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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
modelo de DESIGN BY CERTIFICATION para o deSeNVolVImeNTo de aeroNaVe aNfíbIa braSIleIra
Quando a Scoda foi criada (ainda com denominação de
Edra), como uma representação comercial de helicópteros,
seu fundador, recém-saído do curso de engenharia
aeronáutica e piloto apaixonado por aviões, apenas
sonhava em construir e pilotar o próprio avião. Esse sonho
remoto, era acalentado sem que as condições para a sua
concretização estivessem a seu alcance. Como, então,
diferentemente de tantos outros sonhadores, esse desejo
do fundador da Edra se tornou realidade?
Este capítulo conta a história de sucesso da empresa e o
modo como da representação comercial para a venda de
helicópteros nasceu uma escola de pilotagem e, finalmente,
uma indústria que fabrica aviões de pequeno porte que criou
um projeto brasileiro de uma aeronave anfíbia. Batizado de
Super Petrel LS, o anfíbio da Scoda é hoje o carro-chefe da
empresa e foi o responsável por sua entrada no mercado
norte-americano. Com um projeto totalmente idealizado
para o atendimento da norma americana, o desenvolvimento
dessa aeronave é um exemplo de sucesso de aplicação do
conceito de design by certification.
1. a empreSa e Seu SeTor
A Scoda Aeronáutica, sucessora da Edra Aeronáutica, é
uma empresa de médio porte, especializada na produção
e distribuição de aeronaves e oferecimento de cursos de
formação de pilotos de helicóptero. Fundada em 1997 pelo
engenheiro aeronáutico e piloto Rodrigo Scoda, a empresa
que agora tem seu nome associado ao do fundador, está
localizada na pequena cidade de Ipeúna, no interior de
São Paulo, a 195km da capital do estado. A equipe de
colaboradores da empresa é composta de 100 profissionais,
entre engenheiros, mecânicos, pilotos e administradores,
que atuam em três segmentos: treinamento e formação
de pilotos, suporte técnico de manutenção e projeto e
fabricação de aeronaves em compósitos.
Proporcionando formação de Piloto Privado de Helicóptero
e Piloto Comercial de Helicóptero, o Centro de Instrução
da Scoda Aeronáutica é referência entre as escolas de
pilotagem de helicóptero no Brasil. Já formou mais de 2.000
pilotos, ultrapassando 100.000 horas de voos. A divisão de
produção de aeronaves já comercializou 450 aeronaves, que
hoje operam em 23 países.1
1 Disponível em: <http://www.scodaeronautica.com.br/>. Acesso em: 11 novembro 2014.
1 5 Scoda aeronáutica, SuceSSora da edra aeronáutica
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A ideia de criar a empresa surgiu logo a após a graduação
de Rodrigo, em um momento em que a aviação no
Brasil experimentava um crescimento muito expressivo,
principalmente em decorrência do câmbio – o Real recém-
lançado estava muito valorizado perante o dólar. Esse
crescimento se sustentou por quase uma década, o que
acabou influenciando positivamente o estabelecimento da
então Edra no setor.
No início, a entrada no mercado se deu por meio da
representação de uma marca de helicópteros norte-
americana. Eram helicópteros pequenos que foram
adquiridos pela Edra para venda no mercado nacional.
Devido às condições econômicas favoráveis, esse primeiro
modelo de negócio obteve êxito, motivando e viabilizando
o investimento em diversificar a atuação, por meio de uma
escola de pilotagem, que fazia uso dos helicópteros que já
pertenciam à empresa.
Em um primeiro momento, o Centro de Instrução da Scoda
aproveitou a demanda das forças públicas brasileiras, que
tinham uma grande carência de pilotos de helicóptero bem
capacitados, e ofereceu treinamento para diversos órgãos,
como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Corpo de
Bombeiros, em diversos estados da Federação. Até hoje
75% dos pilotos da força pública nacional são formados
pela Scoda, o que foi um marco para o posicionamento da
empresa no mercado e impulsionou seus negócios.
