PREVENÇÃODO SUICÍDIO
UM RECURSO PARA AS FORÇAS
POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS
INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA
Direcção-Geral de Administração Interna2011
PREVENÇÃO
DO SUICÍDIO
UM RECURSO PARA AS FORÇAS
POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS
INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA
Direcção-Geral de Administração Interna
2011
Publicado pela Organização Mundial da Saúde 2009 com o título Preventing suicide: a resource for police, fi refi ghters and other
fi rst line responders
© Organização Mundial da Saúde 2009
O Director Geral da Organização Mundial da Saúde autorizou a tradução e os direitos de publicação para a edição do manual
em Português pela Direcção-Geral de Administração Interna que é apenas responsável pela edição em português.
Prevenção do Suicídio: um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha.
(Prevenção do suicídio: uma série de recursos; 9)
1. Suicídio - prevenção e controlo. 2. Suicídio, Tentativa - prevenção e controlo. 3. Forças policiais - formação. 4. Pessoal de
serviços de saúde envolvido - formação. 5. Emergências. 6. Serviços de emergência médica - organização e administração.
I. Organização Mundial da Saúde. II. Série: Prevenção do suicídio: uma série de recursos;
ISBN 978-989-8477-02-6
Depósito Legal 332435/11
© Direcção-Geral de Administração Interna 2011
Tradução: Cognibridge Lda
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 3
Prevenção do Suicídio
ÍndicePREFÁCIO 5
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO 7
UM RECURSO PARA AS FORÇAS POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS
INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA 7
FACTOS E NÚMEROS DO SUICÍDIO 8
Doença mental 8
Intenção de morrer 9
Tentativa prévia de suicídio 9
Acesso a armas de fogo, pesticidas ou outros meios letais 10
Sexo 10
Idade 10
Factores de tensão psicossocial 10
O CONTRIBUTO DAS FORÇAS POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS
INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA PARA A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO 11
Conhecimento dos riscos 11
Conhecimento da legislação 11
Internamento involuntário 12
Controlar o acesso a meios letais 12
Vingança suicida e confl itos domésticos 12
ENCAMINHAMENTO PARA SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL, PELAS
FORÇAS POLICIAIS (DESVIO PELAS FORÇAS POLICIAIS) 14
Suicídio por força letal 14
AJUDAR UM INDIVÍDUO SUICIDA 15
QUANDO OCORRE UMA TENTATIVA DE SUICÍDIO 18
QUANDO OCORRE UM SUICÍDIO 20
APOIO INTERNO NO TRABALHO PARA GERIR PROBLEMAS NO TERRENO 21
FORMAÇÃO 22
BIBLIOGRAFIA 25
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 5
Prevenção do Suicídio
PREFÁCIOO suicídio é um fenómeno complexo que tem atraído a atenção de fi lósofos, teó-
logos, médicos, sociólogos e artistas, ao longo dos séculos. De acordo com o fi lósofo
francês Albert Camus, na obra O Mito de Sísifo, este é o único problema fi losófi co
grave.
Sendo um problema grave de saúde pública, requer a nossa atenção, mas, infe-
lizmente, a sua prevenção e controlo não constituem uma tarefa fácil. As investiga-
ções mais avançadas indicam que a prevenção do suicídio, apesar de viável, envolve
todo um conjunto de actividades que vão desde a disponibilização das melhores
condições possíveis para o desenvolvimento das crianças e jovens, passando pelo
tratamento efi caz de perturbações mentais, até ao controlo ambiental de factores de
risco. Uma distribuição apropriada de informações e uma consciencialização ade-
quada são elementos essenciais para o sucesso dos programas de prevenção do
suicídio.
Em 1999, a OMS lançou o programa SUPRE (Suicide Prevention - Prevenção do
Suicídio), a sua iniciativa internacional para a prevenção do suicídio. Este documento
insere-se numa série de recursos preparados no âmbito do SUPRE e destinados a
grupos sociais e profi ssionais específi cos particularmente importantes para a pre-
venção do suicídio. Representa uma ligação numa longa e diversifi cada cadeia que
envolve um vasto conjunto de pessoas e grupos, incluindo profi ssionais da área da
saúde, professores e educadores, instituições de acção social, governos, legislado-
res, profi ssionais da comunicação social, entidades de aplicação da lei, famílias e
comunidades.
Estamos particularmente gratos ao Professor Heather Stuart, da Universidade de
Queen’s, Kingston, Canadá, e ao Dr. Victor Aparicio, Consultor Sub-regional de Saú-
de Mental, OMS Região das Américas, Panamá, que produziram uma versão anterior
deste documento; a versão posterior foi realizada pelo Professor Heather Stuart e
posteriormente revista pelos seguintes membros da Rede Internacional de Prevenção
do Suicídio da OMS, a quem desejamos demonstrar a nossa gratidão:
– Professor Sergio Perez Barrero, Hospital de Bayamo, Granma, Cuba
– Professor Lourens Schlebusch, Universidade de Natal, Durban, África do Sul
– Professor Morton Silverman, Universidade de Chicago, Estados Unidos da
América
– Professor Jean-Pierre Soubrier, Groupe Hospitalier Cochin, Paris, França
– Dr. Lakshmi Vijayakumar, SNEHA, Chennai, Índia
6 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
– Professor Danuta Wasserman, Centro Nacional para
– Investigação e Controlo do Suicídio, Estocolmo, Suécia
Gostaríamos igualmente de agradecer o contributo dos seguintes especialistas:
– Professor Chiaki Kawanishi, Universidade da Cidade de Yokohama, Japão
– Professor Hideyuki Nakane, Universidade de Nagasaki, Japão
– Camilla Wasserman, Universidade de Columbia, Nova Iorque, Estados Unidos
da América
A Organização Mundial da Saúde agradece o apoio fi nanceiro do Governo do
Japão na produção deste documento.
Actualmente, os recursos estão a ser amplamente distribuídos, na esperança de
que sejam traduzidos e adaptados às condições locais, o que constitui um pré-requi-
sito para a sua efi cácia. São bem-vindos comentários e pedidos de autorização para
traduzir e adaptar os recursos.
Dr. A. Fleischmann, Cientista
Indício, Investigação e Acção sobre Perturbações Mentais e Cerebrais
Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias
Organização Mundial da Saúde
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 7
Prevenção do Suicídio
PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
UM RECURSO PARA AS FORÇAS POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA
O suicídio é reconhecido como um grave problema de saúde pública e uma enor-
me fonte de mortes evitáveis em todo o mundo. Por cada pessoa que comete suicí-
dio, existem 20 ou mais que o irão tentar. O impacto emocional na família e amigos
afectados por um suicídio conseguido ou tentado pode perdurar durante vários anos.
Os primeiros intervenientes, como os agentes da autoridade, bombeiros e outras
forças de intervenção, constituem frequentemente um recurso de primeira linha para
pessoas que sofrem de problemas graves de saúde mental, emocional ou de abuso
de substâncias e que podem ter tendências suicidas. Porém, dá-se muitas vezes o
caso de não possuírem a devida formação no que se refere aos sinais e sintomas de
uma doença mental grave, e de nem sempre conhecerem as medidas mais apropria-
das a serem tomadas em caso de comportamento suicida.
Os agentes da autoridade, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
são cada vez mais chamados a intervir em situações que envolvem emergências de
saúde mental, tais como crises suicidas. Por conseguinte, desempenham um papel
importante na prevenção do suicídio baseada na comunidade: assegurando que as
pessoas com perturbações mentais recebem um tratamento mental adequado, im-
pedindo o acesso dos indivíduos com alto risco de suicídio a meios letais e identifi -
cando a probabilidade de suicídio em situações que envolvam confl itos domésticos
ou em que seja exercida uma força potencialmente letal. Os primeiros intervenientes
ocupam uma posição única para a determinação do desenrolar e desfecho de crises
suicidas.
As instituições a que pertencem podem ajudar a reduzir os suicídios na comu-
nidade: assegurando que os intervenientes de primeira linha estão devidamente for-
mados para reconhecer os sinais e sintomas de doença mental, identifi car os riscos
de suicídio e conhecer a legislação local sobre saúde mental, bem como a forma
como esta é utilizada por organismos comunitários, através do desenvolvimento de
programas especializados que os ajudem a gerir crises de saúde mental e suicídio no
terreno e auxiliando-os a criar as ligações entre organismos necessárias para facilitar
o acesso a cuidados de saúde e saúde mental.
O presente documento destina-se aos agentes da autoridade, bombeiros e outros
intervenientes de primeira linha que lidem com pessoas com perturbações psicológi-
cas, incluindo indivíduos com tendências suicidas. São frequentemente os primeiros
8 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
a chegar ao local em situações de comportamento suicida como, por exemplo, ame-
aças, tentativas ou concretizações de suicídio. Trabalham em situações de crise que
requerem intervenções imediatas e efi cientes, razão pela qual são frequentemente
denominados “primeiros intervenientes”. Este grupo também pode incluir as pessoas
que estabelecem o primeiro contacto com os familiares e amigos de uma pessoa
que tenha cometido suicídio, tais como médicos forenses, líderes religiosos ou, até
mesmo, funcionários.
O presente documento insere o suicídio num contexto mais vasto da saúde men-
tal da comunidade e identifi ca um conjunto de princípios e actividades chave que
podem ser utilizados como parte de uma estratégia mais lata de prevenção do suicí-
dio, baseada na comunidade. Não abrange a prevenção do suicídio em prisões, nem
a criação de um grupo de sobreviventes ou de auto-ajuda para quem não consegue
concretizar o suicídio, uma vez que estas questões são abordadas noutras publica-
ções desta mesma série (1, 2), a qual inclui igualmente recursos para médicos, profi s-
sionais de cuidados de saúde primários, conselheiros, professores, profi ssionais da
comunicação social e trabalhadores em geral (3, 4, 5, 6, 7, 8).
FACTOS E NÚMEROS DO SUICÍDIOO suicídio e as tentativas de suicídio constituem grandes desafi os em termos de
saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou que cerca de um
milhão de pessoas cometem suicídio, por ano. Este número representa uma morte
por minuto, quase 3.000 mortes por ano e uma tentativa de suicídio a cada três se-
gundos, sendo maior o número de mortes por suicídio do que em confl itos armados
e, em muitos locais, em acidentes de trânsito. Em diversos países, o suicídio é uma
das três principais causas de morte entre adolescentes e jovens adultos com idades
compreendidas entre os 15 e os 24 anos, e uma das dez principais causas de morte
a nível global. Em todo o mundo, as taxas de suicídio aumentaram 60% ao longo dos
últimos 50 anos, sendo que por cada suicídio concretizado, verifi cam-se 10 a 20 (ou
mais) tentativas de suicídio.
O suicídio é o resultado de uma complexa associação de factores, que incluem:
Doença mental
Em todo o mundo, muitos dos indivíduos (65 a 95%) que cometem suicídio so-
frem de uma perturbação mental. Na realidade, o risco de suicídio é até 15 vezes
maior em pessoas que sofrem de uma perturbação mental, em comparação com as
pessoas saudáveis. Embora as perturbações mentais também sejam consideradas
um factor de risco nos países asiáticos, existem indícios de que os comportamentos
suicidas são menos frequentes, apesar de esse impulso desempenhar um papel im-
portante.
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 9
Prevenção do Suicídio
O alto risco de suicídio está particularmente associado a episódios agudos de
doença, alta hospitalar recente (quase metade destes indivíduos comete suicídio an-
tes da primeira consulta de seguimento) ou contacto recente com um serviço de
saúde mental. Cerca de 25% das pessoas que cometeram suicídio terão estado em
contacto com uma instituição de saúde mental no ano anterior à sua morte e as
perturbações mentais específi cas que têm sido associadas ao suicídio incluem de-
pressão, abuso de substâncias, esquizofrenia e perturbações de personalidade. O
abuso de substâncias e as perturbações de personalidade são mais comuns entre os
homens e a depressão é mais comum entre as mulheres. As condições coexistentes
são particularmente comuns entre os indivíduos que cometem suicídio. Por exemplo,
a depressão aliada ao abuso de álcool ocorre em cerca dois terços dos indivíduos
que cometem suicídio.
Por este motivo, a presença de uma perturbação mental e/ou de abuso de subs-
tâncias é um dos mais fortes indícios de probabilidade de suicídio, razão pela qual a
identifi cação e o tratamento de perturbações psiquiátricas e de abuso de substâncias
constitui uma estratégia de prevenção muito importante (9).
Intenção de morrer
Uma clara intenção de morrer também é um forte indício de probabilidade de
suicídio. A intenção de suicídio pode ir desde a intenção séria, que envolve um pla-
neamento meticuloso e a escolha de um método letal, até à intenção fraca ou mesmo
um sentimento ambivalente, que se refl ecte numa falta de planeamento e na incapa-
cidade de dissimulação do acto. Uma pessoa está em alto risco se expressar uma
clara intenção, tiver um plano imediato e dispuser de acesso a armas ou outros meios
(10). É importante reconhecer que a intenção pode apresentar fl utuações, inclusive
num curto período de tempo (um dia, várias horas ou menos), razão pela qual a mo-
nitorização regular do risco constitui um elemento essencial de qualquer plano efi caz
de prevenção de suicídio.
Tentativa prévia de suicídio
A taxa de suicídio nos indivíduos que já tentaram o suicídio anteriormente é sig-
nifi cativamente elevada, em particular nos primeiros anos após a tentativa, razão pela
qual uma tentativa prévia de suicídio constitui outro indício forte de probabilidade de
suicídio no futuro. Cerca de metade das pessoas que cometeram suicídio têm um
historial de tentativas de suicídio, sendo que um quarto dessas pessoas terá tentado
o suicídio no ano anterior ao da sua morte. O risco de suicídio pode perdurar ao longo
do tempo; por este motivo, uma tentativa prévia de suicídio pode constituir um indício
importante probabilidade de suicídio, mesmo que tenha ocorrido vários anos antes.
10 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
Acesso a armas de fogo, pesticidas ou outros meios letais
Uma vez que as armas de fogo ou os pesticidas podem causar morte imediata,
o acesso a pistolas, espingardas ou pesticidas constitui um motivo de preocupação
caso estes meios estejam num local de fácil alcance ou um indivíduo tenha revelado
pensamentos suicidas ou tentado o suicídio no passado. Além disso, os indivíduos
podem ter acesso a medicamentos (incluindo a sua própria medicação de tratamento
com psicotrópicos) ou a outras substâncias tóxicas (tais como pesticidas), que po-
dem ser utilizados para cometer suicídio. É evidente a necessidade de limitar o aces-
so a meios de suicídio, como uma medida essencial de prevenção (9, 11).
Sexo
Em diversos países, 10 a 18% da população indicou ter tido pensamentos sui-
cidas em algum momento, sendo que 3 a 5% realizaram uma tentativa de suicídio.
As mulheres têm uma tendência ligeiramente maior para pensamentos suicidas, em
comparação com os homens, e uma probabilidade duas a três vezes maior de o
tentarem. Contudo, os homens têm uma maior probabilidade de cometer suicídio,
muitas vezes porque escolhem meios mais violentos e irreversíveis (9).
Idade
Os suicídios podem ocorrer em qualquer idade, mas são mais frequentes em
determinadas faixas etárias (9). Por exemplo, podem ocorrer suicídios em crianças
de 10 anos, mas são muito pouco comuns, representando menos de 1% do total de
suicídios, sendo as faixas etárias com maior risco as dos jovens (15-24 anos) e dos
idosos (mais de 75 anos).
Factores de tensão psicossocial
São vários os factores de tensão psicossocial que podem contribuir para com-
portamentos suicidas, os quais estão muitas vezes relacionados. Podem incluir a
perda de uma relação próxima, por exemplo, devido a morte ou divórcio, perda do
emprego e outras perdas relacionadas com o trabalho, doença ou incapacidade cró-
nica, dor crónica, processos judiciais, confl itos interpessoais e outros acontecimen-
tos relevantes na vida de uma pessoa. As pessoas divorciadas ou separadas têm
uma probabilidade de 2 a 3 maior de terem pensamentos suicidas do que as pessoas
casadas e uma probabilidade de 3 a 5 vezes maior de tentarem o suicídio (12).
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 11
Prevenção do Suicídio
O CONTRIBUTO DAS FORÇAS POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA PARA A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO
Os agentes da autoridade, bombeiros, pessoal de emergência médica e outros
intervenientes que são, muitas vezes, os primeiros a serem chamados para socorrer
pessoas em situação de emergência de saúde mental constituem, por esta mesma
razão, um componente importante de qualquer estratégia efi caz de prevenção do
suicídio baseada na comunidade. Por exemplo, os agentes da autoridade têm, desde
sempre, desempenhado o papel de “psiquiatras de rua”. No entanto, as suas inte-
racções diárias estão a levá-los, cada vez mais, a um contacto mais próximo com
delinquentes que sofrem de perturbações mentais.
O principal objectivo da prevenção do suicídio é reduzir as mortes por suicídio;
no entanto, também é importante reduzir a frequência e a gravidade das tentativas
de suicídio. Entre as estratégias mais efi cazes de prevenção de comportamentos
suicidas destaca-se a disponibilização de um tratamento apropriado para indivídu-
os que sofram de perturbações mentais ou de abuso de substâncias, bem como o
controlo do acesso aos meios que permitem a concretização do suicídio. Os agentes
da autoridade, bombeiros, pessoal de emergência médica e outros intervenientes
de primeira linha podem contribuir efi cazmente para a prevenção do suicídio, das
seguintes formas:
Conhecimento dos riscos
Quando confrontados com um indivíduo ou delinquente mentalmente perturba-
do, os primeiros intervenientes têm de estar alerta para a possibilidade de um acto
suicida, assim como para a possibilidade de existirem riscos para outras pessoas
(incluindo serem, eles mesmos, alvo de ataque). É importante desimpedir o local e
certifi car-se de que o indivíduo dispõe de um espaço adequado.
Conhecimento da legislação
Embora os primeiros intervenientes sejam uma importante fonte de encaminha-
mento para serviços de psiquiatria e emergência, são frequentemente desencoraja-
dos pelos longos tempos de espera e pela restrição de acesso aos doentes interna-
dos (13). Para poderem realizar uma vigilância efi caz em termos de saúde mental,
os primeiros intervenientes não só têm de conhecer a legislação local sobre saúde
mental (que varia consoante a jurisdição) e os critérios que permitem uma avaliação
e tratamento involuntários, como também têm de saber como estes são implementa-
dos pelo sistema de saúde mental local, tendo em conta os recursos disponíveis (14).
A coordenação e cooperação entre os organismos são essenciais para simplifi car os
processos de encaminhamento para serviços de emergência e apoiar os primeiros
12 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
intervenientes que estejam a prestar apoio de emergência. Uma gestão adequada
dos delinquentes com perturbações mentais e comportamentos suicidas exige igual-
mente um sólido conhecimento da lei, no que se refere à prestação de serviços de
avaliação e tratamento psiquiátricos no âmbito do sistema de justiça penal (15).
Internamento involuntário
Os agentes da autoridade devem ser considerados intervenientes de primeira
linha importantes, por parte de intervenientes que tenham chegado primeiro ao lo-
cal, tais como bombeiros ou pessoal de emergência médica, uma vez que podem
facilitar o acesso à avaliação e tratamento médicos e psiquiátricos. Os agentes da
autoridade podem decidir, de acordo com o seu entender, se a pessoa poderá ser
alvo de um processo e detida ou se deverá ser transportada para um serviço de
emergência local, para avaliação e tratamento médicos e psiquiátricos. Na maior
parte dos locais, os agentes possuem autoridade legal para forçar o internamento
de um indivíduo num hospital, ao abrigo da legislação de saúde mental, para que
seja efectuada uma avaliação psiquiátrica, sempre que exista uma causa provável
de esse indivíduo sofrer de uma perturbação mental e ser perigoso para si próprio
ou para outras pessoas (14).
Controlar o acesso a meios letais
O controlo do acesso aos meios de suicídio é uma importante estratégia de pre-
venção, disponível para agentes da autoridade, bombeiros e outros intervenientes de
primeira linha. Por exemplo, as taxas de suicídio são mais reduzidas nas comunida-
des onde foi restringido o acesso a armas de fogo. A presença de armas de fogo em
casa está associada a um aumento do risco de suicídio. A restrição do acesso a ar-
mas de fogo é particularmente importante em situações que envolvem violência do-
méstica, uma vez que podem evoluir para cenários de suicídio ou homicídio-suicídio.
Os primeiros intervenientes encontram-se igualmente numa posição que lhes
permite limitar o acesso a outros meios letais (tais como medicamentos, pesticidas
ou outras substâncias tóxicas), ajudando os familiares de indivíduos de alto risco a
compreender a importância de recolher e guardar essas substâncias, bem como de
assegurar, por exemplo, que apenas estejam disponíveis pequenas quantidades de
medicamentos potencialmente letais, como é o caso dos antidepressivos (9, 11)
Vingança suicida e confl itos domésticos
Os indivíduos que tentam o suicídio com armas de fogo incluem um subgrupo
que requer uma atenção especial por parte dos primeiros intervenientes. Por norma,
são do sexo masculino e tentam o suicídio com uma caçadeira ou espingarda que
possuem em sua casa. É frequente o disparo ser precedido de um crescendo de
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 13
Prevenção do Suicídio
confl itos domésticos, impulsionado pelo abuso prolongado de álcool, e imediata-
mente precipitado por uma discussão com o(a) companheiro(a). O suicídio torna-se
muitas vezes um acto manifesto de vingança, especialmente em situações que en-
volvam decisões judiciais que proíbam contactos ou confl itos relativos à custódia de
crianças. O(a) parceiro(a) também pode ser ameaçado(a) com uma arma e a situação
pode evoluir para um homicídio-suicídio. Os autores têm, frequentemente, um longo
historial de problemas de personalidade e confl itos com a lei, sendo já conhecidos
das autoridades ou profi ssionais de saúde locais. Caso sobrevivam à sua tentativa de
suicídio e sejam hospitalizados, é comum alegarem que dispararam acidentalmente
sobre eles mesmos, apesar das provas esmagadoras em contrário. Nestas situações,
o uso de uma arma de fogo não é um acto isolado de violência, mas sim o culminar
de um padrão de violência perante um cenário de incidentes domésticos repetidos.
Dado que a maioria destes indivíduos é conhecida das autoridades e de outros pro-
fi ssionais de saúde da comunidade, existe uma grande probabilidade de evitar crises
suicidas através de identifi cação antecipada, encaminhamento para a intervenção
adequada ao abuso de substâncias e remoção de armas de fogo de casa, em espe-
cial nos casos em que já tenha ocorrido uma tentativa.
14 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
ENCAMINHAMENTO PARA SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL, PELAS FORÇAS POLICIAIS (DESVIO PELAS FORÇAS POLICIAIS)
O princípio que subjaz ao desvio pelas forças policiais assenta na necessidade
de identifi car tão cedo quanto possível os indivíduos que requerem, essencialmente,
tratamento psiquiátrico num processo de justiça penal (no momento do contacto
com os agentes ou da detenção inicial) e de os desviar do sistema de justiça penal
para serviços de saúde mental apropriados. É cada vez mais comum pedir-se aos
agentes da autoridade que evitem penalizações desnecessárias de doentes mentais
e participem em programas de desvio.
O objectivo principal dos programas de desvio policiais é evitar detenções, enca-
minhando os indivíduos directamente para os programas de saúde mental da comu-
nidade. O sucesso destes programas deve-se à disponibilidade dos serviços de saú-
de mental integrados para auxiliar as forças policiais. Isto signifi ca que é necessário
estabelecer uma relação de trabalho estreita entre as forças policiais e as instituições
de saúde mental (15). Nalgumas comunidades, a existência de locais especializados
de resposta a situações de crise derrubou muitas das barreiras que as forças poli-
ciais enfrentam ao encaminhar delinquentes com perturbações mentais para avalia-
ção psiquiátrica (16).
Suicídio por força letal
Uma das situações de crise mais difíceis que as forças policiais têm de enfrentar
ocorre quando um indivíduo assume um comportamento de ameaça à vida que obri-
gue os agentes a disparar, para se protegerem a eles mesmos ou a outras pessoas
presentes no local. Esta situação foi denominada “suicídio assistido pela polícia” ou
“suicídio por agente” e estima-se que represente entre 10% e mais de 40% dos ti-
roteios que envolvem agentes da autoridade (13). O reconhecimento deste desfecho
potencial, a capacidade de identifi car os sinais e sintomas de um comportamento in-
dicador de perturbação mental grave e o cumprimento das directrizes estabelecidas
pelos diversos organismos locais para a gestão e resolução desse tipo de crises irá
contribuir para a redução das mortes.
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 15
Prevenção do Suicídio
AJUDAR UM INDIVÍDUO SUICIDAAs pessoas com pensamentos suicidas revelam frequentemente desespero e
depressão. Encaram o suicídio como a única forma de resolver os seus problemas
e terminar com o seu sofrimento. Embora seja difícil prever um suicídio, uma grande
percentagem dos indivíduos que acabam por cometê-lo dá sinais de aviso, mais ou
menos claros, das suas intenções, nas semanas anteriores à sua morte. Não se tra-
ta de meras chamadas de atenção, mas sim de importantes pedidos de ajuda que
devem ser levados a sério. Os sinais de aviso incluem indícios comportamentais e
verbais como (12, 17):
• Manter-se afastado e ser incapaz de se relacionar com amigos e colegas;
• Falar sobre um sentimento de isolamento e solidão;
• Expressar sentimentos de fracasso, inutilidade, falta de esperança ou perda de
auto-estima;
• Remoer constantemente problemas para os quais parece não haver soluções;
• Exprimir uma falta de apoio ou crença no sistema;
• Falar sobre temas como limpezas e arrumações;
• Dar qualquer outra indicação de um plano de suicídio.
Se alguém abordar a questão, o indivíduo pode ter ideias defi nidas ou um plano
sobre como cometer suicídio. Para avaliar o nível de risco, é fundamental tentar apu-
rar os pormenores da natureza das suas ideias e da extensão do plano. As respostas
a perguntas sobre como, quando, onde e porquê podem dar uma indicação do grau
de preparação do plano de suicídio e de qualquer ambivalência sentida pelo indivíduo
em relação à morte.
Além disso, os indivíduos suicidas que revelam sinais de aviso estão em maior
risco se tiver ocorrido:
• Uma perda recente de uma relação próxima;
• Uma alteração (ou previsão de alteração) nas condições de trabalho, como
despedimento, reforma antecipada, despromoção ou outra mudança da situ-
ação laboral;
• Uma alteração do estado de saúde;
• Um abuso crescente de álcool ou outras substâncias;
16 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
• Um historial de comportamentos suicidas ou de tentativas suicidas na família;
• Um estado de depressão actual.
Os agentes das autoridades, bombeiros e outros intervenientes que considera-
rem que um indivíduo apresenta tendências suicidas estão numa posição única para
ajudá-lo, das seguintes formas (12, 17):
• Abordar todas as situações que envolvem uma pessoa com tendências suici-
das como uma emergência psiquiátrica e actuar em conformidade. Nunca as-
sumir que os pensamentos ou gestos suicidas são meras chamadas de aten-
ção ou uma tentativa de manipular os outros.
• Desimpedir o local e manter-se, tanto a si como outras pessoas que possam
estar presentes no local, em segurança.
• Dar espaço físico. Não se aproximar demasiado da pessoa, muito rapidamen-
te. Os movimentos bruscos, as tentativas de tocar na pessoa ou a entrada de
outros indivíduos em cena podem ser mal interpretados.
• Expressar aceitação e interesse. Evitar censurar, discutir, apresentar soluções
para problemas, dar conselhos ou dizer “não pense nisso, esqueça o assunto”.
É importante transmitir uma atitude de interesse e compreensão.
• Captar a atenção do indivíduo. Encorajar a pessoa a falar. A maioria dos in-
divíduos suicidas tem um sentimento de ambivalência em relação à morte.
Perguntar a alguém se tem pensamentos suicidas ou, de qualquer outra forma,
falar sobre o suicídio não irá piorar a situação; pelo contrário, proporcionará
uma sensação de alívio e um ponto de partida para uma solução. Para avaliar
a intenção, deverá perguntar-se ao indivíduo se tem um plano, acesso a meios
letais ou já decidiu quando vai praticar o acto.
• Impedir o acesso a todos os meios letais de autofl agelação, especialmente
armas de fogo e substâncias tóxicas (tais como grandes quantidades de medi-
camentos psicotrópicos ou pesticidas).
• O suicídio pode ser evitado se os indivíduos receberem cuidados de saúde
mental imediatos e apropriados. Se o indivíduo preencher os critérios da legis-
lação sobre saúde mental, devem ser tomadas medidas imediatas no sentido
de garantir que é encaminhado para um hospital, para efeitos de avaliação e
tratamento. Mesmo que o indivíduo não pareça preencher os critérios da le-
gislação sobre saúde mental, é importante garantir que dispõe de um acesso
rápido a tratamentos de saúde mental e abuso de substâncias. Dado que a
maioria dos indivíduos tem um sentimento de ambivalência em relação ao sui-
cídio, aceitará receber tratamento. Os acordos prévios com hospitais locais,
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 17
Prevenção do Suicídio
instituições de saúde mental da comunidade e instituições de tratamento de
dependências irão facilitar este processo.
• Nunca deixar um indivíduo potencialmente suicida sozinho, mesmo que ele
prometa visitar o seu terapeuta de saúde mental ou hospital. Assegurar que
os membros da família ou outras pessoas próximas estão a par da situação e
assumem a responsabilidade de procurar ajuda.
18 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
Direcção-Geral de Administração Interna
QUANDO OCORRE UMA TENTATIVA DE SUICÍDIOQuando ocorre uma tentativa de suicídio, os agentes das autoridades, bombeiros
e outros intervenientes são normalmente chamados para lidar com a crise, prestar
apoio básico e providenciar a transferência da pessoa para um centro de cuidados de
saúde, se necessário. Os primeiros intervenientes também têm de estar em contacto
com os membros da família e outras pessoas próximas.
Os primeiros intervenientes são responsáveis por responder a uma crise da forma
mais adequada e efi ciente. Para tal, têm de passar por um processo de várias fases:
• Em primeiro lugar, têm de verifi car os sinais vitais do indivíduo, após a tentativa
de suicídio, e tentar a reanimação, se for o caso. Têm de permanecer calmos,
para poderem tomar as decisões apropriadas numa situação dominada por
tensão emocional e ansiedade.
• Em segundo lugar, devem contactar imediatamente o serviço de emergências,
dependendo da natureza da tentativa de suicídio, bem como com os serviços
de saúde mental. Em muitas situações, é importante identifi car as drogas ou
substâncias tóxicas utilizadas na tentativa de suicídio e determinar a quantida-
de ingerida. Será útil levar os medicamentos que não tenham sido usados e as
embalagens vazias para o centro de emergências, de modo a que o pessoal
médico possa verifi car as substâncias que foram ingeridas.
• Em terceiro lugar, é necessário estabelecer o primeiro contacto ou relação com
a pessoa que tentou o suicídio. A relação tem de ser descontraída, não intimi-
datória, compreensiva e amistosa.
• Em quarto lugar, depois de estabelecido o primeiro contacto, é necessário ini-
ciar a comunicação. A pessoa deve sentir-se à vontade para exprimir o que
sente. Devem ser feitas perguntas abertas, tais como “Como se sente?” A
partir deste ponto, é o indivíduo que orienta a comunicação e sugere formas
de ser compreendido e ajudado. A culpa é um elemento importante que tem de
ser tomado em consideração. A pessoa pode sentir-se culpada pelos confl itos
que possa ter estado a viver. Neste contexto, os profi ssionais devem medir
bem as suas palavras, para evitar que a pessoa se sinta ainda mais culpada.
De igual modo, devem evitar fazer acusações, criticar o comportamento do
indivíduo ou reprovar aquilo que ouvem e constatam.
• Em quinto lugar, caso a transferência para uma instituição de cuidados de saú-
de não seja autorizada, deverão ser envidados todos os esforços no sentido de
remover outros meios letais do local e assegurar que o indivíduo é acompanha-
do por um familiar ou amigo próximo durante a sua recuperação e tratamento.
• Em sexto lugar, o indivíduo suicida deverá ser encaminhado para serviços de
saúde mental e tratamento de dependências, a fi m de garantir um tratamento e
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 19
Prevenção do Suicídio
seguimento apropriados. O encaminhamento para instituições de saúde men-
tal deverá ser feito independentemente de qualquer tratamento médico que
seja necessário.
• Por fi m, quaisquer pessoas próximas do indivíduo presentes poderão estar
emocionalmente perturbadas, confusas, zangadas ou destroçadas devido às
circunstâncias. Os primeiros intervenientes devem agir com tacto, compreen-
são e sensibilidade, e prestar apoio a todos os presentes. Se o indivíduo que
tentou o suicídio estiver inconsciente ou gravemente ferido, os presentes tam-
bém podem constituir uma valiosa fonte de informação (por exemplo, indicar
quais as substâncias ingeridas ou relatar tentativas prévias de suicídio). Caso
não estejam presentes pessoas próximas do indivíduo, poderá ser necessário
contactá-las para obter estas informações.
20 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
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QUANDO OCORRE UM SUICÍDIOEm caso de suicídio consumado, os agentes das autoridades, bombeiros e ou-
tros intervenientes têm de estabelecer o primeiro contacto com os familiares e ami-
gos do falecido. É importante que os membros da família recebam cuidados e apoio
adequados. Podem sentir-se culpados por não terem sido capazes de reconhecer
previamente o sofrimento e ajudado a pessoa.
É sempre útil encaminhá-los para apoio psicológico, caso concordem, e forne-
cer-lhes endereços de contacto. Também poderá ser útil pô-los em contacto com
grupos locais de sobreviventes (2). É frequente os familiares relatarem experiências
sobre atitudes negativas e prejudiciais de amigos e colegas e constatarem que os
grupos de sobreviventes os ajudam a identifi car e gerir este estigma.
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 21
Prevenção do Suicídio
APOIO INTERNO NO TRABALHO PARA GERIR PROBLEMAS NO TERRENO
Têm sido utilizadas diferentes estratégias para prestar apoio aos primeiros in-
tervenientes, que têm de lidar com crises de saúde mental no terreno; entre elas
destacam-se as equipas móveis de agentes da autoridade e profi ssionais de saúde
mental, agentes com formação especializada em saúde mental para intervirem nas
crises e estabelecerem ligação com serviços de saúde mental, bem como consulto-
res em saúde mental recrutados pelas respectivas instituições para prestarem acon-
selhamento, no local e por telefone, aos profi ssionais que se encontrem no terreno
(13). Nalgumas comunidades, foram criados tribunais especializados em saúde men-
tal, para tratar de casos que envolvem delinquentes com perturbações mentais (18).
Nos tribunais especializados em saúde mental, juízes e advogados com formação
específi ca trabalham em colaboração com as forças policiais e especialistas em saú-
de mental no sentido de encontrar opções de tratamento apropriadas e desviar os
delinquentes com perturbações mentais do sistema de justiça penal. Estes tribunais
podem aliviar alguma da pressão sobre as forças policiais, encontrando disposições
apropriadas de saúde mental na comunidade, nomeadamente em áreas onde os re-
cursos de saúde mental sejam de difícil acesso. No entanto, também podem fazer
mais exigências às forças policiais, nomeadamente, reconhecer doenças mentais,
minimizar as crises no terreno e estabelecer contactos apropriados com instituições
de saúde mental antes de, ou em vez de, procederem a detenções. Em resposta ao
crescente número de delinquentes com perturbações mentais detidos em institui-
ções prisionais, os tribunais de saúde mental constituem uma parte crescente de
uma solução multi-disciplinar entre vários organismos (19).
Não existe uma solução única que se adapte a todas as jurisdições. Qualquer
que seja a solução proposta, deverá ser desenvolvida mediante uma cooperação
entre vários organismos e envolver especialistas na área jurídica e da saúde mental,
de modo a:
• Criar valores e objectivos fundamentais comuns, no que se refere a estratégias
de prevenção do suicídio;
• Desenvolver oportunidades de formação cruzada e criar estratégias e protoco-
los para gerir crises no terreno, incluindo oportunidades de apresentação de
testemunhos após as crises, bem como de gerir e lidar com o stress;
• Manter uma comunicação contínua e uma colaboração entre organismos;
• Simplifi car os processos de encaminhamento, por parte das forças policiais,
para instituições locais de saúde mental, especialmente em situações que en-
volvam crises suicidas.
22 Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha
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FORMAÇÃOApesar de os agentes da autoridade, bombeiros e outros intervenientes de pri-
meira linha terem de se basear na sua melhor avaliação ao identifi carem e lidarem
com pessoas com comportamentos suicidas e susceptíveis de sofrer de doenças
mentais, é raro receberem formação adequada neste domínio. Para poderem agir
efi cazmente na comunidade, devem (13):
• Reconhecer o papel fundamental desempenhado pelas forças policiais, bom-
beiros e outros intervenientes como vigilantes da saúde mental e intervenientes
de primeira linha em crises de saúde mental;
• Saber como reconhecer os principais sinais e sintomas de doenças mentais;
• Saber como proceder quando um indivíduo ameace cometer suicídio;
• Saber como identifi car e minimizar situações que envolvam pessoas que so-
fram de doença mental, de modo a evitar o uso de força letal;
• Conhecer os serviços de saúde mental existentes ao nível local, saber como
ter acesso aos mesmos em caso de emergência e como ter acesso a recur-
sos não hospitalares de saúde mental e tratamento de dependências, se for o
caso. Constitui uma ferramenta importante uma lista actualizada dos serviços
de saúde mental da comunidade que permita;
• Saber como aplicar os critérios de internamento compulsivo, bem como a for-
ma como estes são implementados pelos prestadores locais de cuidados de
saúde mental; e
• Criar ligações estreitas e manter um contacto regular com as instituições e os
profi ssionais de cuidados de saúde mental, para facilitar a gestão de situações
difíceis.
Embora os primeiros intervenientes se vejam muitas vezes confrontados com a
necessidade de prestar cuidados ou assistência a indivíduos que sofrem de pertur-
bações mentais, é comum sentirem difi culdades em resolver questões relacionadas
com a saúde mental. A formação na área da saúde mental tem sido sugerida como
parte dos programas gerais de formação e de determinadas áreas profi ssionais. A
formação nestes contextos deverá basear-se em situações reais. Para tal, podem ser
conduzidos grupos de discussão, moderados por um especialista em saúde mental,
nos quais sejam discutidas situações reais. Os grupos de discussão devem encon-
trar-se regularmente ou incluir sessões de actualização e podem ser complementa-
dos por encenações em que os participantes experimentem diferentes formas de
comunicação, consoante a natureza da crise. Nas sessões de formação, a integração
como formadores de pessoas que já tenham tentado o suicídio constitui uma forma
importante de remover o estigma existente em relação às pessoas com problemas
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 23
Prevenção do Suicídio
mentais, bem como de proporcionar um contexto humano às crises de saúde mental
e suicidas.
Uma vez que a legislação civil e os recursos diferem de comunidade para co-
munidade, a formação em saúde mental destinada aos primeiros intervenientes, tais
como agentes da autoridade, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha,
deve ser organizada com a colaboração das instituições de saúde mental da comuni-
dade local. Desta forma será mais fácil criar as relações, entre pessoas e organismos,
que são necessárias para ajudar os primeiros intervenientes a lidarem com crises
suicidas e de saúde mental.
Prevenção do Suicídio Um recurso para as forças policiais, bombeiros e outros intervenientes de primeira linha 25
Prevenção do Suicídio
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PREVENÇÃODO SUICÍDIO
UM RECURSO PARA AS FORÇAS
POLICIAIS, BOMBEIROS E OUTROS
INTERVENIENTES DE PRIMEIRA LINHA
Direcção-Geral de Administração Interna2011
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