Sumário
1. Quem é esse Pokémon? 7
2. Tenho que pegar! 13
3. O Lado de Dentro 21
4. Eu escolho você! 36
5. Uma esperança 53
6. Artimanhas do adversário 70
7. Golpe inesperado 84
8. Na Floresta do Canto 95
9. Sabine e Sibila 106
10. A mensagem 129
11. O plano 144
12. Batalha épica 169
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Capítulo 1
Quem é esse Pokémon?
Venom bocejou pela terceira vez, já entediado
com a espera, encostado no balcão da lancho-
nete. Tomou um gole de café com leite e olhou de
novo para o celular: eram dez e meia da manhã e
nada de os amigos aparecerem.
VENOM
Fala galera, kd vcs? to aqui na porta do parque, levantei mó cedo pra tá aqui na hora, e nd de vcs?
MR. NIKKI
Ae Venom, foi mal, mano, eu sei que a gnt combinou as 10. Mas todo mundo foi dormir bem tarde ontem, pessoal tá meio devagar aki
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MASTER88
bom dia, malta! :-)
MR. NIKKI
O mafil nem acordou ainda, vo la chamar ele
VENOM
Aquele pote de banha tá dormindo ainda?
MASTER88
Nikki, bati lá no quarto do Mafil agora, ele já tá levantando
MASTER88
desculpa ae, Venom, mas vir ao Rio, encontrar a galera toda e não aproveitar a noite de sexta é como encontrar diamante e não mineirar
VENOM
mas ce tá ligado que até pra mineirar direito ce tem que acordar cedo, né, maldito? kkk
MR. NIKKI
é, pode crer, tu tá certo kkk
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VENOM
vocês ficaram é jogando video game junto até tarde né? Fala sério kkk
MR. NIKKI
é... foi mal, Venom, de verdade. Vou apressar o pessoal aqui, a gente vai se arrumar e daqui a uma meia hora a gente tá chegando
VENOM
vlw mlk
“Toda vez é isso!”, pensou Venom, debruçando-se
no balcão. “Nem sei por que ainda fico surpreso.”
Sempre que seus amigos vinham encontrá-lo no
Rio de Janeiro era a mesma história: perdiam a hora,
se atrapalhavam, e Venom ficava mofando, esperando
a turma aparecer. Geralmente, ele não ligava muito,
mas aquele sábado... aquele sábado seria diferente!
Porque eles tinham combinado de jogar Pokémon Go
juntos.
Venom tinha passado a semana inteira se contro-
lando para não abrir o jogo. Ele sabia que, se come-
çasse a jogar, não ia parar mais, e passaria todas as
horas do dia caçando Pokémon, sem conseguir fazer
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as coisas (chatas) que todo mundo tem que fazer du-
rante a semana. Então, preferiu guardar toda a vonta-
de de jogar para o encontro com os amigos e não via
a hora de eles chegarem para tirar o atraso e passar
logo do nível 5, em que estava. Assim, ele poderia
escolher um time e entrar nos ginásios para batalhar.
Mas, falando em atraso, o dos amigos já estava
grande demais para a paciência dele.
Para ajudar o tempo a passar mais rápido, Venom
bebeu o restinho do seu café com leite, pagou e foi
para a porta da lanchonete para olhar o movimento.
Viu vários grupos de crianças e jovens que seguiam
para o parque, cuja entrada ficava do outro lado da
rua. De vez em quando, acontecia uma correria, e vá-
rias pessoas chegavam e ficavam paradas de frente
para um poste ou para um muro, com os olhos vidra-
dos no celular. “Com certeza estão batalhando em um
ginásio”, pensou ele.
Venom olhou para o céu. Estava azulzinho, sem ne-
nhuma nuvem. O dia estava muito bonito e, apesar de
ser inverno, o sol já começava a brilhar mais forte e a
espantar o friozinho matinal. Uma brisa leve deixava
o clima ainda mais convidativo para aproveitar o sá-
bado ao ar livre.
“Poxa, esse solzão, toda essa vida aqui fora, e na-
da de os caras chegarem... Ah, não, vou dar só uma
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voltinha e ver o que tem por aqui enquanto os malu-
cos não aparecem”, falou para ele mesmo.
Abriu o jogo no celular e explorou o mapa à sua
volta. “Maneiro, tá cheio de Lure!” A escolha do lu-
gar tinha sido perfeita: naquele parque havia vários
Pokéstops e, nos arredores, a tela parecia uma festa,
cheia de confetes cor-de-rosa onde os Lures estavam
ativados.
Ansioso para ver o que o esperava, Venom consul-
tou o Sightings. “Nossa, que surpresa... Tá cheio de
Rattata, Zubat e Pidgey... Tanto Lure pra isso? Até eu,
que mal estou jogando, já tenho uns cinco de cada”,
pensou.
Apesar de se tratar daqueles Pokémon bem comuns
e sem graça, Venom resolveu pegá-los mesmo assim.
