Download - TESTES DE CONTROLE NO JUDÔ
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO FSICA
RODRIGO RIBEIRO ROSA
TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca
CAMPINAS 2006
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RODRIGO RIBEIRO ROSA
TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca
Dissertao de Mestrado apresentada Ps-Graduao da Faculdade de Educao Fsica da Universidade Estadual de Campinas para obteno do ttulo de Mestre em Educao Fsica
ORIENTADOR: Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira
CAMPINAS
2006
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FICHA CATALOGRFICA ELABORADA BIBLIOTECA FEF - UNICAMP
Rosa, Rodrigo Ribeiro.
R71t
Testes de controle no jud: proposta de avaliao da resistncia especial do judoca. / Rodrigo Ribeiro Rosa. - Campinas, SP: 2006.
Orientador: Paulo Roberto de Oliveira. Dissertao (Mestrado) Faculdade de Educao Fsica,
Universidade Estadual de Campinas.
1. Jud. 2. Avaliao. 3. Lactato. 4. Treinamento desportivo. I.
Oliveira, Paulo Roberto de. II. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educao Fsica. III. Ttulo.
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RODRIGO RIBEIRO ROSA
TESTES DE CONTROLE NO JUD Proposta de avaliao da resistncia especial do judoca
Este exemplar corresponde redao final da Dissertao de Mestrado defendida por Rodrigo Ribeiro Rosa e aprovada pela Comisso Julgadora em: 18/08/2006.
________________________________ Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira
Orientador
CAMPINAS 2006
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COMISSO JULGADORA
Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira
Orientador
Prof. Dr. Emerson Franchini (titular)
Prof. Dr. Jos Julio Gavio de Almeida (titular)
Prof. Dr. Valdir Jos Barbanti
(suplente)
Profa. Dra. Mara Patrcia Traina Chacon-Mikahil (suplente)
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus. Fora onipresente e onipotente, que nos
criou e nos deu a possibilidade de escolha. Escolhas que fazemos da nossa vida nos levam ao
caminho da evoluo, e isto est relegado a todas as pessoas. Por tal razo, me vejo ultrapassando
mais uma etapa da minha vida com fora elevada e nimo, para tentar sempre ser melhor, sempre
agradecendo a Ele.
minha famlia: meu pai Clodoaldo, minha me Ermelinda, meu irmo Gustavo e
minha irm Renata (in memoriam) pelo apoio dado em todas as minhas escolhas, pelo sacrifcio e
pelo amor que sempre tiveram comigo. Amo vocs !!!
Lygia Shimizu, pessoa que participou e muito de minha vida e que proporcionou a
maior das minhas alegrias at hoje: meu filho Filipe Shimizu Rosa. Por causa dele, vejo uma
razo de viver cada dia melhor. As boas lembranas estaro sempre bem guardadas no meu
corao. Muito obrigado por tudo !!! Grande beijo pra vocs !!!
Ao meu orientador, Prof. Dr. Paulo Roberto de Oliveira, grande guri, a quem tenho
enorme admirao, pelo carter sempre firme e justo, pelos ensinamentos e pela grande lio de
respeito que aprendi. Aquele que sabe menos, sempre deve ouvir aquele que sabe mais. Muito
obrigado por tudo em que voc me orientou, Paulinho !!!
Aos componentes da banca, Prof. Dr. Emerson Franchini e Prof. Dr. Jos Julio Gavio
de Almeida, pela contribuio na concepo deste trabalho, sempre com uma conversa aberta e
sem vaidades. Graas a vocs, este trabalho teve um desfecho, na minha opinio, brilhante. Muito
obrigado, Emerson e Gavio !!!
Profa. Dra. Mara Patrcia Traina Chacon-Mikahil, professora do DCE e FISEX,
grande profissional e pessoa, que me auxiliou e muito nos diferentes momentos deste trabalho.
Muito obrigado, Paty !!!
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Aos acadmicos Andria Gulak, Augusto Barbosa Ipatinga, Bruno Bezerra e
Leonardo Tiroli, pelo auxlio nas coletas de dados e pela descontrao em nossas viagens para
So Jos dos Campos e Ribeiro Preto. Muito obrigado !!!
Aos professores e judocas Elessandro Lima Ded e Felipe Zanetti, que possibilitaram
a reunio do grupo de atletas nas cidades de So Jos dos Campos e Ribeiro Preto,
respectivamente, sem os quais, este trabalho no seria possvel. Alm do trabalho, obrigado pela
disposio e pelas novas amizades feitas. Muito obrigado !!!
Aos judocas participantes deste projeto, que estiveram sempre altamente motivados e
dispensaram grande esforo nos momentos de realizao dos testes. Muito obrigado a todos !!!
Ao Prof. Dr. Valmor Tricoli e Prof. Dr. Valdir Barbanti, responsveis pelo Laboratrio
de Desempenho Esportivo (LADESP) da Universidade de So Paulo (USP), que possibilitaram a
realizao das anlises de sangue nos equipamentos disponveis no local. Obrigado !!!
Ao tcnico do LADESP Edson, pessoa que esteve sempre pronto a ajudar e me auxiliou,
e muito, nos momentos de anlise do material. Obrigado !!!
Profa. Dra. Denise Vaz de Macedo, responsvel pelo Laboratrio de Bioqumica do
Exerccio (LABEX), que permitiu que fossem utilizados equipamentos e materiais para a
realizao das coletas de sangue. Muito obrigado, Denise !!!
Aos amigos do LABEX, em especial ao meu amigo Rodrigo Hohl. Graas s muitas
conversas que tivemos, foi possvel concluir a idia do desenho do TC3 e TC15, idia essa que
teve tambm a participao do professor Armindo. voc, Hohl, meu muito obrigado pela luz
no fim do tnel !!! Obrigado, Armindo, pelas dicas dadas para o trabalho !!!
Ao grupo do jud da cidade de Taubat, sensei Roberto, Vicente e Rgis e atletas, que
participaram do incio da concepo deste trabalho. Muito obrigado pela dedicao e pelos
momentos vividos em nossa longa trajetria dedicada prtica do jud !!!
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Aos meus amigos e amigas da FEF, em especial: meu compadre Marcio Lazari,
Mauricio Coelho Mau-Mau, Cristian Ramirez Tatan e Diego Ferrer Cari, pelos momentos
vividos em nossa jornada e pela amizade construda; ela ser eterna !!! Muito obrigado por tudo,
caras !!!
Ao pessoal da Biblioteca da FEF (Dulce, Marli, Andria, Carmem, Helena, Gonzaga e
Geraldo) pelo auxlio competente, prontamente disposio e sempre muito gentil. Muito
obrigado a todos pela ajuda !!!
CAPES e CNPq, rgos do Governo Federal, e FAEPEX, rgo da UNICAMP, pela
colaborao e auxlio financeiro destinado realizao deste estudo. Obrigado !!!
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ROSA, R. R. Testes de controle no jud: proposta de avaliao da resistncia especial do judoca. 2006. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
RESUMO No cenrio desportivo atual, as necessidades de se estabelecerem mtodos confiveis de controle do treinamento do atleta uma das principais preocupaes dos pesquisadores em Cincias do Desporto. No caso do jud, como desporto acclico com elevada exigncia fsica, importante mensurar tal esforo empregado pelos judocas de alto rendimento, para que tais indcios possam servir de ferramenta para uso dos tcnicos, durante o cotidiano de trabalho. Sendo assim, o objetivo principal da pesquisa de formular novo processo de avaliao fsica do atleta, denominado TC3 e TC15, de modo a responder s especificidades da modalidade, atravs de relaes com o Special Judo Fitness Test (SJFT), proposta validada por Sterkowicz (1995) e situao de Luta, sendo esta a mais prxima da situao competitiva propriamente dita. O desempenho de 11 atletas, subdivididos em dois grupos, com diferentes desempenhos competitivos, foi mensurado atravs de quatro situaes especficas do jud (SJFT, Luta, TC3 e TC15). Atravs da anlise do desempenho motor (marcador externo) e da cintica da concentrao do lactato sanguneo ([Lac], marcador interno) ps-testes, postulou-se que tais variveis possam explicar a condio fsica entre os atletas nessas situaes. Os resultados mostraram que: houve diferena significante entre os grupos no desempenho do TC3 e TC15 e [Lac] no TC3; no houve diferena significante entre o desempenho no SJFT, mostrando que o SJFT no discriminou grupos de atletas com desempenho competitivo diferenciado, conforme afirma Sterkowicz (1995); TC3 apresentou alta fidedignidade; TC3 e TC15 apresentou correlao e concordncia com resultados apresentados pelo SJFT. Atravs desses resultados, concluiu-se que as novas propostas de avaliao fsicas so aplicveis e que podem ser utilizadas como parmetro do desempenho de atletas de jud. PALAVRAS-CHAVE: Jud; Avaliao; Lactato; Treinamento Desportivo.
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ROSA, R. R. Control tests in judo: a purpose of evaluation of judoists special endurance. 2006. Dissertao (Mestrado), Faculdade de Educao Fsica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006.
ABSTRACT In the actual sporting scenery, the need to establish a reliable method of controlling the athlete training is one of the main concerns of science sports researches. In the case of judo, a sport with a high physical demand is important to measure the effort required by the high-performance athlete so that the sign can be used as a tool for the coach during their work. As a consequence, the most important point of this research is to formulate a new physical evaluation process, denominated TC3 and TC 15. To answer all specifications of its classification through the relations with Special Judo Fitness Test (SJFT), this proposal was validated by Sterkowicz (1995), and fight simulation, being the closest to the competitive situation. The performance of 11 athletes, divided in 2 groups, with different competitive performance, was mentioned by 4 specific situations of judo (SJFT, fight, TC3 and TC15) through the analysis of performance (external marker) and kinetics of blood lactate concentration (internal marker) tests concluded that such variable could explain the physical condition among athletes. The outcome showed that: there was a significant difference among the performance of groups TC3 and TC15, but there wasnt a significant difference among SJFT groups. Therefore, SJFT didnt make distinction on those groups with a better competitive performance, according to Sterkowicz (1995); TC3 had a high reliability; TC3 and TC15 showed correlation and harmony with the results presented by SJFT. According to this, we can conclude that the new proposals of physical evaluation are applicable and can be used as a reference to the athletes performance.
KEYWORDS: Judo; Evaluation; Lactate; Sports Training.
