UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS GRADUAÇÃO – “LATU SENSU” EM
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE A
EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
Valéria Reis Lopes Correia
Professor orientador: Mary Sue
RIO DE JANEIRO
Janeiro/2005
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
PÓS GRADUAÇÃO – “LATU SENSU” EM
EDUCAÇÃO INFANTIL
UM OLHAR REFLEXIVO SOBRE A
EDUCAÇÃO INFANTIL
Monografia apresentada à
Universidade Candido
Mendes como requisito
parcial para conclusão do
curso de especialização
latu-sensu em Educação
Infantil por Valéria Reis
Lopes Correia.
Professor Orientador: Mary Sue
RIO DE JANEIRO
Janeiro/2005
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Agradeço acima de tudo a Deus pela minha existência e pela minha oportunidade de
evolução.
Ao meu marido e filhas que compreenderam e apoiaram minha ausência e meu empenho
para a realização desse trabalho.
A minha orientadora Mary Sue que com seu exemplo de mestra e com sua sensibilidade
me deu força para a concretizar e finalizar esse trabalho.
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Dedico este trabalho de pesquisa a todos os
educadores que como eu amam
verdadeiramente seu ofício e objetivam um
mundo melhor para todos.
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SUMÁRIO
Introdução .................................................................................... 08
CAPÍTULO I
1 - O Caminhar Pedagógico da Educação Infantil ....................... 11
CAPÍTULO II
2 – Educação Infantil, que Período é Esse? ................................
2.1 – Quem é essa criança?.........................................................
24
26
CAPÍTULO III
3 – A Quebra do Paradigma: quem cuida e quem educa?........... 31
CAPÍTULO IV
4 – Identidade do Profissional da educação Infantil.....................
4.1 – Formação continuada e a pratica reflexiva sobra a ação
pedagógica...................................................................................
35
36
CAPÍTULO V
5 – A Busca de uma Educação de Qualidade ............................. 40
6 – Conclusão .............................................................................. 44
7 – Bibliografia ............................................................................. 46
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RESUMO
Este trabalho visa, por meio de uma contribuição de autores acerca
do que traduz educação infantil, mostrar o quanto é importante e necessário
o conhecimento sobre o desenvolvimento das crianças de zero a seis anos,
assim como, enfatizar a importância dessa etapa da vida escolar e suas
contribuições no que tange o desenvolvimento humano e evidenciar a real
necessidade em relação a capacitação dos profissionais que atuam com
essa faixa etária. Portanto, no primeiro capítulo será discorrida uma
retrospectiva jornada que envolve trajetória histórica da educação infantil,
em que será possível perceber que as mudanças sócios culturais deixam
seus reflexos no caminhar histórico da educação infantil. Cabendo ao
segundo capítulo, o enfoque dado a educação na primeira infância como
assunto prioritário dentro do panorama educacional, mostrando que etapa
escolar é essa, como esta respaldada legalmente e quais são as reais
necessidades da crianças que nela se integram. O terceiro capítulo
reservou-se ressignificação do verdadeiro ofício e a desmistificação no que
se trata ao cuidar e educar, pontuando que essas ações não acontecem
bipartidas,pois se caracterizam indissociavelmente, quebrando o paradigma
que gira em torno dessa questão. O quarto capítulo demonstrará a
verdadeira identidade do profissional que atua com a educação de crianças
de zero a seis anos, suas competências e habilidades, trazendo a luz a
importância da educação continuada e da prática crítico reflexiva que move
a ação do professor. Deixando para o quinto capítulo, a abordagem de uma
educação de qualidade onde coloca-se a educação infantil no patamar de
merecimento e reconhecimento da fase mais importante do desenvolvimento
escolar, mostrando que não está inserida no contexto educacional apenas
como um período preparatório, mas sim com suas características definidas e
explicitadas, o que leva a comprovação de que os saberes e fazeres
pedagógicos devem estar pautados no conhecimento do desenvolvimento
humano, bem como, nas teorias pedagógicas quer norteiam esse caminhar
educativo. Capacitando aos envolvidos uma interação salutar no que diz
7
respeito ao desenvolvimento global e consciente dos alunos, construindo,
dessa forma, condições que oportunizarão o desenvolvimento do senso
critico, ético e moral, facilitando, dessa forma o exercício pleno da cidadania.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho é fruto de um levantamento singular e simultâneo de
leituras bibliográficas, sobre as quais procurava-se investigar mais sobre as
temáticas e pesquisas, subsistentes na área de educação infantil. Este
despertar talvez tivesse acontecido devido ao contato direto com
profissionais da educação que debatem e discutem em torno do cenário da
educação infantil.
Partindo deste despertar, realizaram-se pesquisas bibliográficas,
sobre as quais reflexões infindas foram projetadas em dialética com a práxis
realizadas nas escolas em que desenvolvem-se um cotidiano profissional
preocupado com a dicotomia entre teoria e prática que ainda se faz
presente no panorama da realidade atual da educação infantil. Foram
encontrados diversos livros, seminários, artigos e outros escritos acerca da
temática da educação infantil, que puderam nortear, contribuir e trazer a luz
ao que tange os saberes e fazeres da educação infantil. É claro que nesse
trabalho não foram esgotadas todas as questões, pois mesmo
apresentando reflexões, discussões e alternativas de superação de
dificuldades, investigações iniciam-se a todo instante o que leva cada vez
mais a apreensão da importância e da complexidade que este tema
apresenta.
O presente instrumento tem por objetivo a busca de respostas e
soluções que poderão contribuir para a prática do professor no que tange o
complexo paradoxo entre os reais saberes e fazeres, cuidar e educar no
processo educativo da educação infantil, levando até os profissionais e afins
uma reflexão sobre a importância do trabalho da educação infantil, sua
conseqüência no contexto social e no desenvolvimento infantil, bem como a
percepção e o reconhecimento da capacitação dos profissionais que atuam
com essa faixa etária.
A reflexão do educador infantil sobre a escola, os alunos e a sua
prática é fundamental para o aperfeiçoamento e, principalmente, a
conscientização a respeito da importância de seu trabalho, daí a participação
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em debates e na troca do dia-a-dia faz com que esses educadores reflitam
sobre a prática do exercício de mediador no processo educativo de crianças
de zero a seis anos, repensando linhas e práticas pedagógicas que norteiam
o caminhar evolutivo da educação infantil, comparando o ontem e o hoje e
vislumbrando um amanhã consciente e reflexivo embasado em teorias e
práticas sólidas que contribuíram, desta forma, para alicerçarem o trabalho
edificante que é o de acompanhar o florescer de uma criança.
Embora a educação infantil, ainda, apresente-se historicamente como
uma área de atuação profissional distanciada no panorama educacional
brasileiro, seus educadores percebem a necessidade de conhecer melhor
essa criança, suas necessidades, seus desejos e anseios, buscando através
do conhecimento teórico pautar e estruturar conscientemente uma diretriz
que tenha como base prioritária auxiliar verdadeiramente o desenvolvimento
global da criança da educação infantil, bem como, considerar a ação
reflexiva na sua prática como movimento transformador do seu exercício
profissional, levando-os, desta forma, a alçar e alcançar os níveis de
conhecimento e prática satisfatórios, fundamentando a práxis, pois buscar
aprimoramento, conhecer o que realmente é a educação infantil, o que a
legislação vigente denota em relação ao paradoxo cuidar e educar, além de
agir de forma reflexiva orientando-se através do desenvolvimento infantil é
sem dúvida equipar de bagagem salutar o profissional da área, aí sim, esses
educadores alcançarão um nível de reconhecimento compatíveis com a
enormidade que é a importância que tem o seu papel na trajetória da
criança, fazendo com que cada vez mais a Educação Infantil seja vista como
a fase mais importante da vida escolar.
Portanto, o primeiro capítulo retroagirá a educação infantil para
séculos passados, a fim de nortear e esclarecer o que está acontecendo no
momento atual. O segundo capítulo abordará o enfoque da educação como
período crucial do desenvolvimento infantil. O terceiro capítulo, descurtinará
o verdadeiro saber sobre o cuidar e educar, ressignificando a prática
pedagógica. O quarto capítulo enfocará a identidade do professor da
educação infantil, deixando para o quinto e último capítulo a abordagem dos
requisitos de base para que se alcance uma educação infantil de qualidade
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refletindo na formação da criança e na interação dela com o mundo
capacitando-a para o exercício pleno da cidadania.
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CAPÍTULO I
O CAMINHAR PEDAGÓGICO DA EDUCAÇAO INFANTIL
É de suma importância termos conhecimento da trajetória da
Educação Infantil para que melhor compreendamos a realidade atual. Ao se
realizar uma pesquisa histórico pedagógica com a finalidade de extrair
fundamentações teóricas sólidas, que nos possibilitem uma reflexão crítica
das tendências pedagógicas que tem norteado a prática da educação de
crianças de zero a seis anos, poderemos, desta forma, alicerçar nossas
opções e posicionar nossa trajetória.
Embora reconheçamos o valor das teorias e investigações sobre a
educação da criança pequena, no Brasil, vemos uma maioria de professores
que tiveram acesso a algumas teorias sobre a educação infantil de forma
bastante vaga, através de cursos rápidos, que não lhes oportunizaram uma
maior reflexão sobre sua realidade e, nem mesmo, a possibilidade concreta
de construírem teorias adequadas à sua prática, reafirmando que o suporte
teórico-metodológico do professor, no caso específico, do professor da
educação infantil, explicita-se no seu discurso e na sua prática diária. Daí a
importância de se conhecer sempre mais o caminhar histórico pedagógico
da Educação Infantil.
Fazendo uma retrospectiva na história da educação, nos deparamos
com os fundamentos sociais, morais, econômicos, culturais e políticos da
sociedade antiga que foram sendo superados desde a instauração da
sociedade moderna no século XVI. A constituição de modos de vidas passou
a ser exigência do novo contexto social. A burguesia, classe em franca
expansão passou a reivindicar formas mais concretas de vida, não mais lhes
bastava uma educação dogmática, era preciso recorrer a uma educação que
lhes dessem condições de dominar a natureza.
Foi no início do século XVII que surgiram as primeiras preocupações
com a educação das crianças pequenas. Essas preocupações foram
resultantes do reconhecimento e valorização que elas passaram a ter no
meio em que viviam.
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Vários teóricos desenvolveram seus ideais sobre educação, incluindo aí a
educação para a infância. Neste período pode ser destacado:
João Amós Comênio (1592 – 1657) é considerado como o maior
educador e pedagogo do século XVII e um dos maiores da história.
Comênio ousou quando teorizou a escoal que ensina “tudo a todos”, já
nessa época englobando crianças especiais e do sexo feminino. Sua obra
trouxe um novo despertar no olhar para a criança, que passa de um olhar de
fraca e incapaz para seres humanos dotados de inteligência, aptidões,
sentimentos e limites. Um despertar também na família, na qual aos pais
passam a tarefa de educar a criança pequena, que na época constitui um
grande avanço, pelo fato dos pais, até então, não terem essa
responsabilidade. Pontua-se mesmo nesse aspecto a preocupação que
Comênio teve em relação as crianças pequenas. Não se pode deixar de
ressaltar que o plano da escola materna, oportunizou aspectos necessários
ao desenvolvimento no que tange as propostas educativas.
A procura por uma sistematização do saber incentivou o homem
dessa época a realizar novas tendências e é neste contexto que podemos
destacar:
Jean Jaques Rosseau (1712-1772) que delineava a educação da
criança pequena considerando sua existência, não como um homem
pequeno, mas que tinha seu mundo próprio, cabendo ao adulto percebê-la e
compreendê-la, pois apresentava peculiaridades que necessitavam ser
conhecidas, estudadas e sobre tudo respeitadas. Neste aspecto revelou a
influência da sociedade sobre o homem, enfatizando que a educação se
processa de dentro para fora e o respeito à natureza da criança se faz
fundamental para essa compreensão, reafirmando, dessa forma, que a
criança tem idéias e comportamentos diferentes dos adultos.
Suas concepções sobre educação podem ser percebidas em grande
parte na sua bibliografia, na qual dividiu a educação em cinco partes. Os
dois primeiros livros foram dedicados a infância, no qual destacou a
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importância e a valorização do desenvolvimento e das especificidades dessa
fase.
Naquela época, essa faixa etária apresentava sérios riscos, no que
podemos dizer, sobrevivência, por isso a educação deveria estar ligada à
própria vida da criança e deveria também, em cada fase de seu
desenvolvimento propiciar-lhe condições de vive-la o mais intensamente
possível.
Ainda no século XVIII podemos destacar:
Johan Heinrich Pestalozzi (1746-1827) considerado o “educador da
humanidade”, que influenciado por Rousseau via a família como importante,
porém insuficiente para educar o homem. A visão de educação humana
baseada na natureza espiritual e física, unindo o homem a sua realidade
histórica, também foi destacada na trajetória de Pestalozzi, assim podemos
afirmar que a universalização da escola com bases para a educação pública
moderna, visando uma educação para a sociedade, bem como a
necessidade do ensino a partir da intuição e do contato direto com as
experiências da criança, partindo gradativamente da intuição de pequenas
coisas para a denominação, passando para a descrição e finalmente para a
formação de conceitos, ou seja, definições; foi o patamar evidenciado na sua
pedagogia.
O sistema pedagógico de Pestalozzi tinha como pressuposto básico,
propiciar à infância a aquisição dos primeiros elementos do saber, de
maneira intuitiva e natural, pois para ele todo homem é bom e deve ser
assistido no seu desenvolvimento de modo a liberar todas as capacidades
morais e intelectuais, digamos que a educação tende a desenvolver-se
harmonicamente. Outro aspecto relevante é a relação que ele faz sobre a
complexa formação do homem quando sustentada por um tripé: espiritual,
intelectual e moral.
...da formação espiritual do homem como unidade de “coração”,
“mente” e “mão” (ou arte), que deve ser desenvolvida por meio da
educação moral, intelectual e profissional, estreitamente ligadas
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entre si; a formação do homem é um processo complexo que se
efetua em torno da Anschauung, entendida como “observação
intuitiva da natureza”, que promove o desenvolvimento intelectual,
o qual por sua vez promove um desenvolvimento moral, de modo
a produzir no sujeito “um sentimento de harmonia tanto com o
mundo exterior quanto com o interior”... todo homem deve ser
eticamente aperfeiçoado para agir como cidadão e tal
aperfeiçoamento é obra, sobretudo da educação e não apenas da
natureza. ( CAMPI,F., 1999;418 )
A magnitude de Pestalozzi localiza-se, talvez, na cumplicidade com a
luta sobre os problemas da pedagogia contemporânea e alimentada pelos
princípios da cultura romântica. Iluminada por uma transparência na
concepção da formação humana a luz sócio - política e espiritual.
Apesar de destacar Pestalozzi no século XVIII é necessário ressaltar
que suas contribuições foram de grande importância para a estruturação
direcionada ao processo educativo do século XIX, no qual destacaremos:
Friedrick Fröebel ( 1782 – 1852 ) que trabalhou com Pestalozzi e teve
seus ideais apoiados numa profunda fé, inspirada pelo amor a criança e a
natureza. Defendia o desenvolvimento genético com a idéia da evolução
natural da criança, bem como enfatizava a importância do simbolismo
infantil. Para ele a educação se processa a partir de uma auto consciência
crescente do indivíduo em relação à natureza e a sociedade.
Foi notadamente conhecido pela criação dos “jardins de infância”,
organização bem diferente das que havia na época. Eram espaços
aparelhados para o jogo, para o trabalho infantil e para atividades
coletivas. Esses espaços eram organizados por uma professora
especializada, sem que esta assumisse uma forma orgânica e programática.
A “intuição das coisas” formam o centro da atividade, sendo o jogo a
predominância da ação.
Nos jardins existem canteiros e grandes áreas verdes, de modo a
facilitar as mais variadas atividades, pois Föebel parte do pressuposto
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religioso que Deus está presente na natureza, porém transcendendo a ela,
tendo-a como sua unidade e seu centro motor. Ele vê a natureza como boa
e mais nítida ainda quando se subtrai as manifestações da sociedade,
assim, torna-se mais genuína e espontânea como a criança.
Seu olhar para a infância denota o depósito da voz de Deus, com
isso, na educação deve-se apenas deixar a criança desenvolver-se
reconhecendo o divino, o espiritual e o eterno por intermédio de uma relação
profunda com a natureza e uma harmonia do eu com o mundo, bastando,
para tal, desabrochar na criança a sua habilidade inventiva, a sua vontade
de mergulhar no mundo da natureza, reconhecendo, interagindo com a sua
condição criativa do sentimento, da arte com as cores, formas, ritmos,
figuras, sons e tendo o jogo como atividade especifica para capacitar a
criança na interação com o mundo, pois nesta fase, a criança encontra-se no
momento crucial da educação, no qual sementes são plantadas para a
formação da personalidade do homem devendo ser alicerçado, então, em
bases teóricas sólidas e de forte sensibilidade formativa.
