo o arcabouço jurídico do
SUS, onde o princípio da eqüidade é interpretado como igualdade com justiça social e prevê
disponibilizar recursos e serviços de acordo com as necessidades de cada um, concentrando
maior atenção naqueles que mais necessitam (BRASIL, 1988).
Foi num dos momentos de avaliação da VIII Conferência que surgiu a idéia de
realização da 1ª Conferência Nacional de Saúde Bucal - I CNSB- SAÚDE COMO DIREITO
DE TODOS E DEVER DO ESTADO, compreendida como um assunto que não tinha sido
devidamente esgotado na primeira (BRASIL, 1986b).
Nesta conferência, foram significativas as discussões pluralistas, as propostas
cidadãs relativas à melhoria das condições de vida da população brasileira e ao
aprimoramento das formas de atendimento e trabalho odontológico, além das denúncias
relativas à situação caótica da saúde bucal, como a definição incorreta de prioridades, dando-
se o atendimento mediante a livre demanda e com insumos sofisticados na execução de
tarefas que poderiam ser realizadas com menor custo (BRASIL, 1986b).
Ademais, denunciou-se o fato de que o modelo atendia somente 5% da população
e caracterizava-se como ineficaz, ineficiente, monopolizador, de altos custos, de tecnologia
densa, elitista, iatrogênico e mutilador, conseqüente da falta de uma política nacional de saúde
bucal voltada para os interesses da maioria da população e do não repasse de conhecimentos e
informações à população.
Ainda, não se falava claramente em atenção a grupos prioritários como os idosos
nem estratégias operacionais como a humanização, embora reconhecendo as vulnerabilidades,
como a necessidade de ampliação da atenção primária em saúde bucal extensiva a todas as
pessoas e a tentativa de desmonopolizar o saber odontológico pelo incentivo à formação do
técnico em higiene dental - THD e do auxiliar de consultório dentário - ACD (BRASIL,
1986b).
Segundo o Relatório Final da I CNSB;
O encaminhamento político das resoluções e recomendações é matéria e bandeira futura para entidades e instituições realmente comprometidas com transformações concretas em benefício da sociedade globalmente considerada. Já é momento da Odontologia amadurecer social, técnica e politicamente, dando seu salto definitivo do individual para o coletivo e assumindo, também, sua parcela de responsabilidade no combate aos caóticos índices epidemiológicos constatados em todas as regiões do
22
País. A 1ª Conferência foi uma semente inicial plantada neste sentido. (BRASIL, 1886b).
Vale ressaltar que, no Estado do Ceará, não ocorreram pré-conferências e que os
trabalhos se limitaram a reuniões das entidades odontológicas e profissionais da saúde,
conforme informações verbais de representantes do Conselho Regional de Odontologia do
Ceará - CRO-CE e do Sindicato dos Odontologistas do Estado do Ceará.
De acordo com Guizardi. et al (2004), em 1992, foi realizada a IX Conferência
Nacional de Saúde, num contexto de restrições da participação ao controle social, apesar do
fato de o controle social ser um componente intrínseco da democratização da sociedade e do
exercício da cidadania.
Após sete anos da realização da 1ª CNSB, ocorreu a 2 ª Conferência Nacional de
Saúde Bucal - II CNSB A SAÚDE COMO UM DIREITO DE CIDADANIA, deliberação da
IX Conferência Nacional de Saúde, em 1993, que descreveu novamente o modelo de atenção
à saúde bucal como iatrogênico, excludente e ineficaz, necessitando inversão para um modelo
de atenção integral com valorização da promoção da saúde e prevenção semelhante ao valor
dado aos procedimentos cirúrgico-restauradores, assim como uma atenção humanizada a
grupos vulneráveis e priorização de políticas direcionadas para conquista da cidadania
(BRASIL, 1994).
As pré-conferências no Estado do Ceará reuniram um número significativo de
municípios em conferências municipais e regionais, mediante consórcio de municípios,
culminando na I Conferência Estadual de Saúde Bucal que, entre várias propostas, contribuiu
decisivamente com a etapa nacional nos seguintes pontos relativos a grupos prioritários e
humanização:
[...] Promover cursos de humanização dos serviços em saúde; manter o usuário informado quanto à programação de atendimento e quanto ao dia e horário de trabalho, fixado em local público adequado; criação de uma comissão mista para supervisão sistemática dos consultórios odontológicos em relação à pratica de acolhimento e garantia de acesso.[...]. [...] Assegurar que a atenção secundária oferecida pelo CEO se dê de forma mais completa e que no serviço de prótese dentária deva ser oferecido, não apenas prótese total, mas também a prótese parcial removível. (CEARÁ, 1994).
De acordo com Guizardi et al (2004), em 1996, foi realizada a X Conferência
Nacional de Saúde, na qual a saúde foi enfatizada como direito universal de cidadania,
reafirmando as resoluções das conferências anteriores e do Texto Constitucional, sem grandes
avanços nas articulações intersetoriais. De um modo geral, as posições marcantes da
23
conferência estão relacionadas à proposta para normatização do controle social e da inserção
institucional do SUS, semelhante a especificações técnicas.
No ano 2000, foi realizada a XI Conferência Nacional de Saúde, com
singularidades que a distinguem das demais, a saber: propostas argumentativas e articuladas
em extensa análise conjuntural; proposta da dimensão constitutiva para a participação como
ação e intervenção no campo social; reconhecimento da produção de saberes e práticas
políticas, discursivas e paradigmáticas; debate sobre a constituição de sujeitos sociais,
definidos como todos os conselheiros de saúde e todos aqueles que possam intervir na
formulação e na fiscalização do SUS (GUIZARDI et al, 2004).
Segundo Brasil (2004b), às X CNS e XI CNS não foram vinculadas conferências
específicas de saúde bucal e em 2003 foi convocada a XII CNS com o tema “Saúde: um
direito de todos e dever do Estado – A saúde que temos, o SUS que queremos”, cognominada
XII CNS Sérgio Arouca, homenagem póstuma ao sanitarista, idealizador, coordenador e
organizador desde a VIII CNS, em um contexto de grandes expectativas para o povo
brasileiro na perspectiva de fazer acontecer reivindicações relacionadas à saúde e à saúde
bucal.
Em 2004, passados onze anos, é convocada a 3ª Conferência Nacional de Saúde
Bucal – III CNSB: ACESSO E QUALIDADE SUPERANDO A EXCLUSÃO SOCIAL que
prioritariamente sugeriu:
Uma cultura de intersetorialidade que deve se manifestar no cotidiano e prática dos setores, nas ações técnicas e nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário. Para isto devem ocorrer mudanças no setor educacional e da formação profissional. Conhecimento das políticas públicas do idoso e suas implicações, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual. (BRASIL, 2004, p.24).
Especificamente, estabeleceu propostas relativas à atenção humanizada aos
idosos, relatadas a seguir:
Conhecer a Política Pública de Saúde Bucal existente para o idoso, desenvolver programas nutricionais em várias instituições, inclusive naquelas de Longa Permanência para Idosos – ILPI, no sentido de oferecer alimentação regionalizada, balanceada e menos cariogênica (33); capacitar os profissionais da rede básica para atendimento ao idoso, (14e); garantir financiamento para cobertura de grupos vulneráveis e especiais, tais como indígenas, idosos e pessoas portadoras de deficiências, doenças crônico-degenerativas e necessidades especiais. (94). (BRASIL, 2005 a).
24
E literalmente, a III CNSB propôs;
Implementar a política de saúde do idoso nas três esferas de governo, em consonância com os dispositivos do Estatuto do Idoso, com orientações preventivas aos agravos inerentes a terceira idade, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual. (BRASIL, 2005a, p. 125).
Quanto às pré-conferências municipais e a etapa estadual no Ceará, registrou-se a
realização de conferências municipais com adesão maciça de participantes nas duas etapas.
De acordo com Brasil (2005) no documento preparatório para 3ª Conferência
Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde – Trabalhadores da Saúde e a Saúde
de Todos os Brasileiros: práticas de trabalho, gestão, formação e participação, no que se refere
a Educação em Saúde, foram discutidas e propostas e ações foram direcionadas à
humanização do cuidado, que deverão contribuir com a atuação dos trabalhadores em saúde.
Conforme o documento Brasil (2005, p. 44);
[...] A humanização do cuidado em saúde deverá ser implementada a partir do entendimento do processo saúde-doença como propício à construção de vivências individuais e coletivas.[...].[...] O trabalho em saúde passa a ser construído em torno das questões locais e da humanização das ações e serviços.[...].
Revisitando as diversas contribuições das conferências no sentido de interpretá-las
e efetivá-las, percebe-se uma movimentação entre saberes, atitudes e vontades de
profissionais da saúde, gestores públicos e da população organizada, consubstanciada na
sociedade, práticas e políticas públicas.
As Políticas Públicas de Saúde
Decorrentes das conferências e movimentos dos gestores, de profissionais da
saúde e outros grupos constituídos, as políticas públicas são delineadas e, no que se refere às
Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (2004) vigente, entre vários assuntos, a
proposta de humanização para atenção à pessoa idosa está intimamente relacionada à
produção de “linhas do cuidado” com estabelecimento de fluxos e ações resolutivas referentes
aos atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido, identificando
cada local da estrutura do serviço, a partir de sua vivência nele, como também estabelecer
atenção voltada para condições de vida.
Ademais, no sentido de garantir o acesso, sugere a organização de grupos de
pessoas idosas nas unidades de saúde com desenvolvimento de atividades de educação e
prevenção. Do mesmo modo, prevê a garantia de atendimento clínico individual, evitando
filas e barreiras burocráticas que dificultem o acesso, inclusive com reserva de horários e dias
25
específicos para o atendimento, observando às disposições legais do Estatuto do Idoso e
evitando tratamentos dolorosos e extraordinários, e ainda foram traçadas algumas diretrizes
que norteiam o atendimento com colocação de prótese, caso necessário, para todas as pessoas
acima de 60 anos (BRASIL, 2004b).
No que se refere à saúde do idoso, o conhecimento das relações conflitantes da
sociedade é fundamental no entendimento do processo saúde-doença, sendo o setor da saúde
pública o que mais absorve estes conflitos e se as relações conflitantes são o berço do
processo saúde-doença, também produzem, alteram e determinam os modelos e modos de
produzir saúde e gerar melhorias na qualidade de vida (SOUZA, 1994).
Em meio a estes conflitos, ao desenvolvimento econômico e pela introdução de
medidas de saúde pública, a população brasileira atravessa uma transição epidemiológica na
qual se verificam um acúmulo de doenças infecto-contagiosas e uma predominância de
doenças crônico-degenerativas, ao lado de uma transição demográfica, onde o envelhecimento
populacional é um fato incontestável e presente na prática diária dos serviços, observando-se
que há um despreparo dos profissionais da área da saúde e de setores afins para lidar com a
população idosa e propiciar uma atenção cuidadosa e paciente para este segmento etário.
(BERQUÓ, 2004; BRASIL, 2007; CAMARANO, 2005).
De acordo com a Portaria nº 1.395/ GM, de 10 de dezembro de 1999, que aprova e
define a Política Nacional de Saúde do Idoso, o crescimento da população idosa brasileira tem
superado o percentual de crescimento das demais faixas etárias em detrimento ao esforço
disponibilizado para o seu cuidado, que muitas vezes tem sido anônimo, portanto, carecendo
de maior visibilidade.
Conforme Brasil (2005c, p. 21);
O atual quadro demográfico brasileiro é resultado de várias transformações, tais como a queda de fecundidade, a redução da natalidade, o aumento da esperança de vida e o progressivo envelhecimento da população. A comparação das pirâmides etárias da população brasileira entre 1980 e 2000 mostra progressivo estreitamento da base, revelando acentuada diminuição da proporção de jovens e expressivo envelhecimento da população.
26
Segundo Freire e Resende (2001, p. 73);
Viver e envelhecer hoje, neste tempo de mudanças sociais e econômicas, de grandes afirmações científicas ao lado da incerteza do dia-a-dia tem sido uma experiência difícil para muitas pessoas. [...] Pela obsolescência e pela descartabilidade de objetos, pessoas e relações, com um certo menosprezo pelo valor da vida.
Para Papaléo Neto e Borgonovi (1996) e Papaléo Neto e Ponte (1996) existem
outros desafios que a sociedade deve enfrentar com o envelhecimento, inclusive, talvez, o
principal seja o que se refere à previdência social, pois à medida que a população envelhece, a
população economicamente ativa - PEA diminui, existindo cada vez mais idosos no
contingente populacional e menor número de pessoas trabalhando.
A Gerontologia Social, normalmente, analisa todos estes aspectos – culturais,
econômicos, familiares, posição perante a vida, amigos e redes sociais visando sempre
proporcionar ao idoso um envelhecimento saudável e com qualidade de vida (MORAGAS,
2004; MOREIRA et al, 2005; NÉRI, 1997, 2001; PISSINI, 1997; VAN PRAAGH, 2001;
VASCONCELOS, 1997; VELASCO, 2005).
Moreira et al (2005), fazendo uma revisão sistemática sobre a saúde bucal do
idoso brasileiro no que tange ao acesso aos serviços de saúde, identificaram vinte e oito
aspectos que podem influenciar o acesso e a utilização dos serviços de saúde pela população
idosa e os relacionaram em quatro categorias: aspectos sócio demográficos, envolvendo
variáveis relacionadas ao indivíduo e ao meio social e do trabalho; aspectos indicadores de
saúde geral em idosos, traduzidos pela capacidade funcional e a auto-avaliação em saúde;
aspectos comportamentais, incluindo desde as crenças pessoais até os tipos de tratamentos
preferidos; e a organização e planejamento das ações de saúde, composta dos tipos de serviços
oferecidos que compõem a rede de atenção.
Portanto, a acessibilidade aos serviços de saúde, de acordo com a pesquisa, é
complexa e pluralista, necessitando do conhecimento da rede local. Quanto à saúde bucal para
as pessoas idosas, há necessidade de formulação de políticas públicas de promoção da saúde
que minorem as conseqüências de um modelo curativo e mutilador, neste segmento da
sociedade.
De acordo com Reis e Marcelo (2005), as políticas, os indicadores e os serviços
definem metas a serem perseguidas em prol destas pessoas, no entanto a percepção da velhice
é um fenômeno pessoal somente percebido no coletivo, uma vez que o envelhecimento não
tem sintomas.
27
As relações afetivas mais estreitas experimentadas pelos idosos provavelmente
determinarão uma velhice bem-sucedida, alicerçada em experiência de vida, que deverá ser -
respeitada e valorizada, quando da procura e atendimento nos serviços de saúde (FORTES;
NERI, 2004; FREIRE; HADDAD, 1996; LEGRAND, 2004; LOPES, 1999; LUFT, 2004;
SIQUEIRA, 2001).
De acordo com Torres (2002) o entendimento da situação de saúde e dos estados
de doença permite aos idosos a aceitação de mudanças que possam garantir a saúde geral e
bucal, possibilitando boa qualidade de vida na velhice.
Reconhecer a importância de envelhecer com as funções mastigatória, fonética e
estética influi sobremaneira nas relações pessoais, familiares e sociais, inclusive para os
idosos que estão em instituições de longa permanência – ILP (ALBUQUERQUE, 2002;
FLÓRIO, 2003; MEZZONO, 1994).
A percepção da saúde bucal na velhice, no entanto, mostra-se diversificada entre
os indivíduos, grupos sociais e gerações e, na maioria das vezes, está associada a aspectos
físicos e subjetivos relacionados à boca e influenciada por fatores econômicos, sociais, idade,
sexo e classe social e sem muita distinção da saúde geral. Já as imagens e impressões da
atenção à saúde bucal são percebidas pela presença de pessoas idosas nos serviços públicos e
privados; na valorização dos procedimentos estéticos em detrimento dos demais; ausência e
presença de dor e pelo interesse demonstrado pela higiene bucal, entre outros (REIS;
MARCELO, 2005).
Mensurando o índice de dentes cariados perdidos e obturados – CPOD na
população brasileira aos 60 anos de idade, o Plano Nacional de Saúde (2005, p. 34) demonstra
que;
[...] Os idosos apresentam um CPOD de 27.79, sendo a perda dental o principal problema (quase 26 dentes extraídos, em média, por pessoa). Menos de 8% dos idosos apresentam gengivas sadias e três a cada quatro idosos não possuem dente funcional, dos quais mais de 36% precisam de pelo menos uma dentadura.
Ademais, o envelhecimento se reveste de características específicas que devem ser
levadas em consideração no atendimento odontogeriátrico, como deficiência auditiva, visual e
cognitiva, exigindo do profissional habilidade e paciência, inclusive para repetir manobras
técnicas, tantas vezes quantas forem necessárias (LUZ, 2005).
De acordo com Saintraim (2004), na velhice, ocorrem alterações hormonais,
associadas às carências nutricionais que predispõem à osteoporose, podendo alterar o
complexo maxilomandibular pela reabsorção óssea, o que irá interferir sobremaneira na
28
confecção e uso de próteses dentárias. Outras alterações, tais como a xerostomia, que
representa ausência ou diminuição de saliva, são características da idade avançada.
Já o edentulismo, perda total dos dentes, atualmente prevalente na pessoa idosa
poderá trazer grandes implicações psicológicas e exclusão, influenciando seus
relacionamentos (SHIMAZAKI e cols. 2001).
E estes relacionamentos, uma vez restabelecidos, influenciarão no seu bem-estar
psicológico, contribuindo para um envelhecimento com dignidade, que já é difícil ante as
desigualdades econômicas e sociais (DEPS, 2003; FERRARA, 1999; FERREIRA, 1997).
Para Moriguiti, Matos e Ferriolli, (2002, p. 381);
A perda dos dentes não é uma conseqüência inevitável do envelhecimento. Sem dúvida, essa perda representa o resultado de uma complexa interação entre doenças dentárias, a falta de medidas preventivas e terapêuticas utilizadas tanto pelo indivíduo, em questão, como pelo profissional que o assistiu.
Conseqüentemente, lutar pela melhoria da gestão e da qualidade dos serviços de
saúde bucal além de capacitar os recursos humanos para lidarem com uma população
envelhecida portadora de necessidades específicas, são ações necessárias nos planos e
agendas do SUS (MALIK e cols.; 1998; MALIK, 1999).
Dentro deste quadro, Petry e Pretto (1997) enfatizam que a educação e a
motivação devem ser os principais focos de quaisquer tratamentos a serem executados,
devendo-se cada vez mais incluir na atenção básica por intermédio do Programa de Saúde da
Família a assistência às pessoas da terceira idade, possibilitando alterações no quadro saúde-
doença bucal, atualmente alarmante e crescente neste segmento (BASTOS; PERES;
RAMIRES, 2003; SILVA et al, 2003).
Corroborando estes autores, Narvai (1997) alerta para a necessidade de se treinar e
capacitar recursos humanos voltados para a promoção da saúde bucal e Pereira (1993)
expressa que a Odontologia em Saúde Coletiva deverá cada vez mais planejar ações e
promover saúde, superando aquelas direcionadas aos aspectos curativos.
Trabalhar de forma interdisciplinar e coletiva, para Brunetti, Montenegro e
Marchini (2002b), é importante, porquanto o idoso tende a estar acometido por co-
morbidades, necessitando desta equipe de atendimento e, somente assim, se poderá almejar a
sua saúde bucal, evitando o menor prejuízo possível para os próximos atendimentos.
29
Daí, o desenvolvimento de ações de Educação em Saúde nas unidades de saúde é
fator imprescindível para que se possa mudar o perfil e as ações relativas ao cuidado
(BARROSO; VIEIRA: VARELA, 2003: HOMEM D’EL REY, 2000).
Neste contexto, deverão ser envidados esforços para que a relação profissional -
paciente mude e ocorra de forma dinâmica, e a pessoa idosa que receberá o tratamento se sinta
participante e possa contribuir efetivamente para reabilitar seu aparelho estomatognático
(BELARDINELLE; RANGEL, 1999).
De conformidade com Manetta, Montenegro e Brunetti (2006), consoante e
também Migliorati (2002), ainda existem outros aspectos psicológicos de interesse que
necessitam ser seguidos no tratamento do paciente geriátrico como ser chamado pelo nome e
ter atendimento preferencial, pois o tempo e a paciência são estratégias necessárias para que o
atendimento tenha êxito e possa decorrer de maneira satisfatória.
O profissional da saúde bucal deve envolver a família nas ações a serem
desenvolvidas com o idoso e do agir conjunto se poderá ter sucesso no tratamento a ser
realizado. A família para o idoso constitui a segurança e o refúgio mais querido, mesmo
existindo relações conflituosas e discriminatórias (CHINOY, 1999).
A condição de saúde bucal do idoso deve ser analisada, mediante o auto-exame e
o diagnóstico rotineiro, devendo atribuir igual valor às queixas e aos sinais e sintomas
relatados e evidenciados nos atendimentos (REIS, 2003; SANTOS; ASSIS, 2006; SILVA,
SOUSA; WADA, 2004; SILVA; FERNANDES, 2001).
Para Pucca Júnior (1996, 2004), os aspectos demográficos e epidemiológicos
devem nortear qualquer ação a ser implementada, lembrando que os aspectos sociais têm tanta
relevância no tratamento quanto os preventivos.
A prática diária evidencia que, apesar de existirem avanços na atenção à saúde
bucal do idoso, ainda há limitações, principalmente no que se refere às ações voltadas para a
promoção e prevenção das perdas dentárias, como é o caso da doença periodontal, que
contribui, sobremaneira, para as perdas dentárias e que pode em sua maioria ser corrigida com
orientações corretas sobre higienização e controle da placa bacteriana (RIGUEIRA, 1996;
GLICKMAN; CARRANZA, 1992; LASCALA, 1994; LINDHE, 1992).
Os problemas relacionados às desordens temporomandibulares, segundo Okeson
(1992), não são bem avaliados e valorizados pelo clínico geral, devendo o paciente idoso ser
encaminhado ao odontogeriatra para tratamentos mais específicos e acompanhamentos
adequados às reabilitações.
30
Em decorrência desta situação, na 2ª Assembléia Nacional de Especialidades
Odontológicas – ANEO, ocorrida em 2001, em Manaus, foi criada a especialidade
Odontogeriatria, que, de acordo com Saintraim (2004), surgiu como saída para proporcionar
aos cirurgiões-dentistas treinamento especializado para lidar com este segmento.
Da mesma forma, Brunetti e Montenegro (2002) e Brunetti, Montenegro e
Marchini (2002a) foram pioneiros nos trabalhos desenvolvidos na área de Odontogeriatria,
procurando proporcionar aos acadêmicos e profissionais de Odontologia orientações para
lidar com a população idosa, o que vem despertando interesse e conscientizando os
profissionais da saúde a se especializarem em áreas voltadas para o idoso, tanto na Geriatria
quanto na Gerontologia.
A importância da Odontologia Geriátrica nos currículos de Odontologia é
referendada por Werner (1998), enquanto Zanetti (2006) relata que a inclusão da saúde bucal
nos programas que envolvem agentes comunitárias de saúde - ACS deve ser seguida, uma vez
que eles têm contato mais íntimo e domiciliar com os idosos, o que facilita as orientações
sobre autocuidado, mudança de hábitos e esclarecimentos sobre os mitos populares, os quais
chegam a propagar que envelhecimento e perda dentária são termos sinônimos.
Segundo Borba (1997), o envelhecimento populacional provoca uma crescente
demanda aos consultórios odontológicos com solicitação de acesso nos serviços públicos e
atendimentos especializados na rede privada, induzindo os cirurgiões-dentistas a buscarem
maiores conhecimentos na área de Odontogeriatria.
Ruyperez e Lorente (2000) alertam para o fiel cumprimento dos passos
operatórios e respeito às peculiaridades inerentes ao envelhecimento durante os atendimentos
especializados à população idosa.
Para Seraidarian e Paes Júnior (2002), os atendimentos especializados em Prótese
Dentária devem ser baseados em procedimentos específicos e diferenciados, para que
garantam compensações diante das perdas ósseas ocorridas nos remanescentes dos rebordos
alveolares, o que remete novamente à capacitação dos profissionais.
Parte integrante da capacitação está relacionada à capacidade de sensibilizar os
idosos para aderirem a tratamentos dentários mais conservadores como missão obrigatória dos
serviços de saúde, sejam públicos ou privados, onde reabilitar não significa apenas resgatar a
função mastigatória, mas implica também devolver auto-estima, confiança e segurança ao
paciente, principalmente aos desdentados (APCD,2001; BARATIERI, 2001; CFO, 2002).
Algumas especificidades inerentes a este segmento populacional encontram-se em
evolução, porém já interferem e até transcendem o diagnóstico e tratamento de doenças
31
específicas, como é o caso do conceito de capacidade funcional, que representa a capacidade
de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e
autônoma, inclusive sendo um indicador mais adequado para operacionalizar a atenção à
saúde do idoso.
Quanto ao propósito básico da Política de Saúde do Idoso, verifica-se:
Tem como propósito basilar a promoção do envelhecimento saudável, a manutenção e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter a sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções na sociedade. (BRASIL, 1999, p. 5).
Além dos propósitos, apresenta diretrizes e entre elas nomeia atividades relativas
a medidas consideradas pouco ordinárias ou carentes de sistematização, incluindo a prevenção
de perdas dentais e outras afecções da cavidade bucal e, no tocante às ações relativas a
prevenção de doenças crônicas e de enfermidades que alijem o idoso do convívio social,
comprometendo sua autonomia, determina a prescrição adequada e o uso de próteses
dentárias, adotando critérios de fornecimento para os níveis federal e estadual e critérios de
acesso para a instância municipal (BRASIL, 1999).
Ademais, estas diretrizes estão amparadas e em conformidade com a Lei Nº
10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, o qual entre outras
prioridades, prevê;
I - atendimento preferencial, imediato e individualizado, junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população; I - preferência na formulação e na execução de políticas públicas específicas; VI - capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e gerontologia e na prestação de serviços aos idosos; VIII – garantia de acesso à rede de serviços de saúde e de assistência social locais. (BRASIL, 2004, p. 2).
E, no Título dos Direitos Fundamentais;
Art.9º É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitem um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. (BRASIL, 2004, p. 2). Art. 10º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 2004, p. 2).
32
E, no Capítulo IV do Direito à Saúde, traz:
Art. 15. É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos. (BRASIL, 2004, p. 3).
Deste modo, adequar os atendimentos a realizar, capacitar os profissionais e dar
condições para que os idosos se achem sintam-se valorizados e co-partícipes dos seus
tratamentos são metas a perseguir utilizando a humanização com ferramenta operacional
(ALVES, 2000; BARBOSA, 2003).
Em termos de humanização, o idoso é solidário, gosta de conversar, de trocar
experiências e de receber uma atenção diferenciada, de sorte que a escuta cuidadosa e a
valorização de sua experiência de vida constitui fator relevante na adesão aos tratamentos,
podendo ser a mola propulsora de sua adesão às orientações da equipe de saúde (BEAUVOIR,
1990; BOSI, 2004: CURY, 2002).
Neste contexto, a autonomia da pessoa deve ser assegurada, a educação voltada
para a promoção e prevenção à saúde bucal deve ser perseguida, uma vez que, transformando
os hábitos, conscientizando e envolvendo as pessoas é que se poderá mudar o quadro caótico
da saúde bucal da população brasileira idosa (FREIRE, 1980, 1986, 2000, 2001a, 2001b).
O modelo flexneriano, biologicista e mecanicista continua ainda hegemônico nas
práticas da saúde bucal e, de acordo com Boff (1990) e Capra (1982), propõe-se uma prática
humanizada, holística e contextualizada, onde o saber cuidar, a atenção cuidadosa e a
valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento deve ser estimulada e executada.
Em vinte anos de evolução de um sistema público de saúde, era de se esperar a
chegada da mudança de atitude, ante a dimensão subjetiva do cuidado, tanto pela necessidade
de melhoria da qualidade das práticas como resultante de um processo organizado de trabalho.
Assim, a Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS –
HumanizaSUS busca o fortalecimento do sistema pelo comprometimento de todas as
instâncias, programas e projetos com a humanização de suas práticas, processos e pactuações,
possibilitando uma excelência na atenção à saúde (BRASIL, 2004a).
Como princípios básicos, a política de humanização define:
Valorização da dimensão subjetiva e social em todas as práticas de atenção e gestão do SUS, fortalecendo o compromisso com os direitos do cidadão, destacando-se o respeito às questões de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações
33
específicas (índios, quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.), além do fortalecimento do trabalho em equipe. (BRASIL, 2004a).
Geralmente são observadas fragilidades nas relações de trabalho, nos fluxos de
atendimento e no despreparo das pessoas, e é neste contexto que a política pretende atuar
ampliando vínculos e co-responsabilidades no ato da produção do cuidado, e uma vez estando
em execução, apontar as mudanças que se fazem necessárias nos relacionamentos, ambientes,
condições de trabalho e atendimento, a partir da identificação dos sujeitos e da produção da
saúde (BRASIL, 2004a).
Na área da atenção secundária ou especializada, foram definidos parâmetros para
acompanhamento da implantação, os quais deverão ser observados e estendidos para atenção
em saúde de forma generalizada:
Garantia de agenda extraordinária em função da análise de risco e das necessidades do usuário; Critérios de acesso: identificados de forma pública, incluídos na rede assistencial, com efetivação de protocolos de referência e contra-referência; Otimização do atendimento ao usuário, articulando a agenda multiprofissional em ações diagnósticas, terapêuticas que impliquem diferentes saberes e terapêuticas de reabilitação; Definição de protocolos clínicos, garantindo a eliminação de intervenções desnecessárias e respeitando a individualidade do sujeito. (Brasil, 2004a).
De acordo com Ceará (2004b, s.n.), no Estado do Ceará, a humanização é diretriz
estratégica da gestão em saúde, e busca
[...] a integração de saberes e práticas, a interdisciplinaridade, a clínica ampliada, o respeito aos direitos de cidadania e o incremento da gestão participativa e da autonomia do usuário e co-responsabilidade mútua no cuidar.
Segundo Pauleto; Pereira e Cyrino (2004), ainda é notório o desconhecimento das
pessoas com relação a estes direitos e às condições de saúde, principalmente entre os mais
carentes e idosos. As informações não chegam a todas as camadas da população da mesma
forma e dificilmente são apreendidas de modo a produzir conhecimento e autonomia em
relação aos cuidados com a saúde. O idoso neste contexto será resistente às informações ou
nem conhece as mudanças propostas?
De acordo com alguns pesquisadores, os valores, costumes, desigualdades e
grupos vulneráveis peculiares a cada local, apontam caminhos e estratégias para o SUS e
constituem desafios a serem enfrentados, quando da atenção às pessoas e elaboração das
políticas.
34
Assim, as políticas públicas voltadas para o idoso percorrem um caminho árduo
desde a Constituição de 1988, procurando assegurar os direitos dos idosos, inclusive
atendimento preferencial e procedimentos especializados em Odontologia, como é o caso das
próteses dentárias. Verifica-se entretanto, que muitas destas leis ainda não estão efetivadas de
forma tal que consigam minorar a condição de saúde no País (BRASIL, 1988, 1996, 1999,
2000a, 2002, 2004a, 2004b, 2005a, 2005b).
Sayeg apud Saintrain (2004, p.30) diz que “um dos propósitos explícitos das
políticas públicas é o de manter, tanto quanto possível, o idoso como um cidadão-ativo,
participativo, produtivo e afetivo”.
Desta forma, o enfoque na humanização surge como uma janela de oportunidade
no delineamento das políticas públicas de saúde bucal que historicamente sobrevivem a
expensas das vontades individuais e das sobras de recursos de outras áreas da saúde, porém
mantendo-se numa eterna segregação operacional (DIAS; MARTINS FILHO; SAMPAIO,
2003).
O planejamento de ações que possam promover a saúde, para Bastos, Peres e
Ramires (2003), deve ser bem criterioso e exeqüível para que se possa realmente mudar o
quadro de saúde-doença bucal do idoso atual no Brasil.
O levantamento dos indicadores epidemiológicos da saúde bucal no País, realizado
por Colussi e Freitas (2002) e Pinto (1999), enquanto no Ceará (2005a), efetivado pela
Secretaria de Saúde do Estado, acrescido de levantamento das políticas, como é o caso de
Dias; Martins Filho e Sampaio (2003), se tornaram urgentes e necessários para que as
políticas públicas aplicadas à população se adequassem ao envelhecimento populacional.
Os estudos realizados por Colussi et al (2004); Cormarck (2006), Gaião; Almeida
e Heukelbach (2005) sobre a situação e perfil epidemiológico da cárie e necessidade de
prótese na população idosa servem de parâmetros para os planejamentos de ações de saúde
bucal a serem realizados no Estado do Ceará. Os dados demonstram que a maioria dos idosos
apresenta saúde bucal precária, requisitando medidas intervencionais focalizadas. como a
Educação em Saúde e o tratamento precoce.
Para Costa, Mendonça e Abigail (2002), no Brasil, o marco histórico da
elaboração e implantação de políticas públicas de atenção ao idoso está diretamente
relacionado às questões do desenvolvimento socioeconômico e à ação reivindicatória dos
movimentos sociais.
Segundo Silva; Souza e Wada (2004), estas práticas humanizadas deverão
contemplar os idosos, principalmente no Brasil, onde os tratamentos odontológicos requeridos
35
por pessoas idosas estão geralmente relacionados a perda dos dentes, cárie dentária, abrasão,
doença periodontal, câncer de boca e lesões da mucosa bucal.
No que concerne à atenção terciária, o Código de Direitos do Paciente, editado
pela Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (2004a), deve ser observado, para que as
pessoas, hospitalizadas ou não, tenham seus direitos de cidadão e pessoa humana respeitados.
Grandes foram as conquistas e imensos os desafios a serem superados.
Transcorridos estes vinte anos, estão se arregimentando novas lideranças a arrefecerem o
sentimento sanitário, no sentido de fortalecerem os princípios e diretrizes do Sistema, prestes
a atingir a maioridade (BRASIL, 2006b)
Desta feita, o movimento prevê um compromisso a ser firmado entre os três níveis
de governo, cujo documento conceitual sintetiza os caminhos e estratégias a serem
perseguidos, isto é, no Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e da Gestão:
Pacto a ser firmado entre as três esferas do SUS a partir de uma unidade de princípios que, guardando coerência com a diversidade operativa, respeita as diferenças loco-regionais, agrega os pactos anteriormente existentes, reforça a organização das regiões sanitárias, instituindo mecanismos de co-gestão e planejamento regional, fortalece os espaços e mecanismos de controle social, qualifica o acesso da população à atenção integral à saúde, redefine os instrumentos de regulação, promoção e avaliação, valoriza a macro função de cooperação técnica entre os gestores e propõe um financiamento tripartite que estimula critérios de eqüidade nas transferências fundo a fundo. (BRASIL, 2006b, p.7).
A saúde do idoso será considerada prioridade em virtude do grande impacto que
produz sobre a situação de saúde da população e algumas diretrizes e ações estratégicas
deverão ser seguidas com relação à saúde bucal, tais como o “acolhimento preferencial em
unidades de saúde respeitando critérios de risco e a formação permanente para os
profissionais de saúde”. (BRASIL, 2006).
1.2 Avanços e limitações na humanização da atenção à saúde : o panorama
Estudos apontam para o confronto entre as facilitações e desafios a serem
superados na perspectiva de implantação de uma atenção e gestão humanizada da saúde.
Segundo avaliação realizada por Ferreira (2005) sobre o Programa de
Humanização da Saúde proposto pelo Ministério da Saúde, concluiu-se que as diversidades de
pessoas e de condutas determinam desdobramentos diversos, tanto nos processos de trabalho
quanto nas relações profissional/ usuários, sugerindo a conversão da dimensão técnica do
trabalho em dimensão relacional, o que possibilitará ao Programa maior eficácia no que se
36
refere às práticas de atenção e gestão, ofertando qualidade e melhoria no acolhimento, nos
ambientes de cuidado e nas condições de trabalho dos profissionais.
Fazendo reflexões sobre a humanização dos serviços e o direito à saúde, acreditam
que as linhas guias da humanização/ satisfação devam relacionar as questões sociais com as
dificuldades cotidianas dos serviços, caso contrário, a compreensão do direito ao cuidado de
saúde encontrará limites e dificuldades que o distanciarão das relações sociais vigentes
(PUCCINI e CECÍLIO, 2004).
Matos e Lima-Costa (2003), analisando a auto-avaliação de um grupo de idosos
(65-74 anos) residentes na região sudeste do Brasil, verificaram e confirmaram estudos de
outros países, segundo os quais existe associação entre auto-avaliação e fatores
predisponentes e facilitadores da condição de saúde bucal. Entre os idosos investigados,
foram apontados: permanência de um a 19 dentes na cavidade oral; não estarem necessitando
na ocasião de tratamento odontológico e disporem de uma renda domiciliar superior a R$
180,00, demonstrando que as perspectivas dos idosos com relação à humanização da
assistência envolve dimensões vastas, além do setor saúde.
Corroborando Matos e Lima-Costa, Hoga (2004), pesquisando as dimensões
subjetivas dos profissionais na humanização da assistência à saúde, observou que a demanda
pelo cuidado humanizado é crescente e também envolve dimensões vastas, complexas e
interdependentes, evidenciando que as relações interpessoais e as perspectivas subjetivas dos
profissionais sinalizam para a importância dos fatores de humanização do cuidados de saúde,
reiterando que há necessidade de profissionais pró-ativos e que suas atitudes incidam
sobretudo na qualidade e melhoria no acolhimento, na estrutura e nas condições de trabalho
dos profissionais, desde que eles considerem importante a criação de um real encontro entre
profissionais e pacientes, fatores essenciais para humanização e promoção do cuidado em
saúde.
Avaliando a humanização da assistência à saúde no que se refere ao
aconselhamento coletivo na prevenção e enfrentamento de doenças em adolescentes, adultos e
idosos, verificou-se a importância de um espaço para orientações e negociações nos serviços
de saúde, demonstrando a relevância da atividade de aconselhamento coletivo (CALVETTI,
2005).
Oliveira, Collet e Vieira (2006) numa recuperação histórica do entendimento do
homem, do humano e da humanidade até a humanização na assistência à saúde, verificaram
que a comunicação/ informação, as condições técnicas e materiais são fortes parâmetros para
o estabelecimento do cuidar humanizado, contanto que o lugar da palavra do usuário seja tão
37
garantido quanto o dos profissionais da saúde, gestores, formuladores de políticas, conselhos
profissionais e instituições formadoras, fomentando uma rede dialogal que pense e promova
ações de humanização.
Pessini e Bertachini (2004), em Humanização e Cuidados Paliativos, referem que
na área da saúde brasileira é emergente e urgente o desenvolvimento do conceito e da prática
de cuidados paliativos, na perspectiva de cuidar do ser.
Backes; Lunardi e Lunardi Filho (2006), entretanto, observando as práticas e a
ética de profissionais da saúde no âmbito hospitalar, verificaram que estas práticas se
desumanizam ante a atenção à doença, e não ao ser doente, a densidade tecnológica é
crescente e associada ao crescimento de custos.
E considerando a questão ética (2004, p. 272):
A ética requer a implementação de um processo reflexivo acerca dos princípios, valores, direitos e deveres que regem a prática dos profissionais de saúde, inserindo-se, aí, a dimensão de um cuidado entendido como humanizado. Assim, o presente estudo teve por objetivo refletir acerca de considerações éticas que necessitam fundamentar as ações de humanização, destacando a importância da dimensão humana nas relações profissionais.
Citando Vieira (2004), pela relevância de seu estudo sobre o Programa Nacional
de Humanização da Assistência Hospitalar - PNHAH, a partir das ações desenvolvidas no
Hospital Regional da Asa Sul em Brasília - Distrito Federal, revisitando os instrumentos da
démarche stratégique e do relato de experiências em hospitais no Estado da Paraíba, dizem
que a humanização foi sentida em três perspectivas: acolhimento e direito ao usuário; trabalho
dos profissionais e construção de uma nova cultura organizacional de humanização. Dos
resultados, foi possível verificar a importância da subjetividade e sua relação com os
processos da gestão, ampliando e valorizando a participação efetiva dos gestores,
profissionais e usuários do SUS, tanto na atenção como na gestão em saúde, assumindo o
papel de cidadãos, conscientes de seus direitos e deveres.
Seu artigo, Vaitsman e Andrade (2005), a cerca dos conceitos de satisfação do
usuário, responsividade, humanização e direitos do paciente, ressaltando suas convergências e
diferenças, verificou-se que .satisfação e responsividade podem ser conceitos operacionais e
incorporar a visão do usuário, como humanização e direitos do paciente, referindo-se a
princípios normativos que orientam políticas e programas. Neste caso, as pesquisas de
satisfação deram destaque às posições dos usuários nos serviços e sistemas de saúde e o
conceito de responsividade fortaleceu sua posição, dando ao paciente o status de um
indivíduo/ cidadão, ou seja, de um sujeito de direitos válidos universalmente.
38
Observando as relações entre cuidado e humanização das ações de saúde
praticadas por profissionais e equipes multiprofissionais em ambulatório especializado na
cidade de São Paulo, Oliveira et al (2005), verificaram que a humanização valoriza a
integralidade da atenção em saúde, requerendo que os profissionais e equipes reorientem suas
práticas e atitudes até então voltadas para um modelo biomédico. Nos locais de atendimento,
foi constatado que a equipe considerava humanizada a atenção prestada, por haver escuta e
resposta a diferentes necessidades dos usuários e entender a humanização da atenção à saúde
como um diálogo, que garanta e estimule uma crescente integração entre as finalidades
técnicas do trabalho e os projetos de vida dos usuários.
Para Benevides e Passos (2005), há necessidade urgente de reavaliação do
conceito de humanização da atenção e de sua configuração como uma política pública
transversal diante da banalização com que o tema é tratado, assim como pela fragmentação
das práticas ligadas a programas de humanização. Da análise, concluíram que não há como
garantir uma política nacional de humanização da saúde, sem que se confronte com o tema do
humanismo no contemporâneo nem que se afaste da discussão sobre a dimensão pública das
políticas de saúde em sua relação com o Estado.
De acordo com estudos de Ayres (2004), as propostas de humanização e
integralidade da atenção, se comportam como opções para organização das práticas de
atenção à saúde atual, que se contrapõem entre a elevada densidade tecnológica e cientifica
que as descrevem e a tímida capacidade de responder às complexas necessidades de saúde da
população.
Reconhecendo outro trabalho de Ayres (2005), verifica-se que o conceito de
humanização adquiriu lugar de destaque nas práticas de saúde no Brasil, rumo à integralidade
da atenção, efetividade e acesso, porém ainda existem poucos trabalhos sobre as bases
teóricas e filosóficas que alicerçam a proposta. Com o estudo, o autor pretendeu relacionar a
hermenêutica contemporânea com os componentes éticos e epistemológicos referentes à
humanização das práticas de saúde.
De acordo com Fortes (2004), ao avaliar a evolução das políticas públicas de
humanização dos serviços de saúde no Brasil, implantada a partir dos anos 1990, os direitos
do paciente e a ética, principalmente com o respeito ao outro, estão listados entre os
significados e entendimentos da política.
Já para Silva (2002), investigando o papel da comunicação na humanização da
tenção, há necessidade de tornarem mais conscientes e claras as comunicações não verbais
mantidas com os pacientes , pois os pacientes estão atentos e criam vínculos pela maneira
39
como o profissional mantém coerência entre o que diz e como diz, já que o conteúdo (o que
diz- diferente entre o leigo e o profissional) está relacionado com a cultura e os sentimentos
(como diz) é semelhante, com pequenas variações de intensidade em todas as culturas
humanas.