O sucesso das vendas de helicópteros e da escola de
treinamento forneceu subsídios para investimento no que
era o sonho de Rodrigo desde a graduação em engenharia
aeronáutica: projetar e construir aviões. Assim, em 2001 se
iniciou o trabalho de montagem de aeronaves estrangeiras
e, em seguida, o desenvolvimento de um projeto próprio,
que é o objeto deste capítulo. Atualmente, além de produzir
as aeronaves, a Scoda presta serviços de manutenção, que
são fundamentais e escassos no segmento de aviação,
oferecendo sinergias comerciais à empresa.
Um diferencial interessante de que a empresa dispõe
em seu Centro de Treinamento e que demonstra a
veia empreendedora e de inovação de sua equipe é o
Simulador UTEPAS – Unidade de Treinamento de Escape
em Plataforma Submersa, que simula um pouso de
emergência de um helicóptero pequeno na água. No
Brasil, esse simulador só está presente na Marinha.
Como piloto, Rodrigo pôde fazer um curso em que o
equipamento era utilizado e o tomou como inspiração para
produzir um similar para a escola de pilotagem da Edra,
que se tornou, então, a única empresa privada a possuir
esse tipo de equipamento.
A capacitação da equipe tem caráter fundamental no negócio
da Scoda. Ela começou a se estruturar quando a atividade
principal da empresa ainda era exclusivamente montar
aeronaves estrangeiras. Esse foi um período essencial para
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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
aprendizado, que possibilitou adquirir know-how e experiência
técnica, que alimentaram a ideia e viabilizaram o projeto de
fabricar aeronaves quando essa nova oportunidade de negócio
foi identificada. Hoje a Scoda comercializa dois modelos de
avião: o Dynamic WT9 e o Super Petrel LS.
O Dynamic foi criado ainda no período de desenvolvimento
de expertise, quando o foco era a montagem de aeronaves.
Ele é produzido em parceria com uma empresa da Eslováquia,
onde foi desenvolvido, e a Scoda é responsável por 61% do
processo de produção, sob licença. Trata-se de uma aeronave
pequena, pertencente à categoria leve esportiva cross country.
Já o Super Petrel LS é um avião bastante diferente. Apesar
de pertencer à mesma categoria de certificação do Dynamic,
é um avião anfíbio. É um projeto totalmente desenvolvido no
Brasil pela Scoda, que é responsável por 81% de seu processo
produtivo (somente as partes mecânicas são importadas).
O setor brasileiro de aeronaves leves esportivas dispõe
hoje, de cerca de 20 fabricantes, dos quais somente três
produzem aviões anfíbios.2 Os aviões dessa categoria
correspondem a 24% da frota brasileira, que tem registrado
um aumento médio em torno de 5% nos últimos cinco
2 Disponível em: <http://www.abul.com.br/abul/mercado.asp?tipo=Fabricante>. Acesso em: 11 novembro 2014.
Figura 1 - Simulador UTEPAS
Fonte: Apresentação Scoda (2014)
1 5 Scoda aeronáutica, SuceSSora da edra aeronáutica
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anos.3 O mercado nacional é voltado essencialmente
para entretenimento, uma vez que esses aviões são
pequenos e voam em baixas velocidades. As aeronaves são
comercializadas por meio de uma rede de representantes,
distribuídos em sete estados do Brasil e mais 16 países.
2. eSTraTégIa – alINhameNTo do projeTo com o NegócIo
As aeronaves produzidas são de pequeno porte,
enquadradas na categoria Aeronave Leve Esportiva
(ALE). Todos os projetos são realizados utilizando-se
exclusivamente materiais compostos, também conhecidos
como compósitos. O compósito utilizado em sua fabricação,
constituído de fibra de carbono e fibra de aramida (Kevlar) é
importado, e a empresa realiza sua conformação de acordo
com os parâmetros definidos em seus projetos.
