1
Valéria Pero
Tendências da Mobilidade Social
no Rio de Janeiro
Tese de doutorado apresentada ao Instituto de Economia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em
Ciências Econômicas.
Banca Examinadora:
___________________________________
João Saboia (Orientador)
___________________________________
José Ricardo Tauile
___________________________________
Carlos Lessa
___________________________________
Nelson do Valle e Silva
___________________________________
Denise Britz
Rio de Janeiro
2002
2
Ao Pedro,
meu filho,
minha fonte de alegria.
3
As pernas de um povo são suas instituições sólidas, seus partidos,
suas associações e não o que se anda falando.
Robert Musil
A educação é irmã inseparável da cultura. Afastá-las é matá-las de
inanição.
Alcione Araújo
4
AGRADECIMENTOS
Como é bom chegar na hora dos agradecimentos. Lembrar das pessoas que contribuíram com meu
trabalho ao longo deste último ano em que estive absorvida com a elaboração da tese é uma tarefa
deliciosa, por conta do alívio de estar chegando ao final e pelo simples prazer de recordar bons
momentos.
Agradeço à Fundação Ford e à Ence/IBGE pelo programa de incentivo à pesquisa que apoiou o
desenvolvimento da tese em vários aspectos: acesso aos microdados e equipamentos, programador,
financeiro, contatos com especialistas sobre o tema no âmbito do projeto e com professores da
instituição na aplicação de modelo estatístico adequado ao tema. Certamente, sem este apoio não
teria sido possível realizar essa pesquisa da mesma forma.
Sob esses vários aspectos vale mencionar as pessoas que me ajudaram de diversas formas para
realização da pesquisa de tese. Aos coordenadores do programa, Jane e Kaizô, por terem dado
“carta branca” para fazer a minha pesquisa e pelas poucas, mas boas, conversas. Ao Luiz Marcelo,
que fez toda parte de programação da tese e me ensinou a usar o SPSS, devo dizer que seu trabalho
foi fundamental. Tive o privilégio de contar com um sociólogo-programador-estatístico para me
ajudar a organizar a base de dados, montar a classificação, rodar os modelos, falar dos problemas
etc. Gostaria de agradecer-lhe especialmente pela paciência que teve com os milhões de testes que
fizemos para avaliar as classificações ocupacionais. Ao Paulo, pela generosidade com que passou
seus conhecimentos e com que me ajudou a tomar algumas decisões difíceis sobre o tema. Foi uma
grande oportunidade conhecê-lo no âmbito do projeto por ser um especialista na área e uma pessoa
de convívio muito agradável. À Denise e à Maria Eugênia pela ajuda com os modelos log-lineares,
e à Neide pela atenção e conversas sobre migração. No finalzinho pude contar ainda com o trabalho
da Flávia e do Luciano, que rodaram o programa para gerar os dados sobre migração e me ajudaram
a montar as tabelas dos anexos.
Ao Saboia, meu orientador, pelas leituras atentas dos capítulos, muito virginianas, que foram
valiosas, pelas sugestões sobre caminhos a serem tomadas quando me encontrei em algumas
bifurcações perigosas e pelo apoio em todos os momentos, mas principalmente no período de
finalização da tese. Também não posso deixar de mencionar o incentivo do João Carlos e da Maria
Lúcia para fazer (e terminar logo!) a tese.
5
Gostaria de agradecer também ao CNPq e ao British Council pelo apoio financeiro ao projeto de
pesquisa realizado na Inglaterra e, principalmente, à Nadya, coordenadora do projeto, por poder
contar com seu apoio e incentivo em todos os momentos para participar de um campo muito fértil
de debates sobre idéias ligadas ao tema “classificação social e mobilidade”. Ao Adalberto, pela
interlocução “carioca” do projeto. Ao Peter, gostaria de fazer um agradecimento especial pela sua
atenção quando estive, no final de janeiro deste ano, na Universidade de Warwick, onde pude contar
com sugestões preciosas sobre como organizar o restante da análise empírica para fechar a tese.
Várias outras pessoas de diversas instituições e contextos diferentes da vida contribuíram ao longo
desse ano de tese. Agradeço ao Nelson pela inspiração que me deu com seus trabalhos e pela
atenção na iniciação aos modelos estatísticos. Ao Marquinhos, pelas ótimas conversas sobre o tema
e pelas sugestões sobre como cercar alguns problemas e organizar as idéias. Ao Chico, pela
motivação ao ler seus trabalhos ligados ao tema da tese e pela presença e ótimos comentários e
sugestões nos seminários da Puc e da Anpec.
Às minhas amigas... Tetê, agora também minha companheira de barriga, pela dica e incentivo a
participar do projeto da Fundação Ford/IBGE e por me agüentar falando de mobilidade social e
assuntos correlatos ao stress de tese. E Marta, minha comadre, por sua disposição para participar
do meu momento de estar fazendo tese, assistindo a seminário e dando pitacos sobre caminhos e
títulos. Mas, sobretudo, a ambas, pela amizade que posso contar muito além da tese.
Quero expressar especial gratidão aos meus pais, que me apoiaram incondicionalmente em todo
esse período, garantindo a retaguarda do bom funcionamento da minha casa e a felicidade do meu
filho enquanto estive ausente por conta das minhas longas jornadas de trabalho. Certamente, sem a
ajuda e o carinho que tive deles, não teria levado essa fase com a “tranquilidade” necessária para
terminar a tese a tempo. Ao meu irmão, e à Giuliana e ao Franco também, que acabaram “entrando
na dança” e me deram uma força no final.
Ao Pedro, meu filho querido, por levar tudo numa boa e me receber sempre com aquele sorriso
maravilhoso quando chego em casa. Ao meu outro menino, que está chegando nesse mundo, por me
distrair com outros pensamentos e me fazer sorrir sozinha ao ver a barriga se mexendo.
Ao André, por ser o companheiro de todos os momentos. Por dividir comigo a paixão pelo Rio e
pelo tema da desigualdade e por contar sempre com seu incentivo e com seu interesse, que
acabaram gerando poucas, mas boas e decisivas, sugestões sobre algumas questões da tese. Por
compartilhar também a angústia de ver nossos netos num mundo melhor...
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I – BRASIL, UM PAÍS COM ALTA DESIGUALDADE E MUITA
MOBILIDADE SOCIAL
5
1. Apresentação do problema 5
2. Por que estudar mobilidade social? 12
3. O Rio de Janeiro continua sendo... 21
CAPÍTULO II – EM BUSCA DE UMA CLASSIFICAÇÃO DOS ESTRATOS 24
1. Base conceitual-teórica da literatura empírica sobre estratificação social 26
1.1. Esquema de hierarquia social 27
1.2. Análise estrutural de classes 30
1.3. Esquemas de estratos sociais brasileiros 37
1.4. Esquema proposto 42
2. Mensuração do status socioeconômico das ocupações 44
3. Definição dos estratos ocupacionais 51
4. Metodologia e estimativas da mobilidade social intergeracional 57
4.1.Fonte de informações e universo de análise 57
4.2. Definição de mobilidade social intergeracional 58
4.3. Metodologia 59
Conclusão 61
CAPÍTULO III – TENDÊNCIAS DA MOBILIDADE SOCIAL
INTERGERACIONAL NO RIO DE JANEIRO
64
1. Evolução das taxas de mobilidade 65
2. Ascensão e queda do Rio de Janeiro no século XX: um breve relato 75
3. Explorando algumas explicações para comportamento específico do Rio 85
3.1. Mudanças na estrutura setorial e ocupacional 85
3.2. Os efeitos demográficos 91
Conclusão 100
CAPÍTULO IV – PADRÕES DE MOBILIDADE SOCIAL: AS TRÊS TESES 103
7
CLÁSSICAS REVISITADAS
1. Fechamento social 106
2. Área de contenção 115
3. Contramobilidade 121
Conclusão 127
CAPÍTULO V – A DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES DIMINUIU NO
RIO?
131
1. Modelos log-lineares aplicados às tabelas de mobilidade social 134
1.1. Modelo amostral 135
1.2. A parametrização 139
1.3. Estatísticas de ajuste do modelo 142
2. Modelo analítico 146
3. Análise dos resultados sobre as tendências da mobilidade social intergeracional
circular
153
3.1. Escolaridade 155
3.2. Sexo 158
3.3. Cor 159
3.4. Migrante 161
Conclusão 163
CONSIDERAÇÕES FINAIS 166
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 178
APÊNDICE 187
8
RESUMO
A principal contribuição desta tese é inserir, no debate sobre desigualdade no Rio de Janeiro, uma
análise sobre a evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social entre gerações. Verifica-
se que o estado do Rio de Janeiro tem a taxa de mobilidade mais alta do Brasil, caracterizando uma
sociedade mais aberta e dinâmica, no sentido de que a alocação dos indivíduos em posições no
sistema de estratificação social não tem uma associação direta forte com a origem social do pai. No
entanto, a análise da evolução temporal das taxas de mobilidade mostra um comportamento atípico
do Rio, com a diminuição da mobilidade ascendente, que pode ser explicado, em alguma medida,
pela perda de dinamismo da economia fluminense.
Apesar do Rio apresentar a maior taxa de mobilidade, os padrões de mobilidade são marcados por
movimentos de curta distância, devido à existência de uma área de contenção na fronteira entre os
estratos manual e não manual, prevenindo a mobilidade de longa distância. Além disso, observa-se
um aumento da capacidade de reprodução das elites, diferentemente da média brasileira, sugerindo
que com o desenvolvimento, associado a um grau relativamente alto do nível de escolaridade, a
forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante da origem social
das pessoas na determinação da posição social.
Enfim, a avaliação do quadro de desigualdade de oportunidades revela uma estabilidade temporal,
da mesma forma que no Brasil como um todo, já que os padrões de chances relativas de atingir
determinada posição na estrutura social, segundo a origem socioeconômica do pai, não mudam de
forma significativa ao longo do tempo.
9
INTRODUÇÃO
“As crianças se tornarão profissionais liberais, artistas ou marginais”.1 Essa frase tem um tom
exagerado mas dela pode ser feita a leitura de que as crianças e jovens devem enxergar no quadro
de possibilidades futuras uma inserção na sociedade a partir das categorias ocupacionais ligadas às
áreas técnicas e científicas e à arte e cultura, independentemente da origem social. Se as crianças
que vivem em um ambiente familiar de baixo nível socioeconômico não tiverem oportunidades de
alcançar melhores posições sociais, os destinos podem ser cada vez mais marcados por outras
possibilidades de “crescer na vida”, como a entrada para atividades ilegais e/ou criminosas, mesmo
que seja às custas de uma vida curta.
O mais interessante a destacar aqui, no entanto, é que essa frase contém a motivação de fundo para
o estudo sobre mobilidade social desenvolvido nesse trabalho. Se a reprodução das desigualdades
de oportunidades pode levar a comportamentos de risco para o convívio social como respostas às
crescentes dificuldades cotidianas materiais e simbólicas colocadas por questões ligadas à justiça
social, é importante analisar as possibilidades de mobilidade social entre gerações e sua evolução ao
longo do tempo para compreender melhor o processo de desenvolvimento socioeconômico.
A idéia é que a mobilidade social intergeracional reflete a distribuição de oportunidades na
sociedade, ou seja, as chances relativas das pessoas atingirem determinada posição no sistema de
estratificação social de acordo com a origem socioeconômica da família e, portanto, pode ser
utilizada como um indicador de desigualdade de oportunidade.
Se, por um lado, os indicadores sociais referentes à escolaridade, mortalidade infantil, esperança de
vida apresentam uma melhora inquestionável nas últimas décadas, por outro lado, a perda de
dinamismo da economia fluminense combinada com a estabilidade da elevada desigualdade de
renda, colocam dúvidas em relação ao comportamento da mobilidade social e, portanto, da
distribuição de oportunidades.
Essa tese tem, então, como objetivo principal analisar a evolução temporal da mobilidade social
intergeracional no estado do Rio de Janeiro, com intuito de verificar o comportamento do grau de
1 Lema da peça de teatro “Meninos no Meio da Rua” em cartaz no Rio de Janeiro.
10
abertura ou fluidez da sociedade fluminense, ou seja, o grau de dependência da posição social do
indivíduo em relação à origem socioeconômica de seu pai. Com isso, buscam-se evidências
empíricas para avaliar se houve uma melhora ou piora no quadro de desigualdade de oportunidades
ao longo das duas últimas décadas.
Para tanto, utilizou-se o referencial analítico da desigualdade de oportunidades a partir das taxas de
mobilidade social por refletir não somente diferenças nas qualidades pessoais, mas também nos
processos sociais. Assim, não se busca nessa tese os determinantes da posição social dos indivíduos,
nem tampouco isolar os processos sociais envolvidos, mas sim "identificar rotas, bloqueios,
sucessos e fracassos que são padronizados e sistemáticos, e devem ser entendidos como resultado
tanto de talentos e realizações individuais como de processos sociais”.(Scalon, 1999).
Pode-se destacar três conjuntos de questões centrais que norteiam a análise que será desenvolvida
ao longo da tese, levando-se sempre em conta a perspectiva temporal e a comparação do Rio de
Janeiro com a média brasileira:
a) O desenvolvimento econômico e social no século XX foi acompanhado por um processo de
aumento ou diminuição da importância do mecanismo intergeracional de transmissão de
desigualdade? Como evoluiu a taxa de mobilidade social ao longo do tempo? Quais as
características da história recente do Rio podem explicar comportamento temporal das taxas de
mobilidade?
b) A evolução das taxas de mobilidade foi acompanhada por mudanças nos padrões de mobilidade
social intergeracional? O regime de mobilidade de curta distância característico do Brasil
também pode ser verificado no Rio? As distâncias sociais diminuíram ou aumentaram ao longo
do tempo? As barreiras para mobilidade social são distribuídas igualmente entre os estratos
sociais e variam ao longo do tempo?
c) O padrão de mobilidade intergeracional por trocas de posições no sistema de estratificação
social, que é um indicador de fluidez do sistema social, melhorou ou piorou? Quer dizer, as
desigualdades de oportunidades diminuíram ou aumentaram ao longo do tempo no Rio?
Assim sendo, a tese está organizada da forma como segue. Optou-se por fazer no capítulo I a
apresentação do problema, da motivação para estudar mobilidade social no Rio de Janeiro e da
contribuição para a literatura sobre desigualdade e mobilidade. Além disso, nesse capítulo,
11
argumenta-se sobre as opções conceituais e teóricas para o estudo da desigualdade de oportunidades
utilizando como indicador a mobilidade social intergeracional.
O capítulo II apresenta os preâmbulos para a construção dos estratos ocupacionais que serão
utilizados na tese para analisar as matrizes de mobilidade social e, por conseguinte, as taxas e
padrões de mobilidade. Como a definição de posição social é um ponto crucial para construção dos
estratos será realizada, neste capítulo, uma análise das principais correntes teórico-conceituais sobre
estratificação social na literatura empírica assim como a apresentação dos esquemas de estratos
brasileiros e do esquema proposto. Além disso, apresentam-se preliminares empíricos necessários
para a construção dos estratos ocupacionais.
A partir da definição dos estratos ocupacionais, no capítulo III, analisa-se a evolução das taxas de
mobilidade social intergeracional no Rio, comparativamente à média brasileira, entre 1976 e 1996.
Como foi verificado um comportamento temporal particular do Rio de Janeiro, buscaram-se
elementos explicativos a partir de características específicas da história recente do Rio. Assim, em
caráter exploratório, destacou-se dois pontos: (a) a perda de dinamismo econômico, principalmente
depois da transferência da capital para Brasília e da fusão do Rio com o estado da Guanabara, que
tem efeitos sobre a estrutura setorial e ocupacional e (b) os efeitos demográficos, com destaque para
o envelhecimento da população e do saldo migratório por qualificação.
O Rio tem alta taxa de mobilidade social intergeracional, mas se houverem barreiras fortes à
movimentação de longa distância ou fraturas entre os estratos manuais e não manuais o impacto
sobre a desigualdade de oportunidades pode ser muito pequeno. O capítulo IV, então, analisa os
padrões de mobilidade investigando os argumentos de três teses clássicas da literatura sobre o tema,
quais sejam: (1) fechamento social, (2) área de contenção e (3) contramobilidade.
A origem social dos indivíduos nos estratos sociais é bem heterogênea, o que vai contra o
argumento da tese de fechamento social, mas a fronteira manual-não manual prevenindo os
movimentos parece se adequar ao caso do Rio. Além disso, o comportamento específico da elite
fluminense estar se fechando coloca a dúvida: enfim, a desigualdade de oportunidades diminuiu ou
não? A partir de modelos log-lineares, analisa-se se o padrão de mobilidade social intergeracional
circular mudou ao longo do tempo com o intuito de avaliar o quadro de desigualdades de
oportunidades.
Por fim, apresentam-se as principais conclusões dessa tese assim como a abertura de novos campos
de pesquisa na área de desigualdade e mobilidade social com enfoque sobre o Rio de Janeiro.
12
CAPÍTULO I
BRASIL, UM PAÍS COM ALTA DESIGUALDADE E
MUITA MOBILIDADE SOCIAL
I.1. Apresentação do problema
O processo de desenvolvimento da sociedade brasileira nos últimos 50 anos é marcado pelo
crescimento e estabilidade da desigualdade na distribuição da renda. A passagem de uma sociedade
basicamente rural nos anos 40 para urbana nos anos 90 aconteceu junto com um processo de
integração dos trabalhadores, decorrente da melhoria nas relações de trabalho, com a
industrialização e o crescimento do assalariamento formal, e de exclusão de uma parcela
significativa da população que, por falta de renda ou riqueza, tinha acesso precário aos bens de
consumo e serviços públicos e privados, que constituíam a base do processo de modernização da
sociedade brasileira.
Os efeitos para frente e para trás da industrialização sobre a estrutura produtiva da economia
brasileira impulsionaram uma rápida mudança na estrutura ocupacional com a criação e o
crescimento de postos de trabalho na indústria e no setor terciário e de ocupações urbanas não
manuais, e que exigiam um nível maior de qualificação. Em paralelo, a migração rural-urbana e o
crescimento das oportunidades educacionais atendiam à demanda por mão-de-obra do setor
industrial e dos serviços nos centros urbanos, incorporando tanto os trabalhadores com nível de
escolaridade mais elevado em postos de trabalho com maior especialização técnica quanto aqueles
que vinham do campo praticamente sem instrução em ocupações de baixa qualidade,
principalmente, do setor terciário.
O desenvolvimento econômico via substituição das importações nas décadas de 1950 a 1970 gerou
um padrão de crescimento econômico com fortes desigualdades socioeconômicas. O período da
industrialização e de formação dos grandes centros metropolitanos brasileiros foi marcado pelo
aumento da desigualdade de renda junto a uma ampla mobilidade social devido, principalmente, às
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mudanças estruturais da economia e ocupacionais com transformação de uma sociedade
basicamente rural em urbana.
O aparente paradoxo entre integração e exclusão na história recente do Brasil também pode ser
visto sob um outro prisma, qual seja, do crescimento da mobilidade social junto com o aumento da
desigualdade de renda. As mudanças estruturais decorrentes do processo de industrialização teriam
proporcionado possibilidades de ascensão social com a incorporação de mão-de-obra em ocupações
novas, com maior nível de qualificação e em um espectro setorial mais amplo (não só na indústria
mas também no comércio, serviços, administração pública etc.).
No Brasil, a elevada mobilidade social e o seu crescimento, tanto da mobilidade ascendente quanto
da descendente, são caracterizados por um padrão de movimentação de curta distância e, em grande
medida, está associado à migração do campo para a cidade, gerando mudanças na estratificação
social que, no entanto, não são capazes de romper as barreiras da estrutura de “classes” da
sociedade brasileira e, por conseguinte, ter como resultado uma diminuição significativa das
desigualdades socioeconômicas.2
Apesar do crescimento das possibilidades de ascensão social, a desigualdade de renda cresceu entre
1960 e 1970, ficou praticamente constante nos anos 70 e depois aumentou novamente na década de
80 para registrar uma tendência desconcentradora em alguns períodos dos anos 90. O aumento da
desigualdade de renda entre 1960 e 1970 gerou um amplo debate sobre as causas da desigualdade
que foi apresentado por Ferreira (2001) a partir de duas vertentes principais: ·
1) Heterogeneidade educacional: as diferenças de escolaridade são o fator mais importante para
explicar a desigualdade, já que os diferenciais de produtividade seriam fatores que perdurariam
em todo o ciclo de vida produtivo;
2) “Luta de classes”: os fatores estruturais e as políticas econômicas, especialmente a salarial,
enfraqueciam o poder de barganha dos trabalhadores levando a uma conseqüente corrosão
salarial com a inflação, que crescia no período.
A primeira vertente ganhou força com o trabalho de Langoni (1973) que, a partir de uma análise
microeconométrica sofisticada, estima os diferenciais de retornos à educação e conclui que a
distribuição da escolaridade e a composição dos retornos à escolaridade são os principais fatores
determinantes da desigualdade e de seu crescimento nesse período.
2 Ver, entre outros, Pastore (1979, 1986), Valle e Silva (1979), Pastore e Castro (1983), Scalon (1999) e Pastore e Valle
Silva (2000).
14
A outra vertente expressa pelo trabalho original de Fishlow (1972) reconhece a desigualdade
educacional como fator importante para explicar as causas da desigualdade de renda, mas a
explicação para que a estrutura de retorno à educação gerasse aumento da desigualdade estava
calcada no fato que as políticas econômicas do período acabavam gerando perdas salariais
desproporcionais para os trabalhadores com o crescimento da inflação.
Apesar das duas vertentes colocarem um peso grande na desigualdade educacional como explicação
do crescimento da desigualdade de renda na década de 60, as diferenças sobre como foi gerada essa
desigualdade educacional levou a diagnósticos distintos sobre a relação entre desenvolvimento e
desigualdade. Enquanto Langoni a caracterizava como um processo natural do desenvolvimento
econômico, seguindo o traçado da curva de Kuznetz, Fishlow argumentava a necessidade de mudar
os rumos na política econômica em direção a resultados menos concentradores de renda.
A literatura que destaca as causas políticas para a concentração de renda nos anos 60 foi
sistematizada no livro de Tolipan e Tinelli (1978), em que diversos artigos apontam para os
mecanismos geradores de desigualdade com as políticas autoritárias do governo militar com a
repressão aos sindicatos dos trabalhadores e políticas de reajustes salariais regressivas. Além disso,
diversos autores colocam a questão de que na verdade a relação entre educação e desigualdade pode
ser espúria, no sentido em que está somente revelando (e não causando) a desigualdade que tem sua
raiz fincada no estoque de riqueza das famílias.
Essa literatura, no entanto, ficou em “banho-maria” nos anos 80, sendo retomada posteriormente no
início dos anos 90 com os trabalhos de Barros e colaboradores.3 Na busca dos elementos
explicativos da desigualdade mais uma vez a escolaridade é a variável mais importante para
explicar a desigualdade de renda. Um exercício de decomposição da desigualdade nos seus diversos
fatores revela que a escolaridade explica entre 30% e 50% da desigualdade de renda.4
Diversos estudos, então, mostram que a desigualdade educacional da população ocupada é o
atributo isolado mais importante para explicar a desigualdade de renda estática. Além das questões
de cidadania que por si só são argumentos suficientes, a necessidade de políticas que incentivem o
aumento da escolaridade da população brasileira é um ponto pacífico na literatura econômica, tanto
por seus efeitos sobre crescimento quanto sobre a desigualdade de renda.
3 Os livros de Barros e Sedlacek (1989), Camargo e Giambiagi (1991) e Ramos (1993) assim como os artigos de Reis e
Barros (1991) e Leal e Werlang (1991) impulsionaram uma extensa literatura sobre o tema a partir de então. 4 Ver Reis e Barros (1991) e Barros e Mendonça (1996).
15
Entretanto, a contribuição da escolaridade para explicar a variação temporal da desigualdade de
renda é bem menor. Segundo Ramos e Trindade (1991), a educação responde por 6,2% da variação
da desigualdade no período de 1977-81, 20% em 1981-85 e 9,3% entre 1985-89. Esse
comportamento leva à conclusão de que “as variações na concentração de salários estão pouco
relacionadas com mudanças na distribuição de educação”.
Ferreira e Barros (1999) também mostram que, entre 1976 e 1996, as mudanças nos retornos à
escolaridade diminuíram a dispersão dos rendimentos e que o aumento da escolaridade teve impacto
positivo sobre a renda e a forma de inserção ocupacional. Contudo, o resultado final desses efeitos
revela que não houve uma melhora significativa na desigualdade de renda.
Esse fenômeno pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo comportamento da oferta relativa de
trabalhadores qualificados. Como mostra Menezes-Filho (2000), a estabilidade da desigualdade
total é decorrente do fato de que as diminuições dos retornos à escolaridade são compensadas pela
diminuição da oferta relativa de trabalhadores com mais alta escolaridade (relação entre
trabalhadores com nível superior e nível médio).
O comportamento dinâmico da relação entre desigualdade educacional e de renda poderia ser
explicado pelo fato de que, apesar da escolaridade média da população estar aumentando ao longo
do tempo, as diferenças na qualidade do ensino ainda são muito fortes para provocar uma mudança
significativa na relação educação-produtividade ou na sinalização/credencial da educação no
mercado de trabalho para gerar uma melhora na desigualdade de renda.
Recentemente cresce a importância das diferenças na qualidade da educação como fator explicativo
importante para a desigualdade. Barros e Foguel (1997) analisam a distribuição dos gastos em
educação geograficamente e por nível educacional, avaliação de desempenho escolar, relação do
salário dos professores com nível médio de escolaridade da região, entre outros indicadores para
qualidade da educação.
Valle Silva e Hasenbalg (2000) mostram que a expansão educacional aumentou o nível médio de
instrução da população brasileira e diminuiu a desigualdade educacional entre regiões, grupos de
cor, sexo e de renda. Com um exercício de decomposição, verifica-se que a melhoria educacional se
deve principalmente à mudança nas condições de vida e na distribuição geográfica das famílias,
com o processo de urbanização e a transição demográfica. Os autores estimam que 40% da melhoria
educacional se deve de fato a mudanças positivas no desempenho do sistema educacional.
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“Destaca-se, finalmente, que nestas duas décadas finais do século a elevação do patamar
educacional, junto com a diminuição das desigualdades educacionais, não foram acompanhadas por
uma elevação do nível de renda e uma melhoria na sua distribuição”
Essa linha de pesquisa é de suma importância para buscar uma sociedade mais justa via uma
melhora no quadro de desigualdade de oportunidades a partir do acesso e da qualidade da educação.
Isso quer dizer que os esforços dos pesquisadores e formuladores de políticas públicas para
melhorar a qualidade da educação “para todos” é fundamental, pois vai no sentido de colocar a
escola como instrumento principal para quebrar as barreiras sociais.
No entanto, essa tese segue um caminho diferente e complementar, no sentido de contribuir para o
entendimento sobre a questão da geração e reprodução das desigualdades, qual seja, o de analisar a
relação entre origem social da família e os padrões de desigualdade e mobilidade social. A literatura
sobre o tema parece unânime em destacar a importância da origem familiar para explicar o
desempenho escolar dos indivíduos e, por conseguinte, a posição que ocupa no mundo do trabalho.
Só para destacar um livro recente que junta vários economistas e sociólogos para estudar a questão
da mobilidade econômica e social, Sawhill (2000) afirma que nenhum país teve sucesso em
eliminar o papel do background familiar sobre o desempenho das gerações futuras porque, direta ou
indiretamente, tem influência sobre a qualidade da educação dos filhos.
Stiglitz (2000) também discute essa questão atribuindo a importância das regras do jogo, mais do
que dos resultados do jogo, para estabelecer melhor a relação entre desigualdade e bem-estar.
“One of the reasons that we care about inequality and the process by which it is generated is that
we believe it has fundamental impact on society. A society in which people perceive themselves as
facing a fair game in which there is equality of opportunity is fundamentally different from a society
in which some people, simply by righ of birth, have attained a position of privilege. ... A just society
may well take into account how the rules of society themselves shape the people in it. So far my
focus has been on showing that in ranking societies we look not only at outcomes, the income
distribution, but at the dynamics that determine those outcomes (the transition matrices) and the
underlying forces, the process, that determine the dynamics.” (grifos do autor)
No caso do Brasil, no artigo recente de Valle Silva e Hasenbalg supracitado, verifica-se que 46% da
melhoria do nível médio de escolaridade dos jovens podem ser atribuídas às melhores condições de
origem familiar, com destaque para o mais alto nível de escolaridade das mães, o que certamente
traz um efeito positivo para as gerações futuras. Andersen et al. (2000) mostram que a escolaridade
17
dos pais é uma das características mais importantes para explicar o desempenho educacional no
Brasil. Menezes-Filho completa estimando que para a América Latina, um aumento do nível de
escolaridade dos pais de dois para dezesseis anos de estudo representa um crescimento de 30% para
80% da probabilidade de jovens de dezesseis/dezessete anos estarem freqüentando a escola sem
trabalhar. “Esses estudos demonstram que um esforço educacional focado em uma geração terá
efeitos importantes sobre as gerações seguintes”.
A evidência de que a origem social é importante para determinar a renda e as possibilidades de
alcançar posições na escala de estratificação social a torna uma variável-chave para entender a
dinâmica do processo de geração e reprodução das desigualdades. Essa tese visa contribuir para o
entendimento dessa dinâmica no Brasil a partir da análise da mobilidade social intergeracional.
Essa análise, no entanto, não será realizada a partir das características pessoais que revelam chances
maiores de movimentação na estrutura social e sim a partir das matrizes de mobilidade
intergeracional, que apresentam as chances de transição entre diferentes posições sociais de origem
e de destino. Dessa forma, é possível avaliar a evolução das taxas e padrões de mobilidade e, por
conseguinte, o grau de rigidez da estrutura social, ou seja, o grau de associação entre a posição atual
dos indivíduos na estrutura social em relação à ocupação do pai.
De acordo com Scalon (1997), “as análises de mobilidade buscam, então, mensurar o grau de
fluidez da estrutura social, bem como identificar os padrões e a movimentação envolvidos na
distribuição e redistribuição de atributos específicos. No caso da mobilidade ocupacional ou da
mobilidade de classes o foco de análise é a associação entre a posição social de origem,
representada pela ocupação do pai, e a posição social de destino, que pode ser a ocupação atual ou a
primeira ocupação do indivíduo. O objetivo da mensuração da mobilidade social é apontar as
fraturas da estrutura social, que expõe as desigualdades na oportunidade de aquisição de bens e
valores e as estratégias de manutenção e reprodução das posições sociais”.
A contribuição dessa tese vai no sentido de analisar as desigualdades de oportunidades a partir do
indicador de mobilidade social intergeracional enfatizando dois aspectos que revelam um estudo
original nessa área, quais sejam: a evolução temporal da mobilidade social intergeracional na
sociedade do Rio de Janeiro.
18
I.2. Por que estudar mobilidade social?
Para entender a evolução do conceito de classe ou estrato social e, por conseguinte, a definição de
mobilidade social vale a pena voltar, ainda que brevemente, às obras clássicas de Marx e de Weber.
Na teoria de Marx, a evolução das sociedades é caracterizada por mudanças no modo de produção
provocadas por movimentos revolucionários decorrentes dos conflitos de classe.
A classe é definida a partir da sua relação com os meios de produção, mais especificamente, com a
propriedade ou não dos meios de produção. A burguesia que representa a minoria da população é a
detentora dos meios de produção em oposição ao proletariado, a maioria, que vende sua força de
trabalho para produção do excedente. Os interesses antagônicos ficam expostos na relação de
dominação e de exploração com a apropriação da mais-valia.
Ao criar uma diferenciação social baseada em grupos de interesses antagônicos acaba por elaborar
uma teoria de estratificação social com a centralidade expressa na frase famosa de que a luta de
classes é o motor da história. Apesar de não ter formulado de modo sistemático uma teoria de
estratificação, coloca as diferenças de classes sociais, construídas a partir de uma relação
estabelecida entre o aspecto econômico da produção e a superestrutura político-ideológica, como
elementos-chave para a transformação das sociedades.
Marx reconhece que as chances de ascender socialmente representam um mecanismo de reprodução
do capitalismo a partir da manutenção do status quo, prevenindo movimentos sociais
revolucionários. Isso porque a mobilidade dificultaria o desenvolvimento da consciência e da
organização da classe. A mobilidade social é definida então como mudança de classe social, em que
os proletários virariam burgueses (e vice-versa), e o aumento das possibilidades de movimentação
enfraqueceria a importância da coesão do grupo construída a partir dos interesses coletivos da
classe.
Segundo Giddens (1975): "As relações de classe são necessariamente instáveis em essência, mas
uma classe dominante procura estabilizar a sua posição pela promoção de uma ideologia
(normalmente, é claro, isso não ocorre de forma consciente) legitimadora que racionaliza a sua
posição de dominação política e econômica e explica à classe subordinada por que ela deve aceitar
tal subordinação".
À mobilidade social tem sido atribuído o papel de coesão social para garantir a reprodução do
sistema societal vigente. Essa função de controlar e prevenir as tensões por mudanças sociais e
19
políticas aparece desde os primeiros teóricos políticos. Diversos autores seguiram essa lógica
funcional da mobilidade social. Pareto (1919), com a sua teoria de circulação das elites, assume
uma posição diferente de Marx ao colocar a inevitabilidade da manutenção das elites no poder,
independentemente do sistema ser capitalista ou socialista. Ao reconhecer a natureza desigual dos
indivíduos perante diversos aspectos da vida, o autor mostra que a História é na verdade uma
sucessão de trocas de elites no poder e que a desigualdade ou a mobilidade social expressa na
possibilidade de se chegar na elite é um mecanismo intrínseco ao desenvolvimento das sociedades.
Apesar de estar presente na obra desses autores clássicos, a mobilidade social não era o tema central
de análise. O primeiro trabalho dedicado especificamente ao estudo sobre mobilidade social foi o de
Sorokin (1927), que também assume a natureza desigual que respeita uma hierarquia baseada nos
diferenciais de importância das ocupações para a sociedade e também do grau de conhecimento
exigido para exercê-la. Além disso, a possibilidade de trocas de ocupações é necessária para
garantir uma alocação melhor dos talentos às ocupações e, assim, garantir uma alocação eficiente
para o funcionamento do sistema.
Para que essa movimentação para cima e para baixo reflita uma “alocação eficiente”, Sorokin
destaca a importância dos “canais de circulação vertical”, quais sejam: a escola, a Igreja, as
organizações políticas, as associações profissionais e, porque não, o casamento entre pessoas de
diferentes classes sociais. A escola se destacaria como mecanismo mais importante tanto por
representar um canal de mobilidade quanto pelo fato de possibilitar uma melhor distribuição dos
talentos às ocupações. Diante dessas considerações, fica claro que o autor segue uma linha
funcionalista atribuindo à mobilidade social o papel de permitir que se estabeleçam elos entre as
classes sociais, diminuindo as possibilidades de conflito e garantindo a ordem social.
Como a funcionalidade política da mobilidade social não é a motivação para o estudo realizado
aqui, apresentar-se-á apenas de modo ilustrativo a literatura recente que privilegia este aspecto da
mobilidade a partir do livro de Birdsal e Graham (2000). Esse referencial analítico foi utilizado para
sustentar uma linha de pesquisa sobre a relação entre manutenção do sistema político vigente que
garantiria as reformas estruturais em curso na América Latina e as possibilidades de mobilidade
social. Em outras palavras, está sendo desenvolvida uma linha de pesquisa empírica sobre em que
medida a mobilidade social – e também a percepção das pessoas em relação às possibilidades de
mobilidade social – representa um mecanismo que contribui ou não no processo eleitoral no sentido
de garantir a continuidade das reformas estruturais em curso nos países latinoamericanos.
20
Retomando a questão sobre a evolução do conceito de classe com base na teoria marxista, este foi
perdendo força com o desenvolvimento das sociedades modernas e a complexificação da divisão
social do trabalho. Apesar de Marx ter considerado a existência de outras possibilidades de
esquemas de classes5, a sua teoria foi construída a partir desse antagonismo entre duas classes
sociais. Aliado a esse fato, o prognóstico de homogeneização da classe trabalhadora através da
alienação e rotinização do trabalho não se verificava com o desenvolvimento das sociedades
industriais. Ao contrário, a consolidação de uma classe média que preenchia os postos de trabalho
na burocracia e nas gerências intermediárias se distinguia dos operários, assim como estes
acabavam por apresentar diferenças entre si, estabelecendo uma relação diferente em termos de
autonomia, condições e conteúdo do trabalho e recompensas salariais.
Essa característica de fragmentação da classe trabalhadora ficou ainda mais evidente com o avanço
tecnológico que levou à passagem do fordismo para o pós-fordismo, que brevemente pode ser
caracterizada pela passagem de um modo de produção baseado na grande empresa que produzia em
larga escala, com uma estrutura vertical centralizada e dirigida para o consumo de massa para um
modo de produção baseado mais em economias de escopo, na diversificação do produto e no
consumo mais imediato e personalizado. Com isso a partir da Segunda Guerra Mundial, e com mais
intensidade, nos anos 70 assistiu-se ao declínio da classe operária tradicional e crescimento de
ocupações ligadas a serviços de baixa qualificação com uma inserção mais instável e temporária e
com uma relação de trabalho distinta daquela existente na fábrica da grande indústria. De forma
análoga, as gerências também foram diminuídas e novas formas de trabalho e de recompensas
foram surgindo, pintando um quadro muito heterogêneo sobre as formas de inserção dos
trabalhadores, e mesmo dos empresários, no mundo do trabalho.
Com o crescimento da importância da classe média e com as mudanças no mundo do trabalho
decorrentes do avanço tecnológico, o debate se deslocou para se existe ou não classes, quantas
classes deveriam ser representativas da sociedade etc.6 Esse debate infindável, foi acompanhado
pelo desenvolvimento de classificações sociais com base na teoria de classes de Weber na literatura
sobre mobilidade social.
Weber tem uma concepção mais plural de classes, enfatizando características objetivas que
influenciam as chances de vida das pessoas. As diferenças de classes decorrem de oportunidades de
5 A mais conhecida e incorporada pela literatura é a que considera a divisão entre os proprietários empregadores, os
proprietários que utilizam sua própria força de trabalho (conta própria) e o proletariado. A discussão sobre a
incorporação da teoria de classes marxista à literatura empírica recente será realizada com mais detalhes no capítulo II. 6 Algumas referências sobre trabalhos que defendem posições a favor ou contra o fim das classes sociais são Guidens
(1975), Prandy (1998) e Blackburn (1998).
21
vida diferentes que, por sua vez, são definidas a partir da forma de inserção do indivíduo no
mercado. Assim sendo, as classes são construídas por indivíduos que ocupam a mesma posição de
mercado.
Essa posição de mercado é definida de forma multidimensional a partir das características
individuais valorizadas pelo mercado, como propriedade, educação, habilidade geral e específica
etc. Logo, são os fatores econômicos que determinam as situações de classe. Weber, então, define
classe social segundo o conjunto de situações de classes nas quais as chances de mobilidade são
altas, tanto ao longo da carreira dos indivíduos quanto entre gerações. Nessa definição a mobilidade
cumpre, então, um papel fundamental na análise de classes ao identificá-las como um grupo em que
a trocas entre situações ou posições são muito freqüentes.
Além de incorporar essa noção nova de identificar os grupos a partir da mobilidade, diferentemente
de Marx, Weber atribui a outras esferas da vida um papel importante para a diferenciação social. O
status socioeconômico, prestígio social, escolaridade e outros fatores adscritos assim como sexo,
cor etc. são características dos indivíduos que formam grupos sociais distintos. A partir desta
concepção Weber destaca quatro grupos principais de classes sociais: 1) privilegiados através da
propriedade e da educação; 2) trabalhadores não operários, como técnicos e servidores civis; 3)
pequena burguesia; e 4) classe operária manual.
Como conclui Scalon (1999): "Uma distinção básica, e talvez muito sumariada, das teorias de
classes de Marx e Weber pode ser feita na medida em que as relações de classe, em Marx, se
distinguem no processo de produção, enquanto as classes, para Weber, se distinguem por chances
de vida estabelecidas no mercado. É possível, ainda, apontar que Marx entendia as classes como
agentes da evolução histórica, enquanto Weber sequer as reconhecia como comunidades, embora
deixasse em aberto a possibilidade de 'representarem possível, e freqüente, base para ação comum'".
O ponto importante é que com o referencial weberiano a mobilidade social passou a ter uma
concepção mais ampla a partir de movimentos de grupos sociais definidos segundo a posição de
mercado, onde a variável ocupação é considerada a melhor síntese, e que está associada ao status
socioeconômico ou prestígio social. A literatura, então, fala menos de classes (principalmente de
duas classes sociais) e mais de estratos com essa noção de grupos sociais que compartilham a
mesma posição de mercado e oportunidades de vida e, por conseguinte, usufruem um determinado
status socioeconômico ou prestígio social.
22
A literatura sobre mobilidade social no período pós Segunda Guerra Mundial evolui com o avanço
das possibilidades de análise empírica de forma diferente na Europa e EUA. A literatura européia7
iniciada com o trabalho de Glass (1949) busca caminhos e barreiras na distribuição dos indivíduos
nas posições da estrutura social e, portanto, analisa as tabelas de mobilidade social para explorar os
padrões de mobilidade e o grau de fluidez social no Reino Unido. À época, essa sociedade era
caracterizada por alta mobilidade, mas de curta distância, e por um fechamento nas extremidades,
principalmente nos estratos mais privilegiados. O objetivo principal desse trabalho era avaliar o
grau de abertura da sociedade, com intuito de verificar as desigualdades de oportunidade que
geravam injustiças no acesso a posições no sistema de estratificação social. Essa linha de pesquisa
seguiu durante muito tempo e atualmente está sendo desenvolvida com os trabalhos de Goldthorpe e
colaboradores (1987, 1992).8
A literatura americana seguiu uma outra linha de pesquisa sobre mobilidade social a partir do
trabalho de Blau e Duncan (1967) com a utilização de novas técnicas estatísticas para analisar os
fatores relevantes para aquisição de status. As ocupações são ordenadas num continuum de status e
buscam-se os determinantes da realização de status, como escolaridade, experiência, background
familiar, sexo, cor etc.
As questões giram mais em torno de como o status adquirido pelos indivíduos é determinado por
características adquiridas, como educação e experiência, e atribuídas, como origem social, sexo e
cor. O objetivo, então, é analisar se com o desenvolvimento as características adquiridas se tornam
mais importantes do que as atribuídas, visto que o desenvolvimento tecnológico, as relações de
assalariamento e a necessidade de trabalho mais qualificado tornariam os critérios de seleção mais
universalistas, fazendo com que as características adquiridas predominassem sobre as atribuídas. A
origem social, tomada como uma característica atribuída, exerceria o papel de indicador de
desigualdade de oportunidade na conquista de status social.9
Observe que o estudo da mobilidade social intergeracional em ambas as correntes tem como
preocupação avaliar o quadro de desigualdade de oportunidades. No primeiro caso, isso é realizado
a partir da análise das chances relativas de movimentos entre as classes sociais. No segundo caso, a
análise é feita segundo os determinantes para aquisição do status individual. Ambas apresentam
7 É claro que essa classificação é simplista. Não se pode deixar de mencionar a obra de Bourdieu (1979), que segue uma
linha diferente na análise sobre construção de classes e mobilidade social. 8 Os trabalhos desse autor serão analisados ao longo da tese.
9 Ver o estudo recente de Hauser e outros (2000) sobre a importância da origem social e sobre os limites de usar essa
variável como indicador de desigualdade de oportunidade.
23
vantagens e desvantagens.10
Aqui se optou pela primeira corrente, ou seja, analisar a desigualdade
de oportunidades a partir das taxas de mobilidade social.
Essa escolha se deve, principalmente, ao reconhecimento de que as oportunidades de acesso à renda
e à riqueza são diferenciadas nas sociedades modernas e dependem tanto das qualidades individuais
quanto de processos sociais. Por exemplo: os estratos ocupacionais estão relacionados com a renda
e escolaridade dos indivíduos. A origem social, estrato ocupacional do pai, por conseguinte,
também está intimamente ligada à renda e a educação deste, que afeta o desempenho escolar da
criança e que terá efeitos quando da entrada no mercado de trabalho. Segundo Coleman (2000), é
possível identificar três componentes do background familiar que afetam o desempenho escolar: (a)
financeiro (renda ou riqueza que permite a provisão de bens materiais de ajuda ao aprendizado
como material escolar, casa fixa etc.); (b) humano (escolaridade dos pais que permite criar um
ambiente cognitivo que facilita o aprendizado); (c) social (participação dos pais no aprendizado que
depende da presença física do adulto na família e disponibilidade e atenção dada às crianças).11
Os
processos sociais envolvidos nesse exemplo estão associados à importância do capital social, ou
seja, das redes de relações que se estabelecem para a formação do indivíduo tanto no interior da
família quanto fora dela, como a interação entre os pais e nas relações dos pais com as instituições
da comunidade, como a escola.
Boudon (1981) argumenta que a diminuição das desigualdades escolares não conduz
necessariamente a uma diminuição da rigidez da herança social ou possui necessariamente efeitos
redutivos sobre a desigualdade de renda, já que a mobilidade social deve ser vista como resultado
de um complexo conjunto de determinantes cujas ações não podem ser tomadas isoladamente umas
das outras, mas que devem ser concebidas exatamente como constituindo um sistema.
Alguns argumentos são destacados para tratar da complexidade da relação entre a desigualdade
educacional e a desigualdade de herança social:
a) Desigualdade maior ou menor tem relação com o número de vagas oferecidas no ensino
superior e de ocupações de nível superior no mercado de trabalho;
b) Taxas de fecundidade diferenciadas por classe social e a política de imigração; e
10
Esse ponto será trabalhado no capítulo II. 11
Esses argumentos têm respaldo nos resultados empíricos onde se encontra que famílias com muitos filhos e um pai
(ou mãe) têm desempenho escolar pior que famílias com os dois pais e um filho. Além disso, a expectativa da mãe em
relação à escolaridade do filho também se mostrou uma variável importante para o desempenho escolar do filho.
24
c) Política eficaz de igualdade de oportunidades pode ter como resultado tanto uma redução quanto
um aumento da importância da herança social, dependendo da relação entre aumento geral da
escolaridade e vagas ofertadas no ensino e no mercado de trabalho com nível superior.
Nesse sentido, o referencial analítico da desigualdade de oportunidade a partir das taxas de
mobilidade social reflete não somente qualidades pessoais, mas também processos sociais, como
destacado a título de exemplo, a importância do capital social em Coleman ou da relação entre
desempenho escolar, sistema de entrada na universidade e vagas de nível superior no mercado de
trabalho no caso de Boudon. Assim, não se buscam nessa tese os determinantes de aquisição de
status, nem tampouco isolar os processos sociais envolvidos, mas sim "identificar rotas, bloqueios,
sucessos e fracassos que são padronizados e sistemáticos, e devem ser entendidos como resultado
tanto de talentos e realizações individuais como de processos sociais." (Scalon, 1999)
Por expressar as diferenças nas chances de alocação em posições na estrutura social, a mobilidade
social é um indicador de desigualdade de oportunidades na sociedade e tem relações estreitas com a
justiça social, a desigualdade social e econômica e, portanto, aspectos importantes ligados ao bem-
estar. Mas, enfim, por que estudar desigualdade de oportunidades?
Por duas razões fundamentais. Primeiro, a desigualdade de oportunidades é amplamente aceita
como um indicador de injustiça social melhor do que a desigualdade de resultados. Segundo
Bourguignon e Ferreira (2000):
"For equity purposes, it may be unreasonable to take the assumptions of identical preferences too
far. If people care about income and leisure in different ways, it may be more reasonable for us to
aim to equalize their opportunities to pursue each objective in accordance with their own
preferences, rather than simply to equalize incomes."
Essa idéia que nos remete a questões filosóficas ganhou expressão na literatura contemporânea com
a teoria da justiça de Rawls que tem dois princípios básicos: 1) um esquema de direitos básicos,
incluindo liberdade de consciência e movimento, liberdade religiosa etc. e 2) igualdade de
oportunidade, sendo que as desigualdades sociais e econômicas serviriam para beneficiar os mais
pobres. "No redistribution of resources within such a state can occur unless it benefits the least
well-off."
Com base nas idéias de justiça social de Rawls e de desenvolvimento como liberdade de Sen
(1999), entre outros, Roemer (1998) avança na segunda justificativa, qual seja, a de que por
25
questões filosóficas morais ligadas à justiça social é mais aceita a intervenção de políticas públicas
que promovam a igualdade de oportunidade. Roemer afirma que a sociedade deve tomar as devidas
medidas com o intuito de "level the planning field" entre os indivíduos que estão competindo por
posições no sistema social. Por exemplo, um sistema educacional compensatório para as crianças
com desvantagens em relação ao background social de tal forma que uma grande parte delas
possam adquirir as qualificações requeridas para competir mais tarde no mercado de trabalho com
pessoas com background mais alto.
Assim sendo, a motivação para estudar mobilidade social com intuito de analisar a desigualdade de
oportunidades a partir das taxas de mobilidade social se justifica pela importância desse tema tanto
em relação a questões filosóficas morais sobre justiça social quanto em relação a este se constituir
num campo mais fértil de atuação de políticas públicas.12
I.3. O Rio de Janeiro continua sendo...
... A vitrine do país, um lugar maravilhoso com sua beleza natural proporcionada pela geografia de
praias e montanhas, com o charme e encanto de um espaço que congrega a maior expressão da
cultura popular em especial a música, com as figuras e representação social dos sambistas de raiz
até o Carnaval da Apoteose ...
... O local onde a população tem fama de ser alegre e levar uma vida boa e tem a maior escolaridade
média do país, onde se abriga a primeira universidade do Brasil e ainda conta com o maior
percentual de centros de pesquisa ...
... Um lugar dos contrastes sociais mais visíveis pela proximidade geográfica, onde as diferenças
socioeconômicas se inserem no espaço geográfico de um bairro convivendo o "pessoal do asfalto e
do morro", onde a economia baseada nos serviços perde espaço no cenário nacional e cresce
violência ...
O Rio de Janeiro é a melhor síntese brasileira (ou mundial?) da pós-modernidade, onde a
fragmentação e as desigualdades socioeconômicas, a forte presença da economia de serviços, a
diversidade e a vanguarda cultural, a intensa expressão da cultura popular na vida cotidiana e o
12
As relações entre desigualdade de oportunidades e desempenho econômico (crescimento) não são tão claras nem
diretas. Para um artigo sobre o tema ver Bénabou (2000).
26
aumento da violência são características visíveis que marcam esse novo estilo de desenvolvimento
das sociedades. É o "Rio de todos os Brasis".
Apesar dessa visibilidade, a literatura socioeconômica sobre o Rio não corresponde ao esperado, em
especial, a referente à área de desigualdade e mobilidade. É certo que ela vem crescendo muito nos
últimos anos, principalmente com o foco de análise na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Entretanto, sobre o estado do Rio ainda são relativamente poucos os estudos e, especificamente,
sobre mobilidade social, a escassez é ainda maior.
Destacam-se dois trabalhos que focalizam a questão da mobilidade social especificamente no Rio,
apesar de questões e enfoques conceituais e teóricos distintos entre si e com o estudo que será
realizado nesta tese. O primeiro é de Valle Silva (1997), onde se analisam os determinantes dos
diferenciais na realização de status ocupacional entre brancos e não brancos. Verifica-se que a
educação e experiência são fatores mais importantes que o background familiar para explicar os
diferenciais por cor. No entanto, encontra-se evidência de que as pessoas de origem familiar mais
privilegiada têm maiores possibilidades de alcançar os maiores rendimentos, dada a ocupação e
escolaridade.
O outro trabalho de Souza (1999) analisa "porque uns, e não outros", moradores da Favela da Maré
conseguem chegar à Universidade. A partir de um arcabouço teórico baseado na obra de Bourdieu,
o autor busca nas diferenças familiares e escolares construídas a partir dos hábitos e práticas sociais,
que definem o quadro de possibilidades para atuação na sociedade, as explicações para distintas
trajetórias dos indivíduos. Isso é feito a partir do acompanhamento de biografias sobre a história de
vida de alguns moradores da Maré que atingiram nível educacional superior.
Os outros trabalhos sobre mobilidade social que levam em conta o Rio são os de Pastore (1979) e de
Pastore e Castro (1983) que analisam o Brasil e incluem a variável região, estado ou região
metropolitana como explicativa das diferenças nas taxas de mobilidade. Ou ainda o trabalho de
Andrade (1997), onde a partir de uma comparação das taxas de mobilidade social entre cinco
regiões metropolitanas verifica-se que o Rio tem uma mobilidade social alta, comparando com
outras regiões, indicando uma associação mais fraca entre a posição social do pai e do filho no
sistema de estratificação social.
Essa tese visa contribuir para a literatura sobre mobilidade social a partir, principalmente, da análise
da evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social com foco no estado do Rio de
27
Janeiro, com intuito de verificar se as desigualdades de oportunidade melhoraram ou pioraram ao
longo do tempo neste estado.
Dever-se-ia esperar com o aumento da escolaridade entre as gerações que a inserção ocupacional
para os filhos melhorassem no Rio? Qual o efeito da perda de espaço da economia fluminense no
produto nacional sobre a mobilidade? É possível identificar taxas e padrões de mobilidade no Rio
da mesma magnitude que na média brasileira? Houve mudanças nos padrões de mobilidade ao
longo do tempo? E quando se controlam os efeitos das mudanças na estrutura ocupacional, é
possível identificar um maior grau de fluidez social medida pela mobilidade circular?
Para responder essas questões, primeiramente, será realizado um estudo da evolução temporal das
taxas de mobilidade social comparativo com a média brasileira afim de avaliar seu comportamento
e explorar fatores explicativos a partir da história recente do Rio de Janeiro. Em seguida busca-se
identificar se existem movimentos sistemáticos e padronizados entre gerações que geram algum
padrão de mobilidade social, avaliando três teses clássicas sobre regime de mobilidade e de forma
comparativa com o Brasil e ao longo do tempo. Por fim, com a utilização dos modelos log-lineares
para controlar os efeitos das mudanças estruturais, verificar-se-á se houve uma melhora ou piora na
desigualdade de oportunidades.
28
CAPÍTULO II
EM BUSCA DE UMA CLASSIFICAÇÃO DOS ESTRATOS
A escolha dos critérios para a definição dos estratos sociais representa um ponto crucial nas
pesquisas sobre mobilidade social. Isso porque a construção de um sistema de estratificação social
demarca linhas teóricas e conceituais num amplo e infindável debate sobre o conceito de classe
social e as relações e estruturação da sociedade decorrentes do esquema de classes. Aqui não se
busca uma revisão da literatura sobre classes desde Marx e Weber, mas apenas contextualizar os
caminhos percorridos para a construção dos estratos. O objetivo principal desse capítulo é
apresentar o esquema de estratos que será utilizado para a análise das tabelas de mobilidade social
no Rio de Janeiro ao longo do tempo, numa perspectiva comparativa com a estrutura brasileira,
levando ainda em consideração as diferenças por sexo e cor.
Na medida em que essa tese tem claramente uma orientação empírica, é inescapável enfrentar as
dificuldades envolvidas na construção de uma classificação de estratos coerente com as
necessidades analíticas e metodológicas em questão. Por isso, não existe um esquema de estratos
universal e incontestável por representar, em última instância, uma construção teórica e
metodológica que se propõe a atender aos objetivos específicos de uma determinada pesquisa. Além
disso, por estar amarrado a critérios objetivos e empíricos tem, por um lado, vantagens ligadas ao
método científico baseadas na construção de hipótese e no teste empírico e às possibilidades de
comparação de resultados com outros trabalhos e, por outro lado, desvantagens vinculadas ao
possível descompasso entre as rápidas mudanças que vem ocorrendo no mundo do trabalho - com o
surgimento de novas ocupações, a variedade de formas de contrato de trabalho e uma "nova figura
de trabalho" que marcam as relações de trabalho no pós-fordismo - e a adaptabilidade mais lenta de
um sistema de informações nacional ao novo cenário, além dos aspectos subjetivos ligados à
questão da mobilidade social.
De uma maneira bastante reducionista e impressionista, os diferentes contextos conceituais serão
apresentados de forma polarizada, entre os autores que elaboraram uma construção de estratos para
aplicação empírica a partir da ocupação, em esquemas de classes hierárquicos em oposição aos
esquemas de classes relacionais. Em outras palavras, a contextualização da construção dos estratos
aqui desenvolvida será realizada a partir da descrição de dois marcos teórico-conceituais:
29
(a) status attainment, ligado a uma dimensão vertical da estrutura ocupacional que é definida a
partir de indicadores como prestígio ocupacional, status socioeconômico e renda, expressa nos
trabalho pioneiros de Blau e Duncan (1967) e Fatherman e Hauser (1978); e
(b) análise de classe, que situa a ocupação no âmbito das relações sociais de produção, com ênfase
nas relações de dominação e de exploração presente nos trabalhos de Wright (1985, 1989) e nas
idéias de posição de mercado e de trabalho, destacando-se Glodthorpe e colaboradores (1977,
1987).
Essa contextualização no debate teórico-conceitual tem como objetivo principal desenhar as
possibilidades de análise de cada vertente e, sobretudo, apresentar as condições para explorar os
potenciais de análise de ambas a partir da adoção da classificação de estratos ocupacionais utilizada
nesse trabalho e de alguns índices de mobilidade mais apropriados ao estudo.
Assim, essa seção tem como objetivo principal destacar alguns aspectos teórico-conceituais das
principais vertentes de análise empírica de estrutura de classes a partir da ocupação do indivíduo
para dar suporte ao esquema de estratos utilizado nesse trabalho. Apesar da importância e do
desenvolvimento de classificações multivariadas - que levam em conta, por exemplo, a ocupação,
posição na ocupação, setor de atividade, entre outras variáveis - considerar-se-á aqui somente os
principais trabalhos que adotam classificações unidimensionais com base na ocupação. Isso se deve
essencialmente ao fato de que para o estudo empírico sobre evolução temporal da mobilidade no
Brasil as únicas perguntas feitas para pais e filhos é sobre a ocupação e a escolaridade. Nesse
sentido, será feita também uma breve apresentação das classificações brasileiras de estratos para os
estudos de mobilidade social com o intuito de mostrar as possibilidades e os limites do diálogo com
a literatura brasileira.
Após a discussão teórico-conceitual, introduzir-se-á o método de cálculo de status socioeconômico
criado no Brasil por Silva (1974) baseado nas variáveis empíricas de renda e escolaridade, numa
perspectiva comparativa com outras formas de mensuração de status, como a renda média, mediana
e renda predita a partir de uma equação levando em consideração outras variáveis importantes para
a determinação da renda dos indivíduos. A análise das correlações das diferentes medidas ao longo
do tempo será o indicador para escolha da medida de status, sendo aquela que apresentar a maior
estabilidade temporal na ordenação das ocupações ao longo do tempo. Essa é uma forma de garantir
uma melhor aproximação entre o status socioeconômico da ocupação na época do pai e do filho.
Por fim, será apresentada a classificação utilizada nesse trabalho e a metodologia para análise da
evolução da mobilidade social no Rio, sob uma perspectiva comparativa com a média brasileira.
30
II.1. Base conceitual-teórica da literatura empírica sobre estratificação social
Tradicionalmente, no campo da sociologia, a ocupação tem sido utilizada como a variável de
excelência para a construção dos estratos sociais e, portanto, para análise da mobilidade social. Isso
porque a ocupação é considerada um bom indicador da posição social do indivíduo na estrutura de
uma sociedade. De fato, os avanços empíricos repousam basicamente na relação entre ocupação e
classe, resultando numa confluência teórica entre ambas. Em geral, os questionários sobre
mobilidade social nas pesquisas nacionais contam sempre com a pergunta sobre ocupação ou
função do pai e da primeira ocupação do filho que comparando com a ocupação atual do filho
permite a análise, respectivamente, da mobilidade intergeracional e da mobilidade intrageracional
ou de carreira.
É exatamente a definição de posição social da ocupação que divide as correntes teóricas na
extrapolação da construção de categorias ocupacionais para análise de classes ou estratos sociais.
