Supremo Tribunal de Justiça
5.ª Secção Criminal
Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1
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Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1
Acordam, precedendo conferência, os juízes do Supremo Tribunal de Justiça
I.
1. Nos autos de processo comum em referência, do Tribunal Judicial da Comarca de …
— Juízo Central Criminal de … — Juiz 2, em Processo Comum, com intervenção do
Tribunal Colectivo, foram os arguidos AA, BB e CC condenados, por acórdão de
30/11/2018, nos seguintes termos:
a) AA, pela prática, como co- autor material 1, de um crime de roubo, p. e p.
pelo artigo 210.°, n°s 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n.° 2,
alínea a), do Código Penal (CP), na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;
b) BB, pela prática, como co- autor material 2, de um crime de roubo, p. e p.
pelo artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2,
alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;
Pela prática, em autoria material, de um crime de tráfico de estupefacientes,
p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do Decreto-Lei n° 15/93, de 22/01, por
referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5 anos de prisão;
Pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida,
p. e p. pelos artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2,
alíneas g), 1) e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na
pena de 1 ano e 4 meses de prisão;
1 Conforme o dispositivo do Acórdão do TRL, alínea A) em que se procedeu á correcção do dispositivo
do acórdão de 1.ª Instância. 2 idem
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Após cúmulo jurídico, foi aplicada ao arguido BB a pena única de 10 anos e
6 meses de prisão;
c) CC, pela prática, como co- autor material3, de um crime de roubo, p. e p. pelo
artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2, alínea
a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão;
Pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida,
p. e p. pelos artigos 2.°, n.° 3, alínea p) e 86.°, n.° 1, alínea d), da Lei n°
5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de prisão;
Após cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 8 anos e 8 meses de
prisão;
d) Foram ainda os arguidos condenados a pagar, solidariamente, à demandante
"ESEGUR", a quantia de 64.000,00 euros, a título de indemnização, acrescida
de juros legais, à taxa de 4% ao ano, contados desde a data da prática dos
factos até integral pagamento.
2. Vieram os 3 arguidos interpor recurso para o Tribunal da Relação de Lisboa (TRL),
tendo sido proferido acórdão em 9 de Abril de 2019, o qual negou provimento aos
recursos interpostos e manteve a decisão recorrida.
3. Inconformado veio o arguido CC interpôr recurso deste Acórdão do TRL para este
Supremo Tribunal de Justiça (STJ), apresentando as seguintes conclusões que se
transcrevem:
(…)
1. Apesar da vigilância do OPC ter sido curta e fugaz na visualização dos suspeitos,
não realizaram a prova por reconhecimento.
2. Os inspectores da PJ identificaram os autos do crime primeiramente pela exibição
fotográfica dos clichés policiais.
3 idem
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3. O artigo 147º do CPP, diz que a prova por reconhecimento fotográfica só vale como
meio de prova de houver lugar de seguida à prova por reconhecimento pessoal, o que
não sucedeu.
4. O reconhecimento fotográfico efectuado aos arguidos não tem assim valor
probatório.
5. As vigilâncias efectuadas pelo OPC foram efectuadas sem recurso a quaisquer
mecanismos ópticos para além do olho humano.
6. A defesa crê que houve erro sobre a identidade dos assaltantes, o que vem explicar a
ausência de actuação por parte da PJ, tanto no local dos factos como posteriormente.
7. Da busca domiciliária realizada à habitação do recorrente não resultou nenhuma
apreensão de arma de fogo.
8. Naquela residência nem noutro qualquer lugar.
9. A condenação do recorrente dever ser consonante com a mera posse de tais
munições, uma vez que não é possível determinar a detenção de tais munições com o
propósito de se defender, dada a inexistência de mecanismo capaz de as deflagrar,
mitigando assim o perigo que as mesmas, por si só, acarretam.
10. Pelo exposto deve o recorrente ser condenado numa pena de multa pelo crime de
detenção de arma proibida.
11. Os inspectores da PJ foram incapazes de fazer uma descrição do rosto das pessoas,
tendo apenas apreendido, a estatura física e o tamanho do cabelo, para além da raça.
12. Em momento algum foram as testemunhas capazes de descrever o rosto, a sua
forma, os olhos, a sua forma e cor, o nariz, o seu tamanho, a boca, o seu tamanho, as
orelhas.
13. Isto é, todos os traços característicos de um indivíduo e que os distiguem dos
demais em termos de estatura, raça e cabelo.
14. Indivíduos, como os descritos pelos Srs. Inspectores da PJ existem aos milhares.
15. Daqui se depreende a necessidade de se fazer descrições detalhadas de indivíduos
que se devam reconhecer para que não ocorram erros na sua identificação.
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16. E por isso mesmo, a exigência legal constante do artigo 147º do CPP, cujas
formalidades servem para a afastar o convencimento subjectivo do indivíduo
reconhecedor.
17. Todo o procedimento efectuado pela PJ na procura da identificação dos autores do
ilícito foi em total arrepio do disposto no artigo 147º do CPP, uma vez, que resultava
da mais elementar prudência investigatória, alhear as pessoas que devessem
reconhecer de qualquer outra informação que pudesse influenciar a sua capacidade de
reconhecimento, tal como a observação de clichés fotográficos dos tomadores de
seguros dos veículos automóveis, ou de co-arguidos de anteriores processos.
18. Pelo que, ao contrário do referido no acórdão recorrido, foram observadas
fotografias, que foram reconhecidas, pelo que não se poderá deixar de qualificar tal
acto investigatório como um reconhecimento fotográfico, ao arrepio, dizemos nós
novamente, da imposição legal do artigo 147º do CPP.
19. Realça-se que a identificação dos autores do ilícito dos autos não era cabal, logo,
IMPERAVA a necessidade de se efectuar a prova por reconhecimento.
20. Porque se assim não for dar-se-à toda a credibilidade a uma testemunha, apenas
porque é elemento de um OPC, o que não faz sentido, porque um polícia, não deve ter
maior credibilidade que uma vítima, e a esta impôe-se, quando a identificação não é
cabal, que se proceda aos formalismos legais do artigo 147º do CPP.
21. A prova por reconhecimento, por si só é já uns dos meios probatórios que erros
judiciários produz, independentemente do cumprimento das formalidades legais do
artigo 147º do CPP.
22. O que se dirá, então, quando o OPC acha que não tem necessidade de ele próprio
ser sujeito a tal meio probatório. Com todo o devido respeito pela autoridade policial,
não existem treinos especializados para reconhecimentos que os dotem de capacidades
acima das demais pessoas.
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23. Pelo contrário, a observação de milhares de indivíduos no decurso de uma
vigilância, pode, porque compreensível que assim aconteça, levar à confusão com
outros indivíduos.
24. Neste sentido, não podemos deixar de fazer referencia à associação
https://www.innocenceproject.org, sediada nos EUA, que se dedica em exclusivo ao
estudo de processos-crime que resultaram em condenações baseadas no
reconhecimento pessoal, e que comparados as análises recolhidas com os exames mais
modernos, como o ADN, que não existiam à altura, levaram a resultados
impressionantes da verificação da inocência dos indivíduos condenados, muitos a
penas perpétuas.
25. O que vem provar que o reconhecimento de alguém é muito subjectivo e capaz de
criar os maiores erros judiciários, apenas porque a vitima/testemunha, convence-se de
que o indivíduo é aquele que viu noutro momento anterior, transmitindo uma confiança
tal ao julgador que não tem outra alternativa que não a condenação do indivíduo
alegadamente reconhecido.
26. Tal entendimento e verificação, não são exclusivos da jurisprudência internacional,
uma vez que o Sr. Juiz Desembargador Carlos Almeida, no acórdão proferido pela 3ª
secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa no processo nº 2691/2004 de 12-05-
2004, entende que o meio probatório de reconhecimento pessoal é capaz de levar aos
maiores erros de julgamento.
27. De qualquer forma, entendemos que a medida da pena excede a medida da sua
culpa, porquanto das movimentações descritas estamos perante um mero condutor de
uma viatura.
28. Sempre se dirá e ao contrário do afirmado no acórdão recorrido, que a actuação
dos assaltantes é tudo menos profissional e organizada, uma vez que usaram os seus
próprios veículos para cometer um assalto (o que é contrário à regra da normalidade e
às regras da experiência comum) e a dada altura, exibiram-se para os inspectores da
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PJ que ali se encontravam em acção de vigilância, abrindo os vidros escurecidos das
suas viaturas e encetando perseguições ao mesmo inspectores.
29. Refere o artigo 40º do Código Penal no seu n º 1 que a aplicação de penas e de
medidas de segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na
sociedade.
30. Segundo a doutrina da prevenção especial positiva, a medida da necessidade de
socialização do agente é o critério decisivo das exigências de prevenção especial. Tudo
depende da forma como o agente se revelar, carente ou não de socialização. Se uma tal
carência se não verificar tudo se resumirá em termos de prevenção especial, em
conferir à pena uma função de suficiente advertência.
31. É uma pena justa aquela que responda adequadamente às exigências preventivas e
não exceda a medida da culpa.
32. O dever de compaixão, no fundo, é uma ideia de justiça que considera na sua
plenitude a pessoa que está a ser julgada, não apenas pelo que fez, mas também pelo
que é – Fernanda Palma.
33. O Direito Penal não é moral e a pena não é uma descida às profundezas dos
infernos – Figueiredo Dias
34. E ter sempre presente que o penalista fica na mão com uma pessoa, o criminoso e,
por seu intermédio como toda a condição humana, a pessoa em todos os seus
condicionalismos – Figueiredo dias
35. Até porque as “personalidades psicopáticas” - para além de fazerem sofrer a
sociedade, também sofrem pela sua anormalidade – Schneider
36. Daí que a pena de prisão para o comportamento global do recorrente apareça
desproporcionado.
37. A fixar-se um juízo de censura jurídico-legal haverá que ser ponderado o futuro do
agente numa perspetiva de contribuição para a sua recuperação como indivíduo dentro
dos cânones da sociedade.
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38. Quanto às exigências de prevenção especial, sempre se dirá a experiência prisional
(do sofrimento que é uma privação de liberdade) aliado ao suporte familiar, e com a
imposição de tratamento da sua problemática aditiva, permitem concluir pelo juízo de
prognose favorável na sua reinserção.
39. Perante o exposto pugnamos por uma condenação não superior a 5 anos de prisão
pela prática do crime de roubo. Dever-se-à condenar o recorrente numa pena de multa
pela prática do crime de detenção de arma proibida.
Violaram-se os artigos:
• Artigo 147º do CPP, porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal aos
arguidos, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor
probatório.
• Artigo 40º e 71º do CP, porquanto a medida da culpa excede a medida da pena.
Nestes termos deve o presente recurso obter provimento, por provado, declarando-se a
falta de valor probatório da identificação efectuada pela PJ ao recorrente, com todas
as consequências legais, nomeadamente a repetição do julgamento de 1ª instância
sem a referida prova. Se assim se não entender dever-se-á condenar o recorrente
numa pena de 5 anos de prisão pela prática do crime de roubo e numa pena de multa
pela prática do crime de detenção de arma proibida.
(…).
4. Também o arguido BB veio interpôr recurso do Acórdão do TRL para este STJ,
apresentando as seguintes conclusões que se transcrevem:
(…)
1. O recorrente confessou o crime de tráfico de estupefacientes e de detenção de arma
proibida.
2. Apesar da vigilância do OPC ter sido curta e fugaz na visualização dos suspeitos,
não realizaram a prova por reconhecimento.
3. Os inspectores da PJ identificaram os autos do crime primeiramente pela exibição
fotográfica dos clichés policiais.
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4. O artigo 147º do CPP, diz que a prova por reconhecimento fotográfica só vale como
meio de prova de houver lugar de seguida à prova por reconhecimento pessoal, o que
não sucedeu.
5. O reconhecimento fotográfico efectuado aos arguidos não tem assim valor
probatório.
6. As vigilâncias efectuadas pelo OPC forma efectuadas sem recurso a quaisquer
mecanismos ópticos para além do olho humano.
7. A defesa crê que houve erro sobre a identidade dos assaltantes, o que vem explicar a
ausência de actuação por parte da PJ, tanto no local dos factos como posteriormente.
8. Os inspectores da PJ foram incapazes de fazer uma descrição do rosto das pessoas,
tendo apenas apreendido, a estatura física e o tamanho do cabelo, para além da raça.
9. Em momento algum foram as testemunhas capazes de descrever o rosto, a sua forma,
os olhos, a sua forma e cor, o nariz, o seu tamanho, a boca, o seu tamanho, as orelhas.
10. Isto é, todos os traços característicos de um indivíduo e que os distiguem dos
demais em termos de estatura, raça e cabelo.
11. Indivíduos, como os descritos pelos Srs. Inspectores da PJ existem aos milhares.
12. Daqui se depreende a necessidade de se fazer descrições detalhadas de indivíduos
que se devam reconhecer para que não ocorram erros na sua identificação.
13. E por isso mesmo, a exigência legal constante do artigo 147º do CPP, cujas
formalidades servem para a afastar o convencimento subjectivo do indivíduo
reconhecedor.
14. Todo o procedimento efectuado pela PJ na procura da identificação dos autores do
ilícito foi em total arrepio do disposto no artigo 147º do CPP, uma vez, que resultava
da mais elementar prudência investigatória, alhear as pessoas que devessem
reconhecer de qualquer outra informação que pudesse influenciar a sua capacidade de
reconhecimento, tal como a observação de clichés fotográficos dos tomadores de
seguros dos veículos automóveis, ou de co-arguidos de anteriores processos.
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15. Pelo que, ao contrário do referido no acórdão recorrido, foram observadas
fotografias, que foram reconhecidas, pelo que não se poderá deixar de qualificar tal
acto investigatório como um reconhecimento fotográfico, ao arrepio, dizemos nós
novamente, da imposição legal do artigo 147º do CPP.
16. Realça-se que a identificação dos autores do ilícito dos autos não era cabal, logo,
IMPERAVA a necessidade de se efectuar a prova por reconhecimento.
17. Porque se assim não for dar-se-à toda a credibilidade a uma testemunha, apenas
porque é elemento de um OPC, o que não faz sentido, porque um polícia, não deve ter
maior credibilidade que uma vítima, e a esta impõe-se, quando a identificação não é
cabal, que se proceda aos formalismos legais do artigo 147º do CPP.
18. A prova por reconhecimento, por si só é já uns dos meios probatórios que erros
judiciários produz, independentemente do cumprimento das formalidades legais do
artigo 147º do CPP.
19. O que se dirá, então, quando o OPC acha que não tem necessidade de ele próprio
ser sujeito a tal meio probatório. Com todo o devido respeito pela autoridade policial,
não existem treinos especializados para reconhecimentos que os dotem de capacidades
acima das demais pessoas.
20. Pelo contrário, a observação de milhares de indivíduos no decurso de uma
vigilância, pode, porque compreensível que assim aconteça, levar à confusão com
outros indivíduos.
21. Neste sentido, não podemos deixar de fazer referência à associação
https://www.innocenceproject.org, sediada nos EUA, que se dedica em exclusivo ao
estudo de processos-crime que resultaram em condenações baseadas no
reconhecimento pessoal, e que comparados as análises recolhidas com os exames mais
modernos, como o ADN, que não existiam à altura, levaram a resultados
impressionantes da verificação da inocência dos indivíduos condenados, muitos a
penas perpétuas.
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22. O que vem provar que o reconhecimento de alguém é muito subjectivo e capaz de
criar os maiores erros judiciários, apenas porque a vitima/testemunha, convence-se de
que o indivíduo é aquele que viu noutro momento anterior, transmitindo uma confiança
tal ao julgador que não tem outra alternativa que não a condenação do indivíduo
alegadamente reconhecido.
23. Tal entendimento e verificação, não são exclusivos da jurisprudência internacional,
uma vez que o Sr. Juiz Desembargador Carlos Almeida, no acórdão proferido pela 3ª
secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa no processo nº 2691/2004 de 12-05-
2004, entende que o meio probatório de reconhecimento pessoal é capaz de levar aos
maiores erros de julgamento.
24. De qualquer forma, a medida da pena excede a medida da sua culpa, porquanto das
movimentações descritas estamos perante um mero condutor de uma viatura.
25. Sempre se dirá e ao contrário do afirmado no acórdão recorrido, que a actuação
dos assaltantes é tudo menos profissional e organizada, uma vez que usaram os seus
próprios veículos para cometer um assalto (o que é contrário à regra da normalidade e
às regras da experiência comum) e a dada altura, exibiram-se para os inspectores da
PJ que ali se encontravam em acção de vigilância, abrindo os vidros escurecidos das
suas viaturas e encetando perseguições aos mesmos inspectores.
26. Relativamente à arma apreendida sempre se dirá que da forma que estava
acondicionada e o local onde estava guardado não faz presumir que o recorrente a
usasse, antes pelo contrário, estaria guardada há já muito tempo, não se provando
assim, qualquer outra intenção para além da mera posse da arma de fogo.
27. No que concerne ao crime de tráfico de estupefacientes, a curta duração da
actividade ilícita (5 meses) e à qualidade da mesma (haxixe) que independentemente da
quantidade, é a droga que menos mal faz á saúde publica.
28. Aliás, o mundo tem vindo a assistir a cada ano que passa à liberalização do
consumo da cannabis, não só para fins medicinais como também para fins recreativos,
sendo que para além dos Estados Norte-Americanos, da California, Colorado,
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Washington, Alaska, os países do Uruguai e mais recentemente o Canadá,
liberalizaram também o consumo recreativo da cannabis.
29. Ainda que não seja possível exigir ao julgador uma decisão igual, tais evidências
no mundo carecem de uma profunda reflexão das orientações legislativas existentes,
sendo certo que está para discussão um projecto lei para a liberalização da cannabis
em Portugal.
30. Neste sentido, dever-se-à condenar o recorrente pelo limite minimo da moldura
penal.
31. Refere o artigo 40º do Código Penal no seu n º 1 que a aplicação de penas e de
medidas de segurança visa a proteção de bens jurídicos e a reintegração do agente na
sociedade.
32. Segundo a doutrina da prevenção especial positiva, a medida da necessidade de
socialização do agente é o critério decisivo das exigências de prevenção especial. Tudo
depende da forma como o agente se revelar, carente ou não de socialização. Se uma tal
carência se não verificar tudo se resumirá em termos de prevenção especial, em
conferir à pena uma função de suficiente advertência.
33. É uma pena justa aquela que responda adequadamente às exigências preventivas e
não exceda a medida da culpa.
34. O dever de compaixão, no fundo, é uma ideia de justiça que considera na sua
plenitude a pessoa que está a ser julgada, não apenas pelo que fez, mas também pelo
que é – Fernanda Palma
35. O Direito Penal não é moral e a pena não é uma descida às profundezas dos
infernos – Figueiredo Dias
36. E ter sempre presente que o penalista fica na mão com uma pessoa, o criminoso e,
por seu intermédio como toda a condição humana, a pessoa em todos os seus
condicionalismos – Figueiredo dias
37. Até porque as “personalidades psicopáticas” - para além de fazerem sofrer a
sociedade, também sofrem pela sua anormalidade – Schneider
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38. Daí que a pena de prisão para o comportamento global do recorrente apareça
desproporcionado.
39. A fixar-se um juízo de censura jurídico-legal haverá que ser ponderado o futuro do
agente numa perspetiva de contribuição para a sua recuperação como indivíduo dentro
dos cânones da sociedade.
40. Quanto às exigências de prevenção especial, sempre se dirá a experiência prisional
(do sofrimento que é uma privação de liberdade) aliado ao suporte familiar, e com a
imposição de tratamento da sua problemática aditiva, permitem concluir pelo juízo de
prognose favorável na sua reinserção.
41. Perante o risco que existe na fragilidade da prova apresentada e, reiterando apenas
por mero raciocínio académico, e como medida da mais elementar prudência não
deverá a pena, em cumulo jurídico ser superior a 6 anos no que respeita ao crime de
roubo, ao crime de detenção de arma proibida e ao crime de tráfico de estupefacientes,
sendo certo que a Defesa entende que o recorrente deverá apenas ser condenado pelos
crimes de tráfico de estupefaciente e de roubo e em cumulo na pena de 6 anos e 10
meses de prisão.
42. No que concerne ao crime de detenção de arma proibida dever-se-à condenar o
recorrente numa pena de multa.
Violaram-se os artigos:
• Artigo 147º do CPP, porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal aos
arguidos, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor
probatório.
• Artigo 40º e 71º do CP, porquanto a medida da culpa excede a medida da pena
Nestes termos deve o presente recurso obter provimento, por provado, declarando-se
sem valor probatório a identificação do recorrente pela PJ, por violação do artigo
147º do CPP, com todas as consequências legais, nomeadamente a repetição do
julgamento de 1ª instância sem a referida prova. Se assim se não entender, dever-se-à
condenar nos crimes de tráfico de droga e de Roubo, nas penas de 4 anos de prisão e
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5 anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cumulo jurídico, na pena única de 6
anos e 10 meses de prisão. Dever-se-à ainda condenar o recorrente na pena de multa
pela prática do crime de detenção de arma proibida.
(…).
5. E, o arguido AA veio interpôr recurso do Acórdão do TRL para este STJ,
apresentando as seguintes conclusões que se transcrevem:
(…)
A. Resulta expresso do acórdão proferido pelo TRL nos pontos, 6 e 7 do I-Relatório, o
seguinte: “6. Nesta Relação, a Exma. Procuradora-Geral adjunta emitiu parecer no
sentido da improcedência dos recursos interpostos. 7. Foi dado cumprimento ao
disposto no artigo 417, nº 2, do CPP, não tendo sido apresentada resposta.
B. Ora, tendo o arguido sido notificado do parecer do MP a 26 de Fevereiro do
corrente para, em 10 dias, responder, querendo, nos termos do 417º nº2., e tendo-o
feito a 11 de Março de 2019, o recorrente respondeu em prazo ao parecer do MP,
tendo-o feito via cítius, porém por lapso, para o processo principal.
C. O Tribunal de …, no dia 13 de Março do corrente, remeteu essa mesma resposta
para o TRL, pela mesma via, conforme expediente dessa mesma data, pelo que não se
entende como o TRL afirma que o ora recorrente não respondeu ao parecer do MP, no
sentido da improcedência dos recursos interpostos, razão pela qual aquele Tribunal
acaba por declarar, expressamente, que, não só não a analisou, como desconhece a sua
existência e, consequentemente, o seu conteúdo, o que com o devido respeito não pode
ocorrer.
D. Ao assumir esta posição andou mal o TRL, pois que violou vários preceitos legais,
não tendo sequer curado de analisar a resposta ao parecer do MP, que se dá aqui por
integralmente reproduzida por razões de economia processual.
E. Em suma, o TRL desconhece a existência da resposta do arguido ao parecer do MP
(417º nº 2 do CPP), não a podendo desconhecer pois que está no processo, sendo que
tal desconhecimento está expresso no próprio acórdão, como já supra referenciado, e,
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consequentemente, aquele Tribunal não analisou e, sequer, se pronunciou sobre essa
mesma resposta.
F. Ora, consequentemente ao não se ter analisado qualquer dos fundamentos
constantes da resposta ao Ministério Público apresentada pelo arguido AA, cometeu o
TRL a nulidade prevista no artigo 379º nº 1 c) do CPP, pois o TRL estava adstrito a
pronunciar-se sobre as questões constantes tanto do recurso quanto da resposta
elaborada nos termos do 417º nº 2 CPP.
G. São as conclusões da motivação do recurso que balizam o objecto do mesmo (artºs
410º e 412º CPP), porém também as respostas apresentadas que caibam no âmbito
daquelas conclusões são, também elas, objecto do recurso e da sua apreciação, fazendo
da mesma parte integrante (artº 413º, 412 nºs 3, 4 e 6 e 417 nº 2 CPP).
H. Se assim não fosse estar-se-ia a esvaziar por completo o sentido e utilidade da
resposta, atentos ainda os princípios do contraditório e do direito de defesa, pelo que
analisado o acórdão sob crise, dúvidas não restam que tais questões, enquanto baliza e
objecto de análise pelo TRL, teriam de ser abordadas e pesadas (quer na perspectiva
da motivação, quer na da resposta apresentada nos termos do 417º nº.2 do CPP), pelo
que ao não analisar os fundamentos apresentados pelo arguido na sua resposta ao
parecer do MP, o TRL cometeu a referida nulidade (379º nº 1 C) CPP), o que deve
declarar-se com as demais consequências legais.
I. Para além disso, analisada a decisão do TRL de que se recorre, o arguido AA é
forçado a concluir que mesmo as suas conclusões de recurso, não foram, com o devido
respeito, avaliadas com o cuidado que se exige., pois que no recurso por si
apresentado, nomeadamente nas suas conclusões, o recorrente alegou o seguinte:
“MMM. Compulsados os autos e analisada a Lei, forçoso é de concluir que tal forma
de reconhecimento não só é ilegal, porque violador das normas do CPP, como
inconstitucional, inconstitucionalidade que desde já se argui, tal como se pode retirar
do AC do Tribunal Constitucional nº 137/2001 de 14 de Março; DR, II Série de 26 de
Junho do mesmo ano) - in anotação ao artigo 147º do Código do Processo Penal
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Anotado, Manuel Lopes da Maia, Almedina, 17ª Edição - “é inconstitucional a
valoração em julgamento de um reconhecimento de um arguido realizado sem
observância das regras definidas no artigo 147º do CPP”.
J. Sobre tal ilegalidade e consequente inconstitucionalidade, o TRL, sequer se
pronunciou, pelo que tal omissão, uma vez mais, nos reporta para a nulidade vertida no
disposto no artigo 379º nº 1 c) do CPP, pois que estava, aquele Tribunal, adstrito a
pronunciar-se sobre todas as questões constantes no recurso e suscitadas pelo arguido.
K. Desta feita uma interpretação conjugada dos arts. 410º, 412º, 413º e 417º do CPP,
leva-nos a concluir que ao haver omissão de pronúncia sobre questões que o TRL
devesse pronunciar-se, estamos perante a nulidade prevista no artº 379º, no 1 al. c)
CPP, e qualquer interpretação das normas suprarreferidas, que não vá nesse sentido,
deve ser declarada inconstitucional, por violar os referidos princípios do contraditório
e de defesa (artº. 32º, nos 1, 5 e 7 da CRP), inconstitucionalidade que expressamente
se argui, e assim verificado o vício assacado deve o acórdão de que se recorre ser
considerado nulo por violação do 379º nº1 c) do CPP.
L. Lê-se no acórdão de que se recorre, que o ora recorrente tenta colocar em causa o
depoimento das testemunhas inspectores da PJ, o que com o devido respeito, não
corresponde à verdade pois o que o recorrente visou e sempre alertou o Tribunal foi
para o facto de o reconhecimento levado a cabo nos presentes autos ser ilegal
porquanto, aqueles inspectores estiveram, supostamente, a distâncias mínimas 30, 50 e
80 metros respectivamente dos autores do crime, fazendo uma descrição inicial do
autor do crime com recurso a características vagas comuns a grande parte da
comunidade africana que reside nas imediações do local dos factos (“individuo preto,
alto com casaco de capuz verde com pelo no rebordo”).
M. Por a descrição efectivamente ser parca, os inspectores recorreram a clichés
fotográficos e registos biográficos, e uma vez que haviam reconhecido dois arguidos
com recurso às matrículas dos veículos automóveis que utilizavam no dia dos factos,
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por aproximação, procuraram pessoas com passado comum àqueles, sendo, desta feita,
“reconhecido” o arguido AA, ora recorrente.
N. Perante este facto, o que o recorrente se bateu e bate para demonstrar é que tal
reconhecimento, única “prova” que o coloca no local dos factos, com recurso a clichés
fotográficos, é ilegal pois não cumpre os requisitos impostos pelo artigo 147º do CPP.
O. Mais, não pode o TRL confirmar a validade de tal reconhecimento, com o
argumento de que não pode ser confundido o reconhecimento de testemunhas que têm
que cumprir o disposto no 147º do CPP, com o reconhecimento feito por OPCs, pois se
a detenção dos arguidos fosse em flagrante delito, não se colocaria a ilegalidade que
ora se alega, porém tal não sucedeu e assim sendo, não resulta da Lei qualquer
excepção, especialidade e/ou especificidade no que tange ao reconhecimento feito por
OPC.
P. Não se pode, nem deve descurar, que a Lei estabelece para este meio de prova vários
requisitos que devem ser escrupulosamente observados e cumpridos em cada caso
concreto, por se tratar de um dos meios de prova mais problemáticos e com resultados
menos fiáveis, pois acarreta grandes riscos de erro consoante diversos factores: a
duração em que a pessoa que procede à identificação observou o sujeito, a luz do local,
a maior ou menor frequência de pessoas no momento, a distância entre eles, o tempo
que decorreu entre esse episódio e o acto de reconhecimento e a eventual discrepância
das características do sujeito no passado e no momento do reconhecimento.
Q. O recorrente não coloca em causa o testemunho dos inspectores, antes sim, debate-
se com a forma como os mesmos procederam ao reconhecimento, e sendo este um meio
de prova válido e permitido por Lei, não se conforma com a forma como o mesmo foi
levado a cabo nos presentes autos é que enferma de ilegalidade.
R. Nunca é demais referir que prova por reconhecimento e a prova testemunhal são
distintas, tanto na sua estrutura como na sua natureza, e neste sentido já João
Henrique Gomes de Sousa conclui que “a prova por reconhecimento não se trata de
uma prova com natureza testemunhal e acrescenta que não tem, também, natureza
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meramente indiciária pois que aceitar tal ideia esvaziaria de sentido a “Prova por
Reconhecimento”. - in Sousa, João Henrique de, ob.cit., p.155.
S. Sendo o reconhecimento um meio de prova autónomo, é na fase de inquérito ou
instrução que o mesmo deve ser efectuado sendo uma prova pré-constituída e
documentado através do denominado auto de reconhecimento, para ser,
posteriormente, examinado em audiência de julgamento de forma objectiva, não
devendo este ser complementar da prova testemunhal, essa sim, produzida em
audiência de julgamento. Ora, tal não foi o que sucedeu no processo sob crise.
T. Aliás a produção em julgamento de um reconhecimento que já foi realizado numa
fase anterior, não só não deverá ser necessária, como se revela mesmo inútil e, acima
de tudo, contra legem, pelo que, mais uma vez, andou mal o TRL ao considerar,
igualmente, válido o reconhecimento feito pelos inspectores em audiência de
julgamento.
U. Medina de Seiça frisa que o objectivo de serem estabelecidas regras à produção da
prova por reconhecimento é “garantir a neutralidade psíquica da pessoa que deva
proceder à identificação, evitando resultados influenciados, pré-constituídos, e
inviabilizando situações formais que façam convergir invariavelmente a escolha sobre
o suspeito indicado”. - in Seiça, Alberto Medina de, ob.cit., p.1413. Pelo que, no caso
concreto ao socorrerem-se de clichés fotográficos e ficheiros biográficos, os PJ, que
procederam ao reconhecimento, tenderam a identificar de entre o leque disponível de
suspeitos, a pessoa que consideraram mais parecida com aquela de que se recordavam,
tendo, inclusivamente, sido influenciados pelo passado comum com os restantes co-
arguidos.
V. Quanto a este tema, a lei processual penal é clara no sentido de impor os requisitos
para a admissão da prova por reconhecimento, que é um meio típico de prova, pelo que
caso estes não possam ser cumpridos por algum motivo, não pode esta ser realizada
contra a lei, devendo o Juiz avaliar a credibilidade do reconhecimento e o cumprimento
desses mesmos requisitos, o que não foi feito na primeira instância e sequer pelo TRL.
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W. A não observância dos formalismos impostos no que tange ao reconhecimento
representará um desvio ao legalmente imposto pelo art. 147º do CPP e não pode ser
integrado nos meios de prova atípicos admitidos ao abrigo do art. 127º do CPP- neste
sentido – Ac. Tribunal Constitucional nº137/2001 que julgou “inconstitucional, por
violação das garantias de defesa do arguido, consagradas no nº1 do art.32º CRP, a
norma constante do art. 127º CPP, quando interpretada no sentido de admitir que o
princípio da livre apreciação da prova permite a valoração, em julgamento, de um
reconhecimento do arguido realizado sem a observância de nenhuma das regras
definidas pelo art. 147º do CPP.” 76 Em 1.1.4. 37 princípio da livre apreciação para
que a prova assim produzida seja admitida é, a nosso ver, apenas uma forma de violar
a norma legal 147º CPP”.
X. Invocar o princípio da livre apreciação para admitir o reconhecimento do ora
recorrente como autor dos factos consiste, no nosso entender, numa efectiva confusão
entre os momentos da aquisição da prova e da apreciação da mesma, pelo que a
validação daquele meio de prova, nos termos em que foi feito, é prova proibida e,
consequentemente, ferida de nulidade insanável - neste sentido Germano Marques Silva
considera que “apesar de regimes diferentes, a utilização de uma prova proibida terá
os efeitos práticos de uma nulidade insanável, conhecida oficiosamente até ao trânsito
em julgado da decisão.”- in Silva, Germano Marques da, ob.cit., p. 105.
Y. Mais, apresentar como argumento à não observância destas formalidades o
princípio da livre apreciação para que a prova assim produzida seja admitida é, a
nosso ver, e salvo melhor opinião, apenas uma forma de violar a norma legal 147º
CPP, o que nos leva a concluir que ao considerar-se o reconhecimento feito ao ora
recorrente, nos moldes como o foi nos presentes autos, e com base nele proceder-se à
sua condenação, o Tribunal fê-lo tendo por base prova proibida, e, de igual modo, agiu
o TRL que tendo conhecimento dessa mesma prova proibida, com a mesma se
conformou, valorando-a e mantendo a decisão
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Z. Ora, a utilização de uma prova proibida acabará por ter os efeitos da nulidade
previstos no art. 122º do CPP, sendo que pelo facto de a prova ser nula, logo, inválida,
o primeiro efeito a retirar será a sua não utilização no processo, pelo que a proibição
de prova tem um efeito-à-distância que contamina e torna inaproveitáveis os actos dela
decorrentes, nomeadamente, a decisão judicial, logo a própria decisão de que se
recorre deverá também ela ser considerada nula.
AA. Como já referenciado, o Tribunal Constitucional, no Ac. nº137/2001, pronunciou-
se no sentido da inconstitucionalidade, da interpretação da norma constante no artigo
127º do CPP no sentido de que o princípio da livre apreciação permitiria a valoração
do reconhecimento realizado sem o cumprimento dos requisitos do artigo 147º CPP,
concluindo, aquele Tribunal que “o art. 147º/7 estabelece uma proibição de prova, ao
determinar que “o reconhecimento que não obedecer ao disposto neste art. Não tem
valor como meio de prova” (…) julgar inconstitucional, por violação das garantias de
defesa do arguido consagradas no nº1 do art. 32º CRP, a norma constante do art. 127º
CPP, quando interpretada no sentido de admitir que o princípio da livre apreciação da
prova permite a valoração, em julgamento, de um reconhecimento do arguido realizado
sem a observância de nenhuma das regras definidas pelo art. 147º CPP”.
BB. Também neste sentido veja-se o Ac. do Tribunal da Relação do Porto de 21 de
Março de 2012 onde consta que: “constituiria uma fraude à lei o aproveitamento de um
reconhecimento ilegal com base no princípio da livre apreciação da prova”.
CC. Assim, tem entendido a jurisprudência que, aqui, estamos perante uma proibição
de prova resultante da intromissão na vida privada, à luz dos arts. 32º nº8 da CRP e
126º nº3 do CPP.
DD. Pelo que tratando-se de uma nulidade sanável pelo consentimento do titular do
direito para obtenção da prova, conforme resulta da letra da Lei (art. 126º nº 3 do
CPP), considera-se que, quando não haja esse consentimento, pode esta nulidade ser
conhecida ou arguida em qualquer fase do processo.
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EE. Também os reconhecimentos realizados com violação pelos requisitos substanciais
deverão ter a mesma consequência, por estar afectada a credibilidade da prova por
reconhecimento, e, no caso em apreço, a utilização de clichés fotográficos do
recorrente, bem como ficheiro biográfico exerceu influência sobre quem os estava a
analisar, sugerindo a identificação de uma pessoa que afinal tinha um passado comum
com os demais co-arguidos, circunstâncias que tornam esse reconhecimento ilegal, nos
termos do art. 147º nº 7 do CPP e, consequentemente, uma proibição da prova.
FF. Sem conceder, sendo o reconhecimento nulo, mas, se as restantes testemunhas que
prestaram o seu depoimento em sede de audiência corroborassem o que os inspectores
testemunharam, o que não aconteceu, ainda poderíamos aceitar esse reconhecimento e
conformarmo-nos com ele, mas o inverso não se nunca poderemos aceitar por violação
da Lei e de princípios basilares de direito, como seja o princípio da presunção da
inocência.
GG. No caso em apreço, o reconhecimento efectuado nos moldes já explanados, e a
consequente valoração do mesmo, faz com que a decisão do Tribunal, com base nesse
meio de prova, esteja viciada por violação da Lei, neste sentido Silva, Germano
Marques da, ob.cit., p.106 - “Caso a proibição de prova seja conhecida antes da sua
admissão no processo, não poderá ser admitida; caso seja conhecida já depois da sua
admissão, não poderá ser valorada; e caso seja descoberta apenas já depois de
valorada, ficará a decisão viciada por violação da lei.”
HH. É facto que “o tribunal é livre de formar a sua convicção desde que essa
apreciação não contrarie as regras comuns da lógica, da razão, das máximas da
experiência e dos conhecimentos científicos”, mas, ainda que o Tribunal detenha essa
liberdade na formação da sua convicção, a mesma sempre será limitada, “obedecendo
a critérios de experiência comum e da lógica do homem médio suposto pela ordem
jurídica.
II. Ou seja, toda e qualquer decisão deverá ser imparcial, regida pela Lei e assente na
prova efectivamente produzida, não se podendo confundir, de modo algum, com a
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apreciação arbitrária da prova, nem tampouco com a mera impressão gerada no
espírito do julgador.
JJ. Analisado o acórdão do TRL, constata-se que, mais uma vez, o Tribunal não
fundamentou de forma coerente e cabal a razão de se apoiar num certo conjunto de
provas em preterição de outras, de modo a fundamentar uma decisão condenatória,
referindo-nos, obviamente, aos depoimentos das testemunhas DD e EE, que
descreveram o assaltante que empunhava a arma de forma distinta da feita pelos
inspectores.
KK. O TRL fundamenta a decisão do seguinte modo:” Analisados os aludidos
depoimentos, deles não resulta a exclusão do recorrente AA como sendo o individuo
que DD refere como - sendo sensivelmente da minha altura- e EE aponta como -
ligeiramente mais alto do que o outro”. Ora, considerando que estas testemunhas
descrevem um sujeito de estatura média e considerando que o recorrente tem cerca de
1,91m, ao decidir desta forma o TRL acaba por subverter os princípios
constitucionalmente consagrados como sendo o do In dubio pro reo e o da presunção
da inocência.
LL. Pelo que a seguir a linha de raciocínio daquele Tribunal, não tendo resultado do
depoimento daquelas testemunhas a exclusão do recorrente no local dos factos, também
das mesmas declarações não pode, a nosso ver, resultar a sua inclusão. Mas o TRL vai
mais longe e sem fundamentar conclui que “(…) a altura de alguém é medida
adoptando-se uma postura de tronco e cabeça erectos, sendo certo que esta não é a
postura natural de quem está em movimento acelerado (…) e muito menos com uma
arma de fogo curta empunhada, pois a tendência natural é curvar o tronco para a
frente e inclinar ligeiramente a cabeça para baixo (…)”.
MM. Este argumento, que se desconhece de onde foi retirado, pois ninguém em sede de
audiência de julgamento o referiu e/ou o discutiu, não merece sequer, com o devido
respeito, aqui credibilidade pois, contrariamente ao defendido, seria hipoteticamente
mais aceitável se o autor do crime estivesse a empunhar uma arma de grandes
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dimensões, o que não foi o caso. Mais uma vez, o TRL socorreu-se sempre da livre
apreciação da prova, das regras da experiência comum e da livre convicção do juiz,
sem mais, quando para tal também existem limites legais.
NN. Neste sentido Ac. do Tribunal da Relação de Coimbra, proc. nº 174/08.2GASPS.C1
– “A livre apreciação da prova não está sujeita a regras legais que pré-determinem o
valor das provas. II - Daí a relevância da fundamentação (neste caso de facto) que
obrigatoriamente deve constar da sentença e que em sede recursória permite ao
tribunal superior conhecer o modo e o processo de formulação do juízo lógico contido
em tais decisões (os fundamentos), elemento essencial para a avaliação que lhe cumpre
efetuar. III - A valoração da prova pela 1.ª instância é resultado da apontada livre
apreciação e só deverá ser objecto de censura pelo tribunal de recurso quando ficar
demonstrado que a opção tomada viola as regras da experiência comum consideradas
válidas e legítimas dentro de um determinado contexto histórico e jurídico e, portanto,
dotadas de razoabilidade”.
OO. Veja-se, ainda, o Ac. do Supremo Tribunal de Justiça proc. nº 07P21, Nº
convencional: JSTJ000, Relator: SANTOS CABRAL: “IV - Porém, como refere
Figueiredo Dias, o princípio da livre apreciação não pode de modo algum querer
apontar para uma apreciação imotivável e incontrolável – e, portanto, arbitrária – da
prova produzida. Se a apreciação da prova é, na verdade, discricionária, tem,
evidentemente, esta discricionariedade os seus limites, que não podem ser licitamente
ultrapassados.
VI - Ainda de acordo com o mesmo Professor, a “livre” ou “íntima” convicção do juiz
não pode ser uma convicção puramente subjectiva, emocional e, portanto, imotivável.
PP. O Tribunal ao analisar a prova produzida deu credibilidade a prova proibida e
ilegal, ferida de nulidade, e com base nela condenou o recorrente, socorrendo-se dos
princípios da livre apreciação da prova, da convicção do juiz e das regras da
experiência comum, não justificando ou, sequer, fundamentando qual a linha de
raciocínio que o levou a tal valoração.
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Termos em que, procedendo os vícios assacados, seja:
· O Acórdão recorrido ser considerado nulo, com as demais consequências daí
advenientes.
(…).
6. Os recursos foram devidamente admitidos, fixado o efeito legal e remetidos a este
Supremo Tribunal de Justiça.
7. O Ministério Público junto do TRL, na sua resposta aos recursos agora interpostos,
entende que os mesmos são improcedentes, não padecendo o acórdão recorrido de
qualquer nulidade de conhecimento oficioso, nem se apoiando em matéria de facto
claramente insuficiente ou fundada em erro ou em premissas contraditórias, pelo que
deve ser mantido.
8. Subiram os autos a este STJ, onde no Parecer a que corresponde o artigo 416.º, do
Código de Processo Penal (CPP), o Sr. Procurador-Geral Adjunto defendeu que os
recursos devem ser rejeitados na parcela referente às condenações a seguir
discriminadas, na medida em que nenhuma das penas parcelares correspondentes
excede os cinco anos de prisão, nenhuma foi decretada inovatoriamente pela Relação, e
nenhuma excede os 8 anos de prisão verificando-se, quanto a ambas, dupla conforme
condenatória, o que faz nos seguintes termos:
i. quanto ao recorrente BB, pela prática, em autoria material, de um crime de
tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do Decreto-Lei n° 15/93, de
22/01, por referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5 anos de prisão; e pela
prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos
artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2, alíneas g), 1) e q) e 4 e
86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de 1 ano e 4 meses de
prisão; e,
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ii. Quanto ao recorrente CC, pela prática, em autoria material, de um crime
de detenção de arma proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.° 3, alínea p) e 86.°, n.° 1,
alínea d), da Lei n° 5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de prisão;
Termina o seu Parecer no sentido de que os recursos devem ser rejeitados por
inadmissíveis, nos segmentos supra explanados, e no demais, julgados improcedentes.
9. Cumprido o n.º 2, do artigo 417.º, do CPP, veio o arguido AA responder ao Parecer
do Ministério Público, mantendo a posição que assumiu na sua peça recursiva.
10. Colhidos os vistos, foram os autos remetidos para conferência.
II.
11. Seguindo um critério de lógica e cronologia preclusivas (artigos 608.º, n.º 3 e 663.º
n.º 2, do Código de Processo Civil, ex vi artigo 4.º, do CPP), importa, antes do mais,
fazer presente a questão prévia suscitada pelo Ministério Público.
11.1. Vejamos.
Como resulta do acórdão em apreço, nele foram confirmadas todas as penas parcelares e
únicas, decretadas pelo Juízo Central Criminal de …-Tribunal Judicial da Comarca de
…, pelo que se está perante dupla conforme.
Daqui decorre, desde logo, que as penas únicas em que se mostram condenados os
arguidos CC (8 anos e 8 meses de prisão) e BB (10 anos e 6 meses de prisão), que se
mostram impugnadas, são recorríveis para este Supremo Tribunal de Justiça - cf. artigos
400.º, n. º 1, alínea f) e 432.º, n. º 1, alínea b), do CPP.
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Aliás, como se decidiu inter alia no acórdão do STJ, prolatado em 08.01.2014, no
processo n º 124 / 10. 6JBLSB.E1. S1, da 5ª Secção:
" I- Por aplicação do artº 400º, n º 1, alínea f), do CPP, nos casos de julgamento por
vários crimes em concurso em que, em 1ª instância, por algum ou alguns ou só em
cúmulo jurídico haja sido imposta pena superior a 8 anos de prisão e por outros a
pena aplicada não seja superior a essa medida, sendo a condenação confirmada pela
Relação, o recurso da decisão desta para o STJ só é admissível no que se refere aos
crimes pelos quais foi aplicada pena superior a 8 anos de prisão e à operação de
determinação da pena única.
II-Este entendimento já foi sancionado pelo TC que, em plenário, através do Ac. 186 /
2013, decidiu «não julgar inconstitucional a norma constante da alínea f) do n º 1, do
art. 400º do CP, na interpretação de que havendo uma pena única superior a 8 anos,
não pode ser objecto de recurso para o STJ a matéria decisória referente aos crimes e
penas parcelares inferiores a 8 anos de prisão".
E, mais recentemente, no acórdão prolatado em 5 de Fevereiro de 2020, no processo n.º
143/17.1JAFUN.L1. S1, da 5. ª secção:
(…) E assim, em vista do disposto nos artigos 399.º, 400.º n.º 1 alínea e) e 432.º alínea
b), do Código de Processo Penal (CPP), desde logo na medida em que nenhuma das
referidas penas (2 anos e 2 anos de prisão) excede os cinco anos de prisão (e nenhuma
foi inovatoriamente aplicada pelo tribunal de recurso).
Destarte, a pena parcelar de 4 anos de prisão, impugnada pelo recorrente CC, atinente
ao crime de detenção de arma proibida, não é recorrível para o STJ. Por sua vez, as
penas parcelares aplicadas ao recorrente BB, pela comissão dos crimes de tráfico de
estupefacientes (5 anos de prisão) e de detenção de arma proibida (1 ano e 4 meses de
prisão) encontram-se mutatis mutandis na mesma situação.
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Neste sentido, o acórdão, do Supremo Tribunal de Justiça, de 14 de Março de 2018
(processo n.º 22/08.3JALRA.E1. S1):
“Nesta conformidade, como tem sido enfatizado na jurisprudência deste Supremo
Tribunal de Justiça, estando este, por razões de competência, impedido de conhecer do
recurso interposto de uma decisão, estará também impedido de conhecer de todas as
questões processuais ou de substância que digam respeito a essa decisão, tais como os
vícios da decisão indicados no artigo 410.º do CPP, respectivas nulidades (artigo 379.º
e 425.º, n.º 4) e aspectos relacionadas com o julgamento dos crimes que constituem o
seu objecto, aqui se incluindo as questões relacionadas com a apreciação da prova –
nomeadamente, de respeito pela regra da livre apreciação (artigo 127.º do CPP) e do
princípio in dubio pro reo ou de questões de proibições ou invalidade de prova –, com a
qualificação jurídica dos factos e com a determinação da pena correspondente ao tipo
de ilícito realizado pela prática desses factos ou de penas parcelares em caso de
concurso de medida não superior a 5 ou 8 anos de prisão, consoante os casos das
alíneas e) e f) do artigo 400.º do CPP, incluindo nesta determinação a aplicação do
regime de atenuação especial da pena previsto no artigo 72.º do Código Penal, bem
como questões de inconstitucionalidade suscitadas neste âmbito (cfr., por exemplo, os
acórdãos de 11.4.2012, no Proc. 3989/07.5TDLSB.L1.S1, de 25.6.2015, no Proc.
814/12.9JACBR.S1, de 3.6.2015, no Proc. 293/09.8PALGS.E3.S1, e de 6.10.2016, no
Proc. 535/13.5JACBR.C1.S1, bem como, quanto à atenuação especial da pena, os
acórdãos de 5.12.2012, no Proc. 1213/09.SPBOER.S1, e de 23.6.2016, no Proc.
162/11.1JAGRD.C1.S1). «Estando o STJ impedido de sindicar o acórdão recorrido no
que tange à condenação pelos crimes em concurso, obviamente que está impedido,
também, de exercer qualquer censura sobre a actividade decisória prévia que subjaz e
conduziu à condenação», lê-se no acórdão deste STJ de 2014.03.12, no
Proc.1699/12.0PSLSB.L1. S1.”.
Pelo que se rejeitam os mesmos, nos segmentos supra explanados, por inadmissíveis.
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11.2. Assim, apenas, é da competência deste STJ, o reexame das penas únicas e das
penas parcelares decretadas pela comissão do crime de roubo agravado, aplicadas aos
co-arguidos CC e BB.
Como adiante se explanará no ponto referente à apreciação da medida das penas,
regista-se, desde já, que vindo tais penas de ser examinadas pelo TRL, que de resto,
como se vem supra de consignar as confirmou (dupla conforme perfeita) a tarefa deste
Tribunal, deverá incidir sobre a aferição da correcção das operações de determinação da
pena única e da referida pena aplicada pelo crime de roubo, que foram confirmadas pelo
TRL e fixadas em medida superior a 8 anos de prisão.
12. O objeto dos recursos dos arguidos, tal como decorre das respectivas conclusões,
cinge-se às seguintes questões:
• O arguido CC vem, em síntese, colocar as seguintes questões:
1. Invalidade do reconhecimento dos arguidos, porquanto não se
procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que
o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor probatório,
violando o disposto no artigo 147.º do CPP (serão deste Diploma as
normas sem menção de origem);
2. A medida das penas aplicadas (apenas da pena nos termos decididos
em 11.1 4) é excessiva, por ultrapassar a medida da culpa, violando o
disposto nos artigos 40.º e 71.º do CP, devendo o recorrente ser
condenado numa pena de 5 anos de prisão pela prática do crime de
roubo.
• O arguido BB vem, em síntese, colocar as seguintes questões:
4 Refere ainda o recorrente que deve ser condenado em pena de multa pelo crime de detenção de arma
proibida, mas como disse em 11.1 deste acórdão a mesma não é passível de conhecimento por este STJ.
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1. Invalidade do reconhecimento dos arguidos, porquanto não se
procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que
o reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor probatório,
violando o disposto no artigo 147.º;
2. A medida das penas aplicadas (apenas da pena nos termos decididos
em 11.1 5) é excessiva, por ultrapassarem a medida da culpa,
violando os artigos 40.º e 71.º do CP, devendo no seu entender ser
condenado pela prática do crime de roubo na pena de 5 anos e 6
meses de prisão.
• O arguido AA vem, em síntese, colocar as seguintes questões:
1. O acórdão do TRL não analisou os fundamentos constantes da
resposta ao Ministério Público que apresentou em sede de recurso
para aquele Tribunal, nos termos do disposto no n.º 2, do artigo
417.º, pelo que o mesmo está ferido de nulidade prevista no artigo
379.º, nº 1, c), pois o TRL estava adstrito a pronunciar-se sobre as
questões constantes tanto do recurso, quanto da resposta elaborada
nos termos do 417.º, nº 2;
2. Da interpretação conjugada dos arts. 410.º, 412.º, 413.º e 417.º,
existe omissão de pronúncia sobre questões que o TRL devia
pronunciar-se, nomeadamente das conclusões do recurso por si
interposto, nas quais arguiu:
i. a nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1. al. c), por violar
os princípios do contraditório e de defesa (artigo 32º, n.ºs 1, 5
5Refere ainda o recorrente que deve ser condenado pelos crimes de tráfico de droga e de roubo, nas penas
de 4 anos de prisão e 5 anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cúmulo jurídico, na pena única de
6 anos e 10 meses de prisão. Dever-se-à ainda condenar o recorrente na pena de multa pela prática do
crime de detenção de arma proibida. Como disse em 11.1 deste acórdão as penas referentes aos crimes de
tráfico de droga e de detenção de arma proibida não são passíveis de conhecimento por este STJ.
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e 7 da CRP) no tocante à ilegalidade do reconhecimento dos
arguidos, porquanto não se procedeu a um reconhecimento
pessoal de cada um deles, porquanto não se procedeu a um
reconhecimento pessoal de cada um deles, sendo que o
reconhecimento fotográfico efectuado carece de valor
probatório, violando o disposto no artigo 147.º;
ii. como à sua inconstitucionalidade a qual também argui;
3. O reconhecimento dos arguidos, tal qual foi efectuada nos autos é
prova proibida e, consequentemente, ferida de nulidade insanável
porquanto não se procedeu a um reconhecimento pessoal de cada um
deles, sendo que o reconhecimento fotográfico efectuado carece de
valor probatório, violando o disposto no artigo 147.º;
4. A utilização de uma prova proibida tem os efeitos da nulidade
previstos no artigo 122º, sendo que pelo facto de a prova ser nula,
logo, inválida, o primeiro efeito a retirar será a sua não utilização no
processo, pelo que a proibição de prova tem um efeito-à-distância
que contamina e torna inaproveitáveis os actos dela decorrentes,
nomeadamente, a decisão judicial, logo a própria decisão de que se
recorre deverá também ela ser considerada nula;
5. O Tribunal ao analisar a prova produzida deu credibilidade a prova
proibida e ilegal, ferida de nulidade, e com base nela condenou o
recorrente, socorrendo-se dos princípios da livre apreciação da
prova, da convicção do juiz e das regras da experiência comum, não
justificando ou, sequer, fundamentando qual a linha de raciocínio
que o levou a tal valoração, razão que conduz à nulidade do
acórdão recorrido.
13. Recorde-se o acórdão recorrido (transcrição):
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(…)
1) Em data não concretamente apurada, mas anterior a 25 de Novembro de 2016, os
arguidos AA, CC e BB e um outro elemento, que não se logrou identificar,
definiram, de comum acordo e em conjugação de esforços, um plano com vista a
conseguirem subtrair as quantias monetárias existentes nos dois cofres, que eram
transportados no interior da "Viatura de Transporte de Valores da empresa
ESEGUR,S.A.", que, no dia 25.11.2016, efectuava o carregamento da máquina
ATM, sita no interior do Centro Comercial das ..., localizado na Avenida …, no
…, …, com o intuito de as fazerem suas.
2) Assim, de acordo com o plano gizado, no dia 25 de Novembro de 2016, os
arguidos AA, BB e o outro indivíduo, que não se logrou identificar, deslocaram-se
para as imediações daquele Centro Comercial na viatura de marca BMW, modelo
320, de cor cinzenta prateada, com a matrícula 00-PE-00.
3) De igual modo, o arguido CC deslocou-se, para o mesmo local, na viatura de
marca BMW, modelo Série 1, de cor preta, com a matrícula 00-QG-00.
4) As duas viaturas chegaram pouco depois das 08h30 ao local mencionado, tendo
ficado estacionadas na Avenida ….
5) Assim que estacionou, o arguido CC saiu da sua viatura e entrou no outro veículo,
o de matrícula 00-PE-00, onde os restantes elementos se encontravam.
6) Instantes depois, o arguido BB saiu desse mesmo veículo, de matrícula 00-PE-00, e
percorreu, apeado, a Avenida … em direcção à Avenida …, subindo tal artéria,
fazendo percurso que se não apurou contornando os prédios aí existentes e
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regressando, ao mesmo veículo, mas não pelo mesmo caminho, sentando-se no
lugar do condutor.
7) Assim que o arguido BB entrou no veículo, os arguidos AA e CC e o outro
indivíduo saíram, do seu interior, e entraram no interior do veículo com matrícula
00-QG-00, onde o arguido CC assumiu a sua condução.
8) Imediatamente, as duas viaturas colocaram-se em marcha, seguindo em primeiro
lugar a de matrícula 00-QG-00, ambas em direcção à Avenida ….
9) Cerca de 10 minutos depois, o veículo com a matrícula 00-QG- 00 regressou à
Avenida ….
10) O arguido CC estacionou-o numa rua sem saída, por onde é possível aceder a
diversas garagens, com visibilidade directa para a entrada do Centro Comercial,
cerca das 08h50m.
11) De tal veículo, saíram o arguido AA e o outro individuo, que permaneceram
apeados nas imediações de tal rua, enquanto o arguido CC retomou a marcha do
veículo, para local desconhecido.
12) Passados alguns minutos, a Viatura de Transporte de Valores (VTV) da
ESEGUR, n.° 0000, de matrícula 00-Q0-00, tripulada por FF (condutor) e DD
(Porta-Valore.) estacionou em frente à entrada do Centro Comercial.
13) De imediato, DD iniciou as operações preliminares de carregamento da caixa
ATM, sita no interior do Centro Comercial das ..., localizado na Avenida …, no …,
….
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14) Nesse momento, o arguido AA, apeado, dirige-se para a Rua …, enquanto o outro
indivíduo, cuja identidade não se apurou, ficou a aguardar, escondido, junto às
garagens.
15) Entretanto DD, o Porta-Valores, quando se encontrava a iniciar a abertura da
ATM, teve de regressar à VTV para substituir a pilha de abertura.
16) Já com a nova pilha, deslocou-se novamente para junto da ATM, procedendo à sua
troca, e introduziu o respectivo "Digicode", permitindo a abertura da porta do
cofre.
17) Com a porta do cofre da ATM aberta, DD retirou os dois cacifos de notas, que
apenas continham os remanescentes notas sobradas ou rejeitadas nas transacções
- e regressou à VTV para proceder ao carregamento dos ditos cacifos, o que fez,
com notas com o valor facial de e10 (dez euros) e €20 (vinte euros), no valor
global de 666.000,00 (sessenta e seis mil euros), dirigindo-se depois à caixa ATM
com o intuito de os colocar no devido local, sem, contudo, efectuar, a denominada
"saída em falso", como era o procedimento estabelecido pela empresa de
segurança ESEGUR.
18) Já junto à ATM, quando se preparava para colocar os dois cacifos, sem que nada o
fizesse prever, acabou por voltar para trás, novamente em direcção à VTV, com os
cacifos carregados com as ditas notas.
19) Antes de chegar à saída do Centro Comercial, DD é abordado pelo tal indivíduo,
cuja identidade não se logrou apurar, que veio a correr das imediações das ditas
garagens, exigindo que lhe entregasse os cacifos.
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20) Surge, imediatamente, o arguido AA, empunhando um objecto com a configuração
de arma de fogo na direcção de DD, com o intuito de o constranger a entregar-lhes
os dois cacifos.
21) DD negou-lhes tal entrega, oferecendo-lhes resistência, pelo que o arguido AA e
o outro individuo agrediram-no em diversas partes do corpo.
22) No decurso das agressões, DD deixou cair um dos cacifos no chão, espalhando-se
diversas notas com o valor facial de €70,00 (dez euros), que o individuo, cuja
identidade não se logrou apurar, tentou apanhar.
23) O arguido AA e o outro indivíduo, cuja identidade se desconhece, acabaram por se
apoderar dos dois cacifos, sendo que, quando se encontravam a transpor a porta
do Centro Comercial, DD sai no seu encalço, com o intuito de os recuperar, o que
não conseguiu, em virtude de ter sido atingido na cabeça, por aqueles, com um
objecto, ao que tudo indica a coronha da arma de fogo ou um dos cacifos, que
provocou a sua queda no chão.
24) Nesse momento, o arguido AA e o outro indivíduo abandonaram o Centro
Comercial, a correr, na posse dos dois cacifos.
25) O arguido AA e esse outro indivíduo fugiram apeados pela Rua …, levando
consigo os dois cacifos, em direcção a um descampado, que dá acesso à praceta da
Rua …, onde se encontrava a viatura de matrícula 00- PE-00, conduzida pelo
arguido BB.
26) Entraram no interior de tal veículo e abandonaram o local, levando consigo a
quantia global de e 64.000,00 (sessenta e quatro mil euros), que fizeram sua.
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27) Em virtude das agressões perpetradas pelos arguidos, sofreu o ofendido DD ferida
inciso-contusa na região frontal esquerda e dor nos dedos da mão direita que
implicaram a sua imobilização com tal, e que determinaram um período de 10 dias
de doença, e ainda uma cicatriz com um centímetro de diâmetro e que não o
deformará de maneira grave.
28) No decurso do cumprimento das buscas domiciliárias, no dia 24.10.2017,
cerca das 07h12, aquando da entrada dos agentes policiais na residência do
arguido BB, sita na Rua …, n.° 00, 0.° ..., em …, este atirou pela janela do seu
quarto, para as traseiras do imóvel, um saco de cores laranja, amarelo e
preto, o qual continha um objecto em forma de paralelepípedo, envolvido em
fita-adesiva de cor verde escura, com as dimensões aproximadas de 22 x 12 x
9 cm, contendo no seu interior trinta placas de canábis (resina), envoltas em
papel celofane, com o peso líquido de 2.898,40 gramas (dois quilogramas,
oitocentos e noventa e oito gramas e quarenta centigramas).
29) No interior da residência do arguido BB foi encontrado, para além do mais:
- Duas embalagens plásticas, contendo cocaína, uma com o peso líquido de
9,29 gramas e outra com o peso líquido 7,507 gramas;
- e 2.855,00 (dois mil oitocentos e cinquenta e cinco euros) em numerário;
- Dezanove luvas de latex, de cor azul;
- Duas embalagens de sacos de plástico de tamanho 60x80, contendo
cada embalagem 50 sacos;
− Doze sacos avulsos de tamanho 60x80;
− Uma pistola semiautomática, de marca ME, modelo 8 Detective, originalmente
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de calibre nominal 8 mm e destinada a deflagrar munições de alarme e/ou gás
lacrimogéneo, posteriormente transformada de modo a disparar munições com
projéctil, de calibre 6,35 mm Browning, com o número de série rasurado;
− Três munições calibre 7, 65mm, marca Browning, no interior da bolsa na
qual se encontrava a pistola;
− Duas munições calibre 6,35 Browning, que se encontravam no interior;
− Um bastão, com 66 cm de comprimento, sem qualquer aplicação ou uso
definido, e não era titular de licença de uso e porte de arma.
30) No interior do veículo automóvel de matrícula 00-PE-00, utilizado pelo arguido
BB, foram encontrados, e apreendidos, seis telemóveis e seis cartões SIM (dois
deles ainda intactos no respectivo suporte), bem como onze suportes de cartão
SIM e um bloco de notas manuscritas.
31) Nesse mesmo dia, cerca das 09h00, realizada busca ao veículo automóvel de
matrícula 00-SI-00, utilizado pelo arguido CC, foram encontrados e apreendidos
no seu interior, para além do mais:
- Dezasseis munições de calibre 7.65 mm, das quais seis tinham a inscrição
"FN", outras seis de marca PR VI PARTIZAN e três de marca GECO 7.65" e
uma com a inscrição G.F.L. 7.65mm;
- Dois pedaços de canábis (folhas e sumidades), vulgarmente denominada
liamba, com o peso bruto de 3,85 gramas (peso líquido 1,428 gramas).
32) O arguido CC destinava o produto estupefaciente (Canábis) que lhe foi apreendido
ao seu consumo pessoal, e não era titular de licença de uso e porte de arma.
33) Ao actuarem da forma descrita, nos pontos 1 a 26, agiram os arguidos AA, CC e
BB e o outro elemento, que não se logrou identificar, deliberada, livre e
conscientemente, de comum acordo e em comunhão de esforços, na execução de um
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plano que haviam previamente delineado, no intuito que lograram alcançar, de através
de agressões físicas ao porta- valores e da ameaça velada com algo que se parecia
com uma arma de fogo, que detinham, fazerem sua a quantia monetária contida nos
dois cacifos da caixa ATM, que sabiam ser muito elevada, com perfeita consciência
que a mesma não lhes pertencia e que actuavam contra a vontade do seu legitimo
dono.
34) O arguido BB conhecia, igualmente, as características do produto designado
cannabis-resina, vulgarmente conhecido por "haxixe", bem como, da cocaína, que lhe
foi apreendida, tendo actuado deliberada, livre e conscientemente, no intuito, que
logrou alcançar, de deter tal produto, para o vender a quem quer que o contactasse
para o efeito, mediante contrapartida que recebia, em dinheiro, bem sabendo que não
estava autorizado a fazê-lo.
35) A verdade é que, pelo menos, desde Junho de 2017 até à data em que foi detido,
que o arguido se dedicava a tal actividade ilícita, não possuindo qualquer ocupação
profissional conhecida e remunerada nesse período temporal.
36) A quantia monetária que lhe foi apreendida [e 2.855,00 (dois mil oitocentos e
cinquenta e cinco euros) em numerário], constitui o resultado/produto das vendas de
produto estupefaciente que o arguido efectuou no período temporal acima referido.
37) O arguido BB sabia perfeitamente que lhe estava vedado comprar, transportar,
importar, guardar, oferecer, ceder ou por qualquer outro título receber, proporcionar
a outrem, consumir, embalar e vender as referidas substâncias que detinha, cuja
natureza e características conhecia.
38) Sabia também o arguido BB ser necessária licença de uso e porte de arma para
deter a pistola e as munições que, deliberada, livre e conscientemente, tinha na sua
posse, mesmo sabendo que não as podia deter por não estar autorizado a tal.
39) O arguido BB sabia ainda que o que bastão que tinha na sua posse não tinha
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qualquer outra aplicação definida que não a de ser utilizado como objecto de
agressão, querendo, ainda assim, detê-lo, o que fez, livre e conscientemente.
40) O arguido CC sabia ser necessária licença de uso e porte de arma para deter as
munições com as características daquelas que foram apreendidas no automóvel por si
utilizado, as quais conhecia.
41) O arguido CC agiu deliberada, livre e conscientemente, querendo ter em sua
posse as referidas munições, sabendo que não era titular de licença de uso e porte de
arma.
42) O arguido CC sabia perfeitamente que lhe estava vedado comprar, transportar,
importar, guardar, oferecer, ceder ou por qualquer outro título receber, proporcionar
a outrem, consumir, embalar e vender as referidas substâncias que detinha, cuja
natureza e características conhecia.
43) Conheciam os arguidos a proibição e punibilidade legal das suas condutas.
Mais se provou que..
44) Consta do relatório social do arguido BB que:
BB vive em união de facto com GG, fazendo também parte do agregado o filho do
casal, HH (0) e o enteado, II (00).
Oriundos de …, os progenitores de BB conheceram- se em Portugal, tendo-se
constituído o primeiro de três filhos do casal, tendo ainda mais dois irmãos uterinos e
três consanguíneos, sendo o terceiro elemento da fratria. Assume laços consistentes
com as figuras parentais e outros elementos da família alargada, tendo beneficiado da
supervisão possível por parte daqueles.
O seu processo de socialização decorreu então, no agregado de origem, num contexto
socioeconómico razoável.
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O agregado residia num bairro social caracterizado por várias problemáticas,
nomeadamente delinquência, pobreza e desemprego, no entanto o arguido transmitiu
sentimentos de pertença.
Segundo o próprio, o seu percurso escolar decorreu de forma irregular, tendo
evidenciado desinteresse pela aprendizagem, com retenções no 2° ciclo por falta de
assiduidade.
No 7° ano, por iniciativa da escola frequentou um curso de formação profissional em
…, que lhe deu equivalência ao 3° ciclo. Diz ainda ter frequentado o 10° ano mas não
o concluiu. Veio a completar o 12° ano já em adulto, durante o cumprimento de pena
efetiva de prisão no Estabelecimento Prisional do ….
BB revela que após a escola iniciou um trajeto laboral na … junto do progenitor,
mantendo esta ocupação com regularidade, até à sua prisão em Abril/2008. Desde a
sua libertação em Dezembro/2012 tem trabalhado nesta área como indiferenciado, e de
forma intermitente, porque tem a autorização de residência em Portugal caducada, o
que não lhe permite a obtenção de um contrato de trabalho. Também verbaliza que
vendia … para um … de um amigo, cobrando uma percentagem nas futuras vendas. Em
liberdade condicional comparecia às entrevistas agendadas pela DGRSP, colaborando
com o previsto na sentença judicial e diligenciando no sentido de obter autorização de
residência em Portugal.
Durante a adolescência o arguido privilegiou o convívio com grupo de pares com
caraterísticas comportamentais de cariz desviante, desenvolvendo comportamentos de
risco que resultaram em prática criminal.
Ao nível pessoal BB foi pai pela primeira vez com 00 anos de idade, fruto dum
relacionamenlo momentâneo. Tem quatro filhos com 00, 00, 00 e 0 anos de idade,
todos filhos de mães diferentes, no entanto o arguido destacou a relação afetiva com
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a atual companheira, GG, mãe do seu filho mais novo, como gratificante, tendo
iniciado este relacionamento amoroso em 2014.
O arguido beneficia de uma situação familiar relativamente equilibrada e afetiva,
considerando que o seu relacionamento é estável. Pelo que foi possível perceber junto
das fontes, a companheira exibe um discurso de influência e contenção nalguns
comportamentos do arguido, manifestando uma postura mais vocacionada para o
núcleo familiar. A companheira e os filhos parecem ser as figuras centrais do seu
quotidiano, sendo descrito como um pai muito presente, protetor e afetuoso. O
arguido procura manter-se em contacto com os outros filhos: JJ 00 anos e a residir
como os avós paternos em …; KK de 00 anos a residir com a progenitora em …; e LL
de 00 anos a residir com a progenitora em ….
A companheira trabalha como … de … no …, onde se encontra a trabalhar com
contrato efetivo. Assim, o contexto económico é percecionado como restritivo,
atendendo à instabilidade laboral vivenciada pelo arguido, no entanto não são
apontados constrangimentos significativos. Sem autorização de residência, BB não
pode inscrever-se no instituto de emprego e formação profissional, nem efetuar
contrato com eventual entidade patronal.
De acordo com os dados recolhidos as suas rotinas estão organizadas em torno da
família, a ocupação dos tempos livres é descrita com base no desenvolvimento das
tarefas domésticas, em ocupação de lazer com os filhos e na procura de trabalho.
Ainda assim, mantendo-se a viver na zona onde cresceu, continuam a fazer parte das
suas relações, amigos de infância e de escola com os quais confraterniza em jogos de
….
Nas entrevistas tidas com BB, este evidenciou possuir competências pessoais e sociais,
nomeadamente ao nível da comunicação interpessoal, com um estilo assertivo e
educado, da descentração, reconhecendo a existência de pontos de vista diferentes do
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seu, e do pensamento consequencial, percebendo que todas as ações conduzem a
resultados, uns positivos outros negativos, procurando antecipá-los. Perante a
existência de problemas, tenta lidar com os mesmos de forma apropriada, consistindo
a ausência de documentação pessoal um obstáculo de difícil superação.
Assume-se como uma pessoa sociável, amiga, companheiro, procurando sempre
ajudar os outros. Diz ser trabalhador, divertido mas também teimoso na defesa de
argumentos em que se sente com razão. A companheira e a irmã consideram-no muito
leal, sensível, calmo e super protetor dos filhos, "o BB é uma ótima pessoa, um bom
irmão" (sic).
Em meio prisional BB tem registada uma repreensão escrita no seu registo disciplinar
datada de 22.6.2018, encontrando-se suspenso das funções que desempenhava como …
do … desde 28.3.2018, nas quais era descrito como um indivíduo responsável.
45) O arguido BB foi condenado:
a) Por acórdão de 05/06/2007, no processo comum com intervenção de tribunal
de júri, que correu termos sob o n.° 793/05.9BBVFX do 2.° Juízo Criminal de …, que
transitou em julgado em 25/03/2008, na pena de 3 anos e 4 meses por cada um dos
oito crimes de roubo qualificado, na pena de 1 ano e 6 meses pela prática de um crime
de roubo, e na pena de 13 meses de prisão pela prática de cada um dos três crimes de
roubo qualificado, na forma tentada. Em cúmulo jurídico foi aplicada a pena única de
6 anos e 9 meses de prisão, por factos ocorridos em 13/10/2005.
b) Por sentença de 31/10/2007, no processo comum singular, que correu termos
sob o n.° 421/02.S7LSB, da 3." Secção do 4. ° Juízo Criminal de …, por decisão
transitada em julgado em 20/11/2007, na pena de 12 meses de prisão, cuja execução
ficou suspensa por 1 ano, com regime de prova, pela prática de um crime de roubo,
por factos ocorridos em 31/12/2002.
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c) Por sentença de 06/03/2008, no processo comum singular que correu termos
sob o n.° 787/04. 1GBVFX, do 1. ° Juízo Criminal de …, que transitou em julgado em
21/04/2008, na pena de 60 dias de multa, pela prática de um crime de condução sem
habilitação legal, por factos de 15/09/2004. A pena foi declarada extinta pelo
pagamento em 08/11/2012.
d) Foi proferido acórdão cumulatório no processo 267/08.6TCLSB da 4." Vara
Criminal de …, que cumulou as penas aplicadas nos processos 421/02.4S7LSB e
793/05.9GBVFX, sendo aplicada uma pena única de 7 anos e 3 meses de prisão.
e) Em 30/09/2015, no processo de liberdade condicional 3174/10.9TXLSB-A, foi
reconhecida a extinção, em 31/07/2015 da liberdade condicional que tinha sido
concedida no que respeita à pena aplicada no processo 267/08.6TCLSB.
f) Por sentença de 24/05/2018, no processo comum singular, que correu lermos
sob o n.° 157/17.1GHVFX, do Juízo Local Criminal de …, J3, por decisão transitada
em julgado em 25/06/2018, na pena de 100 dias de multa, pela prática de um crime de
desobediência, por factos ocorridos em 11/04/2017.
46) Consta do relatório social do arguido CC que:
Natural da …, o arguido é filho único de um casal que se separou após o seu
nascimento, tendo mais quatro irmãos consanguíneos e uma irmã mais nova, uterina.
Na … viveu com a mãe, …, e quando tinha um ano de idade passou a viver com uma
tia paterna, situação que durou até aos oito anos.
Nessa altura, integrou o agregado familiar do pai que, entretanto, tinha emigrado
para Portugal e residia na zona de …, o qual entretanto havia reconstituído família. O
pai trabalhou primeiro como … de … e, mais tarde, estabeleceu-se por conta própria
através da criação de uma empresa de …. A madrasta era … … num …, não sendo
assinaladas dificuldades económicas.
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O seu percurso escolar surge normativo tendo obtido o 9° ano de escolaridade e,
posteriormente, passado a trabalhar com o pai na empresa que o mesmo detinha.
Exerceu esta actividade dos 00 aos 00 anos de idade altura em que, após alguns meses
de desemprego, passou a trabalhar no café de um amigo na zona de … durante um
ano. Após novo período de inactividade laboral, iniciou funções numa fábrica de …
onde permaneceu durante dois anos. Retomou posteriormente a actividade como
empregado de balcão no café …, em …, onde trabalhava à data da reclusão.
No campo afectivo relacional, o arguido viveu em união de facto com uma
companheira de quem se veio a separar três anos depois. Desta relação nasceu um
filho, que conta actualmente 00 anos, que vive em … com a mãe.
À data das circunstâncias inerentes ao presente processo judicial, CC residia com a
companheira e dois filhos do casal, de … e … anos de idade. A dinâmica do casal
surge descrita como positiva mencionando a companheira que o mesmo é investido na
sua condição marital e parental.
Em termos laborais, e como referido anteriormente, o arguido trabalhava como
empregado de mesa no café …, na zona de … referindo que auferia mensalmente cerca
de 800,00 euros. Paralelamente, e de forma pontual trabalhava em … e aplicação de
….
A companheira, licenciada em …, trabalha como …. Em virtude de não deterem uma
renda habitacional, pelo facto da casa onde habitam, na zona da …, ser pertença de
família, o arguido mencionou que conseguiam suprir as despesas.
CC refere que apenas retomou o contacto com a progenitora aos 00 anos de idade, já
em Portugal, tendo residido com a mesma durante algum tempo, na zona de …. O pai
vive atualmente na ….
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O arguido refere que mantinha um estilo de vida centrado no convívio com a família e
grupos de pares com comportamentos pró-sociais. Refere que um dos coarguidos no
presente processo judicial, AA, é seu amigo há muitos anos e padrinho de um dos seus
filhos mantendo com o mesmo uma relação de proximidade que considera benéfica.
Em termos das suas características pessoais, CC evidencia uma postura cordial,
adequada e adaptada bem como capacidades cognitivas e autonomia pessoal para
fazer as opções de vida que entende como adequadas e vantajosas para si, recursos
pessoais que lhe permitem utilizar um discurso consonante com a adequação social.
Em contexto institucional, o arguido tem mantido uma postura correta e colaborante
em termos de relacionamento interpessoal. Não tem sanções averbadas no seu registo
disciplinar. Encontra-se a trabalhar no … de … desde 20/03/2018 revelando empenho
e responsabilidade.
47) O arguido CC foi condenado:
a) Por sentença de 21/05/2008, no processo comum singular que correu termos sob
o n.° 92/07.1SGLSB da 3. a Secção do 6. ° Juízo Criminal de …, que transitou em julgado
em 11/06/2008, na pena de 80 dias de multa, pela prática de um crime de ofensa à
integridade física qualificada, por factos de 17/12/2006. A pena de multa foi convertida em
53 dias de prisão subsidiária. A pena foi declarada extinta em 14/09/2011 pelo
cumprimento;
b) Por acórdão proferido em 23/07/2008, no processo comum colectivo que
correu termos sob o n.° 22/07.0JBLSB do 2. ° Juízo Criminal de …, transitado em
julgado em 30/03/2009, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão, pela prática de dois
crimes de roubo, e um crime de detenção de arma proibida, por factos de 18/01/2007 e
23/04/ 2007.
c) Em 30/10/2012, no processo de liberdade condicional 3289/10.3TXLSB-A,
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foi concedida ao arguido liberdade condicional desde tal data a 15/12/2015, no que
respeita à pena aplicada no processo 22/07.0JBLSB, onde o arguido tinha sido
condenado pela prática de dois crimes de roubo e um crime de detenção de arma
proibida.
d) Em 06/07/2017, no processo de liberdade condicional 3289/10.3TXLSB-A,
foi reconhecida e extinção, em 15/12/2015 da liberdade condicional que tinha sido
concedida no que respeita à pena aplicada no processo 22/07.0JBLSB.
48) Consta do relatório social do arguido AA que:
AA é filho único do casamento dos progenitores que se separaram quando o arguido
tinha 0 anos de idade. Tem dois irmãos uterinos, um mais velho e um mais novo, e dois
irmãos consanguíneos mais novos. Não obstante a rutura marital, os progenitores
sempre promoveram os contactos entre todos os irmãos.
Dessa forma, o processo de socialização de AA decorreu no agregado da progenitora,
entretanto reconstituído tendo, contudo, a mesma se separado do padrasto do arguido,
quando este tinha 00 anos. O agregado residia num bairro social caracterizado por
várias problemáticas nomeadamente delinquência, pobreza e desemprego. Existem
referências a laços consistentes com a figura materna e irmãos ainda que com um
modelo educativo de baixa supervisão, decorrente da ausência da progenitora que se
encontrava a trabalhar.
A situação económica é descrita como tendo sido estável, junto dos progenitores e
mais tarde do padrasto. O pai era militar, a mãe trabalhou como …, … … e
empregada de … e o padrasto era ….
Regista um percurso escolar regular até ter ficado retido pela primeira vez no 8° ano
de escolaridade tendo desistido das atividades escolares durante a frequência do 10°
ano de forma a iniciar o seu percurso laborai.
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Aos 00 anos experimentou um período de emigração em … de cerca de três anos, junto
de uma tia, tendo trabalhado como operador de … e no atendimento em … de …. Em
termos de formação, concluiu um curso de … e, já em Portugal durante um período de
reclusão, terminou um curso de … de … que lhe deu equivalência ao 12° ano de
escolaridade.
AA deslocou-se a Portugal para comparecer em audiências de julgamento acabando
por regressar definitivamente mencionando dificuldades de adaptação nomeadamente
no estabelecimento de interações sociais naquele país.
De regresso a Portugal, permaneceu tendencialmente desocupado privilegiando o
convívio com o grupo de pares residentes no seu bairro, com características
comportamentais de cariz desviante. Neste contexto, desenvolveu comportamentos de
risco que resultaram em prática criminal.
Não é referida pelo arguido qualquer problemática de saúde ou historial de adição, o
que constitui um fator protetor na sua situação.
No início de 2005, o seu envolvimento em novos ilícitos culminou numa reclusão. Em
período prévio à reclusão, e tal como referido anteriormente, AA esteve em
acompanhamento por parte dos serviços da DGRSP no âmbito da medida de
liberdade condicional. De acordo com os dados constantes no dossiê da DGRSP, o
arguido cumpriu o estabelecido na decisão que lhe concedeu essa medida de
flexibilização da pena, destacando-se a área laboral e o investimento ao nível
formativo.
Nesse sentido, em termos laborais o arguido colaborava com o progenitor, que se
encontra na … e explora uma empresa de importação/exportação de … ….
Paralelamente, terminou um curso de … e outro de … (faltando apenas a …) e iniciou
a frequência do curso superior de …, de acordo com o referido, com a melhor nota de
admissão, na Faculdade de ….
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AA residia na morada constante no presente relatório, em habitação de renda social,
com a companheira e um irmão de 00 anos, …. A progenitora havia emigrado para a
…, onde o irmão mais velho do arguido fixou residência e sofreu um …, estando
imobilizado. Foi referido um relacionamento afetivo satisfatório e uma dinâmica
intrafamiliar assente em laços afetivos e de ajuda mútua, pelo que o arguido chegou a
estar também na … a ajudar a progenitora.
O contexto económico é percecionado como equilibrado, resultado do trabalho do
arguido descrito anteriormente e do trabalho da companheira como … em regime de
….
De acordo com o referido, o quotidiano do arguido era estruturado, centrado no
convívio com a família, no trabalho e nos estudos, sendo apontado um afastamento do
antigo grupo de pares com o estabelecimento de uma nova rede de interações sociais
positivas. Relativamente a um dos seus coarguidos no presente processo, CC, refere
ser seu amigo há muitos anos e ser … de … dos filhos do mesmo, interação sentida
pelo próprio como normal e adequada.
Em termos de projetos futuros, e de acordo com a fonte contactada, o casal pretende
afastar-se do meio sócio residencial onde viviam passando a residir em …, numa
habitação que haviam adquirido em período prévio à reclusão por meio de
empréstimo bancário.
No contacto mantido com AA, este evidenciou um temperamento calmo bem como
capacidades cognitivas e autonomia pessoal para fazer as opções de vida que entende
comd adequadas e vantajosas para si, recursos pessoais que lhe permitem utilizar um
discurso consonante com a adequação social.
Em termos de impacto decorrente da atual situação de reclusão, podemos salientar o
retrocesso na sua vida pessoal, nomeadamente em termos da sua formação
académica, bem como a necessária reorganização familiar já que a progenitora teve
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de regressar a Portugal para cuidar do filho mais velho tendo a companheira do
arguido retornado ao seu agregado familiar de origem. AA refere também o facto de
não poder acompanhar o crescimento e desenvolvimento da filha, de 0 meses, nascida
já durante a reclusão.
O arguido tem consciência da gravidade da situação processual em que se encontra
envolvido, perceciona os factos inscritos na presente acusação como crime não se
revendo, porém, no seu conteúdo.
A nível institucional mantém um comportamento adequado num quadro de
competências ao nível da comunicação interpessoal e adequação comportamental
evidenciando boa capacidade de integração e adaptação. Não tem sanções averbadas
no seu registo disciplinar. Não se encontra integrado em qualquer atividade escolar,
formativa ou laboral.
Da análise dos elementos recolhidos, destaca-se a postura proativa do arguido na
procura de enquadramento laboral e no investimento formativo e a forma responsável
como assumiu novos compromissos familiares.
49) O arguido AA foi condenado:
a) Por sentença proferida em 27/11/2001, no processo comum singular que correu
termos sob o n.° 70/99.2GCSTA do Tribunal de Comarca de …, transitada em julgado
em 20/12/2001, na pena de 80 dias de multa, pela prática de um crime de furto uso de
veículo, nos termos do artigo 208.° do Código Penal, por factos de 09/04/2002. A pena
de multa foi declarada extinta em 03/06/2003.
b) Por sentença proferida em 21/02/2002, no processo sumário que correu
termos sob o n.° 35/02.9GTALQ do 2. ° Juízo Criminal de …, transitada em julgado
em 11/03/2002, na pena de 35 dias de multa, pela prática de um crime de condução
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sem habilitação legal, por factos de 21/02/2002. A pena foi declarada extinta em
05/07/2002.
c) Por acórdão proferido em 25/02/2003, no processo comum colectivo que
correu termos sob o n.° 225/99.0TALRA do 3.° Juízo Criminal de …, transitado em
julgado em 25/02/2003, na pena de 2 anos e 4 meses de prisão, cuja execução ficou
suspensa por 3 anos, pela prática de um crime de furto qualificado, por factos de
26/02/1999. A pena foi declarada extinta pelo decurso do prazo em 05/06/2006.
d) Por sentença proferida em 07/06/2004, no processo comum singular que
correu termos sob o n.° 172/02.0GDLRS do 2.° Juízo Criminal de …, transitada em
julgado em 28/06/2004, na pena de 100 dias de multa, pela prática de um crime de
condução sem habilitação legal, por factos de 01/02/2002. A pena foi declarada
extinta em 28/10/2004.
e) Por acórdão proferido em 07/12/2005, no processo comum colectivo que
correu termos sob o n.° 227/05.9PTLSB da 2.0 Secção da 2.0 Vara Criminal de …,
transitado em julgado em 04/06/2007, na pena de 7 anos de prisão, pela prática de
um crime de homicídio qualificado, na forma tentada, um crime de detenção ou
tráfico de armas proibidas, por factos de 08 e 09 de Fevereiro de 2005.
j) Por sentença proferida em 10/10/2007, no processo sumaríssimo que correu
termos sob o n.° 217/04.9SILSB da 3.0 Secção do 2.° Juízo de Pequena Instância
Criminal de …, transitada em julgado em 10/10/2007, na pena de 80 dias de multa,
pela prática de um crime de condução sem habilitação legal, por factos de
08/05/2003. A pena foi declarada extinta em 31/03/2009.
g) Por acórdão proferido em 23/07/2008, no processo comum colectivo que
correu termos sob o n.° 22/07.0JBLSB do 2. ° Juízo Criminal de …, transitado em
julgado em 30/03/2009, na pena de 7 anos e 6 meses de prisão, pela prática de dois
crimes de roubo, na forma tentada, por factos de 15/03/2007 e 23/04/2007.
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h) No processo n.° 22/07.0JBLSB do 2.° Juízo Criminal de … foi proferido
um acórdão cumulatório, em 12/10/2009, transitado em julgado em 06/11/2009, em
que foram englobadas as penas únicas aplicadas no dito processo 22/07.0JBLSB e
ainda as aplicadas no processo 227/05.9PTLSB, e foi aplicada a pena única de 12
anos de prisão.
i) Em 17/04/2013, no processo de liberdade condicional 6179/10.6TXLSB-A, ao
arguido foi concedida a liberdade condicional pelo período de tempo entre a sua
libertação e 11/04/2017, no que respeita à pena aplicada no processo 22/07.
OJBLSB.
(…).
14. Apreciemos.
14.1. Vêm os 3 arguidos, ora recorrentes, arguir em cada uma das suas peças
recursivas, e diga-se para ambas as instâncias de recurso, a invalidade do
reconhecimento feito a cada um deles, porquanto não se procedeu a um
reconhecimento pessoal (de cada um deles), sendo que o reconhecimento fotográfico
efectuado carece de valor probatório, violando o disposto no artigo 147.º.
Diz-se a este propósito, no acórdão recorrido do TRL, (uma vez que também tinha sido
alegado o mesmo, em recurso para esse Tribunal), e transcreve-se:
No que ao recorrente AA concerne:
(…) Na verdade, nos autos não foram efectuados quaisquer reconhecimentos
(fotográficos ou pessoais) do recorrente, nem dos demais arguidos.
Confunde-se o reconhecimento pessoal a que alude o referido normativo legal - que
tem a natureza de um meio de prova - com as pesquisas efectuadas pelos inspectores
da PJ na base de dados desta polícia, nomeadamente com análise de fichas
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biográficas, em ordem a apurar da existência de alguém com características físicas
coincidentes com a do (então) suspeito para orientar a investigação num determinado
sentido.
Porque assim é, não foram as normas que estabelecem os requisitos de validade desse
meio de prova obliteradas.
E, da concatenação dos aludidos elementos probatórios (sendo que já se deixou
explicitado retro que não foi feita pelo tribunal a quo leitura de qualquer dos
depoimentos prestados pelas testemunhas MM, NN e OO nos termos do artigo 356°, do
CPP, aliás, nem sequer foi essa leitura requerida quanto aos dois últimos. Impetrada
se mostra quanto a MM, mas foi a mesma indeferida), conjugados com a visualização
e análise que fizemos da gravação vídeo e áudio da inspecção ao local efectuada pelo
tribunal recorrido, aliados à demonstração efectuada por este quanto ao percurso da
formação da sua convicção no que tange aos factos dados como provados nos pontos
1, 2 (estes, inferidos de toda a dinâmica das movimentações dos arguidos e do
indivíduo não identificado que os acompanhava, da distribuição individual de tarefas e
da utilização de dois veículos automóveis, também com utilizações diversificadas) 7,
11, 14, 20, 21, 23, 24 e 25, resulta que a prova produzida foi apreciada com
razoabilidade, sendo os componentes apontados no acórdão como relevantes para a
decisão de facto coerentemente explanados e valorados de acordo com um raciocínio
lógico, racional e convincente, que não fere as regras da experiência comum. (…).
E, mais adiante, no que ao recorrente BB concerne:
(…) Afirma ainda o arguido BB que não foi efectuada prova por reconhecimento
pessoal, ao contrário da imposição legal.
Na verdade, não se vê que essa exigência esteja imposta em norma legal alguma para
a situação em apreço, designadamente por força do estatuído no artigo 147°, do CPP.
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Estabelece-se no seu n° 1, que "quando houver necessidade de proceder ao
reconhecimento de qualquer pessoa, solicita-se à pessoa que deva fazer a
identificação que a descreva, com indicação de todos os pormenores de que se
recorda. Em seguida, é-lhe perguntado se já a tinha visto antes e em que condições.
Por último, é interrogada sobre outras circunstâncias que possam influir na
credibilidade da identificação.".
Tendo as testemunhas elementos da PJ observado as características físicas do
arguido no dia do assalto e constatado cabalmente por via das referidas diligências
externas realizadas que o visado era aquele indivíduo com cabelo penteado em …,
cuja identificação apuraram ser BB, mostrava-se em absoluto desnecessário e mesmo
inútil, proceder ao seu reconhecimento nos termos da dita norma legal.
Por outro lado, ao contrário do que pretende fazer crer o recorrente e valendo aqui o
que deixámos expresso quando da apreciação do recurso interposto por AA, também
se tem de dizer que não existiu o reconhecimento fotográfico plasmado no n° 5, do
artigo 147°, do CPP, não sendo, por isso, o nele disposto aqui aplicável.
Em conclusão, não merecem censura os factos dados como provados pela 1a
instância, com os quais o recorrente discorda, que se mostram sustentados na prova
produzida, não se vendo que tenha existido obliteração de regras da experiência
comum ou sido postergado o princípio in dubio pro reo, pelo que se consideram
definitivamente assentes nos seus exactos termos.(…).
E, por fim, quanto ao recorrente CC:
(…) Já vimos anteriormente não merecer acolhimento este entendimento, pelos
fundamentos aduzidos que são válidos também em relação a este arguido e que se não
repetem pela razão apontada.
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A testemunha NN visualizou, sem margem para qualquer erro, as suas feições e demais
características físicas e confirmou a identificação no decurso das diligências externas
em que participou e já se apontaram.
E, tal como no que concerne aos demais arguidos, não se verificou quanto a ele o
reconhecimento fotográfico a que se reporta o n° 5, do artigo 147°, do CPP, que ao
caso não é aplicável. (…).
14.2. Vejamos.
Questão comum aos três recursos, é, pois, a alegação de que não houve lugar, na fase
preliminar do processo, a realização da prova por reconhecimento pessoal dos
recorrentes.
O recurso à prova por reconhecimento de pessoas, regulada no artigo 147.º, é
expressamente condicionado nos termos do seu n º 1, pela necessidade de a tal meio de
prova se recorrer quando houver necessidade de proceder ao reconhecimento de
qualquer pessoa.
Da leitura da fundamentação de facto e do exame crítico das provas que serviram para
formar a sua convicção, em cumprimento do n.º 2 do artigo 374.º, o Tribunal explicitou
as razões pelas quais, ainda na fase do inquérito, a identidade dos co-arguidos se
mostrava determinada, o que exclui a necessidade de recorrer a tal prova.
E, importa sublinhar que tal matéria de facto foi devidamente tratada pelo acórdão aqui
em análise.
Senão vejamos:
(…)As testemunhas MM, OO e NN, inspectores da Polícia Judiciária,
descreveram estar numa operação de vigilância no âmbito de um outro processo
quando se aperceberam das movimentações de duas viaturas, descrevendo passo por
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passo o que viram, terminando com a fuga dos assaltantes e a forma como
posteriormente concluíram pela identidade dos assaltantes, já que no momento em que
ali se encontravam não conheciam qualquer dos arguidos nem os mesmos estavam
sinalizados no âmbito do outro processo.
As três testemunhas referem estar, cada um deles, numa viatura automóvel
posicionados próximo da entrada principal do Centro Comercial. A testemunha MM
refere que está posicionada numa posição que lhe permite ver a entrada do Centro
Comercial, a testemunha NN que estava na Avenida e próximo da entrada do Centro
Comercial e a testemunha OO refere que estava numa rua que lhe permitia ver a
chegada da carrinha de valores.
O tribunal foi ao local onde as testemunhas - inspectores da polícia Judiciária
OO e MM - indicaram o local concreto onde se encontravam, bem como o seu colega
NN, sendo que tendo em atenção que o olho humano é incomensuravelmente mais
completo do que uma fotografia, será retratado o local em que os inspectores se
colocaram no espaço.
A inspectora da Polícia Judiciária MM tinha a seguinte visão:
Segundo a senhora inspectora encontrava-se no lugar de condutora da viatura
estacionada e que tem o círculo, sendo que a entrada do centro Comercial está
igualmente indicado com um círculo.
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O inspector NN, que não acompanhou o exame ao local tinha a sua viatura ligeira
estacionada, segundo os restantes inspectores, com a seguinte linha de vista:
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Já o senhor inspector OO que se encontrava num veículo algo mais alto, mas
estava numa rua próxima, sem visão directa para a entrada do Centro Comercial tinha
a seguinte visão:
A senhora inspectora refere que se apercebeu da chegada de uma viatura BMW
prateada, que estacionou na zona de onde saiu um individuo, com castas muito
compridas. Tal indivíduo saiu do carro fez um percurso subindo a rua em direcção ao
local da entrada do centro comercial, sendo que a determinada altura o perde de vista,
apenas notando pouco depois que terá retornado ao local em que se encontrava a
viatura por um caminho que não conseguiu precisar. Apercebeu-se então que havia um
outro BMW preto - série 1 - onde entraram 3 indivíduos.
Ambas as viaturas estavam estacionadas do lado direito do local em que estava
estacionada, tendo por isso uma visão sobre os mesmos.
A sua visão seria próxima da que se retrata:
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Ambas as viaturas saem do local, sendo primeiro o BMW série 1 preto e depois
o BMW cinzento prata, ambas as viaturas a baixa velocidade passando no local em que
se encontrava o inspector NN.
Voltou a aperceber-se que o BMW série 1 preto retornou ao local por indicação
do colega, mas ficou parado em local que não conseguia ver, mas essa manobra fez que
o seu colega NN tivesse de sair do local. Chegou entretanto ao local a carrinha de
valores.
Apercebeu-se então que um rapaz muito alto, com umas calças cinzentas com
uma risca preta e um casaco verde com capuz de pêlo saiu da zona de uma pequena
rua que dá acesso a umas garagens e faz o percurso para uma rua ao lado do Centro
Comercial. Neste momento ainda de cara descoberta.
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Enquanto isso se passava apercebem-se de alguém a correr para o Centro
Comercial e o rapaz alto a correr também, mas agora já com o capuz colocado na
cabeça, momento em que é dado o alerta de que se encontrava algo a ocorrer.
A inspectora dá o alerta e arranca com a viatura sendo que antes de chegar ao
local à frente do centro comercial já os assaltantes conseguiram sair pelo que optou
por tentar ir abordá-los pela frente, pelo que passou pela frente do centro comercial e
virou à direita e seguiu aquela rua, pensando que conseguiria ir abordá-los pela frente,
mas como não tinha bom conhecimento do local não conseguiu vir a encontrar
nenhuma das viaturas.
A testemunha NN refere que estava na viatura na Rua … e era quem estava mais
próximo e com melhor visibilidade para a porta do centro comercial.
Apercebe-se de um indivíduo … e de … que saiu de uma viatura e vem a fazer
um percurso aproximando-se da sua viatura passando próximo dele e olhando
directamente para a testemunha, fez um percurso e voltou à viatura. Apercebeu-se
também que houve três indivíduos que saíram de uma carrinha BMW prateada e
entraram no BMW serie 1 preto. Saíram as duas viaturas do local, passando de forma
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muito lenta por si e olhando para si. Deu as matrículas das viaturas aos colegas. lgum
tempo depois a viatura prateada voltou ao local e por sentir que podia ter sido
descoberta a sua vigilância ao local teve de sair do local com a sua viatura, sendo que
foi seguido pelo dito BMW por um percurso relevante depois de sair do local. Saiu do
local e estacionou a uma distância que não permitia a sua intervenção.
Reconheceu que quem circulava a conduzir a viatura BMW prateada era a
pessoa de … - o BB - e a viatura BMW série 1 preto era conduzida pelo CC, sendo
que referiu que a viatura tinha os vidros fumados, mas viu-o quando estava a fazer
a mudança de carro e depois quando passou muito devagar ao lado do seu carro e
olhou para ele com o vidro aberto. Das outras duas pessoas que viu no local, a
mudar de uma viatura para outra apercebeu-se que uma delas era mais alta. Do
local onde estava não viu nada do assalto em si.
A testemunha OO refere que estava a alguma distância, pelo que apenas tinha
uma visão parcial do local.
Vê chegar a carrinha de valores, sendo que consegue apenas ver parte do
percurso que o porta valores faz entre a porta da carrinha e a porta do centro
comercial. Viu que saíram dois indivíduos de um BMW série 1 próximo da zona da
rua que dá acesso às garagens, viatura que já anteriormente tinha andado por ali e
que por isso estava atento quando chegou, sendo que um desses indivíduos que vê sair
tinha um blusão verde e se afastou para o interior da Avenida … (para a esquerda da
entrada do centro Comercial) tendo deixado de o ver, e o de roupa preta dirigiu-se
para a zona da carrinha de valores, fazendo ambos este percurso:
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Apercebendo-se de que algo se passava e perante o alerta da sua colega
também dá início à marcha e dirigiu-se à Avenida …, e com a sua viatura seguiu
os dois assaltantes que já iam a correr. No entanto e tendo feito o percurso de
carro, pelas manobras que teve de fazer e pelas pessoas que estavam na dita rua
não conseguiu abordá-los, tendo feito parte do percurso a correr atrás dos mesmos.
Apercebeu-se então que os dois indivíduos entraram na viatura automóvel BMW
prateado algumas ruas mais à frente. Em tal viatura encontrava-se um indivíduo negro
com … - que reconhece como o arguido BB - que estava ao volante da viatura com a
janela meio aberta.
Esta seria a visão do senhor inspector:
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Ao aproximarem-se da viatura os assaltantes entraram na mesma e todos
abandonaram o local.
Os depoimentos dos inspectores são coerentes e credíveis, sendo que no local
se percebe melhor a proximidade entre os locais e a possibilidade de se distinguir
alguns pormenores indicados pelos senhores inspectores.
Os inspectores foram claros ao referirem que os arguidos não eram os alvos da
acção que estavam a realizar pelo que não os conheciam, sendo claro também que não
conheciam o local circundante, tendo reagido a uma situação com que se depararam e
para o qual não estariam preparados. Depois tiveram de fazer a investigação para
conseguir chegar às pessoas que viram naquele dia, não tendo logrado identificar um
deles. Estiveram apenas duas pessoas junto do porta valores, e para além disso e como
intervenientes estiveram as outras duas pessoas que estavam nas viaturas
intervenientes, mais concretamente o BMW série 1 preto, que coloca os dois indivíduos
que abordam o porta valores no local e quem os vai buscar umas ruas mais à frente é
a carrinha BMW prateada. As matrículas foram recolhidas ainda antes de chegar ao
local a carrinha de valores, atentas as manobras consideradas estranhas pelos
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inspectores e que bem se podem dizer que são manobras de vigilância do local, sendo
que nos momentos seguintes são vistas várias vezes nas proximidades.
O inspector OO consegue identificar, sem dúvidas, o arguido BB como a
pessoa que estava a conduzir a viatura BMW prateada, que viu quando este esperava
pelos dois assaltantes, e consegue aperceber-se que a pessoa que estava com um
blusão verde era bastante alto, e pela forma de andar e de se comportar não tem
dúvidas ser o arguido AA, pessoa que viu mais tarde em algumas vigilâncias.
A inspectora MM reconhece como o condutor da carrinha BMW prateada o
arguido BB, que tinha saído da mesma feito um percurso a pé, e reconhece o arguido
AA, como o indivíduo que estava com o blusão verde, e que viu sem o capuz colocado
quando estava a fazer o percurso em diagonal entre a zona da rua das garagens e a
rua perpendicular à rua da entrada do centro comercial imediatamente antes do
início do assalto.
O inspector NN reconhece como condutor da carrinha BMW prateada o
arguido BB e como condutor do BMW série 1 preto o arguido CC. Também este
inspector reconhece como a pessoa mais alta que viu fazer o percurso de uma viatura
para a outra o arguido AA, pessoa que voltou a ver em ….
O arguido CC, negando a prática dos factos de 25 de Novembro, admite que
conduzia habitualmente a viatura BMW, série 1, preto, de matrícula 00-QG-00, o que
fez durante o ano de 2016. O arguido BB também reconhece que por vezes podia
conduzir a viatura BMW prateada de matrícula 00-PE-00, mas que a mesma não lhe
pertencia e que o fazia a pedido do dono da mesma, de nome PP, mas não se recorda
de o ter conduzido na …. Também este arguido nega a prática dos factos de 25 de
Novembro de 2016 de que é acusado.
No dia em questão foi realizada a reportagem fotográfica que consta a fls.
12/15. A fls. 16 consta uma imagem aérea do local.(…).
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14.3. Assim,
Vista a matéria factual assente e o acervo probatório produzido e examinado em
audiência de julgamento (com destaque para a prova testemunhal trazida por três
inspectores da UNCT da PJ, que se encontravam no local, a executar uma vigilância no
âmbito de outro processo) ressaltam, de forma clara, as razões pelas quais tais
testemunhas, que não conheciam, até então, nenhum dos três arguidos, lograram vir a
identifica-los e a estabelecer as suas identidades, com excepção de um quarto elemento.
Com efeito, e, em síntese, no âmbito da suprarreferida vigilância, aquelas testemunhas
encontravam-se nas proximidades do " Centro Comercial das ..." no interior de três
viaturas: o inspector-chefe da PJ- OO- que coordenava a operação e a quem eram
transmitidos, via rádio, aquilo que os demais inspectores iam visualizando. Daí que,
como minuciosamente se explicita no acórdão recorrido, o Tribunal Colectivo, em sede
de 1.ª Instância, realizou uma inspecção ao local do crime, com recolha de fotografias, o
que permitiu visualizar os concretos locais onde as três testemunhas, inspectores da PJ
se encontravam na altura dos factos estacionados, e como foi possível a cada um deles,
obter contacto visual com os comparticipantes nos factos em causa nos presentes autos.
E, não passou despercebido tanto à inspectora MM, assim como ao seu colega NN, a
chegada ao local, dos dois veículos utilizados pelos arguidos, uma carrinha cinza
prateada, da marca BMW, modelo 320, matrícula 00-PE-00, conduzida por um
indivíduo de raça …, com a “particularidade de ter o cabelo com … ” (testemunha
MM) que tendo, assim, tido a oportunidade de ver o recorrente BB, ao volante da
referida carrinha BMW, bem como, igualmente de cara destapada, viu e transcreve-se
“um rapaz de raça …, muito alto, com um …, com um casaco verde tropa, com um
carapuço em pelo revestido à volta, calças cinzentas, com umas tiras pretas, que
passou assim, como numa diagonal, ao sair das garagens para a esquina oposta, já na
Rua …”. Nas duas vezes em que o viu, esta testemunha disse que este último
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“encontrava-se de cara descoberta, sem ter o carapuço colocado na cabeça”, vindo
mais tarde a identificá-lo como sendo o co-arguido AA.
Por sua vez, a testemunha NN, (inspector da PJ), apercebeu-se que o BMW de cor cinza
prateada, modelo 320, matrícula 00-PE-00, estacionou na retaguarda da viatura onde
estava, à distância de um carro, viu o seu condutor sair da mesma, chamando-lhe a
atenção o facto de ter atravessado para o outro lado da rua, olhando para si, não tendo
fechado a viatura: “Vi-o muito bem (......) pois era de um lado para o outro da estrada.
Tinha cerca de 0,00 / 0,00m de altura, envergava um fato de treino todo cinzento e
tinha o cabelo com … ”. Era o condutor da carrinha BMW. Este, veio a ser por si
identificado, como sendo o co-arguido BB. Viu também o BMW de cor preta, Série 1,
matrícula 00-QG-00, e quando este estava a passar ao lado do veículo onde estava,
“parou uma fracção de segundo, donde conseguiu ver perfeitamente as feições do
condutor”, tendo comunicado ao piquete a matrícula do veículo, vindo aquele a ser
identificado por si, como sendo o co-arguido CC. Por seu turno, a testemunha OO, além
do mais, conseguiu ver a sair do BMW preto, dois indivíduos de raça …, um vestido
com roupa completamente preta, e outro com um casaco verde, tipo tropa, com um
capuz que não estava colocado na cabeça, com pelo à volta, que estavam a sair das
garagens, e que veio a identificar como sendo o arguido C. Tendo tentado perseguir os
dois indivíduos que fugiam correndo, ainda viu um indivíduo …, de … a conduzir um
BMW onde aqueles entraram, logrando fugir.
Sem querer aqui reproduzir o que se refere no acórdão recorrido quanto à forma como, a
partir deste primeiro momento, foi possível estabelecer a identidade de três, dos quatro
co-autores do roubo em apreço, dir-se-á simplesmente que, após este contacto inicial,
consultadas as bases de dados competentes, foi possível localizar e visualizar, de novo
os três co-arguidos, que já perfeitamente identificados, continuaram a ser alvo de
vigilâncias onde foram vistos, várias vezes. Assim, desde muito cedo, deixou de existir
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qualquer “indeterminação prévia dos agentes do crime”, pressuposto fundamental da
prova por reconhecimento e da sua necessidade.
Destarte, a confirmação “da identidade de alguém que se encontra presente, e
perfeitamente determinado, apenas poderá ser encarado como integrante do respectivo
depoimento testemunhal”6.
Vale isto, por dizer, que a valoração do declarado, em audiência, por cada uma das
testemunhas, inspectores da PJ, não ocorre, assim, num contexto de prova proibida,
antes segue as regras da prova testemunhal.
Compulsada a decisão recorrida que se transcreveu, resulta claramente que dali decorre
que no âmbito do inquérito não foi efectuado qualquer reconhecimento. Razão pela qual
entendemos que, por isso, não fará sentido falar-se na falta de observâncias das
formalidades legais relativamente a um meio de prova inexistente.
Aliás, esta questão foi bem ponderada pelo TRL quando decidiu pela não
obrigatoriedade deste meio de prova.
Não se verifica, deste modo, a arguida nulidade do acórdão recorrido por utilização de
um meio de prova proibido.
14.4. Vejamos ainda.
Resulta do disposto no artigo 147. °, que a prova por reconhecimento terá lugar quando
houver necessidade de proceder ao reconhecimento de qualquer pessoa. Tal leva-nos à
conclusão de que pressuposto da necessidade do reconhecimento, em inquérito, será a
necessidade da identificação do agente do crime, da sua determinação.
6 "Código de Processo Penal", Almedina, 2016- 2ª edição, nota 7- Acórdão do STJ, de 15 de Setembro de
2010 in fine a págs. 147.
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Tresle-se ainda da matéria de facto fixada (a qual não é objecto dos recursos em apreço)
que não se ofereceram dúvidas aos investigadores sobre a caracterização individualizada
dos autores do crime de roubo, pelo que mal se compreenderia o accionamento do artigo
147. °, que só opera quando haja necessidade de concretizar a identificação dos
reconhecidos, o que não ocorreu no presente caso. Com efeito, os elementos policiais
que acompanharam o desenrolar dos factos, vieram a observar e a identificar os ora
recorrentes nas fichas biográficas e digitais da PJ e nas vigilâncias em …, no próprio dia
da consumação dos factos relativos ao roubo.
Mas, não sendo obrigatório, no inquérito, a realização do reconhecimento pessoal, nos
termos disciplinados no artigo 147. °, como meio de obtenção de prova, haverá, no
entanto, que ponderar se a prova produzida em julgamento se mostra inquinada pela
falta de um reconhecimento, ainda que não obrigatório, e como a mesma deveria ter
sido valorada.
A questão reconduz-se em 1.º lugar à definição da prova produzida em julgamento que
identifica os arguidos como os agentes dos crimes imputados e pelos quais foram
condenados e, em 2.º lugar, ao alcance do princípio da livre apreciação da prova
consagrado no artigo 127. °, com reflexo na apreciação dos depoimentos produzidos,
nomeadamente, daqueles que sustentaram a imputação subjectiva dos crimes aos
recorrentes.
Relativamente à 1.ª questão, repete-se o que já se disse, que o depoimento prestado
pelas testemunhas em julgamento não consubstancia prova por reconhecimento não se
lhe aplicando as regras do artigo 147. º, mas sim, as regras da prova testemunhal.
A prova testemunhal e a prova por reconhecimento não são confundíveis. A 1.ª
pressupõe depoimentos prestados nos termos do disposto no artigo 348.º, os quais
digam-se, desde já, são livremente apreciados pelo tribunal; a 2.ª pressupõe a
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indeterminação do agente do crime e obedece aos requisitos impostos pelo já citado
artigo 147.º.
Relativamente à 2.ª questão, acresce que em sede de audiência do julgamento rege o
princípio da publicidade e do contraditório e os depoimentos prestados são livremente
apreciados pelo tribunal. Vale aqui o princípio consagrado no artigo 127. °- livre
apreciação da prova-, o qual enforma, na vertente probatória, o nosso direito processual
penal.
Na verdade, sabendo-se que as testemunhas inquiridas não realizaram antes do
julgamento qualquer reconhecimento (formalmente falando), a confirmação da
identificação dos arguidos, como os agentes dos crimes, que visualizaram na audiência
de discussão e julgamento, não constitui um "reconhecimento" em sentido próprio, mas
antes um reconhecimento atípico ou informal, uma mera identificação dos arguidos que
se insere no depoimento da testemunha e segue o regime estabelecido no Código de
Processo Penal, para esse depoimento, podendo, por isso, ser valorado de acordo com o
princípio da livre apreciação da prova, estabelecido no atrás referido artigo 127.°. Trata-
se, ao fim ao cabo, de prova por depoimento, ou seja, de prova testemunhal 7.
Resumindo, no que concerne à questão do reconhecimento, o Acórdão recorrido (do
TRL) interpretou e aplicou adequadamente a lei, não merecendo qualquer censura.
Improcedem, pois, as questões, a este propósito, suscitadas pelos recorrentes, ou sejam,
a invalidade do reconhecimento dos arguidos, tal qual foi efectuada nos autos, o que
acarreteria no entender dos arguidos, a nulidade do acórdão recorrido, o qual se
socorreu dos princípios da livre apreciação da prova, da convicção do juiz e das regras
da experiência comum, e deu credibilidade a prova proibida e ilegal, ferida de nulidade,
e com base nela condenou os recorrentes.
7 Acórdão do Tribunal da Relação de Évora, de 21.05.2013, relatado pela Desembargadora Ana Barata de
Brito, no processo 934/10.4PBSTR.E1, disponível em www.dgsi.pt
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14.5. Reage ainda o recorrente AA na sua resposta apresentada neste STJ, ao abrigo do
n.º 2, do artigo 417.º, claramente pondo em causa a matéria factual já assente em 2.ª
Instância quanto à forma como as testemunhas, inspectores da PJ, tiveram
conhecimento das identidades dos arguidos, não do recorrente, por aqueles terem as
viaturas registadas em seu nome, ou seja, através dos registos automóveis e este último
não, por não ter em seu nome qualquer viatura.
Recordemos o seguinte: como atrás se disse, a nulidade que invoca, confundindo prova
por reconhecimento com prova testemunhal, é por demais evidente que não se verifica.
Nos termos do artigo 434. °, os recursos para este STJ visam exclusivamente questões
de direito, sem prejuízo da detecção de vícios decisórios ao nível da matéria de facto
emergentes da simples leitura do texto da decisão recorrida, por si só, ou conjugada com
as regras da experiência comum, referidos no artigo 410. °, n.° 2, e/ou nulidade da
decisão, nos termos do artigo 379. °, n.°2 - cfr. artigo 410.º, n.°3.
Visando o recurso matéria de direito, como se disse, haverá lugar a conhecimento
oficioso dos vícios previstos na aludida disposição legal porquanto a decisão não deverá
apoiar-se em matéria de facto claramente insuficiente ou fundada em erro ou em
premissas contraditórias.
Por isso, quando por força da existência de qualquer dos vícios elencados no artigo 410.
°, n.°2, o STJ não "reaprecia" a matéria de facto, limitando-se a declarar a existência do
vício e a determinar o reenvio do processo para novo julgamento.
O que, como se viu, não se verifica.
Tal está sobejamente demonstrado no Acórdão e na sua fundamentação.
14.6. Também a invocação por parte deste arguido AA de que o TRL omitiu pronúncia
por não ter abordado a questão da legalidade e, até, sobre a questão da
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constitucionalidade do reconhecimento, improcede. Com efeito, tendo o tribunal a quo
considerado, e bem, que reconhecimento algum tinha sido levado a cabo nos autos e que
este era, pois, inexistente, prejudicadas ficaram, assim, as questões suscitadas pela
defesa, neste particular. Dito de outro modo, não poderia o tribunal ter decidido da
legalidade e da constitucionalidade suscitada relativamente a uma norma que
disciplina um meio de obtenção de prova que considerou inexistente.
Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do acórdão recorrido,
por omissão de pronúncia.
E posta a questão de nulidade do Acórdão pelo recorrente AA, já não quanto aquilo que
considera como prova proibida, mas quanto ao facto de o TRL não se ter pronunciado
pela insconstitucionalidade que invocou nas suas alegações de recurso para aquele
Tribunal, entendemos que independentemente de o TRL ao ter considerado que a prova
era testemunhal, e não prova por reconhecimento, certamente afastou qualquer
insconstitucionalidade da norma, ainda que implicitamente. Tal questão não se lhe
colocava.
O recorrente AA vem arguir, a este propósito, a nulidade do acórdão proferido pelo
TRL, invocando para tal, omissão de pronúncia, nos termos que melhor constam das
conclusões de recurso sob as letras A a K e convocando o disposto no artigo 379°, n°l,
alínea c), aplicável ex vi artigo 425°, n°4, por violar os princípios do contraditório e da
defesa impostos pelo artigo 32º, n.ºs 1, 5 e 7 da CRP, inconstitucionalidade esta que
arguiu.
Ora, dispõe o artigo 379°, n.° l, alínea c), que é nula a sentença e cita-se (...) quando o
tribunal deixe de pronunciar-se sobre questões que devesse apreciar ou conheça de
questões de que não poderia tomar conhecimento. (…).
Como é jurisprudência pacífica do STJ (cfr., por todos, Ac. do STJ de 03-07-2008,
processo 08P1312, disponível em www.dgsi.pt), a omissão de pronúncia só se verifica
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quando o juiz deixa de pronunciar-se sobre questões que lhe foram submetidas pelas
partes ou de que deve conhecer oficiosamente, entendendo-se por questões, os
problemas concretos a decidir e não os simples argumentos, opiniões ou doutrinas
expendidas pelas partes na defesa das teses em presença. Ou dito por outra forma,
quando o tribunal não se tiver pronunciado sobre uma questão de que devesse tratar no
percurso lógico que conduziu à solução adoptada.
Ora, a invocação de que o TRL omitiu pronúncia porque não se pronunciou sobre a
questão da legalidade e, até, sobre a questão da constitucionalidade do reconhecimento,
improcede. Com efeito, tendo o tribunal a quo considerado que reconhecimento algum
tinha sido levado a cabo nos autos e que este era, pois, inexistente, prejudicadas ficaram,
assim, as questões suscitadas pela defesa, neste particular. Dito de outro modo, não
poderia o tribunal ter decidido da legalidade e da constitucionalidade suscitada
relativamente a uma norma que disciplina um meio de obtenção de prova que
considerou inexistente.
Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do douto acórdão
recorrido, por omissão de pronúncia sobre a questão da inconstitucionalidade que
arguiu.
Mas, constituindo esta alegação matéria de direito e estando esta no âmbito dos poderes
de cognição deste STJ, é admissível o seu suprimento por este Tribunal, nos termos do
artigo 379.º, n.º 2.
Pelas razões já sobejamente descritas no ponto 14.4 deste acórdão, para onde se remete,
ao depoimento prestado pelas testemunhas em julgamento, aplicam-se as regras da
prova testemunhal, sendo aquele depoimento livremente apreciado pelo tribunal; em
sede de audiência de julgamento rege o princípio da publicidade e do contraditório,
valendo o princípio consagrado no artigo 127. °.
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Por todas estas razões, improcede a alegação de insconstitucionalidade arguida pelo
arguido AA.
14.7. Alega ainda o arguido AA que o acórdão do TRL não analisou qualquer dos
fundamentos constantes da resposta ao Ministério Público que apresentou, pelo que o
mesmo está ferido de nulidade prevista no artigo 379.º, nº 1, c), pois o TRL estava
adstrito a pronunciar-se sobre as questões constantes tanto do recurso, quanto da
resposta elaborada nos termos do 417.º, nº 2.
Compulsados os autos, destaca-se o seguinte:
• O acórdão proferido em sede de 1.ª instância foi proferido a 30.11.2018 (fls.
3857 a 3894 v);
• Dele vieram recorrer os três arguidos, nomeadamente o AA (fls. 3898v a 3928;
• Os recursos foram admitidos (fls. 3970);
• A magistrada do Ministério Público veio apresentar a sua resposta aos recursos
(fls. 3980 a 3991);
• Foi proferido despacho judicial a ordenar a notificação da defesa do teor destas
contra-alegações (fls. 3992);
• Foram os autos remetidos ao TRL (fls. 3993);
• Foi apresentado Parecer, nos termos do disposto no artigo 416.º (fls. 3995 a
4002);
• Foi o mandatário deste recorrente (e dos outros recorrentes) notificado nos
termos do disposto no n.º 2, do artigo 417.º (fls. 4003, remetido em 26.02.2019),
para responder, querendo, no prazo de 10 dias, contando-se o prazo nos termos
do disposto do artigo 113.º;
• Foram solicitadas, a 25/03/2019, peças processuais ao tribunal de 1. ª instância
(fls. 4007), que as remeteu, encontrando-se juntas de fls. 4009 a 4028;
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• Os autos foram remetidos para conferência que se realizou a 9.04.2019, tendo o
acórdão sido publicado nesse mesmo dia e notificado pela via legal aos
recorrentes;
• Foram interpostos os recursos agora em apreciação.
Feita uma consulta ao sistema citius, nada consta quanto ao registo de entrada de uma
resposta nos termos postos pelo recorrente.
Deste modo, a matéria constante das conclusões de recurso correspondentes as letras A)
a H) não procede, pois como atrás se disse, o Tribunal pronunciou-se sobre os
documentos que estavam no processo, e como se viu aqueles que o recorrente alega ter
juntado não estão, nem nunca estiveram juntos aos autos.
Falece, assim, razão a este recorrente quanto à invocada nulidade do acórdão recorrido,
por omissão de pronúncia.
15. Da medida das penas.
Como se disse no ponto 11. deste Acórdão, é da competência deste STJ, o reexame das
penas únicas e ainda das penas parcelares decretadas pela comissão do crime de roubo
agravado, aos co-arguidos CC e BB.
Tais penas foram examinadas pelo TRL que, de resto, como se vem supra de consignar
as confirmou (dupla conforme perfeita) pelo que este Tribunal, apenas decidirá sobre a
aferição da correcção das operações de determinação da pena única e da referida pena
aplicada pelo crime de roubo, que foram confirmadas pelo TRL e fixadas em medida
superior a 8 anos de prisão.
Vejamos.
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15.1.
A determinação da pena é realizada em função da culpa e das exigências de prevenção
geral de integração e da prevenção especial de socialização, de harmonia com o disposto
nos artigos 40.º e 71.º do CP, devendo, em cada caso concreto, corresponder às
necessidades de tutela do bem jurídico em causa e às exigências sociais decorrentes da
lesão praticada, sem esquecer que deve ser preservada a dignidade humana do
delinquente.
Para que se possa determinar o substrato da medida concreta da pena, dever-se-ão ter
em conta todas as circunstâncias que depuserem a favor ou contra o arguido,
nomeadamente, os factores de determinação da pena elencados no n.º 2, do artigo 71.º,
do CP. Nesta valoração, o julgador não poderá utilizar as circunstâncias que já tenham
sido utilizadas pelo legislador aquando da construção do tipo legal de crime, e que tenha
tido em consideração na construção da moldura abstrata da pena (assegurando o
cumprimento do princípio da proibição da dupla valoração).
Por seu turno, o artigo 40.º, n.º 1 estabelece que “a aplicação de penas visa a protecção
de bens jurídicos e a reintegração do agente na sociedade” e, no n.º 2, que “em caso
algum a pena pode ultrapassar a medida da culpa”.
Assim, a finalidade primária da pena é a de tutela de bens jurídicos e, na medida do
possível, de reinserção do agente na comunidade. À culpa cabe a função de estabelecer
um limite que não pode ser ultrapassado.
Na lição de Figueiredo Dias, a aplicação de uma pena visa acima de tudo o
“restabelecimento da paz jurídica abalada pelo crime”. Uma tal finalidade identifica-se
com a ideia da “prevenção geral positiva ou de integração” e dá “conteúdo ao princípio
da necessidade da pena que o artigo 18.º, nº 2, da CRP consagra de forma
paradigmática”.
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Há uma “medida óptima de tutela dos bens jurídicos e das expectativas comunitárias
que a pena se deve propor alcançar”, mas que não fornece ao juiz um quantum exacto
de pena, pois “abaixo desse ponto óptimo ideal outros existirão em que aquela tutela é
ainda efectiva e consistente e onde, portanto a pena concreta aplicada se pode ainda
situar sem perda da sua função primordial”.
Dentro desta moldura de prevenção geral, ou seja, “entre o ponto óptimo e o ponto
ainda comunitariamente suportável de medida da tutela dos bens jurídicos (ou de
defesa do ordenamento jurídico)” actuam considerações de prevenção especial, que, em
última instância, determinam a medida da pena. A medida da “necessidade de
socialização do agente é, em princípio, o critério decisivo das exigências de prevenção
especial”, mas, se o agente não se “revelar carente de socialização”, tudo se resumirá,
em termos de prevenção especial, em “conferir à pena uma função de suficiente
advertência” (Direito Penal, Parte Geral, Tomo I, 2007, páginas 79 a 82).
Após estas brevíssimas considerações, vejamos cada caso em concreto.
15.2.
O recorrente BB, foi condenado pela prática, como co- autor material, de um crime de
roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo 204.°, n° 2,
alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; pela prática, em autoria
material, de um crime de tráfico de estupefacientes, p. e p. pelo artigo 21.°, n° 1, do
Decreto-Lei n° 15/93, de 22/01, por referência às tabelas anexas I-B e I-C, na pena de 5
anos de prisão; pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma
proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2,
alíneas g), 1) e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de 1
ano e 4 meses de prisão.
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Após cúmulo jurídico, foi aplicada ao arguido BB a pena única de 10 anos e 6 meses
de prisão.
Entende o recorrente que foram violados os artigos 40.º e 71.º do CP, porquanto a
medida da culpa excede a medida da pena, devendo ser condenado nos seguintes
termos:
- pelos crimes de tráfico de droga e de roubo, nas penas de 4 anos de prisão e 5
anos e 6 meses de prisão, respectivamente e em cúmulo jurídico, na pena única de 6
anos e 10 meses de prisão;
-pela prática, em autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e
p. pelos artigos 2. °, n.ºs 1, alíneas p), q) e x) e 3, alínea p), 3.°, n.ºs 1 e 2, alíneas g), 1)
e q) e 4 e 86.°, n.° 1, alínea c), da Lei n.° 5/2006, de 23/02, na pena de multa.
Como sobejamente já se disse, apenas procederemos ao reexame das penas únicas e da
pena parcelar decretada pela comissão do crime de roubo agravado.
Recorde-se o que a respeito deste arguido diz o acórdão recorrido, sendo certo que neste
plano, ademais do passo em que se não vê materialmente contraditado, não pode senão
avocar-se, reiterando-o, sentido da decisão levada em 1.ª instância com o sufrágio do
Tribunal da Relação de Lisboa:
(…) - O grau de ilicitude dos factos e o modo de execução dos mesmos:
No que respeita ao crime de roubo (todos os arguidos) teremos que o mesmo teve na
sua execução um cuidado planeamento, com intervenção de quatro pessoas, e tendo
um deles na sua posse algo que parecia uma arma de fogo, não se tratando de um
crime de oportunidade, a acrescer a isso teremos que o porta valores foi fisicamente
agredido de forma a que lhe resultaram lesões que determinaram 10 dias de doença.
A ilicitude do comportamento é elevada e de intensidade também já elevada.
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- A gravidade e consequências da conduta dos arguidos:
No que respeita ao crime de roubo (todos os arguidos) não só o porta valores DD
ficará marcada psicologicamente com a experiência por que passou, como em termos
sociais houve uma maior insegurança na zona. O valor subtraído não foi recuperado.
- A intensidade do dolo:
Os arguidos actuaram em todas as circunstâncias com dolo, sabendo da ilicitude
da sua conduta e pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se
necessário com violência. Desta maneira quiseram, e conseguiram, fazer seus os
64.000,00 euros. Os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins ou
motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação económica
- os arguidos à data não tinham modo de vida conhecido, pretendendo quanto ao
crime de roubo melhorar a sua situação económica .
As necessidades de prevenção geral são elevadas para todos os crimes, atenta a
quantidade de idênticos factos que são praticados desta forma.
E são igualmente elevadas as necessidades de prevenção especial, mais
concretamente:
O arguido BB tem três condenações anteriores, sendo as mais relevantes aquela a
que foi condenado em 2007, por factos de 2005, tendo-lhe sido aplicada uma pena
única de 6 anos e 9 meses de prisão pela prática de doze crimes de roubo, em 2007
foi-lhe aplicada uma pena de 12 meses de prisão, cuja execução ficou suspensa pela
prática de um crime de roubo. O arguido apenas teve a sua liberdade definitiva em
31/07/2015, sendo que pouco mais de um ano depois estava a reincidir no mesmo
tipo de comportamentos.
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5.ª Secção Criminal
Proc. n.º 129 / 16. 3JBLSB.L1. S1
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O arguido residia com a companheira e … menores, … deles filho do casal, tendo
ainda o arguido mais 0 filhos fruto de outros relacionamentos.
O arguido possui competências pessoais e sociais, nomeadamente ao nível da
comunicação interpessoal, com um estilo assertivo e educado, da descentração,
reconhecendo a existência de pontos de vista diferentes do seu, e do pensamento
consequencial.
Todos os arguidos já estiveram reclusos pela prática do crime de roubo, em penas de
prisão longas, e tinham terminado o cumprimento de tais penas há menos de 3 anos
em qualquer dos casos. Há ainda que ter em atenção o alto valor subtraído, a
violência do comportamento e a organização do mesmo, bem como o perigo de
retorno ao mesmo tipo de comportamento por parte dos arguidos, pelo que se entende
proporcional e adequada aos factos referentes ao crime de roubo a aplicação da pena
de 8 anos e 6 meses de prisão a cada um dos mesmos.
Face ao que supra ficou transcrito, é patente que a decisão revidenda levou em linha
de conta e de forma correcta, os factores relevantes para a determinação concreta das
penas parcelares, nos termos estabelecidos no artigo 71°, n.ºs 1 e 2, do CP.
Diz-nos o recorrente que "a medida da pena excede a medida da sua culpa, porquanto
das movimentações descritas estamos perante um mero condutor de uma viatura".
Olvida, porém, que foi acusado e considerado foi também pela 1.ª instância que a sua
comparticipação no crime de roubo revestiu a forma de co-autoria, como plasmado se
encontra no acórdão recorrido, onde se pode ler: Assim, e atento o supra exposto
entende-se que se mostram preenchidos os elementos objectivos e subjectivos de um
crime de roubo, pelo que terão os arguidos de ser condenados pela prática, em co-
autoria material, de um crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210.°, n.° 1, e 2, alínea b),
por referência ao artigo 204.°, n.° 2, alínea a), do Código Penal.
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Ora, o arguido BB foi o condutor do veículo que proporcionou a saída do local (a
fuga) aos agentes que interceptaram o porta-valores da "ESEGUR" (o arguido AA e
um outro indivíduo não identificado) e lhe retiraram, com utilização de violência
física, a quantia monetária que transportava. Essa era a tarefa que lhe estava
atribuída conforme o plano previamente estabelecido e, na economia da actuação,
apresenta-se tão relevante a sua actuação como a dos outros intervenientes.
Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem fortíssima intensidade, tendo em
atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo e o elevado alarme social
que cada vez mais este tipo de criminalidade suscita no seio da comunidade, criando
nos seus membros forte sentimento de insegurança, potenciando a perda de confiança
dos cidadãos no próprio Estado como principal regulador da paz social, impondo-se,
por isso, o reforço da validade da norma violada.
As exigências de prevenção especial assumem igualmente forte relevância,
considerando as condenações averbadas à data da prática dos factos (entre o mais,
pela prática de treze crimes de roubo, sendo onze deles qualificados), o benefício de
liberdade condicional, com extinção da pena em 30/09/2015 (que não cumpriu o
escopo de o determinar a enveredar pela abstenção do cometimento de crimes) e a
ausência de qualquer sentido crítico relativamente ao desvalor do seu comportamento
delituoso (da confissão relativa aos crimes de tráfico de estupefacientes e detenção de
arma proibida, só por si, não se extrai a conclusão pela interiorização do mal dos
comportamentos criminosos) não havendo dúvidas de que o arguido carece de
socialização, com necessidade de fidelização ao Direito, tendo-se em vista a prevenção
da prática de futuros crimes, mas importando também considerar a contribuição da
pena para a sua reinserção social.
Pelo exposto, efectuado juízo de ponderação sobre a culpa, como medida superior da
pena e considerando as exigências de prevenção e as demais circunstâncias previstas
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no artigo 71°, do Código Penal, não se mostra que as penas de 8 anos e 6 meses de
prisão, 5 anos de prisão e 1 ano e 4 meses de prisão em que foi condenado, extravasem
a medida da respectiva culpa e também não ultrapassam os limites dentro dos quais a
justiça relativa havia de ser encontrada, mostrando-se adequadas e
proporcionais.(…).
Apreciemos.
Da leitura do acórdão recorrido verifica-se que foram consideradas para a determinação
das penas concretas, todas as circunstâncias relevantes, quanto ao grau de ilicitude dos
factos e o modo de execução dos mesmos, quanto à gravidade e consequências da
conduta do arguido e a intensidade do dolo. Foram ainda ponderadas as necessidades
de prevenção geral e de prevenção especial.
De onde resulta que:
A ilicitude do comportamento do ora recorrente é elevada, sendo de intensidade
também elevada: a ilicitude da conduta do arguido é referenciada pelo modo e
circunstâncias da execução, tendo o arguido actuado (com os seus co-arguidos) em
todas as circunstâncias com dolo directo, sabendo da ilicitude da sua conduta e
pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se necessário com violência.
Desta maneira quis, e conseguiu fazer seus (em co-autoria) os 64.000,00 euros.
Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem uma intensidade muito robusta,
tendo em atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo8 e o elevado
alarme social que cada vez mais este tipo de criminalidade causa no seio da
8 Relembre-se que o crime de roubo é um delito pluriofensivo pois acautelam-se com a incriminação
valores tão díspares como o património, a integridade física, a vida humana e, até, a própria liberdade de
movimentos, sendo a agravação em relação ao furto determinada pela componente pessoal do crime, pois
quer a subtracção quer o constrangimento à entrega de coisa móvel devem ser praticados pela forma
taxativamente descrita no tipo legal do artigo 210.º, n.º 1, do CP : por meio de violência, ameaça à
integridade física ou colocação da vítima na impossibilidade de resistir.
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comunidade, contribuindo para os cidadãos um forte sentimento de insegurança,
impondo-se, por isso, o reforço da validade da norma violada.
As exigências de prevenção especial assumem igualmente forte relevância,
considerando quanto ao arguido as condenações averbadas à data da prática dos factos
(entre o mais, pela prática de treze crimes de roubo, sendo onze deles qualificados9), o
benefício de liberdade condicional, com extinção da pena em 30/09/2015 (que não
cumpriu o escopo de o determinar a enveredar pela abstenção do cometimento de
crimes) e a ausência de qualquer sentido crítico relativamente ao desvalor do seu
comportamento delituoso. Ou seja dizer que as penas de prisão que cumpriu não
serviram de suficiente factor dissuasor.
Assim, realçam-se os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins
ou motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação
económica, não tendo modo de vida conhecido, pretendendo com a prática do crime de
roubo melhorar a sua situação económica .
Não se mostram,pois, preenchidas, neste momento,as condições necessárias para se crer
que o arguido evitará a prática de futuros crimes, sendo necessário, assim, considerar
que a aplicação de uma pena e o seu cumprimento só poderá contribuir para a sua
reinserção social.
Ao crime de roubo corresponde pena de prisão de 3 a 15 anos, nos termos previstos
pelos artigos 210.º, n.°s 1, e 2, alínea b) com referência ao artigo 204.º, n.°2, alínea f) e
n.°4 do CP
9 Eventualmente poderia estar aqui em causa um problema de reincidência que, todavia, não consta nem
da acusação, nem da condenação, pelo que, em respeito pelo princípio da proibição da reformatio in
pejus, não vamos de ele cuidar.
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Dado o contexto abundantemente supra descrito, entendemos que perante os factores
relativos à medida da pena parcelar se mostra adequada, proporcional e justa aplicar a
pena de 8 anos de prisão, situando-se assim ligeiramente acima do ponto
intermédio da moldura penal, não excedendo a medida permitida pela culpa, nem a
medida necessária à satisfação das finalidades da punição, respeitando, deste modo, o
limite inultrapassável da culpa e respondendo equilibradamente às assinaláveis
exigências de prevenção que se fazem sentir.
Procede, deste modo, ainda que parcialmente a pretensão do recorrente.
Em sequência e em vista da jurisprudência fixada no acórdão, do Supremo Tribunal de
Justiça (FJ), n.º 4/2016, cumpre operar novo cúmulo jurídico desta pena parcelar, de 8
anos de prisão com aquelas de 5 anos de prisão e de 1 ano e 4 meses de prisão.
Vejamos.
Nos termos do disposto no artigo 77.º n.º 2, do CP, a moldura abstracta da pena unitária
aplicável situa-se entre os 8 anos de prisão a 14 anos e 4 meses de prisão.
O artigo 77.º n.º 1, do CP, ao estabelecer as regras da punição do concurso, dispõe:
“Quando alguém tiver praticado vários crimes antes de transitar em julgado a
condenação por qualquer deles é condenado numa única pena. Na medida da pena são
considerados, em conjunto, os factos e a personalidade do agente.”
Não tendo o legislador nacional optado pelo sistema de acumulação material (soma das
penas com mera limitação do limite máximo) nem pelo da exasperação ou agravação da
pena mais grave (elevação da pena mais grave, através da avaliação conjunta da pessoa
do agente e dos singulares factos puníveis, elevação que não pode atingir a soma das
penas singulares nem o limite absoluto legalmente fixado), é forçoso concluir que, com
a fixação da pena conjunta, se pretende sancionar o agente, não só pelos factos
individualmente considerados, mas também e especialmente pelo respectivo conjunto, e
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não como mero somatório de factos criminosos, mas enquanto revelador da dimensão e
gravidade global do comportamento delituoso do agente, visto que a lei manda se
considere e pondere, em conjunto (e não unitariamente), os factos e a personalidade do
agente (para dizer com o Professor Jorge de Figueiredo Dias, in Direito Penal
Português – As Consequências Jurídicas do Crime, pp. 290-292), como se o
conjunto dos factos fornecesse a gravidade do ilícito global perpetrado.
O todo não equivale à mera soma das partes e, além disso, os mesmos tipos legais de
crime são passíveis de relações existenciais diversíssimas, a reclamar uma valoração
que não se repete, de caso para caso.
A este novo ilícito corresponderá uma nova culpa (que continuará a ser culpa pelo facto)
mas, agora, culpa pelos factos em relação.
Afinal, a valoração conjunta dos factos e da personalidade, a que se refere a 2.ª parte do
n.º 1 do artigo 77.º, do CP.
Será, assim, o conjunto dos factos que fornece a gravidade do ilícito global perpetrado,
sendo decisiva para a sua avaliação a conexão e o tipo de conexão que entre os factos
concorrentes se verifique.
Na avaliação da personalidade – unitária – do agente relevará, sobretudo, a questão de
saber se o conjunto dos factos é reconduzível a uma tendência (ou eventualmente
mesmo a uma carreira) criminosa, ou tão-só a uma pluriocasionalidade que não radica
na personalidade: só no primeiro caso, não já no segundo, será cabido atribuir à
pluralidade de crimes um efeito agravante dentro da moldura penal conjunta.
Releva também a análise do efeito previsível da pena sobre o comportamento futuro do
agente (exigências de prevenção especial de socialização).
Um dos critérios fundamentais em sede deste sentido de culpa, numa perspectiva global
dos factos, é o da determinação da intensidade da ofensa e dimensão do bem jurídico
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ofendido, sendo certo que assume significado profundamente diferente a violação
repetida de bens jurídicos ligados à dimensão pessoal, em relação a bens patrimoniais.
Por outro lado, importa determinar os motivos e objectivos do agente no denominador
comum dos actos ilícitos praticados e, eventualmente, dos estados de dependência, bem
como a tendência para a actividade criminosa expressa pelo número de infracções, pela
sua permanência no tempo, pela dependência de vida em relação àquela actividade.
Na avaliação da personalidade expressa nos factos é todo um processo de socialização e
de inserção, ou de repúdio pelas normas de identificação social e de vivência em
comunidade, que deve ser ponderado.
O concurso de crimes tanto pode decorrer de factos praticados na mesma ocasião, como
de factos perpetrados em momentos distintos, temporalmente próximos ou distantes.
Por outro lado, o concurso tanto pode ser constituído pela repetição do mesmo crime,
como pelo cometimento de crimes da mais diversa natureza. Por outro lado, ainda, o
concurso tanto pode ser formado por um número reduzido de crimes, como pode
englobar inúmeros crimes.
Cabe ainda salientar, o que se diz no acórdão revidendo:
“Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, entendida como juízo de desvalor da ordem
jurídica sobre um comportamento, por este lesar e pôr em perigo bens jurídico-criminais,
estamos face a crimes de roubo (que tutela o direito de propriedade e de detenção de
coisas móveis, a liberdade de decisão e acção e a integridade física), tráfico de
estupefacientes (em que os bens jurídicos protegidos são a protecção da saúde
individual e a liberdade individual do consumidor, no plano do interesse particular da
sua prática. Já no aspecto público, o tráfico de estupefacientes repercute-se na
economia do Estado, na medida em que propicia economias paralelas, representando
um negócio temível e comunitariamente repugnante, fundamentalmente pela
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devastação física e psíquica do consumidor, e com particular afectação das camadas
mais jovens do tecido social e na maior parte dos casos, a desgraça total do seu
agregado familiar, censurável em alto grau no plano ético-jurídico, pelos custos
sociais a que conduz, relacionados com o absentismo laboral, contracção de doenças
transmissíveis e destruição progressiva da pessoa humana, como se salienta no Ac. do
STJ de 09/12/2010, Proc. n° 59/07.0PEBRG.S2, disponível no referenciado sítio) e
detenção de arma proibida (em que se protegem primacialmente a ordem, a
segurança e a tranquilidade públicas, mas também a vida, a integridade física e bens
patrimoniais dos membros da comunidade, face aos riscos sérios que derivam da livre
— quer dizer, sem controlo — circulação e detenção, porte e uso de armas) sendo
que, por se não verificar identidade dos bens jurídicos violados, se tem de considerar
como significativa.
O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo (a mais grave) e de
grau intenso.
No que concerne à personalidade do recorrente, importa considerar a existência de
várias condenações penais anteriores, incluindo treze crimes de roubo qualificado, o
benefício de uma liberdade condicional, a postura acrítica face aos crimes cometidos,
assim como o que provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta
ser o ilícito global agora em apreciação determinado já por alguma propensão ou
tendência criminosa.
As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, conforme já explicitado.
(…).
Ponderados aqueles factores e, afigura-se que, na ponderação conjunta dos factos e da
personalidade do arguido recorrente, a pena única de 10 anos de prisão se concretiza
em medida adequada e proporcionada às circunstâncias de facto apuradas.
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Tendo sido dado parcial provimento ao recurso do arguido, não é pelo mesmo, devida
taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1).
15.3. O arguido CC entende que foram violados os artigos 40.º e 71.º do CP, porquanto
a medida da sua culpa excede a medida da pena.
Recorde-se que este arguido foi condenado pela prática, como co- autor material, de um
crime de roubo, p. e p. pelo artigo 210. °, n.ºs 1 e 2, alínea b), por referência ao artigo
204.°, n° 2, alínea a), do CP, na pena de 8 anos e 6 meses de prisão; e pela prática, em
autoria material, de um crime de detenção de arma proibida, p. e p. pelos artigos 2.°, n.°
3, alínea p) e 86.°, n.° 1, alínea d), da Lei n° 5/2006, de 23/02, na pena de 4 meses de
prisão; após cúmulo jurídico, foi condenado na pena única de 8 anos e 8 meses de
prisão.
Entende o recorrente que a pena deve ser reduzida para 5 anos de prisão pela prática do
crime de roubo e numa pena de multa pela prática do crime de detenção de arma
proibida.
Vale para este recorrente tudo o que se afirmou relativamente ao seu co-arguido BB, no
tocante às finalidades da punição, nos termos do artigo 40°, n° 1, do CP.
Recordemos no que a este recorrente se diz no acórdão revidendo:
(…) “ No que diz respeito à determinação das penas concretas, ponderou o julgador
da 1.ª instância as circunstâncias já enunciadas também quanto ao arguido BB, que
nos dispensamos de repetir, por se mostrar acto inútil e, por isso, vedado e ainda que:
O arguido CC tem já duas condenações anteriores, ambas em 2008, sendo que a
primeira pela prática de um crime de ofensa à integridade física qualificada, punida
com pena de multa, e a segunda pela prática de dois crime de roubo e um crime de
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detenção de arma proibida, na pena única de 8 anos e 6 meses, sendo que foi libertado
em 30/12/2012 com liberdade condicional que terminou em 15/12/2015, tendo poucos
meses depois voltado a reincidir no mesmo tipo de comportamentos que determinaram
a sua reclusão.
O arguido residia com a companheira e … filhos comuns, sendo que tem um outro
filho que reside com a mãe. O arguido tem capacidades cognitivas e autonomia
pessoal para fazer as opções de vida que entende como adequadas e vantajosas para
si, recurso que lhe permitem utilizar um discurso consonante com a adequação social,
e tem mantido em contexto institucional uma postura correcta e colaborante.
Assim, também no que concerne a este recorrente a decisão recorrida teve em
consideração e de forma correcta, os factores relevantes para a determinação
concreta das penas parcelares, nos termos estabelecidos no artigo 71°, n°s 1 e 2, do
Código Penal.
À semelhança do arguido BB, também o recorrente CC vem aduzir que a sua
intervenção foi apenas o de "condutor de uma viatura", de onde resultaria uma
diminuição da sua culpa.
A verdade é que foi ele o condutor de um dos veículos intervenientes na acção que
culminou com o ataque ao porta-valores e subtracção da quantia de 64.000,00 euros
que transportava, o que fez porque foi essa a função que lhe foi atribuída no plano
previamente estabelecido, sendo que foi ele o condutor da viatura onde se fizeram
transportar AA e o indivíduo de identidade desconhecida nos momentos
imediatamente anteriores à intercepção do porta-valores, pelo que não se vê que
ocorra qualquer diminuição da respectiva culpa.” (…).
Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, já vimos quais os bens jurídicos em causa,
que são essenciais para a vida em sociedade e, porque se não verifica a sua identidade,
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é ela significativa: a ilicitude do comportamento do ora recorrente é elevada, sendo de
intensidade também elevada: a ilicitude da conduta do arguido é referenciada pelo
modo e circunstâncias da execução, tendo o arguido actuado (com os seus co-
arguidos) em todas as circunstâncias com dolo directo, sabendo da ilicitude da sua
conduta e pretendendo fazer seus os bens e valores de terceiros, se necessário com
violência. Desta maneira quis, e conseguiu fazer seus (em co-autoria) os 64.000,00
euros.
O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.
Ao nível da prevenção geral, as exigências assumem uma intensidade muito robusta,
tendo em atenção a frequência com que é praticado o crime de roubo e o elevado
alarme social que cada vez mais este tipo de criminalidade causa no seio da
comunidade, contribuindo para os cidadãos um forte sentimento de insegurança,
impondo-se, por isso, o reforço da validade da norma violada.O recorrente agiu sempre
com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.
Quanto à sua personalidade, cumpre atender a que foi já condenado anteriormente (por
decisões transitadas em julgado em 11/06/2008 e 30/03/2009) pela prática dois crimes
de roubo, um de detenção de arma proibida e outro de ofensa à integridade física
qualificada, tendo-lhe sido concedida liberdade condicional até 15/12/2015, o que não
evitou a prática dos factos destes autos em Novembro de 2016 e 24 de Outubro de
2017), à não demonstração de interiorização das condutas delituosas, assim como o que
provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta ser o ilícito global
agora em apreciação determinado já por alguma propensão para a adopção de condutas
delituosas. Ou seja dizer que as penas de prisão que cumpriu não serviram de suficiente
factor dissuasor.
As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, como se vê.
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Assim, realçam-se os sentimentos manifestados no cometimento dos crimes e os fins
ou motivos determinantes e as condições pessoais do arguido e a sua situação
económica, não tendo modo de vida conhecido, pretendendo com a prática do crime de
roubo melhorar a sua situação económica .
Não se mostram,pois, preenchidas, neste momento,as condições necessárias para se crer
que o arguido evitará a prática de futuros crimes, sendo necessário, assim, considerar
que a aplicação de uma pena e o seu cumprimento só poderá contribuir para a sua
reinserção social.
Ao crime de roubo corresponde pena de prisão de 3 a 15 anos, nos termos previstos
pelos artigos 210.º, n.°s 1, e 2, alínea b) com referência ao artigo 204.º, n.°2, alínea f) e
n.°4 do CP
Dado o contexto abundantemente supra descrito, entendemos que perante os factores
relativos à medida da pena parcelar se mostra adequada, proporcional e justa aplicar a
pena de 8 anos de prisão, situando-se assim ligeiramente acima do ponto
intermédio da moldura penal, não excedendo a medida permitida pela culpa, nem a
medida necessária à satisfação das finalidades da punição, respeitando, deste modo, o
limite inultrapassável da culpa e respondendo equilibradamente às assinaláveis
exigências de prevenção que se fazem sentir.
Procede, deste modo, ainda que parcialmente a pretensão do recorrente.
Em sequência e em vista da jurisprudência fixada no acórdão, do Supremo Tribunal de
Justiça (FJ), n.º 4/2016, cumpre operar novo cúmulo jurídico desta pena parcelar, de 8
anos de prisão com aqueloutra de 4 meses de prisão.
Nos termos do disposto no artigo 77.º n.º 2, do CP, a moldura abstracta da pena unitária
aplicável situa-se entre os 8 anos de prisão a 8 anos e 4 meses de prisão.
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Valem também aqui as considerações tecidas quanto aos seu co-arguido BB que nos
escusamos de repetir.
Diz-se no acórdão recorrido:
(…) “Quanto à ilicitude do conjunto dos factos, já vimos quais os bens jurídicos em
causa, que são essenciais para a vida em sociedade e, porque se não verifica a sua
identidade, é ela significativa.
O recorrente agiu sempre com dolo, na modalidade de directo e de grau intenso.
Quanto à sua personalidade, cumpre atender a que foi já condenado anteriormente
(por decisões transitadas em julgado em 11/06/2008 e 30/03/2009) pela prática dois
crimes de roubo, um de detenção de arma proibida e outro de ofensa à integridade
física qualificada, tendo-lhe sido concedida liberdade condicional até 15/12/2015, o
que não evitou a prática dos factos destes autos em Novembro de 2016 e 24 de
Outubro de 2017), à não demonstração de interiorização das condutas delituosas,
assim como o que provado se mostra quanto às suas condições de vida, de onde resulta
ser o ilícito global agora em apreciação determinado já por alguma propensão para a
adopção de condutas delituosas.
As exigências de prevenção geral e especial são muito fortes, como se viu.(…)
Ponderados todos aqueles aqueles factores, afigura-se que, na ponderação conjunta dos
factos e da personalidade do arguido recorrente, a pena única de 8 (oito) anos e 2
(dois) meses de prisão se concretiza em medida adequada e proporcionada às
circunstâncias de facto apuradas.
Tendo sido dado parcial provimento ao recurso do arguido, não é pelo mesmo, devida
taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1).
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Página 89 de 90
III.
16. Nestes termos e com tais fundamentos, decide-se:
a) rejeitar parcialmente o recurso interposto pelos arguidos BB e CC, nos segmentos
indicados em 11 deste acórdão, por inadmissíveis;
b) conceder parcial provimento ao recurso interposto pelo arguido BB, reduzindo-se a 8
(oito) anos de prisão a pena de 8 (oito) anos e 6 (seis) meses de prisão concretizada na
instância relativamente ao crime de roubo;
c) em cúmulo jurídico desta pena de 8 (oito) anos de prisão com as penas de 5 (cinco)
anos de prisão pela prática de um crime de tráfico de estupefacientes e de um (um) ano
e 4 (quatro) meses, pela prática de um crime de detenção de arma proibida, condenar o
arguido na pena única de 10 (dez) anos de prisão;
d) não é pelo mesmo, devida taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1);
e) conceder parcial provimento ao recurso interposto pelo arguido CC, reduzindo-se a 8
(oito) anos de prisão a pena de 8 (oito) anos e 6 (seis) meses de prisão concretizada na
instância relativamente ao crime de roubo;
f) em cúmulo jurídico desta pena de 8 (oito) anos de prisão com a pena de 4 (quatro)
meses de prisão pela prática de um crime de detenção de arma proibida, condenar o
arguido na pena única de 8 (oito) anos e 2 (dois) meses de prisão;
g) não é pelo mesmo, devida taxa de justiça (artigo 513.º, n.º 1);
h) negar provimento ao recurso interposto pelo arguido AA;
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i) condenar o arguido AA nas custas, fixando a taxa de justiça em 5 (cinco) unidades de
conta.
Lisboa, 13 de fevereiro de 2020
Processado e revisto pela relatora, nos termos do disposto no artigo 94.º, n.º 2 do CPP.
Margarida Blasco – Relatora
Helena Moniz