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SESSÃO SOLENE EM COMEMORAÇÃO AO
NASCIMENTO DO POETA CASTRO ALVES REALIZADA NA
CÂMARA MUNICIPAL DE SALVADOR NO DIA 14 DE MARÇO
DE 2014
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Sob a proteção de Deus, declaro aberta a Sessão Solene em
Comemoração ao Aniversário do Poeta Castro Alves, conforme
preceitua o Artigo 244 do Regimento Interno, requerida pelo
vereador Odiosvaldo Vigas, que vos fala.
Convidamos para compor a Mesa a Sra. presidente da
Fundação Cidade Mãe, Isaura Teles Cotrim - peço uma salva de
palmas-, representando aqui o Exmo. Sr. prefeito; convidamos
para compor a Mesa o Exmo. Sr. Denison Padilha,
representando o Exmo. Sr. secretário de Cultura do Estado da
Bahia, a quem solicitamos uma salva de palmas, representando
o Sr. Albino Rubim; convidamos o Exmo. Sr. Padre Oséas
Aráujo Nascimento, da Igreja Católica Apostólica Independente
da Boa Vista de São Caetano; uma salva de palmas;
convidamos o Exmo. Sr. Marcos Rezende, historiador e
coordenador do Coletivo de Entidades Negras, para compor a
Mesa conosco; convidamos o Exmo. Sr. Ivan de Almeida, diretor
Executivo do CEPA, Centro de Estudos de Pensamento e Ação,
para compor a Mesa; convidamos a Exma. Sra. Irmã Anajá,
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representando a Igreja Católica; convidamos o Sr. Fabrício
Torres, do Movimento Cultural do PDT, para compor a Mesa
conosco. O Sr. Marcos Rezende está estacionando o veículo,
está a caminho da sessão.
Convidamos o Exmo. Sr. vereador da Comissão de
Educação desta Casa, vereador Everaldo Augusto, para compor
a Mesa conosco.
Solicitamos que todos fiquem de pé para ouvirmos a
execução do Hino Nacional.
EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Solicito para assumir os trabalhos, o vereador Everaldo
Augusto, enquanto eu faço uso da palavra.
Por favor, professor Marcos Rezende, tome assento à
Mesa.
Boa tarde a todos, à Mesa, saudando na pessoa do nosso
presidente que está assumindo aqui os trabalhos, vereador
Everaldo Augusto, que temos aí a Irmã Anajá, padre Oséias, a
professora Risalva, o padre Almeida, professor Marcos Rezende,
o Fabrício, e dizendo que a Câmara Municipal não se furta
nesses longos anos, justamente no dia 14 de março, realizar
esta sessão solene, e sessão solene esta sempre abrilhantada
com a parceria desses grandes poetas, como Edvaldo Velame,
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Tiago, Peralta, Cláudio de Simões Filho, Jorge, de Amélia
Rodrigues, tantos outros que vêm justamente fazer com que
aconteça esta justa homenagem colocando a
contemporaneidade da obra deste grande poeta.
Eu preparei um texto, juntamente com o apoio deste
grande assessor, que é o José Nunes, o português, que nós
colocamos assim:
Castro Alves, homenagem aos 167 anos do seu
nascimento.
A escravatura moderna não inclui a venda de escravos em
praça pública, com o pescoço, com os pés atados, como em
outros tempos, mas os escravos de hoje continuam presos com
outras amarras. São famílias inteiras cujos recursos não lhes
permitem uma vida digna, são crianças obrigadas ao trabalho
infantil, são jovens que se iniciam na criminalidade, no tráfico
de drogas, são adolescentes forçadas à prostituição, ao tráfico
humano que continuam a sua crescente escalada.
Uma organização internacional sediada em Londres
estudou 160 países onde ainda existe escravatura em pleno
século XXI. Nesse estudo, o Brasil ocupa a 94ª posição, com
cerca de 209 mil pessoas vivendo sob diversas formas de
escravidão. Recentemente, com o Programa Mais Médicos, o
Brasil apoiou oficialmente outra forma de escravatura. Neste
programa, o governo brasileiro gasta cerca de 926 milhões de
remuneração com os médicos cubanos e deste valor repassa
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diretamente para o governo de Havana 713 milhões, ou seja, o
salário que o governo federal paga para cada um desses
médicos, que é de 10 mil e 400 reais, apenas 2.400 são pagos
realmente a um médico. Deste valor, 960 reais são depositados
em uma conta no Brasil, do restante, 1.400 são depositados em
uma outra conta em Cuba.
O que são esses meus colegas médicos senão os novos
escravos do nosso tempo? Esses médicos não podem receber
visita de familiares, de amigos, nem para casar, ou de uma
autorização do governo, não podem passar as suas férias em
outros países que não seja Cuba.
O que é isso, senão uma brutal forma de escravidão em
pleno século XXI? É por isso que a obra de Castro Alves, na sua
invulgar denúncia contra a escravidão, continua viva e atual.
Por isso, e mais uma vez, é justo recordamos o seu talento,
avivarmos a nossa memória, partilharmos o nosso sentimento
de revolta e indignação pelo que se passa ainda hoje, passados
126 anos da abolição da escravatura.
A escravidão continua a existir e o ruidoso silêncio que a
escravidão moderna representa na fala dos milhões de escravos
na África, na Ásia, na América Latina e no próprio Ocidente. E
eis que, também, agora, em abril, estará comemorando 100
anos de nascimento, Dorival Caymmi.
É um dos grandes compositores e poetas da nossa
música popular brasileira. Foi, sem dúvida, o representante
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mais baiano. A sua música está intensamente associada à
Bahia e ele mesmo fazia questão de ser conhecido como músico
baiano. Apesar de não dedicar todo sua obra à Bahia, a maioria
de suas composições são sobre homens e mulheres e a cultura
deste Estado. Dessa forma, Caymmi contribuiu no
aceleramento do papel de identificação da cultura brasileira
com a cultura negra, associada, em boa parte, ao Estado da
Bahia, ao lado de Carmen Miranda e Ary Barroso.
Caymmi contribuiu para difundir uma imagem do Brasil,
que é, em sua maior parte, uma imagem associada à Bahia,
principalmente com a cultura negra baiana. A imagem da Bahia
e da sua gente, na música de Dorival Caymmi, nos mostra não
só a nostalgia, mas nos mostra dizendo o melhor da Bahia na
sua singularidade, na sua pluralidade cultural.
Ele canta o Abaeté, ele canta o mar, em verdade, ele
canta a baianidade desta terra e isso faz com que procuremos
entender o universo negro na obra de Caymmi e na obra
contemporânea de Castro Alves.
E nesta tarde de hoje, vendo aqui essas crianças da
Fundação Cidade Mãe e os meninos da Escola Castro Alves,
dizer que é importante mantermos vivo este cabedal de
conhecimento.
Abaixo a escravidão, viva a poesia e não ao preconceito!
Castro Alves vive!
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(EXIBIÇÃO DE VÍDEO
ENCENAÇÃO E DECLAMAÇÃO DO POEMA NAVIO NEGREIRO
PELOS ATORES EDGAR VELAME E PARETA CAUDERAST
Encenação e declamação do poema Navio Negreiro pelos atores,
Edgar Velame e Pareta Calderasch.
Navio Negreiro
I
'Stamos em pleno mar... Doudo no
espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do
firmamento
Os astros saltam como espumas de
ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar.. . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
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Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
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Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
I
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
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Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que
horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
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Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
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V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
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Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
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Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
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P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
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FERNANDA COELHO ESPÍNDOLA: - Boa tarde, eu sou
Fernanda Coelho Espínola, tenho nove anos, sou da Oficina de
Dança da Fundação Cidade Mãe.
Vou homenagear Castro Alves declamando uma poesia da sua
autoria.
AS DUAS FLORES
São duas flores unidas
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bem como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rosas da vida
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Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Uma salva de palmas para a nossa poeta da Fundação Cidade
Mãe.
