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TRAÇOS DE PERSONALIDADE NARCISISTA NO CONTEXTO DO ENSINO
CONTÁBIL: UMA APLICAÇÃO DA TEORIA DA RESPOSTA AO ITEM
1. INTRODUÇÃO
Pesquisas relacionadas às diversas áreas de conhecimento, tem se
preocupado em analisar o comportamento humano associado à personalidade
narcisista, tanto no ambiente corporativo como na esfera acadêmica. Estudo recente
realizado pela University of Science and Technology of China analisou as influências
do narcisismo na relação entre orientador e orientando, em cursos de pós-
graduação, enfatizando que o nível de narcisismo tem um impacto positivo sobre as
experiências negativas vivenciadas pelos estudantes (Zheng Li, 2015).
De acordo com Pincus, Ansell, Pimentel, Cain, Wrigth e Levy (2009), os traços
narcisistas podem ser patológicos definidos clinicamente como transtorno de
personalidade ou “normais” (não patológicos) percebidos como características de
personalidade, que apresentará consequências positivas ou tendências a
comportamentos inadequados, que sugerem a violação do código de ética nos
espaços em que esse tipo de comportamento se manifesta, seja no contexto
corporativo ou acadêmico.
Dessa forma, os traços de personalidade narcisista caracterizam-se por um
padrão duradouro de auto importância grandiosa e senso exagerado de talento e
realizações. Uma necessidade exibicionista por atenção e admiração (Vandenbos,
2010).
Na esfera empresarial, esse construto é explorado e relacionado à liderança,
exibicionismo, grandiosidade e tomada de decisão empresarial (D’Souza & Lima,
2014). Os líderes narcisistas são mais propensos a interpretar as informações com
um viés de interesse próprio e a tomar decisões com base em como elas irão refletir
sobre a reputação deles. Preocupam-se em controlar os outros, e podem se tornar
paranoicos, no que tange a supostos inimigos, especialmente quando estão sob
stress excessivo (D’Souza & Lima, 2014; Maccoby, 2004). Por outro lado também
evidenciam aspectos positivos como dinamismo estratégico, visão e criatividade
(Chatterjee & Hambrick, 2007; Maccoby, 2004).
Ao analisar o meio acadêmico, Langaro (2012) atesta que o indivíduo narcisista
se destaca pela autoestima e por atitudes de preservação de interesses pessoais,
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investimento em crescimento, maturação; esses vieses são conhecidos como
narcisismo de vida, sendo assim, benéficos ao processo de formação acadêmica.
Em contrapartida, os aspectos negativos são observados pelo sentimento de
superioridade, agressividade, impulsividade, necessidade de admiração, falta de
empatia, superestimação do desempenho, além de dificuldade de procurar
aconselhamento e reações negativas a falhas, repercutem negativamente no
ambiente acadêmico, haja vista que essas características de personalidade podem
se configurar como empecilhos à aprendizagem (Hudson, 2012).
Nessa perspectiva, alunos narcisistas estão predispostos a apresentar
comportamentos desonestos, com a finalidade de evitar o fracasso acadêmico e
manter um determinado desempenho. Para tanto, copiam a prova do amigo, plagiam
trabalhos e coparticipam de atividades designadas para o desenvolvimento
individual, sem contribuição efetiva (Sanchez & Innarelli, 2012). Em decorrência
dessa situação, alunos de hoje e posteriormente profissionais no futuro, uma vez
psicoadaptados às condutas narcisistas podem promover impactos
contraproducentes nas organizações, especificamente no âmbito contábil, onde se
espera uma atuação coerente com princípios éticos e morais, haja vista as
competências e habilidades conferidas ao profissional para a execução de suas
funções (Oliveira; Assis; Silva & Oliveira Neto, 2014).
A partir deste contexto surge a necessidade de conhecer o perfil dos
acadêmicos, especificamente neste estudo, na área da Contabilidade, de forma a
possibilitar a identificação de tendências a características narcisistas
comprometedoras ao processo de ensino e onde o comportamento no decorrer da
formação acadêmica e para além dela, na vida pessoal e profissional, é
imprescindível.
Com este propósito, o presente estudo tem a seguinte questão norteadora:
como se manifestam os traços de personalidade narcisista em estudantes de
Ciências Contábeis? Assim, essa pesquisa objetiva compreender o comportamento
pessoal dos acadêmicos, de forma a identificar como se manifestam os traços de
personalidade narcisista nos estudantes de Ciências Contábeis.
O presente estudo justifica-se devido ao tema narcisismo possuir
aprofundamento incipiente no contexto nacional como afirma Avelino e Lima (2014),
e em sua maioria estar associado a estudos de liderança no meio organizacional
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(D’Souza; Lima, 2014), havendo a necessidade de entender as implicações da
temática em questão no ambiente do ensino contábil. A contribuição do estudo é
trazer uma discussão para o meio acadêmico sobre a temática: perfil dos estudantes
e narcisismo. Além disso, tem a intenção de contribuir especificamente aos
educadores em conhecer e saber lidar com alunos com esse perfil.
As seções estão estruturadas da seguinte forma: além dessa introdução, a
segunda parte aborda o embasamento teórico para o estudo, a terceira seção trata
dos aspectos metodológicos utilizados, na quarta seção será apresentada a análise
dos dados e discussão dos resultados e, por fim, na última seção as considerações
finais.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A origem do termo narcisismo é, de acordo com Guimarães (2012), proveniente
de uma referência ao mito de Narciso, que na mitologia grega era um jovem que se
apaixonou pelo seu próprio reflexo e morreu como resultado de sua própria
fascinação. Gregório (2012) assegura que o conceito de narcisismo está relacionado
com o mito de narciso, uma vez que o mito, instituidor de um pensamento, reuniu
aspectos que dão origem ao conceito, além disso, veio reforçar as caracterizações
clínicas iniciais, inserindo reflexões acerca dos vários fenômenos a que este remete.
