Triple Botton Line da sustentabilidade:
Uma análise em uma cooperativa de crédito
Claucir Antonio Weiber Junior – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR
Sandro Ricardo Busato – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR
Jansen Maia Del Corso – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR
Daniel Ferreira dos Santos – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC-PR
Área temática: Gestão Ambiental
Resumo
Este artigo tem como objetivo pesquisar uma cooperativa de crédito quanto à adoção da
prática relacionada ao TBL (Triple Bottom Line) da sustentabilidade por atender aos
aspectos econômico, social e ambiental da presente e futuras gerações. O estudo foi
exploratório-descritivo e adotou a metodologia qualitativa, sendo através de uma
entrevista realizada pela Revista Geração Sustentável com o presidente de uma
cooperativa de crédito. A coleta de dados realizou-se por meio de entrevista
semiestruturada e para a análise dos dados utilizou-se o software Atlas/ti 7.0.
Identificou-se a aplicação dos aspectos da sustentabilidade através de investimento junto
aos associados e a comunidade inserida ao negócio e como uma retratação
socioambiental foi apresentada como a organização utiliza destas práticas sustentáveis
como geração de valor, estratégia de competitividade e sobrevivência no mercado.
Como consequência, o resultado positivo encontrado pós-análise foi à adoção das boas
práticas do Triple da sustentabilidade nas atividades sustentáveis desta cooperativa.
Palavras-chave: Triple Botton Line. Sustentabilidade. Estratégias.
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1. Introdução
As cooperativas no Brasil representam um sistema que tem em sua missão a diversidade
e a promoção da eficiência e a eficácia econômica e social dos cooperados. De acordo
com Pinheiro (2005), as sociedades cooperativas são sociedades de pessoas com forma
e natureza jurídica, constituídas na prestação de serviços ao associado cujo regime
jurídico é instituído pela Lei 5.765, de 16 de dezembro de 1971.
Neste cenário, as cooperativas procuram realizar nas suas atividades as práticas do
desenvolvimento sustentável, ou seja, no âmbito econômico, social e ambiental, por
intermédio do engajamento formal e informal dos clientes, fornecedores, colaboradores,
governos e organizações sociais. Há uma grande variedade de cooperativas nas
sociedades humanas sendo que a cooperação é baseada nas necessidades humanas e no
compartilhamento de recursos e tarefas. Essas necessidades são formadas por sistemas
sociais e, portanto, o desenvolvimento das mesmas está na força organizacional e nas
suas concepções ou doutrinas cooperativista.
As cooperativas são classificadas como: cooperativas de 1º grau destinadas a prestar
serviços diretamente aos associados; e, cooperativas de 2º grau que são constituídas por
cooperativas singulares e que objetivam organizar, em comum e em escala, os serviços
econômicos e assistenciais de interesse das filiadas (PINHEIRO, 2005).
Um número expressivo de cooperativas de crédito no país tem forte presença nas
comunidades, mas não estão imunes aos efeitos de crise financeira e recessão resultante.
As cooperativas de crédito brasileiras têm como objetivo principal fomentar as
atividades do cooperado por meio de assistência creditícia e prestação de serviços de
natureza bancária (economia solidária e inclusão social) (ANNIBAL; KOYAMA,
2011).
Neste quadro, as cooperativas produzem estratégias no intuito de criar iniciativas ao
desenvolvimento sustentável e apoiando-se em uma economia diversificada, saudável a
um nível globalizado. A RSE aborda a importância da interação com as partes
interessadas (clientes, funcionários, fornecedores, organizações não governamentais,
organizações públicas, etc...) e parcerias entre os principais grupos, incluindo a relação
entre empresas ao longo da cadeia de fornecimento (WOOD; JONES, 1995;
BALABANIS; PHILIPS; LYALL, 1998).
Estas questões estão vinculadas a atores sociais específicos, em alguns casos,
apresentam a potencialidade de gerar problemas econômicos, sociais e ambientais e
também, de conceder respostas a inúmeras patologias inibidoras do desenvolvimento
sustentável (MUNCK; SOUZA, 2009, p.190). Diante do exporto, tem-se como objetivo
de estudo analisar os aspectos do Triple Bottom Line da sustentabilidade incorporado
nas decisões estratégicas de uma cooperativa de crédito.
A pesquisa procurou responder à seguinte pergunta: como uma cooperativa de crédito
incorpora em suas estratégias os aspectos do Triple Bottom Line da sustentabilidade? O
Objetivo geral é analisar a aplicação dos aspectos do Triple Bottom Line da
sustentabilidade incorporados nas decisões estratégicas de uma cooperativa de crédito.
Como objetivo específico busca-se averiguar as práticas dos aspectos econômicos,
sociais e ambientais da sustentabilidade em uma cooperativa de crédito incorporados
nas suas decisões estratégicas.
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2. Fundamentação Teórica
Apresenta-se neste capítulo a teoria pesquisada em termos de livros e artigos
relacionados à estratégia e sua implementação, decisão estratégica, Triple Bottom Line
na sustentabilidade, cooperativismo e cooperativas de crédito que deram suporte à
pesquisa.