ALUNA FERNANDA COELHO ESPÍNDOLA: - Obrigada.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Queremos registrar a presença do Padre Márcio Tranquilli, da
Paróquia Nossa Senhora de Candeias, Campinas de Pirajá. Uma
salva de palmas.
Quero também registrar a presença da gerente da
GETEC, Eliane, da Fundação Cidade Mãe, uma salva de
palmas. Da professora de história, do Colégio Ipiranga, Maria
Celuta Vilas Boas, uma salva de palmas. Da gerente de projetos
da Fundação Cidade Mãe, também uma salva de palmas, a
nossa Célia, abrilhantando aqui com sua presença.
Vamos passar a palavra, posteriormente irá falar o
vereador Everaldo Augusto, o nosso palestrante irá usar um
tempo de 15 a 20 minutos, o professor Marcos Resende, que
representando também o coordenador coletivo de Entidades
Negras, irá falar sobre a obra do poeta Castro Alves.
Com vocês, o professor Marcos.
Pode utilizar a tribuna. Por favor, a questão do nosso
tempo é uma questão primordial.
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SR. MARCOS REZENDE: - Boa tarde a todas e todos. É
um prazer imenso estar fazendo parte desta homenagem aos
167 anos do nascimento de Castro Alves, e parabenizo, desde
já, o vereador Odiosvaldo Vigas por esta Sessão Solene que
trata do nascimento de uma personalidade tão ilustre da nossa
cidade, do nosso Estado, do nosso país e pela dimensão da sua
obra no mundo. Tem aqui uma série de personalidades na Mesa
e eu gostaria de saudar a todas na figura da Irmã Anajá, que é
representante da Igreja Católica, na figura de uma mulher
negra, que é motivo, inclusive, de muitas músicas e poesias de
Dorival Caymmi.
Primeiro, vereador, é muito importante ter uma plateia,
um público tão jovem na Câmara de Vereadores, porque muitas
vezes a ideia que se passa da política é da mais completa
distância entre o que se faz aqui e a sociedade. Então, quando
nós vemos aqui jovens e poetas em uma sessão como esta,
significa que esta sessão reflete a importância do presente no
que diz respeito ao olhar para o futuro. E aí, é nessa
convergência que podemos falar da importância da obra, do
universo negro de Castro Alves, na obra de Dorival Caymmi,
porque quando nós pensamos em Castro Alves, imediatamente
nos vêm a perspectiva... Os jovens negros aí, jovens negros que
Castro Alves tanto lutou para que pudessem estar aqui, hoje,
esses jovens negros.
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Então, a poesia de Castro Alves fala da história de vida de
jovens como Fernanda - cadê Fernanda? -, que estava aqui
declamando poesia. Além de Fernanda – como é seu nome,
jovem? –, Lucas. E o seu? Felipe. E o seu, que colocou a mão no
rosto, dizendo: “Aí meu Deus?” Carina.
Então, a poesia de Castro Alves falava de Fernanda,
Lucas, Felipe e Carina. Oxe, de mim? Como assim? Eu não era
nem nascida! Esse palestrante que me inventaram, hoje, está
inventando muita coisa. E por que essa poesia de Castro Alves
fala de cada um que está aqui presente, mesmo sem naquela
época nós estarmos ainda vivendo neste mundo? Porque, com
toda certeza, boa parte de quem está aqui dentro, nesta Câmara
de Vereadores, é negra. E aqueles que não são negros podem ir,
se tiverem o bom senso da violência e do racismo, devem ter
compreensão da identidade negra deste Estado e entenderem a
necessidade de ter pertencimento a essa história e luta, e se
aglutinar contra a tal violência que foi a escravidão.
Então, Castro Alves se irmana com Dorival Caymmi,
mesmo que os dois tenham nascido em gerações diferentes,
através de dois importantes elementos. Um elemento de
irmanamento dessas duas grandes figuras é a poesia: a poesia
de Castro Alves e a de Caymmi. E o outro elemento de
irmanamento entre esses dois é o mar. Não dá para pensar
Castro Alves sem imaginar as diversas vezes que ele se sentou e
se debruçou, ali mesmo naquela onde hoje é a Praça Castro
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Alves, para olhar o mar e refletir sobre a vida e suas poesias,
ainda jovem, porque Castro Alves – olha que coisa incrível - nos
deixou um legado tão grande, mas morreu ainda jovem. Castro
Alves foi um jovem que deixou a obra da estatura de um
gigante, um jovem que deixou a obra do tamanho de um século
ou de uma eternidade.
E quando eu falo da importância do mar na história
dessas duas personalidades, eu gostaria de ler um pedaço
pequeno desse livro, que foi o livro apoiado pela Fundação
Pierre Verger e a Odebrecht, que conta um pouco da história de
Caymmi. Diz o seguinte: “As águas tramam caminhos, traçam
destinos. O mar é caminho da humanidade fecundo, eterno
desafio na sua profundeza de encantamentos; encantos que
tornam possíveis olhares e percepções convergentes, que
irmanam pessoas de origens e histórias distintas, que irmanam
pessoas pessoas de origens e histórias distintas, que irmanam
pessoas mesmo de gerações diferentes, como Castro Alves e
Dorival Caymmi. É também o mar que separa continentes e os
une por conveniência”.
Ora, todos os jovens que estão aqui nesta sessão, que por
vezes acham, inclusive, a fala dessas pessoas que estão aqui na
frente cansativas e chatas, e por muitos motivos elas assim
pensam num mundo hoje que tem mil tecnologias, talvez não
tenham a noção do que foi a dimensão da escravidão nas
nossas vidas, talvez não tenham a noção do que foi a dimensão
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da violência da chegada dos portugueses no Continente
Africano e o advento da escravidão de milhões de negros até
chegarem no Brasil.
Eu digo isso porque, na verdade, esses jovens que se
fazem presentes nesta sessão de hoje, com toda certeza têm
uma função, que é uma função que o Estatuto da Criança e do
Adolescente nos diz com bastante clareza, que é o direito ao
lazer, o direito à saúde, o direito à educação. Então, a
preocupação desses jovens de hoje é justamente com o novo
mundo, com as suas garantias de direito, enquanto outrora, até
1888 - e vale uma pausa para nós sabermos e não esquecermos
jamais, o Brasil foi o último país do mundo a acabar com a
escravidão, imagine a dimensão do que representa a violência
do escravismo no Brasil!
Então, quando Castro Alves, ainda jovem, pensava nessa
violência, ele dizia: “O que será desses negros jovens e dessas
mulheres negras jovens escravizados num Continente Africano
e trazidos para o Brasil como coisas, como mercadoria, como
algo que não significa um ser humano, como um bem, como
uma propriedade?”
Ora, essa violência da escravidão, que Castro Alves nos
desvela e revela em sua poesia, traz para nós uma reflexão da
importância de quanto a poesia pode deixar um legado tão
importante, e muitas vezes isso não é visto ou pensando no
nosso cotidiano. Digo isso porque muitas vezes as pessoas
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tratam a poesia como um pormenor, senão a poesia dos poetas.
Porque, por vezes, quando nós queremos fazer um belo
discurso, iniciamos às vezes o mesmo com a poesia. Se nós
queremos encantar alguém, seja um homem ou uma mulher,
também recorremos à poesia. Se nós queremos falar o quanto
tem uma questão que é importante para a humanidade,
buscamos alguns poetas que têm escrito sobre esse tema, mas
muitas vezes nós não entendemos a dimensão da poesia no
cotidiano da nossa existência e dos poetas para fazer com que o
nosso mundo seja um mundo mais de amor, mais de respeito,
de maior compreensão e de maior transformação para a
sociedade.
Então, é por isso que eu aproveito este momento raro de
estar numa tribuna de tamanha importância para pedir uma
salva de palmas aos importantes poetas desta cidade que estão
aqui hoje, que eu tenho o prazer de conhecer alguns aqui pelo
nome, pois isso me orgulha muito. Mas não os direi, porque
seria injusto com os outros demais que se fazem aqui presentes.
