Súmula n. 349
SÚMULA N. 349
Compete à Justiça Federal ou aos juízes com competência delegada o
julgamento das execuções fi scais de contribuições devidas pelo empregador ao
FGTS.
Referências:
CF/1988, art. 114.
EC n. 45/2004.
Lei n. 5.010/1966, art. 15, I.
Lei n. 8.844/1994, art. 2º.
Súmula n. 40-TFR.
Precedentes:
CC 52.095-SP (1ª S, 08.03.2006 – DJ 27.03.2006)
CC 53.878-SP (1ª S, 12.12.2005 – DJ 13.02.2006)
CC 54.162-SP (1ª S, 13.09.2006 – DJ 02.10.2006)
CC 54.194-SP (1ª S, 25.10.2006 – DJ 13.11.2006)
CC 57.802-GO (1ª S, 24.05.2006 – DJ 12.06.2006)
CC 59.806-GO (1ª S, 23.08.2006 – DJ 11.09.2006)
CC 64.199-MG (1ª S, 11.04.2007 – DJ 30.04.2007)
Primeira Seção, em 11.06.2008
DJe 19.06.2008 – ed. n. 164
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 52.095-SP (2005/0110750-4)
Relator: Ministro Teori Albino Zavascki
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Roberto Sant’anna Lima e outros
Réu: IR Monteiro e Companhia Ltda.
Advogado: Arthur Luiz de Almeida Delgado e outros
Suscitante: Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP
Suscitado: Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP
EMENTA
Confl ito de competência. Execução fi scal promovida pela Caixa
Econômica Federal. Dívida de FGTS. Competência da Justiça Federal.
1. A relação jurídica que se estabelece entre o FGTS
e o empregador, da qual decorre a obrigação de recolhimento de
contribuições para o referido Fundo, tem natureza estatutária, e não
contratual. Ela decorre da lei, e não da relação de trabalho. A ação
de cobrança é proposta pela CEF em favor do FGTS, e nenhum dos
dois fi gura na relação de trabalho. Assim, é da Justiça Federal e não da
Justiça do Trabalho a competência para processar a causa.
2. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal
da 3ª Vara de Marília, o suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide
a Egrégia Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conhecer do confl ito e declarar competente o Juízo Federal da 3a. Vara de
Marília-SJ-SP, o suscitado, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os
Srs. Ministros Castro Meira, Denise Arruda, Francisco Peçanha Martins, José
Delgado, Eliana Calmon, Luiz Fux e João Otávio de Noronha votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 8 de março de 2006 (data do julgamento).
Ministro Teori Albino Zavascki, Relator
DJ 27.3.2006
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
264
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki: Trata-se de conflito negativo
de competência suscitado pelo Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP
em face do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP em ação de execução
fi scal movida pela Caixa Econômica Federal - CEF para cobrança de créditos
referentes ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
O Juízo Federal declinou da competência ao argumento de que, com a
Emenda Constitucional n. 45, de 2004, a competência para processar e julgar a
execução é da Justiça Trabalhista por originar-se de relação de trabalho (fl s. 182-
183). O Juízo do Trabalho suscitou o confl ito argumentando que “essa espécie
de ação não está inserida no rol do art. 114 da CF, já considerada a ampliação
daquele rol em decorrência da EC n. 45” (fl . 185).
O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Federal
(fl s. 192-195).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Teori Albino Zavascki (Relator): 1. O art. 114 da CF, com
a redação dada pela EC n. 45/2004, atribui à Justiça do Trabalho a competência
para processar e julgar “ações oriundas da relação de trabalho” (inciso I) e “outras
controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei” (inciso IX).
Não se enquadra nessas hipóteses a ação de execução fi scal aqui tratada. Com
efeito, a relação jurídica que se estabelece entre o FGTS e o empregador, e
da qual decorre a obrigação de recolhimento de contribuições para o referido
Fundo, tem natureza estatutária, e não contratual. Trata-se de relação jurídica
integralmente disciplinada por estatuto legal (CF, art. 7º, III; Lei n. 8.036/1990)
e não por contrato. Entre os sujeitos dessa relação jurídica não há vínculo
trabalhista, nem qualquer espécie de relação de trabalho. A ação de cobrança,
conseqüentemente, não pode ser considerada como oriunda da relação de
trabalho, até porque é proposta pela CEF em favor do FGTS, nenhum deles
fi gurante da relação de trabalho.
Sobre a cobrança de dívidas para com o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS pela Caixa Econômica Federal - CEF, no CC n. 40.295-BA, 1ª
Seção, DJ de 22.3.2004, manifestei-me no seguinte sentido:
A execução foi proposta para a cobrança de créditos oriundos de dívida da
empresa para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS (Certidão de
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 265
Dívida Inscrita de fl . 6). A Lei n. 8.844/1994, em seu art. 2º (com a redação dada
pela Lei n. 9.467/1997) estabelece que:
Art. 2º Compete à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a inscrição em
Dívida Ativa dos débitos para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS, bem como, diretamente ou por intermédio da Caixa Econômica
Federal, mediante convênio, a representação Judicial e extrajudicial do
FGTS, para a correspondente cobrança, relativamente à contribuição e às
multas e demais encargos previstos na legislação respectiva.
A inteligência desse dispositivo legal revela que: a) a dívida para com o FGTS
tem inscrição feita pela Fazenda Nacional e b) a representação judicial para a
cobrança dessa dívida pode ser feita tanto pela própria Fazenda Nacional, quanto
pela Caixa Econômica Federal, mediante convênio. Portanto, cumpre à Fazenda
Nacional cobrar a dívida para com o mencionado fundo, e, por autorização legal,
pode delegar essa incumbência à CEF. Em outras palavras, quem deve ao FGTS
será cobrado pela Fazenda Nacional, que cobra a dívida diretamente ou manda
a Caixa Econômica Federal cobrar. Assim, a execução fi scal é da União e não da
Caixa, que é, nesse caso substituta processual da Fazenda Nacional.
Assim, é da Justiça Federal e não da Justiça do Trabalho a competência
para processar a causa.
3. Diante do exposto, conheço do confl ito e declaro competente o Juízo
Federal da 3ª Vara de Marília, o suscitado.
É o voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 53.878-SP (2005/0132667-7)
Relator: Ministro Castro Meira
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Roberto Sant’anna Lima e outros
Réu: A de Grande e Companhia Ltda.
Advogado: Manoel Manzano Junior
Suscitante: Juízo da 1ª Vara do Trabalho de Marília-SP
Suscitado: Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
266
Ementa
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. FGTS. CEF.
EC n. 45/2004. Art. 114, I, da CF/1988. Não-incidência.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar
e julgar as execuções fiscais propostas pela União, ou pela CEF
mediante convênio, para a cobrança do FGTS permanece com a
Justiça Federal, a menos que o domicílio do devedor não seja sede de
Vara dessa especializada, quando então caberá o processamento do
feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação federal, nos termos
do art. 109, § 3º, da CF/1988 c.c. o art. 15 da Lei n. 5.010/1966 e
Súmula n. 40-TFR.
2. Os depósitos para o FGTS representam obrigação legal
do empregador em benefício do empregado. Há, entretanto, nítido
interesse federal na higidez do Fundo, cujos recursos são utilizados,
e.g., na implementação de políticas habitacionais vinculadas ao
Sistema Financeiro da Habitação - SFH.
3. A execução fi scal das dívidas do FGTS não se confunde com
a relação de trabalho subjacente, já que não envolve diretamente
empregador e empregado. Cuida-se de relação que decorre da lei
(ex lege), e não da vontade das partes (ex voluntate). É também uma
relação de Direito Público, que se estabelece entre a União, ou a CEF,
e os empregadores inadimplentes com o FGTS, e não de Direito
Privado decorrente do contrato de trabalho.