Guimarães e Endo (2014) afirmam que esse termo surge no final do século XIX
e há quase consenso entre os autores que a origem da palavra é atribuída a dois
clínicos: a) Havelock Ellis, utilizando no interior de um debate psicopatológico em
1898 para designar um comportamento perverso relacionado com o mito de Narciso;
e b) Paul Nacke um ano depois fazendo referência ao texto de Ellis, teria inventado
a palavra, significando uma perversão sexual. Já Roudinesco e Plon (1998)
atribuíram a invenção do termo a Alfred Binet em 1887, significando uma forma de
fetichismo, que consiste em se tomar a própria pessoa como objeto sexual, esse
termo depois utilizado por Ellis em 1898 mencionando sobre o autoerotismo.
Entretanto, é no texto intitulado Introdução ao Narcisismo de Freud (1914/2010)
que a temática ganha lugar proeminente entre os estudiosos na área da psicanálise
(Silva, 2014). Conforme Roudinesco e Plon (1998) o termo narcisismo adquiriu o
valor de um conceito, fenômeno libidinal.
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De acordo com Gregório (2012), a noção de narcisismo foi compreendida de
diversas formas: como uma perversão sexual, um instrumento ao serviço da
economia do sujeito psíquico, um modo de identificação, um estado de
desenvolvimento. Melo Junior e Ronchi (2013, p. 4) endossam que “o conceito de
narcisismo pode ser descrito como evolutivo, passando por diversas reelaborações”.
Segundo Campbell, Hoffman, Campbell e Marchisio (2011) o narcisismo,
atualmente, abrange três componentes: o ego (caracterizado pela vaidade, desejo
de poder); relações interpessoais (baixos níveis de empatia e intimidade emocional)
e estratégias de autorregulação (necessidade de atenção e admiração).
Em conformidade com a American Psychiatric Association (1994), o narcisismo
pode ser compreendido como um padrão invasivo de grandiosidade, necessidade de
admiração e falta de empatia e é classificado como um transtorno de personalidade.
Contudo, Avelino e Lima (2014, p. 2) defendem que esse tipo de comportamento
pode se apresentar com um aspecto positivo, “aquela que integra as representações
do ego em um todo coerente, conferindo um sentimento de autoestima e valoração
de si”.
De acordo com Campbell et al. (2011, p. 269), “o narcisismo é uma concepção
que aparece tanto na literatura de personalidade social, quanto na literatura clínica e
psiquiátrica”. Pincus et al. (2009) confirmam essa posição abordando o narcisismo
em dois polos: o narcisismo patológico e o narcisismo normal.
D’Souza e Lima (2014) argumentam que o narcisismo como transtorno de
personalidade, apresenta características observadas em nível anormalmente
elevado de autoestima, arrogância, necessidade de admiração e insensibilidade que
se traduzem em relações interpessoais conflitantes. Zheng Li (2015) certifica que
excesso de poder, condutas manipulativas, superioridade sobre as pessoas comuns,
falta de empatia e de compaixão são comportamentos de indivíduos com um nível
mais elevado de traços narcisistas, proporcionando experiências negativas.
O narcisismo numa perspectiva não clínica, segundo Pincus et al. (2009), é
denominado como narcisismo normal, avaliado como características de
personalidade e estudado pela Psicologia Social, enquanto o clínico é mais
comumente avaliado na pesquisa e prática clínica. Chatterjee e Hambrick (2007)
ressaltam que como característica de personalidade o narcisismo possui elementos
tanto cognitivos quanto motivacionais como: inteligência, criatividade, competência,
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excesso de confiança e necessidade de admiração. Dworkis (2012) esclarece que o
alto nível de superioridade do narcisista contribui para a crença em suas habilidades,
ou seja, a sua auto eficácia, o que pode aumentar a motivação e esforço,
melhorando seu desempenho.
Jones e Paulhus (2011) argumentam sobre a necessidade da ajuda profissional
para o nível clínico do transtorno de personalidade, já o nível subclínico permite ao
indivíduo viver normalmente na sociedade. D’Souza e Lima (2015) ao estudar os
traços não patológicos de personalidade que compõem o cluster, DarkTriad,
consideram o narcisismo como traço, não patológico, com níveis diferenciados que
permitem a observação de comportamentos positivos e negativos exteriorizados por
gestores no meio empresarial. O nível moderado do narcisismo é salutar para o ser
humano (Chatterjee & Hambrick ,2007; D’Souza & Lima, 2015).
Para a identificação do nível de narcisismo saudável, Avelino e Lima (2014)
salientam que o Inventário de Personalidade Narcisista (NPI) tornou-se o
instrumento mais utilizado em pessoas consideradas “normais”. Esse instrumento
psicométrico foi concebido por Raskin e Terry em 1988 e foi desenvolvido utilizando
os critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, o DSM-III para
o transtorno de personalidade narcisista (Campbell et al. 2011).
Conforme Langaro (2012), inicialmente vários estudos contínuos publicados e
não publicados, realizados por Raskin e Hall em 1981 e Raskin e Terry em 1988
produziram um questionário de autorrelato de 54 itens, cada item é composto por um
par de declarações narcisistas e não narcisistas. Posteriormente, em decorrência
dos estudos de Raskin e Terry (1988), ocorreu à redução de 54 para 40 itens. A
escala NPI propõe-se a avaliar sete subescalas: autoridade, exibicionismo,
superioridade, expectativa, autossuficiência, vaidade e exploração (Peter & Royce,
2005).
Para a avaliação do Inventário de Personalidade Narcisista, a Teoria da
Resposta ao Item (TRI) torna-se essencial. Em conformidade com Moreira Junior,
Zanella, Lopes e Seidel (2015), diversas áreas que objetivam a avaliação tem se
apropriado desse modelo, visto que, a TRI centra-se em um modelo de psicometria
moderna de estimação de traços latentes (Nascimento; Bernardes; Sousa &
Lourenço, 2015). Na observação de Araújo, Andrade e Bortolotti (2009) a TRI é uma
metodologia que propõe formas de representar a relação entre a probabilidade de
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um indivíduo apresentar certa resposta a um item, seu traço latente e características
dos itens, fornecendo modelos matemáticos na área de conhecimento em estudo.
Por traços latentes, Moreira Junior et al. (2015), afirmam que são
características inerentes ao indivíduo que não podem ser observadas diretamente,
necessitando de uma variável secundária para a mensuração.