Por um lado, tem-se a corrente que define posição social a partir de características nas relações de
produção - como, por exemplo, propriedade e autoridade referente aos seguidores da linha marxista
- e, portanto, o esquema de classes não tem necessariamente uma hierarquia, mas sim um aspecto
relacional de oposição ou de diferenciação social. Nessa linha de esquema relacional destacam-se
também os seguidores das idéias de Weber a partir dos conceitos de "posição de mercado" e de
"posição de trabalho" para gerar diferentes grupos sociais que, também, não necessariamente se
relacionam numa estrutura hierárquica mas sim relacional.
Por outro lado, tem-se a corrente que determina posição social a partir do status ocupacional que
pode ser definido por um indicador de prestígio social, status socioeconômico ou renda. Nesse caso,
as ocupações são agrupadas em categorias que expressam uma ordenação no sistema de
estratificação social e, portanto, as relações entre os grupos são gradacionais ou hierárquicas. A
expressão dessa corrente vem, em grande parte, da literatura americana a partir do trabalho pioneiro
de Blau e Duncan (1967).
Assim sendo, a seguir apresentar-se-á com um pouco mais de detalhes os principais expoentes da
literatura empírica internacional dessas duas correntes que, seguindo o referencial adotado por
Jorrat (1998) e Scalon (1999), na primeira pode ser expressa pelos trabalhos de Wright e de
Goldthorpe e na segunda por autores, como os já citados, Blau e Duncan e também Lipset e Bendix.
31
Posteriormente, será feita uma revisão da literatura sobre as diferentes posições tomadas por autores
brasileiros para classificação ocupacional nos estudos sobre mobilidade social.
II.1.1. Esquema de hierarquia social
O trabalho de Blau e Duncan (1967) talvez seja o mais importante no campo da análise de
mobilidade ocupacional no sistema de hierarquia social, já que apresenta uma análise sistemática da
estrutura ocupacional americana e as raízes do processo de estratificação social nessa sociedade. A
idéia, então, era analisar os padrões de mobilidade ocupacional e as variáveis que influenciam esses
padrões com intuito de explicar, pelo menos em parte, a dinâmica do sistema de estratificação nos
Estados Unidos.
Apesar da riqueza nos detalhes sobre as explicações dos processos de mobilidade social inter e
intrageracional, talvez a maior contribuição desse trabalho foi abrir uma linha de pesquisa empírica
sobre occupational achievement, traduzido na literatura brasileira como realização ocupacional, e
mobilidade. Em outras palavras, a idéia era que com a quantificação da posição ocupacional do
indivíduo na estrutura social poder-se-ia aplicar análises estatísticas mais avançadas para explicar o
processo de mobilidade.
No livro, os autores fazem uma rápida digressão sobre a relação entre posição ocupacional e classes
sociais levando em conta as idéias dos principais autores da literatura como Sorokin, Marx e Weber
e concluem da seguinte forma:
“Occupational position is not identical either with economic class or with prestige status, but it is
closely connected with both, particularly with the former. Class may be defined in terms of
economic resources and interests, and the primary determinant of these for the large majority of
men is their occupational position. ... If class refers to the role persons occupy in the economy and
their managerial influence on economic concerns, it is more accurately reflected in a man’s specific
occupation than in his employment status in contemporary society, where the economy is dominated
by corporations rather than individual proprietors. Occupational position does not encompass all
aspects of the concept of class, but it is probably the best single indicator of it.”
A análise quantitativa da ordenação do status ocupacional permitiu a utilização de uma série de
procedimentos estatísticos mais complexos, como as técnicas de regressão, que permitem redefinir a
análise dos dados. Esse método de análise mais elaborado é de fundamental importância para
32
investigar as influências simultâneas de diversos fatores para realização de status e mobilidade.
Assim, a questão básica colocada pelos autores foi em que medida a realização ocupacional é
influenciada por variáveis atribuídas como origem social, cor, região de nascimento.
Isso foi feito com a criação de 19 estratos ocupacionais segundo a faixa do índice de status
socioeconômico que tinham uma correspondência alta com o índice de prestígio ocupacional. Ao
definir os estratos sociais a partir das faixas de status socioeconômico, esses autores assumiram uma
posição de análise vertical da mobilidade, isto é, as posições dos indivíduos podem ser ordenadas
segundo o status ocupacional e a partir daí é possível analisar os movimentos para cima e para
baixo na estrutura social e os padrões e características que afetam as chances de realização de status
ocupacional dos indivíduos.
Essa linha de pesquisa, por um lado, junto com outros trabalhos como o de Fatherman e Hauser,
avançaram no campo da pesquisa sobre mobilidade no sentido de não só analisar os padrões de
mobilidade inter e intrageracional, mas também de buscar os fatores que afetam esses padrões e as
chances de sucesso dos indivíduos. Isso foi feito principalmente a partir da metodologia de path
analysis.
Por outro lado, essa é uma literatura muito dispersa e que não deu origem a uma linha de pesquisa
consistente para uma nova representação teórica do sistema de estratificação social. Em geral estão
ligadas à categorização dos estratos por prestígio social a partir dos grandes grupos ocupacionais de
manual/não manual ou alguma categorização interna a esses grupos para gerar análises sobre
movimentos verticais na estrutura social.
“O estudo da mobilidade vertical relaciona a posição social presente com a do passado, procurando
identificar de que modo os indivíduos vão se distribuindo nos vários níveis da estrutura social
através do tempo, qual o peso da herança social, dos recursos individuais e das oportunidades
econômico-sociais proporcionadas pela sociedade naquele período de tempo” (Pastore, 1979)
Nessa literatura, o status social - seja medido por um indicador socioeconômico seja medido por um
índice de prestígio social -, é uma variável fundamental para permitir a análise dos movimentos para
cima e para baixa na hierarquia do sistema de estratificação social. Esse tipo de análise tem sido
aplicado principalmente para avaliar se as chances de melhorar ou piorar de posição social
aumentaram entre as gerações do pai e do filho ou entre o primeiro emprego e a situação atual do
indivíduo.
33
Isso porque se tem atribuído à mobilidade uma relação de causa e efeito com o desenvolvimento de
uma região. A mobilidade depende tanto de atributos individuais - como escolaridade e experiência
- quanto de aspectos da estrutura socio-política-econômica ligados, por exemplo, a quantidade e
tipo de empregos disponíveis, do desenvolvimento instituições como a escola, entre outras, que
combinados levam a região a ter uma maior ou menor influência das variáveis atribuídas como
background familiar, cor e sexo do indivíduo sobre sua atual da posição social no sistema de
estratificação social. A literatura sobre mobilidade social a partir de movimentos verticais na
estrutura social tem dedicado muita atenção ao impacto das variáveis adquiridas e atribuídas sobre
as chances de melhora ou piora ao nível individual, sem necessariamente estabelecer um esquema
de divisão de classes baseado em barreiras decorrentes de diferenças no modo de produção ou outro
tipo de relação decorrente da estrutura de poder na forma de inserção na sociedade.
II.1.2. Análise estrutural de classes
Erick Olin Wright publicou em 2000 o livro Class Counts que sistematiza as questões trabalhadas e
os avanços conseguidos no amplo projeto de pesquisa empírica sobre análise de classe com base na
teoria de Marx. Como o autor escreveu no prefácio, “a argumentação na proposta era a de que
existia uma enorme defasagem entre o debate teórico sobre análise de classes – que girou em torno
do debate entre Marx e Weber – e a pesquisa quantitativa – que foi ignorada pelo Marxismo como
um todo” (grifos do autor).
Com a idéia de que o arcabouço teórico mais elaborado para análise de classe é encontrado na
tradição marxista, a partir da famosa frase de que “a luta de classes é o motor da história”, Wright
argumenta que o poder de explicação é mais restrito, ou seja, a trajetória histórica do
desenvolvimento pode ser explicada por uma construção apropriada do sistema de classes.
A estrutura de classes desempenha, então, um papel central na análise de classes, diferenciando-se
de outros conceitos inter-relacionados como formação de classes, luta de classes e consciência de
classes. Em outras palavras, os estudos de classe colocam-na como um grupo real, ou seja, um
grupo no qual a unidade traduz uma realidade vivida (de forma consciente ou não) e, portanto, a
linha de pesquisa gira em torno da problemática da estruturação social.
Wright identifica três mecanismos geradores de efeitos estruturadores de classe – interesses
materiais, a experiência de vida e a capacidade de organização e ação coletiva – sendo que “os
interesses materiais proporcionam a base mais coerente para a elaboração de conceitos concretos e
34
de nível micro da estrutura de classes”. O conflito de interesses organiza duas grandes classes
sociais, capitalista e proletária, ou proprietária e não proprietária dos meios de produção. A posse
diferenciada de ativo produtivo (poder do capital x da força do trabalho) faz com que cada uma
enfrente restrições diferenciadas no caminho para atingir seus interesses materiais. Nesse sentido,
são duas classes antagônicas em que o conceito de exploração é crucial para gerar as relações de
classes.13
“É preocupação de Wright distinguir o conceito de ‘exploração’ do de ‘dominação’. Entre as
propriedades estruturais do conceito de classe, enfatiza que as classes são ‘relacionais’, que estas
relações são ‘antagônicas’, que tais antagonismos estão enraizados na ‘exploração” e que esta
exploração está presente nas relações sociais de ‘produção’. Apesar de Marx – e muitos marxistas –
descreverem as relações de classe ‘em termos de dominação ou opressão, o determinante mais
básico do antagonismo de classes é a exploração’”14
(Jorrat, 1998, com citações de Wright).
Apesar da conotação moral embutida no conceito de exploração, o mais relevante para a análise de
classes “gira em torno de um tipo particular de interdependência antagônica de interesses materiais
dos atores nas relações econômicas”. Isso implica o funcionamento do princípio geral de que uma
classe tem vantagem em detrimento da outra, decorrente de um complexo mecanismo causal que
pode ser expresso da seguinte forma: “(a) o bem-estar material dos exploradores depende das
privações materiais dos explorados; (b) a relação causal em (a) implica a exclusão assimétrica do
explorado ao acesso a certos recursos produtivos; (c) o mecanismo que traduz a exclusão (b) em
diferenças de bem-estar (a) leva consigo a apropriação dos frutos do trabalho do explorado pelos
que controlam os recursos produtivos relevantes... Se somente as duas primeiras condições são
válidas tem-se o chamado ‘nonexploitative economic oppression’ mas não ‘exploração’, pois não
tem transferência dos frutos do trabalho do oprimido para o opressor”. (Wright, 2000)
Entretanto, essa representação da estrutura social em duas classes antagônicas baseadas na relação
de exploração, expressa pelos capitalistas e trabalhadores ou pelos proprietários e não dos meios de
produção, caracterizava uma polarização em que a primeira agrupava de 5% a 10% da população
ocupada e a outra a grande maioria dos trabalhadores. Além disso, com a crescente complexidade
da divisão social do trabalho e a expansão da classe média, ficou extremamente difícil seguir
13
A anedota do shmoo, que representa a possibilidade de todos terem um padrão básico de sobrevivência, apresentada
por Wright (2000) é muito interessante e clara para mostrar as diferenças de interesses de classes. 14
Wright exemplifica a diferença entre dominação e exploração a partir da relação entre pais e filho, onde se tem uma
relação de dominação sem que existam interesses opostos entre eles; esta relação exibiria interesses antagônicos
somente se os pais explorassem os filhos.
35
fidedignamente os conceitos de conflito e antagonismo de classes sociais, assim como a visão de
um movimento revolucionário decorrente da proletarização das classes sociais.
A grande questão então, colocada nas próprias palavras do autor, foi “como as categorias sociais
que são normalmente chamadas de classe “média” podem ser situadas no arcabouço conceitual
construído em torno do conceito de classes polarizadas?" A proposta do autor foi localizar dentro de
cada uma das duas classes definidas – proprietários e não proprietários dos meios de produção –
pessoas que compartilham as mesmas situações ou tipos de posição. Para tanto, o autor divide a
classe trabalhadora a partir de duas dimensões: autoridade no processo de produção e posse de
credencial ou qualificação.
A autoridade no processo de produção pode ser vista sob dois aspectos. O primeiro diz respeito ao
fato de estar associada à dominação e controle do seu trabalho e dos outros. Assim, os gerentes e
supervisores têm tanto a característica da classe capitalista – no sentido de que ela além de possuir
os meios de produção e contratar trabalhadores também controla a classe trabalhadora – quanto de
classe trabalhadora, na medida em que é controlada pela classe capitalista.
O segundo aspecto está associado ao fato de que os gerentes e supervisores ocupam uma posição
privilegiada em termos do processo de exploração que acaba gerando a possibilidade de apropriação
do excedente geral a partir de salários mais elevados. Essa dimensão também pode ser vista sob a
perspectiva da teoria do salário de eficiência (como apontou o próprio autor), na medida em que
ocupações “estratégicas” no processo produtivo tendem a ser mais bem remuneradas para que o
trabalhador se sinta motivado para buscar ganhos de produtividade. Além disso, ao estabelecer
salários maiores que os de equilíbrio no mercado de concorrência perfeita, o compromisso dos
gerentes e supervisores com os objetivos da empresa se torna mais forte.
“Os gerentes, então, não somente ocupam uma posição contraditória na relação de classes em
virtude da dominação como também ocupam o que poderia ser chamado de posição de apropriação
privilegiada na relação de exploração. Ambas acabam por diferenciá-los da classe trabalhadora”.
(Wright, 2000)
A dimensão da posse de qualificação ou credencial funciona de forma semelhante ao segundo
aspecto relacionado à dimensão da autoridade exercida pelos administradores, isto é, que os
trabalhadores com alto nível de qualificação estão potencialmente numa posição privilegiada nas
relações de exploração. Isso ocorre a partir do mecanismo proveniente da relativa escassez de
36
trabalhadores qualificados no mercado de trabalho15
e da dificuldade de controlar e monitorar o
trabalho qualificado que está fortemente ligado ao conhecimento, colocando, mais uma vez, a
importância de algo do tipo salário de eficiência para garantir maior cooperação e esforço deste tipo
de trabalhadores.
A partir dessa reformulação do conceito de classe baseado nas idéias de Marx de exploração,
Wright (1989) propõe um novo esquema de classes baseado em três critérios: propriedade,
autoridade e qualificação. Vale ressaltar que o autor apresenta esse esquema como um mapa de
posições de classe, onde as células da tipologia criada não são classes mas sim posições dentro de
uma relação de classe. A tabela a seguir apresenta a versão mais detalhada do mapa de posições de
classes.
Tabela II.1
Tipologia de classes elaborada por Wright
Relação nos meios de produção
Proprietários Empregados
Nú
mer
o d
e em
pre
gad
os Muitos Capitalistas Gerentes
experts
Gerentes
qualificados
Gerentes não
qualificados
Gerentes Relação
de au
torid
ade
Poucos Pequenos
Empregadores
Supervisores
experts
Supervisores
qualificados
Supervisores não
qualificados
Supervisores
Nenhum Pequena
burguesia
Experts Trabalhadores
qualificados
Trabalhadores
não qualificados
Não-gerentes
Experts Qualificados Não qualificados
Relação com qualificações escassas
Ao incorporar a dimensão da qualificação vem junto a principal crítica à construção do esquema de
classes de Wright, qual seja, de que ao tentar gerar soluções empíricas para dar conta da
complexidade do capitalismo moderno sem perder de vista os conceitos de Marx, o caminho segue
em direção à conceituação de Weber e das idéias defendidas por neoweberianos. Em outras
palavras, a solução encontrada por Wright para incorporar a classe média acaba por aproximar seu
esquema de classe ao conceito de Weber, colocando em evidência o problema de que a teoria de
conflito de Marx não se adapta bem aos avanços do capitalismo presentes nas novas formas de
divisão do trabalho e de estratificação social.
15
Esse mecanismo poderia ser descrito tanto por uma oferta menor de trabalhadores qualificados quanto também pelas
dificuldades de “conseguir” credenciais, como por exemplo, diferenças no capital “cultural” (através de background
familiar, comportamento, aparência etc) e no , capital “social” (acesso a diversas redes e informações), restrições de
vagas para treinamento, restrição de crédito, desigualdade de talento e de características genéticas.
37
Para representar esse debate em torno das linhas teóricas da construção empírica do esquema de
classes, o trabalho de Goldthorpe e colaboradores (1987) e Erikson e Goldthorpe (1993) são
extremamente importantes, por desenvolver um esquema de classes com base também na estrutura
ocupacional a partir das definições de "posição de mercado" e de "posição de trabalho" construídas
por Lockwood (1958) com base na teoria de Weber.
"Uma característica diferenciadora dessas categorias é que elas têm um grau relativamente alto de
diferenciação em termos tanto de função ocupacional como de status de emprego: de fato, o status
de emprego associado a uma ocupação é tratado como parte da definição de uma ocupação. Assim,
por exemplo, um 'bombeiro conta-própria' é uma ocupação diferente do 'bombeiro supervisor' e de
'bombeiro assalariado comum'. Sobre esta base, então, somos capazes de colocar juntos, dentro das
classes que distinguimos, ocupações que compartilham tipicamente situações de mercado e de
trabalho, grosseiramente similares que, seguindo a bem conhecida discussão de Lockwood,
tomamos como os componentes principais de posição de classe. Ou seja, combinamos categorias
ocupacionais em que os membros apareciam - à luz da evidência disponível - como tipicamente
comparável, por um lado, em termos de suas fontes e níveis de renda e outras condições de
emprego, em seu grau de segurança econômica e suas chances de avanço econômico; e, por outro
lado, em sua posição no sistema de autoridade e controle que orientam os processos de produção em
que estão envolvidos" (Goldthorpe, 1987)
Esse autor, então, montou um esquema de 7 classes da seguinte forma16
:
Tabela II.2
Esquema de classes de Goldthorpe (1987)
Classes Ocupações
Classe I Profissionais de alto nível, empregado ou conta própria; administradores e oficiais de alto nível
dos setores público e privado; gerentes de grandes indústrias; grandes proprietários.
Classe II
Profissionais de baixo nível e técnicos de alto nível; administradores de baixo nível; gerentes em
grandes estabelecimentos industriais e de serviços; supervisores de trabalhadores manuais.
Classe III
Trabalhadores não manuais de rotina empregados na administração e no comércio; vendedores;
outros rank-and-file empregados no serviços.
Classe IV Pequenos proprietários empregadores; artesãos conta própria; outros trabalhadores por conta
própria, exclusive profissionais.
Classe V Técnicos de baixo nível e supervisores dos trabalhadores manuais.
Classe VI Trabalhadores manuais qualificados assalariados na indústria.
Classe VII Trabalhadores manuais semi ou não qualificados na indústria; trabalhadores na agricultura
16
Esse esquema foi modificado e depois reduzido em outros trabalhos que tinham como objetivo, entre outros, de
comparar a mobilidade entre diversos países. Para tanto, ver Erikson e Goldthorpe (1991, 1992).
38
Apesar da numeração exposta no esquema de classes, Goldthorpe destaca que ele não expressa
necessariamente uma estrutura hierárquica consistente. O autor enfatiza ainda que a denominação
de classe alta, média e baixa não é consistente com uma hierarquia de status mas sim com sua
posição estrutural. A partir dessa classificação, diferente de Wright que tem na construção das
classes sua linha de pesquisa, Goldthorpe parte para análise de formação de classes e mobilidade
social, que é o seu objeto de estudo principal.
No entanto, ainda que tomando explicitamente uma posição classe-estrutural, a crítica mais
freqüente a Goldthorpe se refere ao fato de que seu esquema não pode ser definido como relacional
pois não expressa a oposição de classes, no sentido de que uma classe obtém vantagens em
detrimento de outra.17
Na medida em que analisa as relações entre as classes altas, intermediárias e
baixas atribui um sentido gradacional e, de acordo com Scalon (1999), "o esquema proposto por
Goldthorpe inclui ambas as dimensões, relacional e gradacional, e essa mesma crítica aplica-se à
Wright."
Assim, para o estudo de mobilidade o autor considera movimentos verticais na estrutura somente
em direção aos extremos, ou seja, a mobilidade ascendente é definida como os movimentos para as
classes I e II e a mobilidade descendente como os movimentos para fora das classes I e II.
Um outro problema apontado na classificação de Goldthorpe é que não há separação da classe de
proprietários, dimensão fundamental para divisão de classes tanto na teoria de Marx quanto de
Weber."Mesmo considerando que as posições na service class privam de certo grau de autonomia e
controle, não se pode confundir aqueles que administram o capital e, portanto, servem ao capital ou
à burocracia com os capitalistas. A classe denominada 'service', serve ao capital mas não é
capitalista. Essa mesma limitação aparece na agregação das ocupações não manuais de rotina com a
pequena burguesia" (Scalon, 1999).
O debate empírico sobre classes exposto a partir das contribuições de Wright e de Goldthorpe
mostra tanto caminhos comuns na escolha do esquema de classes quanto divergências. Pode-se
apontar, por exemplo, que ao tratar da classe média e definir as posições dentro da classe
trabalhadora utilizando os critérios de autoridade e qualificação, Wright se aproxima do esquema de
17
Ver, por exemplo, Evans (1992).
39
Goldthorpe. Mas que este último, ao não distinguir a classe de proprietários, se distancia da
classificação de Wright.
Em suma, pode-se dizer que as divergências conceituais-teóricas para definição de classes entre
essas duas correntes para os estudos de estratificação e mobilidade social se expressam pelas
possibilidades analíticas que concebem a diferenciação social e a mobilidade como movimentos
verticais ao longo de uma hierarquia de status ou definidas dentro de um contexto relacional na
estrutura de classes.
II.1.3. Esquemas de estratos sociais brasileiros
A definição dos estratos deve levar em consideração as características da estrutura da sociedade em
questão. Nesse sentido, é importante analisar as classificações existentes na literatura nacional para,
sempre que possível, estabelecer os diálogos e rupturas com a adotada nesse trabalho.
Um primeiro grupo de pesquisadores, que tem por base os trabalhos de Pastore (1979 e 1988),
utiliza o esquema hierárquico, em que as ocupações são agrupadas em categorias de acordo com
uma medida de status socioeconômico. Pastore, e também Andrade (1995, 1997), utilizam seis
grupos de status socioeconômicos. Pelo próprio critério de agrupamento das ocupações, esses
trabalhos não contemplam alguns recortes fundamentais para a análise de classes como propriedade,
credenciais, autonomia e outros conceitos relacionados a situação de trabalho. A tabela a seguir
apresenta os estratos sociais agrupados por status socioeconômico utilizado por Pastore e Silva
(2000).
40
Tabela II.3
Categorias ocupacionais ordenadas
Estratos Ocupações representativas
1. Baixo-inferior: trabalhadores rurais não
qualificados
Produtores agropecuários autônomos; outros trabalhadores na
agropecuária; pescadores,
2. Baixo-superior: trabalhadores urbano não
qualificados
Comerciantes por conta própria; serventes; vigias; trabalhadores
braçais sem especificação; vendedores ambulantes; empregadas
Domésticas
3. Médio-inferior: trabalhadores
qualificados e semiqualificados
Motoristas; pedreiro; mecânicos de veículos; marceneiros;
carpinteiros; pintores e caiadores; soldadores; eletricistas de instalação
4. Médio-médio: trabalhadores não manuais,
profissionais de nível baixo e pequenos
proprietários
Pequenos proprietários na agricultura; administradores e gerentes na
agropecuária; auxiliares administrativos e de escritório; reparadores de
equipamentos; pracistas e viajantes comerciais; praças das Forças
Armadas
5. Médio-superior: profissionais de nível
médio e médios proprietários
Criadores de gado bovino; diretores, assessores e chefes no serviço
público; administradores e gerentes na indústria e no comércio; chefes
e encarregados de seção; representantes comerciais
6. Alto: profissionais de nível superior e
grandes proprietários
Empresários na indústria; administradores e gerentes de empresas
financeiras, imobiliárias e securitárias; engenheiros; médicos;
contadores; professores de ensino superior; advogados; oficiais das
Forças Armadas
Fonte: Pastore e Silva (2000).
Pastore (1979) e Pastore e Castro (1983) utilizam essa forma de classificação de hierarquia social e
analisam o padrão de mobilidade a partir das matrizes de transição assim como utilizam o método
de regressão para explicar os diferentes padrão de realização de status ocupacional.
Valle Silva (1997) também analisa as diferenças por cor na realização ocupacional no Rio de
Janeiro. Esse trabalho não apresenta um sistema social dividido em determinado número de classes,
mas analisa um contínuo de ocupações hierarquizadas por um indicador de status socioeconômico
para buscar as variáveis (educação, experiência e origem social) que explicam as diferenças entre
brancos e não brancos na realização do status.
A abordagem classe-estrutural pode ser mais bem visualizada pela representação da estrutura
ocupacional brasileira elaborada por Valle Silva (1992) e utilizada em diversos trabalhos na
literatura nacional principalmente como ponto de partida para criar novas classificações. Isso se
deve essencialmente ao fato de que a estrutura montada por esse autor gerou 18 categorias
ocupacionais, o que dificulta a análise das matrizes de mobilidade social tanto por problemas
gerados por células vazias quanto pela própria dificuldade analítica de observar um conjunto de 324
células.
Essas 18 categorias foram construídas a partir de critérios teóricos que representassem uma
homogeneidade dos grupos em termos tanto de posição de mercado quanto de posição de trabalho.
As principais diferenças foram feitas a partir das clivagens tradicionais estabelecidas pelas
41
dicotomias entre os setores rural e urbano, entre as atividades manuais e não-manuais e entre os
setores terciário e secundário. Além disso, foram incorporados outros aspectos da estrutura social
como as diferenças internas no setor industrial entre atividades modernas que contam com um
mercado mais competitivo e um quadro de proteção social (que vai desde o contrato formal até
investimentos na formação profissional) e as atividades tradicionais da indústria que têm aspectos
mais precários nas condições de trabalho e oportunidades de crescimento profissional. Também foi
levado em consideração, na medida do possível com a variável ocupação, o recorte de posição na
ocupação: quer dizer as diferenças entre empregadores, conta própria e empregados assalariados.
Por fim, “no grupo manual urbano, Valle Silva destacou o de vendedores ambulantes e empregados
domésticos. No setor não-manual, foram distinguidas as ocupações técnicas das administrativas,
diferenciando dentro do primeiro grupo aquelas referentes a profissões liberais clássicas
(Engenharia, Medicina, Direito e Economia).” (Scalon, 1997). Enfim, as dezoito categorias
ocupacionais podem ser vistas a seguir na tabela II.4 com algumas ocupações representativas.
Essa classificação foi utilizada também por Hasenbalg (1993) e adotada como ponto de partida para
construção de um esquema de nove classes com base nas técnicas de análise de conglomerados e
modelos log-lineares em Scalon (1997). A análise de conglomerados foi adotada para agregar
grupos de categorias ocupacionais semelhantes em termos de nível de escolaridade e de renda. Em
seguida, com o intuito de verificar se a agregação das categorias não gerava perdas de informações
importantes sobre as características dos padrões de mobilidade, foram aplicados os modelos log-
lineares segundo o critério de homogeneidade interna, ou seja, para avaliar se as novas categorias
mantinham os padrões de distribuição tanto nas linhas quanto nas colunas da tabela de mobilidade.
42
Tabela II.4
Categorias ocupacionais com base mais classe estrutural
Categorias ocupacionais Ocupações
1. Profissionais liberais Engenheiro; professor de nível superior; advogados;
médicos; economistas
2. Dirigentes e administradores de alto nível Diretor, assessor e chefe do serviço público;
administradores
3. Profissionais Químico; analista de sistemas; professor de 2o grau;
oficiais das Forças Armadas; delegados e comissários de
polícia
4. Funções administrativas de execução Técnicos e fiscais de tributo; assistentes administrativos;
corretores; tabelião; escrivão
5. Não manual de rotina e funções de escritório Caixas; secretários; recepcionistas, auxiliar
administrativo; oficiais de justiça
6. Proprietários (empregadores) na indústria,
comércio e serviços
Empregador na indústria; comerciante; dono de hotel e
pensão; empresário de transportes e outros
7. Proprietários por conta própria (sem
empregados)
Comerciantes por conta própria; proprietário nos serviços
por conta própria; hoteleiros e donos de pensão por conta
própria
8. Técnicos, artistas e supervisores do trabalho
manual
Técnico químico; enfermeiros não diplomados; professor
de 1o grau; operadores de rádio, som, tv e cinema; mestres
9. Trabalhadores manuais em indústrias
modernas
Mecânicos; soldadores; montadores de equipamentos
elétrico-eletrônicos; eletricistas; tipógrafos
10. Trabalhadores manuais em indústrias
tradicionais
Alfaiates e costureiros; pedreiros; encanadores; padeiros;
borracheiro
11. Trabalhadores manuais em serviços gerais Motoristas; telefonistas; garçons; cabeleireiros; lixeiros
12. Trabalhadores no serviço doméstico Empregado doméstico; porteiro; ascensorista; guardas e
vigias; jardineiros
13. Vendedores ambulantes Feirantes; doceiros; bilheteiro; vendedores de jornais e
revistas; engraxates
14. Artesãos Artesão; rendeiro; tapeceiro; chapeleiro de palha; cesteiro
e esteireiro
15. Proprietários (empregadores) no setor
primário
Agricultores; criadores de gado; avicultores e criadores de
animais pequenos; outros proprietários agrícolas;
empresários da extração vegetal e pesca
16. Técnicos e administradores no setor primário Administradores e gerentes na agropecuária; técnico na
agropecuária; tratorista e outros operadores; operadores de
máquinas de extração de minérios e pedras; mestres e
técnicos de empresas de extração mineral
17. Produtores agrícolas autônomos Produtores agrícolas autônomos
18. Trabalhadores rurais Outros trabalhadores na agropecuária; seringueiros;
madeireiros; mineiros; trabalhadores braçais
Fonte: Valle Silva (1992).
Nesse caso, segundo essa autora, “a teoria precede a empiria, e os grupos agregados foram aqueles
considerados teórica e substantivamente similares e relevantes para o estudo da estrutura de classes
brasileira”. Isso porque está baseada na teoria weberiana que considera que classe social "a
totalidade daquelas situações de classe entre as quais uma mudança seja possível, seja pessoal, seja
na sucessão das gerações, é facilmente possível e costuma ocorrer tipicamente" (Weber, 1991,
extraído de Scalon). Assim, a definição dos estratos via mobilidade está baseada na idéia de que a
divisão de classes é dada pelas barreiras entre os estratos que são expressas pela maior dificuldade
de mobilidade entre os estratos sociais.
43
Como pode ser visto na tabela II.5, o esquema proposto por Scalon acaba por destacar:
(a) semelhanças das categorias do setor rural, onde as diferenças em termos de autonomia não
resultam em níveis de renda e escolaridade distintos;
(b) heterogeneidade da classe de trabalhadores industriais, em que aqueles que trabalham em
ocupações da indústria moderna estão mais próximos dos trabalhadores de serviços gerais e
aqueles de ocupações da indústria tradicional se assemelham mais aos trabalhadores manuais
urbanos de sobrevivência, expresso pela diferenciação entre trabalhadores manuais qualificados
e não qualificados
Tabela II.5
Definição dos estratos via mobilidade
Categorias originais
(Valle Silva, 1992)
Categorias resultantes
(Scalon, 1997)
Títulos
1 e 3 I Profissionais
2 e 4 II Administradores e gerentes
6 III Proprietários empregadores
5 e 8 IV Não manual de rotina
7 V Proprietários conta própria
9 e 11 VI Manual qualificado
10, 12, 13 e 14 VII Manual não qualificado
15 VIII Empregadores rurais
16, 17 e 18 IX Empregados rurais
Fonte: Scalon (1997).
Ao definir seu esquema de classes a partir da “perspectiva weberiana que reconhece uma classe
social como sendo formada por posições de classe entre as quais há fluxo, intrageracional ou
intergeracional, constante e freqüente”, Scalon toma uma posição classe-estrutural e toda a análise
das matrizes de mobilidade social é feita a partir das taxas de mobilidade e imobilidade, com poucas
inferências sobre movimentos dos grupos para cima ou para baixo no sistema de estratificação
social.
44
II.1.4. Esquema proposto
Qual o melhor caminho a ser adotado para elaborar a classificação dos estratos sociais nesta tese?
Essa é uma questão extremamente delicada pois os resultados em termos de nível e de padrão de
mobilidade são muito sensíveis à forma (aos aspectos conceituais e teóricos levados em
consideração) e ao número de estratos definidos. Por isso, o caminho adotado foi um tanto eclético
e contará, sempre que preciso para fortalecer o resultado, com mais de uma classificação.
Retomemos a questão central dessa tese para orientar a discussão sobre a classificação dos estratos
sociais. A idéia principal dessa tese é analisar se houve piora ou melhora no quadro de desigualdade
de oportunidades ao longo do tempo a partir dos indicadores de mobilidade social intergeracional.
Para responder essa questão poder-se-ia aplicar o método de regressão onde a teoria de realização
de status ou da própria renda seria determinada por atributos individuais, no qual origem social do
indivíduo marcaria um mecanismo de desigualdade de oportunidade. No entanto, “quando a
mobilidade é analisada no contexto hierárquico como representação do prestígio ocupacional ou
escala de status, torna-se difícil isolar e analisar as influências estruturais sobre as taxas e padrões
de mobilidade” (Erikson e Goldthorpe , 1993)
A opção aqui foi trilhar outro caminho, ou seja, construir um sistema de estratificação social
cristalizado em grupos ocupacionais e assim analisar em que medida determinados grupos sociais
foram capazes de romper as barreiras no sistema de estratificação ao longo do tempo. Em outras
palavras, tomou-se uma posição teórica com enfoque classe estrutural no sentido de que não se
busca responder a questão a partir dos atributos individuais que determinam as chances dos
indivíduos se movimentarem no sistema de estratificação e sim da análise dos movimentos das
categorias ocupacionais no sistema social.
Desse ponto, poder-se-ia seguir o caminho do esquema de hierarquia social em que se poderia
analisar os movimentos verticais. No entanto, a possibilidade de homogeneidade da situação de
trabalho estaria perdida. Nesse caso, poder-se-ia adotar classificações em escala de status
socioeconômico como as de Pastore ou de Andrade, que para um diálogo mais fluente com a
literatura brasileira poderia ser dividida em seis estratos.
O outro tipo seria o esquema classe-estrutural em que se perderia a análise dos movimentos
verticais, mas poder-se-ia observar a evolução dos grupos com diversos tipos de afinidades em
termos de situação de trabalho. A análise seria de grupos com muita ou pouca mobilidade, por
45
exemplo, se filhos de empregadores tem mais ou menos chances de mobilidade do que os filhos de
operário. Nesse caso, poder-se-ia ter adotado o esquema de nove classes de Scalon. No entanto, a
classificação proposta pela autora isola o grupo de proprietários rurais, o que significa um problema
conceitual e empírico para análise do Rio de Janeiro devido a representação muito pequena desse
estrato.
Decidiu-se, então, por tomar como ponto de partida os nove estratos construídos por Scalon e
reclassificá-los também a partir dos dezoito grupos ocupacionais criados por Valle Silva de uma
forma em que fosse mantida uma certa coerência tanto em termos de status socioeconômico das
ocupações no grupo e quanto em termos de afinidades na situação de trabalho nesse mesmo grupo.
A vantagem desse tipo de classificação é que ela possibilita analisar tanto os movimentos verticais
quanto fazer inferências sobre as chances de grupos sociais terem mais mobilidade que outros. No
entanto, ela apresenta a desvantagem de ser imperfeita tanto na hierarquização (já que a fronteira
entre os grupos é, às vezes, difusa) quanto alguns grupos ocupacionais contam com ocupações
pouco coerentes em termos de situação de trabalho, mas devido a inconsistência de status foi
classificado como tal.
Essa opção poderá parecer uma heresia para diversos teóricos sobre o tema. Sendo classe-estrutural
como seria possível criar uma hierarquia que está, em alguma medida, relacionada com a noção de
prestígio ocupacional? A verticalização da estrutura social pode ser percebida no sentido de existir
um diferencial socioeconômico, calculado em termos de uma medida de renda expressa pelo índice
de status socioeconômico. Então, é uma medida concreta de esperança de renda dadas a
escolaridade e a idade e, portanto, a leitura sugerida com a análise vertical é sobre as possibilidades
de se ter ganhos ou perdas de renda na passagem de um determinado estrato ocupacional para outro
e, por conseguinte, não se sugere aqui nenhuma relação com a questão subjetiva sobre o que os
indivíduos acham da sua ocupação em termos de prestígio social.
Assim sendo, foi criada uma classificação de 9 estratos sociais com base num indicador de status
socioeconômico e também nos aspetos teóricos levados em consideração nas 18 categorias de Valle
Silva e nas 9 de Scalon. Essa classificação será utilizada para a análise principal do trabalho mas
não será a única. Seja como forma de garantir que os resultados das taxas de mobilidade não se
devem exclusivamente ao tipo e ao número de categorias utilizadas, seja por necessidades técnicas
que requerem um menor número de categorias, serão realizados também outros tipos de
agrupamento das ocupações.
46
A seguir, apresentar-se-á o cálculo do índice de status socioeconômico, a definição dos estratos
sociais e os aspectos metodológicos referentes à análise das matrizes de mobilidade social no Brasil.
II.2. Mensuração do status socioeconômico das ocupações
A mobilidade social pode ser definida, de uma maneira bastante ampla, como o movimento de
pessoas ou grupos específicos entre diferentes situações, determinadas a partir de um indicador de
posição social, ao longo de um certo período. Nesse sentido, os estudos sobre mobilidade social
necessitam de um indicador de status que permite a diferenciação de posições dos indivíduos numa
escala social.
Em geral, esse status social é definido por uma medida de status ocupacional e, por conseguinte, a
mobilidade social é, em termos rigorosos, a mobilidade ocupacional. A literatura sociológica sobre
medidas de status ocupacional tem duas vertentes principais. A primeira está associada à elaboração
de uma escala de prestígio baseada em avaliações subjetivas dos trabalhadores sobre a qualidade do
emprego, como pode ser visto nos trabalhos de Lipset e Bendix (1959), Blau e Duncan (1967), entre
outros. A outra vertente utiliza critérios objetivos para criar um índice socioeconômico, baseado em
geral em renda e escolaridade, e gerar uma escala ocupacional.18
No Brasil, Silva (1976, 1985) elaborou um índice de status socioeconômico gerando uma escala
ocupacional no Brasil com o Censo de 1970. Essa escala procura medir a situação socioeconômica
dos indivíduos que ocupam cada uma das “diferentes posições sociais que podemos distinguir na
divisão social do trabalho”, a partir de variáveis empíricas como nível de escolaridade (medido em
anos de estudo completos) e rendimentos do trabalho principal.
A principal vantagem de se gerar uma escala com base em critérios objetivos como renda e
escolaridade é que ela permite não só a comparação no tempo e no espaço como também a análise
de distância social, aspectos fundamentais para o escopo desse trabalho que visa uma análise
temporal da mobilidade social, enfatizando as peculiaridades do Rio de Janeiro em relação à média
brasileira.
O procedimento para o cálculo da escala de diferenciação social tem quatro passos fundamentais:
(1) calcula-se o status educacional e econômico dos indivíduos, (2) combinam-se os status
47
educacional e econômico para gerar o status individual, (3) agregam-se os status individuais para
cada ocupação gerando o status ocupacional e (4) divide-se por uma constante para padronizar os
valores dos status ocupacionais dentro de uma escala de 0 a 100 pontos.
Primeiramente, o status econômico (R) dos indivíduos é definido pelo rendimento recebido pelo
trabalhador na ocupação principal. Como esse trabalho analisa a evolução temporal da mobilidade
social é necessário calcular o rendimento real desses trabalhadores. Para tanto, utilizou-se um
deflacionamento apropriado com base no IGP-DI para os dados do Censo de 1970 e no INPC-R
para os do Censo de 1980 e 1991 construído por Ferreira e Barros (1999).19
Em seguida, o status educacional é calculado a partir de uma função renda-escolaridade, a qual
estima o valor que o mercado paga, em média, para os indivíduos com determinado nível de
escolaridade. Foram, então, estimados os rendimentos esperados para dezoito níveis de escolaridade
(que variam de 0 anos de estudo a 17 anos de estudo completos) a partir de uma regressão entre a
renda e educação com uma função exponencial20
definida da seguinte forma:
e S ii bE aE
Onde iE é o nível educacional do indivíduo i medido em anos de estudo completos (0 a 17 anos),
iES é o status educacional do indivíduo i, ou seja, a renda esperada do indivíduo i com escolaridade
iE , a e b são constantes. Com base nos dados do Censo de 1991Os valores de a e b foram,
respectivamente, 203.32 e 0.132, com um coeficiente de determinação de 0.93, indicando que essa
função se ajusta muito bem às observações.
Além disso, levou-se em consideração a faixa etária do(a) trabalhador(a), na medida em que a
experiência é uma variável relevante tanto por sua influência independente sobre o rendimento
quanto pelo efeito da interação com a escolaridade na determinação dos rendimentos. Nesse
18 Os estudos originais citados por diversos autores da literatura nacional e internacional são de
Edwards (1943) e Bogue (1963). 19
Das séries históricas de índice de preços disponibilizadas pelos centros produtores dessa estatística, o que foi possível
utilizar para 1970 foi o IGP-DI, que não é o ideal para deflacionar renda do trabalho visto que não sendo um índice de
custo de vida apresenta um peso forte de preço por atacado. 20
Já foi bastante observado na literatura que a relação entre escolaridade e rendimento é não-linear e, mais
especificamente, tem o formato de uma função exponencial.
48
sentido, o status educacional foi estimado por faixa etária de 5 anos entre as pessoas com 30 a 55
anos de idade21
.
Tendo sido calculados o status educacional por faixa etária e o status econômico (renda real da
ocupação principal pelo trabalhador) é possível, então, obter o status socioeconômico individual a
partir da média aritmética simples destes. Por fim, para calcular o status ocupacional foi calculada a
média dos status individuais por cada ocupação.
Uma das grandes questões em gerar um índice de status socioeconômico para estudar mobilidade
social está relacionada ao problema da estabilidade temporal. Para as coortes mais velhas em que se
pergunta a ocupação do pai quando começou a trabalhar significa transportar a análise para o início
do século. Esse é um problema grave principalmente para esse estudo que busca analisar as
mudanças temporais nos padrões de mobilidade entre 1976, 1988 e 1996. Tomando os extremos, no
primeiro caso compara-se, em média, pais que estavam ocupados na década de 40 com filhos na
década de 70. Nesse período, houve uma forte migração rural-urbana e crescimento econômico
puxada principalmente pelo processo de industrialização. No outro, os pais estão no mercado de
trabalho na década de 60 e os filhos na década de 90. Também nesse período ocorreram fortes
mudanças, mas de forma diferente. Houve uma diminuição do ritmo de crescimento econômico e
mudanças na estrutura ocupacional com diminuição da indústria e crescimento do setor serviços, o
que certamente mudou o perfil ocupacional, seja através do surgimento de novas ocupações e
declínio da participação de “velhas”, como pela própria modificação na composição das ocupações
já existentes.
Levando-se esses fatos em consideração, é razoável supor que a ordenação das ocupações
permanece constante ao longo do tempo? O índice de status socioeconômico tradicionalmente
calculado a partir da renda e da escolaridade é o que gera a ordenação mais estável temporalmente?
A título de comparação para validar a opção metodológica do cálculo do status socioeconômico a
partir da média entre o status educacional e a renda, realizou-se a ordenação por vários outros
critérios. O primeiro foi considerar somente a renda real média por ocupação. Isso porque na
medida em que o cálculo da renda esperada dada a educação e idade no fundo tem como objetivo
uma diminuição do erro e, portanto, da variância decidiu-se por verificar se existe muita diferença
entre ambos tipos de cálculo. Mas como a renda média é muito sensível aos extremos, poder-se-ia
21
O universo de análise desta tese foi restrito a esta faixa etária e se justifica por representar o resultado dos indivíduos
ao atingirem o auge da sua carreira e, principalmente, por ser aquela compatível com a do pai para fins da análise de
mobilidade intergeracional. Esse ponto será retomado mais adiante quando será analisada a fonte de informações.
49
ter um efeito indesejado para o cálculo do status ocupacional e, então, a outra medida adotada é a
renda real mediana. Por fim, optou-se por fazer uma regressão mais completa de determinação da
renda, ou seja, calcular a renda esperada dada escolaridade, idade, idade2, sexo, setor de atividade,
situação rural ou urbana e região de residência dos indivíduos.22
Assim sendo, tem-se quatro
medidas para calcular o índice de status socioeconômico, quais sejam:23
1. renda média;
2. renda mediana;
3. renda-escolaridade (renda predita pela equação com escolaridade e idade);
4. renda predita (renda predita pela equação com educação, idade, idade2, sexo, setor de atividade,
situação rural ou urbana e região de residência ).
Para selecionar o melhor indicador de status socioeconômico utilizou-se como critério a
consistência temporal, ou seja, o indicador que gera menor mudança na ordenação das ocupações ao
longo do tempo. Para tanto, a tabela II.6 apresenta a matriz de correlação de ordem do status das
ocupações entre as diferentes formas de cálculo do status socioeconômico. Verifica-se,
primeiramente, que as correlações de ordem do status ocupacional são altas entre as diversas
medidas consideradas, da mesma medida ao longo do tempo e entre as medidas ao longo do tempo.
Tabela II.6
Matriz de correlação entre as diferentes medidas de status ocupacional: Brasil
1970 1980 1991
1970 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
1. Renda média 1,00 0,98 0,90 0,94 0,95 0,95 0,88 0,94 0,92 0,89 0,87 0,92
2. Renda mediana 1,00 0,91 0,93 0,94 0,95 0,87 0,91 0,89 0,88 0,85 0,88
3. Renda escolaridade 1,00 0,95 0,84 0,86 0,96 0,91 0,82 0,83 0,94 0,87
4. Renda predita 1,00 0,89 0,89 0,90 0,96 0,88 0,85 0,88 0,94
1980
1. Renda média 1,00 0,98 0,85 0,93 0,94 0,90 0,84 0,90
2. Renda mediana 1,00 0,87 0,91 0,93 0,93 0,85 0,88
3. Renda escolaridade 1,00 0,91 0,82 0,83 0,98 0,89
4. Renda predita 1,00 0,89 0,85 0,90 0,97
1991
1. Renda média 1,00 0,97 0,83 0,90
2. Renda mediana 1,00 0,83 0,85
3. Renda escolaridade 1,00 0,90
4. Renda predita 1,00
Fonte: Censos 1970, 1980 e 1991.
Observe que as correlações das mesmas medidas ao longo do tempo são mais altas para a renda
predita e a renda-escolaridade, sendo esta última ligeiramente superior a primeira (veja destaque em
22
Infelizmente, o Censo de 1970 não perguntou a cor das pessoas, variável que tem uma relação importante com o nível
de renda dos indivíduos.
50
negrito na tabela). Assim sendo, a ordenação das ocupações a partir da medida de renda-
escolaridade, que é aquela tradicionalmente utilizada na literatura e no Brasil foi elaborada por
Silva (1976, 1985), será utilizada nesta tese visto que gerou uma correlação de ordem mais alta
quando se comparam as diversas medidas ao longo do tempo, ou seja, obteve-se a maior
consistência temporal do status socioeconômico das ocupações.
As figuras II.1 e II.2 mostram a distribuição das ocupações por status socioeconômico numa escala
normalizada de 0 a 100 para o Rio de Janeiro e Brasil. Verifica-se um deslocamento ao longo do
tempo para a direita, indicando uma melhora na distribuição do status por ocupação. No entanto, o
deslocamento da média para um status mais elevado a moda em 1991 ainda encontra-se na faixa de
20-25, o que está longe de representar uma consolidação uma estrutura com alta participação de
ocupações de nível médio-mediano.
Merece, então, recolocar a questão de que, apesar das mudanças na estrutura ocupacional, a melhora
na distribuição do status ocupacional em direção a um aumento significativo da participação das
ocupações com status médio não foi suficiente para gerar uma distribuição mais igualitária em torno
da média. Isto é, uma distribuição em que se verificaria uma alta freqüência de ocupações com
status médio e baixa freqüência de ocupações no extremo da distribuição de status ocupacional.
Valle Silva (1974) concluiu com os dados de 70 que “um grande número de ocupações que no
Canadá e nos EUA são consideradas de “classe média”, no Brasil poderiam perfeitamente ser
alocadas aos estratos mais baixos da população." Mais de vinte anos depois parece que ainda
continua assim...
23
Ver as tabelas com a ordenação das ocupações segundo os diferentes critérios no Apêndice.
51
52
II.3. Definição dos estratos ocupacionais
Como foi dito anteriormente, utilizou-se como critérios para classificação dos estratos sociais o
índice de status socioeconômico e os recortes principais existentes na classificação dos 18 grupos
ocupacionais de Valle Silva (1992), tais como posição na ocupação, rural-urbano, manual-não
manual, para gerar uma estratificação em 9 grupos ocupacionais. A árdua tarefa de conseguir
combinar uma certa consistência entre status e afinidade ocupacional seguiu alguns passos
operacionais importantes para viabilizar a análise da evolução da estrutura social e dos padrões de
mobilidade.
O primeiro passo foi adotar alguns procedimentos para lidar com as mudanças nos títulos
ocupacionais ocorridas nas bases de dados do IBGE ao longo do tempo. O primeiro procedimento
foi compatibilizar os códigos dos Censos de 1970, 1980 e 1991 para gerar a ordenação das
ocupações necessárias para elaborar a análise da evolução do status. Em seguida, definiram-se os
grupos ocupacionais com base no Censo do 1991 e para elaborar as matrizes de mobilidade social
com os títulos ocupacionais da Pnad de 1976 foi necessário compatibilizá-los com os de 1988 e
1996 (que são mais detalhados)24
em acordo com o Censo de 1991. Foi criada então a variável
COMP definida como a ocupação compatibilizada comum a todos os arquivos de Censo e Pnad
para garantir uma comparabilidade temporal das ocupações.25
O segundo passo foi definir se os estratos seriam definidos a partir da estrutura ocupacional do Rio
ou do Brasil. Para tanto, avaliou-se a possibilidade de se ter uma diferença significativa entre a
ordenação do status ocupacional entre Rio e Brasil com o Censo 91. O resultado, de certa forma
surpreendente, foi uma correlação altíssima para praticamente todas as medidas utilizadas para
ordenar as ocupações. Como pode ser visto na tabela II.7 a correlação de ordem do status
socioeconômico das ocupações entre Rio e Brasil é de 0,974.
24
Isso gerou algumas restrições no processo de classificação, visto que foi necessário puxar as desagregações
ocupacionais realizadas nas Pnads de 1988 e 1996 para os títulos mais agregados da PNAD de 1976. O maior problema
encontrado foi em relação às ocupações dos proprietários que não eram subdivididas entre empregadores e conta-
próprias. No entanto, como em 1976 foi perguntado também no suplemento sobre mobilidade social a posição na
ocupação do pai foi possível, então, separar esse grupo cruzando as ocupações de proprietários com a posição na
ocupação, gerando assim as "ocupações" de proprietários empregadores e conta próprias. 25
Ver no Apêndice a tabela A.1 tábua de compatibilização das ocupações entre as Pnads.
53
Tabela II.7
Correlação de ordem das ocupações entre Rio e Brasil - 1991
Correlação de ordem das ocupações
Status socioeconômico 0.974
Renda predita 0.949
Renda média 0.858
Renda mediana 0.924
Escolaridade média 0.955 Fonte: Censo 1991.
Essa altíssima correlação, aliado ao efeito da migração sobre a mobilidade, principalmente em
relação aos pais, levou à decisão de criar os grupos ocupacionais a partir da estrutura brasileira,
apesar desta tese ter como foco principal de análise o Rio. Só para ressaltar um outro ponto a favor
dessa decisão, quando foi calculada a correlação de ordem do status socioeconômico das ocupações
em nove estratos entre Rio e Brasil obteve-se 0,997, ou seja, praticamente 1.26
Por fim, essas ocupações compatibilizadas foram ordenadas segundo o status socioeconômico,
divididas em nove grupos com o mesmo número de ocupações. Em seguida, inseriu-se esses nove
grupos considerando os recortes conceituais existentes no contexto das dezoito categorias
construídas por Valle e Silva e dos nove estratos de Scalon para, enfim, serem reagrupadas em
novos nove estratos ocupacionais que serão analisados nessa tese27
da seguinte forma:
a) separou-se trabalhadores rurais dos urbanos;
b) considerou-se a divisão de classes da linha marxista entre proprietários e não proprietários dos
meios de produção;
c) separou-se os experts de Wright ou service class de Goldthorpe dos não manuais de rotina;
d) considerou-se a dimensão da mobilidade colocada por Scalon, mas não se isolou a categoria de
proprietários rurais e separou-se os trabalhadores em ocupações dos serviços domésticos
daqueles da indústria tradicional;
e) controlou-se o overlapping do status socioeconômico das ocupações em, no máximo, 20% do
valor médio.
26
As tabelas A.2 e A.3 do Apêndice apresentam essas medidas por ocupação compatibilizada. 27
Por que 9 grupos? A idéia original era utilizar a classificação de classes de Scalon que se mostrou problemática para o
caso do Rio. Ao invés de abandonar os preceitos teóricos dessa classificação, optou-se por “transformá-la” de tal forma
que as 18 categorias ocupacionais construídas por Valle Silva (1992) fossem mais consistentes em termos de status e de
forma de inserção no mundo do trabalho e, assim, incorporar outros critérios para definição dos estratos.
54
Esses critérios geraram a seguinte estrutura de estratos ocupacionais28
:
Tabela II.8
Composição dos nove estratos ocupacionais - Brasil
Categorias ocupacionais Principais ocupações
I. Trabalhadores rurais Trabalhador de cultura, trabalhador rural autônomo, pescador,
seringueiro
II. Serviços domésticos Empregado doméstico, porteiros, vigias, lavadeira, lixeiro
III. Trabalhadores do setor tradicional Pedreiro, pintor, costureiro, alfaiate, sapateiro, marceneiro
IV. Trab. da ind. moderna e dos serviços gerais Vendedores, cozinheiro, garçom, mecânico, ferramenteiro e
ajustador mecânico
V. Proprietários conta própria Comerciante conta própria, dono de hotel e pensão por conta
própria, outros proprietários conta própria
VI. Técnicos e trabalhadores de escritório Professores 1o grau, secretárias, auxiliares administrativos, praça
militares, eletricistas
VII. Empregadores urbanos Industriais, Comerciantes, Donos de hotel e pensão, Outros
proprietários empregadores
VII. Administradores, gerentes e supervisores Administradores e dirigentes do comércio, do serviço público, da
indústria
IX. Profissionais liberais Engenheiros, médicos, prof. Ensino superior, magistrados
Fonte: Censo 1991.
Como destacado anteriormente, essa classificação toma por base alguns critérios importantes para
definição de classes ou estratos sociais, como a separação entre proprietários e não proprietários dos
meios de produção e também algumas semelhanças nas características na forma de inserção no
mercado de trabalho. Isso pode ser visto através do cruzamento entre essa nova classificação e as 18
categorias construídas por Valle Silva.
Como pode ser visto pela tabela II.9, os extremos das categorias de Valle Silva foram muito bem
classificados nos novos estratos, com trabalhadores rurais composto pela quase totalidade desses
trabalhadores assim como os profissionais liberais. O mais problemático foi classificar a classe
média, principalmente as categorias 11 e 8 (serviços gerais e técnicos, artistas e supervisores do
trabalho manual) da estrutura ocupacional de Valle Silva, que devido à elevada participação e
heterogeneidade de status socioeconômica foram "espalhadas" em mais de uma categoria.
28
Ver tabelas A.4 do Apêndice.
55
Tabela II.9
A nova classificação a partir das 18 categorias de Valle e Silva
9 Novas categorias ocupacionais
I II III IV V VI VII VIII IX Total
Categorias ocupacionais de Valle Silva
1. Profissionais liberais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,46 44,47 1,12
2. Dirigentes e administradores de alto nível 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 7,26 0,00 25,00 0,00 2,94
3. Profissionais e técnicos de alto nível 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 4,82 55,53 1,62
4. Funções administrativas de execução 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,64 0,00 16,10 0,00 1,28
5. Ocupações não manuais de rotina 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 37,98 0,00 0,56 0,00 5,76
6. Proprietários empregadores urbanos 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 2,82
7. Proprietários conta própria 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00 2,28 0,00 0,00 0,00 2,89
8. Técnicos, artistas e supervisores do trabalho manual 0,00 0,00 0,00 0,09 0,00 23,65 0,00 52,05 0,00 7,42
9. Trabalhadores da indústria moderna 0,00 0,00 0,48 17,74 0,00 9,55 0,00 0,00 0,00 5,16
10. Trabalhadores em indústrias tradicionais 7,33 2,44 94,17 0,26 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 13,77
11. Trabalhadores nos serviços gerais 0,00 2,73 4,74 66,95 0,00 12,34 0,00 0,00 0,00 16,61
12. Serviços domésticos 0,03 94,83 0,00 2,45 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 12,20
13. Vendedores ambulantes 0,00 0,00 0,00 10,68 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,21
14. Trabalhadores no artesanato 0,53 0,00 0,00 0,62 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,26
15. Proprietários rurais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 5,81 0,00 0,00 0,00 0,87
16. Técnicos e administradores no setor primário 1,97 0,00 0,00 1,21 0,00 0,50 0,00 0,00 0,00 0,81
17. Produtores agrícolas autônomos 40,35 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 9,92
18. Trabalhadores rurais 49,79 0,00 0,62 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 12,32
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: Censo 1991.
Considere o exemplo da categoria 8 de serviços gerais de Valle Silva. Os cozinheiros, garçons,
motoristas tinham status consistente com mecânicos, ajustadores, ferramenteiros gerando, assim
como na definição por mobilidade entre estratos de Scalon, essa categoria de trabalhadores de
serviços gerais e da indústria moderna. Mas a definição via mobilidade associada a recompensas
monetárias semelhantes mercado de trabalho são critérios suficientes para gerar uma identidade
coletiva que define uma classe social?
Segundo Esping-Andersen (1993), "um metalúrgico qualificado e um cabeleireiro qualificado têm
muito pouco em comum em termos de autonomia, autoridade, relação de trabalho e recompensa".
Tirando esse último aspecto que no Brasil são grupos com rendas semelhantes no mercado de
trabalho, talvez ele tenha razão nos outros casos. Mas, apesar de ser um aspecto importante para
definir um sentido de classe nas relações pós-fordistas, levar em consideração as principais matrizes
teóricas e conceituais para definir um sentimento de classe é extremamente difícil e devem ser feitas
algumas limitações.
Nesse sentido, pode-se dar um olhar mais modesto para essa classificação em termos de agrupar as
ocupações com níveis de renda e escolaridade semelhantes ainda que obedeça a alguns recortes
fundamentais em termos de relação de trabalho (autonomia, autoridade e estabilidade), expressos
56
nas dicotomias rural-urbano, manual-não manual e proprietário-não proprietário. A tabela II.10
apresenta o status socioeconômico médio das ocupações de cada estrato social e, mesmo que haja
intersecção entre alguns grupos, pode-se fazer uma leitura de que a mudança de estrato ocupacional
está em alguma medida associada à mudança de situação socioeconômica.
Tabela II.10
Status socioeconômico das ocupações por estrato ocupacional - Brasil
Status
Estratos ocupacionais Médio Mínimo Máximo
I. Trabalhadores rurais 11,94 10,30 13,20
II. Serviços domésticos 13,88 12,86 15,91
III. Trabalhadores em ocupações da indústria tradicional 15,98 14,44 18,78
IV. Trabalhadores da ind. moderna e dos serviços gerais 18,31 16,20 20,86
V. Conta própria 21,33 20,79 21,86
VI. Técnicos e ocupações não manuais de rotina 27,73 21,20 35,69
VII. Empregadores 35,31 32,64 39,83
VIII. Administradores, gerentes e supervisores 45,42 34,70 55,91
IX. Profissionais 76,76 59,28 100,00
Total 29,88 10,30 100,00
Fonte: Censo 1991.
Para se ter um pouco mais de detalhes sobre os estratos ocupacionais utilizados nesse trabalho, a
tabela II.11 apresenta algumas características em termos de renda e escolaridade. Percebe-se
claramente uma hierarquia em termos das medidas de renda (status, renda média e renda predita
pela equação completa) e escolaridade, com exceção dos empregadores que apesar do status mais
baixo que os administradores, a renda média e predita são mais altas. Como fica claro na análise da
tabela isso se deve à escolaridade mais baixa. Além disso, percebe-se que o desvio-padrão de todas
as medidas de renda e de escolaridade para os empregadores é o mais elevado, sugerindo que existe
um risco maior de alcançar a renda média desse grupo. Por isso, manteve-se esse estrato na posição
VII no sistema de estratificação social.
Tabela II.11
Características dos estratos ocupacionais - Brasil
Status* Escolaridade Renda Renda predita
Estratos Média DP Média DP Média DP Média DP
I.Trab.Rurais 184,60 95,18 1,76 2,26 209,57 545,86 159,22 107,50
II.Serv.Domésticos 225,64 122,13 3,00 2,68 211,62 391,11 219,67 153,87
III.Trab.Ind.Trad. 258,89 149,92 3,83 2,92 368,78 549,41 328,61 205,37
IV.Trab.Serv/Ind.Mod 323,11 216,14 5,05 3,53 512,06 743,64 388,00 268,96
V.Conta própria 345,16 247,06 5,25 4,00 729,35 1378,77 398,06 318,49
VI.Não manuais rotina 532,77 314,98 8,34 4,16 804,76 1178,73 577,13 391,56
VII.Empregadores 578,34 377,97 8,62 4,61 1958,51 3074,75 1388,92 987,66
VIII.Administradores 815,38 355,03 11,65 3,68 1173,35 1641,07 733,25 465,66
IX.Profissionais 1252,32 248,34 15,25 1,84 2200,16 2327,42 1287,22 717,02
Total 398,39 340,83 5,63 4,83 636,96 1279,04 453,52 484,34
Fonte: Censo 1991.
* Média e desvio padrão do status individual por estrato ocupacional. (sem padronizar entre 0 e 100).
57
A questão que se coloca aqui é se na análise da mobilidade social intergeracional poder-se-ia
esperar que essa classificação com o Censo de 1991 também seria semelhante a dos pais que
estavam no mercado de trabalho nas décadas de 40 a 60. Como não foi possível recuperar os dados
individuais de renda dos Censos anteriores a 70, vale colocar um resultado muito positivo já
destacado anteriormente para fortalecer esse tipo de análise, qual seja, que entre 1970 e 1991 a
ordenação das ocupações mudou muito pouco (ver tabela II.6 com matriz de correlação das medidas
ao longo do tempo). Isso quer dizer que apesar das mudanças no nível de renda nesse período a
posição relativa das ocupações mudou muito pouco e talvez não seja muito diferente supor esse
mesmo comportamento ainda mais para trás no tempo. Em outras palavras, a dificuldade em aceitar
a construção de estratos sociais ou classes como categorias ocupacionais empiricamente
mensuráveis tem respaldo numa situação coerente da posição relativa da ocupação dos pais e dos
filhos em termos de renda e escolaridade, o que fortalece a leitura de mobilidade social como
mudança de estrato social em termos de nível socioeconômico.
Por fim, vale dizer que essa classificação não será a única utilizada nesse trabalho para analisar a
mobilidade social no Rio e Brasil. Outros agrupamentos serão adotados na medida em que se tornar
necessário fortalecer os dados com outros tipos de classificação, em especial será feita uma
categorização em nove grupos levando em conta somente à ordenação das ocupações por status e
também um agrupamento em quatro categorias. Essa última será utilizada sempre que for necessário
um maior volume de informações na célula para aplicar técnicas, recortes de análises mais finos e
comparação internacional. São elas: I.Profissionais - profissionais, administradores e proprietários
empregadores; II. Não manual - não manual de rotina e proprietários por conta própria; III. Manual
urbano - trabalhadores nos serviços e nas indústrias tradicionais e moderna; e IV. Trabalhadores
rurais - empregados e trabalhadores autônomos rurais.
II.4. Metodologia e estimativas da mobilidade social intergeracional
II.4.1. Fonte de informações e universo de análise
A fonte de informações utilizada para estudar mobilidade social foi a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE. Foram selecionados os anos que continham o suplemento
sobre mobilidade social, quais sejam, 1976, 1988 e 1996.29
29
O suplemento sobre mobilidade social também foi aplicado em outros dois anos da PNAD. Mas, infelizmente, não foi
possível recuperar a PNAD 1973 no IBGE. E a PNAD 1982 apresenta dificuldades para utilizar a variável renda,
58
O universo de análise foi restrito aos chefes e cônjuges com idade entre 30 a 55 anos que souberam
responder às questões retrospectivas sobre ocupação e escolaridade do pai. Isso porque a pergunta
no questionário da PNAD é "qual era a função, cargo ou ocupação do seu pai quando o Sr(a) ... teve
a primeira ocupação" no caso das PNADs 1976 e 1988 e “... quando tinha 15 anos” na PNAD 1996
e para garantir uma certo grau de comparabilidade entre as fases da carreira profissional do pai e
do(a) filho(a) é apropriado fazer um recorte analítico na faixa etária condizente.
Como a idade média do primeiro trabalho é 13 anos e segundo a tabela II.12 a idade estimada dos
homens terem o primeiro filho é 25 anos30
, optou-se por concentrar a análise na faixa de 30 a 55
anos.
Tabela II.12
Estimativa aproximada da idade do pai ao ter o 1o filho(a)
1960 1970 1980 1991
Idade média da mulher ao casar* 22,19 22,96 22,59 22,73
Idade média do homem ao casar* 25,85 26,21 25,35 25,77
Diferença de idade ao casar* 3,66 3,25 2,76 3,04
Idade média da mulher ao ter o 1o filho 21,70** 22,40***
Idade média do homem ao ter o 1o filho 24,46 25,44
Fonte: *Censos, **Pnad-1984 e ***PNDS-1996.
Com a restrição do universo à faixa etária de 30 e 55 anos, o total de observações da amostra no Rio
de Janeiro variou entre 7.738 em 1976 e 6.418 em 1996, sendo que entre 60 e 70% responderam ao
questionário sobre mobilidade social. Esse total representava em torno de 35% do total de ocupados
neste último ano.
II.4.2. Definição de mobilidade social intergeracional
A mobilidade social que será analisada nesta tese é a intergeracional e pode ser definida aqui como
a mudança de estrato ocupacional atual do filho(a) na faixa etária de 30 a 55 anos comparado com o
do pai. Quando se cruza o estrato ocupacional atual do(a) filho(a) com o do pai, tenta-se captar a
fundamental para construção das categorias ocupacionais. Vale ainda lembrar que o suplemento da Pnad 1976 foi
aplicado a uma subamostra. 30
Não foi possível calcular diretamente a idade do pai ao ter o primeiro filho. Essa idade, então, foi calculada
indiretamente pela soma da idade da mãe ter o primeiro filho e a diferença de idade ao casar.
59
mobilidade em fases mais maduras da carreira tanto do pai quanto do filho(a).31
Além disso, ela
reflete não só os movimentos entre gerações mas também ao longo da carreira do indivíduo (a
mobilidade intrageracional, ou seja, entre a primeira ocupação e a ocupação atual do indivíduo).
Isso porque ela percorre tanto a mobilidade intergeracional (entre ocupação do pai e primeira
ocupação do filho(a)) quanto à mobilidade intrageracional. Esquematicamente, pode-se visualizar
da seguinte forma:
Ocupação do pai Primeira ocupação do filho Ocupação atual do filho
Mobilidade intergeracional
(1a ocupação)
Mobilidade intrageracional
Mobilidade intergeracional (total)
A análise da mobilidade social entre as gerações do pai e do(a) filho(a) nas décadas de 70 e de 90
significa, no primeiro caso, comparar a origem social dos pais ocupados entre 1940 até meados de
70 com a situação ocupacional do(a) filho(a) em 1976 e, no segundo caso, a origem social dos pais
nas décadas de 1960 até meados da de 1990 com a situação ocupacional do(a) filho(a) em 1996.
Assim, comparando a situação ocupacional atual dos(as) filhos(as) tem-se um período de 20 anos de
análise, mas se levarmos em conta o período que vai da primeira geração dos pais até a situação
atual mais recente dos filhos tem-se um espectro temporal que vai da década de 1940 a 1996.
II.4.3. Metodologia
A metodologia utilizada para analisar a mobilidade social intergeracional foi à construção de
matrizes de transição de status socioeconômico ou da tabela de mobilidade social, que é uma
classificação cruzada dos indivíduos de acordo com sua ocupação em dois momentos do tempo. O
momento mais antigo é chamado de origem ocupacional e o mais recente destino ocupacional.
Nesse estudo, a origem é a categoria ocupacional do pai e o destino é categoria ocupacional atual
do(a) filho(a), o que se convencionou denominar como mobilidade intergeracional total.
31
É, em alguma medida, questionável a relação entre categoria ocupacional do pai (e não da mãe) e da filha. No
entanto, como a categoria ocupacional do pai está sendo encarada como um indicador de status socioeconômico
familiar, a análise por sexo torna-se menos problemática.
60
A matriz de mobilidade apresenta-se da seguinte forma:
1 2 c
1 f 11 f 12 f 1c f 1+
2 f 21 f 22 f 2c f 2+
. . . .
. . . .
r f r1 f r2 f rc f r+
Total Destino f +1 f +2 f +c f ++= N
O : ocupação do pai ( i ) Total OrigemD : ocupação do filho ( j )
...
...
...
...
...
...
...
Onde ijf indica a freqüência conjunta da categoria i da variável de origem e a categoria j da
variável de destino. Nas marginais da tabela têm-se os totais, seja dos indivíduos com origem i, seja
dos indivíduos com origem i, seja de indivíduos com destino j. Esses totais marginais são definidos
por
c
1jiji ff e
r
1iijj ff
E o total de indivíduos pode ser obtido por
r
1i
c
1j
r
1iij
c
1jijij Nffff
A diagonal principal da matriz representa os casos de imobilidade social (i=j), ou seja, os casos em
que não houve mudança de categoria ocupacional ou de status socioeconômico. Assim, quanto
maior a porcentagem de indivíduos na diagonal principal, menor o grau de mobilidade social, o que,
por conseguinte, indica uma sociedade em que a posição atual dos indivíduos está muito ligada à
origem social.
As matrizes foram ordenadas de forma crescente de modo que os valores acima da diagonal
principal representam a mobilidade ascendente e abaixo se tem a descendente. A soma da
mobilidade ascendente e descendente é a mobilidade total. Assim, as medidas de mobilidade que
serão utilizadas nessa seção foram calculadas da seguinte forma:
Imobilidade =
l
1iii Nf , onde iif representa os valores da diagonal principal;
61
Mobilidade Ascendente =
c
1jij Nf , onde ijf significa valores acima da diagonal principal;
Mobilidade Descendente =
c
1jij Nf , onde ijf significa valores abaixo da diagonal principal.
Estas medidas de mobilidade são expressas em termos de taxas absolutas e, portanto, são
influenciadas pelo componente estrutural da mobilidade decorrente das mudanças na estrutura
produtiva e ocupacional e na composição demográfica. Em outras palavras, estas medidas são
afetadas pelas distribuições marginais da matriz de mobilidade, as quais representam as diferenças
na estrutura ocupacional ocorridas entre as gerações do pai e do(a) filho(a).
Assim sendo, no capítulo seguinte analisar-se-á a evolução das taxas absolutas de mobilidade social
no Rio, comparativamente ao Brasil, levando-se em consideração tanto os movimentos verticais na
estrutura social (mobilidade ascendente ou descendente) quanto relacionais (mobilidade estrutural
ou circular), com intuito de avaliar as possibilidades de movimentação dos indivíduos no sistema de
estratificação social entre gerações ao longo do tempo.
Conclusão
A construção dos estratos ocupacionais é um ponto extremamente delicado nos estudos sobre
mobilidade social, pois representa fazer escolhas conceituais e teóricas sobre posição social e,
portanto, determina as possibilidades de análise sobre o tema. Essas escolhas podem ser sumariadas
em dois caminhos na literatura empírica: a corrente que considera a hierarquia social em que as
ocupações podem ser ordenadas segundo status socioeconômico e a corrente em que as diferenças
entre os grupos ocupacionais são determinadas a partir da relação com os meios de produção ou de
acordo com a posição de mercado e de trabalho, sem necessariamente expressar uma hierarquia
social.
O caminho adotado foi um tanto eclético já que se combinou uma hierarquia segundo o status
socioeconômico com alguns recortes fundamentais para diferenciar os grupos:
separou-se trabalhadores rurais dos urbanos;
considerou-se a divisão entre proprietários empregadores, proprietários conta própria e
empregados;
utilizou-se o recorte manual e não manual;
62
separou-se os profissionais dos não manuais de rotina.
Com isso, seguindo uma linha mais weberiana de situações de classe, que são construídas por
posições de mercado e de trabalho e que determinam chances de vida diferentes, os estratos
representam uma certa ordenação feita por semelhanças no status socioeconômico, mas também
revela recortes fundamentais que definem características afins no mundo do trabalho. São eles:
Estratos ocupacionais
I. Trabalhadores rurais
II. Serviços domésticos
III. Trabalhadores em ocupações da indústria tradicional
IV. Trabalhadores da ind. Moderna e dos serviços gerais
V. Proprietários conta própria
VI. Ocupações não manuais de rotina
VII. Proprietários empregadores
VIII. Administradores, gerentes e supervisores
IX. Profissionais
A vantagem é que esse tipo de classificação permite avaliar se houve melhora ou piora entre
gerações em termos socioeconômico medida pela posição do estrato ocupacional e também analisar
as barreiras entre estratos que tem afinidades em termos de posição no mundo do trabalho. A
desvantagem é que ela é imperfeita tanto no que se refere à ordenação dos estratos, visto que existe
um overlapping de status, quanto a uma definição pura de características afins do conteúdo e do
tipo de trabalho.
No entanto, essa classificação não é última nem definitiva. Sempre que houver necessidade de
fortalecer os resultados, tanto em relação à coerência da ordenação por status quanto à necessidade
de contornar problemas estatísticos com células vazias, utilizar-se-á dois outros tipos de
estratificação:
a) 4 classes: I. Rural, II. Manual, III. Não-manual e IV. Profissionais;
b) 9 grupos ocupacionais levando em conta somente a ordenação das ocupações por status
socioeconômico.
A partir dos nove estratos criados aqui para representar a posição social dos pais e dos (as)
filhos(as) calculou-se as taxas de mobilidade, segundo as freqüências na matriz de mobilidade
social, em que os movimentos entre origem (estrato do pai) e destino (estrato atual do filho(a) com
30 a 55 anos) caracterizam a mobilidade social intergeracional. Como os estratos foram ordenados
de forma crescente, quando o estrato atual dos(as) filhos(as) for maior que o do pai, define-se a
mobilidade ascendente e, quando for menor, a descendente. Aos filhos (as) que permaneceram no
mesmo estrato do pai, caracteriza-se a situação de imobilidade.
63
CAPÍTULO III
TENDÊNCIAS DA MOBILIDADE SOCIAL
INTERGERACIONAL NO RIO DE JANEIRO
Poucos estudos foram feitos sobre mobilidade social no Rio de Janeiro. São três, destacados a
seguir em ordem cronológica. Pastore e Castro (1983) analisam o efeito do status do pai sobre a
posição social atingida pelos filhos em 1973 desagregada espacialmente. Verifica-se que nas
regiões mais desenvolvidas (Rio e São Paulo) este efeito é menor do que nas regiões menos
desenvolvidas. De qualquer maneira, a herança paterna exerce uma influência importante sobre
posição social das pessoas, principalmente pelos efeitos indiretos que são transmitidos via ocupação
no início da carreira profissional e, com mais intensidade, escolaridade.
Andrade (1997) analisa as diferenças nas taxas e padrões de mobilidade social entre as regiões
metropolitanas em 1988 e verifica que as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Recife
apresentam a situação mais desfavorável, com taxas menores de mobilidade ascendente e maiores
de descendente.
O trabalho de Valle Silva (1997) enfatiza as diferenças raciais (brancos e não brancos) no Rio de
Janeiro em relação ao denominado processo de realização social, ou seja, às possibilidades de
atingir determinada posição socioeconômica. Os principais determinantes, em ordem de
importância, são a escolaridade, a primeira ocupação e a experiência, sendo que a posição social
paterna não tem um efeito significativo. No entanto, o autor destaca que parece existir um outro
efeito significativo que poderia ser denominado “herança”, que determinaria o fato de que as
pessoas oriundas de famílias melhores posicionadas teriam os maiores rendimentos de sua própria
ocupação principal, independentemente da escolaridade e da ocupação atingida. “Este é um fato
curioso, uma vez que estas variáveis não pareciam afetar significativamente a ocupação presente,
sugerindo a existência de algum capital ‘cultural’ ou ‘social’ que torna mais rentável o desempenho
da própria ocupação”.
Em suma, esses estudos mostram que a mobilidade social no Rio de Janeiro é mais alta que a média
brasileira, o que indica uma sociedade mais dinâmica, onde as pessoas se movimentam muito entre
gerações no sistema de estratificação social. A idéia nesse capítulo é analisar a evolução temporal
64
das taxas absolutas de mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro, comparativamente à
média brasileira.
III.1. Evolução das taxas de mobilidade social intergeracional
A mobilidade social no Brasil é alta, quando comparada com outros países32
, e cresceu entre 1976 e
1996, como pode ser visto na tabela III.1. No Rio, a mobilidade é ainda maior e permanece
praticamente no mesmo patamar, revelando que o peso da origem familiar na determinação da
posição dos indivíduos no sistema de estratificação social é muito pequeno. Com uma taxa de
imobilidade praticamente constante ao nível de 20%, isso quer dizer que no Rio a grande maioria
(80%) dos indivíduos consegue seguir um caminho diferente do pai no mercado de trabalho, para
melhor ou pior.
Tabela III.1
Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)
Rio de Janeiro
Imobilidade 20,2 20,4 20,6 2,1% 1,0%
Descendente 18,1 20,5 25,3 39,9% 23,4%
Ascendente 61,7 59,0 54,0 -12,4% -8,5%
Brasil
Imobilidade 41,7 30,8 29,7 -28,7% -3,4%
Descendente 11,5 11,8 14,7 27,9% 24,2%
Ascendente 46,9 57,4 55,6 18,7% -3,1%
Total 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
No início do período tanto a mobilidade ascendente quanto a descendente eram maiores no Rio. Ou
seja, as possibilidades de mudanças de categoria ocupacional entre as gerações de pai e filho(a) - e,
portanto de condição socioeconômica -, tanto para cima quanto para baixo, eram relativamente
maiores no Rio. No final do período, no entanto, somente a mobilidade descendente é maior.
Percebe-se , então, que o Rio tem um comportamento temporal diferente da média brasileira. Logo
de imediato vem a questão se esse comportamento é resultado do número de estratos e da forma
como foi feita a classificação dos estratos ocupacionais. Para lidar com essa questão calculou-se as
taxas para as outras duas formas de estratificação social descritas no capítulo II – quatro classes e
nove classes ordenadas segundo o status socioeconômico – e verifica-se o mesmo comportamento
32
Ver Pastore e Valle Silva (2000) e Goldthorpe (1992). Só para dar uma vaga idéia, já que as diferenças no número de
estratos e na forma de classificação afetam essas taxas, no início dos anos 70, a taxa de mobilidade da França era de
43%, da Itália 37%, dos EUA 48%, do Canadá 50% e do Brasil 58%.
65
diferenciado no Rio em relação ao Brasil.33
Esse é um resultado forte e merece a busca de possíveis
fatores explicativos, já que não é decorrente da estratificação social utilizada nesse trabalho.
Uma forma de explorar esse comportamento é analisando as diferenças na composição da ocupação
por sexo, isto é, poder-se-ia explicar pelo fato do Rio ter uma presença feminina maior no mercado
de trabalho do que a média brasileira. Como ainda se verifica uma proporção relativamente maior
de mulheres inseridas em ocupações de qualidade mais baixa que os homens, esse poderia ser um
fator explicativo.
A tabela III.2 apresenta as taxas de mobilidade para homens e mulheres e, apesar de um padrão
diferenciado por sexo (as mulheres têm mais mobilidade tanto para cima quanto para baixo), o
comportamento temporal das taxas de mobilidade é semelhante para ambos os sexos. Ao contrário
do que ocorre na média brasileira, as chances de conseguir uma ocupação num estrato superior ao
dos pais ficou relativamente mais difícil para homens e mulheres no Rio.
Tabela III.2
Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil por sexo HOMENS MULHERES
1976 1988 1996 Var(96-76) 1976 1988 1996 Var(96-76)
Rio de Janeiro
Imobilidade 21,8 21,8 23,8 9,1% 15,2 17,8 16,0 5,7%
Descendente 16,8 18,5 22,8 35,9% 22,3 24,5 29,0 29,9%
Ascendente 61,4 59,8 53,4 -13,0% 62,5 57,6 55,0 -12,1%
Brasil
Imobilidade 43,0 33,8 32,6 -24,2% 36,9 24,3 25,4 -31,3%
Descendente 10,7 11,1 13,6 26,5% 14,0 13,3 16,3 16,1%
Ascendente 46,2 55,1 53,8 16,4% 49,1 62,4 58,3 18,9%
Total 100 100 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
Uma outra hipótese que poderia ser feita é em relação à diferença por cor. Diversos estudos
mostram que as pessoas de cor branca têm maiores possibilidades de ascensão social que os negros
e pardos.34
Como a proporção de negros e pardos é maior no Rio e crescente isso poderia estar
puxando, em alguma medida, esse comportamento da taxa de mobilidade social no Rio ao longo do
tempo.
Contudo, as informações da tabela III.3 revelam que o controle pela cor do indivíduo não gera um
comportamento diferenciado, ou seja, a queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio acontece
33
Ver tabelas A.5 e A.6 no Apêndice. Esse mesmo resultado também foi encontrado com uma outra classificação de
categorias ocupacionais em Pero (2001). 34
Caillaux (1994) e Hasenbalg e Silva (1988).
66
tanto para brancos quanto para não brancos. Mais uma vez, esse comportamento não decorre de
características específicas de um determinado grupo e sim para o conjunto da população.
Tabela III.3
Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil por cor BRANCOS NÃO BRANCOS
1976 1988 1996 Var(96-76) 1976 1988 1996 Var(96-76)
Rio de Janeiro
Imobilidade 19,1 20,1 19,9 4,7% 21,7 21,1 21,8 0,6%
Descendente 17,1 20,0 24,1 41,3% 20,0 21,4 27,4 37,0%
Ascendente 63,9 59,9 55,9 -12,4% 58,3 57,5 50,8 -12,9%
Brasil
Imobilidade 37,2 27,4 26,5 -28,9% 48,2 35,8 34,4 -28,5%
Descendente 12,3 12,7 15,1 22,6% 10,3 10,5 14,0 35,6%
Ascendente 50,4 59,9 58,4 15,8% 41,5 53,7 51,6 24,3%
Total 100 100 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
Em outras palavras, as taxas de mobilidade social no Rio têm um comportamento temporal
diferente comparativamente ao Brasil, pois registram queda da mobilidade ascendente e ligeiro
aumento da imobilidade. Mas será que este é um comportamento realmente específico do Rio de
Janeiro?
Os dados da tabela III.4 sobre a mobilidade social por estado mostram que sim.35
Somente o Rio de
Janeiro teve uma queda da mobilidade ascendente e manteve a taxa de imobilidade praticamente
constante. Esse poderia ser um fenômeno de ponto de partida, isto é, como o Rio tem alta taxa de
mobilidade ascendente as chances de cair seriam maiores. No entanto, verifica-se que São Paulo
registra a maior taxa de mobilidade ascendente entre os estados brasileiros em 1976 e continua
crescendo em 1996.
35
As regiões Norte e Centro-Oeste não foram consideradas por problemas de cobertura da amostra da PNAD,
principalmente em relação a 1976. Esse comportamento específico por estado também ocorre quando se consideram as
outras classificações. Para tanto, ver tabelas A.7 e A.8 do Apêndice.
67
Tabela III.4
Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação 1976 1996 Var(96-76)
Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.
Rio de Janeiro 20,2 18,1 61,7 20,6 25,3 54,0 0,4 7,2 -7,6
Espírito Santo 39,3 7,9 52,8 35,0 11,8 53,2 -4,3 3,9 0,4
São Paulo 24,6 12,1 63,3 19,8 15,5 64,8 -4,9 3,4 1,5
Rio Grande do Norte 39,9 10,8 49,3 30,2 12,7 57,1 -9,7 1,9 7,8
Santa Catarina 45,2 7,8 47,1 33,7 11,2 55,0 -11,4 3,5 7,9
Bahia 55,2 10,3 34,5 44,4 12,2 43,4 -10,8 1,9 8,9
Rio Grande do Sul 45,6 13,5 40,9 29,7 18,0 52,4 -15,9 4,4 11,5
Minas Gerais 49,3 8,9 41,8 31,9 13,9 54,2 -17,4 5,0 12,4
Pernambuco 55,6 12,0 32,5 36,9 15,2 47,9 -18,7 3,2 15,5
Paraná 50,1 8,5 41,4 31,1 11,7 57,2 -19,0 3,3 15,7
Ceará 59,4 10,7 29,9 41,1 11,3 47,6 -18,3 0,6 17,7
Piauí 70,3 3,0 26,7 45,7 9,3 44,9 -24,5 6,3 18,2
Paraíba 64,6 5,7 29,8 38,1 9,2 52,7 -26,5 3,5 23,0
Sergipe 59,8 9,7 30,5 33,2 12,1 54,6 -26,6 2,5 24,1
Alagoas 64,4 14,7 20,9 40,6 11,9 47,5 -23,8 -2,8 26,6
Maranhão 75,9 7,0 17,1 49,5 6,4 44,0 -26,4 -0,6 27,0
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Uma observação interessante que pode ser feita a partir da tabela III.4 é a relação entre taxa de
mobilidade e grau de desenvolvimento regional. Se os estados forem ordenados de forma crescente
de acordo com a taxa de imobilidade percebe-se que os da região Sudeste e Sul têm índices menores
do que os da região Nordeste. Com intuito de ilustrar esse fato vale ressaltar que os dois estados
com as menores taxas de imobilidade em ambos os anos considerados são Rio de Janeiro e São
Paulo e aqueles com as maiores são Maranhão e Piauí.
Com esse resultado torna-se inevitável uma referência ao debate teórico sobre a existência de uma
tendência de aumento da mobilidade com o desenvolvimento econômico. Pode-se resumir três
pontos mais ou menos consensuais nesse debate. O primeiro, refere-se ao fato de que o processo de
industrialização e a constituição de uma sociedade moderna são acompanhados por um aumento da
taxa de mobilidade tanto por efeitos de mudanças na estrutura ocupacional provocadas pelo
desenvolvimento tecnológico quanto pelo aumento da igualdade de oportunidades decorrente do
maior acesso à educação. (Blau e Duncan, 1967)
O segundo ponto é que a passagem de estágios do desenvolvimento econômico, considerando, por
exemplo, as etapas de Rostow ou os caminhos para uma sociedade pós industrial de Bell, está
necessariamente associada a um aumento da mobilidade devido aos efeitos das mudanças na
estrutura ocupacional mas não necessariamente a um aumento da igualdade de oportunidades, que
depende de outros fatores como, por exemplo, a consolidação de instituições necessárias para o
funcionamento de um sistema de bem-estar social. Por isso, a mobilidade aumenta no início do
processo de industrialização ou com mudanças de etapa, mas não há necessariamente uma tendência
68
clara entre crescimento econômico e mobilidade social, uma vez que seja atingido determinado grau
de desenvolvimento. (Lipset e Zetterberg, 1959)
Por último, a literatura empírica tem apoiado o argumento de Featherman, Jones e Hauser (1975) de
que é difícil encontrar similaridades nas taxas absolutas de mobilidade porque ela influenciada pela
estrutura da divisão social do trabalho, que por sua vez depende do comportamento das variáveis
econômicas, tecnológicas e demográficas que de cada país. Mas, quando se considera a taxa de
mobilidade líquida desses efeitos, ou melhor, a mobilidade relativa, observa-se que as similaridades
entre países que atingiram um grau de desenvolvimento econômico semelhante aumentam. Em
outras palavras, uma vez que se controle os efeitos estruturais e, portanto, o regime de mobilidade
se estabiliza num padrão comum, gera-se uma tendência convergente entre as nações em direção a
uma maior abertura em termos de garantir maior igualdade de oportunidades no processo de seleção
no sistema de estratificação social. Esse ponto encontrou apoio na literatura, mas Erikson e
Goldthorpe (1992) acrescentaram a possibilidade de diferenças no comportamento da mobilidade
relativa ou circular, ainda que pequenas, entre os países industrializados.
Retomando os resultados da tabela III.4, a análise das taxas de mobilidade absoluta dos estados do
Brasil revela uma correlação positiva entre grau de desenvolvimento e taxa de mobilidade. Esse é
um ponto forte a favor da teoria que sustenta que com o desenvolvimento econômico a transmissão
intergeracional de posição social diminui, o que pode ser tanto decorrente de mudanças estruturais
quanto do aumento da importância de outros canais de mobilidade, como a escola, para a
determinação da posição social do indivíduo.
Além disso, a mobilidade na região Nordeste, mais atrasada no contexto considerado, cresce
relativamente mais, assim como a mobilidade ascendente. Essa constatação, combinada com a
anterior, sugere uma explicação do tipo Lipset e Bendix onde as diferenças de estágio de
desenvolvimento que produzem uma mudança mais forte na estrutura ocupacional geram maiores
taxas de mobilidade total e de crescimento da mobilidade ascendente. Ou seja, a evolução das taxas
de mobilidade estaria refletindo muito mais mudanças na estrutura econômica e ocupacional do que
uma melhora nos mecanismos de circulação dos indivíduos entre os estratos ou da fluidez da
estrutura social.
Levando essa análise um pouco mais adiante, verifica-se que as regiões com estágios de
desenvolvimento semelhantes, como Rio e São Paulo, apresentam características diferenciadas nas
taxas e no comportamento ao longo do tempo. Esse aspecto reforça a hipótese de Fatherman, Jones
69
e Hauser de que mesmo em estágios de desenvolvimento semelhante existem diferenças nas taxas
de mobilidade e na sua evolução devido às especificidades econômicas e demográficas.
Vale destacar que o Rio, que já apresentava a maior taxa de mobilidade descendente em 1976,
registra a maior taxa de crescimento se distanciando ainda mais dos outros estados. Só para dar uma
idéia da distância, a taxa de mobilidade descendente no Rio é de 25% enquanto que o segundo lugar
é representado pelo Rio Grande do Sul com 18%.
A questão que se coloca agora é sobre quais seriam as possíveis explicações para o Rio apresentar
um comportamento temporal específico da taxa de mobilidade com a queda da mobilidade
ascendente, ou da mesma forma, com a maior taxa de crescimento da mobilidade descendente.
A tabela III.5 mostra a evolução das taxas de mobilidade entre 1976 e 1996 por categorias
ocupacionais com intuito de verificar quais foram as categorias que puxaram esse movimento
específico do Rio de Janeiro. Verifica-se, por um lado, que o ligeiro crescimento da taxa de
imobilidade no Rio ocorreu em praticamente todos os estratos, com exceção do I (trabalhadores
rurais) que caiu de 83% para 67% e do VII (empregadores) que passou de 20% para 11%. Os
estratos que registraram as maiores taxas de crescimento da taxa de imobilidade foram IV
(trabalhadores de serviços e da indústria moderna) e IX (profissionais).
No Brasil, a taxa de imobilidade cai para praticamente todos os estratos, com exceção dos estratos II
e IV. Nota-se, então, que no Brasil o estrato ocupacional mais privilegiado de profissionais não
registra um aumento da taxa de imobilidade, o que significa que a participação de trabalhadores
com origem social de outros estratos aumenta. Entretanto, no Rio, diferentemente da média
brasileira, a categoria IX de profissionais está se tornando mais fechada para pessoas com origem de
outras categorias socioeconômicas.
70
Tabela III.5
Evolução da mobilidade social por estrato ocupacional dos(as) filhos(as) 1976 1996 Dif(96-76)
Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.
Rio de Janeiro
I. Trab.Rurais 83,8 16,2 67,0 33,0 -16,9 16,9 0,0
II. Serv.Domésticos 6,6 31,5 61,8 8,5 50,5 41,0 1,9 19,0 -20,9
III. Trab.Ind.Trad. 16,9 27,3 55,7 21,8 37,0 41,1 4,9 9,7 -14,6
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 18,8 19,1 62,1 26,1 27,8 46,1 7,3 8,6 -15,9
V. Conta própria 9,1 15,2 75,6 12,2 28,9 58,9 3,1 13,6 -16,7
VI. Não manuais rotina 22,7 12,7 64,6 23,3 14,0 62,7 0,6 1,3 -1,9
VII. Empregadores 20,0 4,9 75,2 10,8 12,4 76,8 -9,1 7,5 1,6
VIII. Administradores 9,6 5,8 84,6 12,0 6,7 81,3 2,4 0,9 -3,3
IX. Profissionais 13,4 86,6 19,0 81,0 5,6 0,0 -5,6
Brasil
I. Trab.Rurais 92,4 7,6 89,9 10,1 -2,5 2,5 0,0
II. Serv.Domésticos 3,2 21,7 75,1 4,8 29,6 65,6 1,6 7,9 -9,5
III. Trab.Ind.Trad. 16,2 18,0 65,9 16,0 21,9 62,2 -0,2 3,9 -3,7
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 14,0 16,5 69,4 17,9 17,9 64,2 3,9 1,3 -5,2
V. Conta própria 14,6 12,8 72,6 10,7 16,5 72,7 -3,9 3,8 0,1
VI. Não manuais rotina 20,4 8,3 71,3 16,6 10,1 73,3 -3,8 1,8 2,0
VII. Empregadores 14,7 5,4 79,9 9,6 8,5 81,9 -5,0 3,0 2,0
VIII. Administradores 8,7 7,1 84,3 8,3 3,7 88,0 -0,4 -3,4 3,7
IX. Profissionais 16,2 83,8 14,5 85,5 -1,7 0,0 1,7
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Já, a queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio é generalizada, exceto o estrato VII, e foi
puxada principalmente pelas categorias ocupacionais de baixo status socioeconômico ou pelos
estratos do setor manual (II a IV) e pelo estrato V (proprietários por conta própria). A maior queda
da mobilidade ascendente se refere à categoria II (serviços domésticos) e quer dizer que enquanto
em 1976 a maioria das pessoas naquele estrato no Rio experimentava uma mobilidade ascendente
(pais no setor rural), em 1996 a maior parte tem origem em estratos superiores da estrutura social.
Apesar da queda da mobilidade ascendente dos outros estratos do setor manual, as chances de
mobilidade ascendente ainda são bem maiores do que as descendentes. Do total de trabalhadores
inseridos em ocupações no estrato IV (trabalhadores de serviços gerais e indústria moderna), 46%
experimentaram uma mobilidade ascendente em relação ao estrato de seus pais enquanto que 28%
tiveram mobilidade descendente.
No Brasil, a taxa de mobilidade ascendente também registra uma queda nos estratos do setor
manual mas com uma intensidade bem menor que no Rio, e ainda com taxas de mobilidade
ascendentes bastante superiores que as descendentes em 1996.
Esse quadro da mobilidade intergeracional no Rio poderia ser explicado, pelo menos em parte, por
uma mudança na estrutura ocupacional diferente da média brasileira. A tabela III.6 apresenta a
evolução da participação dos estratos na ocupação total no Rio de Janeiro e Brasil em 1976 e 1996.
71
Como já era de se esperar há uma queda da participação das ocupações no setor rural tanto no Rio
quanto no Brasil, sendo que neste último é tão forte que as participações dos outros estratos
crescem. Já no Rio essa queda foi acompanhada também por uma diminuição significativa dos
estratos III (trabalhadores da indústria tradicional) e VI (não manuais de rotina) e em menor grau do
estrato II (serviço doméstico).36
Tabela III.6
Evolução da estrutura ocupacional por categoria ocupacional
no Rio de Janeiro e Brasil 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)
Rio de Janeiro
I. Trab.Rurais 5,57 4,18 4,44 -20,2% 6,3%
II. Serv.Domésticos 16,48 17,52 15,89 -3,6% -9,3%
III. Trab.Ind.Trad. 14,85 12,56 12,62 -15,0% 0,5%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 21,91 23,32 25,67 17,2% 10,1%
V. Conta própria 2,72 2,29 3,89 42,6% 70,0%
VI. Não manuais rotina 19,59 17,13 15,06 -23,1% -12,1%
VII. Empregadores 5,78 5,93 5,98 3,6% 0,9%
VIII. Administradores 8,76 11,56 11,50 31,4% -0,5%
IX. Profissionais 4,33 5,52 4,95 14,1% -10,4%
Brasil
I. Trab.Rurais 33,12 21,33 20,72 -37,4% -2,9%
II. Serv.Domésticos 10,10 12,86 12,62 25,0% -1,8%
III. Trab.Ind.Trad. 11,16 12,15 12,06 8,1% -0,7%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 16,53 19,03 20,11 21,7% 5,7%
V. Conta própria 3,66 4,25 4,88 33,1% 14,8%
VI. Não manuais rotina 11,71 12,31 12,03 2,7% -2,3%
VII. Empregadores 4,70 5,58 5,41 15,2% -3,1%
VIII. Administradores 6,53 9,04 8,64 32,2% -4,4%
IX. Profissionais 2,49 3,44 3,54 42,2% 2,8%
Total 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
Esse comportamento do estrato VI (não manual de rotina) no Rio, que tem um peso importante na
estrutura ocupacional, pode estar contribuindo para explicar a evolução da queda da mobilidade
ascendente. No entanto, isso dependerá do regime de mobilidade e de suas mudanças ao longo do
tempo.
Os fatos encontrados até aqui merecem uma reflexão mais profunda sobre as peculiaridades no
processo de desenvolvimento econômico e social do Rio de Janeiro que poderiam explicar esse
fenômeno. Para tanto, serão explorados dois caminhos para explicar o comportamento temporal
específico das taxas de mobilidade social no Rio: o demográfico e o econômico.
36
Em que pesem as diferenças na composição dos estratos por sexo e por cor, esse comportamento temporal
diferenciado do estrato VI (queda no Rio) foi verificado para todos os grupos. Ver tabelas A.9 e A.10 do Apêndice.
72
O primeiro caminho é o de explorar o fato de que o Rio está liderando a transição demográfica
brasileira, como mostrou, por exemplo, o Relatório de Desenvolvimento Humano da Cidade do Rio
de Janeiro.37
A queda da taxa de fecundidade no Rio de Janeiro iniciou-se mais cedo e foi mais
além que no resto do Brasil. Além disso, as características históricas como a elevada taxa de
urbanização e de escolaridade da população junto com diminuição da migração têm contribuído
para o Rio ser o Estado com a menor taxa de crescimento populacional.
O Rio então está na frente de um processo demográfico que caracteriza as sociedades mais
desenvolvidas, qual seja, a de apresentar uma estrutura etária mais velha da população. O impacto
sobre a mobilidade social é o de que, por uma característica demográfica, as pessoas na faixa etária
considerada (30 a 55 anos) são relativamente mais numerosas e, por conseguinte, deparam-se com
uma competição mais pesada para manter a posição social dos seus pais.
O outro caminho é explorar o resultado como um reflexo da perda de dinamismo da economia
fluminense. Esta perda foi sentida com mais intensidade com a transferência da capital para Brasília
em 1960 e, principalmente, a partir da fusão do Estado da Guanabara com o do Rio em 1975,
quando não só perdeu definitivamente o "bonde da história" de um processo de diversificação
industrial para São Paulo mas também todo o circuito de geração de trabalho e renda com a
centralidade política de capital do país. Nesse sentido, as mudanças na estrutura econômica e
ocupacional não foram capazes de manter ou melhorar as oportunidades de trabalho para as
gerações mais novas e, por isso, o Rio tem um comportamento pior que os outros estados.
Uma hipótese geral é que as mudanças na estrutura econômica decorrentes da diminuição da
participação da economia fluminense no cenário nacional e do processo de desindustrialização e de
diminuição do peso do setor público na economia geraram, junto com um elevado grau de
desigualdade, uma estrutura de consumo que alimenta um setor de serviços de baixa qualidade
inchado e crescente, levando a uma subutilização do elevado capital humano (escolaridade), ou até
mesmo um saldo migratório negativo de pessoas com alta qualificação, e uma diminuição das
chances de melhorar de posição na estrutura social ao longo do tempo.
Antes de entrar na análise empírica para explorar os mecanismos demográficos e econômicos que
poderiam explicar a queda da mobilidade ascendente no Rio, vale comentar alguns aspectos
peculiares da história socioeconômica do Rio que ajudam a contextualizar a questão em foco.
37
Camarano (2001).
73
III.2. Ascensão e queda do Rio de Janeiro no século XX: um breve relato
O Rio de Janeiro era a cidade mais importante do Brasil até o início do século XX no cenário
político, econômico, social e cultural. Como capital federal do Brasil teve seu "período dourado",
com crescimento econômico, mudanças urbanísticas e arquitetônicas, como palco das principais
decisões políticas e vanguarda cultural do país.
É de longa data o destaque da cidade do Rio como o mais importante centro comercial e financeiro,
apoiado na cafeicultura e no comércio de exportação e importação, e político-administrativo do
país. Também era a cidade industrial mais importante nos primórdios da industrialização brasileira,
quando em meados do século XIX já existia uma participação significativa da indústria têxtil.
Outros indícios da expansão econômica do período foram a geração de energia elétrica e a
construção do moderno porto da cidade. Segundo Tavares (2000), em 1907, o Rio de Janeiro era o
principal centro industrial do país, com uma contribuição de 30% no produto total do país, seguido
por São Paulo e Rio Grande do Sul.
Apesar dos sinais de perda de espaço econômico com a queda da produção cafeeira fluminense38
e
de estar ocorrendo uma intensa urbanização desacompanhada de um desenvolvimento baseado na
industrialização, o Rio na primeira metade do século XX recebeu a denominação de cidade
maravilhosa. Essa imagem foi construída pelo dinamismo econômico decorrente das
especificidades locais como forte elo do empresariado industrial e financeiro com o Estado e
também as possibilidades de contar com gastos públicos para investimentos nos projetos de
infraestrutura e arquitetônicos como ocorreu com as reformas de Rodrigues Alves e as obras de
Pereira Passsos.
A "construção da Paris dos Trópicos"39
visava, entre outras coisas, diminuir as epidemias para
espantar a caracterização de cidade pestilenta e incorporar à paisagem natural uma beleza
urbanística. O Rio na entrada do século XX era a melhor expressão de cidade moderna do país e se
38
Para um estudo aprofundado sobre a economia do Rio na virado do século ver Mello (1993), Leopoldi (1986),
Lobo(1978), entre outros. 39
Só para dar uma idéia, nesse período foram construídos o Teatro Municipal, o Forte de Copacabana, o bondinho do
Pão de Açúcar, é eletrificada a estrada de ferro para o Corcovado, a orla das praias de Botafogo e Copacabana são
urbanizadas, além dos projetos de abastecimento de água com drenagem de rios e do crescimento dos loteamentos nas
zonas norte e sul. Para maiores detalhes, ver Lessa (2000) que sintetiza que “a reforma, num duplo movimento, afirma a
capacidade de alçar-se a modernidade urbana e à exibição do elenco singular na natureza do Rio”. Completa ainda com
a importância da cultura européia, principalmente a francesa nesse período, onde a atividade cultural se intensifica com
os cinemas, peças, cafés e a boemia no cenário carioca. Coloca ainda: “ A elite brasileira sentia-se ofuscada pelo brilho
da burguesia européia. Eram tempos de intensa proletarização e emigração européia para os novos mundos, inclusive o
Brasil. Nossa elite não percebia, nesta diáspora, os sinais dos novos tempos”.
74
constituiu num pólo de atração de fluxos migratórios, vindos principalmente de Portugal, de Minas
Gerais e do Nordeste do Brasil.
De acordo com Lessa (2000): "Apesar de já iniciada a atrofia do café fluminense, estavam no Rio
os maiores salários: as oportunidades de mobilidade vertical da cidade eram atraentes para os
camponeses do norte de Portugal". Ou ainda, "o Rio de Janeiro emitia um sinal "lotérico" de acesso
a alguns serviços públicos e de melhoria de renda atraindo brasileiros de outras regiões. Isto sem
contar que a capital era pólo de imigração lusa."
Paralelamente a essa dinâmica de modernização, foi nesse período também que surgiram as favelas
do Rio como uma estratégia lógica da população pobre de habitar em locais próximos às classes
sociais mais altas já que, devido em grade parte à precariedade do sistema de transporte, tornava-se
mais fácil a oferta de serviços domésticos e de outros serviços e produtos por conta própria através,
principalmente, do comércio ambulante.40
A partir de 1920, apesar do Rio continuar crescendo, São Paulo já lidera a produção industrial.41
Keller (1977) enumera os seguintes fatores como determinantes do declínio relativo do Rio de
Janeiro:
i) mãe natureza dotava melhor São Paulo em termos de recursos de solo e topografia;
ii) localização geográfica no planalto favorecia São Paulo para tornar-se o epicentro de
circulação; e
iii) condições históricas que dificultaram a passagem de uma economia cafeeira sedimentada no
regime escravocrata para uma economia agrícola com trabalho livre coincidiram com um
esgotamento dos solos e dificuldades financeiras dos fazendeiros para investir em outras
lavouras; e, fragilidade do processo de industrialização no interior fluminense e da infra-
estrutura de transportes.
Esses três argumentos expressam bem a visão de que a economia fluminense entrou em declínio
relativo por conta da fragilidade das relações café-indústria não terem impulsionado efeitos
dinâmicos, para frente e para trás, no território como havia ocorrido em São Paulo. Essa percepção
da história, no entanto, é questionada por diversos historiadores que relativizavam o peso da
cafeicultura e da indústria na economia fluminense como um todo, devido principalmente às suas
especificidades como grande centro comercial, financeiro e político-administrativo e, portanto, ser
40
Na introdução do livro Cem Anos de Favela, Zaluar e Alvito (1998) fazem uma interessante análise sobre o
surgimento da favela a partir de artigos em jornais e depoimentos de figuras públicas da época. Já em 1900 um artigo
em jornal reivindica o policiamento e a higienização do Morro da Providência.
75
historicamente uma economia capaz de gerar uma dinâmica, em certa medida, autônoma da relação
café-indústria.
Diversos argumentos são levantados. Lobo (1977) ressalta que o desenvolvimento industrial e da
economia do Rio não teve relação direta com a agricultura devido à importância da acumulação na
área comercial e financeira. Mendonça (1977) refuta a idéia de que se teria enfrentado obstáculos
para o abastecimento assim como sofrido limitação significativa à constituição de um mercado
interno devido ao ainda expressivo contingente de mão de obra escrava. Lobo (1987) e Martins
(1985) colocam o limite do mercado interno como potencial explicativo fraco na medida em que o
escoamento da produção era possível via Estrada de Ferro Central do Brasil, cumprindo o papel de
mecanismo integrador do mercado, tanto para suprir a demanda interna quanto para aumentar a
valorização do capital nestes negócios. Levy (1987) destaca o aumento das tarifas de energia
elétrica como fator explicativo para perda de dinamismo da indústria do Rio. Guarita (1987) atribui
ao crescimento dos custos industriais com energia elétrica, transportes e salários às principais razões
para a perda de dinamismo. Enfim, uma série de autores deslocam o peso da crise do café para as
especificidades locais, pois na virada na virada do século XX não houve crise da economia
fluminense e atribui a perda de espaço da economia fluminense a partir de 1920 como resultado de
uma série de fatores específicos à economia local.
Natal (2001) apresenta bem essas duas vertentes com a seguinte conclusão: “o Rio de Janeiro, tais
eram suas especificidades, não poderia ser matriciado a partir de fora. Esta é a tese dos historiadores
da UFF. De qualquer maneira, esse conjunto de autores reconhece que a economia do antigo Estado
do Rio logo entrou em crise, conhecendo a partir do desenvolvimento da economia paulista um
longo e irreversível ciclo de decadência e de estiolamento social. Neste sentido, não deixa de haver
mérito da análise acerca do caráter paradigmático das relações econômicas mais avançadas
instauradas em São Paulo, nos moldes capitalistas, sublinhando-se, no entanto, a especificidade de
antigo Distrito Federal”.
Como pode ser visto na tabela III.7, já em 1949 (e mesmo antes), São Paulo era o estado que mais
contribuía para o PIB brasileiro com 36%, seguido do Rio com 20%. Note que a tabela III.8 revela
que essa perda de espaço na economia nacional no período que vai de 1939 a 1980 ocorreu para
todos os setores de atividade econômica, em especial a indústria e os serviços financeiros.42
41
Ver dados do Recenseamento do Brasil, 1920 em Tavares (2000). 42
Note que a agricultura sempre teve uma participação muito baixa, o que se reflete no Rio ter a maior taxa de
urbanização do Brasil.
76
Tabela III.7
Contribuição dos estados do Rio e São Paulo
para o PIB brasileiro
Rio de Janeiro São Paulo
1949 19,5 36,4
1959 18,5 37,8
1970 16,1 39,5
1975 14,5 40,2
1980 13,2 37,8
1985 12,8 34,7
1990 10,9 35,7
1995 13,2 37,4
Fonte: IBGE, extraídos de Tavares (2000)
Tabela III.8
Contribuição do produto setorial do Rio para o PIB
setorial brasileiro
1939 1980 Dif. Var.
Agricultura 5,4 1,2 -4,2 -77,8%
Indústria 26,9 9,3 -17,6 -65,4%
Terciário 20,3 12,6 -7,7 -37,9%
Governo 35,4 20,7 -14,7 -41,5%
Outros serviços 27,2 17,6 -9,6 -35,3%
Serv.Financeiros 38,4 13,2 -25,2 -65,6%
Fonte: Natal (2001).
Vale notar que isso ocorreu mesmo com as macro-decisões do Estado Novo Varguista de tentar
equilibrar a distribuição de recursos no eixo econômico mais desenvolvido do país (Rio-São Paulo-
Minas) com a implementação de empresas estatais de grande porte no Rio e em Minas Gerais.
Segundo Ribeiro e Almeida (1993), isso revelava uma lógica de “organizar” o aproveitamento das
complementaridades industriais com Minas fornecendo a matéria prima mineral e o Rio o processo
de metalurgia pesada e o de química de base para, então, São Paulo operar o parque industrial
voltado para a produção de bens finais.
De certa forma, essa estratégia foi mantida em 1960, quando a capital foi transferida para Brasília,43
e a União manteve no Rio as sedes das grandes estatais, das universidades, instituições de pesquisa
e outros órgãos federais como o BNDES. Essa lógica de sustentação econômica, no entanto, não era
nova. Sem ter conseguido imprimir um novo padrão de acumulação baseado em especificidades da
economia regional, o Rio se desenvolvia a partir de um setor de serviços sofisticados, com
atividades nacionais a partir das sedes de bancos, de seguros, do comércio atacadista, de escritórios
43
Para conhecer o processo político e os reflexos sobre a sociedade no período da passagem da capital para Brasília ver
Motta (2000).
77
de advocacia, entre outros. Este estilo de desenvolvimento que, sob certo olhar, é condizente com
uma vida econômica de base da capital do país torna-se um problema com a transferência da
capital.
O fato é que ao não se desenvolver com bases no processo de industrialização, o Rio foi se tornando
cada vez mais dependente do setor terciário e do setor público para a dinâmica regional, o que se
cristalizou em profunda crise quando da perda da capital para Brasília.
Segundo Lessa, "o Rio sempre abriu mão com facilidade de seus interesses econômicos locais em
nome da função política maior. Esta postura displicente, conveniente enquanto capital, irá lhe custar
caro, após a perda da capitalidade. Uma cidade cosmopolita que podia condensar e conviver com
todas as dimensões provincianas. Uma cidade com elites recrutadas em todo o país, sem servir ao
interesse regional do Rio. Ao perder a função capital e sobreviver à crise das últimas décadas, a
imagem do Rio foi esvanecendo, estando ligada a este processo a erosão da auto-estima brasileira."
Essa combinação de perda relativa de espaço econômico e manutenção da promessa da
modernidade como centro político-administrativo, pólo cultural que com o sucesso da rádio
reforçou a expressão popular do samba e da música em geral atraía não só turistas mas também
fluxos migratórios crescentes. Assim, apesar da moderna economia de serviços, baseada nos setores
da administração pública, de comunicação, cultural e de turismo, que estava se desenvolvendo não
se teve como contrapartida um mercado de trabalho que garantisse níveis de emprego e renda
suficientes para suprir as “necessidades básicas” cotidianas da vida urbana. Como reflexo, as
favelas cresceram continuamente nesse período, tornando mais fortes, já que duradouras, as
desigualdades econômica e social.
Observando ainda os dados da tabela III.7 percebe-se que a decadência da economia do Rio foi
sentida com mais intensidade com a perda da capital para Brasília nos anos 60 e, principalmente, a
partir da fusão do Estado da Guanabara com o Rio em meados de 1970, quando não só perdeu
definitivamente o "bonde da história" de um processo de diversificação industrial para São Paulo
mas também todo o circuito de geração de trabalho e renda com a centralidade política de capital do
país. Isso porque o distanciamento entre Rio e São Paulo ocorre principalmente no período de 1960
a 1975 quando o Rio diminui sua participação no PIB e São Paulo aumenta.
A crise dos anos 80 atinge ambas economias, sendo que a do Rio tem repercussões específicas pelo
fato de já estar perdendo espaço há algumas décadas. Segundo Ribeiro (1997), isso ocorre
principalmente pelo fato de ter sido historicamente o lugar das indústrias que se tornaram obsoletas
78
com as revoluções industriais, como siderurgia e construção naval (Dain, 1990) e também por
apresentar uma “terciarização deformada” pois não foi acompanhada de um avanço significativo na
divisão social do trabalho, já que as ocupações de sobrevivência e de serviços e comércio são as que
mais crescem nesse período.
As características da história econômica recente do Rio, quando na primeira metade do século XX
perde espaço no cenário mas ainda cresce e depois entra em crise com a transferência da capital e,
especialmente, com "década perdida", aponta fatores importantes para a atração de fluxos
migratórios e, por conseguinte, o padrão de crescimento populacional.
São Paulo é o principal foco de atração de fluxos migratórios no país e tem uma taxa de
fecundidade maior que a do Rio.44
Já o Rio, a partir de 1950, é o terceiro receptor de população de
outros estados e a taxa de fecundidade do estado do Rio sempre foi a mais baixa do Brasil e vem
diminuindo ao longo do tempo.45
Esses dois efeitos juntos contribuíram para diminuição da taxa de crescimento populacional. Como
pode ser visto na tabela III.9, a população do Rio cresceu 12 vezes no período considerado enquanto
que a de São Paulo é 37 vezes maior. O Rio de Janeiro é o terceiro estado do Brasil em termos
populacionais, atrás de São Paulo e Minas Gerais. Vale dizer que apesar da população do Rio ser
menor que a de São Paulo e crescer relativamente menos, a sua distribuição pelo território expressa
uma densidade demográfica bem mais elevada com 293 hab/km2, enquanto que Minas Gerais é de
27 hab/km2 e São Paulo é de 136 hab/km2.46
44
Ver Keller (1977) e Pacheco e outros (2000). 45
Uma análise empírica mais detalhada sobre a queda da fecundidade no Brasil e também a baixa taxa no Rio pode ser
encontrada em Carvalho e outros (1981). 46
Dados do Anuário Estatístico do Brasil (1993)
79
Tabela III.9
População dos Estados do Rio e São Paulo e do Brasil: 1872-1991
Rio de Janeiro % São Paulo % Brasil
1872 1.057.696 10,7% 837.354 8,4% 9.930.478
1890 1.399.535 9,8% 1.384.753 9,7% 14.333.915
1900 1.737.478 10,0% 2.282.279 13,1% 17.438.434
1920 2.717.244 8,9% 4.502.188 14,7% 30.635.605
1940 3.611.998 8,8% 7.180.316 17,4% 41.236.315
1950 4.674.645 9,0% 9.134.423 17,6% 51.944.397
1960 6.709.891 9,5% 12.974.699 18,3% 70.992.343
1970 8.930.324 9,4% 17.958.693 19,0% 94.508.554
1980 11.297.327 9,5% 25.040.712 21,0% 119.002.706
1991 12.807.706 8,7% 31.588.925 21,5% 146.825.475
2000 14.367.083 8,5% 36.969.476 21,8% 169.590.693
Fonte: Censos, extraídos de Keller (1977), Rigotti e Carvalho (2000) e Pacheco e outros (2000).
O comportamento temporal do saldo migratório do Rio de Janeiro expressa em alguma medida a
crise econômica local a partir dos anos 60. O Rio de Janeiro sempre foi um importante pólo
metropolitano atrator de migrantes de todo país, principalmente mineiros e nordestinos. Segundo
estimativa de Rigotti e Carvalho (2000) esse saldo na década de 60 foi de 841.168, representando
9,4% da população, caindo na década de 70 para, respectivamente, 631.513 e 5,6%. Essa tendência
de diminuição continua a tal ponto do saldo se tornar negativo na década de 80. Assim, em 1991, o
Rio experimentou pela primeira vez na história recente um saldo migratório negativo de - 452.806
pessoas.47
Como pode ser visto na tabela III.9, o fato do Rio ter a menor taxa de fecundidade e o saldo
migratório negativo fez com que a participação da população fluminense em relação ao total no
Brasil diminuísse em 1991.
Tabela III.10
Taxa de crescimento populacional
Rio de Janeiro São Paulo Brasil
1950/60 3,7 3,5
1960/70 3,1 3,2 2,9
1970/80 2,3 3,4 2,5
1980/91 1,2 2,1 1,9
Fonte: Censos, extraídos em Rigotti e Carvalho e Pacheco e outros.
Como pode ser visto na tabela III.10, a diminuição e depois reversão dos saldo migratório no Rio
assim como da baixa taxa de fecundidade acabou por resultar numa taxa de crescimento
47
Esse comportamento também foi verificado por Correa do Lago (2000) para a Região Metropolitana do Rio de
Janeiro.
80
populacional no Rio a partir da década de 70 menor do que a média brasileira. Note que, a despeito
da forte diminuição da sua taxa de crescimento populacional, São Paulo se mantém acima da média.
Assim, como pode ser visto na tabela III.9, a participação da população fluminense em relação ao
total cai em 1991 enquanto que a de São Paulo cresce continuamente.
Esses fatores levam o Rio a liderar um processo de transição demográfica em direção ao
envelhecimento da população. Como pode ser visto na tabela III.11, o Rio apresenta desde 1920
uma estrutura etária mais madura que São Paulo e a média brasileira. Além disso, no período como
um todo as modificações nas participações ocorreram com mais intensidade aqui do que no Brasil.
Tabela III.11
Distribuição da população por faixa etária
Rio de Janeiro Brasil São Paulo 0 a 19 20 a 59 60 e mais 0 a 19 20 a 59 60 e mais 0 a 19 20 a 59 60 e mais
1920 51,2 44,4 4,4 56,2 39,9 3,9 100
1940 47,2 48,3 4,5 53,3 42,6 4,1 51,3 44,6 4,1 100
1960 46,3 48,1 5,6 52,9 42,3 4,8 48,4 47,2 4,4 100
1970 46,3 47,4 6,3 53,1 41,8 5,1 47,3 46,9 5,8 100
1980 42,0 50,8 7,2 49,7 44,3 6,1 43,7 50,0 6,3 100
1991 37,4 53,3 9,2 45,0 47,7 7,3 40,1 52,2 7,7 100
1996 37,9 51,4 10,6 42,3 49,8 7,9 37,8 53,6 8,5 100
Fonte: Censos Demográficos do IBGE.
Ao que tudo indica a economia fluminense, notadamente o Distrito Federal, no início do século,
apesar do declínio da economia cafeeira, vivia um período de crescimento econômico que durou até
os anos 60 quando da transferência da capital para Brasília. Desse período em diante, o Rio entra
em declínio atingindo o "fundo do poço" nos anos 80 e início dos 90.48
Os dados de renda per capita
são bem ilustrativos para esse quadro evolutivo. A renda per capita no início do século XX no Rio
era 2,5 vezes a média brasileira, atinge seu auge com 2,7 em 1950 e depois sofre queda contínua,
quando nos anos 60 passa a ser 1,7 e chega nos anos 80 com uma renda per capita somente 1,4
vezes maior que a média brasileira.49
48
Vale dizer que em 1990, Minas Gerais passa a frente do Rio em termos de contribuição para a produção nacional.