4. Não incide na hipótese o art. 114, I, da CF/1988, segundo o
qual “compete à Justiça do Trabalho processar e julgar (...) as ações
oriundas da relação de trabalho”.
5. Confl ito de competência conhecido para declarar competente
o Juízo Federal suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A
Seção, por unanimidade, conheceu do confl ito e declarou competente o Juízo
Federal da 3a. Vara de Marília-SP, o suscitado, nos termos do voto do Sr.
Ministro Relator”. A Sra. Ministra Denise Arruda e os Srs. Ministros Francisco
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 267
Peçanha Martins, José Delgado, Eliana Calmon, Luiz Fux, João Otávio de
Noronha e Teori Albino Zavascki votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 12 de dezembro de 2005 (data do julgamento).
Ministro Castro Meira, Relator
DJ 13.2.2006
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Castro Meira: Cuida-se de confl ito negativo de competência
suscitado pelo Juízo da 1ª Vara do Trabalho de Marília-SP em face do Juízo da
3ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Marília-SP, nos autos de execução
fi scal movida pela Caixa Econômica Federal - CEF para a cobrança de dívidas
relativas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
O Juízo suscitado declinou da competência para uma das varas da Justiça
do Trabalho em virtude do advento da Emenda Constitucional n. 45, de 8 de
dezembro de 2004, por entender que a competência para processar e julgar as
execuções de dívidas oriundas da relação de trabalho é da Justiça Laboral.
O suscitante, por sua vez, concluiu que a relação de trabalho que deu
origem à dívida exeqüenda não é a mesma presente na execução em tela, já
que os débitos relativos às contas vinculadas do FGTS são cobrados pela Caixa
Econômica Federal - CEF.
O Ministério Publico Federal ofertou parecer, opinando pela competência
do Juízo suscitado (fl s. 99-101).
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Castro Meira (Relator): Por tratar-se de controvérsia
instaurada entre juízos vinculados a Tribunais distintos, conheço do confl ito, nos
termos do art. 105, I, d, da Constituição da República.
Passo ao mérito.
A dívida relativa ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
inscrita e cobrada pela Fazenda Nacional, sendo possível, por meio de convênio,
a propositura da execução pela Caixa Econômica Federal - CEF, nos termos da
Lei n. 8.844/1994. Assim, até o advento da EC n. 45/2004, a presença na lide
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
268
da União ou da CEF justifi cava o processamento do feito na Justiça Federal, nos
termos do art. 109, I, da Constituição da República, ou na Justiça do Estado,
quando a comarca do domicílio do executado não fosse sede de vara daquela
Justiça Especializada. Nesse sentido:
Confl ito de competência. Execução fi scal. Dívida de FGTS. Inscrição da dívida
pela Fazenda Nacional. Cobrança pela Caixa Econômica Federal. Executivo da
União. Juízo Estadual investido de Jurisdição Federal. Súmula n. 3-STJ.
1. A dívida para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
inscrita e cobrada pela Fazenda Nacional, que pode, por autorização legal (Lei n.
8.844/1994 modifi cada pela Lei n. 9.467/1997), mediante convênio, ser cobrada
pela Caixa Econômica Federal. Isso não descaracteriza o executivo fi scal como
sendo da União.
2. Os executivos fi scais da União, ajuizados contra devedores domiciliados
nas comarcas do interior onde não funcionar vara da Justiça Federal serão
processados e julgados pelos Juízes Estaduais, que agem com Jurisdição Federal
delegada.
3. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo de Direito da 2ª
Vara Cível e da Fazenda Pública de Juazeiro-BA, o suscitado (STJ - 1ª Seção, CC n.
40.295-BA, Rel. Min. Teori Zavascki, DJ de 22.3.2004).
A EC n. 45/2004, ao ampliar a competência da Justiça do Trabalho, gerou
incertezas quanto à correta exegese das alterações impostas ao art. 114 da
Constituição Federal, o que vêm gradativamente sedo equacionado por esta
Corte e pelo Supremo Tribunal Federal, com o suporte indispensável da doutrina.
A questão posta nos autos não encontra precedentes neste Tribunal. De
um lado, o Juízo federal entende que a competência para processar e julgar as
execuções fi scais relativas ao FGTS passou à Justiça do Trabalho após a EC n.
45/2004, por força do disposto no art. 114, I, da CF/1988. De outro, o Juízo
trabalhista conclui que “a relação de trabalho a que se refere o inciso I do art.
114 é aquela existente entre as partes em litígio” (fl . 117).
O art. 114 da Constituição Federal, com redação conferida pela EC n.
45/2004, enuncia:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito
público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (...)
Como bem acentuou o d. representante do Ministério Público Federal, “o
referido dispositivo legal refere-se a litígios entre partes, não se inserindo nesse
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 269
contexto os executivos fi scais promovidos pela União, ainda que a Fazenda
Nacional tenha como substituto processual a CEF” (fl . 124).
A norma em destaque aplica-se às ações judiciais entre partes envolvidas
na relação de trabalho, como o são empregado e empregador, prestador de
serviços e o respectivo tomador, dono da obra e empreiteiro, profi ssional liberal
e contratante etc.
Relação de trabalho é “o vínculo que se estabelece entre a pessoa que
executa o labor - o trabalhador propriamente dito, o ser humano que empresta
a sua energia para o desenvolvimento de uma atividade - e a pessoa jurídica ou
física que é benefi ciária desse trabalho, ou seja, aufere o resultado proveniente
da utilização da energia humana por parte daquele” (Brandão, Cláudio
Mascarenhas. “Relação de Trabalho: Enfi m, o Paradoxo Superado” in “Nova
Competência da Justiça do Trabalho/Grijalbo Fernandes Coutinho, Marcos
Neves Fava, coordenadores - São Paulo: LTr 2005, p. 59).
Os depósitos para o FGTS representam obrigação legal do empregador em
benefício do empregado. Há, entretanto, nítido interesse federal na higidez do
Fundo, cujos recursos são utilizados na implementação de políticas habitacionais
vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação - SFH.
A execução fi scal das dívidas do FGTS, a cargo da União ou da CEF
mediante convênio, não se confunde com a relação de trabalho subjacente, já
que não envolve diretamente empregador e empregado. Cuida-se de relação
que decorre da lei (ex lege) e não da vontade das partes (ex voluntate). É também
uma relação de Direito Público, que se estabelece entre a União, ou a CEF, e os
empregadores inadimplentes com o FGTS, e não de Direito Privado decorrente
do contrato de trabalho.
Assim, a competência para processar e julgar as execuções fi scais propostas
pela União, ou pela CEF mediante convênio, para a cobrança do FGTS
permanece, mesmo após a EC n. 45/2004, com a Justiça Federal, a menos que
o domicílio do devedor não seja sede de Vara dessa especializada, quando então
caberá o processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação
federal, nos termos do art. 109, § 3º da CF/1988 c.c. o art. 15 da Lei n.
5.010/1966 e Súmula n. 40-TFR.
Ante o exposto, conheço do confl ito para declarar competente o Juízo Federal
suscitado.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
270
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 54.162-SP (2005/0143647-9)
Relatora: Ministra Denise Arruda
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Marcelino Champagnat Boaventura e outros
Réu: IDVJ Granitos e Mármores Ltda. - microempresa
Suscitante: Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP
Suscitado: Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP
EMENTA
Confl ito de competência. Execução fi scal ajuizada pela CEF.
Cobrança do FGTS. Lei n. 8.844/1994. Competência da Justiça
Federal inalterada pela EC n. 45/2004.
1. Discute-se a competência para julgamento de ação de execução
fi scal ajuizada pela CEF para a cobrança de valores devidos ao FGTS.
2. Ao dar nova redação ao art. 114 da Carta Magna, a EC n.
45/2004 aumentou de maneira expressiva a competência da Justiça
Laboral, passando a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo,
que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar “as ações oriundas
da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo
e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios”.
3. Não obstante isso, nos termos do art. 2º da Lei n. 8.844/1994,
cabe à Fazenda Nacional a cobrança dos créditos do FGTS, sendo que
a CEF pode atuar como sua substituta processual.
4. Evidencia-se, portanto, que a cobrança da contribuição
referente ao FGTS e a obrigação relativa ao seu recolhimento, bem
como a relação jurídica existente entre o fundo em questão e o
empregador, não têm natureza trabalhista, não estando a presente
demanda, de conseqüência, incluída na esfera de competência da
Justiça do Trabalho.
5. Confl ito conhecido para declarar a competência do Juízo
Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP -, o suscitado.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 271
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Primeira
Seção do Superior Tribunal de Justiça: A Seção, por unanimidade, conheceu do
confl ito e declarou competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP,
o suscitado, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros
Humberto Martins, Herman Benjamin, José Delgado, Luiz Fux, João Otávio de
Noronha, Teori Albino Zavascki e Castro Meira votaram com a Sra. Ministra
Relatora. Ausente, justifi cadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon.
Brasília (DF), 13 de setembro de 2006 (data do julgamento).
Ministra Denise Arruda, Relatora
DJ 2.10.2006
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Denise Arruda: Em ação de execução fi scal ajuizada pela
Caixa Econômica Federal para a cobrança de valores devidos ao Fundo de
Garantia do Tempo de Serviço - FGTS -, o Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-
SJ-SP - declarou sua incompetência para julgamento do litígio, determinando
a remessa dos autos à Justiça do Trabalho, sob o fundamento de que a EC n.
45/2004 transferiu para a Justiça Laboral a competência para julgamento de
todas as ações que se originam de relações de trabalho.
Encaminhados os autos ao Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP,
foi suscitado o presente confl ito de competência, entendendo que “a relação de
trabalho a que se refere o inciso I do art. 114 é aquela existente entre as partes
em litígio, e não como interpretou o MM. Juízo Federal”.
O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Federal,
em parecer assim sumariado (fl s. 144-147):
Conflito negativo de competência entre a Justiça do Trabalho e a Justiça
Federal Comum. Execução fi scal ajuizada pela Caixa Econômica Federal. Cobrança
de valores referentes ao FGTS. Ação que não tem por objeto a relação de trabalho.
Incidência do art. 114, I, da CF, afastada. Precedente do STJ.
Parecer pela declaração de competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-
SJ-SP, o suscitado.
É o relatório.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
272
VOTO
A Sra. Ministra Denise Arruda (Relatora): Trata-se de confl ito em que se
discute a competência para julgamento de execução fi scal proposta pela Caixa
Econômica Federal - CEF - para cobrança de importância relativa ao FGTS.
Apesar das recentes alterações da ordem constitucional, assiste razão ao
Juízo Suscitante.
Ao dar nova redação ao art. 114 da Carta Magna, a EC n. 45/2004
aumentou de maneira expressiva a competência da Justiça Laboral, passando
a estabelecer, no inciso I do retrocitado dispositivo, que compete à Justiça do
Trabalho processar e julgar “as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos
os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”.
Não obstante isso, a competência para julgamento de demandas como a
dos autos não foi atraída para a Justiça do Trabalho.
O art. 2º da Lei n. 8.844/1994 prevê que “compete à Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional a inscrição em Dívida Ativa dos débitos para com o Fundo
de Garantia do Tempo de serviço - FGTS, bem como, diretamente ou por
intermédio da Caixa Econômica Federal, mediante convênio, a representação
Judicial e extrajudicial do FGTS, para a correspondente cobrança, relativamente
à contribuição e às multas e demais encargos previstos na legislação respectiva”.
Evidencia-se, portanto, que cabe à Fazenda Nacional a cobrança dos
créditos do FGTS, sendo que a CEF pode atuar como sua substituta processual.
Desse modo, conclui-se que a cobrança da contribuição referente ao FGTS e a
obrigação relativa ao seu recolhimento, bem como a relação jurídica existente
entre o fundo em questão e o empregador não têm natureza trabalhista, não
estando a presente demanda, de conseqüência, incluída na esfera de competência
da Justiça do Trabalho.
Nesse sentido é a jurisprudência uníssona da Primeira Seção, conforme os
precedentes a seguir:
Confl ito de competência. Execução fi scal. Inscrição da dívida pela Fazenda
Nacional. Cobrança pela CEF. Executivo da União. Competência da Justiça Federal.
Emenda Constitucional n. 45/2004.
1. A dívida ativa para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
inscrita pela Fazenda Nacional, que pode, por autorização legal (Lei n. 8.844/1994)
transferir a cobrança para a Caixa Econômica Federal. Apesar da delegação de
competência, o título não perde a característica de executivo fi scal da União.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 273
2. A modifi cação, pela Emenda Constitucional n. 45/2004, do art. 114 da CF não
altera a competência para o julgamento do feito.
3. Confl ito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da 3ª Vara Cível de Muriaé-MG.
(CC n. 60.237-MG, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 26.6.2006).
Confl ito de competência. Execução fi scal promovida pela Caixa Econômica
Federal. Dívida de FGTS. Competência da Justiça Federal.
1. A relação jurídica que se estabelece entre o FGTS e o empregador, da qual
decorre a obrigação de recolhimento de contribuições para o referido Fundo,
tem natureza estatutária, e não contratual. Ela decorre da lei, e não da relação de
trabalho. A ação de cobrança é proposta pela CEF em favor do FGTS, e nenhum
dos dois fi gura na relação de trabalho. Assim, é da Justiça Federal e não da Justiça
do Trabalho a competência para processar a causa.
2. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de
Marília, o suscitado.
(CC n. 55.415-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJ de 27.3.2006).
Conflito de competência. Execução fiscal. Contribuições de FGTS. Art.
114, inciso I, da CF/1988 (redação da EC n. 45/2004). Hipótese dos autos não-
contemplada. Competência da Justiça Federal. Art. 109, inciso I, da Carta Maior.
1. Confl ito de competência negativo suscitado pela Justiça do Trabalho em
face da Justiça Federal, relativo à ação de execução fi scal promovida pela Caixa
Econômica Federal - CEF objetivando cobrar valores devidos ao Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço - FGTS.
2. O art. 114, inciso I, da CF/1988, alterado pela Emenda Constitucional n.
45/2004, não contempla hipótese de execução fi scal promovida pela CEF em
face de empresa devedora de FGTS, tendo em vista que o vínculo entre devedor
e credor forma negócio jurídico sem as características da denominada relação de
trabalho.
3. Compete, portanto, à Justiça Federal processar e julgar o aludido feito,
consoante a disciplina do art. 109, inciso I da Carta Maior.
4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo
Federal, suscitado.
(CC n. 52.099-SP, Rel. Min. José Delgado, DJ de 20.2.2006).
Depreende-se, portanto, que a análise da demanda em questão permanece
no âmbito de competência da Justiça Federal.
À vista do exposto, deve-se conhecer do conflito para declarar a
competência do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP -, o suscitado.
É o voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
274
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 54.194-SP (2005/0143627-7)
Relator: Ministro Humberto Martins
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Roberto Sant’anna Lima e outros
Réu: Amendocil Produtos Alimentícios Ltda. - microempresa
Réu: Antonio Carlos da Silva
Réu: Cleide Fatima da Silva
Suscitante: Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP
Suscitado: Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP
EMENTA
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. Justiça do
Trabalho x Juízo Estadual investido em Jurisdição Federal. FGTS.