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LISTA DE FIGURAS
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FIGURA 1 Desenho esquemtico da estrutura temporal do combate de jud (ROSA, 2000)
6
FIGURA 2 Desenho esquemtico do SJFT 21
FIGURA 3 Desenho esquemtico do TC3 e TC15 29
FIGURA 4 Correo de curva da [Lac] do atleta TL na situao SJFT 31
FIGURA 5 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no SJFT e TC3 42
FIGURA 6 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no SJFT e TC15 42
FIGURA 7 Plotagem de Bland e Altman para desempenho no TC3 e TC15 43
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LISTA DE QUADROS
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QUADRO 1 Estrutura temporal do combate de jud (em segundos)
7
QUADRO 2 Concentrao do lactato sanguneo em situaes especficas do jud
9
QUADRO 3 Potncia aerbia de atletas de jud 17
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LISTA DE TABELAS Pgina
TABELA 1 Caractersticas morfolgicas dos judocas 33
TABELA 2 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G1
34
TABELA 3 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G2
34
TABELA 4 Resultados do desempenho dos judocas no SJFT 35
TABELA 5 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao SJFT
35
TABELA 6 Pontuao e condio dos judocas na situao de Luta 36
TABELA 7 Scout da pontuao dos judocas na situao Luta
36
TABELA 8 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao Luta
37
TABELA 9 Resultados do desempenho dos judocas na situao TC3
37
TABELA 10 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao TC3
38
TABELA 11 Resultados do desempenho dos judocas na situao TC15
38
TABELA 12 Resultados da cintica da [Lac] nos diferentes momentos de coletas na situao TC15
39
TABELA 13 Nmero total de arremessos dos judocas na situao TC15
39
TABELA 14 Diferenas entre [Lac] nas situaes propostas no estudo
40
TABELA 15 Indicadores morfolgicos e de desempenho e nvel de significncia entre as diferenas dos grupos de judocas nas situaes propostas no estudo
40
TABELA 16 Indicadores internos e nvel de significncia entre as diferenas dos grupos de judocas nas situaes propostas no estudo
41
TABELA 17 Correlaes entre indicadores externos e internos 41
TABELA 18 Reprodutibilidade do TC3 com as trs primeiras sries do TC15 43
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LISTA DE APNDICES E ANEXOS
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APNDICE A Grupo de pesquisa 58
APNDICE B Situao 1 SJFT 59
APNDICE C Situao 2 Luta 60
APNDICE D Situao 3 TC3 61
APNDICE E Situao 4 TC15 62
APNDICE F Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 63
APNDICE G Questionrio sobre a vida desportiva do atleta de jud 65
ANEXO A Parecer Comit de tica em Pesquisa (FCM-UNICAMP) 66
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LISTA DE SIGLAS e ABREVIATURAS
FIJ
Federao Internacional de Jud (em ingls, IJF)
RAA
Reserva Atual de Adaptao
TC3
Teste de Controle com 3 sries de arremessos
TC15
Teste de Controle com 15 sries de arremessos
SJFT
Special Judo Fitness Test
TL
Tempo de Luta (Luta em P + Luta no Solo)
TLS
Tempo de Luta no Solo
TR
Tempo de Recuperao
GS
Golden Score
ATP-CP
Sistema Adenosina Tri-Fosfato + Fosfocreatina
[Lac]
Concentrao do Lactato Sanguneo
DP
Desvio-Padro
NADH
Nicotinamida Adenina Dinucleotdeo
NAD+
Forma oxidada do NADH
H+
ons de hidrognio
pH
Potencial de Hidrognio Inico (indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade de um meio qualquer)
H2O
Molcula de gua
ADP
Adenosina Di-Fosfato
Pi
Fosfato Inorgnico
LDH
Enzima Lactato Desidrogenase
MCT
Transportadores de Monocarboxilato (Lactato)
-
xxvii
VO2mx Volume de Captao Mxima de Oxignio
bpm
Batimentos Por Minuto
FC
Freqncia Cardaca
CO2
Gs Carbnico
MI
Membros Inferiores
MS
Membros Superiores
VLAn
Velocidade no Limiar Anaerbio
FCpr Freqncia Cardaca Pr-Esforo
FCps
Freqncia Cardaca Ps-Esforo
FC1ps
Freqncia Cardaca 1 minuto Ps-Esforo
MC
Massa Corporal
kg
Quilogramas
m
Metros
Alt
Estatura
FCA-B
Freqncia Cardaca entre Sries A e B do SJFT
FCB-C
Freqncia Cardaca entre Sries B e C do SJFT
T0, , T5
Momentos de coleta do sangue para anlise da [Lac]
L
Microlitros
[Lac] Pico Aj
Concentrao de Lactato Pico Ajustado
S1, ..., S15
Sries de Arremessos do TC3 e TC15
CCI
Coeficiente de Correlao Intraclasse
IC Intervalo de Confiana
1RM Teste de 1 Repetio Mxima
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xxix
SUMRIO Pgina
1 INTRODUO
1
2 OBJETIVOS
4
3 REVISO DE LITERATURA 5 3.1. Caracterizao da modalidade 5 3.1.1. Estrutura temporal da luta de jud 6 3.1.2. Metabolismo energtico envolvido em combates de jud 8 3.1.2.1. Lactato: produo, metabolismo e perspectivas de anlise da capacidade
anaerbia 10
3.2. Teoria do Treinamento 13 3.2.1. Conceito de Adaptao ao Treinamento 14 3.3. Processo de Controle do Treinamento como parte da preparao do atleta 15 3.3.1.Avaliao da capacidade aerbia 16 3.3.2. Avaliao da capacidade anaerbia 20 3.3.3. Avaliao motora especfica do jud 21 3.3.4. Critrios para elaborao de testes 23 3.3.4.1. Validade do teste 23 3.3.4.2. Fidedignidade do teste 25
4 MATERIAL E MTODOS 25 4.1. Sujeitos da pesquisa 26 4.2. Procedimentos de utilizao do aparelho Yellow Springs 1500 Sports 27
4.3. Special Judo Fitness Test (SJFT) 27 4.4. Luta 27 4.5. TC3 e TC15 28 4.6. Delineamento do protocolo de avaliao 29 4.7. Anlise da Concentrao do Lactato Sanguneo 29 4.8. Anlise Estatstica
30
5 RESULTADOS 33 5.1. Caracterizao do grupo de trabalho 33 5.2. Situao 1 Special Judo Fitness Test (SJFT) 34 5.3. Situao 2 Luta 35 5.4. Situao 3 TC3 37 5.5. Situao 4 TC15 38 5.6. Diferena entre [Lac] nas situaes propostas 40 5.7. Testes de diferenas entre grupos 40 5.8. Correlaes entre indicadores externos e internos 41 5.9. Concordncia dos testes 42 5.10. Fidedignidade do TC3 43
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xxxi
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6 DISCUSSES
44
6.1. Grupos de judocas 44 6.2. Desempenho nos testes SJFT, TC3 e TC15 44 6.3. Correlaes e concordncia entre desempenho nos testes SJFT, TC3 e TC15 46 6.4. Correlaes entre desempenho na Luta e testes 46 6.5. Correlaes entre [Lac] pico ajustado nas situaes SJFT, Luta, TC3 e TC15 47 6.6. Correlaes entre [Lac] Pico Ajustado e desempenho 48 6.7. Fidedignidade do TC3
49
7 CONCLUSES
50
8 REFERNCIAS
52
9 APNDICES E ANEXOS
58
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1
1. INTRODUO
No atual cenrio desportivo de alto nvel, as crescentes preocupaes acerca da
racionalizao dos meios e mtodos de preparao dos atletas, levaram os pesquisadores da
cincia do treinamento desportivo a procurar regras gerais e especiais do processo de adaptao a
longo prazo dos atletas s condies da atividade desportiva competitiva e dinmica da
condio do atleta, em funo da carga de treinamento proposta a ser desenvolvida. A anlise de
variveis qualitativas e quantitativas ao longo do processo de treinamento dos atletas de alto nvel
contribuiu, em parte, para responder a certos questionamentos em torno dos princpios do
treinamento desportivo contemporneo.
No caso do jud, observa-se uma evoluo significativa dos resultados
competitivos de pases como Rssia, Frana e Cuba, comparada ao Japo, que detm a
hegemonia dentro do jud mundial, possivelmente, em virtude da crescente preocupao dos
tcnicos dos pases citados em buscar solues tericas e prticas para a construo de uma
programao de treinamento que possa suprir as necessidades atuais do desporto de alto nvel.
A pesquisa do treinamento desportivo de jud brasileiro deve buscar essas
solues, porm, fato que tais indicativos no so construdos em curto prazo. A realidade
desportiva nacional mostra grande potencial dos nossos atletas, que poderia ser explorado de
maneira mais sistematizada, tendo em vista as dificuldades em conseguir: primeiramente, apoio
instrumental para a execuo da programao de treinamento proposto. Em segundo, a
implementao de um plano elaborado em bases cientficas; tais dificuldades derivam da cultura
conservadora que prevalece no desporto. Nesse novo panorama do desporto de alto rendimento, a
nova gerao de tcnicos, que pela formao acadmica, deve conciliar os conhecimentos de
profissionais j renomados em nosso pas, para que sejam propostas novas solues estruturadas
em conformidade com a complexidade do desporto atual.
Os passos a serem trilhados na concepo de um processo estruturado de
sistematizao do treinamento desportivo nacional podem ter exemplos de pases como Cuba
que, apesar de uma estrutura econmica frgil, dispem de ferramentas prticas, que podem ser
teis nesse contexto, conseguindo ainda hoje, resultados expressivos internacionalmente.
Em informaes colhidas no site da Federao Internacional de Jud (IJF
www.ijf.org), a preocupao atual de boa parte dos tcnicos de jud est em como controlar os
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2
nveis de rendimento desportivo dos atletas desde as etapas de iniciao, at atingir o nvel da
maestria desportiva. Fandino (2001) ressaltou, durante apresentao no 2 Congresso Mundial de
Jud da IJF, que Cuba possui um programa de deteco de talentos, na qual os alunos em fase
escolar so avaliados, dentro de uma faixa etria que varia de 7 a 12 anos, sendo as variveis
fisiolgicas avaliadas, em conjunto com o desempenho em testes gerais de campo (como
exemplo: salto vertical, corrida de 800 metros, entre outros), considerando que tais dados
indicariam bom nvel de desempenho futuro dos avaliados.
Como possvel observar, a realidade da aplicabilidade de testes gerais na
situao em que foi apresentada, nos d a dimenso do processo que formar um atleta de nvel
internacional. Como defendida pelos cientistas do desporto, a especificidade de um atleta
determinada em longos anos de treinamento, onde as cargas so ministradas procurando explorar
a chamada reserva atual de adaptao (RAA) do organismo ao treinamento
(VERKHOSHANSKY, 1990). As tarefas nas quais o atleta, que est direcionado para o alto
rendimento, dever estar apto a cumprir, devem ser programadas de modo que sua evoluo
desportiva respeite as manifestaes adaptativas do organismo ao estresse provocado pela
aplicao das cargas de treinamento.
Encontrar um atleta que possa atender as necessidades do atual desporto de alto
nvel uma tarefa difcil, mas com certeza, programar esse atleta para que possa render o
mximo de suas capacidades fsicas, tcnicas e psicolgicas, requeridas no desporto praticado,
uma tarefa ainda mais complexa. Assim, se fazem justas todas as procuras, por parte dos
pesquisadores do desporto, de respostas aos atuais problemas em torno do treinamento desportivo
de elite.