Föebel é ao mesmo tempo o teórico do jogo e seu realizador prático,
que compreende o aspecto criativo do brinquedo e das atividades lúdicas
enfatizando como um papel ativo na etapa de desenvolvimento na infância e
como o mais viável para a determinação de um processo educacional. Os
jardins de infância e os jogos na teoria de Froebel têm papel importante na
organização escolar. Os jogos eram organizados com diferentes materiais,
começando pelo uso das formas esféricas e das bolas, eles se subdividem:
formas da vida, da beleza e do conhecimento. Os recursos pedagógicos
foram organizados e divididos em prendas e ocupações. As prendas são
materiais que não mudam de forma: cubos, cilindros, bastões lápides, que,
usados nas brincadeiras, oportunizavam à criança formar um sentido da
realidade e um respeito à natureza. Já as ocupações consistiam em
materiais que se modificavam com o uso: argila, areia e papel que são
usados em atividades de recorte, dobradura, alinhavo, etc. As canções
acompanhariam as tarefas, complementando desta forma, as sugestões de
materiais e atividades.
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Frobel apresentou-se claramente, com sua pedagogia contra os
métodos mecânicos e padronizados de aprendizagem e até hoje é possível
encontrar em instituições de educação infantil sua teoria.
Transformações educativas ocorreram no século XX, que foi marcado
por grandes conflitos vividos dramaticamente gerando inovações radicais
nos aspectos econômicos, políticos, comportamental e cultural. E foi no
decorrer desse século que houve um grande movimento de renovação
pedagógica, com mudanças significativas no campo educacional. Essa
mudança foi percebida como resultado de toda uma modificação social que
conseqüentemente exigia um novo sistema de instrução.
A escola neste contexto sofre uma profunda e radical transformação,
nutre-se de ideologia, amplia seu acesso e impõe-se como instituição chave
da sociedade, colocando no centro do seu processo, a criança, as suas
capacidades e as necessidades que auxiliarão o seu perceber e conhecer
global no caminhar de um amadurecer interior. Esse olhar rompia
radicalmente com o passado, com uma instituição formalista, disciplinar e
verbalista. No alicerce dessa consciência educativa inovadora encontrava-se
não só as descobertas da psicologia como também o intercambio com a
massa popular, que de certa forma, modificou o papel da escola e o seu
perfil educativo.
Todavia as “escolas novas” se apresentaram como experimentos
isolados e manifestaram, de certo modo, desejos que proporcionaram
pesquisas no campo da instrução, objetivando uma transformação profunda
nos aspectos, não só, de organização institucional como nos seus ideais
formativos e culturais.
A característica comum e dominante dessas “escolas novas” deve ser
identificada no recurso à atividade da criança.
A infância, segundo esses educadores, deve ser vista como uma
idade pré-intelectual e pré-moral, na qual os processos cognitivos
se entrelaçam estreitamente com a ação e o dinamismo, não só
motor, como psíquico, da criança. A criança é espontaneamente
ativa e necessita, portanto, ser libertada dos vínculos da educação
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familiar e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestação de suas
inclinações primárias. ( CAMPI,F., 1999;514 )
Nesse contexto destacamos:
Ovide Decroly (1871 – 1932) que, primeiramente expandiu suas
ocupações educativas junto a crianças anormais. Sua proposta de trabalho
estava pautada em atividades individual, coletiva e amparadas em princípios
da psicologia da criança. Inicialmente, suas atividades foram realizadas em
sua própria casa, onde pode observar, diretamente, o desenvolvimento
infantil. A posteriori, resolveu desenvolver sua proposta educativa junto às
crianças normais, criando uma escola em Bruxelas. Esse trabalho rendeu
pelas autoridades a oficialização nas escolas públicas. Ovide Decroly tinha
como preocupação, expor sua proposta, a fim de, substituir o ensino
formalista, baseado no estudo dos tradicionais livros de textos, por uma
educação voltada para os interesses e necessidades das crianças.
Considerando a finalidade da sua proposta pedagógica, ficou explícito
que ele organizou a mesma a fim de superar as deficiências do sistema
educativo que vigorava na época, inovando e criando novas possibilidades
educativas. Ao propor o seu programa, Decroly definiu suas características e
quais domínios de conhecimento deveria atingir, dando-nos, desta forma, a
dimensão e a referência do movimento do ato de ensinar e do de aprender.
Em conseqüência, concluiu que o que mais interessa ser percebido e
reconhecido pela criança é, em primeiro lugar, ela mesma, para depois
conhecer, ao seu redor, o meio em que vive.
Para conseguir tais resultados a nível pedagógico, seria necessário
globalizar e ao ser ver, essa globalização, só seria possível, se houvesse
uma mudança na dinâmica do trabalho escolar e, para isso, criou os
chamados “Centros de interesse”, pois partir do interesse da criança significa
respeitar o seu desenvolvimento e suas necessidades, desenvolvendo,
assim, uma proposta educativa que considere realmente as suas exigências
reais respeitando seus desejos.
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Destacaremos a seguir:
John Dewey (1859 – 1952) denominado como o máximo teórico da
escola ativa e progressista, que foi considerado um dos mais importantes
teóricos da educação americana e, por que não dizer, da educação
contemporânea. Em sua abordagem sobre educação considerava que o
método científico deveria subsidiar o trabalho em sala de aula, de tal
maneira que o conhecimento fosse trabalhado de forma experimental,
socialmente desde a infância, com o intuito de torná-la um bem comum.
Pautava-se no princípio de que o caminho mais viável para o aprender é o
fazer, superarando aquela visão de que cabia ao professor a
responsabilidade integral pelo conhecimento a ser adquirido pelo aluno.
Um dos pontos marcantes das noções de Dewey pode ser hoje
encontrado em um grande número de escolas infantis, trata-se do “método
de projetos”, no qual se desejava uma mudança nos procedimentos
didáticos para elaborar uma nova teoria experimental, através da qual
melhor se definisse o papel dos impulsos de ação. Partia-se do princípio de
que, o que se deve desejar nos educandos é o inteligente desempenho de
atividades com intenções definidas ou integradas por propósitos pessoais,
com isso é que se forma e se eleva, grau a grau, a experiência humana em
conjuntos de maior sentido e significação e, assim, mais eficientes na
direção das atividades. Bom ensino só se dará quando os alunos, sob
conveniente direção, possam mover-se por intenções que liguem seus
desejos e ações a resoluções definidas, ideais e valores. Na realidade, o que
foi desenvolvido nesse novo modelo didático, nada mais é que o sistema de
projetos.
Nesse universo puramente masculino, surge destacando-se:
Maria Montessori (1870 – 1952). Até então, foram os homens que
começaram a se preocupar com a educação infantil, uma tarefa atribuída,
quase que exclusivamente, à mulher. Maria Montessori, é considerada, uma
das mais importantes representantes dessa mudança radical que se dá na
escola com relação a concepção de ensino e aprendizagem. Seu
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envolvimento com a educação da criança pequena apresenta-se desde
quando fundou em Roma a primeira “Casa dei Bambini”, para abrigar,
aproximadamente, cinqüenta crianças normais carentes, filhas de
desempregados. Lá Montessori realizou várias experiências que alicerçaram
seu método, fundamentado numa concepção biológica de crescimento e
desenvolvimento. Por ser médica preocupou-se com o biológico, contudo,
não abandonou, o aspecto psicológico bem como o social. Enfatizando a
formação integral e para a vida, pois a educação é uma conquista do ser
humano desde criança quando já nascemos com a capacidade de ensinar e
aprender, bastando oferecer condições necessárias para que tal processo
seja realizado. Para ela o caminho do intelecto passa pelas mãos, pois
experenciando através de toques e movimentos decodifica-se e explora-se o
mundo, partindo do concreto rumo ao abstrato, através de materiais
atraentes projetados para desenvolver, estimular e provocar o raciocínio
levando a interiorização e a interação com o mundo abastecendo-se de
experiências que geram aprendizados.
À primeira vista poderíamos afirmar que Celestin Freinet (1896 –
1966) nada tem a ver com a educação infantil, que sua preocupação maior
estava voltada para a renovação do ensino primário público. Entretanto, aos
poucos constata-se que suas preocupações podem ser direcionadas à
educação das crianças pequenas. Freinet foi considerado um educador
revolucionário, o cultivo na educação do aspecto social foi um dos grandes
feitos desse educador francês. Suas técnicas (texto impresso, a
correspondência escolar, texto livre, a livre expressão, o aula-passeio, o livro
da vida) faziam sentido num contexto de atividades significativas, que
oportunizavam às crianças sentirem-se sujeitos do processo pessoal de
aquisição de conhecimentos. Ele entendia que o dinamismo e a ação é que
estimulavam as crianças a buscar esse conhecimento, multiplicando seus
esforços em busca de uma satisfação interior, o trabalho e a cooperação
apresentariam-se como primordial na educação, pois o objetivo visto para
educação era o de formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, a fim de
agir, reagir e interagir com o meio sendo capazes de transformá-lo.