Refletindo sobre a prática humanizada da saúde bucal, Santos e Assis (2006)
pesquisaram o acolhimento no PSF de Alagoinhas, Bahia, e emitiram as seguintes
considerações: a limitação na resolubilidade nas práticas de saúde bucal está relacionada à
dependência dos trabalhos a ferramentas, que permitem a execução de ações curativas, mas
não são suficientes para atender as diferentes demandas de saúde; o acolhimento acontece nos
microespaços das relações individuais e coletivas; a recepção funciona com critérios
administrativos, sendo meio de barrar ou limitar o acesso; os cirurgiões-dentistas demonstram
um caráter humanizado por meio da preocupação em acolher os usuários, enquanto os
auxiliares de consultório dentário mostram-se envolvidos com os aspectos subjetivos dos
usuários, priorizando idosos e gestantes na recepção, porém, no ato de cuidar, os CDs
escolhem os procedimentos mais rápidos e mais simples a executar, decidindo, inclusive,
sobre os procedimentos terapêuticos, restringindo o acolhimento; e o acolhimento se dá mais
na porta de entrada do que no ato de receber de modo adequado.
Conseqüentemente, há necessidade de se definir uma equipe que concretize o
acolhimento e que estabeleça interfaces no processo de cuidar condizentes com as reais
necessidades dos territórios sociais.
Segundo as autoras Reis; Marazina e Gallo (2004), a humanização é uma das
políticas, em implementação, prioritárias do setor saúde no Brasil, e os avanços a serem
alcançados devem interligar os processos de humanização e promoção da saúde de forma
dinâmica e , a longo prazo, relacionando com o contexto em que se desenvolvem. Uma vez
que as ações e atividades são complexas, requerem diagnóstico situacional para proposições
de ações e intervenções adequadas e monitoramento e avaliação para garantia de sua
sustentabilidade. Para que esta política se efetive, há necessidade de estabelecer discussões
sobre a lógica que a sustenta em interlocução com as pessoas implicadas na produção da
saúde ou mesmo com a possibilidade de inverter a lógica utilitária, que define ordens
autoritárias e produz sujeitos, fragmentados e incapazes.
Na visão das autoras, o desempenho atual da humanização em saúde, entre as
políticas públicas permite alterar a lógica utilitária e implantar no interior das instituições
espaços de liberdade capazes de acolher, sustentar e dar significado à presença e às ações de
profissionais de saúde, gestores e pacientes.
40
Neste sentido, o estudo demonstrou a importância do uso de métodos
quantitativos e qualitativos com maior ênfase na abordagem qualitativa, sugerindo a escolha
das técnicas de entrevistas, grupo focal, observação e a análise do material, considerando a
humanização como uma instância libertadora e com abertura para que esforços sejam
envidados na elaboração de novos estudos.
Especificamente, no Estado do Ceará, segundo Gomes (2005), utilizando a técnica
de Percurso do Usuário, investigou 13 usuários internados em um hospital público de
Fortaleza, para verificar se o atendimento dispensado era humanizado e concluiu que: o
referencial de cuidado humanizado para o usuário está ligado às concepções populares da
“casa”, impregnada com estigmas sociais que causam uma variedade de emoções e reações.
Ademais, o hospital é reconhecido como uma prisão que confina e restringe às
escolhas pessoais e a liberdade, além de serem efetivados eventos desumanos que
constrangem e deixam os usuários inseguros. Para superar estas situações, os usuários,
familiares e acompanhantes utilizam estratégias populares e domésticas. Suas queixas
direcionaram-se para: experiências de hospitalização; estrutura física; funcionamento e
imagem do hospital; gerenciamento dos serviços, relação médico-paciente e as características
e qualidades de um profissional humanizado.
Do desfecho das investigações, a autora concluiu que, para humanizar a
hospitalização pública no Nordeste brasileiro, serão necessários o “empoderamento” do
usuário e valorizar a opinião e o julgamento leigo, na intenção de melhorar a qualidade dos
cuidados em saúde (GOMES, 2005).
Silva; Albuquerque e Lima (2003), investigando o nível de satisfação de quinze
idosos do distrito de Jaíbaras, Sobral, Ceará, através da observação simples, concluíram que:
os idosos manifestam satisfação com a assistência integral e humanizada dispensada pelo
PSF, mediada pelo Grupo de Caminhada; consideram que ocorreu melhoria na assistência
prestada à terceira idade, pela presença dos profissionais na comunidade, evitando
deslocamentos; e ainda, os idosos viviam sem assistência.
41
3 CAMINHOS PERCORRIDOS: a metodologia
Cuidar da saúde bucal dos idosos é uma questão imposta à sociedade, seja para os
profissionais da saúde bucal que executam a atenção ou para àqueles que lidam na área da
gestão e ou formulação de políticas, que, juntamente com estas pessoas e seus familiares,
acompanhantes ou cuidadores, devam garantir relações de trabalho seguras, duradouras e
solidárias, tornando-se tarefa relevante buscar estratégias humanizadas e éticas para realizar
este cuidado.
3.1 Natureza da pesquisa
Diante, deste desafio, vale a pena investigar in loco o que acontece no percurso
realizado por estas pessoas à busca de atendimento odontológico no SUS. Para tal, é
necessário identificar métodos e técnicas de pesquisa que mais se adequem ao caso.
Assim, conforme Pope e Mays (2005), durante um certo tempo as ciências
biomédicas, no afã de testar seus experimentos, não reconheceram a necessidade de investigar
os fenômenos sociais que envolviam as questões de saúde, portanto não admitindo a
subjetividade dos fatos. Ao mesmo tempo, aquelas investigações ditas tendenciosas e que
mostravam apenas um pouco mais do que as histórias, impressões pessoais e conjeturas foram
avançando e nos dias atuais esta pesquisa dita, qualitativa, é utilizada largamente por aqueles
que estudam saúde e estabelecimentos de serviços de saúde.
Como a própria expressão, a significância da pesquisa qualitativa para saúde
busca significados, qualidades, subjetividades, algo que se investiga das pessoas entre si ou
com relação ao ambiente onde elas convivem, podendo se dar de forma independente ou
envolvendo vários sujeitos, sejam usuários, profissionais da saúde e gestores, em suas
expressões diárias, mais simples, permitindo até diferentes perspectivas sobre um mesmo
fenômeno social.
Para os mesmos autores, a pesquisa qualitativa precisa ou permite a utilização de
vários métodos ou adota uma abordagem por “métodos múltiplos”, variando de acordo com
os fatos que virão a serem analisados, ou seja, falando com as pessoas, lendo os que elas
escreveram ou simplesmente interpretando suas atitudes e ações, mas sempre existindo um
foco comum sobre a fala e a ação.
Segundo Minayo (1996, 2002), a pesquisa qualitativa é o método adequado para o
pesquisador detectar os sentimentos demonstrados pelos idosos sobre o atendimento a eles
prestado.
42
Bauer e Gaskell (2002), Deslandes (1994) e Turato (2003) concordam na idéia de
que a pesquisa qualitativa deverá ser escolhida, quando se pretende valorizar a observação e a
maneira como as pessoas se comportam em determinadas situações.
Uma vez identificado o tipo de pesquisa, escolhe-se o modo de como obter os
dados, ou seja, os métodos, que, segundo Pope e Mays (2005, p. 17);
[...] Incluem observação direta, entrevistas, análise de textos ou documentos e de discursos ou comportamento gravado (fitas de áudio/ vídeo).[...].[...] Os três métodos principais: entrevista face a face, grupos focais (ou discussões em grupo) e observações parecem ser os mais amplamente usados nos estabelecimentos de saúde e nos serviços de saúde.[...].[...] A pesquisa qualitativa portanto, envolve a aplicação de métodos lógicos, planejados e meticulosos para coleta de dados e uma análise cuidadosa, ponderada e, sobretudo rigorosa.[...].[...] isto significa que a pesquisa qualitativa requer considerável habilidade por parte do pesquisador.[...].
Quanto à maneira de aplicar o método, dependerá do pesquisador e da questão a
ser estudada. Desta forma e de acordo com o objetivo deste estudo, elegeu-se a pesquisa
qualitativa utilizando o método observacional, que, conforme Pope e Mays (2005) e Falcão
(2006), permite ao pesquisador acompanhar as pessoas e eventos para observar os
comportamentos e as interações cotidianas, utilizando os sentidos com intuito de adquirir
conhecimentos, olhando e escutando os sujeitos envolvidos.
No momento da observação, é muito importante que se alie a linguagem oral ou
explícita com à tácita ou implícita, como relatam Weil e Tompakow (1986) em O Corpo Fala.
Para Buy (2006), a observação é uma técnica de coleta de dados que não consiste
apenas em ver ou ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se tenciona
investigar, ajudando o pesquisador a obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os
indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento, permitindo um
contato mais direto com a realidade.
Assim, segundo Buy (2006, p. 1), a observação é considerada científica quando,
É sistematicamente planejada; é registrada metodicamente e está relacionada a proposições mais gerais, em vez de ser apresentada como uma série de curiosidades interessantes; é sujeita a verificação e controles de validade e precisão; serve a um objeto formulado de pesquisa e os fatos são percebidos diretamente, reduzindo a subjetividade.
O processo observacional também requer a opção por uma técnica de observação,
os sujeitos a serem observados, a escolha do ambiente, o momento da observação, a
negociação do acesso e o papel do pesquisador em relação ao grupo observado, devendo
conter uma parte descritiva e uma parte reflexiva (POPE, MAYS, 2005; BUY, 2006).
43
Para Falcão (2005), pode-se classificar a observação segundo o critério de meios
utilizados e o grau de participação do observador.
Decidindo pela aplicação do método observacional, foi escolhida a observação
simples, conhecida como observação-reportagem, observação assistemática, informal,
ocasional ou não estruturada, porém com características eminentemente exploratórias,
descritivas e interpretativas, onde o pesquisador é um expectador.
De conformidade com Falcão (2006, p. 1), citado por Seymour (1998, p. 51);
A técnica de Observação Simples é apropriada para estudos qualitativos cujos dados são compostos por descrição detalhada de situações, acontecimentos, pessoas, interações e comportamentos observados; citações diretas das pessoas em relação à suas experiências, atitudes, crenças, pensamentos; enxertos ou passagens inteiras de documentos, correspondência, registro e histórias de casos.[...] O registro é feito no momento da ocorrência do fenômeno, geralmente, em diários ou cadernos de notas.
Outras especificidades, vantagens e desvantagens peculiares à observação simples
foram catalogadas, no sentido de reunir o maior número possível de características, e foram
aplicadas no momento da pesquisa de campo.
Ensina Buy (2006) que entre as vantagens, se incluem os elementos para
delimitação dos problemas e a obtenção de dados sem interferir no grupo estudado. Entre as
limitações, prevê a interferência do pesquisador em colocar seus gostos e afeições, a
fidelidade dos registros dependerem de sua memória, além de gerar interpretação subjetiva ou
parcial do fenômeno estudado.
Relacionando as características científicas dos métodos e técnicas de pesquisa
com o objetivo a ser investigado, o presente estudo foi classificado como uma pesquisa
qualitativa, exploratória, descritiva, utilizando a observação simples para investigar a atenção
dispensada à pessoa idosa numa unidade de saúde especializada em Odontologia.
3.2 O contexto do estudo
Segundo Pope e Mays (2005), a primeira tarefa na pesquisa observacional é obter
acesso ao campo, negociado e previamente escolhido mediante conhecimento prévio do local
e trabalhos teóricos sobre o assunto, onde se encontrarão aspectos, eventos ou categorias
relacionadas com o objeto a ser pesquisado.
O movimento de escolha do campo de pesquisa ocorreu no universo de unidades
de referência com serviços especializados em Odontologia do SUS no Estado do Ceará, onde
elegeu como campo de observação o Centro Especializado de Odontologia – CEO Centro,
pertencente à rede própria da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará – SESA, prestador de
44
serviço para o Município de Fortaleza e deveu-se ao fato de ser a maior e mais conhecida
unidade em saúde bucal do Estado, que realizou entre os meses de janeiro a agosto de 2006,
140.674 consultas, correspondendo a uma cobertura média de 17.584 consultas/ mês, sendo
891 (5.06%), em pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, nas diversas especialidades
odontológicas e no serviço de urgência e emergência, segundo os boletins mensais de
produção ambulatorial - BPA que alimentaram o Sistema de Informações Ambulatoriais do
SUS - SIA-SUS. (SIA-SUS, 2006).
Informam Dias; Martins Filho e Sampaio (2003), que o CEO Centro foi criado a
partir da iniciativa de cirurgiões-dentistas que aglutinaram lutas, interesses e preferências
pessoais e do governo no sentido de implantar uma unidade de saúde com atendimento
odontológico exclusivo, no ano de 1965, com o nome-fantasia Centro de Treinamento
Odontológico – CTO.
Tinha autonomia e poder decisório, sendo a unidade de Odontologia de maior
relevância no Estado, englobando a Divisão Estadual de Treinamento, embrião da educação
permanente em Odontologia no Estado, e um sistema de referência para procedimentos mais
complexos entre as unidades de saúde de Fortaleza e outros municípios, uma vez que os
serviços existentes até então eram reconhecidos como de má qualidade e de pouca integração,
além do atendimento ocorrer exclusivamente por demanda espontânea (DIAS; MARTINS
FILHO; SAMPAIO, 2003).
Decorridos quarenta e dois anos, esta unidade de saúde mantém-se na rede própria
da SESA com o nome-fantasia Centro Especializado de Odontologia - CEO Centro, unidade
de referência para atendimentos especializados em Cirurgia bucomaxilofacial, Dentística,
Endodontia, Estomatologia, Ortodontia, Periodontia, Prótese Dentária, Radiologia,
atendimentos a grupos especiais, crianças e idosos, além do Serviço de Urgência e
Emergência 24 horas e da oferta de serviços de assistência social, enfermagem e Ouvidoria.
Permanece, até o momento, como a maior unidade de atenção odontológica do Estado, tanto
em número de trabalhadores como na oferta de serviços de maior complexidade.
Para negociar o acesso, segundo Pope e Mays (2005), usualmente, ocorre a
identificação de alguém ou de pessoas nas equipes que tenham posição de influência para
permitir e, freqüentemente facilitar a pesquisa. Estes sujeitos podem até afetar o modo como o
pesquisador é percebido pelo grupo, fazer cobrança, pedido de colaboração ao pesquisador ou
ao contrário, o pesquisador sentir-se gratificado com a permissão para acesso e querer
retribuir como favor.
45
Outro ponto a ser considerado, de acordo com Pope e Mays (2005, p. 45), refere-
se ao efeito Hawthorne:
[...] a presença de um observador, particularmente em estabelecimentos mais privativos, pode estimular modificações em comportamento ou ação, embora esse efeito pareça se reduzir com o tempo. Aqueles que são observados também podem começar a refletir sobre suas atividades e a questionar o observador sobre o que estão fazendo.[...].
Pope e Mays (2005), citando Dingwall et al (1998), sugeriram que neste tipo de
pesquisa deve ocorrer negociação continuada e informal de acesso e consentimento no que
responde pelos aspectos éticos.
2.3 A coleta de dados
Em se tratando da coleta de dados, é importante reconhecer que o pesquisador não
captará todos os detalhes e nuanças da situação observada e a demonstração desta condição
pode ser adquirida a partir do reconhecimento de que da combinação de aspectos práticos da
observação com recordação e a percepção não é possível lembrar ou registrar tudo (POPE;
MAYS, 2005).
De início, realizou-se uma visita ao CEO Centro, para verificar a possibilidade de
realizar a pesquisa, identificando alguns eventos: como o idoso era acolhido, atendido e
agendado e como possivelmente se daria a interlocução dos sujeitos observados, tanto usuário
como os diversos profissionais do CEO.
Destas observações, concluiu-se da necessidade de traçar critérios de inclusão
para permitir a escolha dos sujeitos a serem pesquisados e, uma vez que idoso é aquele
indivíduo na faixa etária igual ou superior a 60 anos e que uma das características da
observação simples é a impossibilidade de fazer perguntas aos sujeitos, a revelação da idade e
de outros pormenores ocorria somente no momento do atendimento odontológico ou de
eventuais conversas durante a espera, necessitando a priori de informações mínimas para
decidir quem acompanhar e observar.
Corroborando Buy (2006) e Moreira (2006), na perspectiva de inferir uma faixa
etária para as pessoas observadas como idosas, alguns sinais físicos e culturais do idoso,
socialmente aceitáveis e consagrados no imaginário popular, foram codificados e levados,
parcialmente, em consideração na identificação deste segmento etário, a saber:
� aparência - indivíduo do sexo masculino ou feminino, com cabelos grisalhos ou
tingidos, face com rugas aparentes, possibilidade de limitação na postura, uso
46
de apoio complementar do tipo bengala, unidades dentárias com sinais de
atrição fisiológica ou comprometimento da dimensão vertical pela ausência de
dentes, geralmente usando lentes, e às vezes com audição comprometida;
podendo transparecer disparidades socioeconômicas;
� modo de apresentar-se - seja do sexo feminino ou masculino, geralmente chega
à unidade de saúde, acompanhado de parente, vizinho ou amigo, e algumas
vezes está sozinho. O modo de vestir é discreto e na maioria das vezes o
vestuário é simples, repetido, amassado, usando bonés ou chapéus. Quanto aos
calçados e bolsas seguem o mesmo estilo da roupa. Costumam usar sacolas,
terços ou insumos religiosos outros e raramente usam cosméticos;
� modo de agir - freqüentemente chega com bastante antecedência para o
atendimento e não têm pressa para ser atendido. Gosta de conversar com as
pessoas na sala de espera e lá comenta sua vida pregressa e a história da
condição de saúde bucal atual, além de repetir as novas orientações recebidas.
Respeita a ordem de chegada, é discreto, solidário, tolerante, e identifica o
profissional pelo nome, geralmente fazendo comentários favoráveis e aceitando
repetição de procedimentos;
� modo de falar - expressa seus sentimentos, emoções, fala do seu “estado de
espírito”, fala da aposentadoria, valoriza sua lucidez, informa que toma
remédios, comenta suas atitudes, porém aceita sem reclamar não ser
devidamente orientado e ter dúvidas e incertezas.
No sentido de cumprir as características da técnica de pesquisa, de acordo com
Pope e Mays (2005); Falcão (2006); Buy (2006) e Moreira (2006), é requerido um perfil de
competências e habilidades do pesquisador a fim de manejar e obter acurácia em seus
produtos, eminentemente subjetivos sem infringir os princípios éticos e os limites da
observação simples.
Assim, para garantir o máximo possível de aproximação entre a técnica e a
conduta da pesquisadora, foi desenhado um perfil mínimo de competências para a
pesquisadora, a saber: solicitar permissão de acesso nos locais de atendimento; ser tolerante,
disciplinada e silenciosa, limitando-se a utilizar os sentidos da visão, da audição e a memória;
utilizar o mesmo diário de campo para anotações; registrar imediatamente as observações
realizadas; registrar metodicamente o maior número de informações possíveis, relacionando-
as aos objetivos do estudo; identificar os registros de falas, frases, depoimentos e gestos como
descrições; identificar os registros de ambiente e espaço físico como descrições; classificar as
47
observações pessoais como reflexões; fazer consultas às informações já obtidas, quando
necessário; dar a cada registro uma conotação descritiva e outra reflexiva; registrar todos os
comportamentos da pesquisadora diante das observações; registrar como reflexões todas as
opiniões, expectativas, preconceitos e decepções da pesquisadora e sua evolução dentro do
estudo; esclarecer aspectos que pareçam confusos, necessitando de maior exploração.
De posse deste detalhamento mínimo e da síntese do primeiro movimento, partiu-
se para o campo, na perspectiva de investigar e contribuições e sugestões que venham a
impactar na atenção à saúde bucal e na longevidade e melhoria da qualidade de vida desta
gente.
Para execução da pesquisa, foi escolhido o diário de campo como instrumento
para coleta de dados e de acordo com Lüdke e André (1996) e Turato (2003), a confecção de
um diário de campo facilita sobremaneira o trabalho do pesquisador, pois, nele serão anotadas
todas as expressões faciais, gestos de desagrado, risadas, tosses etc.
Foram observados tipos e formas de atendimentos dispensados ou não às pessoas
idosas, codificando as possíveis categorias de análise a serem avaliadas, a partir dos
resultados obtidos.
3.4 Aspectos éticos
De acordo com Pope e Mays (2005), em toda pesquisa há importantes aspectos
éticos a serem considerados e entre eles a Autorização Institucional que oficializa e tipifica as
pesquisas veladas e as justifica em certas circunstâncias, como na pesquisa de tópicos,
extremamente sensível, ou de grupos difíceis de acessar.
Neste sentido, foi elaborado um documento de Autorização Institucional
(Apêndice A), autorizado pela Direção do CEO Centro , tendo como sujeito articulador o
chefe de Clínica. Neste termo, foram descritos os critérios de inclusão para os sujeitos e o
perfil de competências para a pesquisadora, respeitando os limites teóricos da técnica,
normalizando a observação dos sujeitos e dos ambientes de trabalho, olhando e escutando,
sem lhes fazer perguntas, dirigir a palavra ou fazer considerações, porém respeitando o que
preceitua a Resolução 196/ 96 do Conselho Nacional de Saúde, que garante aos sujeitos da
pesquisa sigilo de identidade, no relatório e nas publicações, e disciplina os quatro princípios
da Bioética: autonomia, não - maleficência, beneficência, justiça e eqüidade.