Posto isto, observa-se as reais preocupaes dos tcnicos de jud no mundo em
saber no s as potencialidades dos atletas, mas tambm como realizar intervenes durante o
processo, onde a qualidade do treinamento a ser realizado seja pea fundamental na programao
de treinamento (FANDINO, 2001).
Os tericos do treinamento desportivo, como Matveev (1980), Verkhoshansky
(1990) e Zakharov (1992), comentaram sobre vrios aspectos estudados intensamente nessa rea
do conhecimento durante a existncia da antiga Unio Sovitica, com respeito ao treinamento de
alto nvel de desportos de luta. Isso colaborou para uma construo da teoria do treinamento da
luta, embora tais informaes precisem, dentro das devidas propores, ser adaptadas ao que
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ocorre especificamente no jud, visto que os pases componentes do antigo bloco sovitico
tambm so expoentes no desporto.
Bondarchuk apud Gilad (2002) cita que nos desportos ligados ao
desenvolvimento da fora explosiva, possvel encontrar pelo menos um grupo de cinco atletas
com diferentes caractersticas quanto converso dos ganhos de treinamento em capacidade
competitiva propriamente dita. Para cada tipo necessrio: planejamento especfico para
desenvolver a melhor performance e mtodos diagnsticos para determinar em qual planejamento
cada atleta se encaixa; com isso, o tcnico tem maiores condies de controlar os diversos planos
de treinamento individual dentro da programao mais generalizada.
fato que, conforme a cincia do desporto evolui, surgem novos problemas
dentro do contexto apresentado. Com o jud no diferente, visto a sua natureza desportiva, que
de difcil avaliao. Conforme Verkhoshansky (1990, p. 29), o jud sendo uma luta, pode ser
considerado como desporto combinado, caracterizado por uma elevada variabilidade de aes
motoras em condies de fadiga compensada e de trabalho de intensidade varivel. Posto isso,
pode-se pensar como um desporto no qual as situaes de combate so diversas, porm, existem
certos pontos que podem ser esclarecidos, atravs de padres de combate dos judocas e da
estrutura temporal da luta.
A regulao de tais variveis realmente se torna um problema de grande
extenso para os tcnicos, pois fato que controlar o treinamento do judoca no tarefa fcil;
reproduzir dentro do treinamento a realidade competitiva do jud se tornou um desafio, que deve
ser respondido altura da potencialidade do desporto brasileiro.
Por isso, a busca na concepo de instrumentos prticos de controle do
treinamento de jud se faz necessrio, para que as verdadeiras possibilidades do judoca possam
ser mensuradas. Com isso, concebe-se de maneira precisa o rendimento desportivo em funo da
aplicao de cargas de treino estruturadas de maneira racional, otimizando, assim, as capacidades
fsicas inerentes modalidade. Nessa tarefa, o desenvolvimento de Testes de Controle em Jud
aparece como real condio em se idealizar tal ferramenta, e nessa proposta, est fundamentado o
atual projeto de trabalho com o desporto jud.
O nico mtodo existente validado para o controle de treinamento em jud
oriundo dos estudos conduzidos por Sterkowicz (1995) apud Franchini et al. (1999), onde se
procurou estruturar modelo de avaliao baseado no nvel de esforo, avaliado em uma tarefa
-
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fechada, utilizando como variveis o nmero de golpes aplicados em tempo definido (em trs
sries de 15, 30 e 30 segundos, respectivamente), e a freqncia cardaca (FC) ps-esforo, para o
clculo do ndice que determina o nvel de rendimento do atleta.
Porm, dentro dos estudos direcionados neste projeto de pesquisa,
considerando-se os referenciais tericos, existem certos pontos que fogem especificidade do
desporto, como deslocamentos em forma de corrida, no condizentes com o observado na
modalidade. Tais aspectos so tratados com grande nfase pelos cientistas do desporto, como
Kuznetsov (1986), Verkhoshansky (1990), Matveev (1980, 1996), Bompa (1999) e Zatsiorsky
(1999), procurando levar o Princpio da Especificidade como um dos pontos fundamentais na
estruturao de elementos que possam ser vlidos na avaliao e prescrio do treinamento de
atletas de alto nvel.
Desta forma, o presente projeto de trabalho est nesta procura: definir novo
mtodo de avaliao de rendimento do atleta, levando-se em considerao fatores como demanda
metablica, estrutura temporal observada em combates e utilizao de alavancas especficas
empregadas na luta.
2. OBJETIVOS
O objetivo principal do presente trabalho, levando em conta as metas atingidas
em pesquisas conduzidas durante o projeto-piloto, problematizar o processo de controle do
treinamento do jud de alto nvel, de acordo com a teoria contempornea. Com tais elementos,
elaborar propostas de novos mtodos de controle, em face s evidncias observadas na obteno e
discusso dos dados a serem coletados nas situaes propostas.
Dentro do estudo, ainda sero observadas outras situaes, a considerar:
1) se as situaes de testes sugeridas (TC3, TC15 e SJFT) discriminam atletas de diferentes
nveis competitivos;
2) se as situaes de testes aplicadas mostram relao com a situao de Luta, em funo dos
indicadores externos (desempenho nos testes e Luta) e interno (concentrao do lactato
sanguneo), evidenciando se possvel reproduzir o esforo de exerccio competitivo em
teste especfico;
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3) se os novos testes propostos no presente trabalho (TC3 e TC15) possuem validade e
fidedignidade, frente ao SJFT, levando em conta esse teste como sendo o nico validado
dentro da literatura.
O presente trabalho est alicerado no seguinte contexto: saber o que acontece
com o judoca, no contexto biolgico e das capacidades biomotoras especficas, com
embasamento cientfico, tem maior validade para ser utilizado com ferramenta no processo de
treino do atleta.
3. REVISO DE LITERATURA
3.1. Caracterizao da modalidade
Quando se trata do desporto de combate, logo se relacionam duas caractersticas
inerentes modalidade: esforo intermitente de alta intensidade e elevada demanda energtica
pelo metabolismo glicoltico.
Quanto s caractersticas fsicas gerais, descreve-se o jud como modalidade
com nvel tcnico-ttico elaborado, onde a capacidade e potncia aerbia e anaerbia, fora e
flexibilidade so determinantes para o sucesso competitivo (LITTLE, 1991). Dentro dessa
afirmao, possvel refletir que o desenvolvimento da flexibilidade pode ser importante em
alguns aspectos, como o trabalho na luta de solo, porm, no parece ser possvel que seja
determinante para o sucesso competitivo.
Alm das capacidades fsicas desenvolvidas, sugere-se tambm que o atleta de
jud deve possuir os processos metablicos, principalmente a via glicoltica, adaptados ao
esforo especfico, tendo como suporte boa capacidade aerbia, durante o combate (THOMAS et
al., 1989).
Posto isso, buscou-se caracterizar a modalidade jud, frente a dois contextos:
tempo de esforo competitivo e metabolismo energtico correspondente, sendo que tais variveis
sero norteadores no pensamento a respeito do presente trabalho.
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6
3.1.1. Estrutura temporal da luta de jud
A luta de jud, quando analisada em relao sua estrutura temporal, mostra
seqncias de eventos, que se sucedem de acordo com o esquema representado na figura 1:
1) os oponentes no esto em contato;
2) os lutadores entram em contato, tentando estabilizar uma pegada (situao tcnica
denominada briga de pegada);
3) tentativa de golpe por parte de um dos judocas;
4) mesmo o golpe sendo ou no pontuado, existe a possvel continuao da luta no solo;
5) dependendo da situao apresentada, o juiz permite ou no o prolongamento dessa
situao, sendo que a sua interveno possibilita o momento de recuperao parcial dos
atletas, durante a volta s marcas iniciais para a continuao do combate.
Tempo de luta em tachi waza (luta em p)
Tempo de luta em n waza (luta no solo)
Recuperao entre cada interveno de luta
FIGURA 1 Desenho esquemtico da estrutura temporal do combate de jud. Fonte: ROSA (2000).
Ao analisar as formas de luta, possvel distinguir tticas de combate que
podem mostrar uma configurao diferente da mostrada no esquema acima. Alguns judocas usam
de determinadas tcnicas que no necessariamente precisam ter uma pegada estabilizada (dentro
do meio judostico chamamos de pegada clssica, ou seja, pegada na manga e gola do
adversrio).
Alm disso, determinadas tticas podem variar conforme o andamento da luta,
Combate de jud (tempo determinado pela faixa etria)
-
7
como por exemplo, o placar a favor ou contra. Os perodos de tempo nos quais essas seqncias
de evento acontecem so amplamente variados, sugerindo uma das caractersticas marcantes do
desporto de combate: a imprevisibilidade. As situaes do combate podem estender um ou mais
momentos como os acima descritos, e gerar inmeras possibilidades, seja atacando ou
defendendo.
Com a combinao desses eventos, sugere-se que o jud tem como
caracterstica o trabalho intermitente, com tempos de luta e recuperao variveis. Tais
evidncias so encontradas na literatura e apresentadas no quadro 1, com dados que descrevem a
estrutura temporal da luta de jud. Entre eles, esto alguns dos estudos conduzidos como parte do
plano-piloto do presente trabalho.
Essa estrutura temporal foi objeto de estudo em diversas situaes competitivas,
com atletas de diferentes idades e nveis competitivos, onde os tempos de cada interveno
(tempo de luta, ou TL entendido como tempo de luta em p e no solo como um todo; tempo de
recuperao, ou TR; tempo de luta no solo, ou TLS), possibilitam predizer a demanda de trabalho
competitivo decorrente dessa configurao para cada nvel.
QUADRO 1 Estrutura temporal do combate de jud (em segundos)
Autores (nmero de lutas) TL TR TLS Sikorski et al. (1987) 30,0 13,0 -
Monteiro (1995) Europeu Jnior (140) 1 min 2 min 3 min 4 min 5 min
25,8 7,8 27,0 9,0 27,0 9,7 22,4 9,3 18,9 10,4
9,5 3,2 10,4 4,5 13,4 7,6 13,2 7,3 13,9 9,0
- - - - -
Castarlenas e Planas (1997) Campeonato Mundial e Olmpico (144)
18,00 8,50
12,4 4,1
-
Sterkowicz e Maslej (1998) Campeonato Polons (92) 18,90 13,16
10,32 10,44
15,79 14,26
Rosa (2000) Paulista Jr. (95) 20,70 12,40
11,20 8,50
11,40 11,20
Silva (2002) Regional Brasileiro (20) 20,50 11,30
- 8,70 6,30
Rosa et al. (2003) Seletiva Brasil Mundial 2003 (42) 30,41 20,69
7,41 5,19
9,51 7,28
Obs.: Valores expressos em mdia desvio-padro (DP).