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As propostas pedagógicas abordadas, apesar de nortearem
diferentemente, denotam uma visão romântica da educação infantil, pois nos
processos educacionais a criança apresenta-se percebida como um ser que
tem potencialidades inatas que desenvolve-se como sementes de um jardim
regadas com cuidados e estímulos naturais envoltos em aspectos
relacionais e culturais dentro de seu contexto histórico-sócial. Ao professor
creditava-se a responsabilidade da organização e da coordenação dos
interesses das crianças, estimulando e aguçando o desvendar do novo.
Além de incentivador de curiosidades, Freinet propunha ao
professor anotações diárias e diagnosticas com relatos de todas
as atividades e todos os progressos de seus alunos,
estabelecendo faces a essas anotações o roteiro de caminhos
para sua aprendizagem. Antecipando o que mais tarde seria
chamado de “educação centrada no aluno” ( ANTUNES,C.,2004;
96 )
Surge então uma nova tendência pedagógica que vem acarear a
visão romântica da educação infantil.
Aparece como investigador do aspecto construção do conhecimento,
afetivo, social cognitivo e biofisiológico .
Jean Piaget ( 1896 – 1980 ) que desenvolveu longos estudos e
pesquisas nos mais diversos campos do saber. Por certo, poderíamos
destacar, nas obras de Piaget, vários aspectos relevantes para a educação
infantil, dentre eles a construção do real, a construção das noções de tempo
e espaço, a gênese das operações lógicas.
Criador, como sabemos, de uma epistemologia, a “epistemologia
genética”, sempre esteve preocupado em investigar como se dava a
construção do conhecimento em diversas áreas, mais especificamente, qual
é a sua gênese, seus instrumentos de apropriação e, em como se
constituem.
21
Quanto à aplicabilidade de sua teoria no campo pedagógico, é
fundamental reafirmar que esse não foi seu objetivo, seu interesse voltava-
se para o campo epistemológico, com o intuito de construir um método
capaz de oferecer os controles e, sobretudo, de retornar às fontes, portanto
à gênese mesmo dos conhecimentos. O que se propõe à epistemologia
genética é pois, por a descoberto as raízes das diversas variedades de
conhecimento, desde as suas formas mais elementares e seguir sua
evolução até os níveis seguintes, até, inclusive, o pensamento científico.
Tratou-se, pois, de constatar, experimentalmente, como se processa a
aquisição do conhecimento, evidenciando que esses conhecimentos são
mutáveis ao longo de todas as fases da vida humana.
De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é um processo de
sucessivas mudanças qualitativas e quantitativas das estruturas cognitivas
derivando cada estrutura de estruturas precedentes. Ou seja, o indivíduo
constrói e reconstrói continuamente as estruturas que o tornam cada vez
mais apto ao equilíbrio.
Essas construções seguem um padrão denominado por Piaget de
estágios (sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório-
formal) que seguem idades mais ou menos determinadas. Todavia, o
importante é a ordem dos estágios e não a idade de aparição destes.
A construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações
físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam
em assimilação ou, acomodação e assimilação dessas ações e, assim em
construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez
que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma
acomodação e após, uma assimilação e o equilíbrio é, então, alcançado. Aí
se deu o aprendizado.
Na trajetória histórica da educação infantil encontramos princípios
básicos de Piaget que norteiam a práxis pedagógica até hoje, porém
diversas críticas foram dirigidas a essa tendência pedagógica que prioriza o
pensamento lógico, deixando adormecido aspectos sócio-culturais tão
importantes no desenvolvimento infantil.
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Um olhar reflexivo sobre a teoria piagetiana gerou divergências em
aspectos relevantes apresentados por Lev Vygotsky ( 1896-1934) que
compreendia o homem e o mundo numa perspectiva dialética. Ele atribuía
um papel prioritário às relações sociais no que tange aos estudos sobre
desenvolvimento intelectual, daí as correntes que foram originadas de seu
pensamento carregam o nome de sociointeracionista ou socioconstrutivista,
pois pautam o aprendizado decorrente da compreensão do homem que
desenvolve-se através da interação com a sociedade. Ele rejeitava as
correntes inatistas, bem como as empiristas e comportamentais, pois
acreditava que a formação surgia de uma relação dialética entre o homem e
a sociedade, carregando o individuo de uma experiência pessoalmente
significativa, transferindo conceitos da zona de desenvolvimento proximal
para a zona de desenvolvimento real para que haja a aprendizagem que
transforma.
O aprendizado adequadamente organizado resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos
de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de
acontecer. (VYGOSTKY,L,1987:101 )
A proposta inicial foi de fazer uma abordagem histórica sobre os
principais teóricos que trouxeram contribuições para a educação infantil,
porém, poderia, em muito, ser ampliada. Cabe, portanto, aos professores
alicerçarem-se em pressupostos teóricos que lhes permitam adquirir
referenciais que subsidiem-lhes na construção do seu saber e fazer
pedagógico. As experiências vividas levam-nos a inferir que, tanto os
professores da rede pública quanto os da rede privada enfrentam
dificuldades semelhantes no seu fazer diário e convivem com as mesmas
inseguranças quanto ao uso dos referenciais teóricos. A educação
continuada, bem como a pratica da leitura pedagógica e os cursos de
especialização para professores promovem o desenvolvimento de estudos
mais aprofundados permitindo, desta forma, que sejam realizadas
23
discussões e análise crítica das diversas concepções teóricas, discutindo
posições epistemológicas, realizando contraposições entre seus
pensadores, compreendendo quais as suas reais intenções no campo do
conhecimento. Ao oportunizar-se uma formação de qualidade aos
professores, estará sendo oferecida uma oportunidade na construção de
práticas pedagógicas alicerçadas, tendo consciência das opções teórico-
práticas que fazem, participando ativamente de um processo histórico social
e, assim, libertando-se das amarras impostas pelas inseguranças originárias
de instituições de bases pré-estabelecidas, bem como do desconhecimento
de seu objeto de trabalho que é o desenvolvimento pleno da criança de zero
a seis anos.
24
CAPÍTULO II
EDUCAÇAO INFANTIL - QUE PERÍODO É ESSE?
Trata-se de uma fase fundamental no desenvolvimento emocional e
cognitivo da criança e, conseqüentemente, na vida do indivíduo de uma
forma geral, que, não obstante, é freqüentemente encarada como um
período apenas preparatório para a escola "de verdade" ou para o que de
realmente importante está por vir, porém, atualmente vive-se um momento
histórico muito oportuno para a reflexão e a ação em prol das crianças.
Cada vez mais, a educação e o cuidado na primeira infância estão
sendo tratados como assuntos prioritários de governo, de organismos
internacionais, de organizações da sociedade civil e por um número
crescente de países em todo o mundo.
No Brasil, dispomos de legislação na área, destacando-se a
Constituição Federal de 1988, fruto de grandes discussões e participações
populares, intensificado com a transição do regime militar para a
democracia, trazendo, desta forma,.avanços nas diversas áreas da
sociedade, e em especial na educação, pois a partir dela é que garantiu-se a
educação infantil como direito da população, o que antes era visto como
concessão de direito, torna-se dever do Estado, como pode ser visto no
artigo 208, inciso IV, quando diz o seguinte:
Artigo 208. O dever do Estado com a educação será efetivado
mediante a garantia de:
IV- atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis
anos de idade.( ROSSETTI, M, 2001;183 )
Desta forma a Constituição Federal de 1988 além de definir a
educação infantil como direito da criança, ela oportuniza uma opção para a
25
família. Outro aspecto preponderante a essa faixa etária, se exprimi na lei de
Diretrizes e Bases da Educação que em 1996 foi promulgada, tendo como
resultado, inúmeras mudanças na educação infantil, enunciando os atributos
essenciais e específicos desse período, quando enfatiza que a educação
infantil prioriza o desenvolvimento integral das crianças de zero a seis anos
nos mais variados aspectos de desenvolvimento, psicológico, social, físico e
intelectual, tendo como complemento a ação da família e da comunidade.
Na educação das crianças menores de seis anos, as relações
culturais, sociais e familiares têm uma dimensão ainda maior no ato
pedagógico e estão em jogo na Educação Infantil as garantias dos direitos
das crianças ao bem-estar, à expressão, ao movimento, à segurança, à
brincadeira, à natureza, e também ao conhecimento produzido e a produzir,
o que leva-se a compreender que cada instituição que detêm especificidades
próprias relacionadas a sua história, organização, finalidade, merecem
abordagens específicas, apresentando componentes de interesse comum.
Por ora a predominância da educação infantil, ainda como forma de
fortalecimento e definição de um campo particular, passa aos poucos a ser
vista como um espaço democrático, antenado para a formação da cidadania
percebendo a criança como centro de um processo educacional, como
cidadã que tem direitos a acessos aos conhecimentos culturais da
humanidade, tendo como finalidade formar indivíduos plenos, críticos,
solidários, autônomos, capazes de agir, reagir e interagir na transformação
infinda que é a vida da sociedade, pois educar não constitui um processo de
transmissão cultural, mas de produção de sentidos, observação, analise e de
criação de significados que constituirão o verdadeiro ser. Para tal formação
faz-se necessário perceber que não é a escola como instituição a
transformadora e sim a contribuinte para que a construção de seres
capacitados para exercer inteiramente a prática da cidadania consciente
aconteça.