A bateria do celular ainda estava quase em 100% e a
oportunidade valeria pelo menos para treinar o arre-
messo com bola curva. Ele tinha descoberto, no dia
anterior, que pegar Pokémon dessa forma dava um
pouquinho mais de XP. Além disso, stardust nunca era
demais.
– Ah, agora sim, uma Magikarp! – exclamou Venom,
já atirando uma pokébola. – Mas, caramba, essa bola
curva é mais difícil do que eu pensava... Aeeê! Peguei!
Agora só faltam mais umas 390 para poder evoluir
para Gyarados... – falou sozinho, sarcasticamente.
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Depois da captura, olhou a hora mais uma vez:
“Não acredito, 10h45 já? Eu vou matar esses caras!”
Abriu então o Sightings de novo.
– Mais Zubats, mais Pidgeys... Ops, o que é isso
aqui? Peraí... – disse, admirado, falando sozinho ou-
tra vez. – Não tô acreditando... Essa sombra aqui só
pode...
Venom não queria confiar nos próprios olhos. Ali,
entre os já conhecidos Pokémon comuns, estava algo
que todo fã seria capaz de reconhecer.
A lenda entre os lendários.
O mais raro entre os raros.
– Caraca, mas esse aqui é o Mewtwo!!!
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Capítulo 2
Tenho que pegar!
Venom não sabia o que fazer de tão empolgado.
Será que era verdade? Será que ele não estava
vendo coisas?
“Vou ter que ir atrás desse Mewtwo e capturar o
bicho agora! Ou pelo menos descobrir se é ele mes-
mo. Não dá pra esperar meus amigos. Imagina a ca-
ra do Mr. Nikki e dos outros quando chegarem aqui
e perceberem que perderam a chance de pegar o
Mewtwo?! Eu vou morrer de rir! Aí eles aprendem a
não demorar tanto da próxima vez!”, imaginou, en-
tusiasmado.
Para aumentar suas chances, Venom ativou o único
incenso que tinha e começou a correr para a direita.
Com o rosto quase grudado no celular, esbarrou em
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uma senhorinha, quase a derrubou no chão, e pediu
desculpas sem nem parar de andar. Continuou focado
na imagem do aparelho. Afinal, ele era um homem
em uma missão!
No mapa, avistou uma graminha se mexendo do
outro lado da rua e atravessou para chegar mais per-
to. Provavelmente era lá que o Mewtwo deveria estar.
Só que, de repente, o Pokémon sumiu do Sightings.
“Droga!”, pensou ele. “Caminho errado! Vou voltar.”
Deu meia-volta, passou de novo pela frente da lan-
chonete e seguiu para a esquerda, indo pelo outro
lado. E, de repente, o Mewtwo apareceu novamente.
– Aeeê, estamos no jogo! – comemorou ele, em voz
alta. – Mewtwo, você vai ser meu!
Venom seguiu andando como um doido, às cegas,
pelas ruas ao redor, com toda a sua atenção voltada
para o celular. Com um olho no Sightings e outro nas
graminhas e nos Lures, era quase insuportável per-
seguir algo que ele queria tanto, mas não podia ver.
Pelo menos parecia que estava no caminho certo, por-
que os demais Pokémon no Sightings mudavam, mas
o Mewtwo continuava sempre lá.
Virou à direita na padaria, passou pelo banco, atra-
vessou o estacionamento do shopping, cruzou a pon-
te, sempre em busca do próximo sinal que poderia
indicar a presença do Mewtwo. Ele sabia que estava
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se afastando muito do ponto de encontro com os ami-
gos, mas naquele momento nada disso importava.
Seria questão de só mais alguns minutos, e ele vol-
taria correndo, vitorioso, com seu troféu, para exibir
para o pessoal.
“Rapaz, que calor é esse?”, pensou, enxugando
a testa. “Caramba, não é para menos, já passa das
11h20. Estou há mais de meia hora nessa brincadeira,
e meu incenso já até acabou!”
O sol já ia alto no céu. De repente, seu WhatsApp
começou a pipocar com mensagens, que apareciam
em cima do jogo na tela do celular.
MR. NIKKI
Venom, kd vc mano?
MASTER88
Já chegamo aqui na porta do parque. Onde estais?
MAFIL
Kd, kra? Ce desistiu da gente mano?
Venom ficou aflito, sem saber se respondia, se cor-
ria atrás do Mewtwo antes que ele sumisse de novo,
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se ia encontrar os amigos, se contava o que estava
acontecendo... Resolveu só ganhar tempo.
VENOM
Segura aí pessoal, to chegando ja
Ele resolveu que não estava pronto para desistir tão
fácil daquele Mewtwo. Viu que dava para cortar cami-
nho até a graminha mais próxima, porque o mapa
indicava uma ruela que atravessava um grande bloco
de construções. Chegando mais perto, deu de cara
com uma clínica veterinária, que ficava ao lado de um
beco estreito, esquisito e fedido, que ia até os fundos
daquele lugar. Ele não era muito fã de becos, mas se
aquele era o atalho, então teria que entrar.
Só que, de repente, quando ele estava no meio do
beco, o Mewtwo desapareceu de novo da tela.
– Nãããão! – exclamou. – Não pode ser! Cadê esse
Pokémon?
Começou a andar em círculos no beco, para ver se o
Mewtwo reaparecia, e de repente ouviu um grito. Deu
um pulo, mas viu que era só um gatinho amarelo que
rondava por ali. Já perdendo as esperanças de que a
sombra do Mewtwo surgisse de novo no Sightings,
insistiu mais um pouco, mas nada aconteceu.
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Totalmente frustrado, resolveu voltar para o par-
que para encontrar os amigos. “Que pena! Ia ser tão
legal ter capturado o Mewtwo e visto a cara deles...”,
pensou, chateado.
De repente, ele viu a segunda coisa mais esquisi-
ta daquele dia. Sem mais nem menos, surgiu na tela
do seu celular um Pokéstop que ele jurava que não
estava no mapa antes. E mais: em vez de azul, como
todos os outros, era um Pokéstop colorido.
– Caraca! Que coisa mais estranha! Eu tenho certe-
za de que não tinha visto isso aqui...
Só que, ao dar três passos, o Pokéstop desapa-
receu.
– Ué? Que isso? Será que eu fiquei maluco?!
Venom voltou três passos e o Pokéstop ressurgiu.
– Que louco, véi!
Então ele testou mais uma vez, e viu que o Pokéstop
só aparecia quando ele ficava em um determinado
ponto, na frente de uma lixeira. Dando três passos
para a direita, o Pokéstop sumia! Venom sabia que
não era assim que funcionava a programação do jogo.
Os Pokéstops são fixos, não ficam sumindo e apare-
cendo do nada. Também sabia que Pokéstops eram
azuis ou roxos, e não coloridos!
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Ele resolveu abrir o estranho Pokéstop multicolo-
rido. Quando encostou o dedo sobre a imagem no
celular, sentiu um arrepio percorrer a espinha: em vez
de haver uma foto de um grafite ou uma estátua (ou,
naquele caso geográfico específico, uma lixeira en-
ferrujada e amassada), havia uma tela preta. E, em
vez de se chamar “Lixeira enferrujada e amassada”, o
nome do Pokéstop era: Lado de Dentro.
Venom não conseguiu deixar de pensar que o
Pokéstop parecia mesmo um buraco negro, o que
o deixou com uma sensação esquisita na barriga.
Nenhum dos muitos vídeos sobre Pokémon Go a que
assistira no YouTube tinha mostrado um Pokéstop co-
mo aquele. Coçou a cabeça, pensou um pouco e de-
cidiu que ia girar o Pokéstop. Com todo o cuidado,
deslizou o dedo sobre a imagem e ficou esperando.
Aqueles segundos pareceram eternos.
O disco preto rodou, mas não dropou nenhum
item. Só que não parou de rodar.
Não mesmo.
Na verdade, o disco preto começou a rodar mais e
mais rápido.
– Eita! Que parada é essa, cara?
O celular começou a vibrar em suas mãos, e foi
ficando quente como um tijolo esquecido no sol. A
tremedeira ficou cada vez mais forte, e Venom não
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conseguia acreditar no que estava vendo: um jato de
luz branca e intensa saiu do disco e o envolveu por
inteiro. Ofuscado pela forte luminosidade, ele não
conseguia enxergar mais nada. Começou a sentir um
formigamento em todo o corpo e era como se estives-
se flutuando.
– O que que está acontecendo? Eeeeii socor... – foi
o que conseguiu gritar.
O celular estava pelando de quente, ardendo como
brasa em suas mãos. E ele achou que tinha ficado
louco, porque, em meio à claridade branca e ofus-
cante, ele sentia como se tentáculos de luz saíssem
do celular e envolvessem seu corpo. Venom largou o
aparelho no chão, mas não conseguiu se virar para
correr. Parecia preso em alguma coisa, que foi captu-
rando cada centímetro do seu corpo. Ele se debateu,
sem conseguir se soltar.
Quando um último feixe atingiu seus olhos, Venom
viu tudo vermelho. E, de repente, tudo ficou preto.
Alguns instantes antes de perder a consciência, um
rápido pensamento passou por sua cabeça:
“Deve ser exatamente assim que um Pokémon se
sente quando é capturado por uma Pokébola...”
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No beco, um celular vibrava no chão. Vibrou, vi-
brou, vibrou, e então parou.
Um gatinho amarelo veio xeretar o aparelho que
estava ali aparentemente sozinho. Não havia nem si-
nal do humano que, segundos antes, gritava e se de-
batia com o telefone nas mãos.
Do Lado de Fora, não havia nenhum vestígio de
Venom.
Do Lado de Dentro, um corpo inconsciente jazia
estatelado no chão.
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