2.1 Estratégias e sua implementação
Para compreender a natureza das atividades que envolvem os aspectos econômicos,
sociais e ambientais da sustentabilidade é fundamental entender o conceito de estratégia,
sua implementação e características. A contribuição mais influente da década foi sem
dúvida, a estratégia competitiva de Porter (1980), aplicadas na análise da indústria,
barreiras de mobilidade e estratégias genéricas as quais se tornaram amplamente aceitas
e utilizadas em diversas pesquisas.
Para Porter (1980) o desempenho superior dos negócios em setores da indústria
preocupa-se em parte com a produção e a concorrência, mas estes princípios subjacentes
na cadeia de valor e das estratégias genéricas consideram ambas na oferta e na demanda
da formulação estratégica. A cadeia de valor preocupa-se com a demanda por bens e
serviços e as estratégias genéricas emergem da combinação de fonte de vantagem
estratégica (fonte) e o alvo estratégico (demanda).
A complexidade da implementação é demonstrado pelo número de diferentes
perspectivas a partir do qual os pesquisadores abordam a construção da estratégia. Estes
incluem, entre outros, a aprendizagem organizacional (Argyris, 1989), a estrutura
organizacional (Miller, 1987), os mecanismos de controle (JAWORSKI; MACINNIS,
1989; KAPLAN; NORTON, 2007), comunicação (HAMBRICK; CANNELLA, 1989),
a cultura organizacional (HARRIS, 1999; MUHLBACHER; VYSLOZIL; RITTER,
1987), orientadas para o mercado (DOBNI, 2003). Neste prisma uma empresa é capaz
de conseguir explorar a sua própria vantagem competitiva através de uma bem sucedida
formulação e implementação da estratégia que agregue valor (HITT; IRELAND;
HOSKISSON, 2005).
Algumas expressões explicam a estratégia aos negócios e conforme Ansoff (1993) o
negócio em que estamos segue às tendências, decisões heurísticas de primeira ordem,
padrão em decisões, nicho competitivo e características de portfólio. A estratégia é um
elemento da organização que detecta as reais necessidades da unidade de negócio ou da
corporação. Uma organização pode obter diversos benefícios praticando
apropriadamente a estratégia em seu negócio (CERTO; PETER, 1993).
2.1.1 Decisão estratégica
No passado, quando as mudanças ocorriam de forma mais lenta, as decisões eram
tomadas com base no empirismo e na experiência. Atualmente, esses procedimentos não
são mais possíveis. Segundo Freitas e Kladis (1995), os decisores de hoje necessitam de
suporte (mesmo científico) para que os processos decisórios aconteçam de forma
satisfatória.
Admite-se que decisão organizacional é um comprometimento específico para a ação
(usualmente de recursos) e que o processo decisório é o conjunto de ações e fatores
dinâmicos que começam com a identificação de um estímulo inicial para a ação e
terminam com o comprometimento para ela (MINTZBERG; RAISINGHANI;
THEORET, 1976). Pode-se dizer que a decisão é estratégica quando considerada
importante pelos gestores da alta administração em termos das ações tomadas, dos
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recursos comprometidos ou dos precedentes estabelecidos. Além disso, seu processo
decisório é nao-estruturado, ou seja, é novo e incerto e não ocorreu anteriormente; para
ele não existe um conjunto explícito e predeterminado de respostas ordenadas na
organização. De forma operacional, a decisão é estratégica quando envolve
posicionamento estratégico, apresenta altos riscos, envolve diversas funções
organizacionais e é considerada representativa das decisões da organização
(EISENHARDT, 1989).
Segundo Eisenhardt e Zbaracki (1992) a decisão estratégica possui duas dimensões
centrais independentes: a racionalidade limitada e a política organizacional. Para os
autores o modelo da ação racional tem como pressuposto o fato de que o
comportamento humano é calculado e instrumental. Os atores em uma situação de
escolha possuem objetivos predeterminados e buscam informações apropriadas para
estabelecer alternativas de ação. O valor das consequências dessas alternativas é
determinado pelos objetivos. March e Simon (1993) desenvolveram uma crítica geral e
asseveram que o ser humano busca satisfazer e não maximizar, e que existem limites
cognitivos no comportamento humano. Destacam o fato de que as informações não
estão disponíveis e precisam ser buscadas, sendo que esse processo interfere na escolha
como quando se opta pela priorização das preferências individuais. Também identificam
que os objetivos, em geral, não são claros e mudam com o tempo, podendo ser
redefinidos ao longo da busca por informações. Allison (1971) afirma que as decisões
podem refletir o uso de procedimentos padrão, e não a análise sistemática.
Mintzberg, Raisinghani e Theoret (1976) estudaram a fase de autorização do processo
de decisão estratégica, concluindo que, quando a organização possui planejamento
estratégico formal, este se constitui como uma atividade de aprovação. Para Shimizu
(2001), o processo de decisão necessita ser estruturado e resolvido de modo formal,
detalhado, consistente e transparente. A escolha da opção coerente com a estratégia
competitiva da empresa e com as demandas do mercado torna-se imperativa, para não
haver perdas de produtividade e competitividade. Para Ansoff (1990) do ponto de vista
decisório, o problema geral da organização é coordenar o processo de conversão de
recursos de forma que seja otimizada a consecução dos objetivos. Salienta que essas
decisões podem ser categorizadas em decisões estratégicas, administrativa e
operacional.