O uso de compósitos vem ganhando cada vez mais espaço
na aviação, inclusive por parte de fabricantes de aeronaves
de grande porte, devido a suas propriedades de baixo peso e
alta resistência. Trata-se, portanto, de uma nova abordagem
alternativa à convencional utilização de alumínio, e que já é
realidade em todo o mundo.
3 Disponível em: <http://www.anac.gov.br>. Acesso em: 11 novembro 2014.
Materiais compósitos ou “composite” (em inglês) são aqueles
que possuem pelo menos dois componentes, também
denominados fases, que individualmente apresentam
propriedades físicas e químicas nitidamente distintas. Ao
combinar os dois materiais, as deficiências de cada um
acabam sendo compensadas pelas qualidades do outro,
criando assim um material composto de propriedades
particulares. Alguns exemplos de compósitos são metais e
polímeros, metais e cerâmicas ou polímeros e cerâmicas.
No caso da aviação, os compósitos mais utilizados são
constituídos de polímeros e fibras de carbono.
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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
Os maiores fabricantes estão progressivamente aumentando
o percentual de material composto em todas as suas
aeronaves, incluindo a Airbus, a Boeing e a Embraer,4 em
uma tendência de mudança que demonstra ser permanente.
O fato de a Scoda ter iniciado seus projetos com a premissa
de utilizar o que há de mais moderno e atual sinaliza a
estratégia da empresa de manter-se na vanguarda do setor.
O Super Petrel é também um exemplo disso.
Existem poucos aviões anfíbios no mercado, o que torna
esse nicho bastante atrativo, apesar de sua tecnologia ser
mais complexa. O desenvolvimento do produto, inspirado
em um modelo francês de 1983, foi realizado em um
primeiro momento sem preocupação com normalizações.
Isso porque, diferentemente das aeronaves da aviação
comercial, que devem atender a exigências legais detalhadas
e complexas, a categoria à qual as aeronaves da Scoda
pertencem não exigia certificação na maioria dos países,
ficando sob responsabilidade do dono do equipamento sua
manutenção e operação.
Esse cenário, porém, começou a mudar em 2005, quando
uma nova forma de certificação surgiu nos Estados Unidos.
Nessa ocasião, a empresa já planejava entrar no mercado
internacional e, por isso, decidiu trabalhar na readequação
4 Disponível em: <http://www.aviacao.org/article/materiais-compositos/>. Acesso em: 11 novembro 2014.
do Super Petrel. Esse trabalho de refinamento do projeto
resultou em um modelo aparentemente similar, mas
completamente diferente do inicial do ponto de vista da
engenharia. O novo projeto foi concebido com base nos
requisitos da norma americana (também adotada no Brasil) –
design by certification – e revolucionou a maneira de projetar
e produzir da empresa, mudando a percepção e a recepção
do mercado.
3. o projeTo
O desenvolvimento do Super Petrel LS foi inspirado em um
modelo francês também anfíbio de 1983, o Hydroplum.
Apesar de ser da década de 80, esse avião já utilizava
os compósitos em sua fabricação. Durante o curso de
engenharia aeronáutica, Rodrigo conheceu essa aeronave,
percebeu que existia grande potencial de desenvolvimento
nesse projeto original, então concebeu e executou um
processo de reengenharia, que foi seu trabalho final de
graduação. A continuação desse desenvolvimento e as
melhorias implementadas, tendo como base o conceito
do Hydroplum, levaram a equipe de engenharia da Edra,
liderada pelo também engenheiro e piloto Fernando Abbud, à
concepção em 2001 do Super Petrel em sua primeira versão,
ainda não certificada por uma norma internacionalmente
válida, e que era comercializado na forma de kits.
o fato de a Scoda
ter iniciado seus
projetos com a
premissa
de utilizar o
que há de mais
moderno e atual
sinaliza a
estratégia da
empresa de
manter-se na
vanguarda do
setor.”
