Revista Análise /2010
SUMÁRIO
TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE DE VALORES ATRAVÉS DE MODELOS PROBABILÍSTICOS ....................................................................................... 2
Murolo, Afrânio Carlos
UTILIZAÇÃO DE CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT) NA MODALIDADE SAAS (SOFTWARE AS A SERVICE) – A PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO ......................................... 12
Vivaldo José, Fabio Lanza, Vinicius Roberto Torres,
Aimar Martins e Victor Marcelino Dias
UM ESTUDO PRÁTICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR....... 23 Prof. Marco Antonio Paletta
CAPITAL FINANCEIRO, CRISE E MUNDIALIZAÇÃO NO CONTEXTO DA DÉCADA DE 70 ................................................................................................................... 32
Cristiano Monteiro da Silva
UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE AJUSTE NA AMÉRICA LATINA A
PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS-MUNDO............................................................... 43
Paulo Daniel e Silva
OS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA NO BRASIL E SUAS
INTERFACES: POLÍTICAS COMPENSATÓRIAS VERSUS EMANCIPATÓRIAS. 55
Elisiante Sartori
ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: REFLEXOS NA ECONOMIA E
POLÍTICA CONTEMPORANEA .......................................................................................69
Thiago Rodrigues Miota
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2
TOMADA DE DECISÕES EM ENERGIA E ANÁLISE DE VALORES
ATRAVÉS DE MODELOS PROBABILÍSTICOS
Murolo, Afrânio Carlos∗∗∗∗
Resumo
A análise das decisões nos fornece uma metodologia racional para os processos de tomada
de decisão, considerando cenários cada vez mais complexos, que se apresentam em face das
incertezas geradas pelo mercado consumidor energético.
Para auxiliar nesses processos e na identificação de um melhor caminho na solução desses
problemas, envolvendo decisões de cunho sequenciais, utilizamos árvores de decisão como critério
para a condição de chegar à melhor solução entre as várias alternativas, com o propósito de
minimização do custo esperado.
Cabe também salientar, que esta técnica utilizada neste artigo, associa variáveis de decisão
em modelos energéticos associando à implantação de um programa piloto, através de dados
experimentais, determinando o custo mínimo esperado e, consequentemente, atingindo a política
ótima de mercado.
1. Introdução
Uma técnica muito utilizada em pesquisa operacional para a identificação do melhor caminho
na solução de problemas, que envolvem decisões seqüenciais, é denominada árvores de decisões.
Pode-se dizer que árvores de decisão, representam processos de decisão por meio de nós. Estes
nós representam pontos no tempo. Contudo, esse processo, também é utilizado na determinação de
decisões ótimas, quando se apresentam, de certa forma, muito complexos.
Os passos para a construção de uma árvore são caracterizados pela determinação dos
caminhos a serem percorridos na determinação das probabilidades associadas aos eventos,
associação dos valores monetários para cada uma das alternativas, e resolução do modelo em
função da avaliação dos valores esperados em cada nó.
Podemos enunciar, também, que esta técnica associa riscos versus retorno de projetos de
investimento, dado que a mesma consegue aliar situações de tomada de decisão em horizontes
futuros.
∗ Mestre em engenharia da produção. Professor do curso de Administração de Empresas do UNIANCHIETA.
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3
Uma decisão recomendada a ser admitida como possível solução de um problema é aquela
que determina um ganho esperado máximo, ou um custo mínimo esperado. Portanto, as decisões
que tornam não compatíveis com o processo tem seus ramos excluídos da árvore de decisão.
2. Modelos de Decisão
Nos anos recentes, a análise de decisões e modelos de decisões tem-se tornado peças
importantes nos processos de tomada de decisão nos negócios, indústria e governo. Diante da
incerteza, as quais estão direcionadas num problema, a análise de decisões fornece uma
metodologia racional para a tomada de decisão, quando sentimos que as possíveis consequências
daquela decisão são muito importantes para a empresa ou para o negócio em análise. Portanto,
podemos salientar que embora incertos quanto às consequências de uma decisão, estamos nos
deparando com escolhas que envolvem riscos. No entanto, os modelos de decisão permitem ao
analista escolher entre alternativas de uma maneira ótima, levando-se em consideração dados
experimentais com o propósito de redução do grau de incerteza.
Podemos definir o processo de decisão como aquele que requer um único ou diversos
conjuntos das decisões possíveis para sua composição. Cada decisão possível tem um ganho ou
perda a ele associado, o qual é determinado por circunstâncias externas ao processo.
Designaremos as decisões possíveis (ações) por a1, a2, ..., am; os estados naturais C
(cenários) por c1, c2, ..., cm; e o retorno esperado por E (ai).
A tabela 1 é um exemplo de identificação da matriz de ganhos para as possíveis entradas de
ações e cenários:
Tabela 1 - Matriz de ganho
Ação/Cenário c1
pi (probabilidade)
c2, ..., cm
pi (probabilidade)
a1 g11 g12 g1m
a2 g21 g22 g2m
.
.
.
am
.
.
.
gm1
. .
. .
. .
gm2 gmm
2.1. Considerações teóricas sobre o Teorema de Bayes
A determinação de P(B), através da utilização do teorema da probabilidade total
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4
P(B) = P(B/R1). P(R1)+ P(B/R2). P(R2) + ... + P(B/Rn). P(Rn), precisamos obviamente
conhecer as probabilidades condicionais P(B/R1), P(B/R2), ..., P(B/Rn), que representaremos de modo
genérico por P(B/R), para i = 1,2, ..., n.
Se desejarmos avaliar uma probabilidade condicional do tipo P(R1/B), devemos utilizar então:
P(Ri/B) = P(Ri ∩ B) / P(B)
A expressão do numerador P(Ri ∩ B) / P(B/Ri) . P(Ri)
e a expressão do denominador P(B) = P(B/R1). P(R1) + P(B/R2). P(R2) + ... + P(B/Rn). P(Rn)
Substituindo-se estes valores, obtém-se:
Observa-se que a expressão anterior, avalia a probabilidade da "causa" Ri, dado o efeito B.
O critério, a priori (ou de Bayes), também é utilizado para determinar a decisão que maximiza
o ganho esperado (MUROLO et al., 1995, p. 176).
3. Critério Minimax, Mediano e Otimista
Podemos inserir neste critério, três modalidades utilizadas para relacionar a decisão, e dentre
elas configuram o Critério Minimax (ou pessimista), Critério Otimista e o Critério Mediano.
O primeiro critério (pessimista) visa maximizar o possível ganho mínimo, quando estamos
trabalhando com uma matriz de ganho. Já o segundo critério, determina a maximização do possível
ganho e; finalmente, o critério mediano é determinado pela média de ganhos mínima e máxima,
esperando ser o maior possível entre as decisões formuladas.
Como exemplificação desses critérios mencionados anteriormente, examinaremos a tabela 2.
Tabela 2 - Critérios: Minimax, Otimista e Mediano
Estados naturais/Cenários c1 c2
a1
(Consumo) 80 700
a2
(Manutenção) -150 2.200
P(B/R) . P(Ri)
P(Ri/B) =
P(B) = P(B/R1) . P(R1) + P(B/R2) . P(R2) + ... + P(B/Rn) . P(Rn)
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5
a1= 700 + 80/2 = 390 e a2 = 2.200-150/2 = 1.025
Conclui-se pela 1ª. Linha da matriz de ganho, que o ganho mínimo para a decisão a1 é igual a
80, sendo o ganho mínimo na 2ª. Linha igual a -150. Portanto, o ganho mínimo para a decisão a1 =
80, e o ganho mínimo para a decisão a2 = -150.
Como o Critério Minimax maximiza o possível ganho mínimo, tem-se que 80 é o valor de
ganho correlacionado à condição de decisão a1.
Para calcularmos o ganho sob a ótica do Critério Mediano, podemos estabelecer:
• Ganho máximo para a1 = 700, e ganho mínimo = 80
• Ganho máximo para a2 = 2.200, e ganho mínimo = -150.
Efetuando-se o cálculo das médias aritméticas, temos:
donde se conclui, que a decisão mais eficaz é a a2, baseada neste critério.
Finalizando, na linha a2 e cenário, relativo à coluna c2, temos o ganho igual a 2.200, decisão
esta, que pode ser observada sob o ponto de vista do Critério Otimista.
4. Uso da Técnica de Bayes na solução de problemas na tomada de decisão, através do
cálculo da distribuição, a posteriori
Vamos considerar neste exemplo, um estudo de viabilidade, dado pela possível substituição
de fontes geradoras de energia elétrica para fontes geradoras de energia a óleo. Neste estudo,
vamos analisar algumas decisões recomendadas para o problema, tais como: economia, inalterado e
perda, relacionados a estados naturais; compondo com essa associação um programa piloto de fonte
de energia geradora.
Para sermos mais específicos, a empresa em questão é detentora de uma rede de hotéis e
está buscando informações técnicas e formas de minimização de custos e, para tanto, observa
atentamente suas alternativas possíveis e viáveis para redução de seus custos energéticos.
Após consulta realizada em uma companhia fabricante de geradores a óleo, estimou-se um
custo de conversão de energia elétrica para energia a óleo, na ordem de 500.000 u.m. Porém, o
fabricante afirma, de forma categórica, que se a empresa efetuar a conversão ela deterá um lucro de
1.050 u.m., à medida que a conversão for substancialmente efetivada e incorporada pela empresa, ao
longo do tempo. Uma possibilidade que pode, até certo ponto ser remota, porém não impossível é de
que nada ocorra em termos de custos com a implantação da conversão.
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6
Admite-se que o fabricante tem experiência em situações similares, sendo que para esse
problema de conversão de energia, caracterizou a distribuição à priori, de acordo com o levantamento
de dados de mercado anteriores, e destinaram 25% de probabilidade de lucro de 1.050 u.m., 45%
para o custo de conversão e 30% se nada vier a ocorrer com a conversão.
Diante do objetivo do programa de conversão de energia, a própria empresa decidiu implantar
um programa piloto, com a finalidade de se avaliar indicadores, que se observem à própria realização
do programa, como também, a sua viabilidade econômica de conversão de energia, propriamente
dita.
Tendo-se em vista que os gastos operacionais para a adequação e implementação do
programa a ser orçado em torno de 50.000 u.m., determina-se como amostra significativa para a
avaliação três geradores a serem testados por um período de três bimestres, no tocante às tomadas
de decisão: economia, inalterado e perda, sendo que os estados naturais pressupostos pelo
programa piloto, indicariam: perda, economia e processo inalterado.
Os valores correspondentes à matriz de ganho e programa piloto apresentam-se, de acordo
com as tabelas 3 e 4, respectivamente, onde são descriminados, os valores relativos à matriz de
ganho em u.m., e ao programa piloto.
Tabela 3 - Matriz de Ganho (u.m.)
Tabela 4 - Probabilidades relativas ao Programa Piloto
Temos abaixo, o delineamento dos eventos (iθ ) e decisões (ai), com o intuito de
maximização da economia esperada no processo de tomada de decisão, observando que o mesmo
será analisado sob a ótica de dois estágios.
O primeiro estágio deve-se ao fato da realização ou não do programa piloto e, em
consequência, o segundo estágio versará sobre a identificação e decisão da conversão de energia
proposta pelo fabricante.
AI = Decidir pela não aceitação/realização do programa piloto.
AII = Decidir pela aceitação/realização do programa piloto
Decisão Cenários c1 c2 c3
a1 1.050 0 -500
a2 0 0 0
Indicação de Economia Sem alteração Perda de Economia
Economia 0,6 0,3 0,1
Estável 0,4 0,4 0,2
Perda 0,1 0,5 0,4
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7
a1 = Decisão pela conversão para geradores a óleo
a2 = Decisão pela não conversão de geradores a óleo
c1 = Estabelece, em termos de operação, que os geradores a óleo são mais baratos que o
sistema elétrico de energia, ora utilizado.
c2 = Estabelece que o custo do sistema elétrico de energia na em operação são iguais aos
geradores a óleo
c3 = Estabelece que o sistema elétrico de energia apresenta custos superiores na operação,
em relação aos geradores a óleo
1θ = Evento indicando economia pela implantação do programa piloto (geradores a óleo)
2θ = Evento indicando inalterado (nem economia, nem perda)
3θ = Indicação de perda
5. Resultados e Discussão
A decisão da realização ou não do programa piloto está pautada nos respectivos ganhos
esperados, relativos às decisões: não aceitação e aceitação do programa piloto. Portanto, deve-se
calcular os ganhos relativos às decisões: a1 e a2., se o programa piloto não se realizar.
Verifica-se sobre o critério a priori, que o ganho máximo está associado a a1, logo, optaremos
pela decisão de conversão de geradores a óleo.
De acordo com os dados da tabela 5, podem-se enunciar a probabilidade condicional, a priori:
Tabela 5 – Cálculos de distribuição a priori
1θ 2θ 3θ
P ( 1θ /c1) = 0,6 P ( 1θ /c2) = 0,4 P ( 1θ /c3) = 0,1
P ( 2θ /c1) = 0,3 P ( 2θ /c2) = 0,4 P ( 2θ /c3) = 0,5
P ( 3θ /c1) = 0,1 P ( 3θ /c2) = 0,2 P ( 3θ /c3) = 0,4
E (G1) = (1050) (0,25) + (0) (0,30) + (-500) (0,45) = 37,5
E (G2) = (0) (0,25) + (0) (0,30) + (0) (0,45) = 0
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8
Uniformizando os dados em uma tabela, temos:
Tabela 6 - Cálculo da Distribuição a posteriori de i
θ
1θ 2θ 3θ
P (c1/ 1θ ) = 0,4762 P (c1/ 2θ ) = 0,1786 P (c1/ 3θ ) = 0,0943
P (c2/ 1θ ) = 0,3810 P (c2/ 2θ ) = 0,2857 P (c2/ 3θ ) = 0,2264
P (c3/ 1θ ) = 0,1429 P (c3/ 2θ ) = 0,5357 P (c3/ 3θ ) = 0,6792
Segue da análise feita anteriormente, que E(G1) = 37,5 e E(G2) = 0. Como E(G1) > E(G2),
determinou-se optar pela realização do programa piloto, dado por AII.
Cabe salientar, que para a execução do programa piloto, o seu custo está orçado na ordem
de 50 u.m., portanto, todos os cálculos devem ser deduzidos deste valor e dispostos da mesma
formam a árvore de decisão.
Precisaremos, neste momento, efetuar alguns cálculos em relação às decisões a1 e a2 e,
consequentemente, em relação aos eventos 1θ , 2θ e 3θ , para definirmos com mais exatidão os nós
e ramos que caracterizam o maior valor esperado para o processo de tomada decisão.
Supondo que o resultado do programa seja 1θ (vide tabela), então calcularemos os ganhos
esperados, com relação a a1 e a2.
P ( 1θ /c1) . P(c1)
P (c1/ 1θ ) =
P ( 1θ /c1) . p(c1) + P ( 1θ /c2) . p(c2) + P ( 1θ /c3) . p(c3)
(0,6) (0,25)
P (c1/ 1θ ) = = 0,476,2
(0,6) (025) + (0,4) (0,3) + (0,1) (0,45)
1050 -50 = 1000 e -500 - 50 = -550
E (G1/ 1θ ) = (1000) (0,4762) + (-50) (0,3810) + (-550) (0,1429) = 378,55
E (G2/ 2θ ) = (-50) (0,4762) + (-50) (0,7810) + (-50) (0,1429) = -50
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9
Deduz-se que a decisão a ser utilizada, tendo em vista o critério a posteriori é a1 (conversão
para geradores a óleo).
Da mesma forma como foi analisado 1θ em relação à a1 e a2, faremos os cálculos e análises
de decisão, observando 2θ e 3θ .
Com relação a 2θ (vide tabela 6). Diante de a1 e a2, temos:
Logo, a decisão recomendada sobre o critério em questão é a2.
Finalmente, em relação a 3θ , diante das decisões a1 e a2, temos:
Portanto, a decisão recomendada é baseada nos cálculos acima, é a2.
O próximo passo será o cálculo de P( 1θ ), P ( 2θ ) e P ( 3θ ), dadas por suas probabilidades
totais com o objetivo de fechamento das probabilidades da árvore de decisão, e tomadas de decisão
para o nó mais viável em termos de ganho esperado.
Segue, que:
E finalmente:
E (G1/ 2θ ) = (1000) (0,1786) + (-50) (0,2857) + (-550) (0,5357) = -130,32
E (G2/ 2θ ) = (-50) (0,1786) + (-50) (0,2857) + (-50) (0,5357) = -50
E (G1/ 3θ) = (1000) (0,0943) + (-50) (0,2264) + (-50) (0,6792) = -290,30
E (G2/ 3θ) = (-50)
P (1θ ) = P (
1θ /S1) P(S1) + P ( 1θ /S2) P(S2) + P ( 1θ /S3) P(S3)
P (1θ ) = (0,6) (0,25) + (0,4) (0,7) + (0,1) (0,45) =
P (2θ ) = P (
2θ /S1) P(S1) + P ( 2θ /S2) P(S2) + P ( 2θ /S3) P(S3)
P (2θ ) =0,420
P (3θ) =0,265
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10
Árvore de Decisão: Figura 1
2
A1
3
A2
1
a137,5
1050
0
-550
C1
C2
0,25
0,30
C3
0,45
0
0
0
0
C1
C2
0,25
0,30 C3
0,45
01
4
378,55
0,315
1000
C1
C2
0,3810 C3
0,1429-50
-550
0,4762
378,55a1
a2
C1
0,4762
C2
0,3810C30,1429
-50
-50
-50
5
02 a1
-130,32
C1
0,1786
C2
0,2857
C3
0,5357
1000
-550
-50
a2
-50
C1
0,1786
C2
0,2857
C3
0,5357
-50
-50
-50
030,265
6
a1
a2
-290,30
-50
C1
0,0943
C2
0,2264C3
0,6792
C1
0,0943
C2
0,2265
C3
0,6792
1000
-50
-550
-50
-50
-50
-50
37,5
85
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11
A árvore de decisões apresentada na figura 1, mostra com clareza todo o processo de
decisão, acompanhado dos nós e ramos e suas probabilidades. Com base nos cálculos efetuados
sob o critério a priori e a posteriori, verificou-se que a decisão a ser tomada será AII, e em relação a
1θ , 2θ e 3θ , as decisões foram, respectivamente, a1, a2 e a2. Portanto, a decisão por a1, a2 e a2 e seus
valores ganhos correspondentes, determinam na árvore de decisão os ramos 4, 5 e 6.
Através dos cálculos efetuados, anteriormente, onde:
6. Conclusão
Comparando o nó esperado no nó 3 (E (nó 3) = 85 u.m.) com o ganho esperado (E (nó 1) =
37,5 u.m.), verifica-se que o nó 3 apresenta um ganho esperado superior, e portanto, é mais viável e
recomendado para a solução do problema, estando também, articulado com a decisão ou caminho AII
(realização do programa piloto).
Portanto, a empresa deve implantar o programa piloto em um primeiro estágio e buscar a
conversão para geradores a óleo, dado por a1, e observando que o maior esperado é no nó 4 de
(378,55 u.m.), considerando 1θ (caso em que o programa piloto indica economia).