2.1.2 Triple Botton Line na sustentabilidade
Desde a sua introdução, no início da década de 90, devido aos preparativos para sediar a
Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rio 92),
aumentou-se o fluxo de informações sobre o assunto, fato que contribuiu na ampliação
da conscientização econômica, social e ambiental da sociedade brasileira (MEDEIROS,
2003, p.25).
Com base nos estudos de Viola (2002, p.12), o mesmo destaca que na década de 90 o
debate ambiental evoluiu, pois se percebeu que é impossível desvincular proteção
ambiental do processo de desenvolvimento socioeconômico. Na maioria das
organizações, o conceito de sustentabilidade tem sido associado principalmente com a
dimensão econômica incluindo a força financeira e a bons produtos ou serviços. Esta
suposição solidifica as organizações financeiramente e estão propensas ao
desenvolvimento de longo prazo, prosseguindo nos interesses estratégicos das partes
interessadas e a perpetuação das vantagens competitivas. Neste sentido, Steurer et al
(2005) identificaram no desempenho financeiro a competitividade a longo prazo sobre
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os aspectos sociais e ambientais das empresas que são questões-chaves da
sustentabilidade.
Segundo Wheeler, Colbert e Freemam (2003), alguns objetivos principais da
sustentabilidade estão em entender melhor por que e como as empresas decidem adotar
práticas sustentáveis. A finalidade do negócio tende a concentrar-se na interação entre
os direitos dos investidores em relação as partes interessadas, apoiado nos direitos da
sociedade, nas práticas de governança, na gestão estratégica e em teorias que se baseiam
em princípios econômicos, sociais e ambientais. Para os autores, no contexto de
sustentabilidade mais amplo da sociedade, ou seja, a globalização, as empresas
enfrentam três conceitos interligados: a) responsabilidade social empresarial (RSE), b) o
desenvolvimento sustentável, e c) a abordagem das partes interessadas para a gestão
estratégica.
Corroborando com este pensamento, Coral (2002, p.129), descreve um modelo de
planejamento estratégico voltado para a sustentabilidade, baseada na dimensão do
Triple Bottom Line.
Para Mendonça et al (2006, p.10), o conceito do tripé da sustentabilidade tornou-se
amplamente conhecido entre as empresas e pesquisadores do assunto, sendo uma
ferramenta conceitual útil para interpretar as interações extra empresariais e
especialmente ilustrar a importância de uma visão da sustentabilidade mais ampla, além
de uma mera sustentabilidade econômica. As organizações possuem objetivos de
garantir o retorno considerável do seu capital investido e utilizam ferramentas para se
colocar a frente dos concorrentes. São meios para a obtenção de lucros e fatias de
mercado, mas que podem estar relacionadas aos fatores sociais e aliadas as questões
ambientais.
2.2 Cooperativismo
A evolução do associativismo se dá por meio do cooperativismo e surgiu nas
necessidades de encontrar soluções às ameaças e problemas comuns a determinados
grupos de indivíduos. De acordo com Silva (2000), a palavra cooperativa deriva do
latim cooperativus, de cooperari, que significa cooperar, colaborar, trabalho com os
outros. Para Silva e Holz (2008), o cooperativismo não visa lucro e sua função está na
satisfação das necessidades de determinados grupos com os mesmos acessos aos bens e
serviços e ao menor custo possível, no sentido de gerar um bem estar maior. As
transações realizadas no seu quadro social são os investimentos ou aplicação em
recursos que permitem uma melhor distribuição de renda e riqueza. As cooperativas são
organizações com grande potencial e possibilitam a mudança social. Diante das
dificuldades econômicas, a cooperativa é uma opção para aproveitar a força produtiva
existente.
As cooperativas são uma forma particular de organização empresarial onde o lucro
obtido é distribuido na proporção do volume de operações de cada um dos associados.
Numa cooperativa não existe empregador. Em um modelo organizacional baseado em
princípios cooperativistas o foco principal é o capital social, diferente do modelo
organizacional tradicional caracterizado pelas empresas onde o capital financeiro exerce
fortes influências em relação à forma de funcionamento da organização (SIMÃO;
BANDEIRA, 2008).
O movimento cooperativo é um grande tema que merece atenção por sua relevância
econômica e social. A sociedade humana é marcada pela predominância de uma minoria
institucionalizada pela força social e cultural que são os donos do capital ou know-how,
conforme a Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB (2013). A Organização das
Nações Unidas (ONU) declarou que em 2012 seria o ano internacional das cooperativas.