-
8
O atual problema da preparao fsica recai na nova regra do Golden Score
(GS), instaurada no ano de 2002, que aumenta o tempo possvel de luta de 5 para 10 minutos. Os
dados disponveis na literatura, at o momento, diziam respeito regra vigente, ou seja, eram
esforos competitivos de, no mximo, 5 minutos de durao.
Rosa et al. (2003) constataram, em estudo realizado com judocas brasileiros de
alto nvel, que em todas as fases da luta (TL, TR e TLS), no houve diferena estatisticamente
significante entre lutas em que ocorreu ou no ocorreu GS. Os autores concluram que devido ao
GS, as alteraes dos contedos das cargas especficas de treino devem ocorrer, buscando
otimizar racionalmente o rendimento desportivo nessa nova realidade encontrada na competio:
o observado aumento do tempo total de combate.
Porm, em observaes no site www.ippon.org, onde esto disponveis todas as
informaes sobre os tempos de combate do ltimo Campeonato Mundial de Jud, realizado em
2005, no Cairo (Egito), notada a baixssima ocorrncia do GS nos combates de jud de alto
nvel. Na categoria masculina, foram realizados 451 combates, sendo que em 280 lutas (62 % do
total) ocorreram ippon, e apenas em 3 combates ocorreu GS. Na categoria feminina, em 310 lutas
realizadas, 190 (61 % do total) finalizaram com ippon, e em 5 lutas ocorreu GS.
Levando em conta tais indicativos, a nova regra do GS parece no ter afetado a
dinmica da luta, no que diz respeito ao aumento do volume de trabalho competitivo, j que
ocorre em pequena parcela em relao ao total de lutas.
3.1.2. Metabolismo energtico envolvido em combates de jud
A estrutura temporal, acima descrita, permite dizer que o esforo fsico gerado
em combates de jud desenvolvido em momentos alternados de alta intensidade de esforo, que
duram em torno de 15 a 20 segundos, com intervalos ativos de recuperao, que duram de 5 a 10
segundos.
Com relao natureza da demanda metablica de tal atividade, os momentos
de mxima exigncia podem ser desenvolvidos s custas do metabolismo anaerbio (sistema
ATP-CP e glicoltico), com pequena contribuio do sistema aerbio durante o exerccio, visto
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9
em trabalhos cclicos intermitentes de alta intensidade, analisados em movimentos no-
especficos do jud (GAITANOS et al., 1993; BOGDANIS et al., 1996; TABATA et al., 1997).
Na literatura especfica, existe certo consenso quanto ao seguinte fato: o jud
possui atividades motoras sustentadas, principalmente, pela capacidade anaerbia ltica, devido
ao trabalho de alta intensidade, com pausas muito curtas (TAYLOR E BRASSARD, 1981;
THOMAS et al., 1989; CALLISTER et al., 1990; CALLISTER et al., 1991); por ser indicador
sistmico da atividade glicoltica, as concentraes de lactato sanguneo encontrados em
combates de jud so alteradas em relao aos valores de repouso, de acordo com os estudos
abaixo citados, evidenciando a participao dessa via no suporte energtico para o trabalho
muscular desenvolvido em lutas de jud.
Alguns estudos esto descritos no quadro 2, com dados sobre a concentrao do
lactato sanguneo ([Lac]) aps eventos competitivos propriamente ditos e combates simulados
(randori).
QUADRO 2 Concentrao do lactato sanguneo em situaes especficas do jud
Autor Situao [Lac] (mmol.l-1) (Mdia DP)
Sikorski et al. (1987) Competio De 10,0 5,0 a 17,0 2,0 (1)
Callister et al. (1990) Randori (intervalado) 8,9 0,5
Callister et al. (1991) Randori (intervalado) 9,1 1,1
Cavazani (1991) Competio 10,56 3,04
Franchini et al. (1998) Randori (uma simulao) 10,95 3,27 (2); 10,68 1,19 (3); 11,77 3,93 (4)
Degoutte et al. (2003) Randori 12,3 1,8 (1) lutas de diferentes fases da competio; (2) judocas da classe Juvenil; (3) judocas da classe Junior; (4) judocas da classe Snior.
evidente que as outras vias de obteno de energia para o trabalho muscular
so importantes, visto que as atuais concepes sugerem um novo aspecto quanto aos processos
de obteno energtica, j que no possvel mais levar em conta o sistema linear de
desenvolvimento dos processos de ressntese do ATP. A participao em diversas parcelas das
diferentes fontes energticas, em conjunto com o sistema de transporte de CP atravs da
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membrana mitocondrial para o sarcoplasma, garantiria a disponibilidade de energia necessria
para esforos consecutivos de curta durao e de curta recuperao (VERKHOSHANSKY,
1990).
Tais disposies vo de encontro ao que comumente observado em combates
de jud. Em estudo recente a respeito do metabolismo especfico da luta de jud, Degoutte et al.
(2003) analisaram a demanda de energia aps combate de jud e a cintica de recuperao dos
compostos do ciclo das purinas e das vias glicoltica e oxidativa. As concentraes de lactato
sanguneo ([Lac]) aumentaram para 12,3 1,8 mmol.l-1 aps a luta, com retorno aos valores de
base aps 1 hora; marcadores do catabolismo protico, como a uria e cido rico, mantiveram-se
alterados desde o momento aps o combate, at o perodo de 24 horas. O metabolismo de
triglicrides, cidos graxos e glicerol tambm tiveram alteraes significantes (p < 0,05) durante
perodo de 24 horas. Os autores concluram que a concentrao de carboidratos, nvel de
treinamento e estresse metablico podem ter contribudo para a necessidade de explorao das
diferentes vias de obteno de energia.
Tais evidncias mostram a citada no-linearidade dos eventos bioqumicos
inerentes obteno de energia, j que todas as vias foram evidentemente utilizadas para
sustentar o esforo decorrente do combate de jud. Alm disso, importante salientar fato
importante: essas medidas so decorrentes de um nico combate, permitindo induzir que em
eventos competitivos, o desgaste pode ser maior. Em lutas de alto nvel, so necessrios, pelo
menos, quatro combates para se chegar fase final.
Posto isso, as perspectivas de utilizao de marcadores internos devem servir
como suporte em estudos dentro do jud, na tentativa de mostrar relaes entre suas alteraes e
o desempenho em tarefas especficas ou competitivas propriamente dita. Sendo assim, sero
abordados no item a seguir os referenciais tericos a respeito do lactato, pois possibilitaro dar
um panorama mais adequado frente aos protocolos de anlise desse substrato, que ser o
marcador interno explorado dentro do presente estudo.
3.1.2.1. Lactato: produo, metabolismo e perspectivas de anlise da capacidade anaerbia
Toda a energia necessria para o exerccio provm dos alimentos que so
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11
consumidos diariamente, na forma de trs substncias orgnicas bsicas, ou macronutrientes:
carboidratos, lipdeos e protenas. A oxidao desses nutrientes d condies para que se obtenha
o ATP, que a moeda de troca do nosso organismo para a manuteno de suas funes vitais.
O nosso corpo possui uma parcela quantitativamente maior de carboidratos, na
forma de glicose. Sem dvida, o maior fornecedor de energia para o organismo, sendo, por
exemplo, utilizado exclusivamente por clulas sanguneas e nervosas (McARDLE et al., 2003).
Para a obteno do ATP a partir da glicose, as clulas realizam a oxidao parcial at piruvato;
esse processo qumico denominado gliclise.
Ao iniciar o trabalho muscular, o corpo lana mo do sistema ATP-CP para
manter o trabalho no mximo de rendimento, porm, esse processo prolonga-se por poucos
segundos. Assim, medida que o exerccio continua, a gliclise torna-se parte principal do
processo de obteno do ATP, com queda do desempenho fsico (MARZZOCO E TORRES,
1999).
Quando a atividade fsica de alta intensidade, como acontece nas lutas de
jud, o oxignio pode se tornar insuficiente para promover a oxidao de grande quantidade de
NADH (coenzima aceptora de prtons e eltrons durante a oxidao da glicose at piruvato).
Assim, a oxidao de NADH pelo piruvato gera o lactato, permitindo assim, que continue
ocorrendo a regenerao de NAD+ (forma oxidada do NADH) para obteno do ATP. Na medida
que o exerccio intenso, a parcela de provimento de ATP atravs da glicose se d de forma
anaerbia, com acmulo de lactato no msculo e aumento da concentrao de H+. Assim, pode-se
definir a gliclise anaerbia como uma via que converte glicose a lactato e aproveita uma parte
da energia derivada desta transformao para sintetizar ATP (MARZZOCO E TORRES, 1999).
Como a caracterstica do exerccio desportivo do judoca intervalada, com
curtas pausas durante a luta, os mecanismos aerbios (como a prpria gliclise, porm, em maior
parcela aerbia) contribuem em determinada parcela na obteno do ATP, parcela essa difcil de
ser definida, em funo da complexidade do exerccio competitivo do jud, devido a alternncias
na mobilizao muscular e de esforo durante o combate.
Levando em conta tais pressupostos, o lactato passa a ser uma forma de
substrato que pode prover uma parcela considervel de ATP para o organismo em exerccio
intenso. Durante o exerccio intenso, como observado no jud competitivo, o aumento da
concentrao de lactato no msculo e no sangue e a diminuio coincidente do pH em ambos
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tecidos, tm sido explicados como causas de queda do rendimento fsico e fadiga (FITTS, 1994).
No incio do descobrimento da molcula de lactato, havia pouco conhecimento
sobre o comportamento qumico de cidos-bases quanto ionizao de cidos no tradicionais,
bem como o funcionamento da mitocndria como tampo de prtons (ROBERGS et al., 2004).
Simplesmente, leva-se em conta a relao causa-efeito: se havia uma grande concentrao de
lactato sanguneo, ele era considerado como o causador da fadiga.
Na gliclise, quando no h formao de lactato, h a liberao de dois prtons
para o meio, que se juntam aos prtons liberados na hidrlise do ATP pelas miosinas
responsveis pela contrao muscular. Quando o exerccio de baixa intensidade, os sistemas de
tamponamento intramuscular do conta dos prtons liberados pela hidrlise do ATP e pela
gliclise, no havendo formao de lactato, nem reduo do pH. Nesta condio, os prtons
servem como substrato mitocondrial, que os utiliza na formao do gradiente de prtons da
cadeia de transporte de eltrons e de molculas de H2O.
Com o aumento da intensidade do exerccio, como ocorre durante o combate de
jud, aumenta-se a taxa de hidrlise do ATP e o concomitante aumento da via glicoltica, pelo
acmulo de efetores estimuladores da gliclise como ADP e Pi.
Neste ponto, comea a haver o aumento do piruvato e do NADH, que ativam a
enzima equilbrio dependente lactato desidrogenase (LDH), no sentido da formao de lactato
(consumindo um prton) e reoxidando o NADH em NAD+. Com isso, a formao de lactato
auxilia os sistemas de tamponamento intracelular, contribuindo tambm com a retirada de prtons
da clula ao ser transportado por protenas de membrana especficas (transportadores de
monocarboxilato - MCTs), que colocam para fora da clula H+ em co-transporte com o lactato.