7. Referências Bibliográficas
BUNN, D. Appied decision analysis. Nova York : Mc Graw-Hill, 1984
CASSARO, A.C. Sistemas de informação para tomadas de decisão. São Paulo, Atlas, 2003
HILLER, F.S.; LIEBERMAN, G.J. Introdução à Pesquisa Operacional. 3.ed. Rio de
Janeiro:Campus/São Paulo: USP, 1998 .
Goldbarg, Marco Cesar. Otimização Combinatória e Programação Linear : Modelos e Algoritmos. Rio
de Janeiro: Elsevier, 2000.
MUROLO, A.C. et al. Pesquisa Operacional. 3.ed. São Paulo, Atlas, 1997.
MUROLO, A.C. et. al. Estatística para os Cursos de Administração e Ciências Contábeis. 2.ed. São
Paulo, Atlas, 1997.
SCHEINERMAN, R. Matemática Discreta. São Paulo, Thompson, 2003, 532p.
SOUZA, Acilon Batista. Projetos de Investimento de Capital. São Paulo, Atlas, 2003.
E (3) = (valor nó 4) P(1θ )+ (valor nó 5) P( 2θ ) + (valor nó 6) P(
3θ)
E (nó 3)= (378,55) (0,315) + (-50) (0,42) + (-50) (0,265) = 84,99 ≅ 85 u.m.
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12
UTILIZAÇÃO DE CRM (CUSTOMER RELATIONSHIP MANAGEMENT) NA
MODALIDADE SAAS (SOFTWARE AS A SERVICE) – A PERCEPÇÃO DE
PROFISSIONAIS DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Vivaldo José1, Fabio Lanza2, Vinicius Roberto Torres3, Aimar Martins4, Victor Marcelino Dias5
Resumo: Customer Relationship Management (CRM, Gerenciamento do Relacionamento
com o Cliente), pode ser definido como um processo que compreende a aquisição e utilização
de conhecimento acerca dos clientes de uma empresa, de forma a que esse conhecimento
permita à mesma definir estratégias e práticas de marketing mais eficientes. Esse processo é
viabilizado pela utilização de sistemas de computador, cuja implantação, no entanto, exige
investimentos de porte. Nos últimos anos vem se observando o surgimento de uma alternativa
que deve permitir às empresas, especialmente as de médio e pequeno porte, implantar CRM
sem incorrer em investimentos tão grandes: trata-se da contratação de ferramentas de CRM na
modalidade Software as a Service (SaaS). Nessa forma de contratação, as empresas usuárias
pagam apenas pela efetiva utilização da ferramenta, com o software “rodando” nos
computadores do prestador de serviços, acessadas pelo cliente via WWW. A pesquisa cujos
resultados são aqui apresentados, visou tornar mais explícitos alguns conceitos relativos à
implantação de CRM nessa modalidade, em especial as vantagens e desvantagens de sua
utilização, e conhecer a percepção de profissionais de Tecnologia da Informação (TI) acerca
do assunto, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais
adequada projetos de implantação de CRM
Palavras chave: Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente, Software como Serviço,
Terceirização
1BRETERNITZ, Vivaldo José. Doutor em Ciências. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 2DETOMY, Fabio Lanza. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 3FREIRE, Vinicius Roberto Torres. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – Brasil. [email protected]. 4LOPES, Aimar Martins. Mestre em Administração, Professor do Centro Universitário Álvares Penteado e Coordenador do curso de Administração do Centro Universitário Padre Anchieta, Av. Adoniro Ladeira, 94 - CEP 13210-800 – Jundiaí-SP – Brasil. [email protected] [email protected] 5SANTOS. Victor Marcelino Dias. Bacharel em Sistemas de Informação. Rua da Consolação, 930 - São Paulo - SP – [email protected] .
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13
INTRODUÇÃO
Customer Relationship Management (CRM, Gerenciamento do Relacionamento com o
Cliente), pode ser definido como um processo que compreende a aquisição e utilização de
conhecimento acerca dos clientes de uma empresa, de forma a que esse conhecimento permita
à mesma definir estratégias e práticas de marketing mais eficientes. Esse processo é
viabilizado pela utilização de sistemas de computador (GREENBERG, 2001).
Sua adoção pode trazer às empresas, entre outros benefícios, a capacidade de rápida
identificação de tendências e reação a mudanças ambientais, a redução de custos de
marketing, aumento do grau de retenção e fidelização de clientes, facilidade de manutenção
de canais de comunicação com os mesmos, obtenção de feedback e aumento do valor de
cada cliente no longo prazo (BROWN, 2001).
Para a efetiva implantação de CRM, as empresas necessitam efetuar, entre outros, grandes
investimentos em Tecnologia da Informação (TI), necessários à aquisição de licenças de uso
de software, de hardware e contratação de serviços de consultoria. O volume desses
investimentos quase sempre restringe o uso de CRM às empresas de maior porte.
Nos últimos anos vem se observando o surgimento de uma alternativa que deve permitir às
empresas, especialmente as de médio e pequeno porte, implantar CRM sem incorrer em
investimentos tão grandes: trata-se da contratação de ferramentas de CRM na modalidade
Software as a Service (SaaS). Nessa forma de contratação, as empresas usuárias pagam
apenas pela efetiva utilização da ferramenta, com o software “rodando” nos computadores do
prestador de serviços, acessadas pelo cliente via WWW, a partir de computadores
praticamente de qualquer tipo e porte, desde microcomputadores convencionais a dispositivos
portáteis, como handhelds e celulares – The Economist (2006), define SaaS como “a entrega
de software como um serviço baseado na Internet, e não como um produto que precisa ser
comprado, instalado e mantido”.
Diante esse panorama, julgou-se oportuno estudar o assunto, pois a literatura brasileira
acerca do mesmo é bastante reduzida, por ser o tema muito recente em nosso país. Delineou-
se então uma pesquisa que teve como objetivo registrar a percepção de profissionais de TI
com experiência na implantação de ferramentas CRM no que se refere à utilização das
mesmas na modalidade SaaS (CRM/SaaS), em especial as vantagens e desvantagens de sua
utilização, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais
adequada projetos de implantação de CRM nessa modalidade.
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14
ASPECTOS METODOLÓGICOS
Em função do objetivo anteriormente exposto, optou-se por conduzir uma pesquisa
qualitativa de caráter exploratório, nos termos propostos por Mattar (2001), que afirma ser a
pesquisa exploratória apropriada para os estágios iniciais da investigação, quando a
familiaridade, o conhecimento e a compreensão da situação ainda são relativamente pequenos.
Churchill e Peter (2008) afirmam: que quando os pesquisadores pretendem descobrir idéias e
percepções, conduzem pesquisas exploratórias, buscando reunir informações de qualquer
fonte que possam gerar idéias úteis, devendo os mesmos a se preocuparem menos com a
abordagem probabilística e mais com a abertura de linhas de comunicação com aqueles que
têm algo a dizer.
Esta pesquisa foi realizada mediante a realização de um estudo de campo apoiado por
pesquisa bibliográfica. O estudo de campo foi conduzido pela aplicação de entrevistas semi-
estruturadas, levando em conta as afirmações de Triviños (2007), que argumenta que tais
entrevistas enriquecem os resultados da pesquisa por permitirem ao entrevistado manifestar-se
espontaneamente, abordando pontos não previamente considerados pelo entrevistador. Essas
afirmações são corroboradas por Flick (2004) ao referir-se ao que chama de “reserva
complexa de conhecimento” que o entrevistado possui em relação ao tópico em estudo. Este
conhecimento inclui suposições e idéias que não viriam à tona em uma entrevista estruturada.
A pesquisa bibliográfica foi conduzida buscando informações já disponíveis acerca do tema
em livros, artigos científicos etc., no intuito de identificar o que já foi estudado na área, nos
termos propostos por Mattar (2001), que afirma ser esta a forma menos demorada de
amadurecer ou aprofundar um problema de pesquisa.
Foram entrevistados oito profissionais com experiência em TI e em implementação de
CRM; alguns deles eram experientes em sistemas operando na modalidade SaaS. A escolha
de profissionais de TI justifica-se porque eles exercem influência ponderável no processo de
construção de estratégias e adoção de tecnologia nas organizações a que prestam serviços,
pois possuem uma visão ampla dos processos e produtos, das peculiaridades do mercado, da
tecnologia etc.¸ além de atuarem buscando soluções de tecnologia capazes de alavancar a
competitividade dos processos empresariais, trazendo informações do ambiente externo sobre
as melhores práticas, tecnologias emergentes etc. (FERREIRA, 2003).
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15
As entrevistas foram realizadas durante o segundo semestre de 2009; seu roteiro básico
compreendeu os seguintes aspectos:
- Conhecimento do modelo SaaS
- Benefícios trazidos às empresas pela adoção de CRM
- Vantagens e desvantagens advindas do uso de SaaS
- Perspectivas quanto ao aumento do uso do modelo SaaS
- Considerações adicionais
Não houve autorização para gravação de todas as entrevistas. Assim, imediatamente
após a realização de cada uma delas, as anotações tomadas pelos pesquisadores foram
complementadas, com o objetivo de reter o maior volume de dados possível. Nos casos em
que foi permitida a gravação, logo após a transcrição da entrevista gravada, também foram
juntadas as informações adicionais obtidas pelos pesquisadores.
Concluídas as entrevistas, os dados foram organizados em conjunto com as informações
coletadas na pesquisa bibliográfica, servindo de base para discussão e análise entre os
pesquisadores, com o intuito de identificar os aspectos relevantes, que poderiam atender aos
objetivos da pesquisa. Em alguns casos, quando se julgou necessário esclarecer pontos
específicos, os entrevistados foram contatados novamente, por telefone ou correio eletrônico.
A tabela 1 abaixo apresenta o perfil dos entrevistados:
Tabela 1: perfil dos entrevistados
Função Empresa em que atua
Diretor Presidente Empresa brasileira, de médio porte, prestadora de
serviços de consultoria e venda de serviços de CRM
Gerente de TI Empresa multinacional de origem japonesa, de grande
porte, da área de telecomunicações
Desenvolvedor (Analista de
Sistemas)
Empresa multinacional de origem japonesa, de grande
porte, da área de telecomunicações
Responsável pelos serviços de
TI para a área de Marketing e
Vendas
Empresa multinacional de origem norte-americana, de
grande porte, da área química
Diretor de TI Empresa brasileira, de médio porte, produtora de
software e prestadora de serviços de consultoria e CRM
Responsável por serviços de
pré-venda
Empresa brasileira, de médio porte, produtora de
software e prestadora de serviços de consultoria e CRM
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Gerente de Canais e Alianças Empresa multinacional de origem norte-americana, de
grande porte, produtora de software e prestadora de
serviços de CRM
Gerente de Canais e Alianças –
exerce funções similares ao do
entrevistado anteriormente
citado, mas em mercados
diferentes
Empresa multinacional de origem norte-americana, de
grande porte, produtora de software e prestadora de
serviços de CRM
O tamanho da amostra não permite a obtenção de informações conclusivas acerca do
assunto. No entanto, diante do objetivo da presente pesquisa (registrar a percepção de
profissionais de TI com experiência na implantação de ferramentas CRM no que se refere à
utilização das mesmas na modalidade SaaS, em especial as vantagens e desvantagens de sua
utilização, buscando gerar conhecimentos que permitam às empresas conduzir de forma mais
adequada projetos de implantação de CRM nessa modalidade), justificou-se o tamanho da
amostra.
UMA VISÃO DE SOFTWARE AS A SERVICE (SaaS)
Embora a prática da terceirização de sistemas aplicativos comerciais, como folha de
pagamento e faturamento, por exemplo, tenha ocorrida há décadas, por meio dos bureaux de
serviços, a prestação de serviços de software aplicativo online só recentement tornou-se
popular, mesmo já mencionada por diversos autores, dentre eles Dewire (2002) e Greschley e
Mangan (2002), ao tratar dos ASP - Application Service Providers (Provedores de Serviços
de Aplicação).
Os ASP são empresas que fornecem serviços de processamento de dados de forma similar à
praticada pelos antigos bureaux de serviços; ao se falar em SaaS, a novidade está na forma de
cobrança desses serviços, agora baseada na efetiva utilização do software aplicativo, enquanto
a idéia básica de utilização dos ASP é a de simples terceirização dos serviços de TI (DUHON,
2007). The Economist (2006) cita a opinião de Bill Gates no sentido de que o crescimento do
modelo de negócio SaaS seria o the next sea change in computing. O mesmo periódico, na
mesma edição cita outros analistas referindo-se a SaaS como uma tectonic shift na indústria
da computação.
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Além dos resultados do estudo de campo, posteriormente aqui apresentados, é importante
mencionar, previsões de especialistas mencionadas por St. Clair (2008), que afirmam que
35% do software aplicativo a ser implementado até 2012 serão fornecidos via SaaS, que 25%
do orçamento de Tecnologia da Informação serão destinados a aplicações SaaS em 2013 e que
em 2011 o mercado SaaS será da ordem de US$ 19,3 bilhões.
Kenney (2007) afirma que a primeira aplicação de SaaS como hoje é entendida, surgiu em
1999, quando a Salesforce.com, uma produtora de ferramentas CRM passou a fornecê-las
nessa modalidade. O autor afirma ainda que aplicações de CRM, por suas características
intrínsecas, são candidatas naturais a operarem na modalidade SaaS e essas aplicações,
juntamente com os ERP – Enterprise Resouce Planning, (Sistemas Integrados de Gestão), já
são as mais comumente utilizadas via SaaS.
Quer seja uma revolução ou simplesmente uma evolução, SaaS tem um forte atrativo para
os profissionais que tem responsabilidades pela entrega de serviços a custos adequados na
comunidade empresarial: com ele, as organizações podem adquirir software aplicativo pela
simples subscrição e sem preocupações com relação à criação e gerenciamento da infra-
instrutora.
O advento do SaaS como um mecanismo de entrega de serviços cria uma oportunidade para
que as áreas de TI das empresas alterem o seu enfoque: de implantar e dar suporte aos
aplicativos para gerenciar os serviços que esses aplicativos oferecem. Chong & Carraro
(2006) afirmam que uma área de TI focada em gerenciamento de serviços e do fluxo de
informações na organização produz mais valor para o negócio.
Segundo Cambiucci (2009), vive-se o crescimento de uma nova tendência no setor de TI, a
computação na nuvem (cloud computing), em que empresas de porte como Microsoft, IBM e
Google, por exemplo, radicalizam o conceito de ASP ao ampliarem seus datacenters para
oferecer aos seus clientes recursos de processamento facilmente escaláveis (situação em que
se pode aumentar facilmente o volume de dados processados), confiáveis e baratos, embora
não se vislumbre a total extinção dos datacenters das empresas, mas sim uma evolução para o
uso da TI de forma mais dinâmica, flexível e híbrida, em que serviços locais, com sistemas
desenvolvidos in house ou por terceiros, sendo processados em máquinas próprias,
combinados com serviços remotos, hospedados em datacenters de terceiros.
O enquanto CRM sistema de computador é apenas gerenciamento desse fluxo, é
fundamental para o sucesso das organizações; Neilson, Martin e Powers (2008) afirmam que
algumas das mais sérias ameaças à implantação de estratégias estão ligadas à má gestão do
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fluxo de informações, em especial dificuldades para reunir e disseminar as informações na
forma e tempo necessários e no custo dessas atividades. Os mesmos autores relatam que
quando soluções do tipo SaaS assumem parte dessas responsabilidade, além da redução de
custos, há a liberação dos profissionais até então envolvidos para atividades mais nobres,
como as relacionadas à busca de oportunidades de colaboração intra-organizacionais.
Alguns outros fatores tem contribuído para o crescimento do SaaS, entre eles o interesse das
organizações em terceirizar funções não ligadas ao seu core business, dentre elas TI e a
consolidação de gerenciamento de serviços como uma carreira profissional (ST. CLAIR,
2008).
As discussões sobre terceirização foram incentivadas pelo provocativo artigo de Carr
(2003), que fala em “comoditização da TI” com a Internet, sendo o veículo adequado para a
entrega de aplicações genéricas como CRM. Carr afirma que cada vez mais as organizações
irão adquirir serviços de TI, de forma análoga a que adquirem energia elétrica e serviços de
telecomunicações, pagando pelo que efetivamente consomem. O autor também chama a
atenção para o fato de que, desde então, grandes provedoras de produtos e serviços como IBM
e Microsoft já procuram se posicionar como provedoras de serviços e não mais como
provedoras de hardware e software, e que esse posicionamento induziria as organizações
clientes a substituir aplicações próprias ou customizadas por ferramentas-padrão, fornecidas
por empresas deste tipo.
Os profissionais das empresas usuárias parecem diminuir sua resistência a essa nova
realidade na medida em que o planejamento de carreira nas grandes organizações passou a dar
maior atenção a gerenciamento de serviços (LOHR, 2006). Ao mesmo tempo, o mundo
acadêmico passou a dar atenção ao assunto, disponibilizando cursos e desenvolvendo
pesquisas sobre o assunto. O que é chamado Service Science tem como grande objetivo
fornecer aos usuários o nível de serviço que precisam a custos adequados, garantindo às
organizações a aquisição e/ou manutenção de vantagens competitivas (ST. CLAIR, 2008). O
setor de serviços adquire cada vez mais importância nas principais economias, chegando a
representar valores da ordem de 76.9% e 67,7% dos PIB dos Estados Unidos e do Brasil,
respectivamente (CIA, 2009). Esses números, por si mesmos, sinalizam a importância de
tratar do assunto também no ambiente acadêmico.
Horn (2005) afirma que SaaS é uma ferramenta importante para a prestação de melhores
serviços, devendo abordar-se o assunto dentro do espírito da Service Science, que estaria na
interseção entre TI e negócios, com componentes ligados às áreas de computação, pesquisa
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operacional, engenharia industrial, direito e outras. Essa abordagem ampla ajudaria a garantir
a qualidade dos serviços prestados, incentivando as empresas a não construírem suas próprias
soluções de TI. As vantagens advindas dessa nova postura trariam especialmente uma
significativa redução de custos, uma implantação rápida e operação simplificada.
A redução de custos quase sempre está entre os principais desejos de uma organização;
Duhon (2007) diz que SaaS contribui para essa redução especialmente por:
- Exigir poucos investimentos em hardware e software;
- Não exigir aumento da estrutura organizacional existente;
- Operar, em termos de preços, na modalidade pay -as-you-go, ou “pague pelo que
efetivamente usou”;
- Não gerar custos de manutenção em TI;
- Permitir que atualizações de versões e manutenção de software não tragam distúrbios
às operações rotineiras
As ferramentas CRM desenvolvidas para serem operadas na modalidade SaaS contemplam
templates (esquemas facilitadores de implementação) que permitem sua rápida implantação,
especialmente se as empresas usuárias optarem por níveis não muito elevados de
customização; uma implantação vanilla flavour, como se diz no jargão dos profissionais de
TI. Além disso, incorporam procedimentos operacionais simples, projetados para leigos em
TI, o que é especialmente importante para organizações de menor porte, que não podem
contar com muitos especialistas.