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O lançamento oficial foi realizado em outubro de 2011onde a organização buscou
garantir o cumprimento dos seguintes objetivos: aumentar a consciência pública acerca
das cooperativas e das suas contribuições para o desenvolvimento socioeconômico do
mundo; promover a formação e o desenvolvimento das cooperativas; e estimular os
governos a estabelecerem políticas, leis e regulamentos condizentes com a formação, o
desenvolvimento e a estabilidade das cooperativas.
Sob o prisma de empresa, a cooperativa tende a viabilizar os diversos fatores de
produção (matéria prima, capital, trabalho, tecnologia) buscando melhoria na qualidade
e diversificação dos serviços prestados aos associados e a comunidade. Nesse aspecto, o
dirigente da cooperativa é legitimado pelos associados na medida em que consegue
conduzir as atividades econômicas com eficiência e uso racional dos recursos naturais
ou artificiais, resultado da criatividade e habilidade humana. (BINDA; GEHLEN,
2012).
A Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (2013) apresenta dados sobre as
regiões de atuação das cooperativas: o Sudeste aparece em primeiro lugar com cerca de
4,9 milhões de associados seguido do Sul com cerca de 4 milhões e o Centro-Oeste na
terceira posição com 713 mil. Já entre os estados, São Paulo está na liderança com mais
de 3 milhões, o Rio Grande do Sul com cerca de 2,1 milhões e Santa Catarina pouco
mais de 1,2 milhões ocupam o segundo e o terceiro lugar respectivamente.
2.2.1 Cooperativa de crédito
A decisão de concentrar-se no estudo das cooperativas de crédito está diretamente
relacionada com a importância que este setor representa no Brasil. Segundo a
Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (2013), o número de associados ao
ramo de crédito cooperativista é o que mais se destaca respondendo por quase 50%, ou
4,9 milhões da totalidade dos cooperados do país. Em seguida, aparecem os ramos de
consumo com 2,7 milhões e agropecuário com 966 mil. O ideal da cooperativa de
crédito se espalhou e agora está presente em praticamente todos os setores da economia.
O sistema cooperativo no Brasil é fruto de um processo de evolução na elaboração de
normativas cujo marco foi a Resolução nº 1.914, de 11 de março de 1992, do Conselho
Monetário Nacional (CMN) que deu início a um processo mais consistente de
estruturação e consolidação dessas entidades (ANNIBAL; KOYAMA, 2011).
O sistema é aceito e reconhecido na maioria dos países como o mais adequado,
participativo e justo, constituindo-se num formato de negócio democrático e
amplamente utilizado para atender às necessidades e interesses específicos da
população. O objetivo da constituição de uma cooperativa de crédito é prestar serviços
financeiros de modo mais simples e vantajoso aos seus associados, possibilitando o
acesso ao crédito e outros produtos financeiros (aplicações, investimentos, empréstimos,
financiamentos, recebimento de contas, seguros, etc.) (BANCO CENTRAL DO
BRASIL, 2013). No cooperativismo de crédito surge a resposta de mercado ao
financiamento das pequenas e médias empresas além de crédito as pessoas físicas, uma
vez que mobiliza os recursos locais e disponibiliza-os aos tomadores de recursos a partir
deste arranjo institucional.
De acordo com Pinheiro (2005), o sistema cooperativo de crédito no Brasil se encontra
estruturado deste de 2005 com dois bancos cooperativos, sendo um múltiplo e outro
comercial. Embora as cooperativas de crédito ainda ocupem um pequeno espaço no
sistema financeiro, tanto quanto às operações de crédito e quanto ao patrimônio líquido,
o segmento vem apresentando um crescimento não apenas em volume, mas também em
percentual de participação na área bancária. Do ponto de vista do crédito mútuo, um
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banco não deve ser considerado um fim, mas um meio através do qual se atenderia às
necessidades do homem enquanto membro de uma comunidade. Uma das prioridades
do crédito mútuo é garantir a melhora da qualidade de vida das pessoas, proporcionando
o progresso das famílias. Independente do crédito há uma postura humana, social e
educativa (SOUZA, 1992).
Em 2007, essa limitação foi elevada para municípios com até 2 milhões de habitantes.
Com a Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010, do CMN, permite-se o
funcionamento em regiões ainda mais populosas, desde que a cooperativa de crédito
seja filiada a uma central de crédito pertencente a um sistema cooperativo, realize
contratação de auditoria externa e tenha capital mínimo de R$25 milhões, entre outras
exigências (ANNIBAL e KOYAMA, 2011). Ainda para os autores, a Resolução nº
3.859, de 27 de maio de 2010, possibilita classificar as cooperativas em três principais
tipos:
1º - Cooperativas de crédito mútuo:
Empregados: constituídas por empregados, servidores e pessoas físicas prestadoras de
serviço em caráter não eventual pertencentes à mesma entidade, pública ou privada.
Profissionais liberais: constituídas por pessoas que desenvolvam alguma profissão
regulamentada, como advogados, médicos, contadores. Ou que atuem em atividade
especializada, como pedreiros, eletricistas, padeiros. Ou ainda, por pessoas cujas
atividades tenham objetos semelhantes ou identificáveis por afinidade ou
complementaridade, como é o caso de arquitetos e engenheiros; médicos e dentistas.