Desta forma a educação infantil não pode ser encarada, percebida ou
apresentada como uma fase pré-escolar, ou o que antecede o ingresso à
escola, pois cada fase tem sua identidade e tem que ser dado o verdadeiro
valor a cada uma delas, devendo ser vivenciada na sua totalidade e não
26
submetida a futuras vivências, pois estudos dos mais variados possíveis
apontam a primeira infância como a fase de maior desenvolvimento do ser
humano.
Segundo o que hoje se conhece da mente humana, e bastante já
se conhece, não podemos duvidar que a educação infantil é tudo e
o resto é quase nada e, portanto, não se justifica rotular de “pré” a
fase incontestavelmente mais significativa da escolaridade
humana. (ANTUNES,C,2004;41)
Baseado nesses estudos torna-se clara a importância desse período
na trajetória do desenvolvimento humano, sendo de suma importância o
conhecimento de quem é essa criança, quais são suas necessidades e
como pautar o exercício de mediador nesse processo que grande mérito
exerce no alicerçar da criança, imbuindo-a com bagagem necessária para a
tão esperada evolução da humanidade.
2.2 – Quem é essa criança?
A ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano
de vida, particularmente de zero a três anos, é o mais importante na
preparação das bases das competências e habilidades no curso de toda a
vida humana.
Os extraordinários avanços da neurociência têm permitido entender
um pouco melhor como o cérebro se desenvolve. Particularmente do
nascimento até os três anos de idade, vive-se um período crucial, no qual se
formarão mais de 90% das conexões cerebrais, graças à interação do bebê
com os estímulos do ambiente. Acreditava-se que a organização cerebral
era determinada basicamente pela genética; agora, os cientistas
comprovaram que ela é altamente dependente das interações infantis. As
27
fibras nervosas capazes de ativar o cérebro têm que ser construídas e o são
pelos desafios, pelas exigências e pelos estímulos aos quais a criança está
sendo submetida e isso ocorre na sua maior parte na fase da educação
infantil. As primeiras experiências são de tamanha importância que podem
até modificar a maneira com que as pessoas venham a se desenvolver
deixando-nos a certeza de que o cérebro necessita de exercício e que sem
isso, por maior que seja a herança genética recebida, não havendo estimulo,
o desenvolvimento dar-se-á precariamente e deve-se deixar bem claro que
estimular não é queimar etapas, e sim aperfeiçoar habilidades.
Da mesma forma que a tecnologia foi evoluindo com o passar do
tempo, a visão que temos da criança também foi se modificando e
ampliando com as novas tendências e teorias científicas a respeito de seu
desenvolvimento.
Pode-se definir como crescimento ao processo que se refere ao
aspecto quantitativo das proporções do organismo, ou seja, trata-se das
mudanças das dimensões corpóreas, como peso, altura, perímetro cefálico,
etc. e de desenvolvimento ao que se refere às mudanças qualitativas, tais
como aquisição e o aperfeiçoamento de capacidades e funções, que
permitem à criança realizar coisas novas, progressivamente mais
complexas, com uma habilidade cada vez maior. O crescimento termina em
determinada idade, quando esta alcança sua maturidade biológica, enquanto
que desenvolvimento é um processo que acompanha o homem através de
toda a sua existência.
O desenvolvimento abrange processos fisiológicos, psicológicos e
ambientais contínuos e ordenados, ou seja, segue determinados padrões
gerais. Tanto o crescimento como todo desenvolvimento produzem
mudanças nos componentes físicos, mental, emocional e social do indivíduo,
independentemente de sua vontade. As mudanças ocorrem segundo uma
ordem invariante, sabe-se que antes de falar a primeira palavra a criança
balbucia, após ela usa frases monossilábicas e assim sucessivamente. O
mesmo acontece com a marcha seguindo uma seqüência, um padrão de
evolução, que é da mesma forma que acontece em outras áreas do
desenvolvimento.
28
Apesar das diferenças individuais de cada criança, há evidências de
que o processo maturacional, a seqüência dos estágios evolutivos e a
direção do desenvolvimento são comuns a todos os seres humanos em
todos os lugares e em todos os tempos de sua história. Embora todas as
crianças progridam com certos padrões, a idade em que cada uma se torna
capaz de executar atividades novas e a maneira como as executa, varia de
uma para outra, daí a diversidade no desenvolvimento infantil. Vale a pena
ressaltar que esta é uma das várias razões para se afirmar que uma criança
não deve ser comparada com outra, pois cada uma segue um estilo próprio
e um ritmo peculiar de desenvolvimento.
Durante toda a sua vida, o ser humano ajusta-se às mudanças
causadas pelas transformações do seu próprio corpo e pelos fatores do meio
em que vive, e isto depende de dois aspectos básicos, que podem ser
denominados de maturação e aprendizagem. Como os estudos
epistemológicos de Piaget retratam, o progresso das estruturas mentais
evoluem em estágios que envolvem fatores relacionados a maturação do
sistema nervoso central, que experimenta através da ação e do pensamento
sobre o concreto a interação social, bem como o contato com o meio que é o
interagir e subseqüentemente se processa a equilibração que reúne os
estágios anteriores, alterando gradativamente as estruturas mentais
capacitando a sobrepor os estágios de desenvolvimento tão estudados por
Piaget.
É importante fazer a distinção entre crescimento e desenvolvimento,
maturação e aprendizagem, para saber o que esperar da criança em cada
estágio e não exigir dela determinada atitude ou comportamento que não
está de acordo com seu grau de maturidade, pois a maturação é o processo
pelo qual ocorre a mudança e o crescimento progressivo, nas áreas física e
psicológica do organismo infantil. Subjacentes a tais mudanças existem
fatores intrínsecos transmitidos por hereditariedade, que estabelece os
limites fisiológicos e psicológicos sobre os quais o ambiente atuará. As
modificações orgânicas ou psíquicas resultantes da maturação são
relativamente independentes de condições, experiência ou prática,
originados do ambiente externo, ou seja, trata-se de tendências inatas.
29
Neste caso, o ambiente atua apenas no sentido de propiciar condições para
que a maturação se dê completamente, mas sozinho nada poderá criar no
indivíduo.
A maturidade ocorre no momento em que o organismo está pronto
para a execução de determinada atividade e não se limita ao estado adulto.
Em qualquer fase da vida, podemos falar em maturidade. Por observar a
criança que anda com um ano de idade, ela apresenta maturidade nesta
função, porém não existe apenas maturidade física, mas também
maturidade mental, social, emocional, sexual, enfim maturidade geral da
personalidade. Quando esta etapa está pronta, facilitará o que chamamos de
aprendizagem, pois aparece uma mudança sistemática do comportamento
ou da conduta, que se realiza através da experiência e da repetição e
depende de fatores internos e externos, ou seja, de condições
neuropsicológicas e ambientais para que ela seja processada.
É oportuno lembrar que se a criança não está madura para executar
uma determinada atividade, não poderá aprendê-la, pois não disporá de
elementos orgânicos fundamentais para a sua realização. Toda
aprendizagem depende da maturação e das condições ambientais para se
estabelecer e é através dela que o homem desenvolve os comportamentos
que o possibilita viver. Atualmente, nos deparamos com estudo e
publicações na própria mídia que afirmam que este processo se inicia
mesmo antes do nascimento.
Pessoas preocupadas com a saúde e educação da criança e que
desejam compreendê-la, necessitam acompanhar o seu desenvolvimento,
aprender "ver e ouvir", enxergar a criança com suas necessidades,
sentimentos e capacidades. Se percebermos a criança como ela é,
evidentemente a compreenderemos, porém esta tarefa não é tão fácil como
imaginamos. Isto exige de nós, conhecimentos, sensibilidade e flexibilidade.
Cada criança apresenta um estilo e um ritmo próprio de evolução e, além
disso, é preciso considerar também o ambiente social-econômico-cultural no
qual ela está inserida. Para compreendê-la e amenizar conflitos e
frustrações, é necessário descobri-la como um ser individual com
30
capacidades, necessidades e sentimentos próprios. Isto é um grande
desafio.
A informação a respeito do desenvolvimento da criança é importante,
no sentido de facilitar a ação em cada etapa que se apresenta, oferecendo
os estímulos corretos e, sobretudo, não exigindo determinados
comportamentos ou desempenhos incompatíveis com a fase de
amadurecimento em que a criança se encontra. As teorias do
desenvolvimento dão as diretrizes, pois descreve as várias fases que é
comum no processo de amadurecimento de todos os indivíduo e isto garante
certa previsibilidade e isso é que da a possibilidade de se realizar uma
avaliação consciente de cada criança no seu estágio de desenvolvimento,
respeitando individualidades e diversidades de estilos e ações.