Evidentemente, alguns outros cuidados devem ser tomados pelas organizações que
estiverem considerando a hipótese de adotar ferramentas CRM na modalidade SaaS, além
daqueles ligados às funcionalidades da ferramenta, ou seja, os que realmente atendem às
necessidades da organização. Devem-se analisar ainda os aspectos relacionados ao prestador
do serviço: aspectos éticos, visão de futuro, estabilidade, maturidade, market share etc.
Tomados os cuidados de praxe, pode-se afirmar com relativa segurança que CRM na
modalidade SaaS é uma alternativa interessante para organizações de todos os portes. Kaplan
(2007) afirma que 80% das organizações que já utilizam algum tipo de aplicação na
modalidade SaaS estão satisfeitas e pretendem operar novas ferramentas nessa modalidade.
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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS – A PERCEPÇÃO DOS ENTREVISTADOS
De forma sintética, pode-se dizer que a princípio a utilização de CRM na modalidade SaaS
é vista pelos entrevistados como uma alternativa bastante interessante, especialmente para as
empresas de pequeno e médio porte, confirmando o apurado pela pesquisa bibliográfica.
Há, no entanto, a percepção de que o conceito de SaaS ainda não está totalmente
amadurecido. Provavelmente, espera-se resistência à mudança pelo pessoal de TI,
especialmente por julgarem que as relações de poder na empresa seriam alteradas,
ocasionando a esses profissionais perda de poder e prestígio. No que se refere especificamente
a CRM, esses profissionais julgam que ainda não há uma experiência muito difundida no
Brasil, principalmente sobre como implantá-lo de maneira eficiente, especialmente em
empresas de médio e pequeno porte; essa é ainda menor ao se falar em CRM na modalidade
SaaS.
De forma geral, os entrevistados julgam que a maior vantagem advinda da utilização de
CRM na modalidade SaaS é a redução dos investimentos iniciais e custos envolvidos,
especialmente pela não necessidade de aquisição e upgrade de hardware e licenças de
software, instalações e infraestrutura, depreciação e outros, inclusive indiretos.
A utilização de CRM implica na necessidade de armazenar e processar grandes volumes de
dados, pelo que cuidados (e custos) com relação à escalabilidade (capacidade do software e
hardware tratarem volumes cada vez maiores) também devem ser tomados, implicando em
mais investimentos. O estudo de campo apurou também que, se a empresa optar por deixar de
utilizar CRM, como acontece com alguma freqüência, especialmente pelo fato de os usuários
não se interessarem pelo sistema, os prejuízos serão menores quando se opera na modalidade
SaaS, pois na prática é preciso apenas cancelar o contrato de prestação de serviços; já se a
opção foi pela modalidade convencional, perde-se a totalidade dos investimentos efetuados
em aquisição de licenças de uso de software, valores usualmente bastante significativos em
relação ao total dos investimentos necessários à implementação de CRM.
A participação do pessoal de TI na implantação do CRM/SaaS também é praticamente
inexistente, enquanto no CRM convencional existe a necessidade de sua participação de
forma intensiva, para instalação, atualização, tuning (ajustes), processamento do software e
administração de dados.
As ferramentas de CRM voltadas para a operação na modalidade SaaS, tem seus interfaces
projetados de forma similar aos adotados por outros aplicativos que rodam no ambiente web;
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isso torna sua utilização mais fácil, com menor necessidade de treinamento dos usuários
finais, ao contrário do que ocorre com os sistemas convencionais de CRM; tudo isso reduz
custos e aumenta a velocidade de implementação.
Como desvantagens da aplicação de CRM/SaaS, apontou-se principalmente as dificuldades
de customização dos sistemas para que possam atender a necessidades muito específicas.
Essa dificuldade é inerente à operação de qualquer sistema na modalidade SaaS, pois não faria
sentido estarem disponíveis inúmeras “versões” da ferramenta, embora todas elas sejam, até
certo ponto, configuráveis.
Preocupações em relação à segurança dos dados foram também levantadas. Essas
preocupações concentram-se na possibilidade de furto de dados, quando alguns dos
entrevistados apontam como exemplo a postura de instituições financeiras, de quase sempre
optarem por processamento e armazenagem próprias. Preocupações desse tipo e as
dificuldades de customização são frequentemente manifestadas pelo pessoal de TI quando se
cogita utilizar software ou datacenters de terceiros.
Finalmente, no que tange à evolução da utilização de CRM/SaaS, parece ser unânime a
opinião de que haverá crescimento, embora sem consenso quanto ao seu ritmo. Observou-se
também que um modelo misto, com algumas ferramentas como CRM e ERP tendem a ser
mais utilizados na modalidade SaaS, mas que sistemas implementados na forma convencional
(software e hardware próprios) ainda continuarão a ser utilizados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da pesquisa bibliográfica e do estudo de campo permitem afirmar que,
tomados os devidos cuidados na seleção da ferramenta e do prestador de serviços, a utilização
de CRM na modalidade SaaS pode ser vantajosa para empresas de todos os portes, mas
especialmente para as pequenas e médias, em função do volume dos investimentos
necessários.
Cuidados devem ser tomados para contornar as resistências, oriundas principalmente do
pessoal interno de TI, bem como no planejamento e execução da seleção, contratação do
provedor do serviço e da customização da ferramenta.
Os resultados da pesquisa sinalizam também que os executivos e profissionais de TI devem
preparar-se para uma realidade em que brevemente e talvez por um longo período de tempo,
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22
SaaS, especialmente envolvendo CRM, será uma modalidade importante no ambiente das
organizações
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Revista Análise / 2010
23
UM ESTUDO PRÁTICO SOBRE O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
Prof. Marco Antonio Paletta•
Resumo
Este artigo discute a o comportamento do consumidor por meio do levantamento empírico das
características tratadas na Teoria das Necessidades de Maslow e nos fatores que influenciam a
compra do consumidor. Entendem os autores que as discussões aqui apresentadas devem ser
monitoradas de forma sistemática de forma a melhorar a eficiência do processo de venda
pelas organizações.
Palavras Chave: comportamento do consumidor, teoria das necessidades, fatores que
influenciam a compra.
Introdução
Para os profissionais de marketing e as empresas, principalmente as varejistas, é notável que o
comportamento do consumidor vem se transformando. Acompanhar estas mudanças de perfil
é de fundamental importância para adoção das ferramentas de marketing adequadas a este
novo mercado.
Uma questão estratégica, a ser respondida, pelas as empresas atualmente é a constante
mudança no comportamento de compra dos consumidores, que pode ser exemplificada por
escolhas ora por produtos caros, de boa qualidade e durabilidade, ora por produtos baratos e
descartáveis. Uma vez que há grandes semelhanças nas características dos produtos
oferecidos pelas empresas, a concorrência entre as empresas, na maioria das vezes, faz com
esse comportamento fique com frequentes modificações.
A literatura de Marketing atual descreve os vários os fatores que interferem no
comportamento de compra dos consumidores, e que afetam a diretamente sua escolha
• Pesquisa elaborada pelos alunos da disciplina Administração Mercadológica III, do 5º semestre do curso de
Administração de Empresas/UNIANCHIETA, sob a supervisão do Prof. Marco Antonio Paletta.
Revista Análise / 2010
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determinado produto ou marca. A teoria das necessidades de Maslow, fatores culturais,
sociais, familiares, econômicos e psicológicos agem em conjuntamente de forma a tornar
ainda mais complexa a identificação do fator preponderante em uma decisão de compra. No
mundo atual, com mercados cada vez mais competitivos, o conhecimento destes fatores torna-
se primordial na busca de vantagens competitivas pelas empresas e organizações.
Reconhecer as técnicas de marketing e as teorias a elas associadas, bem como utilizá-las a seu
favor, é fundamental para conhecimento das necessidades de desejos dos consumidores e
favorecem o diferencial competitivo por parte das empresas que as utilizam de forma eficiente
e eficaz em um mercado cada vez mais fragmentado e diferenciado.
Este trabalho nasceu de uma pesquisa de campo realizada pelos alunos da disciplina de
Administração Mercadológica III do quinto semestre do curso de Administração do Centro
Universitário Padre Anchieta, e aborda aspectos do comportamento do consumidor
(mercadológicos, psicológicos, etc.) e linhas gerais para empresas no que tange a fatores
importantes que influenciam o mercado de consumo.
Maslow e o Comportamento do Consumidor
Abraham Maslow foi o fundador da psicologia humanista. Sua linha de pensamento diz
respeito à classificação das necessidades do ser humano dentro de uma hierarquia, que vai das
necessidades fisiológicas até as de auto-realização.
Para ele tais necessidades apresentam-se numa hierarquia de importância e premência,
conforme ilustrado na FIGURA 1.
Figura 1 – Hierarquia das Necessidades – Pirâmide Motivacional
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Desta forma, entende-se por necessidade tudo aquilo que precisa ser satisfeito, pois caso
contrário causará algum tipo de indisposição. Ora neste caso, a necessidade já existe. Isso leva
a crer que o Marketing não cria necessidades, mas as identifica, para que possam ser
satisfeitas com estratégias adequadas.
A teoria da motivação de Maslow é citada pela maioria dos autores expressivos na área de
marketing como Kotler (1998) e Churchill & Peter (2000). Para esses autores, o conhecimento
desta teoria é necessária ao profissional de marketing, visando a compreensão dos fatores
psicológicos determinantes do comportamento humano e, portanto, do comportamento de
compra do consumidor.
A teoria de Maslow permite compreender também os fatores psicológicos que interferem não
só na detecção do consumidor de que existe uma necessidade, mas em todo o processo da
compra. O conhecimento desta teoria auxilia os profissionais de marketing e vendas a
identificar e buscar atender as reais necessidades dos consumidores quando envolvidos no
processo de compra, facilitando a negociação e a superação de objeções por parte do
consumidor.
Fatores que Influenciam o Comportamento de compra do Consumidor
Segundo Kottler (1998), os principais fatores que influenciam o comportamento do
consumidor são os seguintes: (1) culturais→ exercem a maior e mais profunda influência
sobre o comportamento do consumidor (cultura, subcultura e classe social), pois, à medida em
que a criança cresce, adquire certos valores, percepções, preferências e comportamento de
acordo com a sua família e de outras instituições; (2) sociais→ são os grupos de referência,
família, papéis sociais e status; (3) pessoais→ são influenciados por características pessoais,
como idade e estágio do ciclo de vida, ocupação, circunstâncias econômicas, estilo de vida,
personalidade e auto-imagem e (4) psicológicos→ são influenciados por quatro estágios
predominantes, tais como motivação, percepção, aprendizagem, crenças e atitudes.
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A metodologia e a pesquisa de campo
Após a revisão teórica dos assuntos mencionados acima, foi solicitado pelo professor a
realização de uma pesquisa cujo principal objetivo era melhorar a compreensão do
comportamento de compra dos consumidores, pondo os alunos em contato direto com um
consumidor. O primeiro passo foi selecionar uma pessoa que tenha adquirido, recentemente,
um produto/serviço com as características descritas em cada uma das alíneas a seguir:
A. Um produto/serviço de grande consumo, de preço inferior a R$ 10,00;
B. Um produto/serviço utilitário, de preço superior a R$ 300,00; e
C. Um produto/serviço com relevância emocional, de preço inferior a R$100,00.
A tarefa consistiu em conduzir uma entrevista com esse cliente. O objetivo principal da
entrevista é a compreensão do processo de decisão que originou a compra do produto/serviço,
nomeadamente nos aspectos importantes para as decisões de Marketing.
A lista de questões que a seguir se enumeram funcionaram como Guia de Atuação para a
estruturação da entrevista. É importante ressaltar que a mesma não foi utilizada rigidamente,
nem tão pouco foi completa e exaustiva em questões que necessitam ser respondidas ou
suficientemente detalhadas nos pormenores a comprovar. Deve antes de tudo estimular uma
discussão aberta à volta destas questões chave, tentando saber: (a) como se desenvolve o
processo de decisão de compra; (b) quais os fatores, do meio envolvente e relacionados com a
psique do consumidor, que determinaram o seu comportamento e atitude.
Os resultados foram sumarizados num pequeno relatório individual de uma a duas páginas e
os alunos deveriam estar preparados para, em sala, descrever a entrevista e principais
conclusões.
Este exercício foi traduzido e adaptado de um conjunto de textos da Harvard Business School
“Consumer Behavior Exercise (A)-(F)”
Questões para Discussão
A sua tarefa consiste em perceber o Processo de Compra
• Que produtos foram estes?
Quem participou no Processo de Decisão
• Quem comprou o produto?
• Quem tomou parte no processo de decisão? Que papel coube a cada um?
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O que motivou a compra
• Que problemas o produto/serviço solucionou? Que funções deveriam facilitar?
• Que atributos parecem ser importantes?
Caracterize a Decisão de Compra
• Foi a primeira decisão de compra nesta categoria? Foi uma alteração de uma primeira
decisão? Foi uma decisão ponderada? O tempo de escolha foi apropriado para a complexidade
da decisão?
Caracterize o Processo de Tomada de Decisão
• O que iniciou o processo? Houve pesquisa de informação? Como foi conduzida a
busca de informação do consumidor? Que quantidade de informação foi recolhida? Quais as
fontes utilizadas? Em que fase do processo foi recolhida a informação? Quantas alternativas
foram avaliadas? Porquê essas e não outras? Como foi feita a escolha final do produto ou
serviço concreto comprado?
Onde comprou o Consumidor
• Por que nesse local? O que foi mais importante: onde comprar ou o que comprar?
Os Resultados
Foram realizadas quarenta e cinco entrevistas sendo levantados aspectos relacionados ao
comportamento de compra dos mais variados tipos de produtos tais como: sanduiches, tênis ,
sabão em pó, guarda roupas, flores, leite, fogão, livro, camiseta, aparelho de barbear
descartável, celulares, vigas para construção de lages, aparelhos de MP4, xampus, calças,
geladeiras, botas, cigarros, protetor solar, refrigerantes, bonés, calculadoras, chocolates,
notebooks, tintura de cabelos, DVD´s, sandálias, sabonetes, serviço de TV por assinatura,
lavadora de roupas, jóias, plano de saúde, cadeados, veículos e até apartamentos.
Entre os motivos destacados para a compra que respondem às questões apresentadas
anteriormente destacam-se:
Nos produtos de grande consumo com preço inferior a R$ 10,00 (dez reais) tais como:
sanduiches, sabão em pó, leite, aparelhos de barbear, cigarros, refrigerantes, chocolates,
bonés, cadeados entre outros se percebeu que, excetuando o cigarro adquirido mais em função
do vicio e da escolha de um marca, o processo de compra é mais individual, mas, ainda assim
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existe a influência de fatores externos na escolha do produto como a influência do grupo de
amigos ou outro elemento familiar na escolha de um simples sanduiche, a marca e a qualidade
expressas na escolha de um sabão em pó ou aparelho de barbear, no caso de sabonetes foram
apontados aspectos como qualidade e resultados no cuidado da pele, o cadeado foi adquirido
em função da segurança promovida no fechamento do portão da casa, a compra por impulso
ou pelo fato do baixo valor agregado do produto levam o consumidor a adquirir produtos mais
por satisfação pessoal do que por planejamento ou fatores mais mercadológicos.
No segundo grupo de produtos na faixa dos R$ 300,00 onde foram encontradas camisetas,
tênis, calças, geladeiras, botas, notebooks, lavadoras de roupas, jóias entre outros, as compras
já começam a ser mais planejadas e a escolha também não fica apenas no pessoal, aspectos
como status promovido pela compra de uma calculadora, aparelho celular ou tênis,
características como qualidade, garantia, assistência técnica aparecem na escolha de alguns
dos produtos consumidos, a auto-estima como a compra de uma bota ou a necessidade de se
estabelecer ou manter relacionamentos sociais como a compra de produtos para presentear
alguém como jóias, camisetas aparecem fortemente neste grupo. A escolha de produtos de
maior valor como planos de saúde, notebooks, guarda roupas, veículos ou imóveis envolvem
planejamento e fatores de maior complexidade em sua escolha, onde as necessidades mais
destacadas são de segurança, conforto, comodidade promovida pelo bem adquirido. Neste
grupo aspectos como impulso foram menos citados, mas ainda assim fizeram-se presente em
algumas respostas como de consumidores que adquiram produtos influenciados por sua
exposição na vitrine.
No último grupo, o de produtos ou serviços de relevância emocional, onde apareceram
produtos como bichos de pelúcia, tinturas de cabelo, livros, serviços de TV por assinatura,
DVD´s, roupas foram escolhidos para destacar características pessoais dos consumidores,
moda, melhoria de auto-estima, ou para satisfazer necessidades de outras pessoas quando os
mesmos tinham a função de presentear alguém.
A maioria dos produtos foram adquiridos em lojas comerciais sendo alguns adquiridos pela
internet, sendo apontado como fator determinante para a compra, além do produto em si a
segurança do site do fornecedor.
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Considerações Finais
Em face ao produtos abordados nesta pesquisa e talvez pelas características apresentadas,
percebeu-se que a escolha final dos produtos feita pelo consumidor entrevistado ocorreu, na
maioria das vezes, na loja no momento da compra. percebendo-se em suas respostas os mais
diversos aspectos tratados nas teorias vistas ao longo do curso.
Ao finalizar este trabalho, foi possível observar que o comportamento do consumidor varia
conforme idade e meio inserido, onde cada cliente pensa de um jeito diferente e busca
produtos diferentes, podendo o processo de compra manifestar-se por diversas razões como
estar realmente precisando, estar com vontade, impulso, gosto pessoal, reconhecimento entre
outros.
Todos os clientes pesquisados acabaram por sofrer algum tipo de influência de fatores
externos em maior ou menor grau, percebe-se também que os consumidores levam em
consideração fatores como qualidade, preço e marca conhecida.
As compras por impulso não requerem grandes pesquisas e ocasionaram satisfação imediata
de um desejo momentâneo de ter ou de satisfazer necessidades muitas vezes básicas do ser
humano. Produtos mais caros necessitam de uma busca de informações mais detalhadas. Por
outro lado percebe-se que os consumidores optam pela compra de produtos considerados
bons, onde a diferença de preço na faixa de R$ 100,00 não o impede de levar um produto
melhor em relação a um produto considerado inferior.
Ainda que movidos por diferentes necessidades, percebeu-se que nos momentos em que o
consumidor sabia exatamente o que queria sempre foi mais fácil encontrar o produto que o
satisfaça, do contrário parece que o produto adquirido não está bom, ou que gera a sensação
de que está faltando algo.
O marketing atua gerenciando variáveis do chamado 4ps (produto, praça preço e promoção),
ou seja, as ações do marketing refletem no comportamento destas variáveis.
Considerando-se que a razão de existir de qualquer empresa é vender, destaca-se a
importância do marketing neste processo. A venda é feita para consumidor ou cliente. A
diferença entre eles é que o primeiro consome, enquanto o segundo geralmente repassa a
mercadoria para o primeiro, sendo assim o cliente compra com certa freqüência,
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estabelecendo uma relação de longo prazo, enquanto o consumidor compra aleatoriamente, de
acordo com suas necessidades.
Propaganda, ações promocionais no ponto de venda, disponibilização de produtos e atividades
de trade marketing são fatores fundamentais para se atingir o consumidor e facilitar a relação
entre as empresas e o mercado consumidor.
A realização deste trabalho proporcionou verificar que as características apontadas na teoria
de necessidades de Maslow e nos fatores que influenciam a compra do consumidor, bem
como aspectos relacionados à compra por impulso, planejamento, negociação,
disponibilidade, exposição do produto entre outros conceitos vistos ao longo do curso
manifestam-se de forma intensa no comportamento de compra do consumidor. Estar atento a
estes aspectos é fundamental para o sucesso dos profissionais de Marketing seja no
desenvolvimento de novos produtos, seja na elaboração de campanhas promocionais ou de
comunicação com o mercado.
Colaboração:
Alexandro de Cassio Florindo
Ana Luiza Gerfi Bertozzi
Ana Paula Gonçalves Jovelli
Bruna de Oliveira Kaam
Bruna Fernanda Azedo
Daniela Fernanda Sgarbosa Pereira
Dayane Soraia Thomaz Romboli
Edileide Gonçalves de Souza
Ednéia Conceição Giovani Nascimento
Fabiana Robertoni
Isabel Laís da Silva Guelfi
Jaqueline Santos Silva
Katia de Carvalho Costa
Lucas Gomes do Monte Ditano
Mércia da Silva Limeira
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Natália Soares Prado
Paula Antunes de Oliveira
Robson Gusmão
Rogélia Antunes de Oliveira
Roney Sivi
Suzane Regina Caetano
Tania Maria Brasil Muzaiel
Tatiane Maria Grecco
Thais Cristina Barbosa
Wagner Melloni
Supervisão e revisão final:
Prof. Marco Antonio Paletta
BIBLIOGRAFIA
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Saraiva, 2000.
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Capital financeiro, crise e mundialização no contexto da década de 70 Dr. Cristiano Monteiro da Silva ••
Resumo
No contexto da crise estrutural que se viu a partir da década de 70 o capital financeiro se internacionalizou e conseguiu consolidar o neoliberalismo como projeto estratégico em várias sociedades. No Brasil, há um interessante debate que se montou a partir de tal condição objetiva, especificamente sobre as questões ideológicas contidas na tese da “Globalização”. E ainda os diversos posicionamentos sobre a atual situação hegemônica dos Estados Unidos: a tese de “Explosão Competitiva” (FIORI, 2008), a suposta crise terminal da hegemonia americana, nos sentidos atribuídos por ARRIGHI (2008) e WALLERNSTEIN (2004). Palavras-chaves: Capital Financeiro; Mundialização; Hegemonia. Introdução
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos detinham condições socioeconômicas e políticas superiores aos demais países e assumiram uma posição hegemônica no sistema mundial de Estados. Naquele contexto, sua superioridade podia ser notada na produção industrial, na situação financeira e militar. O produto mundial era controlado principalmente pelas empresas multinacionais estadunidenses. A internacionalização dessas empresas é um dos elementos que ajuda a compreender a reconstrução da Europa e Japão, e também a industrialização em países da América Latina. A condição hegemônica dos Estados Unidos refletiu inclusive nas instituições criadas a partir da conferência de Bretton Woods . São exemplos, o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), no terreno militar, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que passaram a exercer papéis de gerentes financeiros das economias dependentes. E o dólar foi firmado como moeda de reserva da economia mundial. As políticas de reconstrução dos países capitalistas aliados foi uma das maneiras de enfrentar o bloco soviético, naquele contexto apontado como inimigo maior. Essas políticas possibilitaram um considerável crescimento econômico, o período foi caracterizado como “Boom do Pós Guerra”. Contudo, essa base trouxe novas condições estruturais. Nos primeiros anos da década de 70, emergiu mais uma crise estrutural capitalista, inicialmente situada principalmente nas economias líderes: Estados Unidos, Japão e Alemanha (ARRIGHI, 2008). Este artigo tem por objetivo central a análise dos posicionamentos dos países dominantes no contexto da crise estrutural capitalista vista a partir da década de 70. A análise
• Doutor em Ciências Sociais pela PUC/SP (2010). Mestre em Economia Política PUC/SP (2002). Coordenador do curso de Ciências Econômicas/UNIANCHIETA. Coordenador do NEPEC – Núcleo de Estudos do Pensamento Econômico Contemporâneo.
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de seus elementos contraditórios é feita considerando algumas categorias da teoria marxista do imperialismo. Na primeira parte, discutiremos o processo de internacionalização do capital financeiro, enquanto resposta a crise estrutural. Depois, as ideologias usadas em favor da estratégia de internacionalização. Encerramos o texto com um ensaio sobre o debate a respeito da hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados. 1. A internacionalização do capital financeiro
O conceito de crise estrutural que levou ao fim o período do Boom do Pós Guerra é peça fundamental para qualquer análise sobre o caráter das relações internacionais vistas a partir da década de 70. Sabe-se que existem muitas interpretações. Entretanto, aqui busca-se referência no trabalho clássico de Kondratieff (1992), segundo o qual, grosso modo, além dos ciclos curtos, teoricamente analisados por Marx (1988), o desenvolvimento capitalista agrega ainda os períodos mais longos e regulares de auge e declínio econômico, que perduram aproximadamente 50 anos, marcados por uma fase ascendente e outra descendente. Sabendo que na análise o novo é considerar a rica totalidade, sobretudo, as relações internacionais marcadas pelo domínio do capital financeiro frente as demais formas de relações sociais.
No contexto da uma crise estrutural, a partir da década de 70, os sucessivos governos dos Estados Unidos adotaram políticas cujo sentido era a socialização das perdas e a reconstrução de uma situação política mundial favorável à aplicação de um projeto estratégico, tendo em vista, sobretudo, as soluções no campo da economia, à expansão do capital financeiro e a sustentação da condição hegemônica nas relações internacionais. No campo das relações internacionais, os Estados Unidos, diante da derrota no Vietnã, passou a fazer uso dos recursos econômicos e financeiros. “A partir da década de 70, sobretudo depois do desastre do Vietnã e da política de contenção militar da China, a diplomacia americana na Ásia concentrou-se nos aspectos econômicos e financeiros” (TAVARES & BELLUZZO, 2007, p 126),
A política externa norte americana apoiou-se na nova divisão internacional do trabalho que vinha sendo montada desde o pós-guerra. O que se viu foram novas relações econômicas com o mundo asiático, especialmente com a China. Estas relações, muito embora não fossem tão satisfatórias para os saldos comerciais externos, a posteriori abriram espaços para a internacionalização do capital financeiro americano e o financiamento das contas externas por meio do controle da liquidez monetária mundial.
A respeito dessa postura dos Estados Unidos, Tavares & Belluzzo (2007, p.125) explicam que,
Com a nova divisão internacional do trabalho, facilitada pelo deslocamento das filiais multi-sourcing, a economia nacional americana se vê forçada a ampliar o seu grau de abertura comercial e a gerar um déficit comercial crescente para acomodar a expansão comercial assimétrica dos países asiáticos produzida em grande parte pela expansão global do grande capital americano.
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Esse fenômeno é fundamental para explicar a nova situação econômica mundial que se montou a partir do fim do Boom do pós-guerra. Ajuda a compreender as razões para a ruptura definitiva do sistema de Bretton Woods, o abandono da produção assistida por meio da contenção dos preços do petróleo e da crescente liberalização financeira e comercial impulsionada principalmente pelos Estados Unidos e a Inglaterra a partir da década de 80. Desde os anos 50, o euromercado vinha se desenvolvendo, contando com o apoio dos Estados Unidos e a Inglaterra e reunindo grandes bancos e empresas que operavam a partir da praça de Londres. No início da década de 60, ocorreu o primeiro ataque ao dólar, provocando desvalorização e fuga de capitais dos Estados Unidos. A reação foi no sentido de pressionar por uma liberalização dos mercados de capitais, a fim de permitir que as taxas de juros se tornassem o ponto de atração. Fiori (2007, p.92), a esse respeito, informa que
No seu relatório Econômico Presidencial ao Congresso Americano, de 1973, o presidente Richard Nixon defendeu explicitamente que os “controles de capitais para fins de balanço de pagamentos não devem ser encorajados” e que, pelo contrário, o livre movimento de capitais é a melhor forma de promover políticas econômicas corretas.
Nos primeiros anos da década de 70, a taxa de juros americana era mantida baixa em relação aos patamares da Europa e do Japão. O dinheiro especulativo fugia do dólar resultando em desvalorizações crescentes dessa moeda. Tal situação pressionava as bases do padrão monetário dólar-ouro e tornava insustentável o regime de taxa de câmbio fixo, forjado na experiência de Bretton Woods.
O fim do regime de câmbio fixo deu novo ímpeto ao capital financeiro. O mercado de câmbio transformou-se no primeiro segmento dos mercados financeiros a entrar na “Globalização”, e colaborou para o desenvolvimento dos mercados de derivativos relacionados a variação de moedas e juros. As grandes empresas e bancos procuravam fugir dos riscos das atividades comerciais e industriais, piorado nas condições de queda de lucratividade que predominava naquele período, e aumentaram a massa de capitais mobilizadas para a especulação financeira em mercados cambiais extraterritoriais.
A eleição de Ronald Reagan (1980) nos Estados Unidos, de Margareth Thatcher (1979) na Inglaterra, e de Khol (1982) na Alemanha, abriu as condições políticas para o salto qualitativo no processo de execução das políticas de liberalização financeira e comercial, e a internacionalização do capital financeiro. Assim foram intensificadas as iniciativas para alcançar as estratégias que vinham sendo construídas nos governos anteriores: a adoção de políticas econômicas restritivas e a liberalização dos mercados financeiros, abrindo novas frentes para o capital financeiro e para a ampliação das relações com o mundo asiático, principalmente a China, iniciada no governo Nixon (FIORI, 2007). O impulso inicial foi dado pela decisão do Banco Central americano de elevar a taxa de juros em 1979, associada ao fim do controle dos movimentos de capitais. A política dos EUA de aumentar os juros valorizou muito o dólar. Os governos começaram a desregulamentar/liberalizar os mercados financeiros. O ponto alto deste processo veio com a
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desregulamentação dos mercados acionários e a incorporação do leste europeu e da América Latina a este caminho, a partir da década de 90. A mudança na política monetária do FED, a partir de 1979, lançou os países localizados na periferia do sistema numa grande crise, que perdurou toda a década de 80 (MARQUES & NAKATANI, 2008). Esses países tiveram que adaptar suas condições econômicas para conter os desequilíbrios das contas externas, naquele período determinado devido aos pagamentos de juros e amortizações da dívida externa. A internacionalização do capital financeiro foi conduzida fazendo uso do dólar, sendo ele a face dos investimentos diretos estrangeiros, além de assumir as formas especulativas e parasitárias.
As bolsas deixaram de ser o local de capitalização das empresas para tornarem-se locais de variadas formas de especulação financeira. A acumulação de ativos financeiros ganhou espaço na composição da riqueza capitalista. O patrimônio das famílias passou a incorporar ativos financeiros além de móveis e bens duráveis. A partir dos anos 80 cresceu sobremaneira o volume de exportação de capitais. Os sujeitos desse processo são grandes instituições financeiras e empresas multinacionais, que seguiram determinando o fluxo de investimentos estrangeiros . Nas palavras de Arrighi (2008, p.151):
Diante do aumento da concorrência internacional (principalmente em setores de intercâmbio intensivo, como a indústria), as empresas com custos mais altos reagiram à queda do lucro subtraindo do investimento em capital fixo e em mercadorias uma proporção cada vez maior de receita e desviando-a para a liquidez e para a acumulação nos canais financeiros.
Os Estados Unidos aparecem como a principal força controladora do fluxo mundial de capitais. “Ameaçados no campo da produção, os Estados Unidos reagiram afirmando sua hegemonia por meio das finanças” (Harvey, 2004, p.58). A internacionalização do capital financeiro foi o meio pelo qual se procurou sair da crise iniciada nos anos 70. Houve um processo de internacionalização do capital financeiro que consolidou relações sociais capitalistas em países como China e Rússia, e ainda para os países dependentes da América Latina, além de outras regiões. A esse respeito, é interessante notar a observação de Harvey (2004, p. 124): O colapso da União Soviética e depois a abertura da China envolveram uma imensa liberação de ativos até então não disponíveis na corrente principal da acumulação do capital. O que teria acontecido com o capital sobreacumulado nos últimos 30 anos sem a abertura de novos terrenos de acumulação?
O modelo de liberalização comercial e financeira foi o projeto de consenso entre as grandes potências. As políticas liberalizantes abriram caminho para a exportação do excedente econômico dos países centrais. Para os países localizados na periferia do sistema as políticas econômicas restritivas abriram espaço para uma maior dependência do capital financeiro.
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2. As ideologias
No contexto da crise estrutural capitalista vivida no pós década de 70, a recuperação dos países centrais deu-se com a internacionalização do capital financeiro. O grupo dominante dos países centrais, tendo a frente os Estado Unidos, passou a construir uma nova ordem mundial.
No plano ideológico, o termo Globalização desde então vem sendo empregado para explicar fenômenos da economia mundial. Tal como é apresentado, esse conceito promove uma abstração ampla dos elementos históricos determinantes da atual etapa capitalista, e o processo de luta de classes, compreendido no tempo e no espaço. E ainda, sobre as relações internacionais, desconsidera a rica totalidade do processo político, o sistema mundial de Estados e a diversidade presente nas nações. De certo modo, é o velho problema da naturalização do processo econômico presente no liberalismo de Adam Smith (1996) e David Ricardo (1996), bem como de suas versões mais contemporâneas, tendo o Neoliberalismo como expressão máxima.
O uso considerável do termo Globalização não pode ser explicado sem levar em conta a condição objetiva das relações internacionais nas últimas décadas. A força da idéia explica-se pelo movimento dos grupos dominantes. A base material é o processo de internacionalização do capital financeiro empenhado pelos Estados mais desenvolvidos em favor das grandes empresas e bancos, que se fez contra a população dependente e pobre da periferia do sistema. Nesse contexto, teóricos da Mundialização do capital assumiram o desafio do rigor científico. Desse ponto de vista, a nova fase da internacionalização consiste no predomínio de estratégias globais, de novas relações entre o capital financeiro e o Estado, e também entre suas diferentes determinações, principalmente na interpenetração entre o capital portador de juros e o capital produtivo (MARQUES & NAKATANI, 2008). Nas palavras de Chesnais (1996, p.34),
A mundialização é resultado de dois movimentos conjuntos, estreitamente interligados, mas distintos. O primeiro pode ser caracterizado como a mais longa fase de acumulação ininterrupta do capital que o capitalismo conheceu desde 1914. O segundo diz respeito às políticas de liberalização, de privatização, de desregulamentação e de desmantelamento de conquistas sociais e democráticas, que foram aplicadas desde o início da década de 1980, sob o impulso dos governos Thatcher e Reagan.
O trabalho de Chesnais (1996) situa-se entre as melhores elaborações sobre as especificidades da recente internacionalização do capital financeiro. Em suas palavras, “já antes situamos este nosso trabalho entre os que surgem como prolongamento das obras dos anos 70 sobre a internacionalização do capital” (CHESNAIS, 1996, p.51). Esse autor defende a tese de que Dominância Financeira, segundo a qual se vive um regime de acumulação e um modo de regulação por ele denominado regime de acumulação mundializado de acumulação financeira.
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3. A hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados
No Brasil, vê-se um importante debate teórico sobre os efeitos das recentes transformações capitalistas sobre a hegemonia dos Estados Unidos no sistema mundial de Estados. No campo do pensamento crítico tem-se autores como Fiori (2008) , que discutem a ideia de que na etapa da Globalização houve recuperação do poder americano e caminha-se para uma espécie de um sistema imperial com domínio ainda mais concentrado, uma forma de Poder Global. Por outro lado, tem-se a abordagem metodológica distinta de Arrighi (2008) e Wallerstein (2004, 2002, 2001) . O primeiro, como tese central, apresenta o declínio processual da hegemonia norte americana. O segundo, de forma mais contundente, expõe a tese de crise absoluta da hegemonia americana e o sentido de uma crise terminal do sistema mundial moderno de Estado. 3. 1. A tese da Explosão Competitiva
Fiori (2008) analisa a dinâmica das relações internacionais nas últimas décadas fazendo uso de uma teoria por ele denominada “Universo em Expansão”, da qual deriva a tese da “Explosão Competitiva”. Em síntese, entende-se que existe um sistema mundial de Estados mediado por uma competição ininterrupta, em que os vários Estados-nação concorrem entre si tendo por estratégia o poder global. FIORI (2009,p.31) reforça essa idéia no sentido de que,
Do nosso ponto de vista, entretanto, a melhor maneira de pensar o “sistema interestatal capitalista”, que se formou a partir da expansão européia do século XVI, não é através de uma metáfora biológica, e sim cosmológica, olhando para o sistema como se ele fosse um “universo em expansão contínua”. Com um núcleo central formado pelos Estados e economias nacionais que lutam pelo “poder global”, que são inseparáveis, complementares e competitivos. E estão em permanente preparação para a guerra, uma guerra futura e eventual, que talvez nunca ocorra e que não é necessário que venha a ocorrer, Por isso, os Estados e economias que compõem o sistema interestatal capitalista estão sempre criando, ao mesmo tempo, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra. E as potências que uma vez ocupam a posição de liderança não desaparecem, nem são derrotadas por seu “sucessor” (grifo nosso)
Em trabalho publicado recentemente, quando o autor se dedica ao debate sobre a crise capitalista mundial, vista nos últimos anos, também faz uso do conceito de explosão competitiva.
Do nosso ponto de vista, as crises e as guerras em curso neste início de século XXI, ainda fazem parte de uma transformação estrutural de longo prazo, que provocou uma “explosão expansiva” e um grande aumento da “pressão competitiva” interna, dentro do sistema mundial (FIORI, 2009, p.32).
Para Fiori (2008; 2009), o sistema mundial de Estados não funciona em movimentos cíclicos, no qual o poder global é modificado. As crises estruturais do capitalismo mundial são vistas por meio de outras categorias teóricas e, acrescenta o autor, que não modificam a estrutura de poder entre os Estados. É o que se pode notar nas linhas seguintes.
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Essas teorias lêem a história do sistema mundial como uma sucessão de ciclos
hegemônicos, uma espécie de ciclos biológicos de Estado e das economias nacionais, que nascem, crescem e dominam o mundo e depois declinam, sendo substituídas por um novo Estado e uma economia nacional que percorreriam o ciclo anterior – até chegar a sua vez de decair (FIORI, 2009, 31).
Para Fiori (2008; 2009), tanto a crise que causou o fim o “Boom do Pós Guerra”, em fins da década de 70, como os acontecimentos mais recentes, não desmontaram a liderança dos Estados Unidos.
O autor analisa essa questão do seguinte modo: Com relação à “crise da década de 1970”, hoje está claro que ela não enfraqueceu o
poder americano; mais do que isto, todos os sinais que foram apontados como indicadores do seu declínio, se transformaram no seu contrário. Assim, por exemplo, é verdade que os Estados Unidos se transformaram no “grande devedor” da economia mundial, a partir dos anos 1970. Mas essa dívida não provocou um desequilíbrio fatal na economia americana, e funcionou como um motor da economia internacional, nesses últimos quarenta anos. Foi também no início da década de 1970 que ocorreu a crise final do Sistema de Bretton Woods, e, no entanto, o “padrão dólar-ouro foi substituído por um novo padrão monetário internacional – o “dólar-flexível” – que permitiu aos Estados Unidos exercerem um poder monetário e financeiro internacional sem precedente na história da economia e do “sistema mundial moderno” (FIORI, 2008, p.17).
Afora as críticas sobre as categorias teóricas empregadas por Fiori (2008) para fazer sua análise do sistema mundial capitalista, convém reconhecer alguns aspectos positivos. Sua teoria trabalha uma relação entre desenvolvimento do capitalismo mundial e a concentração de riquezas. O preceito básico é de Estado –potência (no momento, papel incorporado pelos Estados Unidos) que reserva condições supremas na competição internacional. Assim sendo, procura mostrar que no contexto da crise da década de 70 os Estados Unidos posicionaram-se como o país mais desenvolvido e as políticas econômicas dos sucessivos governos não foram defensivas, pelo contrário, denotam sentido de recuperação. Exemplo maior são os apontamentos que se faz sobre as relações econômicas e financeiras com o mundo asiático, especialmente a China. É uma teoria que considera principalmente os aspectos econômicos sob uma perspectiva de comando dos grandes monopólios.
Contudo, outros aspectos devem ser criticados. O primeiro é que a teoria expõe uma forma analítica concentrada no papel dos governos e nações. No nosso ponto de vista, no capitalismo, mesmo em sua fase monopolista, não é possível pensar o conceito de poder político sem a associação às classes sociais e mais especificamente o controle da riqueza social por parte dos capitalistas. Os Estados nacionais e governos encarnam as contradições derivadas da luta de classes, vistas em nível internacional, situadas em tempos históricos. Esse deve ser o primeiro passo de qualquer teoria relacionada ao Estado, poder político e crise capitalista.
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O segundo ponto é o fato de ele admitir a possibilidade de acumulação capitalista interminável. Sabe-se que o capitalismo encontra-se em sua fase monopolista, na qual as contradições que são inerentes ao sistema potencializam-se. A acumulação de riqueza numa ponta passa a depender de uma situação política entre as classes sociais marcadas por conflitos permanentes e mais acirrados, ou seja, de problemas estruturais que geram barreiras objetivas ao desenvolvimento capitalista. 3.2. Crise terminal do sistema mundial moderno?
Wallerstein (2004) defende a tese de que os Estados Unidos vivem o momento de uma crise aguda de dominação política. Tal crise arrasta-se desde a década de 70 e nos tempos atuais adquiriu uma forma de crise terminal do sistema mundial de Estado moderno, dando lugar a algo novo, ainda desconhecido e imprevisível. Ele aponta como prova os acontecimentos militares do pós-guerra envolvendo intervenções americanas. O fato central foi a guerra do Vietnã. “Mas o Vietnã não foi simplesmente uma derrota militar ou uma nódoa no prestígio dos Estados Unidos. A guerra desferiu um forte golpe na capacidade de os Estados Unidos continuarem a ser a potência econômica dominante no mundo” (WALLERSTEIN, 2004, p.26). R ecentemente, a maior expressão do declínio do poder americano foi o episódio do World Trader Center, em 11 de setembro de 2001, no qual, segundo Wallerstein (2004), forças não-estatais, relativamente mais fracas do que qualquer Estado conseguiram se sobrepor ao aparato militar da grande potência.
As pessoas responsáveis pelo ataque não representavam uma potência militar. Eram membros de uma força não estatal, com elevado grau de determinação, algum dinheiro, um bando de seguidores dedicados e uma base forte num Estado fraco. Em suma, militarmente, não eram nada. Contudo, conseguiram levar a cabo um ousado ataque em solo norte-americano (WALLERSTEIN, 2004, p. 31).
Os argumentos de Wallerstein (2004) abstraem traços importantes do processo de acumulação de poder e riqueza nas últimas décadas. Em síntese, a Globalização representou um processo de ofensiva política contra os trabalhadores e as aspirações nacionalistas do capitalismo dependente da periferia do sistema. Os Estados Unidos de várias formas comandaram as forças financeiras, produtivas, ideológicas e até mesmo militares que submeteram nações parceiras, adversárias e o proletariado mundial sob as condições de exploração do projeto estratégico do capital financeiro, denominado neoliberalismo. Arrighi (2008), praticamente no mesmo sentido, sustenta a idéia de crise estrutural e declínio terminal da hegemonia americana. O lugar antes ocupado pelos Estados Unidos está sendo disputado por outros países, sendo que, para o autor, até o momento tudo indica que a China é o candidato com maior potencialidade. Lê-se que, sobretudo, a derrota militar no Vietnã trouxe efeitos negativos contundentes na condição hegemônica dos Estados Unidos. Em linhas gerais, abriu-se uma situação política determinando políticas econômicas defensivas e muitas dificuldades para o exercício do poder imperialista.
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O resultado foi que os Estados Unidos perderam boa parte de sua credibilidade política como polícia do mundo, estimulando assim as forças nacionalistas e revolucionárias sociais que as políticas da Guerra Fria pretendiam restringir. Juntamente com boa parte da credibilidade política de seu aparato militar, os Estados Unidos também perderam o controle do sistema monetário mundial. Como afirmamos no capítulo 5, a escalada das despesas públicas para sustentar o empreendimento militar no Vietnã e superar a oposição à guerra dentro do país, por meio do programa da Grande Sociedade, fortaleceu a pressão inflacionária nos Estados Unidos e a economia mundial em geral, aprofundou a crise fiscal do Estado norte-americano e acabou levando ao colapso o sistema de câmbio fixo, cujo centro era os Estados Unidos (ARRIGHI, 2008, p.165). O autor explica que no período apareceram limites para a expansão do capital financeiro americano. Segue explicando o autor que as grandes empresas multinacionais americanas detinham uma estrutura muito verticalizada, isto é, concentravam a produção nos países centrais. Tal fato, historicamente abriu espaços para a resistência e concorrência de novas empresas entrantes originárias na periferia do sistema, sob novas bases de organização empresarial.
A esse respeito, o autor ainda esclarece que Contudo, por enquanto observaremos que a falta de integração orgânica dos Estados
Unidos na economia global, que foi a grande vantagem do capital norte americano na primeira metade do século XX, transformou-se em restrição à capacidade desse capital para aproveitar a tendência à financeirização que ganhava ímpeto na década de 1970, nacional e internacionalmente, sob o impacto da intensificação da concorrência e a crise de lucratividade a ela associada (ARRIGHI, 2008, p.155).
O aumento da oferta mundial, afirma o autor, ajuda a compreender a crise estrutural vista a partir da década de 70 e nos anos posteriores criaram barreiras à valorização produtiva do capital. O resultado foi um processo de financeirização em nível mundial. Para Arrighi (2008, p.152),
Quando o aumento da concorrência reduz a disponibilidade de ninhos lucrativos e relativamente vazios nos mercados de commodities, as principais organizações capitalistas dispõem de um último refúgio, para o qual podem recuar e transferir para outros a pressão da concorrência. Esse último refúgio é o “quartel-general do sistema capitalista” de Schumpeter: o mercado de dinheiro.
Do ponto de vista de Arrighi (2008), houve recuperação dos Estados Unidos, mas sob bases financeiras frágeis e se prenunciam crises mais profundas no futuro.
O sucesso que a contra-revolução monetarista obteve ao transformar a expansão financeira da década de 70 na força motriz da reflação da riqueza e do poder norte-americanos nas décadas de 80 e 90 não foi, em si, uma garantia de que não voltaria a ocorrer colapso sistêmico análogo (ARRIGHI, 2008, 172).
É interessante notar a relação que Arrighi (2008) faz entre o declínio produtivo, financeirização, e a crise de hegemonia dos Estados Unidos. Em síntese, pensa-se que essa é a
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forma com a qual analisa os acontecimentos da internacionalização capitalista e a hegemonia dos Estados Unidos.
A idéia de desenvolvimento desigual vista em Arrighi (2008) tem importância crucial nas definições de sua obra. Por desenvolvimento desigual entende-se “o processo pelo qual os retardatários do desenvolvimento capitalista tentam e acabam conseguindo alcançar os líderes desse desenvolvimento” (ARRIGHI, 2008, p.112). Esse conceito é utilizado por Arrighi (2008) para explicar o desenvolvimento do “Boom do pós-guerra”, o problema estrutural que levou à crise de lucratividade e à financeirização localizada nos países centrais, e também à situação supostamente defensiva das mudanças socioeconômicas verificadas a partir da década de 1970. Como exemplos aparecem em seu texto os temas da elevação da produção industrial na Alemanha e Japão, e a influência do euromercado no mercado de capitais que levou ao fim o sistema Bretton Woods. Diria ainda que na definição das teses centrais da obra está o declínio absoluto do poder americano e a ascensão da China.
Acredita-se que Arrighi (2008) emprega o conceito de desenvolvimento desigual demonstrando uma lógica capitalista não-concentradora de riquezas, em que a periferia do sistema, por motivos não revelados, consegue equiparar-se e ou sobrepor-se aos monopólios. É o que se pode compreender de suas formulações sobre o declínio da produção e o processo de financeirização. Em várias passagens de sua obra, o autor afirma que estaria ocorrendo uma contra-ofensiva dos países relativamente atrasados (principalmente europeus e asiáticos), sobre os Estados Unidos, em várias áreas, como na produção, na ordem financeira e nas políticas cambiais. Conclusão
Portanto, entende-se que no contexto de crise estrutural vista a partir da década de 70, os Estados Unidos e o grupo dos países dominantes conseguiram aplicar a internacionalização do capital financeiro e a construção de um consenso em torno do projeto estratégico do Neoliberalismo.
Neste sentido, é precipitado assumir a tese de uma crise terminal do poder americano no sistema mundial de Estados e o prenúncio de um novo hegemon, surgido a partir das condições de produtividade e acumulação do mundo asiático. Não é correto caracterizar o declínio de uma potência imperialista baseando-se exclusivamente na capacidade de construir o consenso no grupo dominante. Deve-se considerar principalmente as relações objetivas que sustentam a posição hegemônica.
Enfim, para se entender o contexto da crise dos anos 70 torna-se fundamental considerar a relação do capital financeiro americano com os países asiáticos, especialmente a China, e outros países dominados. Contudo, apenas para o registro de uma posição contraditória, entende-se que o lugar dos países dominantes no sistema mundial de Estados se sustenta a partir de um conjunto de elementos. Pode-se citar: as dimensões econômicas, isto é, a dotação as forças produtivas; a estabilidade política e social; a capacidade dos impérios de
Revista Análise/2010
42
manter o controle de suas colônias; a força militar dos Estados, que não depende exclusivamente das técnicas, mas sim da coesão social, da capacidade de se convencer a sociedade sobre a necessidade do agrido militar; o equilíbrio das forças em blocos formais etc. É certo que o no contexto em referência percebe-se muitas contradições no exercício dos elementos destacados, porém, pensa-se que por ora não se avista outra nação caminhando para reunir as condições estruturais suficientes para se posicionar como um novo hegemon no sistema mundial de Estados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, P. (1995). Balanço do neoliberalismo. In: SADER, E. & GENTIL. P. Pós-
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��UMA INTERPRETAÇÃO DO PROCESSO DE AJUSTE NA AMÉRICA LATINA A
PARTIR DA TEORIA DE SISTEMAS-MUNDO
Paulo Daniel e Silva 1
RESUMO
Este artigo apresenta uma abordagem sintética sobre a teoria de sistemas-mundo e/ou economias-
mundo preconizadas por Fernand Braudel e Immanuel Wallerstein, sobre a evolução das nações e a
formação de metrópoles e colônias, centro e periferia.
A América Latina é um importante conglomerado do sistema-mundo, Neste sentido, pode-se
examinar as características desse sistema, compreendendo seus sistemas geopolíticos,
imperialismos, dependências, trocas desiguais, lutas por liberação nacional. As contribuições de
Braudel e Wallerstein são fundamentais para o mapeamento das novas características da economia e
política mundiais.
Palavras-chave: Sistema Mundo, América Latina, ajuste econômico.
O Sistema Mundo
“A difundida crença de que as reformas voltadas para a
abertura das economias e a liberação dos mercados produzirá
uma dramática aceleração no crescimento dos países em
desenvolvimento representa um salto no escuro e um ato de
fé.”
Paul Krugman
Uma das interpretações importantes e coerentes sobre a história moderna e
contemporânea pode ser vista como uma história de sistemas coloniais, sistemas
imperialistas, geoeconomias e geopolíticas. Cenário da formação e expansão dos
1Mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Professor de economia do Unianchieta. Atualmente é colunista da revista Carta Capital.
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��mercados, da industrialização, da urbanização e da ocidentalização, envolvendo
nações e nacionalidades, culturas e civilizações.
É claro que a história moderna e contemporânea está pontilhada de países,
sociedades nacionais, Estados-nações, mais ou menos desenvolvidos articulados,
institucionalizados. E esta tem sido uma constante nas ciências sociais: a história
moderna e contemporânea tem se tornado uma história de sociedades nacionais, ou
Estados-nações. Sem deixar de contemplar a sociedade nacional, em suas mais
diversas configurações, muitos empenham-se em desvendar as relações, os
processos e as estruturas que transcendem o Estado-nação, desde os subalternos
aos dominantes. Empenham-se em desvendar os nexos políticos, econômicos,
geoeconômicos, geopolíticos, culturais, religiosos, lingüísticos, étnicos, raciais e
todos que articulam e tensionam as sociedades nacionais, em âmbito internacional,
regional, multinacional ou mundial.
A idéia de “economias-mundo” emerge nesse horizonte, diante dos desafios
das atividades, produções e transações que ocorrem tanto entre as nações como
sobre elas, e além dessas, mas sempre envolvendo-as em configurações mais
abrangentes. Quando o pesquisador combina o olhar do historiador com o do
geógrafo, logo revelam-se configurações e movimentos da realidade social que
transcendem o feudo, a província e a nação.
O conceito de “economia mundo” está presente em estudos de Braudel e
Wallerstein, precisamente pesquisadores que combinam muito bem o olhar dos
historiador com o do geógrafo. É verdade que Wallerstein prefere a noção de
“sistema mundo”, ao passo que Braudel a de “economia-mundo”, mas ambos
mapeiam a história com base na primazia do econômico, na idéia que a história se
constitui em um conjunto, ou sucessão, de sistemas econômicos mundiais. Mundiais
no sentido de que transcendem a localidade e a província, o feudo e a cidade, a
nação e a nacionalidade, criando e recriando fronteiras, assim como fragmentando-
as e dissolvendo-as.
Neste sentido, é preciso salientar que a economia política dos sistemas -
mundo, surgiu em 1981 como uma seção da Associação Americana de Sociologia,
por iniciativa dos pesquisadores interessados em institucionalizar o campo de
pesquisa aberto por Immanuel Wallerstein em 1974, com o lançamento do 1º.
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��volume de “O Moderno Sistema Mundial”. Grosso modo, pode-se dizer que a EPSM
estuda o surgimento, desenvolvimento e desintegração de sistemas sociais
históricos, pesquisados através do método comparativo, objetivando chegar a
generalizações sobre interdependências entre os componentes do sistema
e a princípios de variação entre condições sistêmicas em diferentes
espaços e tempos. Sistemas sociais históricos são conjuntos de estruturas
ou entidades, simultaneamente sistêmicos e históricos, cuja coexistência e
sucessão representam o próprio conteúdo do mundo social
(WALLERSTEIN, 1990, p.21).
Esses sistemas são vistos na abordagem em foco como a “unidade de
análise” mais adequada para o estudo da vida social e ocupam, dessa forma, o lugar
analítico tradicionalmente preenchido pela “sociedade” e pelo “Estado” no papel de
entidades em que a vida social se desenrola (Wallerstein, 1990, p.73).
Tais conjuntos de estruturas abarcam, além de processos econômicos,
processos igualmente políticos e culturais, e apresentam-se relativamente
autônomos, no sentido de que sua continuidade é garantida pelos acontecimentos
que têm lugar no seu próprio interior. Este atributo implica ser a dinâmica dos
sistemas históricos largamente interna, significa a possibilidade de uma existência
em boa medida auto-centrada. Wallerstein (1990, p.74) diz que “a característica
definidora de um sistema social é a existência dentro dele de uma divisão do
trabalho, de tal maneira que os vários setores ou áreas dependem das trocas para o
atendimento regular e contínuo das necessidades da área”. O adjetivo “sistêmico”
remete, assim, à rede de processos econômicos, políticos e culturais que figuram na
base de coesão dos sistemas históricos. O qualitativo “histórico”, por seu turno,
traduz o entendimento de que esses sistemas são delimitados temporalmente, isto
é, tem início e fim. De todo modo, seus ciclos de vida via de regra ostentam uma
“longa duração”, no sentido em que Braudel (1986, p.83) utiliza essa expressão, que
se refere ao tempo histórico, por excelência das estruturas sociais.
Os sistemas sociais podem ser mini-sistemas, por sua modesta abrangência
geográfica e duração, ou sistemas-mundo, por sua maior magnitude espacial e
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��temporal, cuja única divisão do trabalho contém múltiplos sistemas culturais. Os
sistemas-mundo, de acordo com sua configuração política, são classificados em
impérios-mundo (quando em todo o espaço coberto pela divisão do trabalho existe
uma única estrutura política) e economias-mundo (com uma superestrutura política
fragmentada em diversas unidades). As economias-mundo foram definidas por
Braudel (1986, p.84) como “um pedaço do planeta economicamente autônomo,
capaz, no essencial, de bastar-se a si próprio, e ao qual suas ligações e trocas
internas conferem certa unidade orgânica”.
Os impactos do Sistema Mundial na América Latina
A América Latina é um importante conglomerado do sistema-mundo, o seu
grande tamanho e população, e sua força como periferia, ou território em
desenvolvimento, implicam que, o que aconteça nessa região tenha muita
repercussão tanto em termos de geopolítica como da estrutura do sistema-mundo.
Neste sentido, pode-se examinar as características desse sistema, compreendendo
seus sistemas geopolíticos, imperialismos, dependências, trocas desiguais, lutas por
liberação nacional. As contribuições de Braudel e Wallerstein dentro outros, como
Samir Amim, Giovanni Arrighi e André Gunder Frank, são fundamentais para o
mapeamento das novas características da economia e política mundiais.
Reconhecem que as transacionais desenvolvem-se além das fronteiras geográficas
e políticas, independentemente dos regimes políticos e das culturas nacionais.
Reconhecem que elas criam novos desafios a governos, a grupos sociais, a classes
sociais, a coletividades, a povos, a nações e a nacionalidades, impregnando seus
movimentos sociais, partidos políticos, correntes de opinião pública e meios de
comunicação. Inclusive reconhecem que as novas características do capitalismo
mundial, como economias-mundo ou sistemas mundo, suscitam problemas teóricos
novos ainda não equacionados, aguardando conceitos e interpretações.
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��Com base nisso, pode-se analisar e relatar o processo de ajuste na América
Latina e sua influência tanto para os Estados-Nações quanto o sistema mundial
latino-americano.
A entrada dos países latino-americanos no processo de ajuste e das reformas
é variável no tempo. O Chile, país onde ocorreu a mais radical ruptura político-
institucional do continente, inicia o ajuste nos anos 70. Diversos países iniciam seus
processos de ajuste nos anos 80, com reformas parciais como a financeira e a
renegociação das dívidas. Mas é a partir do final dos 80 e, sobretudo, o início dos 90
que a maioria dos países latino-americanos avançam nas reformas. O primeiro
grande país da região a sentir o golpe da política de Paul Volcker foi o México,
gerando impactos em todos os outros países da região, já que minguaram os fluxos
de capitais para a América Latina, a exceção do Chile e da Colômbia. Segundo
Medeiros (1997, p.285), tal política deu o “pontapé” inicial do processo de “retomada
da hegemonia norte-americana”, gerando, inclusive, o crescimento e a consolidação
do padrão dólar flexível que alteraria profundamente o padrão de desenvolvimento
dos países centrais e periféricos. Esse regime macroeconômico mostrou-se de
crescimento moderado nos Estados Unidos e de muito baixo crescimento nos
demais países avançados, com taxas de inflação bastante reduzidas e com grande
piora nos termos de troca das commodities em geral (inclusive petróleo). Por essas
razões, a valorização do dólar em 1979, como um típico ato de força, acabou por
repercutir sobre os diversos espaços nacionais, inclusive levando toda a economia
mundial a uma profunda recessão entre 1981 e 1984.
A partir daí, a região adentra numa fase denominada de “década perdida”, na
qual os grandes países, como a Argentina, o Brasil e o México, em diferentes
momentos da década, enfrentam crises internas agudas cujas características
recorrentes principais foram a recessão e a inflação galopante.
Essas crises serviram como legitimação para a ascensão do modelo de
desenvolvimento liberal na década de 1990, dos anos 1980, não conseguiram
compatibilizar o ajustamento do balanço de pagamentos e o reordenamento das
finanças públicas. Assim, o conflito distributivo na América Latina, que foi modelado
pelo regime inflacionário à época, significou a primeira etapa da maior renúncia da
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��soberania monetária dos seus Estados, já que este delegaram, em grande parte ao
FMI e ao Banco Mundial suas estratégias econômicas que, num segundo momento,
voltaram-se completamente à acumulação com os títulos da dívida e à legitimação
do ideário neoliberal.
Como as economias em desenvolvimento são marcadas pela instabilidade
econômica interna e externa, sucedem-se as políticas governamentais ditas de
ajustamento, ora voltadas para a estabilização dos preços dentro da economia, ora
dirigidas ao reequilíbrio das transações internacionais, mas invariavelmente
modeladas e impostas pelo Fundo Monetário Internacional; e às quais os países se
submetem supostamente pela necessidade de garantir o financiamento externo
diante da influência que a posição das instituições financeiras internacionais exerce
sobre o fluxo internacional de capitais como um todo, pois os chamados “agentes”
que atuam no mercado – bancos, gestores de fundos etc. – provocam instabilidade
financeira interna, nos países devedores, sempre que estes pretendam introduzir
qualquer ação reguladora. O que significa simplesmente que os países com
endividamento crescente perdem a capacidade política de tomar decisões
econômicas financeiras internas, ficando pela vontade de uma mão invisível do
mercado. E como tais medidas, essencialmente conflitivas, normalmente são
introduzidas em um quadro de dificuldades econômicas, políticas e sociais, estas
tendem a tornar-se ainda mais agudas.
Os ajustes macroeconômicos impostos pelo FMI/BIRD durante a década de
1980 tinham como pressuposto teórico o excesso de demanda (importações,
investimentos e consumo privados e gastos públicos). Assim, reduzia-se por meio de
elevação de alguns impostos, do corte drástico no gasto público, da elevação da
taxa de juros, do corte de crédito, da restrição monetária e do “inevitável” arrocho
salarial (público e privado).
É fato que, normalmente os problemas tem derivado de causas externas,
embora às vezes tenha como origem remota decisões tomadas internamente.
De acordo com Tavares e Fiori (1993, p.95), as mudanças provocadas pelo
ajuste global das economias deixaram marcas profundas na ordem econômica
internacional, centradas na reestruturação industrial e na intermediação financeira.
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��Está claro, no entanto, que os grandes motores industriais do crescimento e a
internacionalização financeira são operados por um conjunto relativamente reduzido
de grandes empresas e grandes bancos que foram se transnacionalizando com
apoio em dois Estados nacionais centrais – Japão e Alemanha – numa, resposta
tardia, mas eficaz à transnacionalização norte-americana. Estes dois novos centros
do poder econômico produziram desenvolvimentos regionais importantes, além de
um desafio global aos EUA. O desdobramento desse novo quadro internacional
deixou de fora dos benefícios do progresso técnico vastas áreas geográficas e
populacionais, e piorou os padrões de equidade social herdados do padrão de
desenvolvimento do pós-guerra. Vale dizer, diminuiu o Clube dos ricos e
aumentaram as distâncias Norte-Sul.
A partir do fim da década de 1980, com a imposição de políticas econômicas
liberalizantes, com abertura comercial e desregulamentação dos fluxos de capitais
internacionais, assentou-se em duas questões centrais: a financeira e produtiva.
Conforme Cano (2000, p.83), a crise financeira internacional, que explicitou a
supremacia do capital financeiro sobre as outras formas de capital, impôs a quebra
de nossa soberania nacional, liberando seu movimento de busca incessante de
valorização; no que diz respeito a reestruturação produtiva das Empresas
Transnacionais (ET) em suas bases localizadas nos países desenvolvidos, o que
também teria exigido, na década de 1990, que se reestruturassem aquelas
localizadas nos subdesenvolvidos. Destas questões derivaram as reformas
institucionais liberais impostas a nossos países.
Estas reformas foram complementadas por políticas de estabilização que
tiveram como lastro uma elevada valorização da moeda nacional2 ante o dólar e um
crescimento da dívida pública interna, estimulada por elevados juros reais. Câmbio e
abertura resultaram em forte aumento de importados e debilitamento das
exportações, gerando grandes déficits, além de terem exercido um papel crucial nas
políticas inflacionárias.
De acordo com Cano (2000, p.85), para o conjunto dos 20 principais países
capitalistas latino-americanos, o déficit acumulado em transações correntes, entre
2 A valorização no caso do Brasil, foi cerca de 40%, entre 1989 e 1994, e na Argentina, de 58% entre 1989 e 1991.
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��1989 e 2001, consumiu US$ 550 bilhões (cerca de 2,9% do PIB acumulado no
período), enquanto a dívida externa saltava de US$ 453 bilhões de dólares para US$
787 bilhões; as exportações cresceram 164%, mas as importações aumentaram
240%. No Brasil, no mesmo período, o PIB cresceu 26,4%, as importações
cresceram 203%, mas as exportações apenas 69%. O câmbio barato e
desregulamentado ampliou também os gastos com turismo, compras de imóveis no
exterior e crescentes remessas não controladas, muitas de escusa procedência.
Adicional a esse processo de reformas, pode-se destacar que para todos os países
latino-americanos reside no fato de que o processo de urbanização acelerada não
foi acompanhado por uma organização social e educacional compatível com os
novos requisitos em capacitação técnica, profissional e intelectual.
É importante desenvolver o conjunto das políticas de estabilização e das
reformas implantadas, pois constitui-se em seu todo uma engrenagem fundamental
para permitir a funcionalidade do modelo neoliberal implantado na América Latina,
que são os seguintes:
a) Ampla liberdade ao capital financeiro (estrangeiro ou nacional): Com o
objetivo de se apropriar, nos diferentes países, de elevados ganhos possibilitados
pela sua alocação setorial e regional, pela especulação e pela liberdade de remessa
de lucros e juros;
b) Necessidade de reformas dos sistemas financeiros nacionais, com o
objetivo de compatibilizar a velocidade exigida pelos novos fluxos externos;
c) Abertura comercial e de serviços, por via de forte rebaixamento tarifário e
não tarifário e valorização cambial
d) flexibilização das relações trabalho e capital, para diminuir ainda mais o já
baixo custo do trabalho;
e) Reformas dos sistemas previdenciários, objetivando criar mais um
importante flanco de mercado para o capital financeiro e abrir um espaço maior no
orçamento público;
f) Reforma do Estado via eliminação de órgãos públicos, redução dos salários
reais e dispensa de funcionários, privatização de ativos públicos, desmantelamento
dos sistemas de planejamento e de regulamentação;
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��Neste sentido, é importante ressaltar que o modelo imposto desde o final da
década de 1980 à América Latina resultou numa considerável piora de nossas
condições econômicas, políticas e sociais, já deterioradas na década anterior.
Além desses elementos, o início dos anos 90 também foi marcado por
políticas macroeconômicas expansionistas (redução das taxas de juros) dos países
centrais, sobre tudo os Estados Unidos e o Japão, que buscavam sair da recessão
econômica. Essas políticas, em associação com a dinâmica financeira, ancorada na
securitização das dívidas públicas e nas inovações financeiras (derivativos,
mercados futuros etc.), provocaram uma grande elevação da liquidez internacional.
Parte desta direcionou-se aos países da América Latina3, em grande medida, devido
às aberturas comercial e financeira, à reestruturação das dívidas externas, por meio
do Plano Brady, e, sobretudo, aos diferenciais das taxas de juros dos países da
região em relação às taxas de juros internacionais. A nova realidade de maior
liquidez potencializou a integração da América Latina como espaço de reprodução
da acumulação financeira, por um lado, e como espaço de realização das
mercadorias do setor manufatureiro norte-americano, por outro, haja vista o ajuste
importador 4 verificado na região durante os anos 90 (Medeiros, 1997, p.293).
A partir desse contexto, o Estado norte-americano, articulado com seus
segmentos financeiros dominantes, ampliou sua capacidade autônoma para
determinar políticas internas e externas e estabelecer, através da coerção, a
dominação sobre estados nacionais da região. Desse modo, a grande maioria dos
governos latino-americanos, entre o final dos anos 80 e início dos 90, aderiu, com
diferentes graus de intensidade, aos ajustes estruturais que consistiam, por um lado,
em planos de estabilização econômica, por meio da valorização cambial, e, por
outro, em reformas institucionais voltadas, principalmente, à liberalização
econômica, à estabilização do direito de propriedade e à flexibilização do mercado
3 A partir de 1990, o continente (média entre Colômbia, Chile, Peru, Argentina, México e Brasil) se inseriu no mercado internacional como receptor de investimentos de portfólio e o saldo da conta de capitais foi de 1,4% do PIB (UNCTAD, apud Medeiros, 1997, p.293). Dessa forma, o crédito interno entre 1988 e 1993, aumentou de 22% par 30% do PIB, enquanto o índice dos preços dos valores negociados em bolsa incrementou-se mais de três vezes e meia. 4 Ajuste este que nasceu, em certa medida, fruto da estratégia comercial norte-americana de abertura de mercados na região para os seus diversos tipos de produtos manufatureiros, haja vista, a desvalorização do dólar em relação às moedas locais, com a implementação dos planos de estabilização macroeconômica e a redução das barreiras tarifárias dos países latino-americanos.
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��de trabalho. Assumiu-se, portanto, a retórica de que o excessivo intervencionismo
estatal era o principal empecilho para que os países latinos prosperassem.
Em síntese, a América Latina, ao longo dos anos 1990, integrou-se
passivamente aos circuitos de produção do capital por meio dos ajustes estruturais
liberais, “acreditando” que este seria o único caminho para a “modernização” da
região. A prosperidade não chegou; pelo contrário, o que se verificou foi uma
ampliação da dependência e da subordinação latino-americana às potências
centrais capitalistas, gerando, com isso, a ampliação do legado histórico de
concentração de riquezas e das mazelas sociais do capitalismo dependente
regional.
Conclusão
Ao longo deste trabalho, procurou-se relatar sinteticamente a importância da
teoria histórica dos sistemas mundo e/ou economias mundo, tentando demonstrar,
grosso modo, o horizonte aberto pela globalização em curso desde o século XX
abrindo possibilidades novas e desconhecidas sobre as formações sociais
passadas, próximas e distantes, recentes e remotas.
Nas últimas décadas a América Latina passou por transformações que
alteraram profundamente as relações entre Estado, Classes e a Economia. Estas
transformações constituem um intenso processo de modernização capitalista que
aprofundou a dependência latino-americana, característica essencial dos países da
região. Portanto, na América Latina, a visão pouco clara das relações sociais torna-
se ainda mais acentuada devido a quebra financeira e política do Estado
desenvolvimentista. A extrema fragilidade das instituições democráticas e a falta de
coesão social não permitem enxergar os novos agentes sociais da transformação,
além do que, as elites latino-americanas permanecem emaranhadas no
espontaneísmo das forças de mercado e sem projeto para o futuro.
Enquanto que nos anos 90, a América Latina, em grande parte, integrou-se
de forma passiva aos movimentos do sistema mundial, a partir de 2002 poderia ou
pode-se estar constituindo um novo eixo de desafios e oportunidades, deixando um
pouco de lado o modelo liberal. Isso está sendo possível a partir de dois elementos
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��que se articulam o primeiro o crescimento acelerado da economia mundial a partir
do novo sistema geo-econômico (China/Índia e EUA), que possibilitou a redução das
restrições externas no balanço de pagamentos da região e, segundo, os movimentos
contrários ao modelo liberal no interior do bloco no poder de cada país.
Pode ser afirmado, portanto, que foram criadas condições para que as
“janelas de oportunidades” se inscrevam em uma trajetória de ruptura mais efetiva
com padrões de acumulação assentados em estruturas regressivas e de
aprofundamento da exploração e da subordinação da autonomia nacional.
Não resta dúvida, essas oportunidades abertas acontecem dentro de uma
totalidade fortemente complexa e contraditória, na qual, a América Latina, como uma
de suas partes componentes, teria que reunir algumas premissas fundamentais que
a colocassem num plano de relativa independência no interior do sistema mundo
produzido pelas transformações do capitalismo nas últimas décadas no século XX e
nos primeiros anos do século XXI.
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��Os Programas de Transferência de Renda no Brasil e suas interfaces:
Políticas Compensatórias versus Emancipatórias
Elisiante Sartori•
Resumo
A consolidação de um Sistema de Proteção no Brasil remonta os anos 30, quando o
país passou por uma série de transformações principalmente no que se refere ao modelo de
desenvolvimento agroexportador para urbano-industrial. Desde então, temos a discussão
sobre o tipo de política social que irá delinear o nosso Sistema e como se dará a incorporação
da população mais vulnerável.
O presente trabalho irá realizar um breve retrospecto histórico sobre os Programas de
Transferência de Renda no Brasil, tendo como foco de análise a instalação de um Sistema de
Proteção Social implantado no município de Campinas, a partir de 1995.
1 – A implantação do Sistema de Proteção Social no Brasil: limites , alcances e
perspectivas
O debate sobre os Programas de Transferência de Renda não pode ser especificamente
no âmbito internacional, porém, observa-se uma proliferação de programas desta natureza,
principalmente a partir das últimas duas décadas. Na Europa, por exemplo, nos anos 80, têm-
se uma maior preocupação contra a pobreza, quando ocorre uma redução do nível de emprego
com redução dos salários e, conseqüentemente, da renda da população.
O que vem se tentando responder desde então é a seguinte questão: como garantir um
mínimo de seguridade social à população, num contexto de mudanças significativas no
mundo do trabalho?
Com isso, observamos o emprego de novas tecnologias que acirrou o debate sobre a
garantia de uma renda mínima à população, o que fez aumentar assustadoramente o
contingente de dependentes do Sistema de Proteção Social, conforme relata Fonseca (2001)
“...seja em decorrência do excedente de trabalho, da geração de postos
• Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (2008). Atualmente é professora universitária do Instituto Nacional de Pós Graduação. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Internacional e do Bem-Estar Social, atuando principalmente nos seguintes temas: mercado de trabalho, trabalho infantil, políticas públicas, proteção social e família.
������� ����� � � �
��de trabalho precários, de trabalho com baixo grau de formalização
contratual, e do distanciamento das redes de proteção, ou da
combinação desses elementos que caracterizam as vulnerabilidades
sociais, coloca-se a exigência de mecanismos novos de proteção
social. É nesse quadro da chamada crise da sociedade salarial que o
debate internacional sobre os programas de renda mínima ganha
vigor” (Fonseca, 2001:122).
Na discussão internacional sobre os programas de renda mínima não se trata mais de
auxiliar as famílias em circunstâncias episódicas de maior vulnerabilidade, mas sim realizar
uma avaliação da questão do emprego e como se dará a absorção das pessoas no mundo do
trabalho e, dentro deste contexto, qual o papel do Estado de Bem-Estar Social. De acordo com
Castel (1998), é a crise da condição do assalariado que fragiliza as proteções sociais. Para o
autor, a condição de assalariado é a base e o “calcanhar de Aquiles” da proteção social. Assim,
deve-se observar a relação o “Estado de crescimento” e o “Estado social”1.
Nesta linha de raciocínio, Gorz (1995) argumenta que não existirá emprego em tempo
integral para todos e com a introdução da robótica e informatização, pode-se garantir o
mesmo volume de produção, com redução de 40% e 80% do número de trabalhadores, a partir
de 50% a menos em capital investido. Deste modo, para o autor, qualquer que seja a
qualificação profissional, a esfera de produção capitalista emprega um volume menor de força
de trabalho para produzir um volume crescente de riqueza. Assim, a garantia de emprego
somente poderá ser obtida ou por meio da redistribuição de empregos ou pelo
desenvolvimento de atividades fora da esfera capitalista.
Ao compararmos esta dinâmica de tais Programas de Transferência de Renda com o
que ocorreu no Brasil, verificamos diferenças marcantes tanto na implementação, quanto no
dinamismo e execução, bem como no enfoque e limites dos programas. A diferença mais
nítida refere-se à implantação das políticas que se mostraram ao longo da formação do nosso
Sistema de Proteção Social muito mais focalizadas do que universalizantes, que foi a proposta
pioneira dos programas em ordem mundial.
1 Castel chama de “Estado de crescimento”, a articulação de dois parâmetros fundamentais que acompanharam a sociedade salarial em sua trajetória e teceram com ela vínculos essenciais, quais sejam: o crescimento econômico e o crescimento do Estado social (Castel, 1998:413 e 479).
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�� Em países de capitalismo e desenvolvimento tardios, como é o caso do Brasil, a
forma de montagem dos Sistemas de Proteção Social foi diferente, sendo considerada muito
mais difícil em termos de elaboração e execução de políticas sociais. Se levarmos em conta as
diferenças sociais e culturais, agravadas por longos períodos de autoritarismo político,
veremos que as dificuldades de implementação foram mais acentuadas.
No Brasil, por exemplo, até a década de trinta, o problema de pobreza e de
miserabilidade não eram tidos como questões sociais. Predominava o que Wanderley
Guilherme dos Santos chamou de “laissez-faire” repressivo, pois inexistia um sistema de
proteção social ancorado no Estado e a assistência social apresentava um caráter
eminentemente filantrópico (Santos, 1979 in apud Silva, Yasbek & Giovanni, 2004). Após 30,
com o intuito de controlar o conflito social, a primeira atitude do Governo na área social foi
de instituir a regulamentação do trabalho, pelo que se determinou “cidadania regulada”, para
usar outra expressão do autor. Os trabalhadores urbanos foram, portanto, “privilegiados” com
a aquisição dos direitos trabalhistas, sendo recompensados pelo dever de trabalhar.
Por conseguinte, enquanto economia subdesenvolvida, o Brasil não conseguiu
construir uma sociedade salarial, nem tampouco o denominado Welfare State, que marcaram a
sociedade salarial dos países mais desenvolvidos. O período em que se consolida o Sistema de
Proteção Social Brasileiro, entre as décadas de trinta e setenta, foi marcado pela centralização,
clientelismo e assistencialismo. Somente nos anos 70, ver-se-ia testemunhar a retomada da
discussão sobre o tipo de modelo de política social a ser implantado em nosso país,
juntamente com a intensificação dos movimentos sociais em prol da volta da democracia. O
grande marco da retomada e ampliação de tais direitos sociais foi a promulgação da
Constituição Federal de 1988, com a introdução, principalmente, do capítulo sobre a
Seguridade Social. Nesse momento, é notável o avanço em relação à legislação pertinente à
manifestação dos direitos sociais.
Contudo, dura pouco esta “sensação” de que nosso país estaria trilhando um caminho
rumo às políticas sociais de caráter universalista, pois logo em seguida, com a eleição para
Presidente da República, na qual vence Fernando Collor de Mello, cujo o governo foi o
protagonista da abertura econômica e da entrada do neoliberalismo na agenda política do
país. Com a opção do governo pelo viés neoliberal, os direitos sociais até então propostos na
Carta Magna de 1988 são colocados em xeque, com o consequente desmonte de tais direitos
conquistados, por meio das reformas realizadas na Carta Magna de 1988, em 1993. O
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��discurso passa a se voltar para o estabelecimento dos mínimos sociais e, com isso, a baixa
intervenção do Estado, sobretudo na área social.
Apesar de nunca termos tido um Estado que apresentasse alto grau de intervenção na
área social e um Sistema de Proteção Social extremamente limitado na sua performance, sob a
hegemonia neoliberal, entrou-se na década de noventa pior do que antes. Desta forma, a partir
de então a população brasileira encontra-se totalmente acuada e sem muitas perspectivas,
além de estarmos submetidos às orientações de organismos internacionais como o Banco
Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) na área social, expressas
através de diversas diretrizes, tais como descentralização, privatização e focalização dos
programas sociais.
Desde então, não é possível sair desta situação desalentadora que tomou a forma de
nossa política social. Em meio a esta sociedade fragmentada e desintegrada socialmente,
temos como resultado a incapacidade de reduzirmos de forma substancial a pobreza em nosso
país; pelo contrário, em certos momentos ocorre que as circunstâncias concorreram para um
acirramento da mesma. Com isso, ganharam força os ideais neoliberais através da
implantação do Plano Real, pelo então Ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, que
se tornou mais tarde Presidente da República. Novamente, em seu governo, percebemos a
política social preterida em relação à política econômica. Um exemplo claro disto é a
identificação das políticas sociais tão somente reduzidas às políticas de combate à pobreza e à
indigência, de forma isolada e desarticulada, indicando a total ausência de um projeto político
que levasse a real resolução do problema social em nosso país. De acordo com Cohn (1995):
(...) tal como no resto do mundo, tem-se reavivado a dicotomia entre
benefícios securitários (contributivos) e benefícios assistenciais (não-
contributivos), ficando os últimos à mercê das disponibilidades
orçamentárias da União, sempre escassas na medida em que se contrapõem
às diretrizes macroeconômicas de redução do déficit público. Em
conseqüência, acentuam-se políticas focalizadas (nos mais pobres dentre os
pobres), imediatistas, clientelistas e de governo (não de Estado) (Conh,
1995: 186).
Nesse sentido, a partir do início dos anos 90, pôde-se observar os impactos da política
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��de liberalização econômica sobre a população brasileira, tendo como resultante o aumento
significativo do desemprego e do sub-emprego, a redução dos níveis salariais, bem como o
esvaziamento dos sindicatos enquanto meios de representação dos direitos e reivindicações
dos trabalhadores. Afora esta situação, a questão social fica jogada à própria sorte, com a
disseminação das ações focalizadas de combate à pobreza e; na área econômica – foco central
dos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso –, o objetivo principal
perseguido é a estabilidade de preços.
Em meio a este cenário, é necessário entender o tipo de política social que está sendo
implantada. Com isso, nasce a discussão sobre a criação de Programas de Transferência de
Renda em nosso país. Mais especificamente, o ano de 1991 foi o marco inicial deste debate,
por meio da aprovação do Projeto de Lei N° 80/1991, que propõe a instituição do Programa
de Garantia de Renda Mínima, de autoria do Senador do Partido dos Trabalhadores, Eduardo
Suplicy.
Na verdade, o debate sobre os Programas de Transferência de Renda em nosso país
emerge na década de noventa, passando a se consolidar nesse início do século XXI, no que já
se pode considerar a estratégia principal e o embrião do eixo da Política de Assistência Social
do Sistema Brasileiro de Proteção Social. Para entendermos melhor este tipo de sistema
implantado no referido período, é necessário uma compreensão mais exata do que significa
esta transferência de renda na vida de milhões de brasileiros em situação de vulnerabilidade
econômica. De acordo com Suplicy (2002), tais programas fazem com que se torne concreta,
simples e objetiva, a garantia do direito mais básico de qualquer ser humano, qual seja, o
direito à vida, mediante a uma justa participação na riqueza socialmente produzida. Assim, o
Estado tem obrigação de assegurar a todos o mínimo para uma sobrevivência digna e honesta.
Nesse sentido, o esforço de se criar uma Política Nacional de Transferência de Renda
no Brasil, pelo menos no âmbito legislativo, parte da aprovação de tal Programa, por meio do
Projeto de Lei n° 80/1991. Contudo, o Projeto foi preterido no referido período, entrando em
vigor somente quatro anos mais tarde, em 1995.
O contexto, à época, não era nada animador. Vivia-se uma forte crise política e
econômica, dadas pelo impeachment do então Presidente da República, Fernando Collor de
Mello e, em relação à economia, pelo total descontrole da inflação e por vários problemas
decorrentes do endividamento externo. Tendo isso em vista, o enfoque era como restabelecer
a estabilidade inflacionária, administrar eticamente o país e incrementar a nossa pauta de
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��exportações, deixando num horizonte muito distante, as preocupações voltadas para a
formulação de políticas com o objetivo de erradicar a pobreza.
Naquele momento, o que se tinha concretamente era a “Campanha da Fome”, liderada
pelo então sociólogo Herbert de Souza, e uma proposta de José Márcio Camargo de atrelar os
Programas de Transferência de Renda à freqüência escolar das famílias atendidas que
possuíssem filhos na faixa etária entre 05 a 16 anos de idade. Com isso, gera-se um debate
entre os dois idealizadores de Programas de Transferência de Renda distintos. Camargo
criticava fortemente o Programa concebido por Suplicy, ao dizer que o enfoque não deveria
ser o atendimento inicial aos idosos e, que Programas desta natureza incentivariam o trabalho
informal, sem carteira assinada.
Diante desta perspectiva, o debate sobre os Programas de Transferência de Renda no
Brasil propiciou duas inovações importantes. A primeira diz respeito à vinculação da renda à
educação, ou seja, somente a família receberia o repasse do recurso, caso comprovasse
freqüência escolar mínima de seus filhos menores de 14 anos. A segunda refere-se ao enfoque
do repasse do recurso à família em situação de vulnerabilidade econômica e, deste modo, a
família passaria a ser a unidade beneficiária dos recursos.
Outro fator importante ocorrido à época, a qual impulsionou ainda mais o debate em
direção à concretização de uma renda mínima às famílias mais necessitadas, foi a criação da
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social –, em 1993. Tal aprovação fez com que se
firmasse a questão da descentralização, preconizada na Constituição Federal de 1988, o que
rompeu de uma vez com a fragmentação e o paralelismo característicos até então. Assim, a
Assistência Social tornou-se um dos pilares da Seguridade Social, juntamente com as áreas de
previdência e saúde. A LOAS significou, nesse sentido, o avanço na universalidade de
direitos, bem como uma maior participação da sociedade civil na formulação, execução e
controle das políticas sociais no Brasil.
Contudo, somente em 1995, se pode considerar a implementação concreta do
Programa de Transferência de Renda no Brasil por meio da implantação do Programa de
Garantia de Renda Mínima. Tal Programa foi implantado dentro de uma visão de política de
redução pronunciada de gastos públicos e de forte tentativa de estabilização da moeda
nacional.
A intenção maior do governo Fernando Henrique Cardoso era promover a estabilidade
econômica e a inserção de nosso país na economia mundial globalizada. Nesse sentido, a
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��política social mais uma vez fica à reboque da política econômica. Conseqüentemente, não se
presenciou um grande esforço do então governo em reduzir as desigualdades sociais, somente
uma preocupação maior em combater a pobreza extrema, criando, para tanto, políticas sociais
isoladas e desarticuladas. Um exemplo eloqüente disso é a criação do Programa Comunidade
Solidária, com forte característica conservadora, o qual objetivava reduzir a pobreza extrema
em alguns municípios do país.
Em meio a toda esta discussão, é que surgem dois Programas de Transferência de
Renda: o Bolsa-Escola e o Programa de Renda Mínima. Tais Programas surgem para
responder a determinadas demandas sociais decorrentes da conjuntura da época, quais sejam:
aumento significativo do desemprego em nosso país, devido à própria abertura econômica
propugnada no início dos anos 90; aumento da violência entre os jovens de classes mais
baixa; baixo nível de qualificação dos trabalhadores para responder às novas tecnologias que
estavam entrando no Brasil no referido período; altos índices de trabalho infantil e de
exploração do adolescente trabalhador, que se proliferaram de forma alarmante pelas mídias
nacional e internacional. Portanto, observamos no início da década de noventa um aumento
considerável da pobreza, a qual afetou principalmente as faixas etárias mais vulneráveis: as
crianças, os jovens e os idosos.
Sua meta era de atingir até o ano 2000, milhões de crianças e adolescentes e/ou
milhões de famílias. Para tanto, criou uma bolsa auxílio, no valor de R$ 15,00 por criança, até
no máximo três filhos(as) por família, ou seja, R$ 45,00. O que se vê é o alcance real de seu
objetivo, em 2001, quando o programa conseguiu atingir 5.470 dos 5.561 dos municípios
brasileiros e, em 2002, alcançou cerca de 2,5 milhões de famílias, com atendimento a 10,7
milhões de crianças e adolescentes beneficiados, com a destinação de R$ 1,22 bilhões,
financiados com recursos do Fundo de Combate à Pobreza (Fonseca, 2001:152).
Deste modo, o Programa Bolsa-Escola apresenta-se como um dos Programas de
Transferência de Renda de maior alcance, tanto em termos de população quanto de
disseminação entre os municípios brasileiros. Pode-se dizer que se trata de programa quase
universal, não fosse a imposição de cotas por municípios e o valor da bolsa, que chegava a ser
irrisória, na maioria das vezes, não conseguindo mudar a estrutura orçamentária das famílias
atendidas.
Porém, somente a partir de 2000, é que se percebe por parte do Governo Federal uma
maior preocupação com a área e a disseminação de programas nacionais de transferência de
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��renda direcionados às classes mais pobres. Nesse sentido, passaram a fazer parte da Rede de
Proteção Social programas com enfoques mais específicos, tais como o Benefício de
Prestação Continuada (BPC), que determina uma renda de um salário mínimo – previsto na
Constituição Federal de 1988 e assegurado pela LOAS, a partir de 1996 –, a pessoas idosas a
partir de 67 anos de idade e a pessoas portadoras de deficiências, consideradas incapacitadas
para a vida independente e para o trabalho. O agente executor do programa é o Ministério da
Assistência Social, sendo implementado por agências locais do Instituto Nacional de Seguro
Social (INSS). Para se ter uma idéia, até dezembro de 2003, cerca de 1,7 milhão de brasileiros
estavam sendo beneficiados pelo programa.
Seguindo o processo de criação de programas nacionais, também no mesmo período
foi criado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), como resposta às
constantes denúncias realizadas pelos organismos nacionais e internacionais em favor dos
direitos das crianças trabalhadoras e adolescentes em situação de exploração no Brasil. As
primeiras regiões a serem atendidas foram Mato Grosso do Sul, no setor da carvoaria, em
Pernambuco, na zona canavieira, e na Bahia, região do sisal. Em 1998, atingiu a região
citrícola de Sergipe e o garimpo Bom Futuro, em Rondônia. Tal Programa procurou articular
transferência de renda com educação, de modo muito similar ao Programa Bolsa-Escola, só
que com um enfoque no combate ao trabalho infantil e a não exploração do adolescente
trabalhador. Sua expansão se dá de fato entre 2001 e 2002 em vários municípios do país.
Os programas apresentados até aqui são, por assim dizer, os principais responsáveis
pela montagem de uma “Rede de Proteção Social” no país. Todavia, existem outros menos
representativos, quais sejam: o Programa Agente Jovem, com objetivo de atender
adolescentes em situação de risco social; o Programa Bolsa-Alimentação, do Ministério da
Saúde; o Programa Auxílio-Gás, do Ministério de Minas e Energia e, mais recentemente, o
Programa Cartão-Alimentação, do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e
Combate à Fome, instituído pelo Governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
Assim, no final de 2002, com o término do segundo mandato do Governo Fernando
Henrique Cardoso, observa-se a implantação de vários programas de transferência de renda,
com um alcance de atendimento bem maior, todavia, assentado em valores de benefícios
bastante ínfimos. Com a entrada do Governo Lula, no início de 2003, houve uma
transferência para o programa Fome Zero e, no segundo semestre do mesmo ano, foi criado o
Bolsa-Família com o objetivo de unificar os Programas de Transferência de Renda iniciados
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��em nível municipal, estadual e federal desde 1995.
Esses programas foram implantados com o intuito de contribuir com a inclusão de
famílias pobres e extremamente pobres na garantia de uma renda mínima a este segmento2.
Nesse sentido, o Programa Bolsa-Família, instituído por meio de uma medida provisória e
mais recentemente, transformado em Decreto, se constitui hoje no principal Programa de
Transferência de Renda e de combate à fome do governo federal. Possui como objetivos:
combater a fome, a pobreza e as desigualdades sociais por meio da transferência de um
benefício financeiro associado à garantia de acesso aos direitos sociais básicos – saúde,
educação, assistência social e segurança alimentar; além de promover mecanismo de
emancipação das famílias beneficiárias, para que possam sair da situação de vulnerabilidade e
se tornarem autônomas (Silva e Silva, 2007:1433).
Um aspecto importante são as condicionalidades que o núcleo familiar deve cumprir
para o recebimento do benefício mensal que se configuram em contrapartidas para que o
mesmo possa alcançar autonomia e conseqüente inclusão social sustentável, quais sejam:
� Na área da educação, frequência mínima de 85% da carga horária mensal de crianças
e adolescente de 06 a 15 anos atingidas pelo programa.
� Na área da saúde, o cumprimento da agenda de saúde e nutrição para família
beneficiárias que façam parte gestantes, nutrizes e/ou crianças menores de 07 anos.
Num primeiro momento, foram unificados somente quatro programas federais: Bolsa-
Escola, Bolsa-Alimentação, Vale-Gás e Cartão-Alimentação. Posteriormente, foi inserido o
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI).
A partir desta unificação, o Bolsa-Família tenta colocar em prática a estrutura de
descentralização, colocando a cargo da União, estados, municípios e sociedade civil, a sua
implementação em nível local. Para tanto, tem como foco a família, bem como prioridade de
enfrentamento da pobreza, a focalização3. Em contraposição aos Programas de Transferência
de Renda constituídos em âmbito mundial, o Bolsa-Família, tem como prioridade família
consideradas extremamente pobres, que possuam uma renda per capta de R$ 60,00,
independente do número de filhos; e famílias pobres, que tenham uma renda per capta, em 2 A concepção adotada é de que a pobreza apresenta dimensões histórica, econômica, social,cultural e política; é complexa e multidimensional; é essencialmente de natureza estrutural, sendo, portanto, mais que insuficiência de renda (Silva e Silva, 2007). 3 A família, no Programa Bolsa-Família, é entendida como unidade nuclear, eventualmente ampliada por pessoas que com ela possuam laços de parentesco ou afinidade, que forme um grupo doméstico e que viva sob o mesmo teto, mantendo-se pela contribuição de seus membros (Silva e Silva, 2007:1433).
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��torno de R$ 50,01 e R$ 120,00.
Ressalta-se que o desligamento das famílias do programa é feito dentro de um
processo longo e somente se torna “vias de fato” quando ocorre o quinto descumprimento de
determinada condicionalidade e desde que fique comprovada a responsabilidade da família
pelo descumprimento.
Dentro deste contexto, o Bolsa-Família transformou-se no maior Programa de
Transferência de Renda no país, e contava até julho de 2006, com 11.118.072 de famílias
atendidas que, de acordo com o IBGE4, correspondia a 99,2% das famílias pobres no Brasil,
além de ter um orçamento estimado em R$ 8,3 bilhões e atingir 5.561 municípios5.
Ao compararmos, a partir dos dados da PNAD de 2002, os Programas Fome Zero e
Bolsa-Família, nota-se que houve uma redução maior do número de beneficiários do que em
relação ao montante de dispêndio6. O que se percebe, também, é uma redução do nível geral
de indigência – principalmente nas áreas rurais e no Nordeste – do que em relação aos pobres.
Ou seja, o Bolsa-Família, em nível comparativo, causou um maior impacto sobre os
indigentes do que na população pobre, em geral (Rocha, 2005:169-171).
Contudo, sem dúvida, um dos marcos inicias dos Programas de Transferência de
Renda no Brasil foi o Programa de Garantia de Renda Mínima Familiar (PGRMF), tendo
Campinas como um dos primeiros municípios a ser implementado. Para se compreender
melhor todo este processo, faz-se necessário conhecermos o Sistema de Proteção Social
implantado na cidade a partir da década de noventa, como veremos a seguir.
2 - Campinas e sua rede de proteção social
Campinas possui um histórico com relação à área social bastante contraditório, pois
apresenta uma combinação de riqueza e prosperidade com pobreza bem marcante, o que lhe
torna um pouco diferente em alguns aspectos. Como qualquer outra cidade que possua as suas
características – desenvolvimento acelerado em pouco tempo –, ela se destacou por ser
pioneira em alguns determinados aspectos.
Nesse sentido, Campinas foi uma das primeiras cidades do país a ter implantado o
4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 5 Brasil. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, 2006. 6 As simulações deste estudo foram baseadas na PNAD (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar) 2002, cuja renda declarada já incorpora um montante razoável de transferências referentes aos rendimentos antes do Bolsa-Família (1999) e depois da implantação do Bolsa-Família (2002).
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��Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima (PGRFM), idealizado pelo então senador
Eduardo Suplicy e aprovado em 16 de dezembro de 1991. Após muitas idas e vindas para a
real implementação do Programa, somente em março de 1995 foi concretizada a idéia na
prática. Desde então, conforme salienta Arthus (2000) estava sendo implementado no
município programas para mitigar a pobreza, tais como a distribuição de cestas básicas, arroz
e feijão, leite e pão, além de mecanismos específicos de controle de desnutrição, programas de
atendimento às crianças e adolescentes em situação especial, balcão de empregos, cesta de
material de construção, etc.