48
4 PERCURSOS OBSERVADOS: os resultados
4.1 1º Movimento: descrições e reflexões
Segundo Buy (2006), a partir da liberação da Autorização Institucional, inicia-se a
pesquisa propriamente dita, contendo descrições(D) e reflexões (R), sendo que na
classificação “descrições” são apresentados os registros de falas, frases, depoimentos e gestos
dos sujeitos – DP, como também os registros do ambiente e espaço físico – DA. Com relação
às “reflexões” são consideradas as observações e interpretações pessoais tanto dos sujeitos
como da pesquisadora, sobre as pessoas - RP e com relação ao ambiente- RA. Assim, foi
elaborado o presente estudo.
(DA 1) O CEO Centro localiza-se na Avenida Tristão Gonçalves, 288, no Centro
da Capital cearense, em local de intensa circulação de pessoas, veículos, comércio formal e
ambulante. O acesso é fácil e muito conhecido da população. O desenho arquitetônico da
unidade apresenta uma construção reformada, estilo moderno, onde os espaços privilegiados
estão reservados para clínicas odontológicas, Centro de Estudo, Escovódramo, e Auditório. A
estes estão acrescidos os serviços complementares de Enfermagem e Serviço Social, e
administrativos, de recepção, coordenação, e apoio. Existem rampas na entrada e corredores.
(RA 1) A estrutura reforça o perfil da unidade, com primazia para atendimento odontológico e
a existência de rampas demonstra uma preocupação em cumprir a lei, facilitando o acesso,
porém faltam barras de apoio e sinalização nestes locais que comprometem o acesso
humanizado.
(DA 2) Oficialmente, o CEO atende em dois turnos, e em regime de plantão no
Serviço de Urgência e Emergência Odontológica. Na perspectiva de otimizar os horários,
internamente, dispõe de quatro turnos de atendimento ao público, intercalados por uma hora
para atividades coletivas e de estudo, ficando com a seguinte distribuição: turno manhã - 7 às
10 horas; turno intermediário - 10 às 13 horas; turno tarde - 13 às 16 horas e turno noite - 16
às 19 horas. O Serviço de Urgência e Emergência oferece atendimento permanente, em
regime de plantão de 24 horas, sendo este horário dividido em plantão diurno e plantão
noturno com duração de 12 horas, respectivamente.
(RA 2) Os horários contínuos garantem satisfação para os profissionais e pacientes, e o
horário para estudo além do incentivo permite discussões e aprimoramento, inclusive sobre
atenção à pessoa idosa.
(DA 3) Os serviços de acolhimento, recepção e marcação de consultas iniciam-se
na porta de entrada, por um vigilante armado que controla o fluxo das pessoas e organiza as
49
filas para os três guichês, correspondentes a consultas de especialidades, 1ª consulta e
consultas de retorno. Entre os guichês, mais conhecidos como Fichário, existe uma nota de
informação ao cliente, sem muito destaque (folha de papel-ofício com informações
impressas), relativa ao Estatuto do Idoso no que se refere ao atendimento preferencial que
deverá ser dispensado a estas pessoas. Existem assentos de alvenaria encostados à parede e
ventiladores, onde várias, pessoas ficam de pé, em fila, defronte aos guichês, na ocasião que
antecede qualquer atendimento, não ultrapassando quinze minutos, tanto para agendamentos
como para informações. Convém lembrar que no 1º dia útil do mês, as filas iniciam-se na
madrugada do dia anterior. No decorrer do mês de setembro de 2006, observou-se que, as
equipes do Serviço Social e da Humanização faziam trabalho de sala de espera neste local
somente quando o fluxo de clientela era grande ou apresentava sinais de conflitos. Observou-
se também que tanto o vigilante como as pessoas da fila cediam lugar para o idoso, mais por
consideração do que pelo conhecimento da legislação ou pela leitura da nota de informação.
(RA 3) Os destaques deste percurso voltam-se para o tipo de acolhimento inicial, realizado
por vigilante, para utilização ineficaz das ações de comunicação/ informação e para a
insuficiência e ineficácia da estrutura ofertada, uma vez que geralmente são muitas pessoas,
de qualquer faixa etária e condição de risco à saúde.
(DA 4) O Serviço de Urgência e Emergência localiza-se vizinho à sala de
recepção e está composto de sala de espera, pequena e quente; sala de estar, confortável,
climatizada com televisor e sofá; consultório odontológico confortável, climatizado e com
equipamentos novos; alojamentos distintos, para cirurgião-dentista e para auxiliar de
consultório dentário e tem duas entradas de acesso. Observando a demanda espontânea de
clientela e demandas internas do próprio CEO, constatou-se o atendimento a urgências, porém
a maioria dos clientes já está informada quanto à utilização deste serviço como porta de
entrada para o atendimento especializado. A cobertura diária de atendimentos atinge, em
média, quarenta clientes/ plantão de 12 horas. Quanto à procura deste serviço por pessoas
idosas, verificou-se que o atendimento é preferencial, porém a pessoa do acompanhante
somente é lembrada quando ocorre algum episódio desfavorável ou de risco ao idoso. O idoso
raramente é tratado pelo nome.
(RA 4) Durante a observação, evidenciou-se a inadequação entre o perfil e a demanda do
Serviço, e o não-cumprimento, exclusivamente, do seu legítimo papel, no sistema de saúde.
(DA 5) O serviço de Ouvidoria acontece em sala única, pequena, climatizada,
porém de fácil acesso e visualização, existindo visor de vidro na porta. Durante o mês de
setembro observou-se que alguns idosos preparavam-se para denunciar alguma dificuldade,
50
principalmente ausência de informações e de profissional, mas desistiam diante da longa
espera.
(RA 5) A demora na oferta do serviço poderá transmitir ao cliente o pouco interesse dado às
suas prováveis questões, comprometendo a humanização das ações.
(DA 6) O Serviço de Estomatologia do CEO Centro está tipificado como
referência ambulatorial estadual para câncer de boca, acontecendo em minúscula sala,
climatizada, funcionando em três turnos e dispõe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, como referência hospitalar. A maioria dos
pacientes é idosa e recebe tratamento diferenciado decorrente da complexidade das lesões e
não da idade. O acompanhante, geralmente, solicita permissão de acesso ao atendimento no
sentido de receber recomendações e prognóstico da doença. As ações articuladas com o
Serviço de Enfermagem e Serviço Social que ocorreram no mês de setembro foram
decorrentes da necessidade do transporte da Unidade para levar pacientes do interior do
Estado até a Santa Casa de Misericórdia.
(RA 6) A fragilidade da estrutura do Sala poderá resultar em subaproveitamento ou pouca
resolubilidade, comprometendo sobremaneira a atenção humanizada e efetiva requerida pelos
idosos nesta área.
(DA 7) As clínicas de especialidades não são clínicas integradas e sim divididas
por especialidades odontológicas. São salas amplas, confortáveis, climatizadas, com
equipamentos dispostos, ergonomicamente, em estilo “roseta” ou “espinha de peixe”,
possuindo decoração direcionada a crianças. As clínicas de Cirurgia bucodentária, Prótese
Dentária, Estomatologia e Radiologia são as mais procuradas pelos idosos.
(RA 7) Embora ocorra significativa procura de idosos por determinados procedimentos, ainda
não existe sala ou serviço adequado a este segmento etário.
(DA 8) O Escovódramo é uma sala de prevenção, nova, confortável, climatizada,
com excelente visual, dispondo de material educativo e de prevenção, mas, apesar disso,
costumeiramente, está fechada, e, quando em funcionamento, atende apenas crianças e
adolescentes.
(RA 8) A implantação deste serviço demonstra o interesse em propiciar ações custo - efetivas
para a população, porém ainda direcionadas para um público restrito, excluindo o idoso das
ações preventivas.
(DA 9) A Clínica de Radiologia é uma das mais procuradas pela clientela,
recebendo demanda de todas as outras clínicas e de serviços externos. Foi verificada uma
demanda significativa de sessenta e sete idosos (38% dos procedimentos realizados), neste
51
serviço, durante o mês de setembro de 2006, referenciados da Emergência, da Prótese
Dentária e da Estomatologia, principalmente, para tomadas radiográficas panorâmicas e
oclusais.
(RA 9) Observou-se, durante o período da pesquisa, que diariamente havia idosos aguardando
atendimento radiológico, e, nas clínicas de especialidades, foi detectada rapidez na utilização
e interpretação, deduzindo-se que muitos radiografias não são utilizadas como meio de
diagnóstico, ocorrendo exposições desnecessárias e subaproveitamento de exames.
(DA 10) Os Laboratórios de Prótese Dentária e Ortodontia, a Sala de Laudos
Radiográficos e de Documentação Ortodôntica e o Centro de Processamento de Materiais são
serviços complementares, não recebendo demanda direta de pacientes.
(RA 10) Verificou-se que estes serviços propiciam redução nos custos dos procedimentos
odontológicos, no entanto, não são devidamente valorizados.
(DA 11) O Serviço Social atende quaisquer clientes, recebendo uma demanda
significativa de pessoas idosas, que buscam informações e solicitação de atendimentos,
principalmente em Prótese Dentária, Cirurgia e Estomatologia. Quanto à resolubilidade das
questões, observou-se no período da pesquisa, que assumem, prioritariamente, um papel
secundário e de articulação subserviente às clínicas de especialidades, e sem autonomia nem
poder decisório, além de geralmente lidarem com os mais pobres e sem esclarecimentos.
Ocupa uma sala pequena com acesso restrito.
(RA 11) Este serviço, durante a observação, apresentou limitações quanto à eqüidade e ao
controle social no SUS, no que se refere a pouca autonomia, grande timidez e falta de
iniciativas capazes de garantir encaminhamentos para as demandas dos pacientes, não levadas
em consideração, prejudicando a atenção humanizada e àqueles que mais precisam de
atenção.
(DA 12) O Serviço de Enfermagem, conforme observado durante o mês de
setembro de 2006, assume papéis de controle e remanejamento interno desde o
encaminhamento de pacientes até a organização e suprimento de materiais, além da
coordenação dos serviços de apoio e de pessoal de nível médio. No que se refere a
encaminhamentos, recebe os pacientes agendados para Cirurgia buco-dentária e bucomaxilo
facial e às pessoas acima de 60 anos, num serviço de controle de pressão arterial, que
antecede aos atendimentos clínicos. A sala de enfermagem não é consultório, não possui
estrutura favorável, nem conforto e beleza. Dispõe de duas estantes velhas em madeira para
guardar material e verificou-se a guarda de caixas de luvas no chão.
52
(RA 12) As distorções no perfil do serviço prejudicam o avanço das atividades do setor,
minimizando o impacto do serviço, comprometendo a humanização e, no caso, o atendimento
aos idosos.
(DA 13) Os corredores de espera são espaços ao redor de um jardim e em frente
às clínicas de especialidades. Possuem bancos de alvenaria, revestidos de granito, que são
insuficientes para o número de pacientes agendados, inclusive, às vezes, dificultando a
passagem das pessoas em virtude do grande número delas, de pé, ao lado das clínicas,
independentemente de serem idosas ou não, possuindo banheiros para usuários que são
pequenos e não dispõem de barras de segurança e apoio para idosos.
(RA 13) Esta descrição revelou as condições de espera para o atendimento, demonstrando que
os espaços são desconfortáveis, principalmente para os idosos.
(DA 14) Os demais setores da Unidade são destinados à administração. Foi
observado durante a pesquisa que existe, diariamente, uma fila de usuários, aguardando
agendamento e atendimento, diretamente da Direção da Unidade.
(RA 14) Percebe-se que no SUS ainda perduram as práticas de poder e seu uso de maneira
não positiva.
(DA 15) A Chefia de Clínica do CEO Centro foi o sujeito articulador da
permissão de acesso e as Chefias de Enfermagem, Serviço Social e cirurgiões-dentistas
presentes nas clínicas odontológicas pactuaram da mesma permissão. Recordando as
competências e habilidades traçadas para a Chefia de Clínica, verifica-se ser um cargo
oficioso e articulado entre o gestor da unidade e um funcionário cirurgião-dentista, com
experiência e liderança suficientes para conduzir e dirimir dificuldades administrativas no
decorrer dos atendimentos, opinando e organizando fluxos (clientela, agenda, lista de espera,
pedidos de suprimento e manutenção de materiais e equipamentos), e os pedidos pessoais de
atendimento, liberações e justificativas, intercorrências dos profissionais de saúde e/ ou com
os pacientes. Enfim, envolvida com todas as questões que ameacem as boas práticas em saúde
e o desenvolvimento do trabalho.
(RA 15) Desta descrição, verifica-se que a Chefia de Clínica assume todo o controle do
desempenho do serviço e das interfaces dos diversos setores e pessoas, o que permite
articulações em prol das pessoas idosas e da atenção humanizada.
53
De conformidade com Brasil (2004b, p. 7);
A garantia da plena utilização da capacidade instalada da rede de serviços propõe o desenvolvimento de políticas de suprimento de material de consumo e de conservação, manutenção e reposição dos equipamentos odontológicos, de modo a garantir condições adequadas de trabalho. No decorrer da pesquisa, a observação das condições do ambiente e das instalações esteve diretamente relacionada com as falas de alguns idosos que reclamavam de desconforto, excesso de calor, excesso de ruídos e falta de sinalização, levando a um certo desconforto durante os períodos de espera. Estes parâmetros interferem nas condições de trabalho, prejudicam a dignidade no trabalho, para profissionais e usuários, e dificultam que os serviços sejam prestados com qualidade.
Observando os idosos
Na perspectiva de aliviar e eliminar a dor, saber o que têm, receber tratamento
imediato, controlar a progressão da doença, evitar danos e incapacidades e tudo isto por meio
de uma equipe de pessoas humanizadas - é o sonho de qualquer idoso, de qualquer
profissional da saúde, de qualquer gestor. E é na tentativa de torná-lo realidade, que as
pessoas idosas têm feito percursos pelas unidades do SUS, sozinhas ou acompanhadas de seus
cuidadores. Qualquer desatenção, porém, pode inverter esta história e serem identificadas
limitações que impedem que um sonho tão real aconteça.
De acordo com os dados do Boletim de Informações Ambulatoriais do SUS/ SIA-
SUS, do CEO Centro, referente ao mês de setembro de 2006, foram apresentadas as
informações que compõem a Tabela 1, abaixo, com relação aos atendimentos gerais e àqueles
realizados em pessoas idosas.
Tabela 1 – Total e percentual de consultas realizadas por especialidade e em idosos, CEO Centro, setembro/ 2006
Especialidade Total de consultas Consultas em idosos Percentual de consultas em idosos Cirurgia 3394 127 4 Dentística (Estética) 993 77 8 Emergência 1742 88 5 Endodontia 633 8 1 Enfermagem 3300 144 4 Estomatologia 286 80 28 Ortodontia 1208 3 0,2 Periodontia 1263 40 3 Prótese Dentária 993 157 16 Radiologia 1743 67 38 Serviço Social 556 20 3 Total 16111 811 5
Fonte: Boletim de Produção Ambulatorial do SUS, setembro/ 2006 – SIA -SUS
Das 811 consultas realizadas em idosos que representaram 5% do total de
consultas realizadas no mês de setembro de 2006, 38%, 28% e 16%, ocorreram nas Clínicas
de Radiologia, Estomatologia e Prótese Dentária, respectivamente, o que instiga mais ainda a
54
investigação do percurso realizado por estes idosos À procura destes atendimentos
especializados, que devem envolver uma série de necessidades e/ ou afecções que estão
afetando estas pessoas. Neste sentido, foram observados quarenta e cinco idosos, cujas idades
foram reveladas durante o atendimento odontológico. a saber:
(DP 1 - 78 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos brancos e lisos, pele branca,
vestido azul e simples, sandália rasteira, rosário no pescoço e saquinho com documentos na
mão, chegou ao CEO Centro às 7h 35 min, acompanhada de uma vizinha, com a mão na boca,
queixando-se de dor de dente, e falando pouco. Foi orientada pelo vigilante a procurar o
Serviço de Emergência. Imediatamente foi chamada, porém a acompanhante ficou
aguardando na Sala de Espera. No atendimento, foi submetida a exodontia e aguardou mais
ou menos quarenta minutos na Sala de Estar para recuperação, onde recebeu orientações da
cirurgiã dentista - CD, quanto ao tipo e estado físico da alimentação. Concluído o
atendimento, levantou-se e saiu, sem perguntar nada nem receber orientações quanto ao
prosseguimento. Todo o percurso envolveu, aproximadamente, uma hora e se foi, com sua
acompanhante.
(RP 1) Deste percurso, destaca-se o atendimento imediato e preferencial ao lado da tímida
comunicação e da falta de individualização. O nome e a idade foram anotados, mas não foram
utilizados e nem se sabe de onde vieram.
(DP 2 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, cabelos brancos e
encaracolados, vestido florido e pente no cabelo, sandálias pretas e lenço na mão,
acompanhada de outra senhora, sua vizinha, entrou no Setor de Emergência pela porta lateral,
às 8h 40 min, encaminhada pela Diretora do CEO para fazer exodontia, e ficou aguardando na
Sala de Estar. Esta sala é climatizada, com “gelágua”, televisor, frigobar, escrivaninha, sofá,
telefone, negatoscópio, cadeira de rodas e um biombo de chumbo para proteção durante as
tomadas radiográficas, tendo ligação direta com o consultório. Enquanto a CD orientava uma
pessoa no consultório, a idosa escutava a conversa, atenta, ansiosa e com sinais de medo.
Mesmo com o televisor ligado, ouvia o diálogo do profissional com sua paciente que chamava
mais atenção do que o televisor. Fazia gestos com a cabeça, passando as mãos nas pernas e
coçando a cabeça, o que não foi percebido pela CD nem pela auxiliar de consultório dentário.
Logo em seguida, foi atendida, fez uma exodontia, e na saída teve dificuldade em encontrar a
porta. Neste momento, a ACD chamou a acompanhante para levá-la e não disse nada. Este
percurso levou doze minutos de atendimento clínico e vinte minutos de espera.
55
(RP 2) Este percurso resolveu objetivamente a situação de dor e o pedido da Direção, porém
provocou situação constrangedora para idosa ao ouvir o diálogo com outro usuário,
precedente a um procedimento cirúrgico.
(DP 3 - 73 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, estatura mediana, cabelos
grisalhos, forte, apresentando varizes visíveis nas pernas, vestido branco, sandália preta,
chegou ao CEO às 9h 20 min, sentindo dor, calada e foi encaminhada pelo vigilante para o
Setor de Emergência. Com esta idosa, a CD modificou o seu estilo de atendimento,
começando a fazer perguntas sobre doenças gerais e sobre o dente 27 que apresentava dor,
mediu a pressão arterial (150x80) e orientou quanto ao sistema de marcação de consultas por
meio das unidades básicas de Saúde da Família, sem perguntar onde a idosa morava. Após 12
minutos, a CD concluiu o atendimento odontológico. A equipe transmitiu tranqüilidade e
durante o atendimento foram sugerindo os passos a serem seguidos, informando inclusive da
possibilidade de dar continuidade ao tratamento no Serviço de Prótese Dentária. Pergunta pelo
acompanhante, pede para entrar no consultório e orienta os cuidados com relação à
alimentação. O atendimento foi realizado sem pressa, com sucesso e chamam a pesquisadora
para observar mais de perto os procedimentos que estavam sendo realizados. O atendimento
foi concluído em quarenta e dois minutos, contabilizando os doze minutos de espera.
(RP 3) Neste percurso, a idosa obteve o sucesso esperado em seu atendimento, sendo
demonstrado o dever de zelar pela dignidade do idoso, colocando-a a salvo de qualquer
tratamento desumano, embora ao adentrar este serviço público continue sendo um sujeito sem
nome.
(DP 4 - 73 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos, olhos
claros, quieta, vestido branco com flores azuis claro, sandálias pretas, bolsa branca, lenço azul
na mão, perfumada, chegou no CEO Centro, às 9h 40 min e foi orientada pelo vigilante para
aguardar na Sala de Espera da Emergência, juntamente com sua acompanhante. É chamada
para atendimento, realizado prontamente, porém a CD identifica a necessidade de
encaminhamento para a Clínica de Radiologia, ocasião em que pergunta o nome e a idade da
idosa, durante o preenchimento da requisição. Lembra da acompanhante que está na Sala de
Espera e pede para entrar e acompanhá-la. Saem da sala e caminham para a Radiologia, tendo
que passar por um corredor superlotado. Conseguem chegar e entregar o pedido que
prontamente foi atendido, ficando a idosa feliz e dizendo que agora pode comer até pedra. Na
Radiologia, é atendida por profissional técnico em radiologia, de nível médio, de excelente
trato com as pessoas. Pergunta carinhosamente qual o seu nome, onde mora, nome da
acompanhante, nome da CD que encaminhou, pede para vestir um casaquinho (avental de
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chumbo) e juntamente com a acompanhante retira fivela, grampos e colares e pede a
acompanhante para se retirar por “cinco minutinhos”, para que não se exponha a radiação
desnecessária. Não satisfeito, vai lá fora e pede para umas crianças darem lugar para a
acompanhante da vovó, que fica lendo o quadro de avisos enquanto espera a idosa. Concluído
o atendimento, o funcionário conduz as duas de volta para o Setor de Emergência e despede-
se. São atendidas e a CD mostra na radiografia, que fica arquivada no setor, os detalhes sobre
o que precisa ser feito.Depois, as acompanha até a porta e vão embora. Utilizaram uma hora e
quarenta minutos, nestes atendimentos.
(RP 4) Percebem-se neste percurso a valia das atitudes humanizadas e a garantia da atenção
igualitária, num conjunto de ações e serviços articulados para promoção, proteção e
recuperação da saúde bucal do idoso.