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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
O projeto para adequação à norma teve início em 2005, quando
os Estados Unidos fizeram uma alteração na configuração do
processo de certificação que acabou se transformando em uma
tendência mundial. Ao invés de as autoridades aeronáuticas
gerarem todos os requisitos para certificação, como acontecia
até então, os quesitos passaram a ser definidos por um órgão
de normalização como a American Society for Testing and
Materials (ASTM), ficando a cargo da autoridade aeronáutica
apenas verificar o seu cumprimento.
A norma a que a Scoda se adequou é a FAR 21.190
americana, à qual a maioria dos países no mundo adere
e que passou a ser válida no Brasil em 2011. O estudo
detalhado da norma foi o ponto de partida do projeto de
adequação do Super Petrel. Essa fase foi fundamental para
todo o restante do desenvolvimento, uma vez que se tratava
de uma norma completamente nova, até então desconhecida
no mercado. Durante o processo de aprofundar o
conhecimento da norma é que ficou claro, inclusive, que o
novo Super Petrel LS seria praticamente um projeto novo,
com pouco aproveitamento do projeto do modelo anterior.
O estudo e entendimento dos requisitos normativos foram
determinantes para a definição dos métodos que seriam
utilizados para cumpri-los. Na aviação, dependendo da
categoria da aeronave, é possível para o fabricante escolher
os métodos comprobatórios de atendimento de uma norma.
Os critérios para essa seleção podem ser econômicos, de
segurança e de tempo. Trata-se de uma avaliação que deve
ser muito bem estruturada antes que o projeto seja levado
adiante. Como passo seguinte, complementando a definição
dos métodos de cumprimento da norma, definiu-se uma lista
minuciosa e extensa de checagem de conformidade (em
inglês compliance checklist), a qual contempla os requisitos
e seus respectivos parâmetros de aceitação que devem ser
obedecidos em todas as fases de projeto.
Essas três primeiras etapas de estudo e planejamento
– estudo da norma e requisitos, definição dos métodos
de cumprimento e elaboração do compliance checklist –
demandaram praticamente dois anos de trabalho. Só a partir
daí a equipe começou a trabalhar com a aeronave em si, no
desenvolvimento de seu projeto estrutural e aerodinâmico,
realizando, em seguida, ensaios estruturais e em voo,
para comprovar seu bom funcionamento. Alguns desses
ensaios puderam ser realizados por meio de simulações
em software de modelagem 3D, que foram aceitas pela
agência certificadora sem necessidade de teste real com a
aeronave. Outros ensaios, devido a sua natureza, não podem
ser simulados e necessariamente precisam ser realizados
em voo. É o caso, por exemplo, de testes de velocidade de
mergulho, ensaios de desempenho, ressonância da estrutura
(se a estrutura ressona, pode se romper durante o voo),
ensaio de parafuso. Esses ensaios foram feitos por pilotos
da Embraer, especializados nesse tipo de atividade, uma vez
que a própria Scoda ainda não tinha essa expertise.
o estudo e
entendimento
dos requisitos
normativos foram
determinantes
para a definição
dos métodos que
seriam utilizados
para cumpri-los.”
1 5 Scoda aeronáutica, SuceSSora da edra aeronáutica
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O último momento do projeto, já em 2013, compreendeu a
certificação propriamente dita, realizada inicialmente pela
Administração Federal de Aviação (FAA em inglês) nos
Estados Unidos e depois pela Agência Nacional de Aviação
Civil (ANAC), no Brasil.
Uma particularidade interessante do projeto é que nas quatro
primeiras etapas 90% da carga de trabalho foi realizada
por estagiários de 4º e 5º ano de cursos de engenharia,
particularmente da USP São Carlos – Escola de Engenharia
de São Carlos (EESC). Isso só foi possível devido à qualidade
da norma americana, que é muito minuciosa e bem descrita,
muito semelhante a um manual de projeto e dos estudantes
em fase final de formação. Esse fato constitui um exemplo
interessante de perspectiva a ser aplicada ao design by
certification no Brasil: fazer uso de normas internacionais
como um guia para a execução do projeto.
O desenvolvimento do Super Petrel LS apresenta alguns
aspectos interessantes que podem servir de exemplo para
empresas que trabalham com a inovação em setores com
dimensão relevante de certificação. No âmbito do fluxograma
das atividades, destaca-se a necessidade fundamental de
dedicar esforço e tempo para aprofundar no conhecimento
da norma e seus requisitos, bem como no planejamento dos
métodos para cumpri-la, de modo a assegurar que as etapas
seguintes sejam corretamente adequadas aos parâmetros
normativos, garantindo, assim, o sucesso do produto final.
Quanto à execução do projeto, o fato de “enxergar” a
norma não somente como uma série de requisitos a serem
atendidos, mas também como manual e guia, sobressai
como uma solução inteligente, particularmente para casos
em que não existem referenciais claros na norma brasileira.
4. paNorama INTerNacIoNal
As Aeronaves Leves Esportivas (ALE), em inglês Light Sport
Aircraft (LSA), foram reconhecidas como uma categoria
própria somente a partir de 2005, quando a Administração
Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) definiu
como “aeronaves leves esportivas” aquelas com peso
máximo de decolagem de 600kg. Pertencem a esse grupo
aviões, planadores, giroplanos e paraquedas motorizados.
Padrões de licenciamento proporcional e treinamento, de
manutenção e de aeronavegabilidade foram aplicados, este
último com base em padrões da ASTM. Como resultado da
implementação dessa nova categoria, em menos de dez
anos o mercado de LSA nos Estados Unidos atingiu 20%
a 25% das vendas de aviões de hélice, com previsões de
crescimento. Entre todas as aeronaves leves esportivas
vendidas nos Estados Unidos, 60% são produzidas
o novo projeto
foi concebido
com base nos
requisitos da
norma americana
e revolucionou
a maneira de
projetar e produzir
da empresa,
mudando a
percepção e a
recepção do
mercado.”
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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
internamente, o que torna o mercado atrativo para
produtores de outros países.5
O conceito e a categoria ALE rapidamente se espalharam
para o Canadá, a Austrália e outras nações que agora operam
um quadro regulamentar harmonizado para a categoria.
Os principais países que adotaram as normas da FAA são
Austrália, China, Nova Zelândia, Brasil, Colômbia, Peru,
Canadá, Israel, África do Sul, Chile, Malásia e México. A
categoria é hoje reconhecida não apenas por países em que
a aviação dispõe de tecnologias avançadas, mas também por
países em desenvolvimento. A adoção dos padrões definidos
pela ASTM proporcionou a revitalização do segmento por
meio da fabricação de novos projetos. Isso foi seguido
por fabricantes tradicionais como Cessna, que colocou no
mercado novos modelos dedicados à categoria ALE.
Ao contrário das demais categorias da aviação, a ALE não
é dominada estritamente por gigantes do setor. Para cada
grande fabricante, existem dezenas de empresas menores,
com inovações de ponta e métodos de produção que lhes
permitem ser competitivas. O fato de a tecnologia e a
informação estarem cada vez mais acessíveis e de o custo
5 EUROPEAN FEDERATION OF LIGHT EXPERIMENTAL AND VINTAGE AIRCRAFT (EFLEVA); THE EUROPEAN MICROLIGHT FEDERATION (EMF); THE EUROPEAN POWER FLYING UNION (EPFU). Introduction of a light sport aircraft category in Europe. Jun. 2012. (Position Paper and proposals for a Light Sport Aircraft Category in Europe).
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das aeronaves ALE ser muito menor, quando comparado a
outras categorias, torna o segmento atrativo para pequenos
empreendedores. Os custos de um avião ALE podem variar
de USD 15 mil a USD 400 mil.6
Em 2008, o número de aeronaves leves esportivas nos Estados
Unidos, segundo a FAA, era de aproximadamente sete mil.