Além desta importante intervenção na área social, Campinas contou com uma maior
intensificação na implementação de políticas sociais, o que fez o seu Sistema de Proteção
Social estruturar-se de maneira mais eficiente, de modo a atingir as camadas sociais com
menor renda. Foi o que pudemos concluir pela análise dos Relatórios de Gestão da
Assistência Social e dos Planos Municipais da Assistência Social, referentes ao período de
2000 a 2009, sendo este último em caráter de prognóstico. Campinas sempre foi tida como
uma cidade dotada de uma infra-estrutura consistente em relação à área social. Ou seja, existe
um aparelhamento nesta área que garante a sua dinamização em termos de planejamento e
elaboração de políticas públicas, além de contar com técnicos implementadores envolvidos e
capacitados, como é no caso do PETI. Contudo, ao observamos as ações e sua aplicabilidade,
revela-se um hiato muito grande entre a formulação e a execução dos programas sociais,
sobretudo no se refere ao alcance do público-alvo.
A área de interesse do presente trabalho, portanto, cingiu-se às famílias pobres de
Campinas incluídas no PETI. A pergunta que inspirou e orientou toda a análise foi: Como o
município trata as crianças e adolescentes pobres e suas respectivas famílias? Observou-se
pelo exame dos Relatórios que Campinas possui uma infra-estrutura mínima que consegue
atender a população mais fragilizada. Com efeito, são vários programas sociais voltados para
a área da criança e adolescente, os quais envolvem um número significativo de OG’s e
ONG’s. Nesse sentido, percebe-se que quando o poder público não consegue atender as
famílias em risco social, as organizações não-governamentais se prestam a auxiliar na busca
de um melhor nível de atendimento. Porém, mesmo com a união de esforços, o atendimento
no município ainda deixa a desejar, haja vista a existência de serviços públicos precários e
insuficientes em razão das restrições do Orçamento Público tão restrito. Tudo isso só faz
aumentar as demandas sociais, o que demonstra claramente a defasagem entre o que é
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��planejado e executado.
A área de assistência social, no entanto, é a mais atingida, pois ainda sofre com a
lentidão dos trâmites burocráticos que a impede, muitas vezes, de imprimir um caráter mais
eficaz às suas ações. São vários os entraves que não permitem a maior desenvoltura das suas
ações. Em primeiro lugar, ela ainda enxerga as famílias de forma fragmentada, setorizada,
isolada, desconsiderando o grupo familiar como um todo. Em segundo lugar, ainda recebe
“pacotes fechados” em termos de implementação de programas sociais, sendo raras as
oportunidades de mudança e adaptação à realidade local. Por último, salvo exceções, ainda
sustenta o caráter autoritário e centralizador na forma de gerir a política pública. Para piorar a
situação, o governo federal, desde o advento da descentralização administrativa, transfere ao
município todas as responsabilidade e competências que lhe cabe no país, porém, sem
qualquer forma de apoio financeiro e organizacional.
Campinas se destaca, dentro deste contexto, ao possuir uma rede de atores sociais
fundamentais na elaboração e execução de políticas públicas na área da infância e
adolescência. Um exemplo eloqüente disso foi o fato da cidade ter formulado uma Política
Municipal de combate e erradicação do trabalho infantil, ainda em 2002. Desde então, após a
pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos em Políticas Públicas, o tema passou à condição de
Prioridade Absoluta e ganhou status de marca do Governo Democrático e Popular. Para tanto,
foram implantados no município dois programas voltados para o combate do trabalho infanto-
juvenil: o PETI e o Programa Convivência e Cidadania.
O PETI, enquanto primeiro programa de transferência direta de renda implementado
pelo Governo Federal, em 1996, tem como locus de atuação a família e como forma de
atuação três pilares básicos: a bolsa Criança-Cidadã (complementação da renda), as ações
sócioeducativas (Jornada Ampliada) e a geração de renda. Para que um município possa
receber os recursos do programa, deve mapear os focos de trabalho infantil e sistematizar uma
rede executora de atendimento à criança e adolescente e respetiva família. Também se faz
necessária a criação de uma Comissão de Erradicação do Trabalho Infantil. Por outro lado,
sua contrapartida fundamental consiste na inserção e permanência da criança e adolescente na
escola.
O PETI chegou em Campinas em uma conjuntura bastante favorável, pois na ocasião
estava se discutindo uma política de combate ao trabalho infanto-juvenil na cidade e, a um só
tempo, estava em curso a expansão do PETI/Brasil para os grandes centros urbanos do país. O
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��município, ao detectar o foco do trabalho infanto-juvenil no comércio informal por meio da
pesquisa “Perfil das Famílias das crianças e adolescentes que trabalham nas ruas de
Campinas”, realizada pelo NEPP (Núcleo de Estudos em Políticas Públicas), criou a
possibilidade de implementar o programa de forma quase imediata.
A dificuldade inicial do programa foi lograr uma rede executora que permitisse o
atendimento de crianças e adolescentes recém retiradas das ruas da cidade. Porém, por
Campinas então dispor uma área de assistência social preexistente bem estruturada e dado o
razoável grau de envolvimento dos técnicos implementadores do programa com a questão,
pode-se afirmar que o programa conseguiu ser implantado de forma bem-sucedida e, até certo
ponto, singular. Nesse sentido, vale dizer que as suas principais diferenças com relação ao
PETI/Brasil está no valor superior da bolsa repassado à família, na complementação do valor
da Jornada Ampliada destinado às OG’s e ONG’s e na criação da Comissão de Erradicação do
Trabalho Infantil, que ao promover a presença ativa dos atores sociais locais envolvidos,
conferiu um caráter exitoso às ações desenvolvidas no âmbito do programa no município.
Portanto, ao encerrar um modelo de Sistema de Proteção Social muito bem desenhado,
Campinas acabou transformando-se em referência nacional na área de implementação de
Programas Sociais como, por exemplo, o Programa de Renda Familiar Mínima e o próprio
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Porém, ainda deixa falahas na questão do
atendimento e da cobertura, pois persiste um cenário de empobrecimento da população
campineira conjugado com a ineficácia do poder público no que tange às metas de
atingimento das políticas sociais. Seja como for, o município tem conseguido responder
minimamente às demandas com relação ao trabalho infantil, ainda que exista muito a ser feito,
pois não se pode afirmar que se erradicou o trabalho infanto-juvenil, e sim o desenvolvimento
de ações integradas que resultaram no combate vigoroso a essa forma espúria de exploração
do trabalho. É nessa perspectiva que o trabalho junto às famílias se reveste de extrema
importância, na medida em que contribui para o rompimento do círculo vicioso da pobreza e,
no limite, para a mudança da estrutura social.
Todavia, a discussão que permeia programas de transferência direta de renda, como é
o caso do PETI, que possui um viés mais compensatório do que emancipatório, é até que
ponto o Estado deve sustentar esta relação de dependência entre as famílias fragilizadas e a
assistência social? Por um lado, o que vemos é a concessão de uma bolsa que garante a
sobrevivência da família. De outro, as famílias vão ficando cada vez mais dependentes de um
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��Sistema de Proteção Social o que não lhes propicia condições autônomas para saírem da
situação de risco social.
A transição de um programa social para outro é um sintoma do grau de dependência
das famílias. A saída quase automática do PGRFM para o PETI revela o fracasso do poder
público que não criou mecanismos para que estas famílias se emancipassem e o aumento do
seu grau de dependência. O que vemos, na verdade, não somente em Campinas, mas em todo
o país, é a disseminação de programas sociais com viés mais compensatório do
emancipatório, o que só faz reproduzir o “ciclo de pobreza” inter-geracional das famílias em
situação de vulnerabilidade social.
Referências Bibliográficas
ARTHUS, Reginaldo. O Programa de Garantia de Renda Mínima do município de
Campinas/SP: uma avaliação através das tipologias das famílias e dos critérios de emancipação,
permanência e desligamento. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas/Instituto
de Economia. Campinas, 2000.
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��ACUMULAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: REFLEXOS NA ECONOMIA E
POLÍTICA CONTEMPORANEA
Thiago Rodrigues Miota1
RESUMO
Durante os últimos anos, a economia brasileira passou por governos ideologicamente
diferentes, mas que trouxeram políticas econômicas muito parecidas. Tentar entender este
fenômeno juntamente com o atual crescimento econômico do país é fundamental para
explicar como chegamos até aqui e aonde poderemos chegar.
Palavras-chave: Capital portador de jutos, neoliberalismo, acumulação financeira, política
econômica.
INTRODUÇÃO
Analisando a atual conjuntura econômica mundial, não é exagero afirmar que o
Brasil passa por um momento importante de sua história. Acostumados com incertezas e
períodos críticos, os brasileiros vivem novos tempos. Podemos afirmar isso com segurança,
pois a economia do país resistiu de forma impressionante a uma crise financeira que afetou
grande parte das maiores potências econômicas. Enquanto o resto do mundo ainda recolhe os
cacos, o Brasil avança em sua agenda econômica recuperando o vigoroso crescimento de
antes da crise.
Por outro lado, não podemos dizer o mesmo do sistema político, que ainda amargas
revelações contínuas de escândalos, fraudes e inépcias, que apesar de constatadas, na maioria
dos casos, não resultam em absolutamente nada, nem mesmo numa punição por parte do
eleitorado para seus partidos e representantes. Isso demostra que ainda não há maturidade
neste campo.
1 Estudante do curso de Ciências Econômicas/UNIANCHIETA. Membro do NEPEC (Núcleo de Estudos do Pensamento Econômico Contemporâneo). E-mail: [email protected]
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��Contudo, apesar dos desequilíbrios, os frutos deste pouco tempo de conquistas estão
sendo colhidos e o mundo agora volta suas atenções para os rumos da economia brasileira.
Portanto, é preciso pensar o atual momento e não há como deixar de fazer os seguintes
questionamentos: será que estamos no caminho certo? Se sim, o que fizemos para que dar tão
certo? Se não, o que será preciso mudar?
Apesar de tais perguntas serem importantes, o atual cenário ainda carece de uma
teoria econômica para explicar seus fatos. Em via de regra, o debate, mesmo dentro dos meios
acadêmicos, gira em torno do papel do Estado, se é maior ou menor, se deve ser mínimo ou
máximo. Essa dicotomia apenas empobrece o debate deixando largas lacunas. Sendo assim, é
preciso orientar e esclarecer o debate. É claro que a tarefa não é simples, já que estamos no
olho do furacão, dentro da história, e qualquer aluno de graduação de um curso de história
sabe dos problemas encontrados ao se falar da história dentro da própria história. Todavia,
libertar-se das tentadoras amarras destas teorias mais frágeis, pode ser um caminho para
encontrar as respostas que precisamos.
O texto seguinte carrega o único objetivo de apresentar a tese da acumulação
financeira, recentemente introduzida nos meios acadêmicos brasileiros. De acordo com o
nosso ponto de vista, esta tese oferece contribuições importantes para a compreensão
problemática em referência. Pretendemos também, mais especificamente, demonstrar que no
Brasil o capital portador de juros, conceito a ser esclarecido nas páginas seguintes, está no
centro das relações econômicas.
1. O CAPITAL PORTADOR DE JUROS E O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO
FINANCEIRA
Antes de qualquer apropriação, convém esclarecer o sentido de acumulação
capitalista. Compartilhamos as ideias fundamentais de Marx (1988). Entende-se que o
capitalismo desenvolve-se mediante um processo de acumulação, logicamente, capitalista.
A primeira condição da acumulação é a de que o capitalista consiga vender as suas mercadorias e volte a transformar em capital a maior parte do dinheiro assim obtido; é necessário que o capital tenha circulado com regularidade, e suponhamos que assim tenha sido, com efeito. (MARX, 2008 p. 173).
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��Em linhas gerais, o lucro obtido através do trabalho humano é reinvestido na
produção. Após se tornar mercadoria, o capital passa por transformações podendo assumir
várias formas de acumulação de capital, todas elas ligadas as relações sociais de trabalho.
Poderia acontecer por meio do aumento dos meios e da capacidade de produção, extensão
espacial ou social das relações de propriedade e produção capitalista, ou pelo
redirecionamento do investimento para outros meios mais rentáveis não necessariamente da
produção.
O capital em processo de acumulação pode assumir a forma financeira. Em linhas
gerais, este é o ponto a se considerar no que diz respeito a acumulação financeira. Por
acumulação financeira, segundo Chesnais (2005 p. 37):
Por acumulação financeira, entende-se a centralização em instituições especializadas de lucros não reinvestidos e de rendas não consumidas, que têm por encargo valorizá-los sob a forma de aplicação em ativos financeiros – divisas, obrigações e ações – mantendo-as fora da produção de bens e serviços.
As opções para o investimento do lucro obtido através da produção foram muito
além do que Marx poderia prever. Hoje, é muito comum ver empresas trocarem sua função
mais primordial por outra financeira ou especulativa. O termo acumulação de capital dá lugar
então à acumulação financeira. Convém registrar que nos tempos atuais os princípios não
foram alterados, somente aprofundados.
Esse regime de acumulação tomou proporções grandiosas e a história tem muito a
dizer sobre como este processo aconteceu ao longo do último século. Antes de falar sobre o
capital portador de juros dentro desta esfera de acumulação financeira, é importante
contextualizar sua atuação e mostrar, de forma muito simples, como ocorreu este processo de
acumulação.
Após o período de crise na década de 30 até o fim da Segunda Guerra, em meados de
50, os Estados Unidos passaram por um período de forte crescimento. A prosperidade,
principalmente após o período possivelmente mais terrível do capitalismo, praticamente
esgotou as opções de investimento produtivo do país que passou procurar novas fronteiras
numa relação perfeitamente inversa, mais rentável e mais curta.
Na Europa não foi diferente, com o início dos “eurodólares”, pouco antes de 60, num
processo de liberalização financeira que permitiu a expansão do capital financeiro. Neste
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��mesmo período, houve um fortalecimento das instituições bancárias, que por entre outros
motivos, foi a obrigatoriedade de abrir contas em para receber seus salários, o que trouxe um
volume constante de capital outrora não existente e que precisava ser conquistado com
limitações. Em seguida, ocorreu o período dos “petrodólares”, através de um processo de
reciclagem com o aumento do preço do petróleo sendo repassado em forma de empréstimos.
O sonho dos países tidos como de Terceiro Mundo de entrar ou terminar seu processo de
industrialização encontrou um vasto capital pronto para aumentar seus rendimentos em larga
escala a juros jamais encontrados em seu país de origem. Por isso, com o fim da chamada
“idade de ouro” dos anos 70, essa lógica intensificou-se, por meio de endividamentos dos
países do Terceiro Mundo. Todavia, este processo de endividamento, por mais estranho que
possa parecer, foi protagonista nos países considerados de Primeiro Mundo. Precisando
financiar seus déficits orçamentários, os governos destes países aproveitaram-se das novas
regulações do sistema financeiro por meio das titulizações e a liberação do movimento de
capitais (CHESNAIS, 2005).
É importante deixar claro que nada disso seria possível se o Estado não atuasse da
forma como atou, compromissado, ao iniciar e desenvolver pontualmente o processo de
desregulação financeira, permitindo que o capital financeiro encontrasse cada vez menos
barreiras para sua franca expansão e dominância.
É neste contexto que Chesnais (2005) afirma que o capital portador de juros está no
centro das relações sociais e econômicas. Apesar de não estar fora do processo de produção,
este capital, quando aparece sob a face de um aparente investimento também denominado
capital financeiro, independente de qual seja o setor, tem seu objetivo específico, muito
exterior à produção, que é obter única e exclusivamente a remuneração do capital no curto
prazo. Não estamos falando de algo simples, mas de algo que traz profundas mudanças em
nossa realidade, desde os nossos objetivos mais complexos até nossas atividades mais
cotidianas. Quando o capital portador de juros está no cerne das relações ele impõe uma
lógica de curto prazo às empresas trazendo em consequência a precarização dos direitos
trabalhistas e uma série de outras questões.
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��2. O BRASIL SOB O REGIME DE ACUMULAÇÃO FINANCEIRA
O Brasil vive sob um regime de acumulação financeira no qual o capital portador de
juros está no centro das relações econômicas e sociais. O período compreende a partir dos
anos do governo Collor, no qual o país vinha de um momento em que o Estado tinha uma
participação cada vez mais efetiva no processo de desenvolvimento nacional para romper com
essa tendência e dar início uma nova ordem neoliberal.
Foi com Collor que o ponto de inflexão aconteceu com o início de uma abertura
comercial mais desmedida e com as privatizações. No governo seguinte, através do presidente
Fernando Henrique Cardoso, as políticas neoliberais tomaram conta da agenda brasileira com
o combate à inflação através do Plano Real com políticas da taxa de juros inimagináveis.
Neste momento, aprofundou-se o processo de privatização no país, o câmbio passou a ser
flutuante e adotou-se o regime de superávits primários com menos gastos públicos. O Brasil
abriu completamente os braços para abraçar com todo vigor tudo o que o mundo teria a
oferecer como capital, não importava a qual custo. Completamente devastada pelo efeito da
inflação, a economia brasileira encontrou no exigente e abusivo capital financeiro a saída dos
seus principais problemas econômicos e sociais. Nunca antes no Brasil a sociedade havia
estado tão em conflito com o social. (RIBEIRO, 2000)
É interessante notar a análise de Marques (2009), que não poupa críticas também ao
governo Lula. Apesar de ser um partido com longos históricos de críticas aos governos
anteriores, foi o que mais aprofundou as próprias políticas neoliberais permitindo o
fortalecimento do capital portador de juros no Brasil. As políticas econômicas adotadas pelo
governo anterior não foram interrompidas, muito pelo contrário, foram ampliadas, por meio
de novas formas de privatizações, com leilões e pedágios.
Entende-se que até mesmo o programa Bolsa-família caracterizou-se por um tipo de
ajuda que favorece o populismo lulista, onde o governo gasta uma parte ínfima do orçamento
que não comprometem em nada outros interesses mais pertinentes, mas que é suficiente para
beneficiar as camadas mais pobres da população brasileira, direta ou indiretamente, deixando-
as extremamente satisfeitas.
Quando paramos para analisar a atual estrutura da economia brasileira podemos ver a
presença deste capital portador de juros nos mais diversos campos da atuação através dos
fundos de pensão e do capital bancário. Quase todas as grandes empresas possuem uma
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��participação significativa deste capital. Os grandes bancos, e não estamos falando apenas dos
bancos nacionais, orientam seus clientes a colocar dinheiro em empresas brasileiras. Enquanto
a taxa de juros de outros países se arrasta em níveis baixíssimos, a taxa brasileira ainda é uma
das mais altas do mundo, utilizando-se da bandeira do combate a inflação.
CONCLUSÃO
Após passar por um processo de acumulação financeira em tempos recentes, a
economia mundial encontra-se numa nova lógica, aqui denominada acumulação financeira,
nos termos de Chesnais (2005).
O Brasil não está fora desta nova lógica da acumulação capitalista. Interessante é
notar que a lógica econômica parece sobrepujar quaisquer escolhas ou projetos políticos.
Mesmo havendo diferenças no pensamento e no discurso, os partidos políticos que se
alternaram no poder não expuseram diferenças essenciais.
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RIBEIRO, Renato Janine. A sociedade contra o social. São Paulo: Companhia das Letras,
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