(DP 5 - 63 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos ralos, magro, pálido, pele
morena, trajando calças jeans e camisa de malha listrada, conduzindo na mão envelope
amarelo grande e aparelho celular, chega ao CEO Centro às 9h 25 min, de braços dados com
sua acompanhante, trazendo o nome da Chefe de Clínica. Ao encontrá-la no corredor, pede
orientação para chegar até o Serviço de Câncer de Boca. A chefe de Clínica os leva até a sala,
fala com a CD e esta pede para aguardar no corredor de espera. A ACD sai da sala com
prancheta, caneta e o mapa diário na mão e solicita documento de identidade do idoso, além
de informá-los sobre os horários de atendimento, inclusive, dizendo que não existe o turno
intermediário nesta especialidade. Como ele já veio sem marcar, no entanto, preenche a ficha
clínica com os dados pessoais e pede para assinar o mapa de produção diária, antes de ser
atendido. Após preenchimento da documentação, fala para a acompanhante que dará um jeito
para organizar o atendimento o mais breve possível. Pede a Carteira de identidade do idoso e
rapidamente resolve a situação no guichê de atendimento (fichário). Enquanto isso, o idoso
caminha no corredor de um lado para outro, inquieto, porém independente, até a hora do
atendimento. A CD convida o idoso, a acompanhante e a pesquisadora para entrarem na sala.
Revisa o material do envelope, uma radiografia e uns exames complementares: sangue e
urina; examina o idoso; conversa com a acompanhante e diz que o idoso deverá fazer sessões
de fluorterapia, duas vezes por semana, antes de ser encaminhado para radioterapia e
quimioterapia. Do exame clínico, relata que encontrou dentes abaulados e que a exodontia é
indicada, com caráter preventivo e anterior à radioterapia., pois o tempo será longo. Conversa
com a acompanhante sobre os prazos e indica a radioterapia logo após a exodontia. Para o
idoso, pede confiança e cita as grandes chances de cura que terá. Despede-se e pede para os
dois se encaminharem até a Sala dos Dentistas para pedir colaboração da chefe de Clínica.
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Chegando lá, os dois são recebidos, sem privacidade e na presença de outros profissionais, e a
chefe de Clínica falando alto, articula os novos atendimentos. Estes procedimentos são
realizados em 30 minutos.
(RP 5) Este percurso comprova a atenção especial concedida às doenças que afetam o idoso,
buscando promover, proteger e recuperar sua saúde. Foram executados de forma humanizada
e a CD estimulou a participação do idoso. Ao mesmo tempo, lhe foi negada a escuta
cuidadosa e privada que lhe é de direito, além da tentativa inicial de não-realização do
atendimento, pelos profissionais auxiliares, em decorrência do horário de chegada. Ficou
evidenciado o registro de procedimentos antes de suas realizações.
(DP 6 - 66) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, roupa esporte muito
simples, usando óculos de grau, independente, chega sozinho às 12h 50 min ao guichê de
retornos, recebe a ficha de atendimento e se encaminha para o corredor de espera em frente a
Clínica de Periodontia. Chega até a porta e é barrado bruscamente pelo fechamento da porta,
sem perguntas ou desculpas. Pela ordem de chegada, espera quinze minutos e é chamado.
Entrega a ficha e assina o mapa de produção antes do atendimento. Neste instante, a CD,
conversando com ele, pergunta se se lembra de que já é a segunda vez que faz limpeza. Tenta
responder e pronuncia as palavras com dificuldade, mas, sem lhe dar ouvidos, ela reinicia
nova limpeza, utilizando proff (removedor de tártaro elétrico). O idoso se limita a cuspir e,
enquanto está de boca aberta, a CD faz perguntas sobre sua higiene oral, já orientando uma
nova técnica a ser adotada. Permanece, aproximadamente, dez minutos no consultório e vinte
minutos aguardando, contabilizando trinta minutos no percurso.
(RP 6) Nem sempre a rapidez representa objetividade e presteza. Neste percurso, aconteceu o
atendimento clínico, porém foram notáveis a perda de autonomia do sujeito; a repetição de
procedimentos e a provável ineficácia das ações educativas voltadas para mudanças de
hábitos, além de novamente ser verificada a assinatura de mapas de produção, comprovando a
realização de procedimentos, antes mesmo de serem realizados.
(DP 7 - 60 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos tingidos,
vestindo calças compridas jeans e blusa azul, chegou às 12h30 min, sozinha, e encaminhou-se
para o guichê de retornos para receber sua ficha. Caminhou pelo corredor de espera e parou
em frente à Clínica de Periodontia. Ao entrar, procuraram sua ficha clínica e, com sua ajuda
dizendo a idade e o número do prontuário, foi encontrado. Foi realizada uma aplicação de
flúor, alertada para possíveis sangramentos, orientada para escovar quatro vezes ao dia. É
portadora de seqüela de cirurgia de fenda palatina. Recebeu alta do tratamento periodontal e
foi encaminhada para Clínica de Prótese Dentária, levando seu prontuário e na mesma tarde
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foi realizada moldagem preliminar, retornando ao guichê para remarcar novo atendimento.
Este percurso correspondeu a três horas.
(RP 7) Este percurso demonstra como é possível uma atenção humanizada e cuidadosa, em
que o saber cuidar e a valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento deva ser
estimulada e respeitada.
(DP 8 - 69 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, magra, cabelos grisalhos,
usando óculos e vestido azul, chegou às 15 horas no CEO Centro, sozinha, sentindo dor e com
a mão no queixo, sendo encaminhada pela funcionária do Guichê de Marcação de Consultas
para o Serviço de Emergência. Aguardou uns quinze minutos e foi atendida. Foi realizada
exodontia e encaminhada para a Clínica de Radiologia com suspeita de fratura. Fez a
radiografia e ao retornar com o laudo, o CD não avaliou o exame , mas indicou medicação a
ser adquirida na rede de saúde municipal e solicitou retorno com sete dias. Gastou
aproximadamente uma hora neste percurso.
(RP 8) O percurso demonstra a ocorrência de insucesso profissional e o excesso de
solicitações de radiografias panorâmicas, e não-utilização, gerando intervenções
desnecessárias, provavelmente pela ausência de protocolos clínicos para este Serviço e falta
de divulgação das linhas do cuidado humanizado em saúde bucal.
(DP 9 - 84 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos ralos e curtos, moreno,
magro, traqueostomizado, trajando calças jeans e blusa marrom de malha, chegou às 8h 30
min no CEO Centro, sozinho, trazendo atestado médico com recomendações. Não passou pelo
Fichário, ficando no corredor de espera por aproximadamente uma hora, sendo interpelado
pela Chefe de Clínica sobre o seu estado de saúde e se estava confortável .Respondeu com
sinais, assinou o mapa de produção diária do Serviço de Estomatologia. Foi avaliado e
orientado com relação a importância de manutenção das unidades dentárias e da necessidade
de tratamento na Clínica de Estética. Levantou com ajuda e foi orientado pela CD de que deve
ter um acompanhante. Realizou este percurso em uma hora e quarenta minutos.
(RP 9) A conclusão deste percurso mostra o compromisso com a humanização das práticas e
processos, possibilitando uma excelência na atenção à saúde.
(DP 10 - 68 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, magra, usando vestido
estampado, óculos escuros, chegou ao CEO Centro às 16 horas, sozinha, e procurou o Serviço
de Emergência referindo muita dor, com pressão arterial muito elevada. Foi orientada a
procurar atendimento médico.Permaneceu no Serviço aproximadamente quarenta minutos.
(RP 10) O atendimento realizado e limitou-se a orientações, sem resolubilidade no que se
refere a dor, demonstrando que, em algumas ocasiões, por insegurança ou falta de cuidado no
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ato de cuidar, o CD provavelmente escolhe o procedimento mais rápido e mais simples de ser
executado, decidindo, inclusive, não realizar os procedimentos terapêuticos.
(DP 11 - 60 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, cabelos tingidos e longos,
roupa esporte, muito simples, com aparência supostamente superior a 60 anos, chegou ao
CEO Centro às 15h 50 min, sozinha, com duas bolsas e três sacolas. Retirou sua ficha e
encaminhou-se para a Clínica de Estética e, ao entrar na sala, foi ajudada pela ACD na guarda
de seus materiais e bolsas. Questionada pelo CD, informou que era hipertensa e diabética. Foi
anestesiada e manteve-se colaboradora durante o tratamento. Foram gastos trinta minutos
neste percurso.
(RP 11) Neste percurso, observa-se a oferta de procedimentos conservadores e de reabilitação,
evidenciando que a população idosa está, gradativamente, requerendo esta atenção.
(DP 12 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, olhos claros, branca, rosto
avermelhado, obesa, cabelos grisalhos, usando vestido azul, chegou sozinha, às 12h 30 min ao
CEO Centro, procurando o Serviço de Emergência, dizendo que não estava sentindo dor, mas
queria extrair dois dentes. Foi encaminhada pelo vigilante para fila da Enfermagem, a fim de
verificar a pressão arterial e de lá para a Clínica de Cirurgia bucodentária. Enfim, foram
realizadas as remoções de restos radiculares e, como prosseguimento, foi orientada a procurar
a Clínica de Periodontia e a rede municipal para os demais procedimentos. Foram utilizados
quarenta minutos.
(RP 12) Este percurso refere que eventualmente ocorre consonância entre as atitudes dos
profissionais e os dispositivos do Estatuto do Idoso e as linhas do cuidado da Política
Nacional de Saúde Bucal,. manifestada no cotidiano e prática dos setores, nas ações técnicas e
nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e a qualidade resolutiva do atendimento
ao usuário.
(DP 13 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos brancos, morena, muito
simpática, chegou ao CEO Centro, às 12 horas, acompanhada de funcionária da Instituição.
Entrou direto na Clínica de Estética, sem passar pelo Fichário nem pela Sala de Espera.
Recebeu orientações do CD que sugeriu levantamento de coroa clínica. No momento deste
atendimento, observou-se que a sala é ampla, tem cinco equipamentos e que, durante a
consulta, as outras quatro cadeiras permaneceram vazias, os CD’s na sala conversando e uma
enorme fila no corredor. Estes procedimentos foram realizados em vinte minutos.
(RP 13) O percurso realizado demonstra que as linhas do cuidado humanizado no que se
refere aos atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido, a partir da
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vivência no serviço, otimizam os atendimentos, entretanto ainda perdura a priorização de
demandas individuais.
(DP 14 - 65 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, alta, muito magra,
traqueostomizada, internada no Instituto José Frota - IJF, chegou às 9h 30 min no CEO
Centro, de ambulância, acompanhada de dois auxiliares de enfermagem, usando jaleco muito
curto, parcialmente coberta, e caminharam até a Clínica de Radiologia. O procedimento foi
realizado em vinte minutos e retornaram pelo corredor de espera que estava superlotado.
(RP 14) Este percurso mostra uma série de condutas e atitudes que evidenciam negligência e
desconhecimento das linhas do cuidado quanto ao atendimento preferencial, imediato e
individualizado, junto aos órgãos públicos e privados prestadores de serviços à população,
além da falta de iniciativa.
(DP 15 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, cabelos grisalhos e tingidos,
vestido branco, extrovertida, chegou às 13h 30 min, sozinha, e ficou pelos corredores
procurando a sala de fazer extrações e mostrando para as pessoas da fila que não tinha mais
dentes superiores. Foi ao Setor de Marcação de Consultas e recebeu orientação para voltar até
a Sala de Cirurgia. Lá chegando, a ACD que faz a chamada dos pacientes conversou com ela
e pediu para aguardar. Em poucos minutos, foi atendida, recebeu orientações para
agendamento, ficando apenas quinze minutos no Serviço.
(RP 15) Neste percurso, destaca-se o estabelecimento de fluxos e ações resolutivas.
(DP 16 - 72 anos) Pessoa do sexo feminino, morena clara, cabelos lisos e tingidos,
vestindo calças pretas e camisa de malha com imagem religiosa, chegou sozinha ao CEO
Centro às 13 horas, recebeu sua ficha e aguardou até às 13h 40 min no corredor em frente à
Clínica de Estética. No atendimento realizado, recebeu uma restauração em amálgama,
executada em doze minutos. Durante o atendimento, tentou mais de uma vez se comunicar
com a CD, que não lhe deu atenção, mas apontava para a cuspideira e fazia outros sinais. Por
outro lado, a CD manteve um diálogo permanente com a ACD. Somente no final, a CD
perguntou o nome e a idade da idosa.
(RP 16) Neste percurso, observam-se outras atitudes dos profissionais diante dos usuários,
como a não-percepção de que são idosos, descuido com relação ao diagnóstico, tratamento,
queixas, sinais e sintomas relatados e evidenciados nos atendimentos.
(DP 17 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos,
usando calças azuis e camisa bege, tênis pretos e bolsa marrom, chegou ao CEO Centro às 12
horas, acompanhada de várias pessoas provinientes do Município de Icapuí, previamente
agendadas. Recebeu sua ficha e encaminhou-se com o motorista para a Clínica de Estética.
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Foi atendida, durante sete minutos, sendo feita uma pequena restauração e solicitados mais
três retornos. O percurso total envolveu uma hora e quinze minutos.
(RP 17) Do percurso, destaca-se a não-observância das linhas do cuidado ao idoso, pois foi
escolhido o procedimento mais simples e mais rápido.
(DP 18 - 75 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, cabelos ralos,
deficiente físico, chegou ao CEO Centro às 12 horas e encaminhou-se para fila de marcação
de consultas, ficando no 17º lugar, de pé. Após cinco minutos, sentou e manteve-se calado.
Levantou-se, sentou-se e, quando a fila ficou menor, voltou para fila e recebeu uma guia ,
porém não era sua, e sim para uma filha. Neste momento, as pessoas perguntaram sua idade e
ele revelou que tinha seqüela de tumor da mandíbula desde 2002 e era acompanhado pela
Estomatologia da UNIFOR. Relatou ainda que tinha sido fumante por trinta anos, perdido
vinte quilos de peso, mas estava vivo e que guardava muitas recordações da sua vida,
principalmente do período em que trabalhava no Colégio Estadual Joaquim Nogueira. Deu
muitos testemunhos sobre o valor da vida, ressaltando que outras pessoas que tinham sido
operadas de câncer de boca , na mesma época que ele, não haviam se cuidado e tinham
falecido.
(RP 18) Neste percurso, verifica-se a participação e a inclusão do idoso nas atividades diárias
da família, e nas unidades de saúde, possibilitando a garantia de acesso e sucesso da atenção
por meio da organização de grupos de pessoas idosas e desenvolvimento de atividades de
educação e prevenção.
(DP 19 - 71 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos brancos, magro, branco,
elegantemente vestido com calças pretas e blusa de mangas compridas amarelo-clara, chegou
às 9h 30 min no CEO Centro, acompanhado de uma senhora, também idosa, que o deixou
sentado no corredor de espera, pediu para aguardá-la, que seria breve. Enquanto esperava,
manteve-se ansioso e por diversas vezes alinhou as meias, bateu com os pés no chão e as
mãos nos joelhos. Após dez minutos, começou a cruzar as pernas e apertar os dedos, porém
calado. Após vinte minutos balbuciou , que velho é para estas coisas – uma pessoa de setenta
e um anos esperar mais de meia hora só para receber uma radiografia...
(RP 19) Neste percurso, observa-se a falta de atendimento preferencial ao idoso, não
conseguindo evitar filas e barreiras burocráticas.
(DP 20 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino, obesa, moreno-clara, vestindo
bermudas jeans e blusa branca, chegou às 7h 40 min no CEO Centro, acompanhada de uma
menina de mais ou menos onze anos, e se encaminhou para o Serviço Social. Ao ser atendida,
fez uma explanação de suas repetidas vindas ao CEO, durante três anos, a fim de conseguir
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um tratamento ortodôntico para sua neta e uma dentadura para si mesma. Relatou que já
conhecia o sistema de encaminhamento dos postos de saúde, e, nada conseguindo, agora
apelava para a caridade da assistente social. Do seu apelo, recebeu duas soluções: endereço de
um Curso de Especialização em Ortodontia, que trata clientes a preços mais baratos e insistir
nos postos de saúde até conseguir uma guia de referência para prótese. Insatisfeita com as
soluções, disse que não tinha condições financeiras nem tempo para ir e voltar novamente. A
solução era não fazer os tratamentos.
(RP 20) O percurso destaca o tratamento desumano, vexatório e constrangedor dispensado a
pessoa idosa, contrariando as linhas do cuidado humanizado. Ademais, não foram
estabelecidos o fluxo e ações resolutivas, relativas aos atos de acolher, informar, atender e
encaminhar, com acesso favorecido, identificando cada local da estrutura do serviço.
(DP 21 - 75 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, olhos claros, vestindo
roupa esporte e simples, cabelos grisalhos, chegou no CEO Centro às 10h 20 min, sozinho,
falando consigo mesmo, bem baixinho. Sentou-se e, quando viu a chefe de Clínica, levantou e
aproximou-se dela. Pediu licença para conversar com ela. Foi atendido mesmo no corredor e,
como sua voz era muito baixa, mais compreensível, a doutora não entendeu o que estava
dizendo e não deu resposta. Sentou-se e ficou balbuciando que era uma pessoa idosa com
mais de 75 anos e que tinha vindo ao CEO apenas para agradecer. Não queria nem estava
precisando de nada. Não satisfeito, fez uma volta em torno de todas as clínicas, abrindo todas
as portas e foi embora. Neste processo, levou quarenta minutos.
(RP 21) A fragilidade da situação denota o desconhecimento das diretrizes da atenção
humanizada ao idoso e a falta de escuta cuidadosa e de valorização de sua experiência de
vida.
(DP 22 - 64 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos tingidos, pele branca, usando
calças e jaqueta jeans, chegou às 12h 50 min no CEO Centro, sozinha. Foi ao Fichário,
recebeu a ficha e encaminhou-se para o corredor de espera em frente à Clínica de Prótese
Dentária. Ficou de pé, depois sentou-se, calada, mexendo as pernas, mão no queixo. Entrou
para o atendimento, a ACD perguntou a idade, o nome e o CD indagou o motivo das perdas
de dentes, sorriu, mas não disse nada. Em seguida, o CD sugeriu radiografar os rebordos,
pedindo a ACD para assumir todo o processo de encaminhamento. Este atendimento ficou
resolvido em uma hora.
(RP 22) A situação vivenciada no percurso demonstra a desvalorização do saber cuidar e da
pessoa como sujeito de seu tratamento.
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(DP 23 - 69 anos) Pessoa do sexo masculino alto, magro, cabelo grisalho, roupa
simples, chegou sozinho no CEO Centro às 12h 40 min. Recebeu sua ficha e encaminhou-se
para o corredor de espera em frente à Clínica de Prótese Dentária. Ao iniciar o atendimento, o
CD apenas perguntou o nome e a idade, sem explicações sobre os procedimentos a serem
realizados. Não perguntou nada, pediu para colocar no guardanapo as próteses velhas e
solicitou que a ACD preparasse o material de moldagem inicial, fazendo moldagens superior
e inferior e deixando os moldes sobre a pia para serem vazados. Pediu para o idoso levantar
no que foi prontamente atendido, porém este, não compreendendo a utilidade da cuspideira,
cuspiu no chão, foi à pia, lavou as mãos, fez um bochecho, cuspiu na pia novamente e lavou
as dentaduras e saiu balançando as mãos molhados. Foi repreendido em voz alta por outro
profissional e motivo de risadas, mas não entendeu nada. CD e a ACD prepararam os modelos
e enviaram ao Laboratório. Foram utilizados vinte e cinco minutos nestes procedimentos.
(RP 23) Neste percurso, destaca-se a negligência com as linhas do cuidado humanizado em
saúde bucal, deixando de estabelecer fluxos e ações resolutivas relativas aos atos de acolher,
informar, atender e encaminhar, além de submeter o idoso a tratamento constrangedor, que
não educa nem modifica os hábitos.
(DP 24 - 68 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-clara, muito simples,
chegou no CEO Centro às 16 horas. Recebeu sua ficha e encaminhou-se para o corredor de
espera em frente à Clínica de Prótese Dentária. Foi chamado e realizada prova da prótese
superior com dentes, sem mostrar ou pedir opinião do idoso e ainda desgaste na prótese
antiga, na própria clínica, utilizando motor de alta rotação, sem consultá-lo nem lavar a
prótese. Diante da reclamação do idoso em pedir atendimento nas mesmas condições das
consultas anteriores, foi repreendido pelo CD e pela ACD, que no final lembraram que não
haviam perguntado a idade para registrar no mapa diário. Ficou constrangido, virou e bateu
com o pé na caixa de comando e perdeu-se dentro da sala, não enxergando a saída. Esta
operação durou trinta minutos.
(RP 24) Neste percurso, observou-se a falta de articulação com o Laboratório para desgaste de
próteses e o descaso com a humanização e qualidade do atendimento ao usuário.
(DP 25 - 66 anos) Pessoa do sexo feminino, estatura mediana, cabelos grisalhos
chegou ao CEO Centro às 11 horas, sozinha, encaminhada do CIES Clodoaldo Pinto –
Fortaleza, para realizar radiografia panorâmica, com suspeita de tumor no assoalho da boca.
Demonstrou muita alegria em ser pronta e gentilmente atendida, porém ficou assustada com a
voz, muito forte e alta, de um funcionário que estava caminhando pelos corredores, à procura
de uma paciente idosa e gritava: “Se ela estiver na Tristão Gonçalves, ela vai escutar e vem”.
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Após o episódio, recebeu orientações quanto á data de retorno e foi embora, tendo sido
utilizados vinte e cinco minutos neste procedimento.
(RP 25) Neste percurso, observa-se que a humanização das relações ainda não se manifesta no
cotidiano, na prática dos serviços e nas rotinas de trabalho, como se apenas o fato de receber o
atendimento clínico fosse importante.
(DP 26 - 61 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno, cabelos pretos, caquético,
olhos fundos, face assimétrica, chegou ao CEO Centro em ambulância do Município de
Hidrolândia, às 8h 30 min e foi entregue pelo motorista na fila de espera da diretora,
recomendando a este que, ao terminar o atendimento, ligasse a cobrar para o seu telefone
celular. Em seguida, foi chamado pela secretária da diretora, que preencheu sua ficha com
dados pessoais e informou que fosse até o Serviço de Oncologia da Santa Casa de
Misericórdia, para ser atendido. Como o idoso não conhecia o Hospital, a referida disse que a
única maneira de ajudá-lo era fazer uma ligação para o motorista da ambulância ou esperar
que as outras demandas do transporte do CEO fossem resolvidas. Enfim, às 10 horas, foi na
Kombi do CEO Centro para o Hospital e somente retornou às 12 horas, com o motorista da
ambulância e entregou alguns documentos à secretária da Diretora.
(RP 26) Neste percurso, denota-se a realização de ações contingentes do fluxo, apesar de que
estas estratégias já foram consolidadas em pactos entre gestores públicos e entidades
complementares do SUS.
(DP 27 - 74 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, alta, aparentemente carente,
roupa azul, sandálias tipo havaiana, chegou às 7h 30 min no CEO Centro, sozinha, e esperou
quarenta minutos no Setor de Emergência para ser atendida. Foi feita remoção de resto
radicular e encaminhada para a Clínica de Radiologia, e em seguida para à Sala de Cirurgia.
Após, a realização do Raio X, ficou aguardando no corredor em frente a Sala de Cirurgia e
falou para as pessoas que estavam lá que estava ficando preocupada, um pouco tonta, não
estava entendendo por que voltar para o dentista se já tinha tirado o dente. Como não tinha
dinheiro para vir outra vez e o seu marido tinha ficado sozinho em casa, doente – tinha ido
para o Hospital andando e tinha voltado “aleijado”, ia esperar. Foi chamada na cirurgia, foi
anestesiada, fez uma curetagem e foi confirmado que ainda havia restos de raiz fraturadas.
Ficou mais tonta ainda, e disse que não aguentava ser operada naquela hora e que ia embora.
Estes procedimentos envolveram cinco horas.
(RP 27) Neste percurso, observa-se o desconhecimento ou negligência ao Estatuto do Idoso
no que se refere à facilitação do acesso, inclusive com reservas de horário e dias específicos
para o atendimento, evitando tratamentos dolorosos e extraordinários.
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(DP 28 - 79 anos) Pessoa do sexo feminino, magra, morena, vestido marrom,
sandálias preta, usando óculos, chegou sozinha ao CEO Centro, às 7 horas, e encaminhou-se
para a Clínica de Prótese Dentária. Permaneceu sentada no banco de espera por
aproximadamente quarenta minutos, rezando e cantarolando, além de rir bastante, dizendo
que era uma velhinha de 79 anos mas muito enxuta. Após este tempo, a ACD veio até a porta
da Clínica, chamou a idosa e avisou que a mesma não ia ser atendida, embora a CD estivesse
presente no CEO, mas estava muito ocupada preparando a Jornada dos Funcionários e que as
consultas seriam remarcadas, para depois do dia 26 de setembro. Prestando atenção às
palavras da ACD, a idosa disse que não tinha problema, pois não pagava ônibus. Esta viagem
era o seu passeio da manhã.
(RP 28) Neste percurso, denota-se o descaso em relação à atenção cuidadosa e com a
valorização da pessoa como sujeito de seu tratamento, além de repercutir negativamente no
agendamento da clientela.
(DP 29 - 71 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, alta, aparentemente nervosa,
chegou sozinha no CEO Centro, às 7h 20 min, perguntando onde era a fila da extração. O
vigilante a recebeu e avisou que deveria tirar uma ficha para medir a pressão. Encaminhou-se
para Sala de Enfermagem. A funcionária perguntou o nome, a idade, fez a medida (140x90),
disse que estava bem e a autorizou ir para cirurgia. Na cirurgia, foi realizado o procedimento
necessário, porém retornou novamente para Sala de Enfermagem, para fazer nova medida,
pois, durante a exodontia, ficou taquicárdica. A nova medida atingiu 100x70. Foi liberada e
neste percurso foi utilizada uma hora.
(RP 29) Neste percurso, verifica-se o estabelecimento de rotinas, porém uma subutilização
dos resultados no que tange aos atos de informar e encaminhar os idosos.
(DP 30 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, magra, olhos claros, estava na
fila para verificar a pressão arterial às 7:15 horas (100x60). Recebeu o resultado, perguntou se
estava baixa e não obteve resposta, mesmo assim foi para cirurgia, onde realizou exodontia
em vinte e cinco minutos.
(RP 30) Neste percurso, denota-se o descaso dado à transmissão da informação entre os
sujeitos envolvidos, que contraria a humanização do cuidado, uma vez que não foi
estabelecido o entendimento do processo saúde-doença.
(DP 31 - 72 anos) Pessoa do sexo masculino, moreno-claro, magro, limitação de
voz, usando óculos escuros, às 7h 20 min estava na fila para verificar a pressão arterial,
dizendo que ia extrair todos os dentes. Estava tenso e tinha acompanhante. No momento de
medir a pressão arterial (100x70), olhou para a funcionária, riu, manteve-se fitando-a, riu
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novamente em virtude de a funcionária não ter observado nenhum dos seus gestos. Recebeu o
resultado e foi para Clínica de Cirurgia Bucodentária, permanecendo lá por trinta minutos.
(RP 31) Este percurso revelou questões relativas à comunicação/ informação do idoso e sua
não-utilização como mola propulsora de adesão às orientações da equipe de saúde.
(DP 32 - 62 anos) Pessoa do sexo feminino morena, olhos pretos com
acompanhante estava na fila de verificar pressão arterial às 7h 23 min. Fez o procedimento
(140x90), teve dificuldade para assinar o mapa de produção e, sabendo do resultado, disse que
não ia mais tomar os comprimidos para pressão, não estavam servindo. Então, a funcionária
falou que a pressão estava muito boa para quem tem a pressão alta e a encaminhou para
exodontia, onde esteve por vinte minutos.
(RP 32) A inclusão deste percurso na pesquisa revela a teia de situações e emoções que
envolvem o idoso, sem escuta cuidadosa e valorização da experiência de vida do idoso, como
determinantes na adesão aos tratamentos.
(DP 33 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, morena, forte, aparentemente
nervosa, estava na fila de verificação de pressão às 7h 30min. Ao ser chamada, entrou e jogou
sua cédula de identidade sobre a mesa. Mesmo assim, a funcionária perguntou o seu nome e
idade e ela respondeu que estavam no documento. Ao medir a pressão (150x110), a
funcionária disse que estava muito ruim e achava que o doutor não ia atender. Não lhe deu
ouvidos, levou o resultado e encaminhou-se para a Clínica de Cirurgia Bucodentária, onde
ficou por vinte e cinco minutos.
(RP 33) A observação deste percurso denota a ausência de ações resolutivas pertinentes aos
atos de acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido.
(DP 34 - 60 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, visão
comprometida, estava às 7h 34 min na fila de verificação de pressão arterial. Ao ser chamado,
a funcionária em vez de perguntar o nome e a idade, perguntou-lhe qual a pessoa do CEO
Centro tinha lhe encaminhado. O idoso não respondeu e foi atendido em vinte e seis minutos.
(120x80).
(RP 34) O percurso no CEO Centro revelou as práticas de poder ainda hegemônicas nos
serviços de saúde, chegando até a constranger o próprio beneficiado.
(DP 35 - 67 anos) Pessoa do sexo feminino, branca, tranqüila, olhos claros, estava
às 7h 40 min na fila de verificação de pressão arterial. Quando foi atendida, informou que sua
pressão era alta, fato confirmado (170x130). Ao concluir o exame, pediu para falar com a
enfermeira ou com um dentista, pois supõe que um dos motivos da elevação de sua pressão
está relacionado com o estresse. Deixa seu esposo cego em casa, sozinho e vem correndo. Foi
67
até a Clínica de Cirurgia Bucodentária, conversou com o CD e agendou nova data. Esta
operação se deu em quinze minutos. Foi orientada e remarcada nova data, perfazendo um total
de vinte minutos.
(RP 35) Em meio a este percurso constata-se que há negligência com relação a auto-exame e
diagnóstico rotineiro, devendo atribuir igual valor às queixas e aos sinais e sintomas relatados
e evidenciados nos atendimentos.
(DP 36 - 76) Pessoa do sexo masculino, moreno, olhos escuros, magro, cabelos
grisalhos, chegou com sua esposa ao CEO Centro às 6h 30 min e encaminhou-se para o
corredor de espera da Radiologia. Entregou sua Guia de Referência, às 7h 10 min e foi
atendido. Na saída, após levar alguns empurrões, pois o corredor estava superlotado, deu um
suspiro de alegria e saiu, utilizando neste percurso uma hora e vinte minutos.
(RP 36) Seu tempo de permanência e o percurso realizado denotam a não-observância do
atendimento preferencial, imediato e individualizado, junto aos órgãos públicos e privados,
prestadores de serviços à população, estabelecidos como direito do idoso.
(DP 37 - 74 anos) Pessoa do sexo feminino, moreno-clara, cabelos grisalhos,
vestido bege, estava às 7h 10 min no corredor de espera da Radiologia, chateada, reclamando
da demora em ser atendida. Falava alto e dizia que os direitos dos idosos não são respeitados,
pois aquela já era a quarta vez que vinha ao CEO Centro e não resolvia sua situação, e a culpa
era destes profissionais preguiçosos. Foi atendida em vinte minutos.
(RP 37) Este percurso revelou questões relacionadas ao fortalecimento do sistema, programas
e projetos e a humanização de suas práticas, possibilitando uma excelência na atenção à
saúde.
(DP 38 - 72 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos brancos, roupa muito
simples, de boné, chegou sozinho às 6h 30 min no CEO Centro para garantir seu atendimento
na Radiologia. Recebeu sua ficha e sentou no banco em frente à sala aguardando ser chamado.
Como tinha pouca gente naquele horário, resolveu deitar-se e dormiu. Quando aumentou o
número de pessoas na espera, o chamaram. Olhou em volta e disse: agora, vou esperar
sentado, pois este pessoal dá muita “maçada”. Após, meia hora, foi atendido e encaminhado
para Clínica de Estomatologia, onde permaneceu por quinze minutos, recebendo orientações.
(RP 38) Este percurso demonstrou a ausência de acolhimento ao idoso, inclusive a falta de
comunicação e esquecimento, evidenciando a fragilidade das ações de humanização.
(DP 39 - 69 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos totalmente brancos, morena,
pés inchados, chegou sozinha ao CEO Centro às 9h 05 min. Ficou de pé, no 17º lugar de uma
fila em frente ao Fichário, até às 9h 20 min. Enquanto aguardava, a assistente social veio até o
68
local, procurou apressar o atendimento, indistintamente, conversando com as pessoas e
verificando os bilhetes, cartões e encaminhamentos, respeitando a ordem de chegada.
Amenizou o ambiente e saiu.
(RP 39) Este percurso revela a falta de iniciativas resolutivas, seja nas ações ou nas rotinas de
trabalho e a impotência diante das políticas e práticas de humanização nos serviços de saúde.
(DP 40 - 68 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos grisalhos, magro, olhos
verdes, desdentado, chegou sozinho ao CEO Centro às 12h 30 min e encaminhou-se para
Clínica de Prótese. Lá foi orientado a procurar, no Fichário, a sua data de retorno, já que não
estava registrada no seu Cartão. Foi ao Fichário, onde ficou constatado o esquecimento do
idoso em agendar esta data. Não pôde ser atendido e a nova consulta ficou programada para
três semanas à frente. Foi embora, envergonhado e triste, tendo sido gastos quarenta minutos.
(RP 40) Este percurso revela a tímida e morosa articulação cotidiana processada entre os
setores internos, somente quebrada mediante interesses pessoais, desvalorizando a
humanização e a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário.
(DP 41 - 69 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos claros, olhos claros chegou
sozinho ao CEO Centro procurando o Serviço de Emergência. Foi encaminhado pelo vigilante
e, no momento do atendimento, a CD verificou a necessidade de radiografia panorâmica.
Após encaminhamento interno, fez a radiografia e retornou ao Setor de Emergência, onde foi
constatada a inexistência de fratura. Diante do trauma existente, a CD solicitou medicação e
indicou o local para adquiri-la, além de devolver a radiografia. Estes procedimentos foram
realizados em cinqüenta minutos.
(RP 41) Este percurso destaca que é possível agilizar, otimizar e tornar o serviço mais efetivo,
dependendo da disponibilidade dos profissionais e da agilidade do idoso.
(DP 42 - 61anos) Pessoa do sexo feminino, morena, olhos claros, vestindo calças
pretas e blusa rósea, chegou sozinha ao CEO Centro às 13 horas e ficou aguardando no
corredor de espera até às 15 horas, em frente à Clínica de Estética. No momento do
atendimento, informou para o CD que é hipertensa e diabética. O CD ouviu, mas não fez
comentários. Anestesiou, fez uma restauração provisória e deu por concluída a sessão, em
doze minutos.
(RP 42) Este percurso demonstra o desconhecimento das políticas de humanização, do perfil
do cliente, e a falta de rotinas de trabalho mais resolutivas.
(DP 43 - 64 anos) Pessoa do sexo masculino, cabelos claros, olhos claros,
desdentado, chegou às 12h 40 min no CEO Centro, acompanhado de uma jovem,
provavelmente sua filha, e encaminhou-se para a Clínica de Radiologia. Após uma espera de
69
mais ou menos duas horas, foi até a porta da sala, onde foi informado de que deveria voltar ao
Fichário. Fez este procedimento e, quando retornou, realizou sua radiografia panorâmica e foi
embora. Utilizou duas horas e vinte e três minutos.
(RP 43) Este percurso denota a desatenção no trato dos sujeitos, que, uma vez tendo acesso ao
serviço, não foi observado nem acompanhado durante sua estada na Unidade.
(DP 44 - 74) Pessoa do sexo feminino, alta, morena, olhos claros, encontra-se às
12 horas no sétimo lugar na fila de remarcação de consultas. Após dez minutos, de pé, começa
a falar para as pessoas, também na fila, que não entende por que os serviços dizem que tem
prioridade para os idosos e não respeitam. Do mesmo jeito é na COELCE. Neste mesmo
instante, verifica que outra senhora idosa chegou sozinha e não ficou na fila, pois entregou o
seu cartão para uma funcionária, desrespeitando os idosos e a fila. Ficou observando,
resmungando e, quando chegou sua vez, falou para a funcionária do guichê que elas deviam
receber as identidades na fila e verificar quem era idoso, pois tinha certeza de que a pessoa
que havia sido beneficiada não tinha 74 anos, a idade dela. Permaneceu por doze minutos
neste ambiente.
(RP 44) Este percurso demonstra o desperdício de tempo com esperas, marcação de consultas
e a falta de esforços nos atos de acolher, informar, atender e encaminhar.
(DP 45 - 75 anos) Pessoa do sexo feminino, cabelos lisos e grisalhos, vestindo
bermudas azuis e túnica branca, com aparência de desdentada, chegou ao CEO Centro,
sozinha, às 12h 40 min. Retirou sua ficha e encaminhou-se para Clínica de Prótese Dentária,
onde ficou sentada, calada, aguardando atendimento, mexendo as pernas. Foi convidada a
entrar, sentar-se na cadeira e aguardar alguns minutos, enquanto o CD concluía um
encerramento. Retirou as luvas, dirigiu-se para a idosa e calçou novo par de luvas, e, ao
mesmo tempo, conversando com a senhora sobre perdas dentais acumuladas e outros
problemas de saúde. Como a idosa não relatou nada, indagou se realmente não sentia falta dos
dentes. Após o exame, a encaminhou para a Clínica de Radiologia, acompanhada da ACD.
Estes procedimentos ocorreram em cinqüenta minutos.
(RP 45) Neste último percurso, verifica-se atendimento preferencial, imediato e
individualizado e resolubilidade na atenção à saúde bucal do idoso.
Sintetizando os resultados, observou-se que acompanhar o percurso realizado por
quarenta e cinco idosos no CEO Centro ajudou a compreender e problematizar o que pode
acontecer com estas pessoas durante sua permanência, em uma unidade do SUS, com serviço
exclusivo em Odontologia.
70
Por percurso, neste caso, entende-se todo o processo vivenciado por elas desde a
chegada à porta de entrada da unidade de saúde até a saída, após o último contato, período em
que transcendem da condição de indivíduos para o papel de pacientes, estivessem sendo
atendidos ou não, e que foram representados espacialmente nos seguintes passos:
Destaca-se também no percurso realizado, respeitando, parcialmente, a ordem
cronológica destes passos, que o perfil do CEO Centro parece estar mais direcionado à
execução de procedimentos odontológicos do que à atenção em saúde bucal, tendo o chefe de
PASSO 1 – CHEGADA AO CEO
SOZINHO OU ACOMPANHADO
PASSO 2 – ACOLHIMENTO NA RECEPÇÃO
VIGILANTE, GUIA DE REFERÊNCIA,
CARTÃO DE SAÚDE, BILHETE, ALGUÉM, FILA, NADA
PASSO 3 – MARCAÇÃO DE CONSULTAS
FICHÁRIO, CHEFE DE CLÍNICA,
DIREÇÃO, ACD, CD
PASSO 4 – ESPERA
CORREDORES, SALAS DA EMERGÊNCIA, DIREÇÃO, CLÍNICAS
SENTADO OU DE PÉ
PASSO 5 – ATENDIMENTOS INFORMAÇÕES: EM QUALQUER
LUGAR SERVIÇO SOCIAL: SALA
ENFERMAGEM: SALA ODONTOLÓGICO: CLÍNICAS
71
Clínica como elemento articulador da maioria dos avanços e limitações na execução dos
serviços e, conseqüentemente, a pessoa que detêm a maioria das informações, relativas ao
serviço.
No cumprimento de sua missão tanto acompanha os serviços realizados como
verifica aqueles que, por omissão ou desatenção, deixaram de ser resolvidos, num universo de
clientela circulante que ainda não se acostumou com agenda e protocolos, resultando em
corredores superlotados na primeira hora de todos os turnos, a conversar, andar, comer, beber
água, usar banheiros, ligar e desligar interruptores, ir e voltar ao centro comercial, bater e
abrir as portas e até dormir nos bancos e, indistintamente, ser acolhida na porta de entrada e
saída por um ou dois vigilantes armados que controlam o fluxo das pessoas e organizam as
filas para os três guichês, correspondentes a consultas especializadas, 1ª consulta e consultas
de retorno.
Ademais, constatou-se que o Serviço de Urgência e Emergência atende as
urgências, porém se presume que a maioria dos clientes já está informada quanto à utilização
deste serviço como porta de entrada para o atendimento especializado, o que acrescenta 24
horas diárias às 12 horas ininterruptas de atendimento.
Sendo assim, há de se supor que os trabalhadores da saúde e seus clientes estejam
muito mais preocupados e dêem mais valor à realização de procedimentos do que a
verificarem se estão confortáveis, bem acolhidos ou interessados em apreender conhecimentos
e trocar experiências, que venham a modificar o seu quadro de saúde-doença bucal.
Neste contexto, os idosos observados comprovaram estes determinantes e
enquadraram-se num perfil que revelou os seguintes dados: cinco idosos (11%) têm 72 anos
de idade e é a idade que reúne o maior número de pessoas observadas. Do total de quarenta e
cinco idosos acompanhados, 64% (29) são do sexo feminino; 73% (33) compareceram
sozinhos ao serviço; 56% (22) preferiram o turno da manhã, a maioria chegando com mais de
trinta minutos ou mais de antecedência. Entre todos, 23% (10) buscaram o serviço para serem
submetidos a exodontia; 17% (8) para fazerem exames radiográficos, a maioria radiografias
panorâmicas e 15% (7) manifestaram dor ao procurar atendimento. Reunindo aqueles que
procuraram fazer exodontias por demanda espontânea (10), com os que foram indicados pela
emergência (4) e os oriundos da própria cirurgia (2), concluiu-se que 16 idosos (35%)
necessitaram de procedimentos cirúrgicos, comprovando estudos de Moriguiti, Matos e
Ferriolli, (2002); 17% foram ao Serviço de Urgência e Emergência e apenas 6% estão em
reabilitação dentária, na Clínica de Prótese.
72
Descritivamente, estes percursos foram consolidados a partir da observação dos
movimentos dos idosos e classificados em três categorias de análise: comportamentos, rotinas
e relações. Entendeu-se por comportamentos as atitudes, falas, gestos, gostos, ações,
sentimentos e eventualidades. Quanto às rotinas, interpretou-se o que já está consagrado
administrativamente ou não pelo uso: práticas de saúde, protocolos do serviço, políticas,
metas, agendas, horários; e, no tocante às relações, foram compreendidos os contatos
humanos hierarquizados ou não.
A partir deste leque de atuações das pessoas ante as experiências vividas e
classificadas em categorias, confrontadas com os estudos e políticas, foram identificados os
fatores que contribuem para o cuidado humanizado; como se revelam os elementos que
dificultam esta atenção; de que maneira foram mensurados os níveis de conhecimento e
aplicação das linhas do cuidado ao idoso preconizadas na política de humanização e de saúde
bucal; e quais as ações que precisam ser modificadas, para o idoso receber uma atenção
humanizada em saúde bucal, a serem apresentadas no Capítulo 5 – Políticas e Ações.
73
CAPÍTULO 5 - POLÍTICAS E AÇÕES: a discussão
O percurso do idoso no CEO Centro, desde a porta de entrada, recepcionado pelo
vigilante armado, passando pelos guichês de marcação de consultas, esperando nos
corredores, sendo atendido nas clínicas odontológicas e retornando aos guichês para os
próximos retornos foi a trajetória onde ocorreram as situações a serem interpretada à luz do
referencial teórico.
Em primeiro lugar, por permitir um espaço abundante e extremamente rico de
situações, eventualidades e curiosidades que, tratadas cientificamente, permitirão
desdobramentos a diversas interpretações para um único fenômeno social: o atendimento
odontológico do idoso.
Em segundo lugar, por possibilitar o reconhecimento da significância do processo
saúde-doença bucal para o idoso, desde a oferta do procedimento mais popularmente
conhecido e aceito – a extração dentária - até os atendimentos mais complexos e inovadores
disponíveis para este segmento etário.
Em terceiro lugar, por mostrar a teia de comportamentos, rotinas e relações
travadas neste espaço, onde os sujeitos transcendem da condição de indivíduos autônomos,
livres e decididos para o papel de pacientes submissos, dependentes e resignados.
Em quarto lugar, pela possibilidade do encontro das políticas públicas de
humanização e de saúde bucal com seus beneficiários, tanto pelo desenvolvimento de
tecnologia em saúde e humanização das práticas, como pela adesão e protagonismo desses
sujeitos na elaboração social do direito à saúde, mantendo uma saúde bucal de qualidade,
alicerçada em políticas públicas exeqüíveis e direcionadas para estas pessoas (TORRES,
2002; BRASIL, 1986a).
Ademais, para Cornetta, Pereira e Lefèvre (1996), as políticas de saúde
representam o modo de pensar, conceber e praticar a saúde, por meio do trabalho concretizado
pelos recursos humanos.
No desenrolar deste percurso e do trabalho dos profissionais de saúde do CEO
Centro, foram buscadas respostas para as questões suscitadas para este estudo: identificar os
fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam
esta atenção; verificar o nível de conhecimento e aplicabilidade das diretrizes da Política de
Saúde Bucal e de Humanização para pessoa idosa, propondo ações que venham a possibilitar
atendimento humanizado e contextualizado.
74
5.1 2º Movimento: categorias de análise e os objetivos do estudo
Fatores que contribuem para o cuidado humanizado
No sentido de analisar a teia de comportamentos, rotinas e relações travadas no
percurso dos idosos no CEO Centro, a partir da observação das interações dos sujeitos e
destes com a estrutura do serviço, foram organizadas listagens, incluindo comportamentos,
como aqueles fatores observados que representam as atitudes dos sujeitos envolvidos, diante
das situações e vivências; rotinas, relacionando aqueles elementos observados e que estavam
envolvidos com as práticas de saúde, protocolos, agendas, horários e outros, hierarquizados
ou não, portanto, de conhecimentos ou hábitos adquiridos; no que se refere às relações, foram
observadas as interações dos sujeitos, que se desenvolveram eventualmente no processo de
trabalho, contribuindo positivamente ou não.
Entre aqueles que favoreceram o atendimento humanizado, categorizados como
comportamentos, ficaram os registros de:
� dar atenção especial às doenças que afetam o idoso;
� impulsionar sua participação;
� realizar atendimento imediato e preferencial;
� resolver objetivamente a situação de dor;
� saber cuidar e valorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento;
� ter atitudes humanizadas; e
� zelar pela dignidade do idoso.
Diante dos elementos relacionados na observação, verifica-se que as linhas do
cuidado estabelecidas na política de humanização e nas diretrizes da atenção à saúde bucal do
idoso são, na maioria das vezes, tratadas como comportamentos, supondo-se que ainda não
sejam comtempladas nos protocolos de atendimento.
Observou-se, igualmente, que, ao chegar ao CEO, o idoso se torna genérico, perde
sua identidade e se transforma em objeto para o qual é oferecido um modelo de atenção
vigente, igualmente ofertado para os diversos ciclos de vida.
Quando da consolidação dos comportamentos, observou-se que algumas atitudes
não dependiam exclusivamente da vontade dos trabalhadores e de seus clientes, mas estavam
consolidadas em pactos e rotinas, necessitando-se outra categorização para contemplá-las, o
que foi denominada rotinas.
Entre aquelas que contribuíram positivamente, incluíram-se:
75
� acolher, informar, atender e encaminhar, com acesso favorecido;
� capacitar as pessoas;
� estabelecer pactos entre gestores públicos e entidades complementares do SUS;
� executar ações e serviços articulados;
� garantir atenção igualitária;
� implantar ações custo – efetivas;
� ter consonância entre as atitudes dos profissionais e os dispositivos legais.
As rotinas ordinariamente predizem o modo das pessoas e instituições se
organizarem, porém algumas articulações e relações acontecem no cotidiano, exigindo uma
categorização, que foi classificada como relações.
Entre aquelas que favoreceram o atendimento humanizado, vejam-se os registros:
� articular ações e serviços;
� atender prontamente os usuários da Emergência;
� atender prontamente os pedidos da Direção;
� atender prontamente os pedidos de funcionários; e
� valorizar as queixas, sinais e sintomas.
Analisando os fatores identificados como positivos para o cuidado humanizado e
comparando-os com estudos realizados, verificou-se que, segundo Souza (1994), a Unidade
de Saúde é o espaço privilegiado para o conhecimento destes fatores e de sua intervenção
sobre a saúde das pessoas.
Foi na Unidade de Saúde CEO Centro constatada a presença significativa de
pessoas idosas (811 consultas no mês de setembro de 2006, correspondentes a 5% de toda a
clientela), a procurar atendimentos especializados, confirmando estudos de Berquó, (2004);
Brasil, (2007); Camarano, (2005) e Borba (1997), comprovando que o envelhecimento
populacional provoca uma crescente demanda aos consultórios odontológicos com solicitação
de acesso nos serviços públicos e requisição de uma atenção cuidadosa e paciente.
Segundo a Portaria nº 1.395/ GM, de 10 de dezembro de 1999, que aprovou e
definiu a Política Nacional de Saúde do Idoso, há necessidade de dar visibilidade aos esforços
disponibilizados para o seu cuidado, muitas vezes anônimos.
Assim, durante a observação do percurso dos idosos no CEO Centro, foi
verificada a realização de atendimento imediato e preferencial para o idoso, principalmente no
Setor de Urgência e Emergência; atenção especial às doenças que o afetam, prioritariamente,
na Clínica de Estomatologia; zelo pela sua dignidade, impulsionando a sua participação,
preferencialmente no Setor de Urgência e Emergência e na Clínica de Radiologia. Portanto,
76
assegurando que a atenção secundária oferecida pelo CEO se dê da forma mais completa, de
acordo com propostas, já preconizadas, desde 1994, para o CEO, por ocasião da I Conferência
Estadual de Saúde Bucal do Ceará (CEARÁ, 1994).
Com o avanço da tecnologia em saúde bucal, as realizações de conferências, as
lutas da saúde coletiva, as políticas públicas de saúde bucal não poderiam permanecer à
margem das demais políticas, isoladas, e sobrevivendo das sobras de seus recursos. Foi e é
necessário, segundo Brasil (2004), que a intersetorialidade se manifeste no cotidiano e na
prática dos setores, nas ações técnicas e nas rotinas de trabalho, valorizando a humanização e
a qualidade resolutiva do atendimento ao usuário, reconhecendo suas peculiaridades e
implicações, respeitando as questões étnicas, de gênero e de orientação sexual.
No caso do idoso, além de garantir financiamento para o grupo, respeitando suas
peculiaridades, a política deve ser implementada nas três esferas de governo, em consonância
com os dispositivos do Estatuto do Idoso, com orientações preventivas aos agravos inerentes a
terceira idade (BRASIL, 2005a).
Outros fatores condicionantes do cuidado humanizado foram observados no
percurso dos idosos, dentre os quais se destacaram: ter atitudes humanizadas, resolver
objetivamente as situações de dor, alcançando o sucesso esperado no atendimento por saber
cuidar e valorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento.
Estes fatores, entretanto, não conseguem interferir plenamente no cuidado
humanizado porquanto o entendimento do processo saúde-doença bucal ainda não está
consolidado no estabelecimento de vivências individuais e coletivas, conforme Brasil (2005),
e nem disseminado nas atividades laborais de todos os profissionais, atuando como
comportamentos mais intensamente do que como rotinas a serem estabelecidas.
Algumas rotinas, todavia, já estão sendo observadas, como hábitos adquiridos e
não como conhecimento das políticas, portanto, não necessariamente estão
institucionalizadas, e entre elas foram pontualmente detectadas: o estabelecimneto de pactos
entre gestores públicos e entidades complementares do SUS, como na pactuação de
atendimentos cirúrgicos, odontológicos e médicos, nos Serviços de Cirurgia de Cabeça e
Pescoço e Oncologia da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, com fluxos, agendas e
horários estabelecidos; a garantia de atenção igualitária pela capacitação das pessoas e a
implantação de ações custo – efetivas, na Clínica de Prótese Dentária, que sugerem
consonância entre as atitudes dos profissionais e os dispositivos legais.
Ademais, de acordo com Brasil (2004b), a proposta de humanização para atenção
à pessoa idosa está intimamente relacionada à produção das “linhas do cuidado” com
77
estabelecimento de fluxos e ações resolutivas, relativas aos atos de acolher, informar, atender
e encaminhar, com acesso favorecido, identificando cada local da estrutura do serviço, a partir
de sua vivência nele, como também estabelecendo atenção voltada para as condições de vida.
Oriundos de um modelo mecanicista, biologicista, orientado para produção de
superfícies dentais restauradas e não superfícies dentais hígidas ainda hegemônico nas
práticas de saúde, foram observadas relações entre os idosos e os profissionais de saúde
comandadas por hábitos e crenças e que fortemente determinaram a execução de serviços, tais
como: atender com maior prontidão os pedidos da Direção e dos funcionários, do que os
usuários da Emergência e das Clínicas de Periodontia, Cirurgia, Prótese e Estética. articulando
ações e serviços.
Estes fatos foram corroborados por Moreira et al (2005) que, analisando o acesso
do idoso aos serviços de saúde, identificaram vinte e oito aspectos, sendo relevantes as
condições socioeconômicas, indicadores da saúde geral dos idosos, como a capacidade
funcional e a auto-avaliação em saúde; aspectos comportamentais, incluindo desde as crenças
pessoais até os tipos de tratamentos preferidos; e a organização e planejamento das ações de
saúde, composta dos tipos de serviços oferecidos que compõem a rede de atenção.
Além destas atitudes que transitam em meio ao acesso universal e igualitário, este
modelo curativo e mutilador requer a formulação de políticas públicas de promoção da saúde
que minorem suas conseqüências e seqüelas (MOREIRA et al, 2005).
A realidade revelada na pesquisa mostra que, mesmo numa unidade de saúde
especializada, como é o caso do CEO Centro, ainda é significativo o número de idosos que
necessita ser submetido a exodontia e remoção de resto radicular, chegando a ser realizados
127 procedimentos cirúrgicos entre os 811 realizados, no mês de setembro de 2006,
envolvendo no grupo observado, 35% (16) dos quarenta e cinco idosos.
Daí, se os atendimentos foram realizados, os profissionais estão conscientes do
dever cumprido e os usuários idosos ficaram satisfeitos, há de se aproveitar este contexto e
avançar rumo ao estabelecimento de ambientes, espaços e situações que os institucionalizem e
dêem garantias de que doravante algo será feito para sensibilizar os idosos para aderirem a
tratamentos dentários mais conservadores, uma vez que o quadro epidemiológico que se
apresenta revela a perda dental, como o resultado mais prevalente, acrescido da cárie dentária,
abrasão, doença periodontal, câncer de boca e lesões da mucosa bucal, e ainda requerendo a
devolução da auto-estima, confiança e segurança, principalmente para os desdentados
(MORIGUITI, MATOS e FERRIOLLI, 2002; APCD, 2001; BARATIERI, 2001; CFO,
2002).
78
De conformidade com Fortes; Neri, (2004); Freire; Haddad, (1996); Legrand,
(2004); Lopes, (1999); Luft, (2004); Siqueira, (2001) e Luz, (2005), Silva; Souza e Wada
(2004); Brasil, (2006), as experiências de vida sendo respeitadas, as manobras técnicas
realizadas com paciência e habilidade e os sinais e sintomas sendo considerados, certamente,
as práticas humanizadas contemplarão os idosos com tratamentos mais conservadores,
reduzirão as perdas dentais, contanto que o “acolhimento preferencial em unidades de saúde
respeite critérios de risco e a formação permanente para os profissionais de saúde”. (BRASIL,
2006).
Pacientes satisfeitos no CEO Centro revelam que, além do atendimento
satisfatório, condições favoráveis foram criadas, queixas foram ouvidas, sinais foram
compreendidos, com habilidade, paciência e respeito às suas experiências de vida.
Elementos que dificultam esta atenção
Assim, é necessária a compreensão de que as situações indesejáveis, as barreiras e
as limitações também estiveram presentes e que cada idoso reagiu de modo singular,
dependendo de suas características pessoais e do seu contexto de vida.
Considerando, as nuanças da vida, os desejos das pessoas e as peculiaridades do
serviço durante o estudo, foi detectado maior número de desafios do que benefícios e avanços
do serviço. Sua decodificação, entretanto, necessitou de reflexões da pesquisadora, uma vez
que 95% dos idosos observados não demonstraram conhecer a legislação pertinente ao idoso,
nem manifestaram insatisfação com as omissões, desatenção ou negligência, e sim aceitaram
como limitações do serviço público que no momento precisa dar lugar para os idosos.
Assim, os idosos passaram por situações indesejáveis, incluindo:
� apelar para a caridade da assistente social;
� barrado bruscamente na porta;
� falta de privacidade;
� gastar muito tempo só para receber exames;
� não-realização de procedimentos durante o atendimento;
� percorrer corredores superlotados, utilizando jaleco aberto;
� realização dos procedimentos mais simples e mais rápidos;
� ser motivo de reclamações e de risadas (e outras);
� ser reclamado e ficar perdido dentro da sala;
� sofrer situações aterrorizantes e constrangedoras; e
79
� submeter-se a exame desnecessário.
A partir da constatação das dificuldades, foi organizada outra listagem para a
categoria comportamentos, incluindo atitudes negativas dos sujeitos envolvidos, perante as
situações e vivências, cujos elementos impedem a atenção humanizada à saúde bucal dos
idosos, a seguir classificados:
� deixar de estabelecer fluxos e ações resolutivas;
� deixar de executar ações educativas voltadas para mudanças de hábitos;
� deixar dúvidas nas questões relativas à comunicação/ informação do idoso;
� desvalorizar a pessoa como sujeito de seu tratamento;
� desvalorizar o saber – cuidar;
� dificultar a comunicação;
� escolher os procedimento mais rápidos e mais simples de serem executados;
� exagerar nas solicitações de radiografias;
� manter as práticas de poder;
� negar a escuta cuidadosa;
� permitir a falta de individualização;
� permitir exposições desnecessárias;
� prejudicar a eqüidade e o controle social;
� provocar descaso e desatenção;
� registrar procedimentos e pedir assinatura de mapas de produção antes de suas
realizações;
� realizar tratamentos desnecessários;
� realizar tratamento, desumano, vexatório e constrangedor;
� submeter o idoso a tratamentos que não educam nem modificam os hábitos;
� subutilizar os exames solicitados;
� subutilizar os resultados no que tange aos atos de informar e encaminhar;
� tentar não realizar atendimento;
� tratar com descaso a transmissão da informação; e
� utilizar-se do poder de maneira não positiva.
Entre as rotinas, também foram observados elementos que demonstraram
negligência às práticas de saúde, a saber:
� acolhimento realizado por vigilante armado;
� considerar importante apenas o atendimento clínico;
� descaso relativo à humanização e à qualidade do atendimento;
80
� desconhecimento da Política de Humanização e da Política de Saúde Bucal;
� distorções e inadequações no perfil do serviço, minimizando o impacto;
� distorções e inadequações no perfil do serviço, prejudicando o avanço;
� perpetuação do desperdício;
� falta de ações preventivas e de promoção da saúde para o idoso;
� falta de articulação interna com o Laboratório de Prótese;
� falta de comunicação e informação;
� fragilidade na estrutura;
� humanização das relações ainda não se manifesta no cotidiano;
� não conseguem evitar as filas e barreiras burocráticas;
� não se importam com as condições dos locais de espera;
� não percebem o idoso;
� permitem barreiras físicas ao acesso;
� permitem perda de autonomia do paciente;
� reduzida oferta de procedimentos conservadores e de reabilitação; e
� priorizam as demandas individuais.
No que se refere às relações desfavoráveis ocorridas entre os sujeitos,
possivelmente incluem-se os hábitos, vícios, resistências, acomodações. Entre estas, foram
identificadas:
� descaso com a atenção cuidadosa e com o agendamento da clientela;
� desconhecimento da teia de situações e emoções que envolvem o idoso;
� desconhecimento das estratégias de facilitação do acesso;
� desconhecimento de ações resolutivas pertinentes ao acolhimento, à
informação, atendimento, encaminhamentos;
� desconhecimento ou negligência à Política de Humanização;
� desconhecimento ou negligência à Política de Saúde Bucal;
� desconhecimento ou negligência ao Estatuto do Idoso;
� fragilidade das estratégias de humanização do Sistema, programas e projetos;
� práticas de poder ainda hegemônicas nos serviços de saúde, chegando até a
constranger o próprio beneficiado;
� pouca resolubilidade em algumas ações e atividades.
Analisando as categorias que interferiram negativamente, é fato notório a
interferência das relações conflitantes da sociedade na produção, alteração e determinação do
processo saúde - doença e nos modos e modelos de produzir saúde (SOUZA, 1994).
81
Segundo Souza (1994); Oliveira e Teixeira (1995), o atual quadro epidemiológico
e o perfil dos serviços de saúde bucal são, em parte, conseqüentes de um processo de
produção do cuidado ancorado em um modelo biologicista, mecanicista, excludente, sem
comunicação, competitividade, complementaridade, com forte apelo à intervenção clínica nos
serviços, desenvolvido em meio a um largo e descontrolado privilégio do setor privado, que
passou a ser o maior prestador, exigindo tecnologias, produtos e insumos internacionais
sofisticados e caros, muitas vezes desconhecidos e até difíceis de manipular, implantado no
País a partir dos anos 1930, num contexto histórico de acumulação capitalista, carecendo de
uma Política Nacional de Saúde Bucal voltada para os interesses da maioria da população e do
repasse de conhecimentos e informações.
Seguindo este quadro, acrescente-se a inversão das propostas, e não plenamente
das atitudes, a partir da institucionalização do SUS, refletido no aumento da expectativa de
vida das pessoas; no contingente de idosos na população; na busca destes idosos por
atendimentos especializados em Odontologia, porém portadores de uma herança – um saldo
cumulativo de lesões, uma fragmentação dos serviços e uma consciência crítica incapaz de
compreender este quadro instalado como conseqüência do modelo e não como característico
do envelhecimento.
Em meio a esta transição do modelo, ao desenvolvimento econômico e pela
introdução de medidas de saúde pública, ocorreu outras transições: epidemiológica, com
acúmulo de doenças infecto-contagiosas e predominância de doenças crônico-degenerativas;
demográfica, onde o envelhecimento da população é algo que está presente na prática diária
dos serviços, mas não ocorreu com a mesma intensidade uma transição na formação e atitudes
dos profissionais de saúde, observando-se que há um despreparo dos profissionais da área da
saúde e de áreas afins para lidar com a população idosa e propiciar uma atenção cuidadosa e
paciente para este segmento etário (BERQUÓ, 2004; BRASIL, 2007; CAMARANO, 2005).
Daí, durante a pesquisa no CEO Centro, foram observadas situações, condições e
fatos que revelaram os elementos que interferem negativamente na atenção humanizada à
saúde bucal, desde o desconhecimento de condutas pessoais de higiene oral até as diretrizes
das políticas públicas de saúde bucal e humanização, oxalá, das grandes reflexões, entre os
autores e o cotidiano dos serviços sobre a influência dos valores éticos na fundamentação das
ações de humanização, envolvendo princípios, valores, direitos e deveres, destacando a
importância da dimensão humana nas relações profissionais (SOUZA, 1996; BACKES;
LUNARDI e LUNARDI FILHO, 2006).
82
Assim, os idosos passaram por situações indesejáveis e constrangedoras, que
reuniram insucessos em todos os passos do atendimento, a partir do Passo 1- Chegada ao
CEO, local de intenso comércio e corredor de ônibus e outros transportes, além de ser área da
Cidade conhecida pela violência urbana, nem sempre conseguindo acompanhantes, barrados
bruscamente nas portas da Unidade e no Sistema como um todo, chegando a precisar apelar
para a caridade dos funcionários a fim de conseguir uma dentadura, após três anos de idas e
vindas entre o CEO Centro e os postos de saúde do Município de Fortaleza, e recebendo como
resposta outro “não” ao pedido de “por amor de Deus”.
De acordo com o Brasil (2005b), a acessibilidade aos serviços de saúde é
complexa, pluralista, necessitando conhecimento da rede local e de fluxos devidamente
estabelecidos.
No Passo 2 - acolhimento e recepção - aconteceram, concomitantemente, com o
Passo 1, tendo-se observado um acolhimento caloroso, porém de cunho fiscalizador, e de
barreira propiciado por vigilantes armados, já intimidando os idosos, na porta de entrada da
Unidade, fato evidenciado nos estudos de Santos e Assis (2006), quando constataram que é
permitido e planejado que o setor de recepção assuma papel eminentemente administrativo ou
de barreira para limitar o acesso.
O Passo 3 – Marcação de Consultas. Quando recebido pelo vigilante, inicia-se
novo processo inibidor de acesso ou, conforme conhecido, legalizador do acesso, a maratona
das guias de referência, bilhetes, cartões ou no mínimo a procura de uma pessoa conhecida,
não conseguindo evitar as filas e barreiras burocráticas, nem a priorização de demandas
individuais, conseqüentemente levando-os ao Passo 4.