Como a reao da LDH equilbrio dependente, quanto mais lactato se retira da
clula, mais a sua formao ser favorvel e maior ser a retirada de prtons do meio. A acidose
ocorrer quando a intensidade do exerccio chegar a um ponto de saturao dos MCTs, e a no
retirada eficiente do lactato vai favorecer o seu acmulo na clula diminuindo sua formao
sendo, neste caso, conseqncia e no causa de acidose.
Por isso, melhor capacidade de remoo leva a um concomitante aumento na
formao de lactato o que retarda a acidose metablica, alm de reoxidar o NADH e escoar os
substratos da gliclise mantendo sua atividade e fornecendo ATP para o sistema de contrao
muscular numa taxa mais alta. A mxima capacidade de remover o lactato e, conseqentemente
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produzi-lo, sem a limitao de altas concentraes dentro da clula muscular, propicia a
manuteno da via glicoltica, que pode se resumir a um novo conceito de capacidade anaerbia.
Tal conceito tem como ponto de partida a anlise da cintica da concentrao
do lactato sanguneo ps-exerccio. Levando em conta as recentes descobertas dos mecanismos
de funcionamento dos MCTs e seu desenvolvimento em funo do treinamento de resistncia
(BONEN, 2000; PILEGAARD et al., 1999), o presente estudo levar em conta tais observaes,
para atestar se pode ser possvel analisar a capacidade anaerbia atravs do protocolo
desenvolvido, ao observar as concentraes pico de lactato sanguneo durante o processo de
recuperao dos judocas.
3.2. Teoria do Treinamento
O conceito da Preparao Fsica Especial, preconizado por diferentes cientistas
do desporto (MATVEEV, 1980, 1996; VERKHOSHANSKY, 1990; ZAKHAROV, 1992;
ZATSIORSKY, 1999; BOMPA, 1999) tem sido amplamente desenvolvido dentro do contexto
desportivo nacional. As pesquisas sobre aplicaes de diferentes mtodos de periodizao em
atletas de diversas modalidades (OLIVEIRA, 1998; CAMPEIZ, 2001; TOLEDO, 2002;
MOREIRA, 2002; RIZZOLA NETO, 2004), mostram que os desportos de combate tambm
deveriam ganhar ateno dentro dessa perspectiva.
Dentro desses trabalhos cientficos, observou-se a relao das diferentes
caractersticas de determinada modalidade, com meios e mtodos de treinamento aplicados, para
o desenvolvimento das capacidades fsicas, como velocidade, resistncia e fora; ou seja, toda a
programao em funo da maior aproximao possvel com a realidade desportiva.
Para o jud, o desenvolvimento dessas trs capacidades acima citadas estaria
totalmente envolvido com o desenvolvimento tcnico-ttico inerente luta, atravs da aplicao
racional dos meios e mtodos de treinamento especficos. O aumento do desempenho competitivo
deve ser conseguido atravs desse treinamento especial, procurando a adaptao do organismo do
atleta a condies desportivas.
Em se tratando de adaptao, devem ser citados conceitos fundamentais a
respeito dessa terminologia. Quando se fala em meios e mtodos de treinamento e sua sucesso
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dentro do ciclo de treino, esse termo deve sustentar todo pensamento sobre o desenvolvimento da
condio desportiva do atleta de alto nvel.
3.2.1. Conceito de Adaptao ao Treinamento
As adaptaes do organismo, em funo da sucesso das cargas de treinamento,
foram primeiramente conceituados em estudos de Selye (1952), sobre a sndrome geral de
adaptao. O aumento do rendimento est de acordo com mudanas funcionais, promovidas em
funo da aplicao de sobrecarga 1, envolvida durante o processo de treinamento do atleta. Essa
alterao est intimamente ligada aos processos biolgicos em diferentes nveis, do celular ao
organismo como um todo.
Este conceito base das idias sobre a metodologia do treinamento desportivo
contemporneo. Para Verkhoshansky (1990), adaptao definida como fenmeno de
adequao, que se caracteriza por reaes globais do organismo, nos quais se refletem as
particularidades das aes externas (sobrecarga) que so exercidas sobre o atleta. fato que essa
adaptao, conduzida atravs do treinamento, s possvel pela influncia dos diferentes meios
de treino, procurando explorar a reserva de adaptao do desportista, para otimizar mudanas
funcionais positivas no rendimento desportivo.
Para Zatsiorsky (1999), a palavra adaptao, num sentido mais amplo, significa
o ajustamento do organismo ao seu meio ambiente. Para o atleta, o trabalho fsico regular o
meio que potencializa as mudanas adaptativas em seu organismo, sendo que quatro
caractersticas bsicas so norteadoras no processo de treinamento: sobrecarga, acomodao,
especificidade e individualidade.
Posto isso, ao pensar no treinamento desportivo aplicado luta, num sentido
amplo, a direo do processo de programao e organizao das cargas de treinamento deve
partir do seguinte pressuposto: os desportos de combate possuem tcnica e ttica especfica, em
funo das particularidades encontradas em cada modalidade.
1 Dentro da literatura, o termo sobrecarga amplamente utilizado pelos autores, dando a entender como a sucesso dos efeitos do treinamento. Porm, dentro do contexto do presente trabalho, o termo carga parece mais adequado, em funo de que o atleta se sujeitaria a foras externas que seriam possveis de serem suportadas durante uma unidade de treinamento, sem levar em conta a sucesso delas.
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Nos desportos olmpicos 2, como o jud, luta livre, luta greco-romana, boxe e
tae-kwon-do as caractersticas vo do extremo contato corporal, com projees e imobilizaes
(no caso das trs primeiras), socos (como no boxe) e combinao de chutes e socos (tae-kwon-
do), como forma de obter pontos ou via mais rpida para finalizar o combate, como nocaute, ou o
ippon que ocorre no jud.
Ainda assim, o ponto fundamental desses tipos de combate est na sucesso de
esforos intermitentes complexos (devido ao repertrio motor de cada luta, com diferentes tipos
de golpes), e a alta intensidade de esforo, na tentativa de subjugar o adversrio, dentro das regras
vigentes em cada desporto.
Por isso, os mtodos de treinamento devem estar centrados no desenvolvimento
de golpes velozes, realizados sempre em fundo de fadiga, devido alternncia dos esforos
durante o combate.
Os diferentes meios de treinamento e combinaes de aplicao dessas cargas
geram efeitos adaptativos positivos ou negativos ao organismo do atleta. Sendo assim,
necessrio saber o potencial de estmulo dos exerccios aplicados, pois a sucesso desses
exerccios gerar a elevao ao mximo possvel das possibilidades motoras do desportista.
Para isso, devem-se possuir instrumentos prticos na tentativa de estabelecer
nveis de condio fsica, em funo do controle do treinamento desportivo, como parte
integrante do processo de treino.
3.3. Processo de Controle do Treinamento como parte da preparao do atleta
De acordo com Verkhoshansky (1990), o processo de treinamento possui trs
pontos fundamentais que devem ser bem orientados, para que se obtenha o sucesso competitivo, a
saber:
a) Programao: nessa parte, est localizado o conhecimento cientfico sobre os princpios,
como leis da adaptao do organismo, especializao morfofuncional e funcional do
2 Como fenmeno desportivo, a esgrima considerada combate, porm, no presente trabalho, o pensamento sobre desporto de combate est em funo do contato corporal, no qual no se caracteriza o uso de qualquer arma.
-
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organismo, as relaes da condio do atleta e a carga de treino, e o desenvolvimento da
maestria desportiva, como condio final do processo (mximo resultado competitivo).
b) Organizao: ao organizar o treino, relaciona-se carter especfico do processo de treino
e atividades competitivas propriamente ditas, as relaes entre a carga de treino e direo
do potencial do treinamento e a durao e conexo tima das cargas de diferentes funes.
c) Controle: neste ponto, est a metodologia de avaliao do atleta, anlise dos dados das
cargas e os modelos de mudana da condio fsica do atleta.
As principais orientaes a serem conduzidas durante o processo de preparao
do atleta ao alto rendimento desportivo devem ser minuciosamente estudadas e refletidas, como
parte da resoluo dos problemas atuais em torno da metodologia correta a ser aplicada.
Por isso, o presente trabalho evidencia nova perspectiva dentro do processo de
controle do treinamento: desenvolvimento de ferramenta prtica, para uso no cotidiano de treino.
As representaes da condio fsica do atleta de jud, dentro da literatura, so, na sua maioria,
baseadas em protocolos gerais, o que no atual panorama do desporto, parece no ser aplicvel,
visto o desenvolvimento complexo do fenmeno desportivo de alto nvel.
Dentro da literatura cientfica, so inmeros os trabalhos que fazem meno ao
processo de avaliar e ou determinar parmetros de desempenho de atletas de jud, dentro de
determinadas tarefas de ordem gerais e especficas, que sero abordados nos tpicos seguintes.
3.3.1. Avaliao da capacidade aerbia
Na anlise dessa capacidade fsica do judoca, os protocolos de avaliao
encontrados na literatura tm contedo, basicamente, de testes de corrida em esteira, onde
possvel identificar diversos parmetros fisiolgicos inerentes condio aerbia, como VO2mx,
que definido como a capacidade mxima de transporte e utilizao de oxignio pelo organismo
durante o exerccio (POWERS E HOWLEY, 2000).
Para McArdle et al. (2003), outros termos esto associados com o VO2mx,
como potncia aerbia mxima ou capacidade aerbia, e define-se como o momento onde o
consumo mximo de oxignio alcana um plat ou aumenta levemente com os aumentos
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17
adicionais na intensidade do exerccio.
Alguns autores traaram perfis de judocas de diferentes categorias em funo
da sua condio aerbia, dentro de diferentes protocolos em esteira, sendo apresentados no
quadro 3 os valores de VO2mx em mdia desvio-padro.
QUADRO 3 Potncia aerbia de atletas de jud
Judocas N VO2mx (ml.kg-1.min-1) Estudo conduzido por
Universitrios (Canad) 11 2,30 0,95 (*) DeMeersman e Ruhling (1977)
Seleo Canadense 19 57,5 9,5 Taylor e Brassard (1981)
Seleo Australiana 8 53,2 5,7 Tumilty et al. (1986)
Clube Polons 15 50,1 6,5 Sikorski et al. (1987)
Seleo Canadense 22 59,2 5,2 Thomas et al. (1989)
Regional Canadense 17 53,8 5,6 Little (1991)
Seleo Americana 18 55,6 1,8 Callister et al. (1991)
Seleo Polonesa 17 55,6 3,2 Borkowski et al. (2001)
(*) medida expressa em l.min-1.
Um dos estudos que merecem considerao pioneiro, no que diz respeito
sobre rendimento de atletas de jud. DeMeersman e Ruhling (1977) analisaram variveis ligadas
capacidade aerbia, dentro de situao especfica da modalidade, em onze atletas de nvel
universitrio (idade 23,3 3,5 anos; estatura 174,8 11,0 cm; massa corporal 71,8 9,9 kg), que
realizaram treinamento de sete semanas, com trs unidades de treino por semana, sendo a
intensidade de treinamento elevada gradualmente durante o perodo experimental. Nos momentos
pr e ps-treinamento foram conduzidos os seguintes protocolos de exerccios: entradas de
golpes sem arremessar o oponente, no ritmo de 92 bpm, durante dois minutos, combinado com
randori de dois minutos de durao, na mxima intensidade. No momento de recuperao ps-
esforo foram realizadas medidas da FC, presso arterial mdia, consumo de oxignio e produo
de CO2 (em l.min-1). Os resultados mostraram alterao positiva estatisticamente significante
(p
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trouxe melhoras no componente aerbio desses atletas.
Esse estudo, apesar de pioneiro, ainda vlido dentro da atual perspectiva deste
trabalho, pela metodologia utilizada: aplicao de situaes especficas do jud, com medidas
realizadas em funo do perodo de treinamento aplicado e da tecnologia disponvel para a
realizao do trabalho.
verdade que nos estudos citados, boa parte dos judocas possui valores de
VO2mx prximos e que tal capacidade talvez no seja a que torna judocas com maior condio
desportiva que outros. Isso remete ao citado anteriormente por Little (1991), em que o sucesso
competitivo no jud est intimamente ligado condio tcnico-ttica do lutador, e que tal
prerrogativa, se faz importante nos resultados de alto rendimento. Outro fator importante que o
VO2mx relativo baixo em atletas das categorias mais pesadas, conforme atestado por Thomas et
al. (1989). Alm disso, h o fato de que foram utilizados diferentes protocolos de esteira, o que
torna mais difcil saber se eles realmente tm condies aerbias diferenciadas.
Ainda permanecem dvidas sobre esse assunto no jud, ainda que o
componente aerbio, como utilizado em modalidades cclicas, seja amplamente utilizado como
parmetro de esforo. Estudos em que as graduaes de intensidade no combate e nos exerccios
especficos so estruturadas exclusivamente no monitoramento da FC, talvez no sejam capazes
de explicar o nvel de esforo do lutador na situao observada.
Cottin et al. (2004) analisaram 10 judocas franceses de nvel nacional,
procurando estabelecer relaes entre o exerccio cclico (atestado em cicloergmetro de
membros inferiores) e o exerccio de combate simulado (randori), atravs da anlise da
variabilidade da FC, e constataram que apesar da FC mxima encontrada nos dois exerccios ser
prxima, a energia espectral 3 computada na luta de jud foi estatisticamente maior (p
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19
tipos: exerccio dinmico em regime de steady state, como o realizado no cicloergmetro e
exerccio realizado s custas de esforos isomtricos e dinmicos irregulares, como acontece nas
lutas de jud.
Outro trabalho recente publicado na literatura cientfica faz meno
mensurao da FC em situaes especficas do jud. Houvenaeghel et al. (2005) analisaram dez
judocas do sexo masculino (17,1 0,9 anos, 72,6 7,9 kg e 170 5 cm) e dez judocas do sexo
feminino (17,1 1,3 anos, 58,1 5,8 kg e 158 9 cm), em uma unidade de treinamento com
durao de 1 hora. Entre os meios utilizados, encontravam-se exerccios especficos do jud,
como: uchi-komi (entradas de golpes), briga de pegada (situao onde os atletas disputam
somente a fase inicial da interveno de luta, conforme citado na figura 1), randori (luta
simulada) com esquivas, randori com bloqueio dos golpes e randori livre de 10 minutos. Em
todas as situaes, foi monitorada FC a cada 5 segundos, atravs de frequencmetro da marca
Polar (Electro Oy, Finlndia). A rotina de treinamento foi filmada, para posterior anlise em
conjunto com os resultados da FC.
Os resultados mostraram que os nveis da FC mxima foram de 196 7,2 bpm,
e que alguns judocas tiveram comportamento diferenciado, ou seja, alguns tiveram os valores da
FC mxima fora dos parmetros do grupo, o que os autores consideraram como duvidoso,
levantando a seguinte questo: houve m execuo, por parte dos judocas ou eles estavam em boa
condio fsica ?
Atravs desses resultados, sugerido pelos autores que possvel determinar
zonas de treinamento, atravs da FC. Porm, levando em considerao os achados de Cottin et al.
(2004), h certas dvidas quanto a essa afirmao. Pois, se a variabilidade da FC em situao de
luta mostra espectros indefinidos, devido natureza das contraes musculares e esforos do
jud, fato que as zonas de treinamento no sero fielmente controladas, o que pode acarretar
erros na prescrio de treino com o controle pela FC.
Isso pode ser refutado com outras pesquisas acerca do assunto, porm, fato
que as observaes do treinamento de jud com a utilizao da FC ainda podem trazer equvocos
no controle das cargas de treino, de acordo com os resultados encontrados nesses estudos.
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20
3.3.2. Avaliao da capacidade anaerbia
Para atestar as condies dessa capacidade, boa parte dos estudos conduzidos
est relacionada ao desempenho no teste de Wingate (BAR-OR, 1987), atravs da potncia
desenvolvida em exerccio mximo no cicloergmetro, possvel de ser aplicado tanto para
avaliao dos membros inferiores (MI), como nos superiores (MS).
O trabalho dentro desse protocolo de mxima intensidade durante todo tempo
de execuo (30 segundos), o que implica na utilizao elevada do metabolismo anaerbio ltico.
Alm disso, tambm possvel atestar alteraes funcionais da capacidade anaerbia, atravs da
anlise da potncia desenvolvida durante o teste de Wingate.
O desempenho no teste de Wingate de MS e [Lac] so comumente citados
como principais medidas da capacidade anaerbia em judocas. Os trabalhos conduzidos do
amplo panorama de aplicabilidade com outros testes gerais, mas tambm utilizado na validao
de metodologia especfica, como o Special Judo Fitness Test (SJFT), proposto por Sterkowicz
(1995) e analisado por Franchini et al. (1999); esse estudo ser abordado adiante, no tpico a
respeito da avaliao motora especfica do jud.
Thomas et al. (1989) conduziram testes de avaliao da capacidade anaerbia
para MS e MI, atravs do teste de Wingate, em atletas da seleo canadense de 1987. Para MI, foi
utilizada sobrecarga de 80g/kg, e para MS, 65 g/kg da massa corporal do atleta. A potncia
anaerbia foi estimada a partir da potncia pico (em Watts), a cada cinco segundos e a capacidade
anaerbia foi calculada pelo trabalho total (em Joules), durante os 30 segundos. Os resultados
mostraram que existe alta correlao entre potncia (r = 0,89, p < 0,05) e capacidade (r = 0,88; p
< 0,05) anaerbia de MS e MI; a potncia pico e trabalho total gerado pelos MS representam
cerca de 80% dos valores encontrados em MI. Outro dado interessante que a fora mxima
(avaliada atravs do exerccio supino reto: 100 21 kg) teve alta correlao com a potncia
anaerbia (r = 0,72; p < 0,05).
Franchini et al. (1999a) observaram, atravs de exerccio em esteira, que
existem diferenas entre atletas com condio aerbia melhor, dentro de teste considerado
essencialmente anaerbio, como o teste de Wingate. Onze judocas brasileiros foram analisados,
subdivididos em atletas com melhor aptido aerbia (> AA, n = 6) e pior aptido aerbia (< AA,
n = 5), onde se observou correlao inversa entre VLAn e [Lac] mximo (r = -0,77; p = 0,01), o
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21
que sugere que atletas que possuem maior capacidade aerbia tendem a terminar o teste com
menor [Lac]. Alm disso, foram conduzidos quatro testes consecutivos de Wingate, com pausas
de recuperao de 3 minutos entre eles, na tentativa de se observar queda de desempenho em
tarefa anaerbia intermitente. O principal fato observado foi que os atletas que tiveram melhor
AA tiveram melhor desempenho nos quatro testes de Wingate e no houve diferena
estatisticamente significante entre os grupos, quanto potncia mdia relativa e potncia pico
relativo no primeiro teste de Wingate, indicando que os atletas possuam mesma capacidade e
potncia anaerbia, inferida atravs do teste de Wingate.
3.3.3. Avaliao motora especfica do jud
Na busca de mtodos de avaliao especfica aplicada ao jud, Sterkowicz
(1995), citado por Franchini (2001), props um teste especfico chamado Special Judo Fitness
Test, ou SJFT. De acordo com estudo de Franchini et al. (1999), o autor polons tomou como
base os estudos de Sikorski et al. (1987), corroborado por outros autores (citados no quadro 1),
atravs da estrutura intermitente da luta de jud, para definir o modelo do SJFT.
O teste tem a seguinte estrutura, descrita no esquema da figura 2: dois judocas
(denominados uk), distantes 6 metros um do outro, so arremessados por outro judoca
(denominado tori), pela tcnica ippon seoi nague o maior nmero de vezes possvel, em trs
sries de durao 15 (A), 30 (B) e 30 (C) segundos, com intervalos de 10 segundos entre cada
perodo.
FIGURA 2 Desenho esquemtico do SJFT.
3m 3m Uk 1 Tori Uk 2
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22
O ndice desenvolvido para representar o desempenho no SJFT obtido atravs
de clculo, onde FCps, FC1ps e nmero total de arremessos nas sries (Total) seriam as
variveis:
ndiceSJFT = [FCps + FC1ps] / Total
Equao 1
Portanto, quanto melhor o desempenho no teste, menor ser o valor do ndice.
Para isso, o atleta pode expressar a melhora no rendimento devido a dois fatores: menor FC ps-
teste e ou 1 minuto ps-teste e maior nmero de arremessos. A FC representaria a condio
aerbia, relacionada ao momento de recuperao, e o nmero de arremessos, relacionado
condio anaerbia, devido ao esforo intervalado de alta intensidade do teste.
De acordo com Franchini et al. (1999), o SJFT tem as seguintes limitaes: (1)
o nmero de golpes no pode ser fracionado, impedindo que haja distino entre um atleta que
termina o teste logo aps ter executado o arremesso e outro atleta que termina o teste ao iniciar o
arremesso; (2) a FC sofre influncia de fatores externos, como temperatura e umidade, e de
fatores internos, como estresse e overtraining, mostrando que as condies devem ser bem
controladas.
Outros fatores que tornam o SJFT limitado so: a distncia muito extensa em
forma de corrida, que pode acarretar esforo demasiado nos MI, fugindo da caracterstica da
exigncia fsica do jud; o teste no tem tempo correspondente durao da luta, que no caso,
pode chegar a 5 minutos (ou 10 minutos, com GS).