Falar do mar e falar de poesia é justamente falar desses
elos que ligam Caymmi a Castro Alves, pois se um cantava o
mar, o outro mostrava o quanto o mar foi o caminho que fez
percorrer para o nosso mundo a dor e o sofrimento do
escravismo e da escravidão.
Castro Alves não mostra as suas obras, quando nós
pegamos o Navio Negreiro, ele já começa dizendo, “Estamos em
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pleno mar, era um sonho dantesco”. Então, ele vai falar da
violência de estar jogado ao mar. Dorival Caymmi acaba
reconstruindo, por outro momento de vivência, por estar em
outra geração, um outro tipo de mar, um mar que garante para
os descendentes de negros escravizados em África, mas já
libertos no Brasil, como sobreviver.
Então, Dorival Caymmi, vai pegar esta obra de Castro
Alves e ressignificar. Ressignificar como? Porque, se em
determinado momento, Castro Alves cantava pela necessidade
de liberdade, Dorival Caymmi vai dizer que o mar nos garante a
liberdade. Não só a liberdade da imensidão do mar, mas a
liberdade do povo negro, que mesmo sendo vilipendiado nos
seus direitos, mesmo depois do final da escravidão, ele tinha no
mar uma forma de sobrevivência.
Porque se ainda hoje, boa parte da população negra é a
população prioritária nos projetos sociais do governo, se ainda
hoje, boa parte da população negra está encarcerada nos
presídios do nosso Estado e do nosso país, se ainda hoje boa
parte da pobreza do nosso país tem a cara do povo negro,
também foi o mesmo mar que garantiu a vinda desse povo
negro para cá para trabalhar como escravos ou sendo
escravizados, que também garantiu a este povo negro quando
não se tinha qualquer perspectiva de emprego ou quando não
se podia, vereador, imaginar, sequer, sonhar, ser vereador
negro, como o senhor, a sobrevivência.
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Foi esse mar que garantiu com que os negros pudessem
sobreviver em uma cidade onde não era dada para os negros a
menor condição de sobrevivência. Por quê? Porque foi através
do mar que os negros podiam pescar, foi através do mar que os
negros podiam fazer a puxada de rede, foi através do mar que
as mulheres negras, também, na Lagoa do Abaeté e das Águas,
podiam ser lavadeiras para prestar seus serviços à alta
sociedade.
Então, esses dois poetas nos mostraram justamente o
quanto um elemento pode carregar ao mesmo tempo muita dor,
mas pode carregar ao mesmo tempo muito amor e muita
liberdade.
A representação do mar nas nossas vidas e o mar para os
negros africanos ainda carrega dois outros elementos que
muitas vezes no nosso cotidiano nós não percebemos, que para
os negros africanos, nigerianos, os deuses, os orixás, chegariam
no Continente Africano através do mar. E esses negros eram da
família funfun, uma família que vestia branco, eram deuses
albinos, de cor branca, e foi o mar que levou os portugueses
para a África. E talvez por isso os negros teriam entendido os
portugueses de forma tão amistosa, ou talvez tenham entendido
que a origem do povo negro não é uma origem de se perpetuar
na sociedade através da violência, mas através de conquistas,
de respeito, diversidade, poesia, amor e luta, mas não na luta
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mostrando que o outro é inferior. Os negros nunca querem isso
e nunca vão fazer isso.
Quando os portugueses chegaram pelo mar, eles chegaram
sendo vistos como deuses, quando os negros utilizaram esse
mesmo mar para chegar até aqui, eles chegaram aqui como
coisas. E quando os negros buscaram o mar depois da
escravidão para reconstruir a sua vida, o mar, na figura de
Iemanjá, porque aqui tem uma questão que é muito importante,
ninguém é do candomblé. Existe uma intolerância, um
desrespeito ao candomblé, mas quando chega no dia 2 de
Fevereiro, aquele Rio Vermelho tem tanta gente que eu não
consigo ver de onde saiu tanta gente, já que ninguém é do
candomblé e ninguém acredita em Iemanjá.
Então, significa também, que através do mar, dessa
grande mãe, Iemanjá, que é tratada como uma mãe cujos filhos
são peixes, que nós percebemos que os negros puderam
reconstruir as suas vidas. O mar de Caymmi é o mar do
lamento, é o mar muitas vezes também da angústia, do
pescador, que vai para o mar e não sabe se vai voltar. Mas
também é o mar que vai fazer com que as mulheres e os
homens possam se reencontrar e viver de forma amorosa,
amores não possíveis ou não permitidos se não tivessem esse
elemento.
Gostaria de dizer que Dorival Caymmi, esse ilustre baiano
que casou com uma mineira de nome Stella Maris – pelo menos
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um nome artístico – imaginem, Stella Maris, estrela do mar, nos
mostra o quanto a sua ligação com o mar era importante. E a
sua obra, em convergência com o pensamento de Castro Alves,
que esse ano faz 167 anos de nascimento, enquanto Dorival
Caymmi faz 100 anos, nos deixa um importante legado.
Primeiro, que vale a pena reconhecermos o nosso passado e a
nossa ancestralidade. Este é um princípio importante na África,
chamado de Sankofa, que é representando por uma ave, cujos
pés são fincados no solo, o peito projetado para a frente e a
cabeça voltada para trás. O que é que esse princípio nos mostra
e que está nessa sessão de hoje, nessa sessão especial tão
importante para mim, a quem eu agradeço, inclusive, ao poeta
Pareta Calderasch ao poeta Edgar Velame por terem me
convidado em conversa com o nosso vereador Odiosvaldo Vigas?
É justamente porque, se nós tivermos os nossos pés fincados na
terra, nós saberemos de onde viemos, saberemos qual é a nossa
ancestralidade, saberemos que esses jovens negros, da periferia
de Salvador, com toda certeza, vêm de famílias negras e
humildes, e que passam por diversas adversidades cotidianas.
Assim como muitos adultos negros que aqui se fazem presentes;
assim como também é a vida do vereador, que eu tenho certeza
que, hoje, o pessoal o vê como vereador, mas se ele parar aqui
para contar um pouco de história, não será muito diferente das
diversas histórias que estão aqui na nossa frente.
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Então, temos que saber da nossa ancestralidade. E
vereador, parabéns por respeitar a sua ancestralidade e fazer
uma sessão como esta.
Segundo, que o peito projetado para a frente é para dizer
que com os pés fincados no solo podemos nos projetar para
frente para saber onde nós estamos e para onde queremos ir,
mas sem esquecer que o nosso olhar tem que estar também
voltado para trás, porque não se constrói o futuro sem olhar, o
registro que foi deixado no passado, sendo ele bom ou ruim. E o
nosso momento presente, para concluir, nos traz esse resgate.
Nós somos um povo que, em sua maioria, somos negros,
temos uma história de desrespeito para com a nossa
ancestralidade, causada por este país através de suas ações
racistas, de suas leis que nos transformaram em coisas, temos
a nossa luta que nos trouxe até aqui porque, apesar de tudo,
tivemos poetas como Castro Alves, Dorival Caymmi e temos
poetas como Pareta, Edgar Velame e diversos outros que se
fazem presentes. E temos também uma juventude que, hoje à
tarde, nos faz crer que esta Casa, esta vida, esta trajetória e
esta ancestralidade não são em vão.
Parabéns a vocês, parabéns ao poeta Castro Alves,
parabéns a Dorival Caymmi e parabéns a todos os negros e
negras que, apesar de tantos ‘nãos’ e tanta dor que nos
invadem, faz com que sejamos nós a alegria da cidade.
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SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - O
vereador Everaldo Augusto irá usar a palavra por um tempo
curto, porque iremos ter a apresentação dos meninos da Escola
Castro Alves.
Vereador Everaldo Augusto.
SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Sr. presidente
nesta sessão, vereador Odiosvaldo Vigas, que, anualmente, é
autor, não só do requerimento da sessão, mas da organização,
em uma das sessões mais importantes desta Câmara de
Vereadores, o que é mais importante, vereador Odiosvaldo
Vigas, é que V. Exa. consegue organizar, anualmente, essa
sessão agregando pessoas e trazendo sempre um elemento
novo, um dado novo da história da vida de Castro Alves e
sempre batendo em uma tecla importante, que é destacar a
contemporaneidade da obra de Castro Alves para que a gente
possa a cada dia ir renovando a sua mensagem de liberdade.