No Passo 4 – Espera. Foram observadas diversas atitudes, comportamentos e
rotinas, que envolveram os idosos, desde o pronto atendimento até a “espera sem futuro”, já
anteriormente planejada. Entre eles, destacaram-se: a fragilidade da estrutura, não sendo
levada em consideração, pois os corredores sempre estão superlotados, há pessoas de pé e que
eventualmente cedem lugar aos idosos. Porém, isto, ainda não é considerado, sendo que os
funcionários vão e voltam pelos corredores e nem cumprimentam os usuários. Portanto, não
se importam com as condições dos locais de espera.
Foi observado que os idosos parecem também não se importar com a espera, pois,
semelhante aos profissionais, consideram importante mesmo é o atendimento clínico. Não
interessa quanto tempo vão esperar se suas vagas estão garantidas, se já conseguiram
ultrapassar os passos anteriores. Então, se encaminham para o tão esperado Passo 5.
83
O Passo 5 – atendimentos - está composto pelos atendimentos para informações,
Serviço Social, Enfermagem e o atendimento odontológico.
A informação é outro elemento que impede o desenvolvimento de uma atenção
humanizada em virtude do seu uso indevido. Fator extremamente relevante na sociedade do
século XXI, a comunicação/ informação, na maioria das vezes, está truncada, pela
possibilidade de incorporar valor a quem a dispõe (técnicas e condutas terapêuticas mais
recentes, agendas dos profissionais etc.); não terem interesse, subutilizando os resultados no
que tange aos atos de informar e encaminhar; e muitas vezes não sabendo interpretar as
informações (exames complementares e radiografias solicitadas), deixando dúvidas ou não
fazendo uso deles, tratando com descaso a transmissão da informação e prejudicando a
eqüidade e o controle social, ou no mínimo conduzindo-os a esperas intermináveis.
Concordando com estes dados, Silva (2002) sugere a necessidade de tornar mais
conscientes e claras as comunicações não verbais mantidas com os pacientes , a fim de que
fiquem atentos e criem vínculos, enquanto Ruyperez e Lorente (2000) alertam para o fiel
cumprimento dos passos operatórios e respeito às informações necessárias e peculiaridades,
durante os atendimentos especializados à população idosa.
No que se refere ao atendimento odontológico, foi observado que, ao ingressarem
para o atendimento odontológico, a ACD, de posse da ficha clínica individual e do mapa de
produção diária, pergunta o nome, a idade do idoso e pede para assinar o mapa de produção,
legalizando o atendimento, antes de sua realização e em seguida mostra onde sentar na cadeira
odontológica. Para a maioria dos CDs, não interessa este momento. É o instante de imposição
e manutenção do poder, limitando-se a um diálogo monossilábico, intimidando a escuta
cuidadosa, chegando até a constranger o idoso numa escala ascendente de reclamações,
palpites, piadas e risadas, permitindo aos seus pares o descuidado e realizar o máximo
possível de procedimentos no mínimo possível espaço de tempo.
O tempo clínico é utilizado na maioria das vezes para execução de procedimentos
cirúrgicos, conservadores ou de reabilitação, sem possibilitar a execução de ações educativas
voltadas para mudanças de hábitos nem valorizar o saber cuidar e o idoso como sujeito do seu
tratamento.
Acrescidos a este fato, outros episódios afligiram os idosos, na sua dignidade,
como ser motivo de reclamações e risadas por desconhecer o equipamento odontológico, os
tempos operatórios dos procedimentos ou pela “ousadia” de perguntar se não vão fazer nada,
ou por que o serviço foi tão rápido, já que esperaram e perderam tanto tempo.
84
Neste caso, segundo Santos e Assis (2006) constataram, que os CDs, no ato de
cuidar, escolhem os procedimentos mais rápidos e mais simples de executar, decidindo,
inclusive, sobre os procedimentos terapêuticos e dependem do equipamento odontológico.
Acrescido a estes elementos, incluem-se as questões mais subjetivas, como a falta
de privacidade nas recomendações; percorrer corredores superlotados, parcialmente vestido;
ou se perder, para fazer uma radiografia que o doutor nem olhou...
Esta constatação também foi verificada por Ayres (2004), percebendo uma
contraposição entre a elevada densidade tecnológica e cientifica e a tímida capacidade de
responder às complexas necessidades de saúde da população.
Da mesma forma, Backes; Lunardi e Lunardi Filho (2006) e Gomes (2005),
observando as práticas e a ética de profissionais da saúde no âmbito hospitalar e ambulatorial,
verificaram que estas práticas vêm desumanizando-se ante a atenção à doença, e não ao ser
doente, concluindo que somente o “empoderamento” do usuário e valorização da opinião e do
julgamento leigo poderão minimizar estas distâncias, o que já ocorre mediante os
acompanhantes e familiares que utilizam estratégias populares e domésticas.
Conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas
A partir das listagens da categoria comportamentos com atitudes favoráveis e
desfavoráveis entre os sujeitos, presume-se parte do nível de conhecimento e de aplicabilidade
das linhas do cuidado, preconizadas para o idoso na política de humanização e nas diretrizes
da política de saúde bucal vigentes.
Segundo os princípios constitucionais do SUS, tanto os profissionais da saúde
como os seus pacientes idosos deveriam estar conscientes e lidar com estas políticas de forma
proativa, construtiva e processual, pois é possível a inversão ou sobreposição de papéis,
passando de sujeito executor para sujeito receptor das ações de saúde.
Portanto, os dados obtidos nas observações sugerem que alguns comportamentos
demonstram que o conhecimento das linhas do cuidado é tímido, esquecido ou tem pouca
visibilidade. Assim, foram elencadas atitudes dos profissionais de saúde e dos seus usuários
idosos, tais como:
� as condições de espera diante da rotina da Unidade de Saúde não são avaliadas;
� não se ouviu ou percebeu atitudes do chefe de Clínica com relação à
humanização das práticas de saúde;
� os dados pessoais do idoso são investigados mas não são utilizados;
85
� percebe-se que ainda perduram no SUS as práticas de poder e seu uso de
maneira não positiva; e
� questões relativas à eqüidade e ao controle social no SUS nem sempre são
levados em consideração, prejudicando a atenção humanizada e àqueles que
mais precisam de atenção.
Na categoria rotinas, foi possível observar algumas práticas incorporadas e
consagradas que podem representar os níveis de conhecimento e aplicação das politicas e que
foram implantadas ao longo da história da Unidade e do SUS, ora numa posição de vanguarda
e em outros momentos à margem do estabelecimento do SUS, mas adequando-as à realidade
local e ao perfil da unidade.
Assim, foram enumeradas as seguintes considerações como preditoras do
conhecimento e aplicabilidade das politicos, em relação aos idosos:
� os profissionais são mais amorosos com os idosos;
� as distorções no perfil do Serviço de Urgência e Emergência prejudicam o
avanço das atividades e minimizam o impacto do serviço, comprometendo a
humanização;
� não estão programadas alterações na estrutura da Clínica de Estomatologia,
embora seja uma das especialidades mais procuradas pelos idosos;
� não existem ações preventivas e de promoção da saúde, programadas para
idosos;
� não existe espaço de acolhimento para o idoso;
� não existe serviço de fonia; e
� os atendimentos de urgência e emergência são preferenciais para os idosos.
Quanto ao conhecimento das pessoas e aplicabilidade das políticas ser mensurada
mediante a categoria relações, torna-se tarefa extremamente subjetiva e hipotética, uma vez
que não são desenvolvidas atividades de Educação em Saúde e nem existem grupos de apoio,
com participação dos usuários, para discutir tais assuntos, exceto algumas discussões
individuais tratadas na Ouvidoria.
Portanto, o conhecimento e aplicabilidade das políticas públicas de saúde bucal e
de humanização de que são portadores os profissionais de saúde e usuários idosos do CEO
Centro foi traçado a partir da interpretação dada pela pesquisadora diante das observações
realizadas.
86
Embora de caráter observacional e interpretativa, considerou-se segura e fidedigna
pela repetição dos eventos observados ao longo de trinta dias, verificando as falas, atitudes,
gestos, sinais.das pessoas.
Segundo Brasil (2004), a humanização se configurará como política pública a
partir de sua manifestação no cotidiano, das práticas, ações técnicas e rotinas de trabalho,
devendo ocorrer mudanças no setor educacional, na formação profissional e no conhecimento
das políticas públicas.
Estes condicionantes tiveram aspectos positivos e negativos entre os diversos
setores, profissionais e usuários idosos, que em algumas situações configuravam um cenário
favorável ao desenvolvimento das políticas e, em outros, acusaram omissão, desconhecimento
e negligência.
De acordo com Rigueira, (1996); Glickman; Carranza, (1992); Lascala, (1994);
Lindhe, (1992), a prática diária evidenciará os avanços e limitações no conhecimento e
aplicação das políticas voltadas para o idoso, principalmente se forem referenciadas ações
voltadas para a promoção e prevenção das perdas dentárias como orientações corretas sobre
higienização e controle da placa bacteriana. Para Seraidarian e Paes Júnior (2002), as ações
deverão ser mais diretas e direcionadas para compensações no que se relaciona as perdas
ósseas ocorridas nos remanescentes dos rebordos alveolares, o que remete para o incentivo à
capacitação dos profissionais.
Revisitando as informações da pesquisa no CEO Centro, verifica-se claramente o
desconhecimento das seguintes situações:
� ausência de ações humanizadas permanentes para o acolhimento e informação;
� ausência da distinção entre os idosos e os demais clientes;
� desconhecimento da teia de situações e emoções que envolvem o idoso;
� existência de atitudes humanizadas nos atendimentos clínicos, de enfermagem
e do Serviço Social;
� existência de equipe técnica, de espaço no Centro de Estudos e da logomarca
do Programa de Humanização da Rede SESA;
� falta de ações preventivas e de promoção da saúde para o idoso;
� fragilidade das estratégias de humanização do Serviço;
� inexistência de manuais, folder, panfletos ou outros documentos para
divulgação das políticas de saúde bucal e de humanização;
� a humanização das relações ainda não se manifesta no cotidiano;
� o idoso não tem autonomia como parte do processo de atenção; e
87
� a utilização de opções domésticas e tímidas na resolução de problemas que
impliquem articulações intersetoriais.
Diante deste elenco de circunstâncias, torna-se evidente o fato de que grande parte
dos profissionais do CEO Centro e seus clientes idosos desconhecem as diretrizes das
Políticas de Saúde Bucal, Humanização, Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso.
Neste sentido, Benevides e Passos (2005) sugerem uma urgente reavaliação do
conceito de humanização da atenção e de sua configuração como uma política pública
transversal relativamente a banalização com que o tema é tratado, assim como pela
fragmentação das práticas ligadas a programas de humanização.
Desta análise, se conclui que a garantia de uma atenção cuidadosa dependerá da
divulgação ampla, de grandes incentivos na capacitação das pessoas e que a discussão e o
acompanhamento das políticas se tornem tarefas na consolidação da cidadania.
88
6 ÍCONES DO ESTUDO: as considerações finais
Observar o percurso realizado por quarenta e cinco idosos no CEO Centro,
tentando receber atenção odontológica numa etapa da vida que por si só já representa uma
vitória, foi uma decisão enriquecedora e que possibilita a qualquer pessoa que queira tentar
esta experiência conhecer os detalhes multifacetados da convivência com pessoas idosas.
Permite um começar de novo com esta gente de fibra pois são estes idosos que,
sozinhos ou acompanhados de seus cuidadores, dão lições de persistência perante a vida,
brincando com ela e rindo dela, porque de novidade só tem o novo dia.
De tudo já experimentaram, já aprenderam, já saborearam um pouco, mas, nem
tudo foi devidamente controlado, aproveitado ou bem cuidado.
Os dentes, já nasceram, já mastigaram, já doeram, já foram aproveitados,
clareados e outros já foram embora. Aí, levaram tecidos e sorrisos, mas não levaram a
possibilidade de serem obturados, restaurados, implantados, trocados e até ficarem guardados.
E tudo isso, com nova tecnologia, novos materiais e novos e velhos profissionais, que cada
vez mais precisam melhor se preparar para atender os anseios das novas gerações e da velha
guarda.
Com o espírito desprendido de tabus, suposições, inferências e verdades, a
pesquisadora observou em silêncio, horas à distância e em outros momentos ao lado dos
idosos, para captar qualquer pequeno e sutil detalhe do cuidado que lhes era dispensado.
Neste peregrinar entre a porta de entrada do CEO Centro e os diversos locais por
onde passaram, foi uma viagem no tempo, na história da Odontologia, nas políticas públicas e
nos passos recomendados ou encaminhados para realização de mais um tratamento dentário.
Se os passos das pessoas são lentos, não faz diferença, pois o tratamento também
é, mas não são leves, são pesados, descompassados ou até invertidos.
Neste caminhar, ao lado destes idosos, não falando com eles, mas falando deles,
espera-se ter chegado a um lugar comum: identificar os fatores positivos, negativos da
atenção humanizada em saúde bucal dispensada a estas pessoas e, neste trajeto, chegou-se às
seguintes conclusões, com base nas interpretações das situações observadas.
O Passo 1 – Chegada ao CEO representou para todos os idosos investigados uma
vitória pela possibilidade de conseguir um atendimento diante de uma agenda tão seletiva e
burocrática, mesmo que no início tenha sido por indicação, recomendação, referência ou pela
89
porta da Emergência. O local é de fácil acesso e muito conhecido e pode vir a qualquer hora
do dia ou da noite.
O Passo 2 – Acolhimento e Recepção. Este já é um passo desleixado. O vigilante
armado é gentil, cortês, mas é guarda de valores, de segurança e não acompanhante de gente.
Faz seu trabalho, de pé, mas vigiando e não acolhendo, mas como só tem ele! Onde está a
turma da Humanização e do Serviço Social? É possível se fazer um trabalho de Sala de
Espera neste local? De acordo com Brasil (2006), a saúde do idoso será considerada
prioridade e o acolhimento em unidades de saúde será preferencial, respeitando critérios de
risco e a formação permanente para os profissionais de saúde.
Após o primeiro cumprimento, o vigilante encaminha os idosos de acordo com o
documento de posse. Se for para o Serviço de Urgência e Emergência, o requisito básico é o
critério de risco, não precisa de documentação. Se for fazer exodontia, o critério será a fila de
registro de pressão arterial, porém, se o tratamento requisitado é eletivo, tem que passar pelo
Guichê de Marcação de Consultas, entretanto, existem outras recepções que não respeitam
critérios de risco, mas quem indica e têm o privilegio de caminharem de braços dados com
seus padrinhos. Não ficam na fila, não esperam, chegam por último e são atendidos primeiro.
Portanto, o Passo 2 também tem sua estrutura e perfil de humanização e de saúde
bucal comprometido com outras demandas, que desorganizam o fluxo, ferem a dignidade do
idoso, que é pontual, fragmentando sua cidadania, mas conseguiram satisfazer e organizar a
realização de 811 consultas para idosos, durante o mês de setembro de 2006.
Santos e Assis (2006), pesquisando sobre acolhimento, relatam que igualmente ao
CEO Centro, o acolhimento acontece nos micro-espaços das relações individuais e coletivas e
a recepção funciona com critérios administrativos, sendo meio de barrar ou limitar o acesso.
O Passo 3 – Espera. Esperar não é uma tarefa complicada para idosos, porém
quem espera tem um objetivo e, na observação realizada, foi detectado desde a espera
respeitosa, com horário agendado, até a dar um tempo que chegou, para depois avisar que a
CD estava no CEO, mas não ia atendê-la porque estava muito ocupada, preparando uma
Jornada dos Funcionários. Além do tempo, os corredores são superlotados, o que não foi
motivo de pânico para os idosos, pois o único interesse está no atendimento odontológico.
Este passo também apresenta seu perfil comprometido, uma vez que não são
realizados trabalhos de sala de espera, nem atividades grupais.
De conformidade com Brasil (2004b), o sucesso da sala de espera está envolvido
com sua participação no acesso e sugere a organização de grupos de pessoas idosas nas
90
unidades de saúde com desenvolvimento de atividades de educação e prevenção, além de
sugerir a reserva de horário e dias específicos para atendimento.
O maior interesse dos idosos no Passo 5, entretanto, é pelo atendimento
odontológico, ocorrente de forma mecanicista, biologicista, não observando critérios de risco,
mas com a execução dos menores e mais simples procedimentos no menor espaço de tempo.
Os comportamentos dos profissionais, indistintamente, são pessoais, zelando pela atividade
técnica em detrimento da capacidade relacional e do cuidar.
Segundo Ferreira (2005), esta diversidade de desdobramentos e processos de
trabalho sugerem a conversão da dimensão técnica do trabalho em dimensão relacional,
ofertando qualidade e melhoria no acolhimento, nos ambientes de cuidado e nas condições de
trabalho dos profissionais.
Neste passo, observando todas as fases de mudança, concluiu-se que existem
comportamentos, rotinas e relações não institucionalizadas, mas que funcionam como
protocolos e correspondem às diretrizes da Política de Saúde Bucal e de Humanização,
contendo fatores que contribuem para uma atenção humanizada e elementos que dificultam
esta atenção.
Reunindo os comportamentos, rotinas, relações e demais agendas que organizam
os serviços, além da ausência total de documentos relativos às políticas públicas, o estudo
sugere que os profissionais do CEO Centro e os seus usuários idosos desconhecem as
diretrizes da Política de Saúde Bucal e da Política de Humanização.
Assim, percorrer, juntamente com quarenta e cinco idosos, as viagens realizadas
internamente no CEO Centro, para identificar os fatores que interferem positivamente na
atenção humanizada e os elementos que dificultam esta atenção, deixou um campo muito
claro e seguro para sugerir ações a serem implementadas entre os profissionais de saúde e
seus usuários idosos.
Se as questões expostas se referem a transformar os comportamentos, rotinas e
relações em diretrizes das políticas, sugere-se a formação de grupos de estudos para
fundamentar a transição e elaborar os protocolos dos serviços.
Considerando as diretrizes do Estatuto do Idoso, propõe-se a divulgação das
orientações preventivas aos agravos inerentes à terceira idade, respeitando as peculiaridades
locos-regionais e as esspecificidades inerentes ao idoso
É preciso redefinir os critérios para solicitação de exames radiológicos, ampliando
a importância do diagnóstico e reduzindo o número de exposições desnecessárias a que são
submetidos os idosos.
91
Também, entende que se estabeleça critérios e se defina a utilização do serviço de
verificação de pressão arterial.
Em virtude de a maioria dos idosos apresentar saúde bucal precária, sugere-se a
utilização permanente de medidas intervencionais focalizadas. como a Educação em Saúde e
o tratamento precoce.
É urgente promover, no Centro de Estudos, cursos de humanização e cursos
voltados para a promoção de saúde bucal, bem como sensibilizar os idosos para adesão a
tratamentos dentários mais conservadores.
92
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102
APÊNDICE
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APÊNDICE A - Autorização Institucional Prezada Senhora Diretora:
Sou cirurgiã-dentista e aluna do Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará- MPPP. Estou desenvolvendo um estudo com o título: Saúde Bucal do Idoso: a humanização como diferencial no cuidar, para analisar se a atenção em saúde bucal proporcionada ao idoso é humanizada, procurando investigar o conhecimento e a aplicabilidade das diretrizes das políticas de saúde bucal e de humanização; identificar os fatores que contribuem para o cuidado humanizado; conhecer os elementos que dificultam esta atenção; e propor ações que venham a possibilitar atendimento humanizado e contextualizado, mediante a observação simples do percurso diário realizado por pessoas idosas, desde o acolhimento na recepção até a conclusão do atendimento.
Esclareço que os limites teóricos da observação simples determinam que os sujeitos e ambientes de trabalho a serem observados, ouvidos e vistos, sem fazer perguntas, dirigir a palavra ou fazer considerações, respeitando o que preceitua a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que garante aos sujeitos da pesquisa, o sigilo na identidade, no relatório e nas publicações, e disciplina os quatro princípios da Bioética: autonomia, não - maleficência, beneficência, justiça e eqüidade.
Neste sentido, estou solicitando sua colaboração e autorização para circular nas dependências do Centro Especializado de Odontologia- CEO Centro, observando os idosos.
Deixo claro que as informações serão sigilosas, não falarei para ninguém e principalmente seus nomes não serão, em nenhum momento, divulgados. E, caso os idosos, cuidadores, acompanhantes e funcionários sintam-se constrangidos (as), durante a observação têm o direito de pedir para interrompê-la se não aceitarem a observação e a presença da pesquisadora, o que será plenamente acatado.
As informações obtidas no campo serão acrescidas e comparadas com os dados que encontrei na literatura, nos documentos oficiais, em jornais, revistas e na Internet, que outras pessoas falaram, estudaram ou transformaram em leis e farão parte de minha dissertação para conclusão do Curso de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas, sempre respeitando o caráter confidencial. Pretendo além de avaliar o atendimento aos idosos no CEO Centro, apontar no estudo benefícios para a humanização do trabalho. Informo ainda, que:
▪ mesmo sendo concedida a autorização, se por qualquer motivo o participante resolver desistir, tem toda liberdade para retirar a sua autorização;
▪ sua colaboração e participação poderão trazer benefícios para o desenvolvimento da ciência e para a melhoria da saúde bucal do idoso e de sua condição de vida;
▪ permitir a observação não trará riscos para o participante, para sua família nem para o CEO Centro, entretanto, caso se sinta constrangido (a), interromperá a pesquisa;
▪ estarei disponível para qualquer outro esclarecimento, no endereço: Avenida Bezerra de Menezes, 1409, São Geraldo, Fortaleza – Ceará , ou poderei ser contatada pessoalmente, pelos telefones (xx 85)3478.01.81, e 91.44.52.23 ou fazê-lo, por escrito.
▪ Caso queira o participante reclamar sobre o trabalho, poderá dirigir-se à Universidade Estadual do Ceará ou pelo telefone (xx85) 31.01.98.80.
Em fase destes motivos, gostaria de poder contar com sua colaboração. Atenciosamente, ___________________________
Maria Aragão Sales Cavalcante Fortaleza, 1 de setembro de 2006
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