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8/16/2019 Sobre Zona de Poesia Arida
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“Sobre a exposição “Zona de Poesia Árida”
Conversa de Véspera
Fabiane Borges e Élida Lima1
Agradecimento a Felício Sobral pelas contribuições
Fabiane: Essa mostra Zona de Poesia Árida2
, tal qual a Poéticas do Dissenso
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não parece ser a coisamais tranquila do mundo. Trazer a arte política, ou a intervenão ur!ana pra dentro do conte"to do
museu, principalmente sendo ele o #$%, que tem um &ist'rico de (entri)icaão e de remoão de
pessoas durante sua construão, sempre provocou muitos questionamentos. Eu queria )alar um
pouco dessas críticas que )azem a n's, para podermos pens*+las, sem i(nor*+las, muito menos nos
de)ender delas, mas como tentativa de apro)undar esses questionamentos, essas críticas, pensar em
nossa decisão, que implicaes isso tem, qual o teor da nossa aposta.
Élida: - *rido não é o tranquilo. uando se )ala em arte política, ima(inamos al(o que precisa
passar com a/uda de )ora, que requer uma atitude a)irmativa, do que precisa implodir para
construir, modi)icar em al(uma escala. Esses (rupos tem tra!al&ado com a escala micropolítica,
su!/etiva, sensível e tudo o mais o que apro"ima a arte da trans)ormaão &umana. #as para ser
ativista 0palavra pouca, um pouco des!otada para o que esses (rupos dese/am inscrever no mundo1,
para ser ativista não é preciso ser triste. -s )ascismos dos pan)letos - )ascismo da militncia, da
mensa(em $ mensa(em nesse caso 4deve4 nunca dei"ar de ser per(unta. $ per(unta não é
5Fabiane Borges é psic'lo(a, ensaísta, artista inte(rante da coleão Zona de Poesia Árida, autora dos livros6Domínios do Demasiado 07ucitec 28581 e 9revi*rio de Porno(ra)ia Esquizotrans 0E". :i!ris 28581. Élida Lia éescritora pr'"ima dos coletivos, editora e crítica liter*ria, mestre pelo ;?+=PP, autora de 4?artas ao #a"6 limiar a)etivo da o!ra de #a" #artins4 0@nvisíveis Produes, 28531.
2 “Zona de Poesia Árida” é uma e"posião em e"i!ião de 2AB85 a 35B8CB285C no #useu de $rte do %io, que traaum panorama do intenso papel de ativismo assumido pela arte a partir dos anos 2888. $s o!ras pertencem ?oleão#$%, )ormada por meio da a edião do PrFmio de $rtes Pl*sticas #arcantonio Gilaa. ?om curadoria de Daniel :imae Tulio Tavares, a mostra re
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tranquila.
Fabiane: E qual é a per(unta
Élida: ?ada leitor tem a sua per(unta no contato com cada o!ra. ?ada o!ra suscita a sua per(unta, a per(unta do leitor. ;ão é uma per(unta. =ão v*rias. $ o!ra procura saídas m
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lida é a sociedade, são os a!ismos sociais, e nossa crítica é de certa )orma a(ressiva contra as
instituies e aos circuitos de arte, parece ser uma incoerFncia tentar )azer isso con(elar numa
representaão dentro de um museu. Estaríamos como que repetindo idiossincrasias de poder com
essa conivFncia
Élida: -s (rupos 4representados4 por essa e"posião não são miser*veis. Por vezes são pessoas
e"postas a situaes de miséria. Essa causa não é de um (rupo, é de um mundo, onde a produão
das su!/etividades do seu tempo )az avanar uma (eraão inteira. =o!re a conivFncia com os não+
representados, a arte, mesmo a política, não é o lu(ar de representaão, não deve a(ir aí os
interesses pelo recon&ecimento, mas a produão de um dispositivo potente (erador de per(untas
diversas.
