N!! 4· ANO XIFLORIANOPOLlS,10 DE DEZEMBRO DE 1993CURSO DE JORNALISMODA UFSC
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
CARTASTá demais omitindo minhas explicações sobre estas
acusações contra o meu marido. MarianoSenna mostrou apenas o lado da acusação(leia-se CTC), e o lado da defesa? será queele "esqueceu"?
Sobre o "abandono" do curso para irà um campeonato de pesca noChile, omeumarido foi porque havia sido convocado
peloCND, órgãomaiordoesportenacional.A Universidade recusou-se a liberá-lo e,para evitarumapunição doCND, Paulo foipara o Chile.
Quanto ao resultadodo inquérito quea UFSC abriu contra o meu marido, porcausa desta viagem, o "repórter" conta queo juiz Humberto Rufino mandou a
Universidadereintegraroprofessor,epagarà ele salários, 13° salário e férias, no totaldeUS$ 12mil. Só que o "repórter" esqueceude contar que até hoje a UFSC não pagoua dívida.
Quanto ao "abandono" após a licençaprêmio que Paulo pediu em setembro de93, novamente o aluno esqueceu de contarnamatéria publicada, que o departamentohavia me informado que um professorsubstituto estava contratado, e os alunosnão estavam sem aulas. Na matéria constaque, segundo o departamento, "110 alunosficaram sem aulas".
Ainda relatei ao repórter que um
advogado está com uma procuração pararesolver todos estes proble-mas junto à
UFSC, mas nada disto foi publicado, porquê?
Que tipo de repórter é esse que um
curso reconhecido e tão respeitado estáformando? Como é que umjornal, como o
Zero, vencedor de tantos prêmios, comuma reputação e respeitabilidadeimaculada, publica uma matéria com
apenas uma versão sobre o assunto em
questão?
Galera do Zero,
Escrevo do laboratório de micros daUniversidade doArizona, após ter recebidoa edição do Zero de 20 de outubro. Vocêsdão um banho! Quer dizer, o jornal tádemais, tá gostoso de ler, ainda mais aquino meio do deserto de Sonora ...
A capa com a ilustração do José daSilva Júnioreu usei de exemplonuma aulade Design e Lay Out do Departamento deJornalismo; amatéria daMônica Linharesrevela o lado ignorante do Brasil, a páginasobre a Amway, da Ivana Back, contémmais informação que o jornalismo norte
americano poderia conseguir. Às vezes é
preciso olhar de fora para o jornalismobrasileiro - e o jornalismo que a gente faz- para sacar os acertos e identificar os
pecados.Ética é tudo, no final de contas, se a
gente quiser fazer um jornalismoresponsável. Precisei vir aqui paradescobrir que o quarto poder é nobredemais para a gente se deixar corromper.
Mudando de água pro vinho, a cartado Emerson Gasperin é um "tomate" nacara dos caretas. Em resumo, vocês dão umbanho. Valeu mesmo o Victor Carlson terenviado os jornais!
Se precisarem .de alguma coisa -
exceto dólares - dos Estados Unidos,mandem um sinal. Quem sabe uma
correspondente internacional?
RETRATOSDO PODI .
I I
Zero 93: mudanfas na capa, reportagens ouslldas e equipe independente
Uma nova proposta
\(
Aó}M�H<lnB1'f)f)O:::"u��
Há pouco mais de' um
ano, os estudantes davamuma enorme demonstraçãode força saindo às ruas em
defesa da ética e da moralidade. Agora, a situação se
inverteu - pelomenos noDiretório Central de Estudantes da UFSC. Depois de denúncias e de uma devassanas contas doDCE,foram descobertas ir
regularidades quecomprometem a ima
gemdaentidadee questionam sua representação. Uma instituiçãoque se propõe a levaradiante a luta estudantil deve, antes de maisnada, mostrar responsabilidade, competência e, principalmente,seriedade.Ainda assim,vale ficar de "olho vivo" no oportunismo dequem está denunciando.Especialmente agoraqueachapaganhoua eleiçãopara oDCE.É preciso estar alerta
quanto aos grupos que insistem em se infiltrar nesteespaço tão importante paraa vida dos acadêmicos.
Aliás, em épocade eleiçãotodo cuidado épouco.Aproposta de orçamento do Estado para 1994 prioriza o
programa de construção e
recuperação de estradas,deixandode ladoáreas como
saúde, educação emoradia.Os deputados abusam dos
pedidos deemendas, visandoaspróximas eleições. Só umdeles já enviou 512 propostas, a maioria beneficiando os próprios redutosde votação.
Os políticos de SC tam
bém são destaque na esfera
porém os líderes têm uma
preocupação maior: tentaresconder o "mar de lama"em que lIavega a politicabrasileira.
A decadência das ills
tituições acaba refletindo nomeio social. As pessoas queestiveram lia Festa do Mar
para o show dos Titãs,assistiram também a
um outro espetáculo,muitomaisdeprimente.Muita gente foi agre-
, didae roubada.Aoprocurar ajuda da PolíciaMilitar, houve quemfosse ameaçado deprisão. Casos como estes
I mostram bem o caos,
social que vive o país,situação em que Flo
rianópolis também
começa a mergulhar.Estessãoalgunsdos
assuntos que o Zerotraz 110 seu último número de 1993, dentrode uma novaproposta.Depois de muito es
forço e empenho porparte da equipe, foipossívelproduzir um jornal totalmenteelaboradoporalunos,dapauta à edição. Foi destaforma que os futuros jornalistas puderam acompanharmaisdeperto oprocessode produção de um veículode comunicação.
Em 94, estaremos devolta.
BeijosHeloisa DaUanl101
Tucson, Arizona, EUA
Esposa do PCÀredação,Meu nome é Lindamar da Silva de
Carvalho, sou esposa do professor PauloRoberto de Carvalho. Estou escrevendo
para registrarminha indignação e repúdioàs omissões que o "repórter" MarianoSenna fez namatéria "PactoMedíocre" ,
na
última edição doZero. Nestamatéria,meumarido é acusado de desonestidade e
inassiduidade. Mas as fontes para taisacusações foram apenas o Departamentode Computação daUFSC e alguns alunos.NoDepartamento existemmuitas pessoasque não gostam de meu marido e queadorariam prejudicá-lo, e os alunos? quemgarante que eles também não tinham
alguma desavença com o professor e
aproveitaram a oportunidade para vingarse de alguma diferença?
Mas minha revoltamaior é contra as
informações que eu prestei ao alunoMariano Senna, doCurso de Jornalismo, eque ele não publicou na matéria. Quandofui procurada por ele, prestei todas as
informações, sendo sincera com o futuro
"repórter". Pena que ele me supreendeu
Sinceramente,Lindamar S. de Carvalho
Florianópolis - SC
Reposta do repórterEngana-se a senhora Lindamar de
Carvalho ao dizer que as únicas fontesutilizadasnamatériaforamoDepartamentode Informática e alguns alunos. Tambémforamouvidos oDepartamento Pessoal e aProcuradoria da universidade. Esses doisórgãos confirmaram a denúncias feitas,inicialmente, pelos alunos do INE.
Quanto às informaçõesdadasporeles,foram tão esclarecedoras quanto a cartaacima. Gostaria de saber agora: quem sãoos perseguidores de PC no INE (nomes) equais os seus motivos?
Admito a falha de não ter publicadoos dados sobre o advogado de PauloCarvalho e sobre a contratação de um
outroprofessor para substituí-lo. Acrediteique essas eram informações menores, jáque o fato principal era a história de um
professor universitário que não tem a
mínima consideração pela sua profissão.Mariano Senna
nacional: Três catarinenses
ocupam pela primeira vez,ao mesmo tempo, a presidência dos trêsmaiorespartidos do país, justamenteaqueles que estão se desmantelando diante da ava
lanche de denúncias contra
alguns de seus membros. OEstado tinha tudo para gaIlhar expressão nacional,
FotogmJiaAna Paula Pinho.josemar Sehnem, Paulo Henrique Sousa,
Paulo de Tarso e Yan BoechatLaboratório Fotográfico
Giancario Proençajaime Luccas, LauroMaeda,Pablo Claudino e Paulo de Tarso
Projeto GráficoVictor Carlson
Editoração EletrônicaAngelita Corrêa,]osé da SilvaJúnior e Victor Carlson
Supervisão da LaboratórioProfessorRicardo Barreto
TextosAlessandro da Silva,Alexandra Baldisserotto, Alexandre Winck,
Ana Paula Barreto, Ana Paula Pinho, Carolina Guidi,Chico Sander, Gisele Losso, Ivana Back, Mauricio Oliveira,
Marcelo Santos,Mônica Linhares, Paulo Henrique,Paulo de Tarso e Suyanne Quevedo
Acabamento e impressão: Jornal A Notícia
Redação: Curso de Jornalismo (UFSC-CCE-COM),Trindade, CEP 88040-900, Florianópolis/SC
Telefone: (0482) 31-9215. Telex e Fax: (0482) 344069
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo daUniversidade Federal de Santa Catarina
.
editado pelo Laboratório de InfografiaCapa
Michelson Borges, Paulo Henrique e Paulo de TarsoColaboração
ProfessorMoacir Pereira efotógrafo Marcos Cesar (O Estado)Copy-writer
Professares Cilka Girardello e LuizAlberto ScottoCoordenação da redaçãoProfessor Carlos Locatelli
IlustraçãoJosé da SilvaJúnior eMichelson Borges
DiagramaçãoAlessandro da Silva, Alexandra Baldisserotto, Angelita Corrêa,
Giancarlo Proença, Janaína Toscan, José da SüvaJúnior, LucianeLemos, Sérgio Severino e Vutor Carlson
EdiçãoAlessandro da Silva, Alexandra Baldisserotto, Alexandre Gonçalves,Carolina Guidi,]anaína Toscan.josé da Silva Júnior, Luciane Lemos,
Mauricio Oliveira, Marcelo Santos, Paulo Henrique Sousa,Sandra Nebelung, Vanessa Pedro e Victor Carlson
ZEBOMelhor Peça Gráfica
I, II, III, IV e VSet Universitário
Maio 88Setembro 89, 90 e 91
Outubro92�4
ANOXIDEZEMBRO 93
CURSO DE JORNAUSMOCCE-COM
2 ZERO DEZEMBRO· 93c:f, Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
AAssembléia Geral dos Estudantes do dia nove
de novembro, aprovou a realização de uma
auditoria nas contas referentes aos anos de1991 e 1992 do Diretório Central dos Estudantes(DCE) da UFSC. As maiores irregularidades constatadas pelo CETEC (Conselho Estudantil do CentroTecnológico), são a falta de notas fiscais, recibos assinados indevidamente pelo tesoureiro, notas de motel,um cheque roubado e pagamentos de ajudas de custo
para a diretoria.A onda de auditorias nas entidades estudantis
da UFSC é obra do CETEC. Este ano o presidenteda instituição, Alcione Vergil, resolveu pedir uma
auditoria nas contas de todas as diretorias passadas.Ele quer descobrir onde foram parar 600 livros dabiblioteca do CETEC, cerca de 100 discos e o equipamento da discoteca que funcionava no bar do CTC.Vergil quer saber também o que foi feito com o dinheiro do aluguel que a instituição recebeu durante todosesses anos do bar da Nina, localizado no Centro Tee- i:nológico.
Qj
Uma das principais irregularidades da gestão Cri- Q
Cri (1992) é a falta de notas fiscais. Para prestar contas �de alguns gastos o tesoureiro Alexandre Aguiar dos t-;
Santos preencheu e assinou uma série de recibos para �fechar a contabilidade. So que os recibos deveriam �ter sido assinados pelas pessoas ou empresas que pres-
'
taram serviços no DCE. O tesoureiro assinou também
quatr? recibos de ajudas de custo para Valdir JoséFerreira, Coordenador-geral do DCE na época. Santos te�ta justificar-se afirmando que recebeu uma procuraçao do"Coordenador para assinar os recibos.
Remuneração.-:- Outros problemas são as ajudasde custo que os dirigentes daquela gestão recebiam.As pessoas eleitas para trabalharem no DCE exercem
atividades voluntárias e não devem receber salários.Mas a direção Cri-Cri decidiu que eles deveriam ser
remunerados. Para isso, instituiu a ajuda de custo.
Segundo o tes0':lreiro Santos, no início as ajudase�am n:tensais, depois passaram a ser quinzenais. Eledisse ainda que as ajudas de custo não ultrapassavamo valor da bolsa de trabalho, 75% do salário mínimo.Mas na prestação de contas foram encontrados doisrecibos de ajudas de custo do Coordenador GeralValdir José Ferreira, referentes ao mês de novembro:A soma chega a CR$ 600 mil cruzeiros em valoresda época. O salário mínimo naquele'mês foi deCR$ 522 mil cruzeiros.
Ferreira sequer poderia ter sido Coordenadorgeral. do. DCE quando. a chapa Cri-Cri tomou posseno �ia clll;cO dt: fevereiro. de 92, ele não fazia parteda diretoria eleita. Mas foi escolhido para ser coordenador no dia primeiro de setembro do mesmo ano
quase sete meses depois. Ferreira tomou o lugar d�Oscar Rover que largou o cargo porque ia se formar."O Valdir foi o primeiro Coordenador-geral biônicodo DCE" denuncia Lara Kretzer, atual coordenadora-geral do diretório.
Compras - A atual diretoria do DCE terá quepa.gar um .cheque passado pela antiga gestão- e quefoi devolvido. O cheque, usado para pagar compras
no Supermercado Santa Mônica, no dia 18 de agostodo ano passado, foi devolvido pela compensação porque estava com contra-ordem ou seja, foi dado como
roubado. Só que o cheque estava assinado pelos res
ponsáveis pelas finanças do DCE, Alexandre Aguiardos Santos e Oscar Rover.
Santos disse que o cheque não foi roubado e
que ele o passou para pagar compras do diretório.Ele contou que alguns dias depois de ter passado o
cheque, o talão com mais cinco ou seis folhas foiroubado ou perdido - ele não sabe informar ao certo.O tesoureiro deu contra-ordem em todo o talão paraque nenhum cheque fosse descontado. Segundo Alexandre, o Santa Mônica deve ter demorado a depositar o cheque e, quando o banco foi compensar, a
conta do DCE estava bloqueada.O advogado do Supermercado entrou em contato
com o DCE este ano e solicitou o pagamento do
cheque. Lara Kr�tz.er não sabe informar porque sóagora o Santa Mônica procurou o diretório. A diretoria já decidiu que vai pagar o valor devido. Casona� faça, o advogado do supermercado vai entrarna Justiça contra o Diretório Central dos Estudantes.
O CETEC, autor das denúncias, é um órgão quereprese�ta todos os Centros Acadêmicos do CTC eexiste ha mais de dez anos. A atual diretoria concluiuas reformas do prédio e comp.rou equipamentos novos
. par� o ���EC t:ste ano. Alcione Vergil, o presidenteda msht�llça<?, diz que todas as reformas foram feitascom. o dinheiro dC? aluguel do bar da Nina, da mesa
de. sm�c.a que funciona no local e do xérox que destinamil copias todos os meses para o conselho. No mêsde novembro.. o"aluguel do bar rendeu CR$ 35 milcruzeiros reais. quando se é honesto consegue-sefazer banstante COisa com pouco dinheiro", disse Vergil poucos dias antes da eleição do DCE, de olho
em um dos cargos da entidade. Ele concorreu pelachapa Olho ViVO, que venceu o pleito. .
�ot�1 - AI�m d�s. cont�s da gestão passada,a auditoria tambern vai mvestigar os gastos da diretO�la do DCE no ano de 1991. Vergil denuncia que�xistem ,?otas de m<_?tel e de compra de caixas depaçoca na prestaçao de contas da chapa E preciso
amar, e ?utar._ Além disso, o dinheiro da contribuiçãoacadêmica nao foi repassada aos Centros Acadêmicosnaquele ano.
A n:a�or parte de dinheiro que o Diretório Central administra vem da contribuição acadêmica. Todosos semestres uma parte das taxas das matrículas dosalunos da UFSC vai para o DCE. Neste semestrea contribuição foi de uma UFIR. Sessenta por cent�desse dinheiro deve ser repassado aos Centros AcadêmiCOS da Universidade e os outros 40% ficam como DCE. O presidente do CETEC também denunciaque esse dinheiro foi repassado sem juros aos C.A.no ano passado, pela gestão Cri-Cri.
A eleição para uma nova diretoria do DCE aconteceu no início de dezembro. A Cri-Cri tentou voltar
a�_DCE a�ravés da c�apa Nada do que foi será. Lucineta Martins, que fazia parte da antiga diretoria concorre a uma v?ga e Alexandre Aguiar dos Santos- oex-tesoureiro - foi um dos principais cabos eleitorais.
Oportunismo - Antes da eleição, Santos tentae se defender,d.as acusações de irregularidades atacando os adversanos. Em uma carta distribuída aos estudantes, ele diz que a chapa Olho Vivo, encabeçadapelo presidente do CETEC, aproveitou-se da auditorial para tentar �e eleger. E denuncia que ela (OlhoViVO) e a Cara Pintada, atual diretoria do DCE rece
beram aRoio e dinheiro da maçonaria e do P�rtidoLibe_ral (�L) .. O. an,ti�o tesoureiro diz ainda que a
gestao Cri-Cri foi a uruca, que em cinco anos, prestoucontas dos gastos.
O pedido de auditoria foi entregue pela atualcoordenação do DCE, no dia 23 de outubro ao Conselho Regional de Contabilidade. Os coord�nadoresvão pedir também uma auditoria jurídica e ética àOrdem dos �dvog,a�os do Brasil, (OAB). "No ano
passado pedimos ética na política e agora estamosfazendo o mesmo que os políticos" condena LaraKretzer, Coordenadora-geral do DCE.
Os resultados das auditorias vão ser encaminhados aos fóruns estudantis da UFSC. O Conselho de
. Entidades de Base (CEB) que agrega todos os CentrosAcadêmi�os_da Universidade Federal, e o CongressoEstudantil vao decidir o que fazer em relação às irregularidades nas �ontas do DCE. Ninguém acreditamuito,
Ivana BackColaborou Paulo de Tarso
DEZEMBRO -93· ZERO 3Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Projeto oportunistaprevê extinçãodos cargos de vice
Promessa de trabalhoem escritório é uma farsaJovens caem no "conto do Karajá"
Oanúncio parecia ten
tador para jovensem busca de traba
lho e sem experiência. Oferecia trabalho em escritórioe boa remuneração. Mas ao
se engajar na Karajá Repre-,sentações, o novo contrata-Ido é obrigado a atuar comovendedor durante um mês.Somente numa segunda-feira de agosto, vinte pessoascaíram no "conto do Kara
já". Há um ano, a Karajájse instalou em Florianópolis, na praça dos Bombeiros.Em Julho, a empresa jáabriu uma filial na rua Tenente Silveira. O créditovem da venda de títulos doClube de Proteção à Família
(CPF) - uma espécie de se
guro múltiplo com sede em
Campinas (SP).No primeiro dia do em-I
prego, os funcionários aplicam um teste sobre conhecimentos gerais. Quem é o
ministro da Fazenda ou qualé o dia da Independência doBrasil, são algumas das perguntas. Os que passarem co
meçam a trabalhar no próxi-,mo dia. Mas o caminho atéo salário é longo.
No segundo dia, a es
tratégia da empresa começaa clarear: "Parabéns: Você'foi aprovado e já está con
tratado, agora só falta o trei
namento", dizem. Assim
começa a "preparação deum novo supervisor". Aparte prática - o trabalho
- é vender três tipos de títulos do CPF, até atingir 100
pontos no mês (o mais barato vale um ponto, o intermediário dois pontos e mais caro, três pontos).
Prêmio - Há aindauma espécie de tratamento
de choque, que a Karajáchama de "treinamento intensivo". A pessoa tem apenas um dia para realizar a
Anuncio .em jornaldesde maio
venda. Se não vender, ganha mais alguns dias. Quando vender, poderá ganharcomo prêmio, uma descul
pa: "Nós conversamos com
o chefe e não teve jeito, você vai ter que fazer mais
quatro vendas e eu botei minha cabeça no fogo que vocêvai conseguir", disse Charles, supervisor da filial, a
uma candidata. E continuava: na verdade era pra ser
16 vendas mas o chefe deixou pra somente quatro.
Marcos Aurélio da Sil
va, trabalha há três anos na
CPF e hoje é o representante da região sul. Marcos Aurélio disse que o "treinamento intensivo" não é maisusado e o gerente que o teriaaplicado foi despedido, pornão fazer a contratação demaneira correta. Ele alegaque vender faz parte do es
tágio porque é uma empresade vendas. Segundo ele,aquele que completar 100
pontos em 30 dias e tiver ca
pacidade e desenvolvimento
para realizar o trabalho é
que vai passar para o serviçode escritório. Apesar de defender a idoneidade da em
presa, Marcos é avesso à fo
tografia. Ele não deixou ser
fotografado pois estaria
comprometendo Florianó
polis e que o escritório esta-:
'va desarrumado e sem cor-
tinas.
O/sele Losso
Emenda reduz número de deputados,
O deputado estadual LuizCunha, quinto suplente do
PMDB, deve ser substituído já em
fevereiro do ano que vem, mas antes pretende incluir na revisãoconstitucional mais um daqueles
, projetos mirabolantes, de ocasião,com pretensões de resolver os problemas do país num golpe só. Aemenda que o deputado de Brus
que quer tornar lei prevê a extin-
ção dos cargos de vice-presidente,vice-governador e vice-prefeito,além de reduzir pela metade as
cadeiras do Congresso Nacional eAssembléias Legíslativas, A idéiaé acabar com 29.331 cargos e con
seguir para o país uma economiamensal de US$ 7 milhões em salários, É pouco, Só o esquema PCde corrupção movimentou cerca
de US$ 1 bilhão em dois anos.
O deputado e sua assessoriafizeram um levantamento de car
gos e salário do poder público do
país. Segundo o estudo, existemno Brasil 47.000 vereadores (salário medio de US$ 150, ou dois mí
nimos), 1.040 deputados estaduais(salário médio de US$ 2.500), 503deputados federais (US$ 3.500),81 senadores (US$ 4.000), 4.973vice-prefeitos (US$ 225) e 27 vicegovernadores (US$ 3.000). EmSanta Catarina, são 2.610 verea
dores, 40 deputados estaduais, 16federais, 260 vice-prefeitos e 3 se
nadores. A economia para o esta
do seria de US$ 341.475. É poucopara justificar tamanha concentração do poder político,
O chefe de gabinete do deputado, Sérgio Bodemmullir, garante que os salários serão o menor
valor da redução de custos, Alémdas ajudas de custo, como auxíliomoradia e automóveis, calcula-seque há 20 ou 30 funcionários paracada deputado. "Nem as campanhas eleitorais saem do bolso de
les", disse. O deputado não falou
porque estava viajando, em dia de
expediente normal.Excluindo-se os vices, os
substitutos dos presidentes, governadores e prefeitos, os previstosna legislação atual. Quer dizer,quando o presidente Collor deixou o posto, caso já vigorasse o
sistema, o presidente do Brasil seria o deputado Inocênio de Oliveira (PFL-PE), acusado de usar
recursos do Dnocs para perfuraraçúdes em suas fazendas.
Estado menor - Quanto à eficiência desse Estado reduzido,Bodemmullir garante, com frágeisargumentos que será igualoumaior ao atual. "O governo Collorcolocou em disponibilidade 9.000funcionários públicos e o serviçonão parou, pelo contrário, ficoumais eficente". A tese é de queum Estado menor será mais facilmente fiscalizado pelos eleitores,Dos 40 deputados da Assembléia
Legislativa de Santa Catarina, ele,afirma que "não se conhece dez."
Difícil é conhecer o "meio se
nador" com que Santa Catarinaficaria. Pelos cálculos rigidamentematemáticos do deputado, o esta
do, ao invés de 3, teria 1,5 sena
dor. Mas, segundo o chefe de gabinete, a sugestão da representatividade tem que ser revista. Comoo estado tem cerca de dois milhõesde eleitores, deveria haver dois se
nadores. "um para cada milhão".A proposta vai ser encami
nhada à revisão pela União Parlamentar Interestadual (UDI), quecongrega os 1.040 deputados estaduais do país. A idéia de uma
emenda popular � descartada
porque exigiria 1 milhão de assinaturas.
O projeto se expõe ao ridículo dentro do próprio PMDB. Odeputado Noemi Cruz classificoua proposta de "demagógica". Segundo ele, o deputado Cunha propôs a emenda sem consultar a bancada do partido, só para aparecer.
4 " ',".' "" '
,' ,ZERO ,'. . . '93 • DEZEMBRO
Luiz Cunlro (PMDB):proposto "demogógico"
"Ele é o quinto suplente dOiPMDB e quer acabar com os de
putados", disse Cruz.Para o deputado Andrônico
Pereira Filho, também do PMDB,a proposta é superficial. "Isso tem
que ser analisado profundamente,cientificamente, por instituições".Afirma que, pelo fato da população brasileira estar "sensível"aos recentes escândalos de corrupção, certos parlamentares se aproveitam para fazer "projetos eleitoreiros" .
Alexandre Wlnck
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Políticos de se dirigemmaiores partidos emmomento dramático
DEZEMBRO· 93 ZERO .- ".: 5
Catarinenseslideram PPR,PFLePMDB
Pela primeira vez na história política de Santa Cata
rina, o estado tem três ca
tarinenses, ao mesmo tempo,na liderança dos principais partidos do país. Jorge Bornhau
.
sen comanda o Partido da Fren-te Liberal (PFL), EsperidiãoAmin encabeça o Partido Pro
gressista Reformador (PPR) e
Luiz Henrique da Silveira lide
ra o PMDB. Juntos, seus partidos representam a maioria do
Congresso Nacional. Seria isto
motivo de orgulho? Dificilmente. Na atual situação do país,o PMDB cada dia mais se afogano "mar de lama" da CPI; oPPR está abalado com o "es
cândalo Pau-Brasil" e o "caso
João Alves"; e o PFL, por suavez, tenta se esquivar antecipadamente de possíveis acusa
'ções.O PPR atualmente passa
por maus momentos. A empresa Pau Brasil, de João Carlos
Martins, principal assessor doprefeito Paulo Maluf, teria funcionado como caixa 2 na cam
panha de Maluf à prefeitura de
São Paulo. No início deste mês,ao depor à Procuradoria da Re
pública, Martins disse que foi
o engenheiro Flávio Màluí, .filho do prefeito, que solicitou à
Pau-Brasil o depósito de 2 milhões de dólares para pagamento de dívidas da campanha de
1990. Mas Flávio nega qualquerligação com a Pau Brasil.
O deputado Gervásio Ma
ciel, líder do partido em Santa
Catarina, alega que "Maluf éo homem' mais investigado do
país, porém é um político ho
nesto e correto". Maciel defende Maluf, porque sabe que o
futuro do prefeito de São Pauloestá intimamente ligado ao do
presidente nacional do PPR, senador Esperidião Amin, Amininiciou sua vida pública em 1975como prefeito de Florianópolis,nomeado pela ditadura militar.Foi deputado pela Arena em
1978, e, mais tarde, em 1983,eleito governador de Santa Catarina. Ganhou notoriedadenacional com a publicidade em
torno das enchentes de 1983 e
1984 que arrasaram o Vale do
Itajaí. Eleito senador em 1990,Amin votou a favor do im
peachment do ex-presidenteFernando Collor. Com isto, seuprestígio em todo o país e den
tro do partido, cresceu ainda
mais.Fugindo - Amim não parecese importar muito com as denúncias contra Maluf. Ao invés
de tentar esclarecê-las, batalhapara abrir uma CPI contra as
possíveis irregularidades na re
lação entre CUT e PT. Segundoo senador, "a CUT opera com
caixa 2 e caberá à CPI mostrarcomo este dinheiro é repassadoao PT".
Noutra fogueira meteu-se
.-.--.oK&ol'. Henriqueé um Iider
Incompetente ':Pedro Simon
o deputado Luiz Henrique daSilveira ao assumir a presidência do PMDB no dia 13 de se
tembro deste ano. Concorren
do com o senador Pedro Simon
(RS), Luiz Henrique foi vencedor em chapa única depois dadesistência do adversário. Aunidade partidária desandousemanas depois que Simon declarou: "Luiz Henrique é um
líder incompetente".Há quase três meses na
presidência do PMDB, LuizHenrique vê o maior partido do
país na iminência de partir-seem cacos. Parte de seus parlamentares está envolvida no es
cândalo da CPI do Orçamento,inclusive uma de suas pilastras,o deputado Ibsen Pinheiro.Diante da situação, o partidoperde a credibilidade e a con
fiança do povo. O SecretárioGeral do PMDB em Santa Ca-
tarina, Herneus de Nabal, procura justificar a atual situaçãodo partido, relembrando uma
frase de Ulysses Guirnaraês:
"quantomais você bate e derru-I
ba, parece que o partido mais
cresce". Para ele, o PMDB tem
tido uma capacidade muito
grande de sair dos momentos
difíceis.Liderança - Esta situação po-rém, poderá comprometer os
projetos do partido para as elei
ções de 1994. Com Orestes
Quércia sob eterna suspeita, omais provável candidato às elei
ções presidenciais é o ex-Minis
tro da Previdência, AntônioBrito. Segundo Nabal, "Britoé um homem que está colocando as pessoas que praticam ilici
tudes na cadeia, sem espalhafato". Para Herneus, o fato de
Luiz Henrique ser um líder ca
tarinense, "faz com que o esta
do tenha uma expressão maior
na federação, mas sobretudo o
papel importante que ele vem
desenvolvendo para o Congresso e a democracia".
No meio da confusão política nacional, o PFL foi pinçara experiente figura de JorgeBornhausen para articular as
novas alianças do partido. Velha
raPOSadapolítica de basti
dores, o p esidente nacional do
PFL sem e esteve próximo ao
poder. Ingressou na carreira
através do pai Irineu Bornhau
sen, que foi governador do estado. Depois, fundou a Arena em
1966 e governador do estado,eleito indiretamente pela As
sembléia Legislativa em 1979.Senador em 1982; Ministro da .
Educação em 1987 no Governo
Sarney e finalmente Secretáriode Governo na gestão do ex
presidente Fernando Collor.
O deputado estadual e lí
der do partido em SC, JúlioGarcia, afirma que "Jorge não
se corrompeu durante o período Collor, e a população de
Santa Catarina se orgulha e
sempre se orgulhará do grandelíder que ele é".
Apesar de todas as sujeirasque envolvem os três grandespartidos, é importante ressaltar
que, por enquanto, seus líderesnão estão envolvidos em escândalo algum. Os eleitores catarinenses agradecem.
Carolina GuidiAna Paula Barreto
fsperidião Amin querabrir uma (PI parainvestigar a (UT
(
)
Luiz Henrique presideo PMOB, partidode Orestes Quércill
O ex-ministro de Collor,Jorge Bornhausen,
é presidente do PFL
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Governomanipula orçamento noeleitoralmEsquema é deixar CR$ 29,6bilhões na conta "outrasdespesas" sem listar os gastos
que houve conivência da bancada daUnião por Santa Catarina com o governador para o não detalhamento do projeto. Ele reclama que o governo não
responde aos pedidos de informaçõessobre o projeto de lei orçamentária.Até mesmo o campeão de entrega de
emendas, o superdeputado AdilsonVentura (PFL) se queixou da demorano envio dos anexos que detalham a
proposta do executivo. "Creio que issoé proposital, pois os secretários (de Es
tado) não devem gostar muito de mu
danças no orçamento", sentenciou.Santin lamentou que "a sociedade nãotem a possibilidade de debater e discutir o orçamento". E reclamou que a
oposição ainda não tem a visão de apresentar emendas globais para todo o Estado.
A esmagadora maioria das 1.400emendas é restrita a municípios e re
giões que formam as bases eleitoraisdos deputados. Algumas, e não são
poucas, nem chegam a atender a um
município inteiro, tamanha a sua restri
ção. Outras não atendem aos requisitosbásicos para que a emenda seja aceita.
Mas o deputado Reno Caramoriadmitiu que vai acatar as emendas eleitoreiras (o conceito é dele). Ele explicou que aquelas que não fOT possívelacatar como emendas serão transformadas em "indicações". Essa manobraé para não contrariar os interesses dos
deputados, que utilizam as indicaçõesirregulares nas campanhas para divul
garem suas atividades parlamentares.As indicações rião têm valor legal nenhum.
mento das despesas já está pronto, e
só não foi enviado junto com a propostade orçamento "porque os deputadosnão inam entender aqueles números" .
Do que se deduz �ue a imagem dos
deputados na secretaria de Planejamento não anda muito boa. Sacramento informou que o detalhamento das
despesas só será publicado depois da
aprovação do orçamento para 94.Parece que a teoria do diretor da
secretaria de Planejamento não está detodo errada. O própio relator do projeto de lei orçamentária, Reno Cara
mori, não está bem informado sobrea matéria. Ele não soube (ou não quis)explicar o que significam os 30% de"outras despesas correntes".
A má distribuição de verbas de
subvenções sociais é outro ponto quepode permitir a manipulação das ver
bas orçamentárias. É no mínimo estra
nho o fato de o projeto de orçamentodestinar CR$ 20 milhões em verbas de
subvenções para o gabinete do governador e outros CR$ 17 milhões paraa Assembléia Legislativa. A assessora
do PT, Marlene Rocha, reclama que."esse dinheiro será utilizado para fazer
politicagem" .
Mas o diretor de orçamentação,Aylton Sacramento, alega que a libera
ção de recursos para entidades privadasdevem ter a autorização do governador. É por isso que o gabinete recebeua polpuda dotação de CR$ 20 milhões.O deputado Santin está apresentandoemendas globais retirando dinheiro de
subvenções para colocar em áreas queo partido considera prioritárias, comosaúde, moradia, agricultura e micro
empresa.O governo conseguiu desagradar
a todos na apresentação do projeto de
orçamento. O deputado Santin disse
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o próximo ano, o governadorVilson Kleinübing vai dizer nãoao plano SIM (Saúde, Instru-
ção e Moradia), documento que ven
deu durante a campanha eleitoral comofuturo plano de governo. É que a proposta de orçamento para 1994, de autoria do executivo, não prioriza nem saúde nem instrução, muito menos mora
dia. Talvez por ser um ano eleitoral,o governo carrega de recursos o programa de construção e recuperação de ro
dovias. O valor destinado às estradasé maior do que a soma dos programasde saúde e educação. As subvençõessociais, que na CPI do orçamento são
o foco de estímulo ao clientelismo, também recheiam o orçamento estadual
paTa o ano que vem. A votação da peçaestá prevista para meados deste mês,mas pode ser prejudicada pelo númeroelevado de emendas apresentadas pelos deputados: exatas 1.400. A maioria,nitidamente eleitoreira.
I
A lista dos programas de investimento é o atestado de óbito do planoSIM, que previa a destinação de 1%da renda líquida do Estado para a cons
trução e recuperação de rodovias. Maso orçamento do ano que vem destina4% da renda líquida para esse fim. O
percentual equivale a 25% de todo o
investimento do Estado para 94. Em
contrapartida, as áreas de saúde e edu
cação ficaram com apenas 18,7% dos
investimentos, o que corresponde a
minguados 3% de toda a receita líquida
disponível. "Esse tipo de decisão é política", confessou um assessor da Secretaria da Fazenda.
O diretor de orçamentação da Secretaria do Planejamento e Fazenda,Aylton Sacramento, informou que este
ano o governo já está trabalhando com
8% da despesa líquida destinados a
obras em estradas. A porcentagem ex
trapola o previsto no orçamento. A
conseqüência imediata é que outros
programas vêm sendo sacrificados como repasse de recursos para a construçãode rodovias, muitas delas vinculadas a
esfera federal. O relator do projeto delei orçamentária, Reno Caramori(PPR) disse que o valor destinado a
obras rodoviárias "é pouco, muito pouco". Caramori é dono da empresa Reunidas de Transportes, uma das maioresdo Estado no setor, e foi o deputadomais votado na última eleição com quase 30 mil votos. No seu gabinete, ele
expõe com orgulho um retrato no qualaparece ao lado de uma máquina re
troescavadeira, pilotada pelo governador Vilson Kleinübing.
Enquanto as verbas sobram na
área de transportes, faltam na educa
ção. A proposta orçamentária que estána Assembléia se limita a investir em
educação o mínimo que exige a Consti
tuição Federal, ou seja, 25% da receitaresultante de impostos (ficam excluídasas taxas e outras contribuições cobradas pelo Estado).
A polêmica está em quais itens po-
dem ser incluídos para efeito de cálculodesses 25%. O governo contabiliza os
gastos com repasses de verbas para a
Escola de Polícia Militar, FundaçãoCatarinense de Ensino Especial e àUniversidade para o Desenvolvimentodo Estado (Udesc). O deputado VilsonSantin, líder da bancada do PT, não
concorda com isso. Ele acha que o governo deve investir os 25% exclusivamente na rede estadual de ensino fun-
que os deputados vão assinar para o
governador, no valor de 29 bilhões e
600 milhões de cruzeiros reais. Esse valor representa praticamente 30% de toda a despesa prevista para 1994. O projeto do executivo não detalha onde se
rão gastos estes bilhões, o que podepermitir a manipulação de quase um
terço de todo o orçamento.Em defesa do governo está Aylton
Sacramento. Ele explica que o detalha-
damental. Pelos cálculos do PT, contando com o pagamento dos funcionários aposentados, o investimento em
educação deve ficar em torno de 23%da receita oriunda da arrecadação de
impostos.Há ainda outros fatores que carac
terizam o orçamento como uma peçapolítica. O item "outras despesas cor
rentes" é uma vala comum contábil quepode se tomar um cheque em branco
Venturll, O cllmpeão: 512 emendlls e lIindll queria mllis 100Reportagem e Textosaula Henrique Sousa
Paulo de Tarso Deputados abusam de projetosDas 1400 emendas apresentadas ao
projeto de orçamento do governo, o
deputado Adilson Paes Ventura (PFL)Q'" é responsável por 36,57% desse total.� Ele entregou ao relator da proposta de
ii;! orçamento, Reno Caramori, 512 emen
§ das. Segundo Ventura, outras 100 propostas de sua autoria ficaram de fora,por não estarem prontas dentro do prazode entrega. As propostas de AdilsonVentura beneficiam principalmente as
cidades da região serrana, base eleitoraldo deputado lageano. No total, 1294emendas foram propostas individuais, oque caracteriza a fragilidade dos partidospolíticos. .
Algumas das emendas ao projeto de
orçamento são, no mínimo, curiosas.Adilson Ventura apresentou duas quebeneficiam a Associação de Moradoresdo Kobrasol e a Associação ComunitáriaCerritense. O deputado também apresentou emendas para a construção de 15
ginásios de esportes, e aquisição de câmaras frias para os agricultores de 16cidades do Planalto. O deputado JoséPedrozo (PPR), propôs a pavimentaçãodo acesso à Cooperativa AgropecuáriaCamponovense Ltda. O festival deemendas eleitorais segue com o deputado Noemi Cruz. Ele quer que o Estado
compre tratores com pneus e implementos para os municípios de Luís Alves e
Ilhota.A primeira emenda a ser enviada
à Comissão de Finanças foi a do depu-
tado Wilson Wandall. Foi apresentadano primeiro dia do prazo para entregadas propostas, 16 de novembro, e pedeverbas para a construção da sede do Círculo Trentino, de Nova Trento. Wandallafirma que o Círculo é uma entidade cul
tural, que preserva a tradição dos imi
grantes que vieram de Trento, na Itália.O prazo para apresentação dos projetosencerrou no dia 30 de novembro, às setee meia da noite. Até as quatro da tarde,o deputado Reno Cararnori , recebera
apenas 260 emendas, e esperava maisumas 800 até o final do dia. Recebeumais 1100.
As propostas para a alteração do
orçamento deveriam ser enviadas à Comissão de Finanças e Tributação obedecendo a alguns critérios. O principal deles era observar de onde o dinheiro paraa obra requerida seria deduzido. Mas al
guns deputados pareceram não entenderas regras do jogo. O deputado Gelson
Sorgato (PMDB) enviou 63 emendas,das quais apenas uma apresentava a de
dução de verbas para realização da obra.Além das individuais, foram entre
gues 41 emendas coletivas e 65 de bancadas diversas. O PFL foi o partido quemais apresentou projetos: 707. O PMDB
apresentou 353, o PDT 88, o PPR 75e o PSDB (representado pelo deputadoMarcelo Rego) 71. Dos quarenta deputados que formam a Assembléia, 21 en
viaram propostas para emendar o orçamento do Estado para 1994.
Io r Illtor (IIrllmnor; aceitou
mendlls e/eitoreiras pDr"nao contrariar os deputados
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Sete anões são manchete desde 91A divulgação do esquema
de corrupção na Comissão do Orçamento,
feita de maneira bombástica nodia 20 de outubro, não sur
preendeu sequer uma mosca
nos palácios de Brasília, quanto mais deputados e jornalistas. Já em 1991, informaçõessobre a manipulação de verbasorçamentárias circulavam nos
corredores do Congresso e va
zavam escandalosamente paraa Imprensa. Há exatamentedois anos, uma série de repor-.tagens feitas nos grandes jornais do país denunciou as irregularidades na Comissão. Masa atuação dos periódicos na
época revelou-se puro fogo depalha: em quatro meses o as
sunto perdeu espaço nos jornais e acabou inexplicavelmente esquecido, apesar das provas, evidências e acusações levantadas.
Em agosto de 1991 o paísestá envolvido num mar de denúncias nunca visto. Entre a
posse de Collor e o dia 11 desetembro, o número de acusa
ções de corrupção levantadaspelos quatro maiores jornaisbrasileiros chega a 230, ou se
ja, um caso a cada 60 horas,Neste mês, sete CPIs encarre
gadas de apurar denúncias deirregularidades na manipulação do dinheiro público se desenvolvem no Congresso, en
quanto outras três aguardam a
vez de serem formadas. O Brasil se prepara para as eleições'municipais de 1992 e os donosdo orçamento apostam alto nos
pequenos redutos eleitorais e
na compra de apoio político.Esquema - "Já fui pro
curado por 27 prefeitos denunciando intermediação de ver
bas" acusa o senador RonanTito, do PMDB mineiro, nas
páginas da revista Veja. As denúncias surgem de todos os lugares. Em 19 de setembro o
dono da construtora Móduloem São Paulo, Antônio CastroPaixão, apresenta num dossegmentos do programa do PT,durante o horário político gra-
'
tuito, papéis que comprovamo favorecimento de determinadas empreiteiras nas concor
rências para construção deobras públicas. Da mesma forma, o prefeito de Luis Antônio, cidade com cinco mil habitantes na região de RibeirãoPreto, esclarece à Veja o es
'quema de recebimento de verbas do governo federal: "Temos que assinar uma nota fria,ainda na capital federal, no va
lor equivalente do que vamos
receber. Sem isso o dinheironão sai".
Um grupo de deputados:conhecidos como "os seteanões" ou "Exército Branca deNeve" figura nas manchetesdos jornais e é famoso, não sópela pequena estatura, mas pela grande influência que exercena Comissão do Orçamento.Em 12 de agosto o Jornal "O,
bre a destituição do relator. ARicardo Fiúza fica a incumbência de "adoecer" Alves, ou en
contrar outra forma de afastálo da Comissão. O desgaste político causado pelo relator éimenso, mas o deputado promete "afundar atirando". O
S d f' 2assunto consome mais 15 dias
egun a- eira, 8 de outubro d!!,J�1 de tensão em Brasília e terminacom a nomeação de RicardoFiúza para o cargo.
Os favorecimentos continuam e um mês depois a Comissão de Orçamento já é denovo o assunto mais comentado no Congresso e nos jornais.Passadas 24 horas da sessão
que cassou o deputado JabesRabelo, de Rondônia, algunsparlamentares começam a circular pela Câmara articulandoa derrubada de colegas sobreos quais pairam denúncias deirregularidades. O deputadoJacques VVagner percorre os
gabinetes com uma lista de as
sinaturas pedindo a instalaçãode uma CPI para investigar otráfico de influências e a utilização de verbas federais na Comissão do Orçamento. O deputado José Dirceu (PT-SP)vai ainda mais longe: encaminha ao Tribunal Superior Eleitoral um pedido de cassação domandato de João Alves, porcrime eleitoral na interrnediação de verbas em troca deapoio político no município deSerra Dourada.
Implosão - Em cinco dedezembro, um requerimentoassinado por 65 deputados é
entregue à Corregedoria daCâmara, pedindo a apuraçãodas irregularidades na Comissão. Alguns anões chegam a se
assustar. "A Câmara precisadeixar de ser delegacia de polícia. Vamos comer-nos uns aos
outros, não dá" defense-se o
deputado Ubiratan Aguiar(PMDB-CE) um dos sete integrantes da Comissão do Orçamento. Entretanto, não há motivos para pânico. O deputadoIbsen Pinheiro, então presidente da Câmara, não mexe
um dedo para iniciar qualquerinvestigação, apesar do assun
to ainda estar estampado nas
capas dos jornais.Domínio de parlamenta
res, imprensa e opinião púbico, o debate sobre a corruçãono Orçamento não vai muitomais longe. Já em dezembro,nenhuma denúncia de pesoveicula nos grandes jornais.Em 20 de outubro de 93 o es
quema implode com as revelações do economista José Carlos dos Santos, e a ComissãoParlamentar de Inquérito é finalmente formada. Mas a notícia que chega às ruas já nãoé novidade: há muito passeavapelas bocas dos parlamentaresda Câmara e do Congresso,amparada no silêncio cúmplicede políticos e no pouco caso
da imprensa. Até as moscas sa
biam.
Denúncias de O Globo e Veja não foramadiante por falta de vontade política.
Congresso foi conivente com corrupção3l0BO
Globo", denuncia o favorecimento nas verbas orçamentárias. A Bahia, terra do deputado João Alves e do líder doPMDB na Câmara, GenebaldoCorreia, surge como - Estadocom mais recursos "carimbados" pelo governo federal, garantindo 52 bilhões e 865 milhões, cerca de 30% do totalde recursos. O mesmo ocorre
com vários municípios de baseeleitoral de deputados ligadosà Comissão.
Serra Dourada - Os fa- I
tos deixam transparente o en
volvimento dos anões no desvio de verbas do Orçamento,principalmente no casodo re
lator João Alves, No dia 14 deoutubro, o jornal "O Globo"acusa a existência de recibosassinados por vereadores do I
município baiano de Serra,'Dourada, que confirmam terrecebido dinheiro em troca deapoio político a Alves (o jornal'chegou a publicar o recibo), eo favorecimento do relator àscidades onde tem base eleitoral. O jornal é enfático: para
o Globo jó indicllvfI, hódois IInos, O dep.ullldo JoioAlves como um dos membros
dfl mólill do or!IImenio
Serra Dourada, com população de 17 mil habitantes, Alvesgarantiu verbas de 6,1 bilhões,mais do que receberam capitaisdo porte de Rio e São Paulo.
As irregularidades explícitas na manipulação das verbasdo Orçamento fornecem motivos suficientes para criação deuma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) já em 1991.Investigações chegam a ser so
licitadas. No dia 22 de outubro,o PT pede à Mesa diretora daCâmara que acione a Procuradoria Parlamentar para punirJoão Alves, O líder do partido,deput�do José Genoíno, es
perneta, gritando que é "inconcebível apenas destituir o
relator sem investigar as denúncias de manipulação deverbas do Orçamento e com
pra de apoio político feitas contra ele."
Escolta - A verdade éque, em 1991, o chefe do exército de anões está envolvido inclusive em acusações de suborno aos profissionais da imprensa. "Não saio do cargo. É tudomentira contra mim. Aquelesf.d.p disseram que eu tinhaoferecido o carro "esbravejava, depois da revista Veja publicar uma matéria dizendoque Alves havia oferecido doiscarros a repórteres, em trocade um parecer favorável sobresua atuação no Orçamento. Asituação do relator complica-seainda mais quando ameaça dar"um tiro na bunda" do Senador Eduardo Suplicy, do PT,por estar movendo denúnciascontra ele. Suplicy passa a an
dar escoltado por dois seguranças no Senado e a fama de JoãoAlves cresce.
Pressionados pelo PSDBe PT, o presidente da Câmara,deputado Ibsen Pinheiro e o
líder do PFL, deputado Ricardo Fiúza, iniciam em outubrode 91, um processo de consultas ao partido para decidir so- Mônica Linhares
8 'u', ZERO '_ '" _, ','. ',,' .,-;:,,93 - DEZEMBRO
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Expulsos do paraísoBarracos ilegaissão derrubados naLagoinha do Leste
AdemirBento, o "Coto",
corre aflito pela trilha queleva à Lagoinha do Lese,
um recanto ainda preservado do
sul de Florianópolis. Pedreiro, 25anos, ele saía para trabalhar quando viu um carro da Polícia Florestal passar em direção ao início
da trilha. Eram oito da manhã e
Coto não teve dúvida: foi defender o seu barraquinho construídocom tanto sacrifício.
Durante a descida, Coto con
tinua correndo e ainda encontra
fôlego para contar a sua história.Ele nasceu ali mesmo, numa casinha à beira da Lagoinha que jánão existe mais. Naquela épocanão havia essa tal de Lei de Prote
ção Ambiental, mas mesmo assim
ninguém queria ficar naquele fimde mundo. Aos quatro anos, foi
morar com a família no Pântano
do Sul, perto do início da trilha.Aos sete, depois da morte do pai,virou pescador para ajudar a mãe.Coto diz que ela se preocupouquando o viu sair daquele jeito."Não vá se meter em confusão",pediu.
Depois de gastar apenas 28
minutos nos quatro quilômetrosda trilha - o normal é percorrê-laem quase uma hora -, Coto percebe que a Lagoiha está em paz.Havia corrido a notícia das demo
lições nas praias da Solidão e do
Saquinho, e talvez a ação se esten
desse aos doze barracos construí
dos ilegalmente na Lagoinha do
Leste, Parque Municipal desde1987.
Aliviado, Coto vai até o seu
barraco conferir se está tudo bem.
No caminho, há um outro já de
molido. "Esse foi a gente mesmo
que derrubou", esclarece. Na ten
tativa de conseguir apoio nas ne
gociações com a Prefeitura, os doze donos dos barracos criaram a
Fundação Ecológica Besouro Verde. Não queriam mais nenhum só
cio, e o barraco que estava no chãoseria o décimo terceiro.
.
Cachaça de Pitanga - Coto
abre o seu barraco de madeira,que embora tenha fechadura nã?tem piso. Há rastros no chão. "E
de lagarto. É bom porque eles comem cobra". Lá dentro, em seismetros quadrados, uma tarrafa,material de pesca, um pequeno fo
gão à lenha e uma cama improvisada. Coto lava o rosto na águapura que vem da cachoeira, há trezentos metros dali. "Fiz ummonte
de viagem pra trazer a manguei-ra" .
Ele faz questão de mostrar
que a natureza ao seu redor continua intocada. Coisa que não acon
tece quando a Lagoinha recebe vi
sitantes, tanto os que voltam no
mesmo dia como os que acam
pam. Os membros do Besouro
Verde limpam semanalmente a
Lagoinha do Leste e recolhem garrafas, plásticos e latas deixadas pelos turistas.
Coto resolve visitar seu vizi-
nho Valtemir. Alguns dos barra
cos da Lagoinha ficam isolados,exigindo em média uma caminhada de cinco minutos até o mais
próximo. Na chegada, Coto fazuma brincadeira. "Derrubarammeu barraco". Valtemir custa a
acreditar, mas a cara tristonha do
amigo o convence. Coto sorri e
desmente. Valtemir respira fundoe abre a garraf de cachaça de pitanga, plantada por ele ao ladodos pés de maracujá, mamão, bergamota, ameixa e goiaba.
Almoço Adiado - Valtemir
Andretti, 39 anos, já teve o barra
co derrubado duas vezes desde
que chegou à Lagoinha, há dez
anos. "Se colocassem fiscalização,eu aceitaria tranqüilamente. Masninguém cuida disso aqui além da
gente". Dono de uma revendedora de material de escritório, estárelativamente bem de vida. Sem
pre que consegue se livrar do tra
balho, enfrenta a trilha. Ultima
mente, sempre sozinho. "Minhamulher e meus dois filhos queremuma outra praia, com acesso mms
fácii. Eu só continuo com esse bar
raco porque adoro isso aqui".Valtemir oferece um chá que
mistura espinheira santa e boldo,plantados por ele próprio. "É bom
pro corpo todo", explica. Com a
chegada de Jandir Lobo, 48 anos,"decorador de ambientes internos
especializado em papel de parede", a conversa corre solta. Fala-
Marco Cezar (O Estado),
vez corendo em direção ao seu
barraco, na "zona sul".
Os vinte homens da Prefei:tura, vestidos com calças e bonés
laranjas e camisetas brancas, tinham a proteção de sete guardasflorestais e a liderança da ex-ve
readora e atual Assessora de MeioAmbiente da Prefeitura, Jalila El
Achkar (PV). O grupo esperou na
Delegacia do Pântano do Sul porquase duas horas além do originalmente combinado para o início da
caminhada, sete e meia da manhã.
Mar revolto - "Um negóciodesse, que estorva?", se pergun-
se das cobras que já aparecerampor ali, dos gringos perdidos quepassaram a noite nos barracos e
dos luais naquelas areias brancas.Sobre a lenda das bruxas nas noites de lua cheia, eles não sabem
nada, nunca viram. Discos-voadores também não.
As quatro tainhotas do almo
ço começavam a ser descamadas
quando "seu" Valdir e "Pão-de
queijo" trouxeram a notícia. "Tãoderrubando os barracos". Eram
quase dez horas. Depois de um
momento de quase desespero, Co-I to corre até a beira da praia e vêlá longe os homens da Prefeitura."Eles começaram pela "zona nor
te", diz, antes de sair mais uma
Tihúrcio recolhe liS
gllm.llls deixlld"s nil
prllill pelos turistlls
tava um dos homens da Prefeitura,constrangido em derrubar o primeiro barraco. Aos poucos, o barulho das tábuas indo de encontro
.ao chão foi ecoando por toda a
Lagoinha. Era quinta-feira, 2 dedezembro, e não havia nenhumturista na areia. O dia estava nu
blado e o mar revolto.O grupo da Prefeitura se divi
diu em três. Um deles começoua derrubar a casa dopadeiro Antô-
nio Alves, o "Pão-de-queijo". Aconstrução, com 40 metros quadrados, era uma das maiores. Pão
de-queijo trouxe todos os móveis
para fora e assistiu à demoliçãodeitado em sua própria cama. "E
melhor que arquibancada", divertia-se.
Quem não estava para brincadeira era Valtemir. Enquantoacompanhava a demolição da casa
de Pão-de-queijo, ao lado da sua,ele procurava argumentos paraprovar que estava ali desde 1983,muito antes da criação do ParqueAmbiental, Mas não houve como
evitar. Valtemir chorou.
Documento ilegal- A casa
de Claumeides Caramori, justamente o último a chegar na Lagoinha, ficou intacta. Caramori,membro de uma família politicamente influente em Santa Cata
rina, mantém como caseiro um ca
sal com dois filhos - e esperandoo terceiro. Os fiscais da Prefeituradisseram que a presença da mu
lher grávida impediu a demolição.O caseiro de Caramori, Aris
tides Raulino, sabia que não iriaficar. sem teto. Ele havia falado
por telefone com o patrão no diaanterior e foi tranqüilizado. Caramori tinha um certificado de posse, emitido pelo Tabelião LuizCarlos Santiago, do Cartório San
tiago, em 13 de setembro desteano. O documento é ilegal, já quenão poderia ser fornecido para terrenos localizados em áreas de proteção ambientai. Além disso, elediz que a casa foi construída hácinco anos, quando na verdadenão tem seis meses.
I Por decisão da Prefeitura,apenas dois outros barracos ficaram em pé: o do ex-pintor de pare'des e atual pescador TibúrcioDuarte, 41 anos, um out-sider quese instalou na Lagoinha há dozeanos, e o do "seu" Valdir Steinmetz, 60 anos, um militar aposentado que chegou pouco depois."Seu Valdir" e Tibúrcio vão trabalhar como fiscais da Prefeitura, emtroca da permissão para continuarem morando na Lagoinha.
Pão-de-queijo viu"dll IIrquibllnclldll."
seu barraco caIr
DEZEMBRO - 93'.
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. ",91
Deus é grande - Tibúrcio é o
que pode se chamar de figurinharara. Em 1981 ele morava com os
pais no Rio Tavares quando foi
atropelado ao andar de bicicleta.Com um grave ferimento na perna, resolveu abrir mão da medicina e resolveu fazer fisioterapiano sobe-e-desce da trilha da La
goinha. Ficou bom, se encontrou
com Deus e nunca mais voltou.No começo, Tibúrcio ficava
até dois meses sem ver ninguém.Hoje a Lagoinha é bem mais mo
vimentada. Ele tem um pastor alemão de oito anos chamado "Cão",trazido recém-nascido para a La
goinha. "O sobrenome é "Paraí
so", porque é nele que a gentevive". Desacostumado com a vidana civilização, Tibúrcio acha quenão sobreviveria "lá fora". "Setentarem me tirar da Lagoinha, eume mato e me enterro aqui mesmo", diz. "É aqui que está a minha saúde e a minha paz".
Ele desce ao Pântano do Sula cada quinze dias, mas faz maisde quatro meses que não vai nocentro da cidade. Não tem namo
rada porque "ainda não pintou a
cara metade". Muito religioso,tem a parede do quarto divididaentre a imagem de Nossa Senhora
Aparecida e quatorze fotos, umado Papa e treze da Playboy. Questionado sobre isso, ele apenas res
ponde: "Deus é grande".No caminho de volta da casa
de Tibúrcio aparece Coto, correndo como sempre. "Derrubarammeu barraco". Dessa vez não era
brincadeira. "Tá lá no chão, todoarrombado". Fecha um olho, entorta a boca, faz uma careta quetenta imitar o estado do seu barraco. Depois, achando aquilo tudomuito engraçado, abre um enor
me sorriso de dignidade.
Maur(clo Oliveira
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o dilema na
escolha daprofissãoChegadadovestibular traz dúvidasaos candidatos
Oano está terminando e o
vestibular de 1994, cadavez mais perto. Para al
guns candidatos isso é motivo de
aflição, pois não têm certeza docurso que escolheram. Acontecetodos os anos; pressionados pelafamília, pela questão financeira oupela desinformação, muitos jovens acabam entrando na profissão errada. A maioria só descobreo erro quando está dentro da universidade. Só no ano passado, dos12138 alunos matriculados na
UFSC, 1650 desistiram ou abandonaram a faculdade que cursa
vam.
Eveline de Farias, 18 anos,é caloura do curso de CiênciasContábeis e ainda não sabe se feza escolha certa. "Decidi porquegostava de matemática", explica.A opção foi feita após se informarcom um primo, uma vizinha e um
professor formado na área. Agora, reclama que a primeira fasenão é o que esperava, mas pretende dar mais um tempo paradescobrir se fez a escolha certa.
"Ainda sou nova e se não for o
que quero, faço outro curso".Errar na hora de escolher a
futura profissão não é privilégiodos inseguros. Às vezes, pessoas
Teatro políticovolta à cena compeça sobre Collor
Maisde um ano depois
do fim da Era_Collor,parece que nao resta
outra alternativa a não ser
lembrar daqueles dias com
humor. Enquanto a palavra"impeachment" ainda parecia loucura daqueles "fanáticos xiitas do PT", o Grupo"A" de teatro encenava, nasruas e bares de Florianópolis,a decadência da "Repúblicade Alagoas". Os textos, carregados de.,.ironia e sarcasmo,estão reunidos no recém-lançado livro "Impeachment e
Papel Picado: o Público e o
Privado", do jornalista Daniel Izidoro.
Na peça "Seja lá o queDeus quiser" - que tem o
que têm certeza do que querempodem ser levadas a outros caminhos por conta do acaso. A estudante da quarta fase de Matemática Karin Cristina Siqueira, 19anos, quando se inscreveu para o
vestibular de 1992, optou por Engenharia de Automação com todaa segurança do mundo. Fascinadapelo fato de o curso ser novidadena UFSC, achou que fosse realizar-se na área. Mas os 67 pontosque conseguiu fazer, somados ànota oito da redação, não foramsuficientes para aprová-la. O jeitofoi experimentar um semestre deMatemática - sua segunda opção. Hoje, Karin não quer outracoisa: "Ainda bem que não passei,para Automação".
Existem também os que pas- .
sam quatro anos na universidadea acabam não trabalhando no ra
mo que escolheram. Miguel Arcanjo de Amorim, 47 anos, é um
exemplo. Com o diploma de Ciên-,
cias Contábeis nas mãos, conse
guido em 1987, trabalhou algumtempo na área, mas acabou desistindo para montar uma empresade transportes. Hoje, dono de trêscaminhões, Miguel já contratamotoristas para o trabalho que fazia quando começou o negócio.
no colégio têm acesso a um ciclode palestras, durante os quatro bimestres de aula. Criado há doisanos, participam do ciclo pessoasda universidade e profissionais domercado.
Segundo Ronaldo, nas palestras a indecisão dos vestibulandosfica bem clara. Algumas precisamser repetidas até três vezes, principalménte quando o assunto são os
cursos da moda. Medicina, Odontologia, Direito e Jornalismo lideram os índices para o vestibularda Universidade Federal, fazendoa cabeça dos adolescentes que procuram o status dessas carreiras. Aaluna Luciana Melo do Geraçãoconseguiu escapar do modismo a
tempo. Sua intenção era cursar alga na área da saúde (Medicina a
Odonto), mas depois de assistir a
rendo grana vai pedir na es
quina"."Anos Dourados" satiri
za outro programa da Globo,a "Escolinha do ProfessorRaimundo". Collor e Paulinho, "santinhos" aos olhosda professora Dinda, são desmascarados por uma nova
aluna, Cepeína, enquantooutros membros da "turma"continuam agindo: numa
conversa telefônica, Rosanee Rosinente (não, esses nãosão os verdadeiros nomes dadupla Chicotinho e Salto Alto) comemoram mais uma
falcatrua. "Vau! Que ilegall", diz Rosane, que não se
contém ao saber que haviaganho de PC uma fazenda:"Ai, como é bom ser primeira-dama: de um lado financioa champanha, de outro belisco a merenda".
A última peça é a quedá nome ao livro. Três funcionários públicos - dois de-
A estudDnte KarinSiqueira descobriu o
VOCO!ÕO por ocaso
algumas palestras, a garota aca
bou fazendo duas opções bem distantes disso - Administração na
UFSC e hotelaria na Univali.Informação ainda é a melhor
receita para uma escolha corretade profissão. Poucos podem con
tar com a sorte da estudante Simone Meurer, 21 anos. Ela decidiupela Computação na fila de inscrição para o vestibular. "Todo mun
do dizia que eu tinha cara de advogada ou administradora, mas aca
bei escolhendo a Computação",diz. A opção foi uma loteria: Simone ganhou o prêmio de teracertado no curso. A pouco maisde um semestre da formatura, elase considera satisfeita com a esco
lha que fez.
Ana Paula Pinho
les conservadores e a outramilitante de esquerda - es
quecem as diferenças ideológicas e vão juntos à rua cantaro Hino Nacional no dia davotação na Câmara dos De
putados. O livro traz aindadepoimentos - de um poeta,um sindicalista, uma professora, uma "cara-pintada" e
do autor - que ajudam a
compreender todo o processode impeachment de Collor.
Se esse não tivesse sidoum momento tão histórico, aspeças do Grupo A estariamfatalmente condenadas pelotempo. Mas é bem possívelque daqui a vinte anos elasainda estejam sendo encena
das, e muitos rirão das personagens dessa história quasesurreal. Se lembrarem que a
Era Collor foi, na verdadetragicomédia, poderão chorar também.
Maurfelo Olilleira
República de Alagoas vira piadafinal escolhido pelo público,numa sátira ao programa"Você Decide", da TV Globo -, os irmãos Pedrinho e
Narizinho brigam por uma
bola. Quem chega para com
plicar ainda mais o conflitofamiliar? Ele mesmo: PCesinho, que proprõe a brincadeira da "ciranda financeira".
Mas o tempo é o senhorda razão, como diria um certo
ex-presidente. As criançascrescem e a história passa deMonteiro Lobato à Shakes- :peare. Como se fosse a caveira de Hamlet, Pedrinho apa- I��"""
rece nos ombros dele próprio, adulto. Pedro e Pedrinho conversam com o fantasma do avô, Lindolfo Collor,que diz estar "condenado a
vagar pelas noites frias, e durante o dia a arder nas chamas, até que sejam extintose purgados os crimes que em
vida cometi". Pedro comenta"Oh! Que horrível sina" e Pedrinho completa: "Tá que-
Marlen Lingner Heidrich, 30anos, também mandou o diplomapara o espaço. Formada em Enfermangem pela UFSC, hoje trabalha como professora de dançaem um colégio público de Floria
nópolis. Assim, pode conciliarmelhor seus horários com os trêsfilhos e o marido Edson. "Foi umaopção de amor e prazer", disse.
Ajuda preciosa - Na horade escolher a carreira, qualquerajuda é bem vinda: um bate papocom alguém da área, leitura ou
até mesmo uma visita à universidade em busca de informações.Alguns colégios de Florianópolisprocuram levar essas informaçõesdiretamente aos alunos, através depsicólogos e palestras. "A intenção é dar uma visão bem amplado que é cada curso", explica o
auxiliar de direção do colégio Geração, Ronaldo Luiz Silveira. Todos os 2500 alunos que fazem ter
ceirão, extensivo e semi-extensivo
GRUpO A ApRESEN1A
IMPEACHMENT E PAPEL �CAOO:O �BU(O E O PRMW
t_l�DANIELM. IZlDORO
Grupo A mostro o
que houve de risívelno corrup!õo
10 ZERO 93 . DEZEMBROAcervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Franklin Dias viroucelebridade ao pousar para
um anúncio de cuecas
Demi Moore mantéma forma mesmo depoisdo segundo filho
Culto ao corpo lota as
academias de ginásticacom a chegada do verãoO verão está chegando e com
ele começa a se manifestar
em Florianópolis um fenô
meno que se repete todos os anos nessa época: a superlotação das academias de ginástica, centros de estética,consultórios de endocrinologistas e
spas. Com a grande procura por esses
serviços, os preços sobem muito, e
hoje a mensalidade de uma academiade ginástica chega a 42 mil cruzeiros
reais, 2,8 salários mínimos. Mesmo
assim as mulheres, público alvo desse
mercado, pagam o que for preciso pela ilusão de, em pouco tempo, conse
guirem o corpo perfeito para desfilarem nas praias da ilha.
"Durante o verão eu fico mais
magra, chego a perder até seis quilos,mas no inverno volta tudo". Casos
como esse, da estudante Katiane Sil
veira, 19 anos, são os mais comuns.
Só que esse tipo de coisa pode virar
um vício: a pessoa emagrece e engorda rapidamente e sofre o conhecidoefeito sanfona. "Aí além da obesi
dade, a paciente agrava problemascomo celulite, estrias e flacidez", avisa o endocrinologista Osvino Klink.
O médico condena a atitude de suas
clientes - 90% mulheres - de se
preocuparem com o corpo e a saúde
só numa estação. "A minha clínicalota e elas querem milagres". Klinkafirma que no final do verão, boa parte dos pacientes abandonam o trata
mento e voltam a engordar no inver
no. "O pior é que elas têm consciência disso e repetem a praxe todos os
anos".
Regras rígidas - A busca por resultados imediatos fica clara em janeiro,quando 70% das pessoas que come
çaram a fazer exercícios no fim doinverno abandonam as academias.
Segundo a professora de ginástica da
Academia Racer, Maria Eduarda
Bermudez, elas chegam ansiosas paraacabar com seus problemas rapidamente. Desde quando se matriculam
elas recebem orientação quanto à im
portância da saúde em prime fro lu
gar, "mas a maioria não se importae acaba indo embora quando conse
guem as primeiras mudanças". Já para a Academia Manfio, "esse tipo de
A vontadedese exibir napraia vale osacrifício dasmulheres
clientes não interressa "diz a proprietária Lenir Manfio que deixa isso elaro ao fixar em sua sala de espera todasas regras rígidas que devem ser rigorosamente cumpridas.
A dona-de-casa Iracema Pain
Langer, de 40 anos, matriculou-se re
centemente na Manfio. Ela resolveu
procurar a academia depois de saberde um caso, divulgado nacionalmentede uma cliente que emagreceu 43 quilos com dieta e exercícios. D. Iracema
pagou uma taxa de 35 mil cruzeirosreais para começar seu tratamento.
"Um pouco salgado", segundo ela,mas que se "der resultados, foi bemempregado". D. Iracema acredita
que, aos 40 anos, nem deve mais fazereconomia com esse tipo de coisa. "Jácuidei de filho, de marido, agora te
nho que cuidar de mim, até que nãoacho caro".
Ana Maria Bicca, funcionária doBanco do Brasil, entrou na Corporeem setembro e paga 42 mil cruzeirosreais por mês. Para ela, "o pior nãoé o dinheiro, mas a sensação de ter
apanhado que a gente sai de lá". AnaMaria faz, além de fortes massagens,injeções de enzimas para combatera celulite, o que a deixa "toda roxa".Ela acha que as dores e os hematomasserão bem compensados se conseguirficar como quer.
Alternativas mais modernas e
menos sofridas para conseguir o visual perfeito são as propostas pelaZilma Fusão. O centro de estética,que está com todos os seus horários
lotados, oferece eletroforese, fornode Bier e placas eletrõnicas. Processoque, infelizmente, não estão ao alcance de todos. O liporredutor, carrochefe do centro, por exemplo, custaà paciente 27 mil cruzeiros reais pormês. Acabar com a gordura localizada com aplicações de raios lasercusta mais 18 mil cruzeiros reais. Ostratamentos são de no mínimo 6 me-
, ses.
nação é de três dias, só que esse
tempo não é suficiente paraemagrecer o desejado. O cliente fica, em média, 15 dias, o
que significa um gasto de 480mil cruzeiros reais. O Spa SeteIlhas, instalado junto ao HotelJurerê Internacional é mais barato, 55 dólares a diária. Quempensa que não há quem pagueesses preços se engana. Todosos spas consultados pelo Zeroestavam lotados e só aceitavamreservas com 15 dias de antecedência.
Localizados em lugares paradisíacos - em Caldas da Imperatriz e de frente para o mar
de Jurerê - os dois spas têmtratamento 5 estrelas. Eles oferecem tratamento médico,exercícios físicos, piscinas, hidromassagem, massagens,acompanhamento de nutricio-
Opções baratas e perigosas sãoas dietas milagrosas. Elas podem atédar resultados, mas acabam trazendoainda mais problemas para o organismo. Só quem já tentou fazer regimesforçados como o da lua, dos líquidosou dos treze dias sabe o efeito queeles podem ter no dia-a-dia. Nos primeiros momentos, a tontura e a fra
queza, depois a indisposição e o mau
humor constante, e a longo prazo,doenças como anemia, bulimia e ano
rexia nervosa, que tira o apetite dodoente.
Depressão e dependência -
Quando a dieta ou os exercícios jánão estão dando o efeito desejado,é comum a procura por remédios,chás e fórmulas mágicçs. Os anorexígenos, remédios para êmagrecer. sãoos mais usados. Eles tiram a fomedos gordinhos, mas em troca deixama dependência, o stress e doenças docoração e no sistema nervoso. Além
disso, o obeso não pode deixar deusar os remédios, pois à medida queo tratamento para, os quilos voltam.
"Eles só podem ser vendidos sob
prescrição médica, mas a gente sem
pre dá um jeitinho" afirma M.H.R.,professora primária do Estreito, 25anos. M.H.R. toma anorexígenos hátrês anos, e apesar de saber o quantoeles the fazem mal, confessa que não
consegue se libertar. Depois de ema
grecer 11 quilos Maria Helena achou
que poderia parar e manter o pesopor conta própria. "Foi aí que eu percebi que não conseguiria, engordei3 quilos em um mês". A professora,que antes era "alegre e bem humorada" hoje depende dos medicamentos e faz análise, pois já teve váriascrises de depressão. "Eu não queroficar gorda, acho isso ainda pior".
Emagrecimento rápido é ilusãonistas e saunas. Seguindo ngidas dietas, nesses lugares che
ga-se a emagrecer de 4 a 6 quilos por semana. Os hóspedessaem de lá prontos para mudar10 antigo ritmo de vida, só queI isso dificilmente acontece.
"Quando a gente chega emcasa, bem magrinha, pensa quetudo vai mudar, só que esse en
I tusiasmo só dura algumas semanas", afirma a advogada Andréa Shãffer, que se interna em
spas todos os anos para "consertar as besteiras que fez no
linverno". "A gente sabe os re
ísultados que pode conseguir eacaba voltando, eu costumo atéreservar uma grana para poderemagrecer no fim do ano", confessa.
Suyanne Quevedo
DEZEMBRO - 93 ZERO 11
o: comerciais de televisãomostram o corpo que
qualquer mulher gostaria de
ter, mas as modelos que incentivam tantas telespectadoras a
procurarem os spas não conse
guiram sua plástica impecávellá. Os slogans também são su
gestivos: Muda de vida ou Tome uma atitude. A verdade é
que a internação em um spa pode resolver, num curto prazo,
! os problemas de obesidade,mas seus resultados não são prasempre e quem se interna pelafebre de verão tende a voltara engordar assim que ele acaba.E pior, esse luxo pode custar
muito caro.
A diária de um spa como
o Caldas da Imperatriz, há 35Km de Florianópolis custa hoje135 dólares, 32 mil cruzeiros
I reais. O prazo mínimo de inter-
, ,
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Florianópolis, quintafeira, 11 de novem
bro. O público na
Festa do Mar esperava os
Titãs do Rock nacional.
Apesar de pequeno para o
show, o circo de lona e chãobatido montado pela prefeitura, aguentava cinco mil
pessoas à espera dos sete
músicos que viriam para detonar toda fúria do rock, debaixo de muito som pesado,os Titãs.
Os antigos fãs vestidoscom os tradicionais jeans e
camisetas vieram para ouviras músicas calmas que con
sagraram a banda na décadade 80. Junto com eles, os
novos fãs com cabelos com
pridos, camisas de bandasde rock pesado e calçasjeans rasgadas nos joelhos,vieram para ouvir "Será queé isso que eu necessite?" e
"Polícia", de preferênciatocada na velocidade que o
grupo mineiro Sepulturagravou no disco Chaos A.D ..
Mesmo com as diferen
ças entre os dois públicos,todos cantavam os maioressucessos do grupo em frenteao palco, enquanto esperavam a chegada dos ídolos.Isto durou pelo menos uma
hora. Depois a galera can
sou de esperar e iniciou umasonora vaia. Gritos e latasde cerveja atiradas ao palcomostravam o cansaço do público que esperou até 23h15min quando, finalmente, asluzes se apagaram e os Titãs
apareceram.Para deleite dos novos
fãs, a banda abriu o showcom "Será que é isso queeu necessite?", música car
ró-chefe do novo disco Tita
nomaquia.Sem parar, emenda
ram com "Porrada" e "Polícia" do disco Cabeça Dinossauro. Infelizmente as letrasdas músicas foram levadasa sério pelo público e pelaSegurança da Festa. "Porrada nos caras que não fazem nada", "Polícia paraquem precisa/Polícia paraquem precisa de Polícia".
Todo o peso do som no
início do show mostrou, para os que ainda não acreditavam que o grupo mudouna fase pós-Arnaldo Antunes. Estas tendências HeavyMetal foram notadas antesdo show na fita que rolounoplayback com músicas doMetallica, Ministry e Pantera, confirmadas na passagem da segunda para a terceira música do show, quan-
do o vocalista e tecladista
Sérgio Britto cantou o re
frão de "Dead Skin Mask"do Slayer, uma das bandasmais conhecidas no mundodo Heavy Metal.
Som pesado - Os fãs
antigos não entendiam o
que estava acontecendo. Abanda que tocava "Mar
vin", "Go Back" e "Família", detonava furiosamentetodo aquele som pesado.Ao invés de casais enamo
rados ouvindo românticasou dançantes canções, muitos cabeludos balançavamas cabeças e faziam enormes
rodas de pogo, empurrando-se e chutando-se ao estilo Punk.
Por sorte a banda percebeu que os garotos esta
vam se exaltando e, antes
que algo pior acontecesse,o som acalmou. Mesmo as
sim roubos e brigas atrapalharam que foi lá para se divertir. "Isso é coisa de ne
guinho do morro" , que baixa aqui prá fumar maconha,dar porrada e roubar os outros", conta revoltado e
com um tom de discriminação racial. Juliano Andrade
de 19 anos, que teve roubados o relógio e a carteiradentro do show.
Mesmo com esse lado
negativo, o show foi ótimomusicalmente, a banda não
perdeu o controle do público, demonstrando competência e experiência. "Omelhor show do ano", co
menta Jorge Pavão, 25, quefoi conferir as novas tendências dos Titãs e aprovou a
postura Heavy Metal assumida pelo grupo. Os fãs an
tigos não entenderam os
motivos da mudança radical,no sum da banda. "Eles sóestão fazendo esta porcariapor que o Arnaldo saiu",diz Andresa Marques, 17,reclamando do "barulho"
que os Titãs fazem agora.Apesar de oficialmente
a saída do ex-membro ter
sido amigável, Sérgio Brittodemonstrou o contrárioneste show de Florianópolis. Ergueu um crânio com
uma vela acesa em cima e
exclamou: "Por incrível quepareça, isto aqui é de um
amigo nosso: Arnaldo Antunes!". E uma música ma
cabra confirmou que a ami-
tratação de um serviço de
Segurança nada profissional pela Prefeitura. Me-:lhor seria chamá-lo de in
segurança. Além de intervir a favor dos que me
roubaram, (será que houve comissões?), um outro
episódio ocorrido naquela noite reforça a hipótesede que os integrantes da
"Segurança" estão mais
para bandidos do que ou
tra coisa: um grupo de
adolescentes, que tenta
vam ver um pouco do movimento de cima da passarela, foi agredido por vários brutamontes farda
dos, no lado de fora dacerca que limitava a áreade ação da "Segurança".Dos dois que não conse
guiram correr da "Segurança", um foi cortado a
canivete e ameaçado demorte. O outro apanhoufeio na cara, sua corren
tinha de ouro, roubada.E quando eu, já expulso,tentava argumentar do lado de fora querendo rea
ver meus pertences, fuimandado calar a boca para "não apanhar mais".Se houve critérios na con
tratação do serviço, elessó podem ter sido os da
ignorância e estupidez.Quanto a Polícia Mi
litar, que lavou suas mãos
alegando nada poder fazer, tenho a impressãoque seus integrantes são
ente imaginarse na seguintesituação: você
resolve, na última hora,ir a um espetáculo musical. Lá dentro você é
agredido e roubado, masa Segurança, interpretando os cinco agressores como vítimas, resolve levarvocê como bandido e o
expulsa com grossura e vi
tupérios. Lá fora a PolíciaMilitar o trata com indiferença e, ante a insistên
cia, com ameaças de prisão. Só lhe resta juntar araiva acumulada e, antesde fazer uma besteira,disparar para a Polícia Civil esperançoso de uma
solução. Mas cuidado, aodescobrir que a Polícia es
tá em greve e nada podefazer para the ajudar, nãoesmurre a parede nem
chute a porta do prédio.Descalço com a camisa
rasgada, cara quebrada e
sem documentos, é possível que a Polícia Militarlhe leve para uma voltinha de camburão.
Excluindo - porpouco - a voltinha decamburão, segui, passo a
passo, esta receita de "in
dignação à moda da ilha"na última quinta-feira, noshow do Titãs, promovido pela Prefeitura. Os Titãs no paleo e eu na platéia, de repente um soco,os Titãs no paleo e eu no
iAgressão, roubo e abuso9- de poder na platéiaIII...
zade entre a banda e Antunes está morta.
Segurança? - Quintafeira, um local pequeno,quente e abafado, sem segurança, mas com um preçoatrativo. Cinco mil pessoasforam conferir a Festa. Entre elas o prefeito SérgioGrando, de terno e gravata,que estava por lá a meianoite junto com alguns as
sessores, conferindo aquelevelho refrão - que aindanão virou música - em queFlorianópolis é um lugarviável para a realização de
grandes eventos culturais.Tomara que ele também te
nha conferido os problemasda "Segurança" da Festa or
ganizada pela prefeitura.Leia agora o relato de
Ademir Roberto Sander,um estudante do Curso deJornalismo da UFSC, quefoi à Festa do Mar divertirse e acabou sendo assaltadoapós apanhar de vários bandidos e ser ameaçado pelos"Seguranças" da Festa e
por policiaismilitares.
Alessandro da Silva
"...os Titãs no palco e eu no chão"
fãs do Titãs. Que outra
razão explicaria a presença deles ao evento se nada
podem fazer? Tentei insistir para que tomassemuma providência em meu
favor, mas fui ameaçadode ir para a cadeia - sóo que me faltava - se nãoparasse de lhes "incomodar". Talvez estivessemtentando compreender asletras: 'Polícia para quemprecisa de Polícia'.
Chico Sander
chão. Fui chutado por unsdez pés e quando a Segurança interveio, em meu
desfavor, já havia perdido algumas coisas e ganhooutras. Perdi meus tênis,relógio, documentos pessoais e do carro, dinheiroe boa parte de minha au
dição esquerda. Ganheium edema no olho, umafratura no nariz, hematomas por todo o corpo e
uma lição de como as coisas (não) funcionam no
Brasil.Causa espanto a con-
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina