PreviNEBoletim Informativo de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Região NordesteSegundo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos
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ano 5 - Edição nº 24 de 2017MARÇO
Figura 1 – Destroços do Acidente do PR-AFA
Para cima ou para baixo? – os perigos decorrentes da desorientação espacial
Em janeiro de 2016, o CENIPA divulgou o relatório final do acidente da aeronave PR-AFA, ocorrido em agosto de 2014, que vitimou o Sr. Eduardo Campos, candidato às eleições presidenciais, assessores e a tripulação da aeronave. Um dos Fatores Contribuintes apontados, entre outros, para ocorrência do acidente foi a desorientação espacial do piloto.
Segundo o Relatório Final do acidente, “... os estímulos no aparelho vestibular, como consequência da realização de uma curva “apertada”...; as variações de velocidade à baixa altura; as condições meteorológicas restritas, que obrigavam a uma alternância do voo visual para o voo por instrumentos; e, o fato de o piloto ter, possivelmente, realizado movimentos com a cabeça (alternando o olhar para os instrumentos e para fora da aeronave), na tentativa de manter-se em contato visual com a pista e com os obstáculos no terreno; infere-se que essas condições podem ter implicado em uma desorientação espacial do tipo incapacitante” (Grifo nosso).
Entretanto, a despeito da divulgação do relatório desse acidente de tão grande repercussão nacional, ao longo do ano de 2016 e já no ano de 2017, novos acidentes com características semelhantes tem ocorrido. Mas o que leva o ser humano a desorientar-se em voo?
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Figura 2 – Sistema vestibular
O cérebro humano, segundo Sharot,Tali (2015) evoluiu para detectar nosso movimento na terra, não
no céu. Para “calcular” a nossa posição, ele compara sinais do ouvido interno dotado de trompas
cheias de líquidos que mudam quando nos movemos com a sensação fixa de gravidade que aponta
para o centro da terra. Tudo funciona muito bem nesse nosso sistema de orientação quando estamos
na terra, no entanto, quando estamos no ar, o sistema pode se confundir. Uma relação bem direta com
o fato de que nossos ancestrais não passavam muito tempo no ar.
O nosso cérebro sob condição de velocidade e em deslocamento no ar pode ter interpretações
confusas interpretando estímulos atípicos como acelerações angulares ou força centrífuga como
força da gravidade normal. Desta forma, ocorre um equívoco no cálculo da posição em relação à terra.
Assim, quando nossos olhos não conseguem confirmar a mudança de direção em decorrência de uma
condição de baixa visibilidade seja esta por meteorologia desfavorável ou um voo noturno sobre o
oceano, pode ocorrer a situação em que a aeronave esteja voando em curva, ainda que o piloto esteja
convencido de que está voando paralelo ao solo.
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Figura 3 – Diferença de visibilidade VFR e IFR
Para evitar a ocorrência deste fenômeno, a Flight Safety Foundation Inc. propôs em um estudo
algumas medidas preventivas abaixo descritas com alguns grifos propostos pela equipe do SERIPA II:
- Tenha consciência que ilusões sensoriais são ocorrências comuns que representam respostas
tipicamente humanas para estímulos sensoriais atípicos. Pilotos devem aprender a não confiar
em suas percepções sob circunstâncias que propiciem a ocorrência de ilusões e a evitar a atuação
repentina e intuitiva nos comandos de voo baseada em percepções imprecisas;
- Compreenda a natureza dos diversos tipos de ilusões sensoriais e seus fatores contribuintes para
saber identificar e estar atento para ocorrência desses tipos de cenário em voo;
- Saiba utilizar e confie nas informações de fontes não sensoriais como indicadores de atitude,
radares, radar-altímetros, instrumentos de navegação, glide-slope e outros instrumentos de voo;
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- Desenvolva um bom cheque cruzado e mantenha-o num alto nível de proficiência;
- Evite manobras desnecessárias e movimentos rápidos de cabeça sob condições que propiciem
a desorientação espacial;
- Evite misturar técnicas de voo por instrumentos com técnicas de voo visual, o famoso
“visumento”. É recomendável que os pilotos se antecipem e façam uma transição oportuna antes de
entrar em condições de voo por instrumentos;
- Faça a adaptação visual para voos com níveis baixos de luminosidade antes de fazer uma
decolagem noturna;
- Evite a fadiga, privação de sono, tabaco, hipoglicemia e consumo de bebidas alcoólicas (ao menos
24 horas antes da decolagem) e evite consumir bebidas alcoólicas mais de três vezes por semana (em
média);
Figura 4 – Indicador de Atitude Convencional
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Figura 5 – Pilotos fatigados
- Evite o consumo excessivo de cafeína, automedicação ou qualquer outro tipo de sobrecarga
autoprovocada porque estas podem contribuir para agravar ilusões sensoriais. Indivíduos que
sofrem de ansiedade ou fatigados estão mais propensos a sofrer ilusões sensoriais;
- Tenha consciência que a adaptação à atividade aérea é temporária. A suscetibilidade à
desorientação espacial aumenta após algumas semanas sem voar;
- Por último, tenha plena consciência que uma larga experiência de voo não torna o piloto imune
à desorientação espacial. Conforme dito, a desorientação espacial é uma resposta tipicamente
humana a um estímulo atípico. Assim sendo, o piloto pode estar perfeitamente adaptado à atividade
aérea e, ainda assim, sofrer uma desorientação espacial.
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Fontes:Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
E.HAdelson, “Lightness Perception and lightness Illusions, in The New cognitive Neurociences, 2ª edição, org Gazzaniga Cambridge, MA :MIT Press, 2000.
SHAROT, Tali – O Viés Otimista: Por que somos programados para ver o mundo pelo lado positive. 1ª edição. Rio de Janeiro. Rocco, 2015.
Figuras:
Figura 1Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
Figura 2Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
Figura 3Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
Figura 4Disponível em: > (Acesso em 10 de março de 2017).
Figura 5Disponível em:
> (Acesso em 10 de março de 2017).
http://www.defesa.gov.br/index.php/noticias/18007-cenipa-divulga-relatorio-sobre-acidente-que-vitimou-eduardo-campos
http://www.potter.net.br:8080/Public/media/media/rf/pt/RF_A_134CENIPA2014_PR-AFA.pdf
https://flightsafety.org/hf/hf_jan-feb92.pdf
http://noticias.r7.com/sao-paulo/caixa-preta-do-aviao-que-caiu-em-santos-chega-a-brasilia-14082014
http://neuroxonados.blogspot.com.br/2013/05/reabilitacao-vestibular-tontura-e.html
http://www.cmteresende.com.br/single-post/2016/08/06/O-Perigo-de-um-Voo-em-Condi%C3%A7%C3%B5es-IMC
https://pt.wikipedia.org/wiki/Horizonte_artificial
http://aeronoticias.com.pe/noticiero/index.php?option=com_content&view=article&id=33725:tres-de-cada-cinco-pilotos-reconocen-haber-cometido-errores-por-fatiga-&catid=14:14&Itemid=574