Fabiane: -utra crítica que ouo muito é so!re os modos que representamos toda essa sa(a l*
dentro. >ma arte sem lin(ua(em de arte, uma arte de re(istro, que mostra o artista a(indo mas não
tem pro)undidade na lin(ua(em estética em si mesmo, ou se/a, ouo dizer que nossas e"posies
são pan)let*rias, '!vias, que são )eitas mesmo para a rua e não para um museu.
Élida: >ma arte de lin(ua(em e"trema. >ma arte do e"tremo da lin(ua(em. >ma arte das !ordas
da lin(ua(em, que não precisa se ape(ar ao )ormato de museu para continuar criando. $s
trans)ormaes de conceitos, na arte política, são mais or(nicas e velozes do que as da instituião.
E isso não é nada '!vio. uando certas intervenes 4se repetem4, elas se repetem para (erar a sua
e"ceão. uando elas escorre(am pelo mundo, queimam as pernas das re(ras. $í é aquela conversa
se pode+se c&amar de re(istro certas peas dessa coleão, a(ora museol'(ica. Per(unta para pensar
esse dilema6 de dentro do museu, ela continuar* ativando a voz das ruas
Fabiane: Eu (osto dessa sua ideia da continuidade, quando vocF )ala que ela se repete para (erar
sua e"ceão. $c&o que o )ato dela ser c&amada de pan)let*ria por al(uns críticos de arte, não
impede que ten&a uma )ora sim!'lica de lon(o alcance. #e parece que o (rande alcance é
e"atamente o )ato de mostrar um certo )azer artístico que tira o artista de dentro do atelier lidando
com as questes de sua pr'pria estética, e em seu lu(ar mostra esses coletivos se or(anizando,
)azendo coisas con/untamente, utilizando o espao das ruas para produzirem essas premFncias,
dialo(ando incisivamente com o espao p
sociedade de controle e os pro/etos ur!anistas nos privatizam cada vez mais. Talvez essas
e"posies se/am uma pequena mostra de um modo de e"istFncia da pr'pria arte + enquanto
possi!ilidade.
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Élida: $ )ora sim!'lica das artes de rua é ainda maior do que das artes de re(ra. $rte de rua $rte
ativismo $rte en(a/ada $rte como toda arte, )ruto do com!ate do artista com o mundo para criar
inter)erFncias na identidade do seu tempo. $o criar inter)erFncias na identidade do seu tempo, o
artista é e"tremamente sim!'lico, e"tremamente estético.
Fabiane: @sso é uma coisa que )icou claro para mim s' depois de muito tempo, mas que con)unde
as pessoas até &o/e. Desde o início da con)i(uraão desses coletivos, a questão da arte era e"plícita.
Para além do ativismo político, do en(a/amento, da resistFncia, e"istia uma preocupaão iminente
de produzir as aes sempre relacionadas estética e &ist'ria da arte. ;ão eram ativistas em seu
termo especí)ico, mas artistas que atuavam a partir de leituras e intervenes estéticas no espao
p
anarquista. @sso é importante de ser )risado para que não se con)unda o ponto de vista, a perspectiva
de onde se via todas aquelas c&acinas, despe/os, e"pulses, etc.