Eu quero, inclusive, parabenizar o professor Marcos Rezende,
que fez aqui um esforço, acho que com sucesso, de mostrar
para as crianças quem é Castro Alves e entender direito o que é
que nós estamos fazendo aqui. Acho que isso é muito
importante.
Quero, inclusive, parabenizar também a escola, aos
professores, aos diretores e a todos aqueles que ajudaram a
construir a sessão, trazendo até aqui as crianças. Inclusive, a
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Fernanda veio aqui recitar uma poesia. Acho que se tivesse
tempo, vários deles recitariam poesias, como a Fernanda.
Um dos aspectos principais, também nesta linha de ajudar a
vocês, crianças, futuros cidadãos e cidadãs, a importância de
Castro Alves, um dos aspectos da contemporaneidade de Castro
Alves é a defesa da nação, do Brasil se constituir como nação.
Vejam que quando Castro Alves nasceu o Brasil tinha apenas
20 anos que tinha surgido como nação, antes era colônia de
Portugal. Então, a gente não mandava em nada, quem mandava
na gente era a coroa portuguesa.
Em 1822, o Brasil se tornou independente e começou a se
constituir como nação.
E um dos aspectos importantes que nos traz Castro Alves
até hoje é a defesa desta nação como uma nação livre e, sendo
uma nação livre, não permitir que nenhum cidadão desta
nação, nenhum filho desta nação se tornasse escravo. E fazia
isso em diversos dos seus poemas, destacando as marcas da
escravidão para sensibilizar a todos aqueles escravos e não
escravos de que a escravidão deveria ser uma página virada na
nossa história.
E ele estava certo quando falava das marcas da
escravidão porque muitas dessas marcas chegaram até hoje e
estão no nosso dia-a-dia.
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Então, no momento em que a escola dos filhos dos
pobres, dos trabalhadores, é diferente da escola dos mais ricos,
aí tem uma marca da escravidão que está negando aos filhos
dos trabalhadores, aos filhos dos negros, aos filhos da
população mais pobre uma educação no mesmo patamar que o
outro segmento, mais aquinhoado financeiramente, vamos dizer
assim.
Quando falta um médico lá no posto de saúde, no bairro,
isso é uma marca da escravidão, de negar o direito à saúde a
todo e qualquer cidadão brasileiro. E é negado justamente a
aqueles segmentos que constroem a nação, que são os
trabalhadores, filhos de trabalhadores.
Quantos jovens caem na marginalidade, pressionados
pelas circunstâncias, pelas necessidades e pela falta da
oportunidade de estudar e trabalhar. Aí também tem uma
marca da escravidão.
Então, a contemporaneidade de Castro Alves nos remete a
continuar numa luta sem trégua para que a gente possa
construir um Brasil mais justo, para que a gente possa
erradicar de vez estas marcas da escravidão aqui do nosso
meio.
Queria aqui, para finalizar, vereador Odiosvaldo Vigas,
também fazer uma saudação aos poetas. Estive brincando, pois
quando estava chegando vinha um grupo de poetas entrando
aqui e eu disse: hoje tem Castro Alves de tudo quanto é tipo,
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tem Castro Alves tropicalista, tem Castro Alves punk, Castro
Alves dark, Castro Alves afro, Castro Alves branco, Castro Alves
de tudo quanto é tipo.
Eu quero pedir uma salva de palmas para todos estes
Castro Alves que estiveram aqui hoje.
Inclusive, eu tinha dito a um deles, ao Gilberto, que se
tivesse um concurso de Castro Alves hoje ele ganharia, que é o
Castro Alves tropicalista. Olhem ali: gravata de Chacrinha,
chapéu de Robin Wood, é o tropicalismo puro.
Queria dizer, vereador, inclusive lhe agradecer também,
porque V. Exa. contribuiu para isso, que eu apresentei no ano
passado um Projeto de Resolução, nesta Casa, da instituição de
um selo editorial da Câmara de Vereadores para incentivar a
publicação de jovens autores. Aqueles que não têm
oportunidade no mercado editorial e que saem pedindo ajuda a
um e outro para publicar o seu livrinho de poesia, para publicar
a sua obra.
Então, eu apresentei aqui, a Câmara de Vereadores
aprovou, o título do selo é o seguinte: Selo Editorial Castro
Alves, justamente para homenagear o nosso poeta maior. Seria
mais uma homenagem da nossa cidade para o nosso poeta
maior.
A Câmara de Vereadores aprovou e já, no próximo
semestre, esse selo editorial já vai começar a publicar obras
com o foco, sobretudo, não é nem nos jovens autores, é nos
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novos. Porque novos autores podem ser novos autores com
idade mais madura e novos autores com a idade mais jovem
também.
Então, são para os novos autores de qualquer idade
porque a eles são negados diariamente, inclusive antes de
terminar esta sessão vou trazer um prospectozinho para
distribuir para que vocês possam ver a importância desse selo.
Muito obrigado, vereador Odiosvaldo Vigas.
Parabéns mais uma vez por sua iniciativa.
SR. VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Obrigado,
vereador Everaldo Augusto.
Convidamos agora os alunos da Escola Castro Alves para
a sua apresentação.
(APRESENTAÇÃO DOS ALUNOS DA ESCOLA CASTRO
ALVES)
SR. VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Convidamos
agora o Padre Oseas Alves do Nascimento, da Igreja Católica
Apostólica Independente, da Boa Vista de São Caetano, que
usará o tempo de 10 minutos para falar.
Antes, queremos registrar a presença de Vida Bruna,
assessora parlamentar da vereadora Fabíola Mansur,
representando-a nesta Sessão Especial, e da professora
(inaudível), do Colégio Castro Alves, e também de Marcos
Vinícius Barbosa, vice-presidente da Associação dos Arquivistas
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do Estado da Bahia. Uma salva de palmas aos companheiros
que estão aqui abrilhantando a sessão.
PADRE OSEAS ALVES NASCIMENTO: - Quero dar uma
boa tarde a todos vocês, irmãos e irmãs. Quero registrar e
agradecer o convite do vereador Dr. Odiosvaldo Vigas, que
preside esta sessão, e também, na sua pessoa, saudar toda a
Mesa, fazendo uma reverência especial ao vereador que usou a
palavra agora há pouco, vereador Everaldo Augusto.
Quero também agradecer o convite da Igreja Católica
Apostólica Independente, que está aqui hoje, na Câmara
Municipal de Salvador. Isso significa dizer que, realmente, os
ideais de liberdade e de respeito às diferenças do poeta Castro
Alves estão sendo seguidos de perto.
A Igreja Católica Apostólica Independente atua nas
comunidades de Salvador e é uma igreja de base brasileira,
portanto, assim como Caymmi e Castro Alves, é uma igreja que
nasce na Terra Mãe, chamada Brasil.
Ao estarmos aqui, significa dizer que mais uma barreira
da discriminação religiosa, do desrespeito às minorias está
sendo vencida.
Quero também fazer um registro, que a senadora Lídice
da Mata foi relatora de uma CPI do tráfico humano em Brasília,
me passou alguns dados e eu vou citar para vocês. Por exemplo:
o combate ao tráfico humano, no Brasil, é tão tímido e tão
insuficiente, que nos últimos vinte anos, apenas 867 inquéritos
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foram formalizados pela nossa Justiça. No ano de 2010, para
vocês terem uma ideia, apenas dois casos foram tratados pelo
Ministério Público Federal em todo o Brasil.
Também, apenas nestes últimos anos, segundo o próprio
vereador Odiosvaldo Vigas disse neste instante, cerca de
duzentas mil pessoas vivem no Brasil sob algum tipo de
trabalho escravo, seja sexual, seja braçal, seja exploração de
trabalho infantil.