Com a finalidade de identificar os traços de personalidade narcisista em um
grupo de jovens e adultos, Langaro e Benetti (2014) realizaram um estudo onde
participaram 350 estudantes universitários, com idade entre 18 e 30 anos, que
residem em uma cidade do interior da região noroeste do estado do Rio Grande do
Sul e estudavam em cursos de diferentes áreas de conhecimento. Através da coleta
de dados sociodemográficos e aplicação do NPI, constatou-se que homens
apresentaram índices mais elevados de traços narcisistas em relação às mulheres;
estudantes situados na faixa etária de 18 a 21 anos apresentaram maiores
resultados no fator exibicionismo do que em estudantes situados na faixa etária de
22 a 25 anos; e observou um maior nível de narcisismo em estudantes do curso de
ciências exatas do que em estudantes de ciências humanas e saúde.
Zheng Li (2015), adotando o instrumento psicométrico NPI, obteve como
resultado de pesquisa que o gênero masculino tem maior nível de narcisismo que o
feminino e quanto maior o nível de narcisismo do aluno, menor a qualidade na
relação entre orientador/orientando. Já no estudo de Carneiro (2014), sobre a
relação do narcisismo, vieses cognitivos e risco em decisões de investimento,
realizado em alunos dos cursos de graduação em Administração e Contabilidade de
uma Instituição de Ensino Superior de Belo Horizonte e utilizando o NPI, evidenciou
que o fator autoridade, avaliado na escala NPI, sobressai como componente do
traço narcisismo, que influencia de forma significativa o viés cognitivo melhor que a
média, além de concluir que os jovens possuem escores de narcisismo mais
elevados.
Akers, Giacomino e Weber (2014), que através da aplicação do NPI em
profissionais de empresas de contabilidade púbica e examinando as diferenças por
sexo, idade, área de atuação, nível profissional; compararam seus resultados com
um estudo prévio que analisou o narcisismo de estudantes de contabilidade e
encontraram diferenças significativas nos traços de autossuficiência e exibicionismo
entre os estudantes e os profissionais; os profissionais mais jovens são mais
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narcisistas, a pontuação NPI diminui com a idade e no gênero masculino as
características de autoridade, autossuficiência e exploração são mais expressivas
que no gênero feminino.
Por fim, Brown, Akers e Giacomino (2013), ao analisar 120 estudantes de
Contabilidade, 61 de uma Universidade Pública Estadual e 59 de uma Universidade
Privada, localizadas no centro-oeste dos Estados Unidos da América, encontrou
resultados demostrando que estudantes de contabilidade, tanto de graduação
quanto de pós-graduação, tem um nível de narcisismo mais baixo do que estudantes
de outras áreas de negócios, e observou também a diferença do nível de narcisismo
por sexo e não encontrou diferenças significativas para a pontuação total do NPI
entre os estudantes das IES.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Com a finalidade de obter respostas ao problema de pesquisa, o presente
estudo adotou o método survey, que consiste num levantamento de informações de
indivíduos, grupos, organizações, representados por uma amostra populacional e
utilizando um questionário para obter os dados a serem analisados (Pinsonneault &
Kraemer, 1993). A abordagem é de natureza quantitativa e descritiva. O método de
pesquisa quantitativa é utilizado para expressar em números as informações
obtidas. Já a pesquisa descritiva se caracteriza devido ao estudo proporcionar novas
visões sobre o tema narcisismo, de forma a estabelecer e compreender a relação do
estudo: perfil dos estudantes e o Narcisismo.
O critério utilizado para o levantamento da amostragem não-probabilística foi
acessibilidade. A amostra do estudo foi composta por 187 estudantes do curso de
graduação em Ciências Contábeis de Instituições de Ensino Superior (IES)
nordestinas, com faixa etária entre 18 e 43 anos. Os estudantes tiveram acesso ao
inventário de personalidade narcisista (NPI) impresso, instrumento que consiste num
questionário de autorrelato composto por 40 itens contendo afirmações narcisistas e
não narcisistas. Procedeu a aplicação presencialmente do questionário, pelo
pesquisador, em acadêmicos que participavam do Encontro Regional de Estudantes
de Ciências Contábeis- ERECIC- ocorrido entre os dias 02 e 05 do mês de abril do
ano 2015, na cidade de Natal-RN.
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Os dados foram coletados por meio da administração do inventário de
personalidade narcisista, traduzido para o português utilizando a metodologia
backtranslation de Pietro (1992) que conforme citado por Lima Filho (2013) utilizou-
se de três pessoas bilíngues que realizaram a tradução do inglês para o português.
Após esta tradução, três outras pessoas bilíngues distintas das primeiras traduziram
de forma independente o questionário do português para o inglês, e por fim, um
último tradutor bilíngue, analisando todas as traduções, realizou os ajustes
necessários obtendo uma única versão do instrumento em português, mantendo a
equivalência com a versão original.
Esse questionário tem um tempo aproximado de conclusão de 5 minutos e é
composto primeiramente pelos dados pessoais do participante, seguido de 40 itens
para a escolha de uma das opções A ou B, conforme apresentados no quadro
seguir:
Quadro1: Inventário de Personalidade Narcisista
Dados pessoais
Qual sua Idade? Qual sua UF/ESTADO? Qual seu gênero? Masculino Feminino
Sua IES é? Particular/Pública Seu curso de C. Contábeis é? Presencial EAD
A B
1 Tenho talento natural para influenciar as
pessoas.
Eu não sou bom em influenciar as pessoas.
2 Não sou humilde ou não tenho humildade. Eu sou essencialmente uma pessoa modesta
3 Eu faria quase tudo sob risco. Eu tendo a ser uma pessoa razoavelmente
cautelosa
4 Quando as pessoas me elogiam às vezes fico
sem jeito (envergonhado).
Eu sei que sou bom porque todo mundo fica
me dizendo que sou.
5 A ideia de dominar o mundo me horroriza. Se eu dominasse o mundo, ele seria melhor.
6 Geralmente eu dou um jeitinho para me safar
das encrencas.
Eu tento aceitar as consequências do meu
comportamento.
7 Eu prefiro me misturar com a multidão e não
me aparecer.
Eu gosto de ser o centro das atenções.