Élida: uando o museu compra essa coleão e a le(itima, )inalmente, como arte, ela continua
en(a/ada
Fabiane: Pois éM - modo como o museu perce!e isso, ou se/a, o modo como a (ente con(ela,
como trata+se todo um modo de atuaão &orizontal, cola!orativo de )orma !urocr*tica, com suas
&ierarquias, seus controles, impede qualquer tipo de ocupaão no museu, ou al(um vazamento
0vazadoresJ1 ou in)iltraão e"terna 0a!ertura para o acompan&amento do processo ou auto+(estão,
não temos a!ertura para os nossos pr'prios modos de aão, nossos processos de produão, é
di)icultada a entrada dos pr'prios artistas na sala de monta(em, como aconteceu comi(o, operando,
muitas vezes, por meio de constran(imentos, é no mínimo de)la(rador. uando ol&o para essa
relaão artista e museu, penso que não conse(uimos trans)ormar nen&uma estrutura, ao contr*rio,
parece que nos estacionam, nos imprimem nas paredes de )orma dura, nosso pequeno recorte de arte
ur!ana de =ão Paulo, os representantes de uma (eraão !em maior do que a representada. -u se/a,
no )inal das contas não conse(uimos ainda produzir um tra!al&o de crítica institucional, )omos
en(ol)ados por uma m*quina acostumada a tratar os artistas como se )izessem um )avor a eles, não
permitindo que suas salas, suas paredes, seus recursos se/am utilizados para potencializar a mostra,
como uma intervenão mesmo. $ censura de tra!al&os que não convém instituião e suas
estruturas cristalizadas, ainda não )oram dissolvidas. %e)iro+me como e"emplo, censura de um
4 Texto Vazadores - https://catahistorias.wordpress.com/2012/08/11/vazadores-os-ladroes-da-galeria/
https://catahistorias.wordpress.com/2012/08/11/vazadores-os-ladroes-da-galeria/https://catahistorias.wordpress.com/2012/08/11/vazadores-os-ladroes-da-galeria/https://catahistorias.wordpress.com/2012/08/11/vazadores-os-ladroes-da-galeria/
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tra!al&o meu 0a Npera da ?assandra1, que por conter lin(ua(em dada como er'tica )oi restrin(ida.
K o que eu sempre )alo so!re a arte e a mendicncia. - sistema da arte, o modo como ela é
promovida é um modo de opressão, não d* para esquecer disso.
Élida: K importante, sim, lem!rar os )ascismos dos recortes, que essa amostra não é a arte política,não é a arte de rua, que essa arte sempre estar* para )ora, para adiante, que não deve /amais
cristalizar+se ali, so! o /ul(o de certo recorte. $ )unão do museu é, sim, preservar a mem'ria,
entendamos que é a preservaão de uma parte da mem'ria, assim como outros momentos em que
essas o!ras aconteceram no mundo das mais a!ertas )ormas. $s portas )ec&adas do museu são
motivo de atenão. ?laro que na ne(ociaão com a instituião, os artistas e propositores perdem
muitas !atal&as, onde processos se operam sem o espírito mesmo que criou essas produes, de
coletividade e de encontro. Tam!ém, onde se (an&a -nde se )ura o museu
Fabiane: $ arte é um dispositivo. Esse tipo de coisa aconteceu com v*rios (rupos na &ist'ria.
$conteceu com praticamente todos os movimentos de van(uarda. -s dadaístas pararam no museu,
os surrealistas, os !eatniOs )icaram )amosos e pararam nas (randes editoras, os &appenin(s, as
per)ormances, os tropicalistas. De certa )orma é esperado que acontea essa aderFncia. - que so!ra
depois disso é acreditar ou não acreditar na )ora do dispositivo uma vez colocado l* dentro. =e
encerramos nosso tra!al&o, enterrando+o no mausoléu !ranco, o que esperamos é que esses
)antasmas atordoem as novas (eraes e as impre(nem de inspiraão e desassosse(o. Essa é min&a
aposta pelo menos, eu não ne(o que &ouve sim uma espécie de traião, ao que não pode entrar no
museu (entri)icado, !urocr*tico e &ier*rquico, mas a aposta é no produto que a (ente colocou l*
dentro.
Élida: Dentro e )ora. 7* tra!al&os potentes que questionam as estruturas sim!'licas do museu, do
que é e do que pode vir a ser um museu. >m dos tra!al&os especialmente impactantes é a !andeira
da Lrente 3 de Levereiro na )ac&ada do prédio anti(o e tradicional na Praa #au* com a per(unta
(i(antesca6 -nde estãos os ne(ros Essa o!ra, a!erta para a rua, ras(ada para o porto, /* comeou a
se mostrar um produto de desassosse(o. Desde o dia em que )oi montada, &ouve al(uém ol&ando
para a !andeira e &ouve um outro, desassosse(ado, em !usca de di*lo(o6 - que é isso - que quer
dizer essa )rase 7* moradores de rua que, sa!endo que ali é um museu, o acusam de racista,
transeuntes respondem 4eu estou aqui4, carros de polícia que param para inquirir que ne(ro é esse
Qser* o $marildoR, (aris que recitam ;ietzsc&e, persona(ens tantas vezes invisíveis que, a partir
do contato com a o!ra, entram nela e a ativam, a tiram da cate(oria de re(istro 0o poema, uma vez
)eito por seu autor, é um re(istro de sua inspiraão1 e a promovem cate(oria de o!ra a!erta,
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destinada para muito além das paredes da instituião. -utro tra!al&o que tem sido atualizado como
sím!olo de luta pelo transporte p
certa )orma, as pr*ticas museol'(icas. E"iste uma tentativa em ativar com o est*tico do museu
tam!ém quando a e"posião incorpora uma !i!lioteca )ocada nos temas a)ins da arte e do ativismo,
procurando a!rir para a crítica e !uscando o di*lo(o com o p
como al(o dado, )ec&ado, mas como uma a!ertura para novos a(enciamentos. Estamos )alando de
uma e"posião antes mesmo dela inau(urar. - que ela pode ser Ela dei"a espao para o leitor
-utra o!ra !astante em!lem*tica, do Esqueleto ?oletivo, est* e"posta na porta )ec&ada da sala e atrans)orma em um portão virtual in)initamente se a!rindoM
Fabiane: Essa coisa que tu )alava antes, de mem'ria, é interessante retomar. Porque a (ente vive
numa era de pouca mem'ria, e a internet, os sistemas de !usca ou as redes sociais, contri!uem para
essa )alta de densidade do que se lem!ra. K !em verdade que as coisas que estão representadas ali
dentro tem )ora sim. Loram anos de en(a/amento, de intervenão, de situaão de risco, de prises,
de pressão psicol'(ica, de apreensão de equipamentos. $s respostas estéticas, midi*ticas,
per)orm*ticas, ou o que se/a, vão se perdendo, literalmente estra(ando em !lo(s perdidos, muitos
)ora do ar, ou esquecidas em servidores que /* não e"istem. -s !lo(s, sites, ou posts no )ace!ooO e
no titter não dão conta da dimensão dessas e"periFncias. Loi isso que pensamos ao )azer parte da
coleão, a de res(uardar, mesmo que em pequena escala esses retratos, esses vídeos, essas
pu!licaes, essas ima(ens que )oi produzida em zonas *ridas, em plena (uerra social, em pleno
processo de (entri)icaão. Eu tam!ém ac&o que são potentes os tra!al&os que estão l*. Parece que a
mem'ria tem um preo, e o meu preo pessoal, )oi ter que ter encarado os ativistas em )rente ao
museu no dia da sua inau(uraão, quando )izemos a instalaão audiovisual HPoéticas do DissensoI.
Parecia uma incoerFncia, um parado"o, uma contradião. Est*vamos dentro e )ora do museu
naquele momento, e a
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palavra si(ni)ica, mas poderia1, aos sistemas de inscrião no s'cius, se/a l* o que isso queira dizer,
talvez um alcance especí)ico, ou simplesmente mais alcance do que a intervenão em si mesma. Eu
realmente acredito que esse processo vivido por uma rede de compan&eiros de estrada, esses anos
todos dedicados a rua, deve ser preservado em al(um lu(ar, se esse lu(ar é o #$%, que se/a, nada
pode nos paralisar, ou pelo menos não deveria.
Élida: Suardar e &istoricizar esse tipo de produão é tam!ém uma mudana do tratamento da
&ist'ria da arte por parte dos museus. $ssim como outras instituies, que necessitam se
desvencil&ar do &ermetismo, o museu comea a mudar as suas pr*ticas de colecionismo, ou deveria.
$o mesmo tempo em que se e"acer!am certos discursos )ascistas no mundo, &* outras )oras novas
e potentes em /o(o que dizem respeito e)etivaão do dese/o )rente ao intoler*vel. - #useu de $rte
do %io, mesmo preso em suas amarras institucionais, est* dando visi!ilidade aos atores de um /o(oque /o(a, que não est* de !o!eira. K !om lem!rar de que lado estamos. Estamos sempre mais
esquerda.
UUUUUUUUUUUUUUUU