Empreendedores: constituídas por pequenos e microempresários que se dediquem a
atividades de natureza industrial, comercial ou de prestação de serviços, com receita
bruta anual enquadrada nos limites de, no mínimo, R$244.000,00 e, no máximo,
R$1.200.000,002. Nesse tipo de cooperativa, podem ser incluídas as atividades descritas
para as de crédito rural.
2º - Cooperativas de Crédito Rural: constituídas por pessoas que desenvolvam
atividades agrícolas, pecuárias, extrativas ou de captura e de transformação do pescado,
desde que inseridas na área de atuação da cooperativa.
3º - Cooperativas de Crédito de Livre Admissão de Associados: são cooperativas
cujo quadro social é constituído e delimitado conforme a área geográfica. Nesse tipo de
cooperativa, qualquer grupo de pessoas, desde que resguardadas as exigências da Lei nº
5.764, de 16 de dezembro de 1971 (Lei das Cooperativas), e das normas regulatórias
emanadas do Banco Central, pode formar uma cooperativa de crédito.
As cooperativas de crédito são uma alternativa de acesso, sobretudo, ao microcrédito
com inúmeros benefícios. Desde atendimento personalizado, produtos específicos para
as demandas dos associados, empréstimos e financiamentos com juros baixos, menos
exigências, além de maior rapidez e flexibilidade nas operações, uma vez que essas
sociedades se concentram na satisfação das necessidades das pessoas, principalmente se
comparadas aos bancos comerciais que focam o lucro (ARAUJO; SILVA, 2011).
A concepção da sustentabilidade como um conjunto interdependente de práticas sociais,
ambientais e econômicas, o mais avançado conceito em vigor já recebeu destaque nas
agendas de trabalho dos principais sistemas de cooperativas de crédito atuantes no
mercado. Por essa concepção que está baseada no Triple Bottom Line proposto pelo
Global Reporting Initiative (GRI) e prevista na Consulta Pública n° 41 do Banco
Central, uma instituição sustentável é aquela que gera resultado econômico, ao mesmo
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tempo em que protege o meio ambiente e melhora a qualidade de vida das pessoas com
as quais interage (FONSECA et al, 2009). Conforme a OCB (2013), a visão das
cooperativas independente do seu ramo e devem ser reconhecida com uma entidade de
excelência, promotora da sustentabilidade do coopeativismo nacional e da promoção
socioecononômica das pessoas que o integram.
3. Método de pesquisa
O presente estudo visa mensurar qualitativamente através de um estudo exploratório, a
aplicação do Triple Botton Line da sustentabilidade incorporado nas decisões
estratégicas de uma cooperativa de crédito. Para o alcance dos resultados se faz
necessário uma correta adesão aos métodos de pesquisa definindo os fins e os meios.
Quanto aos fins a pesquisa se caracteriza como exploratório-descritiva. Exploratória,
pela necessidade de averiguar as práticas dos aspectos econômicos, sociais e ambientais
da sustentabilidade em uma cooperativa de crédito incorporados a suas decisões
estratégicas. Em relação à pesquisa descritiva de acordo com Gil (2009), esta procura
descobrir com maior precisão possível a frequência com que um fenômeno ocorre, sua
relação e conexão com outros, suas naturezas e características.
Quanto à tipologia de estudo, esta pesquisa utilizou-se de um estudo de caso tendo
como unidade de análise uma cooperativa de crédito. Gil (2009, p.57-58) cita que o
estudo de caso é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos
objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado. Para tal, necessita
de uma técnica padronizada e bem estruturada na coleta de dados. Marconi e Lakatos
(2003, p. 190) descrevem que uma técnica de coleta de dados é utilizada para conseguir
informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade.
Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que
se desejam estudar.
Na coleta de dados foi utilizada a entrevista da Revista Geração Sustentável, edição 25,
realizada com o Presidente do Sicredi – Paraná, sobre o tema “Cooperativismo de
crédito: promovendo o equilíbrio social e econômico”. O entrevistado tem
conhecimento amplo de todo o funcionamento da cooperativa e presta suporte, quando
necessário às unidades de crédito no âmbito estadual. A entrevista foi semiestruturada,
permitindo uma coleta de dados mais abrangente com questionamentos relacionados à:
1º - Atuação das cooperativas de crédito; 2º - Redirecionamento dos recursos para
determinar as estratégias de investimentos; 3º - Compromisso com as dimensões
econômica e social no modelo cooperativista; 4º - O repensar do modelo TBL de forma
de organização social na solução de problemas econômicos para minimizar os impactos
ambientais; 5º - Comprometimento da cooperativa com a comunidade; 6º -
Desenvolvimento de gestão sustentável dentro de uma organização financeira; e, 7º - Os
modelos de gestão estratégica dentro de cooperativas de crédito.
A técnica de investigação da pesquisa sobre a aplicabilidade do TBL na cooperativa de
crédito se baseia em uma pesquisa bibliográfica que está relacionada à fundamentação
teórica através de livros, periódicos, revistas, jornais e sites na internet disponibilizados
ao público como embasamento para análise dos dados. Para a elaboração da pesquisa
são necessários técnicas de amostragem para facilitar a mensuração e análise de dados.
