Download - Toni Reis se defende de Silas Malafaia
“LUTAREMOS EM TODAS AS INSTÂNCIAS!”: DEFESA DE TONI REIS
CONTRA MALAFAIA Press Release
Defesa de Toni Reis, liderada pelo advogado constitucionalista Paulo Roberto Iotti Vecchiatti,
rechaça ponto por ponto as alegações de Silas Malafaia e, confiante na Justiça Estadual do Rio de
Janeiro, pede total rejeição da queixa-crime impetrada pelo pastor. Ativista pelos direitos humanos
LGBT, Toni vê na atitude do pastor mais uma etapa na luta contra violência e discriminação por
orientação sexual e identidade de gênero. O Movimento LGBT brasileiro lutará por seu direito de
denunciar a intolerância em todas as esferas cabíveis! Para detalhes sobre o processo movido por
Malafaia, acesse o artigo original no site do Grupo Dignidade.
O caso até aqui: Pastor se sentiu “muito ofendido” por denúncia de homofobia
Silas Malafaia afirmou, num programa televisivo veiculado em 2011, que “é pra Igreja Católi
ca ‘entrar de pau’ em cima [dos caras na Parada Gay], sabe? ‘Baixar o porrete’ em cima pra esses
caras aprender (sic).” De grande repercussão à época, essas declarações motivaram o então presi
dente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLT), Toni
Reis, a oficiar o Ministério Público Federal (MPF), pois considerava inadmissível que uma conces
são estatal como a TV aberta fosse utilizada para disseminar manifestações de violência (ainda que
metafóricas) contra pessoas LGBT.
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O MPF, compelido pela gravidade da denúncia, processou Malafaia e a Rede Bandeirantes
(que veiculou o programa), exigindo na Justiça Federal que parte do programa Vitória em Cristo
fosse utilizada para retratação, por aquilo que foi considerado pelo Procurador Regional dos Direi
tos do Cidadão, Jefferson Aparecido Dias, como “claro conteúdo homofóbico, por incitar a violência
em relação a homossexuais” (acesse a íntegra d a Ação Civil Pública ).
O juiz federal Victorio Giuzio Neto considerou as falas de Malafaia “inapropriadas, de péssi
ma ou infeliz escolha, inoportunas e [...] contraditórias para quem prega o cristianismo”, taxando
sua atuação na Televisão como “artifícios teatrais a fim de obter atenção da audiência” (acesse a
íntegra da decisão judicial). Entretanto, o Juiz não as reconheceu como discurso de ódio, e aplicou
a elas o princípio constitucional de liberdade de expressão, negando provimento a Ação Civil Públi
ca. Diante da recusa, o MPF recorreu e o caso ainda aguarda julgamento em instância recursal.
Silas Malafaia, sentindo-se
ofendido pela denúncia de homofobia
oferecida pela ABGLT e levada adiante
pelo MPF, apresentou “queixa-crime”
ao 16º Juizado Especial Criminal do Rio
de Janeiro, considerando-se vítima de
difamação e injúria por parte de Toni
Reis. Arthur Narciso de Oliveira Neto,
Juiz responsável pelo caso, entendeu
que Malafaia não observou
rigorosamente o dever legal de descrever o fato criminoso em todas as suas circunstâncias, ou seja
(do ponto de vista da defesa de Toni), os advogados do pastor não explicaram como o fato em
questão poderia ser considerado criminoso.
Ao receber o recurso da decisão, a Justiça do Rio de Janeiro ofereceu a Toni Reis oportunida
de de se defender da acusação. A defesa ficou a cargo do advogado constitucionalista Paulo Iotti
(Paulo Roberto Iotti Vecchiatti, OAB/SP nº 242.668), assistido por quatro outros colegas.
A defesa: Malafaia foi “extremamente inconsequente” em sua fala
Vecchiatti compilou uma longa defesa, abordando todo o contexto dos fatos de forma minu
ciosa, debatendo ponto por ponto a “queixa-crime” de Malafaia. Parte-se do princípio que tanto
Toni Reis quanto a ABGLT não ofenderam Malafaia, mas apenas oficiaram o MPF, pedindo provi
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Pastor é conhecido por tons agressivos em seus sermões
dências sobre as repercussões da fala do pastor em seu programa televisivo.
A defesa insiste que os advogados de Malafaia foram incapazes de provar como um pedido
de providências teria constituído crime de injúria. Vecchiatti é taxativo:
Absurdo o Querelante [Silas Malafaia], que sempre invoca o direito de crítica para suas manifestações, não aceitar que outros critiquem seus posicionamentos e denunciem aquilo que lhes parece ilí cito – ou será que o Querelante acredita que a liberdade de expressão e crítica seria aplicável somente a ele? (p. 3)
O advogado transcreve
cuidadosamente toda a fala de
Malafaia que gerou a denúncia ao
Ministério Público Federal,
considerada por ele como “agressiva,
em um tom extremamente
exasperado, extremamente irritado,
verdadeiramente colérico” (p. 6). Para
Vecchiatti não há dúvidas do caráter
ofensivo das palavras do pastor.
Comentando perplexo o fato de que Malafaia considera que a mídia, “repleta de gays em
suas editorias”, manipula informações em favor das causas do movimento LGBT, ele conclui que a
postura de Silas Malafaia, no vídeo em questão, foi “extremamente inconsequente na forma como
externou sua opinião” (p. 7). Após deter-se no fato de que o pastor não foi razoável em sua fala, o
advogado apresenta o ofício da ABGLT, demonstrando claramente que não houve em momento al
gum a intenção de imputar a Malafaia qualquer conduta além daquela já assumida por ele mesmo
em sua fala. Em todo momento Vecchiatti debate as falas e as atitudes do pastor:
[...Será que Malafaia] pretende processar todo aquele que lhe processe caso considere seu discurso como um discurso de ódio? [...Será que Malafaia] pretenderia processar o signatário por elaborar esta defesa e com ela concordar? [...Será que Malafaia] deseja processar todo aquele que considere suas opiniões como extrapolação dos limites do direito à liberdade de expressão? O qual não é absoluto, como nenhum direito fundamental é, como reconhece a doutrina constitucionalista como um todo... (p. 10, destaques acrescentados).
A defesa continua citando doutrina jurídica e jurisprudência para contradizer as teses do pas
tor e seus advogados. De maneira geral, para o advogado, o direito de liberdade de expressão de
Malafaia não o protege das consequências legais caso seu discurso seja entendido como de ódio
contra minorias, incitando violência e intolerância. Malafaia é exposto em suas várias manifesta
ções contra pessoas LGBT, em sua luta pública para que a homofobia não seja considerada crime
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Paulo Iotti, advogado de defesa
pelo Legislativo Brasileiro. A defesa formulada por Vecchiatti constitui um debate importante no
campo da luta pelos direitos civis LGBT no âmbito jurídico. Suas mais de 30 páginas concluem, de
forma brilhante, que:
É direito das pessoas LGBT considerarem [Silas Malafaia] como homofóbico e/ou transfóbico por conta de seus discursos concretos – concorde-se ou não com essa opinião, é um direito que tais pessoas têm, de criticar [Malafaia] e de considerá-lo alguém que tem preconceito contra homossexuais e pessoas LGBT em geral. (p. 30)
Debatendo direitos humanos LGBT na esfera jurídica
Algumas pessoas criticaram a atenção dada a mais um processo movido por Silas Malafaia,
identificando na postura do pastor o desespero por atenção da mídia. Entretanto, é importante re
lembrar que em várias ocasiões Malafaia acusou o “ativismo gay” de fugir do debate, de não su
portar o contraditório. Desde o ofício enviado pela ABGLT até a competente defesa de Paulo Iotti,
tudo o que tem sido feito é apresentar o contraditório nas alegações do pastor.
O Movimento LGBT Brasileiro, seja na figura institucional da ABGLT e as mais de 180 ONGs
nela representadas, seja em figuras públicas como Toni Reis ou profissionais e acadêmicos respei
tados como Paulo Iotti, está pronto para debater os direitos civis de pessoas LGBT. Direitos huma
nos que vem sendo desrespeitados graças ao lobby “anti-gay” evangélico que barra no Congresso
Nacional medidas importantes de combate a homofobia.
Para Toni Reis, “a defesa dos
direitos humanos LGBT deve ser feita
em todas as esferas: nas políticas
públicas, no legislativo, na mobilização
social, inclusive no judiciário.
Nenhuma incitação à violência deve
permanecer impune.” Foi nesse
sentido que se oficiou o MPF contra as
declarações de Malafaia e, o ativista
continua, “iremos a todas as instâncias
para reivindicar nossos direitos. Afinal, a Declaração Universal dos Direitos Humanos diz que
todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, e a Constituição Federal é clara
em seu art. 5º quando estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza.”.
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Toni e seu marido, David Harrad, em palestra na OAB/PR
Sobre Malafaia e seus insistentes
processos contra os que discordam de
suas declarações sobre a homossexua
lidade, Paulo Iotti afirma: “Será que ele
acha que pessoas LGBT não poderiam
fazer um singelo pedido às autorida
des competentes para analisarem as
falas dele para dizerem se entendem
que ele teria, ou não, cometido algum
ilícito? O exercício regular do direito
de denúncia manda lembranças...”.
Não se trata de uma batalha contra Silas Malafaia ou contra os evangélicos e seus pastores,
mas da defesa dos direitos humanos da população LGBT. Da insistência pela criminalização da ho
mofobia e transfobia, delitos que vitimizam todos os anos centenas de lésbicas, gays e transgêne
ros em nosso país. Nesse caso específico, estamos lutando judicialmente pelo simples direito de
denunciar um pastor que sugere que “baixem o porrete” numa população já tão vitimizada por vi
olências de todos os tipos.
Crédito da defesa e agradecimentos
Essa defesa não seria possível sem a prestativa colaboração de Paulo Iotti. Advogado, é tam
bém mestre e especialista em Direito Constitucional, com especialização também em Direito da Di
versidade Sexual e Direito Homoafetivo, autor do livro “Manual da Homoafetividade. Da Possibili
dade Jurídica do Casamento Civil, da União Estável e da Adoção por Casais Homoafetivos” (Ed. Mé
todo, 2013) e coautor de diversos livros sobre o tema da diversidade sexual no Direito. Paulo Iotti
tem contribuído de maneira fundamental na defesa jurídica dos direitos LGBT. Atuou como amicus
curiae junto ao STF no julgamento das ADI 4277 e ADPF 132, sobre união civil homoafetiva. Junto
com o PSOL, intervêm também na ADI 4966, movida pelo PSC contra o casamento civil igualitário.
O Grupo Dignidade agradece a Paulo Iotti por sua intervenção brilhante nesse caso. Sua atu
ação pro bono foi de imensurável valor para nossa militância! Também agradecemos a seus colabo
radores na elaboração dessas contrarrazões: Alexandre Gustavo Melo Franco Bahia (OAB/MG n.º
83.920), Thiago Gomes Viana (OAB/MA n.º 10.642), Adriano César da Silva Álvares (OAB/SP n.º
166.733), e Rafael dos Santos Kirchhoff (OAB/PR n.º 46.088).
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Paulo Iotti, em defesa das uniões homoafetivas no STF