Contudo, em 1995, há uma inflexão nesse comportamento da economia fluminense recuperando seu 2o lugar. Uma
análise sobre a perda de posição e a inflexão (ou seria retomada?) da economia fluminense pode ser vista em Tavares e
Natal. Sem entrar em detalhes sobre esse ponto, merece destaque o fato de que, com a democratização, a eleição ou
nomeação de governantes locais sistematicamente de partidos de oposição ao governo federal foram, aos poucos,
enfraquecendo a capacidade do governo alavancar receitas em diversas esferas de atuação, tendo impactos não
desprezíveis sobre a perda de peso relativo da economia fluminense na nacional e o quadro social. 49
Esses dados foram extraídos de Natal (2001).
81
Além disso, o Rio apresenta um padrão de elevada desigualdade de renda, quase sempre a maior
entre os estados mais desenvolvidos do Brasil, que nos últimos 30 anos se manteve praticamente
constante. Isso quer dizer que a queda da renda per capita ocorreu sem uma redistribuição da renda
entre as diferentes camadas da população, sugerindo que a queda da renda teve, em média, um
impacto semelhante para os diferentes grupos socioeconômicos.
O último ponto relevante a ser destacado para a contextualização histórica em busca de explicações
para o comportamento específico da mobilidade social no Rio é em relação ao elevado grau de
escolaridade da população fluminense quando comparado com a média brasileira. O Rio foi a sede
da primeira universidade do Brasil e recebia, e ainda recebe, pessoas de fora do estado para se
escolarizarem aqui. O fato é que até hoje tem uma participação relativamente alta de pessoas com
formação universitária. Em Barros e outros (1997) verifica-se que quando se compara a estrutura
ocupacional com os requerimentos educacionais para desempenhar determinada ocupação, o Rio
apresenta uma abundância relativa de capital humano, medido por anos de estudo. Dito de outra
forma, a escolaridade relativamente alta no Rio não tem como contrapartida uma estrutura
ocupacional mais sofisticada, gerando essa abundância relativa de capital humano.
Assim sendo, essa seção continuará em busca de explicações para o comportamento específico da
mobilidade social no Rio a partir da análise empírica de dois pontos destacados anteriormente: (1) o
impacto do declínio relativo economia fluminense sobre a estrutura setorial do emprego que geram
repercussões sobre as possibilidades de inserção ocupacional; (2) os efeitos demográficos do
comportamento e composição do saldo migratório decorrente do "descompasso" entre escolaridade
e estrutura ocupacional sobre o saldo migratório e de uma estrutura etária mais velha.
III.3. Explorando algumas explicações para o comportamento específico do Rio
Antes de entrar nas três possíveis explicações destacadas anteriormente a partir da análise dos
aspectos demográficos e econômicos específicos da história do Rio, é necessário ter em mente os
períodos em que ocorrem os dois movimentos de mobilidade intergeracional para viabilizar a
análise das possíveis relações. O primeiro refere-se à mobilidade entre os pais no mercado de
trabalho mais ou menos nas décadas de 40 e 50 comparados com a situação ocupacional do filho em
1976. O segundo movimento compreende as mudanças de categoria ocupacional entre os pais que
estavam no mercado de trabalho nos anos 60 e 70 em relação à categoria dos filhos em 1996.
82
Essas duas ondas geracionais podem ser caracterizadas com os seguintes fatos estilizados. Na
primeira onda os pais moravam num Rio que usufruía da centralidade de capital do Brasil, que
passava por um processo de urbanização e crescimento econômico e era um forte pólo atrator de
migrantes no país e os filhos viviam num Rio que não era mais a capital e começa a perder fôlego
em termos de crescimento econômico. A outra onda refere-se a duas gerações que viveram no Rio,
estado da federação, sendo que a primeira experimentava os resquícios da fusão, ainda um período
de crescimento econômico e de forte atração de migrantes e a segunda num estado que passou por
uma crise profunda e saldo migratório líquido negativo.
A idéia agora é explorar as mudanças estruturais e demográficas que ocorreram entre 1976 e 1996
em busca de explicações para essa diminuição das chances de melhorar a inserção ocupacional entre
essas duas ondas geracionais.
III.3.1. Mudanças na estrutura setorial e ocupacional
Como foi descrito na seção anterior o Rio vem perdendo dinamismo econômico relativo a São
Paulo desde 1920, sendo que os setores que mais diminuíram entre 1940 e 1980 foram a indústria e
serviços financeiros. Os piores momentos de crise econômica do Rio acontecem exatamente na
década de 80, chegando em 1990 como terceiro lugar depois de Minas Gerais na contribuição para
o PIB brasileiro.
O Rio sempre teve uma participação muito baixa da agricultura no produto e na ocupação e
conforme a indústria foi diminuindo o peso de sua contribuição para o produto e emprego, o setor
serviços aumentava. A economia fluminense, então, é basicamente urbana e de serviços. A perda
da centralidade política com a transferência da capital teve impactos na composição da ocupação no
setor terciário. E, posteriormente, com a crise econômica da chamada "década perdida" e todas as
reformas estruturais encetadas no início dos anos 90, a economia de serviços que é altamente
dependente da renda interna foi novamente atingida.
Diversos trabalhos mostram que a "década perdida" foi marcada por um crescimento do setor
serviços e da sua contraface, a informalidade. No entanto, esse movimento aconteceu revelando um
processo dual, ou seja, os segmentos que mais cresciam na informalidade eram tanto os serviços de
alta qualidade (serviços profissionais de consultoria, marketing e publicidade) quanto os de baixa
(comércio ambulante, serviços pessoais). Além disso, esses segmentos foram capazes de conseguir
83
aumentos maiores (ou perdas menores, dependendo do período) que os trabalhadores formais, o que
se traduziu em uma diminuição do diferencial de renda entre os segmentos informais e o formal. 50
Apesar desse quadro indicativo de uma perda de qualidade da ocupação no Rio, o que é interessante
verificar é qual a característica específica local na mudança da estrutura ocupacional e setorial que
teria relação com o movimento de queda da mobilidade ascendente no Rio.
Em termos da estratificação social adotada aqui, o que se observa como possível fechamento para
subir na hierarquia da estrutura social é em relação ao estrato não manual de rotina. Lembre-se que
as principais ocupações desse grupo são de técnicos e trabalhadores de escritório: professores 1o
grau, secretárias, auxiliares administrativos, praça militares, eletricistas51
; ou seja, composto
basicamente por técnicos e trabalhadores de escritório. Isso quer dizer que, por um lado, são
ocupações que estão vulneráveis à introdução das novas tecnologias, em especial aqui o pessoal do
escritório sendo afetado com "substituição" pelo computador, e por outro lado tem uma parcela
importante de "ocupações do setor público" com os praças, bombeiros, polícias e também os
trabalhadores de escritório.
Quais os setores, então, que impulsionaram essa queda no estrato de trabalhadores técnicos e de
escritório? Primeiro, a tabela III.12 apresenta a evolução da distribuição dos ocupados por setor de
atividade econômica entre 1976 e 1996 sob uma perspectiva comparativa do Rio, São Paulo e média
brasileira. Em relação ao setor agrícola, verifica-se a mais baixa contribuição em ambos os anos no
Rio e diminui para todos os locais considerados. A indústria em 1976 tem uma contribuição na
ocupação total maior que a média brasileira, mas em 1996 atinge a mesma proporção e, como era de
se esperar, menor que a de São Paulo. O setor terciário é sempre maior e tem um movimento de
crescimento da participação.
50
Em Pero (1997) e Queirós (1997) pode ser encontrada uma discussão mais aprofundada sobre o processo dual no
crescimento da informalidade e, portanto, nas mudanças da estrutura ocupacional do Rio. 51
A tabela A.4 com todas as ocupações pertencentes a esse grupo ocupacional encontra-se no Apêndice.
84
Tabela III.12
Distribuição dos ocupados por setor de atividade econômica
Rio de Janeiro São Paulo Brasil
1976 1996 1976 1996 1976 1996
Agricultura 5,1 3,6 14,6 6,9 33,1 20,4
Ind. Transf. 18,1 12,5 24,8 21,0 14,5 12,5
Const.Civil 9,3 8,0 7,9 7,2 7,3 7,0
Out.Ativ.Ind. 2,1 1,8 2,1 1,1 2,1 1,5
Comércio 10,1 13,3 9,0 13,3 8,8 12,6
Serviços 19,1 27,0 15,0 22,3 12,5 19,0
Serv.Auxiliares 3,5 4,9 3,1 4,3 2,0 3,3
Tran/Comunic. 8,9 7,2 7,1 5,6 5,5 4,8
Ativ. Sociais 10,0 12,6 8,2 10,5 6,9 11,0
Adm. Pública 10,1 6,4 4,8 4,9 5,1 5,8
Outras 3,7 2,8 3,5 3,0 2,1 2,1
Total 100 100 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Mas o quadro de diminuição da agricultura e da indústria e crescimento do setor terciário não
desenha um comportamento específico. Existe, então, algo diferente no comportamento dentro do
setor terciário do Rio? Uma análise mais detalhada da taxa de crescimento da ocupação mostra que
a único setor que registra um comportamento diferente é administração pública. Em outras palavras,
conforme pode ser visto na tabela III.14 enquanto a contribuição da administração pública diminui
de 10% para 6% da ocupação total no Rio, em São Paulo essa porcentagem fica praticamente
constante e na média brasileira há um crescimento. A administração pública não só tem um
comportamento diferenciado em relação à São Paulo e Brasil como é o setor que registra a maior
diminuição de sua contribuição para ocupação total no Rio.
Tabela III.13
Variação da contribuição setorial na ocupação total entre 1976 e 1996
Rio de Janeiro São Paulo Brasil
Adm.Pública -37,2% 2,2% 14,1%
Ind.Transf. -31,2% -15,4% -14,2%
Agricultura -29,7% -52,7% -38,2%
Ouras -25,1% -14,9% -3,2%
Tra/Comunic. -19,2% -21,6% -13,2%
Const.Civil -13,9% -8,1% -5,0%
Out.Ativ.Ind. -12,4% -48,0% -25,9%
Ativ.Sociais 26,5% 27,3% 59,2%
Comércio 31,4% 47,9% 42,4%
Serv.Auxiliares 39,6% 39,0% 63,2%
Serviços 41,5% 49,0% 52,4%
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Vale notar que esse setor é basicamente composto por atividades "típicas" do Estado, quer dizer:
legislativo e tribunal de contas, judiciário, administrações municipal, estadual e federal, autarquias,
instituições militares, polícia, corpo de bombeiros e sistema penitenciário. Não estão sendo
85
consideradas aqui as atividades ligadas aos serviços educacionais e de saúde que, público ou
privado, estão classificados em atividades sociais.
Essa constatação nos remete mais uma vez ao destino histórico do Rio como capital da República e
sobre como foi feito o processo de transferência para Brasília e a fusão do estado da Guanabara com
o antigo estado do Rio de Janeiro. Mas isso faz sentido considerando-se o fato de que o ponto
inicial de comparação da estrutura ocupacional se deu mais ou menos 15 anos depois? Ao que tudo
indica, como o período entre a perda da capital e a fusão foi marcado por uma “história política
densa”, devido às dificuldades de organizar a política local, que mantinha divergências em relação à
atuação no âmbito nacional, expressas em posições diferenciadas da oposição com os comunistas e
com os partidos trabalhistas e dos conservadores liberais e militares que seguiriam ainda um novo
rumo com o regime militar, o Rio manteve a maior máquina de administração pública do país.
Na verdade, o governo Lacerda sempre atuou politicamente no sentido de manter a centralidade do
recém instituído estado da Guanabara no cenário nacional. Segundo Motta (2000): “O objetivo era,
ao mesmo tempo, reafirmar o papel de vitrine da nação tradicionalmente exercido pela ex-capital e
mostrar que, na nova condição de estado, a cidade do Rio de Janeiro teria agora, pela primeira vez,
condições de colocar um ´filho´ na presidência da República. Apoiado no tripé formado pelo
anticomunismo, pela probidade administrativa e pela realização de um vasto programa de obras, a
campanha de Lacerda se acelerou a partir da segunda metade de 1963”. E conclui: “O projeto de
estado-capital, configurado, ao mesmo tempo, na construção do novo estado e na preservação da
tradição de cidade-capital, reforçou a crise de identidade política do Rio de Janeiro”.
Apesar de Lacerda ter marcado um estilo político que assegurava a existência da Guanabara, o
governo do seu sucessor Negrão de Lima passou a enfrentar problemas políticos “decorrentes do
fato de serem ele e Israel Pinheiro, de Minas, os únicos governantes eleitos pela oposição, o próprio
endurecimento do regime a partir do AI-5 e a intensificação, no Rio, dos movimentos de
contestação ao governo militar estimularam as vozes que questionavam a existência do novo
estado” (Ferreira e Grynszpan, 2000).
Apesar da idéia da fusão ter sido originada de forma combinada com a transferência da capital
como uma medida justificada basicamente na questão da autonomia política do Rio frente ás
intervenções federais, nos anos 70 a volta ao debate tem um enfoque mais econômico no sentido de
que a fusão dos estados da Guanabara com o do Rio criaria um pólo dinâmico de desenvolvimento
não só local, mas também nacional.
86
Só para dar uma idéia de que a Guanabara ainda conservava a maior parte das funções de principal
centro político do país, um artigo do Jornal do Brasil em 1970 citado em Motta (2000) coloca o
problema da sucessão estadual como a transformação num estado de fato: “Hoje busca-se um
governador (...) que inicie seu governo concomitantemente com a transferência dos setores federais
para Brasília, assumindo a direção com a nítida idéia de que é necessário projetar o futuro da
Guanabara. Um governo que tenha a preocupação da administração e não do mero jogo político”.
Chagas Freitas é eleito novo governador em 1971 e assume nesse clima com um novo estilo político
mais direcionado para o poder local do que para ocupação da cena nacional. Esse aspecto junto com
o projeto militar de esvaziar a centralidade da capital para Brasília e com a perspectiva de mudança
no quadro de esvaziamento econômico com a fusão facilitaram a construção de um contexto
favorável à futura fusão da Guanabara com o estado do Rio.
“São variadas as interpretações sobre a motivação que acabou levando à concretização desse projeto
tantas vezes antes discutido: vai desde interesses políticos-partidários, no intuito de tirar o MDB do
governo da Guanabara, até projeções geopolíticas que visavam criar um poderoso eixo econômico
centro-sul – o novo estado do Rio de Janeiro – como contraponto a São Paulo. Onde não existe
divergência é sobre a forma como a fusão foi decidida e implementada: ela `foi um ato de vontade
do presidente Geisel´” (Motta, 2000)
Enfim, tudo isso para contextualizar a diferença ainda em 1976 da contribuição da administração
pública na ocupação total do Rio de Janeiro, quer dizer da importância desse setor para a geração de
trabalho e renda. E quando a cidade do Rio vira “um município qualquer” o peso desse setor tem
uma diminuição significativa.
Como um estado da Federação que tem sua capital o antigo Distrito Federal o Rio vive nos anos 80
e 90 uma diminuição significativa da importância história da administração pública. Isso pode ser
explicado por três mecanismos que atuam simultaneamente. Primeiro, a partir de então, as funções
de administração federal foram progressivamente transferidas para Brasília, ainda que vários órgãos
federais ainda hoje tenham sede na cidade do Rio e não em outras.
Um outro movimento decorre do fato de que conforme as pessoas foram se aposentando, os postos
de trabalho nesse setor não foram sendo mais preenchidos na mesma proporção. O caso
paradigmático é o dos aposentados do serviço militar no Rio de Janeiro.52
52
Ver Lessa (2000).
87
Por fim, e talvez mais importante, é o impacto da Reforma Administrativa implementada no início
dos anos 90, como um dos pilares de um conjunto de reformas estruturais, que junto com políticas
de estabilização propriamente ditas faziam parte de um pacote de combate à inflação pelo lado da
melhora da eficiência econômica.
Essa forte queda da contribuição da administração pública na ocupação total, então, revela um
comportamento específico do estado do Rio e tem como principal explicação suas raízes históricas
enquanto cidade-capital e estado-capital e sua posterior perda da centralidade política-
administrativa do país com a fusão que foi acompanhada nas décadas seguintes por crise econômica
e reformas administrativas em direção ao enxugamento do quadro de servidores públicos.
III.3.2. Os efeitos demográficos
Os estudos sobre mobilidade social no Brasil contam com um amplo debate sobre a associação
entre a migração geográfica rural-urbana e mobilidade social ascendente. Jannuzzi (1999) faz uma
revisão da literatura sobre o tema e mostra que no trabalho de Pastore três quartos da mobilidade
intergeracional ascendente deveu-se aos movimentos dos filhos de trabalhadores rurais em direção
às demais categorias ocupacionais, em especial para as duas mais próximas.53
Essa característica da mobilidade social brasileira nos anos 70 é um reflexo da reorganização do
espaço brasileiro com a crescente concentração populacional em cidades cada vez maiores. Só para
dar uma idéia, em 1940, 80% dos brasileiros viviam em áreas rurais com menos de 20.000
habitantes e em 1980 esse percentual cai para 46%.54
Como os migrantes são atraídos,
preferencialmente, para as regiões mais dinâmicas ocorreu uma maior adensamento populacional na
região Sudeste, principalmente para São Paulo. Assim, nesse período, o êxodo rural foi um
mecanismo importante para a concentração urbana.
A associação entre migração geográfica do campo para cidade à mobilidade social ascendente gerou
diversos questionamentos na literatura sobre se realmente dever-se-ia embutir um juízo de valor de
melhora de posição socioeconômica quando o processo de inserção na vida urbana não foi
acompanhado pelo acesso a uma ocupação que garantisse uma renda adequada à crescente
mercantilização do consumo nas cidades.
53
A análise sobre os padrões de mobilidade será feita no capítulo seguinte. 54
Martine (1994).
88
Alguns autores a favor da visão de que mesmo enfrentando as dificuldades com o aumento do custo
de vida nas áreas urbanas, o acesso a bens públicos como educação, saúde, lazer, entre outros,
geraria uma melhora na qualidade de vida, senão para o migrante pelo menos para os seus filhos.
Uma outra linha argumenta que o aumento do custo de vida nas áreas urbanas com gastos que eram
inexistentes ou muito reduzidos antes nas áreas rurais (como aluguéis, transporte, vestuário etc.) e
as dificuldades em desfrutar plenamente dos serviços educacionais e de saúde geram uma situação
sobrevivência que não pode ser encarada como mobilidade ascendente e sim mobilidade horizontal.
55
Esse aspecto da mobilidade social ao associar a mudança de ocupações rurais para urbanas como
ascendente traz à tona questões teóricas e subjetivas referentes aos valores atribuídos pelos
indivíduos aos benefícios (maior acesso à educação, saúde, lazer etc.) e aos malefícios (maior custo,
violência etc.) da vida urbana e, por isso, a escolha por mobilidade vertical ou horizontal representa
alguma arbitrariedade do pesquisador para definir o comportamento médio do grupo. Não
desconsiderando aqui a importância do aspecto multidimensional na determinação da migração de
indivíduos ou grupos sociais, a atração ou repulsão dos fluxos migratórios será encarada mais sob
uma perspectiva da dinâmica da economia, em especial, da ocupação e da renda.56
Uma análise mais consistente sobre essa relação entre migração e mobilidade social mostra-a como
um resultado líquido de dois processos diferentes que correm em direções contrárias: por um lado, o
progresso dos mais talentosos ao longo do tempo e , por outro lado, a evasão ou reemigração
daqueles que não obtiveram o sucesso esperado em direção a outros lugares. 57
A partir desse ponto
de vista, os migrantes teriam mais mobilidade que os naturais, tanto para cima quanto para baixo.
O fato é que os fluxos migratórios rural-urbano foram muito mais importantes até os anos 1970 do
que recentemente, principalmente para a região Sudeste. Isso se deve primeiro ao fato de que os
migrantes seguem um padrão de tentar primeiro uma adaptação intraestadual e, dependendo do grau
de sucesso, partem para outro estado.58
55
Ver Pastore (1979), Bianchi (1983) para um exemplo desses pontos de vista, respectivamente, ou uma resenha para o
assunto em Jannuzzi. 56
Sem querer entrar na controversa literatura teórica sobre processos decisórios de migrar, para simplificar a
argumentação adotou-se uma visão com enfoque nas desigualdades socioeconômicas regionais para explicar a atração e
a repulsão de migrantes à la Todaro ou Lewis, onde o diferencial de renda e as chances de emprego urbano seriam os
principais determinantes para a migração. Isso, contudo não impede de discutir sempre que for necessário a
contextualização histórica e de classes para explicar o fenômeno. Uma resenha sobre o assunto pode ser encontrada em
Salim (1992) assim como os textos teóricos clássicos e sobre análise das migrações internas no Brasil nesse período
podem ser lidos em Moura (1980). 57
Para maiores detalhes ver Martine (1980, 1994). 58
Ver Magno de Carvalho.
89
Na década de 80, os fluxos migratórios entre áreas urbanas aumentaram e houve uma diminuição
dos movimentos para as grandes metrópoles, mudando o padrão migratório do Brasil. Martine
aponta algumas hipóteses para explicar essas mudanças, como por exemplo, a desconcentração
industrial, a “contrametropolização” (ocorre quando a pessoa habita fora da metrópole e trabalha
nela), a crise econômica da década perdida e a queda da taxa de fecundidade. O autor ressalta ainda
que pelo fato do Rio ter saído na frente (para o bem ou para o mal) esse processo já podia ser
detectado desde a década anterior.
Assim sendo, como mostra a tabela III.14, a contribuição da mobilidade intergeracional rural-
urbano sempre foi menor do que na média brasileira. Esse seria um ponto que poderia explicar em
alguma medida o fato do Rio ter uma proporção relativamente mais elevada de filhos que
experimentaram mobilidade descendente em relação à posição social dos pais. Além disso, essa
contribuição diminui significativamente – com mais intensidade que na média brasileira – entre
1976 e 1996, a tal ponto de outrora explicar a maior parte dos movimentos ascendentes na estrutura
social (60%) enquanto que em 1996 passa para 40%. Isso quer dizer que no Rio em 1996 a maior
parte dos movimentos intergeracionais ascendentes ocorreram entre estratos urbanos da estrutura
social. Já, na média brasileira, a queda da contribuição da migração rural-urbana para mobilidade
intergeracional ascendente é bem menor e ainda dá conta da maior parte desta (65 %).
Tabela III.14
Contribuição da mobilidade rural-urbana para mobilidade ascendente
Rio Brasil
1976 61,4% 71,5%
1988 49,8% 68,4%
1996 40,9% 65,1%
Var(96-76) -33,5% -9,0%
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
Esse pode ser um mecanismo importante que contribuiu para a queda da mobilidade intergeracional
ascendente no Rio, na medida em que a intensidade da queda da contribuição da migração rural-
urbana para a mobilidade é bem maior que a da média brasileira.
O outro aspecto a ser explorado aqui se refere à diminuição dos fluxos migratórios para as grandes
metrópoles. Segundo Martine (1994), o processo de migração na década de 80 não está tão
concentrado em direção às grandes metrópoles do sudeste, principalmente Rio, quanto nos anos 70.
Esse comportamento dos fluxos migratórios culminou com um saldo migratório negativo na década
de 80 no Rio.
90
Por aspectos que poderiam ser explicados pela própria história do Rio, parece que se gerou aqui ao
longo do tempo, principalmente, nas duas últimas décadas, um descompasso relativo entre
escolaridade e estrutura ocupacional. A população fluminense tem, em média, um grau de
escolaridade mais elevado que o conjunto da população brasileira e que São Paulo. Contudo,
segundo Barros e outros (1997), isso “não reflete a existência de uma estrutura ocupacional mais
avançada nesta região”.
Essa constatação corre a favor de duas hipóteses explicativas. A primeira é que a perda de
dinamismo da economia fluminense, junto com uma alta capacidade do trabalhador daqui de “se
virar”, gerou um mercado de trabalho com baixa taxa de desemprego e renda do trabalho
relativamente baixa. Esse fato levanta como explicação a deterioração no perfil da demanda por
trabalho no Rio decorrente de fatores históricos já descritos anteriormente.
Um outro ângulo que se pode analisar a questão é em relação ao papel das amenidades urbanas
como um fator determinante dos diferenciais de salários. Por exemplo, se é mais agradável morar
no Rio por conta da beleza e simpatia da natureza e das pessoas daqui do que em São Paulo, o
mercado deve compensar o trabalho mais “desagradável” em São Paulo com salários mais elevados.
Ou seja, seria uma espécie explicação via teoria de diferencial de salário compensatório de Adam
Smith decorrente da análise de custo-benefício das amenidades urbanas locais.
A idéia aqui é explorar essas hipóteses a partir da comparação das características dos emigrantes e
imigrantes do Rio e de São Paulo por anos de estudo. O conceito de migração59
utilizado nessa
análise exploratória é em relação ao estado de nascimento, ou seja, se nasceu num estado e mora em
outro ele é classificado como migrante. Caso contrário, é natural residente naquele estado. A
condição de migração foi definida, então, da seguinte forma:
i) imigrantes no Rio são as pessoas que moram no Rio e não nasceram neste estado;
ii) emigrantes do Rio são as pessoas que nasceram no Rio e moram em outros estados do Brasil
ou no exterior; e
iii) naturais do Rio são as pessoas que nasceram e moram no Rio na pesquisa.
59
Não existe um conceito universal de migração, mas procurou-se aqui, dada as limitações de se trabalhar com uma
definição apropriada para as diferentes formas de perguntar sobre migração nas PNADs 1976 e 1996, atender a
definição genérica de que “migração é definida como sendo o deslocamento de uma área definidora do fenômeno para
uma outra (ou um deslocamento a uma distância mínima especificada), que se realizou durante um intervalo de
migração determinado e que implicou uma mudança de residência”.
91
Como pode ser visto na tabela III.15, conforme o esperado, entre 1976 e 1996 a população do Rio
(imigrante mais naturais residentes) decresce em termos relativos enquanto que os emigrantes
aumentam. Já em São Paulo todas as condições estudadas registram um aumento da contribuição na
população total.
Tabela III.15
Proporção de pessoas por condição de migração no Rio
e em São Paulo em relação à população total brasileira
Rio de Janeiro São Paulo
1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.
Emigrantes 0,4 0,5 0,1 1,2 1,3 0,1
Imigrantes 2,5 1,7 -0,8 5,0 5,4 0,4
Naturais 7,5 7,0 -0,5 16,3 16,8 0,5
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
O tempo de migração se refere à duração da residência no último estado em que o indivíduo trocou
em relação àquele em que nasceu, isto é, é o tempo de residência sem interrupção na última unidade
da federação em que migrou.60
A tabela III.16 mostra um perfil mais recente dos emigrantes do que
dos imigrantes e que no Rio essas diferenças são mais fortes do que para São Paulo. Além disso, a
participação dos imigrantes com mais de 10 anos de residência no local cresce em ambos estados e
são a grande maioria no Rio (82%) e em São Paulo (72%). Assim, tem-se que o emigrante é mais
recente e imigrante mais antigo quando se compara com perfil dos migrantes em São Paulo.
Tabela III.16
Composição dos emigrantes e imigrantes por tempo de migração
Rio de Janeiro São Paulo
1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.
Emigrantes
Até 4 anos 30,6 28,0 -2,6 21,0 19,8 -1,2
5 a 9 15,8 19,6 3,8 11,9 15,9 4,0
10 e mais 53,6 52,4 -1,2 67,1 64,3 -2,8
Imigrantes
Até 4 anos 15,6 9,1 -6,5 21,3 14,5 -6,8
5 a 9 16,0 8,6 -7,4 15,9 13,7 -2,2
10 e mais 68,4 82,4 14,0 62,8 71,7 8,9
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Esse resultado vai de acordo com as tendências demográficas em direção uma diminuição dos
fluxos para o Sudeste, principalmente para Rio que registrou saldo migratório negativo na década
de 80, que está com a grande maioria de imigrantes vindos na década de 70 até meados de 80. Já os
emigrantes do Rio estão instalados mais recentemente nos outros estados.
60
Outras formas de definir o migrante poderiam ser adotadas. Segundo Salim (1992), “Uma definição mais criteriosa
teria que incluir outras possibilidades como, por exemplo, a migração de retorno dos naturais às suas áreas de origem e
abranger também as migrações temporárias”.
92
A questão principal que se coloca aqui é se o perfil desse emigrante do Rio é mais qualificado, ou
seja, se está ocorrendo uma transferência de qualificações para outros estados do Brasil. A tabela
III.17 revela aspectos interessantes:
i) perfil mais escolarizado em todas as situações (migrantes e naturais) no Rio do que em São
Paulo;
ii) a proporção de emigrantes com nível universitário no Rio é o dobro de São Paulo;
iii) entre 1976 e 1996 aumenta a proporção de emigrantes e imigrantes com escolaridade mais
alta.
Tabela III.17
Distribuição dos emigrantes, imigrantes e naturais por grupos de anos de estudo
Rio de Janeiro São Paulo
1976 1996 Dif. 1976 1996 Dif.
Emigrantes
0 a 4 39,8 25,1 -14,7 64,2 42,7 -21,5
5 a 8 29,3 27,2 -2,1 18,7 27,7 9,0
9 a 11 17,2 26,0 8,8 9,8 17,0 7,2
>12 13,6 21,7 8,1 7,3 12,6 5,3
Imigrantes
0 a 4 48,5 36,0 -12,5 68,1 47,5 -20,6
5 a 8 33,3 33,9 0,6 20,0 32,8 12,8
9 a 11 11,1 18,3 7,2 7,3 13,7 6,4
>12 7,1 11,7 4,6 4,6 6,0 1,4
Naturais
0 a 4 48,6 32,2 -16,4 61,7 37,8 -23,9
5 a 8 34,4 35,1 0,7 22,5 31,3 8,8
9 a 11 11,3 21,4 10,1 10,1 19,4 9,3
>12 5,7 11,2 5,5 5,8 11,5 5,7
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Como tanto para os emigrantes quanto para os imigrantes do Rio, a proporção de pessoas mais
escolarizadas é mais alta que São Paulo e cresce, fica a dúvida se houve um aumento relativamente
maior da escolaridade dos emigrantes entre 1976 e 1996. Para analisar esse ponto calculou-se a
escolaridade média por condição de migração e verifica-se realmente que a escolaridade média dos
emigrantes é mais alta que a dos imigrantes e no Rio é sempre mais elevada que São Paulo.
93
Tabela III.18
Escolaridade média e número de pessoas por condição de migração
Rio de Janeiro São Paulo 1976 1996 1976 1996
Escola. Pessoas Escola. Pessoas Escola. Pessoas Escola. Pessoas
Maiores de 10 anos
Emigrantes 5,9 332.915 8,2 695.230 3,8 1.052.900 6,1 1.791.694
Imigrantes 4,5 2.392.195 6,0 2.551.421 3,5 4.741.908 5,1 7.957.012
Naturais 4,4 5.505.745 7,0 8.447.258 4,2 11.927.264 6,9 19.666.765
30 a 55 anos
Emigrantes 6,6 132.065 9,6 303.018 3,8 477.426 6,6 797.287
Imigrantes 4,7 1.168.862 6,5 1.293.621 3,5 2.058.741 5,3 4.191.214
Naturais 5,0 1.759.812 7,8 3.415.717 4,6 4.038.158 7,6 7.470.820
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Os dados sugerem, além disso, que como no Rio a participação de emigrantes aumentou em relação
à população total, enquanto que a de São Paulo não, o estoque de capital humano (medido pelo
número de pessoas vezes a média de anos de estudo) dos emigrantes do Rio cresceu mais do que o
de São Paulo. Esses resultados sugerem, então, que o Rio tem transferido relativamente mais capital
humano para o resto do Brasil. A tabela III.19 mostra que esse capital é basicamente transferido
para os outros estados da região sudeste, especialmente São Paulo, e Distrito Federal.
Tabela III.19
Principais estados de origem e destino
dos imigrantes e emigrantes do Rio
Emigrantes Imigrantes
1976 1996 1976 1996
São Paulo 37,9 São Paulo 27,0 Minas Gerais 26,3 Minas Gerais 25,1
Minas Gerais 16,0 Minas Gerais 21,1 Espírito Santo 11,6 Paraíba 12,1
Distrito Federal 14,8 Espírito Santo 10,0 Paraíba 10,0 Espírito Santo 9,8
Paraná 6,3 Distrito Federal 7,8 Países
Estrangeiros
9,3 Pernambuco 9,2
Espírito Santo 5,5 Paraná 4,4 Pernambuco 8,4 Ceará 7,1
Bahia 4,0 Bahia 3,7 Bahia 7,2 Países
Estrangeiros
7,0
Outros 15,5 Outros 26,0 Outros 27,2 Outros 29,7
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Observe na tabela III.20 que a composição dos emigrantes e imigrantes de São Paulo é bem
diferente do Rio. A maior parte dos emigrantes de São Paulo está no Paraná, ainda que tenha caído
muito entre 1976 e 1996. E dos imigrantes, os mineiros estão sempre presentes na dianteira, mas o
segundo lugar é de baianos.
94
Tabela III.20
Principais estados de origem e destino
dos imigrantes e emigrantes de São Paulo
Emigrantes Imigrantes
1976 1996 1976 1996
Paraná 55,1 Paraná 28,4 Minas Gerais 29,1 Minas Gerais 23,3
Minas Gerais 11,8 Minas Gerais 17,2 Bahia 16,5 Bahia 18,3
Rio de Janeiro 9,4 Mato Grosso do
Sul
10,0 Países
Estrangeiros
13,4 Paraná 13,0
Mato Grosso 7,8 Mato Grosso 8,9 Pernambuco 9,3 Pernambuco 11,9
Goiás 3,2 Rio de Janeiro 6,3 Paraná 8,3 Ceará 5,1
Pernambuco 2,7 Bahia 5,8 Alagoas 4,2 Países Estrangeiros
4,7
Outros 10,0 Outros 23,4 Outros 18,6 Outros 23,5
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Por último, explorar-se-á a questão de que o Rio tem liderado a transição demográfica do Brasil se
aproximando de uma estrutura etária de país desenvolvido. A partir de uma simulação
contrafactual61
é possível avaliar se a maior participação da população mais velha no Rio em
relação à São Paulo seria um fator explicativo para as diferenças nas taxas de mobilidade e no
comportamento temporal.
Tabela III.21
Taxas de mobilidade do Rio de Janeiro:
observadas e simuladas com a estrutura etária de São Paulo
(pessoas com 15 ou mais anos de idade)
1976 1996
Taxas observadas
Imobilidade 24,0 21,6
Descendente 22,4 25,5
Ascendente 53,7 52,3
Taxas simuladas
Imobilidade 24,6 22,5
Descendente 22,5 26,5
Ascendente 52,9 51,4
Total 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
61
Ver Barros e outros (1992) sobre os procedimentos técnicos e os potenciais e limites do uso desse tipo de método de
análise. O exercício desenvolvido aqui consistiu em calcular as taxas de imobilidade e de mobilidade ascendente e
descendente para as matrizes de mobilidade social intergeracional por faixa etária de 5 anos para pessoas com idade
entre 15 a 65 anos para o Rio de Janeiro e São Paulo. A taxa de mobilidade total observado no Rio é uma média das
taxas de mobilidade de cada matriz ponderadas pela estrutura etária do Rio de Janeiro. Já, as taxas de mobilidade
simuladas foram ponderadas pela estrutura etária de São Paulo.
95
O exercício é aplicar às taxas da matriz de mobilidade social do Rio a ponderação pela distribuição
etária de São Paulo. Assim, estar-se-ia tentando responder a seguinte questão: Qual seria a taxa de
mobilidade social intergeracional no Rio caso a sua estrutura etária fosse idêntica a de São Paulo?
Os resultados mostram que as taxas não mudam muito e o comportamento temporal continua
mesmo, sugerindo que as diferenças entre as estruturas etárias não explicam o comportamento
específico do Rio.
Conclusão
O Rio tem a taxa de mobilidade social mais alta do Brasil, indicando uma sociedade bastante
dinâmica, no sentido em que a posição social dos indivíduos não tem uma associação muito forte
com a origem social. Os dados revelam que 80% das pessoas ocupadas em 1996 no Rio
encontravam-se em estratos diferentes de seus pais.
No entanto, enquanto em 1976, o Rio registrava taxas mais elevadas de mobilidade tanto ascendente
quanto descendente, em 1996 esse quadro muda com um comportamento específico de queda da
mobilidade ascendente. O Rio é o único estado do Brasil que registra uma diminuição da taxa de
mobilidade ascendente, ou seja, uma diminuição das possibilidade de os(as) filhos(as) estarem num
estrato superior ao de seus pais. E isso só acontece no Rio!
Esse fato não pode ser considerado como decorrente da classificação utilizada, pois as taxas de
mobilidade foram calculadas também com outras formas de estratificação e o comportamento
permaneceu o mesmo. Também não pode ser atribuído ao comportamento de grupos específicos -
como mulheres e negros que apresentam taxas ascendentes de mobilidade menores e aumentam a
participação no mercado de trabalho -, já que ocorre tanto para homens quanto para mulheres e para
brancos e não brancos.
Buscaram-se então características específicas da história recente do Rio que pudessem explicar esse
fenômeno, destacando-se dois pontos: (a) mudanças na estrutura ocupacional decorrente do declínio
da economia fluminense com a perda de centralidade política-administrativa com a transferência da
capital para Brasília e a posterior fusão do Rio com o estado da Guanabara e (b) os efeitos
96
demográficos da composição educacional do saldo migratório e seu comportamento ao longo do
tempo e da estrutura etária mais velha.
Em relação ao primeiro campo exploratório, destacam-se dois resultados. O primeiro se refere ao
peso bem menor da passagem rural-urbana na mobilidade ascendente no Rio do que na média
brasileira. Isto é, em 1996, enquanto na média brasileira a mobilidade ascendente para filhos com
pais no estrato rural representa 65%, no Rio é de 40%. Além disso, a queda dessa contribuição entre
1976 e 1996 é consideravelmente maior no Rio.
O outro resultado se refere ao comportamento da contribuição de um setor muito importante na
geração de trabalho e renda na história do Rio, qual seja, a administração pública. É o setor que
registra a maior queda da participação na ocupação, contrariamente ao crescimento ocorrido na
média brasileira. Isso explica, pelo menos em parte, a queda do estrato VI (não manual de rotina)
que tendo um peso importante na estrutura ocupacional, dependendo do regime de mobilidade, pode
ser um caminho importante para a ascensão social.
Esses resultados tomados em conjunto revelam que as explicações têm raízes na história do Rio
como capital do país, que se desenvolvendo predominantemente com uma economia de serviços nas
cidades, registra a maior taxa de urbanização e que perdeu dinamismo econômico quando da
transferência da capital para Brasília, apresentando uma forte queda do setor de administração
pública como elemento particular do Rio e que tem reflexos sobre a diminuição da participação do
estrato VI (não manual de rotina) na ocupação total do Rio.
Por fim, o segundo campo exploratório sobre as questões demográficas mostra que o descompasso
entre a qualificação e a estrutura ocupacional tem provocado mudanças mais fortes do saldo
migratório no Rio. Entre 1980 e 1991, o saldo migratório foi negativo, quer dizer, saíram mais
pessoas do que entraram no Rio. Como o perfil dos emigrantes do Rio é de escolaridade mais
elevada que os imigrantes e como o estoque de capital humano desses emigrantes cresce entre 1976
e 1996 mais rapidamente que o de São Paulo, há evidências de que está ocorrendo um aumento da
intensidade de transferência de capital humano do Rio para outros lugares do Brasil, principalmente
para a região Sudeste, especialmente São Paulo, e para o Distrito Federal. Por fim, as diferenças na
estrutura etária entre São Paulo e Rio, no entanto, não se mostraram importantes para mudar o
comportamento das taxas de mobilidade social.
Assim sendo, o movimento de queda da mobilidade ascendente que acabou por gerar a maior taxa
de mobilidade descendente pode ser explicado, em alguma medida, pelo componente estrutural da
97
perda de dinamismo da economia, tanto pelo lado da queda do setor de administração pública
quanto pela incapacidade de gerar postos de trabalhado com qualidade compatível com a da força
de trabalho criando uma força de expulsão de trabalhadores qualificados para outros estados do
Brasil, principalmente São Paulo e Distrito Federal.
No entanto, esse peso forte dado aos aspectos estruturais da economia fluminense merece uma
análise mais profunda do que está acontecendo com o padrão de mobilidade para tirar resultados
mais contundentes. Por exemplo, se estrato VI de trabalhadores não manuais de rotina não for
aberto ou importante para outras origens sociais, a sua queda assim como a da administração
pública terá um poder explicativo pequeno. Neste sentido, o capítulo que segue analisa os padrões
de mobilidade social.
98
CAPÍTULO IV
PADRÕES DE MOBILIDADE SOCIAL:
AS TRÊS TESES CLÁSSICAS REVISITADAS
O objetivo neste capítulo é analisar os padrões de movimentação entre os estratos a partir das
matrizes de mobilidade social intergeracional total para apontar as características da estrutura de
alocação dos indivíduos nos estratos ocupacionais. Com isso, busca-se elementos para identificar as
possíveis barreiras para movimentação dos estratos na estrutura social desenhadas a partir das
matrizes de mobilidade social que poderiam gerar um regime de alta mobilidade mas com poucos
ganhos em termos de bem-estar social, assim como as especificidades desse processo referente ao
Rio entre 1976 e 1996.62
A partir de índices e porcentagens tenta-se avaliar em que medida a importância da posição social
do pai influencia a posição do filho e se isso muda ao longo do tempo entre os estratos de forma
diferente entre o Rio e a média brasileira. O objetivo com esse tipo de análise é avaliar as diferenças
nos padrões de fluidez social, quer dizer a capacidade de circulação dos indivíduos na estrutura
social de acordo com a posição social do pai. Apesar de existirem técnicas estatísticas mais precisas
para esse tipo de análise, uma delas será vista no próximo capítulo com os modelos log-lineares,
esse é um campo muito tradicional de análise sobre mobilidade social e que oferece um diálogo
mais fértil com a literatura brasileira a partir, principalmente, dos trabalhos de Hutchinson (1957 e
1960), Pastore (1979), Valle Silva (1992), Pastore e Haller (1993), Caillaux (1994), Scalon (1997),
Andrade (1997) e Pastore e Valle Silva (2000).
Com base nas taxas de imobilidade e mobilidade tem-se uma idéia do grau de movimentação dos
indivíduos na estrutura social e, portanto, do quão rígida pode ser a estrutura social ao apontar o
isolamento e as barreiras de certos estratos sociais a partir das menores chances de movimentação.
Uma região com uma taxa de imobilidade alta, em geral, levam a uma reprodução intergeracional
das chances de ocupar as posições na estrutura social.
As taxas de mobilidade intergeracional representam as mudanças de estrato social do filho em
relação ao do pai. A partir da análise das taxas de mobilidade é possível identificar a mobilidade
62
Com o intuito principal de facilitar a exposição dos dados e a análise, essa seção utiliza somente esses anos por
representar as mudanças mais significativa na comparação temporal.
99
estrutural, ou seja, os movimentos intergeracionais entre estratos decorrentes da abertura de novos
postos de trabalho com as mudanças estruturais como, por exemplo, os processos de urbanização e
industrialização. Vários dos autores citados anteriormente destacaram a característica estrutural da
alta mobilidade social no Brasil com a inversão da população nas áreas rurais e urbanas, isto é,
enquanto nas décadas de 40 e 50 aproximadamente 1/3 da população brasileira vivia nas áreas
urbanas e 2/3 no campo, na década de 80 essas proporções se invertem.
A mobilidade estrutural é uma medida das mudanças na estrutura social entre as gerações que pode
ser identificada a partir das mudanças nas distribuições marginais da matriz de mobilidade social.
Ela é calculada pela soma dos valores positivos das diferenças entre os estratos de origem e de
destino mas somente para os valores positivos, ou seja, soma-se somente os estratos em que o
número de posições de origem exceda o de destino.
O outro componente da mobilidade é o circular ou por trocas. Como o próprio nome diz, a
mobilidade circular representa as mudanças entre os estratos de origem e destino decorrente das
trocas de posição e, portanto, para que um indivíduo ocupe determinada posição um outro deve tê-la
desocupado por motivo ascensão/descensão social, aposentadoria ou morte. Em outras palavras,
para que um indivíduo ocupe determinada posição no mercado de trabalho é necessário que ela seja
vaga por outro, isto é, as mudanças de posições são resultados de um processo de troca de posições
entre os postos já existentes e não decorrência da abertura de novas vagas. Assim sendo, esse tipo
de mobilidade é decorrente basicamente das características individuais valorizadas no mercado de
trabalho como, por exemplo, escolaridade e treinamento.
O estudo de Hutchinson (1960) mostra que a grande importância da mobilidade estrutural para
explicar a elevada mobilidade social no Brasil caracterizaria uma estrutura social rígida, visto que
os movimentos determinantes da fluidez do sistema de estratificação social estão baseados na
capacidade de troca de posições entre os indivíduos, ou seja, da mobilidade circular ou por trocas. O
autor enfatiza o fato de que quanto mais a estrutura gerar mecanismo de trocas de posições entre os
indivíduos mais a sociedade caminha para uma melhor condição de igualdade de oportunidades.
Qual o comportamento da mobilidade estrutural no Brasil e no Rio ao longo do tempo? A tabela
IV.1 mostra que no Rio a taxa de mobilidade total permaneceu praticamente constante enquanto que
a do Brasil cresceu. Em 1976, a taxa de mobilidade total se dividia praticamente ao meio entre os
componentes estrutural e circular, sendo que no Rio este último era maior que o primeiro e no
Brasil o contrário. Em 1996, essa composição muda significativamente. O Rio passa a ter uma
predominância da mobilidade circular, registrando uma queda significativa do componente
100
estrutural da mobilidade total. No Brasil, a mobilidade circular cresce e passa a ser maior que a
estrutural, mas mantém uma composição ainda praticamente de metade da mobilidade total.
Tabela IV.1
Taxas de mobilidade estrutural e circular63
no Rio e no Brasil Rio de Janeiro Brasil
1976 1996 Var(96-76) 1976 1996 Var(96-76)
Imobilidade 20,2 20,6 2,0% 41,7 29,7 -28,8%
Mobilidade 79,8 79,4 -0,5% 58,3 70,3 20,6%
Estrutural 37,5 22,8 -39,2% 30,8 33,4 8,4%
Circular 42,3 56,6 33,8% 27,5 36,9 34,2%
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Esse resultado já havia sido encontrado por Pastore (1979). O Rio de Janeiro apresentava em 1973 a
maior taxa de mobilidade circular (40%) comparativamente a São Paulo (30%), ao Nordeste (18%)
e à média brasileira (26%). Assim, as mudanças nas taxas de mobilidade no Rio de Janeiro sofrem
um forte efeito das trocas de posições e, por conseguinte, o peso da qualidade dos indivíduos é
muito importante para estabelecer as chances de movimentação na estrutura social quando se
comprara com a média brasileira. Isso caracterizaria uma sociedade com um grau de fluidez maior
medido pela mobilidade circular e, portanto, uma maior igualdade de oportunidades.
Isso, no entanto, merece uma análise mais detalhada sobre os padrões de mobilidade social no Rio.
Para tanto, será feito um estudo das três teses destacadas por Goldthorpe (1987) para análise do
Reino Unido e por Scalon (1997) para análise do caso brasileiro, quais sejam: fechamento social,
área de contenção e contramobilidade. Essa análise será feita para o Rio de Janeiro numa
perspectiva comparativa com a brasileira e também temporal.
IV.1. Fechamento social
Goldthorpe resume a tese do fechamento social em três pontos:
a) a mobilidade deve ser mais alta entre os estratos vizinhos na estrutura social;
b) os fluxos, então, tendem a ser mais elevados para os estratos intermediários e menores nos
extremos da hierarquia. Isso ocorre principalmente porque para os níveis intermediários existe a
possibilidade tanto de mobilidade ascendente quanto descendente enquanto que para os estratos
localizados nos extremos da estrutura apenas uma dessas possibilidades ocorre; e
63
Vale lembrar que as tabelas A.11 a A.14 com as freqüências das matrizes de mobilidade intergeracional e a tabela
A.15 com a tabela de fluxo total estão no Apêndice.
101
c) a menor mobilidade ocorre em direção ao estrato mais alto da hierarquia, já que há um enorme
incentivo para esse grupo reter sua posição no topo da estrutura, garantindo não só a
manutenção dessa elite como a transmissão dessa posição para os seus descendentes.
Em outras palavras, a tese do fechamento social baseia-se num fato bastante aceito pela literatura
sobre mobilidade de que os movimentos mais freqüentes ocorrem entre os estratos próximos na
estrutura social, caracterizando um padrão de mobilidade de curta distância. Por isso, as taxas de
mobilidade são mais altas nos estratos intermediários do que nos extremos, o que produz um
fechamento nas extremidades impedindo os movimentos de longa distância na estrutura social.
Analisando os fluxos de entrada, Goldthorpe conclui que na Inglaterra não existe fechamento social
visto que a elite é muito heterogênea na origem. Scalon (1997) constata que essa afirmação também
se aplica ao caso brasileiro visto que "filhos de trabalhadores manuais contribuíam com uma porção
correspondente a cerca de 29% na composição dos estratos profissionais." A autora, no entanto,
avalia a necessidade de uma análise mais detalhada para chegar a essa conclusão com mais firmeza.
Para tanto, utiliza o índice de associação elaborado por Glass, que compara a taxa de mobilidade
observada com a esperada na hipótese teórica de um regime de mobilidade perfeita.64
Algumas conclusões podem ser destacadas com esse tipo de análise no trabalho de Scalon (1997):
a) A diagonal tem os valores mais altos, indicando que os desvios em relação à mobilidade perfeita
são expressos na situação de herança social, com exceção do estrato II de administradores que
tem alta relação com I de profissionais e a categoria não manual de rotina, estrato intermediário
que recebe de várias origens;
b) No caso das mulheres há uma prevenção mais eficaz de movimentos descendentes em direção
aos estratos menos privilegiados.
A idéia aqui é analisar se a tese do fechamento social se aplica ao Rio e avaliar como se dá a
evolução ao longo do tempo. Para tanto, utilizar-se-á três indicadores: fluxos de entrada, o índice de
associação de Glass e os resíduos ajustados.
A análise da matriz de mobilidade social pode ser feita a partir dos fluxos de entrada, que
representam as distribuições pela origem de cada estrato de destino. Em outras palavras, tem-se
64
A suposição de mobilidade perfeita está baseada no conceito de independência estatística. O índice de Glass, então, é
calculado a partir da razão entre as freqüências observadas nas células da matriz de mobilidade e as freqüências
esperadas na hipótese de que o estrato social que o filho ocupa é independente do estrato social do pai. Esse índice, no
entanto, é criticado pelo fato de seus resultados dependerem as distribuições marginais. Para maiores detalhes sobre
esse índice e o conceito de independência estatística, ver Anexo estatístico.
102
como cada estrato de destino está distribuído por estratos de origem. Assim, as proporções somam
100% na coluna e o cálculo dos fluxos de entrada é realizado da seguinte forma:
jijij ffn
onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) da matriz de mobilidade social intergeracional e
jf é o valor marginal da coluna que representa o total de indivíduos naquele destino j.
A tabela IV.2 com os fluxos de entrada das matrizes de mobilidade intergeracional total mostra que,
tanto para o Rio quanto para a média brasileira e nos anos considerados, existe um alto grau de
heterogeneidade na origem em quase todos os estratos. No Brasil, isso ocorre devido à maior
proporção de trabalhadores com origem rural em todos os estratos no Brasil, com exceção dos
profissionais. No Rio também, mas deve-se considerar que já a partir do estrato VI (não manuais de
rotina), a maior proporção não é de origem rural.
Considerando a divisão manual (estratos I a IV) e não manual (V a IX), observa-se uma
característica comum entre Rio e Brasil nos anos considerados: entre 80e 90% dos filhos nos
estratos manuais tem sua origem nesse setor e entre 40 e 70% dos filhos nos estratos não manuais
tem sua origem nesse setor. Em outras palavras, a origem no setor manual acaba reproduzindo com
muita freqüência o mesmo destino, ou seja, a origem de pais no setor manual é muito forte para
determinar o destino dos filhos nesse setor. Já no caso dos estratos não manuais, apesar da elevada
reprodução, parece existir uma abertura maior para outros estratos. De acordo com Scalon, "se as
categorias não manuais podem ser consideradas heterogêneas na origem, as manuais demonstram
homogeneidade".
Que tipo de mudança pode ser observada ao longo do tempo? Primeiro, uma mudança comum é que
houve um aumento da participação dos estratos de origem manual nos estratos de destino não
manual e vice-versa, o que pode estar caracterizando uma "abertura" da estrutura social. No entanto,
ainda na base da pirâmide, a origem é muito homogênea com 90% de filhos de trabalhadores rurais
nesse estrato no Brasil em 1996. Esse percentual é bem mais baixo no Rio (67%), indicando que há
um grau de hereditariedade menor ou uma maior troca de posições com origem principalmente nos
estratos III, IV e VI. Esse seria um fator de contribuição para a queda da mobilidade ascendente
visto o aumento da heterogeneidade na origem do estrato de trabalhadores rurais significa
necessariamente uma contribuição para o aumento da mobilidade descendente.
103
Analisando somente o estrato mais alto de profissionais, verifica-se uma elevada heterogeneidade
na origem. Contudo, houve um aumento da participação de filhos de profissionais nesse mesmo
estrato no Rio de Janeiro, diferentemente do caso do Brasil. Vale dizer que houve uma abertura
maior para outros estratos na média brasileira do que no Rio, quando se analisa o recorte manual-
não manual também, basicamente pela diminuição da origem no estrato VI (não manuais de rotina).
Isso sugere que apesar da forte heterogeneidade na origem, o estrato de profissionais está mais
fechado para origem nesse mesmo estrato no Rio, contribuindo para uma diminuição da mobilidade
ascendente.
Tabela IV.2a
Mobilidade intergeracional no Rio em 1976 e 1996
Fluxos de entrada (%) Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 83,8 61,8 54,1 40,9 58,1 27,2 23,6 14,1 9,8 42,3
II. Serv.Domésticos 1,2 6,6 1,7 8,9 6,0 5,7 4,6 3,0 5,2
III. Trab.Ind.Trad. 12,5 16,9 12,2 5,6 9,8 3,1 6,7 2,0 10,2
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 7,2 11,5 12,7 18,8 5,9 17,1 14,2 13,5 17,0 14,5
V. Conta própria 0,9 3,3 3,0 9,1 4,8 6,1 10,3 9,8 4,1
VI. Não manuais rotina 7,8 5,2 8,6 11,0 3,0 22,7 23,4 24,4 26,6 14,0
VII. Empregadores 0,9 2,3 3,7 9,1 7,0 20,0 12,5 11,7 5,5
VIII. Administradores 0,5 0,6 1,1 3,1 3,9 1,6 9,6 9,6 2,6
IX. Profissionais 0,4 1,8 3,3 5,8 13,4 1,7
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
1996
I. Trab.Rurais 67,0 41,0 33,4 23,5 23,6 13,6 16,5 7,4 4,6 24,2
II. Serv.Domésticos 4,8 8,5 7,8 6,1 3,3 4,9 3,5 3,0 2,4 5,6
III. Trab.Ind.Trad. 10,1 16,0 21,8 16,5 8,3 14,5 9,9 10,1 4,7 14,3
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 8,0 18,7 17,9 26,1 23,7 27,1 20,1 24,6 17,6 22,2
V. Conta própria 1,3 1,3 2,6 2,7 12,2 2,6 8,7 6,9 5,7 3,8
VI. Não manuais rotina 6,4 10,5 11,9 17,0 12,7 23,3 18,0 19,7 19,7 16,3
VII. Empregadores 0,7 1,4 2,9 2,9 7,9 5,0 10,8 9,5 12,5 4,9
VIII. Administradores 1,7 2,0 1,7 4,2 6,5 7,1 8,1 12,0 13,7 5,7
IX. Profissionais 0,6 1,1 1,9 1,9 4,3 6,7 19,0 2,9
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
104
Tabela IV.2b
Mobilidade intergeracional no Brasil em 1976 e 1996
Fluxos de entrada (%) Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 92,4 75,1 63,4 56,3 62,0 41,5 26,2 24,0 11,0 65,9
II. Serv.Domésticos 0,6 3,2 2,4 4,1 1,2 2,6 2,7 2,8 0,5 2,1
III. Trab.Ind.Trad. 1,9 6,0 16,2 9,0 4,3 9,3 10,8 7,3 5,4 6,8
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 1,1 6,1 6,8 14,0 5,2 11,6 15,4 11,5 8,2 7,1
V. Conta própria 1,0 1,8 2,8 3,8 14,6 6,2 8,2 13,6 14,6 4,2
VI. Não manuais rotina 2,5 6,1 6,8 9,3 9,2 20,4 16,7 15,5 25,9 8,7
VII. Empregadores 0,2 0,7 0,8 2,0 1,3 4,6 14,7 9,5 9,9 2,6
VIII. Administradores 0,1 0,9 0,6 1,0 1,5 2,2 2,7 8,7 8,3 1,5
IX. Profissionais 0,0 0,1 0,4 0,7 1,5 2,7 7,1 16,2 1,2
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
1996
I. Trab.Rurais 89,9 65,6 57,5 49,0 50,5 34,8 30,5 26,6 15,4 55,0
II. Serv.Domésticos 1,0 4,8 4,6 4,3 2,7 4,1 3,2 3,0 1,7 3,3
III. Trab.Ind.Trad. 2,5 9,7 16,0 10,9 7,4 11,1 8,9 8,5 5,2 8,9
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 2,1 9,1 9,4 17,9 12,3 17,0 16,3 17,7 15,3 11,8
V. Conta própria 0,9 1,9 2,7 4,0 10,7 6,3 9,7 9,4 9,5 4,5
VI. Não manuais rotina 2,8 6,5 6,8 8,9 8,7 16,6 13,3 16,5 16,2 9,2
VII. Empregadores 0,4 1,1 2,0 2,5 4,4 4,3 9,6 6,3 10,1 3,1
VIII. Administradores 0,3 1,0 0,9 1,9 2,5 4,3 5,3 8,3 12,0 2,8
IX. Profissionais 0,1 0,2 0,1 0,6 0,9 1,5 3,2 3,7 14,5 1,4
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Para completar a análise sobre a validade da tese do fechamento social, a tabela IV.3 apresenta o
índice de associação de Glass para as matrizes de mobilidade intergeracional no Rio e no Brasil em
1976 e 1996. O índice de Glass indica a dispersão do valor empiricamente observado em relação ao
valor esperado na hipótese de mobilidade perfeita. Valores menores que 1 indicam valor observado
é menor que o esperado e maiores que 1 indicam o contrário. Ou seja, o índice de associação de
Glass é definido como:
ijijij Ffa
onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) e ijF é a freqüência esperada na célula (i,j) com o
modelo de mobilidade perfeita.
O primeiro ponto a ser destacada é a semelhança dos índices entre Rio e Brasil e em 1976 e 1996.
Como era de se esperar os valores na diagonal principal são sempre maiores que 1 e mais altos,
indicando que um expressivo desvio em relação à mobilidade perfeita para a situação de herança
social. Observe também a partir da divisão entre estratos do setor manual e não manual representada
pela linha pontilhada na tabela, que para os estratos manuais o índice de associação é sempre menor
que 1 para as células abaixo da diagonal principal da matriz de mobilidade. Isso quer dizer que (1)
105
para os trabalhadores que ocupam posições no setor manual existe uma associação forte com a
origem no setor manual e (2) para os trabalhadores com origem em estratos não manuais as chances
de mobilidade descendente para estratos manuais são menores que as esperadas, caracterizando um
mecanismo de prevenção à mobilidade descendente.