De acordo com Beuren e Cunha (2006), as técnicas de amostragem são utilizadas com o
intuito de viabilizar a coleta de dados necessários a um determinado estudo, sem a
necessidade de conhecer todo o universo pesquisado.
Na pesquisa foi utilizada a amostragem não probabilística por motivo de acessibilidade
e devido a limitações de tempo. Quanto à seleção, utilizou-se o critério de acesso e a
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empresa escolhida foram as Cooperativas de Crédito e as Cooperativas de Crédito que
desenvolvam práticas sustentáveis. Após a coleta dos dados na entrevista
semiestruturada os mesmos foram tabulados em perspectiva comparativa. O maior
desafio de uma pesquisa em caráter qualitativo é conseguir analisar a generalidade de
fragmentos de conversas rápidas, entrevistas, ou discussões e apresentá-las em caráter
conclusivo relacionado à teoria. Na sequência, a tipologia da pesquisa quanto aos
objetivos foi utilizada a pesquisa qualitativa que segundo Marconi e Lakatos (2003), se
preocupam em analisar aspectos mais profundos, a fim de descrever a complexidade do
comportamento humano e organizacional bem como o de fornecer uma análise mais
detalhada sobre a pesquisa.
Deste modo, procedeu-se a uma análise de conteúdo para tornar o resultado da pesquisa
mais próximo à realidade utilizando-se do software Atlas/Ti 7.0, que se trata de um
programa de análise de dados qualitativos, útil na organização de grande quantidade de
textos, gráficos, informações de áudio ou vídeo, além de ajudar a estabelecer relações e
a construir categorias (MUHR, 2004). Assim, foram criadas as seguintes categorias de
análise com base no Triple Botton Line da sustentabilidade: a) Aspecto econômico; b)
Aspecto social; e c) Aspecto ambiental.
4. Análise dos resultados e considerações finais
A entrevista ocorreu em 23 novembro de 2011. Com base nas informações prestadas
pelo entrevistado chegou-se aos resultados da pesquisa com respeito à incorporação nas
decisões estratégicas de uma cooperativa de crédito nos aspectos do Triple Bottom Line
da sustentabilidade. Para explicar mais sobre esse modelo de negócio que atua baseado
em princípios fundamentados em prol do desenvolvimento e com projetos sociais
voltados à educação, a entrevista foi realizada com presidente da Central Sicredi PR/SP.
A Revista Geração Sustentável apresentou alguns pontos relevantes sobre o
cooperativismo, conforme segue:
“Para todo problema econômico há uma solução cooperativa”. Não tinha
outra forma de destacar a abertura desta entrevista se não utilizando essa
celebre frase de um dos maiores pensadores do cooperativismo, o professor
francês Charles Gide. Na atual conjuntura do setor financeiro brasileiro, com
a concentração do crédito nos grandes bancos privados, esse modelo de
organização é muito atual e ganhará novos adeptos nos próximos anos
(REVISTA GERAÇÃO SUSTENTÁVEL, 2011).
Além disso, a Revista Geração Sustentável (2011), descreve que o objetivo das
cooperativas de crédito é conquistar uma fatia de 10% do mercado bancário em dez
anos, realidade que existe em países como Holanda, Alemanha, Estados Unidos, entre
outros. As cooperativas de crédito fazem parte do sistema financeiro nacional como
qualquer banco, e estão submetidas à regulação e supervisão do Banco Central.
Contudo, nessas instituições financeiras existem diferenças significativas na atuação,
que as tornam um dos melhores modelos para o desenvolvimento sustentável das
comunidades. A partir destas informações foi elaborada a entrevista e sintetizada para
uma melhor compreensão conforme o Quadro 1:
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Quadro 1 – Síntese da Entrevista
Questionamento Síntese da Entrevista
Traçando um paralelo entre
cooperativas de créditos e bancos, qual
seria a maior diferença na atuação e
nos objetivos?
A maior diferença é que, quanto mais serviços os associados de uma
cooperativa de crédito utilizam mais a cooperativa cresce e mais os próprios
associados se beneficiam, pois a regra é que o dinheiro aplicado na
cooperativa só pode ser reinvestido na própria região. Além disso, o
resultado positivo do ano é distribuído entre os associados, proporcionais às
operações realizadas por cada um. Ao traçarmos um paralelo comparativo
entre as cooperativas de crédito e os bancos, é fundamental lembrar que as
cooperativas são sociedades de pessoas, elas são a alma do
empreendimento. Os associados são donos e usuários ao mesmo tempo, e
fazem parte de uma comunidade ou de um segmento específico.
Dessa forma, as cooperativas de
crédito redirecionam os recursos para
o desenvolvimento das comunidades
onde atuam. Como são determinadas
essas estratégias de investimentos
locais?
Cada unidade da cooperativa tem o seu planejamento anual, que é baseado
em estratégias e demandas locais e pontuais. A cooperativa existe para
satisfazer à necessidade dos sócios. Manejar a distribuição destes cabe à
administração da cooperativa, que ainda deve aliar as necessidades de
captação e capital necessárias.
O compromisso com as dimensões
econômica e social faz parte da
modelo cooperativista, isso, por si só,
é um exemplo de maturidade em
relação aos princípios de
sustentabilidade?
A cooperativa, em especial a de crédito, é um movimento de comunidade. E
quando eu afirmo que o recurso captado na comunidade fica na comunidade
para gerar melhorias financeiras, desenvolvimento e geração de riquezas,
estou promovendo esse princípio. A lógica da cooperativa é outra, ela é um
empreendimento coletivo que visa ao crescimento econômico de todos os
associados.
Considerando que o cooperativismo
surgiu como uma forma de
organização social para a solução de
problemas econômicos, como uma
cooperativa pode contribuir também
para minimizar os impactos
ambientais? É necessário repensar o
modelo?
Investindo em educação ambiental, na formação dos cidadãos do futuro, nas
crianças e nos adolescentes. O Sicredi tem um programa A União Faz a
Força, que estimula a elaboração de centenas de projetos de cunho
socioambiental, desenvolvidos nas escolas pelas próprias crianças, em prol
das comunidades e envolvendo toda a sociedade. O Programa A União Faz
a Vida é desenvolvido nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo
e Mato Grosso do Sul, e engloba 144 municípios, abrangendo 1.221 escolas,
179.175 alunos e 14.579 educadores.
Os Programas de educação
cooperativa como o “A União faz a
Vida” reforçam conceitos de
sustentabilidade e comprometimento
da cooperativa com a comunidade?
Perfeito. O Programa A União Faz a Vida está embasado no princípio
cooperativista de educação, formação e informação, mas atinge sua
plenitude quando integrado a outro princípio, o de interesse pela
comunidade. Porém, a gestão integrada desse Programa por parte dos
agentes é fundamental para a eficiência desse processo nas comunidades,
sendo eles a prefeitura por meio da secretaria de educação e coordenação
local; as assessorias pedagógicas; os apoiadores e a própria sociedade, tanto
nas cidades onde eles estão inseridos e naqueles que estão se preparando
para implantar o Programa no futuro.
Como desenvolver uma gestão
sustentável dentro de uma organização
financeira, considerando as dimensões
social, econômica e ambiental?
Direcionando as ações e esforços na formação de crianças e adolescentes
com espírito de cidadania. As comunidades são o motor de toda a
sociedade, e nosso objetivo é deixar um legado para as gerações futuras. A
própria atuação das cooperativas baseada nos valores de ajuda mútua,
responsabilidade, democracia, igualdade equidade e solidariedade reforça o
objetivo de promover o desenvolvimento da comunidade abrangendo as três
dimensões da sustentabilidade.
O segmento crédito é o que mais
cresce dentro do sistema
cooperativista brasileiro. Quais são os
índices de crescimento e quais são os
fatores que mais contribuem para essa
evolução?
Os índices de crescimento são muito positivos e o crescimento é
percentualmente acima da média do mercado competidor, exceto o
resultado, pois as cooperativas visam agregar renda às pessoas na
comunidade. Um dos motivos para esse crescimento é a gestão eficaz com
transparência, bem como o atendimento mais humano na prestação de
serviços financeiros. Acreditamos fortemente que o relacionamento faz toda
a diferença.
As cooperativas de crédito estão
modernizando seus modelos de gestão
dentro dos conceitos de governança
corporativa, inclusive o Banco Central
já utiliza o conceito de governança
cooperativa? Como funciona esse
conceito na prática?
A organização do quadro social é que inicia esse processo. No Sicredi, por
meio dos Programas Crescer e Pertencer, que visam ampliar a participação
dos associados na tomada de decisões dos negócios da sua cooperativa, é
que se alcança essa dimensão, pois eles geram sustentação e transparência à
gestão. Além disso, o investimento e capacitação de dirigentes, executivos e
colaboradores também reforçam essa sustentação, aliado às boas práticas de
governança que, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC) divulga.
Fonte: Revista Geração Sustentável, 2011.
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A cooperativa de crédito é uma instituição financeira formada por uma associação
autônoma de pessoas unidas voluntariamente, com forma e natureza jurídica própria, de
natureza civil, sem fins lucrativos e constituída para prestar serviços a seus associados
(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013).
No contexto da entrevista quanto ao processamento das mensagens referente ao
desenvolvimento sustentável pelas partes interessadas, o entrevistado procurou relatar
em suas respostas que a cooperativa de crédito integra em suas estratégias a
comunicação existente do seu produto/serviço. Isto refere-se a incorporação de pelo
menos uma parte dos aspectos da sustentabilidade aos seus produtos/serviços oferecidos
aos clientes envolvidos no processo financeiro.
Outra questão relevante do estudo por meio da entrevista é que a cooperativa de crédito
desenvolve iniciativas sustentáveis. Todavia, as exigências da responsabilidade social e
empresarial estão ligadas aos associados e a comunidade que estão aos poucos exigindo
sua incorporação nas práticas do dia a dia, e que com o passar do tempo tendem a
ganhar importância sendo cada vez mais necessárias para o sucesso do negócio.