Mesmo encontrando tais limitaes, Franchini et al. (1999), atravs de estudos
com cinco judocas, obtiveram valores elevados entre teste de reprodutibilidade (atravs da anlise
de correlao intraclasse, com valores entre 0,73 e 0,93). Atravs da anlise de judocas do sexo
masculino (n = 6) e feminino (n = 8), atestou-se sua confiabilidade, pelo protocolo de Wingate
(coeficiente de correlao de Pearson de 0,82 e 0,94, respectivamente). No mesmo estudo, a
anlise do lactato sanguneo teve diferena significante (p < 0,05) no SJFT entre judocas da
classe Juvenil (n = 6; [Lac] = 8,2 3,5 mmol.l-1) e Snior (n = 6; [Lac] = 10,7 2,3 mmol.l-1); o
ndice proposto pelo teste foi sensvel a mudanas em funo de treinamento aplicado em 4
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23
judocas do sexo masculino (Pr = 15,15 1,74; Ps = 13,28 0,84; p < 0,05). Com esses
resultados, os autores atestaram a validade do SJFT como ferramenta de avaliao de judocas,
apesar das colocaes dos autores encontrarem limitaes, em funo do pequeno grupo de
atletas analisados.
Levando em conta tais prerrogativas, o SJFT pode ser utilizado como
ferramenta de avaliao de judocas. Porm, o presente trabalho est na busca de uma estrutura de
controle de treino, que seja mais adequada s caractersticas do jud, procurando minimizar os
esforos decorrentes da corrida e ajustar o tempo de esforo em relao ao encontrado em
situaes competitivas propriamente ditas.
3.3.4. Critrios para elaborao de testes
Neste tpico, que de grande importncia no contexto do presente estudo, so
abordados dois pontos fundamentais na elaborao de testes. Os dois critrios utilizados, segundo
Thomas e Nelson (2002), so: a validade e a fidedignidade. Ambos os critrios sero mais bem
explicados nos itens a seguir.
3.3.4.1. Validade do teste
Dentro do processo de treinamento do atleta de alto nvel, a utilizao de testes
de controle se faz importante, pois podem mostrar se o efeito do treinamento est provocando
alteraes funcionais positivas ou negativas nas capacidades fsicas especficas do desportista;
assim, o treinador ou preparador fsico pode organizar, de forma mais coerente, as cargas dentro
dos diferentes ciclos de treino.
Para isso, os testes a serem utilizados devem possuir uma validade, ou seja, a
validade da medida deve indicar o grau no qual o teste ou instrumento mede o que se espera
medir (THOMAS E NELSON, 2002).
Sendo assim, um teste que procure medir a resistncia especial do judoca deve
permitir observar o nvel de rendimento do lutador dentro de situao caracterstica da
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24
modalidade. O desempenho, nesse caso, ser observado em funo da manuteno do esforo
dentro da tarefa proposta no teste.
De acordo com Thomas e Nelson (2002), para atestar a validade da medida,
existem quatro tipos bsicos de observao da varivel:
a) validade lgica: quando a medida retrata obviamente o desempenho na tarefa que est
sendo proposta. Como exemplo, um teste de velocidade de deslocamento, onde a pessoa
percorre determinada distncia no menor tempo possvel, considerada uma medida de
validade lgica.
b) validade de contedo: est relacionado ao aprendizado de contedo em ambientes
educacionais, o que comumente chamado de prova, onde os temas abordados em sala
de aula so avaliados dentro de uma estrutura de teste organizada pelo professor.
c) validade de critrio: este tipo de validade amplamente utilizado dentro do ambiente de
pesquisa em atividade fsica. Ela pode ser observada atravs de dois fatores:
- validade concorrente: quando um teste proposto utilizado em concorrncia
com os resultados de outros testes realizados em ambientes controlados, atravs
da anlise de marcadores internos do organismo, ou testes j validados, mesmo
em ambientes no controlados. Como exemplo, temos a utilizao dos testes de
avaliao cardiorrespiratria com anlise espiromtrica em concorrncia com
testes de campo, como o utilizado por Krustrup et al. (2003), na validao do
Yo-Yo Intermittent Recovery Test.
- validade preditiva: utilizado um critrio a ser predito. Atravs da medida de
pesagem hidrosttica e das medidas das dobras cutneas de determinadas reas
do corpo, pode-se obter uma equao de predio do percentual de gordura,
atravs do clculo de regresso mltipla dessas variveis.
d) validade de construto: o grau no qual se mede um construto hipottico; geralmente
estabelecido relacionando os resultados de testes com algum comportamento.
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25
3.3.4.2. Fidedignidade do teste
Outro ponto importante para validar um teste a sua fidedignidade (tambm
denominado de reprodutibilidade ou consistncia), que diz respeito possibilidade de se repetir
determinada medida. Um teste no considerado vlido se no for fidedigno (THOMAS E
NELSON, 2002).
Dentro da pesquisa em atividade fsica, utiliza-se a reprodutibilidade de um
teste para atestar a fidedignidade da medida. De acordo com Thomas e Nelson (2002), so trs os
mtodos para se estabelecer a fidedignidade de uma amostra:
a) determinao de estabilidade: quando o mesmo teste aplicado em dias diferentes,
sendo considerado um teste de consistncia bem rigoroso, pois os erros podem ser
evidenciados quando aplicados em dias diferentes.
b) construo de formas alternadas: esse mtodo se prope a aplicar dois testes diferentes
com o mesmo objetivo, o que chamado de mtodo de equivalncia. considerado o
mtodo preferido, porm, o problema obter dois testes especficos que se destinem a
medir a mesma capacidade.
c) observao de consistncia mnima: dentro desse mtodo, a reprodutibilidade uma
forma simples de se obter tal medida, usando o mtodo de teste-reteste no mesmo dia para
atestar se o teste fidedigno. Tal forma de anlise pode ser observada no estudo de Wragg
et al. (2000), a respeito da reprodutibilidade e validade do Bangsbo Test para jogadores de
futebol.
Observadas tais prerrogativas na validade e fidedignidade dos testes, a metodologia a ser
apresentada no presente trabalho tem a utilizao dessas duas estruturas de anlise, dentro de
quatro situaes totalmente especficas do jud.
4. MATERIAL E MTODOS
Os judocas foram submetidos a quatro situaes caractersticas do jud como
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26
critrio para anlise do rendimento: SJFT, luta de cinco minutos (mesmo ocorrendo ippon, ou
ponto que define a luta, continua-se at o tempo pr-estabelecido), TC3 e TC15, sendo essas
novas propostas de controle do rendimento do atleta.
O equipamento comum a todas as situaes propostas foi o analisador de
lactato sanguneo Yellow Springs 1500 Sports (Yellow Springs Co., Estados Unidos), sendo
explicada a sua utilizao no item 4.2.
4.1. Sujeitos da pesquisa
O grupo de estudo da pesquisa foi composto por 11 atletas do sexo masculino,
todos com no mnimo, graduao de faixa marrom (1 kyu) e 18 anos de idade completos, estando
sob regime de treinamento sistematizado e com nvel competitivo para a realizao dos trabalhos.
Os atletas tambm foram subdivididos em dois grupos: seis atletas no grupo 1 (G1) e cinco
atletas no grupo 2 (G2), sendo equipes de cidades diferentes, o que ser um dos critrios de
anlise no decorrer do trabalho.
Para o nvel competitivo, foi determinado que o judoca tivesse participado, pelo
menos, de campeonato de nvel estadual. A avaliao mdica prvia foi de total responsabilidade
das agremiaes, sendo que todos foram consultados a respeito dessa condio, junto aos
respectivos integrantes das comisses tcnicas participantes.
O trabalho foi devidamente aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa
(processo n 177/2005) envolvendo seres humanos e todos os atletas participantes foram
devidamente informados e esclarecidos quanto realizao dos testes, assinando Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido para a realizao do trabalho. Os critrios de excluso
utilizados foram: atletas com leses de qualquer natureza; atletas que tivessem ingerido
medicamentos ou substncias estimulantes; atletas que no estivessem sob treinamento
sistematizado; atletas que treinaram no dia anterior ao momento da pesquisa; atletas que estavam
em processo de perda de massa corporal.
Os atletas tiveram aferidas as medidas de massa corporal (MC), em
quilogramas (kg) e estatura (Alt), em metros (m), atravs de balana antropomtrica digital
(Filizola, Brasil).
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27
Com o intuito de traar perfil mais detalhado do grupo, foi aplicado
questionrio contendo perguntas sobre a vida desportiva do atleta, com respeito ao tempo de
prtica do jud, graduao atual no jud, freqncia atual de treinamento, ttulos conquistados e
nmero de desportos praticados regularmente durante a vida. Atravs desse questionrio, foi
observado se os grupos de judocas tinham diferenas quanto ao nvel competitivo, levando-se em
conta os ttulos conquistados em campeonatos de diferentes nveis, sendo esse dado importante
no momento de anlise das relaes entre os resultados nas situaes propostas.
Apesar de, em alguns casos, os judocas terem conquistado seus ttulos em
diferentes anos, levou-se em conta o passado competitivo do judoca, como uma forma de atestar
sua condio dentro do quesito nvel competitivo.
4.2. Procedimentos de utilizao do aparelho Yellow Springs 1500 Sports
O aparelho Yellow Springs 1500 Sports (Yellow Springs Co., Estados Unidos)
foi calibrado anteriormente s anlises do sangue, com soluo de [Lac] conhecida de 5 mmol.l-1,
fornecida pela empresa citada. As anlises no foram feitas em duplicata, conforme citado por
Franchini (2001a), a respeito da variao apresentada pelo aparelho.
4.3. Special Judo Fitness Test (SJFT)
O SJFT segue o modelo proposto por Sterkowicz (1995) apud Franchini et al.
(1999). Em nosso trabalho, a FC durante o teste foi registrada nos momentos pr-teste (FCpr),
entre as sries (FCA-B, FCB-C), ps-teste (FCps) e FC 1 minuto ps-teste (FC1ps). Para aferio
da FC foi utilizado monitor especfico da marca Polar, modelo Accurex (Electro Oy, Finlndia).
4.4. Luta
As lutas tiveram durao de cinco minutos, mesmo que fosse obtido o ippon, a
pontuao que, em competio, finaliza a luta. Assim, todos os atletas estariam sujeitos a realizar
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28
o mesmo tempo de esforo dentro da situao especfica. Os combates foram organizados de
modo que os judocas fossem da mesma categoria de peso, conforme regra estabelecida pela
Confederao Brasileira de Jud, ou com diferena mxima de 10% da MC.
Em todos os combates, foi realizado modelo de anotao das ocorrncias da
Luta (scout), desenvolvido no estudo de Rosa (2000), para marcao dos pontos obtidos e golpes
utilizados. Nessa situao, no foi obtida FC, devido ao fato de que em estudo piloto foram
constatadas srias dificuldades para registro dessa varivel durante a luta.
4.5. TC3 e TC15
O desenvolvimento do TC3 e TC15 tem a seguinte estrutura:
1 - o posicionamento de trs judocas que sero arremessados (chamados de uk), em
disposio triangular, com 3 (trs) metros de distncia entre si. No centro do tringulo,
encontra-se o atleta ser avaliado (ou tori), sendo que todos os envolvidos na situao
apresentada so de massa corporal semelhante.
2 - Com relao ao mbito tcnico optou-se pelo golpe ippon seoi nague, que tem uma das
maiores incidncias de aplicao, conforme atestam Sterkowicz e Franchini (2000) e
Silva (2002), em observaes das lutas em atletas de nvel olmpico e mundial.
3 - O teste prope a aplicao de sries de esforo, na mxima intensidade possvel, divididos
em duas situaes: 3 sries (TC3) e 15 sries (TC15) de 20 segundos de esforo. Em cada
srie, registrado o nmero de arremessos realizados; entre cada srie, realizado
intervalo de recuperao passiva de 10 segundos, registrando a FC no momento de pausa.
4 - Para a anlise do desempenho no TC3 e no TC15, levou-se em considerao o volume
total de arremessos realizados.
O esquema do modelo do TC3 e TC15 descrito na figura 3. As
caractersticas do teste propem-se em mostrar o desempenho em funo do nvel de esforo
empregado pelo judoca, tanto na rapidez de execuo dos golpes, quanto na capacidade de
manuteno da intensidade do esforo durante o teste.
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29
Uk 1
Uk 3 Uk 2
FIGURA 3 Desenho esquemtico do TC3 e TC15
Para aferio da FC em ambos os testes, foram utilizados monitores especficos
da marca Polar, modelo Accurex (Electro Oy, Finlndia).
4.6. Delineamento do protocolo de avaliao
O protocolo de avaliao foi subdividido em dois momentos: no primeiro
momento, foram realizados SJFT e Luta; no segundo momento, TC3 e TC15. A opo de seguir
essa seqncia foi pelo fato de que as situaes teriam tempo prximo de esforo (SJFT = TC3 e
Luta = TC15), sujeitando assim, teoricamente, o atleta ao mesmo tempo de trabalho fsico.
Os testes foram separados da seguinte forma: realizou-se o protocolo de
avaliao com pausa de pelo menos uma hora entre os testes; entre os momentos, houve pausa de
pelo menos quatro (4) horas. Em funo dos resultados encontrados por Degoutte et al. (2003),
foram estabelecidos tais intervalos, pois os autores constataram que o perodo de uma hora
suficiente para que a [Lac] sanguneo volte aos valores de repouso, aps esforo de combate
simulado (randori).
4.7. Anlise da Concentrao do Lactato Sanguneo
De cada judoca, em cada situao proposta (SJFT, Luta, TC3 e TC15), foram
Tori
3m 3m
3m
-
30
coletadas seis amostras de sangue, atravs de tubos capilares pr-calibrados, com volume de 25
L (microlitros), nos seguintes momentos: pr-teste (T0), imediatamente aps o teste (T1), 2 (T2),
4 (T3), 6 (T4) e 8 (T5) minutos de recuperao passiva ps-teste, ou seja, o atleta permaneceu
parado durante o perodo de recuperao do teste. O sangue total coletado de cada amostra foi
armazenado em eppendorf contendo 50 L de soluo de fluoreto sdico (concentrao 1%), para
que o sangue fosse conservado para anlise em momento posterior. Sua estocagem foi feita em
biofreezer com temperatura de 80C, e todo transporte foi realizado em recipiente contendo gelo
seco, devidamente vedado.
Atravs do equipamento Yellow Springs 1500 Sports, utilizado em parceria
firmada com o Laboratrio de Desempenho Esportivo (LADESP) da Universidade de So Paulo
(USP), foi analisada a [Lac], onde o procedimento descrito indica a cintica deste composto,
sendo importante marcador interno do nvel de condio fsica do atleta em conjunto com a
avaliao dos indicadores motores, expressos atravs das variveis dos testes realizados.
4.8. Anlise Estatstica
O planejamento geral experimental proposto durante o projeto procurou
identificar padres e relaes de comportamento entre as variveis e parmetros a serem
analisados.
A primeira observao realizada foi em relao aos dados sobre o lactato
sanguneo. Em 306 amostras de sangue coletadas, houve perda de 13 amostras (4% do total). Em
funo disso, algumas observaes sobre o lactato pico podiam ser equivocadas.
Assim, adotou-se procedimento matemtico onde atravs da derivada das
equaes das curvas da cintica do lactato sanguneo, os valores pico do lactato sanguneo foram
corrigidos, obtendo-se assim, medida mais segura em todas as anlises. Essa medida foi
denominada de lactato pico ajustado ([Lac] Pico Aj).
Um exemplo de como foi realizado esse clculo est descrito a seguir:
-
31
Correo da curva Atleta TL Teste SJFT
O teste SJFT dura 95 segundos (srie de 15, 30 e 30 segundos com duas pausas
de 10 segundos entre as sries). Os valores da [Lac] encontrados foram os seguintes:
Os tempos das coletas foram realizadas em 0, 95, 215, 335, 455 e 575
segundos.
y = - 7,4346E-5X2 + 0,05219X + 4,21968
0
2
4
6
8
10
12
14
0 95 215 335 455 575
Tempo (s)
[Lac] (m
mol.l
-1)
FIGURA 4 Correo de curva da [Lac] do atleta TL na situao SJFT.
Atravs da equao da curva obtida com os valores de [Lac] encontrados,
calcula-se o tempo onde a [Lac] pico acontece, utilizando-se da derivada da equao (onde Y =
0):
JR -81 TL 2,69 11,79 10,07 X x 9,83
-
32
- 7,4346 E-5 X2 + 0,05219 X + 4,21968 = 0 2 * (-7,4346 E-5) X + 0,05219 = 0 X = 0,05219 / 0,000148692 X = 350,99 segundos
Substituindo X na equao original:
Y = - 7,4346 E-5 (350,99 * 350,99) + 0,05219 (350,99) + 4,21968 Y = -7,4346 E-5 (123193,9801) + 18,318 + 4,21968 Y = - 9,15897 + 18,318 + 4,21968 Y = 13,378 mmol.l-1
De posse das variveis, realizou-se a anlise descritiva dos dados de todas as
situaes de G1 e G2, com respeito aos marcadores externos e internos.
De posse dos dados, realizou-se o teste de normalidade para saber quais
procedimentos para testes de diferenas seriam tomados. No caso, utilizou-se o teste de Shapiro-
Wilk. Em trs variveis no houve normalidade dos dados: [Lac] na situao SJFT, Luta e
Desempenho no TC15. Levando em considerao os resultados encontrados (algumas variveis
no possuam distribuio normal), os testes no-paramtricos foram adotados para testar as
diferenas entre os grupos e as correlaes entre os dados das caractersticas morfolgicas, bem
como para os marcadores externos (desempenho nos testes e na Luta) e internos ([Lac] Pico Aj).
Para testar diferenas entre os grupos, foi utilizado o teste de Mann-Whitney,
com nvel de significncia p
-
33
intraclasse (CCI) entre os resultados do TC3 e as trs primeiras sries do TC15, atravs da
consistncia mnima entre as variveis externas obtidas nos testes, sendo o grupo de judocas
tratado tambm como grupo nico.
5. RESULTADOS
Em todos os itens, os resultados sero apresentados com o grupo como um
todo, e subdivididos em G1 e G2, conforme proposta sugerida na anlise estatstica.
5.1. Caracterizao do grupo de trabalho
Os dados a respeito das caractersticas morfolgicas dos atletas esto dispostos
na tabela 1, com os valores sobre idade (em anos), MC (em quilogramas) e Alt (em metros).
TABELA 1 Caractersticas morfolgicas dos judocas
Grupos Valores Idade MC (kg) Alt (m)MDIA 21,65 75,25 1,76DP 3,54 8,13 0,06
MEDIANA 21,83 77,15 1,76MNIMO 18,00 65,00 1,65MXIMO 26,08 83,10 1,82MDIA 28,28 79,70 1,72DP 5,28 11,13 0,02
MEDIANA 30,00 83,50 1,72MNIMO 19,25 67,60 1,70MXIMO 32,08 94,00 1,75MDIA 24,67 77,27 1,74DP 5,43 9,38 0,05
MEDIANA 24,17 81,70 1,75MNIMO 18,00 65,00 1,65MXIMO 32,08 94,00 1,82
G2
G1+G2
G1
-
34
Na tabela 2 esto registradas as respostas do questionrio a respeito da vida
desportiva dos atletas do G1. Dos 11 atletas, apenas um no respondeu ao questionrio.
TABELA 2 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G1
RG IG SP BR AM M/O JR JAISR -66 LC 2 dan 17 3 jud, GA e vlei 1 1 P X X X 1 PSR -66 MR 1 dan 11 5 jud, jiu-jitsu e futebol 1 2 P X X X 1 PSR -73 FZ 2 dan 10 5 jud 1 1 P X X X 2 PJR -81 TL 1 kyu 8 3 jud, futebol e natao 1 1 P X X X 2 XJR -81 DL * * * * * * * * * * * *JR -90 PM 1 kyu 14 2 jud, tnis e natao 1 1 3 X X X 3 P
MDIA 12 4DP 4 1
Titulos ConquistadosG1 Graduao TJ STJ Esportes na vida
LEGENDAS: TJ: tempo de prtica do jud, em anos; STJ: sesses de treino de jud, em vezes por semana; RG: Regional; IG: Inter-Regional; SP: Estadual; BR: Brasileiro; AM: Continental; M/O: Mundial ou Olmpico; JR: Jogos Regionais; JAI: Jogos Abertos do Interior; P: participao no evento; X: no participou do evento; *: no respondeu.
Os atletas foram identificados conforme sua classe e categoria de peso em que
competem regularmente. As respostas dos atletas do G2 ao questionrio esto descritos na tabela 3.
TABELA 3 Respostas sobre a vida desportiva dos atletas do G2
RG IG SP BR AM M/O JR JAISR -66 EL 2 dan 22 5 jud 1 1 1 3 P X 1 1SR -81 LF 1 dan 18 9 jud e futebol 1 1 3 3 X X 1 2SR -90 AK 1 dan 26 7 jud e kurash 1 1 1 1 1 3 1 1SR -90 AS 1 dan 23 7 jud 1 1 2 3 X X 1 2JR -66 IS 1 kyu 7 9 jud, futebol e capoeira 1 2 1 X X X X X
MDIA 19 7DP 7 1
Esportes na vidaTitulos Conquistados
G2 Graduao TJ STJ
LEGENDAS: Campeonato Mundial Universitrio.
5.2. Situao 1 Special Judo Fitness Test (SJFT)
Os resultados a respeito do desempenho dos atletas na situao SJFT esto
dispostos na tabela 4.
-
35
TABELA 4 Resultados do desempenho dos judocas no SJFT Grupos Valores A B C Total FC pr FC A-B FC B-C FC ps FC 1' ps ndice
MDIA 6 10 9 25 106 162 174 180 139 12,89DP 1 1 1 2 22 15 18 9 16 1,16