Vivemos em uma terra que é mãe, mas para cerca de
duzentas mil pessoas ainda é uma terra madrasta, que não
cuida e abandona os seus, e uma mãe não abandona os seus
filhos.
Também é preciso dizer que o tráfico de pessoas não é
apenas para exploração sexual, é para o trabalho escravo e
também o tráfico de órgãos, algo que é alarmante na sociedade.
Segundo estimativas do Jornal O Globo, esta quadrilha
movimenta mais de sessenta bilhões de reais por ano por ano
debaixo das barbas das nossas autoridades.
É preciso, meus irmãos e minhas irmãs, que assim como
a Igreja Católica Apostólica Romana, neste ano, na sua
Campanha da Fraternidade nos alerta para o tráfico de pessoas,
é preciso que a sociedade, de uma maneira geral, todos nós,
devotos e admiradores de Castro Alves, possamos combater
continuamente o tráfico humano, o desrespeito às minorias e à
falta de amor na sociedade.
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É preciso que esta sessão seja ecoada para além dos
muros da Câmara de Vereadores, que é a Casa do Povo, é
preciso que nós sejamos divulgadores, fomentadores, mas
acima de tudo, que denunciemos todo e qualquer tipo de caso
de exploração sexual ou de outras explorações.
É necessário que a sociedade se mantenha vigilante, que
a sociedade se mantenha constantemente empenhada no papel
de cuidar do seu povo, porque uma sociedade que não cuida,
que não protege as crianças, é uma sociedade que não tem
futuro.
Castro Alves, que talvez seja, na História do Brasil, a
figura mais importante na defesa dos escravizados, quando
numa época esta defesa não era tão forte assim, só que, como
disse muito bem um historiador, os resquícios, as heranças do
tempo da escravidão ainda estão longe de desaparecer na nossa
sociedade, principalmente na cidade mais negra do mundo fora
da África, que é a Cidade do São Salvador da Bahia.
A nossa cidade ainda está longe de conseguir proteger
aqueles que mais sofrem. Dias e dias crianças são exploradas
nas sinaleiras da cidade, são abandonadas nos pontos de
ônibus, fazem trabalhos braçais e ainda são exploradas por
outros adultos, que as usam para garantir benefício financeiro.
É preciso, vereador Odiosvaldo Vigas, que a sua menção,
que a sua iniciativa continue a se perpetuar para construirmos
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uma sociedade mais humana, mais cordial e que ame
verdadeiramente os seus adeptos.
Quero agradecer o convite e dizer que a Igreja Católica
Apostólica Independente continuará na sua tarefa
evangelizadora, mas, acima de tudo, libertária, no respeito, no
serviço as diferenças, sejam elas quais forem.
Precisamos garantir o respeito também aos que estão
explorados sexualmente; aos homossexuais, que muitas vezes
são taxados de portadores do vírus HIV, que não têm direitos
reconhecidos e que continuamente são desrespeitados pelas
religiões brasileiras.
Todos os seres humanos merecem respeito, merecem
dignidade e merecem também admiração, porque todos nós
somos humanos e somos filhos de Deus, quero encerrar esse
pronunciamento dizendo isso a cada um de vocês, presentes
aqui, nesta tarde.
Quero, também, registrar a presença do padre Márcio
Tranquilli, que é uma das vozes mais importantes na Bahia e
em Salvador na pregação da diversidade sociocultural.
O historiador disse que todos aqui convivem muito bem
com as religiões de matrizes africanas. É porque estamos na
Bahia, historiador! Em nenhum lugar do mundo. Digam o
quiserem, estar na Bahia é diferente, ter nascido nesta terra é
diferente, ser filho desta terra é diferente, por isso,
homenageamos dois filhos ilustres. Que Caymmi continue com
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sua poesia a abrilhantar o nosso dia, e que Castro Alves
continue denunciando as mazelas da nossa sociedade. Não
vamos permitir que esse amor, que esse trabalho seja
esquecido. Levantem o standard da batalha, porque a liberdade
é o bem mais precioso de uma sociedade.
Muito obrigado.
SR. VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Obrigado, padre
Oséias, pela sua brilhante fala.
(APRESENTAÇÃO DO POETA GILBERTO)
SR. VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: - Obrigado, poeta
Gilberto, uma salva de palmas.
Com a palavra, a presidente da Fundação Cidade Mãe, a
Sra. Risalva Teles Cotrim, que irá falar por um breve momento,
cinco minutos.
SRA. RISALVA TELES COTRIM: - Boa tarde a todos.
Gostaria de cumprimentar a Mesa em nome do vereador
Odiosvaldo Vigas, e a todos aqui presentes. Infelizmente, os
meninos da Fundação já foram, mas Eliane Braz e Célia Vigas
estão presentes.
Quero agradecer o convite dessa oportunidade, de ter
vindo aqui, os meninos da Fundação Cidade Mãe, tinha uma
unidade no Nordeste de Amaralina, que a Crista Vida, e dizer a
vocês que a gente se sente muito feliz de estar aqui, nesta Casa,
que é uma Casa do Povo, homenageando um grande poeta. E
este grande poeta e a sua poesia, nós queremos, estamos
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lutando, para levar para as crianças, os jovens atendidos pela
Fundação e levar, acima de tudo, o conhecimento, a certeza e a
consciência de que só o conhecimento, só a leitura, só o estudo,
liberta.
Portanto, nós queremos incentivar esses jovens, motivar
esses jovens, seduzir esses jovens para as coisas boas, para a
leitura, para a poesia e para outras oportunidades de trabalho,
para saber que trabalho dignifica o homem e que trabalho
liberta o homem. O trabalho não escravo, mas o trabalho
intelectual, o trabalho da consciência, o trabalho digno.
Quero, neste momento, agradecer, mais uma vez, e
parabenizar Odiosvaldo por esta iniciativa, e por ter dado esta
oportunidade aos jovens da Fundação Cidade Mãe, por estarem
aqui presentes, para mostrar que eles estão gostando de ler,
que eles estão gostando de fazer poesia, e que eles podem ser
grandes poetas.
Obrigada.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Convidamos agora, o represente do secretário de Cultura do
Estado da Bahia, o Sr. Albino Rubim.
O Exmo. Sr. Denilson Padilha utilizará da palavra por cinco
minutos.
SR. DENILSON PADILHA: - Boa tarde a todos e a todas.
Eu, em nome do Exmo. Sr. secretário Albino Rubim, gostaria de
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agradecer a oportunidade de estar presente cumprimentando o
vereador Odiosvaldo Vigas e agradecendo pela oportunidade.
As minhas palavras são breves. A Bahia e, por
conseguinte Salvador, respira Castro Alves, mas, ainda hoje,
Dia Nacional da Poesia, assim denominado por ser um dia em
que se comemora o nascimento do nosso poeta maior.
Nós, hoje, no século XXI, acreditamos que precisamos
aprender com o poeta que usou a palavra, independente da sua
arte, da literatura, da recriação semântica que a palavra da sua
poesia tinha, ele usou a palavra como prática política, em nome
da justiça.
Eu creio que seja este o maior legado deixado pelo poeta:
fazer justiça, desierarquizar discursos com as mais diversas
conquistas do espírito humano, acho que esse é o aprendizado
que devemos ter com ele. Essas conquistas do espírito humano
a que me refiro são: a palavra, as artes, de modo geral, os
ofícios, as políticas públicas, em nome de se construir uma
sociedade mais justa, em nome de perpetuar esse objetivo maior
que foi de Castro Alves, que foi a ‘liberdade e a justiça’.
E por aqui encerro, pedindo viva à justiça, à liberdade e a
Castro Alves.
Boa tarde.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Passamos a palavra ao diretor executivo do CEPA,
representando também aqui o professor Germano Machado
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SR. IVAN DE ALMEIDA: - Boa tarde a todos e a todas,
saudações à Mesa, quero também parabenizar os
aniversariantes do dia: Castro Alves, Glauber Rocha e Abdias do
Nascimento.