Quanto ao conjunto de categorias de análise em torno do objetivo principal deste
estudo, Strauss e Corbin (2008), informam que na categoria principal, tenta-se trazer à
tona dados a respeito de uma temática que por consenso na literatura pesquisada e dos
diferentes campos de conhecimento, se caracteriza por ser complexa e multideterminada
pela diversidade de elementos que convergem e que se afetam mutuamente à análise.
Desta maneira, a figura abaixo apresenta a relação da cooperativa de crédito junto ao
Triple Botton Line através da entrevista realizada.
Figura 1 – Relação da Cooperativa de Crédito x Triple Botton Line
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
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Por meio da figura anterior, verifica-se a relação da cooperativa de crédito junto aos
aspectos do Triple Botton Line referente às características das atividades
desempenhadas neste processo quanto à gestão sustentável. Percebe-se um avanço do
gestor ao se adaptar às novas exigências do mercado citando fatores que contribuem na
consolidação de práticas sustentáveis no ambiente empresarial possibilitando espaço a
novas ferramentas de gestão. A adaptação das organizações ao processo de
desenvolvimento sustentável não tem precedente. Novos valores são institucionalizados
na sociedade a serem seguidos em um determinado setor, sofrem pressões e adotam
modelos e práticas tidas como melhores em um dado sistema social (BARBIERI et al.,
2010, p.149).
Desta forma podemos analisar a contribuição da cooperativa de crédito em relação a sua
gestão sustentável na geração de riqueza e bem estar ao associado e a sociedade onde
está inserida, no intuito de utilizar melhor seus recursos, na geração e distribuição de
renda bem como na rentabilidade do negócio, fator primordial para sobrevivência no
mercado e na geração de valor. Partindo deste pressuposto, a figura 2 demonstra as
práticas sustentáveis da cooperativa de crédito junto ao Triple Botton Line através da
entrevista realizada:
Figura 2 – Práticas Sustentáveis da Cooperativa de Crédito x Triple Botton Line
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
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Observa-se na figura às formas que a cooperativa de crédito pratica suas ações
sustentáveis. As estratégias estão baseadas na demanda da satisfação dos associados,
gerando recursos financeiros sendo que estas melhorias levam a geração de riquezas e
caracterizando a lógica do cooperativismo que é o de crescer economicamente para
todos os associados.
Deste modo podemos observar que a cooperativa de crédito desenvolve programas,
neste caso, denominado “A união faz a força”, no estímulo a projetos socioambiental
em prol dos associados e envolvendo a comunidade. Os investimentos em educação
ambiental estão embasados nos princípios do cooperativismo de educação, formação e
informações em busca de alternativas sustentáveis.
O processo econômico utilizado pela cooperativa de crédito está determinado nos
programas de desenvolvimento sustentável, na transformação, exploração de recursos e
na direção dos investimentos e requer o completo planejamento da organização. A
estratégia empresarial está ligada à administração da sustentabilidade tornando-se
essencial compreender a existência dos aspectos econômicos, sociais e ambientais com
a participação dos associados e da comunidade.
O desenvolvimento sustentável é um projeto social e político que aponta para o
ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como para a
diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações que
habitam o planeta. Neste sentido, oferece novos princípios aos processos de
democratização da sociedade que induzem à participação direta das comunidades na
apropriação e transformação de seus recursos ambientais (LEFF, 2002, p.57).
As empresas criam valor econômico, social ou ambiental através de seus negócios e neste
estudo as cooperativas de crédito concentram esforços para conseguir seu
desenvolvimento sustentável sobre produtos/serviços oferecidos. Em primeiro lugar, estão
sendo conduzidos a mudança de atitude na construção da imagem, prestígio da marca,
perante ao mercado; e em segundo lugar, a sustentabilidade possui perspectiva
estratégicas no intuito de conquistar desempenhos superiores no mercado associados a
maior eficácia.
Diante dos resultados obtidos, a sustetabilidade é parte integrante da estratégias dos
negócios sendo que o foco está em torno da criação de valor nos principais princípios de
funcionamento e realização de melhorias econômicas, sociais e ambientais para todos os
stakeholders envolvidos. O êxito deste esforço é visto como crucial para o futuro da
cooperativa de crédito e, portanto, parte integrante das estratégias de negócios e de sua
reputação.
Recomenda-se o desenvolvimento de um quadro aos gestores de cooperativa de crédito
para tornar a sustentabilidade uma chave estratégica, no intuito de serem competitivos e
alinharem os investimentos em sustentabilidade com retorno. Estudos semelhantes são
de grande relevância para que se possa conhecer a realidade dos mesmos quanto aos
aspectos ligados ao tema.
A importância de um estudo mais aprofundado neste setor é baseado na compreensão,
nas análises e pesquisas estratégicas que estão sendo usadas no crescimento
socioeconômico, proporcionando assim uma opção para o sucesso e minimizar as
disparidades na obtenção de resultados.
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