Parece óbvio que o conhecimento a respeito do desenvolvimento
serve de apoio para todos os envolvidos no desabrochar das crianças da
educação infantil, visto que, estas informações contribuem para estimular e
respeitar o seu potencial, mas se faz necessário enfatizar que realmente
este conhecimento não é suficiente para garantir o bem estar emocional e
psicológico da criança, pelo fato da grande complexidade que é o ser
humano e o universo que o rodeia. É importante que se tenha em mente que
além desse conhecimento todo, a criança precisa ser cuidada, educada e
acima de tudo amada.
31
CAPÍTULO III
A QUEBRA DO PARADÍGMA: QUEM CUIDA E QUEM EDUCA?
A educação das crianças de zero a seis anos em estabelecimentos
específicos de educação infantil vem crescendo no mundo inteiro e de
maneira bem acelerada, seja pelo fato da necessidade da família de contar
com uma instituição que se encarregue do cuidado e da educação de seus
filhos pequenos ou seja pelos argumentos advindos das ciências que
investigaram o processo de desenvolvimento da criança.
Se a inteligência se forma a partir do nascimento e se na infância
quando um investimento pautado em estímulos ou a experiência vivida pela
criança, exerce tamanha influência sobre o seu desenvolvimento globlal
mais do que em qualquer outra época da vida, descuidar desse período,
precioso, significa desperdiçar um imenso potencial humano. Porém se ao
contrário, atendê-la com profissionais especializados, capazes de fazer a
mediação entre o que a criança já conhece e o que pode conhecer, significa
investir no desenvolvimento humano de forma inusitada.
Hoje se sabe que há períodos cruciais no desenvolvimento, durante
os quais o ambiente pode influenciar a maneira como o cérebro é ativado
para exercer funções nas diversas áreas como a matemática, a linguagem, a
música. Se essas oportunidades forem perdidas, será muito mais difícil obter
os mesmos resultados mais tarde. À medida que essa ciência da criança se
democratiza, a educação infantil ganha prestígio e interessados em investir
nela. Estar apto a cuidar e a educar requer reflexões sobre quais papéis
assumir no processo educacional das crianças de zero a seis anos
As dificuldades instaladas ao longo de décadas de uma prática nas
instituições de educação infantil, em que cuidar remete à idéia de
assistencialismo e, educar à de ensino/aprendizagem prevaleceu a
tendência de compreender o cuidar e educar como mera associação de
duas diferentes funções. Uma relativa ao zelo por boa alimentação,
segurança física e cuidados com higiene e saúde e a outra, preocupada com
32
o repasse de conhecimentos e normas de comportamento, além do
cumprimento de regras pelos futuros cidadãos. No entanto, a função destes
dois termos parece distante das reflexões que culminam na declaração do
cuidar e educar como princípios indissociáveis, ficando aquém da
compreensão e promoção do ideal almejado.
Cuidado é uma prática cultural que parte das necessidades básicas,
mas que é identificado, valorizado e atendido de acordo com concepções
construídas socialmente.
Formas de cuidar revelam intencionalidades, favorecem o
desenvolvimento de aptidões humanas e aprendizagem da cultura. Há
cuidados que educam para autonomia e independência e as práticas
educativas devem integrar os cuidados com os afetos, a inteligência e a
criatividade.
Cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência,
estabelecendo uma visão integrada do desenvolvimento da criança com
base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade
peculiares à infância. Desta forma, o educador deve estar em permanente
estado de observação e vigilância para que não transforme as ações em
rotinas mecanizadas e guiadas por regras.
Quando se propõe a trabalhar com crianças dessa faixa etária, deve-
se ter como princípio, conhecer seus interesses e necessidades. Isso
significa saber verdadeiramente quem são, saber, um pouco da sua história,
conhecer a família, as características de sua faixa etária e a fase de
desenvolvimento em que se encontram. Só assim pode-se compreender
quais são as reais possibilidades dessas crianças, lembrando que, para elas,
a classe inicial é a porta de entrada para uma vida social mais ampla, longe
do ambiente familiar.
Antes, a escola de educação infantil tinha uma conotação assistencial,
onde as crianças ali passavam o dia todo para que seus pais pudessem
trabalhar. As monitoras passavam os dias olhando as crianças brincarem e
era o professor quem ficava com o desenvolvimento intelectual planejado.
Nesse período, os papéis, dentro da instituição infantil eram bem claros: um
cuidava e o outro educava.
33
Para o leigo em educação infantil pode soar estranho, ouvir que a
instituição infantil é um direito da criança, como um espaço que ela sente
prazer em freqüentar. Devido a essa visão, ainda precária, de educação
infantil é que ouvimos, até hoje, que esse período e para um ambiente de
mero caráter assistencialista, no qual apenas o cuidar é focalizado;
considera a instituição infantil freqüentada apenas por crianças que foram
deixadas lá pela família. Tal visão se revela preconceituosa e sem
fundamentação diante da realidade em que se encontra e que, cada vez
mais, se procura trilhar, que é a de garantir espaço para que a criança possa
ter os seus direitos respeitados e, entre eles, o de viver a infância.
Cuidar e educar implica reconhecer que o desenvolvimento, a
construção dos saberes, a constituição do ser não ocorre em momentos e
compartimentados. A criança é um ser completo, tendo sua interação social
e construção como ser humano permanentemente estabelecido em tempo
integral.
Cuidar e educar significa compreender que o espaço e o tempo em
que a criança vive, exige seu esforço particular e a mediação dos adultos
como forma de proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade com
consciência e responsabilidade. Nessa visão, consciência profissional é a
ferramenta de uma prática, que embasa teoricamente, inovando tanto a ação
quanto à própria teoria.
Neste decurso fez-se uma analogia sobre o que consiste o cuidar e o
educar, bem como, explanou-se as bases do significado de cuidar e educar,
ressaltando seu caráter de unicidade, ao invés de dupla tarefa.
Cuidar e educar, caminham simultaneamente e de maneira
indissociável, possibilitando que ambas as ações construam na totalidade, a
identidade e a autonomia da criança. A ação conjunta dos educadores e
demais membros da equipe da instituição é essencial para garantir que o
cuidar e o educar aconteçam de forma integrada. Essa atitude deve ser
contemplada desde o planejamento educacional até a realização das
atividades em si.
Torna-se necessária uma parceria de todos para o bem-estar do
educando. Cuidar e educar envolve estudo, dedicação, cooperação,
34
cumplicidade e, principalmente, amor de todos os responsáveis pelo
processo, que se mostra dinâmico e em constante evolução. Por outro lado,
é imprescindível conhecer a natureza e as raízes históricas da educação
infantil, os desdobramentos da prática educacional nas instituições
responsáveis e as influências que exerceram e ainda exercem nas diretrizes
pedagógicas dessa área. Além disso, há necessidade de caracterizar
amplamente o conceito, a especificidade e as peculiaridades do cuidar e do
educar no contexto contemporâneo da prática pedagógica, envolvendo pais
e responsáveis nesse processo formando um tripé tendo a criança como o
centro dessa trajetória.
O desenvolvimento humano se dá necessariamente de forma
conjunta e recíproca e as tarefas de educar e cuidar são indissociáveis, ao
educar também estamos cuidando e ao cuidar também estamos educando,
cuidar é condição necessária à educação, portanto faz-se necessário, cuidar
educando e educar cuidando.
35
CAPÍTULO IV
IDENTIDADE DO PROFISSIONAL DA EDUCAÇAO INFANTIL
A formação dos profissionais da educação infantil necessita de uma
atenção especial, dada a relevância de sua prática como mediadores no
processo de desenvolvimento e de aprendizagem. A qualificação específica
para atuar na faixa de zero a seis anos inclui o conhecimento das bases
científicas do desenvolvimento da criança, da produção de aprendizagens e
a habilidade de reflexão sobre a prática, com a finalidade de, cada vez mais,
fonte de novos conhecimentos e habilidades se produza em prol da
educação das crianças.
Além da formação acadêmica prévia, requer-se a formação
permanente, inserida no trabalho pedagógico, nutrindo-se dele e renovando-
o constantemente.
As práxis do profissional de educação infantil estão passando por
reformulações profundas. O que objetivava-se dele há algumas décadas,
não corresponde mais aos dias atuais. Nessa perspectiva, as discussão
estão indicando a necessidade de uma formação mais abrangente e
unificadora para educadores infantis e de uma reestruturação que levem em
consideração os conhecimentos já acumulados no exercício profissional,
bem como possibilite a atualização dos mesmos.
