Download - Sis. Logísticos - Carne
Bovinocultura: Carnes
A Bovinocultura trata das técnicas para a criação de bovinos e tem múltiplas
finalidades dentro da produção de matérias primas e trabalho. Embora restrito nos dias
atuais, no passado o trabalho bovino foi fundamental nos transportes (tração
de carros e montaria), na lavoura (arado) e no lazer (a tourada e o rodeio moderno).
Além da carne, do leite e do couro, o boi fornece ainda outras matérias primas como
os ossos e vísceras. Também no passado o estrume foi considerado fundamental
para refertilização dos campos agricultáveis.
A bovinocultura, como arte de criar, demanda o conhecimento do bovino e do
seu ambiente criatório, sendo necessário, por um lado, conhecer sua reprodução, suas
características raciais, seu comportamento e suas necessidades nutricionais. Por outro
lado é preciso saber manejar as pastagens, sua principal fonte de alimentação,
as doenças que os atacam e como preveni-las, assim como conhecer as construções e
instalações para manter bovinos.
Ao final de 2004 a bovinocultura brasileira era praticada em quatro milhões
de propriedades rurais, envolvendo 200 milhões de cabeças, 28 milhões das quais foram
abatidas em frigoríficos oficiais para consumo interno e exportação e mais cerca de 10
milhões tiveram outro tipo de abate (38 milhões foi o número de peles bovinas
processadas nos curtumes brasileiros). E foi neste mesmo ano que o Brasil se tornou o
maior produtor (8,5 milhões de toneladas de carcaças) e maior exportador
de carne bovina com os maiores produtores brasileiros que são os estados de Mato
Grosso do Sul e Minas Gerais.
Segundo dados de 2012 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), o Brasil possui 1,3 mil unidades frigoríficas em atividade, das quais 206 têm
seus abates inspecionados pelo governo federal, 422 unidades são inspecionadas pelos
governos estaduais e 762 unidades têm controle sanitário a cargo dos municípios. Esse
sistema de controle tem funcionado muito bem nos estabelecimentos que contam com o
Serviço de Inspeção Federal (SIF). O serviço responde por 22,7 milhões dos atuais
animais abatidos, menos da metade de sua capacidade instalada, estimada em 65
milhões de cabeças, de acordo com o SIF. A maior parte desse abate é promovida em
unidades de grandes grupos, entre eles JBS, Marfrig e Minerva.
Legislação Vigente
O SIF é resultado de ação preventiva dos fiscais federais agropecuários nas
instalações industriais onde ocorre o abate, o processamento e o armazenamento de
produtos de origem animal. As inspeções atestam a qualidade sanitária dos produtos,
que aprovados, recebem o carimbo e autorizam a comercialização.
O Ministério da Agricultura possui legislação específica para tratar de requisitos
sanitários que regem toda vida do animal, desde a criação até o seu abate e trânsito. O
Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal
(Riispoa), legitimado pelo Decreto nº 30.691/1952, prevê normas de inspeção industrial
e sanitária ante e post-mortem, recebimento, manipulação, transformação, elaboração e
preparo. Abrange, ainda, fiscalizações no estabelecimento e no rebanho em cada etapa
de criação e produção. Os ficais examinam as áreas dos matadouros e frigoríficos e
verificam a aplicação dos programas de autocontrole que devem ser implantados, a
documentação e as condições de saúde do animal. Logo após o abate, são
inspecionadas as vísceras e carcaças.
Algumas das instruções normativas, ordens e portarias que devem ser
respeitadas para o comércio de produtos de origem animal:
Instrução Normativa nº 05, de 7 de fevereiro de 2013;
Instrução Normativa nº 53, de 16 de novembro de 2009;
Ordinance nº 210, dated november 10, 1998;
Portaria nº 210, de 10 de novembro de 1998.
Cenário Mundial
A bovinocultura é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no
cenário mundial. O Brasil é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com
cerca de 200 milhões de cabeças. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas
exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em
mais de 180 países.
O rebanho bovino brasileiro proporciona o desenvolvimento de dois segmentos
lucrativos. As cadeias produtivas da carne e leite. O valor bruto da produção desses dois
segmentos, estimado em R$ 67 bilhões, aliado a presença da atividade em todos os
estados brasileiros, evidenciam a importância econômica e social da bovinocultura em
nosso país.
O clima tropical e a extensão territorial do Brasil contribuem para esse
resultado, uma vez que permitem a criação da maioria do gado em pastagens. Além
disso, o investimento em tecnologia e capacitação profissional, o desenvolvimento de
políticas públicas, que permitem que o animal seja rastreado do seu nascimento até o
abate, o controle da sanidade animal e segurança alimentar, contribuíram para que o
país atendesse às exigências dos mercados rigorosos e conquistasse espaço no cenário
mundial.
Mercado Interno
O Brasil é um grande produtor mundial de carnes (bovina, suína e de aves),
produzindo cerca de 24,5 milhões de toneladas do produto em 2010, sendo que cerca de
75% dessa produção é consumida no mercado interno (MAPA, 2011).
A pecuária é uma atividade de grande importância na economia brasileira.
Estima-se que a bovinocultura de corte gere um faturamento anual de mais de R$ 50
bilhões e empregue cerca de 7,5 milhões de pessoas em suas atividades (ABIEC, 2011).
Internacionalmente, a atividade também é de grande destaque, pois o Brasil
possui o segundo maior rebanho de bovinos do mundo, ficando atrás apenas da Índia. O
Brasil é, também, o segundo maior produtor de carne bovina atrás dos Estados Unidos e
o maior exportador mundial do produto, segundo a Food and Agriculture Organization
das Nações Unidas (FAOSTAT, 2011).
Com isso, a extensão do mercado de carne bovina brasileira torna-se grande,
abastecendo tanto a demanda interna como também fornecendo carne para os mercados
internacionais.
A produção de carne bovina brasileira é principalmente voltada para o
consumo interno. No Brasil, dos 21.756.402 abates registrados pelo Serviço de Inspeção
de Produtos de Origem Animal (SIPAs/DFAs), em 2010, Mato Grosso, Mato Grosso do
Sul e São Paulo representam juntos 45,73% do total de abates cada um, representando
17,51%, 14,26% e 13,96% da produção, respectivamente. Estima-se que nos próximos
10 anos o setor continue a crescer a uma taxa de 2,2% ao ano (MAPA, 2011).
A nova legislação que prevê a fiscalização da qualidade do produto e o esforço
empreendido pelo país para erradicar doenças contribui para o aumento da produção.
Em 2008, por exemplo, aproximadamente 59% do território nacional foram
considerados pela Organização Internacional de Epizootias (OIE), livres da febre aftosa.
Entre os diferenciais competitivos que o Brasil possui frente aos principais
países concorrentes destacam-se a grande extensão de terras, as quais permitem ganho
em escala e expansão da atividade pecuária, a genética bovina melhorada e adaptada ao
meio ambiente, a tecnologia necessária para aumentar os índices de produtividade e,
principalmente, as condições climáticas favoráveis à produção pecuária de baixo custo e
ambientalmente correta (Franco, 2003).
Entretanto, há aspectos que não são favoráveis à competitividade brasileira,
como a tecnologia (incluindo aspectos tecnológicos da pecuária do abate/processamento
e distribuição), a gestão e certificação, e as questões ambientais e sanitárias. Hoje,
alguns desses aspectos são pontos fortes (MAPA, 2011).
Mesmo que os frigoríficos se encontrem espalhados por todo Brasil
teoricamente não existe nenhuma imposição geográfica ou climática que impeçam a
abertura de uma unidade. Como mostra a Tabela x e a Figura X, isto não acontece de
forma homogênea, pois os frigoríficos ao longo do tempo passaram a se localizar mais
próximos aos maiores centros produtores, notadamente, na região Centro Oeste, devido
ao menor preço da terra nessa região e à pecuária de corte nacional estar baseada,
predominantemente, na forma extensiva, utilizando, principalmente, pastagem natural
ou plantada, que possibilita uma produção com um custo mais competitivo (Zucchi,
2010), diminuindo, assim, o custo de transporte dos animais vivos até os abatedouros e
evitando maiores perdas de peso, estresse animal, machucados na carne e diversos
outros problemas em se transportar animais vivos de uma região para outra.
Tabela X - Efetivo de bovinos em 31.12 e participação relativa e acumulada no efetivo
total segundo as unidades da federação.
Figura X - Distribuição das plantas frigoríficas bovinas no Brasil
*Fonte: (ABIEC, 2011)
Com a aproximação dos frigoríficos aos centros produtores, os custos de
distribuição e também de exportação da carne aumentaram e passaram a depender mais
da infraestrutura logística das estradas, uma vez que o transporte de carnes em longas
distâncias é feito, quase exclusivamente, via caminhões, em contêineres refrigerados até
os centros de destino ou portos onde é realizado o transbordo para os navios cargueiros.
Neste aspecto, (Zucchi, 2010) utiliza um modelo locacional dinâmico para
determinar a melhor localização dos frigoríficos de exportação, para redução dos custos
de transporte da matéria prima até o frigorífico e de lá para o porto mais próximo, assim
como o tamanho ideal de cada planta frigorífica para atender à demanda de cada estado
com relação ao mercado interno e externo. Os resultados encontrados foram que dos
custos ligados à instalação e operacionalização de um frigorífico, 79,4% seria para a
implantação da unidade, 1,2% do transporte do insumo da fazenda ao frigorífico, 3,6%
seriam custos do transporte da carne até o porto de escoamento e 14,1% do porto até o
país de destino final, ao passo que para o consumo interno os custos girariam em torno
de 1,7% do total.
Mercado Internacional
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes
(ABIEC), o Brasil exportou carne bovina in natura para 87 países em 2011. Os
compradores de carnes industrializadas no mesmo período foram 108. Miúdos e tripas
foram enviados a 62 destinos.
Figura Y - Participação dos maiores clientes de carne, tripas e miúdos em 2011, em
volume.
As exportações brasileiras de carne bovina in natura em dezembro/11 foram de
63,1 mil toneladas com receita de US$313,5 milhões, obtendo como preço médio
US$4.970/ton, conforme dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Tabela Y - Receita, volume, preço médio e variações anuais das exportações brasileiras
de carne bovina.
Em relação a nov/11 as exportações de dez/11 foram menores em receita e
volume, 17,7% e 13,1% respectivamente. Em novembro a receita foi de US$ 381
milhões e o volume foi de 72,6 mil toneladas.
Apesar dessa queda mensal, comparando o mês de dez/11 com dez/10 houve
crescimento nas exportações tanto em receita (9,9%) como em volume (7,7%). A receita
das exportações de dez/10 foram de US$ 285,3 milhões e o volume foi de 58,6 mil
toneladas.
A receita anual das exportações brasileiras de carne bovina está em crescimento
constante desde 2002, exceto por 2009 por causa da crise econômica mundial e a
desaceleração do comércio internacional. A receita recebida em 2011 de US$ 4.169
bilhões é a maior já recebida pelo país, sendo 4,7% maior do que a receita recebida em
2008, de US$ 4.006 bilhões, agora a segunda maior.
Gráfico X - Receita e volume acumulados ano a ano das exportações brasileiras de
carne bovina
Em relação ao volume exportado, este continua em queda desde 2007 quando foi
exportado 1,2 milhão de toneladas de carne bovina. Em 2011 foram exportadas 820 mil
toneladas. Essa redução do volume exportado vem propiciando um aumento no preço
médio recebido por tonelada. O preço em 2011 foi de U$ 5.083/ton, 25% maior do que
o preço médio recebido em 2010 de US$ 4.049/ton e 55,7% maior o preço médio de
2009, de US$ 3.264/ton.
Gráfico Y - Preço médio anual de venda da carne exportada
Quando comparada com dados mais atuais (Fonte: SECEX-MDIC), nota-se que
houve uma queda na valorização da carne bovina, que foi compensada com uma grande
expansão no número de toneladas exportadas, gerando assim, um faturamento 13%
maior que no mesmo período do ano anterior.
Figura Z – Evolução na exportação de carnes bovinas.
O Gráfico Y e a Figura Z nos demonstram esse aumento relativo no número de
toneladas de gados exportados quando comparado com o mesmo período do ano
anterior.
Gráfico Z – Evolução na exportação de carnes bovinas por tonelada.
Gráfico A - Evolução na exportação de carnes bovinas por US$.
Figura A - Exportações de carnes bovinas por produtos.
A Figura A nos mostra a relação da variedade de carnes bovinas exportadas com
sua determinada parcela no total das exportações, por tonelada e por US$ gerado.
O mercado internacional de carne bovina é dividido em dois grandes mercados,
o do Pacífico, onde os principais fornecedores são a Austrália, a Nova Zelândia, os
Estados Unidos e o Atlântico, basicamente formado pelos países integrantes do
Mercosul e fortemente dominado pelas exportações brasileiras. No lado dos
importadores, o mercado do pacífico é constituído principalmente por Japão e Coréia do
Sul, e no do atlântico o Oriente Médio, Europa e Rússia. Hoje, a maior parte das
exportações brasileiras destina-se ao Oriente Médio, em especial ao Irã e Rússia. O
primeiro devido à aproximação política dos países e o segundo devido ao crescimento
do produto e incremento da renda naquele país.
A cada ano, a participação brasileira no comércio internacional vem crescendo,
com destaque para a produção de carne bovina, suína e de frango. Segundo o Ministério
da Agricultura, até 2020, a expectativa é que a produção nacional de carnes suprirá
44,5% do mercado mundial. Já a carne de frango terá 48,1% das exportações mundiais e
a participação da carne suína será de 14,2%. Essas estimativas indicam que o
Brasil pode manter posição de primeiro exportador mundial de carnes bovina e de
frango.
Toda e qualquer exportação de animais vivos ou produtos de origem animal é
submetida ao cumprimento de requisitos regulamentados pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA. Cabe ao Ministério da Agricultura, por
intermédio da Secretaria de Defesa Agropecuária, regulamentar e controlar mercadorias
de origem animal a serem exportadas, atestando sua qualidade e segurança. Além disso,
o ministério, com as secretarias de agricultura Estaduais, promove ampla fiscalização,
visando à conformidade entre a legislação de inspeção industrial e sanitária brasileira e
as normas de sanidade exigidas pelo país importador.
Para a exportação de animais vivos, bem como produtos destes, são exigidas
uma série de procedimentos e cumprimento de legislações e atos normativos, que
variam de acordo com o modal escolhido para embarque.
1. Embarque Carga Solta ou Carga Convencional:
a) Lei N.º 1.283 de 18 de Dezembro de 1950;
b) Decreto N.º 30.691 de 29 de Março de 1952;
c) Instrução Normativa SDA N.º 33 de 02 de Junho de 2003.
2. Embarque Carga Exportada em Contêiner ou Caminhão Lacrado na origem:
a) Circular n.º 116/2002 DCI/DIPOA;
b) Lei N.º 1.283 de 18 de dezembro de 1950;
c) Decreto N.º 30.691 de 29 de março de 1952;
d) Instrução Normativa SDA N.º 33 de 02 de Junho de 2003.
Sistema Logístico da Bovinocultura
A cadeia produtiva da carne bovina é, também, compreendida pelos agentes
produtores de insumos (sementes, medicamentos, ração, etc.), produtores rurais,
indústria de processamento (frigoríficos), atacado e varejo (açougues, principalmente
supermercados) e o principal que, é o consumidor final. As ações dos agentes
compreendem a responsabilidade pelo produto desde a sua produção, elaboração
industrial e distribuição. Assim, cada operação independente ao longo da cadeia é
executada por um agente especializado que irá relacionar-se com um ou mais agentes
também relacionados à cadeia, com o objetivo final de se produzir um produto final
para o consumidor final.
O controle de temperatura é o método mais utilizado para conservar a carne,
podendo ser dividido em dois tipos de controle: resfriamento e congelamento. A carne
resfriada possui uma durabilidade de 120 dias e a congelada, de dois anos.
Carne bovina refrigerada
A carne bovina refrigerada exportada visa atingir, principalmente, os consumidores
de países mais exigentes quanto à qualidade e também à Cota Hilton (determinada
quantidade de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso e com alto padrão de
qualidade, destinada à exportação para a EU), obtendo-se, assim, melhores preços. Esse
tipo de produto, provavelmente, continuará sendo escoado via modal rodoviário e para
os mesmos portos em que é escoado atualmente. As empresas frigoríficas para se
precaverem contra possíveis problemas de qualidade, alocam sua produção para as
unidades mais próximas de portos.
Caso o produto seja direcionado aos aeroportos, o que ocorre quando o pedido
necessita ser entregue em menos de dez dias, o transporte é feito em caixas
acondicionadas em carreta frigorificada, que irá levar o produto a um entreposto
próximo ao aeroporto. No entreposto, a carga é verificada quanto à temperatura para,
então, montar-se o air pallet ou o air container. Desse local, o produto segue unitizado
para o terminal aeroportuário de destino.
Carne bovina congelada
O transit time pode ser maior, criando a possibilidade de uso de modais alternativos
de transporte e também possibilitando a produção mais distante dos portos de saída.
O fluxo mais comum dá conta de o produto seguir do frigorífico diretamente para o
terminal portuário, sendo esse deslocamento feito de um a dois dias antes do deadline de
embarque. Em casos em que há excesso de produto no porto, a carne é enviada para um
entreposto retroportuário, também conhecido como terminal secundário, no qual ficará
estocada para posteriormente ser acondicionada em contêineres e então seguir ao
terminal portuário. O uso de Estações Aduaneiras do Interior (Eadis), também
conhecidas como portos secos, não é uma prática comum devido, principalmente, aos
altos custos de armazenamento do produto.
Além do custo do frete, outro fator que impacta de forma direta a logística do
produto é o tempo entre a saída da planta frigorífica até o destino final, chamado de
transit time.
As alternativas de transporte de ambos os tipos de carne se resumem,
basicamente, ao transporte rodoviário até os portos nacionais e ao transporte marítimo
até os portos de destino. Tentativas também vêm sendo realizadas para o uso do modal
ferroviário na movimentação de carne bovina congelada dentro do país.
A logística da carne deve-se à integração do abatedouro desde o seu estoque de
animal no pasto, processamento interno, frigorificação, até chegar ao consumidor final.
Esse conjunto de operações realizadas em ambientes distintos utiliza-se através de um
arranjo que envolve fazendas, plantas de indústrias, canais de distribuição,
estabelecimento de atacado e varejo, estrutura de escoamento (rodovias, ferrovias, vias
marítima, vias aéreas), burocracias do comércio, recolhimento de diversos tributos,
legislações e prestadores de serviços.
O transporte de animais vivos requer certo tipo de cuidado especial para que a
carga não sofra nenhum tipo de stress e danos físicos que poderá levar ao descarte da
carne.
Figura B – Fluxograma da logística da carne.
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA, 2007.
De acordo com a Figura B verifica-se a existência de 3 subsistemas
interdependentes:
Subsistema de apoio: os agentes fornecedores de insumos básicos e os
agentes transportadores;
Subsistema de produção da matéria-prima (produção agropecuária):
empresas rurais que geram, criam e engordam os animais para o
atendimento das necessidades das indústrias de primeira transformação;
podem estar integradas em um único empreendimento ou dissociadas em
empreendimentos diversos.
Subsistema de industrialização: indústrias de primeira transformação:
abatem os animais e obtêm as peças de carne, conforme as condições de
utilização necessárias para os demais agentes da cadeia; e indústrias de
segunda transformação: incorporam a carne em seus produtos ou
agregam valor a ela.
Subsistema de comercialização: atacadistas ou exportadores: efetuam o
papel de agentes de estocagem e/ou de entrega, simplificando o processo
de comercialização; Varejistas: efetuam a venda direta da carne bovina
ao consumidor final, tais como supermercados e açougues; e empresas de
alimentação coletiva/mercado institucional ou aquelas que utilizam a
carne como produto facilitador, como restaurantes, hotéis, hospitais,
escolas, presídios e empresas de fast food.
Subsistema de consumo: consumidores finais, responsáveis pela
aquisição, pelo preparo e pela utilização do produto final. Determinam as
características desejadas no produto, influenciando os sistemas de
produção de todos os agentes da cadeia produtiva.
A etapa de distribuição é realizada pelos próprios frigoríficos que se
encarregam de abastecer os mercados externo e interno. Parte da parcela destinada ao
mercado interno é absorvida pela indústria de transformação, e parte distribuída no
varejo pelos açougues e supermercados, através da venda direta ou indireta. Na direta,
para atender os grandes pedidos das redes de supermercados e dos açougues, os
frigoríficos trabalham com escala de produção.
O Ministério da Agricultura prevê, no Decreto nº 5.741 de 30 de março de
2006, a fiscalização do trânsito de animais. Seja qual for a via de trânsito, a
apresentação de documentação é obrigatória. O documento oficial para transporte de
animal no Brasil é a Guia de Trânsito Animal (GTA), que contém as informações sobre
o destino e condições sanitárias, bem como a finalidade do transporte animal.
Cada espécie animal possui uma norma específica para a emissão da guia de trânsito.
Sistema Logístico Interno – Rodoviário
Entre os processos de logística aplicados na área da pecuária, mais
especificamente o transporte, requer algumas atenções, segundo Terlouw et al. (2008),
pois nesse processo os animais sofrem muito estresse pré abate (embarque no caminhão
em rampas muito inclinadas; caminhões mal projetados; tempo e distância de
transporte; manuseio na área de espera, clima, temperatura, entre outros), portanto é
necessário haver atenção na escolha do melhor modal, do horário específico para o
transporte, para que a qualidade final do produto (proteína cárnea) cada vez mais
exigida pelo mercado consumidor seja satisfatória.
O transporte rodoviário de carne bovina atualmente é feito de duas formas: (1)
o produto é acondicionado em caixas e transportado em carretas frigorificadas, com
destino ao mercado interno e (2) em contêineres refrigerados (também conhecidos por
reefer), geralmente de 40 pés. A carreta frigorificada também é utilizada no caso de
carne resfriada ou quando há transferência de produto entre as unidades frigoríficas.
Figura C - Carreta gaiola usada para o transporte de bovinos vivos.
Figura D - Baú frigorífico ¾ para o transporte rodoviário de carnes.
Figura E - Caminhão com carroceria frigorificada para o transporte rodoviário
de carnes.
Figura F – Carroceria porta contâiner.
Vantagens:
Adequado para curtas e médias distâncias;
Simplicidade no atendimento das demandas e agilidade no acesso às cargas;
Menor manuseio da carga e menor exigência de embalagem;
O desembaraço na alfândega pode ser feito pela própria empresa transportadora;
Atua de forma complementar aos outros modais possibilitando a
intermodalidade e a multimodalidade;
Permite as vendas do tipo entrega porta a porta, trazendo maior comodidade para
exportador e importador.
Desvantagens:
Fretes mais altos em alguns casos;
Menor capacidade de carga entre todos os outros modais;
Menos competitivo para longas distâncias.
Sistema Logístico para Exportação - Portuário
O principal modal para transporte de cargas entre países permitindo uma
grande capacidade de carga e frete reduzido é o marítimo. Para acondicionar os
produtos para o transporte até o destino final são utilizados containers, os quais são
grandes caixas retangulares com uma entrada para o carregamento e descarregamento
de produtos, paletizados ou não.
Sua utilização pode ser aplicada de duas formas conhecidas como Longo Curso,
navegação internacional em portos diferentes e Cabotagem, navegação nacional entre
portos do mesmo país.
Figura G: Container refrigerado usado no modal Portuário.
Figuras H e I – Navio porta contâiner (full container) e tipo Reefer.
Navios full container: as embarcações são semelhantes aos de carga geral, porém
as cargas vem acondicionadas em containers de aço. As escotilhas de carga abrangem
praticamente toda a área do convés e são providas de guias para encaixar os contâiners
nos porões.
Embarcações tipo Reefer: Semelhantes aos convencionais, sendo os seus porões
equipados com maquinários para refrigeração. Apropriado para cargas que exigem
controle de temperatura tal como carnes, frutas, verduras, laticínios e etc.
Para que os terminais portuários apresentem clara viabilidade econômica para a
exportação de carne, é necessário que observem eficiência e capacidade de
movimentação. Esses fatores estão relacionados, basicamente, a equipamentos,
profundidades do canal de acesso e do berço de atracação, à presença de armazéns
refrigerados e facilidade de acesso.
Sistema Logístico para Exportação – Aéreo
Seu custo tende a ser elevado em virtude da eficiência energética reduzida, de
utilizar-se de instalações sofisticadas como aeroportos e equipamentos muito caros, cuja
natureza operacional requer manutenção de caráter totalmente preventivo e nunca
corretivo.
Com relação às restrições impostas pelos custos mais elevados: limitações no
tamanho das unidades de volume e peso, além de outras peculiaridades, o modal aéreo
apresenta uma tipicidade própria das cargas que lhe são direcionadas tais como: gêneros
alimentícios e outros bens perecíveis, animais e plantas vivos, equipamentos
eletrônicos, bens de alto valor agregado, ourivesaria, jóias e artigos de moda. Ou seja,
nos casos em que a velocidade da entrega (ou segurança) é o ponto mais importante a
ser considerado, superando qualquer comparativo de custos.
Vantagens:
Rede diversificada de aeroportos, no entorno das grandes metrópoles, o que nem
sempre ocorre com o marítimo;
Velocidade, eficiência e confiabilidade;
Competitividade que a frequência dos vôos permite em termos de altos giros de
estoque;
Movimentação altamente mecanizada, reduzindo-se o índice de avarias;
Atinge regiões inacessíveis para outros modais.
Desvantagens:
Menor capacidade em peso e volume das cargas;
Não atende aos granéis;
Custo de capital e fretes elevados;
Fortes restrições às cargas perigosas.
Figura J e K – Aeronave Full Cargo, imagem exterior e interior.
Aeronaves All Cargo/Full Cargo: são aeronaves exclusivamente destinadas ao
transporte de cargas. O transporte da carga se dá nos decks superior e inferior. Têm
capacidade absoluta máxima de cerca de 100 a 120 toneladas ou 600 a 800 metros
cúbicos de espaço para carga.
Sistemas de Informação
Um sistema de informação pode ser definido tecnicamente como um conjunto de
componentes inter-relacionados que coleta (ou recupera), processa, armazena e distribui
informações destinadas a apoiar a tomada de decisões, a coordenação e o controle de
uma organização (LAUDON e LAUDON, 2004).
O fluxo de informações é um elemento de grande importância nas operações
logísticas. Pedidos de clientes e de ressuprimento, necessidades de estoque,
movimentações nos armazéns, documentação de transporte e faturas são algumas das
formas mais comuns de informações logísticas. O custo decrescente da tecnologia,
associado a sua maior facilidade de uso, permitem aos executivos poder contar com
meios para coletar, armazenar, transferir e processar dados com maior eficiência,
eficácia e rapidez.
A complexidade do negócio e suas necessidades de tratamento tornam clara a
necessidade de utilização da tecnologia da informação para que as organizações
consigam dar um tratamento satisfatório às suas informações e, consequentemente, para
que seus administradores tenham a possibilidade de utilizá-las corretamente em seu
trabalho.
O bom gerenciamento das informações pode influenciar o desempenho da
organização de diversas maneiras:
Prover uma vantagem competitiva , permitindo respostas rápidas às mudanças de
mercado;
Prover informação necessária , acurada e no tempo para permitir melhor tomada
de decisão;
Reduzir o custo de fazer negócio, substituindo capital por trabalho freqüente e
automatizando as transações da empresa;
Permitir à empresa competir em mercados que requer tecnologia específica;
Permitir flexibilidade tal que as empresas possam atender a uma ampla relação
de necessidades dos clientes sem incremento de custos;
Promover uma plataforma tecnológica para permitir que os outros sistemas de
negócio sejam produzidos.
A utilização de alguns softwares aplicados a logística podem trazer uma série de
benefícios, tais como: maior rapidez nas operações, redução de custos, aumento da
continuidade, melhora do controle (precisão, acuidade, previsibilidade, consistência,
certeza), maior compreensibilidade (visibilidade, análise, síntese) das funções
produtivas. Estes tipos de softwares agrega um conjunto de ferramentas, tais como:
previsão da demanda, otimização da rede logística, planejamento de transporte,
planejamento e sequenciamento da produção, entre outras.
São comumente chamados de Supply Chain Management (SCM) applications, ou
seja, ferramentas para o gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos. Sua
principal função é possibilitar ao usuário o controle de diversas funções logísticas
simultaneamente, permitindo com isso, analisar os trade-offs existentes. Além disso,
possui uma abrangência que ultrapassa os limites da empresa, ou seja, integra-se
também aos outros membros da cadeia de suprimentos, tais como: indústrias,
atacadistas/distribuidores e varejistas, além de prestadores de serviços logísticos.
Alguns destes softwares disponíveis:
Supply Chain Design: Para gerar modelos de cadeia de suprimentos com
investimentos otimizados em fábricas e centros de distribuição, fluxo de
materiais, níveis de serviço ao cliente, tempos de atendimento, etc.
ERP / ERP II (Enterprise Resources Planning): Para projetar demandas e gerar
programação de compras e produção para fábricas, atacadistas e varejistas,
planos de abastecimento e redes de distribuição (DRP), avaliar capacidades de
centros de trabalho, controlar estoques, receber e processar pedidos e fazer os
demais controles administrativos, contábeis, financeiros e tributários de uma
empresa.
TMS (Transportation Management System): Sistema para administrar
relacionamentos com transportadoras, fretes, controles de roteiros de entrega,
controle de desempenho de veículos e motoristas, fazer rastreamento de
mercadorias e veículos, otimizando recursos de transportes.
WMS (Warehouse Management System): Sistema para administrar os fluxos
físicos de recebimento, armazenagem, separação e expedição de mercadorias,
definindo suas localizações dentro dos depósitos e possibilitando a automação de
suas operações através de tecnologias de código de barras, rádio freqüência,
separação automática de pedidos, etc.
MES (Manufacturing Execution Systems): Sistemas de gerenciamento da
produção.
VMI (Vendor Managed Inventory Systems): Sistemas para comunicar aos
fornecedores os níveis de estoque ou de demanda de mercadorias, baseados em
dispositivos de leitura de níveis de estoque, de fluxos de consumo ou de
transações de venda. Tais sistemas hoje já possuem comunicações eletrônicas
diretamente com sites especializados ou com os próprios sites dos fornecedores.
SCM (Supply Chain Management Systems): Tais sistemas incorporam
funcionalidades de CPFR – collaborative planning forecasting, and
replenishment, para sincronizar da melhor forma possível as demandas à cadeia
de suprimentos.
Coletores de dados: Dispositivos de leitura de dados automáticos seja através de
tecnologia de código de barras ou de rádio freqüência, para leitura de smart
labels. Facilitam operações de contagens de mercadorias e controle de
rastreabilidade.
CRM (Customer Relationship Management Systems): Tais sistemas objetivam
capturar informações dos clientes / consumidores, identificando seus perfis de
compra de maneira a possibilitar maior acurácia nas previsões de demanda, na
definição dos sortimentos de produtos. Proporcionam ainda o controle de
atividades promocionais e seus impactos na demanda assim como controle de
atividades de garantia de produtos.
SRM (Supplier Relationship Management): Sistema de gerenciamento com
fornecedores, elaborando contrados, planejamento orçamentário, gerenciamento
de negociações, controle dos recebimentos das compras, aprovação e geração de
pagamentos, etc.
Com o crescimento das exportações, a cadeia de suprimentos passou a ter um
estímulo à modernização e à profissionalização, favorecendo a legalização da atividade
e a adoção de novas tecnologias, como as de rastreabilidade. Sendo assim, para a
manutenção do crescimento das exportações é fundamental que o país disponha de
tecnologias de rastreabilidade confiáveis, aspecto exigido por alguns dos maiores
importadores de carne brasileira, como a União Européia.
Neste contexto, Ferreira e Vieira (2005) afirmam que a rastreabilidade passa a ter
um papel importante como mecanismo de melhoria da coordenação na cadeia de carne
bovina. No caso da carne bovina, as tecnologias de informação existentes para
identificação são: brincos com códigos de barra, bolus (microchip implantável) e brinco
eletrônico (com etiquetas eletrônicas). Um sistema de rastreabilidade que utilize novas
tecnologias de identificação como a Identificação por Rádio Freqüência (Radio
Frequency Identification - RFID) é necessário para que se acompanhe o produto desde o
animal na propriedade em que foi criado até sua venda no varejo para os consumidores
finais.
Apesar de sua importância, as tecnologias de informação são frequentemente
difíceis de justificar seu custo, pois os benefícios de algumas destas tecnologias são
imprevisíveis. Esta falta de previsão existe devido a mudanças nas interfaces entre
softwares e hardwares (questões técnicas) e a falta de medidas para comparar o
desempenho das tecnologias de informação com as expectativas do seu mercado
(questões estratégicas).
Algumas desvantagens: os investimentos em TI (Tecnologia da Informação) não são
relacionados com a estratégia de negócios, o retorno financeiro dos investimentos em TI
é inadequado e a tecnologia é empregada cegamente, sem objetivos definidos.
REFRÊNCIAS
VENDRAMETTO, O.; NETO, P. L. de O. C.; TASCHETTO, A. C. Qualidade e
logística: estratégias para melhora. XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto
Alegre, RS, Brasil, 2005.
ABIEC. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes.2011.. Disponível
em: <http://www.abiec.com.br>. Acesso em Dezembro de 2013.
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento . Disponíve em :
< http://www.agricultura.gov.br/ >. Acessado em Dezembro de 2013.
SECEX. Secretaria de Comércio Exterior.Ministério da Indústria e Comércio.
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br//sitio/interna/index.php?area=5> . Acessado
em Dezembro de 2013.
ZUCCHI, J. D. Modelo locacional dinâmico para a cadeia agroindustrial da carne
bovina brasileira. Tese de Doutorado ESALQ. Piracicaba, 2010.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/ppm/2012/default_pdf.shtm
http://www.beefpoint.com.br/cadeia-produtiva/especiais/2011-receita-das-exportacoes-
brasileiras-de-carne-bovina-e-recorde-77343/
ftp://ftp.ibge.gov.br/Producao_Pecuaria/Producao_da_Pecuaria_Municipal/2012/
tabelas_pdf/tab10.pdf
http://pt.engormix.com/MA-pecuaria-corte/administracao/artigos/uma-analise-sobre-
logistica-t241/p0.htm
http://logisticaemquestao.blogspot.com.br/2011/04/transportes-e-modais.html
http://www.scotconsultoria.com.br/cartas/
120427_Exportacao_de_bovinos_no_contexto_da_pecuaria_def.pdf
http://www.scotconsultoria.com.br/carne/atacado-varejo/?ref=smnb
http://www.agroanalysis.com.br/materia_detalhe.php?idMateria=913
http://www.sebrae.com.br/setor/carne/o-setor/bovinos/mercado/122-08-exportacao-de-
carne-bovina-em-2010/BIA_12208
http://www.sebrae.com.br/setor/carne/o-setor/bovinos/mercado