8 Vou ser um sucesso. Não estou muito preocupado (a) com o
sucesso
9 Não sou melhor ou pior que as outras
pessoas.
Penso que sou uma pessoa especial.
10 Não sei se seria um (uma) bom (a) líder. Me vejo como um (uma) Bom (a) líder.
11 Sou uma pessoa segura Gostaria de ser uma pessoa mais segura.
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12 Gosto de ter autoridade sob as outras
pessoas
Não me importo de seguir ordens.
13 Acho fácil manipular as outras pessoas Não gosto quando sinto que estou
manipulando pessoas.
14 Insisto em ter o respeito que me é devido. Geralmente tenho o respeito que me é devido.
15 Não tenho prazer especial me exibir meu
corpo
Gosto de exibir meu corpo.
16 Consigo decifrar as pessoas como se fosse
um livro aberto.
Às vezes eu acho difícil de entender as
pessoas.
17 Se eu me sinto competente assumo as
Responsabilidades pelas minhas decisões.
Gosto sempre de assumir a responsabilidade
pelas minhas decisões.
18 Tudo que eu quero é ser razoavelmente feliz. Eu quero ser importante aos olhos do mundo.
19 Meu corpo não é nada especial. Eu gosto de ficar admirando meu corpo.
20 Eu tento não chamar a atenção Eu gosto de aproveitar a chance para me
mostrar.
21 Eu sempre sei o que estou fazendo Às vezes não tenho certeza do que estou
fazendo.
22 Às vezes eu dependo das pessoas para fazer
as coisas.
Raramente dependo de alguém para fazer as
coisas.
23 Às vezes eu conto boas histórias. Todos gostam de ouvir minhas histórias.
24 Eu espero muito das outras pessoas. Eu gosto de fazer algo pelas pessoas.
25 Nunca vou ficar satisfeito até conseguir tudo
que Mereço.
Eu aproveito as satisfações da vida na medida
em que ocorre.
26 Elogios me deixam sem jeito. Eu gosto de ser elogiado (a).
27 Eu tenho um forte desejo de poder. O poder em si mesmo não me interessa.
28 Eu não me preocupo em sempre estar na
moda.
Eu gosto de estar na moda.
29 Eu gosto de me olhar no espelho. Não fico muito tempo me olhando no espelho.
30 Eu realmente gosto de ser o centro das
atenções.
Me sinto desconfortável em ser o centro das
atenções.
31 Eu posso viver a vida do jeito que eu quero. As pessoas não podem sempre viver como
gostariam.
32 Ser uma autoridade não significa muito para
mim.
As pessoas sempre reconhecem minha
autoridade.
33 Eu preferiria ser um líder. Faz pouca diferença para mim se sou líder ou
não.
34 Eu vou ser uma grande pessoa. Eu espero ser bem sucedido.
35 As pessoas acreditam naquilo que eu digo,
sou capaz de convencer.
Não consigo convencer tão bem.
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36 Eu sou um líder nato. Liderança é uma qualidade que leva muito
tempo para ser desenvolvida.
37 Eu gostaria que algum dia alguém
escrevesse minha biografia.
Eu não gosto que as pessoas fiquem
bisbilhotando minha viva.
38 Quando em público, fico perturbado quando
as pessoas não notam minha aparência.
Eu não me importo em passar despercebido
quando saio em público.
39 Eu sou mais capaz que as outras pessoas. Tenho muito que aprender com as outras
pessoas.
40 Eu sou muito semelhante a qualquer outra
pessoa.
Eu sou uma pessoa extraordinária.
Fonte: Adaptado de Raskin e Terry (1988).
Através das informações geradas pelo questionário será possível verificar os
traços narcisistas em acadêmicos que cursam Ciências Contábeis e confirmar as
seguintes hipóteses.
A primeira hipótese, designada H1, defende que os traços de narcisismo são
mais expressivos em estudantes do gênero masculino, em relação ao gênero
feminino, sustentado pelos estudos de Langaro e Benetti (2014) e Zheng Li (2015),
mencionados no capítulo anterior.
Já a segunda hipótese, nomeada H2, sustenta que os acadêmicos com menor
idade apresentam pontuação do narcisismo mais elevada, em relação aos com
maior idade. Esta hipótese é norteada por dois estudos: o estudo de Carneiro
(2014), utilizando o NPI chegou à conclusão que jovens possuem escores de
narcisismo mais elevados; e a pesquisa de Akers et al. (2014), que através do NPI,
concluiu que à medida que envelhecem os profissionais de Contabilidade tornam-se
menos narcisista.
A terceira hipótese (H3) assegura que entre os estudantes de Ciências
Contábeis pertencentes às Instituições de Ensino Superior, públicas e privadas, não
há diferença nas estatísticas dos níveis totais de narcisismo. Esta hipótese está
vinculada à pesquisa de Brown et al. (2013), que ao analisar o narcisismo em
estudantes de Contabilidade, não encontrou diferenças para a pontuação total do
NPI, a única diferença encontrada foi no item (10) relativo à Liderança/Autoridade
em que alunos das IES particulares apresentaram médias mais elevadas.
O instrumento NPI-40 permite avaliar os sete fatores narcísicos que agrupam
os 40 itens de investigação, são eles: Autoridade (medida por meio das questões 01,
08, 10, 11, 12, 32, 33, 36), Autossuficiência (questões 17, 21, 22, 31, 34, 39),
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Superioridade (questões 04, 09, 26, 37, 40), Exibicionismo (questões 02, 03, 07, 20,
28, 30, 38), Exploração (questões 06, 13, 16, 23, 35), Vaidade (questões 15, 19, 29),
Exigência (questões 05, 14, 18, 24, 25 e 27).
Para o cálculo da pontuação, Raskin & Terry (1988) codificaram as declarações
narcisistas com a pontuação 1 e as não narcisistas com pontuação 0. A pontuação
do participante é o somatório de itens narcisistas marcados, que varia de 0 a 40
pontos. Calculada a pontuação procedeu a análise exploratória dos dados.
O plano de análise seguiu a sugestão de Ackerman, Donnellan e Robins
(2012), em que foi aplicado o modelo logístico de 2 parâmetros (2PL) para a
pontuação total do NPI, e nas sub escalas NPI de Corry, Merritt, Mrug e
Pamp (2008) e Ackerman, Witt, Donnellan, Trzesniewski, Robins e Kashy (2011). Os
dados foram submetidos à análise estatística inferencial e o Teste de Hipótese foi
realizado adotando o Teste de Correlação de Pearson e o teste t de Student com
dados independentes.
4. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, inicialmente é apresentada a caracterização da amostra
seguida pelas análises exploratórias das propriedades psicométricas do NPI. Vale
ressaltar que o modelo TRI adotado neste estudo, o qual apresenta itens de
natureza dicotômicos, aponta a relação que existe entre a probabilidade de um
indivíduo acertar o item e a habilidade latente solicitada na sua resolução.
A amostra desta pesquisa possui participantes de todos os estados da região
nordeste brasileira: 23 (vinte e três) do Ceará, 24 (vinte e quatro) do Rio Grande do
Norte, 17 (dezessete) de Alagoas, 16 (dezesseis) de Sergipe, 10 (dez) do Piauí, 11
(onze) do Maranhão, 29 (vinte e nove) da Paraíba, 28 (vinte e oito) da Bahia e 29
(vinte e nove) do Pernambuco, totalizando 187 (cento e oitenta e sete) respondentes
dos quais 96 (noventa e seis) são do sexo masculino e 91 (noventa e um) do sexo
feminino. Em relação ao tipo de Instituição de Ensino Superior (IES) observa-se que
71,7% dos participantes são de IES públicas e 28,3% de IES particulares. A idade
variou entre e 18 a 43 anos, sendo que a maioria da amostra é composta por
participantes entre 20 e 23 anos.
Para a realização das análises, a presente pesquisa utiliza o modelo logístico
de 2 parâmetros da Teoria da Resposta ao Item (TRI). As escalas adotadas para o
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parâmetro de dificuldade foram: muito fácil (βi <-2,0 logits), fácil (-2,0 logits<βi <-1,0
logits), dificuldade média (-1,0 logits<Βi<1,0 logits), difícil (1,0 logits<βi <2,0 logits), e
muito difícil (βi> 2,0 logits). Para o parâmetro discriminação, consideraram-se os
valores entre 0,8 e 2,5 a serem bons discriminadores do nível do traço latente
(Ackerman et al. 2011).
A Tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas para a pontuação total do
Inventário de Personalidade Narcisista e para as subescalas NPI de Corry et al.
(2008) e Ackerman et al. (2011). De um modo geral, a média aritmética da escala
NPI foi de 0,34, com desvio padrão de 0,14. Apresentou uma consistência interna
Alfa de Cronbach satisfatória, atendendo ao valor mínimo aceitável de 0,70,
diferente das outras subescalas que apresentaram o coeficiente alfa baixo,
possivelmente por serem compostas de poucos itens. Percebe-se que as
subescalas Liderança/Autoridade (M= 0,46 DP= 0,25 rij= 0,19) e
Exibicionismo/Exigência (M= 0,26 DP=0,17 rij= 0,19) de Corry et al. (2008) e
Liderança/Autoridade (M= 0,43 DP= 0,23 rij= 0,21), Grande Exibicionismo (M= 0,28
DP= 0,21 rij= 0,23) e Exigência/Exploração (M= 0,32 DP= 0,27 rij= 0,31) de
Ackerman et al. (2011) apresentaram correlações média interitens (rij) desejáveis,
que de acordo com Clark e Watson (1995), o coeficiente rij é satisfatório quando
atende a um valor no intervalo de 0,15 a 0,50.
Tabela 1: Estatística descritiva para a pontuação total do NPI, e as sub-escalas de Corry et al. (2008)
e de Ackerman et al. (2011).
Percentis
Méd
ia
Desvio
Pad
rão
25
50
75
Assim
etr
ia
Cu
rto
se
Alf
a d
e
Cro
bach
rij
R c
om
NP
I
To
tal
NPI 0,34 0,14 0,25 0,32 0,42 0,60 1,31 0,76 0,11
Sub-escalas - Corry et
al. (2008)
Liderança/Autoridade 0,46 0,25 0,33 0,44 0,67 0,13 -0,57 0,67 0,19 0,82
Exibicionismo/Exigência 0,26 0,17 0,14 0,21 0.36 0,79 1,06 0,63 0,19 0,81
Sub-escalas -
Ackerman et al. (2011)
Liderança/Autoridade 0,43 0,23 0,27 0,45 0,54 0,18 -0,57 0,68 0,21 0,87
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Grande Exibicionismo 0,28 0,21 0,10 0,30 0,40 0,75 0,23 0,63 0,23 0,78
Exigência/Exploração 0,32 0,27 0,00 0,25 0,50 0,41 -0,75 0,37 0,31 0,37
Nota. α =coeficiente alfa de Cronbach; rij =correlação média interitens. Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Foi avaliado o grau em que a pontuação total dos itens do NPI pode ser
considerada unidimensional usando o modelo bifatorial. O pressuposto da
unidimensionalidade significa que apenas uma habilidade latente pode ser medida
pelo conjunto de itens que compõem o teste. Em um modelo bifatorial restrito, cada
item é especificado para carregar um fator geral e um fator de subescala. As cargas
sobre o fator geral que são superiores ou iguais a 0,50 são consideradas fortes, do
mesmo modo, quando os fatores da subescala excedem o valor do fator geral.
O exame das cargas fatoriais das subescalas revelou que alguns itens
possuíam cargas que excederam os valores do fator geral. Há também diferenças
mínimas entre cargas para o fator geral e cargas para o modelo unidimensional. Isto
sugere que a pontuação total NPI pode ser considerada unidimensional (um único
fator comum), suficiente para análise da TRI, onde o modelo bifatorial permitirá a
compreensão de quais fatores estão influenciando as pontuações do narcisismo,
levando em consideração que dados multidimensionais podem produzir pontuações
da escala interpretáveis. Contudo, uma inspeção das cargas para o fator geral no
modelo bifatorial sugere que o traço latente é definido principalmente por conteúdo
relacionado ao comportamento de liderança e busca de atenção, verificado nos itens
(01, 03, 07, 10, 28, 30, 32, 36 e 38) relacionados a essas variáveis que possuem
cargas fortes e estão relacionados aos traços de Autoridade e Exibicionismo, que de
acordo com Raskin e Terry (1988), é caracterizado por dominância, assertividade,
liderança, criticidade, autoconfiança, busca de sensações, extroversão e
impulsividade.
Após a aplicação do modelo 2PL na pontuação total NPI, encontrou-se 12 itens
que possuíam valores para o item de ajuste X² maior ou igual a 100 (itens 01, 07, 09,
10, 11, 12, 26, 27, 30, 32, 33 e 36). Isso significa que dos 40 itens que compõe o
NPI, 28 itens indicam que os parâmetros estimados têm validade questionável, isto
é, pelo menos na conjuntura desta pesquisa eles não representam com precisão
como os participantes responderam aos itens do questionário (Reise, 1990).
Importante salientar que 7 dos 12 itens estão associados ao aspecto de Autoridade,
apresentando características citadas no parágrafo anterior. Observou-se que em
14
relação ao parâmetro dificuldade apenas um item pertencia à escala fácil (item 8)
indicando que os respondentes escolheram a opção narcisista (“vou ser um
sucesso”) com facilidade, e seis itens (02, 14, 21, 24, 25 e 38) pertenciam à escala
dos mais difíceis, ou seja, tiveram maior dificuldade de selecionar a opção narcisista
destes itens.
Percebe-se que muitos dos itens mais simples pertencem às subescalas de
Autoridade e Autossuficiência de Raskin e Terry (1988). Estes itens refletem atitudes
positivas para consigo mesmo, abordadas no capítulo 1 deste estudo. Os itens que
estão na escala mediana de dificuldade refletem características de Exploração,
Exibicionismo e Superioridade. Esses itens contêm autoafirmações que remetem
grandiosidade e implicam num sentido de excepcionalidade e controle fácil sobre as
outras pessoas. Os itens com um grau de dificuldade maior pertencem às escalas de
Exibicionismo e Exigência. Esses itens representam autoafirmações indecentes e
grandiosas, como por exemplo, o item 7 (“eu gosto de ser o centro das atenções”),
por isso a resistência em selecionar esta opção.
Uma variedade de itens revelou indivíduos exigentes em média e acima dos
níveis médios do traço de personalidade. De acordo com a Tabela 1, os itens mais
discriminatórios foram os que refletiam aspectos da capacidade de liderança e
necessidade de atenção, isso demostra que os traços de Liderança/Autoridade
estão ganhando um aspecto particular sobre a escala NPI, colocando em evidência
se esses elementos devem ser considerados narcisistas. Nota-se que alguns itens
ligados às subescalas de Exigência e Autossuficiência de Raskin e Terry (1988)
apresentaram baixos valores discriminadores (itens 14, 17, 22, e 24), ou seja, esses
itens são menos informativos do nível do traço latente em questão do que os
demais.
Assim como o estudo de Ackerman et al. (2012), nesta pesquisa, além da análise da
subescala NPI de Raskin e Terry (1988) utilizou-se também as subescalas do
próprio Ackerman et al. (2011), referente a um estudo anterior sobre a mensuração
do NPI e de Corry et al. (2008), para uma melhor precisão nos resultados,
constatados nas Tabelas 2 e 3.
Tabela 2: Modelo logístico de 2 parâmetros (2 PL) para as subescalas NPI de Liderança/Autoridade e
Exibicionismo/Exigência de Corry et al.(2008).
Modelo 2PL
15
Item X2 β σβ α σα
Liderança/
Autoridade
1 280,75 -0,91 0,02 1,45 0,03
8 96,43 -1,27 0,03 0,54 0,02
10 835,37 -0,17 0,01 2,65 0,06
11 311,43 0,05 0,01 1,48 0,03
12 654,64 0,06 0,01 1,73 0,03
27 374,97 0,49 0,02 1,31 0,03
32 451,64 0,93 0,02 2,21 0,05
33 392,42 0,06 0,01 1,68 0,04
36 445,59 1,30 0,03 2,33 0,05
Exibicionismo/
Exigência
3 148,85 2,09 0,06 0,89 0,02
4 114,38 1,41 0,03 0,82 0,02
7 637,90 0,53 0,01 2,21 0,06
14 47,71 2,54 0,14 0,39 0,02
15 494,96 1,20 0,02 1,47 0,04
19 387,54 0,70 0,02 1,25 0,03
20 349,76 1,55 0,03 1,82 0,04
24 22,96 3,30 0,19 0,39 0,02
25 68,72 2,75 0,10 0,67 0,02
28 128,40 0,90 0,04 1,01 0,02
29 378,87 -0,29 0,02 1,25 0,03
30 713,43 0,34 0,01 2,66 0,08
38 292,83 1,69 0,04 1,60 0,04
39 78,10 2,40 0,10 0,59 0,02
Nota. β = parâmetro dificuldade; σβ = erro padrão para o parâmetro de dificuldade; α = parâmetro de discriminação; σα = erro padrão para o parâmetro de discriminação. Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Após aplicar o modelo 2PL na subescala Liderança/Autoridade, concluiu-se
que todos os itens possuíam valores X² acima de 100, com exceção do item 8,
indicando que os parâmetros destes itens são validados para a análise. Além disso,
na aplicação do modelo 2PL na subescala Exibicionismo/Exigência descobriu-se que
10 itens possuíam valores X² acima de 100 (itens 3, 4, 7, 15, 19, 20, 28, 29, 30, e
38), sugerindo de um modo geral, a manifestação de traços relacionados à vaidade,
sentimento de merecer respeito e uma vontade para manipular e tirar vantagem dos
outros, que segundo Ackerman et al. (2011), corresponde a elementos socialmente
negativos de narcisismo. Nas estatísticas de dificuldade, percebe-se que o item 8
pertence à escala “fácil”, já o item 24 encontra-se na escala “muito difícil”,
16
significando que os respondentes tiveram maior dificuldade de selecionar a opção
narcisista (“Eu espero muito das outras pessoas”). Em relação às estatísticas de
discriminação, dos 23 itens apenas 5 itens (8, 14, 24, 25 e 39) não apresentam
valores satisfatórios para discriminar os traços de Liderança/Autoridade e
Exibicionismo/Exigência dos participantes.
Tabela 3: Modelo logístico de 2 parâmetros (2 PL) para as subescalas NPI de Liderança/Autoridade,
Grande Exibicionismo e Exigência/Exploração de Ackerman et al. (2011).
Modelo 2PL
Item X2 β σβ α σα
Liderança/
Autoridade
1 209,55 -0,90 0,02 1,48 0,03
5 102,45 0,75 0,03 0,83 0,02
10 594,01 -0,16 0,01 2,81 0,06
11 203,58 0,05 0,01 1,48 0,03
12 278,26 0,06 0,01 1,63 0,03
27 222,63 0,49 0,02 1,28 0,03
32 436,53 0,93 0,02 2,21 0,05
33 270,55 0,06 0,01 1,58 0,04
34 104,90 -0,27 0,02 0,90 0,02
36 366,48 1,28 0,03 2,42 0,05
40 75,16 0,37 0,02 0,71 0,02
Grande Exibicionismo
4 134,28 1,36 0,03 0,87 0,02
7 719,09 0,52 0,01 2,25 0,07
15 584,93 1,19 0,02 1,51 0,04
19 472,80 0,65 0,02 1,37 0,03
20 333,57 1,59 0,03 1,74 0,04
26 130,21 -0,45 0,02 0,84 0,02
28 1237,17 0,89 0,04 1,02 0,02
29 498,36 -0,28 0,02 1,37 0,03
30 761,32 0,34 0,01 2,59 0,08
38 405,47 1,84 0,04 1,40 0,04
Exigência/
Exploração
13 3357,41 0,89 0,03 0,62 0,02
14 7825,83 1,08 0,03 1,06 0,03
24 4624,44 1,14 0,03 1,42 0,06
25 3793,82 1,16 0,02 2,53 0,13
Nota. β = parâmetro dificuldade; σβ = erro padrão para o parâmetro de dificuldade; α =parâmetro de discriminação; σα = erro padrão para o parâmetro de discriminação. Fonte: Dados da pesquisa (2016).
17
Da mesma forma, o modelo 2PL foi aplicado na subescala
Liderança/Autoridade e evidenciou-se que dez itens possuíam valores X² acima de
100 (itens 1, 5, 10,11, 12, 27, 32, 33, 34 e 36), com exceção do item 40, portanto, os
parâmetros são validados para analisar os traços latentes em questão. Estes itens
indicam traços relacionados à autoestima, extroversão, potência social, que são
aspectos considerados como “adaptativos” do NPI (Ackerman et al., 2011). Já os
aspectos “mal-adaptativos” (tendências antissociais, desvalorização dos outros,
exigência, maquiavelismo) estão aliados aos componentes: Grande Exibicionismo e
Exigência/Exploração, que conforme verificado na Tabela 3, apontam itens
demonstrando baixos níveis de informação a respeito dos parâmetros. A estatística
do item 36 indica que os respondentes tiveram dificuldade de selecionar a opção
narcisista (“eu sou um líder nato”). No parâmetro discriminação apenas o item 40
não é satisfatório para discriminar a característica abordada.
Em suma, percebeu-se que nem todas as escalas NPI foram igualmente
informativas sobre o seu traço correspondente e a abordagem de analisar os traços
narcisistas através das subescalas (Corry et al., 2008; Ackerman et al., 2011)
proporcionou uma maior clareza sobre quais atributos avaliados pelo NPI estão
apresentando resultados mais informativos em relação aos estudantes.
Com a finalidade de testar a primeira hipótese (H1) aplicou-se o teste t de
Student com dados independentes. Esta hipótese defende que os traços de
narcisismo são mais expressivos em estudantes do gênero masculino, em relação
ao gênero feminino. Este mesmo teste foi utilizado para avaliar as variáveis: tipo de
IES e NPI.
A Tabela 4 indica que a amostra apresentou pequena diferença na distribuição
por gênero dos participantes, permitindo uma melhor análise das médias NPI, que
do gênero masculino correspondeu a 14,40. Este resultado é 11,4% superior à
média NPI do gênero feminino (12,76). Essas médias são análogas às médias
observadas (Masc.= 14,24 / Fem.=11,74) no estudo de Langaro e Benetti (2014).
Importante ressaltar que os scores do presente estudo variaram entre 1 (um) a 39
(trinta e nove) pontos.
Tabela 4: Gênero X NPI
Gênero N Média Desvio Padrão Erro Médio
18
NPI Masculino 96 14,4063 5,85361 0,59743
Feminino 91 12,7692 5,08173 0,53271
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Percebe-se no teste da primeira hipótese (Tabela 5) que homens apresentam
maiores níveis de NPI em relação às mulheres e como afirmam Akers, Giacomino e
Weber (2014) são mais autoritários, autossuficientes, exploradores e têm um maior
senso de direito. Este resultado está alinhado aos estudos de Langaro e Benetti
(2014) e Zheng Li (2015) que evidenciaram índices mais elevados de traços
narcisistas no gênero masculino. Esta confirmação pode estar ligada ao fato das
mulheres estarem mais propensas a desenvolverem comportamentos de afetividade,
empatia e honestidade, em contraposição ao gênero masculino que tendem a
condutas ligadas à competitividade e até comportamentos desonestos na busca de
interesses pessoais (Avelino & Lima, 2014).
Tabela 5: Teste das amostras independentes
Teste de
Levene
para
Igualdade
de
Variâncias
Teste t de igualdade de médias
F Sig. t Df Sig.
(bi-
caudal)
Diferença
média
Diferença
de erro
95% Intervalo de
Confiança da
Diferença
Inferior Superior
NPI
Igualdade de
variância
assumida
1,526 0,218 2,037 185 0,043 1,63702 0,80347 0,05188 3,22
Igualdade de
variância não
assumida
2,045 183,6 0,042 1,63702 0,80044 0,05778 3,216
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Em relação às variáveis idade e pontuação do NPI (H2) aplicou-se o teste do
coeficiente de correlação de Pearson (r) que é mais adequado para testes
19
psicológicos. De acordo com Chen e Popovic (2002) é a estatística mais utilizada
para descrever a relação entre variáveis.
Tabela 6: Teste de Hipótese H2
Idade
NPI
Correlação de Pearson -0,078
Sig. (bi-caudal) 0,290
Soma de Quadrados e Produtos Cruzados -304,925
Covariância -1,639
N 187
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Dessa maneira, verifica-se na Tabela 6 que as variáveis Idade e NPI não
apresentaram correlação estatisticamente significativa (Sig. 29%). Com isso, é
possível concluir que não existe diferença significativa entre as variáveis, pelo
menos no contexto desta pesquisa. A amostra levantada possui uma concentração
nas idades entre 20 e 23 anos, ou seja, uma alta concentração em uma restrita faixa
etária, o que pode ter influenciado este resultado. Provavelmente, em uma amostra
envolvendo um grupo maior e com uma regularidade na distribuição por idade os
resultados poderão ser diferentes.
Tabela 7: Tipo de IES X NPI
Tipo_IES N Média Desvio Erro Médio
NPI Pública 134 13,4627 5,29812 0,45769
Privada 53 13,9811 6,14094 0,84352
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
De acordo com a Tabela 7 constata-se que a quantidade de respondentes de
IES públicas foi superior aos de IES privadas, além disso, nota-se que não há uma
diferença expressiva entre as médias dos tipos de IES, distribuição compatível com
a do estudo de Brown et al. (2013). Contudo, é importante considerar que mesmo
com uma quantidade menor, os participantes das IES privadas obtiveram uma média
acima da encontrada nos estudantes de IES públicas. Já no estudo de Brown et al.
(2013) os achados foram diferentes (Pública= 15,83, Privada= 15,66).
20
Tabela 8: Teste das amostras independentes
Teste de
Levene para
Igualdade
de
Variâncias
Teste t de igualdade de médias
F Sig. t df Sig. (bi-
caudal)
Diferença
média
Diferença
de erro
95% Intervalo de
Confiança da
Diferença
Inferior Superior
NPI
Igualdade
de variância
assumida
0,046
0,830
-0,576
185
0,565
-0,51845
0,90025
-2,29453
1,25764
Igualdade
de variância
não
assumida
-0,540 84,26 0,590 -0,51845 0,95969 -2,42681 1,38992
Fonte: Dados da pesquisa (2016).
Os níveis de significância da Tabela 8 revelam a inexistência de diferenças
estatisticamente significativas entre os tipos de IES. Esses resultados despertam o
interesse para a discussão se o narcisismo é influenciado pelo tipo de IES, uma vez
que são aspectos inerentes à personalidade de cada ser humano. O que se pode
concluir é que entre os estudantes das IES, as diferenças poderão ser constatadas
nas sete categorias abordadas pelo narcisismo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa objetivou compreender o perfil dos acadêmicos que cursam
Ciências Contábeis. Para alcançar tal finalidade e responder ao problema de como
se manifesta os traços de personalidade narcisista em estudantes, foi aplicado o
instrumento psicométrico Inventário de Personalidade Narcisista (NPI) que é
composto por 40 itens contendo afirmações de natureza dicotômica, narcisistas e
não narcisistas, no qual os traços latentes foram estimados utilizando a Teoria da
Resposta ao Item (TRI), uma vez que a pontuação total NPI une aspectos
adaptativos de personalidade com aspectos mal-adaptativos (Ackerman et al.,2011).
21
As subescalas de Corry et al. (2008) e Ackerman et al. (2011) utilizadas na
análise exploratória justificam-se tanto por razões empíricas quanto teóricas e de um
modo geral, os resultados encontrados demonstraram que os estudantes
selecionaram os itens que possuíam conteúdos relacionados aos traços de
Liderança/Autoridade, além de itens que sugeriam a manifestação de traços
relacionados à Vaidade e Manipulação que estão ligados à subescala de
Exibicionismo/Exigência.
Para a análise das hipóteses aplicou-se o teste t de Student com dados
independentes, além do teste do coeficiente de correlação de Pearson (r) permitindo
a conclusão com um nível de segurança equivalente a 95% de que os homens são
mais narcisistas que as mulheres. Os participantes das IES privadas apresentaram
média narcisista maior que os estudantes de IES públicas, todavia, sem diferença
estatística. Já em relação à idade e NPI foi possível concluir que não existe
diferença significativa entre essas variáveis.
Respondendo à problemática deste estudo, os traços narcisistas evidenciam
que os estudantes principalmente do sexo masculino são dominantes, assertivos,
autoconfiantes e extrovertidos. De acordo com Brown et al. (2013), essas são
características de líderes, uma vez que, os fatores narcísicos de Autoridade e
Exibicionismo são marcantes em sua personalidade. Estes achados permitem aos
educadores reconhecer aspectos inerentes aos estudantes até então
desconhecidos, possibilitando adaptar seus estilos de ensino com base no perfil dos
alunos que estão ensinando.
Logo, os resultados desta pesquisa promovem uma reflexão para o processo
de ensino-aprendizagem em Contabilidade demostrando que o narcisismo é um
aspecto psicológico presente no comportamento de todas as pessoas, podendo ser
benéfico ou contraproducente dependendo do grau de manifestação.
Esta pesquisa apresentou limitações quanto à amostra que foi composta por
participantes de um evento de Contabilidade, ou seja, o critério utilizado foi a
acessibilidade. Um estudo que envolva uma amostra aleatória de estudantes poderá
alcançar um maior número de participantes, assim como, resultados diferentes. Já
em relação à linha de pesquisa, a limitação foi a quantidade de estudos envolvendo
narcisismo e Contabilidade no âmbito nacional, sendo necessário a realização de
22
mais estudos com essa temática, dado que, a maior concentração de artigos
publicados é em periódicos internacionais.
Recomenda-se, para pesquisas futuras, o desenvolvimento de estudos com a
mesma temática em outras regiões brasileiras. Comparar estudantes de
Contabilidade com outras áreas de negócios (economia, marketing, administração)
ou comparar contadores em diferentes níveis de ensino (graduação, mestrado,
doutorado). Em suma, fica evidenciada a importância do estudo comportamental na
área contábil, já que os resultados podem contribuir na formação acadêmica e
continuada.
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