Isso não ocorre entre os estratos do setor não manual, que tem valores maiores que 1 nos estratos
vizinhos tanto na parte superior das matrizes quanto na parte inferior. Como já foi constatado
anteriormente, esses segmentos são preenchidos por trabalhadores de origem social bem mais
heterogênea que as posições ocupadas no setor manual, caracterizando maiores possibilidades que
as esperadas no caso de mobilidade perfeita tanto para situações de mobilidade ascendente quanto
descendente nos casos de estratos vizinhos.
Repare, no entanto, que os índices mais elevados estão localizados nos estratos VIII e IX da
estrutura social e nas suas adjacências. Em outras palavras, os índices de associação mais elevados
estão localizados no topo da pirâmide social, o que revela uma forte possibilidade transmissão
intergeracional de posições entre os estratos de elite.
Tabela IV.3a
Índice de associação de Glass para o Rio em 1976 e 1996
Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX
1976
I. Trab.Rurais 2,0 1,5 1,3 1,0 1,4 0,6 0,6 0,3 0,2
II. Serv.Domésticos 0,2 1,3 0,3 1,7 1,2 1,1 0,9 0,6 0,0
III. Trab.Ind.Trad. 0,0 1,2 1,7 1,2 0,6 1,0 0,3 0,7 0,2
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 0,8 0,9 1,3 0,4 1,2 1,0 0,9 1,2
V. Conta própria 0,0 0,2 0,8 0,7 2,2 1,2 1,5 2,5 2,4
VI. Não manuais rotina 0,6 0,4 0,6 0,8 0,2 1,6 1,7 1,7 1,9
VII. Empregadores 0,0 0,2 0,4 0,7 1,6 1,3 3,6 2,3 2,1
VIII. Administradores 0,0 0,2 0,2 0,4 1,2 1,5 0,6 3,7 3,7
IX. Profissionais 0,0 0,0 0,0 0,2 0,0 1,1 1,9 3,4 8,0
1996
I. Trab.Rurais 2,8 1,7 1,4 1,0 1,0 0,6 0,7 0,3 0,2
II. Serv.Domésticos 0,9 1,5 1,4 1,1 0,6 0,9 0,6 0,5 0,4
III. Trab.Ind.Trad. 0,7 1,1 1,5 1,1 0,6 1,0 0,7 0,7 0,3
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,4 0,8 0,8 1,2 1,1 1,2 0,9 1,1 0,8
V. Conta própria 0,3 0,3 0,7 0,7 3,2 0,7 2,3 1,8 1,5
VI. Não manuais rotina 0,4 0,6 0,7 1,0 0,8 1,4 1,1 1,2 1,2
VII. Empregadores 0,2 0,3 0,6 0,6 1,6 1,0 2,2 1,9 2,5
VIII. Administradores 0,3 0,4 0,3 0,7 1,1 1,2 1,4 2,1 2,4
IX. Profissionais 0,0 0,2 0,0 0,4 0,7 0,7 1,5 2,3 6,6
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
106
Tabela II.3b
Índice de associação de Glass para o Brasil em 1976 e 1996
Brasil I II III IV V VI VII VIII IX
1976
I. Trab.Rurais 1,4 1,1 1,0 0,9 0,9 0,6 0,4 0,4 0,2
II. Serv.Domésticos 0,3 1,5 1,2 2,0 0,6 1,3 1,3 1,3 0,2
III. Trab.Ind.Trad. 0,3 0,9 2,4 1,3 0,6 1,4 1,6 1,1 0,8
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,2 0,9 1,0 2,0 0,7 1,6 2,2 1,6 1,2
V. Conta própria 0,2 0,4 0,7 0,9 3,5 1,5 1,9 3,2 3,5
VI. Não manuais rotina 0,3 0,7 0,8 1,1 1,1 2,4 1,9 1,8 3,0
VII. Empregadores 0,1 0,3 0,3 0,8 0,5 1,7 5,6 3,7 3,8
VIII. Administradores 0,1 0,6 0,4 0,7 1,0 1,5 1,8 5,8 5,5
IX. Profissionais 0,0 0,0 0,1 0,4 0,6 1,3 2,2 5,8 13,3
1996
I. Trab.Rurais 1,6 1,2 1,0 0,9 0,9 0,6 0,6 0,5 0,3
II. Serv.Domésticos 0,3 1,5 1,4 1,3 0,8 1,2 1,0 0,9 0,5
III. Trab.Ind.Trad. 0,3 1,1 1,8 1,2 0,8 1,3 1,0 1,0 0,6
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,2 0,8 0,8 1,5 1,0 1,4 1,4 1,5 1,3
V. Conta própria 0,2 0,4 0,6 0,9 2,4 1,4 2,2 2,1 2,1
VI. Não manuais rotina 0,3 0,7 0,7 1,0 1,0 1,8 1,5 1,8 1,8
VII. Empregadores 0,1 0,4 0,6 0,8 1,4 1,4 3,1 2,0 3,2
VIII. Administradores 0,1 0,4 0,3 0,7 0,9 1,6 1,9 3,0 4,4
IX. Profissionais 0,1 0,1 0,1 0,4 0,6 1,0 2,2 2,6 10,1
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Por último, vale a pena finalizar a análise da aplicação da tese de fechamento social ao caso do Rio
com a análise dos resíduos ajustados do modelo de mobilidade perfeita na tabela IV.4, que também
permitem localizar as discrepâncias mais relevantes na matriz de mobilidade social. Os resíduos
ajustados são calculados da seguinte forma:65
21jij
21ijijijij Nf1Nf1FFfd
Como os desvios têm uma distribuição normal padrão, valores com módulo superior a 1,96 revelam
uma discrepância estatisticamente significativa ao nível de 5%. A interpretação dos valores dos
resíduos ajustados vai à mesma direção do índice de associação, onde valores negativos
representam valores observados menores que os esperados e positivos o contrário.
Verifica-se um comportamento semelhante ao caso do índice de associação com os valores mais
altos na diagonal principal, reforçando a importância da herança social para determinar a posição
social dos indivíduos. Outra constatação forte e semelhante é a diferença entre os fluxos dos estratos
manuais que são mais homogêneos na origem e dos estratos não manuais que são mais
heterogêneos.
65
Ver Pastore e Valle Silva (2000) e Valle Silva (1990).
107
A diferença encontrada é em relação aos valores da diagonal principal que crescem entre 1976 e
1996 para praticamente todos os estratos sociais e que a discrepância é maior nos extremos da
estrutura social, sendo que na média brasileira é na base e no Rio é no topo.
Um olhar mais cuidadoso com os níveis de significância revela que para os estratos intermediários,
tirando a diagonal principal, os fluxos nas vizinhanças parecem que não diferem significativamente
da aleatoriedade. Pode-se, portanto, concluir com mais clareza um padrão de transmissão
intergeracional nos extremos da estrutura social.
Tabela IV.4a
Resíduos ajustados das matrizes de mobilidade social intergeracional no Rio Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX
1976
I. Trab.Rurais 7,9 5,9 3,3 -0,5 1,7 -5,2 -2,9 -5,9 -4,9
II. Serv.Domésticos -1,5 1,6 -2,0 2,0 0,4 0,5 0,0 -0,9 -1,6
III. Trab.Ind.Trad. -3,0 1,1 3,5 1,3 -0,7 -0,7 -1,8 -1,0 -1,8
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -2,1 -1,3 -1,1 2,5 -1,4 1,4 -0,5 -0,2 0,9
V. Conta própria -1,8 -2,1 -0,6 -0,5 1,7 1,1 1,1 1,8 1,0
VI. Não manuais rotina -1,8 -4,0 -2,0 -1,3 -1,9 4,1 2,1 3,4 2,2
VII. Empregadores -2,2 -3,2 -2,0 -1,6 0,9 1,2 5,3 2,9 2,2
VIII. Administradores -1,5 -2,0 -1,8 -1,7 0,1 1,4 -0,6 4,7 3,4
IX. Profissionais -1,2 -2,0 -1,9 -1,8 -0,8 0,1 0,9 3,4 7,0
1996
I. Trab.Rurais 15,3 10,8 5,1 -0,7 -0,6 -7,5 -3,5 -10,2 -7,5
II. Serv.Domésticos -0,9 3,7 2,1 1,0 -1,3 -0,9 -1,6 -2,7 -1,8
III. Trab.Ind.Trad. -2,0 0,9 5,4 2,2 -2,3 0,3 -2,0 -2,8 -4,3
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -5,6 -2,6 -2,6 3,8 0,5 3,4 -0,7 1,8 -1,7
V. Conta própria -2,0 -3,8 -1,8 -2,2 6,5 -1,8 4,0 4,4 1,5
VI. Não manuais rotina -3,9 -4,2 -2,9 0,4 -1,4 5,7 0,8 2,4 1,8
VII. Empregadores -2,9 -4,4 -2,5 -3,8 2,2 0,2 4,9 5,4 5,5
VIII. Administradores -2,8 -4,5 -4,1 -2,4 0,5 1,6 2,1 6,8 5,5
IX. Profissionais -2,6 -3,6 -4,2 -4,1 -0,8 -1,3 1,7 5,5 15,7
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Tabela IV.4b
Resíduos ajustados das matrizes de mobilidade social intergeracional no Rio
Brasil I II III IV V VI VII VIII IX
1976
I. Trab.Rurais 38,6 6,9 0,0 -7,7 0,0 -18,1 -14,5 -22,3 -15,6
II. Serv.Domésticos -6,6 3,1 0,4 4,8 -1,6 1,6 1,0 0,4 -1,7
III. Trab.Ind.Trad. -12,6 0,0 11,5 2,5 -2,4 2,9 2,6 1,5 -1,0
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -15,7 -1,6 -1,5 11,5 -1,7 6,3 4,8 4,0 1,3
V. Conta própria -11,0 -4,4 -2,3 0,3 8,0 3,5 3,9 10,6 5,1
VI. Não manuais rotina -14,7 -3,2 -2,3 0,8 -0,3 13,3 4,6 6,9 7,5
VII. Empregadores -10,2 -4,2 -4,1 -1,8 -1,0 5,3 14,7 9,2 6,2
VIII. Administradores -8,4 -2,5 -2,3 -1,7 -0,2 2,2 1,3 15,3 6,9
IX. Profissionais -7,6 -3,8 -3,8 -3,4 -0,9 2,2 1,4 12,2 20,3
1996
I. Trab.Rurais 84,9 19,7 6,5 -11,4 -2,7 -35,5 -25,9 -41,7 -36,8
II. Serv.Domésticos -14,6 8,7 5,5 6,4 -2,5 3,7 -1,5 -2,9 -4,9
III. Trab.Ind.Trad. -25,9 3,6 21,6 7,0 -3,0 6,5 -1,3 -2,3 -6,9
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. -34,7 -8,1 -6,9 20,0 0,1 14,6 6,2 12,8 3,3
V. Conta própria -21,1 -11,7 -8,0 -2,1 14,5 7,6 13,6 16,4 10,8
VI. Não manuais rotina -27,1 -8,3 -7,7 -1,5 -1,5 21,7 7,0 19,7 12,0
VII. Empregadores -18,9 -10,0 -6,6 -4,1 2,4 5,0 21,4 12,6 19,5
VIII. Administradores -18,7 -10,6 -10,2 -6,9 -1,2 7,6 9,4 25,5 26,2
IX. Profissionais -13,7 -9,8 -10,0 -8,7 -2,0 0,6 8,0 13,8 49,9
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
108
Enfim, a análise empírica de um regime de fechamento social aponta diferentes direções que
acabam por gerar um quadro um tanto inconclusivo, principalmente por conta do peso que ainda
existe no Brasil da origem rural. Uma característica a favor da tese do fechamento é que realmente a
herança social é um regime presente de transmissão de posição entre gerações e que a mobilidade
entre os estratos vizinhos é mais alta, principalmente quando se considera o setor manual.
Vale dizer, no entanto, que isso se deve ao forte peso da origem rural, revelando na verdade uma
maior homogeneidade na origem social para os trabalhadores nos estratos manuais do que para
aqueles nos estratos não manuais. Por isso, não é muito evidente que os estratos intermediários
tenham uma taxa de mobilidade mais alta, o que representa um padrão diferente da hipótese de
fechamento social.
Um outro argumento a favor refere-se aos extremos da hierarquia, onde se verificam os maiores
índices de associação, o que indica que a elevada capacidade da elite transmitir sua posição para
gerações futuras. Por fim, houve uma maior abertura do sistema social, no sentido de que a origem
tem se tornado mais heterogênea ao longo do tempo - quando se considera os recortes maiores de
manual e não manual para cada estrato. No entanto, o Rio exibe um padrão específico de aumento
da capacidade de reprodução das elites (estratos VIII e IX) entre 1976 e 1996.
IV.2. Área de contenção
A tese sobre a área de contenção está altamente relacionada com a de fechamento social,
acrescentando o fato de que existe uma fratura na estrutura social entre as ocupações dos setores
manual e não manual e que esse é a característica fundamental para prevenir os movimentos de
longa distância. Em outras palavras, a elevada mobilidade em torno da fronteira manual-não
manual funciona como uma espécie de barreira de contenção da mobilidade de longa distância,
construindo uma área de impedimento em direção aos estratos mais altos da estrutura social.
A partir dessas idéias, Goldthorpe formula duas hipóteses para testar empiricamente:
a) Os filhos de trabalhadores manuais mais qualificados tendem a registrar chances maiores de
atingir posições no setor não manual do que os de baixa qualificação;
b) Os filhos de trabalhadores não manuais intermediários terão probabilidade maior de realizar
trabalhos manuais do que aqueles numa posição superior da escala não manual.
109
A partir da análise dos fluxos de saída da matriz de mobilidade social, o autor conclui que essa tese
não se aplica ao Reino Unido: "A distinção entre trabalho manual qualificado e não qualificado,
onde os expoentes da tese da zona de contenção têm colocado grande ênfase, não aparece como
efeito importante nos dados sobre o padrão de mobilidade de classes em qualquer direção entre a
divisão manual-não manual".
Scalon (1997) analisa o argumento principal da tese de zona de contenção, ou seja, de que os
indivíduos com origens no setor manual possuem chances menores de alcançar as posições mais
elevadas na estrutura de classes, usando como media as taxas de disparidade. A autora chega a
conclusão de que as taxas de disparidade no Brasil são bem mais altas que as do Reino Unido. "Não
só a chance de reprodução da elite é duas vezes maior aqui do que na Inglaterra, como também a
distância entre os estratos intermediário e manual é maior na estrutura social brasileira, registrando
a maior eficácia na função de filtrar o movimento em direção ao topo que as categorias
intermediárias exercem, operando, assim, como uma "zona de contenção" de mobilidade".
Esse padrão também pode ser observado no Rio? Como as taxas de disparidade evoluíram ao longo
do tempo? Considere primeiro a tabela IV.5 com os fluxos de saída das matrizes de mobilidade
intergeracional, quer dizer os fluxos de movimentação saindo de sua origem, estrato do pai, em
direção ao seu destino, posição atual do filho no momento da pesquisa. O seu cálculo é feito da
seguinte forma:
iijij ffn
onde ijf é a freqüência observada na célula (i,j) da matriz de mobilidade social intergeracional e
if é o valor marginal da linha que representa o total de indivíduos naquele origem i.
Observa-se mais uma vez que as diagonais principais apresentam valores elevados, revelando a
importância da herança social. As proporções mais altas estão localizadas nos extremos da estrutura
social. No caso do Rio de Janeiro, é no estrato de profissionais com 34% dos filhos no mesmo
estrato que o pai em 1976 e 36% em 1996. No Brasil, a proporção mais alta de herança social era do
estrato de trabalhadores agrícolas, com 50% em 1976. Como houve uma queda significativa da
herança desse estrato entre 1976 e 1996, o estrato que atinge a proporção mais elevada dos que
permanecem no mesmo estrato passa a ser também o de profissionais com 37%.
110
Um segundo ponto mais importante que está ressaltado na área sombreada em cada uma das
matrizes, que representa as três proporções mais elevadas de destino para cada origem, é que os
movimentos são mais freqüentes entre os estratos vizinhos, o que significa que a mobilidade mais
expressiva é aquela de curta distância. Pelo formato da área sombreada percebe-se que essa é uma
característica que não muda ao longo do tempo e que ocorre tanto no Rio quanto no Brasil. Vale
notar ainda que existe um recorte entre os movimentos dos filhos de trabalhadores manuais e não
manuais, que tendem a se reproduzir com mais freqüência nos setores de origem paterna.
Por fim, vale destacar o fato de que a categoria de proprietários conta própria ou a chamada
pequena burguesia é a que registra a menor proporção de herança social, com estratos vizinhos
registrando proporções bem mais elevadas. Apesar de ter ocorrido um aumento significativo da
herança social desse estrato, principalmente no Rio de Janeiro, esse ainda é o setor que registra a
maior permeabilidade, no sentido em que seus descendentes se espalham por diversos estratos.66
Tanto as constatações com a análise dos fluxos de entrada quanto com os fluxos de saída mostram
claramente uma barreira para mobilidade entre os setores dos setores manual e não manual. Seria a
tese de que os manuais mais qualificados têm mais chances do que os menos qualificados de ocupar
posições no setor não manual também válida? Para avaliá-la, considere os estratos I a III como
manual não qualificado e IV como manual qualificado. Somente pela análise da área sombreada é
possível observar que este último tem chances maiores de se mover para ocupações não manuais do
que o primeiro. Por exemplo, no Rio em 1996, enquanto 47% dos trabalhadores com origem no
estrato IV migram para estratos não manuais (V a IX), esse percentual cai para 33% quando se
considera a origem no estrato III.
A recíproca também deve ser verdadeira, isto é, os trabalhadores não manuais menos qualificados
devem ter uma chance maior de descer na hierarquia para estratos manuais do que os não manuais
mais qualificados. Quando se considera o estrato VI como não manual de baixa qualificação e os
estratos VII, VII e IX como não manual de alta qualificação, verifica-se também pela área
sombreada que as chances do estrato VI de se movimentar para os estratos manuais (principalmente
o IV, considerado como manual qualificado) é mais alta do que os estratos superiores da estrutura
social. A título de exemplo, no Rio em 1996, enquanto que 50% dos trabalhadores com origem no
estrato VI (não manual de rotina) descendiam para estratos manuais, essa porcentagem cai para
29% quando se considera a origem no estrato VIII e 12% no estrato IX.
66
Essas três características dos fluxos de saída da tabela de mobilidade intergeracional também foram encontradas por
Scalon (1997) para o caso dos homens brasileiros.
111
Tomando esses resultados em conjunto, existem fortes evidências para o caso do Rio de Janeiro e
da média brasileira de que existe uma ruptura entre os estratos manuais e não manuais no sistema de
estratificação social que caracteriza uma prevenção à mobilidade de longa distância e a reprodução
de um padrão de alta mobilidade entre estratos vizinhos.
Tabela IV.5a
Mobilidade intergeracional no Rio em 1976 e 1996
Fluxos de saída (%) Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 12,7 23,4 19,3 21,9 3,8 12,1 2,9 2,9 1,0 100
II. Serv.Domésticos 1,5 20,5 4,9 39,1 3,2 21,0 4,7 5,1 100
III. Trab.Ind.Trad. 19,6 25,1 27,3 1,5 18,2 1,6 5,8 0,8 100
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 3,2 12,7 13,2 29,3 1,1 22,2 5,1 8,2 5,0 100
V. Conta própria 3,7 12,0 16,3 6,1 21,9 7,8 22,0 10,3 100
VI. Não manuais rotina 3,5 5,9 9,2 17,8 0,6 30,6 8,8 15,3 8,2 100
VII. Empregadores 2,6 6,2 15,0 4,5 23,9 18,9 19,8 9,1 100
VIII. Administradores 3,3 3,3 9,9 3,3 28,5 3,3 32,6 15,9 100
IX. Profissionais 5,1 20,1 10,2 30,2 34,4 100
Total 6,4 16,0 15,1 22,6 2,8 18,9 5,2 8,8 4,3 100
1996
I. Trab.Rurais 11,9 25,0 17,2 24,3 3,9 8,6 4,3 3,8 1,1 100
II. Serv.Domésticos 3,7 22,5 17,3 27,7 2,4 13,3 4,0 6,8 2,3 100
III. Trab.Ind.Trad. 3,0 16,5 19,0 28,8 2,3 15,5 4,4 8,8 1,8 100
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 1,6 12,4 10,0 29,4 4,2 18,6 5,7 13,8 4,4 100
V. Conta própria 1,5 5,0 8,4 17,4 12,6 10,3 14,2 22,3 8,2 100
VI. Não manuais rotina 1,7 9,5 9,1 26,1 3,1 21,8 7,0 15,1 6,6 100
VII. Empregadores 0,7 4,1 7,3 14,5 6,3 15,3 13,8 24,0 13,9 100
VIII. Administradores 1,3 5,2 3,7 18,3 4,5 18,8 8,9 26,1 13,2 100
IX. Profissionais 2,9 9,5 2,6 10,3 9,5 28,9 36,3 100
Total 4,3 14,7 12,4 25,0 4,0 15,3 6,3 12,5 5,5 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Tabela IV.5b
Mobilidade intergeracional no Brasil em 1976 e 1996
Fluxos de saída (%) Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 50,0 10,7 10,6 13,7 3,4 7,1 1,8 2,3 0,4 100
II. Serv.Domésticos 10,2 14,2 12,9 31,6 2,1 14,2 5,9 8,4 0,5 100
III. Trab.Ind.Trad. 10,3 8,3 26,4 21,4 2,3 15,5 7,3 6,8 1,8 100
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 5,7 8,0 10,6 31,9 2,7 18,5 9,9 10,2 2,5 100
V. Conta própria 8,2 4,1 7,4 14,3 12,7 16,6 8,9 20,2 7,6 100
VI. Não manuais rotina 10,5 6,6 8,7 17,3 3,9 26,5 8,8 11,2 6,5 100
VII. Empregadores 3,3 2,4 3,5 12,5 1,8 19,7 25,6 22,9 8,3 100
VIII. Administradores 2,6 5,9 4,3 10,6 3,6 16,6 8,2 36,1 12,0 100
IX. Profissionais 1,1 1,2 5,9 2,2 14,2 10,0 36,3 29,1 100
Total 35,6 9,3 11,0 16,1 3,6 11,3 4,6 6,3 2,2 100
1996
I. Trab.Rurais 35,3 14,4 12,4 17,4 4,5 7,6 3,0 4,3 1,0 100
II. Serv.Domésticos 6,5 17,6 16,6 25,3 3,9 14,9 5,3 8,0 1,9 100
III. Trab.Ind.Trad. 6,1 13,2 21,4 24,0 4,1 15,0 5,5 8,5 2,2 100
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 3,8 9,3 9,4 29,7 5,1 17,2 7,6 13,2 4,8 100
V. Conta própria 4,2 5,0 7,1 17,4 11,6 16,7 11,8 18,4 7,8 100
VI. Não manuais rotina 6,6 8,6 8,9 19,1 4,7 21,7 8,0 15,9 6,5 100
VII. Empregadores 3,0 4,4 7,6 15,5 6,9 16,2 16,8 17,8 11,9 100
VIII. Administradores 2,1 4,4 3,8 13,2 4,5 18,9 10,5 26,6 16,0 100
IX. Profissionais 1,3 1,7 0,9 8,1 3,0 12,5 12,3 22,8 37,3 100
Total 21,6 12,1 11,9 19,6 4,9 12,0 5,5 8,8 3,7 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
112
Para completar e finalizar essa análise sobre a tese da área de contenção, a tabela IV.6 apresenta as
taxas de disparidade em relação a diversos grupos. Essas taxas são calculadas a partir da razão entre
proporções dos fluxos de saída de cada estrato para um único estrato, que é tomado como base, e
tem valor 1. Serão tomadas os fluxos de saída no estrato mais alto (IX. Profissionais) em relação a
diversos estratos no setor manual. Pode-se interpretar essa medida como a dispersão entre as
proporções de cada estrato de origem cujo destino foi o estrato mais alto relativamente ao estrato
considerado no setor manual, por exemplo, o III (trabalhadores da indústria tradicional). O cálculo
pode ser expresso da seguinte forma:
3999 pptd ii
sendo:
i9i9i ffp e 33939 ffp
onde 9itd é a taxa de dispersão de cada estrato de origem em relação ao estrato de destino 9
(Profissionais); 9ip é a porcentagem de indivíduos de cada estrato de origem i que teve seu destino
no estrato 9 em relação ao total de indivíduos na linha i; e 39p é a porcentagem de indivíduos no
estrato de origem III (indústria tradicional) e destino IX (Profissionais) em relação ao total de
indivíduos no estrato III. Decorre, então, que a taxa de disparidade é a proporção entre os fluxos de
saída do estrato de destino IX por um único estrato, que nesse caso é o estrato III.
A taxa de disparidade tem sido usada como uma medida de mobilidade relativa ou circular, ou seja,
da mobilidade ou troca de posições livre dos efeitos das marginais. Com essa característica ela já
foi usada como um indicador de desigualdade de oportunidades.67
Para pegar o caso com maior disparidade, observe a coluna com as taxas de disparidade (1) do
Brasil em 1976. Os indivíduos com pais no estrato de profissionais têm 80 vezes mais chances de
continuar neste estrato do que aqueles com origem no estrato rural. Apesar da significativa queda
em 1996, essa chance ainda é 36 vezes maior. No Rio essa chance se mantém em 35 vezes maior
entre 1976 e 1996.
67
A taxa de disparidade, junto com a taxa de chances relativas (odds ratio), tem sido bastante utilizada na literatura para
medir desigualdade de oportunidade e fluidez do sistema social. Em Goldthorpe (1987) encontra-se uma descrição da
relação entre essas duas medidas e sua principal característica de não sofrer influência das distribuições marginais.
113
As taxas de disparidade são menores quando comparamos com os estratos do setor manual urbano e
diminuem entre 1976 e 1996 no Rio e para a média brasileira. Considerando a última coluna da
tabela verifica-se que as taxas progridem mais ou menos assim: setor IV=1, VI=1,5, VII=3 e IX=8.
Em outras palavras, em relação ao filhos de trabalhadores no estrato IV (serviços gerais e indústria
moderna), os filhos de trabalhadores no estrato VI (não manual de rotina) tem quase a mesma
chance, os no estrato VIII (administradores) tem 3 vezes e os no estrato IX (profissionais) têm 8
vezes mais chances de ocupar o estrato de profissionais.
Tabela IV.6
Taxas de disparidade em relação ao estrato IX TD(1) TD(2) TD(3)
1976 1996 1976 1996 1976 1996
Rio de Janeiro
I. Trab.Rurais 1,0 1,0 1,2 0,6 0,2 0,2
II. Serv.Domésticos 2,2 1,3 0,5
III. Trab.Ind.Trad. 0,8 1,7 1,0 1,0 0,2 0,4
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 5,1 4,1 6,1 2,4 1,0 1,0
V. Conta própria 10,3 7,8 12,4 4,6 2,0 1,9
VI. Não manuais rotina 8,2 6,3 9,9 3,7 1,6 1,5
VII. Empregadores 9,2 13,2 11,0 7,8 1,8 3,2
VIII. Administradores 16,0 12,5 19,2 7, 3,2 3,0
IX. Profissionais 34,6 34,5 41,5 20,3 6,8 8,3
Brasil
I. Trab.Rurais 1,0 1,0 0,2 0,5 0,1 0,2
II. Serv.Domésticos 1,4 1,9 0,3 0,9 0,2 0,4
III. Trab.Ind.Trad. 4,8 2,1 1,0 1,0 0,7 0,5
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 7,0 4,6 1,5 2,2 1,0 1,0
V. Conta própria 20,9 7,6 4,3 3,6 3,0 1,6
VI. Não manuais rotina 18,0 6,4 3,7 3,0 2,6 1,4
VII. Empregadores 22,8 11,5 4,7 5,5 3,3 2,5
VIII. Administradores 33,0 15,6 6,9 7,4 4,7 3,4
IX. Profissionais 79,9 36,3 16,6 17,1 11,4 7,8
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
(1) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato I.
(2) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato III.
(3) Chance de estar no estrato IX em relação ao estrato IV.
Em suma, a tese da área de contenção se adequa bem tanto ao caso do Rio de Janeiro quanto para a
média brasileira. Isso porque, por um lado, as chances dos trabalhadores com origem no estrato
manual qualificado de migrar para estratos não manuais são maior do que para aqueles com origem
no manual não qualificado. Por outro lado, as chances dos trabalhadores com origem no setor não
manual de baixa qualificação descender para posições nos estratos manuais são maiores do que para
aqueles com origem nos estratos mais privilegiados. Ao que tudo indica, então, a elevada
114
mobilidade em torno da fronteira manual-não manual funciona como uma espécie de contenção da
mobilidade de longa distância.
IV.3. Contramobilidade
A tese da contramobilidade coloca a possibilidade dos efeitos positivos do aumento da escolaridade
sobre a mobilidade intergeracional serem compensados por uma diminuição da mobilidade
intrageracional ou de carreira. Esse mecanismo se daria principalmente pelo fato de que as
mudanças na estrutura ocupacional em direção a "profissionalização, burocratização e
complexidade técnica do trabalho" aumentam a importância da educação como principal canal de
acesso às ocupações de médio e alto nível, diminuindo as possibilidades de escalar na hierarquia
social com ganhos decorrentes da experiência e do treinamento no trabalho.
Em outras palavras, a expansão educacional e as reformas em direção à diminuição das
desigualdades de oportunidades são fatores que proporcionam crescimento da mobilidade
intergeracional ascendente que podem ser compensados pela queda da mobilidade ascendente
durante a vida produtiva. Um mecanismo gerador dessa contramobilidade é o fato de que as
gerações mais novas estão entrando mais tarde no mercado de trabalho como conseqüência de um
maior investimento em capital humano, iniciando a carreira no mercado de trabalho em ocupações
de nível mais alto do que as gerações passadas. Como a entrada se dá num patamar mais elevado, as
chances de continuar subindo ao longo do ciclo de vida produtiva diminuem. Aliado a esse fato, as
pessoas que entram no mercado de trabalho em estratos mais baixos da estrutura social acabam
caindo num círculo vicioso de permanência nesses estratos ou de chances menores de atingir
posições mais altas ao longo do ciclo de vida profissional.
Scalon (1997) analisa essa hipótese para o caso brasileiro de forma semelhante a adotada por
Goldthorpe (1987), ou seja, avalia as diferenças dos três momentos de mobilidade (ocupação do pai,
1a ocupação e ocupação atual do filho) entre uma geração mais nova e outra mais velha. Para tanto,
calcula as proporções referentes à mobilidade intergeracional (estrato do pai e 1o estrato do filho), e
à mobilidade intrageracional (1o estrato do filho e estrato atual do filho no momento da pesquisa)
para duas coortes que a época tinham entre 25 e 44 e 45 e 64 anos.
Aqui também será adotada a mesma estratégia empírica,68
mas antes é necessário pontuar a questão
sobre a análise da tese da contramobilidade para o caso do Rio de Janeiro. Isso porque como foi
68
Infelizmente, a PNAD 1976 não pergunta no questionário sobre mobilidade social a primeira ocupação do indivíduo,
impedindo a análise da mobilidade intergeracional em relação ao 1o emprego e da mobilidade intrageracional ou de
115
visto no início deste capítulo a mobilidade ascendente no Rio apresenta um comportamento
específico ao diminuir ao longo do tempo. Será que a queda da mobilidade intergeracional
ascendente foi mais do que compensada por uma diminuição da mobilidade intrageracional
ascendente no Rio?
No Brasil, Scalon (1997) confirma a hipótese da contramobilidade para os homens ao verificar que
houve queda da mobilidade ascendente de carreira nas gerações mais jovens, já que a porcentagem
de mobilidade intrageracional em direção aos estratos mais altos é menor para a coorte mais jovem
em todos os estratos (com exceção do rural). Além disso, "os dados revelam um fato extremamente
relevante: não houve um crescimento de mobilidade intergeracional ascendente entre os jovens.
Dessa forma, a hipótese de que a expansão da educação formal e a crescente importância da
qualificação conduziriam ao aumento da mobilidade entre gerações não é válida para o Brasil, uma
vez que os percentuais são praticamente idênticos para as duas coortes de idade". E conclui que esse
padrão revela uma "incrível estabilidade nas oportunidades que se sobrepõe até mesmo no tempo".
Mais incrível ainda é constatar que não há diferenças significativas para o caso do Rio de Janeiro
em 199669
, apesar da taxa de participação de jovens no mercado de trabalho na região metropolitana
do Rio ser menor e a escolaridade ser relativamente alta,70
sugerindo que a entrada dos jovens no
mercado de trabalho é mais tardia. Quer dizer, a análise da primeira coluna da tabela IV.7, referente
à mobilidade intergeracional em relação ao estrato da 1a ocupação, revela uma menor participação
do estrato rural e uma maior proporção do estrato de trabalhadores manuais na geração mais jovem.
Isso é um reflexo claro das mudanças estruturais decorrentes do processo de urbanização e
industrialização ocorrido nos anos 70.
No entanto, independentemente da origem, não se verifica um aumento da participação da primeira
ocupação nos estratos superiores da estrutura social, como poder-se-ia imaginar como conseqüência
da modernização do setor produtivo com a industrialização e terciarização da sociedade,
principalmente a fluminense, ocorrida nesse período. Por exemplo, para os trabalhadores com
carreira nesse período, que seria o mais apropriado para comparar as diferenças entre as mesmas gerações nas PNADs
1976 e 1996. Por isso, aqui também será adotada a mesma estratégia empírica de Goldthorpe e Scalon, que apresenta
como problema o fato de que está-se comparando faixas etárias diferentes para avaliar mudanças das gerações ao longo
do tempo. Em outras palavras, ao comparar faixas etárias diferentes tem-se em alguma medida o problema de atuação e
valorização diferenciada no mercado de trabalho. 69
Note que aqui se utilizou uma estratificação em quatro grupos (definidos também no capítulo II). Isso se deve tanto a
questão de que a análise e a exposição se tornariam difíceis quanto pelo fato de aumentar o número de células vazias ou
rarefeitas, principalmente com o recorte do Rio de Janeiro. Além disso, como decidiu-se por usar a categorização
adotada por Scalon (1997), isso facilitou a comparação entre os estudos. Mesmo assim, sempre que possível serão feitas
referências em relação aos nove estratos adotados nesse trabalho. 70
Ver Boletim Mercado de Trabalho: Conjuntura e Análise (2001) e Rio de Janeiro: Trabalho e Sociedade (2001).
116
origem no setor manual aumenta a possibilidade da 1a ocupação ocorrer nesse setor e diminui no
estrato de profissionais.
Tabela IV.7a
Mobilidade inter e intrageracional no Rio de Janeiro em 1996
para pessoas nascidas entre 1952 e 1971 Estrato do pai Primeiro estrato Estrato atual
I II III IV
I. Rural I. Rural 25,8 6,7 16,8 1,3 1,0
II. Manual 65,8 2,9 51,6 6,4 4,9
III. Não manual 5,9 0,3 2,3 2,3 1,0
IV. Profissionais 2,5 0,2 0,6 0,3 1,4
II. Manual I. Rural 1,3 0,1 1,1 0,1 0,1
II. Manual 74,5 0,7 57,7 9,9 6,2
III. Não manual 19,3 0,2 6,3 7,7 5,2
IV. Profissionais 4,8 0,0 1,3 1,1 2,4
III. Não manual I. Rural 0,7 0,2 0,5 0,0 0,0
II. Manual 54,2 0,8 32,5 11,2 9,8
III. Não manual 31,8 0,0 9,1 14,1 8,5
IV. Profissionais 13,3 0,0 2,0 3,0 8,4
IV. Profissionais I. Rural 2,6 0,5 1,4 0,0 0,8
II. Manual 47,8 0,8 20,3 11,2 15,5
III. Não manual 29,4 0,0 6,7 10,6 12,1
IV. Profissionais 20,2 0,0 1,0 3,7 15,4
Fonte: PNAD 1996.
Tabela IV.7b
Mobilidade inter e intrageracional no Rio de Janeiro em 1996
para pessoas nascidas entre 1932 e 1951 Estrato do pai Primeiro estrato Estrato atual
I II III IV
I. Rural I. Rural 27,7 4,8 18,8 1,6 2,6
II. Manual 63,4 4,2 48,5 7,6 3,2
III. Não manual 6,9 0,6 2,1 2,9 1,3
IV. Profissionais 2,0 0,3 0,3 0,3 1,1
II. Manual I. Rural 1,5 0,2 0,2 0,6 0,4
II. Manual 73,8 1,0 55,7 9,7 7,4
III. Não manual 18,3 0,4 5,6 6,3 6,1
IV. Profissionais 6,4 0,0 1,9 1,1 3,3
III. Não manual I. Rural 3,0 0,0 3,0 0,0 0,0
II. Manual 49,5 0,0 32,2 10,4 7,0
III. Não manual 31,9 1,3 11,3 9,3 9,9
IV. Profissionais 15,6 0,0 0,7 2,0 13,0
IV. Profissionais I. Rural 5,6 0,8 1,6 2,8 0,4
II. Manual 37,5 0,4 21,0 4,2 11,8
III. Não manual 28,1 0,0 6,8 11,4 9,9
IV. Profissionais 28,8 0,0 5,2 3,0 20,5
Fonte: PNAD 1996.
117
Esses dois fatos combinados contribuem para a diminuição da mobilidade intergeracional
ascendente em relação à 1a ocupação para a geração mais jovem. As figuras IV.1.a e IV.1b ilustram
o fato de que as chances de os filhos terem uma primeira ocupação num estrato melhor que o dos
pais diminui para a geração mais jovem de forma mais forte no Rio do que no Brasil (onde, apesar
da mobilidade descendente aumentar, a mobilidade ascendente fica praticamente constante).
Figura IV.1a
Figura IV.1b
Mobilidade intergeracional (primeiro estrato ) em 1996 no Rio por coorte de nascimento
0
10
20
30
40
50
60
Imob. Desc. Asc.
%
25-44 45-64
Mobilidade intergeracional (estrato inicial) no Brasil por coorte de nascimento
0
10
20
30
40
50
60
Imob. Desc. Asc.
%
25-44 45-64
118
Não deixa de ser surpreendente e preocupante verificar que, apesar do aumento da escolaridade que
vem ocorrendo no Brasil, não se verifica uma melhora na posição social de entrada no mercado de
trabalho para as gerações mais novas. No Rio, poder-se-ia pensar em dois movimentos gerais em
relação à entrada no mercado de trabalho dos mais jovens. Por um lado, a menor taxa de
participação no mercado de trabalho do Rio nos leva a pensar que aqui, mais do que na média
brasileira, os jovens retardam sua entrada no mercado de trabalho para passar mais tempo na escola
investindo na sua formação profissional. Por outro lado, o fato dos pais já serem mais escolarizados
que a média brasileira e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais gera um
quadro no mercado de trabalho nos anos 80 e 90 de competição mais difícil para superar as posições
de entrada. No saldo entre essas possíveis explicações parece que a segunda está liderando o
movimento.
Partindo agora para a análise da mobilidade intrageracional ou de carreira, também se obtém os
mesmos padrões da média brasileira no Rio. Isto quer dizer que, independentemente do estrato de
origem, as taxas de mobilidade intrageracional em direção aos estratos superiores são sempre mais
baixas para a geração mais jovem. (Ver as quatro últimas colunas da tabela IV.7, especialmente a
última referente ao estrato atual de profissionais).
Esse fato, entretanto, sofre alguma influência do diferencial de tempo no mercado de trabalho e, por
isso, a taxa de mobilidade ascendente menor para a geração mais jovem deve ser considerada com
uma certa cautela como uma medida da evolução temporal da mobilidade intrageracional. De
qualquer forma o que merece ser destacado é que a explicação para a diminuição da mobilidade
intrageracional ascendente por conta de uma melhora na 'posição' de entrada no mercado de
trabalho para a geração mais jovem não encontra suporte empírico.
119
Conclusão
A análise dos padrões de mobilidade social é fundamental para entender os impactos da mobilidade
sobre as desigualdades socioeconômicas e justiça social. Se uma região tem muita mobilidade mas
um regime de mobilidade de curta distância, o impacto sobre as desigualdades podem ser muito
pequenos. Já, uma outra região com mobilidade menor mas com um regime de mobilidade mais
aberto para alcançar os estratos mais privilegiados pode contribuir mais para diminuir as
desigualdades de oportunidades e de renda.
Antes de entrar na identificação dos regimes de mobilidade, verifica-se no Rio uma contribuição
relativamente baixa das mudanças na estrutura ocupacional entre as gerações para explicar a
mobilidade social e decrescente entre 1976 e 1996 (assim como para a média brasileira). A maior
parte dos movimentos na estrutura social entre as gerações deve-se à mobilidade circular, ou seja, à
troca de posições entre as vagas ou tipos de vagas já existentes na estrutura ocupacional. Isso quer
dizer que a conquista por posições se deve muito mais às características dos indivíduos do que a
mudanças na estrutura ocupacional. Quer dizer, a posição social depende menos da abertura (ou
fechamento) de postos de trabalho e mais à competição pelas vagas já existentes.
A elevada taxa de mobilidade combinada com o fato de ser explicada principalmente pela
mobilidade por trocas de posição revela que, a princípio, a sociedade fluminense é bastante aberta,
no sentido em que os indivíduos conseguem escapar da herança social (para melhor ou pior) numa
estrutura social em que prevalecem os mecanismos de competição pelas posições já existentes (ao
invés do preenchimento de novas posições). No entanto, o impacto dessa característica considerada
positiva para distribuição de oportunidades depende do regime de mobilidade que prevalece nas
movimentações entre as gerações por estrato social.
Nesse sentido, foram analisadas as três teses clássicas sobre regime de mobilidade para avaliar sua
adequação ao caso do Rio, sempre comparando com Brasil. A tese do fechamento social não se
mostrou tão apropriada, principalmente porque a heterogeneidade na origem social é muito grande,
principalmente para os estratos não manuais. No entanto, quando se consideram os estratos
manuais, verifica-se uma homogeneidade maior, principalmente devido ao peso da origem rural. No
caso do Rio esse aspecto, apesar de ainda ser elevado, tem uma importância menor. Além disso, os
índices de associação de Glass, assim como os resíduos padronizados, foram elevados na diagonal
principal, caracterizando herança social, principalmente nas extremidades.
120
A segunda tese, da área de contenção, teve resultados mais contundentes, ou seja, verifica-se um
regime de mobilidade de curta distância em que a fronteira manual-não manual funciona como uma
espécie de barreira de contenção à mobilidade de longa distância. Constatou-se empiricamente que,
por um lado, as chances dos trabalhadores com origem no estrato manual qualificado de migrar para
estratos não manuais é maior do que aqueles de origem no manual não qualificado. E, por outro
lado, as chances dos trabalhadores com origem no setor não manual de baixa qualificação descender
para posições nos estratos manuais é maior do que aqueles de origem nos estratos mais
privilegiados.
Por último, a tese da contramobilidade argumenta que com o desenvolvimento econômico e
sofisticação do conteúdo do trabalho as pessoas têm retardado a entrada no mercado de trabalho
para investir em capital humano e entrar numa posição mais elevada na estrutura ocupacional
diminuindo, assim, as possibilidades de mobilidade intrageracional. Na análise empírica da
mobilidade intergeracional em relação à primeira ocupação do filho, não se verifica para a coorte
mais jovem uma entrada relativamente maior em posições superiores.
Não deixa de ser surpreendente e preocupante verificar que, apesar do aumento da escolaridade que
vem ocorrendo no Brasil, não se verifica uma melhora na posição social de entrada no mercado de
trabalho para as gerações mais novas. No Rio, poder-se-ia pensar em dois movimentos gerais em
relação à entrada no mercado de trabalho dos mais jovens. Por um lado, a menor taxa de
participação no mercado de trabalho do Rio nos leva a pensar que aqui, mais do que na média
brasileira, os jovens retardam sua entrada no mercado de trabalho para passar mais tempo na escola
investindo na sua formação profissional. Por outro lado, o fato dos pais já serem mais escolarizados
que a média brasileira e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais gera um
quadro no mercado de trabalho urbano nos anos 80 e 90 de competição mais difícil para superar as
posições de entrada. No saldo entre essas possíveis explicações parece que a segunda está liderando
o movimento. Assim sendo, a explicação para a diminuição da mobilidade intrageracional
ascendente por conta de uma melhora na 'posição' de entrada no mercado de trabalho para a geração
mais jovem não encontra suporte empírico.
Além disso, verifica-se que no Rio o estrato mais privilegiado de Profissionais está mais fechado
para indivíduos de outras origens sociais, assim como iniciar a carreira profissional sendo de outra
origem também está se tornando mais difícil para a geração mais nova. Esse resultado pode estar
indicando que quando se atinge níveis de escolaridade mais elevados para a população como um
todo, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante na origem
social ou background familiar das pessoas.
121
Em suma, a alta taxa de mobilidade social intergeracional no Rio que tem um efeito forte das
movimentações por trocas de posições junto com a enorme heterogeneidade na origem social dos
diversos estratos considerados levaria a um quadro de melhora na distribuição de oportunidades.
Mas como o regime de mobilidade é de curta distância e é explicado, principalmente, pela área de
contenção na fronteira manual-manual, aliado aos fatos de que (1) a posição de entrada das gerações
mais jovens não melhorou em relação às mais velhas e (2) a capacidade reprodução das elites tem
aumentado ao longo do tempo, fica a questão: o que aconteceu com a desigualdade de
oportunidades?
CAPÍTULO V
A DESIGUALDADE DE OPORTUNIDADES
DIMINUIU NO RIO?
Quando se analisam as matrizes de transição não é possível identificar se isso significou uma
mudança no padrão de distribuição das chances relativas de movimentação dos indivíduos entre as
posições sociais na estrutura de estratificação social ou se foi decorrente de mudanças na estrutura
ocupacional entre as gerações do pai e do filho. Isto é, a análise das taxas de mobilidade total
incorpora os dois componentes da mobilidade social: o estrutural e o circular. Como o objetivo
dessa seção é analisar a evolução temporal do padrão de distribuição de oportunidades no sistema
de estratificação social é necessário, então, isolar o componente da mobilidade total referente à
mobilidade por trocas ou circular.
122
A mobilidade circular pode ser definida a partir das mudanças ocorridas entre os estratos
decorrentes do processo intrínseco de mobilidade dentro do mercado de trabalho, sendo que a
mobilidade de um indivíduo depende que sua posição de destino seja desocupada por motivo de
morte, aposentadoria ou ascensão/descensão social de outro indivíduo. A denominação também
muitas vezes utilizada de mobilidade por trocas refere-se exatamente ao fato de que para um
trabalhador preencher uma posição é necessário que ela seja vaga por outro, ou seja, as mudanças
de posições no sistema de estratificação não são decorrentes da abertura de novas vagas mas de que
as posições existentes sejam vagas. Assim sendo, a mobilidade circular depende basicamente de
atributos individuais, como educação e experiência.
No trabalho pioneiro de Hutchinson em 1960 no Brasil é realizada uma análise sobre os diferentes
papéis exercidos pela mobilidade estrutural e circular no sistema de estratificação do país. “Ele
aponta a importância da educação como principal meio de reprodução ou mudança de status e
revela como o sistema educacional em São Paulo reforça a herança de status... Por isso, considera
que o nível educacional não está significativamente relacionado com a mobilidade social”. (Scalon,
1997)
Hutchinson coloca ainda que a estrutura brasileira é bastante rígida, pois a maior parte da
mobilidade é decorrente de mudanças estruturais, como o processo de urbanização e
industrialização, que abrem novos tipos de postos de trabalho, transformando a estrutura
ocupacional. Esse movimento, no entanto, não contribui muito para aumentar o grau de fluidez
social que poderia estimular o preenchimento das vagas de acordo com as capacidades individuais.
Isso porque a fluidez social só pode ser medida pelo tipo de mobilidade referente à troca de
posições entre os indivíduos, ou seja, pela mobilidade circular ou por trocas. “Deve-se notar que a
mobilidade desse tipo, que não é afetada pelas modificações na estrutura de status, requer, para cada
pessoa que ascenda a um nível mais elevado, que outra desça a um mais baixo. Quanto mais
freqüente isso ocorrer, mais a sociedade em questão se aproximará de igualdade de oportunidades
para seus membros.”
A idéia, então, da fluidez social está associada à abertura ou permeabilidade do sistema de
estratificação social e, portanto, se refere às chances relativas de oportunidades de preenchimentos
das posições. Como os dois tipos de mobilidade – estrutural e circular –são medidas que refletem
fenômenos distintos, a literatura conta com uma série de desenvolvimentos estatístico-
metodológicos para separar esses efeitos sobre a mobilidade total.
123
Valle Silva e Roditi (1988) analisam o grau de abertura ou de fluidez social questionando se a “tese
da industrialização”71
se aplicaria ao caso brasileiro, qual seja, a de que com a industrialização
ocorre não só uma mudança na estrutura de estratificação social – ou seja, mudanças na distribuição
dos bens, recursos e posições sociais – mas também modificações no processo de estratificação, isto
é, nas regras de distribuição dos indivíduos nessa estrutura. Seguindo esse raciocínio, “a
democratização da sociedade – no que diz respeito à distribuição de oportunidades – é função do
quão rápido e do quão profundamente se pode implementar nela uma economia industrial e
moderna”.
Assim, no período do desenvolvimento econômico para uma economia industrializada, as chances
de melhora no quadro de mobilidade social – e, portanto, do processo de democratização ou de
distribuição de oportunidades na sociedade – aumentariam até o ponto em que as economias se
tornariam desenvolvidas ou “plenamente industrializadas”, quando o padrão de mobilidade circular
se estancaria.
No entanto, o artigo pioneiro de Valle Silva e Roditi, utilizando modelos log-lineares para separar
os efeitos de mudanças exógenas na estrutura ocupacional, por um lado, e o padrão de mobilidade
circular, por outro, mostram que não houve uma mudança no padrão de mobilidade circular dos
indivíduos na estrutura de estratificação social nos anos 70, apesar do forte crescimento econômico
vivido nesse período no Brasil. Esse resultado levou os autores, junto com as constatações
provenientes das pesquisas sobre as experiências dos países desenvolvidos, a relativizar o efeito da
industrialização e da educação sobre a mobilidade social e a concluir que “as diferenças na estrutura
da mobilidade são pelo menos tão dependentes da organização política quanto do desenvolvimento
econômico”.
Andrade (1997) realiza uma atualização da análise da evolução do padrão temporal da mobilidade
de circulação para cinco regiões metropolitanas com os dados da PNAD 1988. Verifica-se,
novamente, que “o modelo de padrões de mobilidade ocupacional constante ao longo do tempo se
ajusta bem aos dados. Vale ainda considerar que as diferenças entre as regiões metropolitanas são
pequenas”.
Em Pastore e Valle Silva (2000) analisam-se as mudanças no padrão de mobilidade circular entre
1973 e 1996 no Brasil. Os autores concluem que a mobilidade total no Brasil aumentou devido
principalmente ao aumento da mobilidade circular ou por trocas, sugerindo que o mercado de
71
Ver Lipset e Bendix (1959) e Treinam (1970).
124
trabalho está mais competitivo. Ademais, o padrão de mobilidade circular observado em 1996
registrou uma diminuição do peso da herança ocupacional e "um aumento das chances de cruzar,
tanto para cima quanto para baixo, a barreira rural e manual/não manual, apontando para uma
pequena, mas significativa, diluição da estrutura de classes observada em 1973. Esses resultados
indicam que, neste último quarto de século, em que pese o notório aumento das desigualdades
socioeconômicas, a sociedade brasileira se tornou ligeiramente mais aberta".
A contribuição desse capítulo é avaliar se o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular
se ajusta bem à sociedade do Rio de Janeiro assim como avaliar se esses modelos se ajustam para a
sociedade como um todo ou somente para determinados grupos, caracterizados a partir das
diferenças por escolaridade, sexo, cor e status migratório.
O Rio de Janeiro tem a menor taxa de imobilidade e é o Estado que registra a menor variação desse
indicador ao longo do tempo. O Rio também apresenta a maior taxa de mobilidade descendente e é
o único Estado que registra uma queda da mobilidade ascendente ao longo do tempo.
Esse quadro levanta duas hipóteses a serem testados com os modelos log-lineares:
a) O fato de o Rio ter a menor taxa de imobilidade significa que, controlando o efeito da
mobilidade estrutural, a associação entre a posição social do pai e a do filho não é
estatisticamente significativa?
b) Se essa associação é significativa, deve-se esperar um padrão temporal estável da mobilidade
circular?
Para responder a essas questões deve-se ter em mãos uma metodologia que seja capaz de analisar as
tabelas de mobilidade como um todo e não, como foi feito até agora, fazer as análises de associação
dois a dois. Para tanto, utilizaram-se os modelos log-lineares para analisar a tabela de mobilidade
social como um todo e testar a hipótese sobre o padrão de estabilidade temporal da mobilidade
social intergeracional circular no Rio de Janeiro.
V.1. Modelos log-lineares aplicados às tabelas de mobilidade social
A análise dos dados de uma matriz de mobilidade social mostra a relação entre a posição
socioeconômica do pai e a do filho. A variável utilizada para representar a posição socioeconômica
125
foi a ocupação, que é uma variável categórica ou qualitativa e, portanto, só pode ser expressa em
termos nominais (assim como sexo e cor) ou em escala ordinal (assim como nível de escolaridade).
Nesse caso, a única variável que se pode mensurar é a freqüência das células da tabela e a relação
entre as variáveis é obtida a partir das características ou das diferenças entre as freqüências das
células da tabela.
Para facilitar a análise das relações entre as várias variáveis, a idéia é utilizar um modelo aplicável à
tabela de contingência multidimensional. Isso porque a análise das diferenças entre duas variáveis
de cada vez pode levar a conclusões incorretas sobre o fenômeno geral estudado. Os modelos log-
lineares têm sido tradicionalmente usados para o estudo de mobilidade social por apresentar como
característica a possibilidade de descrever padrões de associação entre variáveis categóricas. Com
essa abordagem, modelam-se as freqüências de uma tabela de mobilidade social a partir da
associação entre as variáveis. (Agresti, 1990)
Esses modelos devem ser vistos essencialmente como análises de regressões aplicadas a dados
qualitativos. Como coloca McCullagh e Nelder (1983): “Generalized linear models allow us to
develop models for the analysis of counts analogous to classical linear models for continuous
quantities.”
Nessa classe de modelos, a variável resposta ou dependente é o logaritmo da freqüência que é
estimado pelo método de máxima verossimilhança.72
Para fazer inferências sobre os modelos log-
lineares aplicados às tabelas de mobilidade social, no entanto, é necessário conhecer o esquema
amostral que foi aplicado para obter as tabelas de mobilidade social.
72
Ver Apêndice de Powers e Xie (2000) sobre o processo de estimação de máxima verossimilhança.
126
V.1.1. Modelo amostral
Para tabelas bidimensionais com I categorias para a variável O e J categorias para a variável D tem-
se que ijf denota a freqüência na (i,j)-ésima célula, if e jf denotam os respectivos totais nas
linhas e colunas e N é o total geral. Como dito anteriormente, nesse caso as variáveis respostas ou
dependentes que se deseja modelar são as freqüências ijf .73
O esquema amostral mais simples que se pode aplicar é quando supõe-se que a freqüência em cada
uma das m células (i,j) da tabela é obtida a partir de m processos de Poisson independentes com
parâmetro 0ij . A distribuição conjunta das J x K células é dada por:
I
i
J
j ij
f
ij
f
ij
1 1 !,
λf (1)
Onde:
λ é a matriz de probabilidades de transição entre i e j; e
f é a matriz de freqüências de dimensão I x J.
A equação 1 assegura que E( f ) = Var( f ) = λ . O importante a destacar aqui é que a hipótese de
que a contagem de casos em cada célula da tabela segue as distribuições de Poisson são
independentes. Assim, o somatório das freqüências das células, que representa o total da amostra,
também é uma variável aleatória com distribuição de Poisson.
Um caso mais comum, no entanto, é quando impõe-se a restrição de que NfI
1i
J
1jij
, onde N é
fixo pelo desenho amostral. Quando se inicia o modelo com Poisson e se condiciona o tamanho
total da amostra em N, não se tem mais uma distribuição de Poisson e a distribuição condicional
pode ser obtida da seguinte forma:
)(
),()|(
NP
NPNP
λf,λf,
127
Então:
I
1i
J
1j ij
f
ijI
1i
J
1j
N
ij
f
ij
!f!N
!N
e
!f
e)N|,f(P
ijijijij
(2)
onde
ij
ij
I
1i
J
1jij
A distribuição de probabilidades descrita em 2 é uma Multinomial, sendo que ij representa a
probabilidade de se pertencer a uma determinada célula e satisfaz as condições de 0 ij 1 e
1i j
ij . Nesse caso, o processo aleatório não está na definição do tamanho da amostra, como
acontece com a Poisson, mas na distribuição dos elementos nas células da tabelas ou às categorias
classificadas numa amostra fixa.
Esse modelo amostral se aplica bem às tabelas de mobilidade social mas, muitas vezes, a suposição
do N fixo não é suficiente. Se o interesse é isolar determinados experimentos, situações ou estratos
amostrais, os totais das marginais das diferentes categorias devem ser fixados no desenho amostral.
Por exemplo, se há grandes variações na estrutura ocupacional entre as gerações do pai e do filho,
para se avaliar a existência de interação entre a ocupação do pai e do filho é desejável que se retire
os efeitos das marginais. Em outras palavras, dependendo do objeto de investigação pode ser mais
apropriado supor que o esquema amostral está condicionado ao tamanho das marginais (na linha ou
na coluna).
73
A tabela é a apresentada no capítulo anterior que apresenta a metodologia de análise com a matriz de transição ou
tabela de mobilidade social.
128
Sendo assim, a distribuição de probabilidades para cada linha (ou coluna) é multinomial e, por
exemplo, para i-ésima linha com o total da linha fixo if , a função de distribuição de probabilidade
pode ser escrita da forma como segue:
J
1j ij
f
ij
iiij1i!f
!f)f|f,...,f(P
ij, onde .1
jij
Como as linhas (ou colunas) são independentes, a distribuição conjunta de s´ijf é
I
1i
J
1j ij
f
ij
ii!f
!f)I,...,1i,f|f(P
ij, (3)
onde j
ij 1 para cada linha i.
A equação 3 expressa uma distribuição Multinomial-Produto e se aplica aos casos em que se quer
tratar de determinadas categorias como uma amostra separada ou independente.
Felizmente, o processo de estimação dos parâmetros por máxima verossimilhança nos três tipos de
modelo amostral gera resultados semelhantes para os valores esperados das células da tabela74
e,
por conseguinte, para as estatísticas de qualidade de ajustamento do modelo. Isso porque, nas
palavras de Powers e Xie (2000),
“The main difference among the three sampling models is the treatment of the grand total and
marginal totals. In practice, this distinction is inconsequential, since researchers usually include
parameters to fit the grand total and marginal totals exactly. Thus, it is not necessary to choose a
particular sampling model, so long as the marginal totals are fitted.”
129
V.1.2. A parametrização
Considere, então, o caso de uma distribuição Multinomial com freqüência nas células N1 f,...,f e
probabilidades nas células N1 ,..., com 1N
1ii
e freqüência total
N
1iifN tem-se que
ii N)f(E (4)
Suponha, por exemplo, que a análise a ser realizada é de uma tabela bidimensional com as variáveis
representando os estratos socioeconômicos dos pais e dos filhos. Se a idéia é testar a hipótese de
que as variáveis linha e coluna são independentes (não existe associação entre a posição
socioeconômica do pai e do filho), pode-se calcular a probabilidade de um dado indivíduo pertencer
a célula (i,j) da seguinte forma
jiij (5)
onde i e j representam as probabilidades marginais das variáveis linha e coluna e 1i
i e
1j
j . Assim sendo, para o caso da distribuição Multinomial quando se assume a hipótese de
independência entre as variáveis linha e coluna tem-se que
ijjiij FN)f(E (6)
Se aplicarmos uma função logarítmica pode-se reescrever a equação 6 como
)log()log()Nlog()F(Log jiij (7)
Observa-se, então, que para a análise das tabelas de contingência via modelos lineares
generalizados deve-se aplicar a função de ligação logarítmica para relacionar a )f(E i e o previsor
linear i , isto é,
βxTi )Flog( ii (8)
74
Ver a prova em Fienberg (1979) e Bishop, Fienberg e Holland (1975).
130
e, por isso, o nome de modelo log-linear. (Dobson, 1990)
O modelo saturado (chamado também de maximal ou completo), correspondente a ijij N)f(E ,
inclui todos os parâmetros de efeito possíveis para a tabela bidimensional e pode ser expresso da
seguinte forma:
ijjiijij fE (9)
Assim, a hipótese de independência jiij para todo i e j é equivalente a hipótese de “não-
associação” ou “não-interação”, de tal forma que 0ij para todo i e j.
Os parâmetros do modelo devem ser interpretados como diferenças dos termos de ordem superior
em relação aos de ordem inferior. Por exemplo, o i representa o efeito diferencial da linha i em
relação ao efeito médio geral e ij o efeito diferencial de se pertencer à célula (i,j) em relação à
média geral e aos efeitos principais i e j . Esse tipo de modelo pertence à classe de modelos
hierárquicos, ou seja, quando para um efeito envolvendo determinada variável, todos os efeitos de
ordem inferior envolvendo as mesmas variáveis estão presentes.
De uma forma mais detalhada, os parâmetros são determinados da forma descrita a seguir para o
caso particular de uma matriz 2 x 2:
é uma média geral do logaritmo das freqüências esperadas e representa um ponto de
referência a partir do qual os efeitos das variáveis são calculados:
)flogflogflogf(log4
122211211 =
IJ
i é o efeito principal da variável linha i:
IJJ
flogflog2
1 i2i1ii
j é o efeito principal da variável coluna j:
IJI
flogflog2
1 j
j2j1j
131
ij é o efeito interação ou associação entre as variáveis i e j:
IJJI
ij
ijij
A média geral não tem muito interesse substantivo, representando somente um ponto de referência
para o impacto dos efeitos principais e de associação entre as variáveis do modelo. Se determinado
parâmetro for zero significa que não tem efeito sobre o valor esperado da freqüência na célula da
tabela. Observe que se todos os efeitos ’s forem iguais a 0, não existe efeito principal e de
associação entre as variáveis, sendo a freqüência de cada célula igual ao valor de . Valores de
maiores que zero indicam que a freqüência na célula é maior que a esperada e menores indicam que
existem menos casos que o esperado. Se, por exemplo, 0i , a média do log da freqüência
esperada para as células na linha i é maior que a média do log da freqüência esperada da tabela
como um todo.75
Os parâmetros ’s devem satisfazer a seguinte condição necessária para tornar o modelo
identificável:76
0j
iji
iji j
ji (10)
Os parâmetros i e j são desvios em relação à média geral, então, existem I-1 parâmetros linha
linearmente independentes e J-1 parâmetros coluna linearmente independentes. Dado ij nas (I-
1)(J-1) células nas primeiras I-1 linhas e J-1 colunas, essas restrições determinam os parâmetros
para as células na última linha ou coluna. Assim, (I-1)(J-1) desses termos são linearmente
independentes. No modelo saturado, o número de parâmetros é igual ao número de células na
tabela, qual seja, IJ.
Assim, para verificar que o total de parâmetros independentes é igual ao total de células na tabela,
os números de graus de liberdade são listados na tabela V.1 a partir da contribuição de cada termo
do modelo.
75
Vale notar que o logaritmo natural de 1 é zero, indicando o caso de independência entre as variáveis. 76
Ver Bishop, Fienberg e Holland (1975).
132
Tabela V.1
Cálculo dos graus de liberdade
Tipo de parâmetro Parâmetros Graus de liberdade
Média geral 1
Marginal na linha i I - 1
Marginal na coluna j J - 1
Interações ij IJ – I – J +1= (I-1)(J-1)
Total IJ Fonte: Bishop, Fienberg e Holland (1975) e Powers e Xie (2000).
V.1.3. Estatísticas de ajuste do modelo
Quando se modela a freqüência de uma tabela de contingência em geral ou de uma tabela de
mobilidade em particular, a questão principal a ser avaliada é se existe ou não associação entre as
variáveis de análise. Na verdade, busca-se testar se os dados observados se ajustam bem ao
esperado caso não houvesse interação entre as variáveis, ou seja, se o modelo com restrição (por
exemplo, de independência entre as variáveis) é plausível para explicar as relações entre as
variáveis. Mas como avaliar se o modelo é bom?
Nas palavras de McCullagh e Nelder (1983):
“Modelling in science remains, partly at least, an art. Some principles do exist, however, to guide
the modeller. The first is that all models are wrong: some, though, are better than others and we can
search for better ones. At the same time we must recognize that eternal truth is not within our grasp.
The second is not fall in love with one model, to the exclusion of alternatives. Data will often point
with almost equal emphasis at several possible models and it is important that the analyst accepts
this. A third principal involves checking thoroughly the fit of a model to the data, for example, by
using residuals and other quantities derived from the fit to look for outlying observations, and so
on.”
Levando-se em consideração esses princípios, deve-se percorrer alguns caminhos para testar a
plausibilidade de um modelo. Em primeiro lugar, um modelo bom pode ser visto como aquele que
se ajusta bem aos dados, ou seja, onde o valor estimado é próximo ao observado. Se incluirmos
parâmetros suficientes no modelo pode-se chegar tão perto quanto se deseja e até mesmo incluindo
tantos parâmetros quanto o número de observações os dados se ajustarão perfeitamente. No entanto,
133
não se ganhou nada no sentido de se conseguir um padrão teórico mais simples para explicar os
dados. Logo, a simplicidade atingida com a parcimônia dos parâmetros é também uma característica
desejável para um modelo.
A idéia, então, que segue na seção seguinte é buscar um modelo mais simples para explicar a
evolução temporal da mobilidade social intergeracional, qual seja, o da estabilidade ao longo do
tempo. Para avaliar se os modelos se ajustam bem aos dados observados, utilizam-se quatro
estatísticas bastante convencionais para esse tipo de modelo, que serão apresentados para a relação
entre duas variáveis. A primeira é a estatística Qui-quadrado da razão de verossimilhança:
)Flogf(logf2G ijijij2 (11)
onde ijf é a freqüência observada e ijF , a freqüência estimada pelo modelo. A estatística é sempre
não negativa e tem, assintoticamente, uma distribuição 2 sob a hipótese de que o modelo restrito
em teste é válido. O número de graus de liberdade é calculado pela diferença entre o número de
células no início (no caso descrito anteriormente, JI) e o número de parâmetros ajustados.
2G também é chamado de deviance, principalmente nos pacotes computacionais, por representar
uma estatística sobre a distância entre os valores do modelo com restrição e o modelo saturado.
Logo, pode-se testar o modelo a partir da fórmula descrita ou com a comparação do 2G do modelo
saturado e com restrição.
No entanto, pelo fato da PNAD ser construída a partir de uma amostra complexa, e não aleatória
simples, a estatística de 2G se vê afetada.77
Além disso, o valor dessa estatística depende do
tamanho da amostra e considerando-se pesquisas do porte da PNAD, corre-se um grande risco de
rejeitar a hipótese nula em favor de hipóteses alternativas.78
77
Segundo Valle Silva e Roditti (1986), estudos mostram que efeitos de desenho amostral superiores a 1 afetam a
estatística 2G “no sentido de gerar uma superestimativa do valor verdadeiro de qui-quadrado dada a hipótese nula.”
78 Utilizou-se nesta tese o procedimento padrão de expansão amostral da PNAD, ou seja, não foram considerados os
ajustes dos pesos para amostra complexa. Apesar de já existir métodos mais sofisticados (ver Pessoa e Silva (1998)),
não seria possível aplica-los no âmbito da tese, visto que os pesos para amostra complexa da PNAD 1976 não estão
disponíveis. Esse procedimento padrão pode gerar problemas na avaliação dos modelos com as estatísticas de
verossimilhança, já que os graus de liberdade mudariam e, por conseguinte, poder-se-ia ter impactos sobre a avaliação
da rejeição ou não da hipótese nula. No entanto, como serão utilizadas outras estatísticas para avaliar o ajuste do modelo
em teste aos dados observados, o procedimento padrão de aplicação de pesos acaba por ser bastante razoável.
134
Logo, o 2G tem sido considerado como um procedimento insatisfatório para rejeitar um
determinado modelo a favor de outros em amostras grandes. A essência do argumento é que
“adding more terms to a model will always improve the fit, but with large samples it becomes
harder to distinguish a ‘real’ improvement in fit from a trivial one”. (Powers e Xie, 2000).
É necessário, então, adotar outras estratégias para avaliar o ajuste do modelo. A primeira é o 2R ,
que representa uma medida de razão para avaliar o quanto a utilização do modelo complexo
melhora a explicação das freqüências observadas em relação àquela estimada pelo modelo de base.
base) de modelo o paracompleto/G modelo o para(1 222 GR (12)
Utilizou-se também o índice de dissimilaridade ( ) que indica a porcentagem de casos que
deveriam ser realocados em outras células para tornar perfeito o ajuste do modelo.
I
1i
J
1jijij |N2/)Ff(| (13)
Last but not least, tentando sempre que possível seguir as idéias de McCullagh e Nelder (1983),
será feita uma análise dos resíduos padronizados para mapear os casos em que os ajustes são
melhores ou piores. O resíduo padronizado jke é calculado da seguinte forma:
jkjkjkjk FFfe (14)
Esses modelos foram ajustados no software SPSS utilizando a opção “Loglinear” e “Model
Selection”.79
V.2. Modelo analítico
O modelo analítico usualmente adotado para decompor a mobilidade total em seus dois
componentes básicos - estrutural e circular - tem sido o modelo log-linear geral80
. Nessa seção, a
idéia é testar se o padrão de associação entre a ocupação do pai e do filho muda ao longo do tempo.
Com isso, busca-se verificar se a distribuição de oportunidades no sistema de estratificação social
79
Ver manual do SPSS para maiores detalhes de sua utilização e saída dos resultados.
135
melhorou ou piorou ao longo do tempo. Em outras palavras, pode-se avaliar se aumentou ou não a
fluidez social ao longo dos últimos 20 anos.
Considerando o caso mais simples da tabela bidimensional, ele pode ser escrito na sua forma aditiva
da seguinte maneira:
ODij
Dj
Oiij )F(Log (15)
onde )F(Log ij é o logaritmo das freqüências das células (i,j) da tabela de mobilidade. Os
parâmetros Oi e D
j representam os efeitos principais sobre o )F(Log ij e, nesse caso,
representam os efeitos da distribuição da ocupação do pai (O) e da ocupação do filho (D). Captam,
portanto, o efeito da mobilidade estrutural sobre a mobilidade total. O parâmetro ODij representa o
efeito interação, ou seja, o efeito da associação entre a ocupação do pai e do filho sobre )F(Log ij ,
mensurando, portanto, a mobilidade circular ou por trocas.
O modelo que contempla todos os possíveis efeitos é chamado de modelo saturado e reproduz
perfeitamente a tabela original, ou seja, não há diferença entre as freqüências observadas e
esperadas. O modelo da equação 16 não tem qualquer interesse substantivo. O interessante é testar o
modelo de independência em que 0ODij .
Dj
Oiij )F(Log (16)
A avaliação do modelo é realizada através da comparação entre as freqüências observadas na tabela
de mobilidade e as freqüências observadas no modelo de base escolhido. Se essas freqüências forem
consideradas suficientemente próximas diz-se que o modelo mais simples se ajusta bem aos dados
e, portanto, oferece uma explicação razoável para as relações observadas na tabela. Nesse caso,
estaria sendo testado se o modelo de mobilidade perfeita ou de independência estatística entre a
posição social de origem e destino se ajusta bem aos dados observados.
No entanto, o interesse analítico maior com a aplicação desse modelo é avaliar a evolução temporal
do padrão da mobilidade de circulação e, para tanto, a tabela tem mais uma dimensão: tempo. A
dimensão tempo será verificada a partir da comparação da mobilidade intergeracional entre
80
Ver Agresti (1990) , Hout (1983). Para os estudos sobre o tema no Brasil, o primeiro artigo a adotar este tipo de
modelo foi Valle Silva e Roditi (1988). Ver também Scalon (1997), Andrade (1997) e Pastore e Valle e Silva (2000).
136
ocupação do pai e dos(as) filhos(as) com 30 a 55 anos nos anos 1976, 1988 e 1996. A idéia aqui é
captar se houve mudança no padrão de mobilidade circular intergeracional total, quer dizer, entre a
ocupação do pai e a ocupação do(a) filho(a) numa fase mais madura do mercado de trabalho.
A incorporação do termo tempo gera um modelo saturado que pode ser expresso da seguinte
maneira:
ODTijk
ODij
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log (17)
onde )F(Log ijk representa as freqüências na tabela tridimensional sobre ocupação do pai (O),
ocupação do filho (D) e coorte de entrada do(a) filho(a) no mercado de trabalho ou ano da Pnad (T).
Os parâmetros Tk
Dj
Oi ,, representam os efeitos sobre )F(Log ijk das respectivas distribuições
marginais da ocupação do pai, da ocupação do filho e do tamanho da coorte de entrada no mercado
de trabalho. Já os termos OTik e DT
jk representam os efeitos da variação temporal (entre as coortes)
nas distribuições ocupacionais do pai e do filho. Quando se inclui no modelo os cinco termos
descritos anteriormente controla-se a mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo .
Da mesma forma que antes, o termo ODij representa o efeito da interação entre pai e filho sobre a
mobilidade total, controlados os efeitos da mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo.
Pode-se dizer, então, que esse efeito interação representa o padrão da mobilidade circular ou por
trocas. O último termo ODTijk estima o efeito da variação da associação entre pai e filho ao longo do
tempo (entre as coortes), ou seja, o efeito interação tripla representa a variação temporal do padrão
de mobilidade circular.
Nas palavras de Valle Silva e Roditi (1988), "pode-se dizer que o modelo saturado, conforme
especificado, decompõe a mobilidade total observada em três componentes básicos de interesse:
a) a mobilidade estrutural e sua variação ao longo do tempo
( DTjk
OTik
Tk
Dj
Oi ,,,, );
b) o padrão básico da associação entre pai e filho, ou seja, o padrão da mobilidade circular
(ODij );
c) a variação temporal do padrão de mobilidade circular
(ODTijk )."
137
Como já visto anteriormente, esse modelo é saturado e, dessa forma, não apresenta interesse teórico.
"O que interessa teoricamente é a possibilidade de um modelo mais parcimonioso reproduzir, com
um nível aceitável de precisão, a tabela de mobilidade observada. Neste caso, dir-se-á que esse
modelo mais parcimonioso é preferível àquele que contém mais parâmetros". (Valle Silva e Pastore,
2000) Antes, no entanto, vale a pena introduzir alguns conceitos necessários para estabelecer as
hipóteses corretas a serem testadas no modelo.
Uma tabela tridimensional O x D x T apresenta as associações entre as variáveis O, D e T. A partir
disto, pode-se obter tabelas parciais entre duas variáveis (por exemplo, O e D) mantendo a terceira
variável (T) fixo em determinado nível, obtendo-se a associação parcial. Quando essa associação O
– C varia com as diferentes categorias de T, pode-se dizer que existe associação entre as três
variáveis. Se for possível ignorar essa terceira variável, a tabela tridimensional pode ser analisada
com a tabela bidimensional (O x D) contendo as associações marginais entre essas duas variáveis.
Levando em consideração, de acordo com Powers e Xie (2000) a tabela tridimensional apresenta
diversas classes de modelo dependendo das associações entre as variáveis, que são analisadas a
seguir.
Classe 1 refere-se ao modelo de independência mútua e tem a seguinte notação O,D,T. A principal
característica é que não existe interações e o modelo tri-variado transforma-se num modelo
univariado. Isso quer dizer que 0ODTijk
ODij
DTjk
OTik , para todo i, j e k. Nesse caso,
associação marginal é igual a associação parcial que é igual a zero.
Classe 2 pode ser descrita pelo modelo de independência conjunta com a seguinte notação (O, DT),
(OD,T) ou (OT,D). Esse modelo tem somente uma interação entre duas variáveis. Considerando o
modelo (O,DT) tem-se que 0ODTijk
ODij
OTik , para todo i, j e k, de tal forma que O é
independente das outras duas variáveis. Assim, a associação marginal de OD e de OT é igual a
associação parcial de OD e OT , que é igual a 0.
Classe 3 representa o modelo de independência condicional, que tem a notação (OT, DT), (OD,
DT), (OD, OT). No primeiro caso, tem-se que O e D são independentes dado T. Nesse caso, a
associação marginal OD é diferente da associação parcial OD (igual a 0). Segundo o autor
supracitado: “This is an important model. It means that the marginal association (OD) may be
138
spurious if one ignores a relevant variable (T), similar to an omitted-variable bias in linear
regressions.”
Classe 4 refere-se ao modelo sem interação ‘tripla’ (OD, OT, DT). Esse modelo permite todas as
interações duplas, mas a não interação tripla implica que as associações são homogêneas, ou seja, as
associações parciais duplas não variam com a terceira variável. Logo, a associação marginal entre
duas variáveis é diferente da associação parcial entre duas variáveis, para qualquer par de variáveis.
Essas classes de modelo estão sistematizadas na tabela V.2.
Tabela V.2
Modelos log-lineares para tabela tridimensional Notação do modelo Descrição Hipótese nula
ODT Saturado
OD, OT, DT Não interação de 2a ordem 0ijk
OT, DT Independência condicional dado T 0ij
OD, OT Independência condicional dado O 0jk
OD, DT Independência condicional dado D 0ik
OT, D Independência parcial de D 0jkij
DT, O Independência parcial de O 0ikij
OD, T Independência parcial de T 0jkik
O,D,T Independência mútua 0ijkjkikij
Considere então o modelo OD, OT, DT em que o termo de maior ordem tenha sido omitido, ou seja,
0ODTijk . A equação reduzida será:
ODij
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log (18)
Esse modelo capta as diferenças nas distribuições ocupacionais e suas mudanças ao longo do
tempo, mas admite que a associação entre a categoria ocupacional do pai e do filho (OD) é
constante ao longo do tempo (T). Sendo assim, é o modelo que testa a hipótese do padrão de
mobilidade circular constante ao longo do tempo. Em outras palavras, fornece uma indicação sobre
a evolução da distribuição de oportunidades para movimentação dos indivíduos no sistema de
estratificação social ao longo do tempo.
Se retirarmos também o termo de interação entre a ocupação do pai e do filho, isto é, aplicarmos o
modelo OT, DT em que a hipótese nula é 0ODTijk
ODij , tem-se que não somente inexiste
139
variação temporal no padrão de mobilidade circular como, dentro de cada coorte, as variáveis
ocupação do pai e do filho são condicionalmente independentes. Isto quer dizer que a mobilidade
total seria totalmente explicada pelos efeitos da mobilidade estrutural e sua variação ao longo do
tempo. A equação seria reduzida a
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log (19)
O modelo expresso pela equação 19 servirá de modelo de base ao se avaliar os ganhos explicativos
advindos decorrentes da utilização do modelo mais complexo de padrão constante da mobilidade
circular ao longo do tempo.
Essas hipóteses também serão testadas para um outro tipo de modelo denominado de mobilidade
quase perfeita, que corresponde à hipótese de quase independência no contexto da mobilidade
social. Como a diagonal principal tem um peso maior nas tabelas de mobilidade social, ela pode
disfarçar as mudanças existentes nos padrões de mobilidade fora da diagonal principal. Então,
aplica-se o modelo log-linear geral somente para os triângulos acima e abaixo da diagonal principal.
"A hipótese subjacente é que uma vez que o indivíduo 'escape' do seu estrato de origem, o seu
destino é perfeitamente aleatório". (Valle Silva e Roditi, 1986) Em outras palavras, ao eliminar o
efeito da diagonal principal testa-se a existência de um padrão de mobilidade social e não de
herança ocupacional.
De acordo com Hout (1983), o modelo log-linear de mobilidade quase perfeita para a tabela
bidimensional pode ser expresso da seguinte forma:
ODij
Dj
Oiij )F(Log para i=j (20)
Dj
Oiij )F(Log , para i j (21)
Esse modelo testa a hipótese de independência somente numa determinada parte da tabela, qual
seja, fora da diagonal principal. Assim, a idéia é avaliar se o modelo assume um padrão de
associação da ocupação do pai e do filho na diagonal principal, mas fora dela não é plausível. Para
testar a hipótese de estabilidade temporal do padrão de mobilidade circular no modelo de
mobilidade quase perfeita tem-se que
140
ODTijk
ODij
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log , para i=j (22)
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log , para i j (23)
Ou
ODij
DTjk
OTik
Tk
Dj
Oiijk )F(Log , para i j (24)
O modelo expresso por 23 e 24 testa a hipótese nula de não associação entre a ocupação do pai e do
filho fora da diagonal principal. Já aquele expresso pelas equações 22 e 24 considera a associação
entre ocupação do pai e do filho, mas testa a hipótese de que esse padrão de associação é estável ao
longo do tempo para os casos fora da diagonal principal.
Por fim, pode-se considerar a tabela de mobilidade social como uma matriz de transição onde se
teria a possibilidade de testar a hipótese de time stationarity na cadeia de Markov. A questão que se
pretende responder é se as probabilidades de transição nas três matrizes são iguais, o que quer dizer
que não houve mudanças ao longo do tempo (hipótese de time stationarity).81
Segundo Knoke e Burke (1980), o modelo log-linear correspondente à hipótese de probabilidade de
transição estacionária no tempo é o seguinte:
OTik
ODij
Tk
Dj
Oiijk )F(Log (25)
A equação 25 expressa o modelo (OD, OT) que, conforme pode ser visto na tabela V.2, supõe
independência condicional de D e T dado O, ou seja, testa a hipótese de que 0jk . O termo OT
no modelo tem a mesma função que requer que as probabilidades de transição somem 1 em cada
linha, o que significa que a distribuição de casos entre as situações na origem é irrelevante para o
modelo. Mas, dada a situação de origem, O, o destino, D, é independente do tempo de transição, T.
Logo, o termo jk não está incluído no modelo.
81
Essa estimativa será realizada de forma puramente ilustrativa para o caso geral por considerar que a mobilidade é
determinada pelo movimento potencial num período observado que não necessariamente pode ser projetado.
141
V.3. Análise dos resultados sobre as tendências da mobilidade social intergeracional circular
O modelo A.1 da tabela V.3 é o modelo de base especificado anteriormente pela equação 19. Como
ele implica a hipótese de independência entre a ocupação do pai e do filho, os resultados confirmam
o esperado, que o modelo não se ajusta bem aos dados, apresentando, no Rio de Janeiro, um 2G
de 1.327 com 192 graus de liberdade e uma proporção de casos mal alocados de 19,4%. No Brasil
observam-se resultados semelhantes e, portanto, rejeita-se para ambos os casos a hipótese de que há
mudanças temporais nas distribuições ocupacionais do pai e do filho, mas não existe associação
entre a ocupação do pai e do filho.
Tabela V.3
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da
mobilidade social circular intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G
g.l. 2R
Rio de Janeiro
A. Todos
1. OT, DT 1.327,48 192 0,000 0,00 19,43
2. OT, OD 368,92 144 0,000 0,72 9,62
3. OT, DT, OD 164,71 128 0,000 0,88 5,43
B. Móveis
1. OT, DT 864,34 165 0,000 0,35 13,95
2. OT, DT, OD 146,51 101 0,000 0,89 4,58
Brasil
A. Todos
1. OT, DT 15.189,11 192 0,000 0,00 19,03
2. OT, OD 2.868,91 144 0,000 0,81 8,30
3. OT, DT, OD 815,07 128 0,000 0,95 3,74
B. Móveis
1. OT, DT 9.212,39 165 0,000 0,39 12,54
2. OT, DT, OD 545,35 101 0,000 0,96 2,47
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
O modelo A.2 testa a hipótese de que as probabilidades de transição são constantes no tempo de
Markov, quer dizer uma vez conhecida a origem (ocupação do pai), o estágio final (ocupação do
filho) é independente do tempo de transição T. O valor de 2G indica a rejeição formal da hipótese
nula mas o modelo tem um poder explicativo alto e os casos mal alocados diminuem
consideravelmente. Levando-se em consideração esses resultados, pode-se dizer que o modelo
estacionário no tempo de Markov se ajusta bem aos dados observados.
No entanto, o modelo A.3 que testa a hipótese de estabilidade do padrão temporal de mobilidade
circular, conforme especificado pela equação 18 descrita anteriormente, revela-se melhor. Verifica-
142
se, primeiramente, que em geral o valor da estatística de 2G diminui e, apesar de indicar a rejeição
formal da hipótese nula, as outras características caminham no mesmo sentido de recomendar a não
rejeição da hipótese nula.
No Brasil, o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular dá conta de 95% da variação
do modelo de base e tem uma proporção de casos mal alocados de apenas 4%. Tomando-se esses
indicadores aconselha-se a não rejeitar a hipótese nula, já que as outras estatísticas de ajuste do
modelo, que não o 2G , apontam no sentido de que o modelo de invariância temporal da mobilidade
circular no Brasil se ajusta muito bem aos dados.
No Rio de Janeiro, pode-se dizer que o valor de 2G junto o 2R de 88% e 5% dos casos mal
alocados no modelo, indicam a não rejeição da hipótese nula. Assim, o modelo de estabilidade
temporal da mobilidade circular intergeracional se ajusta bem aos valores observados no Rio de
Janeiro.
O modelo B.1, especificado pela equação 24, testa a hipótese de que as distribuições marginais
mudam ao longo do tempo e que não existe interação pai-filho fora da diagonal principal.
Examinando os resultados da tabela V.3, rejeita-se a hipótese de independência entre a ocupação do
pai e do filho, o que significa que existe um padrão de mobilidade que não é herança ocupacional,
ou seja, mesmo quando o indivíduo não permanece na mesma categoria ocupacional de seu pai,
existe um padrão de associação entre posição social do pai e do filho. Além disso, o modelo B.2
para o caso dos móveis também aponta no sentido de não rejeitar a hipótese nula, revelando que o
modelo de estabilidade temporal da interação pai-filho também se ajusta bem aos dados.
Se considerarmos ainda as outras medidas, como por exemplo o 2R pode-se dizer que o modelo de
associação da ocupação pai-filho constante no tempo dá conta de quase a totalidade da variação do
modelo de base, o que quer dizer que é o que melhor se ajusta aos dados observados no Rio de
Janeiro.
Isso nos leva à conclusão de que embora a estatística 2G aponte para uma indicação formal de que
existe diferenças temporais no padrão de associação entre a ocupação do pai e do filho que são
estatisticamente significativas, estas são modestas e, pelo resultado das outras medidas, pode-se
dizer que nos últimos 20 anos os padrões de mobilidade social intergeracional permaneceram
143
praticamente inalterados, já que esse modelo dá conta de quase toda a freqüência empiricamente
observada.
V.3.1. Escolaridade
Com intuito de explorar mais o padrão temporal estável da mobilidade circular, analisar-se-á se esse
modelo também se ajusta bem de acordo com outras características dos indivíduos. Em primeiro
lugar, destaca-se a educação como variável importante na mediação entre a origem social e o
destino ocupacional dos indivíduos. Como coloca Silva e Roditi (1986):
“O fato do efeito da ocupação paterna sobre a ocupação do filho não ser basicamente direto abre a
possibilidade da estabilidade temporal observada nesse efeito ser oriunda de duas tendências
contraditórias. Por exemplo, ao mesmo tempo em que haja uma crescente ‘democratização’ no
acesso e na progressão escolar, pode ocorrer um paulatino enrijecimento dos requisitos
educacionais na alocação de posições na estrutura ocupacional. Em outras palavras, é possível que a
interação pai-filho no que diz respeito à relação entre ocupação do pai e educação venham se
enfraquecendo ao longo das coortes ao mesmo tempo em que as interações correspondentes na
relação entre educação e primeira ocupação venham se fortalecendo. O resultado dessas tendências
contraditórias poderia ser uma falsa estabilidade temporal na mobilidade de circulação”.
A tabela V.4 apresenta os resultados para os modelos que testam associação entre ocupação do pai
e escolaridade do filho (referente a linha com inicial 1), isto é, que a distribuição ocupacional do pai
e a distribuição educacional do(a) filho(a) variam ao longo do tempo e que não existe associação
entre a ocupação do pai e a escolaridade do filho. Verifica-se um valor de 2G bem acima do
esperado dado com os devidos graus de liberdade indicando a rejeição da hipótese nula, ou seja, de
que não existe associação entre ocupação do pai e escolaridade do filho. Além disso, o índice de
dissimilaridade apresenta mais de 20% de casos mal alocados, reforçando a rejeição do modelo que
postula a hipótese nula de não associação entre ocupação do pai e escolaridade do filho.
144
Tabela V.4
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da
mobilidade intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G
g.l. 2R
Rio de Janeiro
1. OT, DT 1.667,56 96 0,000 0,00 21,78
2. OT, DT, OD 115,69 64 0,000 0,93 4,66
Brasil
1. OT, DT 19.410,70 96 0,000 0,00 21,06
2. OT, DT, OD 415,69 64 0,000 0,98 2,23
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Escolaridade atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
Analisando agora o modelo de estabilidade temporal do padrão de associação entre a ocupação do
pai e a escolaridade do filho percebe-se que, apesar de se ter uma indicação formal de rejeição da
hipótese nula com o valor de 2G , o índice de dissimilaridade cai bastante. Além disso, esse modelo
explica quase a totalidade da variação em relação ao modelo base. Esses resultados tomados em
conjunto indicam que o modelo de estabilidade temporal do padrão de associação entre a ocupação
do pai e do filho se ajusta bem aos dados observados.
A título de exercício para testar o modelo de mobilidade intergeracional educacional, a tabela V.5
mostra, mais uma vez, que o modelo que considera a independência entre o nível de escolaridade do
pai e do filho não se ajusta bem aos dados. No caso do modelo A.2, tanto para o Rio quanto para o
Brasil, tem-se uma indicação formal de rejeição da hipótese nula a partir do valor de 2G com os
devidos graus de liberdade mas os baixos índices de dissimilaridade e o 2R na casa de 0.98
sugerem fortemente que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular intergeracional
educacional se ajusta bem aos dados.
Tabela V.5
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da
mobilidade educacional circular intergeracional: 1976, 1988 e 1996 Modelo 2G g.l. 2R
Rio de Janeiro A. Todos
1. OT, DT 2.337,83 48 0,000 0,00 22,86
2. OT, DT, OD 51,51 32 0,000 0,99 2,58
B. Móveis
1. OT, DT 886,17 33 0,000 0,68 11,05
2. OT, DT, OD 16,56 17 0,000 1,00 1,23
Brasil A. Todos
1. OT, DT 23.974,64 48 0,000 0,00 19,22
2. OT, DT, OD 185,47 32 0,000 0,98 1,09
B. Móveis
1. OT, DT 7.772,43 33 0,000 0,62 8,10
2. OT, DT, OD 51,51 17 0,000 0,99 0,32
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Escolaridade do pai; D = Escolaridade atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
145
Já, para o modelo B.2, quer dizer para os móveis, a estatística 2G apresenta diferenças entre Brasil
e Rio. No Rio o valor de 2G de 16,6 com 17 graus de liberdade indica não rejeição da hipótese nula,
ou seja, claramente no Rio existe um padrão temporal estável da associação entre a escolaridade do
pai e do(a) filho(a). Além disso, o índice de dissimilaridade cai a níveis baixíssimos e o 2R chega a
representar a totalidade da variação em relação ao modelo de base. No Brasil, o valor de 2G de 51,5
com 17 graus de liberdade sugere a rejeição da hipótese nula. No entanto, o índice de
dissimilaridade é quase zero (0,32) e o 2R é de 0.99, o que quer dizer que o modelo de estabilidade
temporal do padrão de mobilidade circular intergeracional educacional é bastante plausível também
para o Brasil
Esses resultados revelam que apesar do aumento do nível de escolaridade as oportunidades relativas
dos indivíduos nos diferentes níveis educacionais também se mantiverem praticamente estáveis ao
longo dos anos. Pode-se dizer, inclusive, que o modelo de estabilidade temporal no padrão da
mobilidade circular intergeracional educacional para os móveis se ajustou melhor que no caso
ocupacional. Isso quer dizer que uma vez que o indivíduo escape da herança educacional existe um
padrão de mobilidade circular que não muda ao longo do tempo. É como se a média total se
deslocasse para cima, mas os movimentos das pessoas entre os níveis de escolaridade ainda são
dependentes do ponto de origem, quer dizer, a escolaridade dos pais.
V.3.2. Sexo
A inserção das mulheres no mercado de trabalho tem aumentado ao longo do tempo, como pode ser
visto pelo crescimento da taxa de participação, assim como estão ocorrendo mudanças na estrutura
ocupacional, apesar da segregação ocupacional no mercado de trabalho.
Mas será que, controlando pelas mudanças estruturais, será que existe um padrão diferenciado de
distribuição de oportunidades ao longo do tempo para homens e mulheres? A análise dos resultados
da tabela V.6 dos modelos aplicados para universos separados de homens e mulheres revela que não
existe diferenciação e que em ambos os casos, o modelo de estabilidade temporal da mobilidade
social intergeracional circular se ajusta bem aos dados.
146
Tabela V.6
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da
mobilidade social circular intergeracional por sexo: 1976, 1988 e 1996 HOMENS MULHERES
Modelo 2G g.l. 2R 2G
g.l. 2R
Rio de Janeiro
A. Todos
1. OT, DT 940,3 192 0,00 20,02 645,0 192 0,00 22,72
2. OT, DT, OD 161,2 128 0,83 6,77 129,9 128 0,80 7,09
B. Móveis
1. OT, DT 590,5 165 0,37 14,08 458,7 165 0,29 16,78
2. OT, DT, OD 139,8 101 0,85 5,43 108,1 101 0,83 5,91
Brasil
A. Todos
1. OT, DT 10.900,7 192 0,00 19,35 5.662,1 192 0,00 18,56
2. OT, DT, OD 499,1 128 0,95 3,67 380,1 128 0,93 3,51
B. Móveis
1. OT, DT 5.585,1 165 0,49 11,84 4.187,2 165 0,26 14,75
2. OT, DT, OD 315,3 101 0,97 2,27 324,7 101 0,94 2,84
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
Verifica-se um comportamento bastante semelhante entre as estatísticas para o Rio de Janeiro e para
o Brasil. Apesar de 2G indicar a rejeição formal da hipótese nula, o aumento do poder explicativo e
a diminuição do número de casos mal alocados quando se considera o modelo de estabilidade
temporal da mobilidade circular revelam que este se ajusta bem aos dados.
Vale notar que o poder explicativo desse modelo é ligeiramente menor para o caso das mulheres.
Contudo, dá conta de 80% das freqüências observadas no Rio e 93% para o Brasil. Assim, pode-se
dizer que o padrão temporal estável da mobilidade circular ocorre tanto para os filhos quanto para
as filhas.
V.3.3. Cor
O Rio de Janeiro é o segundo Estado com a maior participação de negros, depois de Salvador, e
vem crescendo ao longo do tempo.82
Considerando a população não branca (negros e pardos)
verifica-se uma participação 40% na população total. Diversos artigos apontam para o fato de que
os não-brancos ganham menos que os brancos e a explicação principal é que isso ocorre mais por
82
Ver Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE (2000). Só para dar uma idéia em 1992, 60% dos residentes no Rio
eram brancos, 11% negros e 28% pardos. Em 1999, as respectivas proporções são as seguintes: 61%, 13% e 26%.
147
conta da desigualdade de oportunidades no acesso e na qualidade da educação do que por um
processo discriminatório no mercado de trabalho.83
Dada a importância histórica da participação dos negros e pardos na sociedade fluminense, busca-se
testar se o padrão de distribuição de oportunidades no sistema de estratificação social também
permaneceu constante ao longo do tempo para brancos e não-brancos. A tabela V.7 apresenta os
resultados de ajuste dos modelos. Pode-se dizer que o modelo de estabilidade temporal no padrão de
mobilidade circular se ajusta bem para o caso da população branca no Rio de Janeiro.
A linha A.2 mostra um valor de 2G de 104 com 128 graus de liberdade indicando não se rejeitar a
hipótese nula, reforçado pelo fato de o 2R ser de 0,87 e o índice de dissimilaridade de 5,3.
Tomando esses resultados de ajuste do modelo em conjunto pode-se dizer que o modelo de padrão
temporal estável da mobilidade circular para a população branca se ajusta muito bem.
Tabela V.7
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da
mobilidade social circular intergeracional por cor: 1976, 1988 e 1996
Modelo 2G g.l. 2R 2G
g.l. 2R
Rio de Janeiro
A. Todos
1. OT, DT 809,2 192 0,00 19,26 430,2 192 0,00 17,79
2. OT, DT, OD 104,2 128 0,87 5,30 173,3 128 0,60 8,60
B. Móveis
1. OT, DT 529,4 165 0,35 13,88 324,7 165 0,25 13,16
2. OT, DT, OD 93,9 101 0,88 4,34 149,5 101 0,65 7,16
Brasil
A. Todos
1. OT, DT 8.094,8 192 0,00 19,48 4.760,6 192 0,00 14,79
2. OT, DT, OD 357,2 128 0,96 3,06 441,7 128 0,91 4,03
B. Móveis
1. OT, DT 5.122,2 165 0,37 13,37 2.854,5 165 0,40 15,64
2. OT, DT, OD 294,0 101 0,96 2,48 289,4 101 0,94 2,39
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
Quando se analisa a linha A.2 para os não brancos, percebe-se que 2G indica a rejeição da hipótese
nula. Além disso, o 2R é 0,60, indicando que o modelo não consegue explicar uma boa parte da
freqüência observada. Ou seja, parece que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade
circular não se ajusta bem para a população não-branca do Estado do Rio.
83
Valle Silva (1997), entre outros.
148
Esse é um caso típico em que é importante analisar os resíduos para mapear as mudanças
significativas no padrão. A tabela V.8 apresenta os resíduos padronizados do ajustamento do
modelo de estabilidade temporal para o Rio de Janeiro em 1996.
Tabela V.8
Resíduos de 1996 do modelo de estabilidade temporal da mobilidade social intergeracional circular
dos não brancos entre 1976, 1988 e 1996 I II III IV V VI VII VIII IX
I -0,46 0,18 0,49 -0,04 -0,13 0,94 -1,14 0,04
II 1,17 -1,10 0,78 0,04 -0,88 -1,91 1,38 0,41 0,00
III 0,06 0,06 -0,37 -1,07 0,47 0,83 0,82 -0,22 0,81
IV -0,40 -0,56 0,09 0,45 0,67 -0,05 -0,67 -0,11 0,15
V 0,05 0,42 -0,14 -0,27 -0,44 0,55 -0,20 0,00 0,04
VI -0,34 0,09 -1,21 0,52 -0,07 0,67 -0,17 -0,11 0,22
VII -1,03 0,88 -1,09 0,49 1,56 -0,21 0,68 -0,23
VIII 0,44 1,11 -0,02 0,09 -0,42 -0,78 -0,81 0,52 0,81
IX 0,34 0,83 0,17 -0,12 0,34 -0,01 -0,08 -0,38 -0,63
Fonte: Pnads 1976, 1988 e 1996.
Primeiramente, se somarmos os resíduos na diagonal principal verifica-se um total de 0,68, sendo
que é negativo nos primeiros estratos e positivos nos últimos (com exceção do último). Isso pode
estar mostrando que a herança nos estratos inferiores está diminuindo e nos estratos médios-altos
aumentando.
Em segundo lugar, a soma dos resíduos acima da diagonal principal (isto é, para os que tiveram
mobilidade ascendente) é 2,69 e abaixo da diagonal principal é 0,8. Ou seja, os valores observados
eram relativamente maiores para a mobilidade ascendente do que para a descendente. Vale destacar
os valores positivos para a última coluna da tabela, significando que os fluxos para o estrato mais
alto do sistema de estratificação social aumentaram entre 1976 e 1996.
Em que pese a constatação da queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio nesse período, o
fraco ajuste do modelo de estabilidade no padrão de mobilidade circular ao longo do tempo se deve
basicamente a uma redistribuição na parte superior da matriz, quer dizer, nas possibilidades de
mobilidade ascendente para os não brancos.
149
V.3.4. Migrante
Os estudos sobre a mobilidade social intergeracional dos migrantes têm apontado para uma
possibilidade maior de ascensão social relativamente aos não migrantes.84
Em particular, a migração
rural-urbana que vem sendo sempre associada à mobilidade ascendente colocando um peso
significativo nesse processo no Brasil.
A idéia aqui é explorar se o padrão de mobilidade circular constante no tempo pode ser observado
para o caso de migrantes e de não migrantes. Conforme os resultados da tabela V.9, o modelo se
ajusta bem para não migrantes tanto no Rio quanto no Brasil. Observe, no entanto, que o poder
explicativo visto pela estatística 2R é maior para os naturais do que para os migrantes no Rio de
Janeiro. Tem-se na linha A.2, um 2R de 0,81 para os naturais do Rio e 0,73 para os migrantes. Isso
não ocorre para a média brasileira que registra um 2R praticamente estável para ambos os casos na
ordem de 0,91.
Tabela V.9
Resultados dos modelos de teste da estabilidade temporal da mobilidade
social circular intergeracional por condição de migração: 1976, 1988 e 1996 NATURAIS MIGRANTES
Modelo 2G g.l. 2R 2G g.l. 2R
A. Todos
1. OT, DT 546,85 192 0,00 20,85 509,23 192 0,00 20,15
2. OT, DT, OD 106,01 128 0,81 7,45 137,46 128 0,73 8,32
B. Móveis
1. OT, DT 367,23 165 0,33 14,75 376,04 165 0,26 15,91
2. OT, DT, OD 98,55 101 0,82 6,39 116,51 101 0,77 7,13
Brasil A. Todos
1. OT, DT 7.183,20 192 0,00 17,25 3.327,46 192 0,00 16,43
2. OT, DT, OD 545,98 128 0,92 4,41 297,40 128 0,91 4,23
B. Móveis
1. OT, DT 4.393,12 165 0,39 11,88 2.227,47 165 0,33 12,03
2. OT, DT, OD 380,57 101 0,95 2,98 233,02 101 0,93 3,26
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996. Obs: O = Ocupação do pai; D = Ocupação atual do filho;
T = 1976, 1988 e 1996.
Pode-se inferir, então, que o modelo de estabilidade temporal da mobilidade circular não se ajusta
tão bem para o caso de migrantes no Rio de Janeiro. Vale a pena, então, analisar os resíduos
padronizados para tentar identificar as mudanças no padrão. Observa-se na tabela V.10 que a
150
herança ocupacional (diagonal principal) diminui em todos os estratos (com exceção da categoria
IV).
Tabela V.10
Resíduos de 1996 do modelo de estabilidade temporal da mobilidade
intergeracional circular dos migrantes entre 1976, 1988 e 1996 I II III IV V VI VII VIII IX
I -0,60 -0,15 -0,12 -0,35 0,71 0,92 -1,47 1,74 0,56
II 0,11 -0,17 0,34 0,70 -0,31 -0,99 1,23 -0,92 0,10
III 0,93 -0,86 -0,09 -0,85 -0,10 0,45 1,23 -0,44 -0,20
IV -0,30 0,08 0,21 0,21 -0,22 -0,29 0,07 0,36 -0,30
V 0,62 0,67 -0,19 -0,26 -1,37 0,14 0,36 -0,63 0,67
VI 0,41 -0,66 0,02 0,18 0,79 -0,07 -0,31 -0,22 -0,23
VII -0,45 1,16 -0,23 -0,27 0,47 0,35 -0,19 0,47 -0,61
VIII 0,28 0,64 -0,35 0,15 -0,73 0,05 -0,60 -0,10 0,66
IX 0,77 1,06 -0,02 -0,28 -0,08 -0,36
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
A soma dos resíduos na parte superior à diagonal principal é de 1,97 e na inferior é 3,67, indicando
que desvios em relação ao esperado são relativamente maiores para mobilidade descendente que
ascendente. Em outras palavras, os fluxos de mobilidade descendente aumentaram entre 1976 e
1996 para os migrantes relativamente mais que os ascendentes, quando se compara com os valores
esperados. Isso pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo perfil mais antigo dos imigrantes do
Rio de Janeiro.
Conclusão
Enfim, o que aconteceu com a desigualdade de oportunidades medida pelo comportamento do
padrão de mobilidade circular ou por trocas entre gerações? Para responder a essa pergunta aplicou-
se os modelos log-lineares às tabelas de mobilidade social intergeracional com o intuito de verificar
se o modelo que considera o padrão temporal de mobilidade circular constante se ajusta bem aos
dados do Rio.
Os resultados dos modelos log-lineares que especificam a hipótese sobre estabilidade temporal do
padrão de mobilidade social intergeracional circular mostram um bom ajuste aos dados observados
tanto para a sociedade brasileira como um todo quanto para a fluminense. Pode-se dizer, então, que
nesses 20 anos os padrões de mobilidade social intergeracional permaneceram praticamente
inalterados, já que esse modelo dá conta de quase toda a freqüência empiricamente observada,
sugerindo que não houve mudanças significativas no quadro de distribuição de oportunidades.
84
Jannuzzi (1999) mostra que, no Brasil, a taxa de mobilidade ascendente para os migrantes é de 67% enquanto que a
de não-migrantes é de 52%.
151
Os resultados para mobilidade educacional intergeracional revelam que apesar do aumento do nível
de escolaridade as oportunidades relativas dos indivíduos nos diferentes níveis educacionais
também se mantiverem praticamente estáveis ao longo dos anos. Verificou-se, inclusive, que o
modelo de estabilidade temporal do padrão da mobilidade circular intergeracional educacional para
os móveis se ajustou melhor que no caso ocupacional. Isso quer dizer que uma vez que o indivíduo
escape da herança educacional paterna existe um padrão de mobilidade circular que não muda ao
longo do tempo. É como se a média total se deslocasse para cima, mas os movimentos das pessoas
entre os níveis de escolaridade ainda são dependentes do ponto de origem, quer dizer, da
escolaridade dos pais.
Na busca de diferenças nos padrão entre grupos distintos examinou-se esse modelo por sexo, cor e
condição de migração. Primeiramente, verificou-se que não existe diferença entre homens e
mulheres, quer dizer, o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular se ajusta bem aos
dados observados tanto para os filhos quanto para as filhas.
No entanto, parece que o modelo de padrão temporal estável da mobilidade circular não se ajusta
tão bem para a população não-branca do Estado do Rio, diferentemente da média brasileira. Em que
pese a constatação da queda da taxa de mobilidade ascendente no Rio nesse período, ajuste mais
fraco do modelo de estabilidade no padrão de mobilidade circular ao longo do tempo dos não
brancos se deve basicamente a uma redistribuição na parte superior da matriz, quer dizer, nas
possibilidades de mobilidade ascendente relativamente aos valores esperados para os não brancos.
Por fim, vale dizer que o modelo também não se ajusta tão bem para migrantes no Rio. Contudo,
diferentemente do caso dos não brancos, a análise dos resíduos revela que isso se deve ao aumento
dos fluxos de mobilidade descendente entre 1976 e 1996 maiores que os esperado para os migrantes
relativamente aos ascendentes. Isso pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo fato de estar
aumentando a participação de imigrantes antigos no Rio.
Em suma, o Rio apresenta um padrão temporal constante da mobilidade social circular
intergeracional, indicando que o grau de abertura ou fluidez do sistema não mudou de forma
significativa ao longo do período considerado. No entanto, esse modelo não se ajusta tão bem aos
casos de trabalhadores negros e pardos e aos migrantes.
No primeiro caso, parece que houve uma melhora no quadro de distribuição de oportunidades para
os negros e pardos, visto que os desvios em relação ao valor esperado são maiores na área de
152
ascensão social do que de descensão. Esse certamente é um resultado muito positivo visto que as
desigualdades socioeconômicas por cor ainda são muito grandes no Brasil. No caso dos migrantes,
ocorre o contrário com os desvios das possibilidades de descensão maiores do que de ascensão
social relativamente aos valores observados. Isso pode ser explicado pelo menos em parte pela
composição por antiguidade dos imigrantes no Rio, onde cresce a participação de migrantes antigos.
153
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma tese, além de estabelecer o diálogo com a literatura, deve avançar com elementos novos de
análise sobre o tema e abrir campos de pesquisa. A contribuição desta tese para o debate sobre
desigualdade no Rio de Janeiro foi feita a partir de uma análise sobre mobilidade social entre
gerações. Ao caracterizar as desigualdades nas chances relativas de alcançar determinada posição
na estrutura social associada à origem social, a mobilidade social expressa as desigualdades de
oportunidades na conquista de bens materiais e simbólicos na sociedade.
Apesar de considerar as características individuais – como nível de escolaridade, experiência,
talento etc – como fundamentais para entender as desigualdades socioeconômicas, o caminho
percorrido nessa tese recuperou aspectos da desigualdade que estão relacionados com a origem
social dos indivíduos marcada por diferenças socioeconômicas que podem ter repercussões nas
gerações futuras.
Nesse sentido, incorpora na análise o fato de que os processos sociais – por exemplo, via capital
social, instituições (escolares, de saúde e outras ligadas à constituição de um sistema de bem-estar),
participação política – agem de forma diferenciada de acordo com a situação de classe, isto é, com o
status socioeconômico (medido por renda e escolaridade) e o tipo de inserção no mundo do trabalho
(definida por características como ser proprietário ou não dos meios de produção, exercer
ocupações manuais ou não manuais). Seguindo uma linha com enfoque weberiano, essas
características seriam importantes para definir estratos sociais que compartilham as mesmas
chances de vida e, portanto, seriam unidos por experiências pessoais semelhantes pautadas
basicamente, mas não somente, por condições econômicas.
O estudo sobre mobilidade social desenvolvido nesta tese, então, teve como preocupação principal
avaliar o quadro de desigualdades de oportunidades no Estado do Rio de Janeiro, a partir da análise
das taxas de mobilidade social intergeracional, que refletem a associação entre a posição social do
pai com a do(a) filho(a) e resultam tanto de talentos e qualidades individuais quanto de processos
sociais. Isso foi feito a partir da medição do volume de mobilidade e da identificação dos padrões de
movimentações entre os estratos sociais. Com isso, pode-se analisar não somente as chances das
pessoas se movimentarem nos sistema de estratificação social quando escapam do estrato de
origem, mas também identificar os caminhos e as barreiras ocorridas de forma sistemática na
movimentação das pessoas por estratos sociais entre as gerações do pai e do filho e que podem ser
154
caracterizados como padrões de mobilidade social. Assim, a principal tarefa imposta aqui foi
analisar a evolução temporal das taxas e padrões de mobilidade social com o intuito de avaliar o
quadro das desigualdades de oportunidades no Rio de Janeiro.
Mas por que no Rio? Afora questões pessoais e sentimentais e a escassez bibliográfica, o Rio é um
palco muito interessante para esse tipo de análise por apresentar movimentos contraditórios no
quadro econômico e social que dificultam a avaliação sobre a evolução das desigualdades de
oportunidades. Por um lado, é o “lugar” que expressa melhor a pós-modernidade no Brasil, por
apresentar a maior taxa de urbanização e ter uma economia baseada no setor serviços, por liderar
um processo de transição demográfica com a menor taxa de fecundidade e uma estrutura etária mais
velha, ter uma população com escolaridade relativamente alta, um número alto de centros de
pesquisa e culturais etc. Por outro lado, a economia fluminense vem perdendo espaço no produto
nacional, a renda média não cresce de forma consistente há um bom tempo, a violência aumenta, a
desigualdade de renda permanece a mesma há décadas, a população que vive em favelas e na
periferia cresce etc.
As características descritas se interrelacionam num complexo sistema em que se torna
extremamente difícil avaliar a evolução da desigualdade de oportunidades. Por exemplo, o aumento
da escolaridade da população como um todo no Rio pode estar gerando maior igualdade de
oportunidades para conquistar trabalho e renda. No entanto, apesar de a maior parte dos indicadores
sociais ter melhorado no Rio, a violência está aumentando. Como a desigualdade de oportunidades
é uma forma de injustiça social, a sua manutenção (ou crescimento?!) pode estar, em alguma
medida, relacionada com o crescimento da violência.
Com essa motivação desenvolveu-se nessa tese uma pesquisa sobre desigualdade no Rio utilizando
como indicadores as taxas e os padrões de mobilidade social entre as gerações do pai e do(a)
filho(a) para avaliar a evolução do quadro de desigualdade de oportunidades. A partir de agora será
realizada uma análise das principais conclusões da desta tese, refletindo sobre suas possíveis
articulações e apresentando potenciais desdobramentos e áreas de pesquisa.
O Rio de Janeiro registrou a maior taxa de mobilidade social do Brasil, indicando uma sociedade
aberta e dinâmica, no sentido de que a posição social dos indivíduos não tem, a princípio, uma
associação muito forte com a origem social. Os dados revelam que 80% das pessoas ocupadas em
1996 no Rio encontravam-se em estratos diferentes de seus pais.
155
No entanto, o Rio é o único estado do Brasil que registra uma diminuição da taxa de mobilidade
ascendente, ou seja, uma diminuição da possibilidade de os(as) filhos(as) estarem num estrato
superior ao de seus pais. Esse comportamento se manteve mesmo depois de calculadas as taxas para
outras formas de estratificação social. Além disso, quando se dividiu a população por sexo e cor,
verificou-se que esse comportamento permanece para homens, para mulheres, para brancos e para
pretos e pardos.
Esse é um resultado forte que caracteriza uma especificidade da sociedade fluminense e, ao
diminuir as possibilidades das pessoas atingirem uma inserção socioeconômica melhor que a de
seus pais, pode mexer na auto-estima, com reflexos sobre o grau e a forma de participação política e
social da população. Essas questões relacionadas à funcionalidade política da mobilidade social não
foram analisadas na tese, mas merecem a atenção de estudiosos pelo potencial explicativo dessa
especificidade do Rio para caracterizar comportamentos políticos e eleitorais, movimentos sociais e
religiosos, violência, entre outros.
Quais fatores poderiam explicar esse comportamento atípico do Rio? Buscaram-se, então,
características específicas da história recente do Rio que pudessem explicar esse fenômeno,
destacando-se dois pontos: (a) mudanças na estrutura ocupacional provocadas pelo declínio da
economia fluminense com a perda de centralidade política-administrativa decorrente da
transferência da capital para Brasília e a posterior fusão do Rio com o estado da Guanabara e (b) os
efeitos demográficos da composição educacional do saldo migratório e seu comportamento ao
longo do tempo e da estrutura etária mais velha.
Em relação ao primeiro campo exploratório, destacam-se dois resultados. O primeiro se refere ao
peso bem menor da passagem rural-urbana na mobilidade ascendente no Rio do que na média
brasileira. O outro resultado está relacionado com o comportamento temporal da contribuição de um
setor muito importante na geração de trabalho e renda na história do Rio, qual seja, a administração
pública. Esse setor registra a maior queda da participação na ocupação total do Rio, contrariamente
ao crescimento ocorrido na média brasileira.
Esse ponto merece uma reflexão maior na medida em que a queda da contribuição da administração
pública na ocupação total do Rio explica, pelo menos em parte, a diminuição da participação do
estrato social composto por trabalhadores em ocupações técnicas e de escritório (não manuais de
rotina), que tem um peso importante na estrutura ocupacional e, por ser um estrato intermediário
tende a ter uma mobilidade mais alta.
156
A combinação da evolução das taxas e dos padrões de mobilidade com a diminuição do peso da
administração pública na ocupação total aumentou a barreira à mobilidade ascendente, refletida no
encolhimento do estrato de ocupações não-manuais de rotina. De forma caricatural, poder-se-ia
pensar que agora, mais do que outrora, para os estratos de trabalhadores em ocupações manuais
ascenderem, deve-se pular esse estrato não-manual de rotina e ir direto para o não-manual de alta
qualificação (Empregadores, Administradores e Profissionais), o que se torna muito mais difícil.
Até porque, diferentemente da média brasileira, os estratos mais privilegiados da estrutura social
estão se tornando mais fechados para pessoas de outras origens sociais ao longo do tempo no Rio.
Esses resultados tomados em conjunto revelam que as explicações têm raízes na história do Rio
como capital do país, que se desenvolveu predominantemente com uma economia de serviços nas
cidades, tem a maior taxa de urbanização, a população mais escolarizada e uma composição
demográfica semelhante aos países desenvolvidos. Mas também é reflexo de uma história de perda
dinamismo econômico principalmente depois da transferência da capital para Brasília. Fica aberta
para análises futuras a questão: o Rio está na frente de um comportamento da mobilidade social, no
qual São Paulo e outros estados do Sul/Sudeste ainda chegarão lá, ou é um sinal de decadência?
O segundo campo exploratório sobre as questões demográficas mostra, primeiramente, que a
estrutura etária mais velha do Rio não é um fator muito relevante para explicar o comportamento
específico de queda da taxa de mobilidade ascendente. A partir de uma simulação contrafactual em
que se ponderam as taxas de mobilidade do Rio pela estrutura etária de São Paulo, não se
verificaram mudanças significativas nas taxas de mobilidade ascendente e descendente, tendo o
comportamento temporal permanecido o mesmo.
No entanto, o descompasso relativo entre a qualificação da força de trabalho e a estrutura
ocupacional, que tem provocado mudanças fortes do saldo migratório no Rio, mostrou-se mais
importante para explicar esse fenômeno. Isso porque, além do saldo migratório entre 1980 e 1991
ter sido negativo (isto é, tem saído mais pessoas do que entrado no Rio), o perfil dos emigrantes é
de escolaridade bem mais elevada que os imigrantes. Como o estoque de capital humano desses
emigrantes cresce mais rapidamente entre 1976 e 1996 do que o de São Paulo, há evidências de que
está ocorrendo um aumento da intensidade de transferência de capital humano do Rio para outros
lugares do Brasil, principalmente para a região Sudeste, especialmente São Paulo, e para o Distrito
Federal.
A relação entre as características do processo migratório no Rio e a mobilidade social é um tema
pouco explorado na literatura sobre desigualdade, tanto na literatura teórica sobre migração e
157
mercado de trabalho quanto na literatura empírica. Um maior entendimento dessa relação tem um
grande potencial no âmbito do debate sobre as políticas públicas para o desenvolvimento
econômico e social do Rio. Se no Rio existe um descompasso relativo entre qualificação da força de
trabalho e estrutura ocupacional quando comparado a outras regiões e a este fato está associado um
aumento da emigração de pessoas com alta qualificação do Rio, principalmente para São Paulo,
como reter as pessoas aqui de tal forma a aproveitar esse capital humano para diminuir
desigualdade e pobreza ou melhorar o quadro de mobilidade social no Rio?
Neste sentido, dois caminhos devem orientar o debate sobre políticas públicas: (a) o de melhorar a
qualidade dos postos de trabalho, quer dizer, a renda por ocupação e (b) o de explorar as vantagens
comparativas em termos de escolaridade, ou seja, sobre como aproveitar esse capital humano para
diminuir as desigualdades socioeconômicas, melhorando a situação dos mais pobres. Uma linha
seria a da promoção do desenvolvimento local, através de um amplo leque de parcerias entre
diferentes esferas do setor público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada para criar um
ambiente mais propício ao micro e pequenos negócios (dada a relevância do trabalho autônomo e da
micro e pequena empresa no Rio). Outra linha seria a de explorar de forma mais efetiva as
vantagens comparativas do Estado em termos de escolaridade de sua força de trabalho e de salários
para a atração de investimentos que fossem capazes de gerar mais e melhores postos de trabalho.
Assim sendo, os movimentos de queda da mobilidade ascendente e de forte aumento da mobilidade
descendente no Rio podem ser explicados, em alguma medida, pelo componente estrutural da perda
de dinamismo da economia, tanto pelo lado da diminuição do peso específico da administração
pública quanto pela incapacidade de gerar postos de trabalhado com qualidade compatível com a da
força de trabalho criando uma força de expulsão de trabalhadores qualificados para outros estados
do Brasil, principalmente São Paulo e Distrito Federal.
Para realizar a análise do quadro da distribuição de oportunidades para conquistar posições na
estrutura social deve levar em conta, no entanto, o fato de que a maior parte da mobilidade do Rio,
diferentemente da média brasileira, se deve à mobilidade circular ou por trocas. A sociedade
fluminense pode ser considerada mais aberta, no sentido em que os indivíduos conseguem escapar
da herança social (para melhor ou pior) numa estrutura social em que os atributos valorizados pelo
mercado - como escolaridade e experiência - prevalecem na competição pelas posições já existentes
(ao invés do preenchimento de novas posições). Contudo, o impacto dessa característica
considerada positiva para distribuição de oportunidades depende do regime de mobilidade que
prevalece nas movimentações entre as gerações por estrato social.
158
Nesse sentido, foram analisadas as três teses clássicas sobre regime de mobilidade para avaliar sua
adequação ao caso do Rio, sempre comparando com o Brasil como um todo. A tese do fechamento
social não se mostrou tão apropriada, já a heterogeneidade na origem social é muito grande,
principalmente para os estratos não manuais, e cresce ao longo do tempo. No entanto, quando se
consideram os estratos manuais, tanto no Rio quanto no resto do Brasil, verifica-se uma
homogeneidade maior na origem social, principalmente devido ao peso da origem rural, assim
como nos estratos mais privilegiados.
A segunda tese, da área de contenção, teve resultados mais contundentes, ou seja, verificou-se um
regime de mobilidade social de curta distância em que a fronteira manual-não manual funciona
como uma espécie de barreira de contenção à mobilidade de longa distância. Assim, as elevadas
taxas de mobilidade nos estratos intermediários da estrutura social, junto com o relativo fechamento
dos estratos localizados nos extremos, são fortes evidências a favor da existência de uma área de
contenção que previne a mobilidade de longa distância.
A terceira tese da contramobilidade argumenta que o aumento esperado da mobilidade ascendente
decorrente do aumento da escolaridade entre gerações do pai e do filho seria compensado pela
diminuição da mobilidade intrageracional ou de carreira, devido ao maior investimento em capital
humano para entrar no mercado de trabalho em posições mais elevadas. Na análise empírica da
mobilidade intergeracional em relação à primeira ocupação do(a) filho(a), essa tese não foi
corroborada, visto que não se verifica para a coorte mais jovem uma entrada relativamente maior
em posições superiores.
Isso poderia ser conseqüência de no Rio, os pais já serem mais escolarizados que a média brasileira
e a estrutura ocupacional contar com menos trabalhadores rurais, gerando um quadro de maior
competição no mercado de trabalho urbano nos anos 80 e 90, tornando-se mais difícil superar as
posições de entrada das gerações mais velhas.
Além disso, verifica-se que no Rio os estratos mais privilegiados de Administradores e Profissionais
estão se tornando mais fechados para indivíduos de outras origens sociais, assim como iniciar a
carreira profissional nesses estratos também está se tornando mais difícil para indivíduos de outras
origens sociais na geração mais nova. Esses resultados podem estar indicando que quando se atinge
determinado grau de desenvolvimento, associado a um nível de escolaridade mais elevado para a
população como um todo, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel
importante da origem social das pessoas para determinação da posição social.
159
Em suma, a alta taxa de mobilidade social intergeracional no Rio, que tem um efeito forte das
movimentações por trocas de posições junto com o aumento da heterogeneidade na origem social
dos diversos estratos considerados, levaria a um quadro de melhora na distribuição de
oportunidades. Mas como o regime de mobilidade social é de curta distância e se explica,
principalmente, pela formação de uma área de contenção na fronteira manual-não manual e pelos
fatos de que (1) a posição de entrada das gerações mais jovens não melhorou em relação às mais
velhas e (2) a capacidade de reprodução das elites tem aumentado ao longo do tempo, fica a
questão: o que aconteceu com a desigualdade de oportunidades?
Para responder a essa questão deve-se ter em mãos uma metodologia que seja capaz de analisar as
tabelas de mobilidade como um todo – e não, como foi feito até agora, fazer as análises de
associação dois a dois – e também de isolar os efeitos do tamanho absoluto dos grupos de categoria
de origem e destino. Neste sentido, considerou-se a análise dos padrões e tendências da fluidez
social e da desigualdade de estratos, focalizando o estudo das chances relativas de mobilidade
social. Para tanto, foram utilizados os modelos log-lineares para analisar a tabela de mobilidade
social como um todo e testar a hipótese sobre o padrão de estabilidade temporal da mobilidade
social intergeracional circular no Rio de Janeiro, que é o indicador de fluidez social, pois representa
as desigualdades na distribuição de chances relativas para ocupar as posições na estrutura social e,
por conseguinte, a desigualdade na distribuição de oportunidades.
A avaliação dos resultados do modelo mostra que os padrões de mobilidade social intergeracional
circular permaneceram praticamente inalterados, sugerindo que as mudanças no quadro de
distribuição de oportunidades não foram significativas. Esse fato leva à conclusão de que há uma
reprodução, ao longo do tempo, dos padrões de chances relativas de alocação em posições da
estrutura social e, portanto, das desigualdades de oportunidades.
Verificou-se também que os resultados para mobilidade educacional intergeracional revelam que,
apesar do aumento do nível de escolaridade, as oportunidades relativas dos indivíduos atingirem
diferentes níveis educacionais também se mantiverem praticamente estáveis ao longo dos anos. É
como se a escolaridade total média da população se deslocasse para cima, mas as chances relativas
de atingir determinado nível de escolaridade conformam um padrão de associação com a
escolaridade dos pais que não muda de forma significativa ao longo do tempo.
O fato de que as desigualdades de oportunidades se mantiveram praticamente constantes entre esses
dois movimentos intergeracionais (1976 e 1996) revela, em alguma medida, que mesmo que sejam
160
aplicadas políticas públicas mais agressivas no sentido de promover a desigualdade de
oportunidades – por exemplo, como Roemer propôs, um gasto público por aluno na escola
relativamente maior em famílias com nível socioeconômico menor –, os efeitos poderiam ser
sentidos somente daqui há duas gerações. Assim, se ontem fomos capazes de saltar etapas no
crescimento econômico, hoje nos toca fazê-lo no que tange às distâncias sociais. Isto requer
políticas públicas que sejam capazes de democratizar o acesso não apenas à educação formal, mas
também a um vasto conjunto de outros itens decisivos para estabelecer as trajetórias
socioeconômicas, como o crédito, a propriedade, a informação, a infra-estrutura, a cultura, a
tecnologia etc.
Aqui se abre um amplo programa de pesquisa sobre os possíveis impactos das políticas públicas de
promoção de igualdade de oportunidades sobre a desigualdade e mobilidade social, que conta desde
estudos teóricos e empíricos até a avaliação das políticas públicas. Além disso, mesmo com uma
maior igualdade de oportunidades é possível manter o quadro de desigualdade de renda e de
mobilidade social, o que merece uma articulação com estudos direcionados para fatores
determinantes, como por exemplo, o impacto do diferencial de acesso a vagas na universidade e no
mercado de trabalho, entre outros.
Na busca de diferenças nos padrões de mobilidade entre grupos distintos, examinou-se esse modelo
por sexo, cor e condição de migração. Primeiramente, verificou-se que não existem diferenças
significativas no padrão temporal de distribuição de oportunidades para homens e para mulheres.
Contudo, esse modelo não se ajusta tão bem aos casos de trabalhadores negros e pardos e aos
migrantes.
No primeiro caso, houve uma melhora no quadro de distribuição de oportunidades para os pretos e
pardos, visto que os desvios em relação ao valor esperado são maiores na área de ascensão social do
que de descensão. Esse certamente é um resultado muito positivo visto que as desigualdades
socioeconômicas por cor ainda são muito grandes no Brasil.
Essa melhora da mobilidade social para os negros e os pardos ocorre somente no Rio? Quais
aspectos das trajetórias marcam as diferenças em relação a uma melhor inserção socioeconômica?
Estudos quantitativos e qualitativos levando em conta essas questões poderiam contribuir, a partir
da análise dos diferentes caminhos percorridos, para formulação de políticas públicas em direção à
diminuição das desigualdades de oportunidades por raça.
161
No caso dos migrantes, ocorre o contrário, sendo os desvios maiores para os casos de descensão do
que de ascensão social. Isso pode ser explicado em alguma medida pela composição por
antiguidade dos imigrantes no Rio, onde a participação de migrantes antigos é alta e crescente. Essa
explicação, no entanto, merece um estudo mais profundo sobre evolução dos fluxos migratórios e
das características dos migrantes e as relações com a mobilidade social no Rio.
Em suma, a partir da análise das taxas e dos padrões de mobilidade foi possível marcar
características específicas do Rio no processo de geração e reprodução das desigualdades ao longo
do tempo. Apesar do Rio ter a mais alta taxa de mobilidade social entre os estados do Brasil,
caracterizando uma sociedade mais aberta e dinâmica, verificou-se um comportamento temporal
atípico com a queda da mobilidade ascendente, que pode ser explicada, pelo menos em parte, pelos
reflexos da perda de dinamismo da economia fluminense. Além disso, há uma reprodução no tempo
de um padrão de mobilidade de curta distância, onde há muita abertura à movimentação dentro das
fronteiras que dividem a estrutura social e barreiras rígidas para ultrapassá-las. Verificou-se ainda
um aumento da capacidade de reprodução das elites no Rio, diferentemente da média brasileira, que
pode estar indicando que com o desenvolvimento, associado a um grau relativamente alto do nível
de escolaridade, a forte competição no mercado de trabalho acaba recolocando um papel importante
da origem social das pessoas para determinação da posição social. Por fim, a avaliação do quadro de
desigualdades de oportunidades revela uma estabilidade temporal, já que os padrões de chances
relativas de atingir determinada posição na estrutura social segundo a origem social não mudaram
de forma significativa ao longo do tempo.
162
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Tabela A.1 – Compatibilização das ocupações das PNADs 76, 88 e 96 COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V9906)
1 AGRIC.PECUARISTAS 1 AGRICULTOR 1 AGRICULTORES
1 201 AGRIC.PECUARISTAS 2 CRIADOR BOVINO 2 CRIADORES DE GADO BOVINO
1 202 AVIC.CRIAD.PEQ.ANIM 3 AVICULTOR 3 AVICULTORES E CRIAD PEQ ANIMAIS
1 4 CRIADOR DIVERSOS 4 CRIADORES DE OUTROS ANIMAIS
1 5 PROP.AGROP.S/ESP 5 PROP EM ATIV AGROP NÃO ESPEC
2 INDUSTRIAIS 8 EMP. IND. TRANSF 8 EMPRESÁRIOS DA IND TRANSFORMAÇÃ
2 203 INDUSTRIAIS 9 EMP. CONSTR. CIV 9 EMPRESÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
5 OUT.EMPRESARIOS
11 DIR.CHEF.SERV.PUB 211 MEMB.P.LEGISLATIVO
11 213 MEMB.C.DIPLOMATICO
11 212 MIN.DE ESTADO 20 MINISTRO ETC 20 ALTOS DIRIGENTES PÚBLICOS
11 214 DIR.CHEF.SERV.PUB 21 DIRETOR ASSESSOR 21 DIRET, ASSESS E CHEFES SERV PÚB
12 ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 232 CF.SEÇ.ENC.CONT.FIN.PRIV
12 233 CF.SEÇ.ENC.SERV.COMP/VENDA
12 234 CF.SEÇ.ENC.SERV.PROD.MANUT
12 235 OUT.CF.SEÇ.ENC.SERV.EMPRES
12 222 ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 32 ADM.EXT. MINERAL 32 ADMIN E GERENT EXTRAÇÃO MINERAL
13 ADM.DIR.EMP.IND 223 ADM.DIR.EMP.IND 33 ADM.IND.TRANSF. 33 ADMIN E GERENT IND TRANSFORMAÇÃ
14 ADM.DIR.EMP.CONST 224 ADM.DIR.EMP.CONST 34 ADM.CONSTR.CIVIL 34 ADMIN E GERENT IND CONST CIVIL
15 ADM.DIR.EMP.COMERCIO 226 ADM.DIR.EMP.COMERCIO 35 ADM.COM.MERCAD. 35 ADMIN E GERENT COMÉRCIO
16 ADM.DIR.SERV.HOSPED 228 ADM.DIR.SERV.HOSPED 36 ADM. HOTEIS 36 ADMIN E GERENT HOTÉIS
17 ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 227 ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 37 ADM. TRANSPORTES 37 ADMIN E GERENT TRANSPORTES
18 ADM.DIR.EMP.COM/VAL 225 ADM.DIR.EMP.COM/VAL 38 ADM. FINANCEIRAS 38 ADMIN E GERENT EMP FINANC/IMOBI
19 OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 229 OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 39 OUTROS ADMINISTR 39 OUT ADMIN E GER NÃO CLASSIF ANT
20 CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 231 CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 40 ENCARREGADO ADMI 40 CHEFES E ENCAR SEÇÃO SERV ADM
21 ADM.DIR.EMP.AGROP 221 ADM.DIR.EMP.AGROP 30 ADM. AGROPEC. 30 ADMIN E GERENT AGROPECUÁRIA
21 31 ADM.EXT.VEG.PESCA 31 ADMIN E GERENT EXTR VEG E PESCA
31 AG.FISC.TRIBUTOS 241 AG.FISC.TRIBUTOS 50 FISCAIS TRIBUTOS 50 TÉCNICOS E FISCAIS TRIB E ARREC
31 242 INSP.TRAB.FISC.PREV 51 INSPET. TRABALHO 51 INSPETORES DO TRABALHO
32 ASSIST.ADMINISTRATIVOS 243 ASSIST.ADMINISTRATIVOS 52 ASSIST. ADMINIST 52 ASSISTENTES ADMINISTRATIVOS
32 73 TEC.DE ADMISTRAÇÃO 183 TEC. ADMINISTR. 183 TÉCNICOS DE ADMINISTRAÇÃO
33 TES.CAIXAS 244 TES.CAIXAS 53 CAIXAS 53 PAGAD E CAIXAS(EXCL SERV/COMÉRC
33 603 OPER DE CAIXA 603 OPERADORES DE CAIXA
34 OCUP.AUX.ESTAT 191 TEC. CONTABIL. 191 TÉCNICOS DE CONTABILIDADE
34 74 OCUP.AUX.ESTAT 192 TEC. ESTATIST. 192 TÉCNICOS DE ESTATÍSTICA
34 293 OUT.OCUP. 293 OUTRAS OCUP TÉCNICAS E ARTIST
35 ALMOX.ARMAZENISTAS 245 ALMOX.ARMAZENISTAS 54 ALMOXARIFES 54 ALMOXARIFES E ARMAZENISTAS
36 DAT.TAQUIGRAFOS 246 DAT.TAQUIGRAFOS 56 DATILOGRAFOS 56 DATILÓGRAFOS
37 AUX.ESC.ADM.GERAL 65 AUX. ESCRITORIO
37 740 AG.VEND.PAS.RODOVIARIAS
37 59 SECRETARIAS 59 SECRETÁRIAS
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
37 60 AUX.CONTABIL 60 AUXIL DE CONTABILIDADE
37 61 OP.COPIADORAS 61 OPERADORES DE MÁQUINAS COPIADOR
37 62 ARQUIVISTAS 62 ARQUIVISTAS
37 750 RECEP/TRANSPORTES 63 RECEPCIONISTAS 63 RECEPCIONISTAS
37 247 AUX.ESC.ADM.GERAL 64 AUX. ADMINISTRAT 64 AUXIL ADMINIST E ESCRITÓRIO
38 ESC.JORNALISTAS 122 PUBLICITARIOS
38 121 ESC.JORNALISTAS 261 ESCRITOR JORNAL. 261 ESCRITORES E JORNALISTAS
39 ANAL.SISTEMAS 63 ANAL.SISTEMAS 173 ANAL. SISTEMAS 173 ANALISTAS DE SISTEMAS
39 193 PROG. COMPUTADOR 194 PROGRAMADORES DE COMPUTADOR
40 OPERADORES MAQUINA 560 OPERADORES MAQUINA 58 OP.MAQ.P.AUTOMAT 58 OPERADORES DE MÁQ PROC DE DADO
41 TELEG.RADIOTELEGRAF 57 OP.TELEIMPRESSOR 57 OPERADORES DE TELEIMPRESSORAS
41 762 TELEG.RADIOTELEGRAF 773 TELEGR. RADIOTEL 773 TELEGRAFISTAS E RADIOTELEG
101 ENGENHEIROS 21 ENGENHEIROS 101 ENGENHEIRO 101 ENGENHEIROS
102 ARQ/URBANISTAS 22 ARQ/URBANISTAS 102 ARQUITETOS 102 ARQUITETOS
103 AGR.TOPOGRAFOS 103 AGRIMENSORES 103 AGRIMENSORES
103 25 AGR.TOPOGRAFOS 112 TEC. EDIFIC. 112 TÉCNICOS DE EDIFIC E AGRIMENSUR
103 27 OUT.OCUP.AUXILIARES 113 OUTR. OCUP. ENG. 113 OUTRAS OCUP AUXIL ENGENHARIA
104 DES.CARTOGRAFOS 26 DES.CARTOGRAFOS 104 CARTOGRAFOS 104 CARTÓGRAFOS
104 111 DESENHISTAS 111 DESENHISTAS
174
111 QUIMICOS 11 QUIMICOS 121 QUIMICOS 121 QUÍMICOS
112 FARMACEUTICOS 44 FARMACEUTICOS 122 FARMACEUTICOS 122 FARMACÊUTICOS
113 FARMACOLOGISTAS 32 FARMACOLOGISTAS 143 FARMACOLOGISTAS 143 FARMACOLOGISTAS
114 GEOLOGOS 23 GEOLOGOS 124 GEOLOGOS MINERAL. 124 GEÓLOGOS MINERALOGISTAS
115 OUT.ESP.CIENCIAS FIS 13 OUT.ESP.CIENCIAS FIS 125 OUT.QUIMICA/FISIC 125 OUT ESPECIAL EM QUÍMICA E FÍSIC
115 131 TEC. QUIMICOS 131 TÉCNICOS QUÍMICOS
115 133 TEC. METEOROLOG 133 TÉCNICOS DE METEOROLOGIA
115 58 LABORATORISTAS 168 TEC.ANAL.CLINICA 168 TÉCNICOS EM ANÁLISE CLÍNICA
117 FARM. PRATICOS 57 FARM. PRATICOS 132 PRATICO FARMACIA 132 PRÁTICOS DE FARMÁCIA
121 AGRONOMOS 31 AGRONOMOS 141 AGRONOMOS 141 AGRÔNOMOS
122 VETERINARIOS 43 VETERINARIOS 144 VETERINARIOS 144 VETERINÁRIOS
123 BIOLOGISTAS 33 BIOLOGISTAS 142 BIOLOGISTAS 142 BIOLOGISTAS
124 GEÓGRAFO 203 GEOGRAFOS 203 GEÓGRAFOS E DEMÓGRAFOS
130 MEDICOS 41 MEDICOS 151 MEDICOS 151 MÉDICOS
131 DENTISTAS 42 DENTISTAS 152 DENTISTAS 152 DENTISTAS
132 PARTEIROS DIPLOMADOS 45 PARTEIROS DIPLOMADOS 166 PARTEIRAS 166 PARTEIRAS
133 ENFERMEIROS DIPLOM 46 ENFERMEIROS DIPLOM 153 ENFERMEIROS DIP 153 ENFERMEIROS DIPLOMADOS
134 ENFERMEIROS N/DIPLO 59 VIS.SANITARIOS
134 161 ACADEMICO HOSP 161 ACADÊMICOS DE HOSPITAL
134 51 ENFERMEIROS N/DIPLO 162 ENFERM. NAO DIP 162 ENFERMEIROS NÃO DIPLOMADOS
135 ORTOPEDISTAS 54 MASSAGISTAS 163 MASSAGISTAS 163 TÉCNICOS DE REABILITAÇÃO
136 PROTETICOS 55 PROTETICOS 167 PROTETICOS 167 PROTÉTICOS
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
137 OPERADORES DE RAIO X 56 OPERADORES DE RAIO X 165 OP.EQ.MEDICOS 165 OPER EQUIP MÉDICOS E ODONT
142 ESTATISTICOS 62 MAT.ATUARIOS 171 MATEMATICOS 171 MATEMÁTICOS E ATUÁRIOS
142 61 ESTATISTICOS 172 ESTATISTICOS 172 ESTATÍSTICOS
143 ECONOMISTAS 71 ECONOMISTAS 181 ECONOMISTAS 181 ECONOMISTAS
144 CONTADORES 72 CONTADORES 182 CONTADORES 182 CONTADORES
145 SOCIOLOGOS 164 OUT.OCUP.CIENT.N/DISC
145 162 SOCIOLOGOS 201 SOCIOLOGOS ETC 201 SOCIÓLOGOS, ANTROPÓLOGOS
145 205 OUT. CIENT. SOC. 205 OUTROS CIENTISTAS SOCIAIS
146 FISICOS 12 FISICOS 123 FISICOS 123 FÍSICOS
147 OUT.ESP.MEDICINA 47 OUT.ESP.MEDICINA 154 OUT. MEDICINA 154 OUTROS ESPECIALISTAS EM MEDICIN
147 202 PSICOLOGOS 202 PSICÓLOGOS
148 BIBLIO.MUSEOLOGOS 291 BIBLIOTECARIOS 291 BIBLIOTECÁRIOS
148 163 BIBLIO.MUSEOLOGOS 292 MUSEOLOGOS ARQ. 292 ARQUIVOLOGISTAS E MUSEÓLOGOS
149 OPTOMETRISTAS 52 ORTOPEDISTAS
149 53 OPTOMETRISTAS 164 ORTOPTISTAS/OTIC 164 ORTOPTISTAS E ÓTICOS
150 PROF.ENS.2/GRAU 102 PROF.ENS.2/GRAU 213 PROF. 2.GRAU 213 PROF DE ENSINO DO 2º GRAU
151 PROF.ENS.1/GRAU 103 PROF.ENS.1/GRAU 214 PROF.5 A 8 SERIE 214 PROF DE 5ª A 8ª SÉRIE
151 215 PROF.1 A 4 SERIE 215 PROF DE 1ª A 4ª SÉRIE
151 216 PROF. 1. GRAU 216 PROF DE ENS 1º GRAU (SEM ESPEC)
151 217 PROF. PRE.ESC. 217 PROF DE ENSINO PRÉ-ESCOLAR
152 PROF.ENS.SUPERIOR 211 PROF. PESQUISAD 211 PROF PESQUISADORES
152 101 PROF.ENS.SUPERIOR 212 PROF. SUPERIOR 212 PROF DE ENSINO SUPERIOR
154 PROF.ENS.N/ESPEC 218 PROF. PROFISS. 218 PROF E INSTR DE FORM PROFISSION
154 104 PROF.ENS.N/ESPEC 219 PROFESSOR 219 PROF DE ENSINO NÃO ESPECIFICADO
154 221 ORIENT. ENSINO 221 ORIENTADORES E TÉCNICOS DE ENSI
154 222 INSPETOR ALUNOS 222 INSPETORES DE ALUNOS
161 MAGISTRADOS 81 MAGISTRADOS 231 MAGISTRADOS 231 MAGISTRADOS
162 PROC.PROM.PUBLICOS 82 PROC.PROM.PUBLICOS 232 PROCURADORES ETC 232 PROCURADORES, PROMOTORES PÚBLIC
163 ADV.DEF.PUBLICOS 83 ADV.DEF.PUBLICOS 233 ADVOGADOS ETC 233 ADVOGADOS E DEFENSORES PÚBLICOS
164 TAB.OFIC.REGISTRO 84 TAB.OFIC.REGISTRO 241 TABELIAES 241 TABELIÃES E OFICIAIS DE REGISTR
165 ESC.CARTORIO 904 ESCRIVÃES POLICIA
165 91 ESC.CARTORIO 242 ESCRIVAES 242 ESCRIVÃES DE CARTÓRIO
166 OF.JUSTIÇA 92 OF.JUSTIÇA 243 OFICIAIS JUSTICA 243 OFICIAIS DE JUSTIÇA
167 OUT.OCUP.JUSTIÇA 93 OUT.OCUP.JUSTIÇA 244 OUT.AUX.JUSTICA 244 OUTRAS OCUP AUXIL DA JUSTIÇA
171 RELIGIOSOS 151 RELIGIOSOS 251 RELIGIOSOS 251 SACERDOTES
171 252 RELIGIOSOS POR CONTA PRÓPRIA
172 ASS.SOCIAIS 161 ASS.SOCIAIS 204 ASSIST. SOCIAIS 204 ASSISTENTES SOCIAIS
191 ESCULT.PINTORES 131 ESCULT.PINTORES 271 ESCULTOR PINTOR 271 ESCULTORES E PINTORES
192 141 MUS.COMPOSITORES 275 MUSICOS/COMPOSIT 275 MÚSICOS E COMPOSITORES
193 ATOR.CANTORES 142 ATOR.CANTORES 276 ART.TV.CINE.TEAT 276 ARTISTAS DE CINEMA,TELEVISÃO
193 143 BAILAR.COREOGRAFOS 277 ART. DE CIRCO 277 ARTISTAS DE CIRCO
(continuação)
175
COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
194 LOC.COM.RD/TV 144 LOC.COM.RD/TV 278 LOCUTORES/COMENT 278 LOCUTORES E COMENTARISTAS
195 DECOR.CENOGRAFOS 132 DECOR.CENOGRAFOS 273 DECORADOR/CENOGR 273 DECORADORES E CENÓGRAFOS
196 280 CINEGRAFISTAS ETC 280 CINEGRAF E OPERADORES DE CÂMARA
197 FOTOGRAFOS 133 FOTOGRAFOS 274 FOTOGRAFOS 274 FOTÓGRAFOS
198 OPER.TEC.CIN/RD/TV 146 OPER.TEC.CIN/RD/TV 281 OP.EQ.SOM E CENOG 281 OPERADORES EQUIP SOM E CENOG
198 282 OUT.OP.RADIO/TV 282 OUTROS OPER EST RÁDIO E TELEVIS
198 283 OP.PROJETO CINE. 283 OPERADORES PROJ CINEMAT
199 PROD.DIR.ESPETAC 145 PROD.DIR.ESPETAC 279 PROD.DIRET.ESPET 279 PRODUTORES E DIRET ESPETÁCULOS
211 TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 302 TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 302 TECN AGROPECUAR 302 TÉCNICOS DE AGROPECUÁRIA
212 OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 303 OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 303 TRATORISTA AGRIC 303 TRATORISTAS AGRÍCOLAS
213 TRABAL. RURAL AUTONOMOS 301 TRABAL.AUTONOMOS 301 PROD AGROP AUT 301 PRODUTORES AGROPECUÁRIOS AUTÔN
213 851 OUT PROP AGROP CONTA PRÓPRIA
214 TRAB.CULTURA 313 TRAB.PECUARIA
214 311 CHAC.HORT.FLORIC
214 312 JARDINEIROS
214 314 TRAB.CULTURA 304 OUTR TRAB AGROP 304 TRABALHADORES NA AGROPECUÁRIA
214 314 TRAB.CULTURA 304 OUTR TRAB AGROP 304 TRABALHADORES NA AGROPECUÁRIA
231 CAÇADORES 321 CAÇADORES 321 CACADORES 321 CAÇADORES
232 PESCADORES 322 PESCADORES 322 PESCADORES 322 PESCADORES
241 MEDEIR/LENHADORES 331 MEDEIR/LENHADORES 331 MADEIREIROS 331 MADEIREIROS
241 332 LENHADORES 332 LENHADORES
242 CARVOEIROS(FABRIC.) 332 CARVOEIROS(FABRIC.) 333 CARVOEIROS 333 CARVOEIROS (FABRICANTES)
243 SERINGUEIROS 333 SERINGUEIROS 334 SERINGUEIROS 334 SERINGUEIROS
244 ERVATEIROS 334 ERVATEIROS 335 ERVATEIROS 335 ERVATEIROS
245 AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 335 AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 336 APANHAD. PROD VEG 336 APANHADORES DE PROD VEGETAIS
311 MINEIROS 341 MINEIROS 341 MINEIROS 341 MINEIROS
311 351 OP MAQ EXT MINERI 351 OPERAD MÁQUINAS DE EXT E BENEF
311 381 SALINEIROS 381 SALINEIROS
311 391 SONDAD.POCO GAS 391 SONDADORES POÇOS(EXC PETRÓLEO/G
312 CANT.MARROEIROS 351 CANT.MARROEIROS 345 CANTEIROS/MARROEI 345 CANTEIROS E MARROEIROS
331 TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 371 TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 361 TRAB EXT GAS PETR 361 TRABAL EXTR PETRÓLEO E GÁS
341 GARIMPEIROS 361 GARIMPEIROS 371 GARIMPEIROS 371 GARIMPEIROS
411 MOLD.MACHEIROS 405 MOLD.MACHEIROS 414 MODELADORES MACH 414 MODELADORES E MACHEIROS
412 TRAB.FORNOS METAL 403 OP.FORNOS SEG.FUSÃO
412 404 FUNDIDORES MET.MOLDES
412 406 TRAB.TRAT.TERMICO MET
412 401 TRAB.FORNOS METAL 411 FORNEIRO METALUR 411 FORNEIROS METALÚRGICOS
413 TREF.ESTIR.METAIS 402 OP.TRENS LAMINAÇÃO 412 LAMINADORES 412 LAMINADORES
413 407 TREF.ESTIR.METAIS 413 TREFILADORES 413 TREFILADORES
414 AJUST.MONT.INST.MAQUIN 414 AJUST.MONT.INST.MAQUIN 416 AFIADORES/AMOLAD 416 AFIADORES E AMOLADORES
414 921 LUBRIFICADORES 921 LUBRIFICADORES
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
421 OP.MAQ.FERRAMENTAS 419 ESTAMPADORES MECA 419 ESTAMPADORES MECÂNICOS
421 421 FRESADOR/FURADOR 421 FRESADORES E FURADORES
421 412 OP.MAQ.FERRAMENTAS 422 TORNEIRO MECANIC 422 TORNEIROS MECÂNICOS
421 923 OP MAQ EXC AGROP 923 OPER MÁQUINAS(EXC. AGROP/C CIVI
424 MEC.VEIC.MOTOR 416 MEC.VEIC.MOTOR 424 MECANICO VEICULO 424 MECÂNICOS DE VEÍC AUTOMOTORES
425 FER.AJUST.ESP.FERRAM 417 MEC.MOT.SIST.HID.AVIÕES
425 411 FER.AJUST.ESP.FERRAM 418 FERRAMENTEIROS 418 FERRAMENTEIROS
425 480 AJUST.EQUIP.ELET.ELETR 423 AJUSTADOR MONTAD 423 AJUSTADORES E MONTAD MECÂNICOS
425 425 MECANICOS 425 MECÂNICOS SEM ESPECIFICAÇÃO
426 GALV.REC.DECAP.METAIS 408 GALV.REC.DECAP.METAIS 415 GALVANIZADOR ETC 415 GALVANIZADORES E RECOB DE METAI
427 SOLDADORES 418 SOLDADORES 426 SOLDADORES 426 SOLDADORES
428 CHAP.CALDEIREIROS 419 CHAP.CALDEIREIROS 428 CALDEIREIROS 428 CALDEIREIROS
429 FER.SER.FORJADORES 410 FER.SER.FORJADORES 429 FERREIROS/SERRAL 429 FERREIROS E SERRALHEIROS
430 LANT.VEICULOS 420 LANT.VEICULOS 431 LANTERNEIROS 431 LANTERNEIROS DE VEÍCULOS
431 MONT.EST.METALICA 421 REBITADORES METAIS 427 REBITADORES 427 REBITADORES E MONT ESTR METÁLIC
431 541 MONT.EST.METALICA 427 REBITADORES E MONT ESTR METÁLIC
432 FUNILEIROS METAIS 422 FUNILEIROS METAIS 430 FUNILEIROS 430 FUNILEIROS
433 POL/ESMERILHADORES 559 POL/ESMERILHADORES
433 413 POL.MET.AFIA.FERRAM 417 POLIDORES ESMERIL 417 POLIDORES E ESMERILHADORES
441 PREP.FIBRAS 441 PREP.FIBRAS 441 CARDADOR/PENTEAD 441 CARDADORES E PENTEADORES
442 FIAND.BOBINADORES 442 MACAROQUEIRO BOB 442 MAÇAROQUEIROS, BOBINADORES
442 442 FIAND.BOBINADORES 443 FIANDEIROS 443 FIANDEIROS
176
444 RENDEIROS 446 RENDEIROS 444 RENDEIROS 444 RENDEIROS
445 AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 443 AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 445 URDIDORES 445 URDIDORES E REMETEDORES
447 TECELÕES 446 CORDOEIROS 446 CORDOEIROS
447 444 TECELÕES 447 TECELOES 447 TECELÕES
448 TAPECEIROS 445 TAPECEIROS 448 TAPECEIROS 448 TAPECEIROS
449 REDEIROS 447 REDEIROS 449 REDEIROS 449 REDEIROS
450 BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 448 BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 450 ALVEJADORES TINT 450 ALVEJADORES E TINT TÊXTEIS
450 451 ESTAMPADOR TEXT 451 ESTAMPADORES TÊXTEIS
450 452 ACABADOR D PANO 452 ACABADORES DE PANO
461 CORREEIROS SELEIROS 452 CORREEIROS SELEIROS 461 CORREEIRO SELEI 461 CORREEIROS E SELEIROS
462 CURTIDORES 473 PELET.TRAB.ASSEMELHADOS
462 451 CURTIDORES 462 CURTIDORES 462 CURTIDORES
471 ALF/COSTUREIROS 472 ALF/COSTUREIROS 470 ALFAIATES COSTUR 470 ALFAIATES E COSTUREIROS
471 471 AUX DE COSTURA 471 AUXIL DE COSTURAS
471 472 CALCEIROS/CAMIS 472 CALCEIROS E CAMISEIROS
471 474 PADRON.CORTADORES 473 MODELISTAS CORT 473 MODELISTAS E CORTADORES
472 BORDAD.CERZIDEIROS 475 BORDAD.CERZIDEIROS 474 BORDADEIRAS CERZ 474 BORDADEIRAS E CERZIDEIRAS
473 CHAPELEIROS DE PALHA 476 CHAPELEIROS DE PALHA 475 CHAPELEIRO PALHA 475 CHAPELEIROS DE PALHA
474 CHAP.EXCLUSIVE PALHA 477 CHAP.EXCLUSIVE PALHA 476 CHAPEL. EXC PALH 476 CHAPELEIROS (EXC PALHA)
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
475 SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 478 SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 477 SAPATEIROS 477 SAPATEIROS
475 478 TRAB FABR SAPATO 478 TRABALHADORES FAB CALÇADOS
476 BOLSEIROS/CINTEIROS 479 BOLSEIROS/CINTEIROS 479 BOLSEIRO CINTEIR 479 BOLSEIROS E CINTEIROS
481 MARCENEIROS 431 MARCENEIROS 481 MARCENEIRO 481 MARCENEIROS
482 CARP.TANOEIROS 432 CARP.TANOEIROS 482 CARPINTEIRO 482 CARPINTEIROS
482 483 TANOEIROS 483 TANOEIROS
482 484 OPER MAQ MARCEN 484 OPERADORES DE MÁQ MARCENARIA
482 486 PREP COMPENSADO 486 PREP COMPENSADOS E AGLOMERADOS
484 SERRADORES 433 SERRADORES 485 SERRADORES 485 SERRADORES
485 ESTOF.CAPOTEIROS 435 ESTOF.CAPOTEIROS 487 ESTOFADOR CAPOT 487 ESTOFADORES E CAPOTEIROS
486 COLCHOEIROS 436 COLCHOEIROS 488 COLCHOEIROS 488 COLCHOEIROS
487 LUSTRADORES 434 LUSTRADORES 489 LUSTRADOR MADEIR 489 LUSTRADORES DE MADEIRA
488 CEST.ESTEIREIROS 553 CEST.ESTEIREIROS 490 CESTEIRO E ESTEI 490 CESTEIROS E ESTEIREIROS
491 ELETRICISTAS 481 MONT.EQUIP.ELET.ELETR 491 MONT EQ ELETRICO 501 MONTADORES DE EQUIP ELÉTRICOS
491 492 MONT EQ ELETRONI 502 MONTADORES DE EQUIP ELETRÔNICOS
491 483 ELETRICISTAS 493 REP EQUIPAMENTOS 503 REPAR DE EQUIP ELÉT ELETRÔNICOS
491 496 ELETRIC INSTAL 506 ELETRICISTAS DE INSTALAÇÕES
491 484 INST.ELEF.TELEGRAFOS 497 INST REP EQ TELE 507 INSTAL E REPAR DE EQUIP DE TELE
491 485 INST.LINHAS ELET.TELEC 498 INST REP LIN ELE 508 INSTAL E REPAD DE LINHAS ELÉTRI
491 499 OP INST ENERG EL 509 OPERADORES INST DE PROD EN ELÉT
492 REPARAD.REC.RD/TV 494 MONTAD RADIO/TV 504 MONTADORES APAR DE ÁUDIO E VÍD
492 482 REPARAD.REC.RD/TV 495 REPAR. RADIO/TV 505 REPARAR APAR DE ÁUDIO E VÍDEO
511 MESTRE-DE-OBRA 530 MESTRE-DE-OBRA 404 MESTRE CONST CIV 404 MESTRES DE CONSTRUÇÃO CIVIL
512 ARMAD.CONCRETO 531 ARMAD.CONCRETO 511 ARMADOR CONCRETO 511 ARMADORES DE CONCRETO
513 PEDREIROS 532 PEDREIROS 512 PEDREIROS 512 PEDREIROS
514 SERVENTES DE PEDREIROS 533 SERVENTES DE PEDREIROS 513 SERV PEDREIRO 513 SERVENTES DE PEDREIRO
515 PINT.CAIADORES 534 PINT.CAIADORES 514 PINTOR CAIADOR 514 PINTORES E CAIADORES
516 ESTUCADORES 535 ESTUCADORES 515 ESTUCADORES 515 ESTUCADORES
517 LADRILHEIROS/TAQUEIROS 536 LADRILHEIROS/TAQUEIROS 516 LADRILHEIRO TAQ 516 LADRILHEIROS E TAQUEIROS
518 ENCANADORES 537 ENCANADORES 517 ENCANADORES 517 ENCANADORES
519 VIDRACEIROS 538 VIDRACEIROS 518 VIDRACEIRO 518 VIDRACEIROS (COLOCADORES DE VID
520 CALCET/ASFALTADORES 539 CALCET/ASFALTADORES 519 CALCETEIRO ASFAL 519 CALCETEIROS E ASFALTADORES
521 CALAFATES 540 CALAFATES 520 CALAFATES 520 CALAFATES
522 OPER.MAQ.CONST.CIVIL 542 OPER.MAQ.CONST.CIVIL 521 OP MAQ CONST CIV 521 OPER MÁQUINAS DE CONST CIVIL
531 TRAB.CONS/ALIMENTOS 464 TRAB.CONS/ALIMENTOS 531 LING SALSICHEIRO 531 LINGUICEIROS E SALSICHEIROS
531 545 OCUP IND ALIMENT 545 OCUP DE OUTRAS INDS ALIMENTARES
532 CHARQ.MAGAREFES 463 CHARQ.MAGAREFES 532 CHARQUEADORES 532 CHARQUEADORES
532 533 MAGAREFES 533 MAGAREFES
534 TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 465 TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 534 OCUP IND LATICIN 534 OCUP DA IND DE LATICÍNIOS
535 PADEIROS/CONFEITEIROS 535 DOCEIROS CONFEIT 535 DOCEIROS E CONFEITEIROS
535 536 MACARRONEIRO PAS 536 MACARRONEIROS E PASTELEIROS
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
535 466 PADEIROS/CONFEITEIROS 537 PADEIROS 537 PADEIROS
538 MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 461 MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 538 FARINHEIRO MOLEI 538 FARINHEIROS E MOLEIROS
177
539 TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 462 TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 539 OCUP IND ACUCAR 539 OCUP DA IND DE AÇÚCAR
540 CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 468 CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 540 OCUP IND BEBIDAS 540 OCUP DA IND DE BEBIDAS
541 TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 467 TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 541 OCUP IND CAFE 541 OCUP DA IND DO CAFÉ
541 543 OCUP IND CHA ETC 543 OCUP DA IND DE CHÁ, MATE E CACA
541 544 OCUP IND OLEAGIN 544 OCUP DA IND DE OLEAGINOSOS
542 TRAB.IND.PESCADO 469 TRAB.IND.PESCADO 542 OCUP IND PESCADO 542 OCUP DA IND DO PESCADO
551 COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 520 COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 551 LINOTIPISTAS 551 LINOTIPISTAS
552 IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 521 IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 552 TIPOGRAFOS 552 TIPÓGRAFOS
552 554 IMPRESSORES 554 IMPRESSORES
553 FOTOGRAVADORES 522 ESTEREOT/ELETROTIPISTAS
553 524 FOTOGRAVADORES
553 523 CLICHERISTAS/GRAVADORES 553 CLICHERISTA E GR 553 CLICHERISTAS E GRAVADORES
554 IMPRESSORES
555 REVIS IND GRAF 555 REVIS IND GRAFIC 555 REVISORES NA IND GRÁFICA
555 526 OUT.OCUP.IND.GRAFICA 557 OUT OCUP IND GRA 557 OUTRAS OCUP DA IND GRÁFICA
556 ENCAN/CARTONADORES 525 ENCAN/CARTONADORES 556 ENCADERNADOR CAR 556 ENCADERNADORES E CARTONADORES
561 VIDREIROS/AMPOLEIROS 492 GRAVADORES DE VIDRO
561 490 VIDREIROS/AMPOLEIROS 561 VIDREIRO AMPOLEI 561 VIDREIROS E AMPOLEIROS
562 CERAMISTAS/LOUCEIROS 491 CERAMISTAS/LOUCEIROS 562 CERAMISTAS LOUCE 562 CERAMISTAS E LOUCEIROS
563 PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 493 PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 563 PINTORES CERAMIC 563 PINTORES CERÂMICOS
564 OLEIROS 494 OLEIROS 564 OLEIROS 564 OLEIROS
571 MESTRES/CONTRAMESTRES 401 TEC EMP EXT MIN 401 MESTRES E TÉCN EMPRESAS EXT MIN
571 402 TEC IND TRANSF 402 MESTRES, CONTRAM E TÉCN IND TRA
571 550 MESTRES/CONTRAMESTRES 403 MESTRES IND TEXT 403 MESTRES, CONTRAM E TÉCN IND TÊX
571 405 TEC ENERGIA ELET 405 MESTRES E TÉCN EMPRESAS SERV UR
571 406 OUTROS MESTRES 406 OUTROS MESTRES, CONTRAM E TÉCN
572 OURIVES 415 RELOJ.MEC.INST.PRECISÃO 572 OURIVES RELOJOEI 572 OURIVES E RELOJOEIROS
572 554 OURIVES 572 OURIVES E RELOJOEIROS
573 LAPIDADORES 555 LAPIDADORES 573 LAPIDADORES 573 LAPIDADORES
574 BORRACHEIRO 501 BORRACHEIRO 574 BORRACHEIROS 574 BORRACHEIROS
574 502 TRAB.FAB.VULC.PNEUMAT 575 VULCANIZADOR REC 575 VULCANIZADORES E RECAUCHUTADORE
575 FOGUETEIROS 556 FOGUETEIROS 576 FOGUETEIROS 576 FOGUETEIROS
576 VASSOUREIROS 557 VASSOUREIROS 577 VASSOUREIROS 577 VASSOUREIROS
578 MARMORISTAS 558 MARMORISTAS 578 MARMORISTAS 578 MARMORISTAS
579 PREPARADORES DE FUMO 470 PREPARADORES DE FUMO 579 PREPADORES FUMO 579 PREPARADORES DE FUMO
579 471 CHARUTEIROS/CIGARREIROS 580 CHARUTEIROS CIGA 580 CHARUTEIROS E CIGARREIROS
581 PINTORES/PISTOLA 561 PINTORES/PISTOLA 581 PINTORES A PISTO 581 PINTORES À PISTOLA
584 FOGUISTAS 562 FOGUISTAS 583 FOGUISTAS 583 FOGUISTAS(EXC EMBARC E TRENS)
585 EMB.EXPEDIDORES 55 EXPEDIDORES 55 EXPEDIDORES E CONFER DE MATERIA
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
585 563 EMB.EXPEDIDORES 584 EMB MERCADORIAS 584 EMBALADORES DE MERCADORIAS
586 CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 510 CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO
586 437 PREP.PASTA P/PAPEL 585 OCUP IND PAPEL 585 OCUP DA IND DO PAPEL E PAPELÃO
587 TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 500 TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 586 OC IND ART BORRA 586 OCUP DA IND ART BORRACHA E PLÁS
587 587 OC IND ART CIMEN 587 OCUP DA IND ART CIMENTO E FIBRO
588 OUT.OCUP.IND.TRANSF 564 OUT.OCUP.IND.TRANSF 589 OUT OCUP IND TRA 589 OUTRAS OCUP IND TRANSFORMAÇÃO
612 VEND/AMBULANTES 602 VEND/AMBULANTES 611 FEIRANTES 611 FEIRANTES
612 612 AGUADEIROS 612 AGUADEIROS
612 613 DOCEIROS ETC 613 DOCEIROS, SORVETEIROS E BALEIRO
612 614 QUITANDEIROS ETC 614 QUITANDEIROS E FRUTEIROS
612 615 TRIPEIRO ETC 615 TRIPEIROS, PEIXEIROS E LEITEIRO
612 616 BILHETEIROS 616 BILHETEIROS
612 617 OUTR OCUP AMBUL 617 OUTRAS OCUP NO COMÉRCIO AMBULAN
613 BALC/VENDEDORES 601 BALC/VENDEDORES 602 VENDEDORES 602 VENDEDORES
613 601 BALC/VENDEDORES 604 REPOSIT MERCADOR 604 REPOSITORES DE MERCADORIAS
613 601 BALC/VENDEDORES 605 DEMONSTRADORES 605 DEMONSTRADORES
614 VEND/JORNAIS REVISTAS 603 VEND/JORNAIS REVISTAS 621 VENDED JORN REV 621 VENDEDORES DE JORNAIS E REVISTA
621 PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 13 VENDEDORES VIAJANTES
621 610 PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 631 PRACISTAS E VIAJ 631 PRACISTAS E VIAJANTES COMERCIAI
622 REP.COMERCIAIS 611 REP.COMERCIAIS 632 REPRES COMERCIAL 632 REPRESENTANTES COMERCIAIS
622 646 COMPRADORES 646 COMPRADORES
623 PROPAGANDISTAS 612 PROPAGANDISTAS 633 PROPAGANDISTA 633 PROPAGANDISTAS
631 CORRETORES SEGUROS 620 CORRETORES SEGUROS 641 CORRETOR SEGUROS 641 CORRETORES DE SEGUROS
632 CORRETORES IMOVEIS 621 CORRETORES IMOVEIS 642 CORRETOR IMOVEIS 642 CORRETORES DE IMÓVEIS
633 COR.TITULOS/VALORES 622 COR.TITULOS/VALORES 643 CORRET TIT/VALOR 643 CORRETORES DE TÍTULOS E VALORES
178
634 OUT.AG.CORRETORES 644 AVALIADOR LEILOE 644 AVALIADORES E LEILOEIROS
634 623 OUT.AG.CORRETORES 645 OUTR AG CORRETOR 645 OUTROS AGENTES E CORRETORES
711 AVIADORES CIVIS 700 AVIADORES CIVIS 711 AVIADOR CIVIL 711 AVIADORES CIVIS
712 COMISSARIOS DE BORDO 701 COMISSARIOS DE BORDO 712 COMISS DE BORDO 712 COMISSÁRIOS DE BORDO
713 OFIC.MARINHA MERCANTE 710 OFIC.MARINHA MERCANTE 721 OFIC MARIN MERC 721 OFICIAS DE MARINHA MERCANTE
722 MESTRES EMBARCAÇÃO 711 MESTRES EMBARCAÇÃO 722 MESTRES DE EMBAR 722 MESTRES DE EMBARCAÇÃO
723 MAQ.EMBARCAÇÃO 712 MAQ.EMBARCAÇÃO 723 MAQ DE EMBARC. 723 MAQUINISTAS DE EMBARCAÇÃO
724 FOG.EMBARCAÇÃO 713 FOG.EMBARCAÇÃO 724 FOGUISTA EMBARC. 724 FOGUISTAS DE EMBARCAÇÃO
725 MARINHEIROS CIVIS 714 MARINHEIROS CIVIS 725 MARINHEIRO CIVIL 725 MARINHEIROS CIVIS
726 TAIFEIROS TRANSP.MARIT 715 TAIFEIROS TRANSP.MARIT 726 TAIFEIROS 726 TAIFEIROS
727 BARQUEIROS/CANOEIROS 716 BARQUEIROS/CANOEIROS 727 BARQUEIROS CANOE 727 BARQUEIROS E CANOEIROS
731 GUINDASTEIROS 582 OPER EMPILHADEIR 582 OPERADORES DE EMPILHADEIRA
731 720 GUINDASTEIROS 731 GUINDASTEIROS 731 GUINDASTEIROS
732 ESTIVADORES 721 ESTIVADORES 732 ESTIVADORES 732 ESTIVADORES
741 AG.ESTRADA FERRO 730 AG.ESTRADA FERRO 741 AG ESTR DE FERRO 741 AGENTES DE ESTRADA DE FERRO
742 COND.CHEFES DE TREM 731 COND.CHEFES DE TREM 742 CONDUT CHEF TREM 742 CONDUTORES E CHEFES DE TREM
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
743 MAQ.DE TREM 732 MAQ.DE TREM 743 MAQUINISTA TREM 743 MAQUINISTAS DE TREM
744 FOGUISTAS DE TREM 733 FOGUISTAS DE TREM 744 FOGUISTAS TREM 744 FOGUISTAS DE TREM
745 GUARDA-FREIOS 734 GUARDA-FREIOS 745 GUARDA-FREIOS 745 GUARDA-FREIOS
746 MANOBREIROS SINALEIROS 735 MANOBREIROS SINALEIROS 746 MANOBREIRO SINAL 746 MANOBREIROS E SINALEIROS
751 MOTORISTAS 741 MOTORISTAS 751 MOTORISTAS 751 MOTORISTAS
752 TROCADORES 742 TROCADORES 752 TROCADORES 752 TROCADORES
753 CARROCEIROS/TROPEIROS 743 CARROCEIROS/TROPEIROS 753 CARROCEIRO TROP 753 CARROCEIROS E TROPEIROS
761 INSP.DESP.TRANSPORTES 751 INSP.DESP.TRANSPORTES 761 INSP DESP TRANSP 761 INSPET E DESPACH TRANSPORTES
762 TRAB.CONS.FERROVIAS 753 TRAB.CONS.FERROVIAS 762 TRAB CONS FERROV 762 TRABALHAD DE CONS FERROVIAS
771 AG.POSTAIS E TELEG 760 AG.POSTAIS E TELEG 771 AG POSTAL E TELE 771 AGENTES POSTAIS E TELEGRÁFICOS
772 POSTALISTAS 761 POSTALISTAS 772 POSTALISTAS 772 POSTALISTAS
774 TELEFONISTAS 763 TELEFONISTAS 774 TELEFONISTAS 774 TELEFONISTAS
775 CARTEIROS 764 CARTEIROS 775 CARTEIROS 775 CARTEIROS
776 GUARDA-FIOS 765 GUARDA-FIOS 776 GUARDA-FIOS
811 GARÇONS 812 CAMAREIROS 812 CAMAREIROS(EXC NO SERV DOM)
811 801 GARÇONS 814 GARCONS 814 GARÇONS
811 815 ATENDENTE BAR 815 ATENDENTES DE BAR E LANCHONETE
811 816 GOVERN E MORDOMOS(EXC SERV DOM)
811 817 MAITRE DE HOTEL
811 818 MAITRE NO SERV DE ALIMENTAÇÃO
812 COZINHEIROS 800 COZINHEIROS 813 COZINHEIROS 813 COZINHEIROS(EXC NO SERV DOM)
813 EMPREG.DOMESTICOS 802 EMPREG.DOMESTICOS 805 EMPREG DOMESTICO 801 ARRUMADEIRAS
813 802 BABÁS
813 803 COZINHEIRAS
813 804 FAXINEIRAS
813 805 LAVADEIRAS
813 806 GOVERNANTAS E MORDOMOS
813 807 EMPREGADOS DOMÉST NÃO ESPECIAL
813 808 OUTRAS OCUP DO SERV DOMÉSTICO
814 GUARD.AUTOMOVEIS 956 GUARD.AUTOMOVEIS 916 GUARD AUTOMOVEIS 916 GUARDADORES DE AUTOMÓVEIS
821 BARB.CABELEREIROS 810 BARB.CABELEREIROS 821 CABELEIREIROS 821 CABELEREIROS
821 822 BARBEIROS 822 BARBEIROS
821 823 MAQUILADORES ETC 823 MAQUILADORES, DEPIL E ESTETIC
822 MANICUROS/PEDICUROS 811 MANICUROS/PEDICUROS 824 MANICURO E PEDIC 824 MANICUROS E PEDICUROS
823 LAV.PASSADEIRAS 812 LAV.PASSADEIRAS 825 LAVADEIRA PASSAD 825 LAVADEIRAS E PASSADEIRAS
824 ENGRAXATES 813 ENGRAXATES 826 ENGRAXATES 826 ENGRAXATES
831 ATLETAS PROFISSIONAIS 831 JOGADOR DE FUTEB 831 JOGADORES DE FUTEBOL
831 820 ATLETAS PROFISSIONAIS 832 LUTADOR/ATLETA 832 LUTADORES E OUTROS ATLETAS PROF
834 TEC.JUIZES ESPORTES 821 TEC.JUIZES ESPORTES 833 JUIZ DE ESPORTES 833 JUÍZES DE ESPORTES
834 834 TECNICO ESPORTES 834 TÉCNICOS DE ESPORTES
841 OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 900 OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 851 OFIC FORCAS ARM 861 OFICIAIS DAS FORÇAS ARMADAS
(continuação) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
841 852 PRACA FORC ARMAD 862 PRAÇAS DAS FORÇAS ARMADAS
842 OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 901 OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 853 OFIC PRACAS BOMB 863 OFICIAIS E PRAÇAS BOMBEIROS
843 DELEGADOS COM.POLICIA 902 DELEGADOS COM.POLICIA 854 DELEG/COMISS POL 864 DELEGADOS E COMIS POLÍCIA
844 INVEST.POLICIA 903 INVEST.POLICIA 855 INVEST. POLICIA 865 INVESTIGADORES DE POLÍCIA
845 GUARDAS CIV.INSP.TRAF 905 GUARDAS CIV.INSP.TRAF 856 GUARDA-CIV INSP 866 GUARDAS-CIVIS E INSPET TRÁFEGO
179
846 CARCER.GUAR.PRESIDIO 906 CARCER.GUAR.PRESIDIO 857 CARCEREIRO ETC 867 CARCEREIROS
847 DATILOSCOPISTAS 907 DATILOSCOPISTAS 858 DATILOSCOPISTA 868 DATILOSCOPISTAS
911 ASCENSORISTAS 952 ASCENSORISTAS 842 ASCENSORISTAS 842 ASCENSORISTAS
912 APRENDIZES 551 APRENDIZES 911 APRENDIZES 911 APRENDIZES
913 CAPATAZES 950 CAPATAZES 914 CAPATAZES 914 CAPATAZES
914 GUARDAS SANITARIAS 953 GUARDAS SANITARIAS 917 GUARDA SANITARIO 917 GUARDAS SANITÁRIO
915 INSPETORES FISCAIS 571 INSP QUALIDADE 571 INSPETORES DE QUALIDADE
915 588 SUPERV SEGURANCA 588 SUPERV SEGURANÇA NO TRABALHO
915 954 INSPETORES FISCAIS 918 INSPETOR FISCAIS 918 INSPETORES E FISCAIS
916 LIXEIROS 955 LIXEIROS 920 LIXEIROS 920 LIXEIROS
920 GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 908 GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 859 GUARDA-VIG PARTI 869 GUARDAS-VIGIAS DE ORG PART
921 PORT.VIGIAS SERVENTES 951 PORT.VIGIAS SERVENTES 841 PORTEIROS 841 PORTEIROS
921 843 VIGIAS 843 VIGIAS
921 844 SERVENTES 844 SERVENTES
921 845 CONTINUOS 845 CONTÍNUOS
922 TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 958 BISCATEIROS
922 919 JARDIN EXC LAVOU 919 JARDINEIROS (EXC LAVOURA)
922 957 TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 924 TRABALHAD BRACAL 924 TRABALHADORES BRAÇAIS, SEM ESPE
923 TRAB.CONS.RODOVIAS 752 TRAB.CONS.RODOVIAS 925 TRAB CONS RODOV 925 TRABALHADORES DE CONSER RODOVIA
924 OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF
924 34 OUT.OCUP.AUXIL.AGRO
924 959 OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 926 OUT OCUP MAL DEF
924 193 AGENTES CENSITÁRIOS
924 272 ARTESAO 272 ARTESÃOS DE OBJETOS
924 912 BILHETEIRO DIVER 912 BILHETEIROS NO SERV DIVERSÕES
924 915 DEDETIZADORES 915 DEDETIZADORES
924 922 OPER TRAT AGUA 922 OPER TRATAMENTO E BOMB DE ÁGUA
924 926 BABÁS (EXCLUSIVE NO SERV DOM)
924 552 CONF.AFIN.INST/MUSICAIS 927
6001 COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 204 COMERCIANTES 601 COMERC C/PROPRIA 601 COMERCIANTES POR CONTA PRÓPRIA
6001 600 AÇOUGUEIROS
6002 HOTELEIRO PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 205 HOTEL DON PENSAO 811 HOTEL DON PENSAO 811 DONOS DE PENSÃO POR CONTA PRÓPR
6003 OUTROS PROP - CONTA PRÓPRIA 204 COMERCIANTES 801 PROPRIET SERV CONTA 852 OUT PROP SERV CONTA PRÓPRIA
7001 COMERCIANTE - EMPREGADOR 204 COMERCIANTES 10 COMERCIANTE 10 COMERCIANTES
7001 600 AÇOUGUEIROS
7002 DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 205 HOTEL.DONOS PENSÃO 11 HOTEL DON PENSAO 11 HOTELEIROS E DONOS DE PENSÃO
(conclusão) COMP OCUPAÇÃO COMPATIBILIZADA COD76 OCUPAÇÃO (V2304) COD88 OCUPAÇÃO (V503) COD96 OCUPAÇÃO (V2304)
7003 INDUSTRIAL 206 EMPRES.TRANSPORTES 6 EMP.EXT.VEG.PESC 6 EMPRESÁRIOS DA EXTR VEG E PESCA
7003 206 EMPRES.TRANSPORTES 7 EMP. EXTR. MINER 7 EMPRESÁRIOS DA EXTRAÇÃO MINERAL
7003 206 EMPRES.TRANSPORTES 12 EMPRES TRANSPORT 12 EMPRESÁRIOS NOS TRANSPORTES
7004 OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 207 OUT.EMPRESARIOS 13 OUTROS PROPRIET 15 OUTROS PROP
180
Tabela A.2 – Medidas de Renda e Escolaridade por Ocupação
Brasil, 1991
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
1 212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 264 183 207 213 2,6
1 213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 241 120 190 156 1,9
1 214 - TRAB.CULTURA 149 104 172 140 1,4
1 231 - CAÇADORES 95 80 190 216 1,7
1 232 - PESCADORES 261 159 198 177 2,1
1 241 - MEDEIR/LENHADORES 368 199 213 217 2,4
1 242 - CARVOEIROS(FABRIC.) 237 159 175 145 1,6
1 243 - SERINGUEIROS 323 179 194 194 1,6
1 245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 135 60 166 89 1,0
1 312 - CANT.MARROEIROS 226 159 192 232 2,0
1 444 - RENDEIROS 56 32 177 96 1,6
1 449 - REDEIROS 115 64 181 124 1,6
1 473 - CHAPELEIROS DE PALHA 141 18 152 79 0,7
1 484 - SERRADORES 253 199 206 261 2,5
1 488 - CEST.ESTEIREIROS 120 80 168 155 1,3
1 512 - ARMAD.CONCRETO 302 239 215 292 2,8
1 514 - SERVENTES DE PEDREIROS 199 159 199 260 2,2
1 532 - CHARQ.MAGAREFES 227 179 217 248 2,8
1 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 175 100 183 175 1,7
1 539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 299 239 214 269 2,7
1 564 - OLEIROS 221 159 189 226 1,9
1 576 - VASSOUREIROS 190 127 209 203 2,5
1 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS 198 135 185 236 1,7
1 813 - EMPREG.DOMESTICOS 172 125 214 175 2,7
1 823 - LAV.PASSADEIRAS 183 120 210 169 2,6
1 916 - LIXEIROS 195 120 193 209 1,9
1 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 256 167 218 285 2,7
2 311 - MINEIROS 389 279 232 278 3,1
2 341 - GARIMPEIROS 534 279 221 295 2,6
2 433 - POL/ESMERILHADORES 546 426 258 413 4,0
2 442 - FIAND.BOBINADORES 274 223 255 247 3,9
2 445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 272 207 246 237 3,6
2 462 - CURTIDORES 273 223 236 288 3,4
2 482 - CARP.TANOEIROS 324 239 222 310 2,9
2 486 - COLCHOEIROS 254 159 240 245 3,4
2 513 - PEDREIROS 361 271 227 337 3,1
2 516 - ESTUCADORES 465 319 246 375 3,5
2 520 - CALCET/ASFALTADORES 320 202 231 312 3,0
2 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL 363 287 230 307 3,2
2 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS 299 199 241 291 3,4
2 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 270 191 248 272 3,7
2 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 211 147 236 211 3,2
2 542 - TRAB.IND.PESCADO 230 159 238 202 3,2
2 562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 331 232 243 299 3,3
2 574 - BORRACHEIRO 400 267 246 342 3,5
2 575 - FOGUETEIROS 182 112 229 231 3,0
2 578 - MARMORISTAS 400 275 241 326 3,5
2 579 - PREPARADORES DE FUMO 233 147 251 213 3,5
2 584 - FOGUISTAS 395 319 244 350 3,5
2 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS 428 239 224 308 3,0
2 732 - ESTIVADORES 418 239 257 339 3,6
2 812 - COZINHEIROS 240 167 247 209 3,6
2 824 - ENGRAXATES 370 147 245 288 3,1
2 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES 247 167 247 258 3,5
2 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS 209 167 230 284 3,1
3 412 - TRAB.FORNOS METAL 499 392 260 369 3,9
3 413 - TREF.ESTIR.METAIS 530 438 278 398 4,3
3 414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 485 343 264 387 4,0
3 426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 498 398 284 437 4,5
3 427 - SOLDADORES 492 380 272 380 4,3
3 431 - MONT.EST.METALICA 491 370 288 403 4,6
3 441 - PREP.FIBRAS 380 279 271 332 4,2
3 447 - TECELÕES 359 279 279 321 4,4
3 450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 397 315 274 338 4,3
3 461 - CORREEIROS SELEIROS 308 199 266 279 4,0
3 475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 314 233 266 301 4,2
3 476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 292 199 271 291 4,0
3 481 - MARCENEIROS 466 319 287 403 4,5
3 487 - LUSTRADORES 357 279 261 355 4,0
3 515 - PINT.CAIADORES 421 319 268 404 4,1
3 517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 551 398 265 420 4,0
3 518 - ENCANADORES 453 339 274 385 4,2
3 521 - CALAFATES 479 319 270 411 4,1
3 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS 322 239 264 296 4,0
3 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 417 279 273 330 4,1
3 581 - PINTORES/PISTOLA 515 390 283 402 4,5
3 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 461 363 275 384 4,2
3 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 388 299 259 350 3,9
3 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO 645 398 285 347 4,3
3 731 - GUINDASTEIROS 541 438 278 412 4,4
181
3 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS 444 356 276 341 4,0
3 811 - GARÇONS 319 207 284 281 4,5
4 21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 526 255 302 256 4,1
4 411 - MOLD.MACHEIROS 570 466 290 450 4,5
4 421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 630 486 325 483 5,4
(continuação)
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
4 424 - MEC.VEIC.MOTOR 548 398 311 420 5,0
4 428 - CHAP.CALDEIREIROS 582 478 318 474 5,3
4 429 - FER.SER.FORJADORES 492 359 297 424 4,7
4 430 - LANT.VEICULOS 527 398 297 413 4,9
4 432 - FUNILEIROS METAIS 662 518 299 500 4,8
4 448 - TAPECEIROS 485 359 298 463 4,7
4 471 - ALF/COSTUREIROS 278 187 296 239 4,7
4 472 - BORDAD.CERZIDEIROS 231 120 292 229 4,5
4 485 - ESTOF.CAPOTEIROS 482 319 311 423 5,0
4 511 - MESTRE-DE-OBRA 670 519 308 421 4,9
4 519 - VIDRACEIROS 440 319 328 463 5,3
4 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS 488 398 290 409 4,6
4 572 - OURIVES 472 319 330 426 5,3
4 585 - EMB.EXPEDIDORES 408 280 297 377 4,6
4 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF 542 398 300 417 4,8
4 612 - VEND/AMBULANTES 431 239 303 342 4,5
4 751 - MOTORISTAS 599 407 291 396 4,7
4 752 - TROCADORES 386 319 305 362 5,0
4 814 - GUARD.AUTOMOVEIS 339 239 322 371 5,1
4 822 - MANICUROS/PEDICUROS 316 192 329 275 5,4
4 911 - ASCENSORISTAS 320 259 300 326 4,9
4 912 - APRENDIZES 566 398 333 468 5,4
4 913 - CAPATAZES 501 359 305 383 4,6
4 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 385 287 302 393 4,8
5 1 - AGRIC.PECUARISTAS 1281 490 361 631 5,2
5 132 - PARTEIROS DIPLOMADOS 302 167 361 243 5,6
5 244 - ERVATEIROS 817 398 404 384 6,0
5 425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 711 558 357 507 5,9
5 474 - CHAP.EXCLUSIVE PALHA 452 339 385 381 5,5
5 491 - ELETRICISTAS 650 478 389 510 6,4
5 492 - REPARAD.REC.RD/TV 571 398 401 525 6,5
5 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 589 518 389 546 6,6
5 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 635 478 393 528 6,6
5 553 - FOTOGRAVADORES 768 657 383 545 6,6
5 556 - ENCAN/CARTONADORES 395 311 340 384 5,6
5 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 480 299 354 411 5,4
5 573 - LAPIDADORES 425 276 358 432 5,7
5 613 - BALC/VENDEDORES 515 319 410 442 6,7
5 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS 653 398 385 512 6,3
5 724 - FOG.EMBARCAÇÃO 700 562 389 497 6,3
5 725 - MARINHEIROS CIVIS 697 481 370 412 6,0
5 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT 647 518 413 402 6,7
5 744 - FOGUISTAS DE TREM 681 556 400 655 5,9
5 745 - GUARDA-FREIOS 525 359 350 452 6,1
5 746 - MANOBREIROS SINALEIROS 547 438 366 442 6,0
5 821 - BARB.CABELEREIROS 519 319 364 347 6,0
5 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS 879 398 431 566 6,6
5 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF 520 359 388 487 5,9
5 914 - GUARDAS SANITARIAS 395 325 417 373 7,0
5 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 569 303 401 440 5,9
5 6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 729 398 345 398 5,2
5 6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 806 478 354 370 5,2
6 20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 1090 797 558 683 8,5
6 35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 526 398 439 546 7,3
6 134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 463 327 479 369 8,0
6 136 - PROTETICOS 763 558 479 590 7,8
6 192 - MUS.COMPOSITORES 824 478 478 604 7,4
6 193 - BAILAR.COREOGRAFOS 1037 598 529 609 7,9
6 196 - CINEGRAFISTAS 976 478 514 599 8,3
6 197 - FOTOGRAFOS 781 398 443 587 6,9
6 198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 589 398 438 499 7,2
6 331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 1175 757 487 509 7,8
6 555 - REVIS IND GRAF 613 398 452 496 7,3
6 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 978 797 545 704 8,7
6 632 - CORRETORES IMOVEIS 1152 797 557 710 8,6
6 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO 1147 598 525 578 7,7
6 741 - AG.ESTRADA FERRO 742 553 517 617 8,3
6 742 - COND.CHEFES DE TREM 709 558 512 663 8,6
6 743 - MAQ.DE TREM 768 598 450 557 7,5
6 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES 712 518 465 551 7,5
6 772 - POSTALISTAS 482 359 543 522 8,9
6 774 - TELEFONISTAS 449 343 514 384 8,5
6 775 - CARTEIROS 463 339 518 597 8,7
6 915 - INSPETORES FISCAIS 884 621 509 653 8,0
6 6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA 1938 916 439 978 6,3
6 7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR 1833 996 554 1324 8,4
6 7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 2214 1195 530 1163 7,9
6 7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 1922 996 527 901 7,9
182
7 2 - INDUSTRIAIS 2179 1195 591 1523 8,7
7 15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 1408 797 665 717 10,0
7 16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 1239 725 643 673 9,5
7 33 - TES.CAIXAS 955 757 700 627 10,6
7 36 - DAT.TAQUIGRAFOS 499 339 602 466 9,7
7 37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 675 458 641 558 9,9
7 40 - OPERADORES MAQUINA 849 598 683 665 10,6
7 41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 640 510 600 593 9,6
7 103 - AGR.TOPOGRAFOS 868 637 596 698 9,2
7 104 - DES.CARTOGRAFOS 1291 947 714 901 10,7
(conclusão)
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
7 115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 957 717 695 716 10,6
7 117 - FARM. PRATICOS 881 598 590 698 9,1
7 135 - ORTOPEDISTAS 899 526 703 610 10,1
7 137 - OPERADORES DE RAIO X 824 629 585 588 9,6
7 149 - OPTOMETRISTAS 680 566 580 600 9,1
7 171 - RELIGIOSOS 599 359 716 776 9,8
7 191 - ESCULT.PINTORES 963 629 716 730 10,3
7 194 - LOC.COM.RD/TV 837 578 622 650 9,6
7 195 - DECOR.CENOGRAFOS 1238 637 608 633 9,2
7 211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 732 598 674 647 10,1
7 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES 1120 876 607 735 9,4
7 622 - REP.COMERCIAIS 1341 996 635 820 9,8
7 634 - OUT.AG.CORRETORES 1094 717 604 653 9,0
7 771 - AG.POSTAIS E TELEG 753 570 659 673 10,4
7 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 931 685 623 751 9,7
7 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 952 637 599 770 9,3
7 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO 657 522 573 723 9,2
7 7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 2065 1195 644 1549 9,3
8 11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 1490 956 869 796 11,9
8 12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 2208 1195 849 857 11,4
8 13 - ADM.DIR.EMP.IND 2482 1753 861 1071 11,9
8 14 - ADM.DIR.EMP.CONST 2560 1636 958 1063 12,9
8 17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 1756 1195 745 839 10,8
8 18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 2654 1992 931 1044 12,9
8 19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 2321 1593 874 1026 12,0
8 31 - AG.FISC.TRIBUTOS 1991 1534 894 898 12,2
8 32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 889 637 779 656 11,5
8 34 - OCUP.AUX.ESTAT 1063 797 806 772 11,9
8 38 - ESC.JORNALISTAS 1890 1195 979 1046 13,1
8 148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 979 797 995 673 13,4
8 151 - PROF.ENS.1/GRAU 510 378 818 533 11,9
8 154 - PROF.ENS.N/ESPEC 761 538 872 654 12,1
8 164 - TAB.OFIC.REGISTRO 1557 950 775 1017 11,2
8 165 - ESC.CARTORIO 1051 797 837 826 12,0
8 166 - OF.JUSTIÇA 1259 1136 842 921 11,9
8 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA 1557 1139 917 804 12,6
8 199 - PROD.DIR.ESPETAC 1942 1195 912 940 12,4
8 623 - PROPAGANDISTAS 1644 996 824 928 11,7
8 631 - CORRETORES SEGUROS 1411 996 716 796 10,8
8 633 - COR.TITULOS/VALORES 1768 996 751 890 10,9
8 711 - AVIADORES CIVIS 3044 2390 772 944 11,6
8 712 - COMISSARIOS DE BORDO 2052 1951 747 676 11,2
8 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE 2252 1593 877 924 12,1
8 834 - TEC.JUIZES ESPORTES 1040 797 934 898 12,6
8 844 - INVEST.POLICIA 915 697 745 872 11,0
8 847 - DATILOSCOPISTAS 842 713 760 738 11,3
9 39 - ANAL.SISTEMAS 2042 1593 1028 1167 13,7
9 101 - ENGENHEIROS 2937 2390 1321 1645 15,8
9 102 - ARQ/URBANISTAS 2496 1793 1330 1468 15,8
9 111 - QUIMICOS 2784 2390 1299 1467 15,7
9 112 - FARMACEUTICOS 1281 996 1245 906 15,4
9 113 - FARMACOLOGISTAS 1525 1203 1254 1102 15,4
9 114 - GEOLOGOS 2625 2103 1302 1335 15,7
9 121 - AGRONOMOS 1982 1474 1282 1405 15,6
9 122 - VETERINARIOS 1839 1323 1281 1377 15,6
9 123 - BIOLOGISTAS 1463 1195 1255 1085 15,4
9 124 - GEÓGRAFO 1443 1390 1235 889 15,3
9 130 - MEDICOS 3727 2988 1564 1699 17,0
9 131 - DENTISTAS 2274 1593 1142 1365 14,3
9 133 - ENFERMEIROS DIPLOM 1249 1115 1216 769 15,2
9 142 - ESTATISTICOS 1662 1476 1172 983 14,9
9 143 - ECONOMISTAS 2640 1992 1245 1336 15,4
9 144 - CONTADORES 1713 1195 1013 1185 13,7
9 145 - SOCIOLOGOS 1675 1474 1252 928 15,4
9 146 - FISICOS 2826 2390 1442 1436 16,4
9 147 - OUT.ESP.MEDICINA 1423 1115 1200 929 14,8
9 150 - PROF.ENS.2/GRAU 934 759 1149 850 14,7
9 152 - PROF.ENS.SUPERIOR 2140 1912 1385 1205 16,1
9 161 - MAGISTRADOS 5666 5179 1342 1426 15,9
9 162 - PROC.PROM.PUBLICOS 4371 3984 1334 1275 15,9
9 163 - ADV.DEF.PUBLICOS 2560 1793 1307 1581 15,7
9 172 - ASS.SOCIAIS 1044 809 1039 674 13,5
9 843 - DELEGADOS COM.POLICIA 2087 1589 1046 1159 13,6
183
Fonte: Censo 91
184
Tabela A.3 – Medidas de Renda e Escolaridade por Ocupação
Rio de Janeiro, 1991
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
1 212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 275 199 244 247 3,3
1 213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 337 159 240 199 3,1
1 214 - TRAB.CULTURA 168 100 187 151 1,8
1 312 - CANT.MARROEIROS 292 199 218 264 2,6
1 414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 345 251 256 307 3,8
1 444 - RENDEIROS 199 199 155 210 1,0
1 449 - REDEIROS 345 299 242 298 3,5
1 473 - CHAPELEIROS DE PALHA 343 343 206 300 3,0
1 482 - CARP.TANOEIROS 317 239 246 309 3,5
1 512 - ARMAD.CONCRETO 278 239 224 277 2,9
1 513 - PEDREIROS 322 239 244 314 3,4
1 514 - SERVENTES DE PEDREIROS 199 143 224 264 2,9
1 516 - ESTUCADORES 466 282 241 308 3,2
1 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL 338 271 257 308 3,8
1 532 - CHARQ.MAGAREFES 186 151 228 245 3,2
1 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS 125 120 161 156 1,1
1 539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 247 183 256 299 3,9
1 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU 223 203 240 238 3,2
1 564 - OLEIROS 161 134 207 246 2,6
1 576 - VASSOUREIROS 126 80 199 193 2,2
1 578 - MARMORISTAS 365 220 257 316 3,8
1 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS 302 183 247 253 3,9
1 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS 267 159 210 268 2,5
1 813 - EMPREG.DOMESTICOS 182 139 229 166 3,2
1 823 - LAV.PASSADEIRAS 189 139 241 186 3,4
1 824 - ENGRAXATES 147 123 238 259 3,3
1 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC 264 167 260 303 3,7
2 232 - PESCADORES 405 199 273 240 3,8
2 311 - MINEIROS 362 239 288 343 4,1
2 430 - LANT.VEICULOS 422 319 299 356 5,0
2 433 - POL/ESMERILHADORES 383 278 295 344 4,8
2 442 - FIAND.BOBINADORES 228 183 267 215 4,3
2 447 - TECELÕES 297 239 296 303 4,8
2 448 - TAPECEIROS 289 251 299 310 4,7
2 484 - SERRADORES 511 239 275 324 3,6
2 487 - LUSTRADORES 265 215 263 315 4,1
2 488 - CEST.ESTEIREIROS 157 68 263 360 4,3
2 515 - PINT.CAIADORES 347 239 271 344 4,2
2 517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 420 319 267 341 4,0
2 518 - ENCANADORES 401 319 299 355 4,9
2 520 - CALCET/ASFALTADORES 306 299 272 334 4,2
2 521 - CALAFATES 420 239 296 364 4,6
2 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC 241 169 283 271 4,7
2 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS 298 239 268 289 4,1
2 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS 388 279 295 337 4,8
2 562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 389 319 275 333 4,4
2 574 - BORRACHEIRO 379 248 286 338 4,6
2 575 - FOGUETEIROS 122 80 278 293 3,9
2 581 - PINTORES/PISTOLA 369 299 296 348 4,8
2 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO 293 255 284 323 4,4
2 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA 256 191 293 293 4,8
2 812 - COZINHEIROS 230 167 285 223 4,4
2 916 - LIXEIROS 322 223 263 301 3,8
2 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES 251 167 278 274 4,2
3 411 - MOLD.MACHEIROS 450 327 324 377 5,3
3 412 - TRAB.FORNOS METAL 440 361 302 361 4,9
3 413 - TREF.ESTIR.METAIS 430 343 316 356 5,2
3 427 - SOLDADORES 428 335 320 373 5,4
3 429 - FER.SER.FORJADORES 390 319 321 386 5,3
3 432 - FUNILEIROS METAIS 385 319 326 378 5,7
3 441 - PREP.FIBRAS 285 239 303 302 5,0
3 445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 409 294 324 313 5,2
3 450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 289 215 301 307 4,9
3 471 - ALF/COSTUREIROS 279 191 333 238 5,5
3 472 - BORDAD.CERZIDEIROS 245 154 336 235 5,7
3 475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 333 239 312 336 5,0
3 476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 263 167 314 284 5,5
3 481 - MARCENEIROS 448 319 319 386 5,2
3 485 - ESTOF.CAPOTEIROS 388 279 333 378 5,5
3 511 - MESTRE-DE-OBRA 560 478 324 382 5,1
3 519 - VIDRACEIROS 359 255 316 372 5,2
3 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS 1058 283 328 355 5,2
3 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS 465 319 320 334 5,0
3 542 - TRAB.IND.PESCADO 380 187 300 268 4,4
3 731 - GUINDASTEIROS 427 348 301 357 5,0
3 752 - TROCADORES 354 279 313 311 5,3
3 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS 345 299 337 410 5,1
3 811 - GARÇONS 316 199 309 283 5,0
3 822 - MANICUROS/PEDICUROS 286 171 333 233 5,5
3 911 - ASCENSORISTAS 267 195 317 331 5,3
185
3 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS 408 167 324 377 5,1
4 21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 833 207 392 303 5,4
4 245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 830 478 392 294 6,0
4 421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 474 382 378 425 6,4
4 424 - MEC.VEIC.MOTOR 466 339 343 396 5,7
(continuação)
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
4 425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 524 398 399 454 6,7
4 426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 360 319 342 399 5,5
4 428 - CHAP.CALDEIREIROS 417 339 356 416 6,1
4 431 - MONT.EST.METALICA 397 339 342 387 5,8
4 461 - CORREEIROS SELEIROS 370 219 387 337 6,1
4 462 - CURTIDORES 322 319 393 446 6,6
4 486 - COLCHOEIROS 180 167 349 390 5,8
4 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS 294 239 382 372 6,7
4 556 - ENCAN/CARTONADORES 336 239 340 333 5,7
4 572 - OURIVES 397 398 374 450 6,3
4 573 - LAPIDADORES 390 335 399 435 6,4
4 584 - FOGUISTAS 434 390 347 407 5,8
4 585 - EMB.EXPEDIDORES 350 239 368 366 6,0
4 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF 495 335 389 402 6,4
4 612 - VEND/AMBULANTES 445 279 369 367 5,9
4 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS 551 398 389 419 6,5
4 732 - ESTIVADORES 468 335 343 391 5,7
4 751 - MOTORISTAS 552 430 339 394 5,7
4 814 - GUARD.AUTOMOVEIS 349 239 353 400 5,7
4 821 - BARB.CABELEREIROS 422 307 392 313 6,5
4 912 - APRENDIZES 431 335 396 424 6,6
4 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART 379 311 374 409 6,4
5 1 - AGRIC.PECUARISTAS 1086 398 414 658 6,0
5 35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 477 340 482 511 8,0
5 149 - OPTOMETRISTAS 560 566 461 437 7,9
5 241 - MEDEIR/LENHADORES 958 359 433 334 6,3
5 243 - SERINGUEIROS 579 279 432 292 5,9
5 244 - ERVATEIROS 551 398 428 339 6,8
5 341 - GARIMPEIROS 849 239 468 462 7,1
5 491 - ELETRICISTAS 545 398 431 483 7,1
5 492 - REPARAD.REC.RD/TV 539 398 461 533 7,7
5 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS 486 389 408 450 6,9
5 553 - FOTOGRAVADORES 607 478 446 469 7,6
5 555 - REVIS IND GRAF 443 275 498 450 8,1
5 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA 668 446 513 462 8,0
5 613 - BALC/VENDEDORES 441 271 429 405 7,0
5 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO 955 598 405 433 6,5
5 724 - FOG.EMBARCAÇÃO 924 637 422 454 7,0
5 725 - MARINHEIROS CIVIS 768 598 424 456 7,0
5 742 - COND.CHEFES DE TREM 652 665 487 503 8,5
5 745 - GUARDA-FREIOS 654 976 460 541 8,4
5 746 - MANOBREIROS SINALEIROS 628 598 483 523 8,2
5 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES 686 454 495 510 8,1
5 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS 615 100 417 453 6,1
5 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF 557 398 450 515 7,3
5 913 - CAPATAZES 725 602 498 526 7,8
5 914 - GUARDAS SANITARIAS 348 267 516 495 8,4
5 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF 658 319 497 451 7,5
5 6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA 721 398 400 424 6,3
5 6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA 810 797 468 443 7,5
6 20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 946 637 641 609 9,6
6 36 - DAT.TAQUIGRAFOS 555 414 620 462 10,0
6 117 - FARM. PRATICOS 812 398 596 582 9,1
6 134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 480 335 547 379 9,1
6 136 - PROTETICOS 685 407 537 566 8,6
6 137 - OPERADORES DE RAIO X 800 637 639 603 10,4
6 192 - MUS.COMPOSITORES 1150 637 622 664 9,3
6 195 - DECOR.CENOGRAFOS 1063 598 635 606 9,6
6 196 - CINEGRAFISTAS 795 518 624 666 10,0
6 197 - FOTOGRAFOS 837 398 522 552 8,2
6 198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 676 478 519 517 8,4
6 331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 1475 757 547 606 8,6
6 474 - CHAP.EXCLUSIVE PALHA 845 386 603 442 8,6
6 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES 1005 797 659 682 10,2
6 579 - PREPARADORES DE FUMO 446 359 557 440 9,3
6 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS 889 677 637 697 9,9
6 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT 848 677 527 551 8,6
6 741 - AG.ESTRADA FERRO 626 458 584 560 9,0
6 743 - MAQ.DE TREM 717 598 541 591 9,2
6 772 - POSTALISTAS 545 438 639 541 10,1
6 774 - TELEFONISTAS 443 339 578 368 9,4
6 775 - CARTEIROS 438 359 539 577 9,1
6 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS 849 518 623 662 9,5
6 915 - INSPETORES FISCAIS 879 570 586 601 9,2
6 7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR 1621 916 589 1197 9,0
6 7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR 1789 1195 567 1097 8,4
7 2 - INDUSTRIAIS 2146 1195 688 1461 10,0
7 15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 1241 717 679 609 10,2
186
7 16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 1225 797 713 661 10,4
7 33 - TES.CAIXAS 863 598 661 525 10,1
7 37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 659 438 677 515 10,4
7 40 - OPERADORES MAQUINA 766 598 699 596 10,9
7 41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 650 508 663 609 10,4
7 103 - AGR.TOPOGRAFOS 967 797 702 725 10,6
7 104 - DES.CARTOGRAFOS 1142 797 779 767 11,4
7 115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 927 637 754 667 11,2
7 135 - ORTOPEDISTAS 886 478 734 575 10,7
7 164 - TAB.OFIC.REGISTRO 2663 2111 728 1361 10,6
(conclusão)
Classe Ocupação Compatibilizada Renda Média Renda Mediana Status Médio Predito Médio Média de Anos de
Estudo
7 191 - ESCULT.PINTORES 929 637 779 680 11,1
7 193 - BAILAR.COREOGRAFOS 1688 797 727 619 10,6
7 194 - LOC.COM.RD/TV 1116 1195 733 668 11,0
7 211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 668 474 721 698 10,7
7 622 - REP.COMERCIAIS 1166 797 710 724 10,6
7 623 - PROPAGANDISTAS 958 797 795 775 11,7
7 631 - CORRETORES SEGUROS 1434 916 778 725 11,5
7 632 - CORRETORES IMOVEIS 1165 797 693 707 10,5
7 634 - OUT.AG.CORRETORES 1191 797 803 688 11,6
7 712 - COMISSARIOS DE BORDO 2201 1992 742 595 11,2
7 771 - AG.POSTAIS E TELEG 637 496 674 618 10,5
7 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS 962 725 693 751 10,6
7 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO 621 478 665 622 10,5
7 7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 1713 1115 702 934 9,9
7 7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR 2161 1195 758 1499 10,7
8 11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 1582 996 939 767 12,6
8 13 - ADM.DIR.EMP.IND 2251 1593 893 863 12,3
8 14 - ADM.DIR.EMP.CONST 2379 1574 974 936 13,1
8 17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 1801 1394 863 837 12,1
8 18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 2767 1992 1011 910 13,5
8 19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 2174 1394 948 835 12,7
8 31 - AG.FISC.TRIBUTOS 2488 1394 985 845 13,1
8 32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 967 757 834 663 12,0
8 34 - OCUP.AUX.ESTAT 1025 753 833 712 12,2
8 38 - ESC.JORNALISTAS 1915 1394 1037 905 13,6
8 39 - ANAL.SISTEMAS 1960 1593 1062 966 14,0
8 144 - CONTADORES 1590 1155 1045 1019 14,0
8 151 - PROF.ENS.1/GRAU 620 518 893 544 12,7
8 154 - PROF.ENS.N/ESPEC 744 518 906 597 12,5
8 165 - ESC.CARTORIO 1207 1004 1023 877 13,5
8 166 - OF.JUSTIÇA 1636 1394 1016 946 13,4
8 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA 1566 1195 1030 823 13,6
8 171 - RELIGIOSOS 724 458 829 815 11,3
8 199 - PROD.DIR.ESPETAC 2327 1394 984 831 13,2
8 633 - COR.TITULOS/VALORES 1594 1195 851 793 12,0
8 711 - AVIADORES CIVIS 4250 2789 882 873 12,7
8 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE 2156 1593 926 894 12,8
8 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO 1246 996 830 837 11,6
8 834 - TEC.JUIZES ESPORTES 1171 884 1014 863 13,3
8 844 - INVEST.POLICIA 997 797 871 881 12,3
8 847 - DATILOSCOPISTAS 1075 996 898 812 12,5
8 6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA 2332 1195 829 1578 10,9
9 12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 2851 2390 1103 979 14,2
9 101 - ENGENHEIROS 2901 2390 1327 1348 15,8
9 102 - ARQ/URBANISTAS 2412 1593 1324 1238 15,8
9 111 - QUIMICOS 3024 2390 1339 1349 15,9
9 112 - FARMACEUTICOS 1376 1115 1230 872 15,3
9 113 - FARMACOLOGISTAS 1459 1641 1297 829 15,6
9 114 - GEOLOGOS 3454 2988 1335 1320 15,8
9 121 - AGRONOMOS 1179 797 1280 1264 15,6
9 122 - VETERINARIOS 1564 1394 1303 1342 15,7
9 123 - BIOLOGISTAS 1358 1195 1280 925 15,5
9 124 - GEÓGRAFO 1536 1195 1285 946 15,6
9 130 - MEDICOS 3052 2390 1564 1348 17,0
9 131 - DENTISTAS 2076 1593 1183 1152 14,7
9 133 - ENFERMEIROS DIPLOM 1145 1036 1223 771 15,3
9 142 - ESTATISTICOS 1942 1593 1181 969 14,9
9 143 - ECONOMISTAS 3034 2390 1257 1178 15,4
9 145 - SOCIOLOGOS 1674 1394 1224 871 15,1
9 146 - FISICOS 2660 1789 1465 1214 16,5
9 147 - OUT.ESP.MEDICINA 1253 1052 1192 732 14,8
9 148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 1149 996 1103 664 14,4
9 150 - PROF.ENS.2/GRAU 987 797 1178 781 14,9
9 152 - PROF.ENS.SUPERIOR 2113 1793 1407 1081 16,2
9 161 - MAGISTRADOS 6070 5976 1364 1168 16,0
9 162 - PROC.PROM.PUBLICOS 4576 3585 1345 1034 15,9
9 163 - ADV.DEF.PUBLICOS 2460 1593 1302 1316 15,7
9 172 - ASS.SOCIAIS 1231 996 1093 654 14,1
9 843 - DELEGADOS COM.POLICIA 3314 2390 1168 1240 14,6
Fonte: Censo 91
187
Tabela A.4 – Classificação dos 9 estratos ocupacionais
I - TRABALHADORES RURAIS
212 - OP.EQUIP.IMP.MECANICOS 449 - REDEIROS
213 - TRABAL. RURAL AUTONOMOS 473 - CHAPELEIROS DE PALHA
214 - TRAB.CULTURA 484 - SERRADORES
231 - CAÇADORES 488 - CEST.ESTEIREIROS
232 - PESCADORES 514 - SERVENTES DE PEDREIROS
241 - MEDEIR/LENHADORES 538 - MOL.TRAB.ASSEMELHADOS
242 - CARVOEIROS(FABRIC.) 564 - OLEIROS
243 - SERINGUEIROS 575 - FOGUETEIROS
245 - AP.DESC.QUEB.PROD.VEG 576 - VASSOUREIROS
312 - CANT.MARROEIROS 753 - CARROCEIROS/TROPEIROS
341 - GARIMPEIROS 824 - ENGRAXATES
444 - RENDEIROS
II - SERVIÇOS DOMÉSTICOS
486 - COLCHOEIROS 727 - BARQUEIROS/CANOEIROS
512 - ARMAD.CONCRETO 813 - EMPREG.DOMESTICOS
520 - CALCET/ASFALTADORES 823 - LAV.PASSADEIRAS
532 - CHARQ.MAGAREFES 916 - LIXEIROS
539 - TRAB.FAB.REF/AÇUCAR 921 - PORT.VIGIAS SERVENTES
562 - CERAMISTAS/LOUCEIROS 922 - TRAB.BRAÇAIS S/ESPEC
III - TRABALHADORES DA INDÚSTRIA TRADICIONAL
311 - MINEIROS 521 - CALAFATES
433 - POL/ESMERILHADORES 522 - OPER.MAQ.CONST.CIVIL
441 - PREP.FIBRAS 531 - TRAB.CONS/ALIMENTOS
442 - FIAND.BOBINADORES 534 - TRAB.TRAT.LEITE/LATIC
445 - AJUST.TEAR.PREP.CARTÕES 535 - PADEIROS/CONFEITEIROS
447 - TECELÕES 540 - CERVEJ.TRAB.FAB.VINHOS
448 - TAPECEIROS 541 - TRAB.PREP.CAFE/CHA/CACAU
450 - BRANQ.TINT.TRAB/ACABA 542 - TRAB.IND.PESCADO
461 - CORREEIROS SELEIROS 561 - VIDREIROS/AMPOLEIROS
462 - CURTIDORES 563 - PINT.DEC.VIDRO/CERAMICA
471 - ALF/COSTUREIROS 573 - LAPIDADORES
475 - SAPAT.MONT.ACAB.SAPATOS 574 - BORRACHEIRO
476 - BOLSEIROS/CINTEIROS 578 - MARMORISTAS
481 - MARCENEIROS 579 - PREPARADORES DE FUMO
482 - CARP.TANOEIROS 581 - PINTORES/PISTOLA
485 - ESTOF.CAPOTEIROS 584 - FOGUISTAS
487 - LUSTRADORES 585 - EMB.EXPEDIDORES
513 - PEDREIROS 586 - CONF.PROD.PAPEL/PAPELÃO
515 - PINT.CAIADORES 587 - TRAB.FAB.PROD.BORRACHA
516 - ESTUCADORES 588 - OUT.OCUP.IND.TRANSF
517 - LADRILHEIROS/TAQUEIROS 731 - GUINDASTEIROS
519 - VIDRACEIROS 923 - TRAB.CONS.RODOVIAS
188
IV - TRABALHADORES DA INDÚSTRIA MODERNA E EM SERVIÇOS
GERAIS
21 - ADM.DIR.EMP.AGROP 572 - OURIVES
132 - PARTEIROS DIPLOMADOS 612 - VEND/AMBULANTES
411 - MOLD.MACHEIROS 613 - BALC/VENDEDORES
412 - TRAB.FORNOS METAL 614 - VEND/JORNAIS REVISTAS
413 - TREF.ESTIR.METAIS 722 - MESTRES EMBARCAÇÃO
414 - AJUST.MONT.INST.MAQUIN 732 - ESTIVADORES
421 - OP.MAQ.FERRAMENTAS 745 - GUARDA-FREIOS
424 - MEC.VEIC.MOTOR 751 - MOTORISTAS
425 - FER.AJUST.ESP.FERRAM 752 - TROCADORES
426 - GALV.REC.DECAP.METAIS 762 - TRAB.CONS.FERROVIAS
427 - SOLDADORES 811 - GARÇONS
428 - CHAP.CALDEIREIROS 812 - COZINHEIROS
429 - FER.SER.FORJADORES 814 - GUARD.AUTOMOVEIS
430 - LANT.VEICULOS 822 - MANICUROS/PEDICUROS
431 - MONT.EST.METALICA 831 - ATLETAS PROFISSIONAIS
432 - FUNILEIROS METAIS 911 - ASCENSORISTAS
472 - BORDAD.CERZIDEIROS 912 - APRENDIZES
518 - ENCANADORES 913 - CAPATAZES
555 - REVIS IND GRAF 920 - GUARDAS-VIGIAS ORG/PART
556 - ENCAN/CARTONADORES 924 - OUT.OCUP.OU OCUP.MAL DEF
V - PROPRIETÁRIOS CONTA PRÓPRIA
6001 - COMERCIANTE - CONTA PRÓPRIA
6002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - CONTA PRÓPRIA
6003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - CONTA PRÓPRIA
VI - OCUPAÇÕES NÃO MANUAIS DE ROTINA
1 - AGRIC.PECUARISTAS 511 - MESTRE-DE-OBRA
20 - CF.SEÇ.ENC.ADM.EMP.PRIV 551 - COMP.TIPOG.LINOTIPISTAS
33 - TES.CAIXAS 552 - IMPRESSORES/TIPOGRAFOS
35 - ALMOX.ARMAZENISTAS 553 - FOTOGRAVADORES
36 - DAT.TAQUIGRAFOS 571 - MESTRES/CONTRAMESTRES
37 - AUX.ESC.ADM.GERAL 621 - PRAC/VIAJ/COMERCIAIS
40 - OPERADORES MAQUINA 634 - OUT.AG.CORRETORES
41 - TELEG.RADIOTELEGRAF 723 - MAQ.EMBARCAÇÃO
103 - AGR.TOPOGRAFOS 724 - FOG.EMBARCAÇÃO
104 - DES.CARTOGRAFOS 725 - MARINHEIROS CIVIS
115 - OUT.ESP.CIENCIAS FIS 726 - TAIFEIROS TRANSP.MARIT
117 - FARM. PRATICOS 741 - AG.ESTRADA FERRO
134 - ENFERMEIROS N/DIPLO 743 - MAQ.DE TREM
136 - PROTETICOS 746 - MANOBREIROS SINALEIROS
137 - OPERADORES DE RAIO X 761 - INSP.DESP.TRANSPORTES
149 - OPTOMETRISTAS 772 - POSTALISTAS
192 - MUS.COMPOSITORES 774 - TELEFONISTAS
193 - BAILAR.COREOGRAFOS 775 - CARTEIROS
194 - LOC.COM.RD/TV 821 - BARB.CABELEREIROS
195 - DECOR.CENOGRAFOS 841 - OFIC.PRAÇAS F.ARMADAS
196 - CINEGRAFISTAS 842 - OFIC.PÇA C.BOMBEIROS
197 - FOTOGRAFOS 845 - GUARDAS CIV.INSP.TRAF
198 - OPER.TEC.CIN/RD/TV 846 - CARCER.GUAR.PRESIDIO
189
211 - TEC.AGRIC.PRAT.RURAIS 914 - GUARDAS SANITARIAS
331 - TRAB.EXTR.PETROLEO/GAS 915 - INSPETORES FISCAIS
491 - ELETRICISTAS
492 - REPARAD.REC.RD/TV
190
VII - EMPREGADORES
2 - INDUSTRIAIS
7001 - COMERCIANTE - EMPREGADOR
7002 - DONO DE HOTEL PENSÃO - EMPREGADOR
7003 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR
7004 - OUTROS PROPRIETÁRIOS - EMPREGADOR
VIII - ADMINISTRADORES, GERENTES E SUPERVISORES DO TRABALHO
MANUAL
11 - DIR.CHEF.SERV.PUB 165 - ESC.CARTORIO
12 - ADM.DIR.EMP.EXT.MIN 166 - OF.JUSTIÇA
13 - ADM.DIR.EMP.IND 167 - OUT.OCUP.JUSTIÇA
14 - ADM.DIR.EMP.CONST 171 - RELIGIOSOS
15 - ADM.DIR.EMP.COMERCIO 191 - ESCULT.PINTORES
16 - ADM.DIR.SERV.HOSPED 199 - PROD.DIR.ESPETAC
17 - ADM.DIR.EMP.TRA.COMUN 622 - REP.COMERCIAIS
18 - ADM.DIR.EMP.COM/VAL 623 - PROPAGANDISTAS
19 - OUT.ADM.DIR.EMP.PRIV 631 - CORRETORES SEGUROS
31 - AG.FISC.TRIBUTOS 632 - CORRETORES IMOVEIS
32 - ASSIST.ADMINISTRATIVOS 633 - COR.TITULOS/VALORES
34 - OCUP.AUX.ESTAT 711 - AVIADORES CIVIS
38 - ESC.JORNALISTAS 712 - COMISSARIOS DE BORDO
39 - ANAL.SISTEMAS 713 - OFIC.MARINHA MERCANTE
135 - ORTOPEDISTAS 771 - AG.POSTAIS E TELEG
148 - BIBLIO.MUSEOLOGOS 834 - TEC.JUIZES ESPORTES
151 - PROF.ENS.1/GRAU 844 - INVEST.POLICIA
154 - PROF.ENS.N/ESPEC 847 - DATILOSCOPISTAS
164 - TAB.OFIC.REGISTRO
IX - PROFISSIONAIS
101 - ENGENHEIROS 142 - ESTATISTICOS
102 - ARQ/URBANISTAS 143 - ECONOMISTAS
111 - QUIMICOS 144 - CONTADORES
112 - FARMACEUTICOS 145 - SOCIOLOGOS
113 - FARMACOLOGISTAS 146 - FISICOS
114 - GEOLOGOS 147 - OUT.ESP.MEDICINA
121 - AGRONOMOS 150 - PROF.ENS.2/GRAU
122 - VETERINARIOS 152 - PROF.ENS.SUPERIOR
123 - BIOLOGISTAS 161 - MAGISTRADOS
124 - GEÓGRAFO 162 - PROC.PROM.PUBLICOS
130 - MEDICOS 163 - ADV.DEF.PUBLICOS
131 - DENTISTAS 172 - ASS.SOCIAIS
133 - ENFERMEIROS DIPLOM 843 - DELEGADOS COM.POLICIA
191
Tabela A.5
Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil
(4 classes) 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)
Rio de Janeiro
Imobilidade 37,0 38,9 43,6 17,7% 11,9%
Descendente 11,5 13,9 15,6 35,6% 12,2%
Ascendente 51,4 47,1 40,8 -20,7% -13,5%
Brasil
Imobilidade 48,6 39,6 40,6 -16,5% 2,5%
Descendente 9,1 9,0 10,7 18,0% 19,1%
Ascendente 42,3 51,4 48,7 15,1% -5,3%
Total 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
Tabela A.6
Mobilidade social intergeracional no Rio de Janeiro e Brasil
(9 categorias ocupacionais ordenadas segundo
status do filho nas PNADs 76, 88 e 96) 1976 1988 1996 Var(96-76) Var(96-88)
Rio de Janeiro
Imobilidade 37,30 31,47 27,82 -25% -25%
Descendente 22,27 21,72 29,32 32% 32%
Ascendente 40,42 46,81 42,86 6% 6%
Brasil
Imobilidade 25,51 22,84 21,81 -14% -14%
Descendente 24,97 33,46 32,16 29% 29%
Ascendente 49,52 43,70 46,04 -7% -7%
Total 100 100 100
Fonte: PNADs 1976, 1988 e 1996.
192
Tabela A.7
Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação (4 classes)
1976 1996 Var(96-76) Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.
Rio de Janeiro 37,03 11,52 51,44 43,59 15,62 40,79 6,55 4,10 -10,65
São Paulo 35,95 8,68 55,37 34,64 10,18 55,17 -1,31 1,50 -0,20
Espirito Santo 44,26 7,36 48,38 41,47 9,43 49,11 -2,79 2,06 0,73
Rio Grande do Norte 40,55 10,06 49,39 35,28 9,52 55,20 -5,27 -0,54 5,81
Santa Catarina 51,34 5,70 42,96 44,29 6,47 49,23 -7,05 0,78 6,27
Bahia 61,45 8,00 30,56 51,40 9,81 38,79 -10,05 1,82 8,23
Rio Grande do Sul 51,64 12,42 35,95 41,16 14,60 44,24 -10,48 2,18 8,30
Minas Gerais 53,59 7,81 38,60 42,26 10,06 47,69 -11,33 2,25 9,08
Paraíba 58,01 4,63 37,36 45,63 7,19 47,18 -12,38 2,56 9,82
Paraná 50,58 8,79 40,62 38,68 9,38 51,94 -11,90 0,59 11,31
Pernambuco 59,93 9,45 30,63 45,98 11,25 42,78 -13,95 1,80 12,15
Ceará 63,23 7,63 29,14 46,06 8,65 45,28 -17,17 1,02 16,14
Piauí 70,25 3,02 26,73 48,20 7,86 43,93 -22,05 4,85 17,20
Sergipe 62,53 11,11 26,36 41,30 9,50 49,20 -21,22 -1,61 22,84
Alagoas 66,14 15,55 18,31 50,24 8,19 41,57 -15,90 -7,36 23,27
Maranhão 78,41 5,47 16,12 52,31 5,67 42,02 -26,10 0,21 25,90 Fonte: PNADs 1976 e 1996.
Tabela A.8
Evolução da mobilidade social por Unidade da Federação
(9 categorias ocupacionais ordenadas segundo
status do filho nas PNADs 76, 88 e 96) 1976 1996 Var(96-76) Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc. Imob. Desc. Asc.
Rio de Janeiro 22,5 25,4 52,2 21,8 33,5 44,8 -0,7 8,1 -7,4
São Paulo 28,5 16,7 54,8 22,9 23,1 54,0 -5,6 6,4 -0,8
Espírito Santo 38,2 20,6 41,2 33,4 22,8 43,8 -4,8 2,2 2,6
Rio Grande do Norte 31,8 22,7 45,4 29,5 24,1 46,4 -2,4 1,4 1,0
Santa Catarina 42,3 23,4 34,3 30,0 29,4 40,5 -12,3 6,0 6,3
Bahia 46,3 24,6 29,1 34,7 33,5 31,8 -11,6 8,9 2,7
Rio Grande do Sul 34,7 31,5 33,8 27,5 38,1 34,4 -7,2 6,6 0,6
Minas Gerais 42,5 19,2 38,3 30,3 27,2 42,5 -12,2 8,0 4,2
Paraíba 47,0 24,0 29,0 30,4 27,7 41,8 -16,6 3,8 12,8
Paraná 39,4 22,7 37,8 29,2 27,0 43,8 -10,2 4,2 6,0
Pernambuco 40,8 28,7 30,5 30,2 32,4 37,4 -10,6 3,7 6,9
Ceará 51,9 16,5 31,5 33,8 30,5 35,8 -18,2 13,9 4,2
Piauí 62,5 16,7 20,8 29,0 41,9 29,1 -33,5 25,2 8,4
Sergipe 54,0 20,7 25,3 29,6 27,6 42,9 -24,5 6,9 17,6
Maranhão 56,7 26,2 17,1 34,1 41,5 24,4 -22,6 15,3 7,3
Alagoas 54,0 20,1 25,8 34,5 26,3 39,2 -19,5 6,1 13,4
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
193
Tabela A.9
Evolução da estrutura ocupacional por sexo
no Rio de Janeiro e Brasil Homens Mulheres
1976 1996 Var(96-
76)
1976 1996 Var(96-
76)
Rio de Janeiro
I. Trab.Rurais 7,0 5,3 -24,9% 1,4 3,2 135,5%
II. Serv.Domésticos 10,9 8,5 -21,9% 32,9 26,9 -18,4%
III. Trab.Ind.Trad. 14,5 15,1 4,7% 16,0 8,9 -44,5%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 25,2 30,2 19,6% 12,1 18,9 56,1%
V. Conta própria 2,8 3,5 24,2% 2,4 4,4 84,4%
VI. Não manuais rotina 21,1 16,0 -24,2% 15,1 13,7 -9,8%
VII. Empregadores 6,6 7,4 12,5% 3,4 3,8 14,0%
VIII. Administradores 7,8 9,2 17,4% 11,6 15,0 29,7%
IX. Profissionais 4,1 4,8 18,0% 5,1 5,2 0,9%
Total 100 100 100 100
Brasil
I. Trab.Rurais 34,4 22,3 -35,3% 29,0 18,4 -36,5%
II. Serv.Domésticos 6,3 6,7 7,4% 22,1 21,4 -3,5%
III. Trab.Ind.Trad. 11,2 14,4 28,5% 11,0 8,6 -22,1%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 18,6 22,9 23,5% 10,1 15,9 57,3%
V. Conta própria 3,7 5,1 35,9% 3,4 4,6 33,5%
VI. Não manuais rotina 12,8 12,0 -6,2% 8,2 12,0 46,7%
VII. Empregadores 5,6 6,9 23,4% 1,9 3,2 68,3%
VIII. Administradores 4,9 6,4 30,8% 11,7 12,0 2,4%
IX. Profissionais 2,5 3,3 31,9% 2,4 3,9 59,6%
Total 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
194
Tabela A.10
Evolução da estrutura ocupacional por cor
no Rio de Janeiro e Brasil Brancos Não - brancos
1976 1996 Var(96-
76)
1976 1996 Var(96-
76)
Rio de Janeiro
I. Trab.Rurais 3,9 3,6 -9,1% 8,1 5,7 -28,8%
II. Serv.Domésticos 11,2 10,7 -4,8% 25,0 23,7 -5,0%
III. Trab.Ind.Trad. 11,5 11,0 -5,0% 20,3 15,1 -25,4%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 21,0 24,7 17,8% 23,0 27,1 17,9%
V. Conta própria 3,5 4,6 31,7% 1,2 2,8 131,4%
VI. Não manuais rotina 20,7 15,1 -26,9% 18,0 14,9 -16,9%
VII. Empregadores 9,0 7,7 -13,9% 0,9 3,4 278,7%
VIII. Administradores 12,8 15,4 21,0% 2,6 5,6 111,5%
IX. Profissionais 6,4 7,1 12,0% 1,0 1,6 58,8%
Total 100 100 100 100
Brasil
I. Trab.Rurais 27,1 16,1 -40,7% 41,9 27,2 -35,0%
II. Serv.Domésticos 7,8 10,3 32,8% 13,5 15,9 17,3%
III. Trab.Ind.Trad. 10,3 11,7 14,0% 12,5 12,5 0,0%
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 17,6 20,3 15,7% 14,8 19,8 33,9%
V. Conta própria 4,1 5,3 28,3% 3,0 4,3 43,3%
VI. Não manuais rotina 13,6 13,3 -2,6% 8,8 10,3 16,3%
VII. Empregadores 6,7 7,3 9,1% 1,8 2,8 50,1%
VIII. Administradores 9,2 10,7 16,4% 2,7 5,7 110,2%
IX. Profissionais 3,6 5,0 37,4% 0,9 1,5 79,4%
Total 100 100 100 100
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
195
Tabela A.11
Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional
do Rio de Janeiro em 1976 I II III IV V VI VII VIII IX Total
I 72.775 134.279 110.632 125.598 21.704 69.618 16.839 16.840 5.709 573.994
II 1.019 14.338 3.404 27.408 2.250 14.726 3.306 3.567 70.018
III 27.054 34.663 37.612 2.101 25.077 2.243 7.946 1.144 137.840
IV 6.266 25.017 25.951 57.771 2.195 43.903 10.147 16.125 9.947 197.322
V 2.060 6.679 9.084 3.404 12.251 4.347 12.303 5.737 55.865
VI 6.734 11.272 17.548 33.798 1.138 58.118 16.642 29.076 15.532 189.858
VII 1.936 4.625 11.222 3.393 17.945 14.212 14.848 6.846 75.027
VIII 1.160 1.160 3.502 1.160 10.049 1.160 11.486 5.610 35.287
IX 1.160 4.563 2.320 6.861 7.822 22.726
Total 86.794 217.116 204.662 307.155 37.345 256.250 71.216 119.052 58.347 1.357.937
Fonte: PNAD 1976.
Tabela A.12
Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional
do Rio de Janeiro em 1996 I II III IV V VI VII VIII IX Total
I 64.826 135.842 93.346 132.408 21.097 46.796 23.458 20.698 5.725 544.196
II 4.605 28.103 21.693 34.621 2.961 16.682 5.002 8.519 2.928 125.114
III 9.737 53.088 61.103 92.738 7.401 49.886 14.052 28.374 5.762 322.141
IV 7.765 61.947 50.145 146.933 21.127 92.938 28.501 68.781 21.757 499.894
V 1.284 4.281 7.244 15.007 10.889 8.918 12.273 19.249 7.077 86.222
VI 6.184 34.944 33.264 95.528 11.322 79.862 25.571 55.286 24.287 366.248
VII 724 4.606 8.162 16.158 7.011 17.043 15.369 26.729 15.438 111.240
VIII 1.679 6.715 4.804 23.598 5.758 24.191 11.481 33.666 16.957 128.849
IX 1.843 6.153 1.680 6.679 6.121 18.630 23.436 64.542
Total 96.804 331.369 279.761 563.144 89.246 342.995 141.828 279.932 123.367 2.248.446
Fonte: PNAD 1996.
196
Tabela A.13
Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional
do Brasil em 1976 I II III IV V VI VII VIII IX Total
I 4.227.554 901.340 897.033 1.161.127 290.128 600.396 152.827 192.757 30.798 8.453.960
II 27.443 38.247 34.635 84.877 5.562 38.194 15.874 22.516 1.317 268.665
III 89.186 72.351 228.489 185.426 20.200 134.338 62.923 58.941 15.217 867.071
IV 52.116 72.981 95.962 289.489 24.218 168.146 89.765 92.339 23.100 908.116
V 44.513 22.141 39.726 77.365 68.280 89.630 47.835 109.136 41.087 539.713
VI 116.298 73.382 96.609 192.358 43.233 295.059 97.775 124.960 72.746 1.112.420
VII 11.136 7.912 11.772 41.918 6.051 65.869 85.588 76.766 27.772 334.784
VIII 4.955 11.395 8.369 20.481 6.987 32.112 15.933 69.753 23.252 193.237
IX 1.679 1.867 9.146 3.501 22.147 15.694 56.725 45.442 156.201
Total 4.574.880 1.199.749 1.414.462 2.062.187 468.160 1.445.891 584.214 803.893 280.731 12.834.167
Fonte: PNAD 1976.
Tabela A.14
Frquência total da matriz de mobilidade social intergeracional
do Brasil em 1996 I II III IV V VI VII VIII IX Total
I 5.211.483 2.128.711 1.838.460 2.576.234 662.469 1.119.583 449.539 628.808 151.777 14.767.064
II 57.897 155.651 147.482 224.329 35.003 132.039 46.620 70.523 17.057 886.601
III 145.398 314.761 509.604 572.250 96.508 356.707 130.761 201.968 51.833 2.379.790
IV 121.900 296.092 299.056 941.891 160.889 545.757 240.847 418.174 151.129 3.175.735
V 50.484 60.621 85.492 210.770 140.813 202.223 143.319 222.965 94.223 1.210.910
VI 161.734 212.384 218.471 469.690 114.356 534.339 195.815 390.286 160.570 2.457.645
VII 25.673 36.997 64.474 130.715 58.084 136.726 142.008 150.152 100.235 845.064
VIII 15.348 32.712 28.106 97.349 32.917 139.356 77.636 196.596 118.504 738.524
IX 5.139 6.643 3.613 31.191 11.549 48.095 47.057 87.372 142.895 383.554
Total 5.795.056 3.244.572 3.194.758 5.254.419 1.312.588 3.214.825 1.473.602 2.366.844 988.223 26.844.887
Fonte: PNAD 1996.
197
Tabela A.15
Fluxo total da matriz de mobilidade social intergeracional Rio de Janeiro I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 5,4 9,9 8,1 9,2 1,6 5,1 1,2 1,2 0,4 42,3
II. Serv.Domésticos 0,1 1,1 0,3 2,0 0,2 1,1 0,2 0,3 5,2
III. Trab.Ind.Trad. 2,0 2,6 2,8 0,2 1,8 0,2 0,6 0,1 10,2
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 1,8 1,9 4,3 0,2 3,2 0,7 1,2 0,7 14,5
V. Conta própria 0,2 0,5 0,7 0,3 0,9 0,3 0,9 0,4 4,1
VI. Não manuais rotina 0,5 0,8 1,3 2,5 0,1 4,3 1,2 2,1 1,1 14,0
VII. Empregadores 0,1 0,3 0,8 0,2 1,3 1,0 1,1 0,5 5,5
VIII. Administradores 0,1 0,1 0,3 0,1 0,7 0,1 0,8 0,4 2,6
IX. Profissionais 0,1 0,3 0,2 0,5 0,6 1,7
Total 6,4 16,0 15,1 22,6 2,8 18,9 5,2 8,8 4,3 100,0
1996
I. Trab.Rurais 2,9 6,0 4,2 5,9 0,9 2,1 1,0 0,9 0,3 24,2
II. Serv.Domésticos 0,2 1,2 1,0 1,5 0,1 0,7 0,2 0,4 0,1 5,6
III. Trab.Ind.Trad. 0,4 2,4 2,7 4,1 0,3 2,2 0,6 1,3 0,3 14,3
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,3 2,8 2,2 6,5 0,9 4,1 1,3 3,1 1,0 22,2
V. Conta própria 0,1 0,2 0,3 0,7 0,5 0,4 0,5 0,9 0,3 3,8
VI. Não manuais rotina 0,3 1,6 1,5 4,2 0,5 3,6 1,1 2,5 1,1 16,3
VII. Empregadores 0,0 0,2 0,4 0,7 0,3 0,8 0,7 1,2 0,7 4,9
VIII. Administradores 0,1 0,3 0,2 1,0 0,3 1,1 0,5 1,5 0,8 5,7
IX. Profissionais 0,1 0,3 0,1 0,3 0,3 0,8 1,0 2,9
Total 4,3 14,7 12,4 25,0 4,0 15,3 6,3 12,5 5,5 100,0
Brasil I II III IV V VI VII VIII IX Total
1976
I. Trab.Rurais 32,9 7,0 7,0 9,0 2,3 4,7 1,2 1,5 0,2 65,9
II. Serv.Domésticos 0,2 0,3 0,3 0,7 0,0 0,3 0,1 0,2 0,0 2,1
III. Trab.Ind.Trad. 0,7 0,6 1,8 1,4 0,2 1,0 0,5 0,5 0,1 6,8
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,4 0,6 0,7 2,3 0,2 1,3 0,7 0,7 0,2 7,1
V. Conta própria 0,3 0,2 0,3 0,6 0,5 0,7 0,4 0,9 0,3 4,2
VI. Não manuais rotina 0,9 0,6 0,8 1,5 0,3 2,3 0,8 1,0 0,6 8,7
VII. Empregadores 0,1 0,1 0,1 0,3 0,0 0,5 0,7 0,6 0,2 2,6
VIII. Administradores 0,0 0,1 0,1 0,2 0,1 0,3 0,1 0,5 0,2 1,5
IX. Profissionais 0,0 0,0 0,1 0,0 0,2 0,1 0,4 0,4 1,2
Total 35,6 9,3 11,0 16,1 3,6 11,3 4,6 6,3 2,2 100,0
1996
I. Trab.Rurais 19,4 7,9 6,8 9,6 2,5 4,2 1,7 2,3 0,6 55,0
II. Serv.Domésticos 0,2 0,6 0,5 0,8 0,1 0,5 0,2 0,3 0,1 3,3
III. Trab.Ind.Trad. 0,5 1,2 1,9 2,1 0,4 1,3 0,5 0,8 0,2 8,9
IV. Trab.Ind.Mod. /serv. 0,5 1,1 1,1 3,5 0,6 2,0 0,9 1,6 0,6 11,8
V. Conta própria 0,2 0,2 0,3 0,8 0,5 0,8 0,5 0,8 0,4 4,5
VI. Não manuais rotina 0,6 0,8 0,8 1,7 0,4 2,0 0,7 1,5 0,6 9,2
VII. Empregadores 0,1 0,1 0,2 0,5 0,2 0,5 0,5 0,6 0,4 3,1
VIII. Administradores 0,1 0,1 0,1 0,4 0,1 0,5 0,3 0,7 0,4 2,8
IX. Profissionais 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,2 0,2 0,3 0,5 1,4
Total 21,6 12,1 11,9 19,6 4,9 12,0 5,5 8,8 3,7 100,0
Fonte: PNADs 1976 e 1996.
198
ANEXO ESTATÍSTICO
Conceito de independência estatística
Para se controlar os efeitos das marginais sobre o padrão de mobilidade social
propriamente dito, tem-se utilizado como ponto de partida o conceito de independência
estatística em tabelas de contingência aplicada à tabela de mobilidade social. O teste de
independência ou de não associação entre as variáveis é um procedimento básico
quando se analisam dados qualitativos, ou seja, a relação entre variáveis categóricas.
A teoria estatística diz que duas variáveis são independentes se para todo valor de uma
das variáveis aleatórias a probabilidade condicional de outra variável é igual a sua
probabilidade marginal. Em termos formais tem-se que
j
k
jk
k|j (1)
Onde k|j é a probabilidade da variável linha assumir o valor j dado que a variável
coluna tem o valor k, jk é a probabilidade conjunta da célula (j,k) e k e j são as
probabilidades marginais. A definição de independência significa, então, que as duas
variáveis são independentes quando:
jk = k j
Dada a definição de independência, o valor esperado para a freqüência observada jkf é
jkjkjk NNfE
Para estimar jkfE devemos estimar k e j . Os estimadores de máxima
verossimilhança desses parâmetros são, respectivamente
199
N
fˆ kk
e
N
fˆ j
j
Assim, o estimador de máxima verossimilhança de jkfE é dado por
Nf.fNF jkjkjk
expressando o caso em que se deseja testar a hipótese de independência entre as
variáveis.
Substituindo em (1) tem-se o seguinte
N
f
f
f j
k
jk
(2)
o que significa que, para cada linha j, se os valores percentuais com base no total da
coluna forem iguais aos percentuais da marginal (e, logicamente, iguais entre si), as
duas variáveis serão independentes.
APÊNDICE
200