A previsão para 2025 é que esse número ultrapasse 15 mil
unidades, em uma taxa de crescimento anual de cerca de 5%.7
Dentro da categoria ALE, o setor que mais tem crescido
é o de aviões anfíbios. Nesse segmento, destacam-se os
fabricantes americanos, chineses, espanhóis e finlandeses,
que têm competido entre si no desenvolvimento de
equipamentos de design arrojado e alta tecnologia.
5. reSulTadoS para a empreSa
Em se tratando de aviação anfíbia, hoje o Super Petrel LS
detém 85% de market share no Brasil. Considerando que
o mercado brasileiro não possui muitos players nesse
segmento de anfíbios (além da Scoda, somente mais dois
6 Disponível em: <http://www.planeandpilotmag.com/aircraft/best-buys/lsa-buyers-guide-2014.html#.VGs1L_nF854>. Acesso em: 11 novembro 2014.
7 NATIONAL AIR TRANSPORTATION ASSOCIATION (NATA). General aviation in the US. Maio 2009.
fabricantes nacionais), a participação do Super Petrel LS no
mercado é bastante expressiva.
O projeto de certificação e cumprimento da norma americana
proporcionou a entrada no mercado norte-americano. O fato
de seguir uma norma mundialmente aceita (exceto países do
Reino Unido e Alemanha) permitiu a certificação da aeronave
também na Austrália, na Coreia do Sul e na Malásia. Essa
entrada em mercados externos promoveu o aumento das
exportações e, consequentemente, nas margens de venda.
Outro elemento relevante advindo do projeto de certificação
é o alinhamento do Super Petrel LS aos requisitos técnicos
mundiais e ao mercado mundial, agregando a um produto
nacional credibilidade e reconhecimento global.
6. deSdobrameNToS e perSpecTIVaS
As próximas etapas do planejamento estratégico da
Scoda quanto ao Super Petrel LS contemplam atingir
índice de 60% de exportação e conquistar 20% de
market share nos Estados Unidos nos próximos anos.
Em número de unidades vendidas, 20% do mercado
americano correspondem a 100% do mercado brasileiro
de aeronaves esportivas leves anfíbias. Portanto, a meta
de crescimento no mercado norte-americano significa um
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INOVAR É FAZER. 22 CASOS EMPRESARIAIS DE INOVAÇÃO DE PEQUENAS, MÉDIAS E GRANDES EMPRESAS
aumento significativo na capacidade produtiva da empresa,
praticamente dobrando o volume de produção.
Além disso, a empresa já está trabalhando para certificar o
produto em mais cinco países e pretende atingir a marca de
1.000 unidades vendidas até 2020. Encontra-se também em
andamento o lançamento das versões Super Petrel iS, uma
inovação para a aviação mundial, a primeira aeronave com
motor com injeção e ignição eletrônica.
A fabricante de Ipeúna, cidade vizinha de São Carlos, está
trabalhando ainda em projetos de certificações de outros
modelos do Super Petrel e do Dynamic, o SPLS4 e o WT10,
que possuem ambos quatro assentos ao invés de apenas
dois. Nesse caso, as aeronaves não mais se enquadram na
categoria ALE e, por isso, a norma certificadora é a FAR 23,
também americana e aceita no Brasil.
Finalmente, como perspectiva de longo prazo, a empresa
tem estudos para projetos que utilizam motores elétricos,
por acreditar que a aviação evidencia uma tendência (ainda
inicial) de seguir nessa direção.
O trabalho desenvolvido pela Scoda para as certificações
das aeronaves é um exemplo de que se adequar às normas
é um elemento de inovação, uma vez que a empresa não
conseguiria entrar em um novo mercado se não houvesse
realizado essa adaptação. Evidentemente é preciso também
ter uma visão de mercado ampla e consistente, que
possibilite antever mudanças e identificar tendências. Dessa
maneira, é possível manter o planejamento estratégico
alinhado à realidade do setor e estar constantemente
preparado e bem posicionado quando as mudanças
efetivamente acontecem.