O professor Germano Machado, vereador, por motivo de
força maior, não pôde se fazer presente, mas ele pede para ser
representado, e lembrar, sobretudo, de Glauber Rocha, um
cepista histórico que passou pelo CEPA, nossa entidade que, em
13 de junho próximo, comemora 63 anos, uma entidade
cultural que já prestou muitos serviços à cultura de nosso
Estado, de Salvador e, que, por muitos anos, esteve com o
vereador e ainda está com Odiosvaldo, fazendo atividades
culturais, participando dos eventos aqui na Casa, sobretudo
todo o evento do 14 de Março, que é um evento tradicional, um
evento que podemos considerar que marca a nossa cidade,
como capital da poesia, pela força que os nossos poetas, que a
nossa poesia tem de resistir e de persistir. E é com esta força
que nós prosseguimos fazendo as atividades, sendo nos espaços
públicos, sendo na Casa do Povo, sendo na praça, sendo nos
ônibus.
Então, neste Dia da Poesia, que é o dia também da
liberdade, é o dia de Castro Alves, eu gostaria que todos dessem
uma salva de palmas para os poetas e para o próprio Castro
Alves.
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A poesia que está em nossa concepção tem o papel de dar
sua contribuição para a salvação de um mundo cada vez mais
materialista e egocêntrico.
Bem, além do Castro Alves, que é o grande homenageado da
sessão, não podemos deixar de homenagear e de lembrar o
aniversário de Glauber. Em 14 de março de1939 nasceu um
grande homem, que fez a nossa Bahia ser conhecida como
celeiro do cinema e é impossível não se lembrar do cinema
brasileiro, e até do cinema internacional, do cinema novo, sem
lembrar o nosso cepista e baiano, Glauber Rocha.
E, também, não podemos deixar de lembrar o centenário
de Abdias do Nascimento.
O Movimento Negro Brasileiro deve muito a este homem e
nós não poderíamos deixar de dar uma salva de palmas para o
centenário de Abdias do Nascimento, por favor. Homens como
Castro Alves, Glauber Rocha e Abdias do Nascimento devem ser
lembrados sempre, sempre e sempre.
Viva a poesia!
Parabéns a todos que fazem deste evento ser um marco
na história da poesia baiana. É um evento que é tradicional na
cidade e o vereador está de parabéns ao encabeçar uma
atividade cultural tão importante e tão significativa no
calendário da cultura baiana.
Muito obrigado.
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SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Obrigado, Ivan de Almeida.
Convidamos Fabrício para falar por cinco minutos e,
posteriormente, a Irmã Anajá.
SR. VEREADOR FABRÍCIO TORRES: - Senhor presidente
desta sessão, vereador Everaldo Augusto, senhor responsável
pela sessão solene de hoje, vereador Odiosvaldo Vigas, que ao
longo da sua trajetória política nesta Casa já convocou
inúmeras outras sessões como esta, e vem conduzindo
brilhantemente estes trabalhos aqui nesta Casa e na nossa
cidade.
Queria também cumprimentar os demais membros desta
Mesa, me sinto muito honrado de estar aqui fazendo parte desta
Mesa e desta sessão, uma homenagem que fazemos a Castro
Alves.
Coloquei aqui algumas palavras que eu gostaria de dividir
com vocês nesta homenagem que estamos fazendo aqui a
Castro Alves.
Eu me refiro também, nesta homenagem, a Abdias do
Nascimento, como Ivan também colocou.
Esta Casa, através desta iniciativa do vereador
Odiosvaldo Vigas, está homenageando aqueles que através da
sua arte não nos permitem esquecer os terrores do passado
escravo e promovem a ampliação de espaço nas relações
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sociais, direitos e, sobretudo, perspectivas para a população
afrodescendente brasileira.
Castro Alves e Abdias do Nascimento lutaram ao longo
das suas vidas por liberdade, buscando dar vez e voz para
aqueles que se encontravam oprimidos.
Infelizmente, hoje ainda não será o dia em que poderemos
falar em equidade social no Brasil, pois embora tenha se
avançado muito na conquista de direitos, ainda estamos longe
de assegurar a igualdade de direitos e também de
oportunidades.
A busca e conquista do direito dos afrodescendentes no
Brasil tem relação direta com a vida e a obra de Castro Alves e
também de Abdias do Nascimento.
O poeta condoreiro deixou a vida muito jovem, mas a
forma bela como retratou a trágica vinda dos povos da África
para o Brasil registrou de forma tão significativa suas ideias, a
tal ponto de tornar-se um marco fundamental na literatura, na
história, no direito, enfim, na cultura brasileira em geral.
Abdias do Nascimento percorreu caminho semelhante,
vivendo, porém, muito mais, nos deixando somente em 2011,
aos 97 anos de vida, de dedicação integral ao Brasil e a América
Latina.
Em 2014, Abdias do Nascimento completaria 100 anos.
Hoje, 14 de março.
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A sua biografia ao mesmo tempo em que nos inspira, nos
desafia, pois Abdias subverteu o teatro brasileiro, colocando em
cena atores e atrizes negras, através do TEN, Teatro
Experimental do Negro.
O que motivou a criação desse exitoso grupo por Abdias
deveu-se ao fato de ter assistido a peça Imperador Jones, de
Eugene O’Neill, em Lima, Peru, no ano de 1940, na qual o
personagem do Imperador Jones, um personagem negro, estava
sendo interpretado por um ator branco, caracterizado como
negro.
Pode-se argumentar que o espaço do palco é de ficção,
são representações e que, devido a isso, não se pode
caracterizar tal escolha, a de um ator branco se passar por um
personagem claramente negro, como discriminação, preconceito
ou racismo.
Abdias não pensava, vereador Odiosvaldo, dessa forma.
Não concordava com esse tipo de pensamento. Ao contrário, se
colocou radicalmente contra, dando início a uma das
experiências mais significativas da arte dramática brasileira: a
do Teatro Experimental do Negro.
O Universo parecia conspirar a favor dele. A aventura
humana desenvolvida pelo TEN foi tão proveitosa que teve como
consequência uma sequência de trabalhos tão grande, e por
tanto tempo, que proporcionou o alavancar das carreiras
artísticas de inúmeros atores negros no Brasil para além do
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próprio Teatro Experimental do Negro, seja na televisão ou
mesmo no cinema.
A sociedade brasileira e a classe artística, da época, mais
do que convergiam com o pensamento de Abdias. Ansiavam
para ver os trabalhos produzidos por seus artistas. O que se
explica porque ocorreu uma mudança de paradigma na cena
nacional por dois motivos correlatos: inicialmente, porque o
critério ético aplicava-se nas artes. Atores e atrizes negras
assumiam os seus papeis em cena e também na sociedade,
vivenciando um processo de afirmação e de ascensão social, o
que é muito importante.
Consequentemente, esse processo de afirmação tanto do
ponto de vista do que se pensava sobre o negro no Brasil,
quanto do ponto de vista do que tanto se refletiu no mundo de
hoje, não há possibilidade de criar um simulacro tão falso que
conduza o público a acreditar naquilo que está sendo
apresentado sem o mínimo de coerência.
O teatro é simulacro, seja na cena feita com a finalidade
de convencer a plateia daquilo que está sendo apresentado.
Dessa sorte, uma dramatização que apresente um ator branco
pintado de negro comete um grave erro de interpretação do
drama que encena.
O simulacro, para convencer, precisa estar acordado com
princípios mínimos que assegurem o consequentemente efeito
dramático à plateia, seja de catarse ou qualquer outro.
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A criação do Teatro Experimental do Negro não tem êxito
à toa. Em 1941, Abdias é preso - é importante fazer esse
registro – na penitenciária do Carandiru por ter resistido em
1936 a agressões racistas. Na prisão, funda o Teatro do
Sentenciado e depois que sai, só em 1944, é que tem início o
trabalho do TEN. Portanto, nada é feito à toa, nem de repente.
Abdias, com seu pensamento e trabalho, contribuiu
muito para o teatro brasileiro, para que sejam feitas escolhas
sábias na construção da cena brasileira. Hoje, acredito que
esteja mais próximo assistir aos dramas humanos, sejam
negros ou brancos, no mesmo espaço de encenação e de
avaliação; e também de relevância.
Muito obrigado, vereador, muito obrigado a todos.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Obrigado, Fabrício. Não tenho nem mais tempo para fazermos
uma sessão especial sobre o centenário de Abdias Nascimento
que, inclusive, foi o primeiro senador negro pelo PDT.
Antes de passarmos para a abertura dos poetas para
ocuparem espaço, deixamos justamente para fechar a Mesa
essa mulher importante na nossa cidade, representando a
Igreja Católica, Exma. Sra. Irmã Anajá.
SRA. IRMÃ ANAJÁ: - Em nome da Igreja Católica Romana
da Arquidiocese de Salvador, da Conferência de Religiosos do
Brasil, CRB – Seção Bahia e Sergipe, e em nome da
Congregação a qual eu faço parte, Filhas do Coração de Maria,
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queremos agradecer ao vereador Odiosvaldo Vigas em seu nome
e de toda a Mesa, e parabenizar pela iniciativa dessa
comemoração dos 167 anos de Castro Alves, porque essa
comemoração vai fazer memória ao grande legado que ele
deixou para a Bahia e para todos.
Queria dizer também que, na verdade, quando o professor
Marcos Rezende falou que a escravidão acabou - e foi dito que
ela realmente não acabou -, ela hoje se manifesta de outra
forma, com outras modalidades. A escravidão se faz sobre
várias formas: a escravidão sobre o tráfico de seres humanos
para exploração sexual, para trabalho escravo, para adoção
ilegal, e como já foi dito também, para transplante de órgãos.
E a nossa Cidade do Salvador, quando fazemos memória
a esses grandes poetas, a essas grandes figuras, que foram
figuras abolicionistas de libertação, como Castro Alves, como
Caymmi e tantos outros, a Cidade do Salvador é uma porta
grandiosa para o tráfico porque é uma cidade turística, é uma
cidade do Nordeste onde se concentra grande número de
pessoas de classe baixa, pessoas pobres e, sobretudo, aqui em
Salvador, onde temos muitas mulheres, e negras, que sofrem
porque são chefes de família, sofrem porque não recebem ajuda
do companheiro. O machismo aqui em Salvador é muito
ferrenho e todos nós sabemos.
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Isso tudo contribui para que haja rede de favorecimento
para que essas pessoas sejam facilmente colocadas na porta de
entrada para o tráfico de pessoas.
Queremos dizer também que a Arquidiocese, juntamente
com a CNBB, teve essa visão clara e preventiva de lançar, neste
ano de 2014, uma campanha da fraternidade voltada para a
questão do tráfico humano, pensando nessa questão da Copa.
Quando aconteceu a Copa na Alemanha, cerca de 20%
das mulheres foram traficadas. Na Copa da África, 40%. E
nessa proporção, tendo em vista como é que se trata a realidade
brasileira da mulher, sociedade do terceiro mundo, nós
podemos perceber a proporção em que as mulheres estão
expostas a esse tipo de mercado.
Queria também dizer que 81% das mulheres traficadas
são mulheres jovens, até 30 anos, entre 15 e 30 anos, e que
50% dessas mulheres têm menos de 18 anos. E falamos ainda
que são mulheres basicamente negras e de classe social mais
baixa.
Gostamos também de atentar para que uma pessoa
traficada chega a custar 30 mil euros por ano. Então, mulheres
e crianças são chamadas de moeda de ouro, e quanto mais
jovens, mais o valor aumenta.
Este mercado de tráfico gira em torno de 32 bilhões de
dólares por ano. Então, é um mercado que está entre nós,
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existem pessoas que fazem parte deste mercado, desta rede,
muitas vezes nós conhecemos.
Por falar em Salvador, nós sabemos que esta rede de
favorecimento são os hotéis, são as lanchonetes, os
oferecimentos de massagem, pensionatos, cinemas, ruas,
motoristas de táxi, muitas pessoas podem ser a porta de
abertura para poder fazer o tráfico de pessoas.
Mas temos que dizer também que o vereador Odiosvaldo
Vigas suscita esta homenagem a Castro Alves, e é uma justa
homenagem, porque nós somos chamados aqui nesta sessão de
hoje a sermos novos Castro Alves e não podemos nos calar,
silenciar desta situação, e que ela pode ser silenciosa, mas que
há um número grandioso de pessoas que estão envolvidas.
E, para concluir, eu gostaria que nós olhássemos para
estas cadeiras. Estas cadeiras estão vazias, mas foram
marcadas pela presença de crianças. Nós precisamos olhar para
as nossas crianças e protegê-las. As nossas crianças estão à
mercê de muitos movimentos. Ás vezes, uma criança que não
tem casa, não tem parente, não tem afeto, e chega uma pessoa
que oferece aquilo que lhe falta, é um bombom, é uma roupa
nova, é uma atenção maior e estas crianças são envolvidas.
Então, olhar para estas cadeiras que estavam as crianças
e perceber que a nossa gente não é mercadoria. Precisamos
neste tempo, sobretudo em razão da Copa, enfrentar o tráfico de
pessoas, que é o nosso compromisso. E ainda neste tempo
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perceber que cada um de nós foi chamado, nasceu para a
liberdade.
Obrigada.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Importante o seu fechamento trazendo esses dados, como
também o Padre Oseas trouxe dados importantes, mostrando o
quanto atual e contemporâneo está a homenagem à obra do
poeta Castro Alves.
E para encerrarmos a nossa atividade, está aberto o início
à participação dos nossos poetas. Agora, os poetas podem
começar a declamar, o espaço é de vocês.
(APRESENTAÇÃO DE POETAS DECLAMANDO POESIAS)
POETA DAS FLORES WALTER: - ...Como eu me
encontrei, vereador Odiosvaldo Vigas, eu trouxe duas flores,
cujos números são muito interessantes. Separei para o senhor e
para a Sra. Aidil. Trouxe, também, este livreto, é o primeiro a
quem ofereço, para que o senhor, no momento em que estiver
descansando, possa ler.
Muita paz e felicidade para todos e que o mundo seja bem
longo, quero dizer, o mundo grande. E que nós possamos viver
o tanto quanto Deus queira, que seja de paz, saúde e dando
felicidade.
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“Assim eram os sonhos de infância, mas hoje ainda trago a
lembrança de tudo que ali passei.
Nunca vi a terra encharcada, nem folhas nas plantas molhadas,
nem bichos gordos crescendo.
Era aquela seca danada, minha gente tão maltratada e muitas
vidas morrendo.
Vi caçadores voltando tristes, mães de família com o corpo em
riste, sempre achando que Deus proverá.
Lá nas matas nada mais se encontrava.
Como alimentar a criançada, crescendo sem poder parar?
Pescadores por lá não existiam, porque a água nunca o rio
enchia, quando a chuva do céu pouco alegrava.
Parecia que o criador aquele povo esqueceu, pois tanta angústia
nos deu, nessa labuta que não tem palavra.
Dói mesmo rever aqueles tristes momentos, sabendo que o
pensamento sempre me levará ao sertão, pois lá tudo ainda é
igual, enquanto aqui, se vive feito animal, esquecendo que todos
são irmãos.
Viva à poesia”.
Josué Ramiro Ramalho, para vocês
SR. JOSUÉ RAMIRO RAMALHO: -
“De tudo, ao meu amor, serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
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Que mesmo em face de maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
quero vivê-lo em cada vão momento.
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer do amor que tive
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure”.
Vinícius de Moraes.
Obrigado.
Cláudio Dórea de Simões Filho.
Agradeço a oportunidade e boa tarde para todos.
APRESENTAÇÃO DE POETAS DECLAMANDO POESIAS
“Estátuas, estátuas a banhar-se no chafariz.
Fato divertido à minha visão poética
Porém que me remete a uma reflexão infeliz
Crianças, banhando-se em praça pública
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Problema que aguça a minha crítica à ética
Verdade contundente no meu coração lírico
Coração que se diverte com praças que passam.
Coração que se fere com injustiças que ficam.
Ferido, triste e envergonhado por pertencer a uma espécie que
ergue monumentos aos que já foram e deixam morrer de
inanição os que ainda estão.
Os mortos não revivem com monumentos
Os vivos não sobrevivem sem alimentos
Indigno-me, esqueço o poético, assumo o político
Que o dinheiro a usar em estátuas, sejamos menos estátuas,
sejamos menos isentos
Que o dinheiro usado em estátuas seja revertido em habitação,
saúde, educação, alimentação, lazer, saneamento, para que
tenhamos mais dignidade no viver e não sejamos como uma
lápide, fria feito cimento.”
“Dama Negra – Por que tardas (nome original)
Porque tardas, meu anjo! Vem comigo.
Serei teu.
É um doce abrigo a tenda dos amores!
Quando a chuva atravessa o peregrino
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Quando a rajada a galopar sem tino
Açoita-lhe na face
Em meio à noite, em cima dos rochedos
Rasga-se o coração, ferem-se os dedos.
E a dor cresce e renasce...
A porta dos amores entreaberta,
É a cabana erguida em plaga incerta,
Que ampara do tufão.
O lábio apaixonado é um mar em chamas
E os cabelos, rolando em espadanas,
São mantos de paixão.
Oh, amar é viver
E deste amor santo,
Taças de risos, beijos e de prantos,
Longos, longos, sorvos beber...
No mesmo leito adormecer cantando
Num longo beijo, despertar sonhando
E num abraço morrer.
Oh, amar é ser Deus,
Olhar ufano,
O céu azul, os astros, o oceano,
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E dizer-lhes: sois meus.
Fazer com que o mundo se transforme em lira
Dizer ao tempo: Não, tu és mentira
Espera, que eu sou Deus.
Amemos, pois se sofres tereis pranto
Que hão de rolar por terras, tantos, tantos...
Como chora um irmão.
Hei de encostar-te no meu peito.
Velar por ti, dormida sobre o leito,
Bem como a luz no altar.
Te embalarei com uma canção sentida,
Que minha mãe cantava enternecida,
Quando ia me embalar.
Ah, fora belo unidos em segredo,
Juntos, bem juntos... trêmulos de medo
De quem entra no céu,
Desmanchar teus cabelos delirantes,
Beijar teu colo.
Oh, vamos minha amante!
Abre-me o seio teu.
Eu quero ver o teu olhar de áureos fulgores
Ver desmaiar a febre dos amores... fitos, fitos, fitos em mim.
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Eu quero ver o teu peito intumescido.
Ao sopro da volúpia, arfar erguido,
Feito oceano de cetim.
Não tardes tanto assim, esquece tudo.
Amemos, pois amar é um santo escudo.
Amar é não sofrer.
Eu não posso ser de outra,
Tu és minha,
Almas que Deus uniu na balça edênea
Hão de unidas viver.
Meu Deus, só eu conheço as harmonias,
Que tens no coração.
Vem, serei teu poeta, teu amante.
Vamos sonhar no leito delirante,
No templo da paixão.”
(Castro Alves)
POETA DECLAMANDO:
“Eles falam em liberdade,
E, no entanto, é só a continuação modificada da escravidão.
Te dão cargos e laureis, teu nome é escrito nos clichês dos
cartazes,
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E fazem a festa da falsa abolição,
Mudando apenas de senhor, de feitor, de capitão.
Ainda é a mesma opressão
Ainda é o mesmo preconceito
Ainda é a mesma discriminação.
Antes, eram os coronéis, sanguinários e estúpidos,
Hoje, são os espertos políticos modernos.
Antes, a escravatura no corpo, na pele negra
Hoje, a escravidão total
Alma, ideia, ação
A mesma ideologia intolerante e vazia da exploração dominante
Disfarçada de libertação.
Eles pregam a liberdade da alienação e do cinismo,
E te prega a falsa luz de teu candeeiro,
Te açoita a consciência no pelourinho das retóricas anestésicas
Te oferece uma chance de ascender
De poder frequentar as varandas das casas grandes
Aos atabaques
Vez por outra, permite que frequentes os salões pelas portas
dos fundos, divertidos.
Mesmo assim, só depois que te tornastes um arremedo deles,
Para também (...)
(INAUDÍVEL)
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SR. EVERTON LIMA: - O primeiro poema que eu fiz agora
há pouco, é de minha autoria, Everton Lima, e está no meu
livro Elo Fraterno. E eu dou continuidade no meu próximo livro,
Elo Poético - Estátuas II, que é também uma homenagem a
quem está também completando 100 anos neste ano, que é o
nosso Dodô, o inventor da guitarra baiana, que trouxe um
carnaval tão bonito na nossa cidade e o projetou em todo
mundo.
“Não quero Castro Alves gélido,
Estático no meio de uma praça.
Quero antes, vivo e pulsante,
Na memória e no recitar de uma criança.
Não quero estátuas nem bustos,
Para eternizar os que gosto.
Dodô e Osmar sejam lembrados pela obra,
Pela façanha do pau elétrico, do trio,
Do talento que sobra.
Não quero viaduto Raul Seixas... seja lembrado pela sua
obra...”
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Perdão, perdi o poema. Vou chamar o colega e depois faço
melhor.
SR. CLÁUDIO DÓREA: - Boa tarde, mais uma vez. Eu sou
Cláudio Dórea, de Simões Filho, agradeço a recepção da
Câmara, em nome de Odiosvaldo, e dou continuidade a recitar.
“Oh, pátria amada, tu és dourada feito Sol,
Tu és de laço e de nó.
Oh, pátria amada,
Tu és desrespeitada por alguns cidadãos.
Tu és meio de vida, fonte das ambições.
Oh, pátria amada,
A liberdade está lançada sob o povo brasileiro,
E com os meus punhos fortes
Eu jamais te deixarei ao léo da sorte,
Jamais tu voltarás para o cativeiro.”
Cláudio Dórea, de Simões Filho.
Obrigado.
SR. EDGAR VELAME: - É isso aí, quero agradecer a todos
por este momento muito importante, que é o dia 14 de março, o
dia que a Casa do Povo está sempre aberta para falar do nosso
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grande poeta, do gênio, Antônio Frederico de Castro Alves, mais
conhecido como Cecéu.
Eu vou ofertar os meus parcos versos abutres.
Venham, abutres, se nutrir,
Minha carniça está aqui.
Eu tenho medo de ver meus ossos descarnados,
Se arrastando pelo chão,
E os pobres e cegos de fome,
Pensam que cai um pedaço de pão.
Querem mais? Vão para o sertão.
Vejam um monte de cadáveres ambulantes
E suas tristes ilusões.
As sepulturas estão abertas,
Mas não prestam porque os ossos estão no chão
E no mortuário não.
Está chegando o fim,
Hoje é a véspera dos seus corpos,
Hoje, meu peito está rasgado,
Expelindo balas da minha cabeça, rabussiva
São os meus versos mal rimados,
Estourando as minhas veias.
Venham, abutres, se nutrir, minha carniça está aqui.
Então pessoal, dando fim, a boca, a boca, a boca, “cabou”.
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Muito obrigado a todos, uma boa tarde e sonhem com a
poesia, e beba a poesia, embriague-se de poesia. É preciso estar
embriagado, mas de arte, cultura e poesia.
Obrigado, Odiosvaldo, mais uma vez, pela poesia na boca
do povo.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ODIOSVALDO VIGAS: -
Obrigado, companheiro.
Antes de encerrar a sessão, gostaria de dizer, como falei, a
escravidão continua a existir e o ruidoso silêncio que a
escravidão moderna representa não fala nos milhões de
escravos na África, na Ásia, na América Latina e no próprio
Ocidente, dizendo que está viva a obra de Castro Alves.
Viva a poesia, viva a Castro Alves, viva a liberdade.
Declaro encerrada a sessão.