CEF. EC n. 45/2004. Precedentes.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar e
julgar as execuções fi scais propostas pela União ou pela CEF, mediante
convênio para cobrança do FGTS, permanece com a Justiça Federal.
2. Caso inexista no domicílio do devedor sede de Vara Federal,
a competência é do Juízo Estadual da Comarca do domicílio do
executado, que fica investido em Jurisdição Federal, consoante a
dicção do art. 109, § 3º, da CF e do art. 15 da Lei n. 5.010/1966.
3. Há inexistência de relação de trabalho, também, porque a
relação constituída nos autos faz sobrelevar o interesse federal na
higidez do Fundo que tem seus recursos utilizados na implementação
de políticas habitacionais vinculadas ao Sistema Financeiro de
Habitação – SFH.
Confl ito de competência conhecido, para declarar competente o
Juízo da 3ª Vara Federal de Marília, o suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça “A
Seção, por unanimidade, conheceu do confl ito e declarou competente o Juízo
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 275
Federal da 3a. Vara de Marília, o suscitado, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator”. Os Srs. Ministros Herman Benjamin, Eliana Calmon, João Otávio de
Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira e Denise Arruda votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Ausentes, ocasionalmente, os Srs. Ministros José Delgado e Francisco
Falcão.
Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux.
Brasília (DF), 25 de outubro de 2006 (data do julgamento).
Ministro Humberto Martins, Relator
DJ 13.11.2006
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Humberto Martins: Adoto o relatório do parecer da
Procuradoria-Geral da República de fl s. 111-113, que pugna pela competência
do Juízo suscitado.
Trata-se de confl ito negativo de competência suscitado pelo Juízo da 2ª Vara
do Trabalho de Marília-SP em face do Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP, nos
autos da ação de execução fi scal ajuizada pela Caixa Econômica Federal contra
Amendocil Produtos Alimentícios Ltda. e outros, com vista ao pagamento de
dívida decorrente de importância devida ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço - FGTS (fl s. 02-03).
O Juízo Federal da 3ª Vara de Marília-SJ-SP declinou da competência, sob
o entendimento de que a dívida origina-se de relação de trabalho, devendo a
causa ser julgada pela Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, I, da CF, com a
redação que lhe foi dada pela Emenda Constitucional n. 45 (fl s. 91-92).
O Juízo da 2ª Vara do Trabalho de Marília-SP, por sua vez, também se declarou
incompetente e suscitou o presente confl ito, alegando que o art. 114, I, da CF,
refere-se às hipóteses em que há litígio entre um prestador e um tomador de
serviços (fl . 96) (...).
É, no essencial, o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro Humberto Martins (Relator): Inicialmente, conheço do
presente confl ito, com base no art. 105, I, d, da Constituição Federal, por se
tratar de confl ito negativo travado entre juízos vinculados a Tribunais distintos.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
276
Imperioso notar que o art. 114, I, da CF, com a redação que lhe é dada
pela EC n. 45/2004, ampliou consideravelmente a competência da Justiça
Trabalhista, fazendo com que ali sejam julgadas ações que tenham como partes
sujeitos envolvidos na relação de trabalho, como os empregadores, empregados,
prestadores de serviços e respectivos tomadores, donos de obra e empreiteiros,
profi ssionais liberais etc.
Faço notar ainda que a CEF, mediante convênio, pode buscar os créditos
do FGTS fazendo as vezes da Fazenda Nacional e, em casos como o dos autos,
sobreleva o interesse federal, além de que não tem pertinência com a relação de
trabalho o interesse na higidez do Fundo de Garantia, o qual tem seus recursos
utilizados na implementação de políticas habitacionais vinculadas ao Sistema
Financeiro de Habitação - SFH.
Assim, a execução fi scal das dívidas do FGTS, a cargo da União ou da
CEF, aqui mediante convênio (Lei n. 8.844/1994), não pode ser confundida
com relação de trabalho, pois não fi guram nos autos interesses a serem dirimidos
entre empregadores e empregados. Cuida-se de imposição legal ao empregador,
que deve depositar os créditos no Fundo a tempo e modo devidos, perfazendo
tal obrigação relação de Direito Público com a União (ou a CEF, por convênio).
Conforme inúmeros precedentes da Corte, a competência para processar e
julgar essas execuções fi scais permanece, mesmo após a EC n. 45/2004, com a
Justiça Federal ou com Juiz Estadual investido em Jurisdição Federal, caso não
exista no domicílio do executado sede da Justiça Federal.
Exemplifi cativamente, cito:
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. FGTS. CEF. EC n. 45/2004.
Art. 109, § 3º da CF/1988 c.c. art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar e julgar as
execuções fi scais propostas pela União, ou pela CEF mediante convênio, para a
cobrança do FGTS permanece com a Justiça Federal, a menos que o domicílio
do devedor não seja sede de Vara dessa especializada, quando então caberá o
processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação federal, nos
termos do art. 109, § 3º, da CF/1988 c.c. o art. 15 da Lei n. 5.010/1966 e Súmula n.
40-TFR.
2. Por inexistir vara federal na comarca do domicílio do executado, há de ser
observado o § 3º do art. 109 da Constituição Federal c.c. o art. 15, I, da Lei n.
5.010/1966, atribuindo-se competência ao Juízo de Direito.
3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo
Estadual suscitado.
(CC n. 56.692-GO, Min. Castro Meira, DJ 7.8.2006).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 277
Ante o exposto, com supedâneo no artigo 122 do Código de Processo
Civil, conheço do presente confl ito, para declarar competente o Juízo Federal da
3ª Vara de Marília, Seção judiciária de São Paulo, o suscitado.
É como penso. É como voto.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 57.802-GO (2006/0010046-5)
Relator: Ministro José Delgado
Autor: Fazenda Nacional
Representado por: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Bartolomeu Ariosvaldo de Souza e outros
Réu: Precomind Premoldados Comércio e Indústria Ltda e outros
Suscitante: Juízo da Vara do Trabalho de Itumbiara-GO
Suscitado: Juízo de Direito da Vara da Infância e Juventude Fazenda
Pública e Registro Público de Itumbiara-GO
EMENTA
Processual Civil. Confl ito de competência. FGTS. Execução
fi scal. Inciso VII, do art. 114, da CF/1988. Dispositivo acrescentado
pela EC n. 45/2004. Hipótese legal não-caracterizada. Competência
da Justiça Federal. Art. 109, I, da Carta Republicana. Ausência de vara
federal no domicílio do devedor. Competência da Justiça Estadual.
Delegação de competência. Art. 109, § 3°, da CF/1988.
1. Conflito de competência negativo suscitado pela Justiça
do Trabalho em face da Justiça Comum Estadual, relativo à ação
de execução fi scal promovida pela Caixa Econômica Federal - CEF
objetivando cobrar valores devidos ao Fundo de Garantia do Tempo
de Serviço - FGTS.
2. O art. 114, inciso VII, da CF/1988, acrescido pela EC n.
45/2004, apresenta o seguinte teor: Compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar: VII - as ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fi scalização das relações
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
278
de trabalho; (...)”. A lide em comento não se subsume à hipótese
constitucional. As importâncias devidas pelo empregador ao Fundo
não possuem natureza jurídica de penalidade administrativa, tampouco
pode-se afi rmar que a CEF esteja atuando como órgão fi scalizador
das relações de trabalho.
3. A jurisprudência desta Corte sinaliza para a adoção do
entendimento de que as alterações promovidas pela EC n. 45/2004
no art. 114 da Carta Maior não afastaram a competência da Justiça
Federal para apreciar as execuções promovidas pela CEF visando à
cobrança de contribuições devidas pelos empregadores ao FGTS.
Confi ra-se: CC n. 52.095-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª
Seção, DJ de 27.3.2006; CC n. 52.099-SP, deste Relator, 1ª Seção, DJ
de 20.2.2006; CC n. 53.878-SP, Rel. Min. Castro Meira, 1ª Seção, DJ
de 13.2.2006.
4. Como o domicílio do devedor não é sede de Vara Federal,
caberá o processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por
delegação federal, consoante o art. 109, § 3º, da Carta Republicana
de 1988.
5. Confl ito de competência conhecido para declarar competente
o Juízo de Direito da Vara da Infância e da Juventude, Fazenda
Pública e Registros Públicos de Itumbiara-GO, suscitado.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,
acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por
unanimidade, conhecer do confl ito e declarar competente o Juízo de Direito
da Vara da Infância e da Juventude, Fazenda Pública e Registros Públicos de
Itumbiara-GO, o suscitado, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra.
Ministra Eliana Calmon e os Srs. Ministros Luiz Fux, João Otávio de Noronha,
Castro Meira e Denise Arruda votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Teori Albino Zavascki.
Brasília (DF), 24 de maio de 2006 (data do julgamento).
Ministro José Delgado, Relator
DJ 12.6.2006
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 279
RELATÓRIO
O Sr. Ministro José Delgado: Cuida-se de conflito de competência
negativo, nos autos de execução fi scal relativa a importâncias devidas a título
de FGTS, suscitado pelo Juízo da Vara do Trabalho de Itumbiara-GO em face
do Juízo de Direito da Vara da Infância e da Juventude, Fazenda Pública e
Registros Públicos de Itumbiara-GO.
O Juízo Laboral, suscitante, declarou-se incompetente para o processo
e julgamento da lide, pelo fato de a presente execução reportar-se a débitos
oriundos da legislação do FGTS e não de infração a dispositivos legais da
Consolidação das Leis do Trabalho. Em outras palavras, não se trata de ação
relativa à execução de multa ou penalidade administrativa a que se refere o
art. 114, inciso VII, da Carta Maior, mas, na realidade, de execução de valores
devidos ao FGTS, razão pela qual falece competência à Justiça Obreira para
apreciar o caso em questão.
O juízo suscitado declinou de sua competência ao argumento de
que, segundo preceitua o art. 114, inciso VII (acrescentado pela Emenda
Constitucional n. 45/2004) da Constituição Federal de 1988, compete à Justiça
do Trabalho processar e julgar ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fi scalização das relações de trabalho.
Parecer do Ministério Público Federal (fls. 79-83) opinando pela
competência do Juízo de Direito da Vara da Infância e da Juventude, Fazenda
Pública e Registros Públicos de Itumbiara-GO, suscitado. A ementa do parecer
foi elaborada nos seguintes termos (fl . 79):
Administrativo e Processual Civil. FGTS. Execução fi scal movida pela Caixa
Econômica Federal contra empresa devedora de FGTS. Competência da Justiça
Federal, art. 109, I, da Constituição Federal de 1988. Domicílio do devedor que
não é sede de Vara Federal. Competência da Justiça Comum Estadual, por força
da delegação de competência, art. 109, § 3º, da Constituição Federal de 1988.
Precedente do STJ. Confl ito negativo de competência que deve ser conhecido
para que seja declarado competente o Juízo de Direito da Vara da Infância e da
Juventude, Fazenda Pública e Registros Públicos de Itumbiara-GO, o Suscitado.
É o relatório.
VOTO
O Sr. Ministro José Delgado (Relator): O art. 114, inciso VII, da
Constituição Federal de 1988, acrescido pela Emenda Constitucional n. 45,
apresenta o seguinte teor: Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: VII
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
280
- as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores
pelos órgãos de fi scalização das relações de trabalho;(...)”.
O mencionado dispositivo não tem o condão de deslocar para a Justiça
Laboral a competência para o processo e julgamento de execução fiscal
promovida pela Caixa Econômica Federal - CEF em face de empresa devedora
de contribuições destinadas ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS.
A lide em comento não se subsume à hipótese legal prevista no inciso
VII, do art. 114, da Constituição Federal de 1988. As importâncias devidas
pelo empregador ao Fundo não possuem natureza jurídica de penalidade
administrativa, tampouco pode-se afi rmar que a CEF esteja atuando como
órgão fi scalizador das relações de trabalho.
A jurisprudência desta Corte já sinaliza para a adoção do entendimento
de que as alterações promovidas pela EC n. 45/2004 no art. 114 da Carta
Maior não afastaram a competência da Justiça Federal para processar e julgar
as execuções fi scais promovidas pela CEF visando à cobrança de contribuições
devidas pelos empregadores ao FGTS.
Esse posicionamento encontra-se cristalizado nos seguintes julgados:
Confl ito de competência. Execução fi scal promovida pela Caixa Econômica
Federal. Dívida de FGTS. Competência da Justiça Federal.
1. A relação jurídica que se estabelece entre o FGTS e o empregador, da qual
decorre a obrigação de recolhimento de contribuições para o referido Fundo,
tem natureza estatutária, e não contratual. Ela decorre da lei, e não da relação de
trabalho. A ação de cobrança é proposta pela CEF em favor do FGTS, e nenhum
dos dois fi gura na relação de trabalho. Assim, é da Justiça Federal e não da Justiça
do Trabalho a competência para processar a causa.
2. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de
Marília, o suscitado. (CC n. 52.095-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, 1ª Seção, DJ
de 27.3.2006).
Conflito de competência. Execução fiscal. Contribuições de FGTS. Art.
114, inciso I, da CF/1988 (redação da EC n. 45/2004). Hipótese dos autos não-
contemplada. Competência da Justiça Federal. Art. 109, inciso I, da Carta Maior.
1. Confl ito de competência negativo suscitado pela Justiça do Trabalho em
face da Justiça Federal, relativo à ação de execução fi scal promovida pela Caixa
Econômica Federal - CEF objetivando cobrar valores devidos ao Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço - FGTS.
2. O art. 114, inciso I, da CF/1988, alterado pela Emenda Constitucional n.
45/2004, não contempla hipótese de execução fi scal promovida pela CEF em face
de empresa devedora de FGTS, tendo em vista que o vínculo entre devedor e credor
forma negócio jurídico sem as características da denominada relação de trabalho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 281
3. Compete, portanto, à Justiça Federal processar e julgar o aludido feito,
consoante a disciplina do art. 109, inciso I da Carta Maior.
4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo
Federal, suscitado. (CC n. 52.099-SP, deste Relator, 1ª Seção, DJ de 20.2.2006).
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. FGTS. CEF. EC n. 45/2004.
Art. 114, I, da CF/1988. Não-incidência.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar e julgar as
execuções fi scais propostas pela União, ou pela CEF mediante convênio, para a
cobrança do FGTS permanece com a Justiça Federal, a menos que o domicílio
do devedor não seja sede de Vara dessa especializada, quando então caberá o
processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação federal, nos
termos do art. 109, § 3º, da CF/1988 c.c. o art. 15 da Lei n. 5.010/1966 e Súmula n.
40-TFR.
2. Os depósitos para o FGTS representam obrigação legal do empregador
em benefício do empregado. Há, entretanto, nítido interesse federal na higidez
do Fundo, cujos recursos são utilizados, e.g., na implementação de políticas
habitacionais vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação - SFH.
3. A execução fi scal das dívidas do FGTS não se confunde com a relação de
trabalho subjacente, já que não envolve diretamente empregador e empregado.
Cuida-se de relação que decorre da lei (ex lege), e não da vontade das partes (ex
voluntate). É também uma relação de Direito Público, que se estabelece entre a
União, ou a CEF, e os empregadores inadimplentes com o FGTS, e não de Direito
Privado decorrente do contrato de trabalho.
4. Não incide na hipótese o art. 114, I, da CF/1988, segundo o qual “compete
à Justiça do Trabalho processar e julgar (...) as ações oriundas da relação de
trabalho”.
5. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo
Federal suscitado. (CC n. 53.878-SP, Rel. Min. Castro Meira, 1ª Seção, DJ de
13.2.2006).
Inafastável, portanto, a competência da Justiça Federal, defi nida pelo art.
109, I, da Carta Maior, uma vez que, no pólo ativo da demanda, encontra-se
empresa pública federal.
Como o domicílio do devedor não é sede de Vara Federal, caberá o
processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação federal,
consoante o art. 109, § 3º, da Carta Republicana de 1988.
Ante o exposto, conheço do conflito de competência para declarar
competente o Juízo de Direito da Vara da Infância e da Juventude, Fazenda
Pública e Registros Públicos de Itumbiara-GO.
É como voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
282
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 59.806-GO (2006/0011970-8)
Relatora: Ministra Eliana Calmon
Autor: Fazenda Nacional
Representado por: Caixa Econômica Federal CEF
Advogado: Bartolomeu Ariosvaldo de Sousa e outros
Réu: Só Frangos Ltda
Suscitante: Juízo da Vara do Trabalho de Itumbiara-GO
Suscitado: Juízo de Direito de Itumbiara-GO
EMENTA
Confl ito de competência. Execução fi scal. Inscrição da dívida
pela Fazenda Nacional. Cobrança pela CEF. Executivo da União.
Emenda Constitucional n. 45/2004. Justiça Estadual no exercício de
competência federal delegada (Art. 109, § 3º, da CF/1988).
1. A dívida ativa para com o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS é inscrita pela Fazenda Nacional, que pode, por
autorização legal (Lei n. 8.844/1994), transferir a cobrança para a
Caixa Econômica Federal. Apesar da delegação de competência, o
título não perde a característica de executivo fi scal da União.
2. A modifi cação pela Emenda Constitucional n. 45/2004 do
art. 114 da CF não altera a competência da Justiça Federal para o
julgamento do feito.
3. Fixação da competência da Justiça Federal delegada ao Juízo
Estadual em razão do disposto no art. 109, § 3º, da CF/1988.
4. Confl ito de competência conhecido para declarar a competência
do Juízo de Direito de Itumbiara-GO, o suscitado.
ACÓRDÃO
“A Seção, por unanimidade, conheceu do confl ito e declarou competente
o Juízo de Direito da Itumbiara-GO, o suscitado, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora.” Os Srs. Ministros Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori
Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins e José
Delgado votaram com a Sra. Ministra Relatora.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 283
Brasília (DF), 23 de agosto de 2006 (data do julgamento).
Ministra Eliana Calmon, Relatora
DJ 11.9.2006
RELATÓRIO
A Sra. Ministra Eliana Calmon: Trata-se de conflito negativo de
competência suscitado pelo Juízo da Vara do Trabalho de Itumbiara-GO
contra o Juízo de Direito de Itumbiara nos autos de execução fi scal promovida
pela Fazenda Nacional contra a Só Frangos Ltda. visando à obtenção de
importâncias devidas ao FGTS.
O juiz de direito julgou-se incompetente para o feito, por entender que,
nos termos do art. 114, VII, da Constituição Federal, acrescentado pela Emenda
Constitucional n. 45, a Justiça do Trabalho é que deve julgar as ações que tratam
de execução fi scal originada da apuração de importâncias devidas ao FGTS.
Recebidos os autos pela Justiça Especializada, esta se considerou
incompetente, suscitando o presente confl ito, argumentando que a execução
fi scal em questão trata de débitos oriundos da legislação do FGTS e não de
execução de multa ou de penalidade administrativa impostas aos empregadores
pelos órgãos de fi scalização das relações de trabalho a que se refere o inciso VII
do art. 114 da Constituição Federal.
Nesta instância, opinou o Ministério Público pela competência da Justiça
Estadual.
É o relatório.
VOTO
A Sra. Ministra Eliana Calmon (Relatora): De início, transcrevo o art. 2º
da Lei n. 8.844/1994 para melhor compreensão:
Art. 2º Compete à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a inscrição em
dívida ativa dos débitos para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço -
FGTS, bem como, diretamente ou por intermédio da Caixa Econômica Federal,
mediante convênio, a representação judicial e extrajudicial do FGTS, para a
correspondente cobrança, relativamente à contribuição e às multas e demais
encargos previstos na legislação respectiva. (Redação dada pela Lei n. 9.467, de
1997).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
284
Da leitura do dispositivo constata-se a existência de um convênio entre a
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e a CEF para a cobrança de dívida
oriunda de débitos para com o FGTS. Portanto, a dívida pode ser cobrada pela
Fazenda Nacional ou pela CEF, que atua como substituto processual.
Neste sentido, os seguintes julgados:
Confl ito de competência. Execução fi scal. Dívida de FGTS. Inscrição da dívida
pela Fazenda Nacional. Cobrança pela Caixa Econômica Federal. Executivo da
União. Juízo Estadual investido de Jurisdição Federal. Súmula n. 3-STJ.
1. A dívida para com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
inscrita e cobrada pela Fazenda Nacional, que pode, por autorização legal (Lei n.
8.844/1994 modifi cada pela Lei n. 9.467/1997), mediante convênio, ser cobrada
pela Caixa Econômica Federal. Isso não descaracteriza o executivo fi scal como
sendo da União.
2. Os executivos fi scais da União, ajuizados contra devedores domiciliados
nas comarcas do interior onde não funcionar vara da Justiça Federal serão
processados e julgados pelos juízes estaduais, que agem com Jurisdição Federal
delegada.
3. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara
Cível e da Fazenda Pública de Juazeiro-BA, o suscitado.
(CC n. 40.295-BA, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, julgado
em 26.2.2004, DJ 22.3.2004 p. 188).
Confl ito de competência. Constitucional e Processual Civil. Execução fi scal
de FGTS. CEF na condição de substituta processual da Fazenda Nacional.
Competência do Juízo Estadual do domicílio do executado. Constituição Federal
de 1988, art. 109, § 3º, c.c. art. 15, inc. I, da Lei n. 5.010/1966. Aplicação da Súmula
n. 40 do extinto TFR.
1. Atuando a CEF, na qualidade de substituta processual da Fazenda Nacional,
na cobrança de débitos de FGTS devidamente inscritos na dívida ativa da União, é
competente para julgá-la o juízo do foro do domicílio do réu.
2. Aplica-se ao caso em tela, as normas contidas na Constituição Federal, no
Código de Processo Civil e na Lei n. 5.010/1966, que dispõem sobre a fi xação de
competência nas ações de execução fi scal, conforme precedentes desta Corte e o
Enunciado da Súmula n. 40 do TFR.
3. Competência do Juízo Estadual da Comarca de Ibaiti-PR.
(CC n. 25.778-PR, Rel. Ministra Laurita Vaz, Primeira Seção, julgado em 8.8.2001,
DJ 10.9.2001 p. 270).
Assim, tratando-se de cobrança da União, têm incidência as disposições
do art. 109, I e § 1º, da CF/1988. Entendo que o art. 114 da CF, modifi cado
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 285
pela Emenda Constitucional n. 45/2004, em nada alterou essa competência, que
continua a ser da Justiça Federal. Vejamos o dispositivo na íntegra:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela
Emenda Constitucional n. 45, de 2004).
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito
público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45,
de 2004).
II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 45, de 2004).
III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos
e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 45, de 2004).
IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda
Constitucional n. 45, de 2004).
V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista,
ressalvado o disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45,
de 2004).
VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da
relação de trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004).
VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos
empregadores pelos órgãos de fi scalização das relações de trabalho; (Incluído
pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004).
VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a e
II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela
Emenda Constitucional n. 45, de 2004).
IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 45, de 2004).
Assim, inalterada a competência da Justiça Federal pela EC n. 45/2004,
temos na hipótese delegação da competência ao Juízo Estadual em razão do
disposto no art. 109, § 3º, da CF/1988.
Com essas considerações, conheço do confl ito para julgar competente o
Juízo de Direito de Itumbiara, o suscitado.
É o voto.
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
286
CONFLITO DE COMPETÊNCIA N. 64.199-MG (2006/0114936-2)
Relator: Ministro Luiz Fux
Autor: Caixa Econômica Federal - CEF
Advogado: Maria Luiza de Castro Rachid e outros
Réu: Escola Maternal Dom Pixote Ltda
Suscitante: Juízo da Vara do Trabalho de Teófi lo Otoni-MG
Suscitado: Juízo de Direito da Vara de Execuções Criminais e Fiscais de
Teófi lo Otoni-MG
EMENTA
Processual Civil. Execução fiscal de dívida ativa do FGTS.
Conflito negativo de competência estabelecido entre Juízos do
Trabalho e Estadual. EC n. 45/2004. Art. 109, § 3º da CF/1988 c.c.
art. 15, I, da Lei n. 5.010/1966 e Súmula n. 40-TFR.
1. Os juízos federais são competentes para julgar causas em que a
União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem autoras,
rés ou oponentes.
2. O art. 114, inciso VII, da CF/1988, acrescido pela EC n.
45/2004, apresenta o seguinte teor: Compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar: VII - as ações relativas às penalidades administrativas
impostas aos empregadores pelos órgãos de fi scalização das relações
de trabalho; (...)”. A lide em comento não se subsume à hipótese
constitucional. As importâncias devidas pelo empregador ao Fundo
não possuem natureza jurídica de penalidade administrativa, tampouco
pode-se afi rmar que a CEF esteja atuando como órgão fi scalizador
das relações de trabalho.
3. A jurisprudência desta Corte sinaliza para a adoção do
entendimento de que as alterações promovidas pela EC n. 45/2004
no art. 114 da Carta Maior não afastaram a competência da Justiça
Federal para apreciar as execuções promovidas pela CEF visando à
cobrança de contribuições devidas pelos empregadores ao FGTS.
Apenas na hipótese do domicílio do devedor não haver sede dessa vara
especializada, caberá o processamento do feito ao Juízo de direito da
comarca por delegação federal, nos termos do art. 109, § 3º da CF c.c.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 287
o art. 15 da Lei n. 5.010/1966 e Súmula n. 40-TRF. (Precedentes: CC
n. 59.249-MS, DJ 6.11.2006; CC n. 52.095-SP, DJ 27.3.2006; CC
n. 52.099-SP, DJ 20.2.2006; CC n. 53.878-SP, DJ 13.2.2006; CC n.
54.14-SP, DJ 13.11.2006; CC n. 64.385-GO, DJ 23.10.2006;).
4. Confl ito Negativo de Competência conhecido para declarar
competente o Juízo de Direito da Vara de Execuções Criminais e Fiscais
de Teófi lo Otoni-MG.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros da Primeira Seção
do Superior Tribunal de Justiça acordam, na conformidade dos votos e das
notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, conhecer do confl ito e declarar
competente o Juízo de Direito da Vara de Execuções Criminais e Fiscais de
Teófi lo Otoni-MG, o suscitado, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os
Srs. Ministros João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira,
Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, José Delgado e Eliana
Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 11 de abril de 2007 (data do julgamento).
Ministro Luiz Fux, Relator
DJ 30.4.2007
RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luiz Fux: Trata-se de Confl ito Negativo de Competência
suscitado pelo Juízo da Vara do Trabalho de Teófi lo Otoni-MG em face do Juízo
de Direito da Vara de Execuções Criminais e Fiscais de Teófi lo Otoni-MG, nos autos
de Ação de Execução Fiscal proposta pela Caixa Econômica Federal - CEF em
desfavor da Escola Maternal Dom Pixote Ltda., visando a cobrança de dívida
ativa referente ao FGTS.
A ação fora proposta perante o Juízo de Direito da Vara de Execuções
Criminais e Fiscais de Teófi lo Otoni-MG, que declarou de ofício a incompetência
da Justiça Estadual, declinando a competência para a Justiça do Trabalho, em
razão da EC n. 45/2004 que modifi cou a regra do art. 114, III, da CF/1988.
A seu turno, o Juízo da Vara do Trabalho de Teófi lo Otoni-MG instaurou o
Confl ito Negativo de Competência que ora se apresenta asseverando que (fl s.
02-03):
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
288
(...) o dispositivo constitucional invocado não respalda a competência desta
Justiça do Trabalho. Isto porque, além da inexistência de lei (posterior ou anterior)
atribuindo a competência a esta Justiça para processar e julgar o feito, como é a
exigência constitucional (“nos termos da lei”), a demanda não decorre da relação
de trabalho e sim de lei.
O Ministério Público Federal opinou pela competência da Justiça Comum
em parecer, constante às fl s. 12-18, assim ementado:
Constitucional e Trabalho. Conflito negativo de competência, execução
fi scal, movida pela CEF, para cobrança de FGTS não recolhido pelo empregador.
Competência da Justiça Federal.
1. Ação de execução fi scal que objetiva a cobrança de valores referentes ao
FGTS, (...) Dessa forma, entendo que compete à Justiça Federal o processo e
julgamento da presente lide, nos termos do art. 109, inciso I, da CF.
2. Ocorre que, diante da inexisistência de Vara Federal no local da sede da
empresa-ré (...), entendo ser competente o Juízo Estadual Comum de Teófilo
Otoni, Estado de Minas Gerais, o suscitado.
É o relatório. Decido.
VOTO
O Sr. Ministro Luiz Fux (Relator): O art. 114, inciso VII, da Constituição
Federal de 1988, acrescido pela Emenda Constitucional n. 45, apresenta o
seguinte teor: “Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: VII - as ações
relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos
de fi scalização das relações de trabalho; (...)”.
O mencionado dispositivo não tem o condão de deslocar para a Justiça
Laboral a competência para o processo e julgamento de execução fiscal
promovida pela Fazenda Nacional, ou mesmo pela CEF em face de empresa
devedora de contribuições destinadas ao Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS.
A lide em comento não se subsume à hipótese legal prevista no inciso
VII, do art. 114, da Constituição Federal de 1988. As importâncias devidas
pelo empregador ao Fundo não possuem natureza jurídica de penalidade
administrativa, tampouco pode-se afi rmar que a CEF esteja atuando como
órgão fi scalizador das relações de trabalho.
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 289
A jurisprudência desta Corte já sinaliza para a adoção do entendimento
de que as alterações promovidas pela EC n. 45/2004 no art. 114 da Carta
Maior não afastaram a competência da Justiça Federal para processar e julgar
as execuções fi scais promovidas pela CEF visando à cobrança de contribuições
devidas pelos empregadores ao FGTS.
Esse posicionamento encontra-se cristalizado nos seguintes julgados:
Processual Civil. Confl ito de competência. FGTS. Execução fi scal. Inciso VII, do
art. 114, da CF/1988. Dispositivo acrescentado pela EC n 45/2004. Hipótese legal
não-caracterizada. Competência da Justiça Federal.
1. Cuida-se de confl ito de competência negativo, nos autos de execução fi scal
relativa a importâncias devidas a título de FGTS, suscitado pelo Juízo da 1ª Vara do
Trabalho de Campo Grande-MS em face do Juízo Federal da 6ª Vara Especializada
em Execuções Fiscais da Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul.
2. O art. 114, inciso VII, da CF/1988, acrescido pela EC n. 45/2004, apresenta
o seguinte teor: Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: VII - as ações
relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos
de fi scalização das relações de trabalho; (...)”. A lide em comento não se subsume
à hipótese constitucional. As importâncias devidas pelo empregador ao Fundo
não possuem natureza jurídica de penalidade administrativa, tampouco pode-
se afi rmar que a CEF esteja atuando como órgão fi scalizador das relações de
trabalho.
3. A jurisprudência desta Corte sinaliza para a adoção do entendimento de
que as alterações promovidas pela EC n. 45/2004 no art. 114 da Carta Maior
não afastaram a competência da Justiça Federal para apreciar as execuções
promovidas pela CEF visando à cobrança de contribuições devidas pelos
empregadores ao FGTS. Confi ra-se: CC n. 52.095-SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
1ª Seção, DJ de 27.3.2006; CC n. 52.099-SP, deste Relator, 1ª Seção, DJ de 20.2.2006;
CC n. 53.878-SP, Rel. Min. Castro Meira, 1ª Seção, DJ de 13.2.2006. (Grifei).
4. Conheço do presente confl ito de competência para declarar competente
para o feito o Juízo Federal da 6ª Vara Especializada em Execuções Fiscais da
Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul. (CC n. 59.249-MS, Rel. Ministro
José Delgado, Primeira Seção, DJ 6.11.2006).
Confl ito de competência. Execução fi scal promovida pela Caixa Econômica
Federal. Dívida de FGTS. Competência da Justiça Federal.
1. A relação jurídica que se estabelece entre o FGTS e o empregador, da qual
decorre a obrigação de recolhimento de contribuições para o referido Fundo,
tem natureza estatutária, e não contratual. Ela decorre da lei, e não da relação de
trabalho. A ação de cobrança é proposta pela CEF em favor do FGTS, e nenhum
dos dois fi gura na relação de trabalho. Assim, é da Justiça Federal e não da Justiça
do Trabalho a competência para processar a causa. (Grifei).
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
290
2. Confl ito conhecido e declarada a competência do Juízo Federal da 3ª Vara de
Marília, o suscitado. (CC n. 52.095-SP, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira
Seção, DJ 27.3.2006).
Conflito de competência. Execução fiscal. Contribuições de FGTS. Art.
114, inciso I, da CF/1988 (redação da EC n. 45/2004). Hipótese dos autos não-
contemplada. Competência da Justiça Federal. Art. 109, inciso I, da Carta Maior.
1. Confl ito de competência negativo suscitado pela Justiça d Trabalho em
face da Justiça Federal, relativo à ação de execução fi scal promovida pela Caixa
Econômica Federal - CEF objetivando cobrar valores devidos ao Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço - FGTS.
2. O art. 114, inciso I, da CF/1988, alterado pela Emenda Constitucional n.
45/2004, não contempla hipótese de execução fi scal promovida pela CEF em
face de empresa devedora de FGTS, tendo em vista que o vínculo entre devedor
e credor forma negócio jurídico sem as características da denominada relação de
trabalho. (Grifei).
3. Compete, portanto, à Justiça Federal processar e julgar o aludido feito,
consoante a disciplina do art. 109, inciso I a Carta Maior. (Grifei).
4. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo
Federal, suscitado. (CC n. 52.099-SP, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Seção, DJ
20.2.2006).
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. FGTS. CEF. EC n. 45/2004.
Art. 114, I, da CF/1988. Não-incidência.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar e julgar as
execuções fi scais propostas pela União, ou pela CEF mediante convênio, para a
cobrança do FGTS permanece com a Justiça Federal, a menos que o domicílio
do devedor não seja sede de vara dessa especializada, quando então caberá o
processamento do feito ao Juiz de Direito da comarca por delegação federal, nos
termos do art. 109, § 3º, da CF/1988 c.c. o art. 15 da Lei n. 5.010/1966 e Súmula n.
40-TFR. (Grifei).
2. Os depósitos para o FGTS representam obrigação legal do empregador
em benefício do empregado. Há, entretanto, nítido interesse federal na higidez
do Fundo, cujos recursos são utilizados, e.g., na implementação de políticas
habitacionais vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação - SFH. (Grifei).
3. A execução fi scal das dívidas do FGTS não se confunde coma relação de
trabalho subjacente, já que não envolve diretamente empregador e empregado.
Cuida-se de relação que decorre da lei (ex lege), e não da vontade das partes (ex
voluntate). É também uma relação de Direito Público, que se estabelece entre a
União, ou a CEF, e os empregadores inadimplentes com o FGTS, e não de Direito
Privado decorrente do contrato de trabalho. (Grifei).
SÚMULAS - PRECEDENTES
RSSTJ, a. 6, (30): 259-292, agosto 2012 291
4. Não incide na hipótese o art. 114, I, da CF/1988, segundo o qual “compete
à Justiça do Trabalho processar e julgar (...) as ações oriundas da relação de
trabalho”. (Grifei). 5. Confl ito de competência conhecido para declarar competente
o Juízo Federal suscitado. (CC n. 53.878-SP, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira
Seção, DJ 13.2.2006).
Confl ito negativo de competência. Execução fi scal. Justiça do Trabalho x Juízo
Estadual investido em Jurisdição Federal. FGTS. CEF. EC n. 45/2004. Precedentes.
1. Mesmo após a EC n. 45/2004, a competência para processar e julgar as
execuções fi scais propostas pela União ou pela CEF, mediante convênio para
cobrança do FGTS, permanece com a Justiça Federal. (Grifei).
2. Caso inexista no domicílio do devedor sede de Vara Federa, a competência
é do Juízo Estadual da comarca do domicílio do executado, que fi ca investido em
Jurisdição Federal, consoante a dicção do art. 109, § 3º, da CF e do art. 15 da Lei n.
5.010/1966. (Grifei).
3. Há inexistência de relação de trabalho, também, porque a relação constituída
nos autos faz sobrelevar o interesse federal na higidez do Fundo que tem seus
recursos utilizados na implementação de políticas habitacionais vinculadas ao
Sistema Financeiro de Habitação – SFH. Conflito de competência conhecido,
para declarar competente o Juízo da 3ª Vara Federal de Marília, o suscitado. (CC n.
54.14-SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, DJ 13.11.2006).
Processual Civil. Confl ito de competência. Execução fi sca para cobrança de
valores devidos FGTS (e respectiva multa moratória). Art. 114, VII da Constituição
Federal (alterado pela Emenda Constitucional n. 45/2004). Competência do juízo
de direito no exercício de competência delegada.
1. Compete à Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, VII, da CF/1988, na
redação dada pela Emenda Constitucional n. 45/2004, apreciar ações decorrentes
de penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de
fi scalização das relações de trabalho.
2. Os valores devidos pelo empregador ao Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço e respectiva multa moratória (art. 22, § º da Lei n. 8.036/1990) não se
incluem no conceito de penalidade administrativa, o que ocorre com a multa que
lhe é cobrada, nos termos do art. 23, § 1º, I e V da Lei n. 8.036/1990, por não ter
cumprido a obrigação principal. (Grifei).
3. Hipótese dos autos em que se busca a cobrança dos valores devidos ao
Fundo (e respectiva multa moratória), cuja competência é da Justiça Comum
Federal, mas deve ser julgado o feito, por competência delegada, o Juízo de
Direito, considerando inexistir no domicílio do devedor sede de vara federal.
4. Confl ito de competência conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da Vara da Infância e Juventude, Fazendas Públicas e Registros Públicos de
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
292
Itumbiara-GO. (CC n. 64.385-GO, Rel. Ministra Eliana Calmon, Primeira Seção, DJ
23.10.2006).
Ante o exposto, voto no sentido de conhecer do presente Confl ito Negativo
de Competência e declarar competente o Juízo de Direito da Vara de Execuções
Criminais e Fiscais de Teófi lo Otoni-MG.