As instituições de ensino estão sendo estimuladas a investir de
maneira sistemática na capacitação e atualização permanente de seus
educadores, aproveitando as experiências acumuladas daqueles que já vêm
trabalhando com crianças há mais tempo e como conseqüência,
proporcionando mais qualidade. Nessa perspectiva, faz-se necessário que
os profissionais, nas instituições de educação infantil, tenham ou venham a
ter uma formação inicial sólida e consistente, acompanhada de adequada e
permanente atualização em serviço.
O trabalho direto com as crianças pequenas exige que o educador
tenha uma competência polivalente, e ser polivalente significa que ao
36
educador cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que
abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos
específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento, o que vem a
priorizar uma formação bastante ampla e profissional que o leve a tornar-se
um constante aprendiz, refletindo incansavelmente sobre sua prática,
debatendo com outros educadores, dialogando com as famílias e a
comunidade e buscando informações necessárias para um trabalho eficiente
e consciente, levando a um projeto educativo de qualidade.
Para que os projetos educativos das instituições possam, de fato,
representar esse diálogo e debate constante, é preciso ter educadores que
estejam comprometidos com a prática educacional, capazes de responder
às demandas familiares e as das crianças, assim como às questões
específicas relativas aos cuidados e aprendizagens infantis, não permitindo
desta forma uma dicotomia entre a teoria e a prática nem entre a educação e
a assistência, levando em conta o duplo objetivo da educação infantil que é
o de cuidar e educar pautados em uma prática reflexiva.
4.1 - Formação continuada e a prática reflexiva sobre a ação
pedagógica.
Com a explosão de acontecimentos e desafios em torno da educação
infantil na atualidade, o profissional dessa área sente-se impelido em dar
seguimento ao que tange a evolução de aprendizagem nas mais diversas
áreas de debate em relação à criança de zero a seis anos.
O contexto de formação dos profissionais da educação infantil tem
exigido uma reflexão profunda, principalmente por ser uma área de atuação
profissional que, historicamente, tem sido relegada no panorama
educacional brasileiro. O profissional da educação infantil surgiu neste
cenário sem qualquer exigência de qualificação, e apenas a partir de
mudanças sociais significativas que influenciaram reformas no sistema
educacional, é que a sua formação passou a ser discutida.
37
As propostas de formação de professores que têm sido elaboradas
nos últimos anos, visam um perfil profissional oposto daquele sem
qualificação para atender às funções indissociáveis de cuidado e educação
no atendimento à criança. Tais propostas apontam para a necessidade de
rever a antiga visão identificada
Em todo o mundo, a educação básica de boa qualidade vem sendo
reconhecida como imprescindível para a formação do cidadão do terceiro
milênio. A educação oferecida hoje deve proporcionar a todos, o exercício
qualificado da cidadania, ou seja, é preciso aumentar, em qualidade e
quantidade, a participação de todos na vida social, política e econômica do
país, na direção da construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Para isso, a questão do conhecimento, do processo de formação contínua é
de vital importância.
O conhecimento é um dos principais pilares para a realização da
eqüidade social e a sua democratização é o único elemento capaz de unir
modernização e desenvolvimento humano. Formar o novo homem e a nova
mulher não é tarefa apenas da escola, no entanto, ela ainda é um dos
espaços privilegiados de trabalho com o conhecimento, e esse pode ser
explorado nas mais variadas formas, pois a todo instante vem sendo lançada
uma vasta bibliografia relacionada não só a pratica pedagógica, nem só a
base teórica , mas bibliografias que nos levam a refletir, levando-nos a
quebrar paradigmas, ousar na trajetória e a elaborar conceitos próprios para
desenvolvimento. Porém o profissional tem que estar aberto às diversidades
e a evolução galopante que o mundo da tecnologia e da informação
apresenta, sem esse curto circuito interno o profissional se estagna e a
evolução o engole.
A preguiça intelectual inibe a pratica reflexiva. Essa última
representa o trabalho do espírito, tanto na essência da ação como
no momento posterior a ela. Ainda que esse trabalho seja
livremente escolhido e vivenciado de modo construtivo, ele exige
energia e obstinação. (PERRENOUD,P,2002;52)
38
Além de estar atento a evolução da educação se faz necessário que o
professor esteja por dentro do que se passa na sociedade e se mantenha
atualizado em relação aos avanços nos campos da sociedade e da cultura,
da ciência e da técnica, da saúde e do meio ambiente, da política e da
filosofia de vida. Deve saber definir a sua posição quanto a cada um destes
avanços, consciente de que ele é um modelo importante para os seus
alunos. Espera-se do professor que mantenha em um bom nível os seus
conhecimentos sobre os avanços aqui mencionados, através de diferentes
meios, inclusive por sua participação na vida social, que reflita sobre suas
próprias experiências, que esteja em desenvolvimento contínuo, lendo,
trocando impressões, equipando-se de bagagem salutar ao bom
desempenho da sua função, a fim de capacitá-lo para a observação, para
ressignificar vivencias educativas, reconstruir a identidade enquanto
profissional, estar preparado para analisar as funções das instituições dentro
de uma visão sócio política, sendo capaz de ver, rever, discutir, pesquisar e
agir de maneira prático- reflexiva, demonstrando, desta forma, uma
honradez profissional.
Uma prática reflexiva não é apenas uma competência a serviço
dos interesses do professor, é uma expressão da consciência
profissional. Os professores que só refletem por necessidade e
que abandonam o processo de questionamento quando se sentem
seguros não são profissionais reflexivos.(
PERRENOUD,P,2002;50)
É importante ter em mente que aprende-se a todo instante e que o ser
humano na sua essência está sempre em evolução, o que nos leva a
inquietude de atos significativos dentro da educação, dos quais nos
favorecem a reflexão de que entre o compreender e o agir está
soberanamente o ato de pensar, refletir, fazer estar presente a condição
superior do homem, estar além de simples reflexos e instintos, fazendo valer
39
as condições atitudinais do ser humano cada vez mais críticas, auxiliando
dessa maneira a transição histórica que vivemos indefinidamente.
40
CAPÍTULO V
A BUSCA DE UMA EDUCAÇAO DE QUALIDADE
A educação infantil brasileira encontra-se em processo inicial, levando
a crer que os estudos e experiências são muitos recentes e que muitas
brechas ainda vão ter que recheadas com saberes e fazeres pedagógicos.
Porém já temos em mente que o processo educativo se apresenta de
maneira muito próxima à visão pedagógica, que acaba por nortear uma
educação infantil de qualidade, reconhecendo e valorizando a coletividade e
a individualidade da criança, oportunizando a experiência acatando o
desenvolvimento e a construção dos seus conhecimentos, ativando o
objetivo excelso de sua formação que é o seu pleno exercício da cidadania.
E para que seja efetivamente conquistado este objetivo maior, é
necessário que educação infantil enfatize na sua construção, o
desenvolvimento da autonomia, da cooperação, o caminhar em busca da
resolução dos problemas do cotidiano, a responsabilidade, da solidariedade,
a criatividade, a elevação da auto-estima, o desenvolvimento das
potencialidades, o senso crítico para a conquista da cidadania.
Apresentar a educação infantil dessa maneira é denotar que haja um
olhar além de apenas uma prática ou teoria pedagógica, há um interesse no
desenvolvimento infantil global e na aquisição de conhecimentos que
acontece concomitantemente, na direção de um construir a autonomia e o
senso crítico da criança.
A educação infantil então a assume a criança como sujeito histórico
social, inserido num contexto sócio-cultural que deve ser aprendido na sua
unidade e diversidade, norteando seu trabalho através de uma proposta
pedagógica fundamentada na concepção da criança como cidadã, como
pessoa em processo de desenvolvimento, como sujeito ativo da construção
do seu conhecimento e as particularidades da etapa de desenvolvimento,
exigindo-se que a Educação Infantil cumpra duas funções complementares e
41
indissociáveis que são a de cuidar e de educar, complementando dessa
forma os cuidados e a educação realizados pela família.
Quando se trata de currículo da Educação Infantil deve levar em
conta, na sua concepção e administração, o grau de desenvolvimento da
criança, a diversidade social e cultural das populações infantis e os
conhecimentos que se pretendam universalizar, bem como as crianças com
necessidades especiais que devem ser sempre integradas a esse processo.
Quanto aos profissionais de Educação Infantil, condições deverão ser
criadas para que eles tenham formação inicial e continuada qualificadas.e
orientadas pelas diretrizes expressas na Política de Educação Infantil. A
partir de tais princípios e diretrizes, podemos considerar um avanço claro,
destacado-se a necessidade de ampliar e de aprimorar sua qualidade,alem
de valorizar os recursos humanos envolvidos em todo o processo
educacional das crianças de zero a seis anos
Não há tecnologia educacional que dê certo, sem o professor.
Não há proposta pedagógica, nem plano curricular, nem sistema
supervisionado que funcione, sem a participação do professor.
Não há educação que se sustente, sem que se invista no
aprimoramento e valorização do professor. (FREIRE,J.,2002;83 )
A educação infantil de qualidade objetiva a socialização da criança,
cumprindo um papel sócio-educativo próprio e indispensável a este sujeito,
criando desta forma, condições para que a socialização de valores aconteça,
assim como as vivências e representações da criança. Neste sentido
compreende-se a educação infantil como etapa sistemática do processo de
desenvolvimento da criança, ampliando-se seu universo cultural, tornando-a
capaz de agir com independência e fazer escolhas nas situações diversas.
Supera-se assim, a concepção que reduz a educação infantil ao preparo
para o ensino regular.
Educação infantil de qualidade deve, ao assegurar a formação
integral das crianças exigir uma proposta pedagógica com a conseqüente
42
organização de espaços adequados, conforme previsto na legislação e
destacar o aspecto afetivo porque é a afetividade que determina a evolução
completa do ser humano, bem como, contribuir para o desenvolvimento das
relações interpessoais de ser e estar com os outros em uma atividade
básica de aceitação, de respeito e de confiança, no exercício pleno da
cidadania.
É imprescindível então, que educação infantil deva acontecer em
estabelecimentos educacionais que identifiquem a criança na sua
localização social, valorizando as ações e interações desta com o mundo,
percebendo-as como sujeitos, reafirmando suas potencialidades de
desenvolvimento e aprendizagem, oportunizando a construção de sua auto-
estima, proporcionando atividades significativas e prazerosas. Estimulando a
curiosidade no que tange as da descobertas, facilitando dessa maneira, a
ampliação do processo da construção e do conhecimento.
A reflexão do educador infantil sobre a escola, os alunos e a sua
prática é fundamental para o aperfeiçoamento e, principalmente, a
conscientização a respeito da importância de seu trabalho pois, na verdade,
enquanto nós, profissionais que trabalhamos com crianças na faixa de zero
a seis anos não acreditarmos profundamente na importância do nosso
trabalho para o hoje na construção do amanhã dessas crianças, poucas
mudanças irão existir, o ousar, o refletir para o agir fazem parte de uma
trajetória sem fim e não existe um começo sem uma partida consciente.
O desenvolvimento de uma consciência crítica que permite ao
homem transformar a realidade se faz cada vez mais
urgente...Não há transição que não implique um ponto de partida,
um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num
ontem, através de um hoje. De modo que o nosso futuro baseia-se
no passado e se corporifica no presente. Temos de saber o que
fomos e o que somos, para saber o que seremos.
(FREIRE,P.,1979;33)
43
O professor tem como papel principal, ser o mediador entre a criança
e o objeto do seu conhecimento. A ele cabe a tarefa de instigar sua
curiosidade das mais diferentes maneiras; definir uma ação pedagógica que
vá ao encontro de seu desenvolvimento. É muito importante deixarmos as
crianças à vontade, ao agirmos como mediadores entre ela e o objeto do seu
conhecimento. Esta espontaneidade não nos deve assustar nem nos
desencorajar, pois, se nossos objetivos estiverem claros e se conhecermos
esta criança, teremos todas as condições de lidar com as situações que
ocorrerem, e estaremos cada vez mais próximos dessa criança,
acompanhando com prazer o ato de construção do seu conhecimento, mas
para isso não podemos temer as inovações, nem as tendências pedagógicas
que nos surgem como transformadoras, temos que acreditar na ação pela
reflexão, na afetividade como caminho da conquista e ousar acreditando
num ideal pautado no conhecimento, na razão e motivado pela emoção de
estarmos ajudando na construção de um mundo melhor.
44
CONCLUSÃO
A pesquisa aqui apresentada é um pequena abordagem no que diz
respeito a infinda e incessante busca pelo conhecimento e pelo
aprimoramento na capacitação profissional, nos quais descobertas foram
realizadas, reflexões despontadas numa visão dialética entre o saber e o
fazer, lobrigando um movimento didático de construção e reconstrução de
uma visão, dilatando, dessa maneira, este próprio projeto.
Partindo das premissas apresentadas neste trabalho e da contribuição
de variados autores podemos pensar em uma escola com características e
possibilidades reais de um projeto político pedagógico coerente,
democrático, exeqüível, com uma linha pedagógica definida que se mova
como fio condutor de todo o processo educativo: relação, planejamento,
plano de aula etc, tendo um espaço constante de críticas, sugestões que
visem interagir com todo o corpo da escola e a comunidade, sabendo que
por si só não detém o monopólio do saber.
A escola, portanto, deve ter recursos materiais e humanos,
disponíveis a execução do que se propõe e que tenha como base o
desenvolvimento total do ser humano, oportunizando o desenvolvimento das
potencialidades das crianças e ajudando cada um a buscar e a superar as
dificuldades encontradas, a fim de fortalecer a formação e a conquista do
pleno exercício da cidadania.
Nesse panorama, a escola mostra-se viva, dinâmica, constantemente
redimensionada a partir de novos desafios que estimulem a comunidade
escolar a não ficar em “berço esplêndido”, buscando sempre o desejo de
aprender a aprender. Sendo assim, as escolas precisam deixam de ser
meras transmissoras de informação e transformar-se num local de análises
críticas e produção de informação, aí alunos aprenderão a buscar
informações, analisá-las e darem a elas um significado pessoal,
capacitando-os, dessa forma, a interagir com o meio de forma crítico
reflexiva.
45
Numa visão global, podemos enfatizar alguns pontos que nos
sinalizam um posicionamento sobre o perfil atitudinal que elevaria sem
dúvida o professor a propiciar aos seus alunos um verdadeiro deleite do
saber. Tais atitudes docentes os levariam a assumir, definitivamente, o
ensino como mediação, tornando a aprendizagem ativa do aluno apenas
com orientação pedagógica do professor, conhecendo estratégias do ensinar
a pensar, ensinar a aprender a aprender, persistindo no empenho de auxiliar
os alunos a buscarem uma perspectiva crítica. Para que ocorra o sabor do
saber o professor deve assumir o trabalho de sala de aula como um
processo comunicacional e desenvolver a capacidade comunicativa,
reconhecendo, então, o impacto das novas tecnologias da comunicação e
informação que nos bate a porta a cada instante, atendendo a diversidade
cultural e respeitando as diferenças com as quais atua, investindo, assim, na
atualização científica, técnica e cultural como ingredientes do processo de
formação continuada, integrando no exercício da docência a dimensão
afetiva desenvolvendo comportamento ético e orientando seus alunos em
valores e atitudes em relação à vida, ao ambiente, às relações humanas e,
sobretudo, a si próprios. Desta forma,esse profissional ideal, não estará
apenas informando, cuidando ou educando e, sim ajudando na construção
do sujeito pleno capacitado para agir, analisar e a interagir com o mundo que
o cerca.
Nessa visão pedagógica, também se integra um núcleo fundamental
para o desenvolvimento da criança que é a família, que tem seu papel
importantíssimo e através de uma sólida interação entre família-escola, a
criança se equipa para encarar o mundo, apresentando suas necessidades e
desejos que devem ser respeitados, para que os resultados finais
pretendidos de promoção da mudança social, sejam atingidos.
Acredita-se que com união dos esforços da família e da escola
consiga-se o que de mais importante se objetiva na formação da criança,
capacita-la com bagagem sólida para exercer direitos e deveres de um
cidadão em constante evolução.
46
BIBLIOGRAFIA
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47
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ZABALZA, Miguel A. – Qualidade em educação infantil – Porto Alegre,
Artmed, 1998.
48
ATIVIDADES CULTURAIS
49
ÍNDICE
Agradecimento ............................................................................. 03
Dedicatória ................................................................................... 04
Sumário ........................................................................................ 05
Resumo ........................................................................................ 06
Introdução .................................................................................... 08
CAPÍTULO I
1 - O Caminhar Pedagógico da Educação Infantil ....................... 11
CAPÍTULO II
2 – Educação Infantil, que Período é Esse? ................................
2.1 – Quem é essa criança?.........................................................
24
26
CAPÍTULO III
3 – A Quebra do Paradigma: quem cuida e quem educa?........... 31
CAPÍTULO IV
4 – Identidade do Profissional da educação Infantil.....................
4.1 – Formação continuada e a pratica reflexiva sobra a ação
pedagógica...................................................................................
35
36
CAPÍTULO V
5 – A Busca de uma Educação de Qualidade ............................. 40
50
6 – Conclusão .............................................................................. 44
7 – Bibliografia ............................................................................. 46
8 – Atividades Culturais ............................................................... 48
9 – Índice ..................................................................................... 49
10 – Folha de Avaliação .............................................................. 51
51
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição:
Título da Monografia:
Autor:
Data da entrega:
Avaliado por: Conceito: